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c e n t r a l i d a d e
do limite à centralidade uma proposta para o bairro do bixiga
alessandra musto
Tr a b a l h o f i n a l d e G r a d u a ç ã o a p r e s e n t a d o à Universidade Presbiteriana Mackenzie sob orientação de Lucas Fehr e Roberto Righi São Paulo, junho de 2016
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agradecimentos Agradeço à minha família pelo amor e cuidado em cada etapa da minha vida, e por me proporcionarem tantas oportunidades que me formaram como pessoa e profissional. Aos meus amigos Amanda Amicis, Camilla Dall’Oca, Giuliana Bello, Luca Caiaffa, Mayara Ready e Nara Diniz pelo companheirismo e parceria ao longo destes anos de faculdade. E pelos próximos que ainda estão por vir. Lucas Cunha, pela atenção e motivação do dia a dia. Frederico Castello Branco, Isabella Madureira, Pedro Henrique Lofrano, e Thiago Bretones por compartilharem comigo um ano de intercâmbio tão único e especial que me ajudou a enxergar a cidade e a vida com outros olhos. Ao meu professor Lucas Fehr, por todas as orientações que me auxiliaram a desenvolver este trabalho da melhor maneira possível. Por servir de inspiração de diversas formas. À todos que de alguma maneira participaram da minha trajetória e colaboraram para o meu aprendizado neste início como arquiteta e urbanista. Obrigada.
7
índice 11
introdução
17 25 31
cenário formação fragmentação atualidade
47 55 63
ensaio conversão de escalas rehabitar entre-lugares
77
atuação
115
referências bibliográficas
“Na infinidade de lugares, na capacidade de abrigar gentes as mais diferentes, oriundas das mais diversas e distantes regiões, e de fazê-las reunir-se e interagir, reside sua vitalidade essencial. Corpo dinâmico, instável, móvel, a cidade é a síntese do que o homem pôde construir de mais humano, o espelho da sua capacidade de criar e inventar, seu produto cultural mais característico, o palco de seu drama. [..]A cidade – e tudo o que ela traz em si – somos nós.” DUARTE, Fábio. A (Des)contrução do Caos. 2008, p.11.
9
11
introdução Em São Paulo, na convergência entre o Viaduto Júlio de Mesquita Filho e o bairro do Bixiga, encontra-se um dos maiores vazios da área central da cidade. Este, juntamente com o baixio, representa uma ruptura no tecido urbano, gerando espaços residuais e subutilizados que descaracterizam a região. A complexidade do território abrange uma topografia irregular e um elemento infraestrutural urbano que contrasta com a escala local já existente, conformada majoritariamente por sobrados e pequenos comércios. O projeto de pesquisa parte dessa intersecção de escalas. Na busca de rearticular o tecido urbano, e acima de tudo, as pessoas com o território, através de elementos físicos, mas também socio-culturais tão intensos e presentes nas dinâmicas do bairro do Bixiga.
[1] Fotografia de Maria Bitarello, 2015 A essência da vida urbana está em seus cidadãos. A metrópole é reflexo da sociedade que a habita.
O estudo se divide em três partes, apesar do desenvolvimento simultâneo das mesmas. Primeiramente, busca-se aproximar e compreender a área em sua dimensão histórica, topográfica e social, como também um lugar de encontro, onde a vida acontece. Em seguida, é feita a conceituação e análise de como intervir no local retomando e articulando suas condicionantes, potencialidades e deficiências. Por fim, a apresentação do produto arquitetônico final, como uma possível resposta aos temas abordados.
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A arquitetura aqui é o meio pelo qual as escalas macro (da cidade) e micro (do bairro) se mesclam, favorecendo um cenário urbano baseado na convivência social e na experiência do espaço público. A proposta não se reduz a sua dimensão material e tem como maior preocupação projetar condições do que condicionar o projeto, concebendo espaços que servem de suporte às interrelações entre homem, arquitetura e cidade.
[2] “Visuais Paulistanos” fotografia em São Paulo, de German Lorca, 1960. 1. KON, Sergio, 2008; p.15
Este trabalho se faz a partir do lugar: do terreno ao bairro, transformando o que ausência em presença, resíduo em ponto de encontro, limites em centralidade.
A cidade é o lugar da experiência humana, o lugar de reunião por excelência. Onde ela floresce, o caos se dissolve e a massa urbana, independentemente de ser feia ou bonita, bem ou mal emparelhada, renasce.¹
cenรกrio
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01.1.
formação O Bixiga é um dos bairros mais icônicos e tradicionais da cidade de São Paulo, embora na divisão administrativa ele não exista oficialmente como tal. Este corresponde aproximadamente à região localizada entre as ruas Major Diogo, Avenida Nove de Julho, Rua Sílvia e Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no distrito da Bela Vista. Todavia sua delimitação é motivo de polêmica dependendo da fonte. Segundo Armandinho Puglisi, um dos moradores símbolo do bairro e fundador do Museu Memória do Bixiga, “O Bixiga é um estado de espírito.”2
[3] chácara do Bixiga, por volta de 1910, junto ao córrego do Saracura; Vicenzo Pastore 2. SACCHETTO, João. 2001; p.50
Com características afro-ítalo-nordestinas, o bairro se destaca por suas peculiaridades decorrente da sua ocupação. Seus primeiros moradores foram negros clandestinos que utilizavam esta área pra refugiar-se de seus donos, possíveis quilombos. Por volta de 1820, um homem conhecido como Antônio José Leite Braga comprou essas terras. E em 1878 a chácara foi loteada por preços acessíveis devido a grande declividade, a quantidade de barro e a mata fechada e densa existente. Esta situação foi uma boa oportunidade para os italianos recém-chegados ao Brasil que vinham em busca de novas oportunidades com o ciclo do café e com o desenvolvimento das indústrias. A convivência destas duas etnias ocasionou numa influência cultural de ambas as nacionalidades. É neste cenário de industrialização e expansão da cidade de São Paulo que se desenvolve o bairro.
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A coexistência de distintos grupos sociais contribuiu para a formação de um cenário de bairro especial na cidade de São Paulo. Essa efervescência cultural atraiu muitos artistas, músicos, universitários e intelectuais que elegeram a região como local de trabalho e entretenimento. No começo do século 20, o Bixiga iniciou com seu status de reduto da boemia paulista ao receber diversos bares, restaurantes, casas noturnas e amantes do samba. A comunidade negra, que se concentrava nas áreas mais próximas à avenida Nove de Julho, deu uma grande contribuição à região: a escola de samba VaiVai, fundada como bloco carnavalesco em 1930, que é hoje uma das mais tradicionais da cidade.
[4] “O cortiço no Bexiga”; German Lorca, 1960. [5] “O chaveiro”; German Lorca, 1956.
A partir da década de 40, os primeiros teatros começaram a se instalar pelo bairro, contribuindo ainda mais para a diversificação da região. Em 1948, surgiu na rua Major Diogo, o Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, que tinha claro como objetivo transformar o rumo da cena nacional e elevar a produção teatral da cidade que não parava de crescer. Este foi um marco que estimulou a vinda de outras companhias, como o teatro Maria della Costa (1954) e o Ruth Escobar (1963). Com esse cenário em desenvolvimento, a região fotmou grandes artistas nacionais como Cacilda Becker, Fernanda Montenegro, Sérgio Cardoso e Flávio Rangel.
