TFG Arquitetura e Urbanismo - Estudo de Morfologia Urbana

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ESTUDO DE

MORFOLOGIA URBANA NO TRIÂNGULO HISTÓRICO DE SÃO PAULO



Universidade Anhembi Morumbi Escola de Ciências Exatas, Arquitetura e Design e Moda Curso de Arquitetura e Urbanismo

Estudo de Morfologia Urbana no Triângulo Histórico de São Paulo

Este trabalho tem como linha de pesquisa os Processo projetuais transdisciplinares. Investiga o processo projetual/criativo nas artes, na arquitetura, no design e na moda; analisar as estratégias educacionais e instrucionais visando a formação de profissionais reflexivos, criativos e colaborativos e suas relações transdisciplinares. Ressaltar a importância da transdisciplinaridade como integração entre as áreas do conhecimento e seus reflexos sobre o processo projetual.

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Universidade Anhembi Morumbi Escola de Ciências Exatas, Arquitetura e Design e Moda Curso de Arquitetura e Urbanismo

Estudo de Morfologia Urbana no Triângulo Histórico de São Paulo

ALESSANDRA VIEIRA DA SILVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, sob orientação da professora Dra. Melissa Ramos da Silva Oliveira.

São Paulo 2017 iii


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A cidade permanece como a maior obra de arte produzida pelo Homem. Lewis Mumford v


vi


AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus por me guiar para o melhor caminho. Agradeço aos meus pais Joaldo e Magda, pelo melhor exemplo de determinação e caráter e momentos abdicados para me educar. Agradeço aos meus irmãos Junior e Sandra por serem exemplo de didicação à tudo que se propõem a fazer. Agradeço ao meu companheiro de vida Lucas, por toda compreensão dos momentos em que estive ausente, pelo apoio em todas as decisões tomadas em minha vida. Agradeço a minha amiga Regina por partilhar sempre seus conhecimentos, enfrentando horas de estresse e também pelas boas risadas em quase todas as aulas deste curso. Agradeço ao meu chefe Ricardo, por todos os tipos de incentivo para iniciar esta empreitada, pela primeira oportunidade dada, onde a partir dela surgiram outras em minha vida. Agradeço aos meus colegas de trabalho Luiz Fernando e Patrícia por partilharem seus conhecimentos e me ajudarem de todas as formas a concluir esta jornada. Agradeço a minha orientadora Professora Dra. Melissa por me me guiar neste trabalho, e que mesmo em momentos fora de sua jornada na universidade não deixou de trazer novos horizontes. Agradeço por mostrar uma nova forma de olhar a cidade. vii


SUMÁRIO 1

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3

Introdução

01

Metodologia

07

Conceitualização de Morfologia Urbana

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2.1 As Escolas de Morfologia Urbana................................................16 2.2 Formas Urbanas................................................................................21 2.2.1 FormaContexto e Função...................................................22 2.3 Elementos Morfológicos do Espaço Urbano............................26 2.3.1 O Tecido Urbano...................................................................26 2.3.2 O Traçado Urbano...................................................................28 2.3.3 A Praça......................................................................................30 2.3.4 O Quarteirão............................................................................32 2.3.5 O Lote.........................................................................................33

O Recorte de Estudo

35

3.1 A Região Central..............................................................................37 3.2 A Colina Histórica: Fundação e Desenvolvimento.................44 3.3 Os Caminhos do Triângulo Histórico.......................................49 viii


4

Análise Morfológica do Triângulo

67

4.1 Análise Temporal..............................................................................68 4.1.1 Análise da Cartografia de 1868........................................68 4.1. 2 Análise da Cartografia de 1881.....................................72 4.1. 2 Análise da Cartografia de 1930.....................................76 4.2 Decomposição do Tecido Urbano...............................................78 4.2.1 Análise do Traçado...............................................................80 4.2.2 Análise do Quarteirão..........................................................90 4.2.3 Análise da Praça....................................................................97

Considerações Finais Referências Bibliográficas

105 111

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Índice de Figuras 1.1 Metodologia de pesquisa...............................................................09 2.1 Organização da Morfologia no Território.................................15 2.2 Escalas setoriais, urbanas e territoriais..........................15 2.3 Síntese do conceito de Lamas............................................15 2.4 Mapa da Itália...............................................................................16 2.5 Saverio Muratori - Evolução do tecido urbano.............17 2.6 Gianfranco Caniggia - Comparação do loteamento........17 2.7 Mapa da França.............................................................................18 2.8 Mapa da Inglaterra......................................................................19 2.9 Mapa de Portugal.........................................................................19 2.10 Diferentes organizações espaciais............................................20 2.11 Diferentes formas urbanas..........................................................21 2.12 Visão serial........................................................................................23 2.13 Território organizado por diversas funções..............................25 2.14 Os diferentes te cidos de Lisboa.................................................27 2.15 As tipologias do traçado...............................................................29 2.16 As tipologias da praça.................................................................31 2.17 Estrutura dos quarteirões em Lisboa.......................................32 2.18 As tipologias do quarteirão........................................................33 2.19 Os lotes em Lisboa............................................................................33 3.1 Município de São Paulo...............................................................36 3.2 Transição do centro velho para a Berrini.................................37 3.3 Centro de São Paulo......................................................................40 x


3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9

Tecido Urbano do Triângulo.........................................................42 Características do sitio inicial da vila de São Paulo..............44 Planta Topográfica da área central de São Paulo....................45 Desenvolvimento da área 1850-1920.......................................48 Desenvolvimento da área 1920-1945.......................................48 Desenvolvimento da área 1945-1980.......................................49 3.10 Rua XV de Novembro em 1901.......................................................52 3.11 Rua XV de Novembro em 2017.......................................................53 3.12 Rua General Carneiro em 1907.....................................................54 3.13 Rua General Carneiro em 2017......................................................55 3.14 Largo São Bento 1938.....................................................................56 3.15 Largo São Bento 2017.....................................................................57 3.16 Rua Líbero Badaró em 1931.............................................................58 3.17 Rua Líbero Badaró em 2017..........................................................59 3.18 Rua Direita em 1941........................................................................60 3.19 Rua Direita em 2017......................................................................61 3.20 Rua São Bento em 1947................................................................62 3.21 Rua São Bento em 2017................................................................63 3.22 Colgem de edifícios..........................................................................65 4.1 Cartografia de 1868........................................................................70 4.2 Cartografia de 1881.........................................................................73 4.3 Cartografia de 1881 ampliada......................................................75 xi


4.4 Cartografia de 1930..........................................................................77 4.5 Tecido Urbano do Triângulo...........................................................79 4.6 Sobreposição do sítio com o Traçado..........................................81 4.7 Ligação principal da colina..............................................................82 4.8 Corte da ligação entre o sopé e o cume.........................................83 4.9 Eixo da cumeeira................................................................................84 4.10 O s eixos da cumeeira.........................................................................85 4.11 A malha..............................................................................................86 4.12 Efeito de torção da malha...............................................................87 4.13 Poderes no traçado da área..............................................................89 4.14 Tipos de poderes...............................................................................89 4.15 Cartografia 1881 quar teirões.........................................................91 4.16 Mapa 2017 com quar teirões..........................................................91 4.17 Quarteirão 1......................................................................................92 4.18 Quarteirão 2......................................................................................93 4.19 Quarteirão 3......................................................................................94 4.20 Quarteirão 4......................................................................................95 4.21 Quarteirão 5......................................................................................96 4.22 Demarcação das praças.................................................................97 4.23 Implantação Largo São Bento.........................................................98 4.24 Fachadas do Largo São Bento.........................................................99 4.25 Implantação Largo São Francisco................................................100 xii


4.26 Fachadas do Largo São Francisco.................................................101 4.27 Implantação Praça da Sé..............................................................102 4.28 Fachadas da Praça da Sé...............................................................103 1. 2.

Perspectiva Centro de

Explodida dos elementos........................107 São Paulo...........................................................108

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xiv


RESUMO Este trabalho utiliza os conceitos de morfologia urbana aplicados a área central de São Paulo, especificamente o Triângulo Histórico. Utiliza-se o método de estudo dos portugueses José Garcia Lamas e Coelho. A pesquisa está dividida em duas fases. A primeira consiste em uma análise temporal através de cartografias históricas; e a segunda fase consiste em uma decomposição do tecido urbano através dos elementos compositores da cidade.

