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CHRISTINE FEEHAN Predador Sombrio Tão brutal quanto os mortos-vivos que caçava, Zacarias De La Cruz era um mestre executor. Em longos séculos de trevas, mergulhou em tantas batalhas contra o mal, que estas turvaram sua vida sem fim e a alma deste endurecido, impiedoso, cruel e implacável predador sombrio. Agora sua jornada dura e selvagem acabou. Depois de mil anos num mundo cinza, conseguiu tudo o que se propôs a fazer. Seus irmãos estão salvos. Cada um encontrou uma mulher que os completa. E estão em paz. Por seus irmãos, Zacarias andou pela beira da loucura, mas depois de séculos como uma máquina assassina, agora pode abandonar seu passado e a caça, e Zacarias se pergunta, pela primeira vez em sua vida, quem ele realmente é. A resposta o aguarda na volta para casa, no Peru, na traição de uma mulher preparando uma armadilha, na vingança de um velho inimigo, nas consequências inevitáveis de um legado familiar de sangue, e na libertação de uma companheira que nunca poderia imaginar. Traduzido do Inglês Envio do arquivo: Gisa Revisão Inicial: Sandra Maia / Lisa de Weerd Revisão Final: Lisa de Weerd / Sandra Maia Formatação: Sandra Maia Capa: Elica Leal TWKliek


Christine Feehan Cárpatos 22 Predador Sombrio

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Comentários das Revisoras: Revisora Sandra: Para mim, que sou fá da série e fiquei um ano esperando este livro, foi uma profunda decepção. Faltou ação, faltou romance, faltou continuação da história de fundo. Não aconteceu nada nesse livro além da análise de sentimentos. Nem mesmo a luta contra um dos Malinov conseguiu empolgar. Acho que qualquer luta com um vampiro menor em outro livro foi melhor. Em resumo, não gostei. Só espero que os próximos sejam melhores. Revisora Lisa: Bom, como sou fanática pela série não poderia deixar de ler este livro...Mas gostei mesmo foi da dobradinha com a Sandra.

CAPÍTULO 1 Fumaça queimava seus pulmões. Levantava-se em torno dele em ondas gritantes, alimentada pelos numerosos incêndios na floresta circundante. Foi uma longa e dura batalha travada, mas tudo acabou e ele estava indo. A maior parte da casa principal foi embora, mas conseguiram salvar as casas das pessoas que os serviam. Poucas vidas foram perdidas, mas cada uma era lamentada — mas não por ele. Ele olhou para as chamas com olhos vazios. Não sentiu nada. Olhou para os rostos dos mortos, homens honrados que serviram bem sua família, viu suas viúvas e filhos chorando, e sentiu — nada. Zacarias De La Cruz parou por um instante examinando o campo de batalha. Onde antes havia floresta exuberante, árvores subindo até as nuvens, vida selvagem, agora haviam chamas alcançando os céus e a fumaça preta manchando o céu. O cheiro de sangue era esmagador, os mortos, corpos mutilados olhando com olhos cegos para o céu escuro. A visão não o comoveu. Olhava tudo, como se à distância — com um olhar impiedoso. Não importa onde, ou qual século, a cena era sempre a mesma ao longo dos anos longos e escuros, quando viu tantos campos de batalha que perdeu a conta. Então, muita morte. Muita brutalidade. Tanta matança. Muita destruição. E sempre estava bem no meio dela, um turbilhão, predador sombrio, impiedoso, cruel e implacável. O sangue e a morte estavam estampados em seus ossos. Executou muitos inimigos de seu povo ao longo de centenas de séculos, não sabia como existir sem caçar ou matar. Não havia outra forma de vida para ele. Era puro predador e reconheceu esse fato há muito tempo — assim como qualquer um que ousasse chegar perto dele. Era um Caçador lendário dos Cárpatos, uma espécie quase extinta, vivendo num mundo moderno, mantendo as velhas formas de honra e dever. Sua espécie governava a noite, dormia durante o dia e precisava de sangue para sobreviver. Quase imortais, viviam muito tempo, existências solitárias, as cores e emoções desaparecendo, até que só a honra os mantinha no

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caminho escolhido até encontrarem a mulher que poderia completá-los e restaurar a cor e emoção. Muitos desistiam, matando enquanto se alimentavam para sentir a adrenalina — apenas para sentir alguma coisa — tornando-se a mais vil e perigosa criatura conhecida — o vampiro. Tão brutal e violento como os não-mortos, Zacarias De La Cruz era um mestre em caçá-los. O sangue corria de forma constante das numerosas feridas e o ácido do sangue venenoso queimava até seus ossos, mas sentia a calma sobre ele quando se virou e caminhou calmamente para longe. Incêndios devastavam, mas seus irmãos poderiam apagá-los. O sangue ácido do ataque dos vampiros embebia a terra — que gemia protestando — mas, novamente, seus irmãos buscariam esse veneno vil e o erradicariam. Sua austera jornada acabava. Finalmente. Bem mais de mil anos de vida num mundo vazio, cinzento. Fez tudo que previu fazer. Seus irmãos estavam protegidos. Cada um deles tinha uma mulher que o completava. Estavam felizes, saudáveis e eliminaram a pior ameaça para eles. No momento que seus inimigos cresciam em números, novamente, seus irmãos seriam ainda mais fortes. Já não precisavam de sua direção ou proteção. Estava livre. —Zacarias! Você está precisando de cura. De sangue. Era uma voz feminina. Solange, companheira de Dominic, seu mais antigo amigo, com seu puro sangue real, mudaria suas vidas para sempre. Estava amaldiçoado há muito tempo, também suas maneiras e oh, tão cansado, para fazer o tipo de mudança para continuar a viver neste século. Se tornou tão obsoleto como os guerreiros medievais de há muito tempo. O gosto da liberdade era metálico, de cobre, seu sangue fluindo, a essência da vida. —Zacarias, por favor. — Havia apreensão na voz dela, o que deveria tê-lo afetado, mas isso não aconteceu. Não sentia o que os outros podiam. Nada o balançava como pena, amor ou gentileza. Não tinha nenhum lado bondoso, gentil. Era um assassino. E seu tempo acabou. O sangue de Solange foi um presente incrível para seu povo, reconhecia, mesmo assim a rejeitou. Ao tomá-lo dava aos Cárpatos a capacidade de andar ao sol. Cárpatos eram vulneráveis durante as horas de luz do dia — especialmente ele. Quanto mais predador, mais assassino, mais a luz do sol era um inimigo. Era considerado, pela maioria do seu povo, o guerreiro dos Cárpatos que andava à beira da escuridão, e sabia que era verdade. O sangue de Solange deu essa última e definitiva razão para libertá-lo de sua existência escura. Zacarias puxou outra golfada de ar esfumaçado e continuou a pé, sem olhar para trás ou reconhecer a oferta de Solange. Ouviu seus irmãos chamando por ele alarmados, mas continuou andando, pegando o ritmo. A liberdade estava longe e tinha que chegar lá. Sabia, quando arrancou o coração do último dos vampiros atacando e tentando destruir sua família, que só havia um lugar onde queria ir. Não fazia sentido, mas isso não importava. Estava indo. —Zacarias, pare. Ele olhou para cima quando seus irmãos caíram do céu, formando uma sólida muralha na frente dele. Todos os quatro. Riordan, o caçula. Manolito, Nicolas e Rafael. Eram bons homens e quase podia sentir seu amor por eles — tão fugaz — tão fora de alcance. Bloquearam seu

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caminho, o impedindo de alcançar seu objetivo, e ninguém —nada — nunca — foi autorizado a ficar entre ele e o que queria. Um grunhido retumbou em seu peito. O chão tremeu sob seus pés. Eles trocaram um olhar apreensivo, o medo em seus olhos brilhantes. Aquele olhar de medo intenso, de seus próprios irmãos devia pará-lo, mas não sentiu — nada. Ensinou a estes quatro homens suas habilidades de combate, habilidades de sobrevivência. Lutou ao lado deles por séculos. Cuidou deles. Os comandou. Uma vez que ainda tinha lembranças de amor por eles. Agora que tirou dos ombros o manto da responsabilidade, não havia nada. Nem mesmo as memórias fracas para sustentá-lo. Não conseguia lembrar do amor ou do riso. Só morte e assassinato. —Saíam. — Uma palavra. Uma ordem. Esperava que o obedecessem como todos o obedeciam. Adquiriu riquezas além da imaginação em seus longos anos de vida e nos últimos séculos não precisou nenhuma vez comprar seu caminho para dentro ou fora de alguma coisa. Uma palavra dele era o suficiente e o mundo estremecia e se afastava para seus desejos. Relutantemente, muito lento para seu gosto, se separaram para que ele passasse. —Não faça isso Zacarias,— disse Nicolas. —Não vá. —Pelo menos cure suas feridas, — acrescentou Rafael. —E se alimente, — Manolito pressionou. —Precisa se alimentar. Ele se virou e olhou para trás, o medo se transformando em terror nos olhos deles— e sabia que tinham razão para ter medo. Os séculos o moldaram — aperfeiçoando-o num violento e brutal predador — uma máquina de matar. Havia poucos como ele no mundo. E andava à beira da loucura. Seus irmãos eram grandes caçadores, mas matá-lo exigiria suas consideráveis habilidades e falta de hesitação. Todos tinham companheiras. Todos tinham emoções. Todos amavam. Ele não sentia nada e tinha a vantagem. Ele já havia cumprido sua missão, deixando seu mundo no momento que virou as costas e se permitiu a liberdade de abandonar suas responsabilidades. No entanto, seus rostos, esculpidos com linhas profundas de tristeza pairaram por um momento. Qual seria a sensação de sentir tristeza tão profunda? Sentir amor? Sentir. No passado, tocaria suas mentes e compartilharia com eles, mas todos tinham companheiras, e não se atrevia a arriscar manchar um deles com a escuridão dentro de si. Sua alma não estava apenas em pedaços. Matou muitas vezes, se distanciou de tudo que era caro, a fim de melhor proteger aqueles que amava. Quando chegou ao ponto em que já não podia tocar suas mentes com segurança e compartilhar suas lembranças? Foi há tanto tempo que já não podia se lembrar. —Zacarias, não faça isso, — Riordan, o caçula pediu, o rosto torcido com a mesma tristeza profunda em cada um dos rostos de seus irmãos. Foram sua responsabilidade por muito tempo e não podia simplesmente ir embora sem darlhes algo. Ficou ali um momento, completamente sozinho, a cabeça, olhos brilhantes, cabelos longos e fluidos em torno dele enquanto o sangue escorria constantemente em seu peito e coxas. — Dou minha palavra que não terão que me caçar.

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Era tudo que tinha para eles. Sua palavra que não viraria vampiro. Poderia descansar e estava buscando o descanso final de sua própria maneira. Se afastou deles quando viu a compreensão e o alívio em seus rostos e mais uma vez começou sua jornada. Tinha muito a fazer, se quisesse chegar ao seu destino antes do amanhecer. —Zacarias, — Nicolas chamou. —Onde vai? A pergunta o fez parar. Onde estava indo? A forte compulsão era impossível de ignorar. Na verdade, abrandou o passo, inquieto com a pergunta. Aonde ia? Por que a necessidade tão forte nele — quando não sentia nada? Mas algo, uma força escura o dirigia. —Susu - casa. — Ele sussurrou a palavra. Sua voz foi carregada pelo vento, o tom baixo ressoando na própria terra sob seus pés. —Estou indo para casa. —Esta é sua casa, — declarou Nicolas com firmeza. —Se procurar descansar, vamos respeitar sua decisão, mas fique aqui conosco. Com sua família. Esta é sua casa — reiterou. Zacarias abanou a cabeça. Era levado a sair do Brasil. Precisava ir a outro lugar e tinha que ir agora, enquanto ainda havia tempo. Com os olhos vermelhos como chamas, a alma negra como fumaça, ele mudou, buscando a forma da harpia. Vai para as montanhas dos Cárpatos? Nicolas exigiu, por meio de sua ligação telepática. Vou viajar com você. Não. Vou para a casa onde pertenço - sozinho. Devo fazer isso sozinho. Nicolas enviou calor, o envolveu com ele. Kolasz arwa-arvoval – que possa morrer com honra. Havia tristeza em sua voz, no seu coração, mas Zacarias, enquanto reconhecia isso, não podia ecoar o sentimento, nem mesmo um pequeno tom. Rafael falou baixinho em sua mente. Arwa-arvo olen isäntä, ekäm — a honra o mantenha, meu irmão. Kulkesz arwa-arvoval, ekäm — caminhe com honra, meu irmão, Manolito acrescentou. Arwa-arvo olen gæidnod susu, ekäm — a honra te guie para casa, meu irmão, disse Riordan. Fazia muito tempo desde que ouviu falar a língua nativa de seu povo. Falavam línguas e dialetos de onde quer que estivessem. Tinham nomes quando se moviam de país para país, até mesmo apelidos, quando os Cárpatos nunca os tiveram. Seu mundo mudou muito ao longo do tempo. Séculos de transformação, sempre se adaptando para se ajustar, e nunca realmente mudando quando seu mundo era tudo sobre a morte. Finalmente estava indo para casa. Essa simples declaração não significava nada — e tudo. Não tinha uma casa há bem mais de mil anos. Era um dos mais antigos, certamente um dos mais mortais. Homens como ele não tinham casa. Poucos davam boas-vindas em sua fogueira, para não falar do seu lar. Então, o que era casa? Porque usou essa palavra? Sua família estabeleceu fazendas nos países em que patrulhavam toda a Amazônia e nos outros rios que a alimentavam. Sua escala era espalhada e cobria milhares de quilômetros, o que dificultava a patrulha, mas estabeleceram relação com várias famílias humanas, e as diversas casas

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estavam sempre preparadas para sua vinda. Estava indo para uma casa em que deveria cobrir muitas milhas antes do amanhecer. Sua fazenda no Peru estava localizada na beira da floresta, a poucos quilômetros de onde os rios formavam um Y e despejavam no Amazonas. A mesma área mudando lentamente ao longo dos anos. Sua família chegou na área com os espanhóis, construindo seu nome, indiferentes de como, por serem Cárpatos, eram chamados pelos outros, sem saber que passariam séculos na área — que se tornaria mais familiar para eles que sua terra natal. Zacarias olhou para a copa da floresta tropical enquanto voava. Também estava desaparecendo, uma invasão lenta e constante, que não entendia. Havia tantas coisas sobre os tempos modernos que não entendia e realmente, o que importava? Já não era seu mundo, ou seu problema. A compulsão o intrigava mais que as respostas para os ambientes de fuga. Despertou um pouco de sua curiosidade, ainda que precisar voltar a um lugar que foi algumas vezes era perturbador. Porque era uma necessidade quando não tinha necessidades. Era impressionante e o subjugava. Pequenas gotas de sangue caíram nas nuvens nebulosas envolvendo as árvores emergentes espalhadas e sobressaindo acima do dossel em si. Abaixo dele, podia sentir o medo dos animais quando passou. Abaixo, um bando de macacos da noite muito pequenos pulavam e faziam acrobacias incríveis na camada média dos ramos, em que estavam. Alguns se alimentando de frutos e insetos, enquanto outros observavam os predadores. Normalmente guinchavam um alarme assim que a harpia era descoberta, mas quando passou pela família de macacos, ficaram totalmente e estranhamente silenciosos. Sabia que não era a ameaça do grande pássaro voador que fazia a floresta ficar tão parada. A harpia ficava assentada em galhos, muitas vezes, por longas horas à espera de uma refeição. Podia baixar com velocidade chocante e arrancar uma preguiça ou um macaco direto das árvores, mas ele, como regra, não caçava em voo. Os mamíferos se esconderam, mas as cobras levantaram suas cabeças em sua passagem. Centenas de aranhas do tamanho de pratos se arrastavam ao longo dos ramos, migrando na direção que ele voava. Insetos subiam aos milhares em sua passagem. Zacarias tinha marcas dos sinais da escuridão dentro dele. Mesmo quando era um Cárpato jovem, era diferente. Sua capacidade de luta era natural, criada para ele, quase impressa antes do nascimento, seus reflexos rápidos, seu cérebro trabalhando rapidamente. Tinha a capacidade de avaliar uma situação com a velocidade da luz e chegar a um plano de batalha imediatamente. Matava sem hesitar, mesmo em seus primeiros dias, e suas ilusões eram quase impossíveis de detectar. A escuridão era profunda, uma sombra na sua alma muito antes de perder suas emoções e cores — e as perdeu muito mais cedo que outros de sua idade. Ele questionava tudo. Todos. Mas sua lealdade para com seu príncipe e seu povo era inabalável e valeram o ódio eterno do seu melhor amigo.

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Ele voou com asas fortes, rápidas durante a noite, ignorando as feridas e sua necessidade de sangue. Quando cruzou a fronteira e caiu numa copa baixa, sentiu a força da compulsão crescer. Precisava chegar em sua fazenda Peruana. Simplesmente precisava. A floresta se estendia abaixo dele, um emaranhado escuro de árvores e flores, o ar pesado com a umidade. Musgos e trepadeiras pendiam como longas e fluídas barbas, quase atingindo as piscinas lacrimejantes, córregos e riachos. Samambaias entrelaçadas disputavam espaço, se arrastando por longas raízes expostas no chão escuro abaixo dele. A harpia caiu através de ramos cobertos com flores, cipós e todos os tipos de insetos escondidos no emaranhado de vegetação. Embaixo ouviu o apelo suave de uma perereca chamando um companheiro e, em seguida, uma ave aquática, um som mais desagradável adicionado ao coro de rãs. Um trinado quase eletrônico se juntou à sinfonia com milhares de vozes diferentes, se levantando num crescendo de forma abrupta indo a um silencio antinatural, alarme arrepiante quando o predador se aproximou, então, passou por cima. O céu escuro da noite virou um cinza suave enquanto o amanhecer rastejava, roubando o poderoso reino da noite. A harpia caiu do dossel em espiral até a clareira onde a casa da fazenda estava situada. Com sua visão aguçada, podia ver o rio que corria como uma fita espessa repartindo a terra. Encostas suaves deram lugar a cumes, desfiladeiro íngremes e profundos cortando a floresta. Árvores e vegetação serpenteavam pelo chão rochoso, um emaranhado escuro crescendo, determinado a recuperar o que foi tomado. Arrumadas cercas dividiam as encostas e quando o pássaro voou sobre as ravinas e vales, viu centenas de bovinos nas pastagens pontilhadas. Quando a sombra do pássaro passou por cima deles, levantaram a cabeça em agitação, tremendo, batendo um no outro enquanto se voltavam de lá para cá, tentando achar o perigo que cheiravam. A harpia voou por diversas áreas e pelo menos por um acre de jardins, tudo como quando Zacarias se associou à grande família que o servia. Tudo arrumado, mantido meticulosamente, cada tarefa realizada pelos melhores. Pastagens e campos cediam espaço aos grandes currais, onde cavalos rodopiavam e sacudiam a cabeça inquietos, enquanto voava sobre eles. Abaixo dele, a fazenda apareceu, como um quadro perfeito que não podia apreciar. Quando se aproximou do estábulo, uma onda de calor deslizou por suas veias. Profundamente dentro do corpo da ave, onde não devia ter sentido nada, seu coração deu um salto desconhecido. A vibração estranha quase o derrubou do céu. Naturalmente preocupado, Zacarias não confiava no que não entendia. O que poderia enviar o calor correndo em suas veias? Estava exausto da longa batalha, do longo voo, e da perda de sangue. A fome vibrava a cada batida do seu coração, agarrando e rasgando pela supremacia. A dor das feridas que não se preocupou em curar o rasgava como uma britadeira sempre presente, perfurando através de seus ossos. Semanas antes, esteve tão perto de virar vampiro, a necessidade de alívio do vazio tão forte nele, a escuridão de sua alma sem o menor relevo, que sua reação agora não fazia sentido. Estava

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em pior forma. Faminto por sangue. Mais mortes manchando sua alma. Ainda assim, houve aquela reação estranha nas proximidades de seu coração, o calor pulsando em suas veias em antecipação. Um truque, então? A atração definida por um vampiro? O que não estava percebendo? A harpia lentamente cruzou com sua envergadura de dois metros, as garras tão grandes como a de urso escavando profundamente no telhado do estábulo, enquanto as penas no topo da sua cabeça formavam uma grande crista. O grande predador estava completamente imóvel, os olhos afiados se movendo sobre o terreno abaixo. Ele tinha uma visão incrível dentro do corpo da harpia e sua audição ajudava ainda mais, se focando nas ondas sonoras pelas penas menores formando seu disco facial. Os cavalos no curral, a uma curta distância, reagiram à sua presença, jogando as cabeças, se movendo inquietos e se aglomerando. Vários relincharam em perigo. A mulher saiu do estábulo abaixo dele, um grande cavalo a seguia. Imediatamente seu olhar se fixaram nela. Seu cabelo era longo, na cintura, preso numa trança que era tão grossa como seu pulso. A trança comprida atraiu seu olhar. Quando ela se moveu, os fios retorcidos brilharam como seda. Zacarias via nas sombrias e aborrecidas cores de branco cinzento por séculos. A trança era fascinante porque era de um preto verdadeiro. Estava quase hipnotizado pelo cabelo longo e escuro, os fios brilhantes, mesmo sem o sol. Em algum lugar nos arredores do que seria sua barriga, seu estômago deu uma lenta cambalhota. Num mundo onde tudo era o mesmo e nada mudava, essa pequena sensação equivalia a uma bomba explodindo. Por um momento perdeu a respiração, abalado pelo estranho fenômeno. O cavalo que seguia a mulher não usava sela ou brida1 e uma vez que saiu do prédio, começou a dançar inquieto, jogando a cabeça, os olhos revirando quando circulou a mulher. Os cavalos eram de pura raça Paso peruano2, uma raça conhecida não só por seu andadura natural, mas por seu temperamento também. A mulher olhou para os cavalos correndo em círculos no curral — era raro ficarem nervosos — e, em seguida, ergueu a mão para acalmar o cavalo perto dela. Ela colocou a mão em seu pescoço e olhou para a harpia pousada tão imóvel no telhado. Aqueles olhos de chocolate escuro penetraram direto através das penas e ossos da harpia, direto para Zacarias. Sentiu o impacto como uma flecha no coração. Marguarita. Mesmo de longe podia ver as cicatrizes no pescoço, onde o vampiro arrancou suas cordas vocais, porque se recusou a entregar o lugar de descanso de Zacarias aos não-mortos. Ela uma vez foi uma jovem despreocupada, ou imaginava que fosse, mas agora, alguém a estava usando para prendê-lo. Tudo fazia sentido agora. A compulsão para vir a este lugar, pensar nele como uma casa. Ela estava possuída por um vampiro? Só um mestre poderia tecer e manter certa magia junta, só um mestre como seus velhos inimigos, os irmãos Malinov. Os cinco irmãos cresceram com ele. 1

Parte do arreio de um cavalo, que compreende o freio e as rédeas. O peruvian paso ou paso fino, ou ‘cavalo marchador’ tem os mesmos antepassados que o crioulo argentino. Distingue-se por sua andadura, conhecida por lateral gait, e uma conformação particular, preservada e confirmada pela criação seletiva à três séculos ou mais. 2

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Lutaram lado a lado por quase 500 anos. Seus amigos escolheram ser vampiros, desistindo de suas almas por sua sede de poder. Escolheram juntar aos não-mortos numa conspiração contra o príncipe e o povo Cárpato. Dominic descobriu a última tentativa e ficou para ajudar a defender as propriedades dos De La Cruz no Brasil. Sabendo que os vampiros testariam seu plano de ataque no rancho antes de golpear o príncipe, Zacarias estava esperando por eles. Nenhum vampiro escapou vivo. Nenhum havia voltando para contar aos Malinovs que seu plano falhou. Zacarias conhecia a raiva dos Malinovs e seu ódio, amargo e implacável contra ele e seus irmãos. Sim, esta poderia muito bem ser a resposta pela derrota do exército Malinov, mas como chegaram aqui na frente dele? Não fazia nenhum sentido. A harpia balançou a cabeça como se para se livrar dos pensamentos perturbadores. Não, era impossível se reagruparem para outro ataque tão cedo. Em qualquer caso, os cavalos nunca tolerariam sua presença, nunca permitiriam que o mal os tocasse e Marguarita estava acariciando o pescoço poderoso. Não havia posse. Zacarias se admirou pela estranha sensação no peito. Quase um alívio. Não queria ter que matá-la, não quando quase sacrificou sua vida por ele uma vez. No entanto, era incapaz de sentir qualquer emoção que fosse. Por que essas agitações extraordinárias em seu corpo e mente desde seu retorno a este lugar? Nada daquilo fazia sentido. Dobrou sua vigilância, não confiando no desconhecido. Calor penetrou no cérebro do pássaro, uma impressão suave de uma saudação amigável. A harpia reagiu, sua cabeça se inclinando para um lado, seus olhos focados na mulher. Zacarias sentiu o pássaro a alcançando. Ela foi sutil em seu toque, tão leve que mal estava lá, mas exercia um poderoso dom. Mesmo o grande predador da floresta tropical caiu sob seu feitiço. Sentiu sua própria mente e corpo reagindo, relaxando, a tensão se esvaindo. Ela alcançou o pássaro e encontrou sua natureza selvagem, mais animalesca. Assustado, se afastou, se retirando mais profundamente no corpo da harpia, o tempo todo a observando de perto quando voltou sua atenção para acalmar os cavalos. Não demorou muito tempo para acalmá-los ao ponto que ficaram quietos, mas não parou de olhar para a harpia, ciente que havia um predador pior enterrado profundamente dentro da ave. Marguarita circulou o pescoço do cavalo e saltou. Foi um movimento fácil e praticado, parecia fluir através do ar, toda graça quando escorregou no dorso do animal. Imediatamente o cavalo empinou, mais, estava certo, devido à sua presença do que porque a jovem montou nele. A respiração de Zacarias estava presa em sua garganta. Seu coração acelerou como um tambor, outro estrondoso fenômeno peculiar. A grande harpia abriu suas asas quase antes que Zacarias desse a ordem. O movimento foi mais instintivo que pensado, uma necessidade imediata de levar a mulher para a segurança. Marguarita se inclinou sobre o pescoço do cavalo num comando silencioso e cavalo e cavaleiro correram sobre a terra em perfeita harmonia.

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Uma vez convencido que ela não estava em perigo, Zacarias dobrou suas asas e a observou, suas garras cavando mais fundo no teto enquanto o cavalo passava sobre uma cerca e alongava seu passo. Ela se sentava ereta, a marcha elegante do animal num toque harmônico e rítmico, tão suave que seu centro de gravidade, onde Marguarita sentava, estava quase parado. Intrigado, Zacarias tocou a mente do cavalo. Ela controlava o animal ainda que não o fizesse. O cavalo aceitava, queria agradá-la — desfrutar da fusão dos dois espíritos. Marguarita teceu seu feitiço sobre o animal sem esforço, mantendo-o com ela através do dom de sua conexão profunda com as criaturas. Não parecia perceber que fazia nada de especial, simplesmente curtia o passeio ao amanhecer — assim como o cavalo. Este, então, era o motivo da agitação estranha em sua mente e corpo. Seu dom. Ela tocava todas as coisas selvagens, e ele era tão selvagem assim. Não havia ameaça de não-mortos, apenas esta jovem, com sua inocência e luz. Deve ter enviado ao Paso outro comando, porque o animal mudou de marcha com um movimento fluido, revirando os membros anteriores do ombro em direção ao exterior quando caminhou para a frente. A cabeça do cavalo se erguia orgulhosamente, sua crina voando, os olhos brilhantes e exuberantes em todos os seus movimentos. Era um momento perfeito — o momento perfeito para acabar com sua vida. Ela era — bonita. Livre. Fluindo sobre o chão como água fria. Tudo por que lutou — tudo que nunca foi. A harpia abriu suas asas e voou em espiral, vendo o cavalo e o cavaleiro ganharem o terreno rápido, ainda mais incrivelmente suave. Toda sua vida, mesmo quando os soldados lutavam a cavalo, mesmo em sua juventude, havia um predador demais nele para permitir que um cavalo o carregasse nas costas. Naqueles dias, tentou de tudo — exceto o controle da mente — para conseguir andar neles, mas nenhum cavalo podia levá-lo. Eles estremeciam e tremiam debaixo dele, mesmo quando tentava acalmálos. Marguarita movia-se suavemente e rapidamente sem esforço sobre cercas, sem freio ou sela, cavalo e cavaleiro exsudando alegria. Ele seguia o par correndo sobre o chão, a marcha suave do cavalo fazendo com que parecesse que estivessem flutuando. Marguarita jogou as duas mãos no ar como se demarcasse uma cerca, segurando o cavalo com os joelhos e o guiando com sua mente. O Paso mudou seu modo de andar sem problemas à medida que correu todo o campo e virou num amplo círculo de novo. Marguarita deu a harpia uma onda amigável e mais uma vez, calor e alegria inundaram sobre e através de Zacarias. Ele deu a ela seu sangue — mas nunca teve o dela. Sua boca encheu de água. Seus dentes encheram sua boca e a fome explodiu por meio dele, irradiando necessidade através de cada célula. Ele inclinou o pássaro abruptamente e voltou para o estábulo. Se recusava a arriscar qualquer coisa com seu autocontrole. Uma vez antes esteve muito perto de desistir do pouco que restava de sua alma. Honraria sua palavra aos seus irmãos. Nenhum Cárpato jamais arriscaria sua vida para caçar Zacarias De La Cruz. Escolheu seu destino, e escolheu salvar sua honra. Iria para o amanhecer, de cabeça erguida,

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congratulando-se com sua morte. Sua última visão seria da mulher voltando — da jovem Marguarita com a luz derramando de dentro dela enquanto fluía através do solo no rastro de um belo cavalo. Levaria a visão dela fazendo o que sonhou na sua infância — montar um animal — com ele até sua morte. A harpia pousou graciosamente no chão ao lado do estábulo. Ignorando os cavalos aterrorizados no curral fixado à estrutura, mudou de volta para sua forma humana. Era um homem grande, todo músculos, com longos cabelos soltos. Linhas profundas marcavam seu rosto. Alguns o chamavam brutalmente bonito. Alguns diziam que sua boca era sensual e cruel. A maioria dizia que era aterrorizante. Naquele momento, se sentiu totalmente cansado — tão cansado que mal conseguia olhar em volta à procura de um lugar para sentar. Queria cair ali mesmo na grama fresca. Ele forçou seu corpo a se mover enquanto olhava para um local conveniente para sentar e assistir o sol nascer sobre a floresta. Muito lentamente, caiu no solo macio, indiferente à água que escoava por suas roupas por causa do orvalho da manhã. Não se preocupou em regular sua temperatura mais do que em curar suas feridas. Havia contentamento em sua decisão. Pela primeira vez em sua existência estava sem o peso da responsabilidade. Ele dobrou os joelhos, cruzou as mãos e descansou o queixo sobre a pequena plataforma que fez para que pudesse ver o cavalo e cavaleiro quando o Paso corresse através da andadura natural3 que o fez tão famoso. Sentiu o sol pinicando sua pele, mas não era a sensação terrível que sentiu por toda a sua vida. Solange deu-lhe seu sangue em duas ocasiões para salvá-lo de se transformar em vampiro. Ele tomou muito cuidado para evitar seu sangue uma vez que percebeu que poderia passar a madrugada ao relento, sem repercussões. Outros de sua espécie podiam ver o amanhecer e havia alguns que realmente podiam andar nas ruas pela manhã sem a ajuda de Solange, mas com sua alma tão escura, ele há muito tempo se uniu aos vampiros na sua necessidade de se esconder até mesmo da luz do sol da manhã. Ele bebeu a visão de Marguarita, o mais próximo da felicidade que um homem sem emoções poderia chegar. Ela trocou sua voz por sua vida. Ele a recompensou por sua lealdade salvando sua vida e dando instruções para que a ela fosse dado tudo que quisesse no rancho. Não havia joias enfeitando seus dedos ou garganta. Usava roupas simples. Mas vivia para os cavalos, mesmo ele podia ver isso. Ele deu a ela — vida. E, de alguma forma estranha, ela deu a ele — liberdade. Ele não percebia a passagem do tempo. Os insetos permaneciam em silêncio. Os cavalos pararam de circular e se afastavam dele tanto quanto possível, num canto do curral, agrupados juntos, se movendo e batendo os cascos, inquietos, mal capaz de tolerar sua presença. Lentamente seu corpo reagiu ao sol nascente, tornando-se pesado com a estranha aflição de sua espécie. 3

A ANDADURA, que é um andamento caracterizado pela associação dos membros laterais que se levantam e pousam no mesmo momento, fazendo-se ouvir duas batidas em cada passada. Por sinal, andamento natural em alguns cavalos. Aparece, às vezes, espontaneamente, nos poldros em face dos dolicomorfismo dos membros e braquimorfismo do tronco, mas desaparece com a idade. Também encontrada em cavalos velhos e fatigados.

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Zacarias se estirou no chão, virado para cima, a cabeça voltada para a visão de Marguarita quando veio em sua direção. Agora a luz do sol penetrava sua roupa e tocava a pele como um milhão de agulhas minúsculas perfurando sua carne. Pequenas torres de fumaça começaram a subir de seu corpo quando o incêndio começou. Não conseguia se mexer, mas não o faria. Ela estava linda. Fresca. Inocente. O contentamento era profundo, apesar da dor crescente. Manteve os olhos abertos, querendo, precisando da visão de Marguarita montando para ficar em seu coração, quando entrasse em sua próxima vida. Talvez estivesse observando muito de perto atraindo o olhar dela, ou talvez o estranho comportamento dos animais e insetos a alertou, mas ela virou a cabeça e seu olhar encontrou o dele. Ele viu seu suspiro e o aperto repentino de joelhos sobre o cavalo, pedindo que fosse para a frente. Não! Fique atrás. Não chegue perto de mim. Pegue seu cavalo e vá embora. Se houve qualquer pequena hesitação que indicasse que as palavras foram forçadas em sua mente, ele não percebeu. O cavalo pulou a cerca e quando começou a dançar com medo, ela parou o animal e pulou. O Paso escavou o chão e ela mandou ao cavalo uma careta escura, então fez um gesto em direção ao curral. Ao mesmo tempo o Paso peruano correu em direção da cerca, pulou e se juntou aos outros cavalos no canto mais distante. Marguarita se aproximou dele com cuidado, da forma como faria com um animal selvagem encurralado, uma mão estendida, a palma em direção a ele, movendo os lábios silenciosamente como se não estivesse muito acostumada com o fato que não poder falar. Calor inundou sua mente, um bálsamo que dizia que não queria ofender. Ele lutou para se mover, mas a maldição do sol estava sobre ele. Ela se aproximou, sua sombra pairando sobre ele, seu corpo bloqueando o sol nascente. Seus olhos eram escuros e ricos, olhando para ele com uma mistura de medo e alarme imediato por ele. Deixe-me. Ir. Agora. Ele empurrou a ordem em sua cabeça, junto com a impressão de um rosnado, um comando absoluto. Marguarita se agachou ao lado dele, tocando o braço fumaçando, franzindo a testa de preocupação e, em seguida, puxando rápido sua mão, soprando as pontas dos dedos. Esta é minha escolha. Deixe-me morrer. Não tinha ideia se seus comandos eram penetrantes. Ela não piscou ou olhou para ele como se o ouvisse. Foi treinada desde o nascimento para obedecer aos membros de sua família. Certamente ela não o desafiaria. Sabia o quão facilmente um Caçador Cárpatos à beira da loucura estava próximo de se tornar vampiro. Os não-mortos arrancaram sua garganta. Ele sentiu sua mão tremer contra o calor de seu braço. Ela tinha que ter queimado os dedos contra sua pele. Se concentrou nela e empurrou em sua mente uma compulsão para deixá-lo. Tinha muita compaixão nela, não ousaria desobedecer alguém tão poderoso quanto ele. Sua compulsão caiu contra uma mente que mal conseguia entender. Não era como se encontrasse barreiras, era como se suas técnicas simplesmente dissipassem como fumaça.

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Ela tirou o curto casaco macio de seu corpo e o jogou sobre a cabeça dele, cobrindo seu rosto e olhos. Ele a sentiu tomar seu pulso e começar a puxá-lo pelo pasto molhado. Na sua passagem as folhas de grama ficavam marrons. Ouviu o silvo da respiração de seus pulmões e sabia que sua mão estava queimando, mas ela não parou. Pela primeira vez em longos séculos uma raiva profunda se enrolou na sua barriga e ardeu ali, com alguém ousando desafiar sua ordem direta. Ela não tinha o direito. Ela era esperta. Ninguém nunca o desafiou — e certamente não um ser humano, e definitivamente nunca uma mulher. E nenhum de seus próprios empregados, a cujas famílias foram dadas proteção e riqueza além da imaginação. Ele escolheu a morte. Ele se preparou. Estava contente com sua decisão —abraçou sua escolha. Esta era o pior tipo de traição. Você vai se arrepender de sua desobediência, ele prometeu. Marguarita o ignorou ou não ouviu. Ele sinceramente não sabia, nem se importava. Ela pagaria. Pedras se encravaram em suas costas, e então o bump da madeira quando ela conseguiu jogá-lo dentro do estábulo. O sol parou de queimá-lo vivo, embora o ferrão das agulhadas ainda penetrassem sua pele. Habilmente, ela enrolou-o em uma lona, não retirando o casaco de seu rosto. Ela ainda enrolou seus braços sobre o peito antes de o enrolar. Sentia-se como um bebê indefeso. A indignidade disso, o erro de suas ações despertou algo monstruoso nele. Ele recuou como o animal selvagem que era, esperando por seu momento — e haveria um momento. Ela conheceu o medo de um vampiro arrancando sua garganta, mas isso não seria nada comparado ao terror de Zacarias De La Cruz extraindo vingança por seus pecados. Ela tentou enganchar a lona num dos cavalos, ele soube pelo cheiro e pelo rufar dos cascos do animal como se protestando pela proximidade com ele. Ele poderia dizer a ela que nenhum cavalo permitiria sua presença, mas se conteve ainda, agora só esperando o resultado de seu erro. A falta de potência não a impediu. Ele ouviu o som de seus passos e então começou a puxar a lona sozinha. Ele sabia que ela estava sozinha pelo som de sua respiração em seus pulmões, estourando em vários e repetidos pequenos suspiros. Ele achou significativo que ela não pedisse ajuda. Um grito — certo, ela não podia gritar, mas devia haver uma maneira de atrair a atenção. Os machos que trabalhavam no rancho viriam em seu auxílio, se ela sinalizasse, mas devia saber que se ele mandasse que permitissem sua morte — eles obedeceriam. A queimação feroz em suas entranhas tornou-se mais quente, quente o suficiente para que por alguns momentos pensasse que podia estar queimado através de sua pele até seus órgãos internos. Não podia ver nada, mas sentia cada solavanco das pedras e chamas ferozes do sol quando ela o arrastou do estábulo até a casa da fazenda. O calor escaldante foi surpreendentemente eficaz, expulsando todos os pensamentos até que ele quis gritar de agonia. Veio gradualmente, uma carbonização lenta que penetrou através da pele e do tecido até o osso.

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Zacarias tentou se desligar da dor como fez por séculos, mas a queimadura do sol implacável era algo que não podia se separar, como tantas outras feridas. Mesmo com a lona em volta dele, sentia as chamas penetrantes como flechas queimando e pontilhando seu corpo. O calor de seu sangue ferveu e as chamas lamberam suas entranhas. Não podia gritar, ou protestar, ou fazer qualquer coisa, além de ser arrastado pelo pátio para o que presumia ser a casa da fazenda. Marguarita bufou duro quando tomou todo seu peso até os dois degraus que levavam para dentro. No momento que estava dentro das espessas paredes frias, ela deixou cair os arreios e correu por toda a sala. Podia ouvi-la puxando as cortinas grossas no lugar, cobrindo as janelas. Vai sofrer como ninguém jamais sofreu por sua desobediência, ele prometeu, empurrando as palavras em seu cérebro. Novamente teve a impressão que as palavras caiam através das rachaduras, como se ela não conseguisse entender o que ele dizia, mas isso não importava. Ele esperou enquanto ela cuidadosamente desenrolava a lona e quando as pontas se abriram, ele estalou os olhos escuros abertos e fixou seu olhar no dela. Um silvo longo e lento, uma promessa de retaliação brutal escapou, e não havia como confundir seu significado.

CAPÍTULO 2 A respiração de Marguarita Fernandez estava presa em sua garganta e ela afundou em seus calcanhares. O que estava fazendo? Podia se imaginar gritando sem parar, no fundo, onde ninguém podia ouvi-la — mas tanto quanto dizia a si mesma para deixá-lo morrer, como ele exigia — não podia. Não havia como voltar atrás agora, e certamente ele a mataria. Ela se atreveu a desobedecer um De La Cruz. Não apenas qualquer De La Cruz, também. Ela desobedeceu um dos homens sussurrados. Este era Zacarias, e ninguém o mencionava, a menos que o fizessem em termos de grande respeito — e medo ainda maior. Ele já a avisou. Sua voz esculpiu as palavras para sempre em seu coração. Vai sofrer como ninguém jamais sofreu por sua desobediência. Ele a avisou várias vezes para deixá-lo. Ela simplesmente — não conseguia. Não havia como explicar isso a ele. Ela mesma não sabia a razão. E não tinha voz. Nenhuma maneira de acalmá-lo para tratá-lo como tratava as criaturas selvagens ao seu redor. Custou grande coragem e esforço físico arrancar seu olhar da prisão do dele. Pressionando os lábios e ignorando seu coração trovejante, arrancou sua roupa para tirar os pedaços fumegantes para longe de sua pele. Ela engasgou, quase caindo para trás quando viu seus ferimentos. Sangue coagulado estava grosso e feio sobre as queimaduras manchadas. Esteve numa terrível batalha, foi ferido várias vezes, e não teve o cuidado de curar as lacerações ou, a julgar por sua compleição pálida, se alimentar. Não havia tempo para delicadezas. Estava, provavelmente, sendo perseguido. Os nãomortos estariam na terra quando o sol se levantasse, mas tinham todos os tipos de servos sujos. 14


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Foi instruída repetidamente desde seu nascimento a ficar em prontidão para assaltos dos nãomortos em sua casa. Percorreu a fazenda, fechando todas as janelas e portas e espalhando armas para facilitar o acesso, antes de correr para a cozinha para misturar uma solução para esfriar a pele queimada de seu mestre. Ela carregava o jarro de volta ao homem deitado no chão. Seu olhar a seguia, mas não fez mais nenhum esforço para empurrar o medo em sua mente. Talvez porque já estava tão cheia de terror que não havia espaço para mais nada. Ainda assim, seus olhos estavam ferozes com chamas vermelhas, e uma promessa de vingança. Ela evitou olhar para aqueles olhos, com um pouco de medo que pudesse de alguma forma controlá-la e não podia — não conseguia — se afastar e permitir que morresse. Cada célula do seu corpo exigia que salvasse sua vida — mesmo à custa da dela mesma. Sua mão tremia quando começou a passar a esponja embebida na solução gelada sobre seu corpo. Sabia que as lacerações abertas deviam arder, mas tinha que conter as queimaduras antes que pudesse cuidar de suas outras feridas. Tentou duramente não notar seus músculos definidos e o impressionante equipamento masculino. Fingiu que era um animal selvagem, e talvez ele realmente fosse, mas era difícil vê-lo dessa maneira, quando estava acariciando a toalha macia sobre seu corpo muito masculino. Marguarita estava acostumada a estar na companhia dos homens. Trabalhava na fazenda mais tempo do que conseguia se lembrar, mas nenhum tinha um corpo como este. Zacarias era todo músculo rígido, ombros largos e quadris estreitos. Tinha uma reputação temível. Poucos o viram em carne e osso, mas os rumores eram terríveis. Cesaro Santos, o capataz da fazenda, disselhe quando foi atacada por um vampiro, que Zacarias salvou sua vida, mas ela nunca o conheceu, falou com ele ou até mesmo o viu antes. Ainda assim, sabia com absoluta certeza que este homem era o mais velho dos irmãos De La Cruz, e o mestre de todos os ranchos. Limpou cuidadosamente suas feridas, o tempo todo o acalmando como faria com uma de suas criaturas selvagens, sem saber se ajudava ou não. Seu corpo estava totalmente morto, mas seus olhos permaneciam abertos e fixos em seu rosto. Ele precisava de sangue. Estava muito pálido e era evidente pelas suas feridas que perdeu muito. Ela podia ouvir seu coração começar a acelerar, mas já chegou até aqui. O que importava ir mais longe? Ele já a condenou por suas ações. Respirando fundo, tirou a faca da bainha em sua cintura e antes que pudesse pensar muito sobre o que estava fazendo, cortou o pulso. Se pudesse gritar em voz alta, ela o faria, mas mesmo abrindo a boca, nenhum som saiu. Ela posicionou seu pulso sobre a boca do mestre, permitindo que seu próprio sangue escorresse constantemente. Silenciosamente, ela exigiu que ele engolisse. Poderia fazer isso, estava certa. Quando não houve movimento, ela o observou atentamente e percebeu que sua boca parecia absorver o sangue, como se estivesse tão faminto que seu corpo tomava qualquer alimento que pudesse obter. Fazia sentido. Era quase imortal. Seu corpo foi projetado para viver independentemente de suas feridas.

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Ela deu tanto sangue quanto se atreveu, talvez demais, porque se sentia um pouco tonta quando finalmente puxou seu pulso e cambaleou até o banheiro para enrolar uma bandagem em torno da ferida. Ela passou do medo ao terror agora, trabalhando no piloto automático. Ninguém entraria na casa, agora que seu pai estava morto. Ele morreu tentando impedir que o vampiro a matasse, pouco antes de Zacarias chegar. Os trabalhadores reconheceriam o sinal das portas e janelas trancadas e cobertas com cortinas pesadas que um De La Cruz estava na residência e deviam ser protegidos, mas não perturbados. Cesaro colocaria um guarda perto do gado e prepararia o rancho para a batalha. Marguarita abriu todas as portas entre onde o corpo de Zacarias jazia e o quarto principal, onde sabia que a câmara subterrânea estava situada. Lutou com o movimento da cama enorme para tirá-la do caminho, uma vez que cobria o pesado alçapão que levava até a câmara escura abaixo da casa. Estava suando quando correu de volta para Zacarias. Seu pulso latejava e queimava, e as pernas pareciam borracha. Foi um inferno arrastá-lo sobre a lona pela casa. Felizmente, estava com os olhos fechados e, finalmente, toda a respiração parou. Parecia como se fosse de pedra fria e morta. Embora ela soubesse os princípios básicos da existência dos Cárpatos, ainda era desconcertante vê-lo deitado como se estivesse morto quando arriscou tanto para salvá-lo. Por um momento ficou em perigo de hiperventilar, uma condição que muitas vezes a acordava de seus pesadelos após o ataque dos não-mortos sobre ela. Reconheceu o pânico e se forçou a respirar lentamente e uniformemente enquanto puxava a lona, cobrindo o chão polegada por polegada, até que chegou à porta do alçapão. Marguarita mordeu o lábio inferior tão duro que tirou minúsculas gotas de sangue. Como no mundo ia fazê-lo descer as escadas? Não pensou, além de enterrá-lo no solo escuro e rico que os irmãos De La Cruz trouxeram de sua terra natal para colocar em suas muitas áreas de repouso. Se chamasse Cesaro para ajudar, ele faria perguntas que não se atrevia a responder. Com um encolher de ombros, passou na frente dele, o puxando para descer as escadas na lona. Impediu a cabeça de bater em cada degrau, mas seu corpo bateu todo o caminho. Embora seus olhos estivessem fechados e sua respiração parecesse ter cessado, estava certa que estava ciente do que acontecia com ele, porque quando tocou sua mente com calor, sentiu como se estivesse ligada a essa parte selvagem dele como quando fazia com os animais. Não era como se pudesse falar quando não tinha voz, mas enviou a impressão de tristeza, de desculpa. De medo. Sabia que não seria suficiente para aplacar sua ira, mas era tudo o que tinha. Uma vez que o colocou no chão, começou a cavar. Queria o buraco profundo o suficiente para cobri-lo, de modo que a terra pudesse curá-lo. Poderia ir ao barracão buscar uma pá, mas não se atrevia a encontrar ninguém. Não mentia, nem mesmo com sua linguagem de sinais. Ela não estava apta ainda e poucos a entendiam, então escrevia a maior parte em papel. Suas mãos tremeriam e Cesaro saberia que algo estava errado.

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Cavou com as mãos. O solo era rico e fértil, uma terra preta cheia de minerais e nutrientes. Sabia que era só pela sensação da terra. Demorou a maior parte da manhã e estava suando e coberta de barro quando ficou satisfeita com a profundidade do buraco. Seu corpo precisava estar completamente cercado e coberto pelo solo, se ia se curar corretamente. Marguarita arrastou a lona para a beira do buraco, o virou pelo estômago um pouco. Se sentia como se estivesse tentando encobrir um assassinato. Podia adicionar este dia aos seus pesadelos com certeza. Agachada, colocou as mãos firmemente em seu ombro e quadril e empurrou. Felizmente, ela era forte por lidar com os cavalos desde que era uma criança, mas ainda era uma tarefa difícil o rolar para seu lugar de descanso. Zacarias aterrou sem jeito ao seu lado, como uma boneca de pano ou um corpo morto. Ela apertou a mão suja e trêmula na boca, se sentindo mole. Descansou por alguns minutos antes de começar a cobri-lo com o solo escuro. Quando estava completamente enterrado, ela caiu de joelhos ao lado dele e se permitiu uns poucos minutos antes de ter um ataque de pânico. O que fez? A família De La Cruz fazia poucas exigências ao seu povo. Muito poucas. Todos que trabalhavam para eles eram ricos para qualquer padrão. Todos possuíam suas próprias terras adjacentes às terras De La Cruz, tudo porque um dos membros da família as comprou para eles. Primos, tias, tios — todos relacionados eram atendidos. Pais passavam o legado aos seus filhos. Mães para suas filhas. Todos obedeceram até Marguarita. Ela desonrou o nome de sua família por sua desobediência e não tinha dúvida que pagaria caro. Ergueu o queixo e se forçou a ficar em pé. Era uma Fernandez, filha de seu pai. Não fugiria de seu crime, mas ficaria e enfrentaria o que Zacarias De La Cruz considerasse apto para sua punição. Um arrepio passou por ela e dedos gelados rastejaram abaixo da sua coluna vertebral. Mal parecia humano. Ou Cárpato. Era aterrorizante. Não podia mudar o que fez. Não entendia e podia creditar sua compaixão por todas as coisas feridas, mas não explicava por que o desafiou depois que disse a ela para permitir sua morte. Por que escolheria queimar no sol? Era uma morte horrível, e como podia pensar que ficaria perto e o veria queimar? Ele salvou sua vida. Ela tocou a garganta destroçada, passando os dedos manchados de terra sobre as cicatrizes. Às vezes, à noite, quando acordava suada, tentando gritar, mas nada saía, pensava que o chamava para salvá-la. Podia ouvir o eco do seu nome vagamente em sua cabeça, como se conseguisse apenas o nome dele. Agora estava aqui e não era a figura de fantasia que conjurou em sua mente. Zacarias assustava de forma elementar, no fundo de seu próprio sangue e ossos. Em sua alma. Ela apertou o punho fechado sobre o coração enquanto ele batia freneticamente, fora de controle. Ele era bonito, tinha um corpo duro como rocha, parecia tudo que uma mulher podia sonhar, mas seus olhos... seu rosto. Era terrível e qualquer fantasia sua, de infância, que abrigava de encontrá-lo secretamente desapareceu.

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Marguarita subiu lentamente saindo da câmara, espanando cada grão de terra de suas roupas e corpo. Não podia deixar pistas. Se um fantoche de vampiro penetrasse as defesas do rancho, não podia haver trilha que levasse ao lugar de descanso de Zacarias. Ela baixou a porta do alçapão e, novamente, varreu o chão e até o lavou, com medo que o cheiro do sangue de Zacarias fosse detectado. Foi extremamente difícil empurrar a cama de volta ao lugar, mas conseguiu, suavizando as cobertas com cuidado. Se recusou a se debruçar sobre seu comportamento ou deixar o medo crescer insidiosamente em sua mente. Tinha trabalho a fazer e removeria cada pedaço da evidência que Zacarias esteve dentro ou fora. Porque precisava, desesperadamente, fazer uma xícara de mate de coca4, um chá feito com folhas de coca. Ela levou seu tempo, saboreando o chá para se revigorar e continuar. Marguarita limpou a casa inteira, todos os quartos, esfregou e limpou o pó e permeou a casa com um aroma forte de canela. Ela se armou e saiu, seguindo o rastro da lona de volta aos estábulos, cuidadosamente removendo todos os sinais que algo pesado foi arrastado pela grama molhada. Perto do estábulo onde Zacarias sentou e se colocou para morrer, encontrou um pouco da grama queimada. Ela, com muito cuidado, removeu cada folha. Exausta, tomou outra xícara de chá e depois tomou banho e trocou de roupa mais uma vez, meticulosamente lavando e secando a roupa que estava usando, usando sabonetes perfumados para remover e cobrir qualquer cheiro persistente. Quando estava totalmente convencida que fez tudo que podia, saiu para ajudar com os animais. Cesaro a viu quando saiu do estábulo em sua égua favorita, Sparkle. Ele acenou para ela, seu rosto marcado por linhas sombrias. —O mais velho chegou, não foi? — Ele a cumprimentou enquanto cavalgava ao seu lado. Marguarita não via motivo para negar. Sinalizou, fechando as cortinas pesadas e um dos homens contou a ele que um De La Cruz estava na residência. Era o único motivo para as cortinas serem fechadas. Ela acenou com a cabeça. — Eu sabia. O gado e os cavalos ficam inquietos em sua presença. Talvez deva ir visitar sua tia no Brasil. Ela franziu a testa em pergunta. Cesaro hesitou, claramente não querendo parecer desleal. — Ele é difícil, Marguarita. Muito diferente dos outros. Ela assinalou um ponto de interrogação entre eles. Cesaro suspirou.

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A infusão é considerada uma tisana, feita com folhas de coca, planta popular na produção de cocaína, mas que tem outras aplicações como o uso medicinal. Para este fim seu cultivo é permitido. Diferente da droga, a infusão de coca é totalmente natural e muito consumida no Peru, na Bolívia e em outros países andinos por aliviar o desconforto respiratório causado pela altitude. Nestes lugares, é muito comum encontrar a bebida sendo oferecida em restaurantes, cafés, livrarias, casas… Exatamente como nós fazemos com o cafezinho no Brasil. Também ao contrário do que se pode imaginar, a tisana não irá causar nenhum efeito radical semelhante ao da droga. Na forma de chá, pouca cocaína é extraída das folhas.

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—Não sei exatamente o que dizer. O conheci há muitos anos quando era menino. Foi o único homem que assustou meu pai, assustou todos os homens no rancho. E, mais recentemente, quando perdeu seu pai, quando isto... — Ele indicou sua garganta. —Ele piorou ainda mais. Ela assinalou o ponto de interrogação novamente. Cesaro encolheu os ombros, obviamente desconfortável com o assunto. Ainda olhou em direção à fazenda principal como se Zacarias pudesse os ouvir e por tudo que Marguarita sabia, talvez pudesse. —Se os animais criados como cavalos de ações ficam aterrorizados quando ele está por perto, isso deve significar algo, Marguarita. Quando esteve aqui da última vez, salvou sua vida, mas chegou perto de tomar a minha. — Ele se sentou por um momento em silêncio, e depois deu de ombros novamente. —Eu teria dado minha vida para salvar a dele, mas ainda assim, havia algo que não estava certo sobre ele. O mesmo preocupava seu amigo. É melhor você ir. Marguarita virou o aviso mais e mais em sua mente. Zacarias tentou se queimar ao sol, porque estava perto de se tornar algo que não queria ser? Ela abaixou a cabeça, incapaz de olhar nos olhos de Cesaro. A ideia de fugir para sua tia no Brasil era tentadora, mas sabia que não podia. Ela ergueu seus ombros e indicou os animais. Cesaro suspirou audivelmente. — É uma jovem muito teimosa, Marguarita, mas não sou seu pai e não posso ordenar que vá. Ela acenou para os cavalos, ignorando o fato que estava tentando fazê-la se sentir culpada. Já tinha culpa suficiente. Em todo caso, notou que, porque não podia falar, alguns dos homens estavam começando a tratá-la quase como se fosse surda também. E ao mesmo tempo que era irritante, também era uma vantagem num mundo tão machista. — Sim, poderíamos usar sua ajuda para levar os cavalos para baixo. Temos três éguas perto de dar cria e não quero que nada dê errado. Vá para o estábulo com elas e veja se consegue acalmá-las. Era muito incomum para um Paso peruano ser arisco sobre qualquer coisa. Eram criados por seu temperamento calmo. Qualquer cavalo que mostrasse sinais de nervosismo não era criado. Os cavalos da Fazenda De La Cruz eram considerados os melhores do mundo e ainda assim Zacarias assustou a todos, mesmo os cavalos de trabalho. Ela balançou a cabeça, mas temia que ter cometido um erro muito ruim, mesmo enquanto enviava uma onda calmante para os animais inquietos amontoados no canto do pasto. Apontou para o céu e fez um sinal, apontando para os dentes, indicando um possível ataque dos vampiros. Cesaro compreendeu. Era o melhor no rancho interpretando seus gestos estranhos. —Estamos cientes do risco de um assalto à fazenda a qualquer momento com um dos mestres na residência. Todo mundo está armado, as mulheres e crianças estão sob cobertura — com exceção de você. No momento que acomodarmos os cavalos, entraremos na casa e encerramos o assunto.

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Ela indicou que ela já tinha feito isso e tocou o rifle, pistola e faca que tinha sobre ela. Estava tão pronta para um ataque como podia, embora o pensamento fosse quase tão terrível quanto saber que desobedeceu Zacarias. Cesaro assentiu com aprovação. Marguarita, como todos no rancho, foi ensinada a atirar numa idade muito precoce. De repente enrijeceu e indicou algo acima do ombro, o alarme em seu rosto. —Seu homem veio cortejá-la novamente. Ela puxou o papel e caneta do bolso. Certamente não é meu homem. Por que não gosta dele? —Ele é escolha de seu pai, não minha. Um homem da cidade. — Havia um sorriso em sua voz. —Ele é bom, mas não sabe nada sobre a vida do rancho. Estaria melhor com Ricco ou meu filho, Julio. — Ele se inclinou sobre o pescoço de seu cavalo, um pouco de pé nos estribos. —Não soa verdadeiro para mim. Ele nos olha com o nariz em pé, mesmo para você. Ricco ou Julio serviriam mais. Ela adorava Ricco, um dos homens que trabalhavam com o gado, ela o conhecia há anos. E cresceu com Julio. Era impossível não pensar nele como seu irmão. Queria agradar Cesaro quase tanto quanto queria agradar seu pai. Ele não a estava pressionando por um namoro sério. Desde a morte de meu pai, era apenas gentil. Cesaro encolheu os ombros, o olhar severo ainda em seu rosto. —Não pode trazê-lo para a fazenda. Mande-o embora, Marguarita. Ela fez uma careta para Cesaro. Sabia seu dever. Virou a égua de volta para os estábulos, acenando para Esteban Eldridge enquanto ele se dirigia aos currais em seu caminhão. Não tinha ideia de como o veículo ficava tão limpo assim. Esteban usava sua fortuna facilmente. Era uma figura poderosa, muito atraente, pelo menos era — até que colocou os olhos em Zacarias. Mesmo ferido e queimado, Zacarias exalava uma formosura, dura e quase brutal, apesar que parecia muito insípida para uma descrição. Zacarias dominava cada quarto quando estava dentro. Mas Esteban não a assustava ou ameaçava da forma profunda e elemental como o mais velho De La Cruz fazia. E sabia que se havia um homem seriamente interessado nela — não era Esteban. Mas realmente gostava da companhia de sua irmã. Cesaro se sentou no seu cavalo e a olhou. Podia sentir os olhos ardendo dentro dela e ficou chateada que achasse que ela pudesse trair seu código de honra por um estranho. Ela abaixou a cabeça um pouco. Já traiu seu código, mas não da forma como ele pensava que ela podia e sem dúvida saberia em breve dos seus pecados. Apeou de sua égua, observando como Esteban caminhava em sua direção. Era uma figura impressionante enquanto cobria o chão em longos passos propositais. Seu pai os apresentou e, claramente, Esteban Eldridge era a escolha de seu pai para ela. Ele agia como se a estivesse cortejando antes do ataque do vampiro, mas nunca foi verdadeiramente sério. Esteban,

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obviamente, gostava de se divertir e era um jovem da cidade. Cesaro estava correto quando dizia que Esteban olhava de cima para os trabalhadores do rancho, mal os reconhecendo. Como poderia se apaixonar por um homem assim? Ele foi gentil depois que seu pai morreu, aparecendo muitas vezes com sua irmã, Lea, embora depois do "acidente" que a deixou sem a capacidade de falar, ele a tratava como muitos dos outros, como se fosse incapaz de ouvir ou talvez até mesmo ver. Lea, por outro lado era muito genuína. Ela sorriu e acenou pela segunda vez em saudação. —Marguarita. — Esteban escorregou o nome por sua língua com facilidade, pegando sua mão e a levando rapidamente à boca. —Como sempre está adorável. Ela puxou o papel e a caneta do bolso e escreveu: Não esperava você hoje. —Finalmente decidi que compraria alguns cavalos e achei que poderia passar por aqui para você dar uma olhada neles para mim. Ela franziu o cenho. Ele morava numa casa elegante, na periferia da maior cidade perto deles. Cavalgava, mas não era grande fã. Não tinha sequer um lugar para manter os animais. Antes que pudesse escrever sua pergunta, indagando o que planejava fazer com os cavalos, ele olhou ao redor, observando os homens a todo vigor, todos armados. —Há algo de errado? — Perguntou. Marguarita encolheu os ombros e foi para o estábulo, onde três éguas muito prenhes batiam os cascos e escavavam sem descanso em suas baias. Estava muito consciente de Esteban a seguindo de perto. Podia ouvi-lo, senti-lo, a consciência crescente de Zacarias tão vulnerável no chão a deixando tensa. Normalmente recebia visitas da família Eldridge, especialmente Lea. Esteban era cavalheiresco, mas às vezes, seus flertes exagerados eram irritantes quando sabia que ele não era sincero. Os homens com quem cresceu sabiam que podia andar e atirar bem, se não melhor que eles. Esteban a fazia se sentir muito feminina, tratando-a como uma mulher frágil, ignorando o fato que era muito capaz. Agora, tudo que podia pensar era num ataque iminente no rancho pelo pior inimigo, mais vil possível, e não queria Esteban em qualquer lugar perto da fazenda. —Seus cavalos nunca agiram dessa maneira, — observou. —Houve algum jaguar se aproximando esta manhã? Ela ouviu a preocupação em sua voz e a aqueceu, apesar da situação. Acreditava que ela sobreviveu a um ataque de onça, e que seu pai morreu ao tentar salvá-la, mas ela perdeu suas cordas vocais para o animal que rasgou sua garganta. Na verdade, foi um vampiro que a atacou, procurando o lugar de descanso de Zacarias. Ela deu de ombros novamente, não querendo mentir para ele. Escrever uma mentira era pior ainda que falar. —Lea disse para dizer Olá e que esperava vê-la logo.

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Marguarita deu um sorriso quando abriu a porta do baía e foi direto para a égua pesada com o potro. Ela colocou a mão sobre o pescoço esticado e mandou ondas de calma até que a égua se acalmou. Esteban não disse nada, apenas observava como ela passou de baia em baia, acalmando os animais. Sua presença começou a deixá-la inquieta. Sentiu uma espécie de pavor começar a crescer em algum lugar nos arredores da boca do estômago. Custou um grande esforço não passar o nervosismo para os animais. Esteban ficou quieto fora de cada baia, seu olhar atento. O espinho de inquietação cresceu até que sua pele sentia como se milhares de alfinetes e agulhas esfaqueassem dentro dela. Ela esfregou seus braços quando saiu da última baia. Os cavalos estavam comendo de forma pacífica e não havia mais nada para ela fazer. Ela se virou e olhou para ele, respirando profundamente e forçando um sorriso. Esteban pegou sua mão e a puxou para perto dele. Estranhamente o formigamento em sua pele cresceu para uma queimadura sob as pontas dos dedos. Ela puxou sua mão para longe dele e correu as palmas das mãos abaixo por suas coxas para tentar se livrar da sensação. —Sempre fico espantado com o jeito que têm com os cavalos. Eles confiam em você. Ela geralmente gostava de seus elogios, mas agora, com o mestre tão perto e vulnerável, queria que Esteban fosse embora. Nunca experimentou tal mal-estar antes, e estava começando a suar. Podia sentir a umidade crescente entre seus seios. A queimação em sua mão desapareceu, mas não parou completamente. Ela umedeceu os lábios e tirou sua caneta e papel. Sempre tive afinidade com os animais. Sim, vou olhar seus cavalos em uns dois dias. Por que está pensando em comprá-los? Nunca se interessou antes. Ela certamente não gostaria de vender um dos amados Paso peruano para ele. Ele nunca sequer os afagou. Seu sorriso era muito amplo, mostrando seus dentes perfeitos. —Descobri o amor pelo polo. Estive emprestando cavalos de um amigo e quero o meu. Ele parecia muito animado, como um menino. Ela queria ficar feliz por ele, partilhar sua excitação, mas ele realmente não se importava com os cavalos, como ela. E lá estava a principal razão de sua relutância em assumir seu compromisso tão a sério quanto seu pai queria. Ricco e Julio, ambos, andavam a cavalo todos os dias. Cuidavam e compreendiam, e apreciavam seu amor e necessidade de estar em torno dos animais como Esteban nunca faria. Esteban Eldridge parecia um homem afável e simpático, mas não chegava a soar verdadeiro para ela. Ficou surpresa por seu pai não perceber isso. Onde pretende manter seus cavalos? —Meu amigo, Simon Vargos, disse que poderia mantê-los em sua fazenda. Ela tentou não estremecer com isso. Simon Vargos viajava para vários países jogando polo. Passava muito tempo olhando para si mesmo em vídeos, bebendo em bares e pegando mulheres, mas não tinha tempo para cuidar de sua tropa. Empregava cavalariços, mas pouco se importava ou não se faziam seu trabalho.

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—Vamos até a fazenda conseguir alguma coisa quente e discutir uma boa data, — Esteban sugeriu. —Não sei o que alguém está pensando ao tê-la aqui fora se um jaguar está rondando. — Ele colocou a mão nas suas costas pequenas. A respiração de Marguarita ficou preso em sua garganta quando a dor sacudiu através de seu corpo. Ela se afastou dele com o pretexto de acariciar o pescoço da égua antes de mais uma vez tirar sua caneta e papel. Ela entregou a ele. Desculpe. Muito ocupada. Cesaro precisa de mim. Nos encontramos outra vez. Ele franziu a testa, com a mesma expressão em seu rosto de quando sua irmã mais nova, Lea, o irritava. Ela sempre achou charmoso, mas agora se sentiu pressionada. Nada parecia certo. Sua pele estava muito sensível, e Esteban era uma pessoa irritável. —Seu pai nunca permitiria que estivesse fora, ameaçada de perigo. Preciso falar com esse homem Santos. Seu tom dominador a incomodava. Sabia que Esteban mandava em sua irmã e tinha uma tendência a ser muito arrogante com ela. Normalmente ela revirava os olhos e o ignorava, mas estava muito preocupada que alguém descobrisse que Zacarias estava na residência e o que ela fez. Esteban não tinha ideia que a estava incentivando a entrar no lugar onde o predador mais perigoso dormia. Todos trabalhamos para viver, Esteban. É doce se preocupar por mim, mas fui criada para fazer isso. —Foi criada para enfeitar o lado de um homem, Marguarita, não para trabalhar até quebrar suas costas. — Ignorando o fato que estava escrevendo rápido, ele continuou, —Conte-me sobre este truque que faz com os cavalos. Você os influencia com sua mente? Psiquicamente? Lea me disse que pode montar sem sela ou rédeas e o cavalo faz tudo que pede. Não estava preparada para a pergunta e teve que riscar tudo o que escreveu, algo que detestava. Numa conversa, o diálogo ia e voltava, mas poucas pessoas tinham a cortesia de esperar até que ela escrevesse suas respostas. Era muito frustrante. Estava tentando aprender a linguagem dos sinais, mas estava estudando por um livro e só Cesaro, Julio e Ricco tentavam entender. Minha presença acalma os cavalos por algum motivo. Era mais que a presença dela, mas não sabia como descrever a comunicação com um animal. Sempre foi capaz de acalmar um animal, compartilhar suas emoções com eles e eles simplesmente respondiam em docilidade. —Pode influenciar um humano, da forma como faz os cavalos? Seu olhar saltou para o dele. Esteban procurou seu rosto atentamente. Ela franziu a testa enquanto rabiscava sua resposta. Como poderia influenciar a mente humana? Ela não gostou do rumo da conversa. Sempre ficava desconfortável em discutir seu dom. Sua família simplesmente nunca discutiu sua capacidade. Ficaram felizes por ela trabalhar com os

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animais na fazenda, mas "falar" com os cavalos não era aceitável num mundo onde muitas coisas inexplicáveis podiam ser más. Seu pai recentemente ficou interessado em saber se era ou não o que podia ser chamado de habilidade psíquica, mas após sua morte, não se preocupou muito de como seu dom era rotulado. —Não fique na defensiva, — Esteban a acalmou. —Lea e eu tivemos uma pequena discussão sobre isso. Ela disse que você se comunica com cavalos. Pensei que talvez fosse mais uma junção de mentes e que você, de alguma forma, os influenciava para fazer o que quiser e que você pudesse fazer o mesmo com as pessoas. Ela mordeu o lábio inferior. Estava chegando muito perto do gol. —Isso é algum segredo de família que tropecei? — Havia diversão em sua voz. Ela tinha muitos segredos de família e este era minúsculo em comparação aos outros. Percebeu que estava de mau humor, não querendo lidar com Esteban e seu charme irritante quando um ataque iminente de vampiros ou seus fantoches era possível. Sinto muito, Esteban. Realmente não tenho tempo para essa conversa. Preciso começar a trabalhar. Espero que entenda. Podemos combinar para eu olhar seus cavalos outra vez. Para ter certeza que ele compreendia que estava acabado, empurrou a caneta e o papel de volta no bolso depois dele ler a nota. Esteban fez uma careta para ela. —Não acho que está se comportando muito bem, Marguarita. O acidente não lhe dá licença para ser rude. De repente ele estava muito perto. Ela podia sentir a explosão de raiva escorrendo dele. O estábulo pareceu muito pequeno, e muito longe de todos. Ele se aproximou até que ela cedeu, recuando antes que pudesse se conter. —Marguarita. — A voz dura do macho fez ambos girarem em direção à entrada. Marguarita deu um suspiro de alívio. Julio Santos montava seu cavalo, seus penetrantes olhos escuros sobre Esteban quando estendeu a mão para Marguarita. —Você é necessária. Venha comigo agora. Ela não hesitou, contornando Esteban e pegando o pulso de Julio. Ele a balançou atrás dele. Esperava que ele saísse imediatamente, mas ficou sentado imóvel, olhando Esteban por baixo da aba do seu chapéu. Os dois homens se entreolharam por um longo e tenso momento. —Está bem, Marguarita? — Julio perguntou. Ela colocou os braços ao redor de sua cintura, deitou a cabeça em suas costas e acenou para que pudesse sentir o movimento. Mais uma vez teve essa reação estranha, sua pele queimando no momento que fez contato com Julio. Ela afastou o rosto de suas costas, levantou a mão em direção a Esteban como se nada estivesse errado e, sem pensar, em silêncio, pediu ao cavalo para sair do estábulo. Julio não estava preparado para o movimento repentino do cavalo, mas era um excelente cavaleiro e se moveu com o animal.

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—Da próxima vez me avise. Ela apertou seus braços para dizer que estava arrependida. —O pai me enviou. Ele não gosta de Esteban na propriedade. Ele ainda está empurrando a ideia de nós dois juntos para mim. Tive um inferno de sermão, Marguarita, sobre como estou permitindo que tal tesouro escape. — Bateu as mãos com dedos enluvados. —Fez o mesmo com você? — Havia simpatia em sua voz. Ela balançou a cabeça, mais uma vez em suas costas. A queimação horrível estava muito mais acentuada neste momento, e começando a se espalhar pelos seus braços, embora sua pele estivesse coberta pelo material da blusa. Desconfortável, soltou seu aperto, usando os joelhos para se segurar. Julio montando era tão suave que duvidava precisar tomar tal precaução. Julio sempre a fazia rir. Ela o amava e não tinha dúvida que a amava de volta de forma tão ferozmente protetora e, talvez mais. Julio era um dos melhores homens que conhecia. Mas foram criados juntos desde o nascimento e toda vez que alguém sugeria que se casassem, riam histericamente juntos. Embora recentemente, desde que Esteban entrou em cena, Cesaro os empurrava um para o outro até que ela ficava desconfortável. —Tentei explicar para ele, mas se preocupa agora que seu pai não está aqui. Esteban não pertence ao nosso mundo. Ela pegou o papel e caneta. Felizmente a viagem era tranquila e foi fácil escrever. Ele é incapaz de guardar segredos, e muito menos um tão grande como o da família De La Cruz e o que são. Se casasse com alguém fora da fazenda, teria que deixá-la e nunca poderia divulgar os segredos de sua família nem mesmo ao marido. Sua associação com os Cárpatos era muito bem guardada. Ela sabia que não se lembraria dos irmãos De La Cruz, todas as suas memórias seriam removidas antes que saísse de suas propriedades. — Ele não pertence a este mundo. Por que veio para nossa pequena cidade, Marguarita? As pessoas que vêm para cá estão desesperados por uma outra vida. Geralmente não têm nada. Ele tem dinheiro e, para mim, isso significa que está escondendo alguma coisa. Ela pensou por um momento e depois rabiscou outra mensagem. Me perguntou se eu podia influenciar pessoas como faço com os cavalos. Por que perguntou isso? —Não sei. Não gosto dele. Os De La Cruz irmãos podem influenciar as pessoas e usam suas habilidades para comprar mais propriedade para si e para nós mais do que são capazes de ter aqui. É possível que se pergunte como somos capazes de conseguir nossas terras, de forma tão rápida. Ela confiava no julgamento de Julio como sempre. Julio não era nem um pouco complicado e nunca tinha intenções ocultas. Se batesse em sua janela no meio da noite para ir passear, realmente era um passeio. Se dissesse que queria mostrar algo, era sempre algo especial, geralmente algum animal selvagem que viu. Mais de uma vez escaparam juntos para ir para a floresta tropical acompanhar algum animal.