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“Quem nunca viu o samba amanhecer vai no Bexiga pra ver, vai no Bexiga praver [...] Bexiga hoje é só arranha-céu e não se vê mais a luz da Lua mas o Vai-Vai está firme no pedaço é tradição e o samba continua.” Geraldo Filme, em trechos do samba Silêncio no Bexiga,1980
“Domingo nós fumo num samba no Bexiga Na Rua Major, na casa do Nicola À mezza notte o’clock Saiu uma baita duma briga Era só pizza que avuava junto com as brachola” Adoniran Barbosa, em Um samba no Bixiga, 1965
[6,7,8] o samba presente nas ruas do Bixiga; Adoniran Barbosa nas ruas do bairro e semáforos em sua homenagem
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Em 1958, a companhia do teatro oficina foi criada e liderada pelo então estudante de direito do Largo São Franscisco, José Celso Martinez Corrêa. Suas montagens viscerais procuram estabelecer uma relação mais próxima com o público, muitas vezes convidando-o a participar de trechos das peças. Em 1984, instalou-se em um estreito imóvel na rua Jaceguai, depois da adaptação feita por Lina Bo Bardi e Edson Elito. Desde então, o teatro oficina demonstra grande interesse pelas questões urbanísticas do bairro, criticando a especulação imobiliária na região.
[9,11] imagens do teatro oficina atualmente, reformado por Lina Bo Bardi e Edson Elito [8] Zé Celso, ator, diretor, dramaturgo e criador da companhia Teatro Oficina
No início da década de 80, migrantes nordestinos mudaram-se para São Paulo a procura de novos empregos, alugando cortiços por terem fácil acesso ao centro da cidade. Com esta miscigenação de culturas, o bairro passa a ter uma nova característica, mas segue como símbolo da cultura paulistana miscigenada. O Bixiga não consta nos mapas oficiais da cidade, não existe como um bairro ou distrito, mas está presente no imaginário e na fala das pessoas, seja para negá-lo, reafirmá-lo ou defendê-lo saudosamente. A região está entre a avenida Paulista e o Centro, entre o popular e a classe média, entre o anônimo e familiar.
25
01.2.
fragmentação “A metrópole agiganta-se e asfixia o cidadão. A cidade dispersa-se em pequenos fragmentos de vida. A cidade e o cidadão refletem-se e complementam-se numa espiral de equívocos. O crescimento acelerado e desordenado destrói as referências naturais e culturais e gera um certo descompromisso da cidade pelo cidadão.” 3 A construção do Viaduto Julio de Mesquita Filho (1969-1971), que atualmente faz a ligação da zona leste-oeste de São Paulo, fragmentou o Bixiga em dois. Tal acontecimento reforçou e acelerou o processo de decadência do bairro, iniciado nos anos de 1960-1970, em grande parte decorrente da implantação da indústria automobilística no Brasil.
[12] foto aérea da construção do viaduto Julio de Mesquita Filho no bairro do Bixiga,1971. 3. DUARTE, Fabio; KON, Sergio, 2008; p.23
Com o progresso econômico resultante da industrialização nas primeiras décadas do século XX, a cidade de São Paulo “abraçou” a vinda do automóvel, estimulando sua cultura de mobilidade individual pautado nos moldes norte-americanos e procurando captar recursos para melhorar a infraestrutura necessária a esse novo padrão de locomoção. O valor atribuído a este meio de transporte transforma o desejo de mobilidade de um sistema público e coletivo para um sistema baseado no transporte privativo e individual.
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O desejo de expansão da área urbanizada diante de uma topografia bastante irregular desencadeou a construção de um conjunto numeroso de vias elevadas, necessárias para a superação dos obstáculos naturais. Particularmente junto à área central, onde a geografia era ainda mais recortada, foi necessário um número significativo de pontes e viadutos.
[13] manchetes do Estado de S.Paulo da década de 70 e 80 criticando a especulação imobiliária no bairro no Bixiga 4. FRANCO, Fernando de Mello Franco, 2005; p.146.
Estes elementos representam a vontade do homem em expandir a sua área de ocupação. Neste aspecto destaca-se a importância de projetos como a ponte das Bandeiras e os viadutos do Chá e Santa Ifigênia. Estes atuam como metáforas do processo de crescimento da cidade. Segundo Angelo Bucci (1998) “era subjetivamente o projeto de uma cidade inteira”. Todavia, o crescimento das áreas de circulação pública, conectando os diferentes níveis topográficos, foi realizada apenas para o sistema viário e de maneira estritamente funcional. 4 Em outras palavras, a maioria dos viadutos construídos na cidade de São Paulo não geraram qualidades simbólicas que as transformassem em marcos urbanos e possuem como único objetivo fazer a travessia de veículos em um determinado território, gerando poluição sonora, visual e física para os cidadãos, e por consequência, deteriorando o contexto urbano no qual é implantado.
tá
alho
rua Jardim
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rua Adoniran Barbosa
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No bairro do Bixiga, além do elevado Julio de Mesquita Filho, foram construídos os viadutos Plínio de Queiroz, Martinho Prado e Armando Puglisi, que por sua vez, também fragmentam a região formando um território composto por barreiras urbanas. A imagem ao lado demonstra a malha urbana da área de estudo por volta de 1930 e a projeção da implantação da conexão leste-oeste, que corresponde à situação atual. O viaduto quase não toca o solo. Suas características materializam a cidade com uma principal finalidade; proporcionar fluxo e circulação, prioritariamente de veículos. Sua escala associada à metrópole e seus limites tornam-se impositivos tanto nas dinâmicas quanto no desenho do local e da cidade.
[14] mapa da cidade de São Paulo em 1930, e projeção do viaduto Julio de Mesquita Filho e as transformações nas vias do entorno
Toda a singularidade e complexidade da formação e configuração do bairro do Bixiga não foi levada em consideração no avanço predatório que a especulação vem impondo ao bairro há algumas décadas. Os modelos decorrentes das ocupações anárquicas, irregulares, e as atividades híbridas desenharam uma região desconcertante e por isso muitas vezes de difícil leitura para os poderes públicos que hoje legislam para preservar sua configuração e a dinâmica da vida do bairro.
31
01.3.
atualidade Ainda hoje, o bairro do Bixiga pode ser considerado um local de multiplicidades e ambiguidades, onde diversos grupos sociais e culturais coexistem. Sua posição estratégica próxima ao centro antigo de São Paulo e a Avenida Paulista, uma das vias mais simbólicas da cidade, permite que este território seja palco de diversas dinâmicas urbanas. Todavia, como visto anteriormente, as consequências da implantação desorganizada de novas avenidas voltadas para automóveis, juntamente com a especulação imobiliária ao longo das últimas décadas, desqualificou o bairro e colocou em risco as atividades e construções lá existentes. Logo, compreender as diversas ciências humanas e sociais da área de estudo é necessário por parte do arquiteto e urbanista para a obtenção de ferramentas que permitam interpretar e atuar no espaço com coerência. [15] maquete da área de estudo: o Viaduto Julio de Mesquita Filho rasga o território e a topografia irregular
A condição topográfica irregular é um dos elementos cruciais para o entendimento do território. A partir desta, o desenho da malha urbana se desenvolveu, gerando ruas e quadras heterogêneas, sinuosas e estreitas que dificultam sua acessibilidade.
territรณrio
distrito bela vista
o bixiga
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“O Bixiga é um estado de espírito.” Armandinho Puglisi, conhecido como Armandinho do Bixiga, criador do Museu de Memória do Bixiga e um dos principais personagens do bairro.