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16

16


INTRODUÇÃO

1


Quando falamos sobre estudo de morfologia urbana, é comum encontrar artigos, livros, porém em âmbito internacional, sua disseminação em âmbito nacional não é vista frequentemente em publicações acadêmicas, e tampouco neste curso de Arquitetura e Urbanismo foram vistos tópicos desse viés de pesquisa. Dificilmente encontramos publicações desta área do conhecimento que não apenas abrange a Arquitetura e Urbanismo, mas também a geografia, por exemplo. A principal plataforma utilizada quase que mundialmente para a disseminação do estudo da morfologia urbana é o International Siminar on Urban Form, que publica uma espécie de revistas mensais intitulada de “Urban Morphology”, também conhecida como “Journal of the International Semiar on Urban Form”. Segundo a plataforma, a ISUF foi concebida para corrigir a falta de um fórum comum para pesquisadores e profissionais preocupados com a forma urbana. Nas primeiras décadas após a pesquisa urbana da Segunda Guerra Mundial, a ISUF expandiu-se grandemente. Isso ocorreu dentro de uma ampla gama de disciplinas e especialidades - arquitetura, arqueologia, geografia, história, planejamento, design urbano, análise espacial, sintaxe espacial e estudos patrimoniais. Mas os grupos de pesquisa e de interesse tendem a funcionar isoladamente um do outro. O laboratório, faz diversos seminários anuais em vários países acerca do estudo da forma urbana. Algumas de suas publicações 2


podem ser visualizadas apenas para assinantes das revistas, porém há outras publicações que podem ser acessadas por todos, no idioma inglês. Para tanto, existem outros laboratórios como, por exemplo, o FORMAURBISLAB, de Portugal, que possui como objetivo a elaboração de um Atlas Morfológico da Cidade Portuguesa. O laboratório baseia-se nos conceitos de morfologia urbana de Lamas, que será objeto de estudo deste trabalho. Este

laboratório

foi

encontrado

ao

longo

do

percurso

deste trabalho. Após a pesquisa de seus estudos, bem como o conhecimento de suas obras publicadas, optou-se por utilizar o método de representação dos mapas que serão apresentados neste trabalho, além das bases conceituais relativos aos elementos urbanos. A finalidade da morfologia urbana é determinar um conceito sobre a construção das cidades por meio de uma abordagem multidisciplinar que compreende conceitos de geografia, história, arquitetura e urbanismo. A paisagem urbana é consequência da forma de ocupação humana sobre a estrutura ambiental. Portanto, as formas concebidas pelo processo de ocupação e urbanização são indícios materializados e de fato o objeto da análise da morfologia urbana. Ao se estudar a cidade podemos identificar os diversos elementos formadores da paisagem urbana, seus tipos, sua evolução ao longo dos anos, sua composição na forma, a 3


a influência que sofrem da cultura e de modelos estrangeiros, economia, história, entre outros fatores. São Paulo é uma metrópole que, dadas suas dimensões, não é singular em sua morfologia. E este não é um contexto próprio paulistano, mas sim frequente às metrópoles contemporâneas nas quais uma imagem síntese muitas vezes não demonstra as qualidades que formam a cidade. Por isto, este trabalho apresentará como recorte espacial de estudo o Triângulo Histórico de São Paulo, uma área em que São Paulo se fundou e a partir dela se expandiu para outras localidades. Ao mesmo tempo em que sua forma é estratificada, ela passou por diversas mudanças na paisagem urbana, que através da análise temporal será apresentada. Este estudo está dividido em 4 capítulos. O primeiro apresenta a metodologia que será utilizada para a elaboração desta pesquisa. O segundo apresenta as bases conceituais da morfologia urbana, ou seja, a conceitualização do que é a morfologia e de seus teóricos. O terceiro apresenta a área de recorte e uma síntese histórica para compreendermos sua fundação. O quarto apresenta a aplicação dos conceitos estudados neste trabalho que está dividido em duas fases: a primeira é composta por uma análise temporal da área, e a segunda é a decomposição do tecido urbano. Portanto, este trabalho tem o objetivo de apresentar os conceitos de morfologia urbana e seus elementos como itens compositores da forma urbana da cidade e aplicá-los a uma área 4


de recorte como proposta de leitura para compreender seu processo de configuração. O propósito foi trazer ao nível de graduação este estudo que não é abordado no meio acadêmico, mas que possui grande relevância para a forma como nós, futuros arquitetos e urbanistas fazemos a leitura da cidade construída e como podemos contribuir para o planejamento urbano.

5


CAPÍTULO

6

1


METODOLOGIA

7


Para que a pesquisa fosse organizada de uma maneira compreensível, fez-se necessário estruturar a metodologia que seria aplicada neste trabalho. Ao estabelecermos o tema desta pesquisa, iniciamos com a investigação dos teóricos sobre o assunto, ou seja, realizamos um grande levantamento conceitual. O levantamento bibliográfico nos possibilitou conhecer os vieses de estudo da morfologia urbana, nos levando aos estudos da escola portuguesa – Lamas e os conceito do laboratório FORMAURBISLAB. Somente com a base conceitual previamente compreendida, foi possível então estabelecer um recorte para a aplicação dos conceitos estudados.

8


Figura 1.1: Metodologia de pesquisa. Fonte: Autora, 2017.

Figura 1.1: Metodologia de pesquisa. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

9


CAPÍTULO

10

2


CONCEITUALIZAÇÃO

DE

MORFOLOGIA URBANA

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A cidade para ser compreendida, deve ser estudada sob os mais diferentes enfoques, dado o caráter multidisciplinar do urbanismo. Um dos objetivos do urbanismo, segundo Lamas (2004) afirma, é a materialização da forma do espaço humanizado, pois: (...) um primeiro grau de leitura da cidade é eminentemente físico-espacial e morfológico, portanto especifico da arquitetura, e o único que permite evidenciar a diferença entre este e outro espaço, entre esta e àquela e explicar as características de cada parte da cidade. A este se juntam outros níveis de leitura que revelam diferentes conteúdos (históricos, econômicos, sociais e outros). Mas esse conjunto de leituras só foi possível porque a cidade existe como fato físico e material. Todos os instrumentos de leitura leem o mesmo objeto: o espaço físico, a forma urbana. LAMAS (2004, pg. 25)

Portanto, segundo Lamas (2004), a morfologia urbana trata-se do estudo do meio físico da forma urbana, dos processos e das pessoas que o configuraram. Este estudo constitui um instrumento poderoso no entendimento e no planejamento da cidade e, com isso, interage com ampla gama de disciplinas. Os primeiros estudos registrados sobre morfologia urbana aparecem na Europa no final do século XIX, dentre os quais se destaca o de Schlüter, com ênfase na paisagem dos países industriais. Para ele a compreensão da paisagem urbana requer 12


a análise dos planos urbanísticos, da tipologia dos edifícios e do parcelamento do solo e seu uso. Suas ideias foram difundidas fora da Alemanha através e Conzen, em meados do século XX, para qual a morfologia urbana foi a base para o desenvolvimento de uma teoria sobre o processo de construção das cidades, que não apenas explique esse processo historicamente, mas também guie os esforços de planejamento colaborado com a gestão urbana das grandes cidades. (ARAGÃO, 2006) O estudo da morfologia urbana torna-se essencial no que diz respeito ao desenho urbano, este é o método de análise chave para se detectar princípios e tipos relativos ao traçado da cidade, o que o torna imprescindível para futuras intervenções na cidade (REGO E MENEGUETTI, 2012). Gauthier e Gilliland (2005) descrevem em sua publicação que os estudos sobre morfologia podem ser divididos em estudos cognitivos e normativos. O primeiro estudo procura explicar a forma urbana de determinado recorte. Já no caso do estudo normativo busca-se preconizar o modo como a cidade deveria ser planejada, ou construída no futuro. Ou seja, enquanto um busca difundir “o que é”, o outro investiga “como deveria ser”. Lamas (2004) propõe que para o estudo da morfologia urbana se faz necessária a definição de duas escalas de estudo:

13


Dimensão urbana Escala do Bairro É a partir desta dimensão, ou escala que existe verdadeiramente área urbana, a cidade ou parte dela. Pressupõe uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores. Correspondem numa cidade aos bairros, as partes homogêneas identificáveis, e pode englobar a totalidade da vila, aldeia, ou da própria cidade. A estas dimensões, os elementos morfológicos terão de ser identificados com as formas Dimensão Territorial - A escala da cidade Nesta dimensão, a forma estrutura-se através da articulação de diferentes formas à dimensão urbana, diferentes bairros ligados entre si. A forma das cidades define-se pela distribuição dos seus elementos primários ou estruturantes: os macros sistemas de arruamentos e os bairros, as zonas habitacionais, centrais ou produtivas, que se articulam entre si e com o suporte geográfico. (LAMAS, 2004, pg. 42)

Figura 2.3: Síntese do conceito de Lamas. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

14


Figura 2.1: Organização da Morfologia no Território. Fonte: Lamas, 2004 pg. 76.

Figura 2.2: Escalas setoriais, urbanas e territoriais, Lisboa. Fonte: Lamas, 2004 pg. 78.

Síntese do Conceitos de Lamas

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2 .1 As Escolas de Morfologia Urbana ESCOLA ITALIANA Os estudos de morfologia urbana na Itália estabeleciam relação entre os períodos históricos, o contexto e o tipo. A escola possuía um conjunto de estudiosos que estabilizaram os conceitos de crescimento, de tipologia e de morfologia, baseando-se na interpretação do tecido urbano, onde consideravam a forma física da cidade como reflexo de um processo de evolução no tempo das tipologias arquitetônicas. A abordagem da escola baseava-se na ideia de “organismo arquitetônico”, ou seja, na noção do tecido urbano como organismo no ambiente urbano como obra de arte. Muratori fundou a escola italiana através do estudo sobre a cidade de Veneza e posteriormente sobre Roma. Em Veneza, o estudo fazia a leitura detalhada das unidades morfológicas do tecido edificado, ou seja, dos quarteirões, através dos principais momentos históricos, que permitiam a decodificação da forma da cidade e sua evolução. (FERNANDES, 2014). Em Roma, a leitura era feita através de uma sequência de etapas morfológicas durante um período temporal, onde mostra que a forma da cidade atual é resultado de adaptações nas estruturas pré-existentes. Em ambos os estudos, a leitura é feita através de processos históricos da forma urbana, demonstrando a permanência dos traçados e as transformações do edificado. 16

Figura 2.4: Itália. Fonte: www. imagepng.org/mapa-da-italia/. Editado pela autora, 2017.