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—Vou levar você de volta para a casa quando ele partir, — disse Julio. —Tudo está calmo, mas me sentirei melhor com você lá dentro. Podemos ser atacados hoje à noite. A chance de um vampiro atacar, enquanto um De La Cruz estava na residência era muito maior do que quando iam embora. —Você o viu? — Julio perguntou. —Tem que ser o mais velho ou o gado e os cavalos não reagiriam assim. Nunca realmente falei com ele. Ela não queria mentir então apenas balançou a cabeça. Julio olhou para ela por cima do ombro e ergueu a sobrancelha. Considerou o rosto pálido de forma constante. Ela não conseguia encontrar seus olhos, seu olhar desviou. —Foi assustador? Ela assentiu com a cabeça. Julio suspirou. —Vai ficar bem? Ela apertou os lábios firmemente e escreveu uma resposta curta. Ele não vai me notar —espero. Ela considerou dizer a verdade para Julio, mas levaria todos os macho até ela e insistiria em protegê-la contra a ira de Zacarias. Tão assustada como estava —desobedeceu uma ordem direta — não podia permitir que alguém fosse punido por seus pecados. Enfrentaria Zacarias sozinha e tentaria explicar. Felizmente, tinha até o pôr do sol para encontrar as palavras certas e escrever tudo. Não esperava que o Cárpato entendesse, ela mesma não entendia, mas faria seu melhor para deixá-lo saber que não teve a intenção de ser desafiadora. Ela acenou com a cabeça e Julio voltou sua atenção para a montaria através dos campos, guiando seu cavalo através de várias marchas, mostrando que podia controlar seu cavalo com as mãos e os joelhos. Ela sentia falta de rir. Abriu a boca, mas nenhum som saiu e isso levou um pouco da alegria que compartilhava com Julio. Somente quando o veículo de Esteban desapareceu na estrada, Julio a levou de volta para a casa. Estendeu o braço para que ela pudesse desmontar mais fácil, mas manteve a posse de sua mão quando ela foi se virar. A sensação de queimação serpenteou pelo braço dela. Olhou para o garoto, não, homem que foi seu confidente e companheiro desde o nascimento. Ele a olhava firmemente, diretamente em seus olhos. —O que está errado, irmã? Conheço você muito bem para conseguir fingir para mim. Esteban fez ou disse algo que a assustou? Ou é o De La Cruz? Ela engoliu em seco. Adorava Julio. Se recusava a mentir deslavadamente para ele. Ela balançou a cabeça lentamente quando tentou puxar delicadamente a mão da dele. Julio apertou e a sensação de queimação ficou mais dolorosa, uma marca profunda que parecia atingir seus ossos. Teve que lutar para não gritar e puxar para se afastar. —Diga-me.

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Ela apertou os lábios e lentamente puxou até que Julio permitiu escapar. Ela pegou o papel e a caneta e escreveu, sem saber se dizia a verdade ou não. Vou ficar bem, Julio. Te amo muito, mas você se preocupa demais. Ele continuou a olhar abaixo em seu rosto por um longo momento e então tocou o chapéu. —Também te amo, irmãzinha. Se precisar de mim, toque a campainha e virei correndo. Ela sorriu para ele, roubando o calor de seus ossos frios. Claro que viria se ela soasse o alarme que montaram. Julio era alguém com quem sempre contava e sabia que estava dizendo a ela que iria contra o código de suas famílias se fosse necessário para protegê-la. Ela pôs a mão sobre o coração e o observou ir embora, seu profundo afeto por ele fazendo arder seus olhos e lágrimas entupirem sua garganta. Lentamente, entrou na casa, seu coração batendo tão duro que temia ter um derrame. Os quartos vazios estavam em silêncio, acusando, e ela vagou ao redor, se sentindo um pouco perdida em sua própria casa. Eventualmente, o gosto do medo desapareceu e ela cozinhou algo para comer e passou o resto do dia escrevendo cartas para Zacarias, explicando no melhor de sua capacidade por que o salvou contra sua vontade, e depois as descartando. O sol baixou e a noite desceu. Insetos começaram suas diligentes chamadas. Rãs coaxavam. Cavalos pisoteavam ocasionalmente e o gado se acomodava para a noite. Nuvens de tempestade se juntavam acima, escuras, sinistras massas rolando que apagavam a lua e as estrelas. Pesadas com a chuva, algumas gotas caíram, um presságio do que estava por vir. As luzes se apagaram nas janelas, uma por uma, quando os trabalhadores descansavam com suas famílias. Marguarita tomou um banho e mais uma vez ficou sentada à sua mesa, tentando compor uma carta que pudesse salvá-la. O cesto de lixo transbordava de papel amassado enquanto ela ficava mais e mais frustrada. O vento aumentou, espancando sua janela, e Marguarita finalmente deitou na cama e puxou a coberta, a caneta ainda nas mãos.

CAPÍTULO 3 Relâmpagos riscavam o céu, bifurcando em zigue-zague da terra ao céu. O chão tremeu, abrindo uma fenda de três polegadas da pastagem ao estábulo. Abaixo do quarto principal, no rico solo negro, um coração começou a bater. Uma mão se moveu, dedos se enroscaram num punho fechado e atravessaram para a superfície. A terra explodiu quando Zacarias De La Cruz subiu. Fome queimava através dele, um maçarico raivoso, comendo através da pele e ossos até seu interior. Rasgava através dele, implacável, insaciável, uma fome brutal e insistente que era mais terrível que qualquer outra que já sentiu em todos os seus séculos de existência. Necessidade corria em suas veias e pulsava a cada batida de seu coração. Ela fez isso com ele. Podia provar a essência de sua vida em sua boca, a bela inocência explodindo contra sua língua, escorrendo por sua garganta, criando um vício, um desejo terrível

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que nunca acabaria, enquanto ele existisse. Suas mãos tremiam e seus dentes alongaram, formando saliva ao longo das pontas afiadas. Como se atreveu! O chão rolou por baixo da casa. As paredes ondularam, uma ondulação lenta, ameaçando ruir toda a estrutura. Sua visão ficou vermelha, e saiu pelo alçapão, jogando a cama de dossel enorme contra a parede mais distante. Rachaduras se espalharam ao longo dos tijolos de barro até a janela. Colocou cada homem, mulher e criança aos meus cuidados em perigo. Ele podia ouvir o som de um coração batendo, um ritmo distinto chamando por ele, o deixando num frenesi de fome, cada batida em separado pulsando em suas próprias veias. Sabia exatamente onde ela estava. Marguarita era o nome dela. A moça traiçoeira que ousou desafiar uma ordem direta de seu mestre. Ele a avisou que pagaria por sua desobediência — sua deliberada rebeldia. Esperava que ela fugisse como uma covarde, mas a garota tola esperava por ele na casa — sua casa — sozinha. O gosto dela persistia até que achou que poderia ficar louco de desejo. Atravessou a sala em longas passadas, avançando, empurrando o ar pela porta quando ela explodiu aberta diante dele, permitindo que se movesse com rapidez infalível pela sala de estar rodeando a casa até onde ficava seu quarto. Mesmo se já não soubesse onde o quarto estava localizado, ainda assim a teria encontrado. Seu coração batia de medo, trovejando em seus ouvidos. Não se preocupou em baixar o volume, querendo, até mesmo precisando ouvi-la com terror. Merecia estar aterrorizada. Se tivesse acordado como vampiro, teria quebrado seu voto aos seus irmãos. Depois de séculos de honra, sua vida vazia, sua luta para proteger sua família e seu povo seria tudo para nada. E ainda podia acontecer. Estava perto, muito perto de virar. Precisava de — algo. Qualquer coisa. A antecipação por tomar seu sangue era uma corrida que não acolhia — um sinal que andava na borda fina entre a honra e o fracasso final. Seus dedos coçavam para envolver o pescoço esguio. Essas pessoas que trabalhavam no rancho juraram lealdade à família De La Cruz, os servir, pai para filho, mãe para filha ao longo de séculos, mas ela, de forma tão descuidada arriscou tudo. Bateu a palma da mão contra sua porta, deliberadamente despedaçando a madeira ao invés de abrir a porta. Marguarita não fez nenhum esforço para fugir, os olhos arregalados de terror, fixos em seu rosto quando ele chutou de lado a madeira quebrada. Ela se amontoava no canto do quarto, a mão sobre sua boca, seu rosto pálido sob a pele suave e dourada. Quando ele se aproximou dela, estendeu a mão com um pedaço de papel entre os dedos — uma péssima defesa, quando ele estava morrendo de fome. Ele a levantou, consciente de como era iluminada. Como era macia. Como era quente. Como era viva. Estava consciente do seu coração chamando o dele — a pulsação rítmica da fome — tal como queria. Através da névoa vermelha da loucura, a suavidade de sua pele foi registrada. Sua

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fragrância fresca e limpa era uma reminiscência da névoa da floresta tropical e das helicônias5 maravilhosas e únicas que cresciam nos troncos das árvores e atraíam os beija-flores com sua doçura. O cheiro o envolveu enquanto a prendia nos braços de aço e inclinava sua cabeça em direção ao pescoço esguio. Ela lutou descontroladamente e ele a conteve com um braço e agarrou a trança grossa de cabelo com a outra mão, esmagando os fios de seda em seu punho quando sacudiu a cabeça para atrás. Ele abaixou a cabeça em direção ao ponto doce e vulnerável onde seu pulso batia tão freneticamente. Não tentou acalmar sua mente ou de qualquer forma controlar seu conhecimento pelo que estava acontecendo. Queria que ela soubesse. Queria seu medo. Pretendia feri-la de modo que nunca esqueceria por que devia obedecer. A chuva atingia as janelas. O vento atacava a fazenda. Relâmpagos riscavam o céu, iluminando as nuvens turvas de preto. O trovão caiu, sacudindo a terra de modo que rolou sob seus pés, alimentando seu humor negro. Zacarias afundou seus dentes profundamente na carne suave e indefesa. Duro, sem o agente anestésico, perfurando seu pescoço deliberadamente perto de sua garganta. Ela devia se lembrar do vampiro a atacando. Não deveria ser tão descuidada ao desobedecer. Ela precisava de outra lição do que uma perigosa e vil criatura insensível podia fazer. Sua pele era cetim quente, suave e fascinante, a sensação de choque, sua fragrância natural e sedutora. Mas foi seu sangue que verdadeiramente o atordoou. Rico. Inocente. Fresco. O gosto era requintado. Tão viciante quanto o primeiro gosto quando estava tão perto da morte. Ela lutou contra ele, se empurrando contra ele, tentando desesperadamente libertar seus braços, mas ele era muito forte e não tinha nada entre ele e sua presa — e não se enganem, esta jovem mulher com seu sangue viciante pertencia a ele. Ele se tornou consciente que estava rosnando, um aviso sombrio. Não havia como ela ficar livre e ninguém podia entrar na casa — sua casa — sem seu consentimento ou conhecimento. Ela estava completamente à sua mercê e ele não tinha nenhuma. Todos os seus órgão absorviam o sangue surpreendente. Cada célula ganhava vida. Não havia nada que já experimentou que chegasse perto da riqueza perfeita de seu sangue. A onda de calor se espalhou por ele como uma bola de fogo desconhecida. Suas veias e artérias cantavam. Mesmo sua virilha se agitou, preenchida pelo gosto e calor do seu sangue deslumbrante. Ele a arrastou para mais perto, mais animal que homem, seus braços agora contundidos pelo aperto de aço, enquanto a boca arrastava mais do doce néctar em seu corpo faminto. As feridas abertas em seu corpo começaram a fechar. A queimação terrível sempre presente dentro dele diminuiu e o arranhão da dor, varrendo seu intestino se tornou um fogo ardente de necessidade desesperada. Mesmo o rugido em sua cabeça e a névoa vermelha cobrindo sua visão

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diminuiu. Suas pernas cederam e ele pegou seu peso completamente, deslizando a mão por baixo dos joelhos, todo o tempo arrastando a essência de sua vida em seu corpo. Sua cabeça pendeu para atrás em seu ombro. Ela parecia luz. Insubstancial. Os cílios tremularam, dois crescentes grossos, mais negros que o cinza que ele normalmente via. Os cílios levantaram e seus olhos escuros, quase pretos olharam diretamente para os dele com tanto medo e ódio. Só então ele sentiu o terror absoluto. Horror encheu sua mente, apertou seu corpo e rastejou como dedos gelados por sua espinha — não seu horror — mas o dela. Acreditava que ele era vampiro — e a estava matando. Ele passou sua língua pelas perfurações e levantou a cabeça, nunca quebrando o contato visual. O sangue escorria de seu pescoço ao peito e, sem pensar, ele seguiu a lágrima de rubi preciosa até a elevação macia de seu corpo muito feminino com a língua. Ela parecia mais chocado que nunca, estremecendo, aterrorizada. —Vai beber o que ofereço. — Era um decreto, exigindo que obedecesse sem discussão. Ele caiu sobre sua cama, ainda a segurando contra si, e com um aceno de mão, a camisa abriu. Riscou uma linha fina no peito, sobre o coração. Seus olhos se arregalaram até que estavam como enormes piscinas sem fundo, gritante de horror olhando para ele. Ela balançou a cabeça e tentou debilmente afastá-lo. Ele forçou sua boca no peito e ela o mordeu, ainda lutando. —Wäke-sarna! Zacarias pronunciou as palavras de poder, uma maldição, uma bênção, um voto que não o desafiasse. Ele tomou sua mente, arrancando dela sem piedade, forçando o que ela não daria. Sua boca se aninhou no peito, seus lábios quentes e macios, enviando um choque de relâmpagos bifurcando através de seu corpo. Sentiu uma corrente viva eletrizando cada terminação nervosa, trazendo seu corpo à vida quando ela começou a sugar, levando seu sangue para seu corpo onde seria absorvido por todos os órgãos e sutilmente os reformularia, onde estariam conectados para sempre. Ele a puxou para mais perto, sua mão segurando a cabeça, sua mente na dela. Só então, quando a maravilha do fenômeno estranho do seu sangue diminuiu um pouco, soube que ela estava gritando. Ele ordenou a ela que bebesse, não lhe deu nenhuma outra opção, mas estava completamente consciente. Sua mente estava ligada na dele num nível inesperado. Ele era principalmente predador. Um animal. Astuto e cruel. Mesmo brutal. A vida e a morte era seu mundo — sua luta. A mente dela corria à parte da dele, se estendia e se fundia com a dele. Ele não ouviu um som, mas sentiu seus gritos, seu horror absoluto e sua rejeição a ele, o medo paralisante que se recusava a diminuir, mesmo quando ordenou que fosse assim. Calma. Ele empurrou o comando para ela, e quando não o fez por bem, forçou sua ordem em sua mente. Ela só se afastou ainda mais dele. Marguarita era certamente um enigma intrigante. Seu irmão havia reforçado a barreira em sua mente que impediria que os não-morto e outros Cárpatos lessem os pensamentos dela, mas ela tinha seus próprios segredos. Nasceu com essa barreira, depois dos De La Cruz a criarem há gerações em suas famílias, e agora era ainda mais forte do que o esperado.

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Era inteiramente humana. Ele não tinha dúvidas disso. Vulnerável. Frágil. No entanto, sua mente tinha uma proteção natural, uma que não permitia ser facilmente manipulada. Sua troca de sangue abriria a linha de comunicação telepática entre eles. Não ouviria sua voz, mas veria suas palavras e conheceria seus pensamentos. E, decidiu, a comunicação com esta empregada especial era necessária. Ela não tinha nenhum conceito de obediência, e dentro de seu território, era o governante absoluto. Seus empregados obedeciam de uma forma ou de outra. Quanto mais tempo segurava seu calor e curvas contra ele, mais se dava conta de sua forma feminina. Homem ou mulher nunca importou, e honestamente, não conseguia se lembrar de uma época em que importasse. Não tinha impulsos sexuais, nem emoções, nada que o fizesse se importar. No entanto, no espaço de um segundo — ela despertava coisas que era melhor não pensar. Ela nunca deveria ter atraído sua atenção para ela, nunca escorrer seu sangue em sua boca o viciando, criando um desejo insaciável. A chuva batia no telhado, e sacudia as janelas, em busca de entrada. A tempestade selvagem refletia sua natureza violenta. A casa estremeceu sob o vento feroz. Por um momento, um relâmpago iluminou o quarto e pode ver o desespero nos olhos dela, exatamente o que ele queria. O trovão caiu e a sala ficou às escuras. Ele continuou a olhar em seus olhos. Ela tomou seu sangue, porque não tinha escolha, mas rejeitava seu grande presente. Rejeitava. Realmente o odiava e temia, assim como os não-mortos. Ele respirou fundo. Só precisava acalmá-la. Fazê-la ver a razão. Ela precisava entender a enormidade do seu pecado e a posição dolorosa que se colocou. Isso era tudo. Por que achou seu horror perturbador, estava incerto. Parecia incomodá-lo num nível primitivo, embora intelectualmente, tinha certeza que ela precisava ter medo. Haviam terríveis vis criaturas em seu mundo e ela morava lá. O servia. Era importante que ela ouvisse. Estou salvando sua vida, como fiz antes. Talvez ao lembrar que a salvou de um vampiro ajudasse. O corpo de Marguarita estremeceu e se afastou sutilmente do dele, como se o tocar fosse mal. O trovão caiu novamente, ecoando no tumulto em sua mente. Ele escolheu a vida por ela. Devia ser grata por ele se incomodar quando era tão desobediente. Não esqueceria tão cedo dessa lição e talvez, apenas talvez, aprendesse que não devia se intrometer em coisas que não eram da sua conta. E obedeceria aos seus mandamentos, o que muitas vezes significava vida ou morte. A única resposta foi a chuva batendo no telhado. O bater do seu coração selvagem. Sua respiração irregular. Ele suspirou. Seu medo beirava o terror. Não, era terror e, francamente, descobriu que não gostava. Não houve trégua. Nem mesmo agora, quando a tratava com cuidado. Tomou o suficiente. Ele apenas inseriu a mão entre sua boca e o peito, com cuidado a afastando como seria de esperar que ele tivesse que fazer, mas ela se empurrou para longe dele de forma tão inesperada que quase caiu de seus braços. Ele reforçou seu poder, seus dedos cravando em sua carne macia.

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Seu sangue forneceu força para ela, e agora que estava ligado à ela, sabia que pretendia tentar vomitar, para se livrar da substância. Ele sorriu para ela, lentamente, balançando a cabeça. —Meu sangue já flui em suas veias, mulher tola. Seu corpo o absorve. Não vai para seu estômago, como seu alimento faz. Zacarias estava preparado para sua luta e não ia permitir que se afastasse até que estivesse pronto. Marguarita permaneceu perfeitamente imóvel, seu olhar preso no rosto dele, mal respirando agora, como qualquer presa se escondendo nas árvores ou mato poderia ficar. Um pequeno arrepio de desconforto desceu por suas costas. Ela exibia os sinais exatos que as criaturas na floresta tropical manifestavam quando ele estava próximo. Não havia alarmes de alerta, nada do normal barulho de macacos e pássaros, muitas vezes usado quando identificavam um predador. Mesmo os insetos se calavam, quando ele estava próximo. Queria a obediência dela, não medo austero, cru. Também... queria que ela tivesse medo — que aprendesse sua lição. Medo era simplesmente uma ferramenta para ele, que exercia facilmente. Talvez fosse mais sensível do que considerou e devia ter atenuado sua mensagem. Sentiu o primeiro movimento de seu corpo leve, nada mais que um sussurro de espaço entre eles, mas sabia que estava fugindo dele. Instintivamente, reforçou seu domínio sobre ela, inspirando e expirando por ambos, seus pulmões chamando os dela para seguir seu ritmo. Seu coração batia lento e constante, num esforço para diminuir a aceleração selvagem. Ele mal reconheceu sua necessidade de acalmá-la, ou mesmo a razão para isso, a necessidade simplesmente existia. De um lugar há muito esquecido, veio à tona uma memória de uma criança, um menino mudando muito tarde e jogando a si mesmo numa árvore. Zacarias se lembrou de seu irmão mais novo, um aprendiz rápido, mas que tentava coisas que não estava pronto, porque seus irmãos mais velhos podiam. Balançou Marguarita da mesma maneira como fez com Riordan, para confortá-la, murmurando em Cárpato, palavras suaves que não significavam nada. Ruídos realmente. A memória o chocou quase tanto quanto os acontecimentos da noite inteira. Não pensava naqueles dias há centenas de anos. Não era um homem que sentia compaixão, mas o medo o perturbava. Não fazia sentido e não confiava em nada que não pudesse explicar. Ele a colocou no chão. No momento que suas mãos a liberaram, ela se arrastou para longe dele para se agachar no canto, olhando para ele com seus olhos enormes e assustados. Tremores assolavam seu corpo mais e mais. Ela torcia os dedos juntos, duas vezes os erguendo como se fosse tocar a contusão escurecendo em seu pescoço, mas parando antes que roçasse a pele danificada. Usava sua marca agora, a cor chegando sob a pele com dois furos centrados quase perfeitamente. Ela não tocou no local, e se viu carrancudo. Intrigado. Como regra era mais fácil usar mulheres para se alimentar. Seus irmãos mais novos se moviam em círculos políticos, a fim de conseguir as coisas que precisavam, como aumentar suas

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propriedades. Mulheres decorativas penduradas em seus braços sempre forma um bônus. Tinham acesso fácil a uma fonte de alimento e cobertura a todo momento. Era fácil o suficiente plantar memórias de noites selvagens de sexo e festas. Mas a mente de Marguarita não aceitava memórias plantadas nem ele particularmente desejava apagar a memória de seu momento. Ele suspirou e levantou. Ela estremeceu, com os olhos cheios de lágrimas. As gotas se formavam em seus impossivelmente longos cílios, chamando sua atenção e formando um nó duro na boca do seu estômago. Os irmãos De La Cruz, muitas vezes reforçavam a barreira natural na mente daqueles que os serviram. Ela aceitou o fortalecimento de seu escudo de proteção por seu irmão, mas rejeitava todas as partes dele. Ele sabia que era pessoal. Esteve em sua mente. Ela não pensava nele sob a mesma luz que seus irmãos. Ele era hän ku piwtä — predador. —Me ouça, garotinha. Nunca mais vai desobedecer outra ordem direta minha. Ela apertou os lábios trementes juntos, os cobrindo com os dedos. Ele deu um passo ameaçador em direção a ela. —Está claro quem está no comando? Quem é seu mestre? Ela engoliu em seco e balançou a cabeça vigorosamente. Olhando seu medo, resultado direto de suas ações, algo se retorceu nos arredores do seu peito. Ele apertou a mão lá para parar a dor estranha. —Por alguns dias sua audição será muito mais aguda que o normal. Pode incomodá-la. Sua visão será mais nítida também. Vai aprender a controlá-la. Não se afaste da casa. Quero você disponível quando eu quiser. O sangue dela era uma mistura incrível e sabia que o desejaria para sempre. Podia realmente sentir o gosto dela em sua boca e ansiava para lamber esse pulso batendo tão freneticamente em seu pescoço, acariciando direto sobre sua marca com a língua. Precisava descobrir o que estava acontecendo, o que sua reação a ela significava. Ela estava transmitindo o medo tão alto que não conseguia pensar direito. Não sabia por que sua ligação com ela era tão forte, mas sentia suas emoções como se fossem as dele. Há muito tempo — mesmo através da conexão com seus irmãos —suas memórias desapareceram. Zacarias balançou a cabeça, franzindo a testa, dando um passo mais perto dela. Ela recuou para o canto, dobrando os joelhos, tentando ficar menor. Ela virou o rosto e fechou os olhos com força para bloquear a visão de como ele estendia a mão para ela. Ele teve o cuidado de ir devagar, como se abordasse uma criatura selvagem, mas ela se abaixou um pouco enquanto esperava que ele a golpeasse. A ideia era ridícula. Nunca bateria nela. Suas entranhas pareciam nós, uma reação física que não podia controlar. Tocou seu rosto molhado de lágrimas, juntado a umidade nas pontas dos dedos. Sua pele absorveu a lágrimas salgadas, como pequenos diamante brilhantes caindo de seu corpo e seu estômago deu outra guinada desconhecida.

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Abruptamente, se afastou dela, saindo do quarto, incapaz de suportar a visão de sua figura abandonada e assustada por mais um momento. Precisava de distância. A floresta tropical. Qualquer lugar, menos perto dessa mulher absurdamente desobediente. Zacarias foi muito cuidadoso com a porta da frente. Queria ser capaz de bloquear essa intrigante, desconcertante mulher irritante, dentro, onde não poderia se meter em apuros enquanto ele descobria o que fazer. Poderia tentar novamente procurar a aurora quando o sol aparecesse, mas o final dramático de sua vida já não parecia suportável. O jelä peje emnimet — que o sol queimasse a mulher. Ela virou seu mundo de cabeça para baixo. Tudo estaria perfeitamente certo novamente no momento que não pudesse sentir o cheiro do seu perfume ou ouvir seu batimento cardíaco. A conexão entre a parte primitiva de sua mente desapareceria com a distância e seria capaz de respirar e pensar. Ele saiu para a chuva, acenando com a mão para acalmar a tempestade que provocou na sua tentativa de punir a mulher mortal. Sua respiração sibilou fora de seus pulmões. Não queria dar o próximo passo, abrir seus braços e chamar a harpia para voar. Ele vacilou, quase transparente, neblina e chuva se tornando um com ele, uma coisa que normalmente acalmava sua alma escura, mas a relutância ainda estava lá. O ainaak jelä peje emnimet naman — Que o sol queimasse a mulher para sempre. Ela fez algo a ele. Poderia ter nascido maga? Lançou um feitiço para prendê-lo? Ele? Zacarias De La Cruz? Impossível. Estava muito velho. Muito astuto. Ela não tinha chance contra ele, se colocando contra seu poder secular e experiência. Metade de sua mente queria voltar para a casa e saciar sua ânsia de novo. O pensamento trouxe o sabor de sua explosão através de sua boca e uma onda de calor através de seu corpo. Coisas desconhecidas o incomodavam. Sua reação à Marguarita Fernandez era inédita. Ninguém, nada despertou seu interesse em séculos, e agora, quando optava por encerrar sua vida, ela se atrevia a perturbá-lo. Não ia voltar para sua armadilha, se deixar ser enredado por qualquer magia que lançou. Seguiria seu próprio caminho, sua própria lógica e ela poderia esperar por sua conveniência. Zacarias se elevou no ar. O vento corria através dele, através da névoa que compunha seu corpo, para que ele e o ar fossem uma parte disso — ele mesmo pertencia à própria Terra. Desenvolveu o truque há longos anos atrás, quando estava tão sozinho e precisava de um pouco de consolo. Os animais e o homem já não o acolhiam, nem mesmo seus próprios parentes. Eles o temiam, como ela o temia. Mas quando era névoa, com o vento se deslocando através de seu corpo, o mandando à deriva por entre as árvores, realmente podia se sentir aceito. Os animais e o homem o rejeitavam, mas a terra era uma companheira constante, firme. Marguarita Fernandez era um quebra-cabeça que não podia tirar da cabeça. O ataque do vampiro devia tê-la desequilibrado de alguma forma. Não havia outra explicação para a desobediência flagrante, tal desrespeito deliberado com sua ordem direta. Ninguém se atrevia a tal coisa, muito menos um pedacinho de menina. Ela devia estar um pouco doente, e se assim

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fosse, foi um pouco duro com ela. Convencido que encontrou a única conclusão lógica para um comportamento estranho e indefensável, Zacarias se elevou no ar para acertar as contas com ela antes de procurar seu descanso. Marguarita permaneceu imóvel tanto como possível, congelando todos os músculos no lugar, apavorada que ele voltasse. Ele andava tão silenciosamente que era impossível dizer onde estava na casa, mas sua presença era tão poderosa, tão forte, que saberia o momento em que a deixasse. Só então cobriria o rosto com as mãos e cairia num choro histérico. Nunca teve tanto medo na sua vida, nem mesmo quando o vampiro exigiu saber o local de descanso de Zacarias. Ela aceitou a morte e sabia que morreria com honra. Esta era uma bagunça terrível e emaranhada que ela criou. Todo mundo estava em risco, todo mundo que amava. Todo mundo que conhecia. Porque não permitiu que um De La Cruz morresse. Sabia a verdade agora. Zacarias veio para a fazenda para morrer com honra, porque estava perto de virar vampiro. Ela não conhecia o processo, mas sabia que a perda da honra era a única coisa que todos os Cárpatos temiam. Ele ressuscitou vampiro e ela fez isso. Estendeu os dedos e olhou através deles para o cesto de lixo, onde uma centena de páginas amarrotadas de seu bloco eram evidências do fato que não havia explicação. Nenhuma. Não sabia por que cometeu um pecado tão grave, mas era incapaz de deter a si mesma e agora criou o monstro que Zacarias tentara evitar. Com uma mão trêmula tocou o pescoço latejante, esse ponto que queimava através da pele marcando seus ossos. Ela engoliu em seco e, lentamente, se levantou. Suas pernas pareciam borracha e não conseguia parar os tremores que assumiam seu corpo. O que ia fazer? O que podia fazer? Ela nunca poderia — nunca —encarar aquele monstro de novo. Mas mais que isso, não podia permitir ele matasse ou usasse ninguém na fazenda. Ela fez isso. Era responsável e tinha que garantir a segurança de todos. Sabia que os vampiros faziam marionetes — humanos que cumpriam suas ordens durante o dia enquanto eles dormiam. Marionetes ansiavam pelo sangue do vampiro e festejavam sua carne. Era uma horrível meia-vida e, eventualmente, apodreciam de dentro para fora. Ela não seria marionete de Zacarias, não importa que fosse a única a levá-lo a perder sua honra. Certamente não foi sua intenção. Marguarita umedeceu os lábios secos e forçou seu corpo ao controle. Não podia ir para Cesaro e Julio, porque tentariam defendê-la e com certeza seriam mortos. Ninguém podia enfrentar Zacarias De La Cruz. Se fosse para uma de suas tias, ele saberia. Toda a sua família trabalhava para a família De La Cruz em uma coisa ou outra. Enquanto ela tentava dar sentido à situação, escancarou as gavetas e enfiou o mínimo de roupa necessária numa mochila. Ela tinha que formular um plano. Vampiros eram espertos, mas tinham fraquezas. Não podia chamar os Caçadores, até que afastasse Zacarias de todos que ela amava. Isso era certo. Vampiros matavam por prazer e não correria o risco com ninguém no rancho. Se ativasse o sinal de chamada

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por um Caçador, Cesaro tentaria lutar com Zacarias. Todos os trabalhadores tentariam. Ela sabia, sem dúvida, que podia levá-lo para longe de sua família, porque Zacarias ia segui-la. Felizmente, conhecia a floresta tropical e não a temia como a maioria fazia. Desapareceria — e ele a seguiria. Não sabia exatamente como ia fazer isso, mas o faria. Ele a encontraria eventualmente e, — provavelmente a mataria — mas não tinha outra escolha real, não se quisesse salvar sua família. Faria seu caminho rio abaixo até a próxima propriedade De La Cruz, uma coleção de cabanas usadas quando se deslocava gado para as diversas pastagens e chamaria os Caçadores de lá. Se chegassem antes do vampiro a encontrar estaria segura, se não, pelo menos, salvou sua família. Ela arrastou suas botas e correu pela casa para encontrar seu kit de sobrevivência. Tinha um sistema de filtragem de água e comprimidos apenas para o caso de ser necessário, embora soubesse onde achar cachoeiras em abundância. Era uma excelente caçadora, de modo que a comida não seria problema, mas como ia impedir que Julio ou Cesaro tentassem encontrá-la? Marguarita mordeu o lábio e tentou parar seus pensamentos frenéticos. Tinha que pensar como escapar completamente. Zacarias não mostrou nenhum interesse em ler sua nota, por isso talvez fosse seguro deixar uma para Cesaro. Escreveria de tal forma que tranquilizaria todos sem realmente mentir. Não queria que fossem tão tolos para perguntar à Zacarias. Todos precisavam ficar tão longe dele quanto possível. Se tivesse muita sorte teria uma boa vantagem sobre ele antes que a seguisse. Ela forçou o ar através de seus pulmões e escreveu uma breve nota. Segui seu conselho, Cesaro, e parti por alguns dias. Retornarei em breve. Amor para você e Julio. Não era uma mentira. E não dava margem a dúvida. Cesaro ficaria frustrado com ela, mas acharia que foi para casa de uma de suas tias. Julio... Agora, ele era uma questão diferente. A conhecia muito melhor que Cesaro e podia considerar que alguma coisa estava errada, mas uma vez que seu pai assegurasse que sugeriu que fosse para sua tia no Brasil, se acalmaria e esperaria alguns dias para entrar em contato. Convencida que fez tudo o que podia para manter todos seguros, Marguarita saiu pela janela do quarto dela. Não confiava nas portas ou no fato que Zacarias saiu pela frente. Não ia correr para ele por engano. Ela permaneceu agachada debaixo da janela, estudando o céu escuro com suspeita. Zacarias poderia estar em qualquer lugar, sob qualquer forma. O pensamento era tanto perturbador como aterrorizante. Por um momento, seu coração disparou, seu sangue rugindo em seus ouvidos. Ela se obrigou a respirar normalmente, com medo que pudesse ouvir seus batimentos cardíacos trovejando. Antes dela se mover, tocou os animais nas proximidades. Tão logo puxou as cortinas da casa, a fazenda entrou em alerta. Gado e cavalos se moveram juntos onde podiam ficar melhor protegidos. Todos estavam armados e as patrulhas foram duplicadas, mas os animais sabiam antes dos humanos se o mal estava perto. Os cavalos estavam acomodados para a noite. Não havia pisadas inquietas, o que a teria alertado da proximidade de Zacarias.

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A chuva era uma garoa constante e o vento feroz se acalmou quando abriu caminho através dos piquetes e pastagens até à borda da floresta tropical. Sempre amou a maneira como o crescimento natural continuava a rastejar de volta para recuperar o que foi tomado. Raízes serpenteavam pelo chão em longos tentáculos. Videiras trepadeiras deslizavam sobre pedras e cercas, até mesmo se envolvendo em torno das rochas num esforço para ter de volta sua terra. Escorregou para as bordas externas das árvores, correndo ao longo de uma trilha estreita que estava familiarizada. Insetos formavam um tapete em movimento na densa vegetação, séculos de plantas e árvores caídas. Aranhas grandes se agarravam aos galhos e lagartos fugiam sob as folhas largas. Pererecas a olhavam enquanto se apressava. Marguarita caminhou com confiança, sabendo exatamente onde ia. Era fácil se perder na floresta tropical. A maioria das pessoas viajava pelos rios, mas ela e Julio exploravam a área mais próxima ao rancho quase desde o momento em que puderam andar e marcaram suas trilhas com sinais que ambos reconheciam facilmente. Havia uma caverna maravilhosa pouco atrás de uma das inúmeras cachoeiras, uma pequena gruta difícil de encontrar onde ela e Julio acamparam várias vezes. Era seu lugar secreto, sempre que se escondiam de seus pais. Julio muitas vezes se meteu em problemas naqueles dias. Ele tinha parte do trabalho de um homem desde cedo e andar por ai na floresta tropical era desaprovado — especialmente com uma fêmea. A caverna estava localizada num riacho, profundo e largo que alimentava o grande rio. Julio esculpiu uma canoa de cedro com seu facão. A madeira era leve o suficiente para que flutuasse, mas não tão suaves que não fosse forte o suficiente para enfrentar o rio. Esconderam a canoa atrás da cachoeira. Ela podia chegar lá, pegar o barco e pegar um dos córregos que alimentavam o Amazonas. O acampamento dos De La Cruz não estava longe de lá. Marguarita aceitava seu papel em casa e se deleitava com o fato que era reconhecida por seu dom com os cavalos, mas amava a floresta tropical e a forma como a fazia se sentir tão livre. Sabia que Julio sentia as mesmas coisas e, juntos, se encorajavam mutuamente a sair para explorar em todas as chances que tinham. Julio teve problemas muito piores que ela, apesar de sofrer inúmeros sermões sobre os deveres da mulher. Agora, estava grata por cada viagem que fez. Minúsculos vaga-lumes piscavam nas diversas árvores fornecendo um pouco de conforto. Nas árvores, a noite estava manchada de tinta preta, embora a floresta tropical não estivesse completamente escura. Fungos fosforescentes emitiam um brilho estranho. Macacos da noite enfiavam a cabeça para fora dos buracos nas árvores para olhá-la com olhos enormes e sua presença oferecia um sinal que não foi seguida, ainda. Zacarias podia assumir qualquer forma em sua perseguição e era rápido. Podia usar o céu e cobrir a área em poucos minutos, onde ela levaria horas. Tinha que correr para chegar à canoa, e isso era extremamente arriscado durante a noite na selva, mas não tinha escolha. Tinha que se manter à frente dele até o amanhecer. Uma vez que o sol nascesse, podia fazer seu caminho para as cabanas dos De La Cruz, e esperar recorrer à ajuda. Zacarias estaria longe da fazenda e todos os

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outros estariam a salvo. Tudo fazia perfeito sentido, mas tinha que chegar lá mais rápido e isso significava correr. Pegou o ritmo, correndo, precisando chegar ao abrigo. Não queria ficar a céu aberto, mesmo sob o dossel. Onde as árvores eram grossas, havia pouca luz e tinha que usar sua lanterna, mas também significava que havia pouca vegetação no chão. Sem a luz penetrando a copa, era difícil crescer muito. Mudas tinham que esperar por uma árvore cair, proporcionando uma abertura na copa das árvores, permitindo que a luz do sol passasse. Ela enviou uma onda de energia à sua frente, tentando dar aos insetos no chão da floresta o alerta que estava passando. Esperando que limpassem a trilha. Minúsculos sapos coloridos pulavam dos galhos aos tronco, os pés pegajosos presos às superfícies quando seguiam sua jornada precária. Ela não tentou correr, sabendo que não teria resistência. Tinha que definir um ritmo extenuante, mas que pudesse continuar por muito tempo. Horas. Era um longo tempo antes do sol nascer. Ela enviou um pedido de ajuda, seu forte apelo suficiente para acordar os animais descansando no dossel acima dela. Imediatamente respostas vieram. Macacos entraram em alerta. Bandos de pássaros chamaram uns aos outros, todos à procura de um inimigo comum. Séculos de folhas e galhos escondiam raízes retorcidas que facilmente a derrubariam, então sua lanterna pegou os animais rastejantes saindo de buracos para se sentar sobre as raízes, de modo que enquanto corria, podia escolher um caminho com menos obstáculos. Fez uma curva, rodeando um tronco de árvore grosso e uma capivara olhou para ela, agachada diretamente em seu caminho. Ela desviou para a direita, a única direção possível e percebeu que o animal a guiou para longe de um labirinto de trepadeiras que certamente a teriam atrapalhado. Ela correu com mais confiança então, dependente dos animais, se sentindo confortada por sua presença, sabendo que dariam o alarme no momento que Zacarias chegasse perto. Saberiam que estava perto. Tinham que ser tão sensíveis à sua presença como os cavalos e gado na fazenda. Ela deveria saber, quando todos os animais da fazenda agiram tão inquietos, que o mal andava com Zacarias De La Cruz. Marguarita franziu a testa enquanto corria. Seus pulmões começaram a queimar e suas pernas doíam. Desviou para evitar uma série de cupinzeiros que sua lâmpada mal conseguiu pegar antes que batesse neles. Por que se sentiu tão obrigada a salvá-lo? Não conseguiu se conter. Mesmo quando exigiu dela a obediência, não foi capaz de deixá-lo ao sol. Não era insegura. Cresceu num rancho de trabalho e fazia sua parte do trabalho, não importa o quanto fosse difícil. Ela ignorou a pontada em seu lado e saltou sobre um dos muitos regatos de água correndo ladeira abaixo para alimentar o sistema do rio. O chão estava enlameado quando escorregou e deslizou seu caminho até as encostas, às vezes, arranhando seu caminho na lama. Todo o tempo sua mente continuava a tentar decifrar seu comportamento estranho. Foi programada desde o nascimento para obedecer um De La Cruz. Era vida ou morte em seu mundo e um passo em falso

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podia significar uma catástrofe para aqueles que viviam em diferentes fazendas. Todos sabiam do perigo de vampiros. Monstros eram muito reais em seu mundo. Um pequeno soluço escapou. Cárpatos se alimentavam do sangue de humanos, mas não matavam. Vampiros matavam. Não compreendia totalmente a linha fina entre eles, mas sabia que era fina e de alguma forma empurrou Zacarias sobre a borda. E o que faria seu sangue para ela? Ela despertou do ataque de vampiros com a garganta rasgada, incapaz de falar, seu mundo de cabeça para baixo, mas todos os seus outros sentidos foram aumentados pelo sangue que Zacarias lhe deu para salvar sua vida. Sua visão era muito melhor. Podia realmente localizar insetos na grama e ver pássaros nos galhos mais grossos das árvores. Via sapinhos e lagartos escondidos nas folhas e cipós. Sua audição era ainda mais aguda. Às vezes, achava que podia ouvir os homens falando nos campos enquanto trabalhavam. Certamente podia ouvir os cavalos no estábulo. Com esse primeiro sangue que deu a ela para salvar sua vida, ela sabia que mudou algo nela. Seu cabelo, sempre grosso, crescia mais rápido e mais brilhante. Sua pele tinha viço, quase um brilho. Seus cílios estavam mais grossos, e tudo nela estava mais. Percebeu que Julio ficava mais perto dela e da fazenda, sempre que os outros homens estavam perto, e estava ciente deles como homens, em vez de simplesmente as pessoas com quem cresceu. Sentia o peso de seus olhos e às vezes ficava desconfortável, com medo que estivesse lendo os pensamentos libidinosos. Nada disso acontecia antes. E as mudanças não eram todos físicas. Não devia ser capaz de correr tão rápido por tal distância, mesmo com os animais a guiando na trilha. Ela usava sua lanterna cada vez menos e era guiado pelo instinto mais puro. Podia ouvir seu coração batendo e estabeleceu um ritmo lento e constante. Seus pulmões queimavam por ar, mas quanto mais corria, mais eles começaram a trabalhar de forma eficiente. Sua pele formigava quando havia obstáculos perto dela, parecendo um aviso de radar de que direção devia ir, onde colocar seus pés, como se mover e escorregar por entre as árvores, sem um passo em falso. Podia não ser capaz de falar, mas certamente conseguiu sentidos e habilidades muito mais nítidos. Ela ouviu o fluxo por algum tempo. A chuva alimentava a água no chão para que corresse abaixo, com o mínimo de resistência até que encontrava seu caminho para os fluxos estreitos, afundando na água escura, aumentando os regatos até que os bancos estavam quase transbordando. A cachoeira ao longe soava como um trovão contínuo e o alívio a inundou. Isso significava que a rota da água estava aberta e profunda o suficiente para levá-la rio abaixo rapidamente. Se as condições fossem boas, podia fazer todo o caminho pelo Amazonas. O que aumentaria suas chances de chegar às pastagens De La Cruz antes de Zacarias descobri-la. Marguarita aumentou sua velocidade, correndo direto para a cachoeira.

CAPÍTULO 4

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A harpia voou através do dossel, ignorando a preguiça, sua comida favorita, e circulou de volta para a fazenda, impulsionado por alguma compulsão interna que não podia ignorar. Profundamente dentro do corpo da ave gigante, Zacarias suspirou. Não estava mais perto da verdade do que quando partiu. Os fios da sua conexão com a mulher cresciam mais forte, não mais fracos, e não conseguia tirá-la da sua mente. Se não soubesse melhor, acharia que era possível ela ser sua companheira. Considerou a ideia, é claro, mas depois a descartou quase que imediatamente. Se fosse a única mulher a completar sua alma, ele veria em cores e sentiria emoção. Se fosse emoção o que estava experimentando, não sabia o suficiente sobre os sentimentos até mesmo para identificá-los. O que estava acontecendo era um quebra-cabeça que devia ser resolvido antes que voltasse ao seu plano original de buscar o amanhecer. Marguarita Fernandez tinha grande poder. Era uma ameaça potencial para os Cárpatos e, portanto, devia ser eliminada. Era tão simples. Uma dor aguda nas proximidades de seu coração o fez baixar. Na verdade, olhou para o peito da ave para ver se foi perfurado por uma flecha. Seu estômago embrulhou com a ideia de matá-la. O jelä peje emnimet — que o sol queime a mulher, ela lançou-lhe algum feitiço. Não havia outra explicação para sua resposta física à ideia de sua morte. Os prendeu juntos. Ou seu sangue o fez. Sangue era a própria essência da vida e o dela era... extraordinário. Ele queria — não, precisava — tocá-la com sua mente. Tudo nele insistia para a alcançar, saber onde estava, o que estava fazendo. Se recusou a agir pela necessidade. Não confiava nela mais que confiava na maneira como precisava vê-la, tocá-la, saber que existia. Seja qual fosse o feitiço lançado era poderoso e tinha que ser uma armadilha. Ele tinha controle e disciplina, várias vidas para desenvolver ambos, e nenhuma mulher, nenhuma humana, poderia destruir esses traços dele. Levaria seu tempo, provaria a si mesmo e a ela que era muito forte para ser derrubado por qualquer magia. Antes que a matasse, descobriria seus segredos. Até o último deles. Ela saberia o que significava trair um De La Cruz e tentar prender um deles. Ele lutou com vampiros e os destruiu, as mais vis criaturas que se possa imaginar, e um pequeno deslize de uma mulher não teria chance contra ele. Ignorou a forma como sua mente sempre se estendia para ela. A forma como seu sangue aquecia ao pensar nela. Não era tanto o feitiço como o fato que realmente o intrigava — algo que não acontecia há mil anos ou mais. Isso era tudo. Interesse. Intriga. Quem poderia culpá-lo quando nada era uma surpresa para ele — até ela. A mulher. Marguarita. Ele se encolheu. No momento que pensou em seu nome — dando-lhe vida —podia prová-la na sua língua mais uma vez. Seu coração deu um salto estranho, e por um momento, lá no fundo do pássaro, achou que seu corpo se mexia com vida. Ele correu muito, um predador sombrio caçando. Sua respiração parecia presa em seus pulmões. O que era impossível. Um truque. Uma ilusão. Ela era muito mais poderosa do que ele imaginava.

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Esse truque compraria seu tempo. Ele não era homem há muito mais tempo do que podia se lembrar. Era uma máquina de matar, nada mais. Nada menos. Não tinha desejos carnais. Não podia sentir. As coisas estranhas acontecendo em seu corpo e mente não eram reais, não importa o quanto fosse boa a ilusão, mas fechou os olhos e saboreou a quente lambida de necessidade correndo em suas veias. Rapidamente abriu suas pálpebras, olhando desconfiado ao redor. Essa ilusão era o caminho para deixá-lo sobre a borda, permitindo que sentisse, apenas por um momento, para depois o tomarem, de forma que estaria para sempre ansiando por mais? A harpia saiu do dossel e voou alto sobre a fazenda. Se recusou a ceder ao desejo sempre presente de tocar a mente de Marguarita. Agora, mais que nunca, tinha que mostrar força e descobrir tudo o que pudesse sobre Marguarita Fernandez. Viu a casa que estava procurando enfiada na montanha. Haviam várias casas espalhadas pela propriedade, mas Cesaro Santos era o capataz e seu cargo se mostrava em sua casa. A harpia flutuou para o chão, passando no último momento para a forma humana. Zacarias caminhou direto para a varanda, seu corpo reluzente num rastro de vapor que passou por baixo da fresta da porta. A casa estava impecável, como a maioria das casas dos humanos convivendo com sua família. Sabia que Cesaro era extremamente leal. Ele ofereceu seu sangue, até mesmo sua vida, para salvar Zacarias. O homem estava acima de qualquer suspeita e não havia mácula do mal em qualquer lugar do rancho que Zacarias pudesse detectar. Cesaro nunca roubaria a família De La Cruz, ou os trairia de qualquer maneira, e se encontrasse uma das pessoas que trabalhavam para ele fazendo, Zacarias não tinha dúvida que o homem ou mulher, seria enterrado na floresta pela mão de Cesaro. Venha a mim. Era o chamado de sangue e cada empregado de confiança deu aos Cárpatos sangue suficiente para que cada um dos De La Cruz pudesse ler seus pensamentos, protegesse suas mentes e extraísse informações quando necessário. Zacarias soube no instante que Cesaro despertou, procurando sua arma. Havia satisfação em saber que escolheu bem a família. Lealdade era o traço mais forte no seio das famílias Chévez e Santos, ambas ligadas pelo sangue. Ele tomou sua forma sólida como comandante da fazenda e saiu completamente vestido e pesadamente armado em questão de minutos. Cesaro se inclinou um pouco e parou, quase rigidamente. Zacarias não conhecia nenhum humano ou animal que jamais relaxasse em sua companhia. Não conseguia esconder o assassino que havia nele, que era a maior parte dele para que não se incomodassem. Apontou para o sofá posicionado numa localização estratégica, onde o ocupante poderia facilmente ver algo que se aproximasse de sua casa. —Como posso ajudar, señor? —Gostaria de saber tudo que pode me dizer da mulher. — Zacarias manteve seu olhar no rosto do outro homem, observando sua expressão cuidadosamente, mantendo uma parte de si

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mesmo na mente de Cesaro para garantir que estava recebendo a verdade. Leu sua perplexidade e confusão. Sua pergunta era a última coisa que o comandante esperava. —Quer dizer Marguarita Fernandez? — Ao aceno silencioso de Zacarias, Cesaro franziu o cenho. —A conheço desde o dia que nasceu. Seu pai era meu primo. Sua mãe morreu quando era muito jovem e foi criada aqui na fazenda junto com meu filho, Julio. Um arrepio de algo muito letal deslizou em suas veias, uma sombra escura protestando contra a proximidade de um homem crescendo com Marguarita. O quanto próximos eram? Algo muito feio se ergueu para se instalar na boca do estômago com o pensamento de Julio sozinho com a mulher. Seus dentes alongaram e ele fechou os dedos em dois punhos apertados. Unhas como garras furaram a palma da sua mão. Cesaro deu um aperto mais firme sobre o rifle em seu colo, com o rosto visivelmente pálido. —Disse alguma coisa para você se aborrecer? O sangue escorria em sua palma e Zacarias, sem tirar o olhar de Cesaro, lambeu a linha de gotas. —Continue. Cesaro estremeceu. —É uma boa menina. Leal. Zacarias acenou que parasse. Não queria ouvir o que Cesaro pensava dela. —Conte-me sobre ela. — Sobre todos os homens em sua vida. Qualquer coisa que precisasse saber. Coisas importantes. —Cuida da fazenda e representa a família com todos os trabalhadores. Faz os pedidos e é inestimável com o gado e cavalos. — Cesaro claramente não entendia o que Zacarias procurava. — Aconteceu alguma coisa com ela? — Ele meio se ergueu. Zacarias empurrou sua palma em direção ao homem num movimento abrupto, sem querer ser tão duro, mas o ar golpeou Cesaro de volta às almofadas. —Ela está bem. Diga-me o que quero saber. Está com um homem? Será que muitas vezes deixa a fazenda? O cenho de Cesaro se aprofundou. —Tem muitos admiradores esperançosos, alguns de fora da fazenda e alguns bem aqui. Não sai com eles, especialmente desde o ataque. Fica perto da casa, embora represente a família em eventos de caridade, bem como bailes locais e eventos. Zacarias manteve sua expressão em branco. Não gostava do som de "muitos admiradores esperançosos", ou nada disso realmente. Ela lançava seu feitiço longe? Acabaria com isso imediatamente. —Permitem que saia desacompanhada? Uma jovem? —Não, claro que não. Marguarita é cuidadosamente protegida. Alguém do rancho sempre vai com ela.

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Zacarias continuou a olhar para o homem, seu olhar fixo transmitindo averiguação e desaprovação. —Meu filho, muitas vezes a acompanha, — admitiu Cesaro. —Era minha esperança que os dois se casassem. Ambos servem sua família e sabem o que precisa ser feito para manter nossa aliança segura. É uma boa combinação, mas não parecem estar interessados. O piso tremulou. As paredes respiraram dentro e fora. Por um momento, a pressão na sala foi dolorosa, como se todo o ar fosse sugado para fora da mesma. Cesaro lutou por uma respiração, sua garganta fechando e os pulmões queimando. Rapidamente, a sensação desapareceu como se nunca tivesse existido. Ele tossiu algumas vezes, uma mão indo para sua garganta, arregalando os olhos com medo. —Conte-me sobre seu dom com os animais. Cesaro encolheu os ombros. —Ninguém sabe como ela faz isso. Não acho que ela mesma saiba, mas todos os animais, incluindo aqueles no céu, respondem a ela. Quando era apenas uma garotinha, dizia ao seu pai que a perna de um cavalo estava ferida e onde. Com certeza, poucas horas depois, o cavalo vinha coxo. Sempre sabia quando uma égua ia dar à luz ou quando não seria um problema o nascimento. Os cavalos confiam nela e quando está presente, as éguas ficam calmas, não importa o que tenha que ser feito. Zacarias absorveu a informação. Ela fazia tais coisas desde que era criança. Era possível ter nascido psíquica, mas muito mais provável que fosse uma maga treinado, a fim de lançar um feitiço poderoso o suficiente para apanhá-lo. — Continue. Cesaro parecia mais confuso do que nunca. —Quando tinha quinze anos, uma onça assustou o rebanho e o gado colidiu numa cerca e correu direto para as crianças que jogavam futebol. Marguarita saiu na frente deles e de alguma forma o gado se afastou de todos lá. Diminuíram o passo e pararam sem direção. — Seus olhos encontraram os de Zacarias, mais uma vez. —Ela caminhou em direção à onça-pintada e me acenou que não atirasse. Depois de alguns minutos com as duas olhando uma para a outra, o gato escorregou de volta para a floresta e nunca o vi por aqui novamente. Nem mesmo rastros. —O que sabe de sua mãe? — Se seu pai era um primo de Cesaro, talvez a mãe fosse maga. Devia haver uma explicação. —Sua mãe era uma Chévez da fazenda no Brasil. Conhece sua família. Conhecia a família Chévez melhor do que conhecia qualquer uma das outras. Não eram definitivamente magos, nem nenhum deles treinado em feitiços. As mulheres Chévez tinham proteções colocadas em suas mentes desde o nascimento. Seria impossível um vampiro as possuir ou manipular, não sem matá-las.

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Zacarias fechou o punho apertado mais uma vez quando sua mente alcançou Marguarita. Exerceu grande disciplina evitar tocá-la. Seu sangue chamava o dela. Ou seria o contrário? O apelo era tão forte. Uma compulsão. Xingou baixinho em sua língua nativa. A mulher era uma ameaça. —Se ela te incomoda, podemos tirá-la da fazenda durante sua estadia, — Cesaro ofereceu, obviamente esperando que Zacarias concordasse com sua proposição. —Ela tem muitas tias que gostariam de sua visita. Outro tremor rolou pelo chão. Zacarias não moveu um músculo. Sua língua deslizou sobre os pontos afiados de seus dentes. Seu corpo doía. Ela tinha tantos pecados a pagar, mas não se atrevia a ir até ela, não quando precisava vê-la e tocá-la. Se recusava a permitir que sua mente vagueasse, verificasse, a tocasse. Era muito forte e ela não poderia derrotá-lo. Cesaro se encolheu. —Señor, — ele começou inquieto. —Deixe a mulher comigo. —Não entendo. Marguarita é uma boa menina. É amada por todos aqui. O vampiro destruiu suas cordas vocais, então não pode falar. Se isso o aflige... —Não entendo o que é afligido. O próprio conceito de estar afligido era alheio a ele. Mas estava preocupado com a necessidade de tocá-la. Estar perto dela. Tocar toda aquela pele quente, macia e aliviar a ânsia terrível que ela criou com o gosto requintado de seu sangue. Cesaro se levantou rapidamente quando o corpo de Zacarias começou a brilhar e ficar transparente. —Espere. Por favor, señor, preciso saber que não vai prejudicá-la. Zacarias virou os gelados olhos sobre o homem. —Não se atreva a pretender me questionar. Esta é minha terra. Pertence a mim para fazer o que eu quiser. Não vou suportar sua interferência neste assunto. O que ela fez é só entre nós. Fui claro? Cesaro agarrou o cano de seu rifle, até os nós dos dedos ficaram brancos. Engoliu em seco duas vezes antes dele muito relutantemente concordar com a cabeça. Zacarias não tinha mais tempo a perder com o homem. O que havia de errado com todos que pareciam achar que estava tudo bem em questionar seu julgamento? Claramente um De La Cruz não esteve na residência há muito tempo. Seu povo esqueceu seus votos de servidão e obediência. Esta era a razão pela qual sabia que estava obsoleto no mundo. Seus caminhos estavam muito longe. Matar ou ser morto não era totalmente compreendido. O mundo trabalhava com uma falsa ilusão que a humanidade estava segura — que monstros como vampiros não existiam e o mal não era real. Ele sabia melhor, mas sua época passou. Ele se dissolveu e escorregou para fora da casa, se misturando como lágrimas em forma de gotas de chuva quando voltou lentamente para a fazenda. Mesmo nesta forma, onde estava quase indetectável, os animais nos estábulos pisoteavam nervosamente. Apesar de sua necessidade para

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encontrar Marguarita, se obrigou a dar um lento círculo varrendo em torno da propriedade, procurando todos os sinais que os não-mortos o seguiram até seu covil. Ele precisava provar, não só para ela, mas para si mesmo, que estava no controle, e não ela. Não tinha dúvida que um dos irmãos Malinov tentaria retaliar depois de perder muitos de seus soldados dispensáveis em seu ataque ao seu rancho no Brasil. Se desprezavam alguém — mais que o príncipe dos Cárpatos, era Zacarias. Os Malinovs sempre acreditaram que os irmãos De La Cruz os traíram. Em vez de se voltaram contra o príncipe e ajudar a assassiná-lo, a família De La Cruz jurou lealdade a ele. Zacarias sabia que se matassem Mikhail Dubrinsky jogaria seu povo direto na extinção. Estavam tão perto quanto uma espécie podia, roçando essa linha fina, tão perto de cair, onde a recuperação seria impossível. Com Mikhail vivo, o sangue de Solange e as notícias do descobrimento do por que as mulheres abortavam, Zacarias estava certo que tinham todas as possibilidades agora. Era o momento perfeito para abandonar suas responsabilidades. E o fez, até Marguarita Fernandez interferir. Convencido que Ruslan Malinov, mestre dos não-mortos, não teve tempo de descobrir a razão pela qual seus soldados não voltaram, Zacarias foi para a casa principal. Seu coração acelerou estranhamente, o que só o deixava no limite. Circundou a estrutura, não permitindo que sua mente tocasse a dela nenhuma vez. Muito lentamente, se aproximou da porta da frente, cintilante de volta à forma humana e entrando. Não cederia à onda de calor, à necessidade que o tomava mais duro que jamais imaginou ser possível. Não precisava. Não desejava. Esteve no topo da montanha mais alta, viajou para os confins da terra — procurando — alguma coisa. Caminhou sobre a Terra por séculos, muito mais que a maioria de sua espécie, matou mais não-mortos que se podia imaginar. Viu a traição no seu pior e a bravura no seu auge. Não havia surpresas para ele. Nada que pudesse alterar a batida do seu coração assim. Nada que pudesse levá-lo a queimar com tal necessidade, porque simplesmente não precisava. O jelä peje emnimet — que o sol queime a mulher. Havia uma resposta e ele a encontraria. Ninguém o controlava. Não tocaria sua mente ou iria à sua procura. Mas se encontrou caminhando pela casa escura direto para seu quarto. A porta estava estilhaçada, pendurada nas dobradiças, inteiramente rachada ao meio. Ele franziu a testa, estudando os estragos que fez. A madeira pendurava numa série de pedaços, os fragmentos tão afiados ao ponto de serem perigosos. Acenou com a mão, consertando a bagunça, não para protegê-la, ou por qualquer outro motivo, como outros olhando seu quarto de dormir, mas porque a visão não era estética. Percebeu no momento que entrou no quarto que o perfume dela persistia, mas estava em outra lugar da casa, esperançosamente lembrando de seus deveres como funcionária em sua casa. Ele olhou em volta do quarto. Parecia muito feminino. Cheirava feminino, mas a onda de medo ainda estava presente. Apesar de limpo e arrumado, a lixeira estava cheia de papel

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amassado. Teve uma memória súbita dela agachada no canto de seu quarto, estendendo um pedaço de papel tremulando em sua mão. Olhou em volta. Estava quase certo que caiu de lado quando a puxou em pé. Uma única folha de papel estava sob a cama. Ele a pegou e examinou a carta. Estava tentando dizer a ele o que aconteceu, por que foi incapaz de deixá-lo morrer ao sol. Suas entranhas se revolveram. Não podia ouvir o tom de sua voz e julgar se dizia a verdade ou não, mas sua carta certamente defendia bem seu caso. Como Zacarias, sentiu uma compulsão que não pode resistir. O que isso significava? Era alguém — ou algo — manipulando os dois? Talvez precisasse reavaliar a motivação de Marguarita. Se estava sendo manipulada, assim como alguém tentava fazer com ele, era muito mais fraca e sucumbiria muito mais rápido que um guerreiro Cárpato experiente. Derramou o conteúdo do cesto de lixo fora na cama e uma por uma alisou cada folha, lendo o conteúdo. Suas tentativas anteriores para explicar eram instáveis e não tinham confiança, mas continuou tentando, o que dizia que era teimosa, determinada e corajosa. Não fugiu correndo para Cesaro, que claramente seria tolo o suficiente para tentar protegê-la. Enfrentou seu crime e esperou por ele, na esperança de se explicar. Ele suspirou. Não era totalmente culpa dela que houvesse desobedecido. Compulsões eram perigosas e quase impossíveis de ignorar, como ele bem sabia. Veio para a fazenda sem razão — a necessidade o trazendo — e era experiente em traição maga. Ela não tinha essas habilidades para se proteger. Ele empurrou o pedaço de papel no bolso e acenou aos outros de volta para a lixeira antes de pegar seu travesseiro e inalar o cheiro dela. Respirou profundamente em seus pulmões, cedendo ao desejo. Sua fragrância feminina o envolveu. Na verdade, o sacudiu. Alisou as cobertas, sua mão traçando sua imagem na cama. A fonte de energia devia estar perto. Quase podia sentir o calor de sua pele e mais uma vez poderia provar o requintado sangue dela em sua língua, melhor que o melhor dos vinhos. Deveria ter visitado cada casa na extensa fazenda e testado cada indivíduo. Todos saberiam que estava na residência, apenas se as cortinas pesadas fossem puxadas. Ninguém chegaria perto da casa sem um convite — ou não deveriam. Então, como o feitiço ficava tão poderoso quando tinha consciência do mesmo? Ele inalou a fragrância da mulher de novo, a puxando profundamente em seus pulmões. Seu corpo respondeu com uma estranha sensação, uma corrente elétrica que corria em suas veias e as respostas que despertaram em seu corpo era melhor deixar para lá. Suspirou e foi procurar Marguarita. Lutou contra a compulsão e provou a si mesmo que estava no controle absoluto e total.

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Marguarita empurrou a canoa feita a mão no córrego e subiu cuidadosamente dentro. Antes, sempre era Julio que usava os remos, mas aprendeu sob seu olhar atento e sabia remar. Achou que ficaria apavorada no escuro, mas, estranhamente, podia ver na água, assim como fez na floresta tropical. Sabia que o fluxo era profundo o suficiente para levá-la todo o caminho para o Amazonas. O regato crescia mais amplo, a corrente mais forte quando se aproximava do rio principal, e sentiria a diferença. Era emocionante quando Julio estava com ela, a canoa deslizando sobre as ondas de água branca quando se aproximava do Amazonas que rugia, mas sozinha, com um vampiro, possivelmente a monitorando, sentia apenas uma terrível urgência de ir mais rápido. Jacarés se agachavam como dinossauros velhos nas margens, seus olhos vidrados e com as pálpebras pesadas quando ela passou. Ela engoliu em seco e empurrou o remo na água. A canoa deslizava silenciosamente ao longo deles. No escuro, as nuvens rolando, a água brilhava como uma longa faixa de ébano cortando, árvores e raízes penduravam formando gaiolas gigantes. Ela mergulhou o remo e empurrou mais forte, o tempo todo alcançando as aves na esperança que dessem o som de alarme se sentissem um predador diante dela. Enquanto viajava rio abaixo, um mal-estar estranho caiu sobre ela. Não medo ou terror, duas coisas que associava a Zacarias De La Cruz, mas uma certa relutância em continuar. Estava colocando distância entre eles e a cada quilômetro que passava um pavor a enchia. Seu coração doía, uma dor real. Intelectualmente, sabia que não apenas era a coisa certa a fazer, mas a única coisa a fazer, mas sua mente se recusava a acreditar. Duas vezes se encontrou remando em direção ao banco como se sua intenção fosse voltar atrás. Teve sorte que a chuva aumentou o fluxo de modo que a corrente estava fluindo forte, a transportando, mesmo quando os braços se recusavam a trabalhar para empurrá-la mais rápido para longe de Zacarias. O temor crescia nela e espalhava a dor de seu coração para seu corpo inteiro. Suas pernas tremiam. Seus braços pareciam chumbo e sua boca ficou seca. Estava morto. Zacarias De La Cruz estava morto, e de alguma forma, ela era responsável. O pensamento penetrou espontaneamente em sua mente e uma vez lá, não conseguia desalojá-lo. A dor encontrou seu caminho até ela, se manifestando fisicamente. Seu peito ficou tão apertado que mal podia respirar. Lágrimas nadavam em seus olhos obstruindo sua visão. Havia um terrível grito em seus ouvidos, seu protesto silencioso contra a própria morte. No entanto, ele era vampiro, não era? Estava fazendo uma corrida desesperada para chegar à propriedade De La Cruz à sua frente, para alertar os Caçadores, de fato, chamá-los para matá-lo. Se estava morto, não deveria estar alegre? Não chorando? Confusa, arrastou o remo no barco e se concentrou na sua respiração. Zacarias lhe deu várias vezes seu sangue. Cesaro disse que Zacarias agiu rápido e salvou sua vida quando o vampiro arrancou sua garganta. Havia algo em seu sangue que os ligava na morte? Ele ainda a obrigou a tomar seu sangue desta última vez. Marguarita apertou os lábios com força. Ela era forte, e não cederia ao delírio. Tinha uma missão. Seja como for que seus sentimentos fossem estranhos, deviam ser falsos. A única coisa que podia importar para ela era salvar as pessoas que amava na fazenda. A chuva começou de

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novo, a garoa constante se transformando num aguaceiro implacável. Ela tinha que chegar ao rio e logo na propriedade De La Cruz para chamar os Caçadores. O fluxo estava se movendo muito rápido, levando-a rapidamente através da floresta tropical para despejá-la no volumoso Rio Amazonas . Seu coração começou a bater. Tinha que prestar atenção se queria sobreviver. O som do rio era estrondoso, abafando quase todo o resto. A canoa correu por uma curva e a água ficou ainda mais áspera e mais rápida. Ela não conseguia pensar em Zacarias ou vampiros, tudo que importava era empurrar o remo na água para não ser atirada na série de pedras que apareciam à frente. Ela viu a manobra de Julio através desse conjunto de descidas traiçoeiras e rochas conduzindo até o rio uma centena de vezes, e riu da emoção e perigo do momento. Mas confiava em sua habilidade e tinha absoluta confiança que sabia cada posição da rocha à frente. Não estava tão certa sobre si mesma. Julio permitiu a ela experimentar várias vezes, mas a água não fluía tão rápido e não estava escuro. Ela deu um aperto firme no remo e convocou seus reflexos de novo. Os olhos queimavam com a tensão quando se aproximou da série de pedras subindo pela correnteza. Forçando a respiração a sair num esforço para relaxar no passeio selvagem, sentiu a primeira descida da canoa no conjunto de pedras. Lembrou de cada manobra intrincada que Julio mostrou a ela. Repetiu o padrão com cuidado, como se ele estivesse no barco com ela, atraindo os movimentos quando desceu, mudando seu peso atrás e contornando a primeira pedra para acertar a passagem perfeitamente alinhada para a próxima queda. A água fervia em torno dela, um branco espumante na escuridão sombria. Chuva atingia o fluxo e sem sua visão superior, não seria capaz de passar pelo canal apertado que deixou quase completamente atrás para evitar uma pedra particularmente brutal. A emoção de andar pela água branca caiu em suas veias congeladas, deslizando o terror dos vampiros. Ela sempre amou as viagens pela floresta tropical com Julio. Tiveram muitas aventuras e desejava que estivesse com ela naquele momento. O próximo conjunto de obstáculos era o mais complicado, a canoa tinha que ir para pela passagem no ângulo perfeito para disparar no aumento que poderia virar o barco. Podia ouvir a voz de Julio, em seu ouvido, gritando instruções sobre como manter o remo na água para a canoa passar rente pela divisão que levava a uma curva acentuada e, em seguida, um duro empurrão que enviava o barco para a frente. Ela atingiu o abismo estreito entre as duas pedras exatamente da maneira que Julio fazia isso, contornando a água traiçoeira rolando por centímetros. A canoa atingiu as águas abertas e estava sobre o Amazonas. A corrente pegou a canoa e teve que usar toda a sua força para angular em direção ao banco. O rio estava cheio e corria rápido. Deu tudo o que tinha para remar até a borda. Onde estava, ficava um pouco rio abaixo de onde queria quando conseguiu prender um galho suspenso e arrastar a canoa para a margem. O barranco estava muito enlameado e escorregadio. Ela estava exausta, fria, úmida e miserável. Tentou escalar seu caminho até a encosta, mas escorregou de volta. O vento a pegou,

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uma força feroz, a atingindo de novo e de novo com tal poder que arrancou a trança grossa de seus cabelos, puxando para fora os fios de modo que até mesmo sua cabeça doía. Desistiu de tentar subir e se arrastou em vez disso, arranhando seu caminho até o topo, deslizando para atrás e outra vez, até que suas costas e braços doíam e tinha medo que nunca fosse capaz de levantálos novamente. A chuva, impulsionada pelo vento, picava no corpo dela quando chegou ao topo e parou por um instante tentando recuperar o fôlego. Marguarita não se preocupou em levantar, mas se arrastou pelo terreno irregular até o abrigo de uma grande sumaúma, tentando sair da chuva. Ela caiu contra as aletas grossas que compunham a raiz e tentou recuperar o fôlego. A memória do vampiro varreu sobre ela novamente. Algo sobre a diferença entre seu atacante e Zacarias escapava, mas sabia que era importante. Ela representou a família De La Cruz por anos. A maioria das famílias na fazenda nunca colocaram os olhos num dos irmãos. Ela era a única a buscar comida e remédios quando necessário, providenciar o pagamento das contas ou permitir que as famílias tomassem empréstimos em tempos de dificuldade, ganhando a lealdade da família e boa vontade. Ela fez da família De La Cruz uma das mais queridas na região. Sua generosidade, tudo bem, vinha do seu dinheiro, mas era ela quem fazia o esforço. Ela se levantou com cautela, forçando as pernas fracas a trabalhar. Sem aviso o chão rolou, jogando Marguarita de joelhos. Instantaneamente as formigas cobriram suas botas e mãos. Ela reprimiu um pequeno grito, sabendo que Zacarias não estava morto depois de tudo. Por que foi tão ridícula? Ele voltou para a fazenda e descobriu sua fuga. Ela saltou para seus pés e começou a correr sem rumo, um erro estúpido e descuidado. Mariposas gigantes flutuavam ao redor dela, atraídas pela sua luz enquanto corria. Morcegos rodando e mergulhando na captura dos insetos que foram revelados por sua lanterna. Olhos enormes a olharam por um momento a poucos passos dela, em seguida, o animal saltou sobre o tronco de uma árvore e correu para os ramos mais altos. A serpente enrolada acima dela levantou sua cabeça. O chão rolou novamente e trovões caíram. Por um momento mal podia respirar, mais uma vez uma presa congelada encurralada por um monstro. O vento corria por entre as árvores, dobrando as menores até formarem arcos. Marguarita se abrigou na raiz da grande sumaúma tentando se forçar a pensar — a não entrar em pânico. Agarrando as raízes, olhou para a floresta. Tinha razão ao acreditar que era um vampiro. Os insetos ferviam saindo do chão e corriam para os troncos de árvores ao seu comando. Cobras venenosas deslizavam através da vegetação úmida e sanguessugas arrastavam nas folhas num esforço para chegar até ela. Tudo que sabia sobre vampiros voltou para ela, juntamente com a memória da um atacando-a. Ela estremeceu, a necessidade de se enroscar numa bola e se esconder era quase esmagadora. Ainda podia sentir seu hálito fétido, ver sua carne apodrecendo, e as feias garras retorcidas que tinha como unhas. Seus olhos desapareceram completamente no vermelho quando

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olharam para ela, tentando arrancar as informações do paradeiro de Zacarias de sua mente. Ela se concentrou em manter sua mente em branco, os escudos fortes, se recusando a desistir do mais velho da família dos De La Cruz. O vampiro assassinou seu pai e ia matá-la — sabia disso com certeza — mas também sabia que Zacarias ou um de seus irmãos caçariam o vampiro e o destruiriam. Ele nunca mataria novamente. Ela percebeu isso, mesmo quando a criatura horrível mostrou seus dentes afiados e ameaçou arrancar sua carne fora e comer na frente dela. Ela estremeceu lembrando dos olhos vermelhos e sua respiração. Aquele cheiro horrível de carne em decomposição. Marguarita sentou reta. Tão assustado quanto esteve por Zacarias, não foi igual. Não havia o cheiro terrível de podre. Vampiros não apodreciam por dentro? Ele a assustou — não — apavorou. Ela tocou a marca que ele fez, a esfregando com a ponta de seu dedo. O ataque não foi igual. Não parecia mal. Ou vampiro. Parecia um predador perigoso, assustador, mas não mal. A revelação a chocou. Zacarias era um animal selvagem, uma criatura feroz que caçava e matava pela sobrevivência. Não era um vampiro, não que isso importasse. Não ia voltar para a fazenda. Não enquanto ele estivesse por perto. Ela temia poucas criaturas, mas Zacarias era uma coisa completamente diferente. A marca que deixou nela latejava, queimava um pouco, a lembrando que nenhum animal na floresta era tão imprevisível ou violento. A forma como veio para ela, propositalmente, com o rosto sem expressão, sua boca numa linha cruel implacável, seus olhos planos, frios e sem piedade. Sua boca ficou seca e seu coração começou a saltar novamente. Não poderia ter se movido, mesmo se quisesse, congelada no lugar como uma presa encurralado. Que era exatamente como se sentia — uma presa. Sabia que deliberadamente a assustou. Tentou se conectar com ele como fazia com os bichos selvagens, e por um momento pensou que ele respondia, mas depois ele ficou pior que nunca. Era perigoso, mas não era nenhum vampiro. Tinha que se abrigar e determinar seu próximo passo, e isso significava encontrar as marcas nas árvores que Julio esculpiu para mostrar o caminho. Tinha que voltar atrás e fazer o caminho até o ponto onde geralmente puxavam a canoa da água. Esperou o vento feroz diminuir um pouco e levantou para caminhar com cautela longe do abrigo da árvore. Os ramos sobrecarregados gemeram e rangeram e ela olhou para cima. Morcegos penduravam em cada galho, e se lançavam ao redor da árvore, disputando espaço. No início, achou que estavam lá para comer os frutos, mas não estavam comendo. Mais e mais estáveis nos ramos, penduravam de cabeça para baixo, as asas dobradas, os olhos pequenos brilhantes olhando para ela. Um arrepio passou por ela. Se fugiu de Zacarias só para tropeçar num covil de vampiro? Sabia que usavam morcegos e insetos como fantoches, às vezes. Se afastou da árvore e quase caiu sobre um tronco podre. Cupins derramaram da madeira. Ela apertou os lábios, se recusando a entrar em pânico. Tinha que pensar, tomar uma decisão e não podia fazer isso se permitisse partir-se em pedaços.