Para maior apreensão da divisão da área de estudo, três leituras foram feitas. Em todas, fica clara a fragmentação da região por viadutos que desconsideram a malha urbana na qual é inserida. Na primeira, o estudo é conformado pelo viaduto Jaceguai ao norte e a Avenida Paulista ao Sul. No eixo leste-oeste, encontram-se a rua da Consolação e a Avenida Vinte e Três de Maio, respectivamente. Estas vias conformam um território com uma traçado urbano irregular e heterogêneo, principalmente devido a acentuada topografia. Na interpretação dois, que representa o Distrito oficial da Bela Vista, fica clara a transformação do traçado urbano entre a Avenida Paulista e o centro da cidade de São Paulo, que vai de um traçado ortogonal para um irregular. O viaduto Julio de Mesquita, ao norte, corresponde ao limite do bairro. Já na imagem três, é representada a área compreendida como o bairro do Bixiga. Entretanto, como dito previamente, esta não é uma divisão oficial da cidade e sim uma definição territorial feita pelos habitantes e íntimos do local. Mais uma vez, o elevado Julio de Mesquita Filho fragmenta o espaço, dividindo o tecido urbano em dois.
[16] Várias interpretações de um mesmo território, conformado pelo Viaduto Jaceguai e a Avenida Paulisa no eixo norte-sul. E a Rua da Consolação e a Avenida Vinte e Três de Maio, no eixo lesteoeste, respectivamente.
35
Em 2002, o Conpresp (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental) decidiu tombar o distrito da Bela Vista, de modo a restringir novas construções e reformas que não estejam de acordo com as características do bairro, especialmente quanto ao tamanho dos prédios, visando manter as estruturas de vila e a característica geográfica existente. O interesse na preservação e manutenção destas características indica que a área de estudo ainda apresenta traços do que foi um dia, principalmente no que se refere à atmosfera residencial e cultural. A Casa da Dona Yayá, como é conhecido o imóvel situado na Rua Major Diogo 353, é um exemplo de edificação tombada como patrimônio histórico da cidade. Esta ainda possui resquícios de jardins da grande chácara que a rodeava no século XIX e atualmente abriga o CPC, Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo. Outro construção de grande importância para a região é a Vila Itororó, conjunto arquitetônico idealizado por Francisco de Castro, com mais de dez edificações construídas ao longo do século XX. Tombado como patrimônio pelo Conpresp e pelo Condephaat, o antigo cortiço foi decretado área de utilidade pública, tendo sido desapropriado pelo governo do Estado e pela prefeitura de São Paulo para fins culturais.
37
A região é local de uma das maiores festas da capital: a Festa de Nossa Senhora Achiropita, comemorada desde 1926 durante os fins de semana do mês de agosto, em homenagem à padroeira do bairro. Para essa festividade, são espalhadas dezenas de barracas pelas ruas, oferecendo aos visitantes pratos típicos italianos. Aos domingos, a Feira de Antiguidades do Bixiga, nas ruas do bairro desde 1982, conta com cerca de trezentas barracas que reúnem os mais diversos artigos, desde móveis, livros, obras de arte à roupas e jóias. Uma ala do espaço também é dedicado a brechós. O bloco carnavalesco Esfarrapado, um dos mais antigos e tradicionais da cidade, surgiu no carnaval de 1947 e segue atraindo milhares de pessoas desde então. Seus idealizadores foram personagens marcantes do bairro como Armandinho Puglisi, Walter Taverna, Tinin, Capuno e Carabina.
[17] Feirinha de Antiguidades do Bixiga, na Praça Dom Orione
O Bixiga também é reconhecido por sua boêmia e gastronomia italiana. Algumas das cantinas mais clássicas da cidade encontram-se em suas ruas estreitas, cada uma com suas particularidades. A Cantina Capuano é considerada um das mais antigas da capital ainda em atividade (desde 1907).
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Atualmente, é cada vez mais comum ver o teatro romper com o edifício institucionalizado e disciplinado, e incorporar as ruas como cenário e palco de sua arte através de um diálogo direto com a cidade. Esta atitude fragmenta seus elementos compositivos que misturam-se ao tecido urbano, configurando-se em alternativas de constituição de espaços teatrais. O teatro tem uma profunda relação com os espaços públicos. Desde sua origem, está ligado à sociedade e aos espaços em que esta se constitui em plenitude. Seja na rua ou na praça, o teatro participa e ratifica o caráter público de um local, independentemente da escala. As peças teatrais gregas da antiguidade, os autos da Idade Média e a Comédia dell’Arte são alguns exemplos clássicos que sempre são lembrados quando se estuda essa relação entre o teatro e o espaço público. Com este pensamento, a cidade não é compreendida como um objeto único e monolítico. Ela emerge das múltiplas experiências produzidas por essas interações.
[18] “Bom Retiro 958 metros”, peça nas ruas da cidade, do teatro Vertigem
No Bixiga, esta postura é cada vez mais recorrente devido a grande quantidade de grupos de teatro existentes. Além das vias, estas companhias se apropriam dos espaços obsoletos da região visto que estes são locais neutros que não possuem delimitações e definições claras de como os personagens devem atuar.
01. 02. 04. 12. 14.
06. 08.
05. 07. 03.
13. 09.
0
25
75
10. 150m
11.
41
paradas de ônibus cias de teatro 01. teatro do incêndio 02. teatro mars 03. teatro sérgio cardoso 04. TBC teatro de comédia 05. ETA estúdio de treinamento artístico 06. teatro oficina 07. espaço dos fofos encenam 08. teatro imprensa 09. teatro brigadeiro 10. teatro bibi ferreira 11. teatro dos arcos 12. teatro renault edíficios notáveis 13. igreja nossa senhora achiropita 14. casa da dona yayá centro de preservação cultural da USP
[19] mapa da situação atual do contexto urbano da área de estudo
O mapa ao lado aproxima a área de estudo e aponta as companhias de teatro ao longo da barreira formada pelo Viaduto, reforçando o potencial da região como berço cultural das artes cênicas. A proximidade com a escola de samba Vai-Vai e a Igreja Nossa Senhora Achiropita também ilustra a posição estratégica do terreno de projeto, destacando esse espaço vazio como ponto de encontro de múltiplas atividades. Nesta mesma imagem, é possível identificar o loteamento feito pelos italianos nas últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX. Estes são, em sua maioria, sobrados de ocupações lineares, com pouca abertura para a rua mas grande profundidade em relação ao interior da quadra, estruturado por comércio no térreo e habitação no pavimento superior. Tais características conformam uma região de gabarito baixo. Diante dessa diversidade socio-cultural, o Bixiga se consolida como um bairro próximo à escala humana, com muitas histórias, festas populares, eventos carnavalescos e conversas na calçada. Compreender essa identidade, e as condicionantes e deficiências do território é essencial para se estudar com rigor os impactos das construções e intervenções na região, afim de protegê-la da descaracterização que sofre desde a implantação da Radial Leste.