Figura 2.5: Saverio Muratori - Evolução do tecido urbano. Fonte: FERNANDES, 2014, pg.40 .

Saverio foi o pioneiro na escola italiana, porém outros teóricos agregaram muito à escola como: Aldo Rossi, que foi percursor na utilização de categorias conceituais que estabeleceram novas referências

para

a

concepção

arquitetônica

urbana;

Carlos

Aymonio, que retoma o trabalho de Muratori, dedicando-se na sistematização dos conceitos de tipo e evolução; e Gianfranco Caniggia que deu continuidade aos princípios teóricos de Muratori, envolvendo-se com a explicação do processo de fazer as cidades a partir da aplicação dos conceitos de “organismo urbano”.

Figura 2.6: Gianfranco Caniggia - Comparação do loteamento romano com o traçado urbano no séc. XX. Fonte: FERNANDES, 2014, pg.43.

17


ESCOLA FRANCESA

Na escola Francesa, podemos destacar os teóricos Philippe Penerai e Jean Castex, que iniciaram um processo de observação das formas urbanas, através da história e da geografia. Os teóricos fizeram um estudo sobre as cidades de Paris, Londres, Amsterdã e Frankfurt. O objetivo era explicar as relações entre a superfície do solo e o parcelamento urbano, entre o espaço público e o conjunto de edificações para defender a importância do traçado urbano enquanto forma e estrutura de suporte na cidade. Penerai utiliza a metodologia de análise urbana como um instrumento de decodificação do tecido urbano. A metodologia se aplica não só para descrever a cidade construída, mas também serve para comparar a diversidade morfológica, nos diferentes contextos geográficos, sociais ou culturais. O processo de leitura baseia-se na decomposição da cidade em fragmentos que isoladamente explicam a forma urbana.

ESCOLA INGLESA Os estudos de morfologia urbana na Inglaterra tiveram sua origem entre 1950 e 1960 através dos estudos do geógrafo M. R. Conzen. Conzen formou-se na Escola de Geografia de Berlim, onde as bases conceituais foram organizadas sobre a paisagem e suas decorrências. 18

Figura 2.7: França. Fonte: www.imagepng.org/mapa-da-franca/. Editado pela autora, 2017.


A metodologia de análise da morfologia desta escola utiliza a transformação para demonstrar a ação do tempo na paisagem Figura 2.8: Inglaterra. Fonte: www.imagepng.org/mapa-da-ingaterra /. Editado pela autora, 2017.

urbana, ou seja, utiliza a análise temporal da área de estudo. O método de investigação da forma urbana consiste no estudo do tecido urbano e no padrão de uso e ocupação (STAEL, 2013).

ESCOLA PORTUGUESA A escola portuguesa fundou-se na década de 1990, através da tese de doutorado de José Garcia Lamas. A obra intitulada “Morfologia urbana e Desenho da Cidade” constitui em uma análise caracterizando as especifidades da forma urbana desde a antiguidade até seus dias atuais, através da perspectiva historicista do desenho urbano. A obra de Lamas aponta que a concepção da forma urbana parte de diferentes níveis de compreensão, como descreve as diferentes escalas de análise: a da rua, do bairro e da cidade. Figura 2.9: Portugal. Fonte: www.imagepng.org/bandeira-de-portugal/. Editado pela autora, 2017.

Lamas propõe uma leitura da cidade através da decomposição do tecido urbano, sendo eles: Solo, traçado, rua, quadra, lote, edifícios, fachada, praça, monumento, arborização e mobiliário urbano. 19


Ainda mais recente que o estudo de Lamas, temos os estudos do laboratório FORMAURBISLAB, que se apoia nos conceitos de Lamas e de outros teóricos através da obra publicada por Coelho Dias em “Os elementos Urbanos – Cadernos de Morfologia Urbana: Estudos da Cidade Portuguesa”, onde o objetivo é criar um atlas morfológico da cidade portuguesa.

Através dos conceitos aqui apresentados referente as

escolas de morfologia urbana, este trabalho se apoiará e utilizará os conceitos da escola de Portugal, utilizando a obra de Lamas e do laboratório FORMAURBISLAB como forma de análise do recorte de estudo.

Figura 2.10: Diferentes organizações espaciais em um mesmo terreno. Fonte: Lamas, 2004 pg. 85.

20


2.2 Formas

Urbanas

Segundo Coelho “ Esta questão da forma urbana é colocada

sempre que se reflete sobre a cidade, procurando a maioria das vezes articular a leitura da cidade experimentada, aquela que conhecemos pela experiência do cotidiano ”(COELHO, 2015 pg. 15). A diversidade de questões em relação à forma urbana indica a variedade de aspectos pelos quais se pode compreender a cidade, ou seja, partindo desta premissa pode-se qualificá-la como um Figura 2.11: Diferentes formas urbanas. Fonte: Lamas, 2004 pg. 42.

fenômeno que permite vários olhares (COELHO, 2015). O conceito de forma de um objeto está relacionado à sua configuração, ou seja, a aparência. O modo de aprendermos sobre forma refere-se fundamentalmente a um instrumento de leitura visual, ou seja, totalmente exterior. Na morfologia, os instrumentos de leitura urbanística e arquitetônica são em primeiro lugar o que interessam, partindo do princípio que as disciplinas de concepção do espaço têm instrumentos de leitura que lhes são próprios. Assim, Lamas (2004) afirma que a construção do espaço físico passa necessariamente pela arquitetura. Sendo assim, a noção de forma urbana está diretamente ligada ao conjunto de construções arquitetônicas ligadas entre si através das relações espaciais.

21


2.2.1 Forma, Contexto e Função Segundo Rossi (1998), a forma da cidade corresponde a maneira como se organiza e articula sua arquitetura, sendo elas “ uma manufatura ou obra de engenharia e de arquitetura maior ou

menor, mais ou menos complexa que cresce no tempo, igualmente os fatos urbanos caracterizados por uma arquitetura própria e por uma forma própria ” (ROSSI, 1998 pg. 41). Sendo assim, Lamas (2004) afirma que é através da arquitetura que se pode caracterizar e definir o espaço urbano. Nesta conjuntura, a arquitetura deve ser compreendida como uma parte constituinte da cidade, sendo parte do sistema complexo das relações espaciais. A noção de forma aplica-se a todo esse espaço construído em que o homem introduziu em sua ordem e ao meio urbano que tem como objetivo de análise a concepção arquitetônica (LAMAS, 2004). Tanto a arquitetura quanto o urbanismo são disciplinas que necessitam de criatividade, pois o objetivo final é a intervenção no espaço, transformando-o e consequentemente modificando o cotidiano da vida pública. Lamas descreve em sua obra os aspectos característicos na construção da forma: Aspectos quantitativos – Todos os aspectos da realidade urbana que podem ser quantificáveis eque se referem a uma organização quantitativa. 22


Todos esses dados quantificáveis são utilizados para controlar aspectos físicos das cidades. Aspectos de organização funcional – Relacionam-se com as atividades humanas e também com o uso de uma área, espaço ou edifício, ou seja, ao tipo de uso do solo. Uso a que é destinado e uso que dele se faz. Aspectos qualitativos – Referem-se ao tratamento dos espaços, ao conforto e a comodidade do utilizador. Aspectos figurativos – Relacionam-se essencialmente com a comunicação estética. (LAMAS, 2004 pg. 44).

Sendo assim, os elementos morfológicos devem relacionar tanto com a escala de análise, quanto à de concepção do espaço. Esses contextos das formas arquitetônicas ou urbanas podem englobar critérios econômicos, tecnológicos e até mesmo jurídico-administrativo, por exemplo, com o parcelamento do solo. Lynch (2006) considera que a imagem é formada pelo conjunto de sensações experimentadas ao observar e viver em determinado Figura 2.12: Visão serial. Fonte: Lynch, 2006, pg. 16.

ambiente. Assim, as imagens do meio ambiente resultam desta relação entre o observador e o seu habitat, revelando seus anseios. Portanto, as paisagens urbanas são resultado da ocupação humana sobre o suporte ambiental (LYNCH, 2006). A arquitetura sempre teve como objetivo a criação de um ambiente mais propício à vida humana. A arquitetura constrói e ultrapassa a lógica de elementos construtivos para compreender a realidade humana e proporcio23


nar o convívio, o coletivo e a vida humana na sociedade. Segundo Lamas (2004), a qualidade do desenho da cidade residia na originalidade das formas, na inovação das soluções, através de regras abstratas, sendo elas mais gráficas e até mesmo ilusórias do que propriamente urbanística. Buscam-se formas ainda não experimentadas, formas ainda não vistas na arquitetura, que não remetem aos passados arquitetônicos e sim ao futuro arquitetônico, mesmo que estas formas não sejam pensadas como soluções urbanísticas. O desafio de se desenhar a cidade está em saber se a organização do espaço urbano pode ser resolvida exclusivamente com intervenção arquitetônica. A formação da cidade não pode ser atribuída à distribuição de edifícios, ou em resolver problemas funcionais sem pensar no todo, ou criar condições para investimentos econômicos privados. Acima disso, está o espaço urbano habitado e construído pelo homem com um propósito coletivo. A forma urbana deveria ser resultado da produção espontânea do espaço urbano, ou seja, ser organizada e baseada em conhecimentos culturais e arquitetônicos através de sua forma. As formas não possuem conexão apenas com concepções estéticas, ideológicas ou arquitetônicas, mas também estão ligadas ao comportamento e a apropriação do espaço para a vida citadina. Portanto, a forma deve ser uma solução para os problemas que o planejamento urbano deve controlar e organizar, pois, constante24


mente o desenho das cidades teve que solucionar o contexto que deveria assumir através da arquitetura (LAMAS, 2004). Quando se fala de forma na arquitetura é imprescindível se falar de função, pois existe, ou pelo menos deveriam existir em toda concepção. A função permite o desenvolvimento eficaz das atividades que na forma lhe é empregado. Porém, não somente se fala em função na área especifica de arquitetura, mas também no urbanismo, pois as funções dos centros urbanos evoluíram, passando de lugares de defesa e de poder para locais de comércio, serviços e atividades culturais, sendo assim o espaço urbano possui usos e funções (LAMAS, 2004).

