Expografia museal - da coleção pessoal ao novo museu

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A EXPOGRAFIA MUSEAL – da coleção pessoal ao novo museu

Alessandra de Oliveira Marçal (Uni-FACEF) Prof.ª Dr.ª Edna Maria Campanhol (Uni-FACEF)

Introdução A exposição é o canal de comunicação entre o acervo e o visitante, o caminho que possibilita a interação e a apropriação do conhecimento que a cultura material exposta no museu oferece. Ao longo do tempo a forma de expor objetos, de manipulá-los, e classificá-los dentro das instituições museológicas se modificou muito, de acordo com sua temporalidade, absorvendo filosofias e ideologias de seu tempo e sua localização. Tendo em vista esse caminhar realizado pelos museus e as várias modificações sofridas no decorrer dos anos fazer-se-á um panorama histórico dessas modificações, tendo como ponto de partida não o nascimento do primeiro museu, templo das Musas gregas, mas as coleções particulares renascentistas, berço da atual museologia. Pretende-se assim destacar as inovações propostas a partir das décadas de 1970 e 1980 pelo grupo ideológico da Nova Museologia que, ao contrario de propor uma total ruptura com o passado, pretende humanizar os museus, tornando-os mais ativos na sociedade atual e não apenas representações desta, pois a Nova Museologia, a qual terá destaque neste trabalho, propõe o museu como território relacional entre visitante e acervo, possibilitando novas reflexões e interações deste com a instituição. A exposição contemporânea pretende dar “voz” ao objeto, preparando a exposição sob a ótica do público, tendo em mente a diversidade do mesmo quanto a origem cultural, classe social, faixa etária, entre outras características. Seu objetivo é ser auto-explicativa, compreensível ao olhar leigo do visitante, para o qual cada objeto exposto tem um significado único. A Nova museologia, bastante aplicada em grandes museus agora pede espaço para entrar nos museus de pequeno porte, que ainda a acolhem


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aos poucos, em pequenas modificações de abordagens ao público e em técnicas expositivas.

As Coleções e os Gabinetes Colecionar é guardar objetos que inspiram mistério, lembranças, possibilitam status, poder. Essa forma de selecionar coisas e atribuir uma significação

remonta

à

pré-história(MENEGAT,

2005,

p.11),

durante

praticamente toda a sua existência o homem constituiu coleções. Para Belk e Muensterberger (apud. PEPECE, p.13) colecionar é adquirir objetos de forma apaixonada, acumulando “histórias fantásticas” em tesouros que exprimem orgulho. Colecionar é um modo de “compreender” o mundo. Segundo Baudrillard (2002, p. 95) o ato de colecionar aparece em fases, e é mais comum entre os sete e onze anos, porém pode reaparecer logo depois. Para ele “Com a criança [a coleção] é a forma mais rudimentar de domínio do mundo exterior: arranjo, classificação, manipulação”(Idem, Ibidem). Na coleção o objeto é abstraído de sua função prática e passa a ter função emotiva para o sujeito. Passa a ser o “objeto amado” ou “objeto paixão”.

Estes objetos

representam uma “parte” do colecionador. O self no objeto se torna o self estendido (BELK apud CAVEDON et. al.), o objeto passa a representar o sujeito. Na época do renascimento, quando o espírito classicista volta à tona, o hábito de colecionar objetos, estatuas, obras de arte Greco-romanas se torna comum na Europa. Essas coleções eram acondicionadas em Gabinetes. Os Gabinetes eram compostos por coleções particulares que refletiam, como qualquer outro tipo de coleção, a vaidade de seus donos. Eram exibidas a um grupo seleto de pessoas, formado por aristocratas e estudiosos, que detinham o “saber do mundo” já que o objetivo das coleções dos gabinetes pode ser visto na frase “O ato de colecionar transfigura-se em compreensão de tudo o que há no mundo” (POSSAS, 2005, p.151). Com o advento das grandes navegações os gabinetes e as coleções particulares se enchem de objetos de terras distantes(LARA FILHO, 2006, p.26), repletos de mistérios. Surgem assim as grandes coleções dos