[20] Contraste de escalas: Os pequenos sobrados e cortiços constrastam com a escala macro das vias implantadas na área. [21] Dinâmicas impositivas: A radial leste rasga o território com o único objetivo de mobilidade para automóveis individuais, ignorando as escalas e dinâmicas locais da cidade.
[22] Impermeabilidade física e visual: Os acessos ao baixio do Viaduto Julio de Mesquita Filho não possuem permeabilidade física e visual, desfavorecendo assim sua ocupação.
[22] Terrenos obsoletos: O terreno do Grupo Sílvio Santos, ao lado do teatro Oficina, atualmente encontra-se subutilizado. Além disso, cria um muro para a Rua Japurá (ao fundo da foto), desarticulando esse trecho da malha urbana.
[23] Resistência à escala: Tentativas de ocupação e apropriação do baixio do viaduto, com aulas de expressão corporal e platéia informal. [24] Vias que priorizam automóveis: Os elementos da grande maioria das ruas ao redor do viaduto indicam que este espaço prioriza os automóveis. Calçadas estreitas e barreiras impedem que o pedestre se aproprie do espaço público.
[25] Descontinuidade urbana: Atualmente, a Rua Japurá encontrase desarticulada com o restante da malha devido as barreiras que o terreno do grupo Sílvio Santos impõem. A escala local dos sobrados construídos pelos italianos no início do século XX contrastam com o viaduto ao fundo.
[26] Pé direito inabitável: As extremidades do baixio são os encontros do viaduto com a topografia irregular do território. Estas geram espaços residuais de difícil ocupação devido ao pé direito baixo e pouca quantidade de iluminação.
ensaio
47
02.1.
conversão de escalas
“A crise de idéia de cidade em São Paulo põe em crise o propósito da arquitetura. [...] Desfaz a idéia de convívio, a idéia de espaço público, destrói redutos de intimidade. É exatamente na degradação do espaço público onde primeiro ou mais facilmente se sente frustrar o sentido que se esperava encontrar na cidade.” 5 O desenvolvimento da cidade de São Paulo em prol da velocidade e da indústria automobilística a partir das primeiras décadas do século XX desencadeou vias que não se relacionam com as dinâmicas locais, tendo como única função cruzar um determinado território. Este fato prejudica o conceito de rua como um lugar de convivência e degrada os espaços em comum a partir do momento que muda a velocidade de percepção e interação da sociedade com os mesmos. O homem passa a identificar as distâncias geográficas da cidade como obstáculos a serem vencidos e não como possibilidades.
[27] tentativas de ocupação do baixo do Viaduto Julio de Mesquita Filho: iniciativas que buscam aproximas as escalas 5. BUCCI, Angelo. 2010; p.30
O crescimento desorganizado que preza a escala macro gera um descompromisso da cidade por parte do cidadão. Dessa indiferença, surge a desconsideração pelo território urbano, e por fim, a renúncia ao ambiente público. Esta situação gera, portanto, uma autonomia do ser humano em relação às formas de estar no espaço, impondo novos paradigmas, que agem diretamente sobre o processo de conformação das cidades. Um exemplo disso é o próprio viaduto Julio de Mesquita Filho, que ignora a escala na qual é implantada e transforma a vida das vias do seu entorno.
49
Em geral, nossas ruas possuem elementos pouco domésticos, como o asfalto, os carros, os semáforos. É a linguagem de uma infraestrutura. Tal sistema, próprio para automóveis, se impôs por toda a via, fazendo com que ela seja um espaço de expressão da norma e da regulamentação de seu uso, dificultando qualquer ato de improvisação.
“A idéia de espaço público como derivação do movimento corresponde exatamente às relações entre espaço e movimento produzidos pelo automóvel particular [...] As ruas da cidade adquirem então uma função peculiar: permitir a movimentação.” 6
[28] Homem frente a uma via com elementos voltados aos automóveis
6. SENNETT, Richard. 2001; p.28
Em contrapartida, o caminhar, modo mais simples de locomoção, transforma o espaço percorrido e seus significados, possibilitando interações, percepções e relações ao longo do percurso. Esta experiência age como forma de intervenção urbana e coloca o corpo humano como instrumento cognitivo e reativo ao se conectar com o da cidade, ou seja, esta atitude transforma a paisagem, configurando um espaço em um lugar pelo simples ato de ser vivenciado.
51
“Refere-se a um imprevisto que nasce dos próprios conflitos resultantes dos convívios de diferença, ao inesperado que muitas vezes surge daquilo que, por se desconhecer, não se pode sequer imaginar. Essa circunstância é possível apenas se permitida a proximidade e pela acessibilidade aos lugares, condição necessária aos espaços públicos que num acesso permeável recebem o local e o forasteiro.” 7 “[...]não me refiro de fato à desconstrução, mas ao excesso, às indiferenças, às superações. Excedendo os dogmas funcionalistas, sistemas semióticos, precedentes históricos, produtos resultantes de um contexto social e econômico. [...] a arquitetura do prazer só acontece onde a fragmentação do objeto se transforma em deleite para os usufruidores, onde a cultura e a arquitetura não se findam por determinações, e todas as regras são transgredidas.” 8 [29] Ruas repletas de neve transformam o espaço, já que nada indica como devemos atuar nela, sem definições. 7. BOGEA, 2009; p.187 8. GUATELLI, Igor. 2012; p.79
O arquiteto holandês Aldo Van Eyck opinava que o melhor aspecto que uma rua poderia ter é quando ela está nevada, já que então nada indica como deve-se atuar. A neve é um manto uniforme que possibilita movimentos sem restrições claras ou rótulos. Esta ambiguidade em seu uso nos força a pensar um determinado espaço de maneiras diferentes, estreitando assim nossa relação com a cidade/arquitetura a partir de novas interações. A falta de limite e definições deixa um território em aberto para que as mais diversas expressões humanas inesperadas ocorram.
Os finais de semana na cidade de São Paulo são exemplos de como apenas a pedestrinização de uma via possibilita distintas intervenções e relações além do caminhar. O elevado Presidente Costa e Silva, conhecido popularmente como minhocão, e a avenida Paulista, se fecham para os automóveis todo sábado e domingo, respectivamente. O objetivo é incentivar os cidadãos a ocuparem as ruas da cidade, e assim, aproximarem-se da paisagem urbana e do coletivo. Esta iniciativa da prefeitura da cidade aparentemente simples tem transformado as dinâmicas da região a cada semana, trazendo diferentes grupos urbanos como skatistas, ciclistas e artistas. Aqui a via se torna um espaço democrático e de multiplicidades. A expressão mais genuína do coletivo no âmbito da cidade. Entretanto, vale ressaltar a influência da norma determinada pelos automóveis, mesmo aos finais de semana. A maioria das vezes, o fluxo das pessoas que lá transitam se organizam segundo a ordem das vias existentes, obedecendo o lado direito para ir, o esquerdo para voltar e as calçadas como local de permanência.