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Ela olhou para os morcegos. Muito gentilmente chegou até eles, enviando uma onda quente de saudação, cuidadosa para não forçar muito. Seu toque era muito delicado, mas ela se conectou. Deveria ser capaz de sentir o mal, se estivessem sendo comandados por não-morto, mas pareciam morcegos comuns, ansiosos para cuidar de seus negócios. Estavam com fome, precisando se alimentar, mas algo os deteve — os usou — os comandou. Estava usando insetos e morcegos para ficar de olho nela. Ele queria saber onde ela estava e enviou espiões. Uma ideia se enraizou e avaliou a situação, tentando pensar logicamente. Talvez os morcegos fossem o tipo errado de espiões para usar contra ela. Ela tinha seu próprio dom com os animais e insetos e era muito possível que pudesse trazer todos para o lado dela. Ela olhou para os morcegos e enviou novamente outra onda calorosa e acolhedora, os incentivando a ir em frente e comer. Ficariam lentos se fizessem as duas coisas, a seguir e ainda comer ao longo do caminho. Para alguns morcegos enviou a impressão de frutas, enquanto para outros de insetos. Ele misturou as espécies. Ela sorriu para as pequenas criaturas, o sentimento de parentesco chegando quando tocava um animal com sua mente. Estavam ligados à Zacarias através do medo, através de seus comandos, mas ela realmente formava um vínculo com eles, uma espécie de empatia que era mútua. A maioria dos animais e até mesmo alguns insetos fortaleciam o relacionamento, sentindo a profunda ligação entre eles. Queria formar essa afinidade com os morcegos que Zacarias escolheu para espioná-la. Marguarita manteve o fluxo de calor e o convite para comer. Um morcego tomou a iniciativa, talvez estivesse com mais fome que os outros, mas voou para as frutas próximas e se acomodou para comer. Imediatamente os morcegos encheram o ar, se fixando nos muitos frutos da festa, enquanto outros iam atrás de insetos. Ela não cometeu o erro de se apressar para sair, isso desencadearia a necessidade de seguir as ordens que Zacarias deu. Estava exultante quando encontrou o ponto onde Julio e ela geralmente encalhavam sua canoa. A água estava por toda parte, pingando das folhas, descendo pelas encostas e montanhas e criando centenas de pequenas quedas d'água. A água se juntava em poças e cobria o chão da floresta, encontrando seu caminho para escoar no rio Amazonas. O som dele estava sempre presente —como o zumbido contínuo dos insetos. Ela angulou longe do fluxo alto da água indo em direção ao interior. Julio marcou os galhos — quando eram crianças — mas, eventualmente, as plantas subiam em tudo, caules, ramos, troncos, e mesmo as folhas de outras plantas se envolviam ao redor das árvores. A vegetação era tão espessa que a maior parte da casca ficava oculta, então não valia a pena cortar as árvores. Não demorava muito para as marcas serem cobertas. Subindo pelas árvores estavam os cipós, usando as árvores como portais para a luz acima do dossel. Samambaias apenas se adicionavam à mistura, se incorporando na casca, bem como, subindo em direção à luz do sol. Raízes grossas serpenteavam pelo chão da floresta, ancorando as árvores grandes na terra, enquanto os topos atingiam alturas até as nuvens. As raízes das árvores gigantes estabilizavam e

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alimentavam as enormes árvores, algumas se torcendo em formas elaboradas, enquanto outras formaram grandes aletas de madeira. Independentemente de como pareciam, as raízes dominavam o chão, alegando grandes espaços e dando abrigo a morcegos, animais e centenas de espécies de insetos. Julio e Marguarita cortaram marcas profundas nas raízes e ambos sabiam onde olhar, mesmo no meio das trepadeiras e samambaias que conseguiam se envolver entre as aletas da ramificação. Ela empurrou as samambaias verdes brilhante de lado e com certeza a raiz estava lascada, deixando uma cicatriz resistente. Ela se moveu lentamente, continuando a enviar comunicações para os morcegos. Calor. Respeito. Parentesco. Nenhum comando. Nenhuma exigência. Zacarias precisaria buscar as trevas do solo antes do sol nascer. Apenas mais algumas horas. Podia enganá-lo nesse tempo. Os morcegos eram muito receptivos e não deram nenhum alarme, mesmo por que não estava correndo ou tentando se esconder deles. Puxou os morcegos para seu próprio sistema de alerta, esperando reconhecer seu alerta quando um predador estivesse próximo. Surgiu um gigante tronco caído em seu caminho, antigo, mudas já preenchendo o vazio que deixou. O tronco podre estava coberto de insetos, fungos e plantas rasteiras. O estudou com cuidado, consciente das cobras perigosas e sapos venenosos que podia facilmente tocar ao subir sobre ele. Não havia mais nada que pudesse fazer, não sem voltar seu caminho, algo que não queria fazer à noite numa floresta tropical. Ela se adiantou e estendeu a mão, determinada a subir, empurrando os insetos venenosos e as rãs com sua mente, na esperança que se afastassem dela. Mãos pegaram sua cintura e a puxaram de volta contra um corpo rígido. —Você é estúpida, mulher, ou simplesmente gosta de se colocar em perigo? — A voz de Zacarias ronronou em seu ouvido, uma ameaça macia que gelou sua própria essência.

CAPÍTULO 5 Marguarita ficou imóvel. E se estivesse errada? E se fosse realmente vampiro? A marca que Zacarias deixou ao lado da sua garganta latejava e queimava. Sua respiração agitava o cabelo na sua nuca... Ela enrijeceu. Seus dedos roçaram sua pele, se movendo pela trança pesada de seu cabelo. Seu corpo estava apertado contra o dela para que pudesse sentir cada respiração que dava. Ele cheirava selvagem, uma criatura selvagem, perigosa a prendendo longe de qualquer. Seus músculos colados nela, sentindo cada batida do coração dele. Sua pergunta penetrou em sua mente. Estúpida? Ele realmente perguntou se era estúpida? A fúria queimou através dela, se misturando ao medo. Calor derramava em sua mente, anunciando Zacarias. Antes, quando a atingiu, penetrou profundamente, invadiu e conquistou. Isto era diferente. Desta vez usava um ataque lento, um calor se espalhando como melaço, enchendo sua mente — com ele. Sua respiração ficou presa na 52


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garganta e ela mordeu o lábio inferior. O calor não estava apenas em sua mente, se espalhava através de seu corpo, uma lava espessa, que enchendo suas veias um centímetro de cada vez, se movendo mais e mais. Seus seios estavam pesados e doloridos. Os mamilos duros. Seu núcleo ficou mais quente. Sua reação física à sua invasão era mais que preocupante —era tão horrível como ele mordendo seu pescoço. Cada instinto gritava para ela correr, mas nem sequer lutava, horror e fúria a mantendo no lugar. Suas mãos a enjaulavam, acomodadas em sua cintura, mãos grandes, moldando seus quadris, parecendo muito possessivas. Chamas lamberam sua pele direto através de suas roupas, onde ele a tocava. Ela nunca teve uma reação tão feminina para um homem em sua vida. Ela ouviu como o perigo podia se mascarar em sedução e agora podia testemunhar esses rumores. Zacarias era tão sensual como um homem podia ser, iniciando um incêndio que queimava lento dentro dela. Marguarita estremeceu, temendo por sua própria alma. Ela fez o sinal da cruz numa tentativa silenciosa de se salvar. —Sei que pode me ouvir, se eu falar em voz alta ou dentro de sua mente. Seu sangue chama o meu. Minhas respostas. Não finja que não pode me ouvir. Ela umedeceu os lábios. Não era estúpida. Um pouco atordoada, talvez, mas o entendia. Simplesmente não entendia a si mesma ou o que estava acontecendo com seu corpo. Ela tremia, querendo se livrar da mão dele, mas queimava por ele. Podia ouvir seus batimentos cardíacos, o som ecoando em suas próprias veias. Ele se inclinou mais perto até que seus lábios tocaram sua orelha. —Se não é estúpida... — A mão escorregou de seu quadril até a cintura, queimando suas roupas até que sua pele estava marcado com a marca de sua palma. A outra lentamente envolveu em torno de seu pescoço, um dedo de cada vez. Ele forçou sua cabeça para trás até que ela descansou contra seu peito, até que não tinha escolha a não ser olhar em seus olhos escuros, implacáveis. Olharam um para o outro, presos juntos em algum combate estranho que ela não entendia. —Então deseja morrer? Sua voz não apenas sussurrava em seu ouvido, mas sobre sua pele, tocando as terminações nervosas, o rastro dos dedos roçando delicadamente, moldando seu corpo. A sensação era tão real que ela estremeceu, o medo a sufocando. Ela engoliu em seco contra sua mão. Mudamente ela balançou a cabeça. Era impossível desviar o olhar dele. Seus olhos eram convincentes, tão escuros e insondáveis, calor e fogo, onde antes pareciam tão planos e frios. Havia algo real dentro dele, ela podia ver em seus olhos. Não era inteiramente uma máquina de matar, nem era o nãomorto como acreditou inicialmente, aqueles olhos estavam muito vivos. Seu corpo estava quente demais — muito duro. Marguarita alcançou a parte animal dele, a maior parte dele. Há muito tempo ele perdeu toda a civilidade, ou talvez tivesse nascido como era agora, sua maior astúcia, selvagem e

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extremamente territorial. Ela entendia os animais, até mesmo os perigosos predadores. Deixando de lado o medo do Cárpato, ela se concentrou no animal, tentando encontrar uma maneira de acalmá-lo. Ela não esperava que fossem amigos, não mais que esperava de uma onça, mas encontrou um dos grandes felinos e ambos seguiram seus próprios caminhos, sem animosidade. Esperava o mesmo com Zacarias. O problema era que a confundia muito mais que um grande felino — ou ave de rapina. Ela sentiu o calor fluindo que sempre precedia a conexão. E foi mais fácil do que ela acreditava, como se já soubesse o caminho, como se estivesse bem usado. Ela o acalmou como faria com algo selvagem, uma abordagem suave, o tocando suavemente, acariciando com a mente para tranquilizar e acalmar. Zacarias abruptamente recuou para longe dela, deixando cair suas mãos, seus olhos ficando gelados e mais assustadores do que nunca. —Você é uma maga. Era uma acusação, uma maldição, uma promessa de retaliação sombria. Marguarita balançou a cabeça vigorosamente negando a acusação. Não tinha ideia de por que estava a acusando de ser maga — um ser que podia lançar feitiços. Isso estaria mais próximo dele do que ela — era o único que o considerava. Se seus olhos fossem qualquer coisa próxima, nenhum mago ia querer lançar um feitiço em torno de Zacarias De La Cruz e certamente não ela. —O que é, então? — Ele exigiu. Ela franziu o cenho. A resposta deveria ser óbvia, mas então pensava nele como um selvagem animal feroz, talvez estivesse mais perto do alvo do que sabia. Eu sou apenas uma mulher. Zacarias estudou o perfeito rosto pálido à sua frente por um longo tempo. Estava suja de lama. Esgotada. Seu rosto em forma de coração era todo olhos, enormes e assustados. Eu sou apenas uma mulher. Cinco simples palavras, mas o que ela queria dizer? Conhecia mulheres — mas nenhuma como ela. Era muito mais que apenas uma mulher. Procurou suas memórias e ele tinha muitas ao longo dos séculos, mas ninguém nunca prendeu seu interesse, não como esta mulher fez. Olharam um para o outro por um longo tempo. —Vai voltar para a fazenda comigo. — Afirmou ele. Declarou. Deu a ordem e esperou por sua típica reação de desobediência. Talvez ela tivesse alguma enfermidade que obrigava a fazer o oposto de uma ordem direta. Ele viu sua garganta trabalhar, um delicado engolir, e outra onda de medo tomou conta dela, rapidamente suprimida — não mostraria medo por um predador. Ele sabia que ainda estavam muito ligados e que ele sentia suas emoções. Era interessante se ver através de seus olhos. Sabia, numa base estritamente intelectual, que os outros animais, incluindo os homens, pensavam nele como assassino, mas não tinha uma reação visceral ao conhecimento. Conectado como estava com ela a um nível primitivo, sentiu suas emoções como se fossem as dele e foi — desconfortável.

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Sua língua lambeu naquele pequeno arco perfeito de seu lábio inferior. Ela se afastou muito lentamente, sentindo o arranque para terra firme. Ele balançou a cabeça e ela parou imediatamente. Zacarias lia os pensamentos dela facilmente em seu rosto. Ela queria correr e não se importava se alguém — incluindo ele — considerasse o ato covarde. Seu instinto de sobrevivência era forte agora. Se sacrificou uma vez. No que dizia respeito a ela, era suficiente. Ela foi punida. —Não terminei com você, mulher. Vai voltar para a fazenda comigo enquanto descubro o que está acontecendo. E não vai sair de novo sem minha permissão. Isso a alcançou. Ele podia ver as nuvens de tempestade se reunindo em seus olhos escuros. Ele não conseguia desviar o olhar, mesmo se quisesse. Seus olhos não eram um cinza maçante como o mundo ao seu redor. Nem seu cabelo. Ambos eram ébano rico, uma profunda negro meianoite, uma ausência de cor verdadeira. Sua boca o fascinava. Os lábios dela deveriam ser cinza ou brancos sem graça, mas jurava que eram um rosa mais escuro. Ele piscou várias vezes para tentar se livrar da impressão, mas a estranha cor permaneceu, deixando-o um pouco tonto. Ela o fascinava como nenhuma outra podia fazer. O queixo de Marguarita se ergueu. Se vai me matar, faça-o aqui. Agora. Uma sobrancelha subiu. —Se eu for te matar, escolho a hora e o lugar, não serei guiado por uma mulher que não sabe o significado da obediência. Ela puxou uma caneta e o bloco de notas do bolso e começou a escrever. Zacarias arrancou os dois itens de sua mão e os pôs no bolso. Utilize nosso laço de sangue. Mudamente ela balançou a cabeça e alcançou seu bolso. Ele balançou a cabeça decidido, não mais chocado que ela o desobedecesse. Estava certo que ela tinha uma alguma enfermidade rara, uma peculiar desordem mental desde o nascimento, que a obrigava a fazer o oposto do que qualquer figura autoritária dizia a ela. —Li todas as 47 cartas esta noite. Não quero ler outra. Todas as 47? Entrou no meu quarto? Estavam no cesto de lixo. Jogadas fora. Obviamente não significava que eram para você ler. Então, ela usava o laço de sangue, quando escolhia. Algo perto de satisfação cresceu nele. O medo desapareceu o suficiente para que ela respondesse muito mais que naturalmente a ele. —É claro que foram feitas para eu ler, kislány kunenak minan — minha pequena lunática. Estavam claramente dirigidas ao Señor Zacarias De La Cruz. — Ele abaixou um pouco. —Muito formal e adequado para você. Alguém poderia pensar que é capaz de obedecer instruções simples. Dê-me de volta meu papel e caneta. —Vai usar o laço de sangue entre nós. — Sabia que a incomodava, porque era uma forma muito mais íntima de comunicação, mas se encontrou desejando a intimidade de seu vínculo.

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Os olhos dela ficaram ainda mais escuros, viraram obsidiana, queimando como pedras de fogo brilhantes. Ela apertou os dentes numa mordida encaixada. A brancura deles chamou sua atenção. Sem pensar, agarrou seu braço e a puxou para perto, virando sua cabeça na direção dele para que pudesse ver a intensa cor branca e luminosa, como pequenas pérolas. Não cinza. Não era o sujo marrom branco que estava acostumado. Por um momento, não havia mais nada no mundo, só os pequenos dentes brancos e seus incríveis olhos quase pretos. Algo o atingiu no peito, não muito forte, ele mal notou, mas seu gritinho o fez olhar para baixo. Ela bateu as palmas das mãos contra seu peito e, obviamente, se machucou. Franziu o cenho para ela. —O que está fazendo agora? Estou batendo em você, seu bruto. Qual é a sensação? Ela tinha temperamento. Ele reconhecia o fogo queimando agora. Se machucou, porém, e na verdade, mal sentiu a coisa. —É disso que você o chama? Realmente é um pouco louca. Não admira que Cesaro tentasse tirá-la da casa. Ele temia que eu ficasse chateado com sua insanidade. Insanidade? Marguarita fechou o punho e deu um soco nele. A julgar pela forma como ela golpeou, alguém a ensinou a lutar. Ele se abaixou de lado antes que ela pudesse acertar o golpe e a pegou, girando em torno dela, cruzando os braços sobre os seios e a segurando apertada contra seu corpo. Sua respiração saiu numa explosão de som que o chocou. Ele ficou muito quieto, descansando sua boca contra o pescoço, contra o pulso quente que batia tão freneticamente e o chamava tão alto. Riso? Ele riu? Ele realmente riu? Era impossível. Ele nunca riu. Não que se lembrasse. Talvez quando criança, rapaz, mas duvidava. De onde veio o som? Seria possível que esta mulher louca, estúpida fosse sua companheira? Por tudo que era santo, não podia ser. Ele não podia de forma alguma estar ligado a alguém incapaz de seguir o mais simples dos sentidos. E suas emoções e cores deveriam ter retornado de uma vez. Mas sinceramente, se sentia mais vivo naquele momento do que em mil anos. Como ele, ela estava imóvel em seus braços novamente, como um coelho assustado. Ela estremeceu, suas roupas molhadas e enlameadas grudadas à sua forma suave, feminina. No momento que tomou conhecimento que ela estava com frio, ele retirou a lama e a chuva de sua roupa, seu corpo aquecendo o dela. Essas coisas eram naturais para sua espécie, e com ela, precisava lembrar de coisas mundanas. —Vou desculpá-la por que você não tem uma mãe para ensiná-la a etiqueta apropriada, mas minha paciência só vai somente até aqui. — Ele sussurrou as palavras contra seu ouvido, determinado que soubesse quem estava no comando. Certamente não um pedacinho de gente, tão bobo que saia na floresta tropical sem escolta e à noite. —Tem certos deveres. Conheço meus deveres. Que horas são?

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Confuso, olhou para o céu fervente. —Cerca de quatro horas da manhã. Exatamente. Estou de folga. Este tempo é meu. Estava tentado a morder aquele ponto doce entre o pescoço e o ombro, como punição por sua rebeldia contínua. —Quando um De La Cruz está na residência, você fica no dever do pôr do sol ao amanhecer. Ou sempre que eu disser. O jelä peje terád, emni - que o sol queime você, mulher. Não discuta comigo. Não aprendeu nada na últimas horas? Não vai sair sem escolta, a qualquer lugar. É uma mulher. Uma mulher única. E vai ter um acompanhante a todos os momentos. Ela não fez nenhum som, mas ele sentiu sua rejeição absoluta ao seu decreto. No fundo, veio de novo aquele som estranho que começava em sua barriga e brotava como bolhas de champanhe. Por tudo que era santo, ela o fazia rir. Sentia-se divertido. Esta mulher pequena trouxe o riso à sua vida. Até que descobrisse por que ela tinha tal poder sobre ele, não ia sair do seu lado. Ela podia negar sua autoridade tanto quanto quisesse, mas ela estava prestes a descobrir o que e quem era o dominante em sua vida. Ele inalou o cheiro dela e se encontrou lutando contra a chamada do seu sangue. Ele o provou em sua boca. O gosto requintado e raro, além de qualquer coisa que já conheceu estourando em sua boca, escorrendo pela garganta para se infiltrar em suas veias, vertendo através de seu corpo como ouro derretido. Sua pele era tão quente e macia, seu pulso o chamando. Ele fechou os olhos e simplesmente ouviu o ritmo do seu coração. Ele não estava com fome, mas ansiava por ela, como um vício, querendo morder, sentir sua carne macia... Suas mãos deslizaram ao longo de seus pulsos, acariciando, as palmas das mãos roçando seus seios. Seus mamilos estavam duros com frio ou excitação. Não podia fazer sua mente parar tempo suficiente para descobrir qual. Todos os seus sentidos, todo seu ser estava focado em seu corpo. Na forma dela. Na sensação dela. O tempo retardou. Um túnel. Havia apenas suas mãos deslizando sobre ela, tocando seus seios, seus polegares roçando os mamilos duros. O coração martelando. O dela respondendo. Calor correu para ele. O encheu. O sangue golpeou através de seu centro, correu para seu pau, até que estava duro, grosso e dolorido — e chocado. Seu corpo queimava de dentro para fora. Havia um rugido estranho em sua cabeça. Parecia estar em chamas, as chamas queimavam sua pele, corriam em suas veias. Imagens eróticas encheram sua mente, seu corpo se contorcendo debaixo do dele, um milhão de coisas que viu em sua existência, um milhão de maneiras de fazê-la sua. Ele viu essas coisas, mas nunca pensou nelas. Nenhuma vez em toda sua existência, cogitou a ideia de tomar uma mulher sem consentimento. Nunca considerou enterrar seu corpo no fundo de uma mulher e fazer o que quisesse com ela — até aquele momento. As imagens e sua necessidade terrível, brutal o sobrecarregavam. Minúsculas gotas de sangue pontilhavam sua pele, suando como nunca fez. Sentiu-se nervoso, fora de controle, pelo terrível desejo insano que se espalhava de sua necessidade por seu sangue até a necessidade do corpo dela.

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Ele a empurrou para longe dele, puxando uma respirando profundamente, em grandes goles de ar para deter a loucura queimando através dele. Sabia que sua alma estava em pedaços, mais como uma peneira costurada junta com pontos minúsculos e frágeis, mas isto — isso o destruiria — destruiria sua honra. Limpou o suor de seu rosto e olhou para as manchas de sangue em suas mãos. —O que você é, mulher? Me enfeitiçou. Ela balançou a cabeça em silêncio, tão pálida que quase brilhava na escuridão. Não. Juro que não fiz. Não sei por que isso está acontecendo com você. Ela o sentiu, sentiu a crescente demanda de seu pênis pressionando contra seu corpo com demanda urgente. —Não vai me controlar. Eu não estou tentando. Ela deu dois passos para longe dele, olhando para o bojo grande na frente de suas calças. Ele viu o momento exato que o medo levou a melhor sobre ela e ela se virou e correu dele. Zacarias respirou fundo outra vez e lentamente abriu os braços, acolhendo outra forma, precisando aliviar sua forma masculina humana. Penas estouraram ao longo de sua pele quando mudou. Desta vez, a harpia era enorme. Ele levantou voo, permanecendo baixo quando a perseguia. A águia se torceu e virou, facilmente fazendo seu caminho através das árvores, caçando sua presa. Pairava sobre ela. Ela olhou acima do ombro, os olhos arregalados de terror quando ele mergulhou, suas garras a alcançando, a prendendo enquanto ela corria, e a levantando para o ar, a força enorme de Zacarias ajudando a grande harpia. Marguarita lutou, mas quando ele a levou mais alto, sua envergadura gigantesca batendo para ganhar altura, e a terra desapareceu, ela ficou absolutamente imóvel, com as mãos envolvendo em torno das pernas do pássaro. Uma vez que ganhou altitude, ele acelerou seu caminho através da floresta tropical de volta para a fazenda. Harpias facilmente voavam uns bons 80 km por hora quando queriam, e com o vento feroz às suas costas, o pássaro rapidamente cobriu a distância, alcançando o rancho em tempo recorde. Zacarias soltou Marguarita suavemente na grama do lado de fora da porta da frente. Ele mudou quando seus pés tocaram o chão ao lado dela. Ela não tentou correr, mas ficou em silêncio, as mãos pressionadas firmemente sobre sua cintura, onde as garras a apertaram. Zacarias se abaixou e a pegou em seus braços, embalando-a em seu peito. Os olhos dela viam metade do rosto dele e o temor estava de volta, todos os traços de temperamento partindo. Ela não podia gritar e sua boca não estava aberta para tentar pedir ajuda, o que o perturbava mais do que deveria. —Não olhe para mim desse jeito, — ele retrucou. —Se simplesmente viesse comigo sem barulho, eu não teria que arrastá-la de volta assim. Ninguém nunca te falou de consequências? Ela desviou o olhar, deslocando seu olhar para algum lugar acima do ombro dele, mas não conseguiu conter o arrepio que passou por ela. Talvez sua voz fosse muito dura. Tinha que lembrar

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de sua enfermidade. Seu pai certamente deveria ter abordado sua necessidade de desrespeitar a autoridade, mas estava lá agora, e não tinha dúvidas que podia fazer o trabalho. Ele acenou com a mão para a porta e ela se abriu para ele. Entrou com Marguarita em seus braços e a colocou no sofá, enquanto colocava as salvaguardas de volta. Teceu intrincadas salvaguardas muito fortes em torno de toda a estrutura, levando seu tempo, determinando que ninguém entrasse e ninguém saísse enquanto ele dormia. Os trabalhadores em suas propriedades sabiam quando um De La Cruz estava na residência, e que não deveriam ser perturbados durante o dia. Quando ficou satisfeito que ninguém — nem mesmo um de seus irmãos — poderia passar através de sua trama, virou para estudar a mulher que encarnava a palavra mistério. Marguarita sentou lentamente. Ele a viu recuperar o fôlego e a dor atravessou seu rosto. Ele franziu o cenho e se aproximou dela. O cheiro de sangue o atingiu. Zacarias a puxou de pé. Ela manteve as mãos firmemente pressionadas na cintura. Ele podia ver pequenas gotas vermelhas escorrendo por entre os dedos. Os humanos não se curavam. Não passou nenhum tempo em torno de humanos nos últimos anos. Se alimentava e ia embora, um fantasma no meio da noite que ninguém nunca via ou lembrava. —Deixe-me ver. — Ele suavizou sua voz enquanto seu olhar saltava para o dele. —Tire as mãos, mulher. Preciso ver o estrago feito. Aparentemente parecia ameaçador, quando usava um tom baixo, porque ela estremeceu, mas não conseguia se mover. Muito gentilmente ele agarrou seus pulsos e tirou suas mãos. As feridas das garras enormes da harpia se envolviam em torno dela, da frente para trás de ambos os lados. Devia ter pensado no que essas garras fariam a sua carne humana, não sobre sua rebeldia. Observando seu rosto, cuspiu em suas mãos. Sua saliva não só ajudaria a fechar os furos, mas também tinha agentes anestésicos que parariam a dor enquanto ele a curava. Ele encaixou facilmente as palmas das mãos sobre as marcas, as pressionando, suas mãos quase cobrindo a barriga. —Vai se sentir quente, mas não vou machucá-la, — assegurou a ela. Ela tremia tanto que não estava certo que pudesse permanecer em pé. Seus olhos o olhavam com a aparência exata que via nas presas de cobras. Ela o olhava fascinada e aterrorizada, incapaz de afastar o olhar. —Pare de me temer. — Quis que tivesse medo, mas agora desejava que pudesse levá-lo de volta. Ela parecia muito frágil, vulnerável, e tão sozinha. —Não vou permitir que nada aconteça a você. É meu dever cuidar de você. — Estava dizendo a verdade a ela. Nada levaria essa mulher dele, certamente não a morte. Por algum milagre ou truque demoníaco, finalmente estava voltando à vida, seu corpo renascido, sua mente mais uma vez intrigada. Ele olhou ao redor da sala e tudo permanecia de um cinza maçante. Quando olhou para ela, podia ver a cor emergindo, fraca, mas lá. Seus cílios eram tão negros como a incrível trança de seu cabelo. Os olhos enormes chocolate escuro profundo olhavam para ele. Suas sobrancelhas eram negras. Seus lábios definitivamente rosa. Cores só podiam ser restauradas por uma companheira.

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Emoções e essas reações desconhecidas por ela, só podiam ser restauradas por uma companheira. O fato que seu corpo reagiu fisicamente a ela era surpreendente, problemático e estimulante, ainda mais se podia sentir alegria. Mas uma companheira restituiria as coisas instantaneamente. Magos se infiltraram, ocupando a fazenda vizinha apenas alguns meses antes, ganhando tempo na esperança de destruir a família De La Cruz. Dominic e Zacarias os pararam, mas havia uma pequena chance que a Aliança entre os Mestres Vampiros e magos se mantivessem e os magos encontrassem um caminho de volta para outra tentativa. Se Marguarita estivesse sob um feitiço mago, ele saberia. Tanto quanto continuava voltando à explicação, um medo crescia nele por saber a real explicação. Se Marguarita realmente fosse sua companheira, então algo deu errado, e temia saber a resposta para isso. Ele não a encontrou a tempo. Sua alma estava em frangalhos, já além do reparo. Sua outra metade não poderia a selar, não poderia trazer luz à escuridão absoluta dentro dele. Não era nenhuma surpresa que ele fosse uma causa perdida. Provavelmente nasceu assim, mas ainda assim, houve uma época em que sonhou com este momento, quando imaginava uma companheira e até mesmo procurava ativamente por uma. As palmas das suas mãos ficaram quentes quando empurrou o calor através de seu corpo no dela. Seus pulmões lutavam por ar e ele propositalmente respirava por ela, a acalmando, o ar fluindo naturalmente através do seu até que seu corpo seguiu o mesmo ritmo. Seu coração batia tão forte que ele temia que ela tivesse um ataque cardíaco. —Apenas respire, mića emni kunenak minan — minha linda lunática. — Havia uma dor inadvertida em sua voz, um luto pelo que perdeu muito antes que encontrasse. Marguarita olhou para o rosto forte de Zacarias De La Cruz. Era um rosto esculpido em pedra, cinzelado pela batalha e idade, mas estranhamente atraente. Um homem que jamais foi um menino, todo guerreiro. Pela primeira vez, no fundo de seus olhos, ela viu a tristeza. A emoção era profunda e real e, quando tocou sua mente, quis chorar. Ele não parecia perceber a profundeza de sua angústia, ou talvez simplesmente não reconhecesse as emoções, mas a fez querer chorar por ele. Ele era completamente independente, não precisava de ninguém. Tão poderoso. E tão completamente sozinho. Ele infligiu dor, medo nela e, em seguida, tão gentilmente curou suas feridas. Talvez estivesse um pouco louco por ficar sozinho por tanto tempo. Cada vez que a chamava de alguma coisa em sua língua, sua voz suavizava quase como uma carícia, suas palavras se envolviam em torno dela como braços fortes. Infelizmente para ela, essa qualidade solitária, selvagem dele atraía sua compaixão. Estendeu sua mente para a dele, o acalmando automaticamente, enviando carinho e compreensão. Sem pensar, ela ergueu a mão para tocar as profundas linhas esculpidas em seu rosto. Ele pegou o pulso dela, a assustando. Ela não sabia que realmente pensava em tocá-lo. Doía seu pulso pela força que sua palma bateu em sua pele. Ele era tão duro como uma árvore sumaúma, sua carne não cedendo. Seus dedos rodearam seu pulso com facilidade, apertando como um torno,

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tornando impossível se afastar. Seu coração bateu forte em seu peito e ela piscou para ele. Sua respiração explodiu de seus pulmões. Ela conseguiu agitar o tigre de novo, sem sequer pensar. Sinto muito. Verdadeiramente. A suspeita em seus olhos era tão cautelosa como a de uma criatura selvagem e não conseguia impedir o fluxo de compaixão e calor de sua mente para a dele. Ela sentia como se precisasse acalmá-lo. Ele não pertencia dentro de uma casa. Não havia como quatro paredes conter seu poder ou sua natureza selvagem. Ela não podia imaginar nada nem ninguém ficando à vontade ao seu redor. Era muito dominante, assumindo a sala, suas maneiras aristocráticas e autoridade dura aumentando a aura aterrorizante que o rodeava. —Estava pensando em me acariciar? Não havia sarcasmo em seu tom, apenas sua pergunta ferida. Ela lambeu os lábios secos e, de repente sacudiu a cabeça. Não sabia o que estava fazendo. Se tivesse seu papel e caneta — talvez pudesse tentar se expressar, mas se sentia isolada do mundo na maioria das vezes, como agora. Como tentaria com meras impressões transmitir a forma como seu dom estranho se manifestava? Não estava nem mesmo certa de como seu dom funcionava. Só sabia que tudo nela se estendia para a selvageria dele, à sua alma torturada, austera e solitária e sua necessidade. Ele nem sabia que tinha necessidade. Como podia explicar quando não tinha voz? Sinto muito, ela repetiu, incapaz de pensar no que fazer. A expressão de Zacarias permaneceu absolutamente de pedra quando levou a ponta dos dedos dela ao rosto e os manteve ali. —Não se desculpe. Eu não vou. Seu estômago deu algumas cambalhotas estranhas com o toque da ponta de seus dedos na sua pele. —Se quiser me tocar, tem minha permissão. Pela primeira vez desde que o vampiro a atacou, estava feliz que não pudesse falar. Não haviam palavras. Nada. Deveria estar irritada com sua condescendência aristocrática, mas queria sorrir. Não tinha desculpas. Qualquer que fosse a compulsão que o preocupava, obviamente, trabalhava nela também. E sem sua caneta e papel se sentia vulnerável, despida, incapaz de se comunicar. Ela engoliu em seco e balançou a cabeça, pensando um pouco histericamente se ele achava que ela deveria agradecer seu consentimento. Ele largou sua mão, deixando a dela contra seu queixo sombreado. Ela apertou sua mão no pescoço escuro e sentiu seu coração alcançar o dele. A sensação foi tão forte que a assustou. Soltou a mão abruptamente e se afastou, confusa por suas reações a ele. Estava com muito medo dele, mas a tristeza pesava tão forte sobre ela que não podia deixar de sentir compaixão. Ela fez isso com ele. Era culpada e não havia como contornar isso. Ele veio aqui para acabar com sua vida honradamente, e ela o impediu, deixando-o mais uma vez na solidão de seu mundo

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sombrio. Se havia um homem que era uma ilha em si mesmo, era Zacarias De La Cruz. Ela não podia ver seu mundo solitário, mas sentia a ponta do mesmo e isso era suficiente para fazê-la ter vontade de chorar para sempre. Ela lhe devia e uma Fernandez sempre pagava suas dívidas. Eu não sabia o que fazia quando o impedi de terminar com suas responsabilidades. Se pudesse voltar atrás e desfazer... — Será que faria? Poderia estar por perto e deixá-lo morrer? Seus ombros caíram. Não podia mentir para ele. Nunca seria capaz de ficar lá enquanto ele se queimava ao sol. Estava além da sua capacidade. Ela levantou os olhos infelizes para os dele. Sinto muito. Havia algo mais que pudesse dizer a ele? Zacarias estudou seu rosto por tanto tempo que ela começou a pensar que ele não falaria novamente. Então, seu olhar desceu, à deriva sobre seu corpo, estudando sua forma feminina como um dos fazendeiros avaliando cavalos. Ela mordeu forte o lábio para se impedir de empurrá-lo para longe dela. Não era um cavalo. Ela devia sim, mas se desculpou mais de uma vez. E ele não tinha que olhar para ela como se fosse um micróbio. Seu olhar saltou de volta para seu rosto, travando no dela. —Estou lendo seus pensamentos. — Sua mão caiu na dela. Ele ergueu o punho fechado no peito e um por um abriu dedos. —Está um pouco mal-humorada, não é? E muito confusa. Num momento sente remorso e acha que pode me compensar e no próximo acha que deve me bater. Você já está me compensando. Só preciso mandar e vai me fornecer o que eu preciso. Agora quanto a me bater, não é aconselhável ou permitido. Falar com ele era muito irritante, ela decidiu. Pouco importava que tudo que dizia era verdade. Estava prestes a ter uma trégua com ele, oferecer seus serviços de boa vontade — e não de má vontade. Mas o homem era tão arrogante, que não parecia saber a diferença. E quanto a golpeá-lo —podia não se importar se era ou não permitido se continuasse falando assim com ela. Um sorriso lento e enferrujado, muito tênue, mas real, suavizou a linha dura de sua boca. Foi breve, ela mal o viu, mas seu sorriso era — incrível. —Ainda estou lendo seus pensamentos. Ela franziu o cenho para ele. Isso não é educado. Não posso evitar o que estou pensando. Talvez ela tenha imaginado aquele sorriso, ele desapareceu tão rápido — mais como gelo quebrando. —Claro que pode. Vai dormir durante o dia como eu. Não vai, em hipótese alguma, abandonar a fazenda sem minha permissão. Atenderá todas as minhas necessidades, até eu partir. E acima de tudo, vai me obedecer instantaneamente, sem hesitar. O que ele precisava era de um robô, não de uma mulher. Ela lutou para não revirar os olhos. Quanto tempo vai ficar? Deus a ajudasse se fosse mais que outra noite. A sobrancelha subiu. —Não precisa dessa informação. Ficará feliz em me servir enquanto eu escolher ficar nesta casa.

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Ele estava falando sério. Ela podia ver que estava totalmente sério. Esperava que ficasse feliz — mesmo grata por servi-lo — o arrogante, impossível pé no saco. Devo fazer reverência, majestade? Suas sobrancelhas se juntaram. O silêncio cresceu até que as paredes pareciam se expandir com a tensão. Seu olhar ficou preso no dela, sem piscar e ameaçador. Ela lutou para não desviar o olhar — para não ficar totalmente intimidada por ele. Ele parecia enorme. Dominava toda a sala, seus ombros bloqueando tudo atrás, deixando-a ciente de seu poder — e sua vulnerabilidade. —Talvez a aliança entre nossas famílias tenha chegado ao fim. Se isso é o que quer, só tem que dizer que não vai honrar nosso acordo. Sua respiração ficou presa na garganta. Ele não permitiria que ela partisse. Podia sentir a necessidade nele. Ele não podia. Não reconhecia que tinha emoções fervendo profundamente sob a superfície. Ela as atingiu através de sua ligação com o animal primitivo, mas ele não só não reconhecia seus próprios sentimentos, como não tinha ideia que estavam lá. Mesmo que permitisse que seu medo arruinasse a aliança entre a família De La Cruz e sua grande família, isso não a salvaria. Ela apertou os lábios e sacudiu a cabeça. Quero servi-lo. —Sem dúvida. Ela rangeu os dentes. Ele queria que pagasse por seus pecados. Ou talvez o estivesse lendo errado. Não parecia ter a menor ideia de como lidar com os humanos. Provavelmente não esteve na sociedade educada há centenas de anos. —Nem me importo em fazer isso, — disse ele, obviamente, ainda lendo sua mente. Ela considerou o prazer de costurar sua boca fechada enquanto ele dormia em seu quarto. No momento que começou a achar que havia uma possibilidade remota que pudesse desculpar seu comportamento arrogante e grosseiro, ele abria a boca e estragava tudo. Ela lançou um olhar rápido e viu seus lábios se curvarem naquele ridiculamente incrível breve sorriso. Seu estômago reagiu com o mesmo salto anterior. —Estou tendo a nítida impressão que alguém, que suspeito ser você, costuraria minha boca com uma agulha e linha. Poderia estar interpretando incorretamente seus pensamentos? Marguarita tentou seu melhor olhar inocente. Talvez pudéssemos nos comunicar com mais precisão se me devolvesse minha caneta e papel. Dessa forma, não teríamos esses mal-entendidos. Certamente não era mentira. E além do mais, podia mantê-la longe dos problemas. —Duvido que uma caneta e papel tenham tanto poder, — ele comentou. Ela realmente desejava que ele saísse de sua cabeça. Preciso sentar, Señor De La Cruz. Ela não percebeu que estava balançando. Choque, talvez, mas de repente a sala estava girando. Ele pegou o braço dela e desceu até o sofá. —Gostaria de um copo de água?

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Qualquer coisa que a aliviasse de sua presença esmagadora. Acenou com a cabeça, tentando parecer do tipo que desmaia. Era bastante resistente, talvez por isso ele não acreditasse completamente, mas era tão feudal que era possível que tivesse uma boa chance nisso. Sua boca fez uma contração ligeira que indicava um leve sorriso. Ele balançou a cabeça e entregou um copo de água. —Não é muito boa em censurar seus pensamentos. Diga-me como são normalmente seus dias. Ela encolheu os ombros e percorreu seus dias em sua mente. Banho. Escovar o cabelo. Limpar seu quarto. Café da manhã. Limpar a casa. Fazer pedidos para as casas no rancho. Verificar os cavalos e bois em busca de doenças ou ferimentos. Fazer o almoço. Levar café quente e sanduíches para Julio. Andar com ele, enquanto conversavam... O ar na sala ficou pesado. As paredes e o chão expandiram e rolaram. Ela fez uma careta e agarrou o sofá. O que há de errado? Pediu-me para contar um típico dia. Eu tenho tempo livre para almoço e passeios. —Quem é este homem com quem você ri? Marguarita franziu o cenho. Não conhece o filho de Cesaro? Quando ele continuou a olhando até que jurava que sentia uma sensação de queimação na região da testa, suspirou. Preciso de caneta e papel. Não consigo enviar impressões corretas. —Acho que entendo suas impressões muito bem. Não vai passear com este homem novamente. Prossiga. Marguarita esfregou sua cabeça. Tinha o início de uma dor de cabeça. Estava exausta e confusa demais para ter mais medo. Num momento estava com raiva de Zacarias e no próximo divertida. Não tinha absolutamente nenhuma ideia de como lidar com ele. A conexão entre eles parecia ficar cada vez mais forte quanto mais ela ficava em sua mente. Ela não o queria em sua cabeça, e quanto mais ela se comunicava com ele através de telepatia, mais fácil era para ele escorregar em sua mente sem seu conhecimento. A sensação se tornou tão natural num espaço tão curto de tempo, que já não podia sentir nada, só o calor. Eu visito qualquer uma das fazendas que precisem de ajuda, cuido de todos os problemas médicos que surgem quando os homens estão trabalhando, preparo o jantar e como... —Não posso dizer se come sozinha. Ele parecia tão triste que ela olhou para seu rosto definido. Parecia de pedra. Pressionou os dedos em sua cabeça. Na maioria das vezes. Limpo a cozinha, cozinho, por vezes tomo banho e leio antes de ir para a cama — sozinha. Ele estendeu a mão e colocou os dedos sobre suas têmporas. — Feche os olhos. Acho que já teve o suficiente por essa noite. Precisa descansar. Vamos continuar essa conversa amanhã no pôr do sol. Teremos uma trégua entre nós. Hoje à noite, vai

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dormir e não terá medo. Tenho fortes salvaguardas. Se um servo do vampiro vier, não será capaz entrar na minha casa. Seu coração saltou. Ele disse "minha casa." Ela nunca ouviu falar de qualquer membro da família De La Cruz se referindo a um lugar como sua casa. O pensamento deslizou para longe dela antes que pudesse segurá-lo, o calor substituindo a dor em sua cabeça, a deixando um pouco vaga. Zacarias abaixou e a recolheu, levando-a através da casa para seu quarto. A porta do quarto estava intacta. Seu quarto impecável, observou de passagem. Suas pálpebras pareciam pesadas, o corpo dela não querendo se mover. Ele a colocou em sua cama e alisou seu cabelo atrás, seu toque quase uma carícia. Ela não conseguia lembrar por que o achava autoritário, arrogante e feudal. Ele se abaixou e garantiu que estava segura. Ela se sentia segura. Ela até sorriu para ele antes que deixasse seus cílios fechar. Gostava da ideia de uma trégua. Podia gerenciar totalmente uma trégua.

CAPÍTULO 6 Dentro da fazenda escura, debaixo da pesada cama de dossel, enterrado no solo rico, os olhos de Zacarias se abriram simultaneamente com a primeira batida do seu coração. Uma sombra passou acima da casa, mal lá, mas ainda assim, ele era um antigo guerreiro e sentiu a perturbação sutil. O sol desceu do céu e a noite caiu como uma cortina pesada sobre o rancho. A noite trouxe espiões com ela. Normalmente apreciaria a caça. Era o que fazia. Tudo o que sabia. Estava confortável nesse papel. Era um solitário. Não tinha ideia de como os humanos viviam ou trabalhavam e nunca quis saber. Eram certamente criaturas frágeis. Agora tinha — ela — a linda lunática que de alguma forma penetrou em sua vida e não tinha ideia nem de como se proteger das garras de uma águia. Sabia que era apenas uma questão de tempo antes que seus inimigos fossem procurar vingança. Pela rapidez de sua busca, sabia que um vampiro mestre os enviou a cada uma das fazendas dos De La Cruz. Estava aqui há muito tempo para pensar que poderia ser simplesmente uma coincidência. Estavam o caçando. Normalmente os deixaria saber exatamente onde estava e aceitaria a batalha — mas desta vez havia muito em jogo. Esperou até que o bando de pássaros sombrios passaram por cima, circundando o rancho várias vezes antes de avançar. E então se estendeu para tocar — ela. A mulher. Marguarita Fernandez. Se estendeu para ela antes de pensar, antes que pudesse deter sua mente. Ele queria — ela. Deveria estar dormindo pacificamente em sua cama, esperando que ele a acordasse. Mas é claro que não estava. Ele suspirou, não mais surpreso com tudo que ela fazia. Ele acenou com a mão para abrir o solo e se vestir enquanto se levantava, cuidadoso em não perturbar o ar para que ela não soubesse que tinha se elevado. Emni kuηenak ku aššatotello — desobediente lunática. Será que não percebia que mataria por ela? Não parecia capaz de 65


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aprender, não importa o quanto fosse dura a lição. Seus inimigos já estavam o procurando e se a encontrassem, se soubessem sobre ela ou mesmo suspeitassem... Ele fechou sua mente para o que poderia acontecer e ignorou aquela peculiar e muito estranha necessidade de sorrir ao pensar em seus constantes desrespeitos de seus desejos. Realmente tinha que ser estúpida, não havia outra explicação. Como era estranho esta mulher despertar interesse até mesmo numa pequena parte dele. Sua reação a ela reforçava a ideia persistente que poderia ser sua companheira. Antes de parar seu coração na madrugada, ele avaliou com cuidado os detalhes que cada um de seus irmãos compartilhou com ele sobre o momento que reconheceram sua companheira. Souberam instantaneamente no contato. Não houve dúvida. Emoções derramaram em volta deles. Cores os cegaram. Mesmo depois de séculos de existência, Zacarias não entendia a chave para desvendar o mistério das companheiras, mas se Marguarita Fernandez era realmente a sua, o universo estava fazendo uma piada com ele. A mulher era positivamente enlouquecedora. Ele atravessou o quarto principal até o corredor. O cheiro dela enchia a casa, uma fragrância intensamente feminina. Percebeu que ela se ocupava de sua casa há anos, desde criança, quando seu pai vivia aqui, na casa principal. A casa não era nua e crua como a maioria de seus lares. Marguarita estava presente em cada canto. Fez deste lugar sua casa. Havia calor aqui, o calor de uma mulher que se preocupava com sua casa e cuidava dela com amor atenção aos detalhes. Os quartos eram cinzentos e sem graça, mas sentiu a riqueza de cada um nos tapetes tecidos à mão e cobertores grossos, obviamente, acolchoados à mão. Parou numa cadeira pesada e esfregou o material do cobertor entre os dedos. Sentiu Marguarita em cada um desses pontos minúsculos. Ela fazia muito mais que manter a casa. Ela a adorava. Ela gostava de velas. Pareciam caseiras também. Tinham energia elétrica e um gerador de apoio, mas estava certo que as terríveis tempestades que muitas vezes aconteciam, árvores caíam, e muitas vezes tiravam a eletricidade e toda tipo de coisas podiam acontecer a um gerador. Ele nunca teve que pensar em tais coisas, mas claramente Marguarita o fazia e se preparava para isso. Não só preparava sua própria casa para emergência, mas viu a lista em que ela trabalhava sobre a mesa, o nome de cada família alojada nas terras do De La Cruz, e o que precisavam. Lanternas, velas e comida enlatada pareciam ser os maiores itens. Nunca deu muita atenção à forma como estas pessoas viviam e trabalhavam, mas percebeu que Marguarita cuidava deles em seu nome. A porta do banheiro estava aberta e vapor se misturava com o perfume deslizando para a sala. Ele respirou profundamente para trazê-lo aos pulmões. Antecipação o agitou. Esperou alguns segundos, saboreando a pequena expectativa para vê-la e não havia dúvida agora, definitivamente sentia, embora não pudesse dizer que era qualquer coisa como seus irmãos descreveram. Seus dedos se fecharam na colcha e puxou o tecido macio para seu rosto. O material tinha uma pitada de sua fragrância intrigante. Seu corpo apertou. Não a reação selvagem da noite

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anterior, mas ainda assim, era uma reação. Ele soprou seu caminho através do choque. Sua pequena lunática era quase certamente sua companheira e, que o sol queimasse a mulher, chegou tarde demais. Exatamente como ela era. O destino certamente fez uma piada com ele, sua escolha e o sincronismo. Zacarias suspirou e respirou profundamente a fragrância para os pulmões. Não importava de uma forma ou de outra, porque certamente não podia condená-la a uma meia-vida com ele. Ele não era um prêmio, não com a selvageria e escuridão criados em sua própria alma. Estava condenado desde o nascimento e aceitou isso. Este era um golpe terrível, completamente inesperado. Ser presenteado com uma companheira que sempre estaria fora de alcance era a pior tortura que podia conceber. Algo macio e feminino fez cócegas em sua mente. Diversão. Nenhum som, apenas a impressão de felicidade — um brilho especial. Ele a absorveu em seu coração, a permitiu entrar por um momento breve. Sua mente, tão obviamente ligada à dela, se recusava a obedecê-lo quando se tratava de Marguarita. Precisava do contato, esse calor que se infundiu por seu corpo inteiro. A fome varreu por ele, um roer, a necessidade arranhando e atingindo suas veias, o consumindo rapidamente. Ele a saboreou em sua boca, aquele sabor único que era Marguarita. Reconheceu que já estava obcecado por ela, mas depois de séculos de uma existência estéril, não era um preço alto demais a pagar pela capacidade de sentir alguma coisa. Ele entrou ainda mais em sua mente, almejando o calor dela. Riso profundo estourou através de seus pensamentos, uma explosão de som, todo masculino, distinto e familiar para Marguarita. Ele sentiu sua fácil aceitação, a suavidade que não estava lá quando ele estava com ela. Se divertia com seu companheiro. O aceitando. Zacarias se moveu tão rápido pela casa que era apenas um borrão, literalmente explodindo em seu quarto. A porta estilhaçou com um estrondo, madeira voando em todas as direções enquanto ele a arrancava. Marguarita estava sentada no chão com sua janela aberta. Um homem estava do outro lado, com a cabeça através da abertura, a mão no braço de Marguarita. Ambos se viraram ao mesmo tempo em direção ao som da porta se desintegrando. Zacarias estava sobre o homem numa fração de segundo, numa ação violenta e explosiva, o puxando pela janela com força viciosa e o jogando contra a parede. Ele o segurou facilmente com uma mão, as pernas balançando acima do piso quando afundou seus dentes profundamente na veia pulsante do pescoço. Não! Pare! Tem que parar! O homem não ofereceu nenhuma resistência depois da primeira luta dura. Zacarias não fez nenhuma tentativa de acalmá-lo, o delito era muito grande. Ouviu um estrondo terrível e demorou um pouco para perceber que o som saiu de sua própria garganta. Ele engoliu o sangue rico, até mesmo enquanto o apelo frenético de Marguarita rompia em sua mente.

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Ela pegou seu braço e puxou, tentou alcançá-lo até inserir a mão entre Zacarias e sua presa. Ele podia vê-la, de longe, através da névoa vermelha em sua mente, da necessidade de matar, através do rugido animalesco estranho que estava em sua cabeça, mas nada importava para ele, exceto destruir este homem que se atreveu a colocar as mãos sobre Marguarita. Zacarias sentiu o espírito acolhedor de Marguarita se movendo através do gelo em sua mente e instantaneamente se viu através dos olhos dela. Ela estava perto de entrar em pânico. Ele explodiu em violência bem como um gato selvagem prestes a derrubar sua presa e era completamente e totalmente um assassino naquele momento. Em algum nível vago ela percebeu que era a causa. Ela tinha pavor dele, vendo sua intenção, sabendo que estava agindo por instintos, em vez do intelecto. Ela inundou sua mente com impressões frenéticas de uma matilha de lobos, e depois com dezenas de bebês como se ele fosse o único estúpido e não conseguisse entender o conceito de família. Finalmente, ela recorreu empurrando uma imagem de Cesaro em sua mente numa tentativa frenética de dizer que este homem era Julio, filho de Cesaro. Como se ele não soubesse disso. A mulher era uma ameaça para si mesma e para todos que conhecia. Ele passou sua língua por toda a perfurações para fechá-la e deixou o homem cair no chão, segurando-o facilmente com sua mente. Muito devagar se virou para a incômoda mulher. Ela deu dois passos atrás e em seguida, parou. Ela parecia pequena e muito vulnerável, com muito medo quando olhou para Julio. Ele está morto? Ela deu um passo em direção ao homem inconsciente. —Não se atreva a tocá-lo. Ela parou imediatamente, seu rosto completamente branco. —Não, Cárpatos não matam quando se alimentam. Devia saber. Não teve instrução, como não tem obediência? Ela balançou a cabeça e olhou ao redor da sala, seu olhar caindo sobre a caneta e papel que usava para se comunicar com seu amante. Quando saiu em direção aos itens, ele estendeu a mão e os dois itens voaram para ele. Ele os empurrou no bolso para mais tarde fazer uma inspeção mais minuciosa. —Desobedeceu novamente. Existe alguém que obedeça? Ou simplesmente faz o que quer quando quer? — Ele manteve sua voz muito baixa, com medo dela desmaiar ou cair. Estava tão abalada que ele pudesse vê-la tremendo. Eu não desobedeci. Ela estava irredutível, empurrando sua negação em sua mente. Fiquei na casa, assim como ordenou. Não fiz nada de errado. Seria possível que não compreendia a enormidade de seu erro? Como isso era possível? —Um homem no seu quarto é absolutamente proibido. Como não sabe? Deseja ser tomada por uma prostituta? Ela piscou seus longos cílios para ele, de repente, seu corpo ficou imóvel. Um rubor lento infundiu no branco pálido da sua pele. Ele podia ver claramente a cor correndo do pescoço para

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seu rosto e tal beleza capturou sua atenção, de modo que quase perdeu quando ela se aproximou e levantou a mão para seu rosto. Ele pegou o pulso dela a centímetros de sua cabeça, e só por causa de sua velocidade sobrenatural. Ficaram de igual para igual, os olhares presos. Ela estava furiosa. Podia sentir a raiva nela, mas estava super consciente de seus ossos pequenos, da pele macia e curvas exuberantes. Ela usava uma saia e blusa, a saia longa cobrindo as pernas esguias e enfatizando seus quadris arredondados e cintura fina. A achou agradável em roupas femininas. Seus olhos piscaram para ele, brilhantes como diamantes champanhe. Ela já não parecia cinzenta ou sombria, mas cada traço seu começava a emergir em cores e detalhes. Nunca viu nada mais belo em todos os seus séculos de existência. —Acredito que cobrimos a questão de você me tocar sem permissão. Não se atreva a me chamar de prostituta. Ele nunca viu diamantes champanhe cintilando de verdade como tal chocolate puro, que era uma cor incrível, especialmente cintilando como seus olhos estavam agora. —Acredito que perguntei se queria ser tomada por uma prostituta. Não a chamei de uma. Ele falou de forma lenta e distinta para o caso dela não chegar a perceber a diferença. Também observou que, quando estava com raiva, era muito mais hábil para se comunicar telepaticamente. Podia ver em palavras as impressões que enviava e percebia então como devia ser não ter uma voz real para se expressar. Seu polegar deslizou sobre seu pulso numa carícia pequena. Ele a sentiu tremer em resposta. —Parece muito linda nessa roupa feminina. Vai usá-las sempre. Ela franziu o cenho. Ele achou que ela gostaria do elogio, mas realmente, ela era difícil. Seus olhos piscaram com fogo brilhante, o que era espetacular, mas ele desejou agradá-la. Fêmeas eram difíceis de entender. Não vou, sabe. Prefiro usar saias em ambientes fechados, mas não quando saio. E adoro andar de bicicleta, por isso sem saias. O queixo subiu, os olhos brilhando mais do que nunca. Ele estudou o rostinho desafiante por um longo tempo. Nunca olhou uma vez longe dele. Nunca em sua vida alguém o desafiou como ela fazia. Estava começando a achar que não havia nada estúpido nela depois de tudo. —Realmente é emni kunenak ku aššatotello minan. — Ele não podia evitar a carícia suave em sua voz. O que significa isso? Ouvi você me chamar disso e coisas semelhantes. —Minha lunática desobediente, — respondeu ele, honestamente, esperando uma explosão. Até deu um aperto mais firme em seu pulso. Seus lábios se contraíram, curvados num sorriso, e seus dentes brancos reluziram por eles por um momento. Ele teve a impressão de diversão em sua mente e o sentimento o aqueceu. —Está ficando muito boa em se comunicar através do nosso laço de sangue. Ele vai aumentar de força quando trocamos sangue novamente.

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Uma sombra cruzou seu rosto. Ela engoliu em seco e balançou a cabeça, se recusando a desviar o olhar. Ela estava com muito medo, mas o encarou com coragem. —Não vai doer, Marguarita, — assegurou. —Irá gostar da experiência. Ela não parecia convencida, mas balançou a cabeça para ele e depois olhou novamente em direção a Julio. Um rugido de protesto rasgou através de seu corpo e ele sentiu seus dentes alongando, explodindo em sua boca antes que pudesse deter a reação. Ela engasgou, e ele olhou para seu pulso, ainda capturada na sua mão. Suas unhas aumentaram para garras mortais. Ele podia sentir o cheiro do homem, até que o cheiro dele quase dominava o perfume sutil de Marguarita. Não queria um macho próximo dela, sem falar em seu quarto. Reconheceu que estava em seu estado mais mortal. —Não é seguro para seu amigo ficar aqui, — admitiu. Evidentemente, algumas emoções estavam retornando. Raiva. Necessidade de matar. Ciúme. Coisas que não experimentou antes e, portanto, não tinha como prever ou entender o que estava sentindo, e muito menos saber como lidar com tais coisas. Marguarita balançou a cabeça lentamente. Devo chamar Cesaro? Seu corpo se rebelou, seus sentidos aguçados já em modo de batalha. —Isso não é uma boa ideia. Vou levá-lo para sua casa e deixá-lo descansar. — Não queria outro homem em volta dela, enquanto estava se ajustando às novas e emergente emoções desconfortáveis. Se felicitou por não ter a mesma reação à sua companheira que seus irmãos tiveram. Ela acenou com a cabeça, mordendo o lábio inferior um pouco ansiosa. —A palavra de um De La Cruz não vale mais aqui? Disse que vou deixá-lo descansar, mas ainda está ansiosa. Este homem é alguém importante para você? Ele sentiu sua luta para se fazer entender. Ela olhou em torno procurando caneta e papel, mas ele balançou a cabeça. Era sua companheira e precisavam aprender a se comunicar. Ela enviou um olhar carregado de emoção, e depois empurrou a imagem de Riordan, seu irmão mais novo, em sua cabeça. Apontou para Julio e depois para si mesma. —Este homem é seu irmão? O filho de Cesaro? Ela assentiu com a cabeça, franzindo a testa o tempo todo. Não de sangue. Ele não queria o homem perto dela. —Não é seguro para ele. Me entende? Marguarita acenou com a cabeça. Zacarias não podia suportar a presença de outro homem próximo a ela, ou o olhar preocupado em seus olhos. Jogou Julio para cima do seu ombro. Deu um passo para longe dela. Señor De La Cruz? Esta nota suave acariciando em sua voz enviou uma corrida de calor acelerando através de suas veias. Ele olhou para ela por cima do ombro. Talvez fosse gentil e consertasse minha porta quando sair.

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Lá estava, essa necessidade agora familiar de sorrir. A diversão cobriu sua necessidade de destruir todo homem que chegasse perto dela. Ele precisava que ela usasse seu nome de forma mais íntima primeiro. —Zacarias, — ele corrigiu. —E não há problema. Ele saiu antes que o desejo de jogar o macho ofensivo através da janela para que pudesse puxar Marguarita para ele e sentir seu gosto requintado e sabor único vencessem. Marguarita viu quando ele parou para casualmente mover a mão, tecendo a porta estilhaçada de volta numa massa sólida antes de sair caminhando. Ela respirou fundo e se permitiu cair em sua cama. Sua mão tremia quando apertou os dedos na boca, tremendo. Nunca viu nada — incluindo predadores da floresta tropical — explodindo em violência tão rápido. Estar no mesmo quarto com Zacarias De La Cruz era esmagador, muito parecido a ficar com um tigre. Ele tomava todo o espaço, o próprio ar, com seu poder e energia. Sempre dava a impressão de seu olhar focado estar alerta e pronto para atacar instantaneamente. Quando irrompia em ação, era muito rápido até mesmo para seguir e tão violento que entorpecia os sentidos. Ela fez isso. Cometeu um erro terrível. Zacarias sabia que estava muito perigoso para ficar na companhia dos outros e tomou medidas para proteger a todos. Tomou uma decisão honrosa, mas ela inadvertidamente interferiu e colocou todos — incluindo sua alma eterna — em perigo. As perfurações em sua cintura estavam curadas, mas nunca esqueceria aquele passeio, doloroso e aterrorizante através do ar enquanto a águia a levava pelo céu à noite, batendo as asas enormes, alto o suficiente para ela ouvir o whomp, whomp enquanto cortavam o ar. Ficou doente e tonta, olhando o chão abaixo, uma vez que se desprenderam. Não tinha nem liberdade para gritar. Infelizmente, e estranhamente, o único conforto que tinha era tocar sua mente, a mente de um homem besta mais selvagem que humano. Ela tocou a marca em seu pescoço e por um momento, não conseguiu respirar, lembrando da maneira como os dentes queimaram enquanto atravessavam sua pele. Foi uma dor tão ruim, e ficou com medo que terminasse o trabalho que o vampiro começou, ou pior, não a matasse e transformasse em sua marionete, a própria encarnação do mal. Acariciou a marca pulsando com as pontas dos dedos. Ela já tinha convencido sua mente a servi-lo enquanto fosse necessário — e sabia que incluía permitir tomar seu sangue como sustento. Esta noite não mudou nada, na verdade, apenas reforçou sua convicção que devia sua ajuda a Zacarias, não importa o quanto fosse terrível para ela. Cobriu o rosto por um momento, balançando para frente e para trás, juntando sua coragem. Tinha que encontrar uma maneira de afastá-lo dos trabalhadores na fazenda — especialmente Julio. Quando Julio despertasse e lembrasse do que aconteceu, ficaria desesperado para ter certeza que ela estava bem e isso era um problema em potencial. Resolutamente, Marguarita passou as mãos pelo rosto, enxugando o medo e endireitando os ombros. Esta era sua bagunça. Ela a criou. Podia sentir a intensa tristeza, a imensa tristeza

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pesando sobre Zacarias. Sentia suas emoções — e eram fortes a ponto de esmagar — mas sabia que ele não as sentia da mesma forma que ela. Ele queria que ela continuasse sua rotina diária, de modo que era o que ela faria, como se ele não estivesse na casa. Quando chegasse a hora dele tomar o sangue dela encontraria um lugar agradável em sua mente e iria até lá. Era dever de toda sua família prestar a qualquer De La Cruz o necessário — ou o que quisessem — e ela não falharia com sua família ou ela mesma. Ela se olhou no espelho. Seu cabelo estava na trança grossa de costume, mas seu pescoço claramente exposto. Seu coração saltou loucamente. Talvez fosse muita tentação. Rapidamente soltou a trança e permitiu que o cabelo caísse até a cintura. Envolveu um laço frouxo no meio apenas para afastá-lo de seu rosto para que pudesse trabalhar sem a enorme massa ficar em seu caminho. Suas mãos alisaram a saia esvoaçante e respirou fundo antes de ir para a cozinha. Enchendo o bule de chá, ela se virou e quase caiu quando o encontrou bem ali, próximo a ela, levantando sua mão para seu abundante cabelo, olhando para ele como se estivesse fascinado. Ele o soltou imediatamente e deu um passo atrás para permitir que ela fosse para o fogão. Ignorando o coração batendo forte, Marguarita fingiu que ele não estava na cozinha. Se quisesse observar o que ela fazia, estava bem. Faria o café da manhã, apesar ser início da noite. Zacarias apoiou um quadril contra a pia e a observou com aquele olhar, sem piscar, totalmente focado, como faria um grande felino ao caçar. Ela olhou para ele sob os cílios, incapaz de evitar. Gostaria de um chá? Ele franziu o cenho. —Nunca realmente tentei a alimentação humana. Meus irmãos o faziam. Mantinham a aparência humana com alimentos na casa e realmente iam a eventos de caridade e outros grandes encontros que se tornava necessário parecer que comiam. Mas não você. Ele ergueu uma sobrancelha. —Não me incomodo com essas coisas. Deixo os humanos inquietos, por isso era melhor enviar Nicolas ou Riordan. Nem mesmo uma vez? Em todos os seus anos de existência, nenhuma vez quis provar o proibido? —Não sentia nada, kislány kunenak minan - minha pequena lunática. Curiosidade nunca foi um problema para mim. Eu existo. Eu caço. Eu mato. Minha vida é muito simples. Apertou os lábios. Ela não conseguia imaginar uma vida assim. Nenhum conforto. Não precisava de conforto. Nunca tem medo? Nunca experimentou puro terror? —O que houve na minha vida para temer? Não tenho nada a perder, nem mesmo a própria vida. Só tenho uma responsabilidade para proteger meu povo com o melhor da minha capacidade. Faço-o com honra. Nunca sentiu alegria? Ou amor?

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—Houve um tempo na minha vida, quando era menino, que amei meus irmãos. Por um tempo podia tocar suas memórias e lembrar do carinho que tinha por eles. Mesmo isso acabou para mim. Ela queria chorar por ele. Falava tão naturalmente, como se não ter ninguém — absolutamente nada para suavizar sua vida — fosse normal. Não havia ninguém para confortá-lo, ninguém para conversar sobre as coisas, ninguém para abraçá-lo — ou amá-lo. Todo o tempo lutou para proteger os outros, e não havia ninguém para ele. Ela percebeu que apesar de todo seu conhecimento, haviam grandes lacunas em sua educação. Cárpatos podiam regular a temperatura do corpo. Podiam curar suas feridas e minimizar a dor. Ele não considerou que ela não podia fazer essas coisas, o que explicava por que parecia tão chocado pela garra da águia ferir sua pele. Ou não sabia, ou realmente não dedicou muitos pensamentos aos humanos. Ele não interagia com ninguém, exceto os não-mortos. Seus irmãos vinham para participar de encontros e conversas com os governos locais. Zacarias só vinha quando estava ferido e precisava de uma cura rápida. Os trabalhadores eram todos desconfiados dele. Porque suas tias, tios e primos trabalhavam nas diversas propriedades De La Cruz por toda a América do Sul, sabia de todas as fofocas sobre a família e poucos colocavam os olhos em Zacarias. Esteve completamente sozinho por séculos. Marguarita se mantinha de costas para ele, com medo que a compaixão aparecesse em seu rosto. Ela podia temê-lo — mas isso não significava que não podia sentir por ele. Sua vida era uma que ela nunca iria querer e ainda assim resistiu por mais de mil anos. Provavelmente se congratularia com a morte, e ela tirou esse consolo dele. Tinha que encontrar uma maneira de se conectar mais solidamente com ele para que não saltasse cada vez que chegava perto dela. Decidiu que o melhor curso de ação era conhecê-lo, trocar um pouco de informação para que pudesse ficar mais confortável com ele. Como posso sentir suas emoções, mas você não pode? Houve um breve silêncio. Ela se preparou antes de virar para encará-lo. As batalhas de muitos séculos perseguindo os não-mortos pelos países numa tentativa incessante de proteger os habitantes estavam gravadas profundamente nas linhas em seu rosto. Estava ali, a cabeça ereta, a observando com aqueles olhos que carregavam uma tristeza que nem sequer reconhecia ou compreendia. Não havia nenhum lugar que pudesse ir onde ficasse completamente vulnerável. Não havia onde pudesse ser amado ou protegido ou estar seguro. Ela teve uma súbita vontade de colocar seus braços ao redor dele e puxá-lo firmemente para ela, mas teria que pedir permissão primeiro e não cometeria esse erro novamente. O silêncio se esticou entre eles, preenchido de repente pelo apito da chaleira. Ela cuidadosamente despejou a água fervendo no intrincado pequeno bule de barro de sua mãe. O corpo era retangular e pintado à mão com Cavalos Paso peruano correndo livres com caudas e

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crinas fluindo ao vento. Ela adorava o bule de chá que sua mãe fez tantos anos antes e sempre era cuidadosa com ele. Usá-lo sempre a fazia se sentir mais perto de sua mãe e, agora, consolada. Não podia imaginar Zacarias tendo nada disso em sua vida. —Não sabia que podia sentir minhas emoções, — ele disse finalmente, quase com relutância, admitiu. Ela se virou para enfrentá-lo novamente, encostado no balcão e estudando seu rosto. Achou incrível que pudesse parecer tão austero e duro, mas ainda assim tão brutalmente bonito. Seu cabelo era longo, mesmo para um Cárpato, quase tão longo como o dela. Alguns fios cinza reforçavam a cor meia-noite profunda. A massa de cabelo era cacheada — suficientes cachos para formar vários redemoinhos pelo longo cordão de couro que o amarrava. Os cachos não suavizavam sua aparência, mas apenas o deixava muito mais atraente. Ele não parecia relaxado ou à vontade. Parecia exatamente o que era - uma máquina de matar. Ninguém jamais o confundiria com qualquer outra coisa, mas talvez estivesse se acostumando à sua presença, pois seus tremores internos finalmente pararam. Eu posso. —Explique. Ele parecia genuinamente intrigado, mas como podia explicar? Tentou imaginar um vulcão com uma massa de magma revolto. Posso sentir o que está dentro de você. Raiva. Tristeza. É muito turbulento e intenso, mas posso dizer que você não sente da mesma forma que eu. Seus olhos não deixaram seu rosto. Ela não pode evitar o rubor repentino. Ela se sentiu um pouco como um inseto sob um microscópio. Era evidente que estava a estudando — um espécime humano. —Conte-me sobre seu amigo Julio. Seu estômago apertou. Esse era o caminho do desastre. Sua expressão não mudou, mas seus olhos sim. Havia apenas uma diferença sutil em seus olhos, mas podia sentir a emoção vulcânica rolando dentro dele. Se voltou para fazer seu café da manhã para que ela não tivesse medo. Ela fez seu melhor para mostrar a ele seu relacionamento com Julio. Crescemos juntos. Ele é alguns meses mais velho do que eu, então fomos criados como irmão e irmã. Ela achou difícil projetar o conceito, mas, olhando por cima do ombro para seu rosto sombrio, ela insistiu. Não haviam outras crianças ao redor. Esta é uma fazenda de trabalho e até mesmo quando crianças, claro, era esperado que a gente ajudasse. Novamente, tentou enviar impressões dos dois trabalhando no estábulo, e nos campos com o gado. Eu poderia fazer um trabalho melhor com minha caneta e papel. —Está indo muito bem. Ela arriscou outro olhar rápido em seu rosto. Não estava indo muito bem. Ele ainda tinha a morte em seus olhos. Ela tentou conter seu pânico, sentindo como se falhasse com Julio. Minha mãe morreu quando eu era muito jovem e fiquei inconsolável. Me perdi nos animais. Na floresta tropical.