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Reis, príncipes e burgueses, classes que tinham condições de adquirir e acumular objetos. A coleção então se torna sinônimo de poder e destaque social tendo em vista a relação dinheiro – poder – possibilidade de colecionar. Ancorando-se cada vez mais no caráter científico (POSSAS, 2005, p.151) nessa época são criados meios de classificação dos objetos expostos em gabinetes. Até essa época não havia um sistema claro e definido de classificação dos objetos. “Os gabinetes não eram homogêneos, não seguiam um mesmo padrão” (LARA FILHO, 2006, p.26). Era comum encontrar gabinetes que traziam paisagens, retratos, ao lado de animais embalsamados, conchas, esculturas, curiosidades, pequenos desenhos ou gravuras, lâmpadas a óleo, cadeados, taças. Todos dispostos de forma aparentemente caótica (Idem, ibdem) – os Gabinetes de Curiosidades. As coleções dos gabinetes eram ordenadas apenas em torno de dois grandes eixos – o Naturalia e o Mirabilia. (POSSAS, 2005, p.153). De acordo com Lugli (apud POSSAS, p. 153) O eixo naturalia era composto por exemplares do reino animal, vegetal e mineral. Já o eixo mirabilia se dividia em duas seções – “os objetos produtos da ação humana (Artificialia) e as antigüidades e objetos exóticos que remetem a povos desconhecidos”. Os gabinetes tinham caráter enciclopédico, juntavam objetos e os classificavam, buscando guardar o conhecimento do mundo, “...os objetos são os meios para se chegar ao conhecimento universal” (LARA FILHO, 2006, p.23). O gabinete é uma tentativa de conservar toda a memória. São “lugares da memória”. Sua forma de exposição e montagem era realizada de modo que a disposição dos objetos em seu espaço expressasse a ordem ou reconstituíssem o mundo (Idem, p.28). A criação dos gabinetes, a partir da preocupação com a preservação da memória, teve papel fundamental na criação dos museus, é possível dizer que as grandes coleções de arte deram origem aos museus de belas-artes, os gabinetes de curiosidades deram origem aos museus de história natural e os gabinetes de antiguidades deram origem aos museus de arqueologia (VASCONCELLOS, 2006 p.17). Os gabinetes foram o primeiro passo na direção da preservação de objetos, de sua classificação e


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amostragem. As coleções dos burgueses e aristocratas preservaram a cultura material do homem, bem como exemplares da natureza, o que possibilitou a difusão do conhecimento cientifico durante o renascimento e os séculos seguintes. No ano de 1750, parte da coleção real francesa foi aberta ao público, dois dias por semana, no Palácio de Luxemburgo, em Paris. Havia outros dias destinados a visitação de artistas e estudantes (VASCONCELLOS, 2006 p.18).

O iluminismo e os museus nacionais A passagem dos gabinetes de coleções particulares a coleções classificadas e ordenadas voltadas ao estudo científico se deu de modo lento e gradual (LARA FILHO, 2006, p. 35), e ocorreu juntamente com o surgimento do “século das luzes” caracterizado pelo iluminismo, corrente de pensadores que possibilitaram grande avanço das ciências e da filosofia, como Descartes, Bacon, Leibniz.