Figura 2.13: Território organizado por diversas funções. Fonte: Lamas, 2004 pg. 71.

25


2.3 Elementos Morfológicos do Espaço Urbano Ao longo deste capítulo, vimos os conceitos de morfologia urbana, bem como seus aspectos, vertentes de estudos, escalas de análise, suas formas e também vimos que a morfologia classifica alguns elementos que são parte da cidade. A identificação desses elementos pressupõe conhecer quais as partes da forma e o modo como se estruturam as diferentes escalas anteriormente citadas. A seguir, veremos o conceito desses elementos morfológicos encontrados na cidade.

2.3.1 O Tecido

Urbano

Segundo Coelho (2015) é necessário entender as cidades existentes onde vivemos nosso cotidiano, tanto nos aspectos que nos parecem estabilizados quanto nos aspectos que são mais emergentes e necessitamos compreender. Essa sua complexidade deve ser lida através de olhares atentos. Coelho (2015) em sua obra transcreve uma citação de Pierre Merlin (1988) “ O tecido urbano é constituído por um conjunto de

elementos físicos – o sítio, a rede viária, a divisão cadastral, a relação entre os espaços construídos livres, a dimensão, a forma e o estilo das construções e pelas relações estabelecidas entre estes elementos... ” (COELHO, 2015 pg. 14). Portanto, o tecido é a cidade construída, ou seja, o espaço livre e o edificado, o público e 26


o privado, as ruas, os quarteirões, a infraestrutura, toda a cidade física. O tecido como realidade temporal mostra todo o processo evolutivo, uma história que traz consigo um resultado muito particular a cada momento. O tecido pode ser configurado pelo sistema viário, pelo modelo de parcelamento do solo, pela aglomeração e pela segregação dos edifícios e espaços livres. Esses elementos existentes no tecido estão constantemente em atividade. O modo como esses elementos se estratificam e configuram o tecido da cidade é de fato o objeto da morfologia urbana (COELHO 2015). WHITEHAND (2001) cita aspectos importantes do tecido Figura 2.14: Os diferentes tecidos de Lisboa. Fonte: COELHO, 2015.

urbano que foi apontado como parte integrante da imagem da cidade segundo Conzen: (...) ele tem valor intelectual ao ajudar o indivíduo e a sociedade a se orientar no tempo: uma imagem da cidade apresenta uma experiência visual da história de uma região, ajudando o indivíduo a se situar em uma maior amplitude da sociedade em transformação, estimulando a comparação histórica (...) ele tem valor estético, pois impacta visualmente e no sentido de orientação instituída por elementos dominantes como igrejas ou castelos. Estes atributos estão inter-relacionados e as experiências estéticas e emocionais estão entrelaçadas – com a apreciação do significado histórico e geográfico do tecido urbano. WHITEHAND, 2001, pg. 8, tradução Google. 27


Estes aspectos transcritos acima nos remetem aos conceitos de Lynch em sua obra de 1960 - A Imagem da Cidade, onde propõe o estabelecimento de uma série de elementos estruturadores da paisagem: Vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos que se articulam e interagem dando origem as paisagens distintas. A partir das sensações dos usuários dos bairros induz os pontos mais habituais da cidade (LYNCH, 2006). A abordagem de Lynch proposta para leitura da cidade mostra-se importante na questão de metodologia de leitura da paisagem baseada na percepção ambiental. A metodologia de Lynch faz uma categorização dos espaços em que aqueles mais citados ou descritos pelos indivíduos são os estruturadores dos locais. A abordagem traz aspectos relativos aos elementos e estruturas específicas baseadas nas percepções dos usuários em relação à imagem que se tem a partir de experiências, pouco se menciona a respeito do edifício, da rua ou espaço desconhecido, que faz parte da cidade e dos quais os indivíduos não os consideram entre os pontos relevantes.

2.3.2 O Traçado

Urbano

O traçado é um dos elementos mais claros que se pode ver ao analisarmos o recorte através de mapas. Segundo Lamas (2004) o traçado se assenta em um suporte preexistente, ou seja, se assenta 28


em sua topografia. A rua possui um caráter de permanecia no que diz respeito a resistência a transformações urbanas, não que ele não seja totalmente modificável.

Segundo Coelho (2015), a

diversificação dos usos que ocupam o espaço da rua resulta em diferentes tipos de apropriação por usos específicos. Geralmente essas distinções foram configuradas através da utilização de diversos materiais ou texturas. Portanto, o nível de definição do espaço público da rua corresponde a sua configuração espacial de partes e sua natureza formal e funcional.

Figura 2.15: As tipologias do traçado. Fonte: FORMAURBISLAB, 2017.

29


2.3.3 A Praça

Lamas (2004) descreve que a praça é um elemento morfológico que se distingue dos outros espaços da cidade, muitas vezes são resultado de um vazio acidental, mas também podem fazer parte de um planejamento. Segundo Lamas “A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa” (LAMAS, 2004 pg. 86). Portanto, podemos dizer que a rua é um lugar de circulação, mesmo que haja apropriação dela por parte da população seja para manifestações ou confraternizações, sua concepção é para a circulação, diferentemente da praça que é caracterizada como local de permanência, de encontro, de acontecimentos e manifestações da vida pública. Atualmente existem muitos espaços em que os indivíduos consideram como praça, como por exemplo, o largo. Porém, Lamas afirma que o mesmo não pode ser considerado dessa forma, pois entende que estes são espaços residuais e por isso não devem ser adquirir valor simbólico, ou seja, se este espaço não foi concebido para tal função não deve ser considerado um elemento tão importante quanto a praça (LAMAS, 2004). As praças constituem espaços muitos diversificados, de caráter coletivo. Como exemplos de tipologias Coelho (2015) cita as praças cívicas e as praças ajardinadas. Esse elemento possui grande significado na evolução dos tecidos urbanos, constituem um dos principais suportes físicos da vida urbana. 30


Figura 2.16: As tipologias da praรงa segundo Coelho. Fonte: FORMAURBISLAB, 2017.

31


2.3.4 O Quarteirão

Segundo Lamas “ A definição do quarteirão tanto pode ser

baseada na sua forma construída como no processo de traçado e divisão fundiária ” (LAMAS, 2004 pg. 89).

Figura 2.17: Estrutura dos quarteirões em Lisboa. Fonte: Lamas, 2004 pg. 92, 2017.

O quarteirão é um elemento vinculado a forma da cidade e ao mesmo tempo a condição de habitar. É o espaço urbano onde se estabelecem relações e se conformam os interesses individuais, além das necessidades de instalação coletiva de determinado modelo de sociedade, o construído e o natural, o espaço privado da habitação e o público da cidade. Este elemento relaciona-se com a escala urbana. Segundo Coelho (2015), morfologicamente, o quarteirão é o que mais demonstra a transformação do tecido urbano da cidade. Ele é capaz de adaptar as constantes mudanças de modelo urbano, sendo utilizado como denominador comum no desenho da cidade. Existem várias maneiras de organizar e construir um quarteirão, como a possibilidade de articular espaços cheios e vazios, intervindo entre o público e o privado. 32


Figura 2.18: As tipologias do quarteirão Fonte: FORMAURBISLAB, 2017.

2.3.5 O Lote O lote está incorporado ao espaço privado da cidade. Materializa a divisão da propriedade, delimitando no território uma forma que configura um dos principais condicionadores da organização e evolução espacial. O lote não é apenas uma unidade delimitada, onde pode ser regular ou irregular. Os seus diversos modos de incorporação constituem em unidades privadas, ou seja, os quarteirões, que colaboram para a definição de limites entre o espaço público e o privado. Segundo Coelho (2015), o lote permite destacar um conjunto de regularidades e fragmentações, ou seja, através da estrutura parcelar é possivel identificar agrupamentos homogêneos , porém também permite identificar as rupturas morfológicas e variações de ritmo. Portanto, o lote contribui para a construção identitária Figura 2.19: Os lotes em Lisboa. Fonte: Lamas, 2004 pg. 92.

de uma determinada área, além de possibilitar a identificação de diferentes períodos de desenvolvimento urbano de uma área. 33


CAPÍTULO

34

3


O

RECORTE DE

ESTUDO

35


Figura 3.1: Município de São Paulo com destaque no distrito da Sé. Fonte: Base MAPINFO, editado pela autora, 2017.

36


3.1 A Região

Central

Oficialmente, a zona central é delimitada pelos distritos da Subprefeitura da Sé e República. Até a criação da subprefeitura da Sé, a noção de “centro” equivalia à região da antiga Administração Regional da Sé, que também incluía os distritos do Brás e do Pari atualmente englobados pela Subprefeitura da Mooca, interpretação que também é encontrada atualmente. A noção de “área central de São Paulo”, porém, é mais ampla a depender do estudo que é feito a respeito da região e pode incluir pontos como os centros financeiros da Avenida Paulista e da Avenida Berrini.