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Ele se mexeu como se o pensamento de uma menina sozinha na floresta tropical o incomodasse, mas ela não podia imaginar que ele pudesse conhecer sua dor quando criança pela perda de sua mãe. Ou que pudesse se preocupar por uma criança humana que tinha pouca importância para ele. Mas Julio se preocupou. Era apenas um menino, mas desafiou seus pais e a seguiu para mantê-la segura. E, em seguida, sua mãe pegou uma febre e morreu um ano depois de minha mãe. Isso criou um vínculo entre nós. Tive o cuidado de ficar perto dele, como ele fez por mim. Novamente ela tentou transmitir a profunda tristeza que ambos sentiram ao longo da vida e a ligação que foi estabelecida. Marguarita se virou então e estudou seu rosto, a turbulência escura em seus olhos. Ela respirou fundo, se sentindo um pouco desesperada para ele entender. Pode ver minhas lembranças de nós dois? Se pudesse entrar na sua mente e ver por si mesmo, talvez fosse capaz de sentir seu carinho por Julio e perceber que era de irmã, não de uma mulher amando um homem. —É claro. Nosso laço de sangue é forte, mas eu teria que ir mais fundo em sua mente. Você já tem medo de mim. Seu coração batia forte. Ambos podiam ouvi-lo. Ela respirou quando cortou duas fatias de pão para si e quebrou dois ovos para misturar com um pouco de presunto. Dói? —Não faria mal nenhum. Pareceria... íntimo. A última palavra foi sussurrada sobre sua pele como uma carícia suave. Marguarita estremeceu. Ele estava perto dela. Podia sentir o calor de seu corpo atrás dela, olhando ela cozinhar. Parecia perigoso, de pé em sua cozinha, fazendo as tarefas diárias com ele tão perto, observando cada movimento seu. Respirando quando ela respirava. Jurava que seu coração mantinha o mesmo ritmo. Ela engoliu em seco e cuidadosamente se concentrou em colocar os ovos entre as fatias de pão. Colocou seu café da manhã num prato, ignorando suas mãos trêmulas. Ela tinha medo de Zacarias, mas quando falava nesse certo tom de voz, seu corpo reagia. Será que ousaria aumentar essa estranha atração física consentindo — não — o convidando a ir mais profundo em sua mente? Ela pegou o bule de chá, assim que ele se esticou ao seu redor para ele também. Seu braço a enjaulou e seus dedos prenderam sobre os dela. Mil borboletas levantaram voo em seu estômago. —Deixe — disse ele. A mesma nota baixa acariciante estava em sua voz. Fechou os olhos brevemente contra o ataque súbito aos seus sentidos e deslizou sua mão debaixo da dele. Ele não se moveu, a mantendo enjaulada entre ele e o balcão, enquanto ele servia o chá. Ela sabia que havia um espaço entre eles, talvez da largura de uma folha de papel, mas podia sentir o calor irradiando dele. O corpo dela pegou fogo. As chamas dançavam sobre sua pele, disparando através de sua corrente sanguínea para terminar numa necessidade premente em seu núcleo mais feminino.

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Sua respiração ficou presa na garganta enquanto ele se movia pelo espaço escasso, cortando a distância de papel quando deixou a chaleira, de modo que ficou pressionado contra ela, sua respiração quente contra seu pescoço. Ele a cheirou, atraindo o ar carregado com o cheiro dela profundamente em seus pulmões. Um rosnar, ronronar suave retumbou em sua garganta. O som parecia o de um animal feroz, mas havia algo terrivelmente sexy nisso. Ela congelou, paralisada de medo, mas não tendo certeza se era dele ou de si mesma. O rosnado vibrou através de seu corpo, até que cada sentido seu estava totalmente consumido por Zacarias. Zacarias De La Cruz era um barril de pólvora perigoso, e ela tinha um medo terrível que um movimento seu ou sua permissão para entrar ainda mais na sua mente fornecesse a faísca que o explodiria. Não era culpa dele que ela tivesse essa reação a ele. Ela nunca teve tal reação a qualquer outro homem, mas aconteceu com ele antes, na floresta. Não fazia sentido, mas não conseguia recuperar o fôlego, esperando... querendo... o quê, não sabia. Os lábios de Zacarias se moveram contra seu ouvido, seu hálito soprando seu cabelo e enviando um choque elétrico chiando através de suas veias. —Posso ouvir seu batimento cardíaco. Ela fechou os olhos e fez uma oração que o cheiro dela não fosse o de uma mulher desesperada por um homem, porque se ela podia sentir a umidade na sua calcinha, ele provavelmente podia sentir o cheiro de sua chamada feminina por ele. Um homem tão próximo do animal teria muito olfato. Tenho certeza que pode. Ela podia ouvir seu coração trovejando também. Não havia como negar o medo — ou sua atração. Seus dedos se moviam na massa de cabelos que ela tão cuidadosamente usava para cobrir o lado esquerdo do pescoço. Seus dedos passando apertaram seu ventre, e líquido quente derramou. Sua boca se moveu sobre sua pele, sua língua uma lixa de veludo, fazendo sua marca pulsar com necessidade frenética. Ela agarrou a borda do balcão, o coração batendo forte com medo — ou excitação —não sabia qual. —Fique quieta, mića emni kunenak minan — minha linda lunática, tenho que prová-la. Não seria uma boa coisa lutar comigo. Neste momento, me sinto à beira do meu autocontrole. Sua mente entrou sem convite na dela, mas não podia dizer que não era desejada. Seu toque era sensual, enviando um arrepio de prazer por sua espinha, mas sua advertência a assustava. O pensamento de seus dentes afundando nela era tão terrível que devia ter desmaiado, mas seu corpo estava subitamente vivo, todas as terminações nervosas em fogo. Estou com medo. Muito. Ela admitiu para ele. Não há necessidade. É a pessoa mais segura no mundo ao meu redor. Não lute contra mim, mulher. Dê a si mesma para mim. Não estava certa do que ele quis dizer com ela ser a pessoa mais segura no mundo ao seu redor. Não se sentia segura, se sentia ameaçada em todos os níveis. Se forçou a não lutar quando ele a virou para encará-lo e inexoravelmente a envolveu contra seu peito. Ele era muito forte, seus

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braços como troncos de uma árvore sumaúma, duros e inflexíveis, uma gaiola da qual não podia escapar. Zacarias a puxou firmemente contra ele, a encaixando nele como se pertencesse lá, seu corpo impresso no dela. Ela inclinou a cabeça para olhar para ele. Estava tão lindamente esculpido, como uma estátua feita das melhores pedras, a sensualidade em pessoa. Seus olhos escuros famintos. Seus dentes brilharam para ela, brancos e deslizando devagar no lugar, incisivos ao invés de caninos, mas pareciam muito fortes também. A distinção entre vampiro e Cárpato estava lá, mas era fina. Seu coração disparou muito além do martelar, acelerando tão rápido que temia que saísse através de seu peito. Ele abaixou a cabeça lentamente para a dela, sua boca roçando o mais leve dos beijos no canto do olho. Seu corpo inteiro quase entrou em colapso. Não havia como parar a reação puramente sexual pelo toque leve. Seus lábios se arrastaram de seu olho para a mandíbula, beijos suaves que mal estavam lá, uma exploração vagarosa. Seu corpo ficou mole e flexível, derretendo no dele. Sua temperatura subiu, seu núcleo pegou fogo, a queimando de dentro para fora. Toda a tensão saiu dela, seus cílios fechando enquanto seus lábios continuavam a descer do pescoço para o ombro. Ela se sentiu à deriva num rio de pura sensação, flutuando em direção a ele com todo seu ser. Seu coração e talvez até mesmo sua alma o alcançou. Seus dentes rasparam e voltaram sobre esse ponto latejante e seu corpo reagiu, elevando a temperatura outro grau. Seus seios doíam, os mamilos empurrando contra a renda fina de seu sutiã. Em algum nível sabia que estava se dando para ele, que se sucumbisse a ele, nunca mais seria a mesma, mas ele teceu uma teia sensual e ela estava presa nela — de bom grado. Ele afundou os dentes profundos, a dor a atingiu, a chocando.

CAPÍTULO 7 Zacarias se perdeu nas chamas ardentes correndo por suas veias, e na bola de fogo que rugia em sua barriga. Fogo derramava em sua virilha, até que ele queimou, pesado e cheio — por ela. Por Marguarita. A sensação era esmagadora, completa, chocante mesmo. Nada em sua vida o preparou para esse cerco aos seus sentidos, para a necessidade primitiva e fome crua rasgando não apenas em sua mente, mas em seu corpo. Esta mulher o mudou para sempre, mudou seu mundo, e onde não havia nenhum sentimento por tanto tempo quanto podia se lembrar, agora seu foco inteiro, todo seu ser se centrava no corpo mole de Marguarita, no sangue pulsando em suas veias e no perfume feminino evocando o macho nele. Ele descobriu que não conseguia resistir à tentação de provar, ela cheirava tão bem, uma isca que não podia resistir. Seu corpo estava flexível, moldado ao dele. Imediatamente seus sentidos se tornaram agudos, perdidos, até mesmo afogados nos sinais bioquímicos de uma fêmea 77


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chamando um companheiro. Ele se moveu mais perto, alisando seu cabelo longe de seu pescoço. Abaixou a cabeça e lambeu sobre essa marca de morango que dizia ao mundo que ela pertencia a ele. Seu corpo estremeceu em antecipação. Realmente estremeceu. Parecia como se o mundo parasse, como se prendesse a respiração, esperando um piscar de olhos, saboreando a sensação dela, o perfume e a beleza incandescente de sua cor, porque — oh estrelas e a lua acima — ele viu sua cor. A cor, bonita e inacreditável. Superando sua necessidade desconhecida, Zacarias afundou seus dentes profundamente em sua carne, os conectando juntos. A pura essência que era Marguarita fluía em sua boca como o mais doce néctar. Ela tinha sabor exótico, requintado... ela tinha sabor. Nada que provou antes. Ele se alimentava porque precisava de vida e a vida era sangue. Naquele momento único, a vida era Marguarita. Seu corpo inteiro cantarolava, suas veias cantavam com alegria. Ela era um instrumento musical, tocando uma canção escrita expressamente para ele. Ele sabia que era o único homem a ouvir suas notas bonitas. Sabia que não podia ficar com ela. Estava preso numa meia-vida e não podia condená-la a uma coisa dessas. Mas nunca realmente conheceu a vida tão certa, então, esse tempo e lugar eram suficientes, eram tudo para ele. Marguarita era uma droga em seu sistema, fluída como fogo, correndo em suas veias e o enchendo com uma espécie de primitiva explosão de brilho. O mundo ao redor dele era monótono e sem vida, um forte contraste com a joia brilhante dos olhos e reluzentes cabelos preto-azulados. Ela era cor e vida, a razão pela qual cada guerreiro lutava contra a praga que era o vampiro. Era sua razão. Viu tudo num instante. Provou a verdade em sua boca. A sentiu vibrar através de seu corpo. Sempre saberia exatamente onde estava em todos os momentos agora, em que parte da casa, e o que estava fazendo — mesmo o que pensava. Ele saberia quantas vezes franziu a testa, ou ergueu o queixo com teimosia, mordeu o lábio inferior ou sorriu. Estava muito consciente dela como mulher, com sua fragrância feminina, e sempre estaria ciente do momento exato que viraria sua cabeça e olharia para ele — e quando pensasse em outra pessoa — porque nunca mais sairia de sua mente completamente quando estivesse perto dela — não até que terminasse sua existência. Perdido como estava numa avassaladora emoção verdadeira pela primeira vez em sua existência, não notou o momento exato em que tudo mudou para ela. Num momento estava com ele, queimando no fogo erótico, e no seguinte, estava lutando. Ousava lutar com ele. Rejeitá-lo completamente. Ela disparou cada instinto de caça que tinha — e os dele foram afinados bem mais de mil anos. A caça impregnava seus ossos, sua alma. Ouviu o rosnado de aviso estrondoso na garganta e se sentiu tomando um bloqueio inquebrável em seu corpo, agora tenso. Ela não fez nenhum som, mas sentiu que estava apavorada. Ela lutou descontroladamente e a prendeu, seu corpo agressivo. Fazia bem mais de mil anos desde que alguém ou algo o desafiou.

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Na verdade, não conseguia se lembrar de um tempo, e ela despertou todas as suas necessidades de conquistar e controlar. Sua reação foi de novo mais animal que homem, mas era toda de macho. Ele absorveu sua fragrância rica, sentiu seu corpo macio derretendo flexível no dele, e seu mundo mudou. Não queria que esse sentimento terminasse nunca, mas já tinha acontecido e muito abruptamente. O cheiro dela o envolvia — e desta vez não havia fascínio feminino. Estava aterrorizada com ele. Detestou o cheiro de imediato. Não lute contra mim. Era por demais predador e não havia como ignorar os instintos fortes exigindo que subjugasse sua presa. Seu sangue rico fluía em seu sistema, uma carga elétrica através das veias e chiando ao bombear o sangue mais quente em sua virilha, até que estava cheio e duro, até mesmo dolorido. Estava experimentando o maior prazer que já sentiu enquanto Marguarita estava totalmente e completamente aterrorizada. O corpo dela estava duro, tenso, a mente gritando em protesto. Seus pulmões queimavam por ar. Ele podia dizer que estavam quase se fechando completamente com o medo dela — por ele. Ajude-me, Marguarita. Tem que parar de lutar ou não serei capaz de recuperar o controle. Seus braços eram barras de ferro, a travando contra ele. Seu grito silencioso encheu sua mente. Ele tentou de novo. Embε karmasz — por favor. Ele não conseguia se lembrar de um tempo que já pediu a alguém alguma coisa, mas era imperativo que ela parasse de lutar com ele, e ainda mais imperativo que mais uma vez sentisse as coisas que ele estava sentindo. Ele podia substituir as barreiras colocadas em sua mente desde que nasceu, as barreiras reforçadas, obviamente, a cada geração. Mas só usava seus poderes para acalmar sua presa, e ela não era presa. Parecia mal tomar conta de sua mente e sentimentos e plantar memórias que não eram reais. Deve ter sido a inflexão em sua voz, a maciez articulada da sua própria língua, que penetrou seu terror, porque sentiu sua determinação súbita, o jeito como respirou irregular em seus pulmões e forçou seu corpo a ficar imóvel. Imediatamente ele foi capaz de levantar a cabeça, passar sua língua sobre os furos no pescoço para fechar as feridas. Ele a apertou ao ouvir seu pulso, sentindo a rápida batida contra seu peito. Enterrou o rosto em seu cabelo sedoso e grosso e apenas a abraçou, respirando por ambos. Sussurrou para ela na sua própria língua, mal sabendo o que dizia, sentindo as palavras saindo de um lugar tão profundo que nunca foi tocado, nunca foi e nem sequer sabia que existia. Ela alcançou algum reservatório de ternura desconhecido para ele — tão desconhecido que não tinha nenhuma ideia real do que fazer com ele. Era um dos Cárpatos mais velhos, um dos mais antigos, um dos mais experientes — e estava completamente fora de sua profundidade. — Te avio päläfertiilam — Você é minha companheira, uma mulher acima de todos. Segura o que resta da minha alma na palma das suas mãos. Mataria qualquer um por você. Tenho a

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intenção de morrer para protegê-la e mantê-la segura. Não tenha medo de mim, Marguarita. Desejo apenas desfrutar de algumas noites com você. Não tenha mais medo. Chocado com o que transmitia a ela, mesmo que ela não pudesse entender completamente o que tentava transmitir, ele manteve o rosto enterrado em seus cabelos perfumados e a apertou, tentando encontrar uma forma de confortar a ambos. Estava preparado para qualquer batalha — menos a do coração. Estava completamente e totalmente fora de sua profundidade, pela primeira vez em sua vida. O coração de Marguarita diminuía ao ritmo do dele. Seus pulmões seguiam o exemplo dele. Ela se moveu ao encontro dele, inclinando a cabeça para o olhar. Seu coração cambaleou e despencou aos seus pés. Lágrimas nadavam em seus olhos. Lágrimas nunca o comoveram. Na verdade, nunca pensou sobre o que queriam dizer ou por que as pessoas choravam. A dor estava muito longe da sua existência, mas de repente, aquelas lágrimas eram uma faca em seu coração, muito pior que qualquer vampiro rasgando sua carne. Sinto muito. Não estava preparada para a forma como me senti. Não vou lutar com você de novo. Ela baixou a cabeça rapidamente, mas não antes que ele pegasse o flash de apreensão. Zacarias fez uma careta. —Por que tem medo que eu tome seu sangue? É natural. Ele sentiu seu coração pular contra ele e a manteve presa na gaiola dos seus braços, porque precisava da confiança do seu coração batendo, do calor e suavidade dela. Queria que ela se rendesse, mas não assim. Seus dedos encontraram o queixo e o inclinou mais uma vez, forçando-a a encontrar seu olhar. Seus olhos vasculharam os dele, à procura de algo — confiança talvez — mas não ficaria zangado se dissesse a verdade. —Fale, — ele insistiu calmamente. —Não tenha medo da verdade. — Porque ele tinha que saber. Compreender seu raciocínio era tão necessário como respirar, o que era uma estranha sensação — precisar compreender por que ela lutava contra ele. Levou alguns momentos para juntar coragem para responder. Não é natural para mim dar meu sangue desta maneira. O vampiro rasgou minha garganta próximo ao local onde está tirando meu sangue e eu... entro em pânico. E então você... Ele pegou a impressão de um animal selvagem a atacando. Ele não considerou isso, que tomar seu sangue seria interpretado como um ataque. Toda a família dela sabia que os Cárpatos existiam pelo sangue. Eram obrigadas a fornecer para ele, seus irmãos e suas companheiras. —Não iria machucá-la. Sua mão subiu para cobrir o local em seu pescoço, onde sua marca era da cor de um morango brilhante com duas impressões distintas de furos. Eu sei. A impressão que enviou foi mista. Ela não sabia. Não compreendia plenamente que realmente era a pessoa mais segura no planeta. Ele era seu guardião. Seu protetor. Providenciaria

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que estivesse segura em todos os momentos. Até de si mesma, o que parecia ser seu maior trabalho. Mas primeiro, tinham que eliminar seu medo de dar sangue. —Não sabe. Tem medo de mim. — Mentiras entre eles não seriam toleradas, e mentir para si mesma era ainda pior. Ela engoliu em seco e assentiu relutante, pressionando a palma da mão com mais força contra sua mordida como se doesse. Seu cenho aprofundou. A teria machucada? Havia um agente natural entorpecente em sua saliva, isso não devia impedir que qualquer humano sentisse dor no processo? Ele nunca interagiu quando seus irmãos estavam com as outras espécies tomando sangue, ou se fez isso, não se lembrava. Talvez não sentisse nada há tanto tempo, que sua memória estava com defeito. Mesmo os homens e mulheres, que geração após geração serviam sua família por vontade própria o evitavam — e ele — aos homens. —Dói? Sua primeira reação foi acenar com a cabeça, mas viu sua mudança de expressão. Foi sua vez de franzir a testa como se ela não conseguisse decidir. —Mostre como parece. Ela virou o rosto em seu peito e o mordeu — forte. A dor piscou através dele e ele a cortou automaticamente, chocado que ela se atrevesse a fazer uma coisa dessas com ele. Ninguém nunca colocou as mãos — ou os dentes — nele. Nunca foi feito. —O que está fazendo, kislány kuηenak — Pequena lunática? Disse para te mostrar. Eu fiz. A riqueza na satisfação derramava por cima dela e descobriu essa estranha sensação de felicidade — e riso — brotando do nada, uma vez que parecia fazê-lo de forma inesperada ao seu redor. Ela o mordeu e ele achou um pouco engraçado. —Não te dei permissão para me morder. Quis dizer na sua cabeça. Mostre-me a sensação da dor. Sentiu dor quando eu te mordi. Ele acariciou a mão abaixo da cascata do sedoso cabelo preto meia-noite. Agora, ainda mais do que antes, era um preto verdadeiro, tão brilhante que mal conseguia arrancar os olhos dele. —Eu não sinto dor. Sente. Simplesmente não se permite reconhecê-la. Estava ligado com você e a senti. Seu poder sobre ela apertou. O que estava fazendo, se colocando numa posição tal que não apenas sentia sua própria dor, mas a dele também? —Não entendo, Marguarita. Não faz nenhum sentido para mim. Tem medo que eu vá lhe causar dor e, em seguida, deliberadamente se conecta à minha mente para sentir qualquer dor que possa me causar. É de alguma forma razoável? Seu olhar permaneceu preso por um longo tempo com o dele. Um sorriso lento trouxe sua atenção para a boca, perfeita e sexy. Seu corpo reagiu de forma agressiva, novamente, uma onda de sangue quente correndo através de seu sistema para se juntar num só lugar. Os olhos dela

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foram do macio, champanhe derretido ao chocolate escuro, um mar de brilhantes diamantes que temia se apaixonar. Era proibido para ele. Sabia e aceitava isso. Ele era tão sombrio como o bando de pássaros voando sobre a fazenda procurando por ele — enviados pela pior das criaturas malignas aqui na terra. Nunca conheceu gentileza ou ternura. Não havia compartilhar com ele, nem espaços macios dentro dele e nunca houve. De fato, nasceu sem tais atributos. Em vez disso, nasceu com pura dominação e, numa época de guerra e incerteza, se tornou um caçador solitário incapaz de se preocupar em ferir o outro, desde que conseguisse seu objetivo final — a proteção da sua espécie. Sua crença em si mesmo era absoluta e aqueles a quem protegia acreditavam ainda mais. Que um homem protegesse sua mulher acima de tudo, era uma lei sagrada, e que ela o obedecesse, sem hesitar, era sua única forma de vida, mas no mundo moderno que não era mais assim. Talvez nunca fosse. Estava sem civilidade e nenhuma quantidade de boas maneiras suavizaria o que era — um assassino. Não se desculpava por seus modos, e nunca o faria. Talvez em outra época, muito antes desta, tentaria se reconciliar com o que deveria ser para ela — mas esse tempo há muito, muito ficou atrás. Era impossível. Seu olhar continuava preso no dele. Ele se consolou com a beleza dela. E sua coragem. Ela o encarava, apesar de seus temores. O salvou e quando chegasse a hora dele ir, ela enfrentaria sua passagem com coragem igual. Ele o faria tão fácil para ela como possível, embora ela nunca saberia o custo para ele. Seu olhar procurava alguma coisa nele, algo que ele sabia não estar lá. Não podia dar-lhe tranquilidade suave e promessas de comportamento educado e cortês. Não conhecia essas regras. Capturou o rosto dela, mantendo seu olhar no dele. —Faça-me compreender. Ela lambeu seu lábio inferior e ele teve uma vontade súbita de se inclinar para baixo e passar sua língua em sua boca — para saboreá-la de novo — aquele sabor indescritível que agora desejava de uma maneira nova e diferente. Porque falou como uma ordem, saiu desse jeito, mas queria que ela o ajudasse a compreender. Você me machucou. Me assustou. Na primeira vez. Como o vampiro. Ele fez uma careta para ela, balançou a cabeça em negação total, com desgosto que pudesse pensar uma coisa dessas. —Foi uma lição - e que precisava desesperadamente. Ele era sujo, e arrancou sua garganta. A teria matado para seu próprio prazer. Se não fosse assim... — Estúpida. A palavra vibrou entre eles, pairando ali em suas mentes. Ele limpou a garganta enquanto seus olhos se transformavam numa mistura de tempestade. —Então — teimosa —veria a diferença entre nós, sem esforço e não teria mais necessidade de um lembrete que a obediência deve ser imediata e sem dúvida. Essa lição deve ser suficiente para uma vida. Não é uma coisa boa cruzar meu caminho. Uma lição? Chama isso de me ensinar alguma coisa? Assustou-me até a morte. —Devia ficar com medo. Quando um Caçador exige algo de você, é por uma razão. Normalmente a vida e a morte estão envolvidos. Melhor se lembrar para sempre do que hesitar.

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E Julio? O olhava como se pretendesse matá-lo. Os olhos dela estavam arregalados, escuros, enormes, os cílios esvoaçantes tremulando nervosamente. Mas não desviou o olhar. Seu corpo reagiu à sua pergunta, seus músculos enrolaram, algo mortal atravessou sua alma. Sua mente amoleceu quando ela pensou em Julio. Ela tinha calor em sua mente, completa confiança. Coisas que só deviam estar lá por um homem — seu companheiro — não algum amigo de infância. Seu olhar ficou preso no dela. Contaria à sua mulher só a verdade. —Não é razoável para um homem permitir outros machos em torno de sua mulher. Os animais na selva não toleram tais coisas. Ele observou atentamente quando ela prendeu a respiração. Não era estúpida de forma nenhuma. Estava dizendo que ela pertencia a ele e viu o entendimento na sua expressão rapidamente velada. Ela ficou em silêncio por um momento, seus olhos em busca de algo indescritível que ele não sabia como dar — nunca soube dar. Não somos animais da selva. Ele queria que não houvesse enganos entre eles. Nenhum mal-entendido. —Eu sou. Ela balançou a cabeça em negação, em silêncio, mas reconhecia o assassino nele. —Você sabe que sou, Marguarita. Não posso ser outra coisa senão o que sou. Ela piscou. Engoliu em seco. Umedeceu os lábios. É uma coisa boa que não sou sua mulher. Ele desceu a mão pela cascata sedosa e escura do seu cabelo e se surpreendeu com a delicadeza com que a tocou — e no interior sentiu um amolecimento estranho. — Você sabe que não é verdade. Ela respirou, e ele mais uma vez sentiu medo, mas desta vez, tingido com outra coisa - talvez interesse. Ela não estava completamente imune a ele e ele a perturbava. Sou uma empregada que se comprometeu a servi-lo, señor. — Há mais que empregada e patrão entre nós, tanto quanto você quiser negar. Mas, por agora, vamos deixar assim. Não quero que tenha medo de mim tomando seu sangue. Serei mais cuidadoso com sua fragilidade. Ela piscou várias vezes e teria se afastado, mas ele deslizou para mais perto, sem parecer se mover, bloqueando sua fuga. Seus olhos o hipnotizavam, passando de champanhe espumante a um chocolate quente. A diferença era marcante para ele. —Acredito que estava prestes a beber seu chá e comer sua refeição. Ela olhou para a comida no balcão e balançou a cabeça. Ele teve a impressão imediata de frio. Ele acenou com a mão e vapor subiu da taça, assim como do prato. Seu sorriso era hesitante e quase tímido, mas ele achou o contraste de seus lábios, decididamente rosa, e dentes brancos bonito. Seus olhos eram totalmente marrons agora, a cor rica e fundida. Agora podia ver manchas

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intrigantes de ouro. O ouro poderia ser as estrelas no céu da meia-noite de seus olhos antes, brilhando como diamantes antes que ele pudesse discernir a verdadeira cor. Ela pegou a xícara e prato e ele recuou, dando-lhe espaço suficiente para que roçasse seu corpo quando fosse para a mesa. Ela teve cuidado, a mão tremendo um pouco enquanto acomodava a louça. Ele sabia que sempre veria todas as nuances, o menor detalhe, permaneceria focado e ciente de todos os seus movimentos, até do tremular de seus cílios. Ela sentou e o observou por um momento, ainda nervosa, como se estivesse presa numa gaiola com um felino na selva. Ele rondava perto, incapaz de resistir a um grunhido surdo, vendo seus olhos se arregalarem, e então ela sorriria para ele. E o sorriso veio, aquele sorriso lento, que parecia ondular através de seu corpo, suave no início, e depois ganhando força até que era todo calor e fogo correndo direto para sua virilha. Ela tomou um gole de chá. Pare de fazer isso. Faz isso para me assustar. Pela primeira vez, a impressão de riso era forte, enchendo sua mente. Não era apenas diversão ligeira. Ele a provocou deliberadamente e ela respondeu. Encontrou uma grande satisfação em saber que estava ciente de que ele brincava com ela. Era um dos milhões de conceitos que nunca entendeu antes, mas queria seu sorriso e tinha que fazer algo para superar seu medo. —Não está realmente com medo de mim agora, — declarou ele, e continuou a andar através da cozinha. A cozinha era espaçosa o suficiente para que ele tivesse espaço de sobra, mas raramente — ou nunca — passou algum tempo real dentro de um recinto que não fosse uma montanha, e sentiu as paredes o inibindo. Não podia cheirar o ar. Não podia continuamente coletar informações. O que a incomoda? As sombras sobre o rebanho? Ele parou de se mover bruscamente. Achou interessante que ela soubesse das aves contaminadas pelo mal e que elas cruzaram sua mente logo após ele pensar nas sombras que permeavam sua própria mente e corpo. —Não estou acostumada a ficar dentro de casa. Te incomoda eu me movimentando? Ela deu uma mordida em seu ovo, o observando atentamente. Eventualmente, balançou a cabeça. Parece muito poderoso e tende a dominar a sala. Acho que estou ficando um pouco mais acostumada a você e a forma fluida como se move, como um caçador. —Sou um Caçador. — Ele queria se acostumar com seu jeito. Havia graça nos gestos das mãos. Na inclinação da cabeça e no jeito como se sentava. Gostou do barulho silencioso de suas saias e da maneira como seu cabelo grosso caía numa cascata sedosa pelas costas até a cintura estreita. Seu cabelo o fascinava. Parecia tão viva, sempre em movimento, brilhante, as cores aprofundando quanto mais tempo estava em sua companhia. Será que vamos ser atacados? As aves estavam procurando você, não era?

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Ele leu seu medo pelos outros. Ele podia ver que se recusava a pensar sobre o que aconteceria com ela. Mais que tudo, leu seu medo por ele. Estava com medo por ele e isso não fazia sentido. Queria que levasse os vampiros para longe dela e da fazenda, mas podia ver sua relutância por ele ser encontrado. Pegou até mesmo a impressão de si mesmo no chão, como se estivesse se escondendo. Forçou-se a atravessar a sala e puxar uma cadeira à sua frente. —Realmente deseja saber a verdade sobre os pássaros? Sobre a família De La Cruz? Se me perguntar, vou dizer a verdade, então tome cuidado com o que deseja. Ela tomou outro gole de chá, estudando seu rosto pensativo sobre a borda. Seu olhar estava muito grave e em sua mente, a sentiu pesar suas palavras. Seu assentimento foi lento, mas muito firme. —Depois do ataque a você, foi descoberto que os cérebros por trás da conspiração para assassinar o príncipe do povo dos Cárpatos reuniram um exército e tinham a intenção de realizar seu plano de batalha contra o príncipe, testando seus planos primeiro numa das propriedades da família. Estávamos convencidos — e corretos — ao pensar que seria na nossa maior fazenda no Brasil. A maioria da minha família e suas companheiras estão reunidos lá e era um lugar lógico para tentar alcançar todos num só golpe. — Ele mostrou os dentes. —Não esperavam que eu estivesse presente. Ela umedeceu os lábios. Os separou. Ele perdeu a linha de pensamento. Ela piscou várias vezes. Seus cílios eram grossos, as pestanas longas e ele se encontrou as admirando. Nunca notou esses detalhes em outro ser. Ela franziu a testa para ele, suas sobrancelhas juntas, pequenas linhas aparecendo por um instante e sumindo no recuo em sua bochecha direita quando seu sorriso desapareceu. Conseguiram? Pegaram todos juntos? —Pensaram que sim. Não contaram comigo e outro guerreiro, Dominic. Nem consideraram que as mulheres lutariam — ou os humanos. — Só depois de ver as feridas de Marguarita após a harpia a levar através do céu, rasgando sua carne com suas garras, ficou mais consciente da fragilidade dos humanos — e ainda assim seu povo voluntariamente foi para a batalha, para defender a propriedade. Sabiam o que estavam enfrentando? Ele sacudiu a cabeça erguida. —Está lendo meus pensamentos? Seus sentimentos. Sente tristeza pelos que caíram. Você os admirá. Ele balançou a cabeça para negar a acusação. Não sentia nada. Sua mente catalogou a compreensão do fato, o armazenou juntamente com todas os outros pedaços de informação que coletou em sua longa vida útil. Mas as emoções não tinham lugar em seu mundo. Sabiam o que estavam enfrentando? — Ela pediu uma resposta. Ele acenou com a cabeça.

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—Nicolas falou com todos e deu-lhes a opção de sair. Foi recomendado que as mulheres e crianças fossem retiradas. Se recusaram. Ficaram, embora meu irmão deixasse claro que sofreríamos baixas e qualquer um que saísse não perderia seus direitos de continuar a trabalhar para nós. Um assalto completo nunca foi planejado e lançado por vampiros, e sabíamos que a batalha seria brutal. Mostre-me. —Não.— Ele disse a palavra em voz baixa. A cor lentamente deixou sua pele. Seu olhar desviou do dele. Sentiu a pergunta e havia um tom de mágoa junto. —A guerra não é para você. Teve um encontro com um vampiro e é mais que suficiente. Nunca vão chegar perto de você novamente, enquanto eu estiver vivo. Marguarita pousou o garfo e estudou seu rosto. Trabalho para sua família. Juramos proteger você, señor, não só eu, mas todos os outros que trabalham aqui. Somos tão corajosos e tão leais como aqueles que o servem no Brasil. Levou um momento para assimilar o amontoado de impressões que ela enviava. Ele a ofendeu. —Entendeu-me mal. Estou bem ciente da sua lealdade e coragem. Sei que tem toda a intenção de me proteger... — Ele imaginava que acharia a ideia não só ridícula, mas estúpida e ingênua. Uma fantasia de infância. Mas viu que seu pensamento mudou ao saber dela. Não podia evitar ficar secretamente contente, pois embora ela o temesse, de fato correu para chamar os caçadores para matá-lo, mas ao pensar em vampiros vindo por ele, seus pensamentos eram ferozmente protetores. Sentimentos eram coisas estranhas e difíceis de aceitar, em si mesmo e nos outros. Emoções claramente complicavam tudo. Ela esboçou um ponto de interrogação no ar entre eles. Ele balançou a cabeça e se recusou a responder. Queria a mente dela firmemente na dele. Não exigiria nada menos dela. Sua capacidade de comunicação crescia cada vez que ela formava imagens e impressões sobre as palavras que queria falar. Seria diferente de seus companheiros humanos. Com ele, ela poderia "falar" sem sua voz real. A intimidade o agradava. —Vai obedecer-me nisto, Marguarita, sem dúvida. Ele deliberadamente prendeu seu olhar por um momento para que ela pudesse ver que haveria retaliação rápida caso se atrevesse a desafiar essa ordem direta. E sabendo de sua enfermidade estranha que a obrigava a fazer o contrário de um comando, a observaria bem de perto para não ter desafio. Esperou até que ela desviou o olhar primeiro antes de continuar. — Matamos cada um dos vampiros enviados atrás de nós, assim como os marionetes que criaram. Os cérebros não tiveram tempo para erguer outro exército para trazer contra mim. Em vez disso, suspeito, vão beliscar pelos lados para me enfraquecer e depois um virá na tentativa de me destruir. Aprenderam a lição agora.

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Desta vez, o ponto de interrogação foi meticulosamente desenhado em sua mente. Descobriu que a bolha de riso quente estava subindo. Ela estava tão obviamente irritada com a palavra obedecer. A maneira como se contorcia um pouco em sua cadeira e tentava com tanto cuidado esconder sua irritação dele era bastante cativante. Poderia simplesmente ter que jogar essa palavra na conversa, muitas vezes para ver o que acabava acontecendo. Se alguém se atrevia a surpreendê-lo, era, obviamente, Marguarita. O que significa isso? Lição? O que isso os ensinou, quando enviaram um exército atrás de você e seus irmãos? —Gostam de ficar seguros e sacrificar seus peões. Dois dos cinco mestres foram destruídos. Há mais três. Se me querem morto, só um mestre terá uma chance de me derrotar. Não qualquer Mestre, mas um dos irmãos Malinov deve vir por mim. Um arrepio passou por ela. Seus quentes olhos castanhos ficaram muito escuros. Ele se inclinou para perscrutar os enormes e suaves olhos de pomba. — Não precisa ter medo. Congratulo-me com sua vinda. Se ele me derrotar, ficará com muito medo dos meus irmãos para permanecer por perto. Abruptamente ela empurrou a cadeira para atrás, se levantou e levou sua refeição inacabada e a xícara para a pia, onde meticulosamente lavou e secou a louça, de costas para ele. Era um bobo gesto humano, dar as costas, como se isso pudesse mantê-lo fora de sua mente. Não havia como se afastar dele agora que a descobriu — compartilhou sua mente e sangue requintado com ele. —Falo apenas a verdade para você. Ela se virou, de costas para a pia, com o rosto tão expressivo que seu coração apertou com a força de um torno. Desta vez, quando a dor brilhou através de seu corpo, fez um esforço consciente para sentir, para permiti-la em sua mente. Seus olhos nadavam em lágrimas, transformados numa linda piscina insondável. Era impossível compreender plenamente o amontoado de impressões em sua mente caótica, mas estava chateada e ele de alguma forma conseguia ser o único a perturbá-la. Zacarias suspirou. Fêmeas eram difíceis na melhor das hipóteses, nunca se sabia o que iam fazer de um momento para o outro. Eram sem lógica ou razão. Pelo menos esta era. Não esteve em torno de qualquer outra por qualquer quantidade significativa de tempo, então talvez as outras fossem diferentes, mas essa mulher não fazia nenhum sentido para ele. —Pare com isso, — ele ordenou abruptamente, pressionando a palma da mão dura sobre o coração como se pudesse curar a dor que suas lágrimas causavam. Parar o quê? Ela parecia confusa. Ele olhou fascinado e horrorizado quando uma lágrima rolou de seus cílios e correu pelo seu rosto. Seu coração palpitou. —Isso, — ele rosnou.

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Ele se aproximou, a empurrando. Ondas de angústia derramavam fora dela. Não havia nenhum som, nem mesmo um pequeno, mas estava ciente de cada pequena coisa sobre ela, e no fundo, onde ninguém jamais veria, estava chorando. O veneno ácido do sangue do vampiro não podia matá-lo. Tortura. Ferimentos mortais. Ele sofreu todos e sobreviveu, mas isto... este choro silencioso desta mulher por ele — e Deus ajudasse os dois, era por ele — era demais. Podia se dissolver numa poça aos seus pés. Totalmente inaceitável e preocupante que ela pudesse exercer tal espada poderosa contra ele. Ele a puxou contra ele, seu corpo cedendo, suave, de modo que o ar correu para fora de seus pulmões e ela teve que se agarrar em seus braços para se equilibrar. Precisava segurá-la com ele, sem uma ideia clara de por que, mas não conseguia olhar para seus olhos encharcados de lágrimas outro momento. Uma mão passou sobre o rosto, enxugando todas as provas. Ele levou a palma da mão à boca e provou suas lágrimas. Não pode me ordenar que não chore. —Claro que posso. E por tudo que é santo, desta vez, vai me obedecer. —Envolvendo a parte de trás da cabeça dela, apertou seu rosto contra o peito. No início, ela ficou tensa e rígida, mas em breve, quando o calor de seu corpo vazou para o frio do dela, ficou mole e flexível em seus braços. Ele deveria permitir que se afastasse dele, mas era mais fácil manter alguma aparência de controle sobre ela quando a abraçava. Na verdade, seus braços se tornaram uma gaiola de ferro e não estava totalmente certo se era consciente ou inconsciente ao segurá-la contra ele, mas descobriu que não podia baixar os braços. Passou a mão pelo comprimento de seu cabelo. Poucas mulheres modernas pareciam ter cabelos longos. A memória de um longo tempo atrás apareceu quando enterrou o rosto nas vertentes de seda. Mulheres em vestidos longos, conversando, os vasos de água em suas mãos enquanto voltavam ao acampamento. Ele as notou porque pareciam tão felizes. Três dias depois, quando voltou à procura de onde perdeu o rastro do vampiro, as mesmas mulheres estavam numa pilha rasgada e sangrenta na lama, os olhos olhando para a lua vermelha, seus rostos como cera, seus cabelos emaranhados e sujos. Não. Marguarita repente estava aflita, jogando os braços em torno dele e o puxando para ela. O gesto foi tão inesperado e chocante que ele quase se afastou dela. Ele a mantinha presa, mas agora, embora fosse muito mais fraca que um Cárpato macho, parecia levar a melhor. Por favor, não se lembre. Isso o machuca. Sei que diz que não sente, mas sente. Derrama através de você e se instala por dentro. Só não lembre mais. Não agora. Ele coçou o queixo no topo da sua cabeça. Os fios de cabelo se enrolaram na sombra pesada em seu queixo, quase como se o cabelo dela pudesse amarrá-los juntos. —Por que está tão chateada? Aceita sua própria morte tão facilmente. Olha adiante para combater um vampiro mestre. Teria queimado ao sol. Apenas age como se nada tocasse em você, mas se destrói de dentro para

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fora. Todas essas mortes. Acha que não o afetam, mas o fazem. Vê sua própria morte, não porque teme se tornar vampiro, mas por que não pode viver com a dor de quem e o que é mais. E você não é como se vê, não realmente. Seu punho fechou e ela bateu no peito numa pequena bateria rítmica. Duvidava que ela sequer soubesse o que estava fazendo, ou certamente não se atreveria a agredi-lo. Era pouco mais que um tapa, assim preferiu ignorar sua indiscrição, intrigado pelas coisas que ela disse. Cobriu seu punho com a palma da mão e apertou até que ela ficou imóvel. —Não sinto, Marguarita, tanto quanto gostaria. Perdi minhas memórias. Essas coisas que fala podem ter existido numa outra vida — há muito tempo — mas já não lembro delas. Isso não é verdade, Zacarias. Eu juro, não é verdade. Estou dentro de você e vejo as batalhas, as memórias, e sinto a dor. A tristeza é tão intensa e avassaladora, diferente de tudo que já experimentei — e perdi meus pais e conheço a tristeza. Não posso sentir algo assim. Eu não sinto. Como ela podia sentir sua dor quando ele não a sentia? Ela estava simplesmente projetando seus próprios sentimentos sobre ele? A conexão entre eles ficava mais forte a cada vez que a usavam, mas ainda assim, seria impossível ela sentir o que ele não fazia. —Mostre-me, — ele sussurrou contra seu ouvido. —Mostre-me o que vê em mim. Num minuto era Zacarias De La Cruz. Guerreiro Cárpato. Caçador. Sozinho. Estava dentro do gelo. Frágil e gelado. Gelo se movia em suas veias. E então ela o invadiu como grosso mel quente, enchendo todos os espaços vazios dentro dele. Encontrando todos os cantos escuros, arrancando todos os segredos de dentro de sua mente. O mel quente se espalhou através do gelo, encontrando todas as conexões quebradas, construindo pontes, preenchendo os buracos, restaurando as conexões quebradas. Eletricidade chiou, arqueou e o atingiu na cabeça. Ele a sentiu em cada respiração. Inalou com ela. Seu coração batia e estava dentro de seu próprio peito. Ela estava dentro dele até que era tudo, tudo dentro dele estava cheio de Marguarita, cheio de todo esse calor. Com sua luz ofuscante. O calor derreteu o gelo, o aprisionando, derreteu mais rápido que qualquer barreira que pudesse usar para detê-la. Ele piscou rapidamente, sentindo sua exploração o fechando, preenchendo os espaços cada vez mais com ela mesma até que, pela primeira vez, estava completo. Não estava sozinho. Estrelas explodiram em sua cabeça, se abriram numa mistura primitiva, se apressando para ele tão rápido que, tão rápido não conseguia entender o que estava vendo.

CAPÍTULO 8 Os irmãos de Zacarias estavam agachados entre as rochas, o choque em seus rostos. Riordan era pouco mais que um bebê recém-nascido, mas não havia nada jovem na sua consciência ou intelecto. Olhava o vampiro se aproximando com o mesmo choque e horror dos seus irmãos mais

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velhos. Acima deles, nuvens escuras de tempestade se agitavam no céu, quase apagando todas as estrelas, mas a lua cheia brilhava vermelho-sangue, através das nuvens altaneiras, turbulentas. Se espalhem, atrás dele. Quando eu disser para correr, saiam daqui e não olhem para trás, Zacarias ordenou. Você é responsável por Riordan, Manolito. Se afaste com ele. Nicolas e Rafael, os protejam. Todos vocês, saíam daqui. Vamos ajudá-lo, Rafael disse, sua voz tremendo. Não pode fazer isso sozinho, declarou Nicolas, a tristeza escorrendo de cada palavra. Fuja, Zacarias. Venha com a gente, Manolito implorou. Zacarias ouviu os protestos, mas quando dava uma ordem, eles sabiam que deviam obedecer. Sua mãe estava morta, seu corpo dilacerado e sangrando, esmagado contra as rochas. Não havia tempo para lamentar sua partida ou pensar nela como era em vida. Seu pai chegou tarde demais para salvá-la, mas o vampiro que a matou estava em tiras ao lado dela, o corpo literalmente dilacerado. A pura selvageria da morte deveria tê-los prevenido, antes que o pai de Zacarias se virasse para enfrentá-los, mas mesmo assim, aqueles dentes irregulares e vermelhos — os enlouquecidos olhos foram um choque. As mãos de seu pai se levantaram para as montanhas, onde as pedras estavam equilibradas de modo precário. O chão tremeu. Zacarias não esperava o ataque aos seus irmãos e perdeu um segundo no combate. Jogou uma proteção perto dos meninos para protegê-los da avalanche, enquanto corria para o ataque. Sabia que seu pai não esperava o ataque e foi a única coisa que restou a ele. Seu pai era muito mais velho, mais forte, mais experiente, mas era um vampiro recém-feito e não usaria a adrenalina que a matança lhe deu. Seu pai era hábil em batalha, um lendário caçador cujo nome era sussurrado com temor, mas ensinou essas mesmas habilidades ao seu filho mais velho. Zacarias era ainda considerado um jovem Cárpato, mas lutava com vampiros em batalhas frequentemente. Ele já começava a perder suas emoções, as cores há muito desapareceram de sua visão e não estava nem perto da idade em que deveria acontecer. Atingiu através da forma sem substância de seu pai, tropeçando para a frente. O golpe o pegou duro pela parte de trás e o mandou voando para a frente nas poças de sangue do corpo de sua mãe. Derrapou no sangue com a face para baixo, quase parando sobre a cabeça de sua mãe. Seus olhos sem vida olhavam acusadoramente para ele. Ele apoiou as mãos para se erguer, só para descobrir que seus pulsos estavam enterradas na profundidade de seu sangue. Seu estômago embrulhou. Seu coração quase parou. Zacarias! Com o aviso de Nicolas enchendo sua mente, ele rolou, se dissolvendo no último momento, lembrando que podia. O punho de seu pai bateu fundo no chão, à direita através do corpo sem vida de sua mãe. Zacarias estava abalado até o âmago do seu ser, e tinha que se recompor, se queria sobreviver. E se não sobrevivesse, seus irmãos também não. Ele soprou para longe o sangue de

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sua mãe, cobrindo seu corpo e os olhos que o encaravam, o acusando de tentar matar seu próprio pai. Não seu pai. Vampiro. O não-morto. Uma criatura do mal que destruiria tudo e todos em seu caminho. Mesmo agora, a grama secava sob seus pés. — Vampiro. Não pai. Não era o homem que amava e respeitava acima de todos. Zacarias sentiu a frieza familiar o atravessando, o frio que percebeu mais cedo, até mesmo quando menino, mas agora o consumia como uma geleira, derramando no seu corpo, gelando suas veias. Quando os outros meninos estavam despreocupados, correndo e brincando, ele esteve silenciosamente observando maneiras de matar, de batalhar, despistar. Seus sentidos eram agudos, seus reflexos mais rápidos. Ele absorveu a informação, trabalhou em se esconder até mesmo de seus pais. Ele praticou mais e mais sua capacidade de se deslocar sobre os outros e observá-los por horas sem ser visto. Sabia até então que era diferente, que o frio penetrando em suas veias lhe dava uma vantagem que os outros não tinham, ele sabia, mas lutou com esse conhecimento. Estendeu a mão para o frio desta vez, ao invés de lutar para enfrentá-lo. Abraçou as sombras dentro de si, e permitiu, pela primeira vez, que a escuridão o levasse. Ela caiu sobre e dentro dele, se encaixando como uma luva, como um predador puro devia ser. Sempre soube que estava lá esperando para levá-lo. Lutou contra esse caminho, desesperado para ficar inteiro, mas sabia que não havia outra opção se queria sobreviver, e sobrevivência era essencial para proteger seus irmãos. Escolheu para si mesmo a fim de escolher a vida por seus irmãos. Moveu-se com o vento turbulento, deslizando atrás do vampiro em silêncio, reunindo sua força, furtivo como o mais experiente dos Caçadores. O não-morto olhou ao redor e não viu ou ouviu qualquer ameaça, cuspiu no chão e voltou sua atenção para os quatro rapazes presos na gaiola de rochas. Mostrou os dentes num sorriso malvado. —Ele deixou vocês para mim. Vou arrancar a cabeça do pequeno e me alimentar de vocês, membro por membro precioso, antes de devorá-lo vivo. Nicolas e Rafael eram dois jovens Cárpatos, ombro a ombro na frente de seus irmãos mais novos. Zacarias deliberadamente enviou uma pequena pedra rolando atrás dele. O vampiro virou a cara para o som, se tornando um alvo completamente frontal. Desviando o olhar, Zacarias ordenou aos seus irmãos. Todos vocês, desviem o olhar. Não prestem atenção nisto! Nicolas, cubra os olhos de Riordan. Nenhum de vocês vai presenciar. Com o coração na garganta, lágrimas queimando um buraco em sua alma, ele se moveu, assumindo sua forma física com indefinida velocidade, em seguida, deu um soco no peito de seu pai, usando toda a força que possuía. Ficou de igual para igual, procurando seu pai diretamente nos olhos enquanto despedaçava através do osso e músculo e agarrava esse órgão pulsante. Seu pai rasgou sua carne, arrancando grandes pedaços de pele e músculo dele, mas Zacarias fechou todos os sentimentos para a dor e toda a emoção para que pudesse salvar seus irmãos e a honra de sua família.

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O som foi horrível, um chupão terrível misturado com o grito de pura agonia de seu pai. O vampiro sibilou promessas, implorou e suplicou por sua vida, se enfureceu e rosnou votos de vingança e morte sobre os filhos, prometeu cortar as cabeças de seus irmãos e alimentá-lo com elas. Saliva e ácido queimavam sobre sua pele, e ele arrancou o coração do peito de seu pai e o jogou a uma certa distância. Seu pai agarrou os antebraços de Zacarias, olhando para ele chocado, cheio de sangue nos olhos. —Filho, —ele sussurrou. —Meu filho. Um grito silencioso brotou. Tomou cada grama de coragem que possuía para não colocar seus braços em torno desse corpo dilacerado e puxar seu pai para ele. Zacarias viu o homem que mais amava no mundo balançar e cair, primeiro de joelhos na frente dele e depois de bruços na lama. Ele recuou e chamou o raio do céu. Estava mais abalado do que sabia. O primeiro raio chiou e perdeu o órgão pulsante. O coração rolou, e aterrou no sangue de sua mãe. A visão era tão repugnante que se firmou e enviou o próximo raio atingindo diretamente o coração de seu pai, o incinerando. Zacarias se dobrou, incapaz de bloquear a dor excruciante, uma reação puramente física, que não conseguia controlar mais. Seu grito de negação rasgou de sua barriga atravessando seu coração despedaçado para se partir nos vasos sanguíneos de sua garganta. Não sentia suas feridas, algumas até o osso, ou o ácido queimando através da pele, deixado atrás pelo sangue do vampiro, só a agonia da morte de seus pais, da morte forçada sobre ele pela sorte, pelo destino. Da perda de toda sua inocência, de ser empurrado para um papel que nasceu, mas não queria. Não queria enfrentar o que já sabia — que as trevas o consumiam — se mantinham dentro dele. —Zacarias. — Nicolas estava lá, envolvendo um braço ao redor dele, tentando puxá-lo para longe da cena de morte. Zacarias se afastou dele, com medo de manchar seu irmão com as sombras que agora eram solidamente uma parte dele. Sombriamente incinerou os corpos de sua mãe e seu pai, o vampiro, antes de cuidar do ácido em sua pele. Ele se virou para estudar os rostos pálidos dos seus irmãos. —Nenhum de vocês nunca vai pensar nisso de novo. Não vão desonrar nosso pai ou a mim com essa memória, entenderam? Nunca. Não vão pensar nisso ou falar disso novamente. Chorem agora, porque quando sairmos daqui, estará acabado. Terminado. Digam-me que entenderam. Cada um de vocês. Digam. Jurem sobre a vida de nossa mãe. Cada um de seus irmãos jurou que obedeceria seus desejos e reafirmou sua lealdade a ele. Só então os deixou chorar enquanto ia a uma certa distância e afundava na terra e chorava pela última vez em mais de mil anos. Zacarias tocou seu rosto e as pontas dos dedos saíram manchadas de sangue. Podia sentir Marguarita em seus braços, a sentir dentro dele, ao seu redor. Seu batimento cardíaco estava rápido e sua respiração irregular. Ela estava chorando, e ele sentia a dor dela como se fosse dele.

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Assustado, olhou para seu ombro. A blusa tinha gotículas vermelhas no tecido. Sua garganta estava entupida e dolorida. Chocado, a empurrou para longe dele, tirando-a fora de sua mente, a rejeitando, rejeitando as memórias, rejeitando a agonia de tais coisas. A adrenalina e a absoluto rejeição das memórias — das emoções — colocaram muito mais força do que pretendia, e Marguarita voou, tropeçando a vários metros numa pequena pilha no chão. Ela olhou para ele com resignação, não fazendo nenhuma tentativa de se levantar. Zacarias respirou fundo e expulsou o gosto terrível em sua boca — em sua mente. Ele era Zacarias De La Cruz e estava... sozinho. Completamente, totalmente só. Sem ela em sua mente, enchendo os buracos, os lugares sombreados, nunca esteve tão sozinho. Podia sentir isso, esse vazio bocejando como um grande buraco sem fim ameaçando engoli-lo todo. Ele se apoiou ainda mais longe dela — esta bruxa virou sua vida de cabeça para baixo. A agonia da lembrança era insuportável. Tremores corriam através dele. Deu mais um passo para longe dela, colocando a distância da sala entre eles. Dentro houve um deslocamento terrível, como se estivesse rasgando seu próprio corpo a fim de se separar dela. Não tinha condições. Era um predador puro, nascido assim, sombrio desde o nascimento, envolto em gelo. Ela estava derretendo cada um de seus escudos, destruindo sua capacidade de funcionar adequadamente. Um silvo de advertência surgiu lento. Medo deslizou em sua expressão e em vez da satisfação que ele devia sentir, seu estômago deu um mergulho e algo cruel apertou seu coração. Você pediu-me para mostrar. Ele sentiu seu apelo, embora desta vez não estava certo do que ela fez. Ela estendeu uma mão trêmula para ele. Zacarias a estudou, seus olhos planos e frios, sua expressão deliberadamente distante. —De que serve isso comigo? Esta memória nunca deveria vir à superfície e ainda assim você trouxe algo que estava enterrado há mais de mil anos. Com que propósito? Mas a memória ainda está dentro de você e por isso dói. Você a trancou em vez de deixá-la ir. —Se eu não a sinto, ela se foi. Ela balançou a cabeça, deixando cair a mão. Se ela se fosse, eu não a poderia encontrar, ou sentir a agonia que sentiu. Ele desprezava sua lógica. Ela descobriu um segredo há muito enterrado, ninguém no mundo Cárpato, e muito menos no mundo humano, sabia. Ele deu um passo em sua direção, mostrando seus dentes juntos num aviso vicioso. —Deveria quebrar seu pescoço por tal indiscrição. Você é muito ousada. — Ele realmente torceu as mãos como se tivesse o pescoço entre suas palmas. Ela inclinou o queixo para ele. Estou cansada de ter medo de você. Faça-o então. Acabe com isso. Ele a alcançou tão rápido que ela não teve tempo de fazer nada, apenas piscar para ele. Seus dedos envolveram seu pescoço, a puxando em pé. Seu pulso batia na palma da sua mão. Ele sabia

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que no momento que a tocasse estaria perdido. Não havia como matar essa mulher, machucá-la de qualquer maneira. Rapidamente estava perdendo o medo dele e tinha todas as razões para ter medo. Cada vez que chegava perto dela, a inalava, olhava para ela, seu corpo reagia, cheio e duro e tão dolorido pela necessidade que rivalizava com o pulsar da fome em suas veias por ela. —Que o sol queime você, mulher, — ele sussurrou, soltando suas mãos. —Ninguém me controla. Ninguém. — Ele virou de costas para ela, saindo a passos largos da cozinha. Zacarias se dissolveu antes de chegar à porta da frente. Precisava estar ao ar livre onde podia respirar. Não pertencia a recinto fechados. O mundo continuou se movendo sem ele. Era um predador que sobreviveu ao seu tempo e não entendia nada do mundo moderno — nem queria. Casas e conveniências modernas não significavam nada para ele. Tinha a floresta tropical e cavernas, a própria terra era sua casa. Foi feito para ser sozinho. Nasceu para uma vida diferente e não tinha lugar num mundo com casas povoadas por humanos. Marguarita era um completo mistério para ele. Era como uma bonita atração que não podia resistir, o atraindo cada vez mais fundo em seu feitiço, onde teria que... Ele manteve sua mente fechada, se recusando a trazê-la com ele para fora da casa. Ia ficar lá, onde a deixou e ele retornaria quando conviesse. Nesse meio tempo, tinha outros problemas muito mais prementes que uma mulher que se recusava abandonar as coisas que nunca deviam ser trazidas à luz — como Zacarias De La Cruz. Ele escorregou pela fresta sob a porta e partiu para a noite, para o mundo que compreendia, onde era matar ou ser morto. Ele tomou a forma da harpia e subiu para o céu, circundando o rancho várias vezes antes de se retirar para a floresta. Não havia dúvida em sua mente que o mal estava lá fora e se espalhava através da grande floresta e abaixo pelo Amazonas e todos os seus afluentes procurando por ele. Ruslan Malinov, o mais velho dos irmãos Malinov e seu líder reconhecido, não aceitaria sua derrota numa boa. Precisaria de vingança e seria incapaz de passar a tarefa para outro, nem mesmo a um de seus irmãos. Os vampiros menores estariam olhando, esperando para ver se ele exigia sua vingança. Tinha que vir atrás de Zacarias ou perderia o controle de tudo que construiu. Ele viria, mas não viria abertamente. A harpia subiu ao ponto mais alto acima do rancho e se acomodou nos galhos de uma sumaúma alta. Tinha uma visão extraordinária, capaz de ver qualquer coisa pequena, até mesmo com menos de uma polegada, a uns bons 200 metros de distância. Como regra geral, a harpia tinha visão noturna pobre, mas Zacarias nasceu para a noite e sua visão noturna juntamente com a harpia era excelente. Ruslan enviou as aves contaminadas, e não seria a única coisa que enviaria à procura de evidências da passagem de Zacarias. Deixando o campo de batalha no Brasil, estava gravemente ferido. Deixou um rastro de sangue que levava direto a este rancho. Os espiões de Ruslan não teriam nenhum problema em seguir o cheiro. Não se importou porque tinha intenção de acabar com sua existência e atrairia Ruslan para longe de seus irmãos. O vampiro mestre ficaria satisfeito sabendo que Zacarias

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finalmente estava morto. Mas agora, porque estava vivo, Ruslan viria e traria com ele todas as coisas sujas que pudesse conjurar num curto espaço de tempo. Profundamente dentro da harpia, Zacarias sorriu, um sorriso triste, acolhedor. Destruir não-mortos era um território familiar, no qual ficava muito confortável. Descobriu que acolhia as noites vindo. Um jogo de inteligência. Ruslan sempre foi inteligente e arrogante e isso o levaria à sua queda inevitável. Ele se considerava muito acima da linhagem Dubrinsky, e acreditava que com o assassinato do príncipe se tornaria o líder do povo Cárpato. Houve um longo tempo atrás quando Ruslan e Zacarias foram os melhores amigos. Lutaram juntos, lado a lado, cuidaram um do outro tão perto como irmãos de sangue, mas Ruslan cruzou uma linha impossível de retornar. Ruslan nunca admitia cometer um erro, e sua arrogância cresceu ao longo dos séculos. Até agora, evitou um confronto direto com Zacarias, mas ele viria. Zacarias olhou para a casa. A atração da mulher crescia mais forte a cada momento. Ela penetrou em seus pensamentos e se recusava a sair. Ele não escaparia, nem mesmo dentro do corpo da águia. Estava lá em sua mente, o envolvendo em sua teia de seda. Ele queria vê-la, saber que estava segura, e sua mente continuava tentando se sintonizar com a dela. Marguarita Fernandez era sua companheira verdadeira. Não havia como negar o fato agora. A encontrou e o perigo aumentou em mil vezes. Seu pai nasceu com aquela mesma mancha sombria que Zacarias tinha em abundância. Ele encontrou sua companheira, viveram muitos séculos, mas no final, nada disso importou. Com sua companheira rasgada e sangrando, ele se transformou... Fechou sua mente àquela atrocidade. Que o sol queimasse Marguarita Fernandez. Ela abriu a caixa de Pandora e não havia como fechá-la agora. Estava perdido, não importa o quê fizesse. Se a reivindicasse, se não a reivindicasse, e como não o faria? Estava preso a ela de forma irrevogável e a força desses laços crescia a cada hora que passava. Tinha que protegê-la a todo custo e, no momento que Ruslan descobrisse sobre ela, usaria todas as armas em seu arsenal para chegar até ela. Sabia o perigo para a alma de Zacarias. Zacarias já estava tão perto de se transformar, que perder Marguarita o jogaria sobre a borda tão seguramente como fez com seu pai. Ruslan faria tudo ao seu alcance para derrubar Zacarias, através da sua companheira. A lua começou a desvanecer, apesar da luz que se derramava, banhando o chão em raios prateados. Estrelas brilhavam e algumas nuvens deslizavam muito lentamente através do céu, mais fiapos que reais. Levou um momento, enquanto olhava para o rancho, antes que percebesse que alguns dos tons acinzentados da grama e cercas se aprofundavam para outros matizes. Águias, como a maioria das aves, viam em cor, e a harpia não era exceção, mas mesmo dentro da ave de rapina, Zacarias nunca foi capaz de distinguir qualquer cor que fosse. Quase caiu do galho da árvore olhando baixo na grama no campo. O cinza se transformou em tons de verde e amarelo. O suficiente para que à luz brilhante da lua ele se sentisse um pouco deslumbrado com a visão. Os currais e cercas pareciam um marrom monótono de madeira, mas definitivamente castanho

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contra o cinza que estava acostumado. Antes, começava a ver apenas Marguarita em cor. Agora, o mundo em que vivia parecia vivo. Ele forçou seu olhar para longe da fazenda e de volta para os campos. Espiões vinham de todas as formas e era bom estar preparado. Apenas Cesaro, Julio e Marguarita realmente o viram e todos sabiam que nas suas rotinas diárias, vigilância seria acrescentada. Cada trabalhador na fazenda estava equipado desde o nascimento com a proteção de suas mentes. Nenhum vampiro podia penetrar os escudos. Também foram treinados desde o momento que eram crianças na luta contra os não-morto. Os jogos ensinados às crianças eram realmente habilidades necessárias para matar um vampiro. Cada homem e mulher que trabalhava em qualquer uma das fazendas sabiam, que se um De La Cruz estava na residência, o perigo era muito alto e tomavam precauções. Animais eram transferidos para áreas protegidas e todos os cavaleiros carregavam tanto armas modernas como antigas, geralmente escondidas, assim nenhum espião perceberia que estavam mais armados que de costume. A floresta tropical tinha um jeito próprio de rastejar de volta para recuperar seu próprio território, e apesar dos trabalhadores do rancho lutarem para conter o crescimento, trepadeiras serpenteavam seu caminho ao longo do chão e se esgueiravam sob as cercas e enraizavam nos campos. Algumas dessas trepadeiras abriam caminho até os postes e cercas. No canto do campo distante, onde o gado vagava, várias plantas grossas rompiam do chão em alguns lugares. A harpia foi para o ar e circulou acima do campo, seu olhar agudo sobre a fixação das plantas. As trepadeiras eram retorcidas, tranças grossas de madeira escura e com uma seiva grossa deslizando. Pareciam crescer num ritmo rápido, comendo tudo em seu caminho. Mesmo enquanto a águia observava, um rato curioso corria pelo gramado e se arriscava muito perto. A seiva escorria ao longo da planta e pingava no chão. O rato farejou a substância curiosa. A seiva pareceu alcançar o roedor curioso, espirrando acima, em torno do ratinho, o envolvendo na substância escura e oleosa. O rato gritou, levantando a cabeça para o ar enquanto a seiva o envolvia, comia a infeliz criatura viva, direto através da pele, através das paredes de pele e tecido, até devorar os minúsculos ossos. Seiva que podia devorar um boi, cavalo ou humano — com a mesma facilidade. Zacarias observou cada lugar que as trepadeiras cresceram e foi para a pequena casa onde Cesaro e sua família viviam. Seria necessário que os humanos reconhecessem a planta e a marcassem sem passar perto dela, bem como se assegurassem que todos os animais permaneceram longe. Cesaro respondeu à sua chamada imediatamente, saindo para a varanda, ainda abotoando a camisa e fechando a porta às pressas sobre o rosnar do cão, encolhido atrás dele. —Há algo de errado, señor? Ele parecia tão inquieto quanto seu cão. Zacarias saiu na varanda para colocar um pouco de distância entre ele e o cão agora na janela, rosnando e quase espumando pela boca. Não havia dúvida que os animais ficavam perturbados pela sua presença.

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—Infelizmente encontrei provas do mal rastejando para o rancho. Quero que venha comigo para que possa identificar a planta para todos aqueles que trabalham com você, antes que eu a destrua. Ele vai matar, não só vida vegetal e animal, mas humana também. Cesaro imediatamente acenou com a cabeça. —Precisa do meu filho? O primeiro pensamento de Zacarias foi sacudir a cabeça. Como regra, evitava o contato com os trabalhadores, sabendo que os deixava tão desconfortáveis como fazia com os animais, mas talvez precisasse passar algum tempo com Julio. Zacarias sabia que seria difícil um predador permitir que sua mulher ficasse com um homem por quem sentisse afeição genuína, de modo que para manter o filho de Cesaro seguro, era melhor averiguar suas intenções com Marguarita. —Sim. Queremos ter certeza não há lugar na fazenda que esta planta vá crescer. Seu filho passa uma boa quantidade de tempo na sela e cobre boa parte do território. —Apenas um momento. — Cesaro desapareceu dentro da casa. O cão era irritante. Zacarias aguentou os irritantes rosnados mais alguns minutos e então acenou com a mão e o barulho terminou abruptamente. O cão continuou a olhar pela janela, mas quando abriu a boca para latir ou rosnar, nenhum som saiu. Cesaro saiu apressado seguido de Julio. O rapaz parecia mais jovem que Zacarias lembrava. Na verdade, ele mal olhou para o garoto quando o puxou pela janela, com intenção de matá-lo por se atrever a pôr suas mãos sobre Marguarita. Julio tocou o pescoço e depois endireitou os ombros. —Não levaremos os cavalos, — Cesaro disse ao seu filho, dando um olhar rápido em direção Zacarias. —Não até vermos tudo que o Señor De La Cruz precisa nos mostrar. Zacarias liderou o caminho em direção ao campo de atrás. As trepadeiras já tinham circulado a cerca e cresciam grossas ao longo do canto de atrás. Ele acenou com a mão em direção à planta. —Isso é mortal para qualquer coisa viva que chegue perto dela. Vou incinerá-la, mas terão de ficar muito vigilantes. Todos vocês. Ela continuará a voltar enquanto eu estiver na residência. —Quanto tempo pretende ficar? — Cesaro perguntou. Zacarias o fulminou com um olhar fresco. —Indefinidamente. — O homem empalideceu sob sua pele bronzeada, então Zacarias teve pena dele. Tinha que ter, então eventualmente disse. —Há uma complicação imprevista. Cesaro olhou para Julio. Zacarias suspirou. —Não gosto mais disso do que você. Tanto quanto está perturbado pela minha presença, estou perturbado pela sua. —Você não compreende, señor. Esta é sua casa e, certamente, deve ficar o tempo que desejar, — Cesaro corrigiu às pressas. —É que Marguarita é necessária com os animais e importante para manter nossa rotina regular. Temos um par de éguas para dar à luz a qualquer

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momento e com você presente, o gado tem que ser vigiado continuamente. Ela é boa acalmando todos os animais. —Receio que terá que conviver sem ela. Julio olhou para ele bruscamente. Puxou seu chapéu abaixo, perto dos olhos. —Ela está bem? —Por que não estaria? — Zacarias desafiou. —Ela está sempre fora com os cavalos, — explicou Cesaro. —É preocupante que não tenha ido ao estábulo e, pelo menos, verificado as éguas. —Ela está bem. — Isso não era de todo verdade. Ele a jogou do outro lado da sala e não a verificou. Estava sempre esquecendo como os humanos eram frágeis. —Gostaria de vê-la, — disse Julio. Zacarias o interrompeu abruptamente. Sentiu o familiar frio varrendo através de seu corpo. Seu olhar se dirigiu ao homem mais jovem, um direto olhar predador. Sentiu a necessidade de matar crescendo, o desejo cru de remover todos os obstáculos do seu caminho. —Por quê? Cesaro chegou mais perto de seu filho, mas Zacarias o deteve com um movimento de seu olhar. A tensão esticou. Julio não se deixou intimidar, ignorando a restrição de seu pai. —Marguarita é como uma irmã para mim. A amo e preciso saber que está segura, bem e feliz. Nunca estaria de bom grado evitando verificar os cavalos. Os cavalos são sua paixão e o fato de não ir ao estábulo não é bom sinal. —Marguarita é minha companheira. Cesaro prendeu a respiração, sacudiu a cabeça em negação, em simples choque. Julio franziu a testa e olhou para seu pai pedindo uma explicação. —Isso não pode ser, señor, — protestou Cesaro. —Ela é uma de nós, não dos Cárpatos. Há algum engano. —O que isso significa? — Julio exigiu. —Não entendo o que isso significa. —Isso significa que ela pertence à mim. É minha mulher. Minha esposa. O que a coloca em perigo mais que pode imaginar. Se souberem que é minha companheira, todos os vampiros e seus marionetes no mundo todo a procurarão para matá-la. É muito mais seguro para ela ficar no interior da casa até que eu possa remover o perigo imediato para ela. Julio balançou a cabeça. —Não pode simplesmente vir aqui e decidir que Marguarita é sua mulher. Ela pode trabalhar para você, mas tem direitos. O que ela diz sobre isso? —Julio, — Cesaro sibilou o aviso. —Ela não tem escolha, — disse Zacarias, baixando sua voz num aviso aveludado. —Em nosso mundo, o homem reclama sua mulher e ela está ligada a ele. Não há volta para nenhum deles. —É um erro. —É impossível ser um erro, — disse Zacarias. —Ela é minha.

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—Não parece feliz com isso, señor, — Cesaro disse rapidamente, interrompendo seu filho antes que Julio pudesse falar. —Talvez neste caso, algo possa ser feito para libertá-la. Certamente não quer estar preso a uma mulher humana. Uma que não pode falar. Houve um curto silêncio, enquanto Zacarias girava a ideia mais e mais em sua mente. Juntando tudo, era este o pensamento exato, —não queria estar preso a uma mulher humana — qualquer mulher — mas especialmente uma que não sabia o mínimo sobre obediência. Considerou se afastar dela, apenas a deixar sem uma palavra. Pensou em ficar alguns dias só para ver as cores e sentir um pouco antes de terminar seus dias. A voz de Cesaro dando vida aos seus próprios pensamentos mudou tudo. Sentiu sua barriga apertar, seu corpo reagindo fisicamente ao pensamento de perdê-la. Sua boca ficou seca, algo apertou seu coração duro em seu peito. Tudo nele se rebelou contra a ideia de quebrar os laços entre eles. Marguarita era sua mulher. Não estava disposto a descobrir uma maneira de se livrar dela. Não acreditava que houvesse uma maneira, mas mesmo assim, ela pertencia a ele e nunca abriria mão dela de bom grado. Não para humanos, nem para vampiros, e certamente não para outro homem. Então, lá estava ele. Tinha uma companheira, tão louca quanto a mulher era, pertencia a ele e a manteria. Mostrou seus dentes para Cesaro, permitindo que um alongamento absoluto do predador aparecesse em seus olhos como aviso. —Não vou desistir dela. Sem discussão. Se você se importa tanto com ela como diz, isso vai ficar entre nós. Ninguém mais pode saber, nem mesmo os outros membros de sua família. É a única maneira de mantê-la segura. —Ela é prisioneira? — Julio ousou perguntar. Zacarias tocou sua mente. A barreira do homem estava intacta, mas Zacarias tomou seu sangue e empurrou mais para ganhar a entrada. Julio apertou os dedos nas têmporas, balançando a cabeça. —Apenas me diga o que quer saber. Zacarias já estava recebendo as impressões que precisava. Julio amava Marguarita como uma irmã. Era um alívio saber que não tinha que matar o filho de Cesaro. —Quem é este homem que não gosta que fique ao redor visitando Marguarita? Julio o olhou assustado. —Estava pensando nele? —Não gosta da ideia de Marguarita ser minha companheira, mas gosta menos ainda da ideia dela ficar com este homem estranho, — disse Zacarias. —Conte-me sobre ele. Estavam se aproximando da trepadeira e Zacarias acenou para os homens pararem, não querendo que chegassem perto da seiva traiçoeira. —Só no tempo que passei com você, as trepadeiras se espalharam. —Nunca vi nada parecido, — disse Cesaro. —A planta parece viva, comendo tudo em seu caminho.