As ciências da natureza se desenvolvem com pensadores

como Buffon e Lineu, que iniciam a classificação das espécies naturais. Suas idéias, que propunham caminhos diferentes para a classificação das espécies vivas, influenciam a classificação e a organização dos gabinetes de história natural, que começam a se modificar nesse período. A preocupação do iluminismo com o conhecimento e o desenvolvimento científico, e a valorização do saber acaba aos poucos proporcionando a abertura dos gabinetes. Vários deles podiam ser visitados facilmente com uma carta de apresentação(POSSAS, 2005, p.154). Os

ideais

iluministas,

no

entanto,

atingiram

também

o

pensamento da sociedade e da política. No âmbito das ciências sociais o iluminismo retornou às idéias pregadas na antiguidade. Essas idéias remontavam à Grécia antiga, aos direitos do homem, não os adquiridos ao longo da vida, mas os direitos de nascença (CASSIRER, 1997, p.316). Idéias já discutidas fundamentalmente no passado, que pregavam a igualdade para uma democracia justa, como as idéias de Platão sobre as “relações de direito e força”(idem, Ibidem). Essas idéias suscitaram grupos intelectuais, que iniciaram


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movimentos de “restauração” ou “restutio in integrum”, que pretendia destruir o regime de poder e restaurar os direitos fundamentais, “... imutáveis e inabaláveis, tão antigas quanto a própria humanidade” (Idem. Ibidem). Esses grupos de intelectuais iniciaram verdadeiras revoluções, primeiro intelectuais e depois políticas. A mais significativa destas revoluções talvez seja a revolução francesa, pois se tornou o marco da idade contemporânea, e formou as fundações dessa nova democracia. A revolução francesa teve muitos impactos em conceitos e visões, inclusive o conceito de patrimônio e a criação do Estado-nação, o que afetou os gabinetes e as coleções particulares dos aristocratas. O Estado francês apropriou-se dos bens da coroa, do clero e dos aristocratas emigrados, desta forma adquirindo um patrimônio nacional: bens que eram de posse do Estado. (CAMARGO, 2005 ; CHOAY, 2006, p.98). Estes bens foram colocados “à disposição da nação”, a partir da criação de vários museus, pela Convenção Nacional. “A Convenção Nacional cria quatro museus: o Museu Nacional (Louvre), em 1792, o Museu de História Natural em 1794, o Conservatório Nacional de Artes e Ofícios e o Museu dos Monumentos franceses, ambos em 1796” (LARA FILHO, 2006, p. 47). O Louvre traz grandes inovações quanto a sua expografia. Ele implanta a curadoria, as vitrines colocadas nos centros das salas, o conceito de reserva técnica, a seleção de obras e sua identificação, as exposições especiais e catálogos para serem vendidos ao publico a baixo custo. As pinturas são dispostas de forma a criar uma “história visual da arte”(LARA FILHO, 2006, p. 47). Com as revoluções, o novo conceito de Estado, a criação da idéia de nação, a igualdade e o direito ao patrimônio nacional que representava toda a população de um país, criando a idéia de união e homogeneidade, são criados os museus nacionais. Seu acervo e suas exposições têm como objetivo mostrar a grandeza de seu país e seu povo. Com isso além das grandes obras nacionais, enaltecendo sua história, fatos e acontecimentos, os museus também passam


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a abrigar peças estrangeiras, tomadas em guerras e invasões, mostrando o poder do país e do Império nos casos da França e da Inglaterra. No Brasil o Museu Paulista conhecido como Museu do Ipiranga foi criado com os mesmos ideais, para enaltecer a história de emancipação política do Brasil. Para tanto ele foi completamente planejado, desde seu jardim, até a disposição e os objetos a serem mostrados.