Figura 3.2: Transição do centro velho para a Berrini. Fonte: Google Maps, editado pela autora, 2017.

37


Segundo Villaça (2012), chama-se de “área de concentração das camadas de alta renda” a região da cidade que engloba todas as centralidades que são historicamente chamadas de “centro” e cujas imagens são de tempos em tempos ideologicamente associadas à própria imagem da cidade. Atualmente a Região da Sé já não é mais o polo financeiro da cidade, tendo sido substituído por outras regiões. Os edifícios instalados na região central são edifícios que abrigam Secretarias Estaduais, Prefeitura, ou seja, órgãos públicos. Um dos fatores desta transformação se deve a decadência da área que permanece com a falta de cuidado por parte do poder público e a presença de moradores de ruas nas calçadas. A Sé abriga o marco zero do município, o bairro é conhecido como o coração da cidade. A primeira construção erguida no alto de uma colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú era um centro de catequização de índios. Sua importância é, além de inegavelmente histórica, social e comercial, a área acomoda importantes edifícios, como a Prefeitura do Município de São Paulo, o Tribunal de Justiça e a Secretaria Municipal de Cultura. É também um dos pontos comerciais mais importantes da cidade, e certamente, o mais conhecido por ser o ponto central de duas linhas de metrô que cobrem Norte - Sul (Linha 1 – Azul) e Leste – Oeste (Linha 3 – Vermelha) da cidade.

38


De forma bastante concisa, a Sé é um exemplo de região cuja ocupação original foi substituída pela verticalização, estimulada pelo mercado imobiliário, e pelas sucessivas transformações nas políticas públicas, sociais e econômicas que regem o espaço urbano. A ascensão da cidade à qualidade de metrópole significou essencialmente a mudança da estrutura urbana: a importação do modelo norte-americano de adensamento e verticalização intensificou-se a partir da década de 60, e desfigurou a paisagem original (FILHO, 2004).

A seguir Figura 3.3: Centro de São Paulo. Fonte: www.cidadedesaopaulo.com.br editado pela autora, 2017.

39


40


41


Pela extensão geográfica, este trabalho não comportaria fazer um estudo sobre o distrito como um todo, portanto, foi escolhida uma parte integrante do bairro de grande importância: O Triângulo Histórico, compostos pelas Igrejas São Francisco, Catedral da Sé e Mosteiro São Bento. A região escolhida para ser objeto de estudo desta pesquisa reúne as características necessárias para a aplicação dos conceitos descritos no capítulo anterior, pois traz consigo inúmeras transformações pontuadas no tecido urbano tradicional, além de uma grande carga histórica.

Figura 3.4: Tecido Urbano do Triângulo. Fonte: Google Earth, editado pela autora, 2017.

42


Mosteiro São Bento

Igreja São Francisco

Catedral da Sé 43


3.2 A Colina Histórica:

Sua Fundação e Desenvolvimento

Desde a sua formação datada em 25 de janeiro de 1554 até meados do século XIX, o núcleo urbano da cidade de São Paulo se desenvolveu em uma área triangular formada pelo encontro dos rios Anhangabaú a oeste e Tamanduateí a leste, esta era a área que viria a se chamar Colina Histórica (TOLEDO, 2004). Os índios Guaianazes já haviam percebido as virtudes desse local e até mesmo já haviam denominado como ocara, que é uma espécie de praça no interior de uma aldeia. Em 1560 os Guaianazes abandonaram a colina devido à lenta ocupação que ali se instalavam. Os próprios índios levaram os primeiros padres jesuítas para a colina, onde se instalaram na face leste da mesma. A conquista de outros pontos da colina nos séculos XVI e XVII foi definida em virtude da criação de 3 ordens religiosas: os Beneditinos, os Carmelitas e os Franciscanos (TOLEDO, 2004).

Figura 3.5: Características do sitio inicial da vila de São Paulo - área urbanizada entre 1560 e 1580 - A Igreja do Carmo; B colégio São Bento. Fonte: MOROZ, pg. 175

44


Figura 3.6: Planta Topográfica da área central de São Paulo e seção geológica A-B. Fonte: AB’SABER, 1997 pg. 24.

45


Cada uma dessas construções era provida de uma igreja com apenas uma torre e com um corpo lateral que denominava-se mosteiro. Essas três ordens deveriam manter distanciamento por conta de suas comarcas. Sendo assim, a localização delas definiu o formato de um triângulo assentado sobre pontos dominantes da colina. A face leste da colina histórica, paralela à várzea do Rio Tamanduateí desempenhou a função de frente da cidade. A encosta era a primeira visão que se tinha de São Paulo de quem chegava do interior ou do litoral. Nesta mesma face é que chegavam o abastecimento de alimento entre outros, nas canoas que navegavam o Tamanduateí e alimentavam os quatro portos na Várzea do Carmo. De sua formação até o ano de 1890, ou seja, mais de três séculos, a população cresceu de 100 habitantes, em 1554, para cerca de 70 mil em 1890. Segunda a Emplasa, a cidade cresceu nesse espaço de tempo aproximadamente o equivalente ao seu crescimento trimestral atual. Desde a sua formação até 1628, até a expulsão dos jesuítas, a cidade viveu um período extremamente religioso, caracterizado por uma economia completamente fechada. A agricultura possuía um caráter apenas de subsistência, tendo apenas poucas hortas para consumo doméstico. Após a expulsão dos jesuítas em 1628, a cidade ganhou o papel de entrada para o sertão. A primeira 46


atividade que começou a ser destacada nesse período foi o comércio de escravos indígenas. Mas foi o ciclo de ouro que se seguiu ao fraco comércio indígena que veio estimular a vocação comercial de São Paulo, que passou a ser um grande entroncamento de estradas. O desenvolvimento da cidade de São Paulo tornou-se possível a partir do momento em que se configurou em seu território uma espécie de nó no sistema ferroviário implantado para o escoamento da produção do café. A partir da inauguração em 1867 da São Paulo Railway (Santos-Jundiaí), a rede foi sendo ampliada através de ramais complementares que convergiam para São Pulo (EMPLASA, 2001). O crescimento urbano definiu o zoneamento social de São Paulo. As áreas baixas, de várzeas e periféricas ao centro, sujeitas às diversas catástrofes naturais, e onde o preço da terra, por consequência, era menor e destinavam-se à instalação industrial e à habitação proletária, proximidade que rebaixava o custo de transporte da força de trabalho, desse modo imediatamente acessível. O período de 1890 a 1920 foi marcado pela pré-industrialização, onde houve uma forte imigração para a região do Brás, lado leste do Rio Tamanduateí. Esse período marca também o início da retificação do Rio Tamanduateí, onde suas margens foram sendo ocupadas lentamente.

47


Figura 3.7: Desenvolvimento da área do Triângulo no período de 1850-1920. Elaborado pela autora, 2017.

Já o período de 1920-1945 é marcado pela industrialização, onde a região do Brás é tomada por vilas operárias. O Rio Tamanduateí surge totalmente retificado com um novo parque em sua margem: O Parque Dom Pedro II. Este período marca também a expansão para o centro novo, voltados para o norte e para o oeste.

Figura 3.8: Desenvolvimento da área do Triângulo no período de 1920-1945. Elaborado pela autora, 2017.

48


O período de 1945 a 1980 é marcado pela grande transformação resultante de planos para a região. Tendo sido implantados novos modais de transporte: as Estações de Metrô Pedro II e Sé da Linha 3 Vermelha, o Expresso Tiradentes e o Terminal de ônibus Parque Dom Pedro.

Figura 3.9: Desenvolvimento da área do Triângulo no período de 19451980. Elaborado pela autora, 2017.

3.3 Os Caminhos do

Triângulo Histórico

O triângulo é composto por três principais ruas, São bento, que liga o mosteiro de São Bento à Igreja de São Francisco, a XV de novembro que se paralela a Boa Vista e pátio do colégio para se encontrar na antiga Igreja da Sé com a rua Direita, em caminho do viaduto do chá. 49


Rua Direita A rua Direita anteriormente era a rua mais reta comparada as tantas outras ruas tortas do centro antigo. Entre o começo do século XIX, a rua Direita sempre deu lugar às mais refinadas casas e lojas que eram o marco dourado da juventude da época Atualmente, a rua mantém sua tradição de lojas e comércio que sempre teve, não tão importante como já foi, mas ainda sim de passagem obrigatória para qualquer pessoa que por ali passa em um passeio pelo centro de São Paulo.

Rua XV de Novembro A rua possui um nome que remete a data da proclamação da república de 1889, porém, seu primeiro nome foi Manoel Paes Linhares, em homenagem a um suposto bandeirante que ali tinha terras. A rua servia de principal acesso ao porto geral, pela ladeira de mesmo nome, porto esse que não existe mais devido a canalização do rio Tamanduateí, que hoje passaria em baixo da atual rua 25 de Março. A transformação da rua em calçadão em todo o triângulo serviu para que grande parte da arquitetura clássica não fosse mudada, permanecendo assim sua história impressa aos olhares dos visitantes.

50


Rua São Bento A Rua São Bento é o símbolo histórico e religioso do triângulo, que liga as duas principais igrejas de São Paulo desde os tempos de Piratininga, o Mosteiro São Bento e a Igreja de São Francisco. Atualmente esta rua é uma das mais movimentadas do triângulo. A área do Triângulo passou por diversas mudanças em sua paisagem, muitos acreditam que a área histórica da cidade está totalmente degradada e sem vitalidade e que seu passado apresentava uma beleza que hoje não há. A seguir será apresentado algumas comparações através de fotografias do passado e fotografias atuais retratadas pela autora.