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Zacarias concordou. —O vampiro inclina tudo para seu propósito maligno. Sabe que estou na residência e estará beliscando meus calcanhares na esperança de me enfraquecer antes que se mostre. Não tente matar essa planta. Se alguém encontrá-la, me avise imediatamente. Ambos os homens pisaram bem atrás, quando Zacarias acenou para se afastarem da planta destrutiva. Acima de suas cabeças, as nuvens se juntaram, agitadas e revoltas, veias de prata tremulando no interior turbulento. O relâmpago pulou no chão, os garfos branco-quente de energia traçando o caminho das trepadeiras grossas, incinerando a madeira, folhas e seiva em todos os lugares que tocava. Um mau cheiro muito parecido a ovos podres permeou o ar. —Não respirem, — Zacarias advertiu. A trilha de cinzas queimando cresceu longa e larga, correndo pelo terreno e sob ele, seguindo o caminho das trepadeiras de volta à fonte original — a borda da floresta tropical. Ficou claro, vendo a cinza enegrecida que a planta viajava em direção à fazenda, à procura do lugar de descanso de Zacarias. —Conte-me sobre esse homem que não gosta, o que acredita estar cortejando minha mulher, — ordenou Zacarias quando voltaram à fazenda. A luz começava a raiar em todo o céu noturno, fazendo as estrelas e lua desaparecerem. Zacarias apressou o passo. Proteções seriam necessárias em toda a fazenda agora. —Esteban e sua irmã Lea, se mudaram para cá há alguns meses, — Cesaro disse, olhando para seu filho confirmando. Julio assentiu com uma pequena careta. —Muito rico e muito arrogante. Este não é o tipo de homem que se instala aqui. Não tem nenhum interesse real em pecuária ou criação de cavalos. Me pergunto por que este tipo de homem viria para esta parte remota do país quando é tão obviamente um homem da cidade? —Essa é uma boa pergunta, — afirmou Zacarias. —Já tem uma resposta? Julio suspirou e balançou a cabeça. —Conversamos sobre isso várias vezes. Ou estão se escondendo aqui, fugindo de algo ou... —Ele parou e olhou para o pai. —Ou estão esperando que chegasse um De La Cruz, — admitiu Cesaro. —Não é segredo que é o dono desta terra. É muito maior que qualquer outra exploração aqui no nosso país e, embora no registro conste que cada um de seus irmãos comprou essa terra junto, uma família com tanta área cultivada é rara. Sua família tem certa reputação e muitos homens gostariam que se soubesse que são amigos. E esse homem, Esteban, muitas vezes cita o nome De La Cruz, fazendo perguntas que não respondemos. —É possível que saiba o que não deveria, — acrescentou Julio com relutância. —Será que expressou suas preocupações para Marguarita? — Zacarias perguntou. —Marguarita é completamente leal à família De La Cruz, — Julio declarou. —Nunca trairia você, certamente não com um estranho. —Isso não foi o que perguntei, — disse Zacarias.

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Julio abaixou a cabeça quando seu pai enviou uma careta sombria. —Não. Marguarita considera Esteban e sua irmã amigos, não mais que isso, —disse Cesaro. —Sabia que ele a estava cortejando, como tantos outros homens antes. Não mostrou nenhum interesse real, por isso achei melhor apenas dizer que era um forasteiro e não pertencia aqui. Isto foi tudo. Zacarias concordou. —Realmente precisa dela para os animais - os cavalos? Cesaro assentiu. — Especialmente agora. Estão... perturbados. Zacarias se afastou dos dois homens, voltando para a casa da fazenda principal —Então amanhã à noite, ela irá ajudá-lo. Não esperou por sua resposta. Pouco importava a ele o que tinha a dizer. Marguarita era sua mulher, e pelo tempo que escolhesse permanecer na terra, ninguém mais a comandaria, exceto ele. Protegeu a casa, com especial atenção para a fundação e o solo abaixo da casa antes de acrescentar proteção nas portas e janelas. Somente quando estava completamente certo que os espiões de Ruslan não poderiam penetrar suas salvaguardas, permitiu que sua mente buscasse a de Marguarita. Ela não se moveu do chão da cozinha. A encontrou sentada com joelhos dobrados e seu queixo apoiado em cima deles. Ela parecia pequena e desamparada. Seu coração palpitou quando seus olhos encontraram os dele. Não havia condenação em sua expressão ou mente. Simplesmente olhou para ele com seus olhos de chocolate escuro, seu olhar à deriva no rosto, como se estivesse tentando ler seu humor. Está bem? Ele encontrou seu calor enchendo sua mente. Ela não derramava nele como antes, mas entrava, enquanto seu olhar se movia lentamente por seu rosto. Seu coração encontrou o ritmo dela, diminuiu seu ritmo frenético para que batessem em sincronia. Havia faixas de lágrimas no rosto e a visão o ofendeu. Cruzou para o lado dela e estendeu a mão para levantá-la em seus braços, a embalando contra seu peito. Ela não fez nenhum protesto, mas se enrolou nele, descansando a cabeça no seu ombro. Seu cabelo derramava em torno de seu rosto, escondendo sua expressão, mas não conseguia esconder sua mente. Sinto muito. Não deveria intrometer-me em coisas que não entendo. Verdadeiramente, Zacarias, estou muito, muito triste. Estava preocupada por ele. Não estava pensando em si mesma ou na reação dele, nas coisas que fez e disse a ela, mas estava preocupada sobre como as memórias o afetariam. —As pessoas não se preocupem comigo, Marguarita. Alguém deveria. Havia uma sugestão de sorriso em sua voz e o aqueceu. Ele virou a resposta mais e mais em sua mente.

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—Se eu colocá-la em sua cama, vai ficar lá? Desta vez não havia dúvida no riso. Provavelmente não, mas vou tentar. A colocou em cima da cama e olhou para ela por um longo tempo. Seu cabelo negro derramava em seu travesseiro, como uma cascata de seda. Seus cílios pareciam mais grossos e mais escuros que nunca. A cor adicionava tanto ao mundo, até mesmo as cores maçantes que via. Queria abaixar e provar aqueles lábios perfeitos, mas sabia que não acabaria ali. A chamada do seu sangue atingia suas veias e já a tinha assustado o bastante por um dia. Não quando estava tão obviamente preocupada com ele. —Durma bem, Marguarita. Quase sinto falta daqueles nomes estranhos que me chama. Ele tocou seu cabelo uma vez, sentindo uma mudança em seu coração, que temia mudar sua vida. Se afastou dela, sem outra palavra, incapaz de decidir o que faria sobre ela. Não conseguia lembrar de uma época em que não soubesse exatamente o que faria. Abruptamente deixou seu quarto, se afastando de seu aroma perfumado e a necessidade terrível se agarrando em suas veias. Ainda estava no controle, mas por quanto tempo ninguém sabia.

CAPÍTULO 9 Marguarita rolou e olhou para sua janela. As cortinas pesadas estavam puxadas, mas um pedaço de luz dizia que era meio do dia. Uma chuva de pedras atingia o vidro e ela suspirou e levantou. Sentia o corpo pesado, não querendo cooperar, mas resolutamente saiu da cama e se arrastou pelo chão até a janela para empurrar as cortinas de lado, assim que Julio jogou outra pedrinha contra o vidro. Tentando não rir, Marguarita empurrou a janela para cima. A luz solar derramou em seu quarto, queimando seus olhos. Ela os cobriu rapidamente, chocada em como já estava tão acostumado a ficar acordada a noite toda. Arrastou uma caneta e o bloco de notas da mesinha de cabeceira. Você está louco? Ele poderia matá-lo se o encontrasse aqui novamente. —Está dormindo. Fiz tudo para acordá-la bem antes do pôr do sol. Tinha que me assegurar que estava tudo bem. Ela protegeu os olhos e o olhou com cuidado. Havia uma bandagem grossa e manchada de sangue em torno de seu antebraço e ele parecia chateado. O que aconteceu com você? —O cachorro enlouqueceu cerca de uma hora atrás. Meu cachorro. De repente começou a rosnar e rosnar. Não fez um som desde que... Ela esboçou um ponto de interrogação entre eles. —O De La Cruz veio a nossa casa na noite passada. Max ficou frenético. Todos os animais ficam quando ele está por perto, sabe disso. Estava latindo e rosnando para a janela e, em 102


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seguida, abruptamente, ficou em silêncio. Nem um pio, até há pouco tempo e depois foi como se enlouquecesse. Começou mordendo os calcanhares do meu cavalo e ele o escoiceou. Eu desmontei para acalmá-lo e ele me atacou. Marguarita subiu na janela, sentada com as pernas balançando, e indicou para Julio chegar mais perto para que pudesse inspecionar as lacerações. Julio tirou a camisa para mostrar a Marguarita os arranhões no peito. O cão foi pela garganta e com muita força. Seu coração afundou. Julio empurrou seu antebraço na boca do cão, sacrificando seu braço para impedir o ataque à sua garganta. Precisou matá-lo? Ela sabia a resposta antes de falar. Julio amava seu cachorro. —Ricco atirou nele. Não teve escolha, Marguarita. Acho que o De La Cruz fez algo para meu cão. Ela balançou a cabeça rejeitando a ideia, freneticamente escrevendo no bloco de notas. Ele não faria isso, Julio. Tudo na fazenda está sob sua proteção, incluindo os animais. —Os animais ficam aterrorizados com ele e você sabe disso. Quanto mais tempo permanece aqui, pior será. Mesmo os cavalos estão chateados, Marguarita. São difíceis de controlar quando estamos fora em patrulhamento. Acho que ele vai ficar aqui por sua causa. Ele tem que ir. Ela olhou para ele. Esta é sua casa, Julio. Isso é uma coisa significativa a dizer. Julio balançou a cabeça, amassando o bilhete. —Esta é nossa casa. Eles nunca estão aqui, especialmente ele. Ele é o pior deles. Não pode simplesmente vir aqui e nos dizer que pertence a ele. Nós trabalhamos para ele, mas você não é sua escrava. Ele tem que ir, e você tem que sair daí. Agora. Antes que ele faça alguma coisa que torne impossível você se afastar dele. Ele precisa de mim, Julio. Julio fez uma careta para ela. —Ele não é um de seus animais, precisando ser resgatado, Marguarita. Ele é perigoso. Não pode tratá-lo como um animal selvagem. É exatamente isso que ele é. Está sozinho, e precisa de mim. Não vou abandoná-lo da maneira que todos os outros em sua vida fizeram. Ele afasta todos e eles vão. Vou ficar. —E se quiser mais de você do que está disposta a dar? — Julio exigiu. —Porque pensa que você é sua mulher. Tem alguma ideia das exigências que poderia fazer a você? Está brincando com fogo, Marguarita. Se é um animal selvagem, então é o mais perigoso que já encontrou e não vai domá-lo. Saia enquanto pode. Vou ajudá-la. Todos nós. Ele não é seu dono. Não possui qualquer um de nós. Temos escolhas aqui, e você também. Minha escolha é ficar com ele. Não tem ideia de sua vida, Julio. Veio aqui para acabar com sua vida com honra e eu estraguei tudo para ele. Perdeu sua chance e agora preciso ajudá-lo. Quero ajudá-lo. Sei que posso.

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Julio amaldiçoou em voz baixa. —Sempre foi assim, Marguarita, tão teimosa que ninguém pode fazê-la ver a razão. — Ele começou a colocar a camisa de volta, mas parou quando ela balançou a cabeça. Marguarita deslizou de volta para seu quarto e remexeu até encontrar o kit de primeiros socorros que montou anos antes para os trabalhadores. Com o tempo se tornou enfermeira para todas as lacerações e acidentes que ocorriam no rancho. Aplicou creme antibiótico sobre os riscos profundos e entregou alguns comprimidos. Julio obedientemente os pegou e arrastou sua camisa sobre a cabeça, alisando-a sobre o peito. —Estou dizendo a você, querida, o De La Cruz não é um homem comum. Tem que largar isso de uma só vez. Ela desenrolou o pano com sangue e engasgou quando viu o ferimento em seu braço. Fez um gesto de costurar, franzindo a testa para ele. Julio deu de ombros e balançou a cabeça. —Vai se curar. Basta fazer o que sempre faz para não infeccionar. Marguarita teve que piscar várias vezes. O sol parecia extraordinariamente brilhante e seus olhos lacrimejavam. Ela balançou a cabeça e indicou que precisava, pelo menos, fazer pontos de esparadrapo ao lado da ferida para tentar fechá-la. —Faça, então. Tenho que voltar ao trabalho. Tem que ir aos estábulos hoje à noite e acomodar e acalmar os animais. Alguém realmente vai se machucar se não o fizer, Marguarita. Ela assentiu enquanto cuidadosamente aplicava o creme antibiótico, e então começou meticulosamente a fechar a ferida. —Ele não pode prendê-la, — reiterou Julio. —Não deve a ele sua vida, querida. Sério, pense em deixar este lugar. Ele me encontraria. Quero ficar assim mesmo, Julio. Sei que posso ajudá-lo. Ela quase escreveu salvá-lo. Zacarias precisava ser salvo de si mesmo. Talvez não pudesse ser feito. Não estava sequer certa que queria ser salvo, mas alguém tinha que se preocupar com o homem. Não parecia se importar muito com ele mesmo. Era arrogante e tinha total confiança em si mesmo, mas também acreditava que estava contaminado pelo mal. Sinto muito por seu cão, Julio, mas seja lá o que aconteceu, Zacarias não tem nada a ver com isso. Tenha cuidado hoje. Vou sair esta noite. Ela esperava que Zacarias fosse cooperativo. Ele sabia que o trabalho do rancho precisava ser feito. Se fosse para o estábulo acalmar os animais, certamente Zacarias concordaria com isso. Ela acenou para Julio e resolutamente fechou a janela e puxou as cortinas. Estava cansada, mas algumas horas para si soavam bem, então decidiu levantar-se. Na banheira, ficou com os olhos fechados e se permitiu pensar em Zacarias. Era um mistério — um homem que não tinha ideia real de quem fosse. Seu coração se penalizava por ele, um homem tão completamente sozinho. Ninguém devia ser tão só. E ele não tinha ideia real de seus

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próprios sentimentos. Enterrou suas memórias tão profundas, nunca perdoando a si mesmo, se recusando sequer a reconhecer que se lembrava da terrível tragédia em sua vida. Marguarita suspirou quando afundou na água quente e perfumada, afundando a trança muito grossa de cabelo. Sentia-se exausta e era difícil manter sua mente longe de Zacarias. No pouco tempo que esteve em torno dele, quase sempre estava com medo, por isso não fazia sentido para ela estar tão determinada a ajudá-lo. Ela odiava que fosse tão sozinho. Ninguém devia ficar sozinho, não como ele, sem qualquer coisa gentil ou suave. Ele tinha tão pouca humanidade que já não acreditava que pudesse superar o predador nele. Ela viu dentro dele, mas cada vez que tentava mostrar que era diferente por dentro, ele a rejeitava. Era quase como se tivesse medo desse lado mais suave de si mesmo. Isso o fazia vulnerável e Zacarias De La Cruz nunca foi assim — ou se foi —certamente não se lembrava. Nem queria lembrar. Zacarias viveu tanto tempo como caçador perigoso, sempre sozinho e sempre à parte, que realmente não tinha como encaixar na sociedade moderna, com os humanos ou até mesmo com seu próprio povo. Tinha confiança suprema em si mesmo como Caçador — um assassino — mas não como um homem. E estava errado. Tão arrogante e perigoso como era — havia alguém gentil e amoroso dentro dele. Sua tremenda lealdade e senso de dever eram admiráveis. Ele não se via dessa forma. Tudo era tão preto e branco para ele. Se enxugou lentamente, levando seu tempo, desfrutando da sensação que estava em sua casa, e para ela era como se pertencesse a ela. Ela era dona da fazenda há muito tempo e agora, com Zacarias na casa, dizendo a ela o que podia ou não fazer, onde podia ir e o que deveria usar, esqueceu do quão pacífica achava a casa. Era seu domínio exclusivo. A mantinha limpa, decorada do jeito que queria e estava no comando total de sua própria vida. Tinha pretendentes a cortejando, o que era um bom afago ao seu ego, mas sabia que não queria qualquer um deles para marido. Zacarias. Pensar nele a fazia se sentir viva. Ela adorava cavalos de sela, a liberdade de voar sobre o chão, com um dos seus cavalos. Zacarias passava a mesma emoção, só que maior. Ele não era pacífico de forma alguma, mas estar em sua companhia era emocionante. Ela sentou na penteadeira e escovou os cabelos longos numa aparente submissão, enquanto pensava nele. Era bonito de um modo áspero e brutal. Seu corpo era adequado ao de um guerreiro. Fisicamente não havia dúvida que estava atraída por ele, mas isso não era o principal. Imaginava que a maioria das mulheres não seriam capazes de resistir à sua aparência. Ele era fascinante e tinha uma atração animal também. Mas ainda assim... Havia muito mais nele, ali sob a superfície, e, francamente, a intrigava. Ela vestiu a roupa de casa costumeira, uma blusa e saia longa, franzindo a testa um pouco ao ver que estava conforme o que Zacarias gostava. Seria infantil vestir jeans só porque ele afirmou que devia usar roupas femininas. Ela gostava de suas saias. Não ia mudar por ele — de uma forma

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ou de outra. Ninguém mandava nela, nem mesmo seu pai, e ter Zacarias falando em tal tom de comando o tempo todo era um pouco engraçado. Alguém caminhou até a varanda e bateu na porta da frente. Era uma batida tímida, nada como Julio ou um dos outros rapazes faria. Seu estômago deu um salto e olhou em direção ao quarto principal. Pegou uma arma carregada no corredor e a empurrou no bolso da saia. Não tinham muitos visitantes, e com Zacarias vulneráveldurante o dia, estava determinada a protegêlo. Olhou para fora e ficou um pouco chocada ao ver Lea Eldridge, esperando por ela sozinha na varanda. Lea nunca vinha à fazenda, sem seu irmão. Era uma mulher alta, loira, muito chique. Seu cabelo nunca estava fora do lugar, a maquiagem perfeita e suas roupas, obviamente, de marca. Onde Esteban desfazia dos trabalhadores, Lea sempre pareceu aberta e amigável. Era uma mulher bonita, e Marguarita gostava mais dela do que muitas das mulheres com quem cresceu. Lea parecia uma pessoa genuína e generosa. Sempre tinha tempo para falar com os trabalhadores mais velhos e crianças, não apenas com os homens bonitos. Marguarita gostava disso a respeito dela. Ela abriu a porta e franziu a testa quando viu o rosto de Lea. Havia uma contusão leve em sua bochecha e sinais óbvios de lágrimas. A pele de Lea era perfeita, como porcelana quanto pêssegos e creme, e até mesmo com a aplicação cuidadosa de maquiagem, foi impossível esconder o roxo. Ela deu um passo atrás para permitir a entrada de Lea. Lea olhou de volta atrás dela, uma leitura atenta, furtiva sobre a área circundante e estradas antes que se entrasse e rapidamente fechasse a porta. —Meu irmão não sabe que estou aqui. Ninguém sabe. Vou fazer chá. Estou feliz que veio me visitar. Marguarita entregou o bilhete e abriu caminho para a cozinha, fazendo um gesto para Lea sentar na mesa enquanto ela preparava o chá. Era óbvio que Lea estava muito chateada. Era especialmente em momentos como este que Marguarita ficava frustrada por não poder falar. Escrever coisas demorava uma eternidade. Enquanto a chaleira esquentava, ela afundou na cadeira em frente a Lea, tocou a mão dela e deslizou um papel para ela. O que aconteceu? Está segura aqui, Lea. Lea piscou para conter as lágrimas e balançou a cabeça. — Não entende. O amigo do meu irmão, Dan, vamos chamá-lo de DS, nos encontrou aqui. Ele é... horrível. Em todos os lugares que vamos, ele nos encontra, e Esteban faz tudo o que ele diz. Pensei que se viéssemos para cá, ele nunca nos encontraria, mas está aqui e vai fazer algo terrível. Ele sempre faz. Quem te bateu? Lea abaixou a cabeça, tocando seu rosto com a ponta dos dedos. — A verdade é que Esteban faz tudo que DS manda. Pensei em mudar para este lugar para ficar longe dele, mas ele foi quem instruiu Esteban para vir aqui e conhecer melhor as pessoas

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nesta fazenda. —Ela levantou os olhos tristes para Marguarita. —Juro que não sabia. Realmente pensei que aqui teria uma chance de ficar longe dele. Ele é o diabo, Marguarita. Esteban faz coisas terríveis ao seu redor. E se está planejando algo a ver com este rancho, não vai ser legal ou bom, — confessou. —Eu sinto muito. Marguarita bateu na nota novamente e esboçou um ponto de interrogação no ar entre elas. Lea esfregou as têmporas. —DS me bateu porque me recusei a fazer o que ele queria. — Um soluço brotou. —Esteban só ficou lá olhando enquanto DS me batia. O que DS quer de você e Esteban? — Quer conhecer um membro da família De La Cruz. Está obcecado com a ideia. Quer que eu seduza um deles. Diz que se eu não fizer isso, vai matar Esteban. Tentei falar com Esteban, mas ele apenas riu e disse que seria melhor fazer então. —Lea enxugou as lágrimas e balançou a cabeça. —Não tenho para onde ir e ninguém para conversar. Não posso confiar em ninguém. E não queria trair nossa amizade, mas não sei o que fazer. A chaleira estava apitando, assim Marguarita levantou para derramar a água fervente no bule. Apressadamente rabiscou uma nota enquanto fazia isso e a colocou debaixo do nariz de Lea. A família De La Cruz raramente visita nesta fazenda. Por que esse homem acha que poderia seduzir um deles quando nunca ficam mais que um ou dois dias e já se foram há anos? Isso não faz sentido. O que pensa em ganhar seduzindo um deles? Lea enfiou ambas as mãos pelos cabelos e deu de ombros. —Riqueza, talvez. Emoções. Não sei. DS trafica drogas e armas no entanto. Esteban foi pego em tudo isso. Gosta da ideia de estar por dentro de alguma organização gangster tipo clandestina. DS fala sobre uma sociedade secreta a que pertence — que todos os membros o conhecem, e esse tipo de coisa atrai Esteban. Seus pais? —Os dois estão mortos. Temos um fundo fiduciário controlado por nosso tio. Esteban nunca está satisfeito. Fico pensando que vai pegar leve, mas continua procurando emoção. Desde que conheceu DS, nossas vidas são insanas. DS sai com algumas pessoas muito assustadoras. Por que acreditam que um De La Cruz virá aqui? —Você. — Lea aceitou a xícara de chá e o pratinho de biscoitos. —Seu acidente. Algo tão ruim obrigaria um dos proprietários da fazenda a vir verificar as coisas. Esteban, provavelmente, foi enviado por DS. —Ela tomou um gole de chá e observou Marguarita sobre a borda da xícara fumegante. —Pensei que eu teria uma chance real aqui. Gosto daqui. E há... Julio. — Olhou para o rosto de Marguarita cuidadosamente. —Vocês dois estão envolvidos? Ele é muito protetor com você. Fomos criados como irmão e irmã. —Ele não gosta de nós, não é? — Lea perguntou. —Ele nem sequer olha para mim.

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Ela parecia tão triste, o que arrancou o coração de Marguarita. Julio estava certo sobre ela, não podia ver uma criatura ferida, homem ou animal. Suspirou e encolheu os ombros um pouco enquanto escrevia. Julio disse que era estranho que você e Esteban viessem aqui. Você tem dinheiro e está acostumada à vida da cidade. Nenhum de vocês parece se encaixar aqui. Mas ele olha para você, Lea. Você é linda. Como não poderia? —Eu quero ficar. Mesmo depois que Esteban partir, quero ficar aqui. Gosto da nossa casa e estou começando a amar os cavalos. Sei que poderia fazer uma vida aqui. Esteban vai seguir em frente. Fica entediado com facilidade. Fiz meu melhor para tentar salvá-lo de si mesmo, mas sei que não posso. Ele não vai me escutar mais. Se um dos irmãos De La Cruz não aparecer aqui em breve, DS vai querer ir para uma outra de suas fazendas, onde poderá ter uma chance melhor de encontrar um deles, e Esteban fará o que ele disser. Os irmãos são reservados. Mesmo quando aparecem em uma das fazendas, raramente falam com alguém, exceto Cesaro. Ficam uma noite ou duas e se vão novamente. — Já encontrou com eles? Um par deles, uma ou duas vezes, mas realmente não os conheço. Lea, quem quer que seja este homem, DS, e o que quer com a família De La Cruz, não vai encontrá-los aqui. Será que quer fazer algum tipo de negócio com eles? Lea mordiscou um biscoito do chá, uma pequena careta no rosto. —Honestamente não sei. Esteban não vai falar comigo sobre isso. Apenas me diz para fazer tudo que DS diz. Marguarita permitiu que o chá deslizasse abaixo por sua garganta. Estava quente e doce e seu estômago se rebelou um pouco, mas assentou depois de um momento ou dois. Achava difícil comer alimentos ultimamente. Nada tinha um gosto bom, e muitas vezes, sentia como se fosse ficar doente quando colocava alimentos sólidos no seu estômago. O cheiro de carne era particularmente ofensivo. Temia que era algo a ver com o ataque dos vampiros sobre ela e sua garganta dilacerada. É claro que Lea achava que um grande felino a atacou, como a maioria das pessoas o faziam. Ela tocou a garganta e imediatamente sentiu o pulsar da marca que Zacarias colocou sobre ela. Sem pensar, a ponta dos dedos roçou numa carícia sobre o local. —Dói? — Lea perguntou. —Sua garganta? Marguarita balançou a cabeça. Não doía mais, mas ainda era difícil aceitar que não podia falar. Lea ficou amiga dela. Esteban sempre agia como se a estivesse cortejando — até o acidente. Continuou ao redor, mas teve cuidado em não flertar muito com ela. Ela percebeu que ele não queria que ela tivesse a ideia errada. Sem voz, não atendia seus padrões. Talvez o estivesse julgando duramente, mas sempre soube que não era a sério seu cortejo. Lea impulsivamente se inclinou sobre a mesa e colocou a mão sobre a de Marguarita. —Somos um par. Eu sem nenhum lugar onde ir e você com a garganta dilacerada. Marguarita sorriu para ela. Ela levantou a xícara e tomou outro gole.

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—Suponho que Julio não tomaria chá com a gente? — Lea aventurou, tentando aliviar o clima. —Talvez você pudesse encontrar uma poção do amor secreto e colocá-la para ele. Marguarita sorriu e abanou a cabeça. Peça para ele te mostrar os cavalos. Faça-o falar sobre eles. Ele ama os cavalos. Nunca vi você cavalgando. Sabe fazê-lo? — Contratei um homem para me ensinar, mas ele nunca apareceu. Adoro ver você cavalgar, e quando estou num cavalo me sinto tão livre. Amo o vento no meu rosto e a forma como o cavalo se move, flui através do solo. Sei que poderia viver aqui, mesmo sem meu irmão. Não gasto muito do meu fundo fiduciário, e sem as retiradas de Esteban a cada mês, poderia comprar um imóvel aqui e ser feliz. Não há vida na cidade aqui, Lea. Poderia ser solitário para uma mulher. Lea suspirou e passou o dedo pelo rosto machucado. — Pode ser solitária no meio de uma multidão, Marguarita. Nunca senti que pertencia em algum lugar. Não até que vim aqui. Sei que pareço do tipo fútil para você, mas sou trabalhadora. Posso aprender. Só quero encontrar paz. Por que viaja com Esteban quando sabe que está envolvido em atividades ilegais? —Ele é tudo que tenho. Temos os negócios da família e poderia voltar a trabalhar lá, mas meu tio é o único parente vivo além de Esteban. Eu nem sabia dele antes que meus pais morressem num acidente de avião. Ele é mais velho e muito rígido. Esteban não suporta vê-lo e, infelizmente, meu tio faz questão de frisar a cada oportunidade o quanto ele é um garoto rico e mimado. O que apenas parece humilhar Esteban. Esperava que ao ficar com ele, parasse de fazer tais coisas perigosas. Ele é viciado em drogas? Lea mordeu o lábio inferior. — Ele usa cocaína. No início, era lazer, e tentei não ficar chateada com isso. Realmente todos sabíamos que ele usava. Mas Esteban não pode passar um dia sem ela agora. Tentei falar com ele sobre isso, mas diz que não sei como me divertir. Acha que sou uma viciada em trabalho. Eu costumava trabalhar para meus pais. Esteban foi bastante mimado pelo meu pai e meu pai o incentivava a ser um playboy. A morte de seus pais deve ter sido muito duro para ele. Lea assentiu. — Acho que foi isso que o tornou tão vulnerável à DS. Ele começou a usar mais drogas e noitadas. Saltar de aviões, esquiar em montanhas muito perigosas, tudo que é perigoso, ele faz. Não importa o que eu diga, não posso impedi-lo. —Ela esfregou as têmporas como se tivesse uma dor de cabeça. —Não posso continuar a segui-lo ao redor do mundo tentando mantê-lo vivo. Ele não vai me escutar. Sinto muito, Lea. Gostaria que houvesse algo que eu pudesse fazer para ajudar. Lea enviou um pequeno sorriso.

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—Aprecio que me escute. Faz muito tempo desde que senti que tinha uma verdadeira amiga em quem poderia confiar, e não tenho absolutamente nenhuma ideia do que vou fazer para eu e Esteban sairmos dessa bagunça, mas você me faz sentir melhor. É seguro ir para casa? Marguarita queria convidá-la para ficar, mas com Zacarias na residência e sabendo que Esteban e DS estavam tentando encontrar um De La Cruz, sentiu que precisava proteger Zacarias. Mas, ainda assim, sentiu medo por Lea. Lea deu de ombros. —Esteban me ama. Ele não acredita que DS realmente vá ferir algum de nós, mas se chegasse a esse ponto, acredito que iria me proteger. E penso em evitar DS. Apenas queria que soubesse para não confiar neles, quando vierem aqui. E virão. Não sei o que farão. Uma vez que eu volte para casa, posso tentar fazer Esteban me dizer. Marguarita balançou a cabeça rapidamente. Não há necessidade, realmente, Lea. Mesmo se vierem aqui, o que vão ver? Os rapazes no trabalho. Eu. Não vê um De La Cruz em qualquer lugar, não é? Não irão, também. Vão olhar em volta e depois ir para casa. Lea assentiu. — Acho que não deve se preocupar. E a família De La Cruz é muito poderosa. Provavelmente têm pessoas como DS os mirando o tempo todo. A sirene de alerta disparou alertando Marguarita que algo aconteceu em algum lugar no rancho. Marguarita se levantou, correndo para a porta da frente. Podia ouvir o bater dos cascos quando os cavaleiros se aproximaram da casa num galope selvagem. Marguarita abriu a porta. Julio estava com o punho erguido, o rosto branco e suas roupas cobertas de sangue. —Precisamos do piloto do helicóptero, Marguarita. Ricco foi chifrado. Seu cavalo o jogou e o gado o pisoteou. Está mau. Muito ruim. Ela correu de volta para o banheiro e pegou o kit de primeiros socorros, enquanto Julio fazia a chamada para o piloto. Julio estava xingando quando ela chegou ao seu lado. Ela esboçou um ponto de interrogação. —Charlie bebeu novamente. Justamente quando mais precisamos dele. — Julio empurrou a mão pelo cabelo. — Não vamos poder levá-lo a um hospital. —Posso pilotar um helicóptero, — disse Lea. —Tenho licença. Posso voar em aviões pequenos também. Meu pai era dono de um serviço de fretamento, e todos aprendemos a voar. Julio virou de cara feia para a mulher como se houvessem crescido duas cabeças. —É melhor saber o que está falando. Ricco vai morrer se não receber cuidados médicos. A cor subiu pelo pescoço de Lea até seu rosto. —Posso levá-lo ao hospital. Registrei centenas de horas num helicóptero e mais em pequenos aviões. Posso voar sobre qualquer coisa. É o que minha família faz.

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—Então você é o piloto, — disse Julio. —Vamos. Vamos lá, Marguarita, vai ter que tentar mantê-lo vivo até conseguirmos ajuda. Correram em direção ao grande hangar onde estava a aeronave. Uma coisa que sempre foi grata à família De La Cruz era pelo equipamento de primeira classe que sempre forneciam. A fazenda estava tão longe que usavam aviões para ajuda médica, bem como para verificar o gado e cavalos nas colinas e campos. —Seu helicóptero é mantido em boas condições? — Lea perguntou, correndo para acompanhar o avanço de Julio. —Sim. Sempre é revisado após cada saída. Mas é melhor verificar novamente. Não tenho ideia de quanto tempo Charlie bebeu desta vez, — respondeu Júlio severamente. Vários homens corriam em direção ao hangar, carregando Ricco numa maca. Marguarita correu para interceptá-los, tentando inspecionar a ferida enquanto o levavam para o helicóptero. O boi pegou Ricco no abdômen e parecia ruim. Muito ruim. Ela não achava que, mesmo com um cirurgião, tivesse muita chance. Olhou para o céu e para a maca, depois para Julio com uma pergunta nos olhos. Julio parecia tão mal quanto ela se sentia. Não era estúpido. Viu o que um boi enlouquecido podia fazer antes. O sol ainda era uma bola no céu, mas estava descendo lentamente. O céu estava claro com poucas nuvens. Tinham uma boa hora antes do anoitecer. Ricco não tinha esse tempo. Ela viu o que o sol fez a Zacarias. Ela balançou a cabeça. Julio olhou para ela enquanto os homens cuidadosamente carregavam Ricco no helicóptero. Marguarita subiu ao lado dele e rasgou sua camisa. Ofegou e exerceu pressão sobre a ferida. Não havia como salvá-lo, não importa o quão rápido colocassem o helicóptero no ar. Zacarias. Ela não queria forçá-lo a dizer que não podia ajudar, mas o ferimento era medonho e não havia como Ricco chegar vivo ao hospital. Preciso de você. Ela não tinha ideia se ia responder seu chamado ou até mesmo se importar, mas tinha que tentar. A agitação em sua mente foi instantânea, como se o tempo todo ele soubesse que estava acordada e fora da casa. Se machucou? Sua voz estava cheia de preocupação por ela e estranhamente a aqueceu. Não eu. Ricco, um dos trabalhadores. Vamos levá-lo ao hospital, mas não vai conseguir se você não puder nos ajudar. Deseja que eu faça isso por você? Seu coração saltou, palpitou e depois começou a bater. Sua voz era tão prosaica e na verdade, ela não estava inteiramente certa do que estava pedindo a ele — mas ele conseguiu salvá-la e nunca deveria estar viva. Qual o risco para você? Ela tinha que saber. Mordeu o lábio inferior, de repente, aterrorizada com o que estava pedindo para fazer. Nada pode acontecer com você.

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Houve um momento em que o sentiu em sua mente, tocando cada parte dela, uma carícia roçando completamente em desacordo com sua presença letal. Mostre-me a ferida. Olhe diretamente para ela. Marguarita se endureceu. O chifre penetrou profundamente e estava certa que a laceração quase matou Ricco. Era uma sorte ele estar inconsciente, porque ela não tinha nada para deter a dor. Se forçou a olhar para o estômago rasgado de Ricco, tentando enviar suas próprias impressões para Zacarias. Coloque suas mãos sobre a ferida e aplique pressão. Forte, Marguarita. Ela tratou lacerações, mas nunca nada como isto. Não era enfermeira, mas ela era tudo que Ricco tinha. Fechou os olhos e fez como Zacarias mandou. Suas mãos se afundaram no sangue com um som horrível. Riso suave brincava com ela em sua mente. Tenho que ver, kislány kuηenak minan — minha pequena lunática. Mantenha os olhos abertos. Engolindo em seco, ela fez. Ela sentiu o calor se movendo através de seu corpo. Suas mãos formigaram e ficaram quentes. Os dedos dela se moveram por conta própria e de alguma forma, por um momento, não estava mais dentro de seu próprio corpo, mas ligada a Zacarias e se movendo através do corpo de Ricco. Foi uma estranha sensação dolorosa deixar seu corpo físico atrás e fluir através de outro ser humano. Seu estômago se rebelou, mas lutou para permanecer no controle, a respiração profunda. E, de repente estava de volta, um pouco tonta e sentindo fraqueza. Podia dizer que Zacarias estava ainda mais fraco do que ela. Isso deve mantê-lo até que chegue a um cirurgião, mas perdeu muito sangue, Marguarita. Vou ter que dar-lhe o meu ou tudo isso será em vão. Quer que o levemos de volta para a casa? Pode fazer isto nesta hora do dia? Não teriam como movê-lo novamente. Eu irei para você. Mas não pode. Ele não podia. O sol o queimaria. O que ela fez? Por favor, não sacrifique sua vida. Novamente ela sentiu a carícia passando por sua mente, como se tivesse arrastado os dedos ao longo de seu crânio. Lea estava no assento do piloto, já passando a lista de verificação, se preparando para o voo. Marguarita ergueu a mão para atrair a atenção de Julio. Freneticamente, ela limpou as mãos e escreveu uma nota para Julio. Diga a ela que temos que estabilizá-lo antes que ela possa levá-lo daqui. Zacarias fez o que pôde por mim, mas diz que ele precisa de seu sangue para sobreviver à jornada. Está saindo e Lea não pode vê-lo. Ela não pode saber que está na casa. Vou explicar o mais rapidamente possível. Julio assentiu. Ela estava grata por ele compreender a gravidade da situação e não perder tempo discutindo com ela. Fora do céu, nuvens escuras e ameaçadoras se juntavam e giravam como se estivessem irritadas.

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—Temos que ir — gritou Lea. —Ainda não, — protestou Julio. —Marguarita tem que estabilizá-lo ou não vai aguentar. —O tempo está ficando feio, — disse Lea. —Se não nos mexermos não chegamos no hospital. —A tempestade vai passar rápido, — garantiu Julio. —Confie em mim. Estarei fora em uns dois minutos. A voz de Zacarias entrou na cabeça de Marguarita. Eu te digo quando for seguro para você. Há alguém aqui que não deve vê-lo. Ela não é uma de nós e acho que seu irmão é um perigo para você. Ela não vai me ver. Marguarita se sentia próxima de entrar em pânico. Podia não querer trair sua amizade, mas Marguarita não a conhecia bem o suficiente para contar que ela permanecesse em silêncio, se seu irmão insistisse na verdade. Entregou a nota para Julio. Leve Lea a algum lugar, por alguns minutos. Julio se abaixou e sussurrou no ouvido de Lea. Ela assentiu com a cabeça e jogou seus fones de ouvido de lado, deslizando do helicóptero. Ambos correram em direção à casa. O céu escureceu ainda mais, as nuvens turbulentas projetando sombras escuras em todo o chão. Os cavalos começaram a se agitar, empinando e escoiceando o ar, jogando a cabeça e dançando. Marguarita acenou aos homens para sair da área, enviando um toque calmante para os cavalos. No meio das nuvens de tempestade, viu um fluxo de vapor se mover através das sombras, sob a copa das árvores e dos vários telhados. Zacarias fez seu caminho através do pátio até o enorme hangar. Moveu-se rapidamente no grande edifício, se mantendo nos cantos mais escuros quando se aproximou do helicóptero. Marguarita se moveu para deixá-lo entrar. Não havia muito espaço com Ricco deitado tão calmo e imóvel, ocupando boa parte do espaço. Ele mal respira, ela apontou. Zacarias assumiu sua forma humana, seus ombros largos parecendo maiores para Marguarita quando se inclinou sobre o homem ferido. —Seus pulmões sofreram danos. — Usando os dentes, abriu a veia do seu pulso e a apertou contra a boca de Ricco. —Vai beber o que é oferecido e vai ficar vivo. Está me ouvindo? A boca de Ricco se moveu contra o pulso de Zacarias. Marguarita não conseguia desviar o olhar. Era repelente e fascinante ao mesmo tempo. Sabia que o sangue de Zacarias corria em suas veias, e que era só por causa dele que sobreviveu ao malévolo ataque do vampiro. Se Ricco vivesse, deveria sua vida à Zacarias. Não, em a mim - minha mulher, deve a vida a você. Fiz isso porque pediu-me. Não me intrometo nos assuntos dos humanos. Obrigado. Ele é importante para mim. Ricco tem servido sua família desde que era uma criança e sempre foi fiel.

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—É suficiente que pediu-me, Marguarita. — Ele sussurrou novamente para Ricco e tirou o pulso da boca do homem, fechando a laceração. Ele passou a mão pelo comprimento do cabelo de Marguarita. —Volte para a casa e permita que o levem ao hospital. Se ele lutar, e tiverem um bom cirurgião, ele vai viver. Não pode ser visto aqui. Irei logo que Julio volte. Ela estava ansiosa que ele saísse fora da vista. Zacarias piscou um sorriso descuidado e seu coração falhou em seu peito. Parecia viril, tão forte, era difícil conceber que à luz do dia, fosse vulnerável e até mesmo fraco. —Acha que não posso lidar com uma mortal? Uma fêmea? Ela fez uma careta para ele. Seu ego ainda deixaria em apuros. A porta da casa bateu e sabia que Julio estava avisando que estava de volta com Lea. Estão voltando. Vá agora. Depressa. Desapareça. Ela se sentia desesperada. Não confiava em Lea, ou qualquer outra pessoa nesse assunto, para não falar em vê-lo. Era muito fascinante, muito diferente. Muito perigoso. Tem que ir. O sorriso de Zacarias alcançou seus olhos. Enrolou seu longo cabelo em torno de sua mão. —Gosto quando seu cabelo está uma bagunça. Parece como se tivéssemos passado horas brincando no quarto. Ele nunca disse nada parecido a ela. Ninguém o fez. Sentiu o início do rubor percorrendo todo o caminho até os dedos dos pés. A ansiedade a atravessou. Ela empurrou a parede do seu peito. Tem que ir. Não estou brincando. Capturou suas mãos, apertando as palmas mãos apertadas contra o peito. Seu coração acelerou, até que pensou que poderia saltar para fora de sua pele. Ele riu baixinho. —Lá vai você de novo, me tocando sem permissão. Como devo puni-la? Pergunto-me... Ela olhou por cima do ombro para Julio e Lea. Lea carregava uma braçada de cobertores. Por favor. Basta ir. Por favor, depressa. Pode fazer o que quiser quando estiver seguro. —Posso fazer o quê? — Sua sobrancelha subiu. —Isso me deixa muito espaço. Julio olhou para ela, sinalizando freneticamente. Zacarias! Ele se dissolveu bem na frente dela. Num momento ele era sólido, seus músculos pesados sob as palmas das mãos, e no próximo se foi e estava sozinha. Ela saiu rapidamente do helicóptero, dando espaço para Julio saltar ao lado de Ricco. —Ele ajudou então? — Julio sussurrou. Lea entregou os cobertores e subiu no assento do piloto. As nuvens já estavam se dissipando tão rápido quanto se formaram. Marguarita assentiu e correu de volta para a casa enquanto o helicóptero subia para o céu.

CAPÍTULO 10

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Zacarias estava no banheiro de Marguarita, inalando sua fragrância única. A banheira com pés era profunda e um aroma de pêssegos e creme flutuava acima da porcelana. Seu sono foi perturbado pelas pedrinhas batendo em sua janela. Estava tão em sintonia com ela agora, tanto uma parte de sua mente, que mesmo em seu sono, estava ciente dela. Estava um pouco atordoado com a excitação queimando, as terminações nervosas vivas e quentes, com a antecipação por estar em sua companhia. Estava ansioso para brigar com ela. Ainda brincava com ela um pouco sobre tocá-lo sem permissão e tão chocante quanto descobriu — ele gostou. Ele esteve por todo o mundo, subiu nas mais altas montanhas, desceu às mais profundas cavernas, viveu nas florestas tropicais, vagou livre e nunca, em todo esse tempo, em todos esses séculos, se sentiu vivo — até agora . Em pé, num pequeno banheiro atraindo o cheiro de Marguarita profundamente em seus pulmões, o fazia se sentir mais vivo do que já esteve — ou poderia se lembrar. Olhou para a frente para vê-la, tocá-la. A fome atingia suas veias, uma necessidade crua, frenética que ecoava através de cada célula em seu corpo. Seu corpo físico pegou essa chamada, uma demanda urgente pelo gosto e sensação dela. Marguarita, sua bela lunática. Sua mulher. Ele permitiu que o pensamento se infiltrasse em seus ossos e se estabelecesse em sua alma. Não conseguia se lembrar de uma época em que chamasse qualquer coisa de sua. Guerreiros nunca estavam presos a nada nem ninguém. Mas Marguarita, de alguma forma, encontrou seu caminho dentro dele — se tornou uma parte dele. Ele nem sequer sabia como isso aconteceu. Ela estava lá, em sua mente, enchendo todos os lugares sombreados e conectando os fios partidos que não sabia — ou se importava – que existiam. Soube o momento em que ela entrou na casa. Ela lavou as mãos na cozinha e depois foi para seu quarto. Ele ouviu o farfalhar de roupas e se moveu silenciosamente para seu quarto até ficar atrás dela, apenas observando. Ela ficou na frente de um espelho de corpo inteiro, e como ele estava atrás dela, ele impediu seu reflexo de aparecer no espelho. Havia algo de belo sobre uma mulher simplesmente tirando a roupa. A saia se juntou aos seus pés e ela saiu livre do material, revelando suas esbeltas pernas bem torneadas, e seu traseiro arredondado envolto num pedacinho de renda. Ele prendeu a respiração na garganta quando ela lentamente abriu os botões da blusa e lentamente centímetro por centímetro revelou a elevação cremosa de seus seios moldados por outro pedacinho de pano rendado. Sua pele era perfeita, tão suave que era difícil não estender e correr a mão pelas suas costas. Gostava de seu cabelo selvagem, uma nuvem negra de seda caindo em cascata como uma cachoeira abaixo de sua cintura. Zacarias deu um passo para perto dela, deslizando as mãos em torno dela para segurar logo abaixo dos seios. Ela inalou numa espécie de prazer chocado, com os olhos saltando para o espelho. Ele permitiu que sua própria forma se materializasse atrás dela. Ele era uma boa cabeça mais alto que ela, seus ombros muito mais amplos que os dela. Colocou o

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peso suave de seus seios em suas palmas e se inclinou para enterrar o rosto na nuvem de seus cabelos. —Amo como você cheira, — ele sussurrou no meio da seda. Amava como se sentia, como o cabelo parecia contra sua pele. Como pareciam juntos, seu corpo feminino tão completamente engolido pelo masculino dele. Coisas simples. Prazerosas quando nunca houve prazer. Ela não ficou tensa ou se afastou como ele esperava. Ele permitiria sua liberdade, mas ela se inclinou de volta para ele e fechou os olhos, relaxando contra ele. Uma coisa tão pequena, mas para ele, intensa. Ele esfregou o pescoço, os dedos se movendo sobre seus seios, uma sensação assombrosa. Ele sentiu a suavidade sob as pontas dos dedos e cada toque alimentava seu corpo com mais calor, elevando a temperatura. Não fez nada para controlar essa corrida, permitindo que se espalhasse pelo seu corpo, maravilhado com o milagre da mulher. Ele acariciou por toda a pele macia. Seu eixo inchou, ficou cheio e pesado, e apertou mais próximo de seu corpo macio. —Quero trocar sangue com você. Desta vez não vai doer. Vou ter certeza que vai se divertir. Confia em mim? — Ele sussurrou as palavras, uma sedução flagrante. Queria que ela concordasse, se desse a ele. Fosse parte dele de bom grado. Ela continuou imóvel, mas não havia rejeição, não de seu corpo, ou de sua mente. Ela passou o braço por cima do ombro, enganchando a mão em seu pescoço quando ela inclinou a cabeça para trás. A ação levantou os macios seios fartos, os mamilos apertados empurrando a renda. Beije-me. A punhado macio de calor enrolou em sua mente. Tentação pura. Seu pau saltou. Pulsou. Ela era sensual, mesmo sem saber, o atraindo quando já não tinha vontade de resistir a ela. Ele sabia quando respondeu o seu chamado que estava se comprometendo com ela. Não considerou que a faria dele totalmente. Ela nunca esteve tanto em perigo e ainda assim não parecia ter qualquer auto-preservação. —Se eu a beijar, kislány kuηenak minan — minha pequena lunática. —Não sei se vou parar por aí. — A dor estava lá. A necessidade. A fome o agarrando mais profundo do que jamais fez. Ela cheirou seu pescoço. Você pararia se eu pedisse. Havia plena confiança em sua voz. Deveria estar com medo dele. Ele lhe deu razões para temê-lo — deliberadamente o fez, mas sentiu sua confiança. Ela estava se entregando e ele não entendia porquê. Realmente não confiava em si mesmo com ela — assim como ela o fazia? Era completamente lunática como a chamava, e ainda assim, era carinhosa. Agora, a achava linda e corajosa. Pensou nela — como dele. Beije-me, ela sussurrou novamente em sua mente. Uma tentação. Uma sedução. As pontas dos dedos traçaram sua orelha e seu corpo apertou. Sentiu a respiração deixar seus pulmões. Não houve resistência à atração macia. Ele virou a cabeça para encontrar sua boca com a dele. Ele roçou os lábios suavemente, quase com reverência sobre os dela. Sentiu o impacto descer até os dedos dos pés. Energia elétrica provocando ao longo das suas terminações nervosas.

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Levou seu tempo, traçando seus lábios, memorizando a forma e sua sensação. Se recusou por muito tempo a manter qualquer coisa em sua memória que não contribuísse para suas habilidades de luta, mas agora, descobrir tudo sobre ela era tão necessário como respirar. Não queria magoá-la. De novo não. Passou um bom tempo pensando sobre como ela sentia suas emoções quando ele não podia. Como ela via dentro dele quando ele era incapaz de fazê-lo. As unhas traçaram em torno da curva superior de suas orelhas. Ela virou a cabeça um pouco mais e encontrou o lóbulo de sua orelha com a boca, mordendo suavemente, e depois sugando, a língua uma lixa de veludo, enviando calor em espiral para sua virilha dolorida. Seus dedos encontraram seus cabelos numa massagem erótica que se juntou às sensações riscando em seu pênis. Os sentimentos eram intensamente físicos agora, se unindo como uma bola de fogo na boca do estômago e se espalhando por seu corpo como um rastilho de pólvora. Não sentiu nada por tantos séculos e agora ela trazia seu corpo gelado à vida, um vulcão de fogo. E ela sabia o que estava fazendo. Queria que ele sentisse. Não machuca você sentir. Sua voz caiu sedutoramente em sua mente, provando que estava no fundo do seu ser — provando que sabia seus pensamentos. Me sinta, Zacarias. Sinta o que estou sentindo quando você está me tocando. —Isso é perigoso, — ele sussurrou, sabendo que já estava perdido. Suas mãos, por vontade própria, afastaram o pedaço frágil de renda cobrindo o peso suave de seus seios. Puxou seus mamilos, sua mente já firmemente entrincheirada na dela. Podia sentir exatamente o que cada puxão e rolagem fazia com ela, as estrias escaldantes de fogo correndo para seu núcleo. Podia se tornar tão viciado em sentir seu prazer como era rápido descobrindo sobre o dele. —Você é perigosa. Não vou machucar você. As palavras roçaram sua mente como seda contra sua pele. Ele sentiu seu sorriso, a ternura, o ultrajante e surpreendente presente de um sorriso. —Tenho medo de feri-la. Não tem ideia do que sou capaz. — Estava lutando por ela, mas não conseguia impedir que suas mãos explorassem toda a carne cremosa. Era tão macia, quente e bonita. O perfume inebriante de sua excitação o envolvia e alimentava o fogo queimando e arranhando sua barriga. Seus dedos continuaram a massagem lenta e erótica ao longo de seu couro cabeludo. Seus lábios sussurraram sobre sua orelha, seu pescoço, sua língua degustando seu pulso. Ela era a tentação e estava muito fraco para resistir. Vejo você. Estou dentro de sua mente, assim como você está dentro da minha mente. Eu vejo dentro de você, Zacarias. Nunca me machucaria. Nunca. Não está em você. Eu já te machuquei. Várias vezes.

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Seu riso suave ondulou através de sua virilha, e sentiu-se inchar ainda mais. Sentiu as primeiras gotas do desejo chorando por ela. Você é marcante para si mesmo, Zacarias, não para mim. Sabe que o que digo é verdade. Ele esperava que estivesse certa, porque não havia como parar o céu para saboreá-la. Não agora. Não com seu corpo macio se movimentando contra o dele e seu cabelo selvagem roçando como mechas de seda sobre sua pele. Não com os seios em suas mãos, os dedos rolando, provocando e puxando seus mamilos sensíveis. Cada arrepio que atravessava seu corpo, cada centelha elétrica, ele sentia como se fosse dele. Ouviu seu próprio gemido, quando ela mordeu seu pescoço, esse ponto sensível onde se juntava ao seu ombro. Ela o estava matando lentamente. A fome o atingiu, crua e desesperada. O som de seu pulso retumbava em suas próprias veias. Não escondeu sua necessidade dela. Queria que ela visse quem era ele — o que era. Tinha que aceitar a verdade, não uma fantasia de menina humana. Era puro predador. Não tinha bordas suaves, ou pontos fracos. Ela despertou o diabo, e se a tomasse, nunca a deixaria partir. —Preciso do seu sangue. — Ele disse, deliberadamente, movendo a boca sobre o doce pulso que o atraía profundamente. Esperou que ela entrasse em pânico, se afastasse dele, salvasse a si mesma. Em vez disso, seus lábios se moveram de volta ao seu ouvido, puxando o lóbulo da orelha e enviando outra rajada de fogo direto para sua virilha. Beije-me. Não vou ter tanto medo que tome meu sangue, se me beijar. Não pode mentir quando está beijando alguém. Será que achava que ele mentiria para ela? Ele não sabia nada de relações. Há muito tempo as enterrou junto com seu pai e sua mãe, se recusando a permiti-las em sua mente — ou coração. Foram embora junto com cada pedaço de humanidade que jamais houve nele. Em algum nível, reconheceu que essa mulher, essa humana que não tinha nenhuma razão para sequer estar com ele, lutava para salvá-lo. Estava em sua mente, em seu coração. Beije-me, Zacarias. Seu coração se sentiu frágil. Temia que quebrasse em seu peito. Ao beijá-la novamente estaria a reivindicando. A fazendo sua irrevogavelmente. O corpo dela era incrível, uma atração sensual que duvidava que poucos pudessem resistir, mas era essa determinação tenaz, a resolução que o puxaria para a luz que o atraía como um ímã. Ela o hipnotizava. Não pensava nela mesma, e se recusava a abandoná-lo ao destino de todos os predadores Cárpatos. Como podia lutar? Como encontrar força para se afastar de alguém tão corajosa? Estava perdido, pela primeira vez em sua vida. E pela primeira vez, queria lutar por sua existência — por ela. Para combinar com sua coragem. Ele a puxou mais perto, sua respiração sobre a ela, dentro dela. Seu coração pegou o ritmo frenético do dela e automaticamente assumiu o comando, combinando seu pulso batida por batida. Viu seus cílios fecharem cobrindo o véu do desejo em seus olhos escuros. Seus lábios se

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separaram. Ele tirou o fôlego em seus pulmões. Era tão quente e macia, o aquecia de dentro para fora. Deixou sua boca passar vagarosamente sobre a dela. Uma parte dele desesperado por ela, com tanta fome que mal conseguia pensar, mas queria levar seu tempo, sentir cada batimento cardíaco, o gosto dela em cada respiração, descobrir a forma de sua boca, as profundezas de veludo, o que fazia sua respiração falhar e o que fazia seu corpo desejar o dele. A beijou levemente, uma exploração lenta, absorvendo cada sensação separada até que o desejo o venceu e simplesmente se perdeu em seu fogo. Ele a beijou mais e mais, roubando o fôlego de seus pulmões, respirando por ela, sua língua tomando posse daquele paraíso de veludo convidativo, escaldante. Seus polegares traçavam seus mamilos, quando tomou sua boca mais e mais. Ela derreteu contra ele, todo esse fogo o queimando, queimando seu coração. O que acontecia quando o fogo encontrava gelo? Temia que deixasse de existir, mas não havia outro caminho para ele agora. Seu corpo estava em chamas. A fome o atingia como uma trovoada. A necessidade latente enchia sua virilha e comia sua alma. Marguarita. Dele. Tinha que tomá-la agora. Tinha que fazê-la sua. Tinha que preencher suas veias, seu corpo com... ela. Sua boca deslizou sobre o canto da dela. A beijou abaixo pela curva de seu rosto até o pequeno recuo no queixo. Penteou atrás a nuvem de cabelo em seu pescoço com uma mão, sua mente firmemente presa na dela. Se permitiu experimentar tudo que estava sentindo e ela estava completamente ciente de todas as suas necessidades —cada urgente demanda de seu corpo. Sua fome crescente. Ainda assim, não se afastou dele, mas podia senti-la se mantendo imóvel. —Não tema, Marguarita. Há muita coragem em você. — Ele sussurrou as palavras contra sua clavícula enquanto beijava seu caminho ao longo de seu corpo. Ele a virou em seus braços, sua boca continuando ao longo da elevação de seu seio. É difícil ter medo quando me faz sentir tão viva, ela confidenciou. Mas é um pouco assustador depois da última vez. Ele faria que essa troca de sangue fosse erótica, não dolorosa. Ela nasceu com uma barreira, um produto da evolução, tantas gerações de sua família servindo a família De La Cruz. Essa barreira em sua mente foi reforçada, de modo que a controlar era difícil, na melhor das hipóteses. E não queria o controle. Queria que ela estivesse disposta. Estou disposta, ela sussurrou em sua mente. Só estou um pouco nervosa, mas nunca estive com um homem, então tudo isso é novo para mim. Ele sabia, já que estava trancado em sua mente. Conhecia cada insegurança, e agora, ela se mantinha forte por ele. Porque ele precisava, e ela oferecia. Era a maneira dos Cárpatos, mas ela era humana e, ainda assim, instintivamente, sabia o que ele precisava. Ele pressionou a testa contra a tentação macia de seus seios. Caminhou sobre a Terra por mais de mil anos, tinha uma vasta riqueza de conhecimento, ainda assim não sabia nada dos humanos — ou da mulher. E esta mulher era tudo — seria seu tudo, deste momento em diante.

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Ela não o via como o resto do mundo fazia. Nem sequer o via da maneira como ele próprio se via. Vejo o que e quem você é. Vejo seu coração e alma. Ela o apavorava. Sua coragem se igualava a de cada guerreiro que conhecia. Ele não era um homem normal. As arestas dentro dele, sua necessidade de caçar e matar deveriam fazer sua natureza gentil correr, gritando com ele. As sombras escuras, que o manchavam desde o nascimento, o terrível legado transmitido por seu pai cicatrizado em sua própria alma. Sua luz tão brilhante deveria diminuir, deveria o evitar, mas ainda assim ela o encarava, enfrentava seus próprios medos — para salvá-lo. Para oferecer a vida. Ela sabia o que estava fazendo. Sabia que ele planejava permitir que o sol o levasse — mas ficou na frente dele, o seduzindo deliberadamente com seu corpo suave e sua coragem incrível. —Seria preciso um milagre para me salvar, Marguarita. Ela era um milagre para ele. Ele estava muito longe deste mundo. Ele nunca pertenceu a ele, e agora a sociedade moderna o transformou num homem de séculos atrás. Milagre ou não, coragem ou não, como poderia viver com tal retrocesso aos tempos antigos? Seu mundo era matar ou ser morto. Sobrevivência do mais apto. As mulheres não faziam parte de tais coisas, e se faziam, eram usadas e esquecidas rapidamente, ou mantidas próximas ao cativeiro, onde um guerreiro sempre podia protegê-la. —Vê o que realmente sou, ou quem você quer que eu seja? — Porque, Deus os ajudasse, ele a governaria. A manteria muito perto. Isso destruiria a ambos. Ele iria condená-la ao inferno, mas isso não parecia importar. Não conseguia se libertar dela, nem mesmo para salvar sua honra. Ele queimava como fogo. Precisava. O desejo o governava. Desejo. Dolorido. Necessidade pura. Fome pura. Era predador, e ela era a presa. Estava bloqueado, toda a sua atenção focada sobre ela. Ela carregaria para sempre a cruz de sua vergonha, sua incapacidade de resistir a tomar o que agora precisava ter. Quero ser sua, Zacarias. Preciso que fique comigo. Por favor, fique. Por favor, me escolha. O que quer que isso seja — não é vergonhoso. Estou me dando a você livremente. Ele ouviu seu próprio gemido. Não haveria escapatória para ela. Como podia recusar seu pedido? Seu presente? Ele não podia resistir aos seus seios macios, aos mamilos escuros provocando seus lábios. Fechou a boca sobre a tentação e sugou. Queria que isso fosse real. Mais que tudo, queria que o que ela oferecia fosse real. Por tudo que era santo, queria um milagre. Seu corpo arqueou para ele. Os braços se envolveram ao redor da sua cabeça, o puxando para ela. Vejo você. Todo você. Ele não podia desistir das sensações incríveis cruzando pelos dois. As características que ela via nele, não estava certo que realmente estavam lá, mas não ia parar o que estava fazendo para usar sua voz para dizer isso. Puxou o mamilo com os dentes, ouviu seu suspiro, mas o fogo riscou

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através dela — através dele, o sangue correndo para ambos os seus centros, como se ela tivesse um caminho para ambos os centros direto de seus mamilos. Sabe o que sou. No entanto, não tem medo? Ele puxou novamente, um pouco mais áspero, com as mãos amassando a carne macia, rolando a ponta tensa com a língua e dentes sem piedade. Ele precisava que ela entendesse que era um homem rude, perigoso, todas as suas arestas duras e de aço. Não parecia se importar de como a tocava, pois apertava os braços ao redor de sua cabeça, sua respiração irregular, sua excitação permeando o ar entre eles. Estou me dando a você, Zacarias. Livremente. Sem restrições. Não sei o que suas mulheres fazem, mas só posso ser eu. Não conheço nenhuma outra maneira. Não quero que se vá. Pensar em você sozinho, lutando contra um inimigo maligno noite após noite, sem ninguém para te abraçar, é repugnante para mim. Se eu andar na direção do sol, não estarei lutando com um inimigo. Não, mas sempre estará sozinho e é inaceitável para mim. Não consigo encontrar impressões para mostrar o porquê, então, sim, estou me dando para você por minha livre e espontânea vontade, e o seduzindo para ficar. Quero que fique comigo. O que vai fazer comigo é inteiramente com você. Mas não estará sozinho, se optar por ficar. Sua boca se encheu com ela, suas mãos deslizando possessivamente sobre suas curvas e reentrâncias. Como podia desistir dela? E, no entanto, não seria um homem de honra, se não o fizesse. Não respondeu minha pergunta. Não tem medo? Sim. Ela estava sendo absolutamente verdadeira. Claro que tenho medo do desconhecido, mas o medo é pequeno se comparado com minha necessidade de mantê-lo seguro. Seu coração apertou. Entende completamente o que está me oferecendo, Marguarita? Seu corpo o chamava. Seu sangue. O gosto dela estourou pela sua boca, através de cada célula em seu corpo. A virilha inchou até que estava tão cheio e duro que a dor era insuportável. O pensamento de uma mulher se dando tão completamente a ele era intoxicante. Sua para comandar. Sua para realizar cada desejo. Marguarita com sua pele macia e seus olhos de corça. Dele. Ele levantou a cabeça para olhar em seus olhos. Olharam um para o outro por um tempo muito longo. Ele se sentiu caindo e se afogando nessas escuras piscinas de coragem. Esteja muito certa. Vai pensar somente em mim. Sua vida será minha vida. Minha felicidade será sua felicidade. Não conheço outra maneira. Se é minha, se quer que eu continue nesta vida, então vai se ligar a mim por todos os tempos. Para sempre. Ele suspirou, baixando sua voz a um sussurro de sarcasmo. Para sempre pode ser muito tempo. Marguarita, principalmente se estiver infeliz. Sei o que peço a você, disse ela. Sei que está cansado e que tem medo de quem e o que você é. Mas quero que fique — comigo. Quero que viva. Para conhecer a felicidade por tanto tempo quanto ficarmos juntos.

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Não houve mais resistência nele. Ela seria seu mundo, e lutaria com cada respiração de seu corpo para mantê-la. —Então, se entregue a mim. Seu sussurro saiu contra a suave elevação de seu seio, bem acima de seu coração. Sentiu seu coração saltar e então começar a bater forte. Sua mão deslizou de seu corpo para suas pernas. Estava úmida por ele, sua excitação evidente, mas enquanto seus dedos roçavam sobre sua calcinha, seu coração acelerou e ele a sentiu se forçando a ficar parada para ele. Ele hesitou, seus dentes já alongados, o gosto dela explodindo pela boca. Não queria que ela tivesse medo. E tinha que estar certa. Uma vez que eu a reivindique como minha, não haverá como voltar atrás. Ela respirou. Ele sentiu em seus próprios pulmões. Ela pegou seu rosto entre as mãos e o olhou diretamente nos olhos. Fique comigo. Ela estava com medo, mas determinada. Ele não estava prestes a virar santo e recusar o que ela estava oferecendo. A vida. Emoção. Cor. Algo para si mesmo. Algo todo seu. Ele baixou a cabeça e passou a língua sobre seu pulso frenético. Ele sentiu o eco da latejante batida no fundo de suas próprias veias, pulsando através de seu pau grosso. Seus dentes rasparam para a frente e para trás sobre sua pele, sua língua aliviando a pequena dor. Cada vez que seus dentes mordiam delicadamente, sentia o calor líquido de boas vindas molhar sua calcinha. —Vou dizer as palavras - palavras poderosas que nos unirão. Nossas almas se tornarão uma só. Vou tomar seu sangue e dar o meu numa troca completa. Isso não vai trazê-la plenamente ao meu mundo, mas é nossa segunda troca e estará a mais de meio caminho andado. Haverão repercussões. Não estou entendendo. —Ao contrário dos casamentos humanos, os nossos são irreversíveis. Uma vez que as palavras são ditas, não há como retirá-las. — Sua boca provocava seu pulso e se moveu para o mamilo, quase o sugando, puxando com os dentes, mais uma vez sua língua se movendo numa lixa de veludo para aliviar a dor. —Sempre vai precisar de mim perto de você. Sempre precisarei de você perto de mim. Nossas mentes sempre procuraram se manter uma dentro da outra. Nunca serei capaz de deixá-la livre. Nem serei livre. Não haverá Zacarias sem Marguarita. Nem Marguarita sem Zacarias. Ela respirou fundo outra vez, seus dedos cavando a massa grossa de seu cabelo. Ela segurou os fios em seu punho e apertou. Ele tomou isso como seu consentimento. Não havia como voltar atrás para qualquer um deles. Ela estava dando sua vida quando se colocava aos seus cuidados. Ele puxou fortemente seu seio, deixando-se perder nas sensações de puro prazer. — Te avio päläfertiilam, — ele sussurrou contra seu pulso. — Você é minha companheira. — Seu corpo estremeceu, as línguas de fogo de necessidade transformando sua virilha num inferno. Ele arrancou suas roupas com um pensamento e a puxou mais perto, removendo os restos da

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renda de seu corpo, da mesma maneira. — Éntölam kuulua, avio päläfertiilam. O que significa isso? Seus dentes esfregaram no pulso batendo. — Te reclamo como minha companheira. — Beijou sua pele macia ao longo da curva de seu seio e mordeu profundo. A dor brilhou através dela. Ele apertou a mão entre as pernas dela, acariciando com os dedos, provocando arrepios de emoção correndo por ela. A dor deu lugar a uma corrida erótica. Ela jogou a cabeça para trás e o segurou contra o seio, seu punho puxando seu cabelo. A essência de sua vida o invadiu, alimentando seu vício. Desejava o sabor único, sexy, que era todo Marguarita. Todo seu. Só para ele. Criado para ele. Ele mudou para a forma mais íntima de comunicação enquanto bebia. Ted kuuluak, kacad, kojed. — Te pertenço. Ele sempre lhe pertenceria. Ele sempre a teria. Élidamet andam. Te ofereço minha vida. — Pesämet andam. — Te dou minha proteção. — Uskolfertiilamet andam. - Te dou minha lealdade. Seu sangue fluiu para ele, rejuvenescendo cada célula. O enchendo — com ela. Podia sentir o ritual poderoso das palavras fazendo seu trabalho, os vinculando juntos em milhões de minúsculas segmentos, inquebráveis. — Sívamet andam. - Te dou meu coração. Ele dava seu coração, como era. Sombrio. Danificado. Mas era dela para manter durante todo o tempo. Sielamet andam. - Te dou minha alma. Sua alma estava em frangalhos. Tantos buracos a perfuravam. Todos aqueles que matou ao longo dos séculos. Ele viveu por eles e cada um cobrou um preço sobre a alma que estava dando para ela. Ainamet andam. - Te dou meu corpo. Seu corpo ansiava por cada centímetro dela, e podia sentir que o mesmo desejo corria através dela para ele. Ele o sentiu na sua umidade acolhedora quando empurrou um dedo dentro dela, sentindo seus músculos o apertando, desesperados para atraí-lo dentro dela. Zacarias levantou a cabeça e viu as gotas rubi escorrendo pela inclinação de seu seio antes de mergulhar a cabeça e seguir a trilha com a língua. Usou sua saliva para fechar as feridas antes de a mover nos braços, a levantando e embalando perto dele. Muito gentilmente, a levou para a cama onde sentou, segurando seu corpo nu em seu colo. Estava linda. Os seios arredondados estavam marcados por suas mãos e boca. Dele. Sua mente não podia acreditar que alguém com tanta luz pudesse olhar para ele com tal desejo ardente. Com essa necessidade queimando para estar com ele. Um presente. Seu milagre. —Vai beber, Marguarita. Sei que parece errado para você, mas este é nosso modo. Você mesmo se colocou sob meus cuidados. — Ele traçou uma linha sobre o pulso batendo em seu peito e apertou sua boca nela. —Confie em mim agora. Marguarita tentou. Moveu os lábios sobre a laceração, a língua timidamente sentindo o gosto dele. Ele gemeu, sua ereção pressionando firmemente contra suas nádegas nuas. Não

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esperava as demandas terríveis e cruas de seu corpo, o modo como saía de dentro dele, todo o calor e fogo, derretendo o gelo em suas veias, trazendo de volta suas memórias, boas e más, trazendo-o plenamente à vida. Deixando seu corpo em um ponto febril de necessidade absoluta. Ele soltou um comando para tornar mais fácil ela aceitar seu dom da imortalidade. Sussurrou a próxima parte das palavras rituais de ligação para a nuvem de seus cabelos. — Sívamet kuuluak kaik että ao Ted. - Tomo em mim os teus cuidados do mesmo modo. Seu corpo estaria sempre aos seus cuidados e passaria suas noites a adorando em todos os sentidos que pudesse. Ele encheu sua mente com imagens eróticas. Suas mãos percorriam sobre ela, massageando seu traseiro arredondado, deslizando da linha de suas costas para seus quadris e sua estreita cintura. Uma mão puxava e revirava os mamilos para mantê-la estimulada enquanto ela puxava a essência de sua vida em seu corpo — enquanto o próprio sangue dos Cárpatos a reivindicava por sua conta. — Ainaak olenszal sívambin. — Sua vida será apreciada por mim para sempre. Acarinhada. Ele sabia o significado da palavra agora, quando nunca soube antes. Iria estimá-la. Protegê-la. Mantê-la. Marguarita era o sentido da vida, seu Santo Graal, o final da batalha de séculos entre o bem e o mal. Ela era a razão. Era o que esteve procurando por toda sua vida e nunca percebeu. —Te élidet ainaak pede minam. - Sua vida será colocada acima da minha sempre. Soube no momento que pronunciou as palavras que queria dizê-las. Sua vida seria sempre colocada acima da dele. Sua mulher. Seu milagre pessoal. A mulher humana que encontrou um homem se afogando e se ofereceu como bote salva-vidas. — Te avio päläfertiilam. — É minha companheira. Cores brilharam diante de seus olhos, brilhantes e luminosas. Cores vivas e estonteante. Por um momento, seu mundo se inclinou e, em seguida, endireitou. Aquelas cores pulsavam e latejavam em sua ereção pesada, enviando espirais elétricas através de seu corpo. — Ainaak sívamet jutta oleny. - Está unida a mim por toda a eternidade. Ele tentou salvá-la, mas era tarde demais agora. Estavam presos alma a alma para sempre. Ela ficaria com ele para o bem ou para o mal, e temia, que para ela, seria muito mais difícil do que jamais poderia imaginar com sua mente moderna. Ela não podia conceber o tipo de monstro que realmente era. —Ainaak terád vigyázak. - Sempre aos meus cuidados. —Aquela era a única coisa que podia dar a ela. Podia prometer. Nunca voltaria atrás em sua palavra. Haveria lealdade absoluta a esta mulher e sempre, sempre providenciaria seus cuidados. Delicadamente, enfiou a mão entre sua boca e peito. Sua língua lambeu uma última vez sobre a laceração e seu corpo apertou, estremeceu, o sentimento tão erótico que sabia que ia querer essa experiência mais e mais. Fechou a ferida e tomou sua boca, a mão na nuca a segurando enquanto ainda se alimentava do arrebatamento lá. Calor derramava por meio dele. Ele se moveu, girando, a colocando na cama em frente a ele

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como um presente. Seus olhos estavam ligeiramente vidrados, diamantes champanhe brilhantes com desejo e necessidade. Ele colocou esse olhar lá. Era tudo para ele. Ela era tudo para ele. Ele se ajoelhou sobre ela, com as mãos entre as coxas dela, as puxando, de modo que ficou aberta para ele, e podia apreciar a vista da prova brilhante de sua necessidade por ele. Suas mãos foram aos seus seios, amassando, rolando e puxando seus mamilos sensíveis. Cada raia de fogo que ia para seu núcleo atingia direto seu pau. Ele os tomou em sua boca, sugando com força, os dentes provocando o pico tenso, puxando e mordendo enquanto ela se contorcia e engasgava sob ele. Seus quadris pinoteavam a cada mordida de seus dentes, depois a cada lambida de sua língua. Ele chupou forte, revelando seu corpo, se oferecendo, macio e flexível. Dele. Tudo para ele. Os braços circularam sua cabeça, e ela se arqueou em sua boca, empurrando mais profundo, levantando seus quadris para esfregar o corpo. Sua pesada ereção pressionava contra o V na junção de suas pernas e ela as abriu mais para tentar chegar mais perto dele. As coxas lisas esfregaram contra seu corpo, levando-o a perder a sanidade. Ele capturou o mamilo e o puxou apenas para sentir a sensação maravilhosa de línguas de fogo enchendo sua virilha, vibrando por ele. Sua boca encontrou a dela de novo, um pouco brutalmente desta vez, tomando sua resposta, exigindo que desse tudo que era. Ele não queria nada menos que tudo dela, nada menos que a entrega total. Marguarita nunca se afastou dele em sua mente. Suas mãos ficaram mais ásperas em seu corpo, a afirmando, querendo que conhecesse e aceitasse como ele era. Ele daria tudo que era, derreteria dentro dela, daria tudo que era para ela —tudo que tinha. Ela era incrivelmente ágil para ele, seu corpo se contorcendo e pinotando enquanto ele acariciou a barriga e coxas. Ele inalou, querendo sempre lembrar deste momento, querendo saborear cada nova experiência separada de emoção. Nunca teve uma experiência tão sensual pelo tato. Pura sensação. Puro prazer. A lúxuria era profunda e o dirigia, em seu sangue, batendo pela necessidade, arranhando e raspando, mas ao mesmo tempo, se espalhando como fogo através de seu corpo — e por meio de seu corpo. As sensações duplas eram esmagadoras e irresistíveis. Ele se entregava completamente, explorando cada centímetro do corpo macio e curvilíneo. Cada raia de fogo que passava por ela, passava por ele. Sentia-se embriagado com a fome crescente, desta vez pelo seu corpo, pela vagina escaldante que implorava e chorava por ele. Estava tão viciado nas estrias de eletricidade correndo através de seu corpo e enchendo sua ereção pesada como estava com o gosto de seu sangue. Ele não tinha ideia da passagem do tempo, apenas de seu corpo, seu sabor e textura. Saber que seu presente era real. Nunca, nenhuma vez ela protestou, mesmo quando a levou muito alto e estava ofegante e suplicando pela liberação. Ela ficou conectada, querendo seu prazer, dando-se a ele sem reservas, mantendo sua palavra. E ele descobriu que seu prazer era tão importante para ele, se não mais, que o dele mesmo.