O museu moderno A revolução Industrial permitiu o desenvolvimento tecnológico europeu e a produção em massa. Gerou também grande impacto nos meios de transporte e nas cidades, no seu modo de morar e viver. Essas mudanças geradas pela industrialização acompanhadas pelo nacionalismo ainda vigente leva a uma “corrida pelo progresso”. Países como Inglaterra e França possuíam tecnologia e técnicas do trabalho com o vidro o ferro e o aço, e queriam comercializá-las com o mundo. Assim esse se torna um momento propício para o surgimento de exposições que tinham como objetivos mostrar a evolução tecnológica do país perante os demais, valorizar as idéias de nacionalismo e proporcionar, através da amostragem da técnica de trabalho com os materiais citados acima, o comercio entre os países. Várias foram as Exposições que ocorreram a partir da metade do século XIX, a Inglaterra é a primeira a realizar esse tipo de evento, com a Exposição Internacional de Londres, de 1851, para a qual foi construído um espaço próprio, inovação na época, o Palácio de Cristal (STRAUCH, 2008, p. 15). O Palácio de Cristal demonstrava a tecnologia inglesa de trabalho com vidro e ferro, provando mais uma vez a já incontestável liderança inglesa. A exposição ficou conhecida como “The Great Exhibition of the Works of Industry of All Nations – 1851 [Grande Exposição dos Produtos da Industria de Todas as Nações – 1851]” (Idem, p. 15). A França também realizou ao longo do século XIX várias exposições, não utilizando o termo Internacional, vocábulo de origem anglo-saxã, mas o termo Universal que possuía significado mais amplo e profundo para a nação francesa. No ano de 1855 foi realizada a primeira exposição universal francesa, a “Exposition Universelle des Produits de


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l'Agriculture, de l’Industrie et des Beaux Arts” (LOPES, 1997, p.36) a exposição, promovida por Napoleão foi realizada nos Champs-Élysées. Para a exposição foi construído a margem do rio Sena o Palais des Arts et de l'Industrie, projetado pelo arquiteto J. M. Victor Viel e o engenheiro Desjardin, mas construído por uma companhia inglesa, a York and Co. que propôs algumas alterações no projeto original. Nos anos seguintes foram realizadas outras Exposições Universais na França, nos anos de 1867, 1878 e 1889, esta última sendo uma das mais conhecidas e significativas. É na Exposição Universal de 1889 que é construída a Torre Eiffel, e na qual foram utilizados métodos diferentes de expografia. As Exposições Universais tiveram papel importante para a museologia e a expografia, pois foram projetados instalações próprias para sua realização, e trouxeram inovações na seleção dos objetos expostos e em sua forma de organização. Durante estes eventos foram, por exemplo, expostos obras de artistas vivos, o que não era usual na época, já que os museus só aceitavam obras de artistas consagrados, e mortos. Também conviviam lado a lado tesouros culturais e a tecnologia mais avançada da época (LARA FILHO, 2006, p. 56). A exposição que trouxe mais inovações foi a Exposição Universal de Paris de 1889. A exposição era um “fenômeno em visualidade, com grande poder de difusão de imagens” (BARBUY, 1999 p. 49). A exposição de 1889 não era voltada para um publico específico, tinha caráter mais popular, e possibilitou a ousadia de seus organizadores. Passeios em dirigíveis para maior visibilidade da torre Eiffel, criação de pequenas linhas de trem, permitindo a visualização da locomotiva em funcionamento e trazendo facilidade no deslocamento dos visitantes dado a área ocupada pela exposição. A Exposição Universal de 1900 em Paris trouxe um balanço do século e inovações tecnológicas como o uso da eletricidade que permitiu os primeiros registros fotográficos noturnos (LARA FILHO, 2006, p. 66). O surgimento das vanguardas européias na ultima década do século XIX e no inicio do século XX propondo inovações a partir da “renúncia à invocação de modelos clássicos” (ARGAN, 1992, p.185) pretende acompanhar o pensamento progressista econômico-técnológico da sociedade industrial.


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O modernismo traz novas idéias e conceitos, modificando a instituição museológica, visando dar destaque à arte moderna. Se torna um lugar de experiências. Assim o museu procura “mostrar o sensível mediante um artefato” (DELOCHE, apud LARA FILHO, 2006, p. 78), passando não mais a ser “depósito de obras”, mas a ser arquivo e lugar de exposição, conservando “experiências sensíveis com a finalidade de mostrá-las” (Idem, Ibidem). O objeto

ainda

sofre

a

“desfuncionalização”

(Idem,

Ibidem),

pois

é

“descontextualizado” e “recontextualizado” pelo museu, que na exposição transforma o objeto em imagem (LARA FILHO, 2006, p. 79). Na concepção de Ramos (2004) a ex-posição do objeto.