[30] Apresentação do grupo de teatro “Esparrama na Janela” em um sábado, no Minhocão [31] Novas interações com a avenida Paulista aos domingos
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A rua, diferente do que planeja Le Corbusier e o urbanismo moderno, não é um mero vazio para a mobilidade. Esta é uma autêntica e complexa instituição social onde desde crianças aprendemos a socializar e construir comunidade. Se a rua acaba por privilegiar o automóvel por sobre o pedestre, ela morre e inicia-se o fim da idéia de cidade. Repensar os caminhos e a paisagem urbana é essencial para que nossos espaços públicos tornem-se mais humanos e propensos a experiências de encontros, intercâmbios e diferenças. Logo, domesticar a rua com o fim de ocupá-la significa distanciá-la de sua configuração de serviço de mobilidade e aproximá-la, mediante elementos e atividades, a sua condição de lugar, assumindo toda a complexidade que ela supõe e que não pode se reduzir a uma simples fórmula de pedestrianização. É essencial que a rua possa expressar liberdade para que as pessoas tenham a possibilidade de apropriar-se dela e o espaço urbano se influencie com sua presença e sua atividade social. Com a análise deste contraste de grandezas, a proposta projetual busca criar espaços mais humanos, que geram a possibildiade de um percurso mais significativo que seu destino. Deste modo, a arquitetura atua no tecido urbano como uma ferramenta articuladora, uma infra-estrutura de reinvenção do cotidiano, conciliando o modo de vida coletivo das cidades. A velocidade de perpecção e interação na área de projeto muda, logo, sua vitalidade também.
55
02.2.
rehabitar “[...]uma cidade poderia ter 20 milhões de pessoas, e todavia, não ser um espaço realmente habitado.” 8 Rehabitar é voltar a usar um edifício, ou estrutura, mas não modificando a forma de sê-lo. Não se trata de intervenções especificamente plásticas, mas sim uma mudança de como usá-lo de outro modo. Não se refere a um novo objeto, não é uma novidade; a inovação está na forma de usá-lo.
[32] Border Hammock, fotografia por Murat Gok; Inovação em como usufruir de uma barreira. 8. BUCCI, Angelo. 2010; p.30 9. SENNETT, Richard; 2012
De certo modo, poderíamos compará-lo com o que Richard Sennet denomina conserto dinâmico9; no sentido de completar, de realizar uma correção em toda regra de um objeto qualquer. Para o sociólogo, fazer e reparar formam parte de um única prática. Segundo ele, o reparo corrige e esta correção vem produzida pelo novo uso que designamos. O conserto dinâmico se diferencia da construção e do conserto estático pois busca um novo objeto a partir do antigo e possui ferramentas que estimulam quem utiliza a peça reparada. Com essa leitura, pode-se dizer que são as pessoas quem tem capacidade de transformar um espaço e, logo, são essenciais para rehabitá-lo. Exatamente a partir deste pensamento, surge a expressão. Enquanto rehabilitar faz referência ao objeto, rehabitar faz referência a ação, ao sujeito que a produz.
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“As ações qualificam o espaço do mesmo jeito que os espaços qualificam as ações.” 10 Um exemplo deste pensamento é a análise das duas imagens ao lado. A primeira é o quadro original de Diego Velázquez, “Las meninas“. A segunda é uma releitura do mesmo, de autoria de Thierry Lahontâa. Neste o artista elimina cuidadosamente as figuras humanas presentes. O cenário original sem seus personagens é uma prova contundente de que a arquitetura não é designada apenas pelo espaço, já que sem as pessoas o ambiente é transformado e concede poucos significados. Mas não basta apenas ocupar um sítio. Além da presença, a atitude também tem o poder de transformação. [33] Quadro “Las meninas”, de Diego Velázquez, 1656; Museo del Prado [34] Releitura do mesmo quadro; “Después de Velázquez”, de Thierry Lahontâa, 2009 Fondation Raffy 10. TSCHUMI, Bernard; 2000; p.13
Todavia, é essencial ressaltar a importância da qualidade do projeto arquitetônico e seu conteúdo programático visto que estes favorecem, ou não, a ocupação de um espaço. O agenciamento do programa – termo utilizado por Tschumi – está relacionado com a estratégia de criação de um suporte. Este é capaz de gerar questionamentos e articulações entre as atividades, com a intenção de promover instabilidade, característica essencial para a projeção de espaços dinâmicos na medida em que altera as ações e relações que ocorrem no contexto urbano.
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Algumas vezes, o que se qualifica como pré-existência abrange algo mais complexo, e o projeto deve limitar-se a adicionar camadas, a sobrepor. Aproveitar implica na idéia de não começar do zero e obriga a pensar o projeto de arquitetura em finalizações de processos. Não tirar, mas incluir parece um comportamento mais adequado ao tempo atual. Um exemplo deste conceito está na própria cidade: ao compreendê-la como um produto da acúmulo de feitos e acontecimentos distintos, do que como o resultado de um projeto. A cidade é, por definição, inclusiva e assim deve ser a arquitetura. O projeto Folly for a Flyover (2011) do coletivo inglês Assemble, é um exemplo de como rehabitar um espaço através de novas dinâmicas e um mínimo edificado. Sua estrutura efêmera originária de materiais reaproveitados e doados, não possui um programa específico e viabiliza que as pessoas usufruam deste projeto de diversas maneiras e em horários diferentes. Durante o dia, abriga um café, workshops e espaços de encontro. Já durante a noite, transforma-se em ambiente múltiplo que pode conceber teatros, eventos e apresentações. [35] fotografia do viaduto de Hackney Wick com o projeto Folly for a Flyover, do escritório Assemble
A proposta se desenvolve reinterpretando a infraestrutura existente e pensando-a como cobertura e abrigo. Ao adicionar novas camadas de projeto ao viaduto, a intervenção transforma os significados atribuídos ao mesmo, e a reativa este espaço antes considerado
residual e fora das rotas comuns da cidade.
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Outra proposta que rehabita um local antes considerado inutilizável é o IIT Mccormick Tribune Campus Center (1997), em Illinois, na cidade Chicago. O programa multifuncional, do escritório OMA juntamente com o arquiteto Rem Koolhas, tem como objetivo transformar esta vacância em centralidade, concentrando praças de alimentação, auditórios, setor admnistrativo do campus, e salas de computação e lazer para os estudantes. A área de intervenção correspondia a um terreno vazio dividido em dois pela implantação elevada da linha de metrô da cidade. Como resposta, o projeto foi concebido como um elemento que resolvesse os problemas de comunicação do campus projetado por Mies Van der Rohe em 1940.
[37] esquema das dinâmicas da implantação do projeto e o campus existente
[36] A linha do metrô em relação com o projeto: respeito entre os elementos
O traçado desenhado em planta é originário dos percursos dos estudantes no campus, articulando a obra com as atividades locais e o contexto no qual é inserido. Onde estes caminhos se cruzam, é criado um espaço de convivência. A linha do metrô existente é considerada um elemento compositivo da proposta. Quando esta passa acima da nova construção, é criado um espaço rebaixado que viabiliza a ocupação da mesma a partir de um novo pé direito, reforçando a ligação desta infraestrutura com o projeto. Novamente, a arquitetura atuou adicionando e sobrepondo novas camadas à elementos já existentes na cidade.