A seguir Figura 3.10: Rua XV de Novembro em 1901. Fonte: TOLEDO, 2004, 27. Figura 3.11: Rua XV de novembro em 2017. Fonte: Autora, 2017. Figura 3.12: Rua General Carneiro em 1907 . Fonte: TOLEDO, 2004, 238. Figura 3.13: Rua General Carneiro em 2017. Fonte: Autora, 2017. Figura 3.14: Largo São Bento 1938. Fonte: TOLEDO, 2004, 49. Figura 3.15: Largo São Bento 2017. Fonte: Autora, 2017. Figura 3.16: Rua Líbero Badaró em 1931. Fonte: TOLEDO, 2004, 55. Figura 3.17: Rua Líbero Badaró em 2017. Fonte: Autora, 2017. Figura 3.18: Rua Direita 1941. Fonte: TOLEDO, 2004, 63. Figura 3.19: Rua Direita 2017. Fonte: Autora, 2017. Figura 3.20: Rua Direita 1947. Fonte: TOLEDO, 2004, 75. Figura 3.21: Rua Direita 2017. Fonte: Autora, 2017.

51


1901

RUA XV DE 52


2017

NOVEMBRO 53


1907

54

RUA GENERAL


2017

CARNEIRO

55


1938

LARGO SÃO 56


2017

BENTO 57


1931

RUA LÍBERO 58


2017

BADARÓ 59


1941

RUA 60


2017

DIREITA 61


1947

RUA SÃO 62


2017

BENTO 63


No percurso do Triângulo ainda é possivel encontrar diversas arquiteturas. São igrejas, edifícios públicos importantes, misturas de culturas. O Triângulo é palco de diversas atividades, desde o intenso comércio, a variedades de restaurantes, centros culturais. Os edificios históricos são de extremas importância para a cidades, são eles quem nos revelam o passado e nos permite contemplá-lo. A figura ao lado mostra uma colagem de alguns edifícios existentes no Triângulo.

Figura 3.21: Colgem de edifícios. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

64


65


CAPÍTULO

66

4


ANÁLISE

MORFOLÓGICA DO

TRIÂNGULO

67


4.1 Análise

Temporal

Conforme vimos no capítulo 2, a morfologia Urbana pode ser entendida através dos processos históricos, pois o desenvolvimento histórico das cidades poduz uma acumulação de formas e as explica. Portanto, os processos históricos deixam suas marcas físicas na paisagem urbana. A seguir, será analisado três cartografias: 1868, 1881 e 1930.

4.1.1 Análise da

Cartografia de 1868

A cartografia de 1868 foi elaborada pelo engenheiro alemão Carlos Frederico Rath, chegou a São Paulo em 1845, contratado como engenheiro da Inspetoria de Obras Públicas da cidade. Esta cartografia é a primeira a trazer o percurso da linha férrea inglesa (a), iniciada em 1860, sendo inaugurada sete anos mais tarde. A ferrovia chegava a capital pela Várzea do Tamanduateí a sudeste. Ao lado esquerdo da planta encontramos anotações de Rath, até mesmo nomes de ruas haviam sido adotadas oficialmente em 1865, tirando as tradicionais denominações e substituindo por nomes mais convenientes relacionados a pessoas ilustres, ou a datas comemorativas da história (DPH, 2008). A implantação da ferrovia demorou a trazer benefícios à população naquela época, pois a cidade ainda padecia com problemas de abastecimento de água, ruas bem asfaltadas e variedade de edifícios públicos 68


importantes (DPH, 2008). Talvez seja esse o motivo pelo qual a realidade física da cidade permaneceu quase que imutável desde seus primeiros registros, onde podemos perceber que o traçado da cidade permaneceu enraizado na região. Segundo DE BEM (2006), a urbanização do triângulo paralelo à encosta do rio Anhangabaú se define com exatidão de linha reta pela Rua São Bento (b), delimitada nas suas extremidades por dois largos de igrejas (c). Essa urbanização de uma ponta a outra é coerente, tendo em vista as edificações importantes em suas extremidades (igrejas). Observamos também, que essa urbanização é mais regular no leito do rio Anhangabaú, partindo da Rua São Bento vemos a consequência de quadras em ziguezague de ruas, configurando quadras triangulares, ou seja, a disposição de desenho de quadras da colina possui diferenciação entre o lado leste (Rio Tamanduateí) e lado oeste (Rio Anhangabaú), porém ambos os lados se articulam com o tecido urbano. A oeste do Rio Anhangabaú, observamos acréscimos esboçados por Rath, que demonstram a intenção de expansão desta área (d), o que posteriormente vimos que sucedeu, surgindo assim a Rua Xavier Toledo e a Avenida São João com parte do traçado pedonal e parte para veículos. Outro fato que nos chama a atenção ao observamos as importantes vias, é a Rua Direita, pois em um extremo ela apontava para um importante Largo, o da Sé (e). No outro extremo ela aponta para um grande vazio, o vale do Anhangabaú. A estruturação 69


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Cartografia sem escala 70


do desenho nos indica que talvez houvesse uma intenção de transposição do vale, que, no entanto, nessa época não aconteceu. Posteriormente o Viaduto do Chá foi implantado, um viaduto que fez o papel de conexão entre o centro velho e o centro novo. Em um primeiro instante, historiadores apontam que a cidade se apresentava voltada para o leste, para a porta de entrada no Rio Tamanduateí, porém ali também estava à várzea do rio, um grande obstáculo a ser vencido pela urbanização, apesar de já dispor de algumas escassas travessias (f). É para o oeste, transpondo o vale, que a análise cartográfica indica a urbanização aos poucos acontecer, onde há alguns acessos (g) para outras localidades da cidade fazendo a articulação do centro velho para o centro novo.

Legenda

Figura 4.1: Cartografia de 1868. Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo, editado pela autora, 2017.

71


4.1.2 Análise da

Cartografia de 1881 Legenda

A cartografia de 1881 foi elaborada pela Companhia Cantareira e Esgoto, por Henry B. Joyner. Esta planta mostra a cidade no final do século XIX, onde se verifica a presença do traçado das ferrovias S.P Railway (Santos-Jundiaí), Sorocabana e São Paulo – Rio de Janeiro, instaladas em 1875. É possível observar a expansão das edificações para o oeste, assim como o traçado de novos loteamentos ao sul e ao norte da linha férrea. Esta cartografia apresenta a área total urbanizada da cidade, onde pode-se observar que a maior concentração de edifícios continuava se dando no alto da colina central, onde estava localizado o Triângulo, formado pelas Ruas da Imperatriz (XV de novembro), Direita e São Bento, região então considerada o centro comercial e financeiro da Capital. A tortuosidade e a estreiteza das ruas localizadas nessa área persistiam, e essa irregularidade só seriam definitivamente corrigida no início do século XX. A cartografia apresenta um importante eixo que conecta as Ruas da Mooca, 25 de Março, Florenço de Abreu e Luz, fazendo assim a conexão do leste ao norte. Porém, atualmente não há mais essa conexão, que foi interrompida com a implantação do Plano de Avenidas propostos por Prestes Maia e Ulhôa Cintra. Figura 4.2: Cartografia de 1881. Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo, editado pela autora, 2017.

72


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Cartografia sem escala 73


Quando ampliamos a área de recorte verificamos a tamanha densidade construtiva da área já em 1881, onde os lotes encontram-se quase que totalmente adensados. É possivel encontrar alguns miolos de quadra vazios e até mesmo um quarteirão com lotes demarcados. Até mesmo a várzea do Rio Tamanduateí ganha uma considerável ocupação se comparada a outros períodos onde a mesma era considerada desprovida. Esta cartografia nos apresenta o quanto a paisagem da área já estava transformada no século XIX. Atualmente não há um lote se quer que não tenha sido ocupado

Legenda

Figura 4.3: Cartografia de 1881 ampliada. Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo, editado pela autora, 2017.

74


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Cartografia sem escala 75


4.1.3 Análise da

Cartografia de 1930

A

cartografia

de

1930

foi

elaborada

pela

empresa

SARA Brasil, ganhadora da concorrência para execução do levantamento topográfico do município de São Paulo em 1928. Esta cartografia traz duas grandes principais mudanças na paisagem urbana das bordas do Triângulo: A implantação do Parque Dom Pedro II (não totalmente construído) e o Parque do Anhangabaú (a).

Em comparação com a Cartografia de

1881, observamos a reformulação do Largo da Sé, onde três Legenda quarteirões foram demolidos para dar lugar a Praça da Sé, sendo posteriormente ampliada de forma rigorosa. As três travessias (c) do Triângulo para o oeste já estão totalmente consolidadas, impulsionando ainda mais a expansão para o centro novo. Verificamos também, outra importante conexão consolidada na área: a conexão da rua Direita (d), que nasceu no antigo Largo da Sé, com o Viaduto do Chá, onde na cartografia de 1868 era evidente a necessidade daquele eixo se expandir. Permanecendo nesse eixo, encontramos ao final da Rua Direita a Praça do Patriarca (e), implantada com o objetivo de trazer uma perspectiva ampliada do novo Parque do Anhangabaú, ou seja, a ampla visão que a praça traz valoriza a paisagem do projeto de Bouvard, estabelecendo também ampla fruição para o Viaduto. O projeto de Bouvard é equilibrado pelos dois palacetes implantados na borda da Rua Libero Badaró (f), 76

Figura 4.4: Cartografia de 1930. Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo, editado pela autora, 2017.


onde faz a “integração visual” com o Teatro Municipal (e) do outro lado do vale. A intenção dessa disposição dos edifícios era de não haver uma interrupção bruta do tecido urbano com a implantação do parque. Apesar desta cartografia não trazer a extensão da Rua Boa Vista (g), nesse momento o Viaduto Boa Vista já havia sido implantado.