O Novo Museu Na década de 1970/80 surge um movimento ideológico que incorpora o ideal de museus mais humanos, comprometidos com os problemas sociais das comunidades. Desta forma o Novo Museu se volta para três elementos primordiais: “a identidade local, a perspectiva ecológica e a participação da população” (BRULON SOARES, 2008, p. 5). Esse movimento contou com pensadores como Rivière e Varine, entre muitos outros. O

ICOM

International

Council

of

Museums

(Conselho

Internacional de Museus), criado em 1946, já buscava estes idéias em 1972, quando foi realizada a Conferência de Santiago do Chile, que na Declaração de Santiago já denunciava: Que o museu é uma instituição ao serviço da sociedade da qual é parte integrante e que possui em si os elementos que lhe permitirem participar na formação da consciência das comunidades que serve; que o museu pode contribuir para levar essas comunidades a agir, situando a sua actividade no quadro histórico que permite esclarecer os problemas actuais, ... (MOUTINHO, 1993, p. 7-8)

A declaração de Quebec, de 1984, vem para difundir os princípios da nova museologia e expandir o uso das novas técnicas. A declaração de Caracas, de 1992, analisa os últimos vinte anos de museologia, e a atuação dos museus nesse período. As conferencias do ICOM são formas de discutir os rumos da Nova Museologia, e decidir as novas formas de atuação dos museus.


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Para o Novo Museu as coleções já não são propriedade de instituições privadas, mas são de toda a sociedade. O museu não é mais um “edifício”, mas sim um “território” (MAURE, apud. BRULON SOARES, p. 6) onde o visitante se relaciona com o acervo através da exposição. O museu já não é arquivo, ou guardião da memória, mas traz novas possibilidades de relação entre visitante e acervo, proporcionando o surgimento de várias tipologias de museus. Da preocupação ecológica surgem e se desenvolvem os ecomuseus, que possibilitam maior contato com a flora e fauna. Com a nova abordagem para uma educação não formal surgem os tecnológicos museus de ciências, onde é possível interagir com os objetos e maquinas em exposição. Os museus históricos são remodelados, de forma a se tornarem menos estáticos e patrimoniais. Novas tecnologias foram incorporadas aos museus, primeiro nos museus de arte e ciência, depois nas demais tipologias. Estes se tornaram mais interativos e inseridos na sociedade informacional. No Brasil a tecnologia permite algo impensado há apenas algumas décadas: a exposição de um bem cultural intangível. A criação do Museu da Língua Portuguesa, único no mundo, foi um marco para a museografia, pois o museu se apresenta com uma estrutura inovadora, tecnológico, multisensorial. Assim surgem os museus contemporâneos. Mas ainda há uma preocupação: ocorre a espetacularização dos museus, que ainda se vêem divididos entre museus, ou showroom. Segundo Grossmann (1991), autor do texto O Anti Museu, os museus se dividem entre espaço sagrado (templo) e showroom. Há que se encontrar um meio termo, no qual se atraia visitantes sem perder a essência do museu. O museu contemporâneo luta para ganhar seu espaço na sociedade, para alcançar a todos, para sair do edifício e ganhar as ruas, se mesclar à paisagem urbana. Aos poucos ganha espaço perante a população e suas exposições, agora talvez vistas como “espetáculos temáticos” ganham força. As atuais técnicas de expografia levam a dois caminhos: por um lado os museus de arte se tornam mais atualizados, contemporâneos,