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02.3.
entre-lugares ‘‘Os baixios dos viadutos se apresentam como áreas residuais, como sobras, comumente habitadas por uma população à margem da sociedade. Para transformar esses espaços de passar-por em espaços de estar em, é preciso trabalhar como que num “contra-projeto”, numa estratégia invertida. Mas, apesar das dificuldades, o trabalho/projeto apresentado, ao colonizar territórios inusitados, tornando-os protagonistas, dando-lhes voz, desvela possibilidades extraordinárias. A cumplicidade de múltiplos atores engendra novas práticas para a gestão democrática da cidade e a construção da cidadania.’’ 11 O espaço residual decorrente de viadutos mencionado por Igor Guatelli em seu livro Condensadores Urbanos pode ser interpretado como um terrain vague, expressão francesa que significa terreno vazio. Este termo, apresentado por Ignasi Solà-Morales em seu livro Territórios, também é traduzido como um local improdutivo, impreciso, obsoleto e com futuro indeterminado na cidade. [38] O vazio ao lado do teatro oficina, fotografia de de Maria Bitarello. 11. GUATELLI, Igor. 2008; p.30 12. SOLÀ-MORALES, Ignasi. 2002; p.150
Segundo o autor catalão, estes são os vazios urbanos da cidade pós-industrial, e a atitude mais coerente perante eles é a reintegração com a malha urbana.12 No entanto, é destacado que este não pode se sujeitar ao planejamento convencional que incita sua reintegração pois isto anularia o valor do seu vazio. É necessário respeitar esta vacância que representa uma pausa na vida corrida da cidade: o vazio como ausência, mas também como promessa, encontro, e espaço de expectativas e ambiguidades.
“A aproximação convencional da arquitetura e do desenho urbano nestas situações é bem clara. Se tenta sempre, através de projetos e intervenções, reintegrar estes espaços ou edifícios à trama produtiva dos espaços urbanos da cidade eficiente e formal. Mas as pessoas sensíveis reagem a estas operações de renovação. Os artistas, os vizinhos e os cidadãos desencantadados da vida nervosa e frenética da grande cidade se sentem profundamente contrariados. Para eles, os terrain vague resultam ser os melhores lugares de sua identidade, de seu encontro entre o presente e passado ao passo que se apresentam como o único reduto incontaminado para exercer a liberdade individual ou dos pequenos grupos.” 13 Francesco Careri, autor do livro “Walkscapes: o caminhar como prática estética”, analisa o medo de uma parcela da sociedade em percorrer tais espaços opacos. O autor cita que esse receio surge a partir do medo do encontro com o diferente, o outro urbano, que ocorre sempre de maneira conflituosa. Em contrapartida, tais conflitos são estimulantes e necessários para a constituição da vida pública, pois esse estado de tensão é fundamental para que uma cidade torne-se menos espetacular e mais incorporada.14 Ignasi Solà-Morales ainda ressalta que o homem contemporâneo possui um certo entusiasmo por esses locais imprecisos uma vez que são as respostas as nossas estranhezas diante o mundo, nossa cidade, e nós mesmos.
13. SOLÀ-MORALES, Ignasi, 2002, p.10. 14. CARERI, Francesco. 2013, p.70.
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Diante destas questões, pode-se dizer que a intervenção projetual na cidade contemporânea já não pode ser compatível com o pensamento iluminista do movimento moderno. Para que o traçado proposto não se torne um instrumento agressivo de poderes, é necessário dar continuidade. Segundo Solà-Morales, não a continuidade da cidade planejada e legítima, mas, todo o contrário, através da escuta atenta dos fluxos, das energias, dos ritmos que o passar do tempo e a perda dos limites têm estabelecido.15 O professor Igor Guatelli, em seu livro Entre-lugares, estuda alguns “vazios” como arquiteturas em aberto a partir da filosofia desconstrutivista de Jacques Derrida e Gilles Deleuze. Os filósofos discordam com a ânsia dos arquitetos em definir limites, regras, formas, e obter controle absoluto do espaço arquitetônico e urbano visto que este apego não favorece apropriações e atuações espontâneas por parte da sociedade.
15. SOLÀ-MORALES, Ignasi. 2002; p.10 16.GUATELLI, Igor. 2008; 88.
“Presenciamos hoje, com mais frequência, o florescimento de acontecimentos, verificados nas mais diversas escalas, que rompem mesmo que momentaneamente, com o originalmente proposto e pensado para o local, “excedendo” os usos e funções inicialmente previstos como mais apropriados; desde “alpinistas“ de pontes e escadas, escadarias urbanas que se transformam em praças de contemplação ou local de encontro e conversas[...]” 16
Quando a arquitetura abre a possibilidade do acontecimento e do evento, as relações entre homem e objeto se estreitam visto que cada um interage e atribui um significado diferente a um determinado espaço. Como diziam os artistas Lygia Clark e Hélio Oiticica, estes “vazios plenos” são lugares em constante mutação, que se modificam de acordo com as interpretações desenvolvidas pelas pessoas. Estes espaços “entre” os demais incentiva o homem a complementar o local com criatividade a partir do momento que gera espaços abertos e sem um uso definido. Esta ausência programática e a neutralização dos sentidos no projeto ficam claras em algumas arquiteturas como a marquise do Ibirapuera, projeto de Oscar Niemeyer em São Paulo, ou o projeto urbano holandês a8erna, do escritório NL Architects, que trabalha o baixio de um viaduto e sua rearticulação na dinâmica da cidade.
[39] Croqui de Oscar Niemeyer, do projeto da Marquise do Parque Ibirapuera interligando as edificações, 1953.
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Para Bernard Tschumi, o programa se diferencia do evento por ser um conjunto determinado de ocorrências esperadas e utilidades necessárias, muitas vezes baseada no comportamento cultural de uma sociedade. Em contrapartida, o evento é um conjunto de resultados inesperados, favorecidos por algumas condicionantes. Para que este ocorra, é necessário revelar potencialidades ocultas ou contradições de um programa em uma configuração espacial aberta.17 No processo projetual do arquiteto, termos como disjunção, fragmentação e justaposição são estratégias que expressam a condição de eventualidade e da dinâmica espacial. Criar “vazios” onde o ser humano possa desenvolver experiências e inter-relações com reflexo no coletivo da cidade.
