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O Gorilinha
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O Barro Encantado dos Galagos II
por Alejandro Ayala Polanco IIlustraçþes de Loreto Matthews
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O Gorilinha
squivo OporBarro Encantado dos Galagos II Alejandro Ayala Polanco A distribuição desta história e ilustrações, por qualquer meio é proibida. Conto: Alejandro Ayala Polanco (c) 2009 Ilustrações: Loreto Matthews (c) 2009 Tradução ao português: Clarissa Torres de Oliveira
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Huraño El Gorilita
El Barro Encantado de los Gálagos II por Alejandro Ayala Polanco
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o interior de um arvoredo milenar, debaixo de uma coroa de ninhos das mais diversas famílias de aves; ao lado de um pântano esmeralda, repleto de insetos dos mais variados trajes e cantos; sobre a espessa erva, apoiados em galhos curvos, arrastada pelo peso de seus abundantes frutos; nesse colorido e perfumado canto da selva, a tribo dos gálagos tinha seu lar.
lmais completa, seus enormes olhos lhes permitiam descobrir os altos galhos dos quais balançar-se. Com cada amanhecer, no entanto, até o mais rebelde dos macaquinhos se reunia para dormir junto à sua família, já fosse em um leito de folhas e gal-
Nesse refúgio, os gálagos pequenos viajavam de galho em galho firmemente agarrados em suas mães, que os vigiavam a todo momento. Os maiores passavam toda a noite brincando. Mesmo na escuridão 3
hinhos como em um buraco no interior de uma velha árvore. A partir de então, os jogos delirantes da tribo dos gálagos davam passagem ao silêncio durante o resto do dia.
espiando em cada buraco de árvore, em cada leito de galhos, em cada ninho de folhas e erva.
Mas tal como as nuvens cinzas deixam cair sua sombra antes da chuva, essa manhã o aterrador manto de dentes e lanças de macacos caçadores cobriu subitamente o aprazível arvoredo.
Dominados por sua ansiedade, demoraram um tempo em compreender que seus esforços eram em vão.
Os líderes da expedição, deixando suas lanças em terra, coçaram suas cabeças sem A tragédia era inevitável. Um triste go- parar. O resto da tropa se reuniu ao seu rilinha, que mal podia ver através das redor igualmente intrigada. Tudo indicava espessas capas de geleia de frutas que que a tribo dos gálagos tinha desaparecido. cobriam seu corpo, assim o antecipava. Muitos de seus amigos gálagos morreriam Através do caminho se aproximava o goriesse dia, crianças e adultos igualmente, linha, que uma vez recuperada sua visão, famílias inteiras, a tribo completa seria tinha se lançado a toda velocidade rumo talvez exterminada frente ao arvoredo. Estava decidido a salvar à voracidade dos inva- quantos macaquinhos conseguissem pensores que foi incapaz de durar-se nele. deter. Mas nada do que ele temia estava aconteOs chimpanzés cendo. Tão perplexo como aliviado, ele pase dispersaram rou. 4
De repente, o barulho de uns galhos no alto lanças jogadas no chão. estremeceu os chimpanzés; seriam os gálagos saindo de seu esconderijo? Poderiam -“Ahhh, pois se isso é o que buscam, macaquinho, este é um lufinalmente desfrutar gar esplêndido para sua comilança? fazê-lo. Inclusive um chimpanzé com o céMas não, tratava-se rebro tão pequeno nem mais nem mequanto o seu, ennos que do Macacheria sua barriga co Curandeiro, que em poucos segundos descendia estrepitotendo tantos gálagos samente por um dos adormecidos ao noscipós. so redor. É coisa de esticar o braço para -“O que faz uma genpegá-los”, disse-lhe, talha de macacos tão apontando em todas feios como vocês fora as direções, inclusive da aldeia? Interroaos seus próprios pés. gou-lhes já de pé sobre a erva com seus Sua resposta, como braços em forma de era de se esperar, jarra. provocou o assombro -“Caçamos gálagos, velho curandeiro” res- mais absoluto dos macacos aí reunidos; inpondeu-lhe o irmão macaco, mostrando as clusive no gorilinha que espiava à distância. 5
Não viam nada do que o curandeiro com bater no chão com pedras e galhos. Estatanta segurança lhes mostrava. Gálagos, vam realmente bravos, e o velho curandeiadormecidos por toda parte, ao alcance da ro chegou a temer que lhe arremessassem uma de suas mão? lanças. -“Não me digam Foi então quando que uma tropa de decidiu revelarjovens caçadores lhes o mistério como vocês remais assombroso sulta incapaz de de que já teve ver o que eu, um conhecimento a decrépito ancião, cultura chimcontemplo sem o panzé, e que tão menor esforço? somente com sua Perguntou-lhes, menção, deixaria a par de sua abruptamente incredulidade. muda a gentalha enaltecida. -“Não, não vemos nada!” gritou o Tratava-se de irmão macaco nada menos que “Diga-nos por um barro encantado, uma misteriosa subsonde se foram!” tância composta de uma combinação singuVários dos chimpanzés começaram a lar de grãos de terra, resina de árvore e 6
a forma mais fácil é fazendo-se invisíveis também”, disse-lhes. E sem esperar comentários, com a tropa de macacos seguindo seus passos, caminhou decidido até a borda do pântano.