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interativos, com obras cada vez mais ousadas, enquanto os museus de história lutam para perder aquela antiga cara de “depósito de antiguidades” e seu ar místico, procurando inserir a história na realidade contemporânea, buscando também apresentar os objetos em seu contexto original, perdendo o ar de cenários montados ou objetos aleatoriamente colocados em vitrines. A mudança de abordagem nas exposições pode ser vista em Cury (1999), que explica que anteriormente as exposições tinham caráter contemplativo e eram planejadas por uma pessoa ou por um grupo pequeno de pessoas, de acordo com as classificações dos objetos do acervo. Como apenas profissionais da área e pesquisadores eram capazes de compreender a classificação dos objetos e seu significado a exposição causava atitude passiva do visitante. As novas exposições são criadas para serem compreendidas pelo visitante, e trazem equipes multidisciplinares para a realização dessa tarefa, desta forma, ao ser compreendida a exposição causa uma atitude ativa do visitante. As exposições passaram a ser planejadas e preparadas sob a ótica do público. Desta forma busca-se, a partir da exposição suscitar a reflexão e a experiência de apropriação do conhecimento por parte do visitante. A exposição se torna o canal de comunicação que permite a relação entre público e acervo, permitindo acesso ao conhecimento que pode ser adquirido através da cultura material exposta no museu. O visitante se apropria do objeto e de seu significado, buscando a vivência de sua cultura.

Bibliografia:

ARGAN, GIULIO CARLO. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos comtemporâneos. Tradução de Desise Bottmann e Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras. 1992.

BARBUY, Heloisa. A exposição universal de 1889 em Paris: visão e representação na sociedade industrial. São Paulo: Loiola, 1999.


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BRULON SOARES, Bruno C. Quando o museu abre portas e janelas: o reencontro com o humano no museu contemporâneo. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO / Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST. Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, 2008.

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nº24,

1991,

p.

5-20.

arquivo

on-line

disponível

em:

http://museologia.incubadora.fapesp.br/portal/conteudo/textos/o-anti-museu/ acesso em: 25/03/2010.


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LOPES,

Ana

Patricia

Quaresma.

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universais

parisienses

oitocentistas. Dissertação apresentada a Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade de Coimbra como prova final de licenciatura em arquitetura. Coimbra,

2007.

documento

online

disponível

em:

http://hdl.handle.net/10316/3737 acesso em: 28 de abril de 2010

MENEGAT, Rualdo. A epistemologia e o espírito do colecionismo. In: Revista Episteme. Porto Alegre – RS. nº 20 jan/jun 2005. p. 05-12. Documento online disponível

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http://www.ilea.ufrgs.br/episteme/portal/pdf/numero20/episteme20_editorial.pdf >. Acesso em: 19 de abril de 2010.

MOUTINHO, Mario. Sobre o conceito de museologia social. In: Cadernos de Sociomuseologia. nº1, 1993. p. 7-9. Documento online disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/viewFile/ 467/370>. Acesso em: 20 de abril de 2010.

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SIEGMANN, Christiane, COELHO, Débora.

Coleções como duração: o colecionador coleciona o quê?. In: Revista Episteme, Porto Alegre – RS , jan/jun 2005. p. 111-119. Documento online disponível

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<http://www.ilea.ufrgs.br/episteme/portal/pdf/numero20/episteme20_artigo_oliv eira_siegmann_coelho.pdf>. Acesso em: 19 de abril de 2010.


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RAMOS, Francisco Regis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino de história. São Paulo: Argos, 2004.

SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. A “era dos museus de etnografia” no Brasil: o Museu Paulista, o Museu Nacional e o Museu Paraense em finais do XIX. . In: FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves; VIDAL, Diana Gonçalves(orgs.). Museus: dos gabinetes de curiosidades à museologia moderna. Belo Horizonte-MG: Argumentum, 2005.

STRAUCH, Paulo Cesar. Pindorama e o palácio de cristal: um olhar brasileiro sobre a exposição de Londres de 1851. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 216 p.

VASCONCELLOS, Camilo de Melo. Turismo e museus. São Paulo. Aleph. 2006. (coleção ABC turismo).


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