Cartografia sem escala 77


4.2 Decomposição do

Tecido Urbano

Segundo Coelho (2015), o Tecido Urbano é um todo orgânico que pode ser visto de acordo com diferentes níveis de escala. Quanto maior for o nível de escala maior será o detalhe daquilo que é mostrado e maior será a especificidade da descrição morfológica. A análise do Tecido consiste em decompô-lo, para verificar seus elementos: o traçado, os quarteirões, os lotes e as praças. A seguir será apresentado uma análise dos elementos compositores do tecido urbano do Triângulo Histórico.

Figura 4.5: Tecido Urbano do Triângulo. Fonte: Google Earth, editado pela autora, 2017.

78


79


4.2.1 Análise do

Traçado

O traçado é o elemento de maior visibilidade no tecido urbano. Apresenta-se o elemento mais perdurável através dos tempos, sendo o ordenador de outros elementos. A articulação da área de estudo é constituída por um eixo transversal que a partir dele se estabelece diversas formas, considerando o sítio. O traçado, invariavelmente, se assenta sobre o sítio. Sobrepondo o traçado urbano com o sítio da área de estudo vemos que a configuração lógica do traçado foi inicialmente se adaptar a natureza do sítio. Porém, entende-se que os assentamentos da aglomeração dos edifícios requerem uma inevitável modificação da topografia para receber o ajustamento de ruas e disposição de construções na produção do ambiente urbano.

Legenda

Figura 4.6: Sobreposição do sítio com o Traçado. Fonte: Base Geo sampa, editado pela autora, 2017.

80


81


A Colina A área está localizada em uma colina, como descrito nos capítulos anteriores. Morfologicamente as colinas possuem um eixo principal e esse eixo busca sempre estabelecer uma ligação direta entre o sopé e o cume.

Legenda

Figura 4.7: Ligação principal da colina. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

82


As colinas são bordeadas por rios, e sua encosta é o espaço de mediação entre núcleos com interesses distintos, ou seja, entre a parte alta (igrejas) e a parte baixa (comércio). Ao relembrarmos aspectos históricos vimos claramente esse fato, tendo em vista que a área da várzea do Tamanduateí, onde atualmente está implantado o Parque Dom Pedro II, sempre teve caráter comercial. Isso se acerta com a ligação feita na ladeira porto geral, onde através dela chegavam e saiam mercadorias. Portanto, essa mediação se reflete também em um processo de ocupação baseado em ligações entre o sopé e o cume da colina. Sendo assim, os traçados das colinas Figura 4.8: Corte da ligação entre o sopé e o cume. Fonte: Google Earth, editado pela autora, 2017.

revelam-se os pontos mais simbólicos, dominantes e protegidos, e as planícies localizam-se núcleos comerciais, estabelecendo transição de centralidade urbana. Rua São Bento

Rua Cantareira

83


A Cumeeira Utilizando a base conceitual de Coelho, identificamos no recorte uma tipologia de traçado que denomina-se cumeeira. Esse elemento é um sistema linear de espaços públicos principais da área, que se estruturam ao longo de pontos de cotas mais elevadas.

Legenda

Figura 4.9: Eixo da cumeeira. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

84


Legenda As cumeeiras possuem muita importância na produção do tecido urbano, pois através do traçado, tendem

a

gerar

sistemas

de

malhas parcelares e conectam os primeiros edifícios representativos da cidade, pois estão situados em do um

uma

posição

território. traçado

Por

se

dominante tratar

de

representativo

e

dominante, a cumeeira, localizada na rua São Bento, torna-se um eixo articulador de traçado, onde o seu eixo gera outros eixos que dão acesso a outras localidades importantes. Portanto, a cumeeira forma uma unidade morfológica estruturada e hierarquizada.

Figura 4.10: Os eixos da cumeeira. Fonte: Base Geosampa editado pela autora, 2017.

85


A concepção do traçado como estrutura da cidade, adota a malha como referencial para a composição, evidenciando um sistema de espaços públicos articulados e hierarquizados. As malhas são elementos que podem ser repetidos e possuir características idênticas.

Legenda

Figura 4.11: A malha Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

86


Legenda Permanecendo

ainda

na

mesma área, vemos claramente o

que

COELHO

denomina

de

efeito de torção. A leste da Rua São

Bento

observamos

este

efeito da torção da malha, isso acontece quando se estabelece a concordância de traçados parciais, que se implantam com direções divergentes e por consequência produzem com

ruas

pontos

de

semi-sinuosas, inflexão.

a

oeste, vemos claramente o traçado homogêneo

que

se

estrutura

partindo também da rua São Bento e que se articula com o traçado irregular.

Figura 4.12: Efeito de torção da malha. Fonte: Base Geosampa, ediitado pela autora, 2017.

87


Tipologia dos Traçados Tanto a gênese da cidade quanto suas transformações estão sempre associadas à questão de domínio do território, sendo assim, cada cidade representa uma concentração de poderes sociais, políticos, econômicos, e isso pode ser percebido na forma urbana. Portanto, vemos que há sempre estratégia nos assentamentos humanos, embora o controle de um território possa ocorrer sem que seja feito através de uma forma planejada. Desse modo, as tipologias dos traçados podem revelar muito sobre a natureza do poder que as originam. Traçado Orgânico: São

os

que

mais

aderem

às condições do

sítio original, denotando processos de ocupação territorial que prescindiram

de planejamento e desenho prévio. É um tipo de

traçado que reflete uma maior dispersão de poderes. Traçado em Grelha Irregular: O traçado em grelha colonial apresenta de forma discreta o planejamento do território. Essa grelha faz a transição de poderes mais dispersos para aqueles concentrados. Traçado Monumental: Os traçados monumentais traduzem o poder concentrado. São eles que induzem ao monumento de forma perspectivada para evidenciar o poder ali instalado. Traçado em Grelha: Esse tipo de traçado é associado ao poder concentrado pois, grandes impérios utilizavam como forma de impor ao território ordenamento, onde fazia a distinção de ambientes desordenados. 88

Figura 4.13: Poderes no traçado da área. Fonte: Base Geosampa editado pela autora, 2017.


Traçado Pituresco: É no traçado Pituresco no qual se busca a paisagem dos traçados orgânicos com uma estrutura com lotes mais regulares e comercializáveis. Está associado ao pode concentrado. Traçado Diagrama: É o traçado apropriado

pelo

modelo

das cidades-jardim, inspira adições ao tecido urbano no pesente, nos

bairros elitizados de grandes metrópoles

contemporâneas.

Poder Disperso Traçado Orgânico

Traçado em Grelha irregular

Poder Concentrado Traçado em Grelha

Traçado Monumental

Traçado em Grelha

Traçado Monumental

Traçado Orgânico

Traçado em Grelha irregular

Traçado Monumental

Figura 4.14: Tipos de poderes. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

89


4.2.2 Análise do

Quarteirão

O quarteirão ocupa uma lugar único entre os elementos da morgfologia urbana, com a particularidade de possuir uma posição na concepção da cidade. É parte integrante no desenho urbano, na materialização de determinado modelo de sociedade, na concepção de modos de vida, na conformação do espaço na arquitetura, o quarteirão permite a relação entre o público e o privado entre o ususfruto do solo e o habitar. O quarteirão muitas vezes pode ser resultado do traçado, mas também ser um gerador do mesmo. Cabe ao quarteirão determinar a natureza do logradouro, não tanto na questão da forma em si, mas na forma como permite as pessoas viverem na cidade. Conforme visto na análise temporal da área, a cartografia de 1881 apresenta grandes transformações no Triângulo, sendo a sua ocupação a que mais chama atenção. Portante, para analisarmos os quarteirões da área, faremos a seguir um comparativo entre as cartografia de 1881 e o Mapa de 2017, onde foi selecionado cinco quarteirões que apresentam mudanças significativas.

90


Mapa de 2017

Cartografia de 1881

Figura 4.16: Mapa atual com quarteirões. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017. Figura 4.15: Cartografia 1881 quarteirões. Fonte: Arquivo Histórico, editado pela autora, 2017.

91


Quarteirão 1 • Ocorreram modificações em suas dimensões, tendo sido

reduzido para dar lugar ao início da Avenida São João; • É formado por traçado regular, com configuração Trapezoidal; • É circundado por vias pedonais e vias para veículos; • Configuração de quadra fechada, uma de suas extremidades

possui uma pequena Praça com deck. A calçada da Rua

Líbero Badaró possui 2m de largura sem arborização; • Lotes com testadas entre 6m e 25m; • Parcelas com agrupamento homogêneo; • Apresenta edificações sem recuo que ocupam 100% da área

de projeção dos lotes.

O Tecido Urbano

Escala 1:90.000 92

O Quarteirão

O Lote

Figura 4.17: Quarteirão 1. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.