água, que dentre outras propriedades, podia ocultar da vista a todo aquele que se banhasse nele.
-“Os gálagos não se foram, macaquinhos” disse-lhes com seriedade. “O que Uma vez aí, levantando um punhado de lodo à altura de seus narizes, explicou-lhes aconteceu foi que se fizeram invisíveis”. que se realmente desejavam caçar os gáTão supersticiosos eram os macacos da al- lagos deveriam cobrir-se por completo, até deia, que não colocaram nenhuma objeção o último de seus pelos, com aquela mística ao que escutavam. Ainda acreditavam que substância. beber sangue os fazia fortes e coisas do tipo. De tal maneira que se o velho curandeiro o E aconteceu que tão ansiosos estavam os macacos então, tanto desesperavam por dizia, seguramente esse barro era real. começar de uma vez seu sangrento festim, Mas o que eles queriam escutar não era que não duvidaram nem por um segundo isso. Não tinham o menor interesse em se em seguir suas instruções. Além disso, pofazer invisíveis. Eles estavam aí para caçar, dia-se dizer que competiam para ver quem para dar-se um bom banquete, não para se enlameava em realizar atos de magia. Assim o expôs o ir- menos tempo. mão macaco, a quem o jejum fazia pôr de lado toda cortesia. -“Se quiserem ver um macaco invisível, 7
“Quanto mais rápido nos cobrirmos de lodo, pálpebras dos macacos. mais cedo comeremos”, pareciam dizer os chimpanzés. Pobres gálagos! Agora sim é que seriam devorados pelos chimpanzés, e já não haveria E logo não tinham nenhum pelo à vista, só feitiçaria nem aliados gorilas que lhes pronariz, orelhas e olhos permaneciam desco- tegessem. bertos. Era o que parecia. Mas a medida que “Agora eles se encontram os macacos lutavam infrutuosamentão sujos quanto me te por abrir os olhos, descobriam que o deixaram antes”, pensou o resultado de tal encanGorilinha, que observava a cena com tamento tinha sido muito franca estranheza. É que a pesar diferente do prometido. de sua amizade com os gálagos, jamais ouviu falar de um barro Nem na mais crua noite de inverno se consemelhante. heceu na selva escuridão semelhante. Como se de uma venda se tratasse, os macacos já “Já falta pouco, macaquinhos”, disse-lhes o não puderam ver nada. curandeiro, mandando-lhes a seguir que fechassem os olhos. Em vão tentavam se orientar, batendo uns contra outros, escorregando alguns ao inMisturando o barro que ainda tinha nas terior do pântano onde depois de um bom mãos com resina de árvores e uma ou outra tempo, devido a uma intensa lavagem, reerva secreta, amassou uma espessa subs- cuperariam a visão. tância com a qual cobriu uma por uma as 8
-“O que está acontecendo?” disse o curan- As crianças que escutem esta história sedeiro, “por acaso não estavam impacientes guramente já terão resolvido por si mesmas por caçar?” os detalhes de sua engenhosa artimanha. Baste com dizer por agora que graças à sua -“Não vemos nada, velho charlatão!” uivou astúcia, que envergonharia até o mais eso irmão macaco que articulava as palavras perto guaxinim, uma tribo completa de gácom dificuldade, já que o barro não cessava lagos tinha se salvado. de entrar pela sua boca. E enquanto ele se afastava ao encontro “Então não veem nada!” riu ao fim o curan- do gorilinha, que já compreendia que tudo deiro, contente pelo resultado de seu plano. aquilo foi feito para salvar seus amigos, o macaco curandeiro fez ainda uma última revelação: “Certamente que este é um barro encantado” disse-lhes, “porque enquanto torna invisível aqueles que precisam de proteção, Sim! Escutaram bem, de seu plano. É que enceguece os olhos daqueles já cegos de coadiantando-se por um atalho que só ele ração”. conhecia, tinha chegado muito antes que todos ao arvoredo. Não estava fugindo quando decidiu deixar o gorilinha sozinho frente à gentalha de chimpanzés. Simplesmente tinha encontrado uma maneira melhor de evitar a tragédia.
Fin
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Alejandro Ayala Polanco Criador independente e ativista pelo direitos animais no Chile. Narrador da versão em castelhano do documentário “A life connected”. Fundador em 2002 do movimento Homo Vegetus, propôs um enfoque de transformação de consciência na abordagem e compreensão do veganismo. Criador também da Fonda Vegana del Huaso Vegetariano, em 2006, é responsável por uma grande revolução na maneira de viver as festas pátrias no Chile. Semillas Veganas é sua iniciativa mais recente dentro da qual podemos encontrar a série do Gorilinha Esquivo, assim como uma crescente família de personagens e aventuras de ecologia profunda.
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O Barro Encantado dos Gálagos I I por Alejandro Ayala Polanco Ilustrações de Loreto Matthews
Homo Vegetus Os contos do Gorilinha Esquivo mostram os diversos desafios que deve enfrentar um gorilinha que vive numa aldeia de chimpanzés. Contato: supervegano@gmail.com Mais informações em: semillasveganas.blogspot.com www.homovegetus.cl