17. TSCHUMI, Bernard. 1996; p.73. 18.GUATELLI, Igor. 2008; p.66.
A marquise do Ibirapuera, projetado em 1954 por Oscar Niemeyer, é uma grande laje de aproximadamente 600 metros de extensão que interliga diversos edifícios do parque, como o prédio da Bienal, a Oca, o Museu de Arte Moderna, o Pavilhão Manuel da Nóbrega e o Palácio dos Estados. O espaço criado sob essa laje é um imenso vazio entre edificações cujos conteúdos e funções preestabelecidos determinam, sugerem, condicionam usos e significados. Apesar de ter sido pensado como uma grande cobertura para as pessoas que circulam de um prédio ao outro, esse espaço não é, entretanto, apenas complemento dos edifícios existentes, já que o funcionamento destes se dá-se de forma completamente independente da sua existência. 18
A princípio este excesso de vacância da marquise pode ser considerado desnecessário se analisado a partir das lógicas funcionalistas. Entretanto, é importante ressaltar que esta não se trata de uma defesa do excesso pelo excesso. Tais espaços apenas justificam-se e viabilizam-se quando em relação a algum programa coerentemente definido e determinado. Caso contrário, não há razão em se falar de excessos. O projeto propõe então uma área coberta como elemento articulador de cheios e vazios no parque Ibirapuera, gerando uma área sem imposições programáticas e delimitações claras onde é possível atuar com liberdade. Logo, a marquise do Ibirapuera pode ser interpretada como um suporte das mais diversas intervenções e relações humanas.
[40, 41] A Marquise do Ibirapuera abriga diversas dinâmicas e grupos sociais; Fotografia de Isabella Madureira
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Já a proposta urbana A8erna (2003), localizada na Holanda, é um exemplo de como intervir no terrain vague e ao mesmo tempo respeitar sua vacância. A área de atuação consiste em um trecho da cidade de Koog que encontrava-se fragmentado pela implantação da via elevada A8, gerando um espaço residual que separava a igreja principal da cidade de um lado e a sede da prefeitura do outro. A rearticulação e transformação desta área deriva dos novos usos implantados juntamente com espaços públicos em aberto articulados com a malha urbana existente da cidade. Esta estratégia reforça a importância de um conteúdo programático claro para que estas áreas obsoletas sejam apropriadas e rehabitadas pelo ser humano. Logo, pode-se afirmar que o programa e o vazio são igualmente importantes no contexto projetual, já que sem um destes, o baixio analisado não se tornaria um ponto de encontro e de expressão da população local. O projeto é composto por praças, pistas de skate, galerias de graffiti, quadras poliesportivas, um supermercado, uma floricultura, uma peixaria e uma pequena marina. Programas que incentivam o uso coletivo do espaço, trazendo a essência da cidade neste trecho antes abandonado e subutilizado.
área recreativa parede em grafite quadra de futebol e basquete tênis de mesa área para skatistas
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parque área de churrasco bocha futebol
praça seca supermercado pilares das letras comércio fonte
[42] implantação isométrica do projeto a8erna [43] ocupações e dinâmicas desenvolvidas no baixio do projeto a8erna
quadra da igreja espaço público vila dos cachorros marina deck parada de ônibus
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A Praça das Artes, do Brasil Arquitetura, o Museu Brasileiro da Escultura, de Paulo Mendes da Rocha, e o Masp, de Lina Bo Bardi, também são exemplos de projetos abertos a atividades que rompem com o originalmente previsto na proposta arquitetônica, abrigando festas, eventos, feiras e diversos tipos de encontros. Estas ocupações que vão além do programa formal proposto são possíveis devido a forte articulação física e visual do edifício com a malha urbana da cidade. A arquitetura aqui complementa-se com as dinâmicas da cidade, e a cidade, com as do projeto.
[44] Masp abriga diversos eventos e dinâmicas em seu térreo
Com estas leituras, a proposta urbana para o terreno de estudo se desenvolveu respeitando a condição do mesmo como um terrain vague, mantendo a ambiguidade dos vazios já existentes e ao mesmo tempo, desenhando novas edificações com um conteúdo programático que auxilia na sua requalificação e apropriação. Esta convergência de programas e espaços “em aberto”, articulados com o tecido urbano existente, compõem um projeto que busca ser suporte ações e inter-relações múltiplas entre homem, arquitetura e cidade.
atuação
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atuação
“Un sistema es un conjunto de elementos heterogêneos (materiales o no), de distisntas escalas, que están relacionadas entre si, con una organización interna que intenta estrategicamente adaptar-se a la complejidad del contexto y que constituye un todo que no es explicable por la mera suma de sus partes.” 19 Diante de um forte elemento infraestrutural da cidade e alguns terrenos obsoletos e subutilizados em seu entorno, a primeira preocupação projetual foi rearticular esta barreira visual e física com o ambos os lados do bairro do Bixiga. Destes novos eixos desenhados a partir da malha existente, foi desenvolvido o centro de artes cênicas.
[45] implantação do projeto do centro de artes cênicas; autoria própria 19.MONTANER, Josep.2008. p.11
O conteúdo programático está intimimamente articulado com as dinâmicas da região e visa, sobretudo, ser suporte para inter-relações entre o homem, a arquitetura e cidade, gerando espaços públicos sem definições e delimitações claras de como usufruí-los. Esta estratégia, como estudado anteriormente, viabiliza novas maneiras de ocupação e permite que o homem atue com liberdade e multiplicidade no espaço antes obsoleto.
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Para maior compreensão do todo, o trabalho pode ser dividido em quatro partes, que possuem condicionantes diferentes. A primeira incia-se próxima à Rua Santo Amaro, e ao final da Avenida Brigadeiro Luis Antônio. Neste momento, a topografia possui a maior altura em relação ao restante do projeto e suas edificações do entorno são mais verticais. Aqui foram implantadas as residências artísticas, verticalizadas juntamente com os edifícios existentes com o fim organizar a paisagem urbana e ocultar as empenas cegas. Já no térreo encontram-se os comércios e a escadaria de acesso à segunda parte do projeto. A partir desse novo eixo, é possível enxergar três cotas de projeto/cidade: o volume que conecta o centro de artes cênicas com o teatro oficina, a arquibancada aberta e a rua Jardim Heloísa.
04.
[46,47,48,49] espaços vazios como catalisadores de relações entre homem e cidade; autoria própria
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A segunda e terceira parte do projeto servem como apoio direto ao teatro oficina. Estas são estruturadas por dois eixos principais. O primeiro, leste-oeste, vem desde a rua Santo Amaro, até a rua Jardim Heloísa. O outro, eixo norte-sul, é formado pela nova conexão com a rua Japurá, o baixio do viaduto e a rua Adoniram Barbosa, antes também sem articulação com a parte norte do bairro. A partir destes elementos estruturadores, foi criada uma arquibancada aberta, como previa Lina Bo Bardi e Edson Elito, o centro de estudos de artes cênicas, a área expositiva, o auditório e a nova entrada para o teatro, juntamente com um café restaurante e a nova bilheteria do Bixiga. Uma marquise, que liga o subsolo do viaduto com a quadra na cota da rua Japurá (corte D), demarca a entrada no projeto e serve como foyer aberto e coberto para o teatro Oficina. O volume principal deste espaço (corte A), que constitui a área expositiva e as salas de aulas, possui um gabarito mais baixo para que não haja contraste com as construções do entorno, em sua maioria, casas de imigrantes italianos do século XIX. O acesso para o mesmo se dá pelo centro da construção. A partir deste ponto, o programa se distribui ao longo do eixo leste-oeste, onde se encontram as salas de aula, e a área expositiva, respectivamente. A saída da exposição se dá pelo meio da escadaarquibancada citada anteriormente. Tal relação reforça a ligação entre edificado e não edificado, dissolvendo o volume ao longo de um dos vazios construídos.