Quarteirão 2 • Ocorreram modificações em sua forma, tendo sido dividido

para a implantação do Viaduto Boa Vista, conectando a Rua

Boa Vista com o Largo Páteo do Colégio; • Possui desnível entre a Rua 25 de Março e a Rua Boa Vista,

ou seja, em suas faces laterais (sentido norte); • É circundada por vias de circulação de veículos e apenas a Rua

General Carneiro possui parte do percurso pedonal; • Configuração de quadra fechada, sem arborização nas

calçadas e sem recuo; • Lotes com testadas entre 6m e 39m; • Parcelas com quebra de ritmo, sem homogeneidade; • Apresenta edificações sem recuos que ocupam 100% da área

de projeção dos lotes.

O Tecido Urbano

Escala 1:90.000

O Quarteirão

O Lote

Figura 4.18: Quarteirão 2. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

93


Quarteirão 3 • Ocorreram modificações em sua forma, onde foi demolido

uma parte para implantação da Praça do Patriarca; • Configuração retangular com traçado regular; • É circundada por vias de percurso pedonal e uma única via

aberta para circulação de veículos (Rua Líbero Badaró); • Configuração de quadra fechada, sem arborização nas

calçadas e na via aberta para veículos possui calçada de 2m

de largura; • Lotes com testadas entre 8m e 31 m; • Parcelas homogêneas, sem modificação na forma parcelar; • Apresenta edificações sem recuos que ocupam 100% da área

de projeção dos lotes.

O Tecido Urbano

Escala 1:90.000 94

O Quarteirão

O Lote

Figura 4.19: Quarteirão 3. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.


Quarteirão 4 • Quarteirão foi segmentado em dois e uma parte foi retirada

para implantação do arborizado Largo São Francisco; • É circundada unicamente por vias pedonais; • Configuração de quadra fechada, com arborização nas

calçadas apenas na Rua Senador Paulo Egídio, sem recuo; • Lotes com testadas entre 6m e 30 m; • Há prevalência de lotes homogêneos, com algumas quebras

de ritmo parcelar; • Apresenta edificações sem recuos que ocupam 100% da

área de projeção dos lotes.

O Tecido Urbano

O Quarteirão

O Lote

Escala 1:90.000

Figura 4.20: Quarteirão 4. Fonte: Base Geosampa editado pela autora, 2017.

95


Quarteirão 5 • Ocorreram transformações significativas, tendo sido

demolido sete quarteirões, gradativamente, para

implantação da atual Praça da Sé; • É circundada por vias abertas para circulação de veículos; • Configuração de quadra aberta, com arborização, áreas com

fonte de água além de monumentos e acesso ao Metrô; • Os poucos lotes que permaneceram no quarteirão possuem

testadas entre 5m e 50 m; • Parcelas homogêneas; • Apresenta edificações sem recuos que ocupam 100% da

área de projeção dos lotes.

O Tecido Urbano

Escala 1:90.000

96

O Quarteirão

O Lote

Figura 4.21: Quarteirão 5. Fonte: Base Geossampa, editado pela autora, 2017.


4.2.3 Análise da

Praça

1 - Largo São Bento 2 - Largo São Francisco 3 - Praça da Sé

Figura 4.22: Demarcação das praças.. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

As

praças

coloniais

brasileiras

possuem

características

formais com a dominante presença de um templo em seu entorno. Posteriormente todos edifícios importantes da cidade também passaram a ser implantados nas suas imediações. Todos os espaços selecionados para este estudo são parte integrante do tecido urbano que possuem uma relação hierárquica formal e funcional com os outros elementos que os compõe. Sendo assim, selecionamos as três principais praças do Triângulo: O Largo São Bento, o Largo São Francisco e a Praça da Sé. Foi utilizada a obra “A Praça em Portugal” do Português Coelho Dias como forma de metodologia de análise das áreas selecionadas. Foram abordadas nessas análises suas características principais e suas transformações. 97


Largo São Bento Atividades: • Circulação de pedestres; • Comércio/Serviços; • Contemplação; • Eventos Culturais.

Escala 1:90.000 Figura 4.23: Implantação Largo São Bento. Fonte: Base Geosmapa, editado pela autora, 2017.

Assim como todas as outras cidades coloniais Brasileiras, São Paulo se fundou através uma área destinada à implantação de uma ordem religiosa, assim foi o Largo São Bento, fruto de uma necessidade religiosa. Sendo assim, podemos considerar que o largo foi um espaço previamente planejado, concebido para uma determinada função. O largo possui uma definição espacial que pode ser claramente vista no tecido urbano, apesar de pequena se comparada às outras. As edificações em seu entorno foram construídas em diferentes épocas, autonomamente do espaço, porém sempre respeitando o alinhamento da edificação principal (o Mosteiro). As fachadas apontam para comércios e para o Viaduto Santa Ifigênia. Figura 4.24: Fachadas do Largo São Bento. Fonte: Fotografia feita pela autora, 2017.

98


Fachada 1

Fachada 2

Fachada 3

99


Largo São Francisco Atividades: • Circulação de pedestres; • Contemplação; • Eventos Culturais.

Escala 1:90.000 Figura 4.25: Implantação Largo São Francisco. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

Inicialmente, com a fundação do Convento de São Francisco, o largo era apenas uma “rua” larga. Entre 1880 e 1930 a área passou por diversas transformações, onde o quarteirão em frente ao convento, deu lugar a um novo Largo São Francisco. Portanto, o largo apesar de ter sido fundado juntamente com a Igreja São Francisco, foi reformulado e “transferido” para sua dianteira. Podemos considerar que o Largo foi previamente planejado e suas reformulações igualmente. A sua forma possui definição espacial e uma pequena visibilidade no tecido urbano. Suas fachadas possuem edificações de diferentes épocas e estilos que respeitam o alinhamento da faculdade de Direito e da Igreja, sendo essas construções as principais e mais notáveis da área. Figura 4.26: Fachadas do Largo São Francisco. Fonte: Fotografia feita pela autora, 2017.

100


Fachada 1

Fachada 2

Fachada 3

Fachada 4

101


Praça da Sé Atividades: • Circulação de pedestres; • Contemplação; • Eventos Culturais; • Turística.

Escala 1:95.000

A praça da Sé foi o espaço aqui selecionado que mais passou por transformações. Originalmente conhecida como o “Largo da Sé”,

Figura 4.27: Implantação Praça da Sé. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017.

a praça desenvolveu-se durante o período colonial, sendo a Igreja Matriz do município. Em sua primeira reformulação que está presente na cartografia de 1930 (aqui analisada), a área inicialmente possuía apenas 1/3 da área atual da praça, tendo sido depois demolidos diversos quarteirões para sua configuração atual. Sendo assim, a praça passou por um processo evolutivo de transformações planejadas. Sua forma possui definição espacial que contempla grande visibilidade no tecido urbano. As fachadas da praça são as mais tradicionais dentre as três selecionadas para análise. A praça abriga, além da própria Catedral da Sé, o Palácio da Justiça, com arquitetura Renascentista que compõe o conjunto edificado na praça. 102

Figura 4.28: Fachadas da Praça da Sé Fonte: Fotografia feita pela autora, 2017.


Fachada 1

Fachada 2

Fachada 3

Fachada 4

Fachada 5

103


104


CONSIDERAÇÕES

FINAIS

105


As cartografias apresentam as principais transformações formais da paisagem urbana da área do Triângulo, onde se verifica que ao longo do tempo a área apresentou necessidade de expansão devido a sua grande densidade construtiva, fazendo com que aos poucos fossem construídos eixos de conexão que levaram ao seu abandono como polo estruturante da cidade. Quarteirões foram demolidos para dar lugar a grandes construções e embelezamento da área, onde não é possível encontrar nenhum lote que não esteja adensado. O traçado é o elemento que possui um caráter de maior permanência, visto que nas cartografias apresentadas, o mesmo se apresenta estratificado, possuem apenas transformações em sua largura e na implantação das conexões citadas, definindo o perfil das suas quadras. O estudo do Triângulo Histórico revela que a forma urbana é definida pela história e também por sua geografia, tendo em vista que área é formada por uma colina. Sua forma está relacionada ao modelo da maioria das cidades coloniais brasileiras, onde sua fundação foi feita a partir da implantação de ordens religiosas, que traziam consigo os largos. A caracterização dos largos ou praças da cidade colonial dependia de seu entorno, ao mesmo tempo em que seus espaços circundantes eram atrativos para construções de estabelecimentos comerciais. A morfologia urbana está atrelada com a historicidade, onde o presente e o passado estão materializados na cidade através do tecido urbano, onde podemos identificar os elementos da cidade. O estudo contribui para o entendimento de 106


Lote questões de planejamento urbano, na

qualificação

urbanos,

além

dos de

espaços

servir

Quarteirão

como

instrumento para adotar parâmetros de leis de zoneamento, coordenar

Traçado

o uso e ocupação do solo. O estudo proporcionou formação

do

o

entendimento Triângulo

da

Histórico

através da observação de como a sua configuração necessidades

original que

apresentava

posteriormente

foram atendidas. Além de apresentar os processos históricos, o conceito apresenta a decomposição urbana, onde os seus elementos são expostos de forma singular e ao mesmo tempo conjunta. A morfologia possibilita diversos modos de análise da cidade sobre

Tecido

o tecido urbano, como na forma de ocupação, nas suas relações sociais, econômicas e culturais. Figura 1: Perspectiva explodida dos elementos. Fonte: Base Geosampa, editado pela autora, 2017. Figura 2 da página seguinte: Centro de São Paulo. Fonte: www.cidadedesaopaulo.com.br. Editado pela autora, 2017.

Sítio 107


“A CIDADE

ARQUIVO DE PEDRA” É UM

Robert Auzelle

108


109


110


REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

111


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114


11


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