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Cada suspiro, cada apelo em sua mente, as unhas raspando nas suas costas, seu punho em seu cabelo — tudo isso era adicionado ao seu prazer. Adorava vê-la necessitada por ele, ver seus olhos atordoados, a boca aberta, os gritos suaves em sua mente. O canto irracional do seu nome. Ele estava agitado, sim, mas se assegurou que não sentisse nada, além do prazer. Queria que ela quisesse estar com ele em todos os sentidos que pudesse conceber, e magoá-la ou ignorar suas necessidades seria repugnante e errado para ele. Ele se entregou pela primeira vez em sua vida, tomando este tempo para si mesmo — para ela. Os dois eram um agora, de alma para alma, e enquanto ele estava em sua mente, ele sentia. Via cor. Seu mundo era rico e emocionante. Não havia gelo em suas veias, nem sombras no seu coração. Sua luz brilhante o iluminava de dentro e parecia como se pudesse subir aos céus ou correr em liberdade por toda a terra. Ela o fazia livre. Quando ele soube que ela estava mais que pronta para ele, lisa, quente e ofegante, se ajoelhou entre suas pernas e levantou seus quadris, empurrando naquele espaço apertado quente criado só para ele, unindo seus corpos da mesma forma que suas mentes estavam unidas. Teve cuidado, sentindo sua resposta. Era grosso e longo, e ela apertada. Podia sentir o ardor e o alongamento com a invasão da mesma forma que ela podia sentir o prazer correndo e chiando através de seu corpo enquanto sua vagina o agarrava em ardente prazer. Teve que lutar uma batalha para se controlar. Precisava mergulhar ela, se enterrar profundamente, e se não estivesse em sua mente, sentindo o que sentia, não tinha dúvidas que seria egoísta, mas a queimação beirava a dor para ela. Ele forçou seu corpo a ir devagar, sussurrando em sua língua nativa palavras suaves de encorajamento. Se encontrou a chamando de sívamet — meu amor, ou mais literalmente, meu coração. Não sabia até aquele momento de pura revelação que ela estava em seu coração. Ela deu tanto, este pequeno pedaço de humana com mais coragem que bom senso e de algum modo escorregou dentro dele e acabou firmemente em torno de seu coração. Foi mais cuidadoso que nunca, escorregando centímetro por centímetro lentamente até que sentiu a fina barreira. —Respire, kislány kuηenak minan. — Deliberadamente, ele se inclinou mais perto dela, pressionando no local que lhe trazia maior prazer e traduzindo o que se tornou um carinho, — Minha pequena lunática, você se deu para mim, e eu a aceito sob minha guarda. Ele a tomou em seguida, tornando-a totalmente dele, se enterrando dentro desse caldeirão apertado de calor, alegando sua casa, seu santuário. O gelo desapareceu de seu corpo e mente para ser substituído por Marguarita. Ele encontrou sua casa e nunca queria sair. Levou seu tempo, cuidando para permitir que ela o alcançasse, primeiro estabelecendo um ritmo lento e torturante, e então, quando seu corpo se tornou mais receptivo à sua invasão, quando o prazer chiou através dela, aumentou o ritmo e a tomou como precisava, duro e rápido, com as mãos apertando seus quadris, seu corpo mergulhando de novo em casa e, novamente, a luz acendendo para ele. Jogou a cabeça para trás, numa espécie de êxtase de fogo, queimando-o de dentro para

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fora, levando-o cada vez mais alto. Todo o tempo, estava ciente dela, cada carícia, seus dedos em seus cabelos, seus suspiros suaves, seus quadris pinoteando sob os dele, a requintada vagina apertada, segurando e ordenhando, precisando dele como ele precisava dela. Podia ouvir seu suspiro suave em sua mente e soube o momento exato que a tensão cresceu em seu corpo golpeando um chocante ponto onde estava esticada como um bastidor de intenso prazer que beirava a dor. Ele a empurrou sobre a borda, seu corpo a levando com ele, seus músculos massageando, ordenhando e segurando tão apertado que queimava por ela. Estava há muito tempo sobre ela — nela, mente a mente, conectados, querendo ficar lá para sempre — sabendo que no momento que se retirasse, ele seria köd, varolind hän ku piwtä — predador, sombrio e perigoso, cheio de sombras e contaminado pelo mal. As cores brilhantes desapareceriam e suas vivas emoções intensas desapareceriam. Esperava como o inferno que seu carinho por ela não fizesse o mesmo. Estavam presos agora, para o bem ou mal. Não podia desfazer o que fez e ela não podia sobreviver sem ele — ou ele sem ela.

CAPÍTULO 11 Não havia como voltar atrás. Marguarita sabia quando se ofereceu a ele e não queria retirar sua oferta. Ele a levou para o paraíso, mas agora, podia usufruir uma breve pausa da sua personalidade esmagadora e intensa. Zacarias parecia amar o perfume de seu banho. Insistiu em derramar seu óleo perfumado na água, e agora sentava na beirada da banheira, olhando para ela com aquele olhar enervante, todo focado. Sabia que a deixava incômoda, mas não pediu desculpas, nem parou de olhar para ela tão possessivamente. Vai olhar para mim para sempre? Ela tocou o cabelo dela conscientemente. Estava preso em cima de sua cabeça para mantê-lo fora da água oleosa, e sabia que devia estar uma bagunça. A sala estava iluminada com velas, para que a luz fosse suave e trêmula, mas ainda assim, não parecia estar no seu melhor. De repente, ele sorriu, roubando toda a sua respiração. —Vai ter que se acostumar com meu olhar. Observar você tomar banho me traz prazer. — Ele cruzou os braços sobre o peito, sem tirar os olhos dela. —E parece sexy com seu cabelo bagunçado. Meu favorito é quando está espalhado por todo lugar, mas esse é meu segundo favorito. Gosto quando todos esses cachos caem em torno de seu rosto e por suas costas, enquanto tenta parecer muito séria, os colocando para cima. É selvagem, como você. Muito sensual e agradável. Ela sentiu a cor subindo do pescoço para sua face. Você é fácil de agradar. A sobrancelha subiu. —Garanto, não sou nada fácil de agradar. E está se cobrindo novamente. Por favor, tire suas mãos de seus seios. Gosto de olhar para você. Seu corpo é lindo e estou certo que será uma fonte eterna de prazer. 127


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Ela não percebeu que estava cobrindo seu corpo, pela segunda vez. Ele já tinha pedido a ela para parar uma vez. Sentiu sua cor aprofundar. Realmente, estava tentando fazer o que queria, mas seu olhar era tão possessivo e intenso, que se sentia um pouco como se estivesse sob um microscópio. Relutantemente colocou as mãos sob a água, grata pela vapor subindo. Não exatamente oferecia proteção, mas pelo menos havia a ilusão dela. Marcas de sua posse cobriam seu corpo, e entre as pernas, estava definitivamente machucada, mas a água a estava acalmando, e ele foi incrivelmente gentil, a carregando para o banheiro e enchendo a banheira para ela antes de colocá-la na água quente. Seu coração batia tão forte que teve que lutar para não apertar a mão sobre seu peito. A enormidade do que fez a atingiu duro depois que flutuava de volta do subespaço. Ela pensou muito sobre o que ia fazer para salvar Zacarias De La Cruz. Ele estava tão longe do outro lado, já com um pé fora do mundo que ela conhecia. Se não fizesse algo drástico, o perderia. Onde quer que ele fosse após a morte, ela não queria que ficasse sozinho por mais um momento. Inventou em sua mente seduzi-lo para ficar com ela — mas agora claramente era um caso de tomar cuidado com o que você deseja. —Tem todo o direito de temer sua nova vida, Marguarita. Ela fechou os olhos. Sua voz era tão hipnotizante, tão sensual, ela a sentiu como dedos roçando sobre seu corpo. —Mas não tente esconder seus medos de mim. Nem sempre vou fazer as coisas que você precisa e vou cometer muitos erros, estou certo, mas tem que falar comigo. Diga-me quando estiver magoada com as coisas que eu digo ou faço. Só vou cometer esse erro uma vez. Não vou pedir nada a você, então não cometa o erro de lidar com o que digo de forma ligeira. Eu vou mandar. Vai precisar de muita coragem para me enfrentar, e ainda mais para viver comigo, mas não espero nada menos de você. Ela passava de aborrecida a divertida com suas ordens. Ele passou séculos dando ordens e esperando — e recebendo — obediência, e é claro que ela sabia que continuaria a fazê-lo. Às vezes, a fazia querer rir. Ele realmente esperava que ela fizesse cada coisa que ele dizia. Como se isso fosse mesmo possível. Não é necessário fazer de tudo uma ordem, Zacarias. —Talvez com os outros, mas você desafia a lógica e a razão. Nunca conheci qualquer outro que desobedecesse ordens diretas da maneira que faz. Ainda hoje esteve sentada na sua janela fazendo curativo em seu amigo Julio. Acha que eu não saberia exatamente o que estava fazendo? Os cílios levantaram e ela o olhou diretamente nos olhos. Não seria intimidada por ele. Ela viu dentro dele — melhor ainda do que ele — e estava a salvo. Só precisava ter coragem para enfrentá-lo quando estava sendo irracional. Sei que não pretende fazer-me sentir como uma prisioneira, Zacarias, mas parece isso quando diz coisas assim. Tenho um dever para com todos nesta fazenda... Ele ergueu a mão. —Não mais. Seu único dever é cuidar das minhas necessidades. Acho que me fiz muito claro

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sobre isso. Sim, bem, mas ainda tinha que ver as feridas de Julio. Não as deixaria infeccionar. Fez alguma coisa para seu cão? Seu cão, de repente ficou louco, atacando os cavalos e, em seguida, atacando Julio. —Eu o fiz parar de rosnar para mim, mas isso não explicaria seu comportamento. Onde está o cão agora? Não tiveram escolha senão atirar. Julio me pediu para ver os cavalos e o gado. Algo está errado. Ela esfregou o furinho em seu queixo, franzindo a testa um pouco, odiando que todos no rancho acreditassem que o comportamento do cão tinha algo a ver com a presença de Zacarias. —Seus olhos estão tristes. Não sinta tristeza por mim, minha linda lunática. — Ele encolheu os ombros. —Acha que todos pensam que estou provocando esta reação nos animais. Provavelmente é verdade. Os animais sentem as sombras em mim. Até meu próprio povo me chama de köd, varolind, hän ku piwtä, o que significa predador perigoso, sombrio e mesmo os caçadores mais experientes me chamam de hän ku tappa —que significa mais que violento. Estou habituado aos outros me temendo. Não me incomoda. Espero isso. Me incomoda, Marguarita admitiu, tremendo. A água está esfriando e eu preciso sair. Não era a água fria, mas perceber a enormidade de sua decisão. Ela pôs em sua mente salvar este homem —amar este homem — sem entender o quão diferente e perigoso realmente era. Ela não se arrependia da decisão, mas parecia caminhar através de um campo minado. Ele estendeu quase preguiçosamente uma toalha e a segurou, claramente esperando que ela saísse da banheira na frente dele. Ela pediu por isso, lembrou a si mesma. Queria pertencer a ele e disse que faria qualquer coisa para fazê-lo feliz. Ficar nua para ele não parecia muito, não depois do modo como fizeram sexo selvagem, abandonados, ainda assim se sentiu corar da cabeça aos pés quando saiu da banheira e permitiu que a envolvesse na grande toalha. —Por que se incomoda, Marguarita? — Ele perguntou, com a voz vacilando uma oitava. — Essas pessoas não são nada para mim. O que importa se acham que sou o diabo? Estas são a minha gente, Zacarias, explicou cuidadosamente. Ficou muito quieta enquanto ele gentilmente enxugava as gotas de água de seu corpo. Eu os amo e não quero que pensem coisas falsas de você. Quero que o aceitem como minha escolha. Suas mãos pararam. —Por que presume que pensam coisas falsas sobre mim? Os animais ficam agitados na minha presença. Nenhum cavalo jamais me tolerou por perto. Estou certo que dizem a verdade - o gado e os cavalos estão todos nervosos com minha presença contínua. Raramente fico perto de humanos ou animais. Há muito tempo notei sua reação. Sua voz era inexpressiva. Regular. Prática. Mas sentiu uma pequena vibração em seu coração, quando mencionou especificamente os cavalos não tolerarem sua presença. Ele não se importava com os humanos fugindo dele, mas o incomodava que os cavalos o fizessem. Prendeu a respiração. Outro segredo enterrado em seu subconsciente, que não reconhecia, mas ela via de

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forma tão clara. Ela adorava cavalos. Apenas uma pessoa que amasse cavalos compreenderia a necessidade profunda em passar um tempo com os soberbos e belos animais. E entendia a fome, não dita e desconhecida, em Zacarias. Queria colocar seus braços ao redor dele e consolá-lo — mas aí estava a ironia — ele não sabia que precisava de conforto. Era Zacarias De La Cruz. Não sentia dor. Nenhuma emoção. Era a suprema máquina de matar, sombrio e contaminado pelo mal e aceitava isso, sem auto-piedade em seu coração. Ele simplesmente era assim. Como se ficava irritada com um homem desse? Não estava nela fazê-lo, não importa quantas ordens bobas ele desse ou como seu pensamento estivesse distorcido. Ela se virou para ele e circulou seu pescoço com os braços, unindo os dedos atrás da cabeça. Ela inclinou seu corpo contra o dele, seus seios esfregando firmemente contra a toalha quando virou o rosto até o pescoço e o beijou. Seu coração parecia derreter em seu corpo quando ele simplesmente ficou ali por um longo momento, chocado com sua ação. Em seguida, os braços se envolveram ao redor dela, prendendo-a contra ele e parecia — em casa. Sei que não pedi permissão para tocar em você, mas não pude evitar. Ela empurrou deliberadamente uma nota de travessura em sua mente. Sei o quanto essas regras são importantes para você, mas essa em particular é muito difícil para mim e pode levar algum tempo para obedecê-la totalmente. Peço que tenha paciência. Suas mãos imediatamente se arrastaram de volta para seu traseiro nu, moldando e amassando os músculos firmes lá. Ele a ergueu um pouco, inclinando seus quadris para que esfregasse contra sua virilha grossa. —Talvez tenha que ignorar sua necessidade de me tocar. Borboletas bateram asas no seu estômago pela pequena nota de felicidade em sua voz. Obrigado, Zacarias. Tenho grande necessidade de tocá-lo com frequência. Sei que sempre esqueço de perguntar primeiro. Aprecio que relaxe sua regra. —Apenas essa, — ele apontou, uma pitada de riso rastejando em seus olhos. Seu coração palpitou. Por um breve momento, lá naquela sala cheia de vapor, com a luz suave das velas, em seus olhos sempre tão pretos, apareceu um safira escuro. Quando seu sorriso desapareceu, também o fez a cor profunda e verdadeira de seus olhos. Ela viu o Zacarias real como deveria ser antes do mundo moldá-lo numa máquina de matar. Ela o puxou com força para ela, descansando a cabeça contra o ritmo constante do seu coração. Ele não parecia no mínimo impaciente, simplesmente a segurava perto. Ela esperou até que as emoções tolas que a sufocavam estivessem firmemente sob controle antes de levantar a cabeça. É melhor eu me vestir. Preciso verificar os animais e ver o que está acontecendo. Ele enterrou o rosto em seu cabelo, enrolado no topo da sua cabeça. —Suponho que concordei na outra noite quando falei com Cesaro. Não gosto de você se colocando em perigo. Se os animais são tão cruéis como os trabalhadores afirmam, permitir que

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fique ao redor deles é inconcebível. Eu amo meus cavalos, Zacarias. Preciso montar todos os dias. Limpa minha cabeça e me faz sentir tão livre. Vai ter que experimentar para que você possa entender. Sua mão, que esfregava suas nádegas, continuou, de modo que seu corpo começou a esquentar. Ela o abraçou apertado e depois recuou. —Nenhum cavalo jamais me tolerou tão perto e me recuso a usar o controle da mente sobre eles. Não precisará, ela garantiu com confiança. Sei que gosta de saias, mas quando monto, prefiro jeans. É mais seguro. Seu sorriso era um pequena torção de lábios, mas a ação fez seu pulso disparar. Também deu aos seus olhos o brilho safira escura que roubava sua respiração. Seus olhos eram bonitos na sua verdadeira cor. Ela não conseguia se impedir de seguir o pequeno sorriso. Realmente é lindo, Zacarias. Ele pegou seu pulso e pressionou os dedos na boca. —Os homens não são bonitos. E está simplesmente tentando me distrair do fato que vai tentar quebrar outra regra. Ela enviou a impressão de riso em sua mente. Gostaria que fosse verdade. Queria que estivesse tão apaixonado que não pudesse pegar tão rápido no meu pé. Vestir uma saia realmente é uma de suas regras? —Prefiro roupas femininas. Se vai me agradar em tudo que faz, então, vestir saias é naturalmente preferível a roupa masculina. Ela subiu na ponta dos pés e roçou um beijo em sua boca. Ela amava sua boca sensual. Estava com medo que pudesse ficar olhando por horas e apenas fantasiar. Não se importava que estivesse em sua mente lendo seus pensamentos. Sabe que eu poderia só compor fantasias por horas. Mas acho que roupa de homem pode ser muito sexy também. Deixe-me tentar. —Não vou ter acesso a você. Ela sorriu para ele, esfregando o queixo sombreado. Felizmente pode fazer aquela coisa com sua mente. —Que coisa? Fazer minhas roupas desaparecem. Prefiro um pouco de regalia. —Isto é sedução, Marguarita. Pura sedução para conseguir o que quer. — Mais uma vez a mão moldou seu bumbum. —Acho que vou ter que me acostumar com você, ocasionalmente, do seu modo. Calças de homens são mais práticas para montar, apesar que uma saia-calça funcionaria. Ela se afastou dele e deliberadamente caminhou até a penteadeira, seus quadris balançando. Apenas reserve seu julgamento. Ela pegou uma calcinha fio dental rendada, a mais sexy que tinha, de sua gaveta. O sachê de lavanda perfumava a calcinha.

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Zacarias a seguia de perto e estendeu a mão para inspecionar o pequeno pedaço de renda preta. A tira fina mal cobria sua virilha, o elástico de renda desapareceria entre suas bochechas e quatro tiras pretas abraçavam a curva do seu quadril. —Isto é uma calcinha? Ela assentiu com a cabeça. —Vou vê-la com roupas de homem e saberei que isso é o que veste por baixo? Ela assentiu com a cabeça novamente. A cobiça crescia em seus olhos enviando calor através de seu corpo. Seu olhar pousou nos seios arredondados e depois varreu mais abaixo pelo triângulo de cachos negros guardando seu tesouro pessoal. —E o que vai usar para cobrir seus seios dos olhos de outros homens? Sua voz raspava sobre ela e imediatamente seus mamilos ficaram rígidos. Sua respiração ficou irregular, mas obedientemente puxou um sutiã preto combinando, da gaveta. Não tinha nada tão ousado como este jogo em particular que comprou por capricho. Pura renda preta se esticava sobre os seios cheios, com arestas de cetim preto. Os mamilos apareciam direto através de toda a renda, olhando para ele através do material fino. O arame dava apoio e, ao mesmo tempo empurrava os seios para cima e para fora. Ele aceitou o sutiã e virou o material frágil mais e mais em sua mão antes de levantar o olhar para seus seios. —Venha aqui. O comando em sua voz quase a deixou de joelhos. Adorava o jeito como parecia tão masculino. Adorava essa nota rouca que dizia que ele pertencia a ela naquele momento. Não havia mais ninguém em seu mundo. Tudo e todos desapareciam para ela quando sua voz assumia essa nota. Havia apenas Zacarias e a fome crescente em seu olhar. Adorava a ideia que ele pudesse a querer depois tomá-la tão completamente antes. —Me agrada quando está excitada, — Zacarias disse enquanto ela se aproximava dele. Suas mãos foram para seus seios, rolando e puxando seus mamilos. Ele se inclinou e seus longos cabelos deslizaram sobre a pele nua, enviando correntes elétricas direto para seu núcleo. Ela podia sentir seu corpo amolecendo, ficando úmido para ele. Estava excitada, apenas de olhar para ele, pensar nele, ouvir sua voz sexy. Não importava que ela não tivesse voz, ele estava em sua mente, lendo seus pensamentos, e na intimidade essa comunicação era tão sensual como a forma como seus dedos provocavam seus mamilos. A borda áspera apenas aumentava seu desejo, seu corpo rígido em contraste com o suave dela. Zacarias não permitia que se escondesse dele, não em sua mente e não sexualmente. Ela não sabia que era capaz de tais pensamentos luxuriosos, mas tudo que já leu, ou ouviu, ou imaginou, passava por sua cabeça quando estava com ele. Queria que seu corpo pertencesse só a ela, como sabia que o dela fazia com ele. A ideia de outro homem a tocando, exceto Zacarias, era repugnante para ela. —Não posso acreditar que esses pedaços são roupas íntimas, mas vou adorar saber que os

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usa para mim. Ele definitivamente pegou o fato que ela nunca usou a renda preta antes. Você me quer de novo. Havia um convite na mente dela. —Sim. Sempre quero você, Marguarita, mas antes das minhas necessidades e desejos, devo colocar sua saúde. Está muito dolorida. Não pode fazer algo sobre isso? Ela infundiu a ideia com tentação flagrante. —Até eu saber mais sobre como seu corpo reage, quero ver como responde naturalmente. Você é muito pequena e apertada. Percebi que foi sua primeira vez e houve um estiramento junto com a tomada de sua virgindade. Você sangrou. Ela lutou contra o rubor subindo por seu corpo. Isso é normal quando uma mulher é uma virgem. Ele não se importava de discutir sexo com ela, ou a resposta do seu corpo, o que ela estava grata. Permitia uma comunicação aberta, mas ainda assim, nunca fez isso antes com ninguém, muito menos com um homem por quem estava rapidamente ficando obcecada. Ainda assim, era quente saber que ele se negaria apenas para ter certeza que estava totalmente curada. —Posso aliviar sua dor, se for demais, — ele ofereceu. Ela balançou a cabeça. Gostava da sensação de sua posse, mas não estava certa de como passar essa impressão. Ele pareceu entender. Tocou o furo em seu queixo com um dedo delicado. —Vista sua roupa masculina e deixe-me ver como essas roupas sedutoras podem ficar. A nota provocante em sua voz fez estragos em seus sentidos. Cada terminação nervosa já estava crua e em estado de alerta, totalmente sintonizada com ele, completamente ciente dele. Quando ela inalou, sentiu como se ele fosse o próprio ar que ela respirava. Como se acontecesse, sem ela perceber, dele lentamente rastejar em sua cabeça — e em seu coração? Ela teve tanto medo no início, o confundindo com suas lembranças do vampiro. Seu comportamento não ajudou — até que tomou coragem e permitiu que sua mente se conectasse plenamente com a dele. Ele derreteria o coração mais duro se pudessem ver dentro dele. Era nobre, leal, um homem de honra. Merecia o amor. —Sívamet. — Ele sussurrou o carinho dos Cárpatos em voz alta e empurrou a palavra profundamente em sua mente. —Vê alguém que não existe. Gostaria que existisse. Faria qualquer coisa para te dar esse homem de presente. Sou um guerreiro. Nada mais. Marguarita escorregou na calcinha de renda preta, provocante como só ela era capaz de ser. O protesto jorrando na mente dela derramou na dele. Você é mais que digno — para mim é tudo que vale a pena. Ele balançou a cabeça, mas claramente a visão desses pedaços de renda deslizando entre as firmes nádegas bem torneadas o distraiu. Limpou a garganta e ela sorriu quando alcançou seu par de calça jeans favoritas. Estavam gastas e desbotadas num azul claro, o material macio e desgastado em suas coxas e num joelho, mas se encaixavam como uma luva e quando ela andava, eram o par mais confortável de calças jeans que possuía.

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Sentiu sua reação mais do que viu. Seu rosto estava sem expressão como sempre, embora seus olhos estivessem cheios de calor e desejo. Muito casualmente, ela encaixou o sutiã, permitindo que ele envolvesse os seios. As marcas de sua boca e mãos eram visíveis através dos furos da renda. Ele se aproximou dela e inclinou a cabeça para roçar primeiro seu seio esquerdo e depois o direito com um beijo suave. —Machuquei você? Sabe que não o fez. Foi tudo perfeito para mim. E foi. Ele foi áspero, sim, mas se certificou que ela não sentisse nada, exceto prazer. Marguarita afundou na borda da cama e puxou as meias finas e, em seguida, suas botas de equitação. Levantou cada pé no ar para puxar as botas de couro curtido, levando seu tempo, apreciando a fome em seu olhar. Sinceramente, o próprio ato de se vestir na frente dele, o tendo tão completamente focado nela, era sexy além de sua imaginação. Ela sorriu para ele, observando que seus olhos estavam negros meia-noite. Parecia tão maior que a vida, seu corpo rígido e marcado, bem musculoso. Ele fluía pelo quarto, com os ombros preenchendo o espaço, os olhos penetrantes, sua boca sensual. Gosto de olhar para você. Ela admitiu timidamente. Queria que soubesse que era seu mundo — que não estava sozinho e que ela escolheu de livre vontade ficar com ele. —Isso é uma coisa boa, minha linda lunática, porque vai fazer isso por muito tempo. Ela percebeu os relevos em torno de sua boca. No início, pensou que eram linhas, mas eram muito mais e ela sorriu para si mesma. Seu homem duro tinha um lado mais suave apesar de tudo. Ela não se importava de ser sua lunática. Muito possivelmente, era. Não averiguou todos os aspectos de sua decisão antes de tomá-la. Pulou com os dois pés e que danem-se as consequências, mas agora, enquanto puxava uma camiseta sobre sua cabeça, o estômago apertou. Realmente se inclinou para aliviar a dor. Instantaneamente a mão Zacarias estava nas suas costas e ela o sentiu passar por ela. Fez isso tão rapidamente, tão facilmente, que Marguarita ficou um pouco chocada. Ela levantou uma sobrancelha para ele em pergunta. Ele esfregou suas costas suavemente. —Tivemos duas trocas de sangue, Marguarita. Como regra, não importa quanto sangue lhe dei, como dei a Ricco, mas se fizermos uma troca, começará a transformar seus órgãos e o interior do seu corpo, remodelando-os na forma do povo Cárpato. Ela lentamente se endireitou e olhou nos olhos dele. Sabia disso? Ele deu de ombros. —É claro. É a forma das companheiras. Ela ouviu seu próprio batimento cardíaco, seu ritmo acelerando. O zumbido de vozes fora da casa. O pisotear dos cavalos e o murmúrio baixo do gado. Insetos abafavam tudo, o volume do ruído horrível. Marguarita apertou as mãos em seus ouvidos, o olhar saltando para o dele pedindo uma explicação.

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—Tive o cuidado de manter o volume baixo para você, porque estava ocupada, mas pode fazer isso sozinha. Pense sobre isso. Pense em como deseja que sejam macios os ruídos de fundo. Os humanos fazem isso automaticamente. Suas geladeiras funcionam e já não as ouvem, mas o ruído está presente. Sua visão e audição estará muito mais aguda. Tem que controlá-la conscientemente e, eventualmente, se tornará subconsciente. Marguarita se encostou para encontrar algo para segurar. Não ocorreu a ela que seu mundo mudaria tão drasticamente. Se entregou para manter Zacarias, mas seu corpo físico era humano. Zacarias passou o braço em volta da sua cintura. Sólido. Uma âncora. —Respire, sívamet, tão assustador como pareça, estarei sempre com você. Não vou permitir que nada a machuque. Ela respirou fundo. Diga-me o que isso significa para mim. Ela não se arrependeria de sua decisão. Sabia o tempo todo que seriam necessários sacrifícios. Sacrifícios físicos não ocorreram a ela, mas podia lidar com isso. —Vai precisar beber água e suco, Marguarita, — ele instruiu. Seu estômago embrulhou com a ideia de colocar algo dentro dele. Ela empurrou a mão dela contra sua barriga e balançou a cabeça. Não posso. Só o pensamento me deixa doente. —No entanto, será necessário. Sem carne, é claro. O pensamento de comer carne é repugnante para nós. E ainda assim possui uma fazenda de gado. Ela enviou um leve sorriso, tentando desesperadamente encontrar o equilíbrio. Ela aceitou a responsabilidade do que fez, e sabia que haveriam consequências. Poderia viver sem carne. Milhões de pessoas o faziam todos os dias, mas pensar em tomar sangue como alimento era perturbador para ela. —Vou ajudá-la quando precisar comer ou beber alguma coisa. Não podia se imaginar fazendo isso naquele momento, então simplesmente balançou a cabeça. Ela umedeceu os lábios, esfregando os braços um pouco. O que mais significa ter seu sangue para ela? Devia ser capaz de sair ao sol, mas a pele dela parecia estranha com o pensamento. Estava certa que era sua imaginação, mas antes, com Julio, sua pele estava sensível e os olhos muito doloridos. Com a segunda troca de sangue, pioraria? O que queria dizer com ela estar se tornando como ele? Pânico começou a beirar seus pensamentos. Estou mudando dentro do meu corpo? Me tornando como você? Ela esfregou as mãos acima e abaixo dos braços mais vigorosamente como se pudesse mudar a composição de sua pele. Se for como você, o sol vai me prejudicar? Ele balançou a cabeça lentamente. —O sol vai queimar você. Não da forma como faz comigo, mas não pode sair sem grande perigo. Iria empolar, e a queimadura seria grave. Não vai matá-la como faria comigo. Terá que cobrir sua pele e os olhos o tempo todo. Seu coração quase parou de bater. Ela realmente se sentia fraca. Adorava cavalos. Amava a raça Paso peruano. Foram sua obsessão antes de Zacarias e não podia se imaginar nunca voando

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sobre o chão, pulando cercas e convivendo com os cavalos. Gostava de suas personalidades, suas peculiaridades e temperamentos gentis. Adorava cada coisa sobre eles. Só os observar a enchia de alegria. Não podia se imaginar não cuidando deles, os montando, passando seu tempo com eles. O Paso mantinha sua marcha, naturalmente herdada, quando tantas outras raças foram diluídas. Foi mantido fiel à sua linhagem. Em sua experiência, seus cavalos passavam sua marcha cem por cento para sua prole. O centro de gravidade da raça permanecia praticamente imóvel. O Paso llano, uma marcha quebrada numa batida rítmica e harmônica, era muito gentil, agradável e extremamente confortável. Ela podia montar seu cavalo por horas, movendo-se em harmonia por toda a terra sem nunca se cansar ou ficar dolorida. Ela não considerou que podia se tornar sensível ao sol. Sua respiração parecia presa em seus pulmões. A garganta obstruída pelas lágrimas. Nunca montaria novamente. Nunca experimentaria a sensação incrível, a partilha entre cavalo e cavaleiro. O Paso também possuía um ritmo único apropriadamente chamado de término. Para Marguarita, nada era mais gracioso. Um movimento fluída em que as pernas dianteiras eram rolados para o exterior enquanto o cavalo dava passos para a frente. Ela fazia parte dos cavalos e eles eram uma grande parte dela. Zacarias estudou seu rosto atentamente. Profundamente dentro de sua mente, ela ficou de repente calma e, em seguida, completamente afastada dele. O mundo em torno dele instantaneamente mudou de colorido a pálido e monótono. Gelo derramava em suas veias, em seu coração. Sua saída repentina o deixou mais sozinho do que já era — jamais foi. Ela encheu seu corpo com calor e luz, com cores e emoções e no momento que ela se afastou, levou seu calor radiante. Uma vez que foi capaz de ver cores vivas e ter sentimentos, com o calor e o brilho dela preenchendo cada espaço sombrio, quebrado, ser jogado de volta à sua feia e severa existência sombria, se tornou absolutamente insuportável. Ele percebeu o que seu pai viveu. Sua mãe preencheu os espaços quebrados com seu calor e luz brilhante. Sem ela, sempre dentro dele, a cor e emoção de seu pai desapareceu tal como fez com Zacarias. O contraste era afiado e feio, e impossível de suportar — não depois de tanta alegria. Ele deu um passo em direção a ela, incapaz de resistir a esse farol luminoso quando seu mundo ficava tão frio. Sua alma realmente estremeceu. —Não tente me deixar. — Ele disse drasticamente, muito mais duro do que pretendia. Seus dedos desceram como um torno em seu pulso, a puxando para ele. Puxou o corpo dela para perto do seu. O cheiro de um predador rondando a presa permeou o quarto. Ela ficou tensa, o olhando como se a tivesse atingido. Não sei por que duvidaria de mim. Estou me ajustando às coisas que está me revelando e admito que me assustam, mas sou uma mulher de palavra. Eu me dei a você de livre vontade e quis dizer isso. Seja qual for o futuro reservado para mim, vou achar uma maneira de lidar com isso e ser feliz. Ele sentiu sua determinação, mas ainda assim, estava sozinho. Que o sol queimasse a mulher, ela não entendia. Não estava disposto a negociar com ela, ou tomar o que ela recusasse.

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Será que se rebaixaria tanto? Ele a puxou ainda mais, forçando seu queixo de modo que seus olhos encontraram os dele. —Não vai me deixar novamente. — Deu uma sacudida nela. A deixou ver o assassino nele, a força escura que era mais sua alma que qualquer outra parte dele. —Me entende? Marguarita parecia confusa. Tinha que dar-lhe crédito, era corajosa quando a maioria dos homens estariam de joelhos. Encontrou seu olhar sem vacilar. Ele a sentiu chegar, primeiro quase tateando, e seu alívio foi esmagador, quase o derrubando de joelhos. Seu calor escorregou em sua mente, em busca de respostas. Ele sentiu o fluxo quente o enchendo, unindo os pontos quebrados, restaurando as cores vivas. Emoções derramavam. O medo cobria o terror. Dela? Tinha que ser medo dele. Ele não conhecia o medo. O gosto do terror estava em sua boca. A emoção horrível batia em seu coração, e invadia seus pulmões prendendo sua respiração lá. —Está tudo bem. Respire fundo. — Ele mal conseguia articular as palavras. Marguarita balançou a cabeça, sem tirar o olhar do dele. Não tenho medo de você, Zacarias. Temo desapontá-lo, mas nunca vai me machucar. Seus olhos nunca vacilaram, presos nos dele, forçando a verdade em sua mente. Ele temia perdê-la. Temia virar vampiro. Ele — temia. Zacarias gemeu em voz alta. Que o sol a queimasse. Ela realmente ia deixá-lo de joelhos. O reduziu a isso. Ele não conhecia o medo, e agora o consumia. Nunca teve qualquer coisa de valor a perder. Certamente não sua própria vida. Mas Marguarita com seu corpo macio e sua luz brilhante e sua mente o enchendo com vida valia tudo para ele. Um tesouro que não iria — não podia — perder. Sabia que iria abraçá-la muito apertado. Iria sufocá-la. Ele não pertencia a um mundo onde as mulheres tomavam decisões por si mesmas, usavam roupas masculinas e se atreviam a olhar para um predador, como ele, com tal coragem aterrorizante. Um sorriso lento iluminou os olhos incríveis. O champanhe espumante se transformou num chocolate quente e convidativo. Não é pré-histórico, bobo. Assim como tenho que aprender sobre seu mundo, terá que aprender sobre o meu. É uma aventura que faremos juntos e estou ansiosa por isso. Ela fazia tudo tão simples quando ele sabia que não era. Sabia o que era e mesmo se ela encontrasse um lado gentil nele, ele a governaria com mão de ferro. A humana não podia ter nenhuma ideia sobre os perigos no mundo em que vivia. Cada vampiro ao redor do mundo procuraria se centrar nos seus, por insistência de Ruslan. Ruslan conhecia as sombras nele. Ele podia não saber como funcionava, mas sabia que Marguarita deixava Zacarias incrivelmente vulnerável. Sua mão escorregou para a nuca, os dedos enrolando em torno do pescoço frágil. Podia ouvir os batimentos cardíacos. O ar em seus pulmões. Ele inalou a fragrância feminina, e ela a dele. Ele abaixou a cabeça lentamente em direção a ela. Ela não desviou o olhar. Não se mexeu. Sua mulher, com mais coração e coragem que bom senso. Seus dedos deslizaram para a frente da

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sua garganta. Podia sentir seu pulso batendo na palma da sua mão. Ele poderia esmagá-la, bastaria apertar seus dedos, mas ela se inclinou para ele, confiando dessa forma desarmante que fazia seu coração derreter numa poça aos seus pés. Sua respiração sibilou em aborrecimento e ainda assim ela não se esquivou dele. Ele inclinou a cabeça para a dela. Ela olhou diretamente nos olhos dele e foi ele quem caiu nos dela, e não o contrário. Podia sentir o agora familiar calor crescendo escaldante, queimando suas veias, se espalhando como um incêndio, rugindo em sua barriga e formando uma bola de fogo em sua virilha. Sua boca tomou a dela. Não havia gentileza, estava longe demais para isso, preso no emaranhado de emoções que precisava resolver. Ele alimentou seu vício por ela, o desejo do gosto dela, precisando de sua submissão, sua entrega, precisando que ela se desse a ele sem reservas. Ela virou seu mundo de cabeça para baixo. Trouxe memórias enterradas até a superfície. O colocou numa posição intolerável como caçador. Gostaria de poder dizer que fiquei triste por você querer ficar comigo, por parar de procurar a aurora. Deveria estar arrependida e estou envergonhada que não possa deixar você ir. Preciso que você fique comigo. Sua voz era suave e um pouco triste, girando seu coração. Os braços delgados envolveram seu pescoço e ela inclinou seu corpo inteiro para o abrigo do dele. Era uma forma de paraíso para um homem que nunca conheceu a felicidade. Ou alegria. Havia alegria só em segurá-la. Sua língua dançava com a dela, sondava, explorava e a afirmava. Seus dentes puxaram o lábio inferior cheio, mordendo suavemente, apenas o suficiente para sentir sua respiração antes de voltar a beijá-la novamente e novamente. Ele tomou seu tempo a devorando. Beijou o caminho abaixo de seu pescoço, deixando dezenas de marcas de mordidas, pequenos beliscões que aliviava com sua língua e meia dúzia de marcas de morango que deixou apenas porque podia. Ele levantou a cabeça e esperou que ela levantasse os cílios para que ele pudesse olhar em seus olhos. Então, ela saberia o que ele quis dizer. —Não perderia estar com você no mundo. Aconteça o que acontecer nas noites que virão, Marguarita, nunca pense que me arrependo de qualquer momento que passei com você. Espero que sejam centenas de anos, mas se não, não me arrependo por você ter me mantido vivo. Obrigada por isso. Ela sorriu para ele, os lábios inchados de seus beijos, o pescoço e a garganta vermelhas com suas marcas de posse, e felicidade brilhando nos olhos. Ela pegou a mão dele. Venha conhecer os cavalos. Ele não teve coragem de dizer a ela que não havia como conhecer seus animais amados. Examinou o rancho para garantir que nenhum vampiro estava próximo e saiu para a noite com ela. Estrelas suspensas brilhavam e a lua derramava sua luz prateada do outro lado da grama. Zacarias relutantemente a seguiu em direção ao estábulo. Era um longo edifício bem construído. Quando se aproximou, pode ouvir os cavalos batendo e soprando, dançando em suas baias, conscientes que um predador estava próximo. Na entrada, não havia dúvida que estava

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causando estragos com o temperamento dos animais. Vários empinaram e mergulharam, escoiceando o ar com suas patas dianteiras e jogando suas cabeças, os olhos revirados. Zacarias pegou o braço dela. —Fique longe. Não vai entrar lá com os animais. Ele sentiu sua mente se expandir, alcançar e se conectar com os cavalos. Era uma sensação estranha, não o contrário do que experimentava quando tomava a forma de outra criatura, mas mais ainda, como se se juntassem não só na mente, mas no espírito. Você cheira como predador para eles. Não é mal para eles. Ou contaminado. Ela encontrou seus medos mais uma vez e ele tentou não reagir com raiva. Nunca olhou de perto porquê os animais não o aceitavam. Eles não o faziam. Era um fato. Qualquer outra coisa ele simplesmente afastava. O que importava — o porquê? Não sabia se era verdade que ele temia o acharem mal e contaminado, mas se viam isso nele — era mais provável estar lá. Ela descobria segredos que ele escondeu até mesmo de si. Quanto mais ela encontrava, mais relutante ele ficava que ela encontrasse mais, mas não podia viver sem a mente dela conectada completamente com a sua e isso dava acesso a tudo o que era — tudo que foi. —Não importa por que não vão me aceitar, só que não vão, — ressaltou. Ela apertou os dedos nos dele. Vão aceitá-lo como fazem comigo. Afinal, somos um, não somos? Seu coração saltou e interiormente se amaldiçoou por ser um tolo. Era impossível. Sabia que os cavalos não o deixariam chegar perto, mas em algum lugar dentro de si mesmo —acreditava nela.

CAPÍTULO 12 Zacarias fez Marguarita dar uma parada abrupta, pelo simples ato de deixar de se mover. Estavam juntos nas portas abertas do estábulo. Os cavalos giravam os olhos e jogavam suas cabeças, olhando para a porta em crescente terror. Seu cheiro é ameaçador. Acho que é bastante sexy, mas os animais estão com medo. Dê-me um momento para acalmá-los para que possam se conectar com você da mesma forma que eu faço. A diversão suave deslizou o acariciando "Acho que é bastante sexy" massageava sua mente como dedos sobre seu corpo, mas ele se recusou a ceder a ela. Perigo era perigo, não importa onde ou de quem a ameaça viesse. Ele ficou ao seu lado. —Não vou permitir que entre, com os cavalos irritados. Viu o que aconteceu com seu amigo Ricco. Ela esfregou o rosto contra seu braço muito parecido a um gato. Seria mais fácil para mim acalmá-los lá dentro, perto deles. Assim vai demorar um pouco. —Eu disse não. — Havia aço em sua voz, no seu coração. 139


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Ele daria a lua se ela pedisse. Andaria pelo fogo, mas isso — isso — nunca. Ela poderia pleitear com ele, olhá-lo com seus olhos incríveis e isso apenas o faria endurecer em sua resolução. Sua segurança era primordial. No momento, queria jogá-la por cima do ombro e levá-la de volta para dentro, onde nenhum mal poderia alcançá-la. A diversão provocou seus sentidos. Sentiu seu pênis mexer e as terminações nervosas virem à vida. O sussurro meio de riso, não ouvido, mas sentido, nunca deixava de excitá-lo. Estava vivo durante o período dos homens das cavernas? Posso vê-lo vestido com peles de animais, arrastando sua mulher para a caverna pelos cabelos. Suas provocações sempre seriam eróticas para ele. Quando um homem nunca teve tais coisas, se tornavam tesouros quando os encontrava. Riso nunca foi parte de seu mundo, certamente não as provocações. Ela não lutava contra suas ordens. Não fazia beicinho ou ficava com raiva. Ela ria e se esfregava suavemente ao longo do seu corpo com o dela, como se sentisse aquelas centelhas elétricas da mesma maneira que ele fazia. —Não me tente, minha linda lunática. Te arrastar para a cama pelo cabelo não está fora de questão. — Sua voz saiu rude, rouca em vez de ameaçadora, como ele pretendia. Seu riso suave provocou sua virilha semi cheia. A doce dor penetrava seu corpo, sua temperatura subindo alguns graus. Era Cárpato e sempre no controle, mas o que ela fazia ao seu corpo era tão intenso, que permitiu que as sensações se derramassem através dele, saboreando cada dor, cada grau de desejo crescente. Quero que fique na minha mente muito calmamente. Sinta como me derramo nos cavalos. Farei isso muito lentamente, um calor suave, assim... Todo seu corpo estremeceu quando ela veio dentro dele. Não apenas sua mente, mas o invadiu com sua alma. Sua presença era muito mais íntima do que ela pretendia, mas já a mesma fome e necessidade se agarrava a ela, assim como rasgava nele. Sua presença era luz, quase delicada, mas com ele, muito sexual. —Preferia que só eu sentisse essa conexão com você — na verdade exijo. Uma sombra escura subiu em turbilhão para a superfície. Seus dentes alongados e algo mortal se levantou com a sombra. Ele não fez nenhuma tentativa de escondê-la dela. Tinha que saber a que estava presa. A vida era cheia de momentos inesperados, e isto era uma surpresa para ambos, mas não menos letal. Tudo nele se calou. Pela primeira vez que se lembrava, sentia o predador crescendo. Sentiu a ameaça mortal se espalhando e crescendo e o gelo cobrindo suas emoções, escondendo todos os sentimentos, fazendo dele um assassino muito mais eficiente. É claro que não me sinto dessa maneira sobre qualquer um — ou qualquer outra coisa. Os únicos sentimentos sexuais que já tive foram por você. Não sei o que me fez, mas os sentimentos são muito fortes e difíceis de controlar em torno de você. Quando estou dentro de você, não posso evitar, mas quero estar com você de alguma maneira. Sinto muito se isso o perturba. Prometo tentar melhorar.

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Ela se esforçou para passar as impressões corretas em sua mente e coração. Era muito sincera e muito preocupada com ele. Novamente, não havia medo, não se afastou. Não se mexeu ou olhou para ele com desprezo ou raiva. A palma da mão subiu ao seu peito. Ela o olhou diretamente nos olhos. O que precisa, Zacarias, eu vou te dar. Se isso significa esperar para fazer isso, até entender que é meu primeiro e único, então é isso que vamos fazer. Apenas me diga. Ele podia sentir sua intensa necessidade de mostrar a verdade, mesmo que estivesse um pouco envergonhada. A pura coragem dela, o jeito que mantinha sua palavra, dando-se a ele totalmente e sem reservas em qualquer situação, não importa o custo para ela, o espantava. Zacarias sabia o quanto ela amava os cavalos. Podia sentir a alegria de quando falava deles ou pensava neles, mas estava disposta a se virar e voltar para a casa com ele se fosse isso que ele precisava. Ela o humilhava com seu presente. Com sua serenidade. Com seus esforços para colocálo em primeiro lugar. Ela simplesmente ficou parada na frente dele, calmamente esperando sua decisão. Zacarias a puxou para seus braços e enterrou o rosto na massa espessa de cabelo — o cabelo que ela deixou selvagem e confuso só para ele. Como impedir essa pequena coisa, que era acalmar os animais, especialmente se era o único deixando-os no limite e talvez mesmo perigosos? —Você me envergonha, Marguarita. Não! Ela balançou a cabeça violentamente e caminhou de volta para olhá-lo nos olhos novamente. Não faça isso. Não faça isso. Você é minha escolha, do jeito que é. Não estou pedindo que mude. Vou fazer o que quiser. Ela não pediu nada dele para si mesma que pudesse ver. Na verdade, pediu pela vida de um amigo. Ele salvou o homem, porque ela pediu, mas seus motivos não eram egoístas. Ele apontou para o estábulo. —Continue. E não se preocupe com a forma como você se sente. Me agrada que quando estamos juntos esteja excitada por mim. Ela sorriu para ele. Fico excitada pelo simples pensamento seu, Zacarias. Não tenho que estar em sua presença. Sou assim patética e me tornei obcecada. Ele franziu o cenho para ela. —Não patética. Estou satisfeito. Marguarita estudou seu rosto como se estivesse procurando alguma coisa — talvez tranquilidade. Estava certo que ela não queria que tivesse um acesso de raiva e destruísse seus cavalos num ataque de ciúmes. Novamente a diversão deslizou doce em sua mente. Nunca me ocorreu que faria uma coisa dessas. Lá estava. Sua ingenuidade, sua inocência não permitia que sua imaginação visse a real profundidade do monstro a que estava presa para sempre. Ele se recusava a mentir para ela.

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Desviar o olhar dela. —Sou perfeitamente capaz de tal ação, dada a provocação certa. Ela franziu o cenho. O que seria isso? Ele endireitou os ombros. Ela teve coragem e merecia a verdade. —Ciúme. Uma ameaça para mim — para você. Para nós. Ali. Estava ali entre eles. A verdade do que era. Deixe-a tentar fingir que não ficava horrorizada, enojada mesmo, desejando que pudesse fugir dele como o resto do mundo fazia — e deveria. Ele viu seu rosto expressivo e transparente de perto. Ao mesmo tempo, se ocupou dentro dela, querendo saber todos os pensamentos em sua cabeça. Marguarita suspirou e levou a mão à boca, beijando os dedos marcados. Tem uma visão muito distorcida de quem é e o que é capaz de fazer, Zacarias. É uma coisa boa que eu possa ver dentro de você. Acho que está deliberadamente tentando me assustar. Se vejo que é capaz de grande violência? É claro. Tenho acesso às suas memórias — todas elas —mesmo as que se recusa a revisitar. É capaz de assassinar? Matar por matar? Não. Solidamente não. Firmemente não. Todas as discussão no mundo não vai mudar o que sei ser verdade. Ouviu seu gemido. Ele encostou a testa com força contra a dela. —Não tenho ideia do que vou fazer com você, Marguarita. Novamente seu divertimento suave encheu sua mente, trazendo aquele calor que continuava crescendo e se movendo através dele, perseguindo as sombras e as substituindo pela luz. Felizmente para você, tenho todos os tipos de ideias. Deixe-me levá-lo para o estábulo, Zacarias. Quero compartilhar isso com você. É a única coisa que tenho para dar — um presente. Meu presente para você. Ela o fazia se sentir como se pudesse fazer tudo. Isso era amor? Isso era o que procurou por todo o mundo, através dos séculos, sem nunca saber que isso realmente existia? Sentiu que podia suportar o calor do sol, desde que fosse dela. Ela trouxe cores para sua vida real, vívida. Talvez não houvesse nada que ela não pudesse fazer, nenhum milagre que não pudesse conseguir. Talvez os cavalos os aceitassem no estábulo, enquanto ele a tivesse ao seu lado. —Se que isso significa tanto para você, sívamet, então vamos tentar. Seu rosto se iluminou e sentiu tudo nele assentar novamente. Ela pegou sua mão, enfiando os dedos nos dele. Deslize comigo. Fique dentro de mim. Vai sentir o que precisa fazer eventualmente. Mais uma vez ele a sentiu se derramando nele, toda calor e fogo, toda luz fascinante se espalhando através dele como um milhão de velas. O fogo voltou fundido, se espalhando lento e espesso por sua mente e corpo, até que sentiu a conexão profunda. Espírito. Muitas vezes deixou seu próprio corpo e se tornou nada, apenas espírito, a fim de curar um guerreiro companheiro. Fez isso para salvar Marguarita quando o vampiro arrancou sua garganta meses antes. Devia suspeitar, mas apareceu como uma surpresa.

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Marguarita era inteiramente humana, mas possuía uma habilidade psíquica forte. Sua ligação com os animais — e suas conexões com ele mesmo — eram de espírito para espírito. Ela derramava seu ego, o quê e quem era, e se tornava um ser de luz acolhedor. Mesmo para um Cárpatos, se derramar como fazia, se derramar de seu corpo físico, era uma tarefa difícil, mas ela fazia isso de forma tão suave e facilmente, que ele não percebeu, dentro dele, que ela fazia a ligação. Seu espírito. Ele estava muito consciente como nunca esteve. O sentiu o banhando sob um sol escaldante, dissipando as sombras que tomavam conta dele. Fugiram como se ela fosse destruí-las com seu brilho. Sentiu a luz. Diferente. Salvo. Mas sabia que sua salvação duraria apenas enquanto ela estivesse ligada a ele. Fechou os olhos, entendendo agora o que seu pai sofreu ao longo dos séculos, tentando encontrar um equilíbrio em manter sua companheira perto dele, mas a salvo do perigo. No final, a matou, pondo sua vida em perigo, a levando com ele numa caçada a um mestre. Ele sabia melhor. Zacarias implorou ao seu pai, lutou com ele. Se ofereceu para ir, mas que deixasse sua mãe para trás. Ele culpou seu pai por sua morte. Ele foi o responsável. Deveria tê-la mantido em segurança. Era a lei; seu dever com sua companheira. Seu pai a levou e foi atingida. Sua mãe pagou o preço e, finalmente, seu pai, também. E você, Zacarias. —Entende agora? — Ele sussurrou, querendo salvá-la. Não tudo, mas estou chegando lá. —Vou enfrentar as sombras e o frio antes que permita o perigo para você. — Era uma promessa. Uma ameaça. A declaração que se atrevesse a tentar desafiar suas ordens. Ela não ofereceu simpatia, não exatamente, foi mais uma ligação mais forte, como se derramasse mais de si mesma nele. Sentiu o calor invadindo seu coração e pegou seus ombros e deu-lhe uma sacudida. —Ela o amava demais. Nunca deveria ir com ele. Não há tal coisa como amar alguém demais, Zacarias. O que aconteceu, sei que não foi porque se amavam muito. Eu disse que irei obedecê-lo, mas não posso impedir meu coração de amar você. Não pode me pedir isso. Ele soltou a respiração, sem saber que estava segurando o ar preso nos pulmões. Ele pegou seu rosto nas mãos e tomou posse de sua boca. Não havia nada a dizer. Já estava perdido. Se isso era amor, estava muito longe para pegar um caminho diferente. Podia colocá-la acima de si mesmo e suas próprias necessidades. Ela nunca seria colocada em risco apenas para que ele pudesse expulsar o frio, ver cor e sentir emoção. Podia ficar completamente sozinho, se isso significasse que ela estava fora de perigo. Jurou a si mesmo que sempre seria forte o suficiente para colocar sua segurança em primeiro lugar. Ele a beijou longa e dura, fazendo um trabalho completo dele. Ele não tinha nada para lhe dizer, de jeito nenhum para tranquiliza-la. Ele não esperava a sua ligação. Ele não esperava a

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emoção de ser tão intenso, e ele certamente não tinha a intenção de sentir alguma coisa perto do amor por ela e ele temia que era exatamente o que estava acontecendo. Quando ele levantou a cabeça, seu olhar sobre ela queimou. Seus olhos estavam arregalados e um pouco de vidrados, mas ela o beijou de volta, sem reserva. —Vou fazer isso com você, mas se eu disser para sair, não me questione. Ela acenou com a cabeça e deu um passo através da porta aberta. Os cavalos os observavam com curiosidade, pisoteando ocasionalmente, mas ela os tocou, de espírito para espírito várias vezes e a conheciam, usaram essa ligação forte antes. Confiavam nela. Porque sentiam o espírito de Zacarias misturando com o dela, os cavalos estavam mais curiosos que assustados. Criamos os melhores cavalos, tanto de temperamento como brio, e essa qualidade indescritível se mostra na arrogância e exuberância de cada movimento. Olhe para eles. A forma como se movem, suas medidas, como jogam suas cabeças. Têm olhos firmes e passo bonito. São leais e trabalhadores severos. Vão colocar seu corpo entre um enfurecido boi e um cavaleiro caído. Têm grande coragem, Zacarias. Ela chamou Zacarias mais para dentro do estábulo. Ele nunca esteve tão perto de um cavalo, não sem que empinassem e pisoteassem, jogando seu cavaleiro e fugindo a toda velocidade para longe dele. As pessoas os julgam mal porque não são cavalos muito grandes. Eles tem 1,40 a 1,50m de altura, o que não é muito alto, mas nunca os subestime. Têm cabeças nobres. Estava começando a sentir o que ela queria dizer sobre o espírito ou brio do Paso peruano. Marguarita se aproximou de uma baia onde uma bela égua castanha os olhava cuidadosamente. Não tirava os olhos de Zacarias, os surpreendentes enormes olhos cheios de inteligência. Ela tem um longo nome oficial, mas só a chamo de Sparkle. Não é linda? Zacarias não podia afastar o olhar da égua. Estava próximo e o cavalo não estava gritando um protesto e escoiceando a porta do estábulo, os olhos rolando de terror. Descobriu que sua mão estava tremendo. Nunca entendeu por que era tão atraído por esta espécie, o cavalo. Muitas vezes os viu correndo livres sobre a terra, manadas voando ao vento, seus músculos fluindo, os pescoços esticados, e cascos trovejando sobre a terra e era uma das poucas coisas que traziam uma aparência de paz para ele. Olhou para Marguarita. Todos esses séculos atrás, ela esteve lá, um sussurro em sua alma o impedindo de cair nesse abismo sombrio? Não entendia como podia ser assim, mas esse olhar extasiado de alegria em seu rosto quando observava os cavalos, ecoava em seu próprio coração. Cavalos. Criaturas simples, mas complexas ao mesmo tempo. Cada um tinha sua própria personalidade. A maioria tinha um espírito selvagem que entendia e agora, com seu espírito conectado com os cavalos no estábulo, percebeu que não estavam tão longe dele, afinal. —Obrigado, sívamet. Deu-me outro presente além da medida. Estamos longe de terminar. Há muito mais. Venha comigo. Ele não queria estragar esse momento perfeito. Ficou apenas atrás de Marguarita, seu braço

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em volta de sua cintura por trás, seu espírito flutuando com o dela através do estábulo e se misturando ao espírito dos cavalos. O passeio foi divertido, e sim, porque estava tão bem tecido em espírito com Marguarita, mesmo sensual. Todos os seus sentidos estavam alertas e vivos. Ele cheirava o que os cavalos cheiravam. Sentia o que sentiam. A liberdade selvagem de apenas ser, e derramando o carinho deles por Marguarita — e agora por ele. Estava fortemente entrelaçado com ela, os dois se tornando um com os cavalos e estes aceitando sua presença. —Fez mais por mim do que jamais imaginei ser possível, — ele sussurrou em seu ouvido, se aconchegando, os dentes puxando sua orelha sensível. —Você é meu milagre. Seu divertimento roçou macio como uma carícia. Sou sua lunática, lembre-se, por isso digo que há muito mais. E quero muito mais para você. Deixe-me te dar isso, Zacarias. Confie em mim. Me coloco em suas mãos, se coloque nas minhas. Seu braço apertou em torno dela. Ela já tinha muito dele para que não pudesse imaginar o que aconteceria se desse ainda mais. Estar vivo era extraordinária. Alegria era um sentimento imensurável. Seu mundo era um cinza maçante. As cores dos cavalos brilhavam brilhantes, quase como diamantes. O cheiro do feno e pisada dos cascos estariam gravados em sua alma para sempre. Sempre teria este momento que Marguarita lhe deu. Se as coisas dessem errado, nada poderia estragar essa perfeição. Roçou a boca em seu ouvido, soprou contra o calor na pequena concha perfeita. —Então continue. Seguirei onde me levar. Ele teve tempo para mais uma vez verificar o rancho por vampiros, um sinal de sombras, manchas ou até mesmo um branco onde os não-mortos tentassem cobrir seus rastros, mas se Ruslan estava por perto, ou se enviou seus peões menores na frente, não estavam em qualquer lugar perto do rancho. Marguarita abriu a porta para a baia e entrou, perto da égua. Zacarias descobriu que estava prendendo o fôlego novamente. Ela parecia bastante pequena ao lado do cavalo. Estava certa, o animal não era particularmente alto, mas transpirava poder e nobreza. Ela acariciou Marguarita com o nariz e, se não fosse Zacarias entrar em cena, logo atrás dela, o toque suave a poderia empurrar de volta um passo. Seus braços envolveram sua cintura por trás para firmá-la com seu corpo mais alto, mais forte. Suas mãos se ergueram para acariciar o nariz curioso. Ele percebeu como, a cada golpe dos dedos, ela fazia o mesmo em sua mente, roçando seu espírito contra o espírito do cavalo tão amorosamente. Marguarita se abaixou, pegou a mão dele na dela, e a levou ao pescoço arqueado da égua. Seu corpo ficou imóvel enquanto sentia a palma da mão apertada contra o pescoço quente e suave. Pela primeira vez em sua existência eterna, realmente tocava um cavalo. Ele se recusou a controlar os animais através dos séculos. Se se recusavam a dar-lhe fidelidade, então preferia não ficar perto deles. Sua mão tremia. Sua barriga apertou. Mil borboletas voaram. Ele esteve em todo o mundo,

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navegou pelos mares, correu através de prados e campos de flores e morou em enormes grutas bonitas, mas nunca fez uma coisa tão simples como tocar um cavalo. A enormidade do que Marguarita estava dando a ele o sacudiu. O que fez para ela? Ele a assustou quase até a morte e colocou sua vida em perigo, os prendendo juntos. Pare, é bobagem. Marguarita esfregou sua nuca contra seu peito enquanto acariciava lentamente o pescoço do cavalo. Você mesmo disse que não obedeço muito bem. Acha que eu faria algo assim para mudar minha vida se não estivesse totalmente comprometida? Se não fosse o que eu queria? Fique comigo, aqui mesmo. Neste momento comigo e deixe todo o resto. Ele esfregou seu pescoço e depois o mordeu delicadamente. —Acabou de me chamar de bobo? Não acho que nunca, em toda minha existência, foi chamado dessa maneira desrespeitosa. Realmente? Ela enviou um olhar ardente por cima do ombro, uma sobrancelha arqueada e travessura espumando em seus olhos. Talvez os outros não o conheçam exatamente da mesma maneira que eu. Ele a mordeu de novo, desta vez um pouco mais forte para que pudesse lamber o pulso com a língua. Quer sair para um passeio? Seu coração saltou. —Num cavalo? Acha que um deles vai me tolerar? Sente o medo em algum deles agora? Conhecem você do jeito que eu conheço, de espírito para espírito, e aceitam você como fazem comigo. Estava mais preocupado com Marguarita agora, não sobre arruinar o momento — Marguarita sobre um cavalo, voando sobre as cercas à noite. Um pequeno buraco no chão podia causar um passo em falso e quebrar a perna do cavalo, a enviando ao chão. Milhares de possibilidades enchiam sua mente. Ela se tornou tão essencial a ele como a terra rica que o rejuvenescia. Ela inclinou a cabeça no peito dele, se aconchegando nele. Preciso montar. Seu primeiro pensamento foi que não se importava. Necessidade era uma palavra que ela realmente não entendia, ele sabia o que significava e não era o sonho de montar um cavalo. Necessidade era elementar. Necessidade era a capacidade de sentir emoção e se sentir vivo. Era Marguarita para sempre em sua mente, iluminando cada sombra, unindo os caminhos interrompidos para que pudesse sentir a vida correndo através de seu corpo, senti-la a cada respiração que dava. Ele sempre esteve condenado a uma espécie de inferno. Ela o arrastou para fora e, por tudo que era santo, ele não ia — não podia — voltar para lá. Era preciso. Verdadeira necessidade. Zacarias a sentiu ficar imóvel. Não se afastou — ou protestou. Ele ouviu seu coração acelerar. Ela se colocou em sua guarda, sob o domínio de um ditador. Ele sabia melhor que ela o quanto de ditador seria. Ela não fez nenhum movimento para influenciá-lo, simplesmente esperou

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sua decisão. Uma parte dele queria ver sua reação, se negasse. Será que ficaria com raiva? Discutiria? Ficaria zangada com ele e retaliaria? Olhe em minha mente, Zacarias, ela ofereceu. Não vou voltar atrás em minha palavra. Sabia que isso não seria fácil para nenhum de nós. Pedi um grande sacrifício seu. Esperaria menos de mim mesma? Que o sol queimasse a mulher, definitivamente o deixava de joelhos. Passou os braços apertados em torno dela, ameaçando esmagá-la, os frágeis e femininos ossos humanos. —Você é impossível. E não faz sentido. Se deseja montar, então vai montar. Mas Marguarita, se sua vida estiver ameaçada de qualquer forma, vou matar o que quer que a ameace. Não vai impedir. Será que temos um entendimento? Os cílios tremulavam. Sabia o que ele queria dizer, podia ver em seus olhos. Ela se virou para ele, seu dedos passou por seu rosto na mais leve das carícias, mas sentia que tocava até seus ossos, como se o marcasse com o nome dela, com seu espírito. Ela balançou a cabeça lentamente. Não haverá necessidade, Zacarias. Ele deu de ombros. Se um de seus cavalos amado a ameaçasse, não haveria nenhuma pergunta sobre o que ele faria. Como se um de seus trabalhadores amados a ameaçasse. Homem ou animal, destruiria todos os inimigos. Era no que era bom. Isso — encontrar um equilíbrio com uma mulher — era uma proposta completamente diferente. Mas agradável, ressaltou. —Agradável, — ele repetiu. —Mais do que posso expressar. — Apesar que outra mulher encararia um homem como Zacarias, um retorno aos tempos medievais. Atrás, meu homem, muito atrás. Tente homem das cavernas, ela brincou quando abriu a baia ao lado da égua. Este é Thunder. Se move como se tivesse asas. Não há melhor cavalo na fazenda para montar. Podia sentir o orgulho nela. Estava oferecendo um dos seus maiores prazeres. Seus olhos brilharam de novo, como champanhe espumante. Se nunca quisesse andar a cavalo antes, faria agora, só por esse olhar. Ele empurrou sua preocupação pela sua segurança para o fundo da sua mente. Era poderoso e podia observar com cuidado, um pequeno preço por dar-lhe este momento tão especial. Use sua conexão com Trovão para guiá-lo a fazer o que quiser. Não há necessidade de sela ou freio. Só cavalgo em pelo e penso onde quero ir e eles me levam. Se estou montando pela beleza do Passo, eu os deixo ir para seus lugares favoritos no rancho. Gostam de compartilhar o controle. Zacarias não gostava de partilhar o controle com alguém ou nada. Acenou com a cabeça e colocou a mão no pescoço de Thunder. Imediatamente sentiu o cavalo roçar contra seu espírito. Sabia que não podia fazer nada para esconder sua natureza do animal. Nasceu para liderar, e se o cavalo não aceitasse seu domínio, haveria decepção para Marguarita. Seu divertimento macio deslizou em sua mente. Lá você vai de novo. Ignore seus próprios sentimentos. A decepção será sua. Quer fazer isso. Trovão sabe e vai fazer o que quiser. Quero isso

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para você, porque você quer, não por mim. Está tudo bem se preferir apenas assistir meu passeio. —Não é um acaso. Estarei ao seu lado a cada momento que estiver fora e exposta ao perigo. — Ele não podia evitar a borda dura em sua voz. - Aquela que deveria dizer a ela que não conhecia esse lado dele. Marguarita sorriu para ele, pegou o pescoço do cavalo e saltou sobre num movimento suave e praticado. Podia ver como a calça jeans masculina era um trunfo. No momento que o pensamento entrou em sua cabeça, também a memória do seu corpo envolto em nada, exceto renda preta. A ereção grossa não seria um trunfo na parte traseira de um cavalo e quis a imagem erótica sua fora de sua mente. Foi fácil o suficiente escorregar nas costas de Thunder — afinal, era Cárpato e podia levitar — mas não era tão fácil se livrar da imagem do corpo de Marguarita nua, naqueles pequenos pedaços de renda, sua nuvem de cabelos negros azulados caindo como uma cascata até a cintura. Ele levantou a cabeça e olhou para ela. Seus olhos encontraram os dele, cheios de desejo, sexy e sombrio cintilando em suas profundezas. Ela era a tentação. E estava divertida. Seu divertimento macio o acariciava como dedos, e o fluxo de seu espírito no dele era sugestivo, sensual, erótico, sua mente circulando seu pau engrossando como um punho e o acariciando. Seus olhos se transformaram em chocolate derretendo, escuros, cheios de luxúria — por ele. Seu cavalo se virou abruptamente e saiu dos estábulos. Cavalo e cavaleiro corriam sobre a terra, não num ritmo particularmente rápido, mas comendo terreno numa marcha de quatro tempos, que era de tirar o fôlego. Ele pediu que Trovão a seguisse, e o cavalo respondeu imediatamente, levando-o do estábulo. Zacarias se sentia quase como se estivesse flutuando no ar. Sentiu todos os músculos do animal poderoso sob ele, sentiu a alegria no cavalo trotando, uma vez sobre a terra, se juntando e navegando ao longo do muro logo atrás da égua. Ligado como estava, de espírito para espírito com Thunder, sentiu a forma como a terra parecia se levantar para atender os cascos dançantes, sentiu a natureza selvagem enquanto o vento soprava a juba na cara do cavalo enquanto trotava. Atravessaram o campo e depois o próximo, andando na borda da floresta tropical, onde o emaranhado de samambaias, árvores e flores silvestres se juntavam aos troncos acrescentados à beleza do momento. Ele pediu para Trovão ir para o lado de Sparkle, para que os cavalos se movessem em uníssono perfeito. Marguarita enviou um sorriso e seu pau mexeu novamente. A lua derramava um brilho prateado sobre ela, empurrando o luar em seu cabelo. Sua pele era linda, e seu espírito vivo no dele, todo magma quente que fluía, retardando seu caminho através de sua mente e mais profundo, em sua alma. Ela encheu os vazios, furos irregulares com seu brilho. Ele a olhou sorrir. Observava atentamente o desejo crescente em seus olhos. Esperou que a luz da lua brilhasse através dos fios de seda de seu cabelo. Momentos de beleza. De puro deleite. Nunca soube dessas coisas e agora, nela, tudo que precisava estava lá, nesta estranha mulher humana. Estava começando a perceber a vida como os outros a viviam. Batidas no tempo, e esta

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era uma delas. Um momento perfeito. Nos últimos séculos, armazenado em sua mente para ser tirado outra vez como se fosse novo. Ela estendeu a mão para ele e pôs a mão na dela. Cavalgaram ao longo da linha da cerca e descobriu que estava em completa paz. O som das pedras batendo nos cascos e partindo se adicionava à beleza rítmica da marcha fácil dos cavalos. O vento soprava gentilmente e as estrelas disputavam espaço no céu. —Continua me dando presentes incomparáveis, Marguarita. O que eu te dei? Ela ficou em silêncio por um momento, seus olhos escuros se movendo em seu rosto. Você. Sua vida. Ficou comigo contra tudo em você dizendo que era hora de ir. Ficou quando pedi. Sabe melhor do que eu, o futuro que enfrentaremos juntos. Estava cansado de lutar, e ainda, quando pedi, você ficou. Obrigada. —Quis dizer cada palavra do ritual. Vou cuidar de você e colocá-la acima de todas as outras. Sou um ser dominante, não posso mudar o que é fundamental em mim, Marguarita, não importa o quanto qualquer um de nós goste, mas vou olhar sua felicidade. Vejo em seu coração, Zacarias. Sei que vai. —As coisas que exigirei de você não serão sempre fáceis, — alertou. Estou ciente desde o momento que percebi que não era vampiro e que eu o condenei mais uma vez a este mundo. Aproveitei o tempo para ver quem você é. Sei que não é um homem moderno e se preocupa que um dia vou me rebelar contra as correntes que pôs em mim. Seus dedos apertaram em torno dele e prenderam seus olhares. Se for o que precisa — realmente precisa —minha obediência à sua vontade naquele momento, será a coisa mais importante no mundo para mim. Não importa o quanto seja duro. Quis dizer o que disse quando pedi para ficar. Eu o servirei por escolha. Quero sua felicidade. Ele via a verdade de suas palavras. Estava preparada para seu domínio, mas também percebia coisas que ele não fazia. Ela levou em consideração seus sentimentos por ela. Ele não conhecia essas emoções noventa por cento do tempo, ou as reconhecia, mas ela sabia que estavam lá e que os sentimentos cresciam a cada momento em sua companhia. Ele tentou mais uma vez deixá-la saber o que seria ficar com ele. —Raramente vou deixar sua mente, Marguarita. Nunca estará sozinha, nunca terá um pensamento que eu não conheça. Cada respiração em seu corpo, vou sentir. Vou saber onde está, com quem conversa. Não haverá lugar que possa ir que eu não esteja com você. Ela sorriu para ele e soltou sua mão para se inclinar adiante e dar batidinhas no pescoço de seu cavalo. Estou ficando acostumada a sentir seus olhos em mim e estou ficando solitária quando fico sem você na minha mente. Não percebi como verdadeiramente sozinha pode ficar até que senti você dentro de mim. Zacarias assumiu o controle de ambos os cavalos, os virando para o estábulo. Queria estar dentro de mais que sua mente. Queria ver seu corpo sem o jeans abraçando sua pele tão amorosamente. Precisava sentir suas mãos sobre ela, o veludo quente de sua boca encaixada

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firmemente sobre a dele. Olhou para ela, sabendo que podia ver a fome em seu olhar ardente. Sua resposta foi aquele pequeno sorriso misterioso e muito sensual, que provocava seu pau uma dureza. Ele incitou Trovão para a frente, precisando de Marguarita. Ela lhe deu esta noite, um dom, e queria mais. Talvez sempre quisesse mais. Marguarita contemplava os pensamentos de Zacarias enquanto apeava rapidamente dos cavalos e os levava para suas baias, com uma pequena mistura de feno e ração de agradecimento antes de se virar para seu homem. Excitação crescia desde o momento que colocou a calcinha rendada bem na frente dele. Foi uma coisa ousada a fazer e deixava úmida só de pensar nisso. As imagens eróticas na cabeça de Zacarias, faziam crescer essa umidade. Não podia deixar de sentir o perfume de sua chamada de boas-vindas a ele, mas levou seu tempo, deixando a tensão sexual se esticar ali no estábulo, enquanto lavava as mãos e as enxugava com cuidado antes de virar-se para ele. Como posso agradá-lo? Adorava o som da pergunta, o macio questionamento submisso. Ela não precisava de voz ou palavras para indicar que queria as mãos e a boca dele, que queria todos os seus desejos cumpridos — por ela. —Quero que me toque. Explore meu corpo como explorei o seu. A voz dele era fascinante, o comando em seu tom tão masculino. Ela não entendia por que sentia necessidade de aliviar seu fardo do jeito que fazia, mas não queria nada além de atender todas as suas necessidades. Este homem lutou sozinho durante séculos. Inteiramente, completamente só. Foi ferido em lugares que ninguém podia ver e em toda a sua vida solitária, apenas deixou uma pessoa próxima o suficiente ver dentro dele — ela. Seu coração palpitou com prazer, sabendo que encontrou consolo em seu corpo, que encontrou a paz. Ela faria qualquer coisa para trazê-la e encontraria seu próprio prazer em cada ato, cada ordem. Enquanto isso suas roupas desapareciam e ela ficou ofegante com o tamanho e a forma da sua pesada ereção. Estava tão grosso e longo, muito mais do que acreditava possível num homem. Achou impossível não tocá-lo. Suas mãos tinham vida própria e realmente, afinal, ele lhe deu sua permissão. Diversão deslizou em sua mente. —Mais que permissão, minha linda lunática, uma ordem. Por favor. Ela não podia se recusar a essa nota de provocação, ou à borda de fome que sentia empurrando contra sua mente. Seus dedos deslizaram até sua coxa, ao mesmo tempo, olhava seu rosto e mantinha sua mente firmemente plantada na dele. Queria sentir cada reação sua. Precisava observá-lo também. A respiração deixando seus pulmões numa corrida era um afrodisíaco. Tocou a cabeça de fogo, o botão grosso redondo com uma única pérola vazando. Usou a ponta do dedo para espalhar a lubrificação sobre a cabeça até que estava brilhante. Seus olhos ardiam com o calor. Espero que ninguém chegue perto. Mesmo quando expressou seu medo, ela obedeceu a

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pressão de suas mãos em seus ombros, deslizando de joelhos. Podia sentir seu prazer na simples visão de vê-la de joelhos na frente dele, o cabelo caindo descontrolado pelas costas, com os olhos brilhantes, lábios entreabertos. —Você é bonita, Marguarita. Gostaria de ver esses pedaços de renda cobrindo seu corpo. Pensei sobre eles no nosso passeio juntos e como seu corpo estaria coberto por esses pequenos pedaços de rendas. Ela sabia e ajudou a alimentar essas fantasias com algumas suas mesmas. Ela deu um meio sorriso, sua atenção sobre a ereção pesada tão perto de seu rosto. Ela envolveu sua mão em torno da espessura e inclinou a cabeça na direção dele. Como é possível que se encaixe dentro de mim? Como podia ter tudo isso em sua boca quando o via em sua mente? Suas roupas desapareceram como se nunca existissem e o ar fresco da noite provocou os mamilos através dos laços pretos gêmeos. Se viu ajoelhada sobre algo macio e o ar provocava sua bunda nua enquanto seu jeans e botas desapareciam da mesma maneira que sua roupa. Nunca se sentiu sexy. Ele era tão bonito para ela, seu corpo masculino todo músculo duro e definido. —Sou seu. Fui criado para você. Sua mão escorregou para sua nuca. Sentiu a respiração presa em seus pulmões quando a empurrou para a frente. Ela não resistiu, mas sua mão vagarosamente explorou o tamanho e a forma dele, apreciando a textura e calor. Ela se inclinou para a frente e deu um toque experimental com a língua. Tinha sabor de seu chá preferido. Devia tê-lo provado quando a beijou na cozinha e ele se lembrou. Satisfeita e chocada que tivesse o cuidado de aumentar seu prazer, foi o mais honesta possível. Nunca fiz isso, Zacarias. Não quero que se decepcione. Ela tremia quando deu uma ampla lambida na cabeça sedosa. No momento que o sentiu estremecer, o prazer explodindo por meio dele, ele a estabilizou. Seu punho apertou em seus cabelos, e sua mente firmou na dela, e podia ver o que ele precisava. A base de sua língua acariciou a base da cabeça até deixá-la molhado. Era rápida ao desenvolver um gosto por ele e a mistura exótica de chá rico e Zacarias. Sua boca caiu sobre a cabeça larga dele, sua língua rodando, o ajuste apertado e quente. Sem aviso, de repente, ele a puxou pelos cabelos. Doeu seu couro cabeludo, mas foi mais perturbador ele rejeitar suas lambidas. Seu rosto era uma máscara inexpressiva, com os olhos brilhando quase vermelhos. Gelo derramava dele, as geleiras e barreiras impenetráveis a bloqueavam fora. Foi rejeitada tanto física como mentalmente. Ele praticamente a expulsou dele sem dizer o que ela fez de errado. Chocada e humilhada, afundou em seus calcanhares, lutando para não chorar.