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[50] eixo da Rua Jardim Heloísa representado em três cotas de projeto e cidade; autoria própria
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PLANTA NÍVEL +749,00 01. área técnica 02. área expositiva 03. comércio 04. foyer 05. core centro de artes cênicas 06. teatro oficina 07. arquibancada 08. auditório 09. banheiro público 10. projeção marquise 11. novo acesso teatro oficina 12. café e restaurante 13. rua lina bo bardi 14. bilheteria do bairro e ponto de informações
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PLANTA NÍVEL +755,00 01. área técnica 02. área expositiva 03. passarela 04. foyer 05. core centro de artes cênicas 06. sala de aula 07. área admnistrativa 08. café aberto 09. saída área expositiva 10. arquibancada 11. teatro oficina 12. acesso marquise e auditório 13. café e restaurante 14. rua lina bo bardi 15. ponto de informações
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PLANTA NÍVEL +761,00 01. teatro oficina 02. acesso teatro oficina 03. core | circulação 04. sala de aula 05. sala de leitura 06. comércio 07. acesso residência de artistas
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[51] vista do centro de artes: a escada-arquibancada e marquise abrem espaรงos de encontro e servem como foyer para o teatro oficina; autoria prรณpria
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[52] perspectiva interna da área expositiva do centro de artes cênicas; autoria própria
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A quarta parte do projeto encontra-se na extremidade oeste do baixio do viaduto. A situação atual deste espaço possui um pé direito inabitável, tornando difícil a apropriação do pedestre. Como solução, seu programa foi rebaixado, gerando permeabilidade física e visual em seu térreo. Já ao implantar um uso e uma área de convivência no pavimento inferior, quem circula pela vias do bairro consegue acompanhar as dinâmicas que lá sucedem, mesclando assim com transparência, fluxos e permanências da cidade.
[53,54] foto da maquete do projeto com e sem a presença do viaduto; autoria própria
O programa consiste em cinemas e oficinas de dança, música e marcenaria, complementando assim o centro de artes cênicas e as dinâmicas culturais do bairro do Bixiga. O acesso se dá por uma rampa e uma escada traçadas a partir do desenho da rua Jardim Heloisa, e a rua Manoel Dutra. Ao baixar por estas, o pedestre se depara com um pátio que conforma o conteúdo programático. Tal conjunto coberto pelo viaduto é capaz de abrigar diversos eventos, como feiras de artesanatos, exposições temporárias, apresentações de música e dança, ou qualquer outro evento que a população do bairro desejar. Mais uma vez, uma arquitetura “aberta” na qual o programa e o evento indicam e favorecem sua ocupação.
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[55] Fotografia da implantacรฃo do projeto prรณximo ao teatro oficina. autoria prรณpria
PLANTA NÍVEL +756,00 01. acesso baixio do viaduto 02. cinema 03. oficina de dança 04. vestiários 05. oficina de marcenaria e modelagem 06. oficina de música 07. café | bilheteria 08. sanitários 09. pátio das oficinas 0
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PLANTA NÍVEL +763,00 01. acesso pátio do viaduto 02. pátio 03. projeção cinemas
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ELEVAÇÃO 01. estrutura viaduto existente 02. parede de concreto armado 03. isolante acústico (lã de vidro) 04. vidro duplo esp.:4mm cada 05. brise vertical metálico inoxidável 06. muro de arrimo em concreto 07. impermeabilizante 08. dreno 09. fundação em concreto 10. laje de concreto sobre solo com impermeabilizante 11. forro de gesso 12. viga de concreto pré-moldada 13. vidro duplo em vista 14. piso em placa cimentícia 15. piso externo existente
CORTE
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A linguagem adotada em todo o projeto auxilia na compreensão de cada item construído como componente de um sistema. O viaduto Julio de Mesquita Filho é um forte elemento no território devido a sua escala, constituído essencialmente por concreto e aço. Logo, estes mesmos materiais foram utilizados na proposta para que o novo e o existente se mesclem, fazendo com que o projeto reforce a idéia de adicionar camadas ao contexto urbano. A intervenção é entendida como uma finalização de outro processo. Esta estratégia fica clara no detalhe ao lado onde é possível compreender a forma original do viaduto e também identificar a nova construção que o complementa, reciclando o uso original do baixio. Outra estratégia foi a tentativa de neutralizar os espaços gerados, enfatizando o homem e suas atividades lá desenvolvidas como protagonistas. Quanto ao método construtivo, foram utilizadas lajes nervuradas e muros de arrimo de concreto armado visto que grande parte da proposta encontra-se rebaixada. A utilização de brises metálicos nas fachadas regula a quantidade de iluminação natural e insolação, além de previnir que as construções sejam alvo de vandalismo. [56] detalhe construtivo do viaduto Julio de Mesquita com o bar e restaurante; autoria própria
Já na estrutura existente do elevado, foram feitos rasgos entre suas vigas com o fim de trazer maior iluminação ao baixio, estabelecendo novas relações como este elemento infraestrtural.
CORTE F
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[57] articulação entre o baixio do viaduto, o terreno do teatro oficina e a rua Adoniran Barbosa
Por fim, a fragmentação do bloco edificado e do programa, a rearticulação da malha urbana existente a partir dos percusos mais humanos e a variação entre os níveis do projeto são convites para que a população local adentre os vazios desenhados e se aproprie dos mesmos, transformando assim, o que antes era um linha limítrofe na região, em centralidade e ponto de encontro.
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referências bibliográficas AUGÈ, Marc. Não lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo. Editora: Papirus, 2012. BUCCI, Angelo. São Paulo, Razões de arquitetura: Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo. Editora: Romano Guerra, 2010. CARERI, Francesco. Walkscapes: O caminhar como prática estética. Editora: Gustavo Gili, 2013. FRANCO, Fernando de Mello. A construção do caminho: A estruturação da metrópole pela conformação técnica das várzeas e planícies fluviais da Bacia de São Paulo. São Paulo. Tese de doutorado FAU-USP. 2005 GUATELLI, Igor. Arquitetura dos entre-lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo. Editora: Senac, 2012. GUATELLI, Igor. Condensadores Urbanos: Baixio Viaduto do Café, Academia Cora Garrido. São Paulo. Editora: MackPesquisa, 2008. HABITAR, grupo de investigação. Rehabitar en nuenve episodios. Madrid. Editora: Lampreave, 2012. KON, Serio; DUARTE, Fabio. Debates: A Desconstrução do Caos. São Paulo. Editora: Perspectiva, 2008. MONTANER, Josep Maria; MUXI, Zaida. Arquitectura y Política. 2ª edição. Barcelona. Editora: Gustavo Gili. 2015.
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links: Colaboração Bixiga: do terreno ao bairro; Disponível em: https://vimeo.com/80608215 - acesso em 01 de junho de 2016 Demarcar Terra Sagrada TEKOHA - Re-Existência do Bixiga - Teatro Oficina. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WSxEC8Yt6TY - acesso em 01 de junho de 2016
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