CAPÍTULO 13 Zacarias arrastou Marguarita de pé, a rapidamente a cobrindo com as roupas que preferia, 151


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uma saia longa e blusa cobrindo a tentação do seu corpo. Seus dedos se fecharam sobre a parte alta de seus braços, como tornos gêmeos e ele a forçou a olhar em seus olhos. —Vai fazer exatamente o que eu disser, Marguarita. Você é minha maior vulnerabilidade, a maior responsabilidade. Não pode haver nada de você dentro de mim. Nenhum vestígio. Nem cheiro. Nada. Depois que eu me retirar, não pode me alcançar, não importa por quanto tempo, ou o que aconteça. — Deu-lhe uma sacudida. —Me entendeu? Ela balançou a cabeça, as lágrimas nadando. Não podiam importar para ele. Ele não conseguia olhar para as lágrimas e dor dentro dela. Poderia haver apenas gelo e pedra, nenhum traço dessa mulher que tinha o potencial de conseguir que milhares de pessoas, tanto Cárpatos como humanos, fossem mortos. Ele não poderia ter nenhum traço dela nele ou sobre ele. Precisava eliminar o perfume de seus cavalos amados também. Marguarita piscou várias vezes, choque e dor em seus olhos. Ele se colocaria lá, mas não podia consolá-la. Ele não podia ser parte dela. Ela ainda não era Cárpata e não entendia a forma como o mundo funcionava. Ela olhou ao seu redor, como se saindo de um sonho, tonta e confusa. Ele não podia culpá-la, seu corpo inteiro parecia como se estivesse em chamas. Ele teve muita sorte por estar tão sintonizado com perigo. Os cavalos empinaram as patas no ar, batendo nas portas de suas baias e relinchando um protesto. Marguarita se voltou para os cavalos, com o rosto pálido. Sua respiração ficou presa na garganta. Sente isso? Estão com medo — mas não de você. Há algo mais, Zacarias, algo mais profundo. Há um fio, um tentáculo... Ele reagiu instantaneamente, puxando Marguarita para encará-lo, a balançando, os dedos apertando seu ombro como um torno. —Não tente segui-lo. É vampiro. Os não-morto espalharam seus tentáculos e estão alcançando você agora mesmo através do animais que ama tanto. Vou soar o alarme e os rapazes ajudarão a combater. —Você irá acionar o alarme que vão procurar abrigo. Ficar no meu caminho e testemunhar uma batalha só vai deixá-los com mais medo de mim. As lágrimas caíam ao longo do rosto e seus olhos brilhavam enormes de medo. Nada pode acontecer com você. Eles poderiam ajudar. Eu poderia ajudar. Deu-lhe outra sacudida. —Você vai fazer o que digo sem hesitar. Vou levá-la para casa rapidamente. — Ele passou o braço em volta da sua cintura e a tirou do chão. —Vai ficar lá até que eu volte por você, não importa quanto tempo leve. Não fale comigo. Não ligue-se a mim. Espero sua obediência agora. Ele sentiu a urgência o consumindo, dizendo que a batalha estava próxima. Tinha que tecer salvaguardas sobre as casas e estábulos para evitar a destruição da vida e da propriedade, o que os vampiros eram propensos a fazer apenas por diversão. Acima de tudo precisava banir todos os traços de Marguarita de sua mente e corpo, de seu coração e alma. Não podia haver nenhum indício dela onde o inimigo pudesse encontrar, nem mesmo o mais fraco dos aromas.

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Ele voou com velocidade vertiginosa, mascarando-os enquanto a levava para casa. Ele continuou até o quarto principal, as paredes eram mais grossas lá e a empurrou num nicho apertado contra a parede. —Não se mexa. Se o fizer, Marguarita, haverá graves consequências. Ela dobrou seus joelhos, balançando a cabeça, envolvendo seus braços em volta dos joelhos para se manter firme. Seu rosto estava riscado de lágrimas, mas o medo nos olhos dela era todo por ele, não por que podia optar por puni-la se ela desobedecesse. Zacarias não podia pensar sobre o gosto da boca dela, ou como parecia ao se derramar em sua mente, tinha que se desligar completamente e tornar-se vazio, um guerreiro sozinho e sem nada a perder. Virou as costas para ela e saiu correndo para tecer suas mais fortes salvaguardas sobre todas as construções na propriedade. Levou força e resistência manter tais feitiços fortes antes dos vampiros que se aproximavam. Ele inalou a noite. Três deles. Ruslan não enviaria seus melhores no primeiro ataque imediato, mas enviaria vampiros experientes. Estavam vindo de três direções, tentando encurralálo e escolher o campo de batalha. Zacarias os queria bem longe de sua mulher e tudo que ela amava. Ele se elevou no ar, em direção ao extremo do rancho De La Cruz, onde a floresta tropical encontrava a clareira, onde Ruslan tentou se infiltrar com sua planta venenosa e uma armadilha para ajudar seus vampiros a avançar. Um jogo de estratégia, então. Ruslan era um mestre em estratégia e faria seu melhor para manipular Zacarias numa armadilha. Este ataque seria o lance inicial para testar sua força e determinação. Ele ficou tanto tempo num lugar que Ruslan assumiria, pois não se moveu, que Zacarias estaria mortalmente ferido pela batalha no Brasil. Seria relatado que haviam gotas de sangue no ar. Os cães de Ruslan seguiriam a trilha de sangue até o Peru, para a Fazenda dos De La Cruz. Ruslan pensaria que sua recuperação era lenta e que estava vulnerável. Zacarias estava vulnerável, mas não pelas razões que Ruslan acreditava. Se assegurou de que removeu todo o cheiro de seu corpo, e todos os traços dela de sua mente. A solidão foi duramente atingida, quase insuportável, agora que sabia o que era estar com ela dentro dele, o enchendo. Sem sua conexão com ele, o mundo ficou cinza e sem brilho. Onde quer que olhasse, as cores vivas se foram. Os verdes brilhantes vibrantes da floresta, as rajadas de cores brilhantes das flores presas nos troncos das árvores, até mesmo os tons das samambaias desapareceram para serem substituídos por um cinza triste. Decidido, voltou sua mente para longe de Marguarita. Levou uma grande dose de disciplina fazê-lo. Companheiros precisavam uns dos outros. Uma vez que esses fios eram tecidos, eram inquebráveis, e sua mente para sempre procuraria tocar a dela. Acrescente a isso a necessidade de ver as cores, a capacidade de sentir só quando estava ligado à ela, e sentia uma necessidade tremenda. Felizmente, era um guerreiro antigo, e sua prioridade acima de tudo era a segurança de Marguarita. Ele virou as costas para as estruturas humanas, casas que significavam muito para eles.

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Nunca entendeu antes. Era um nômade, em constante movimento de auto-preservação, não permitindo nem mesmo que seus irmãos conhecessem seu lugar de repouso ou seu covil secreto. Tinha dezenas na América do Sul, lugares que poderia se retirar para descansar quando necessário, mas agora, entendia o que era uma casa. Não a estrutura. Não o lugar. A mulher. Ele se elevou para o céu, uma fina corrente de vapor, à deriva com a brisa leve, montando as correntes de ar, sentindo seu caminho, buscando a localização exata de seu inimigo. À distância, podia ver uma única nuvem negra se agitando loucamente, indo na direção do pasto onde o rebanho se acomodava para a noite. Raivosas cordas vermelhas de relâmpago iluminavam as bordas do caldeirão preto e turbulento. Ele marcou a nuvem, mas manteve uma certa distância dela. Ruslan teria treinado seus vampiros. Os avisaria da personalidade de Zacarias. Era um lutador e, ao contrário de Ruslan, não hesitava em enfrentar seu inimigo. O vampiro mestre teria dito aos seus peões que Zacarias não fugiria, que, de fato, iria direto ao problema. A nuvem de tempestade gigante, parecendo muito mal no céu com outra forma clara, era apenas um chamariz para atraí-lo para fora — e um tanto fraco para isso. Enviou uma ilusão em direção à nuvem, uma réplica de si mesmo que era mais ar que substância, mas foi se incorporando nessa forma vaga, assim como um mestre estava em todas as ilusões. Sentiu o boneco de si mesmo bater em alguma coisa invisível, algo sólido e afiado. Sua ilusão se desfez. Imediatamente fez crescer uma longa unha e rasgou seu pulso. Chamou uma brisa suave e sacudiu gotas de sangue no vento, enviando-o para fora sobre o campo de batalha que escolheu, esse campo liso onde Ruslan tão cuidadosamente colocou uma armadilha com sua planta suja. Seu sangue era poderoso. Era um Cárpato antigo, inquestionavelmente um dos caçadores mais poderosos vivos. O cheiro de seu sangue chamaria vampiros como cães de caça. O cheiro das gotas e o poder contido numa única gota de sangue seria um prêmio pelo qual lutar. Também transmitiriam triunfalmente ao seu mestre que Zacarias estava realmente ferido e que marcaram o primeiro golpe com sua armadilha simples. Ruslan acreditaria que Zacarias ainda estava machucado, mas saberia que o artifício de uma nuvem de tempestade não o teria atraído. Ele pairava sobre o campo, permitindo que a brisa levasse mais gotas de sangue no ar e as espalhasse distantes. Era uma chamada que seria irresistível. Um vampiro recém-feito já teria se arrastado para fora dos arbustos para tentar encontrar uma pérola preciosa e pegá-la rapidamente antes que fosse tirada. O fato que não havia ninguém se mexendo imediatamente dizia a Zacarias que Ruslan enviou combatentes experientes atrás dele. Os instintos se ergueram. A fome primitiva pela luta. Ele vivia para isso. Conhecia a corrida tão intimamente como fazia para matar. Esperou com a paciência infinita nascida de mil batalhas. Demorou sete minutos e o primeiro dos três vampiros se mostrou. Dentro da floresta, mais próximo da cerca, ao encostar nas plantas as secou, ficaram marrons e encolheram longe da artificialidade do não-morto como se ele separasse as folhas longas e olhasse para dentro do

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campo. Zacarias viu esse antes, apenas alguns anos antes, ou talvez tenham sido mais — o tempo passou e agora não significava nada — mas mesmo assim, antes do Cárpato virar, Zacarias sabia que já estava perdida sua honra. Zacarias o evitou, como fez com todos os Cárpatos. Era um caçador, não era amigo de nenhum deles. Não queria conhecê-los antes de matá-los. Este não tinha mais que 500 ou 600 anos de idade e alguém virando abaixo dessa idade estava abaixo até mesmo do desprezo. O que poderia fazer um Cárpatos que não haviam sofrido a devastação completa do tempo se afastar da honra? O vampiro levantou o nariz e cheirou o ar, extraindo o aroma potente de sangue Cárpato antigo em seus pulmões. Sua língua lambeu fora avidamente, as narinas infladas. Fez uma careta, mostrando os apodrecidos dentes pontiagudos, já enegrecidos e afiados. Seu nome era algo a ver com a floresta — Forester, ou algo parecido. Pouco importava. Antes, Zacarias pensava nele como homem de pouca honra; agora era um homem sem honra. Zacarias permitiu que a brisa cessasse, de modo que o ar tornou-se muito quieto, a potência do perfume de seu sangue crescente. O homem sem honra recuou para as samambaias fulminantes, com a cabeça primeiro girando de um lado, e depois do outro, um gesto cauteloso, animalesco, antes que voltasse a encontrar a coragem de meter a cabeça para fora no aberto. Zacarias estudou o campo de batalha. Nada mais mudou. Nem uma única lâmina de grama, ou folhas das árvores. Dois dos peões não-morto de Ruslan tinham disciplina suficiente para resistir ao chamado de tal sangue potente. Acreditavam que estava ferido, mas ainda assim, eram pacientes o suficiente para ele se mostrar, e inteligentes o suficiente para usar seu parceiro mais impaciente como isca. Zacarias reconheceu que sua armadilha poderia facilmente virar-se contra ele. O gelo mais frio, uma geleira azul adicionando camadas enquanto o jogo de xadrez progredia. Este era seu mundo. Entendia isso. Viu o homem sem honra deslizar do abrigo de arbustos densos, uma mera sombra correndo todo o campo. Na sua esteira, a grama virava tons marrons escuro criando uma faixa de destruição que o vampiro não percebia. Estava tão envolvido na coleta de gotas de sangue em sua língua que esqueceu como a natureza se rebelava contra um ser tão antinatural, criando um caminho que apontava direto para os não-mortos. A sombra se esticou quando o vampiro deslizou em sua barriga, lambendo as folhas de grama, ansioso que a corrida poderosa o levasse a alturas perigosas. Cuidadoso para manter cada movimento tão pequeno que era impossível aos dois vampiros escondidos detectar a agitação do poder, Zacarias mandou um disparo súbito de vento maciço através do gramado. Ao mesmo tempo, ergueu as folhas individuais, transformando-as numa cruel serra de grama. O vampiro gritou e se virou, segurando a boca sangrando enquanto mil cortes riscavam sua língua e lábios enegrecidos. Zacarias não se preocupou em olhar para sua obra, estudou o terreno e as árvores e até mesmo o céu. A sombra se moveu nas escuras raízes de uma árvore sumaúma, apenas o menor dos movimentos, mas o suficiente. Zacarias fechou o corte em seu pulso e

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removeu todo o cheiro de sangue. Permitiu que os ventos o levasse na direção da floresta tropical, direto à árvore alta e imponente subindo como uma sentinela acima do dossel emergente no céu noturno. Nenhum morcego se agarrava às raízes. Nenhum pássaro descansava nos ramos. As folhas caíram e estremeceram. Nem seiva escorrendo pelo tronco, nenhum indício de câncer na árvore, apenas um movimento vago que ele pegou pelo canto do olho. O vento morreu abaixo para uma brisa suave e se deixou deslizar direto para a raiz de grande porte. O fedor dizia que estava perto de sua presa. Uma vez no abrigo do recinto espaçoso, foi cauteloso, meticulosamente permanecendo muito quieto. O chão de terra tinha fezes de morcegos e frutos pequenos espalhados pelo chão. Estudou o sistema radicular. Podia ver onde o não-morto entrou. Cuidadoso como foi para não tocar na árvore em si, roçou uma das aletas grossas sobre o chão da floresta, um pouco enegrecida. A praga na raiz era fraca, indicando que o vampiro foi esperto e muito mais cuidadoso que a maioria. Zacarias sabia que estava num pequeno espaço confinado com outro predador, malvado e astuto, disposto a sacrificar seu companheiro de caça para o caçador, a fim de matar um dos Cárpatos. Um movimento errado e estava morto, mas não havia medo, nem apreensão. Estava em modo de guerreiro completo. Entendia de matar ou ser morto — e não cometia erros. Tinha uma paciência infinita. Cedo ou tarde, esse vampiro seria isca para verificar o que estava acontecendo em campo. Ele veria o que seu companheiro rastejando pela grama viu, cortando suas pernas e barriga. Agora, o homem sem honra já teria um gosto do poderoso sangue de Zacarias e a compulsão sutil já estaria trabalhando nele, aumentando seu vício até que nada importasse, só outro gosto daquele sangue. Zacarias esperou ali no escuro, tentando não respirar o cheiro de carne podre dos nãomortos. A árvore gemeu, o único som que não era do choro contínuo do homem sem honra, enquanto continuava a rastejar pelo chão, procurando as gotas de sangue evasivas. A grama cortava suas mãos, braços e barriga, até mesmo sua face e língua, mas a compulsão estava sobre ele agora, a terrível necessidade de mais do precioso sangue. Um cuidadosa agitação apenas à esquerda de Zacarias mostrou a posição do inimigo. A criatura se moveu silenciosamente à frente, a fim de conseguir uma melhor visão do campo. Estava ficando cansado de esperar. Zacarias sabia que ele estava começando a questionar se Zacarias estava realmente ou não lá. Não golpeou às pressas à nuvem de tempestade como Ruslan disse que faria. Não se mostrou. Seguiram o rastro do sangue e do perfumado sangue fresco. Zacarias poderia ter saído para encontrar outro lugar para se curar do que era mais que provável numa ferida mortal. Como um caçador Cárpato, Zacarias viu de tudo, sabia o funcionamento das mentes dos seus oponentes. Paciência nunca foi um ponto forte do nosferatu, embora, até agora, o terceiro conspirador não mostrasse a si mesmo. Ele se moveu para a posição atrás do vampiro mau

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cheiroso, cuidando para não perturbar o ar nas raízes. O ar estava tão imóvel, que o menor disparo poderia alertar seu inimigo. Uma vez na localização perfeita, posicionou seu punho a uma pouca polegada da parte detrás do não-morto e golpeou através do osso e tendões, direto no coração. Ao mesmo tempo, prendeu a garganta do vampiro, impedindo-o de gritar. O sangue ácido, grosso e preto, derramou sobre sua mão e braço, enquanto lentamente extraía o pulsante órgão seco. Seus dedos da outra mão escavaram na garganta, arrancando sua laringe, de forma que nenhum som podia sair e trair sua presença. Em cima, no céu, chicotes de luz começaram a golpear o campo, atingindo o prado aberto, onde o homem sem honra rastreava. Centenas de golpes sacudiam o chão, raios choviam do céu, grandes espadas irregulares batendo uma e outra vez, um ataque vertiginoso em todos os lugares. Era impossível ver onde cada um golpeava, a série tão grande, mas nenhum explodiu árvores, só atingiam perto delas. Um dos chicotes atingiu o coração do lado de fora da gaiola de raízes quando Zacarias o arremessou. O coração incinerou imediatamente. Impiedosamente, Zacarias jogou a carcaça do vampiro através das barras de madeira grossa, permitindo que os raios queimassem isso também. Lavou as mãos e os braços na energia limpadora branco-quente, permitindo que o raio continuasse mais alguns momentos sobre o campo, de modo a não mostrar sua localização. Todos os mortos tranquilos novamente. O céu limpo, estrelas brilhando acima, e apenas a massa turbulenta rolando acima indicava que havia problemas. A grama parecia enegrecida em alguns pontos e algumas folhas estavam queimadas pelas pequenas faíscas que enviavam uma espiral de fumaça negra no ar. O fogo pulou e dançou, se multiplicando rapidamente, apenas pequenos focos de fumaça enviando espirais negras no ar. Vários incêndios ganharam vida em torno do homem sem honra. Zacarias permitiu que a brisa deslizasse sobre o dossel de forma que as folhas das árvores farfalhavam e se agitavam ao longo de cerca de cem metros de distância dele. Instantaneamente o chão se abriu perto da árvore com as folhas brilhantes, o barro subindo como um gêiser, uma trepadeira emaranhada explodindo acima, se envolvendo em torno da árvore, estrangulando o tronco e subindo mais alto, em direção à copa, sufocando tudo que tocava, todos os lugares que atingia. Ferindo mais e mais, sufocando a árvore de forma que a casca estalou em tiras e com uma força alarmante, disparando da árvore. Os galhos racharam sob o peso, se quebrando em pedaços e caindo no chão da floresta. O vampiro golpeou com rapidez e precisão, mas não mostrou sua posição. Impressionante. Ruslan enviou aquele que possivelmente era um adversário digno. Zacarias permitiu que a brisa expandisse e soprasse sobre o campo, para que as plumas de fumaça começassem a se esticar mais na área e se juntassem, obscurecendo parcialmente a visão. Deslizou em meio à fumaça, sua cor idêntica à da fumaça, mais que cinzento-negro, quase transparente vapor que se fundia mais e mais aos pequenos incêndios até que a fumaça se tornou um véu sólido, quase impenetrável, obscurecendo toda a visão.

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Abaixo dele, o homem sem honra chorava, suas lágrimas queimando as folhas de grama, mas ainda assim ele continuava, agora frenético, deslizando como um verme, desesperado para encontrar mais do sangue poderoso. Não podia viver sem ele agora, e nada mais importava para ele, certamente não Ruslan e suas ameaças e promessas vazias. Somente o sangue. Precisava do sangue. Choramingava e babava, agora indiferente aos milhares de cortes no rosto e corpo, aparentemente sem saber que as folhas da grama tinham arestas serrilhadas que cortavam mais e mais dentro dele. Somente o sangue importava, apenas uma gota que encontrasse. O homem sem honra não percebeu as chamas no chão ou as camadas de fumaça espessa sobre sua cabeça. Cheirava o tesouro — que maravilhoso tesouro, incrível e poderoso que só ele podia ter. Nunca partilharia e o tornaria invencível, impossível de matar, mais poderoso até que Ruslan — afinal, este caçador solitário era o Cárpato que Ruslan temia mais do que todos os outros. Ele seria líder dos vampiros e, eventualmente, dos Cárpatos. Os humanos não seriam nada, apenas fantoches e gado para ele. Ele cheirou o ar. Era uma gota acima de sua cabeça? Ele rolou, sua língua freneticamente tentando encontrá-la no ar enfumaçado. Se o Cárpato ia se mostrar, ele arrancaria seu coração e o devoraria, e depois consumiria cada gota de sangue que o caçador tivesse. Precisava do sangue. Sua língua não encontrou nada, mas seu nariz cheirou mais. Rico. Tentador. As gotas caíram diretamente nas feridas do peito e da barriga. O Cárpato devia estar perto e tinha que estar sangrando. Suas unhas afiadas alongaram para afiadas garras e começou a rasgar sua própria carne, rasgando e arrancando para alcançar essas gotas preciosas de sangue. Os sons eram horríveis gritos, gritos de agonia, choramingos desesperados de fome e necessidade que ressoavam durante a noite. Os cavalos nos estábulos reagiram, escoiceando e pisoteando, numa tentativa frenética para escapar do som. O gado nos campos distantes se levantou, quase todos ao mesmo tempo, como se uma carga elétrica passasse através do rebanho. Na distância, Zacarias ouviu o chomp-chomp das hélices do helicóptero. Xingando em sua língua natal, bateu forte e rápido, extraindo o coração do homem sem honra e o arremessando no campo. Moveu-se sob a cobertura de fumaça, cuidadoso em flutuar com a brisa e não revelar sua posição à distância, tentando se apressar. Sabendo que o outro vampiro atacaria se ouvisse seu parceiro gritar, Zacarias ficou em algum lugar certo na fumaça ao lado dele. Novamente, relâmpagos iluminaram o céu, o estriando, parecendo uma zona de guerra moderna, as lanças branco-quente atingindo a Terra. Um raio atingiu o coração, o incinerando, e então saltou infalivelmente ao corpo do vampiro, o destruindo também. O gado debandava. O vampiro perceberia imediatamente que as pessoas no helicóptero trabalhavam para a família De La Cruz. Os fazendeiros sairiam de suas casas, apesar da ordem de permanecer no interior, seus instintos para salvar o rebanho substituindo o comando. Mais isca para o vampiro —seria de esperar que Zacarias os protegesse. Zacarias alcançou a nuvem turbulenta que o vampiro girava para usar como armadilha,

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rolando e girando no céu. Estava pesada com a umidade, se estendendo maior e crescente numa torre, num funil escuro malévolo e raivoso. Zacarias abriu as comportas, permitindo que as gotas presas caíssem sobre o campo e extinguissem todas as chamas. A fumaça preta se misturou ao vapor cinza, crescendo densa e agitada com o vento selvagem até que o ar estava grosso com fumaça, poeira e detritos. Ele riscou através da névoa em direção ao helicóptero, amaldiçoando enquanto fazia isso. O vampiro certamente atacaria primeira a aeronave. Era muito mais fácil ser um guerreiro cárpato indiferente a qualquer coisa, apenas matar seu inimigo. Proteger os humanos adicionava um fator de grande risco e sua mente continuava girando resolutamente em direção à razão. Ele a desligou rápido e forte, mas um nó começou a crescer no poço de sua barriga. Entrou no helicóptero logo atrás de Julio. Saia daqui rápido. Um vampiro está aqui. Assim que empurrou o alerta na mente de Júlio, foi embora, jogando um anel de proteção ao redor da aeronave. O golpe aconteceu como esperado, um míssil cruzando o ar, deixando atrás um rastro de vapor. O projétil atingiu o anel de proteção e explodiu. Lea, a piloto do helicóptero, gritou e se inclinou bruscamente. Não viu Zacarias, nem estava ciente do aviso. Olhando adiante, só podia ver a fumaça espessa. —Tire-nos daqui, Lea, — Julio exigia. —Estou tentando, — ela gritou de volta, embora ambos usassem um rádio. O helicóptero deu uma guinada quando algo explodiu muito perto deles. —Alguém está atirando em nós, — ela chorou. —Não, é uma explosão do fogo. Pode ver? — Julio perguntou. —A fumaça é muito espessa, — Lea respondeu. —Como pode ser tão espessa em todos os lugares? Zacarias podia ouvir a frenética discussão dos humanos enquanto seguia a trajetória dos mísseis de volta à origem. O vampiro teria se movido o mais rápido que pudesse depois do ataque, na esperança de derrubar o helicóptero, mas seu movimento deixaria um rastro. E Zacarias podia seguir qualquer pista, não importa o quanto fosse pequena. Riscou no rastro de vapor exato deixado pelo míssil, usando a linha de trajetória para verificar abaixo. Acima, preso na fumaça, o helicóptero parecia estar em apuros. O vampiro alimentava a fumaça, servindo mais para o céu e campo de modo que era densa, quase impenetrável. Zacarias foi atrás dele. Se ficasse e tentasse ajudar os dois no helicóptero, os homens correndo de suas casas para chegar ao gado estariam em perigo. Tinha que parar o não-morto. O vampiro foi muito inteligente, quase se escondendo a céu aberto. Uma vez que atingiu o esconderijo, Zacarias pode ver onde ele usou o terreno natural, uma vez que mergulhou abaixo da linha da cerca inclinada. Os arbustos eram ralos lá, mas conseguiu se esconder na vegetação esparsa, sem tocar uma única folha. A grama, onde esteve encolhido era de um marrom sem graça, algumas folhas tremendo, testemunhando o fato que o não-morto recentemente abandonou seu esconderijo.

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O vampiro escondido sob a cobertura da fumaça espessa, mudou rapidamente de sua posição, passando perto da trepadeira acima do muro externo. As folhas e emaranhados de arbustos recuaram sutilmente. Zacarias seguiu esse caminho esmaecido. À distância, podia ouvir o medo nos berros do gado e nos sons de homens correndo para os cavalos. O não-morto tinha um alvo. Estourar o rebanho, com muitas vítimas em potencial, lhe daria vantagens. Acima de Zacarias o helicóptero balançou desajeitadamente quando outro projétil explodiu contra o anel de proteção. Ele acalmou o vento selvagem, o enviando para longe da nuvem funil para dispersar a fumaça, dando ao piloto do helicóptero uma visão de um local aberto para pousar o pássaro de metal no chão com segurança. Homens saíam das casas, saltando sobre as costas dos cavalos, correndo descontroladamente em direção aos campos onde o gado estava semi-abrigado pelas encostas e altas árvores. Zacarias riscou na frente do vampiro, levantando uma barreira onde o não-morto bateu duro e caiu para atrás, sentado no meio do campo queimado. Zacarias se materializou a uma distância dele. —Conheço você. Deveria ser mais esperto do que me caçar. O vampiro levantou lentamente, tirando a poeira de sua roupa com cuidado meticuloso. Ele se curvou, e depois ficou ereto. —Quem poderia resistir ao desafio contra o grande e todo poderoso Zacarias De La Cruz? Você é uma lenda. Qualquer um que derrotasse você seria conhecido por todos os tempos. —E você é o homem certo para fazê-lo, — Zacarias disse suavemente. Manteve sua voz aguda baixa, melodiosa, um forte contraste com o vampiro que tinha que se esforçar para modular sua voz. Todo o tempo ele ouvia os sons dos homens desesperados tentando acalmar o rebanho inquieto. O acúmulo de eletricidade no ar dizia que o vampiro tentaria usar um relâmpago no gado para provocar um estouro. Zacarias abanou a mão para o céu, casual contra a carga elétrica. O ar parou, todas as nuvens desapareceram. —Um velho truque, — disse o vampiro. —Mas não pode proteger a todos de mim. Insetos explodiram do chão, milhares deles, uma praga de insetos famintos, desesperados por comida. Se elevaram no ar, voando direto para Zacarias, migrando rumo ao gado, cavalos e homens atrás dele. Ele parecia um pequeno obstáculo em seu caminho. Zacarias deu de ombros. Ficou calmo, não se movendo quando os insetos se aproximaram dele. —O que importa para mim? Tenho uma finalidade. Uma. Ele sorriu quando seu vento mudou, o pegando, se afastando dele diretamente para o vampiro. Folhas de grama serrilhadas lancearam pelo ar como mil facas. Os insetos tentaram devorá-las no ar, a força do vento os soprando atrás junto com a grama. As lâminas atingiram o vampiro com tanta força que atravessaram seu corpo antes mesmo que percebesse que estavam escondidas na massa de insetos. Centenas de lanças de grama o empalaram da cabeça aos pés. Ao

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mesmo tempo os insetos o cobriram, desesperados para se alimentar das feridas. Zacarias se materializou a polegadas na frente do vampiro, socando o punho através de ossos e músculos, através do sangue ácido. Insetos choveram no chão, morrendo à medida que tocavam o sangue hediondo do não-morto. —Destruo vampiros, — sussurrou Zacarias, olhando-o diretamente nos olhos, seu olhar desapaixonado dizendo tudo isso. —Esse é meu propósito. — Ele extraiu o coração enegrecido, enrugado e o jogou na massa se retorcendo, os insetos morrendo. Relâmpagos bifurcaram no céu e se chocaram contra a montanha de corpos, incinerando o coração, assim como os insetos. Zacarias virou calmamente e permitiu que o corpo caísse no raio de energia branco-quente, incinerando os restos mortais. Parou por um momento, permitindo que o ar fresco da noite levasse o mau cheiro dos mortos-vivos de suas narinas antes de virar para ter certeza que o helicóptero pousou em segurança. Julio correu pelo campo aberto em frente ao hangar, a mão de Lea na dele, se dirigindo ao estábulo, presumivelmente para ajudar com o rebanho. Apesar da forma como a terra tremia sob os cascos batendo enquanto o gado começava a correr sem pensar, o olhar Zacarias foi atraído infalivelmente, mesmo compulsivamente, para a fazenda. Ela estava lá. Marguarita. Amontoada dentro. Sozinha. Ele impiedosamente a abandonou, e faria de novo e de novo, mais e mais. Passou os dedos através da massa de cabelo grosso. Não havia luzes acesas na casa principal — a única estrutura ainda escura na propriedade. Assim que tocou o alarme para que aqueles que guardavam o gado precisavam de ajuda, cada um na propriedade saiu — com exceção da casa de Marguarita. Ele poderia tocá-la com sua mente — e certamente cada célula do seu corpo precisava dela, precisava da profunda conexão — mas se recusou. No momento que a tocasse, sentiria. Temia o terror que rastejava através de seu corpo — o medo que ela se arrependesse de sua escolha, o medo que iria querer cortar os laços entre eles. Sozinho no meio do campo vazio e queimado, não sentia nada. Atrás dele, ouviu o grito de Cesaro. O rebanho enorme soava como um trovão que se aproximava. Cesaro, Julio e outros dois tentavam guiar os animais em fuga. Os novilhos eram grandes, enormes animais musculosos, de cabeça baixa, os olhos revirados enquanto batiam em direção à cerca que separava Zacarias do perigo. Cesaro disparou seu rifle para o ar num último esforço para virar o gado. Se chocaram contra o muro com seus peitos grandes, quebrando a madeira como galhos. O gado berrava e gemia, a poeira subindo em nuvens, enquanto rasgavam a cerca. Zacarias podia ouvir os gritos de Cesaro e seu filho, avisando-o para fugir. Virou o rosto para os bois enormes, uma mão no ar. Permitindo que o predador subisse para a superfície, sussurrou uma advertência no ar entre eles, empurrando o cheiro do predador perigoso com ele. Mandou a ameaça intimidante direto aos pés dele, um longo muro de dissuasão.

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Os animais abruptamente se viraram, girando num semicírculo, de repente com mais medo do que estava na frente deles do que dos animais atrás deles. Mais animais corriam em sua direção, mas o cheiro de perigo era esmagador. Não demorou muito para que o gado se tornasse confuso, berrando e parando, circulando, permitindo que os cowboys assumissem o controle. Julio andava mais perto. O cavalo dançou para os lados, tentando fugir de Zacarias. —A piloto, Lea Eldridge, não é uma de nós. Viu coisas que não posso explicar. Zacarias acenou com a cabeça. Julio permaneceu parado, controlando seu cavalo com os joelhos e as mãos. Zacarias arqueou uma sobrancelha em pergunta. —Ela salvou a vida de Ricco e é amiga de Marguarita. A voz de Julio dizia a Zacarias muito mais do que Julio estava preparado a confessar. Podia dizer que a mulher não pertencia ao seu mundo, mas secretamente, desejava que ela o fizesse. —Serei cuidadoso, tirarei suas memórias quando chegar a hora, — disse Zacarias. —Está bem? —Por que pergunta? Julio hesitou. —Seus olhos, señor, estão brilhantes. Tem necessidade... Zacarias abanou a cabeça. Destruir não-morto cobrava um preço de cada caçador. Tirar vidas não era algo feito de ânimo leve ou sem consequência. Julio já o temia — como todos os trabalhadores — mesmo Cesaro. Não podia explicar os perigos que enfrentava cada vez que tomava uma vida — mesmo a de um vampiro. Tomar sangue era uma tentação, muito perigosa depois de tirar vidas. Ele inclinou a cabeça em agradecimento, e depois se afastou do homem. Na verdade, se afastou dos olhos do cavalo nervoso. Marguarita apontou que o Paso Peruano, pelo menos aqueles criados em seu rancho, eram criados pelo temperamento, bem como habilidades. Eram famosos por suas naturezas estáveis em face da adversidade. Finalmente foi capaz de montar, fluir sobre o solo, seu espírito ligado aos animais, mas agora, o cavalo nem sequer reconhecia que ele era a mesma pessoa. O assassino estava muito próximo à superfície. Zacarias se afastou do campo de batalha, a fumaça e o cheiro persistente da morte deslizando, e voltou para a casa principal — de volta para ela. Marguarita. Susu... não a casa dele, mas a casa da mulher que chamava de päläfertiil — companheira. O único lugar onde podia encontrar sua paz. Onde ficava vivo apenas enquanto estava com ela. A única maneira que podia deixar o mundo das sombras com ela enchendo seus espaços vazios com sua luz brilhante. Marguarita era sívam és sielam — seu coração e alma. Não havia como contornar o fato que sem seu espírito roçando o dele, ele não tinha coração ou alma, apenas os lugares que agora eram como peneiras, cheios de milhões de buracos que não valiam a pena salvar. Não queria isso. Foi longe demais e, enquanto procurava o não-morto, um caçador solitário, vivendo em isolamento total, o mundo passou por ele. Não entendia os modos modernos. Tantos séculos caçando sua presa na terra o manteve distante, à parte de outras espécies. Não sabia nada

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de humanos e certamente nada de mulheres, mas depois de a sentir dentro dele, depois de estar dentro dela, não havia como voltar atrás. Foi para os degraus da frente, observando as flores e arbustos. Todos eram de um cinza maçante, sem cores vivas para até que entrasse e juntasse sua mente com a de Marguarita. Uma parte dele resistia a esse novo caminho, mas ela já era uma droga em seu sistema, um vício do qual não podia se defender. Precisava de cores vivas, da emoção, do prazer puro que nunca experimentou. Marguarita era o riso e frustração. Era um enigma intrigante que não conseguia resolver. Subiu as escadas, um ato simples, mas algo dentro dele, algo duro parecia nervoso para se mover. A sentiu próxima. Ainda estava fechada para ele e ele não permitiu que sua mente procurasse a dela. Precisava ver o rosto dela — para saber se ela podia aceitar esta parte dele. Era um animal predador reconhecido. Sabia que seu rosto estava afiado pela batalha, áspero e marcado com o selo de um assassino. Seus olhos ainda estariam brilhando, seus caninos afiados e longos. Ela tinha que vê-lo como era. Era difícil aceitar um Cárpato, mas o caçador era aterrorizante. Ele não tinha ideia do que faria se o rejeitasse. Levá-la para seu covil e tentar encontrar uma maneira de fazê-la feliz, talvez? Impossível. Ele balançou a cabeça, a palma da mão descansando sobre a porta, apenas na altura da cabeça. Esta era uma situação impossível. Por tudo que era santo, o que estava pensando o destino? Uma mulher cárpato, uma antiga, teria dificuldades com ele. Mas uma humana? Uma mulher sem nenhuma experiência com um homem áspero, dominante que a governaria sem a ternura que uma mulher precisava? Como podia lidar com ele? Ele teve o cuidado de remover todas as salvaguardas. Os Cárpatos podiam sair de suas casas, mas voltar seria difícil — doloroso — e perigoso. Abriu a porta e entrou. Normalmente, dentro de uma estrutura, achava difícil respirar. Lá fora, o vento o mantinha a par do perigo. No interior, os cheiros dos humanos e a forma como viviam cancelavam tudo de valor para ele. Agora, quando inalava, atraía — Marguarita. Sua fragrância era toda mulher. Suave e sutil. Cheirava como um milagre. Limpa e fresca e pertencente à floresta tropical —a ele. Ele andou silenciosamente pelo corredor, não querendo dar-lhe tempo para se preparar. Precisava vê-lo como estava e ele precisava ver seu rosto, sua expressão verdadeira. Tocar sua mente diria tudo, mas uma vez que sua mente estivesse na dele, o vínculo de companheira assumiria e cobriria seus medos e sua fiel reação inicial a ele. Ele pisou em seu quarto. O quarto estava completamente escuro. As cortinas permaneciam fechadas, bloqueando a lua. Marguarita se agachava num canto, no chão. Seu rosto estava marcado pelas lágrimas, as mãos pressionadas apertadas sobre as orelhas. É claro que ouviu os sons da batalha, os gritos de seus amados cavalos e o gemidos do gado. Não poderia deixar de saber que o rebanho estourou, não com os cascos trovejantes batendo no chão. Seu sangue aumentou todos os seus sentidos. Seus longos cabelos estava para baixo, todos os fios de seda, e mesmo agora em seu pior

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estado predatório, podia ver que a massa grossa era de um preto verdadeiro, brilhante, mesmo sem luz para mostrar o azul escondido. A olhou por um longo momento, prolongando o tempo de espera, não querer saber a verdade, mas precisando dela ao mesmo tempo. Ele respirou, a puxou em seus pulmões e desejou que olhasse para cima.

CAPÍTULO 14 Agora. Olhe-me agora. Ele empurrou a compulsão pelo quarto e prendeu a respiração quando Marguarita levantou a cabeça. Seus olhos estavam encharcados de lágrimas. Enormes, bonitos olhos de chocolate. Seu olhar prendeu o dele, e ele se viu recuperando o fôlego. Seus seios subiam e desciam num movimento suave e feminino. Ela engoliu como se algo entalasse em sua garganta. Seus dedos se torciam tão fortemente que estavam brancos. Mas foi em seu rosto que ele se concentrou. Ela olhou para ele pelo que pareceu uma eternidade. Muito lentamente, se levantou, sentindo seu caminho até a parede, os olhos arregalados, se movendo para ele centímetro por centímetro, à procura de ferimentos. Cuidadosamente o inspecionou. Quando voltou seu olhar para seu rosto, ela deu alguns passos para ficar na frente dele. Suas mãos emolduraram seu rosto e depois deslizaram sobre ele, um toque de seus dedos, leve, mas a carícia óbvia enviou uma corrente que percorreu seu corpo. Uma mistura de emoções atravessou seu rosto, tão fáceis de ler. Não podia falar, mas seus sentimentos eram transparentes. Alívio. Alegria. Medo. Estava tudo lá, mas seu coração retomou uma batida rítmica, quando ele sequer percebeu que estava saltando junto com sua respiração irregular. Ele envolveu sua mão ao redor da nuca e puxou o corpo dela para perto dele, segurando a cabeça dela contra seu peito, deslizando seu braço em torno dela para sentir seu corpo contra o dele. Ela se derreteu nele, com os braços circundando sua cintura. Ela o segurava como se o confortasse, ou se confortasse. E talvez os dois precisassem de conforto. Ele apoiou a cabeça no topo da dela e deixou escoar a paz em sua mente e coração. Ela não olhou para ele como se fosse um monstro. Estava com medo, mas por ele, não dele. Talvez ter uma linda lunática por companheira fosse a solução perfeita para um homem perdido como ele. Ela não sabia o suficiente para temê-lo. Segurá-la não era suficiente. Precisava dela dentro dele. —Venha para mim, sívamet. Preciso de você dentro de mim. — Ele sussurrou o convite para a nuvem de cabelo azul-negro meia-noite. Ela levantou a cabeça e o olhou em seus olhos. Ele sentiu-se caindo. O chão sob seus pés se moveu. Ela tornou a entrar nele lentamente, como melaço quente, grosso e perfeito, enchendo-o com seu brilho, preenchendo os buracos em seu coração e alma, unindo as ligações quebradas e mandando as sombras para fora. Ela o encheu com ela. Seu espírito se moveu contra o dele. Sua 164


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alma reconheceu a dela. Ela se tornou o ritmo do seu coração. Zacarias nunca precisou de nada nem ninguém. Agora, não podia ficar sem ela. Ela o deixou tão vulnerável quanto um bebê. Ele sempre soube tudo. Viveu muito, mas agora, com ela, com Marguarita, tudo era diferente. Para sempre nem mesmo estaria perto do suficiente com ela. Piscou várias vezes, as cores na sala escura tão vívidas e brilhantes ferindo seus olhos. Marguarita era cor, todos aqueles intensos tons bonitos que explodiam na frente de seus olhos quando ela estava nele. Usando a mão envolvida em sua garganta, ele forçou sua cabeça de modo que seus olhos escuros eram obrigados a encontrar os dele. Seu coração palpitou em seu peito. Seu corpo tremia. Ele sentiu como se fosse atingido por um tsunami e estava sendo arrastado, se afogando. Talvez estivesse se afogando o tempo todo e nunca notou a sensação até que sua mente ligou todos os pontos, mas agora, sabia que a água fechava sobre sua cabeça e estava afundando. Havia apenas Marguarita em seu mundo. Marguarita com sua pele macia e a luz que derramava em sua alma escura. Era uma coisa estranha para um homem que passou muitas vidas completamente só com sua necessidade. Era desconfortável e pouco familiar, mas a necessidade era maior que qualquer outra coisa em seu mundo. Ela era tão frágil, tão vulnerável. Ele poderia esmagá-la com facilidade, mas ainda assim ela tinha todo o poder. Se afogando em seus olhos, uma corrida de fogo varreu através dele. A necessidade se tornou física, saltando de sua mente para o corpo, uma chama perigosa, tão quente e crua que todos os músculos ficaram tensos quando o sangue quente correu como fogo de todos os pontos em seu corpo para preencher sua virilha com uma terrível demanda o agarrando. Luxúria queimava profunda e angustiante. Onde antes sua necessidade era fome, agora era por Marguarita. Toda dela, seu sangue, seu corpo, mente, coração e alma. Que ele precisava. Ela trouxe vida. Ela o fez experimentar o que não podia. Dor. Prazer. Tristeza. Riso. Raiva. Alegria. Ela era vida. Era agora sua vida. Seu tudo. Não podia viver sem as emoções e cores que ela trouxe para ele, ou o deslizar suave de sua mente contra a dele, o calor que derretia todo o gelo em suas veias. Que ele precisava. Ela acariciou seu queixo sombreado com as pontas dos dedos e o leve toque, o sussurro de uma carícia ardente, acendeu algo cru e primitivo dentro dele. Luxúria e fome o atingiram com um soco brutal, uma necessidade cruel arranhando na barriga, enchendo sua virilha até doía além de toda razão. Ele levantou o queixo e tomou sua boca sem preâmbulos. Sem beijo suave. Sem ternura. Pegou o que era seu, alegando sua boca como dele mesmo. —Preciso estar dentro de você. Profundamente dentro de você. Entende, Marguarita? Era uma pergunta impossível. Como podia entender? O mundo em que vivia e o que ela oferecia estavam em completo contraste um com o outro. Ele entendia e precisava de um e do outro. Para um caçador cárpato, precisar era a pior obsessão possível. Seu beijo áspero pelas emoções escondidas brotou, um vulcão, há muito reprimido,

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crescendo e crescendo dentro dele. Raiva por ela ter tamanho poder sobre ele. Alegava que não era bruxa, mas o feitiço era mais forte que qualquer outro que já encontrou, a teia mais bonita, mas não menos letal que qualquer armadilha que saltou sobre ele. Ele foi pego. Por isso. Por ela. Marguarita. Seus dedos cavaram fundo em seus ombros e ele a sacudiu, a raiva crescendo pelo momento. Ela o arrastou para longe do repouso eterno, o forçou a enfrentar seu passado, as memórias há muito enterradas — e esquecidas. Ele colocou essas coisas num cofre e as trancou para nunca revisitá-las. Ela abriu as comportas e, que o sol a queimasse, estava viciado nela e nas emoções vívidas e intensas que ela permitia que ele sentisse. Ele percebeu naqueles poucos momentos depois de matar os vampiros, quando o cavalo o rejeitou, quando o gado se afastou, o evitando, preferindo o desconhecido que chegar perto dele, que foi atingido — pelo terror. Ele não ligou os sentimentos até que ela os verteu nele, mas o reduziu a isso. Um guerreiro além de qualquer medida, e quase de joelhos pela ideia que ela pudesse se afastar dele. Sua boca tomou a dela mais e mais, muito quente, beijos ásperos. Ele não deu a ela uma chance de respirar, de se afastar, fazer qualquer coisa, mas o que queria que ela fosse. Dele. Só dele. Toda dele. Ela se inclinou para ele, se entregando, mas não era suficiente para ele. Podia ouvir os rosnados subindo em sua garganta, mas não conseguia parar. A força dentro dele exigia que ela lhe desse tudo. Usou as mãos para livrá-la de sua roupa, sua enorme força rasgando brutalmente a blusa e arrancando sua saia para alcançar sua pele macia. Ele se tornou um louco frenético, desesperado para remover todas as barreiras entre ele e seu corpo. Ela não o questionou, mas ficou imóvel em suas mãos ásperas, até que a deixou nua. Ele parou por um momento olhando seu corpo nu, todas as curvas suaves e calor feminino. Esta mulher era sua única salvação, sua única maneira de continuar vivendo e ficar são. Era sua sanidade, sua vida, e exigiria coisas impossíveis dela, mas não podia desistir dela, não importa que fosse a coisa mais digna a fazer. Ele foi longe demais. Com um gemido pequeno e um aceno de mão para remover suas próprias roupas, tomou sua boca novamente. Ele afundou no calor e promessa de seda. Sua língua deslizou ao longo da dela. Encheu a boca do jeito que queria encher seu corpo, duro e profundo, a segurando imóvel para um ataque aos seus sentidos. Ele beijou seu caminho pelo seu rosto até sua garganta, sua língua lambendo sobre as mordidas que deixou ao longo de sua pele, um rastro de sua posse. Sua mão encontrou o peso suave de seu seio e ele envolveu esse paraíso na palma da mão, os dentes, língua e lábios encontrando o caminho para o cremoso inchaço. Ele lambeu o pulsar frenético. Ela o sentiu crescer mais, seu corpo tremendo. Ele lambia seu mamilo e mordia delicadamente com os dentes, então mais forte, puxando, a excitando, enviando relâmpagos através de seu corpo. Ele sentiu sua reação, e a levantou, rosnando, desesperado por ela.

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—Enrole suas pernas em volta da minha cintura e prenda seus tornozelos. Coloque suas mãos no meu pescoço. — Sua ordem rude era quase inaudível. Ela prendeu a respiração, sabendo como estaria aberta para ele, mas obedeceu sem hesitação. Ele fechou os olhos, sentindo seu calor, a quente mancha em sua barriga. Ela pulsava contra ele e ele sentiu o empurrão respondendo em seu pênis. Estava desesperado para estar dentro de seu porto, se enterrar e travar ali, longe do resto do mundo. Longe do sangue e da morte. Ele escolheu a vida e escolheu Marguarita. Seus dedos flexionaram nos quadris, seu único aviso, e a empalou ao longo desta ereção crescente. Estava tão grosso e duro, que atravessou suas dobras apertadas. O sentimento o iluminava como a lua nascendo sobre o rio, se espalhando através de seu corpo para assumir cada célula. Sua vagina estava muito quente, queimando até sua alma, expulsando cada sombra, o prazer requintado atingindo suas veias. Ele a segurou, com as mãos a baixando sobre ele sem piedade, seus quadris subindo para encontrar essa aveludado e macio paraíso ardente. Esteve perdido por um tempo, perdido no êxtase, batendo nela, virando para que ele pudesse inclinar as costas contra a parede e continuar entrando como uma britadeira, sentindo cada golpe através de seu corpo, cada ondulação dela. Sua respiração se transformou em suspiros esfarrapados, os seios saltando contra ele, esfregando os mamilos sobre o peito. Seu cabelo estava por todo lugar, roçando sobre sua pele numa queda sensível. Se deixou ir, abandonando o reinado de monstro, dando-lhe poder. Ele a tomou selvagemente, tomando tudo para si mesmo, seu prazer, sua necessidade de se enterrar. Ele se aninhou em seu pescoço, querendo mais, mas não podia a alcançar com a cabeça deitada em seu ombro. Jogue a cabeça para trás, ele comandou. Ela obedeceu imediatamente, jogando a cabeça para trás. Seus seios se projetavam em direção a ele, uma bela vista, saltando a cada duro empurrão. Ela não tinha escolha, apenas montá-lo, e ele se recusou a permitir que descansasse, mesmo quando seu corpo apertou e convulsionou em torno do dele, uma e outra vez. Simplesmente a levou mais alto. A tomou sem inibição. Precisando disso. Precisando — tudo, querendo sentir o orgasmo uma e outra vez, querendo o prazer explodindo atrás de seus olhos e correndo até suas pernas para o centro em sua virilha. Mais. Dê-me mais. Mais uma vez, Marguarita. Novamente. Sua cabeça estava cheia de luxúria erótica, precisando, necessitando. Conseguiu se lembrar de passar a língua sobre seu pescoço antes que mordesse profundo. O gosto dela explodiu em sua boca, sua mente, correu como uma bola de fogo em sua virilha. Seu corpo entrou num orgasmo, um após o outro, sua vagina tão apertada que estava o estrangulando. Ele podia ouvi-la suspirar e pedir misericórdia de algum lugar em sua mente, mas não era suficiente. Ele precisava de mais. Não podia sair daquele inferno de puro prazer . Seu refúgio. Estava perdido lá. Descuidado. Queria consumi-la, fazer parte dela, viver dentro de sua pele. Sentir isso. Este lugar perfeito, momento perfeito, com seus pedidos de misericórdia e seu corpo servindo o dela, dando-lhe mais

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prazer que ela já sonhou ou imaginou. Ela sempre saberia que era dele. Ninguém mais poderia fazer essas coisas ao seu corpo. Fazê-la sentir como ele fazia. Podia ter todo o poder de volta, deixá-la despida e vulnerável como ele estava. Esta era sua obsessão. Esta era sua marca de propriedade. Isto era — o amor. A constatação do que estava fazendo o varreu. Chocou. Chocou totalmente. Ele a amava. Estava tentando dizer sem palavras a intensidade do que sentia por ela. Como podia dizer quando não reconhecia o sentimento? Estava só aqui, no fundo de seu corpo, onde não conhecia absolutamente a verdade, nua e crua. Esta não era uma punição por dar-lhe vida. Esta não era a posse, possessão ou obsessão. Isto era amor. Seu amor, tão áspero, cru e agreste como era. A raiva dentro de si, jorrando como um vulcão, ameaçando explodir, destruir os dois — que era seu amor por ela. Ele estava dizendo com seu corpo o que não sabia como dizer com suas palavras. Estava a adorando. Dando-se a ela, queimando em seu fogo. Ele varreu sua língua pela marca de morango brilhante em seu pescoço e levantou a cabeça para olhar em seus olhos quando sentiu o vulcão tomá-lo, varrê-lo numa erupção em flecha, o matando com prazer, feroz e quente para que ele renascesse, refeito. A Fênix ressurgiu das cinzas. E que o sol o queimasse, deveria ser mais cuidadoso com ela. Sua repreensão suave deslizou em sua mente. Me ame do jeito que quiser, Zacarias. Sinto seu amor em tudo que faz por mim. Não preciso das palavras. Não preciso de gentileza. Sim, às vezes tenho um pouco de medo, mas sei que você nunca vai me machucar. Ela apoiou a cabeça em seu ombro, seu corpo em torno dele, quase derretendo dentro dele parecendo como se tivessem a mesma pele. Seu cabelo estava úmido. Assim como sua pele. Ele a abraçou até seu coração desacelerar do alto perigoso para uma batida mais controlada. Ele beijou esse ponto doce, a junção entre o pescoço e o ombro, mais e mais e, em seguida, se arrastou pela garganta para encontrar sua boca. Ele nunca pediu desculpas a qualquer pessoa em sua vida. Lamento, deveria ser mais cuidadoso com você. Era mais fácil empurrar as palavras em sua mente, ao invés de dizê-las em voz alta. Sentia-se tanto uma parte dela, seu pau ainda dentro dela, ainda pulsando, enquanto seu corpo pulsava com as réplicas dela em torno dele. Suas mãos acariciaram suas orelhas, e ela levantou a cabeça para olhar para ele antes que iniciasse outro beijo. Os lábios deslizaram ao longo dos dele, sua língua encontrando a linha de sua boca, provocando a entrada. Ele a deixou tomar o controle, a deixou explorar sua boca, amar do jeito que se entregou incondicionalmente a ele. Ela estaria dolorida. Ele foi um selvagem, seu pau uma britadeira. Foi um longo, longo descuido se perdendo nela. Eu amei cada segundo disso. Me sentia livre a todo momento. Posso estar dolorida amanhã, mas vai parecer maravilhoso ao saber que era você fazendo amor comigo. Você foi bem amada. Ele deu tudo que era para ela. Não exigia nada menos dela. E parecia mais fácil se referir aos seus corpos que aos seus corações. Seus dentes puxaram o lábio inferior. Ele sentiu seu divertimento quando lentamente

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permitiu que seu corpo se separasse dela. Muito gentilmente baixou seus pés no chão, a segurando até que estava certo que suas pernas estavam firmes o bastante para segurá-la. À distância, fora da casa, ouviu passos. —Temos companhia, — disse Zacarias. —Seu amigo Julio e a mulher que voou no helicóptero. — Ele tocou seus seios, relutante em abrir mão até mesmo de alguns momentos com ela. Queria esta noite para si mesmo. Lea Eldridge. As mãos de Marguarita foram para seu peito nu e o empurraram. Vou fazê-los sair o mais rápido possível. Ela não pode ver você. Seu irmão e seu amigo estão muito interessados em você. Vá. Depressa, Zacarias, enquanto me visto. Ele sorriu, sua palma moldando sua garganta, inclinando sua cabeça para cima em direção a ele. —Sou seu protetor. Vou ficar e conhecer esta mulher. Seu rosto empalideceu, os olhos escuros se arregalaram com o choque. Ele não conseguiu resistir e inclinou sua cabeça para roçar os lábios entreabertos com os dele. Ela piscou para ele, e então balançou a cabeça freneticamente. É muito perigoso deixá-la vê-lo. Se acidentalmente esquecer e permitir que seu irmão saiba que está na residência, ele vai dizer ao amigo terrível. Sério, não fique aí sorrindo para mim, tem que ir. Ela olhou ao redor procurando suas roupas, pressionando ambas as mãos na boca enquanto um rubor iniciava em seu corpo inteiro. Suas roupas estavam arruinadas, rasgadas pelas mãos urgentes de antes. Ele amava o jeito que ela parecia, indefesa e vulnerável. Era toda pele macia e curvas generosas, com os cabelos selvagens caindo em todas as direções em torno de seu corpo, os fios de seda sensualmente presos sobre os mamilos e viajando em ondas para a curva da sua bunda muito sexy. As marcas de sua posse estavam por toda parte, em toda a sua pele, marcas vermelhas, manchas escuras, suas digitais, marcas de sua mordida. Era bonita para ele. Ele não conseguiu resistir a passar a mão sobre os seios cremosos, observar a respiração prender em seus pulmões. Adorava a maneira como os músculos do seu estômago se apertavam sob a palma da sua mão e quando mergulhou mais abaixo, o jeito como ampliou sua postura para acomodar sua mão procurando deixá-lo saber que aceitava a posse de seu corpo. Estava quente e lisa de seu encontro amoroso e cheirava a ele. Estava unido profundamente a ela agora, e esse conhecimento o agradou. Não importa o que vivesse nos tempos modernos, era um retrocesso e as maneiras de seu mundo seriam sempre uma parte dele. Queria que os outros homens soubessem a quem ela pertencia, que estava protegida e tomada. Seus dedos mergulharam um pouco mais profundo, na passagem quente, úmida e seus quadris pinotearam em resposta. Seu corpo tremia. Gostava de sentir o arrepio necessidade passando em sua mente e corpo. Ele inclinou a cabeça à tentação de seu mamilo, levando seu tempo, a deixando saber que pertencia a ele e pouco se importava o que o resto do mundo

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estivesse fazendo enquanto ele sentia prazer. E dava prazer ao vê-la suspirar, o olhar atordoado em seus olhos. Ele amava o desejo ardente lá, a necessidade e fome por ele. Ele empurrou dois dedos profundamente no calor abrasador. Pensava na vagina de fogo quente apertada como dele. Tudo dele. Todo o desejo intenso e necessidade reunida em seus olhos era por ele. Sua boca entreaberta. O olhar vidrado de admiração. Sua respiração irregular. Seu polegar encontrou seu ponto mais sensível, sacudindo e provocando, enquanto seus dedos mergulhavam profundo. Ele deixou um rastro molhado com os dentes e língua dos lábios ao seu pescoço, e no seio até seu destino final. Não podia resistir a examinar seu seio em sua boca e morder seu mamilo com extrema precisão. Seu corpo inteiro pulou e apertou. Moveu-se para trás e para frente entre os seios, sem pressa, indiferente à batida na porta, perdido num mundo de prazer, sua boca indo de bico a bico. Seus dedos empurraram fundo e recuaram em seguida, enterrados novamente enquanto seu polegar batia e puxava seu botão agora intumescido. Ela se partiu, sua respiração assobiando fora, contorcionando seu corpo, ondulando, os músculos duros quando a jogou em outro orgasmo. A batida na porta era educada, mas persistente. Ele olhou em direção a ela, apoiando seu peso quando seus joelhos fraquejaram. Sorriu, satisfeito com sua cor ruborizada e cabelo selvagem. Parecia uma mulher que fez amor completamente. Ela levou uma mão à massa de cabelo e ele pegou seu pulso e a puxou abaixo. —Deixe. Gosto da maneira como parece. Vou abrir a porta enquanto vai para a cozinha e prepara um lanche para nossas visitas. Ela franziu a testa, ainda lutando para respirar, e pensar logicamente. Estou nua. E Lea não pode ver você. Por favor, Zacarias. Mal posso pensar em linha reta. —Não precisa pensar. Apenas faça o que digo. Tenho que me limpar. Ele olhou para a mistura de sua semente e seu creme brilhante em suas coxas e o V intrigante de cachos na junção das pernas. —Eu pedi que fosse para a cozinha e preparasse a comida para nossos convidados, não discuta comigo. É um pedido relativamente simples, Marguarita. Como de costume, parece ter dificuldade para seguir instruções. Ela apertou os lábios. Ele viu o relâmpago de fogo em seus olhos. O queixo subiu. Sem uma palavra, virou de costas e se afastou, nua, os pés descalços, os longos cabelos acariciando as curvas de seu bumbum. Ele sentiu seu coração saltar. Ela tinha coragem — e fogo. E mantinha sua palavra, não importa o quanto fosse difícil. —Marguarita. — Ele disse o nome dela em voz baixa. Ela meio que se virou, seu seio esquerdo vermelho e coberto com suas marcas, o mamilo ainda duro e tenso, o espiando através do véu de cabelo comprido. —Esqueceu suas roupas. Ela franziu a testa, intrigada, olhando para as tiras de pano rasgadas no chão. Ele abriu um

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sorriso e acenou com a mão. Seus pés permaneceu descalços, mas uma saia longa caiu graciosamente até os tornozelos e uma blusa camponesa macia se agarrou aos seus seios, o decote quase solto pelos ombros. Um cinto largo apertava sua cintura. Ouro brilhou em suas orelhas e em volta de um pulso. Tiamat Ela tocou a pulseira. É linda. Obrigado. Suas mãos alisaram a saia sobre seus quadris. Humm. Zacarias. Acho que esqueceu minha calcinha. Ele mostrou os dentes para ela. Um sorriso de lobo. —Eu não me esqueci - de nada. O rubor flutuou do pescoço até sua face. Ela balançou a cabeça, seu olhar se afastando do dele. Ela continuou até a cozinha sem outro protesto. Ele gostava de provocá-la. Gostava dos relâmpagos de temperamento que pegavam fogo em seus olhos — em sua mente. Como se alguma vez fosse permitir que outro homem olhasse seu corpo. Não iria acontecer e devia saber isso. Calor inundou sua mente num riso macio. Eu sabia. No momento que virei e fui na direção da cozinha e senti seu riso e sua presunçosa, arrogante satisfação masculina. Sabia que estava me provocando. Mulher lunática. Sou muito possessivo com você para deixar outro homem ver o que é meu. Devia saber de uma vez. Gosto de ver você se afastar de mim nua. Isso me dá grande prazer. Ele enviou uma brisa fresca pela casa inteira, e acrescentou velas perfumadas queimando abaixo. Teria deixado as roupas rasgadas de Marguarita no chão, mas a envergonharia. Nenhum visitante deixaria de notar que fez amor com Marguarita. A prova estava por todo seu corpo. Em qualquer caso, não levaria muito tempo para perceber que ela pertencia a ele, porque planejava deixar isso muito claro. Abriu a porta e Julio ofegou e deu um passo atrás, colocando seu corpo entre Lea Eldridge e Zacarias. —Não sabia que estava aqui, señor, — disse ele, seu tom apologético. —Entre. Marguarita foi fazer chá e uma espécie de bolo maravilhosamente cheiroso, — Zacarias o saudou, recuando para permitir sua entrada. Julio parecia mais confuso que nunca e deu uma breve sacudida de sua cabeça, empurrando ligeiramente o queixo em direção a Lea. Seus instintos de proteção com a família De La Cruz saltavam. Ele nasceu numa família que mantinha sua relação simbiótica com cuidado de todos os forasteiros. Lea espiou ao redor dos ombros de Júlio, os olhos se arregalando. Zacarias podia ler a emoção em seus olhos, a apreciação e medo, cru. Ela colocou os dedos no bolso de trás de Julio, um gesto que Zacarias estava certo que nem sabia que fez. Isso dizia várias coisas sem penetrar sua mente. Sabia que ele era um De La Cruz e estava muito interessada em Julio Santos. Zacarias acenou a mão em direção ao interior, e Julio recuou atrás e pegou a mão de Lea na dele, antes entrar.

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—Señor De La Cruz, esta é Lea Eldridge. Ela nos fez um grande favor esta noite, voando com Ricco Cayo até o hospital. Não tinha ideia que estava aqui. Quando chegou? Julio jogava para Zacarias assumir a liderança sobre o que dizer e como agir. Zacarias se inclinou, um gesto cortês do velho mundo, que fez Lea corar. Mostrou o que esperava passar por um sorriso, então fechou a porta atrás deles. —Não posso ficar longe por muito tempo da minha mulher... — Ele franziu a testa e balançou a cabeça. —Päläfertiilam. — Novamente sacudiu a cabeça e levantou uma sobrancelha para Julio. —Como diz isso? Esposa. Esposa. Minha esposa. Estava muito satisfeito com olhar chocado de Julio. Zacarias se casou com ela, do modo Cárpato, e era muito mais vinculativo que qualquer outra espécie que conhecia. Não podiam viver agora um sem o outro. Marguarita era sua esposa em todos os sentidos da palavra. Lea engasgou. —Não pode estar falando sobre Marguarita. —É claro que é Marguarita, — Zacarias disse suavemente. —Ela é a senhora aqui. —Mas... — Lea pressionou os dedos na boca como se tentasse segurar sua pergunta. Deixou escapar de qualquer maneira. —Por que não me contou? Sou sua amiga. Por que não disse nada a ninguém por aqui? Não pode estar casado com ela. —Eu asseguro, Srta. Eldridge, ela é minha. — Zacarias falou calmamente, mas seu tom não admitia discussão. Lea olhou para Julio, ferido, ofendido e animado, tudo ao mesmo tempo. Julio encolheu os ombros, num esforço para parecer casual. —Pode ver como isso não seria uma coisa boa para se mexer. Marguarita tem de estar protegida. A família De La Cruz tem muito dinheiro e muitos sequestros ocorrem. É melhor se ninguém souber. Lea piscou em aborrecimento puro, mas estava, obviamente, intimidada por Zacarias e não disse uma palavra até que chegaram na cozinha. Zacarias entrou primeiro e parou, seu olhar sobre Marguarita. Estava junto ao fogão, despejando água no bule que sua mãe fez. Para ele, não havia visão mais bela no mundo. As cores de sua saia eram vivas e brilhantes, sua pele brilhava e seu cabelo era uma brilhante cachoeira preto azulada de seda. Seus movimentos eram graciosos e fluidos. Sabia que seu sangue melhorou sua já bela aparência quando o homem olhou para ela com tal temor, como se a visse pela primeira vez. Podia ver nos olhos a apreciação de Julio. Teria que ensiná-la a desligar seu fascínio. Seu sangue também aumentou seus sentidos. Ela não podia deixar de ouvir a conversa, não com o sangue Cárpato correndo em suas veias, e seu rosto estava muito quieto, enquanto olhava para ele, não para seus convidados. Ele foi para seu lado e levantou a mão esquerda, lembrando a tradição humana de usar um círculo de ouro. Levantou os dedos e beijou o anel que formou para ela. Ela apertou os lábios e franziu a testa um pouco, olhando para a aliança. O que está fazendo,

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Zacarias? Qual jogo você está jogando? Ele detectou dor em sua voz. Ele fez algo para machucá-la. Seus dedos apertaram os dela e ele a puxou para o abrigo de corpo maior, indiferente ao que seus convidados pudessem pensar. Passou os braços ao redor dela por trás e a segurou presa contra ele. —O chá está pronto para nossas visitas? Ele se assegurou que a chaleira fervesse para não haver espera. Roçou a boca sobre a parte superior de seu cabelo. O contraste entre seu brilho e o modo como via Julio e Lea era surpreendente. Lea era uma mulher atraente e podia vê-la em cores, mas as cores eram sem graça em comparação. Julio estava em cores, mas novamente não era rico e vibrante, e podia ver seu coração batendo, as artérias funcionando como um mapa através de seu corpo. O coração de Lea e artérias estavam lá, mas muito mais fracas. Diversão suave derramava em sua mente. Alvo, meu homem. Você está identificando alvos. Ele é um amigo, não um alvo. É assim que sempre vê todo mundo. Até a mim, primeiro. Não os vê como pessoas, são todos inimigos em potencial. Ele percebeu que era verdade. Não pensava nisso como qualquer humano ou Cárpato em séculos. Viveu num mundo onde era matar ou ser morto. A pele e os traços de Julio eram mais maçante porque era a maior ameaça potencial. Essas conexões quebradas que Marguarita uniu, as muitas sombras, tão grandes, ao longo de sua mente, que ela fez pontes que permitiam reconhecer que Julio era mais que um inimigo em potencial. Era um homem. Talvez alguém que não seria um amigo, Zacarias tinha poucos no mundo, mas alguém que podia respeitar. Zacarias percebeu como via o mundo sem Marguarita. Nem sequer sabia que identificava as outras pessoas como alvos, de tão entranhado que estava nele. Conhecia cada ponto de pressão sobre um corpo, cada lugar que poderia desferir um golpe mortal. Esteve desligado da civilização há muito. As mãos de Marguarita de repente se cruzaram sobre as dele, como se estivesse o segurando. Estava lendo a emoção que ele não era ciente. Ele procurou por ela. Vergonha. Tinha vergonha pelos homens como Julio, bons, homens corajosos que lutavam pela sua família, alguns morrendo por sua família, e nunca os reconheceu. Nem uma única vez. Nem para si mesmo. Por favor, sentem-se e nos digam como Ricco está, Marguarita escreveu e mostrou aos convidados. O olhar de Julio saltou para enfrentar Zacarias, e deu mais um passo atrás, em direção à porta, como se pudesse fugir, seu domínio sobre Lea apertando. Zacarias respirou fundo para atrair o perfume Marguarita para os pulmões. Não precisava de nenhum outro em sua vida, mas ela sim. Fez um esforço para sentir suas emoções com Julio e Lea. Eram importantes para ela — de modo que eram importantes para ele. —Sim, por favor sentem. — Ele indicou uma cadeira, olhando diretamente para Julio. Era uma ordem clara, expressa em palavras educadas. Julio imediatamente puxou uma cadeira para Lea e afundou na próxima dela.

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Tente não parecer tão intimidante, Marguarita aconselhou. Eu o sol queime os dois, mulher. Estão ocupando meu tempo com você, ele disse, mas havia uma nota de provocação em sua voz que surpreendeu aos dois. Ele tateou uma cadeira e a montou enquanto Marguarita colocava o chá e bolo sobre a mesa. Ela começou a sentar em frente a ele, mas Zacarias pegou o pulso dela e a puxou para o lado dele. Ela corou pela sobrancelha levantada de Julio. O que está fazendo? Esta não é uma boa ideia. Sério, Zacarias, não deveria estar aqui e não deveria deixar ninguém saber que estamos... Não é seguro para você. Tem sorte que não faço você se sentar no meu colo onde posso sentir seu corpo macio contra o meu, ele brincou perversamente. Adorava essa parte da companhia. Sua mulher não ficava constrangida ao redor dele, mas era tímida sobre o relacionamento deles na frente dos outros. Não fazia sentido para ele, mas gostava de sua agitação por ele. —Por que não me disse que era casada, Marguarita? — Lea perguntou, a mágoa na voz dela. —Pensei que éramos boas amigas o suficiente para que pudesse confiar em mim. E deixou Esteban achar que estava disponível. Marguarita puxou o bloco de notas para ela e começou a escrever. Zacarias pôs a mão sobre a nota no momento que viu o pedido de desculpas. —Sei que não deseja que Marguarita peça desculpas por algo que é uma questão de segurança. Seu irmão nunca foi sério sobre a ideia de cortejá-la, e ela sabia disso. Sou um homem muito rico e tenho muitos inimigos. Marguarita diria se pudesse. Se precisa de alguém para ficar com raiva, por favor, fique de mim. A coloquei numa posição de sigilo. E, certamente, Julio não tem culpa. Sabia que eu estava na residência, mas não estava a par do nosso casamento. Não somos casados. Zacarias a encarou, a desafiando a contrariá-lo. Havia uma promessa de retaliação nesse olhar. Se não reconhecesse o que ele era para ela... Não estivemos diante de um sacerdote. Não estou entendendo. Estamos casados. Falei as palavras rituais para nos vincular. —Deixe-me ver seu anel, — disse Lea, meio a perdoando. Zacarias fez uma careta. Marguarita não fez nada de errado, e o tom magnânimo de Lea o incomodava. Antes que pudesse reagir, Marguarita colocou a mão suavemente em seu pulso em alerta. É uma coisa humana. Por favor, deixe para lá. Ele não entendia completamente, mas isso não importava, não quando podia fazer algo tão simples para ela. Exigiria muitas coisas dela e coisas que significavam muito para ela —assim como esta, obviamente, o fazia — era fácil o suficiente para dar a ela. Marguarita deslizou a mão por cima da mesa para mostrar a Lea seu anel. Na verdade era uma trança de ouro Renaissance antiga, dividido em várias tranças e forjados juntos. Intrincado, e quando se olhava de perto, haviam palavras antigas num belo pergaminho forjado no ouro.

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Marguarita esfregou os dedos sobre as letras. Sívamet andam. Sielamet andam. —O que diz? — Julio perguntou, franzindo a testa com as palavras desconhecidas. —Eu te dou meu coração. Te dou minha alma, — Zacarias traduziu. —Fiz isso, e uma vez dados, um De La Cruz não os toma de volta. Ambos pertencem a Marguarita e estão para sempre sob seus cuidados. Lea fez algum tipo de ruído de aprovação, sorrindo para ele. —Parabéns, senhor. — Julio fez um esforço para olhar Zacarias diretamente nos olhos, mas não conseguiu manter seu olhar, e olhou para o anel em vez disso. —Marguarita é muito amada no rancho. Planeja levá-la para longe de nós? — Julio perguntou. Zacarias sentiu o choque se espalhar através de Marguarita. Ela não pensou nisso. O que pensou? Que ele viria e partiria como sempre? Pouco importava. Onde ele fosse, Marguarita estaria com ele. Ela se pôs sob sua guarda — e a manteria com ele. Marguarita apertou os lábios com força, mas sentiu o medo em sua mente brilhante. Esta era sua casa, seu mundo. Essas pessoas. Os cavalos. O rancho. Ele não estava ligado a qualquer pessoa ou qualquer lugar, nem podia imaginar nunca se sentir desse jeito. Seu olhar voltou novamente e novamente para Marguarita. Ela estava em casa com ele e uma parte dele não queria competir com as pessoas, animais e lugares para ela. Queria levá-la para longe de todos eles, para que apenas recorresse a ele a cada necessidade. Queria ser tudo para ela. Você é tudo para mim. Havia calma nela. Aceitação. Seu espírito se moveu contra o dele, um roçar macio o acariciando, enfraquecendo. Se quiser me tirar deste lugar, não vou mentir para você, Zacarias, seria difícil e doloroso, mas o escolheria sobre este lugar num instante e não me arrependeria da minha decisão. Seu coração acelerou em seu peito por algumas batidas antes de se estabelecer num ritmo constante. Havia verdade em sua declaração tranquila. Era um homem sem confiança — e um código secular de honra que o mantinha vivo, mas sozinho. Ela estava mudando tudo isso. Sua verdade estava se tornando o suficiente para ele. Por quê? Por que está tão certa, Marguarita? Eu posso ser muito difícil. Ela se aproximou dele, ali mesmo na frente dos outros, seu coração em seus olhos. Precisa de mim, Zacarias. Vejo o verdadeiro você, o que amo com todo meu coração. Não pode vê-lo sem mim. Então ela sabia. Deveria ter percebido que não conseguia esconder a verdade dela mais do que podia esconder suas memórias. Seus dedos se perderam em seu rosto e os pegou, segurando a mão dela no seu coração. Lea abaixou a cabeça, olhando para Julio. Não era tão difícil ler o desejo no seu rosto. Zacarias forçou um sorriso, esperando parecer amigável, não de lobo. —Planeja ficar no nosso cantinho do mundo, Lea? Marguarita gosta da sua companhia e nós pretendemos fazer deste rancho nossa base, embora tenha que viajar às vezes. — Ele podia dar isso a Marguarita.

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Lea colocou a xícara no pires e assentiu. —Espero. Meu irmão tem planos de seguir em frente em breve, mas estive fazendo arranjos para ficar. Gosto daqui. —Não pode ficar sozinha, — Julio se opôs. —Seu irmão não a deixaria sozinha, não é? Quem iria protegê-la? Lea fez uma careta. —Não preciso de proteção. Sou uma menina grande. — Ela enviou a Marguarita um sorriso pequeno, apologético. —Não sou casada com um dos homens mais ricos e esquivos do mundo. —É uma mulher, — Julio murmurou, o rosto sombrio. —Que tipo de irmão a deixaria para cuidar de si mesma? O queixo de Lea se ergueu. Olhou friamente para Julio por sobre a xícara de chá que levantou até sua boca. Zacarias detectou o ligeiro tremor. Era tão sutil que duvidava que Julio notou, mas Lea Eldridge estava um pouco mais que nervosa por estar sozinha num lugar estranho. —Meu irmão não gosta daqui, é muito remoto para ele. Mas eu gosto, e quem sabe, se seu piloto de helicóptero não aparecer, talvez eu possa fazer seu trabalho. Posso ser entrevistada para ele. —Onde está o piloto do helicóptero? — Zacarias perguntou antes que Julio pudesse fazer outra réplica. Julio suspirou. Passou a mão sobre o rosto e olhou ansiosamente para Marguarita. Ela puxou o bloco na direção dela, mas mais uma vez Zacarias pôs a mão sobre ele. —Estou perguntando a você, não Marguarita, — ele disse baixinho, mais uma vez um comando em sua voz. —Charlie Diaz tem um problema com a bebida, señor. Fica bom por meses e depois cai de novo, apaga e fica bêbado por três ou quatro meses antes de voltar. Zacarias estreitou os olhos. —Sabendo disso, Cesaro o manteve? É um perigo para todos vocês. Cayo Ricco teria morrido sem assistência médica. Se a Srta. Eldridge não estivesse aqui para levá-lo a um hospital, o teríamos perdido. — A censura em sua voz baixa era tão alarmante como o gelo em seus olhos.

CAPÍTULO 15 Marguarita sentiu o aumento da tensão na cozinha. Zacarias parecia mais intimidador que nunca. Lea se moveu um pouco mais perto de Julio e olhou como se fosse chorar. O ar na sala ficou muito pesado. Ela entrelaçou os dedos nos de Zacarias e sorriu para Julio numa tentativa de aliviar a tensão súbita. O que há de errado? O olhar focado de Zacarias continuava a perfurar Julio, exigindo uma resposta. O rosto de Julio se cobriu de sombras. 176


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— Meu pai e eu tivemos muitas conversas sobre Charlie e a melhor forma de lidar com sua situação. Pensamos que ele faria isso desta vez. — Ele passou a mão pelos cabelos. —Ninguém o vê há dias. —E nem você nem seu pai achavam que isso seria algo que eu deveria saber? — A voz de Zacarias foi muito tranquila. Não na frente de Lea. Não faça isso, Zacarias, Marguarita implorou. Julio ficaria mais envergonhado que nunca por seu chefe chamar sua atenção sobre algo que sabia que estava errado na frente de Lea e Marguarita. Julio é um homem orgulhoso e muito leal a você... Ele é leal ao seu colega de trabalho. E coloca em risco todos nós. Zacarias nunca tirou seu olhar predatório do rosto de Júlio, o olhando diretamente nos olhos, preso, focado e muito assustador. Marguarita sentiu o estômago começar a se agitar. Não percebeu o quanto estava ficando tensa. —Sim, senhor, deveríamos ter contado. Charlie tem família, filhos. Esperávamos que a abstinência durasse dessa vez. —Ele é uma responsabilidade para todos nesta fazenda. Cesaro deveria saber isso. O rosto de Julio ficou quase todo vermelho. —Está ciente disso. —Quero este homem encontrado e trazido para mim. Lea limpou sua garganta. —Meu irmão falou sobre um homem chamado Charlie que conheceu num bar. Um arrepio desceu pela espinha de Marguarita. Seu olhar saltou para Julio. Se Charlie estava bebendo muito e estava conversando com o irmão de Lea no bar, devia estar com o amigo de Esteban também - o tão interessado na família De La Cruz? Ligada tão profundamente com Zacarias, ele não podia deixar de ler sua preocupação. Sua mente deslizou contra a dela numa carícia que a chocou. Ele não mostrava muitas vezes um gesto de ternura e o sentia — terno e solícito. —Conte-me sobre essa conversa, — ordenou Zacarias, sua voz de veludo numa baixa persuasão. Marguarita reconheceu a compulsão enterrada. O sangue Cárpato que fluía em suas veias aumentava todos os sentidos e soube imediatamente que Lea não seria capaz de resistir a esse empurrãozinho para obedecer Zacarias. Ela não tinha certeza de como se sentia sobre a manipulação, mas acima de tudo, queria Zacarias seguro, por isso apertou os lábios para não protestar. Lea esfregou as têmporas como se tivesse o começo de uma dor de cabeça. Marguarita realmente sentiu a pressão exercida sobre ela lentamente. Zacarias estava tentando ser gentil, um conceito novo para ele, percebeu. Normalmente teria arrancado as informações da cabeça de Lea e nunca olharia para trás. Seu toque suave era em deferência a Marguarita.

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Ela olhou para ele. Parecia tão incrivelmente bonito e perigoso. Não era de admirar que tanto Julio como Lea estivessem intimidados por ele. Mesmo tentando ser amigável, Zacarias parecia estar no comando total. Ninguém jamais deixava de notá-lo. Ele enviou uma onda de tranquilidade, mas manteve seu olhar em Lea, querendo que se lembrasse de detalhes que provavelmente não achou importantes. —Esteban chegou muito tarde, cerca de três da manhã, e tinha bebido, mais que já vi. Ele não faz isso. Tive que ajudá-lo a entrar em casa. Não conseguia subir as escadas para a varanda. DS acabou o empurrando para fora do carro. —Estava esperando por seu irmão? — Zacarias perguntou. Lea assentiu. —Eu estava preocupada. Ela esfregou as têmporas de novo, e depois torceu os dedos juntos ansiosamente. Julio estendeu a mão e cobriu as mãos dela num gesto de conforto. Seus olhos encontraram os de Marguarita. Sabia exatamente o que Zacarias estava fazendo e tinha vergonha de colocar Lea em tal posição. Cesaro e Julio dirigiam o rancho. Os homens e suas condutas eram sua responsabilidade. Charlie foi uma responsabilidade por um longo tempo, mas por causa de sua família, o mantinham na ativa. —Sentei fora nos degraus da varanda esperando por ele. Dan - DS - riu quando parou o carro e me viu sentada ali. Me levantei e comecei a ir para o carro e DS se inclinou sobre o assento, abriu a porta do carro e empurrou Esteban para fora no chão. Podia ouvi-lo rindo e olhou diretamente para mim... — Ela parou, tremendo. Mais. Diga tudo, Zacarias empurrou incansavelmente. Marguarita não podia evitar franzir a testa para ele. Lea estava, obviamente, com medo do amigo de Esteban. Qualquer um podia ver isso. Ela começou a pegar o bloco de notas, frustrada por não conseguir achar uma maneira de consolar sua amiga. Muito casualmente, a mão Zacarias chegou lá antes dela. Ele embolsou o bloco fazendo Marguarita olhar para as outras pessoas na sala e se sentir um pouco magoada. O bloco de notas era seu único meio de comunicação e Zacarias acabava de declarar que estava fora dos limites para ela. Lea limpou sua garganta e torceu os dedos para encontrar Julio. Como se precisasse de força. —DS agarrou sua virilha e gritou "mais tarde" para mim. Mostrou a língua e fez vários gestos sugestivos. Eu hesitei, não querendo ir muito longe de casa, caso tivesse que correr, mas ele foi embora rindo. Claramente está humilhada por ter que nos dizer isso, então pare agora. Zacarias lançou-lhe um olhar de advertência. Seus olhos focaram por um momento nela. Não havia nenhuma indicação vermelho rubi que o predador estava vindo à tona. Não havia safira meia-noite que seu amor trouxe, havia apenas duros diamantes negros brilhando para ela. Um

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arrepio desceu por sua espinha. Ela não entendia a necessidade dele interrogar Lea, mas nada iria impedi-lo, certamente não Marguarita. Ela tentou não se sentir ferida. Ela não o entendia ainda. Ele nunca respondia a ninguém e acreditava que ela devia confiar nele e segui-lo em todas as coisas, mas não entendia as regras da sociedade educada e como o que fazia podia ferir Lea e Julio. Ela temia que nunca estaria confortável olhando um para o outro novamente se continuasse forçando as coisas a sair de Lea. No final, Julio ficaria para sempre chateado e desconfiando de Zacarias e estragaria seu relacionamento com ele. Marguarita olhou sua xícara de chá. Realmente não tinha vontade de beber chá, quando sempre o adorou. Nada a tentava, além de água nos últimos dias. Estava perdendo seu mundo e entrando no dele, pouco a pouco. Ela fez essa escolha, mas não estava bem preparada para desistir de tudo que amava tão rápido. —Meu irmão ficou no chão de bruços, caído. Podia ouvi-lo rindo e realmente me chateou. Estou bastante certa que ele não viu DS, e provavelmente não o ouviu, mas não gostei dele rindo, e não quando eu estava com tanto medo, — admitiu Lea. Julio moveu seu corpo em sua direção. —É claro que estava com medo. Quem é esse homem, DS? Lea balançou a cabeça. —Não chegue dele, Julio. É uma má companhia. Desde que meu irmão o conheceu, não tivemos nada além de problemas. Convenceu Esteban a fazer coisas erradas. — Ela abaixou a cabeça, evitando o contato visual. —Mal consegui evitar que Esteban fosse para a cadeia mais de uma vez. —Naquela noite, — Zacarias solicitou, mantendo-a no caminho certo. Sua voz aguda muito baixa, a persuasão de veludo que ninguém podia resistir. —Ajudei Esteban e entrar em casa. Estava muito bêbado e continuou falando sobre Charlie e como DS o recrutou. Ele comprou bebida a noite toda. Esteban alardeou de como acompanhou Charlie, que estava bebendo todas. Ele continuou falando como um louco, nada fazia muito sentido. Jogaram algum jogo louco. Verdade, Desafio ou um Tiro6. —O que quer dizer, ele falou como louco? A boca de Marguarita secou. De repente, seu coração começou a saltar. Estava com muito, muito medo. Era o ronronar na voz de Zacarias, uma agitação do predador perigoso, aquele que claramente sentia o cheiro da presa e a acuava. Beba seu chá, mića emni kuηenak minan — minha linda lunática. Permita que seu coração siga o ritmo do meu. Zacarias se moveu um pouco, o movimento sutil e, provavelmente,

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Verdade ou desafio ou tiro - um jogo de festa onde você têm a opção de escolher desafio, verdade ou tiro. Se escolher verdade, tem que responder com sinceridade a uma pergunta, se escolher desafio, tem que vencer um desafio, e se escolher tiro, tem que beber uma dose de álcool.

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impossível para qualquer outro ver, mas seu corpo estava mais perto dela, seu calor penetrando no frio de sua pele. Não precisa ter medo. Sua amiga está segura comigo. Não há mal nela. —Loucuras. — Lea esfregou as têmporas novamente. —Estacar vampiros. Continuou chamando a si mesmo de Van Helsing. É um nome do livro de Drácula. Disse que ia para uma caçada. Que precisava de uma estaca e alho. E então ria como um maníaco e dizia para fazer colares de alho. — Ela cobriu o rosto com as mãos, balançando a cabeça. —Na manhã seguinte, agiu como se não se lembrasse de nada, mas então me disse para não dizer a DS o que falou sobre os vampiros, alho e estacas, então soube que estava mentindo para mim novamente. — Ela olhou para Julio um pouco suplicante. —Honestamente, a loucura não é corrente em nossa família. Estava bêbado. Não tenho nenhuma ideia de onde se meteu, mas Esteban gosta da ideia de sociedades secretas e gângsteres. É muito suscetível a influências ruins. —O que Charlie disse a eles? — Zacarias persistiu. Marguarita sentiu as lágrimas queimando seus olhos. A penalidade para traição era a morte. Todo mundo sabia disso. Podia pedir para sair e suas memórias seriam removidas, mas se fosse parte da família servindo os De La Cruz por gerações, com uma barreira na mente, um escudo protegendo seu cérebro da invasão, presente desde nascimento, sua remoção era uma coisa difícil de suportar. Charlie falou em seu estado de embriaguez para Esteban e DS, seu amigo. Lea franziu a testa e desta vez esfregou as linhas em sua testa como se isso a ajudasse a lembrar. O poder se moveu no quarto. Tão forte, que Marguarita ficou chocada que nem Julio nem Lea notassem o crepitar de energia no ar. —Esteban disse que Charlie desenhou mapas com as câmaras de dormir e que seria fácil pegar os vampiros durante o dia porque não seriam capazes de se mover. — Ela piscou rapidamente e olhou em volta da mesa, envergonhada. —Estava muito bêbado e não fazia muito sentido. Novamente Marguarita sentiu Zacarias sondar Lea para garantir que era inocente e não uma isca buscando mais informações. Ela não acreditava em vampiros e achava que DS e seu irmão tomaram drogas, provavelmente junto com a bebida. Estava certa que Charlie estava tendo alucinações de bêbado. Estava muito humilhada e não entendia por que não conseguia parar de falar sobre um assunto muito doloroso para ela. Queria ir para casa e puxar as cobertas sobre sua cabeça. —Obrigado, Lea, — Zacarias disse calmamente. —Sei que foi difícil. Charlie é responsável pela vida de seus colegas de trabalho e precisávamos saber o quanto ele está doente realmente. Marguarita respirou fundo. Ouviu a nota suave da frase pronunciada. Charlie era simpático quando não estava bebendo, mas como dizer a um homem como Zacarias, isso? Zacarias viveu séculos de uma dura, solitária existência insuportável, mas com honra, nunca quebrando o código. Não entenderia fraqueza. Em seu mundo, os fracos não sobreviviam.

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Zacarias de repente, estendeu a mão e passou o braço em torno dela, puxando-a para ele, sob a proteção de seu ombro. Sua cadeira estava ao lado dela tão rápido, que ninguém notou que se moveu de novo para cobrir a distância curta entre eles. Meu mundo é duro para você. Sinto muito, Marguarita. Não deveria ter que saber essas coisas. Não posso escondê-las de você. Charlie entregou minha família à esses homens. Falou de nossas câmaras de dormir e revelou vários locais das fazendas. Vou me assegurar de destruí-las, mas ele colocou toda a minha família — e você — em perigo. Não vou permitir isso. Ele não é confiável. Ela sabia disso. Sabia que alguns dos membros das principais famílias — Chévez, Santos, Fernandez e Diaz — todos sabiam que as câmaras de dormir estavam sob várias salas nas fazendas. Eram usadas somente quando a família De La Cruz mantinha a aparência de humanos e viviam na sociedade humana. Zacarias era o único membro da família que raramente aparecia em qualquer uma das fazendas, mas se Charlie deu algum detalhe proibido — e suspeitava que tivesse — Zacarias estaria em perigo por causa dela. Só ia ficar na fazenda, porque ela estava lá. Tem que ir, Zacarias. Será mais seguro para você. Ela podia sentir os olhos ardendo. Não queria ouvi-la. Sabia que ele não iria embora. Ia caçar seus inimigos. Ela tentou de novo. Já tem vampiros caçando você. Muito gentilmente agora, sabendo que Lea já foi empurrada perto de seu limite, Zacarias murmurou suavemente em sua mente. Diga-me o que seu irmão e DS discutiram. Lea pressionou os dedos na boca, guardando um segredo. Olhou para Marguarita culpada. Envergonhada. Marguarita podia sentir o triunfo crescendo em Zacarias. Ele não o sentia, só continuava pressionando Lea, retirando as camadas até que encontrou o segredo que ela guardava com tanto cuidado. —Sinto muito, Marguarita. Esteban nos fez vir aqui por causa de você. Não apenas porque esta fazenda é propriedade da família De La Cruz. Me sinto uma falsa. De acordo com meu irmão, é uma agência mundial chamada Agência Morrison, ou algo assim... O coração de Marguarita saltou. Apertou sua mão sobre a boca apertada. Meu pai ouviu falar de tal lugar há alguns meses. Testam a habilidade psíquica. Pensou que meu dom com os cavalos era um talento psíquico. Ele estava correto. Eles a testaram? Preenchi o questionário, mas nunca continuei, porque meu pai morreu e eu... Marguarita tocou sua garganta com as cicatrizes. Perdi minha voz e como poderia explicar de outra maneira? Tem que sentir a conexão. Não há outra maneira. —Sabemos da agência, — disse Zacarias. —Marguarita inicialmente começou o processo de entrevista, mas não foi além do preenchimento de um questionário. O que isso importa para seu irmão?

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Marguarita percebeu que, por Zacarias responder por ambos, ele parecia saber tudo sobre ela, como se ela tivesse compartilhado todos os detalhes de sua vida com ele. Lea parecia confusa. —Não tenho certeza exatamente, mas é a razão por que escolheu esta região remota. Esteban estava evitando a lei, mas nunca realmente ouviu falar deste lugar. Ouvi ele no telefone falando de Marguarita e esta Agência Morrison e concordou com quem estava falando... —Era este sujeito DS? — Julio exigiu. Ela assentiu com a cabeça. —Acho que sim. Pensaram que era provável que se Marguarita tivesse um talento psíquico, então as chances de um De La Cruz aparecer fosse muito maior que em qualquer uma de suas outras propriedades. Esteban devia vir primeiro e iniciar uma amizade com ela. —Então não eram realmente amigos dela. — A voz de Julio ficou rígida. Olhou para Lea. As lágrimas imediatamente saltaram de seus olhos. —Isso não é verdade. — Lea estendeu a mão para Marguarita implorando. —Juro para você, a amizade entre nós é real. Me senti em casa aqui. Pela primeira vez em um tempo muito longo, estava feliz. Marguarita pegou suas mãos, seu olhar deslizando para Zacarias. Não tenho meu bloco de notas. Por favor, assegure a ela que está tudo bem, que entendo e sou sua amiga. Zacarias sorriu para Lea, uma mera mostra de seus dentes, que, obviamente, deveria servir como sorriso. —Marguarita que sabe sua amizade é real. Não se preocupe. — Empurrou uma pequena compulsão para a mulher. Não entendo o que Esteban queria comigo só porque preenchi o questionário. O que isso significa? Vou explicar mais tarde. —Isso soa tão tolo para mim, — Lea continuou. —Sabia que você era boa com os cavalos, mas realmente, psíquica? Não me importava porque viemos, só que viemos. Mesmo Esteban parecia feliz por um tempo - até DS aparecer. Não demora muito antes que estrague tudo. Agora nossa casa é simplesmente assustadora. —Não deve voltar para aquela casa, — disse Julio a Lea. Ele olhou para Marguarita, estimulando-a a convidar Lea para ficar. —É bem-vinda para ficar, Lea, — Zacarias disse por ambos, surpreendendo Marguarita. Ele trouxe sua mão à boca e roçou os lábios levemente sobre os nós dos dedos. Não vai ficar aqui. Ainda acredita que pode salvar seu irmão. Mas não acha que ela pode? Sinto muito, sívamet. Ele foi muito longe.

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Não sabe disso. Mas ele sabia. Zacarias estava no mundo há muito tempo. Viu muitos amigos, familiares, humanos caindo. Ela viu tudo em sua mente. Sentiu sua tristeza terrível como um peso pressionando no peito, no coração dele — mas ele se recusava a reconhecê-lo. Ela fechou os olhos, se permitindo tomar o peso que nunca o deixava. O que seria passar seus dias caçando pessoas que significaram algo para ele um dia? Ter que matar pessoas que importavam? Saber que nunca poderia fazer um amigo, confiar em alguém, amar ou ser amado por alguém? Queria entendê-lo e estava aqui, nesta tristeza, nas memórias que se recusava a reconhecer, onde encontraria sua coragem para ficar com este homem. —Me leve para casa, Julio, — disse Lea. —É muito tarde e preciso dormir. Estou feliz por dar tudo certo para Ricco. Marguarita gesticulou um obrigado e mandou um beijo. Julio se levantou com ela. — Obrigado pelo chá, Marguarita. Zacarias manteve a mão no ombro de Marguarita enquanto se levantava também. —Vou levá-los lá fora. — Tenho que remover suas memórias da conversa conosco sobre Diaz. Poderia colocá-la em perigo. Ela ficou surpresa que adicionasse a última explicação depois de uma breve hesitação. Em suas memórias, nunca encontrou um momento onde se explicasse a qualquer um. Sou um aprendiz rápido. Precisa de garantias que sua amiga vai ficar bem. Ela se sentiu como se ele a envolvesse num manto protetor de calor — mais que calor — a cercava com proteção e enchia sua mente com amor. Ela abraçou a si mesma, tentando não sorrir. Não estava mesmo certa se ele sabia o que estava sentindo em relação a ela, mas ela sabia e, no entanto, precisava dele do jeito que ele era. Marguarita recolheu os copos e pratos de sobremesa e os levou para a pia para lavar. Olhar as migalhas a fez pensar na fome, mas ela não sentia. O pensamento de comer qualquer coisa era perturbador. Bebeu água, na esperança que aliviaria a sede crescente. Havia um latejar estranho em suas veias, uma batida que se recusava a ir embora, uma chamada macia insistente que ficava cada vez mais forte. Uma necessidade. Um desejo. Uma fome. O tempo todo que esteve com Lea e Julio, estava desconfortável e convenceu a si mesma que era por causa de Zacarias, com medo do que ele poderia dizer ou fazer. Mas aqui, sozinha na cozinha, sem ninguém para testemunhar, podia admitir para si mesma que era o chamado de seus corações, o fluxo constante do sangue em suas veias. Podia ouvi-lo, e embora baixasse o volume como Zacarias a ajudou a fazer, encontrava a tentação batendo em suas próprias veias — batendo nas veias de Zacarias, em sua mente e coração. Nunca pararia, não enquanto sua mente estivesse imersa em Zacarias — já que a preenchia da mesma forma como ela o preenchia. A fome não parava em Zacarias, não quando podia ouvir a chamada de um pulso, e não quando podia sentir o cheiro rico de sangue fresco. Esse era seu mundo e ela tinha que se acostumar.

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Quando estava sozinha, tentando analisar como se sentia sobre tomar sangue, sua parte humana com medo e até mesmo totalmente repelida. Estranhamente, depois de ficar aterrorizada, Zacarias, de alguma forma transformou o ato de dar ou receber sangue em algo natural e até bonito, uma partilha da própria essência da vida, enquanto estava com ela. Marguarita soube o momento exato que Zacarias entrou na sala. Movia-se em silêncio absoluto, mas ficou imediatamente consciente dele, cada um de seus sentidos saltando para a vida. Seu corpo cantava. Seu coração acelerou e um milhão de borboletas bateram asas em seu estômago. Ele veio por trás dela, tão perto que sentiu seu calor, o calor da sua respiração na nuca, onde empurrou seu cabelo fora do caminho e se inclinou para roçar seus lábios sobre sua pele. Um sussurro de carícia, e ainda assim ela estremeceu em reação, seu sangue ficando quente — seu corpo acolhedor. —Sei que foi duro para você, assim como para sua amiga, e realmente sinto muito. Ela se virou. Ele não recuou. Ela estava presa entre a pia e seu corpo. Inclinando a cabeça, seu olhar encontrou o dele. Ela sorriu para ele. Sabia que quando estamos sozinhos e você me olha assim, seus olhos são um profundo safira escura, como o azul no céu da meia-noite? Ele beijou a ponta do seu nariz. —Se isso for verdade, é a única que vê meus olhos coloridos. Só os vejo escuro, como a sombra da morte. Ela circulou seu pescoço com os braços, prendendo os dedos em sua nuca enquanto se inclinava para ele. Garanto, são de um azul bonito quando olha para mim desse jeito. —Que maneira é essa? Com carinho. Ela não teve coragem de dizer amor, mas sentia como amor. Ele pegou o queixo dela para que ela não pudesse desviar o olhar. —Será que vai parecer amor quando eu a levar para longe de tudo que conhece? Todos que ama? Nunca foi sua decisão, Zacarias. Era minha. Insisti que você vivesse. Pedi para ficar por mim. Escolhi você. Sempre vou escolher você. Seus olhos olharam para os dela. Azul meia-noite. Tão bonitos que seu coração voou. —Você me humilha. Porque sou humana e mulher não me torna estúpida. Pensei nisso por todos os ângulos. Não foi apenas um salto de fé. Tive toda a noite para pensar. Sei que será difícil para nós juntarmos nossos dois mundos. Sei, que às vezes, será doloroso. Mas Zacarias, você disse que me faria feliz. Prometeu e eu acredito em você. Absolutamente acredito que vai. —Eu vou mandar em você. — Sombras deslizando para o azul dos seus olhos. Vamos esperar que escolha fazê-lo com amor. Não posso imaginar ser feliz e me sentir acarinhada se você não estiver pensando no que me agrada. A vida é cheia de escolhas, Zacarias.

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Escolho você e escolho ser feliz. Quando a terra tremer e tiver pavor, planejo me segurar em você muito apertada. Um sorriso lento suavizou a borda dura de sua boca. —Vou esperar que mantenha sua palavra. Nunca esconda seu medo ou sua raiva de mim. Quero você toda. Riso derramou em sua mente. Pergunte a Julio e Cesaro, antes que de perguntar isso. Tenho um temperamento muito ruim. Isso não acontece frequentemente, mas não sou razoável quando alguém é bobo o suficiente para me empurrar até o limite. Zacarias olhou para aqueles olhos de chocolate derretidos e soube que estava perdido. Não era um homem que confiava, mas confiou em sua palavra. Ela ficaria com ele. Ele pegou a mão dela e a puxou, levando-a até a sala principal da casa. —Quero que venha comigo, Marguarita. Quero te mostrar nosso mundo. —Ele sorriu para ela, seus olhos mais azul que nunca. —Com você, estarei vendo pela primeira vez. Ela esboçou um ponto de interrogação. —Em cores. Vai me fornecer cores e emoção. Nunca vi a noite e a floresta com a lua e a chuva em cores vibrantes. — Parecia um milagre que ela pudesse fazer isso por ele. Bastava estar com ela para ter um mundo completamente diferente. Ele viveu numa espécie de vazio. Um inferno duro, estéril e muito feio. As cores ricas e até mesmo as emoções — tanto as más como as boas — tudo era uma espécie de milagre. Ela deu-lhe um presente, permitindo que montasse um cavalo com ela, explorando o rancho, fluindo sobre o solo, com o animal, e ele podia dar-lhe isso. Esperava cortejá-la um pouco, mostrar que tinha algo para dar também. Está perto do amanhecer, Zacarias, lembrou suavemente. O que desejo mostrar exige a madrugada. A noite era dele, o pouco que restava dela. Seu mundo. Seu domínio. Pouco importava que por séculos foi um inferno. Estava com ele agora. Marguarita. O outro lado do inferno era o paraíso e a levaria lá, encontraria com ela, experimentaria com ela. Atravessaria com ela. Marguarita não hesitou. Apertou os dedos nos dele e o lembrou gentilmente. Não estou usando calcinha. Vou precisar de roupas diferentes? Ele gemeu. Vinha ignorando a tentação do seu corpo. Queria passar mais tempo com ela, dar a ela algo além de sua fome contínua. —Vou mantê-la aquecida. — Seu olhar deslizou possessivamente abaixo por seu corpo. Amava sua figura de ampulheta, todas essas curvas exuberantes só para ele. —Você é uma mulher bonita. Ela corou, brilhou. Seu sorriso era um pouco como a lua e as estrelas se juntando. Ele saiu pela porta antes que perdesse o controle e não saíssem da casa. Ela parecia ter esse efeito sobre ele.

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Passou o braço em volta da sua cintura e a levou para o céu. Ela ofegou e se agarrou. Ele riu baixinho e enterrou o rosto em todo aquele cabelo. Fios de seda estavam por toda parte. Ela tentou domesticá-lo à força se segurando com um braço nele e cautelosamente com a outra mão juntando a massa num grosso nó torcido na nuca. —Realmente tem que abrir os olhos para apreciar isto, — ele sussurrou. Alegria explodiu por meio dele. Fogos de artifício. Cores vibrantes. Luz acelerando pelos céus. O país das maravilhas brilhante espalhado sob ele e Marguarita estava em sua mente, compartilhando tudo isso com ele. Era mais que um milagre, era um pequeno pedaço do céu. O que importa se viu isso sem ela? Não teria significado absolutamente nada. Agora... sua floresta tropical... seu país — era tudo, porque ela estava lá. Ele sentiu os dedos cavando seu braço. Ele inclinou a cabeça para colocar a boca contra sua orelha, embora não usasse palavras. Queria a forma mais íntima de comunicação. Sentia cada respiração que ela tomava. Sentia cada batida do seu calor. Mostre-me sua confiança, mica emni kuηenak minan. Sua respiração sibilou fora, embora sentisse nervosismo, risos e emoção ao mesmo tempo, enchendo sua mente. Me chamou de louca novamente, não é? Bem, ele brincou, está voando pelo ar acima do dossel da floresta tropical comigo. Tem que ser um pouco louca para fazer isso. Eu te chamei de bonita. E de minha. Isso pode? Ela abriu os olhos. Abaixo dela estava cada tom de verde no espectro de cores, com a luz prateada da lua derramando sobre o dossel. Em vez de olhar isso do chão da floresta, estava olhando por cima. Um suspiro de admiração encheu sua mente. Ele desceu rapidamente, levandoa através dos ramos, para mostrar o espetacular achado que fez anos antes. Poucas pessoas, se existem, já tiveram essa visão. Venho aqui, uma vez por ano para ver essas araras. No início da manhã elas voam juntas para o encontro da manhã, se mexendo pouco antes do amanhecer. Encontrei uma pequena caverna perto deste ponto e escavei uma câmara, só assim eu poderia vê-las voando. Ele sentia a maravilha da visão de tanto tempo atrás, e agora sabia por que retornava ano após ano, para ter certeza que o bando ainda estava lá. Não sentia a corrida na época, mas a sentia agora, a beleza e a majestade dos grandes pássaros empoleirados nas cavidades do bosque de árvores. Havia tantos, grandes pássaros imponentes. Sempre se sentiu em casa na floresta tropical e sentia mais parentesco com os animais do que com as pessoas povoando o mundo. Como eu, Marguarita confirmou. É por isso que nos conectamos de forma rápida e profunda, Zacarias, ambos temos parentesco com os animais. A impressão de seu riso suave provocou sua mente. Claro que é mais parecido com um gato grande, todo dentes e as garras, e eu sou mais parecida com o beija-flor zumbindo em torno das flores.

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Ela olhou para ele, os olhos brilhantes de alegria, com a emoção do que ele estava dividindo com ela. Deliberadamente, ele mostrou seus dentes, os expondo em sua grande parte como um animal selvagem. Mais risos derramaram em sua mente. Melaço quente derramando através dele, uma espécie de ouro derretido, enchendo as rachaduras e espaços e afastando mais sombras. Seu braço apertou em torno dela. Como deixava de estar completamente sozinho para estar completamente ocupado por uma mulher? Uma mulher humana? Mais risos derramaram e brilharam através dele. Uma mulher lunática. Minha lunática, ele concordou, se encontrando sorrindo. Ela mudou o mundo. O trouxe para a vida. Trouxe o mundo à sua volta à vida. Não resistiu a provocá-la. Sabe que beija-flores lutam o tempo todo. São pequenas criaturas perversas. Talvez seja por isso que tenho tanta afinidade com você. Ele riu alto. O som o assustou — agradou. Ouviu a palavra diversão, mas não entendeu realmente o conceito até este minuto. Compartilhar com Marguarita era divertido. Está com frio? Teria detectado um pequeno arrepio? Está me mantendo muito quente, muito obrigada. Só estou animada. É tão lindo, Zacarias. Vi araras, mas não tantas colocando a cabeça para fora das cavidades nas árvores. Em todos os lugares que olhava, cabeças curiosas, em pares, olhavam para ela dos buracos nas árvores, onde pousaram. Um bando normal de araras, dependendo da espécie, teria cerca de trinta ou mais. Todas estão juntas esta manhã. A envergadura é de cerca de 1 metro, nada como a harpia, mas quando todas forem para o ar, será uma visão diferente de qualquer outra. Em alguns momentos vai testemunhar seu voo. Ele sentiu sua excitação, fluindo através dela, fluindo através dele. Ela o acordava depois de séculos de trevas. Uma parte dele sempre se preocuparia apenas pelo que ela conseguiu despertar. Seus sentimentos por ela eram muito intensos e muito misturados para separar e examinar. Então não o faça. Deixe estar, Zacarias. Esta manhã na floresta tropical é gloriosa. A lua derramando sua luz sobre nós, as araras acordando e abrindo suas asas, tudo azul, ouro e escarlate. É incrível e você me deu isto. Eu amo isso. Ele olhou para a profusão de cores, todas as penas brilhantes quando as araras lentamente se esticaram e bicaram suas penas, se preparando para o encontro da manhã enquanto a lua descia e o sol subia. Como consegue ser tão sábia? As mulheres são muito sábias, Zacarias. Deve ouvi-las com mais frequência. Ele deu um sopro irônico e sentiu seu riso derramar em sua mente. Ela o inundou com felicidade. Ela apertou os dedos em seu pulso, seu corpo vibrando com empolgação enquanto os pássaros agitavam as asas e, quase como um só corpo, levantavam voo. Feixes de luz derramavam através das árvores, atingindo as cores vibrantes sobre as penas iridescentes. As cores quase o

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deixaram cego, tão vívidas e intensas, deixando-o um pouco tonto. Viu isso antes, mas não em cores vivas. Não assim. E não com ela. Marguarita. Ele soprou o nome dela, um suave sussurro ao vento, carregado através da floresta tropical até as araras. As aves grandes rodaram no ar, um gracioso desenho de fogos de artifício, uma demonstração espetacular da natureza em seu momento mais belo. Zacarias mal podia respirar com as emoções subindo como um maremoto. Por ela. Por Marguarita. Ele a trouxe a este lugar especial para compartilhar este momento. Um presente para ela, mas no final, o presente foi dela. As cores. A intensidade. A sensação pura. Preciso estar dentro de você. Agora. Assim. No ar, na floresta tropical, a céu aberto onde pertencia — apenas naquele momento onde a noite se transformava em dia e batia o coração de ambos os lugares. Agora sei porque se esqueceu da minha calcinha. Ela o acariciou com amor profundo, dentro de sua mente, carícias suaves que queimaram através da pele e osso, que o marcaram em algum lugar que não pensava há muito tempo. Ela o abriu e se serviu dentro dele, o enchendo com sua luz. Ela se virou, em seus braços, e ele tirou a roupa dos dois, de modo que sua pele deslizava contra a dele, toda quente, macia e viçosa, seu corpo já pronto para ele. Ele inclinou a cabeça para encontrar sua boca enquanto ela dobrava uma perna em torno de sua cintura, pressionando sua entrada convidativa apertada contra ele. Tinha sabor de inocência e pecado. Ele apertou seu cabelo na mão e puxou a cabeça atrás para que pudesse beijá-la novamente e novamente, sua língua explorando todo esse calor sexy. Seus quadris balançaram convidativos contra os dele. Ele se maravilhou que ela não hesitasse, não negasse nada, nem mesmo quando estava numa altura de 10 metros no ar com um tapete de araras espalhadas abaixo deles e os ramos em torno deles se enchendo de macacos. Ela o beijou de volta, aparentemente alheia a qualquer coisa, exceto ele. Confiando nele, se dando sem reservas. Teve de soltar seu cabelo para levantar a outra perna em torno dele. Ela se alavancou para cima, usando suas mãos em seus ombros, deslizando seu corpo escaldante sobre sua barriga para se posicionar direto sobre a cabeça lisa do pênis. Ele fechou os olhos, saboreando a sensação requintada enquanto ela lentamente se empalava, deslizando abaixo num movimento muito lento, tirando sua respiração com seus pequenos círculos e a forma como o corpo dela apertava relutantemente, se estendendo em torno do comprimento largo dele. Ela jogou a cabeça atrás e começou um passeio lento projetado para deixá-lo louco. Seus músculos agarraram e acariciaram, o atrito crescendo como um fogo lento quando o calor já era forte em torno dele. Ela parecia veludo macio, úmida e apertada. Muito apertada. O estrangulando. Enviando raios e relâmpago através de seu corpo. Cada terminação nervosa sentia até mesmo o mais ínfimo movimento que fazia quando se levantava, seu corpo deslizando sobre o

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dele, encaixando como uma luva, uma segunda pele, e depois afundando novamente sobre ele, levando-o profundamente dentro dela. O cabelo dela explodiu em torno deles, os cobrindo num momento e correndo para longe no próximo, revelando seus corpos entrelaçados. Ele a deixou marcar o ritmo, observando cada expressão em seu rosto, seus olhos, a felicidade, o prazer, o desejo, mas principalmente se viu olhando o amor. Estava lá nos olhos fundidos. Da forma como ela o tocava. Na forma como se movia, lenta, um preguiçoso passeio em espiral, como se quisesse aproveitar cada momento com ele, mantendo-o para sempre. Saboreando. Percebeu que abriu a barragem de suas emoções, e para ela, cada sentimento era mais intenso, mais tudo. Seu mundo se centrou em torno dela. Este mundo. Com cor. Com emoção. Com amor. Comigo. Este é o mundo real, Zacarias. Quando está comigo. Viva aqui comigo. Quando vai para o outro, está apenas caçando nele. Mas viva aqui comigo. Suas mãos alisaram sua pele, seus lábios de repente roçaram os ombros e se retiraram novamente quando ela deixou a cabeça cair atrás e seus olhos encontram os dele. Sempre, avio päläfertiilam —minha companheira. Vou sempre viver com você. Não há outra maneira. Ele tomou o controle de volta, empurrando nela mais e mais, cada golpe profundo e longo e cada um dizendo o que ela era para ele. Ele a levou ao alto e quando a inclinou sobre a borda, ela o levou com ela. Subiram no céu, um passeio vertiginoso, juntos, correndo pelo sol enquanto faziam seu caminho para casa.

CAPÍTULO 16 O som abafado era persistente, um tamborilar aborrecido que se intrometeu nos seus sonhos. Não importava quantas vezes Marguarita arrastasse o travesseiro por cima da sua cabeça, pressionando-o contra seus ouvidos, o barulho não só continuava, mas ficava mais alto e muito mais exigente. Ela queria desesperadamente dormir. Estava tão cansada que não conseguia encontrar energia para se mover. Seus braços e pernas pareciam de chumbo. Mesmo as pálpebras não queria cooperar. Ela ficou deitada por um longo momento, ouvindo seus batimentos cardíacos. O som era alto, ecoando através de sua cabeça. Podia ouvir o barulho do sangue em suas veias, e os sons de insetos fora da casa nos campos. Através de tudo isso estava a batida persistente. Quem quer que fosse em sua porta não iria embora tão cedo — a menos que estivesse tendo um pesadelo bizarro. O pensamento de um pesadelo não a alarmou, mas a ideia que os barulhos que ouvia tão facilmente fossem de fora das paredes da casa o fez. Zacarias explicou, mas se prestasse atenção, podia ouvir o murmúrio do gado e estavam a mais de um quilômetro da casa. Vindo do estábulo, o pisotear dos cavalos e até mesmo a conversa de dois dos homens que trabalhavam lá. Um estava muito preocupado com Ricco. 189


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Um grito estranho e mais batidas na porta a convenceram que precisava levantar. Experimentando, tentou levantar um braço. Conseguiu cerca de uma polegada, suspirando, o deixou cair sobre o colchão. Com algum esforço, se virou para olhar o ventilador de teto girando lentamente sobre sua cabeça. Mais batidas na porta e sua mente lenta começou a funcionar mais rápido. E se alguma coisa aconteceu com Ricco? Talvez fosse a razão dos trabalhadores estarem discutindo sobre ele. Devia ter espreitado em vez de se retirar como um bebê assustado. O que fez comigo? Zacarias estava profundamente no solo, muito além da correria diária de uma fazenda, enquanto ela estava à disposição de todo mundo. Era muito bom em dar ordens, exigir que permanecesse dentro de casa, tentando forçá-la a dormir durante o dia, mas havia trabalho a ser feito e o rancho era parte disso — uma grande parte. Agora determinada, Marguarita forçou seu corpo relutante a uma posição sentada. A claridade caiu pela pequena fenda nas cortinas em sua janela e bateu em seu rosto como uma bofetada. Seus olhos arderam, um doloroso instante escaldante que fez seu estômago se agitar ameaçadoramente e lágrimas escorrerem pelo rosto. Jogando seu braço acima para proteger os olhos, ela deslizou da cama, as pernas e o corpo tremendo com o esforço para encontrar seus ossos. Ela quis escorregar para o chão. Com muito esforço conseguiu jogar água fria no rosto e pescoço, enxaguou os olhos, mas sentiu-se muito melhor depois. Ainda lento, seu cérebro e corpo sintonizavam outro mundo, mas pelo menos podia arrastar sua roupa sem cair de cara no chão. Seu cabelo estava uma desordem selvagem e fez o possível para domesticá-lo quando se apressou pela casa com os pés nus para chegar à porta da frente. O problema com as instruções precisas de Zacarias concernente às proteções na casa eram, que como não tinha nenhuma voz, não podia responder ou perguntar quem estava fora, portanto, precisava abrir a porta para ver quem estava lá. Tentou espreitar pela janela, mas o sol quase a cegou. O sol te queime de volta, meu homem, ela declarou com veemência em sua cabeça, uma espécie de diversão doentia por entrar sem ser notada. Onde estava esse homem quando era deixada para lidar com os problemas que ele criou? Ela perguntaria a ele assim que aquela beleza adormecida despertasse. Cautelosamente, abriu a porta. Lea estava do lado de fora, com o rosto inchado, um olho fechado e outro caído, os lábios rachados e sangrando. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela balançou a cabeça quando Marguarita abriu a porta e estendeu a mão para ela. Pressionando as mãos na boca, ela soluçou. Marguarita pegou o braço dela. A luz estava tão ofuscante, seus olhos sensíveis tão vermelhos como os de Lea, queimando e lacrimejando no momento que o sol bateu neles. Mesmo sua pele arrepiou, quando se encolheu longe da luz. Ela recuou instintivamente, puxando Lea com ela. Lea fez um som, a meio caminho entre um gemido e um grito soluçante. Atrás dela, um homem se aproximou — em seu rosto um sorriso triunfante — e bateu forte nas costas de Lea, a

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forçando a avançar para a casa, a empurrando sobre Marguarita. As duas mulheres caíram no chão, um emaranhado de braços e pernas, Lea prendendo Marguarita no chão. O estranho saltou através da porta. —Rápido, rápido, — ele chamou Esteban. Seu rosto estava contorcido numa máscara demoníaca, os olhos dardejando em torno numa espécie de terror giratório quando saltou sobre as duas mulheres no chão e as virou num esforço para ver o interior todo de uma vez. Esteban se apressou atrás dele, fechando a porta com barulho e a trancando. Um mau cheiro impregnou o ar no momento que os dois homens entraram. Uma mistura pesada de alho, medo e drogas escorria de seus poros, quase asfixiando Marguarita. O estranho abaixou e pegou Lea pelos seus cabelos loiros e a puxou. Lea agarrou seus pulsos num esforço para aliviar a pressão sobre seu couro cabeludo, lutando para se levantar, olhando para seu irmão com raiva, misturada com medo. —Levante-se, cadela, —o estranho vociferou. Marguarita assumiu que ela era a cadela, considerando que Lea já estava em pé. A calma caiu sobre ela. Podia haver apenas uma razão para estes homens estarem aqui. Esteban carregava uma mochila, e era pesada. Charlie Diaz, em seu estado de embriaguez, traiu a família De La Cruz, e pelo tolo colar de alho pendurado no pescoço de Esteban e o odor fétido de alho despejado do estranho, estavam planejando matar Zacarias. Cabia a ela evitar que estes homens chegassem ao seu lugar de descanso. Ela levou seu tempo, fingindo dor enquanto lutou para levantar. Havia um botão de emergência a poucos metros dela, posicionado perto da porta. Se o atingisse, seus homens viriam correndo, armados até os dentes, mas não podiam entrar, se ela não abrisse a porta para eles. Engolindo em seco — e não era tão difícil parecer amedrontada — ela se levantou, oscilando um pouco, uma mão indo para a garganta marcada, a outro procurando a parede como se quisesse segurá-la. Zacarias. Pode me ouvir? Estamos em apuros. Tem que acordar e me ouvir. O botão de emergência estava a vários metros dela, mas pelo menos sua mão estava na parede e todos acreditavam no seu medo. Agora que entraram na casa, estavam um pouco menos agitados e um pouco mais arrogantes. DS jogou Lea contra a parede ao lado de Marguarita e ficou se pavoneado na frente delas, tão perto que seu hálito de alho explodia em seu rosto em sujos sopros quentes quando enquanto falava. Ele deliberadamente invadiu seu espaço como uma tática de terror. Marguarita descobriu, depois de enfrentar um vampiro e Zacarias, que DS não a assustava tanto quanto ela achava que poderia. A percepção que esses homens não podiam se comparar aos seres perigosos com os quais lidou, levou seu medo, permitindo que mantivesse sua respiração uniforme e constante. Seu coração deixou de saltar e sua mente se ajustou numa máquina tranquila, lógica, trabalhando para encontrar uma solução e um plano seguro para sua presente situação desagradável.

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Zacarias. Ela tentou novamente, desta vez permitindo que parte dela enviasse seu espírito se elevando livre para encontrá-lo. Ele entrou na rápida fusão de seus espíritos, com força e coragem, e confiança total. Não havia pânico nele, nem pensamentos, apenas destruir o perigo para ela. Ele não pensava em si mesmo – somente nela. Marguarita abraçou esse conhecimento e isto reforçou sua coragem ainda mais. Não estava sozinha para tentar controlar uma situação impossível. Preciso que tire as salvaguardas das portas e janelas para que Cesaro e os outros possam entrar. Isso é possível? Ela tentou não exagerar quando enfiou a mão no bolso e tirou seu bloco e uma caneta. Às pressas, e no que esperava ser uma mão trêmula, rabiscou sua pergunta. —Quem é você? O que quer? —Você sabe, — DS quebrou. —Você o está escondendo. Sabemos que ele está aqui. Lea umedeceu os lábios inchados. —DS pensa que Zacarias é um vampiro. Planeja matá-lo. Marguarita franziu a testa, as sobrancelhas se juntando em perplexidade. Ela escreveu mais no bloco de notas, levando seu tempo, deixando Zacarias avaliar seus inimigos através dela. Ele se foi. Saiu ontem à noite. Eles nunca ficam muito tempo. DS a esbofeteou duro, tão duro que sua cabeça bateu contra a parede. A velocidade era tão chocante e a pancada tão inesperada, Marguarita ficou desorientada por um momento. Sob seus pés, uma onda se levantou do chão. As paredes tremeram. —Não minta para mim, sua vadia. Você é sua guardiã. Sei que ele está aqui e vai nos levar ao seu lugar de descanso. Chame Julio, Zacarias, e permita a entrada dos homens. Marguarita fez seu melhor para obter a súplica através dele. Ela foi sacudida pela selvageria da reação de DS e o seu fanatismo evidente. Esteban riu, um som estridente, quase histérico. Ele não acreditava necessariamente em vampiros, isso era evidente para ela, mas DS fornecia suas drogas e um estilo de vida excepcional, cheio de adrenalina. Ele almejava o poder que DS tinha, e precisava da associação, parecendo estar no círculo íntimo. Marguarita não estava totalmente certa que a avaliação era dela ou de Zacarias. Estou muito fraco, sívamet. Golpearei quando puder matá-los. Poderia alertar Julio e Cesaro, mas terão que desentranhar as salvaguardas e é muito perigoso. Se eu os ajudar, talvez não tenha força para atacar quando necessário. Estou muito próximo da escuridão, mais que a maioria da minha espécie, e o sol cobra um preço para mim que não é o mesmo que o dos outros. Ela não podia ouvir qualquer nota de ansiedade em sua voz, somente o modo prático como falava de tudo, mas estava unida com ele com força, sentindo suas emoções, quando nem mesmo ele podia, e sua ansiedade era tudo para ela.

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Um cárpato tão perto da escuridão como Zacarias sofria o peso de chumbo do sol, muito mais que os outros. O sol estava no seu ponto mais alto. DS escolheu bem o momento. Devia ter estudado — e acreditado em — todas as lendas de vampiro. Ela soltou a respiração devagar. Zacarias temia que tivesse apenas uma chance para atacar através dela. Era ela quem mantinha a conexão entre eles, não ele. Não desperdiçava sua energia quando ela era capaz e isso dizia o quanto era terrível a consequência do sol da tarde para ele. Marguarita fingiu pressionar a caneta no papel de novo, levando seu tempo, deixando-a apertar a mão, enquanto sua mente corria. Não teria oportunidade de atrasar estes homens até o pôr do sol. Estavam tão conscientes disso quanto ela da exata posição do sol. Teria que mantê-los longe de Zacarias. Charlie o traiu, mas evidentemente não sabiam a localização exata de Zacarias. Ela podia muito bem imaginar. Só os que serviam dentro da casa sabiam onde as câmaras de dormir estavam localizadas. Estou dizendo a verdade. O Señor De La Cruz saiu ontem à noite para ir a uma de suas outras residências. Ele não fica em um lugar por muito tempo. Ela sabia soaria como um pouco de verdade. Charlie devia ter dito a eles, razão pela qual não esperaram. Estava claro que Lea foi brutalmente espancada e ainda assim não desistiu de Marguarita. Lembrando-se do anel e das palavras na língua antiga gravadas no ouro antigo, ela deslizou a mão esquerda no bolso da saia. Precisava tirar o anel, mas Zacarias, sendo quem e do que era, o fez do tamanho exato para se ajustar perfeitamente em seu dedo. Seria preciso um rebocador para tirá-lo. Pode fazer isso por mim? Ela sentiu sua hesitação. Não queria desperdiçar energia. Posso pará-los por um tempo para dar-lhe tempo para se recuperar. Isto me dará uma pequena chance de convencê-los que não está aqui. Ela já sabia que não aceitariam sua palavra e eventualmente, depois de uma demonstração de espancamento, ela teria que dar alguma posição para eles cavarem. Se tivessem um pouco de cérebro, olhariam sua garganta e saberiam que ela nunca daria sua localização, não importa o que fizessem com ela. Sim, vai. Não permitirei que coloquem a mão em você. Diga a eles. Com o inferno que direi a eles. Seu coração estremeceu. Ela sentiu. Uma silenciosa raiva ardente crescendo como um vulcão sob a terra. Vai me obedecer nisso. Na verdade, não, não vou. Posso lidar com eles. Se chegarmos nesse ponto, pode destruí-los, mas tenho armas pela casa toda. Só preciso de uma chance. Eu a proíbo disso.

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Não pode me proibir à distância. Ele realmente achava que ela o entregaria a estes fanáticos loucos? Ela entregou a nota para DS. Ele a leu, amaldiçoou, amassou e jogou em seu rosto. Seu punho bateu na parede ao lado de sua cabeça. Ela sentiu o anel soltar em seu dedo e deslizar para fora em seu bolso. O alívio foi instantâneo. Zacarias podia estar zangado com ela, mas ainda assim estendeu a mão para protegêla da melhor maneira possível. Mesmo aquele pequeno impulso de energia o drenou. Podia sentir sua fraqueza — e sua frustração. Ele permaneceu alerta, não mais discutiu com ela, lendo sua determinação da mesma maneira que facilmente ela podia ler sua raiva e promessa muda de vingança. Estranhamente, isso a fez sentir um calafrio, a assustando mais que DS e Esteban. Mas não o suficiente para permitir que chegassem em Zacarias. Ela assumiria as consequências, desde que salvasse sua vida. —Acha que estou brincando com você? Eu posso machucá-la como nunca foi machucada. Lea estendeu a mão e pegou a de Marguarita em silenciosa camaradagem. —Sinto muito. Não houve realmente nenhuma maneira para avisá-la. —Cale a boca, —retrucou DS. Ele empurrou Lea para a grande sala de estar. —Entre lá. Você duas. Esteban pegou a mochila e seguiu. Seu rosto estava coberto de suor, o cheiro permeando a sala e fazendo com que Marguarita quisesse vomitar. Os dois homens estavam apavorados, mas tão alterados e entusiasmados pela ideia de enfiar uma estaca no coração de Zacarias que não podiam ficar parados. — Olhe elas — DS vociferou Ele vagou pela casa, inspecionando cada canto e greta, prestando atenção no piso e armários, abrindo todas as portas. Marguarita mantinha a casa em perfeita ordem. Não havia marcas em qualquer um dos pisos indicando que móveis foram movido ou alçapões instalados. O piso parecia perfeito, mesmo quando DS moveu os tapetes soltos. Ela tentou não estremecer quando ouviu um vaso se quebrando, ou seus pratos sendo jogados quando sua frustração e raiva cresceram. Seu coração deu um baque quando ele voltou para a sala, a fúria em seu rosto. Seus olhos travado no dela quando marchou em sua direção com determinação. Lea deu um pequeno grito de medo e se aproximou mais de Marguarita como se ela pudesse protegê-la. Marguarita se retirou imediatamente de Zacarias, não querendo que ele testemunhasse ou sentisse o que estava por vir. Ela ouviu o eco agudo de seu protesto, mas ela quebrou o contato de qualquer maneira. Ele já estava preocupado com ela por não revelar sua localização, então o que realmente importa se ela podia poupá-lo disso? O rosto de DS era uma máscara retorcida. —Vai me dizer o que quero saber, sua pequena cadela do demônio. —A saliva voava de sua boca. Seus olhos eram de maníaco...

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DS golpeou Marguarita sem piedade, em seu rosto, seu estômago, cada parte desprotegida de seu corpo até que ela caiu no chão e a chutou repetidamente. Marguarita estava grata por não poder gritar. Não saia nenhum som, não importava o quanto gritasse de dor. Fez o possível para cobrir o rosto e o corpo, enquanto os golpes continuavam, se enrolando na posição fetal. O ataque parecia continuar para sempre. Ela perdeu a noção do tempo, sua mente uma névoa de dor. — Vai matá-la, — Esteban gritou, segurando DS. — Bom. A cadela merece isso. — DS puxou seu braço para longe de Esteban e deu outro forte chute em seu quadril. — Ela não sabe ou diria a você. — Ela sabe. Eles protegem seus mestres. São como cães, guardando-os, sem vontade própria. — E continuou dando socos e pontapés, atingindo qualquer lugar que pudesse, pernas, quadris, braços e costas, até mesmo na cabeça. Esteban agarrou DS novamente, puxando-o para longe dela. — Ela não será capaz de nos levar ao seu lugar de descanso e ninguém mais sabe a localização. No momento que o arrancarmos do solo, o sol terá se posto. DS empurrou Esteban para longe dele com força suficiente para mandá-lo cambaleando. DS passou a mão no rosto como se limpasse sua mente. O olhar selvagem em seus olhos retrocedeu. Cuspiu em Marguarita e passeou pela sala. Havia apenas o som de sua respiração irregular enquanto lutava para ficar sob controle. Finalmente, pegou um frasco de prata e despejou um pó branco sobre a mesa pequena no canto da sala. Os olhos de Esteban se iluminaram. Começou a se aproximar, mas DS o mandou embora. — As vigie. — Não vão a lugar nenhum, — lamentou Esteban. Ele lambeu os lábios. Lea deslizou pela parede, seus movimentos muito cuidadosos quando se posicionou ao lado de Marguarita. Inclinou-se para Marguarita, colocou os lábios contra sua orelha e sussurrou tão suavemente quanto podia: — Está bem? Marguarita não conseguia respirar. Havia muito lugares machucados em seu corpo e suas costelas queimavam, roubando todo o ar. Lágrimas nadaram em seus olhos, obscurecendo sua visão, ou talvez fosse sangue. Podia sentir o gosto na boca. Seu lábio estava inchado e dolorido. Ela se enrolou um pouco mais em resposta, rezando para DS ficar longe dela. Lea colocou a mão no braço de Marguarita num gesto de conforto, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ela olhou suplicante para seu irmão. Seus olhos estavam sobre o pó branco que DS cuidadosamente cortava em linha reta sobre a mesa. Ele rastejou para mais perto, lambendo seus lábios repetidamente, suas mãos tremiam em excitação e necessidade. Lea fechou seus olhos com desgosto. — DS, preciso disto, vamos, — confessou Esteban, sua voz tremendo.

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DS virou, xingando. — Age como uma cadela no cio, se quer tanto isto, rasteje para mim, em suas mãos e joelhos. Mostre para sua grande e arrogante irmã que prostituto você é. — Não, Esteban,— pleiteou num sussurro. — Olha o que ele está fazendo com você. Esteban não se virou. Tinha olhos apenas para o pó branco. Deliberadamente, DS levantou seu canudo de prata e aspirou uma linha inteira em seu nariz. Ele jogou a cabeça para trás e uivou, como se fosse um lobo, uivando para a lua. — Porra, esta merda é boa. Esteban cambaleou para a frente, e imediatamente a expressão de DS mudou de êxtase para puro desprezo. Esbofeteou Esteban e o empurrou. —Fique longe de mim, seu puto. Quer isso, tem que ganhar. Rasteje pela sala de joelhos na frente de sua fodida irmã. Um soluço escapou de Lea quando Esteban caiu lentamente de joelhos e se arrastou na frente de DS que olhava triunfante, os olhos reluzentes, o rosto torcido cheio alegria. Rindo, cuspiu em Esteban, o cuspe bateu no rosto e, lentamente, deslizou até o queixo. DS o chutou quando tentou limpar o rosto. — Deixe. Para lembrá-lo quem está no comando. Não interfira novamente. — Ele virou de costas e cheirou uma outra linha do pó. Esteban abaixou no chão aos seus pés, olhando para ele com desespero. Ele fez um único articulado no fundo de sua garganta e tentou deslizar até DS. — Para trás. Não implorou corretamente ainda. Sente-se e implore. Vamos lá, cachorrinho. Sente e abane o rabo como um bom animalzinho de estimação. Marguarita moveu-se, o mais sutil dos movimentos. Quando caiu, se certificou de cair próxima da mesa, onde mantinha uma faca colada sob a pequena gaveta. Deixou sua mão deslizar muito lentamente pela madeira, não querendo chamar a atenção de DS. Ele estava focado em atormentar Esteban e parecia, no momento, ter-se esquecido dela. Doía se mover. Tudo doía, apenas o ato de levantar o braço era doloroso, como se houvessem fraturas menores em seus ossos. Estava certa que tinha contusões graves, mas o pequeno, sutil movimento enviou um raio branco que cruzou o corpo dela. Os cílios de Lea tremulavam. Ela franziu a testa para Marguarita e, lentamente, balançou a cabeça, temendo as repercussões, mas, embora claramente não entendesse o que a mão de Marguarita estava fazendo deslizando tão furtivamente até a perna da mesa, corajosamente moveu seu corpo apenas o suficiente para bloquear a visão de DS. Seus olhos se arregalaram quando o punho de Marguarita saiu debaixo da mesa com a faca. A lâmina tinha quatro centímetros de comprimento e afinava numa borda afiada, escondida dentro de uma bainha de couro liso. Marguarita enfiou a faca no bolso de sua saia tanto quanto podia. Seus olhos encontraram os de Lea. Ela supôs que parecia tão ruim quanto sua amiga. Podia dizer que seu olho estava inchado, e sua boca ferida. Passou sua língua no lábio partido e

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estremeceu. Ela deliberadamente provocou DS. Ele teria suspeitado se de repente desistisse de Zacarias sem lutar. Precisava fornecer uma razão autêntica para ter medo. Ela imaginou que se Lea pode sobreviver aos seus golpes, ela também podia. Estava um pouco mais entusiasmado do que ela esperava. Sentiu a súbita agitação em sua mente, um jorro gelado em seu corpo. Ela estremeceu, mas rapidamente alcançou Zacarias no meio do caminho, tentando tirar a carga de energia dele. O que está fazendo? Sua voz era calma — muito calma. Ela sentiu o tom afiado embora não pudesse ouvi-lo. Dios. Não esperava que ele se conectasse com ela tão cedo. Ela não conseguia esconder a dor de suas feridas dele. Ele devia estar sentindo cada golpe em seu corpo. Vendo dentro dele e sentindo suas emoções, sabia que era muito pior para ele ficar deitado indefeso sob o solo, enquanto ela estava em perigo. Era a pior situação possível para um macho dominante, protetor como Zacarias. Estava preso. Seus inimigos escolheram o momento perfeito para atacar, quando seu corpo estava inerte e era incapaz de fazer qualquer coisa, exceto se ligar a Marguarita enquanto DS e Esteban faziam o que queriam com ela. Acho que quanto mais eu puder detê-los, mais perto estaremos do pôr do sol, o que permitirá a você muito mais força. Era um plano lógico, o melhor que teve. Protelar e pará-los novamente. Usar tudo que pudesse pensar. Jogar um contra o outro. O que fosse preciso. Eu declarei que proibia isto. Não quero que se coloque em perigo. Traga-os para mim imediatamente. Marguarita suspirou. Sabe que não posso fazer isso, ela disse tão delicadamente quanto possível. Zacarias não respondeu. Ela sentiu sua raiva latente, enterrada profundamente, ameaçando estourar, mas ele não se preocupou em discutir. Como ela, estava fundido completamente em sua mente, e podia ler sua determinação. Ele não precisava entender. Marguarita suspirou novamente e tentou não deixar que sua desaprovação a machucasse. Era sua decisão — não dele — sua vida para arriscar. Não havia dúvida em sua mente que ele arriscaria sua vida pela dela, sem sequer considerar qualquer outra alternativa. É diferente. É meu direito e dever protegê-la. Ela quase podia vê-lo estalando os dentes como um lobo faminto, impaciente com o que considerava rebeldia. Não havia argumento com ele. Estaria empacado, certo que estava certo, e ela não — não podia — ceder a ele. Ele a deixava nervosa com essa promessa silenciosa de retaliação que sentia, aquela dureza absoluta que sabia que não retrocederia, mas ele veio contra aquele seu lado que era tão determinado e tão seguro que estava justificada.

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Zacarias, foi capaz de escurecer o céu e emergir antes pôr do sol para salvar Ricco. Estava perto, mas ainda assim era cedo, então deverá ser capaz de fazer de novo. E quando o encontrei naquela manhã... Odiou lembrar daquela manhã. Ele escolheu uma morte honrada e ela interferiu. Ele ficou justamente bravo com ela. Já deveria estar morto, completamente incinerado, o sol havia saído. Acho que está mais resistente do que acredita. Se eu detê-los e meu plano não funcionar, e chegar ao seu lugar de descanso, então estará muito mais forte. Eu a proíbo de se pôr em perigo . Ela suspirou. Não havia como atravessar uma parede de tijolos. Nós teremos que concordar em discordar. Contanto que compreenda que todas as consequências também são sua escolha. Ela estremeceu, piscando para conter as lágrimas quando cometeu o erro de morder o lábio inchado. Está tornando isto pior para mim. Ela precisava dele para se abrigar, permitindo que se concentrasse em enganar DS e Esteban. Era preciso coragem e Zacarias podia minar sua coragem mais rápido que ninguém. Marguarita sentiu em Zacarias a rejeição instintiva de sua avaliação. Lea agarrou seu pulso, a distraindo. Seu olhar desviou para Esteban, quando ele ficou de joelhos, seus braços enrolados numa clássica posição de implorante. — Língua para fora, fiel Fido,— DS riu. Virou-se uma terceira vez, cheirando a maior parte do pó. Esteban gritou e se atirou para a frente, empurrando seu rosto sobre a mesa em desespero. Um único som saiu de Lea, um lamentoso gemido baixo. Ela escondeu o rosto entre as mãos, incapaz de ver seu irmão se humilhar pela droga. Marguarita puxou o bloco de notas do bolso e cuidadosamente rabiscou uma mensagem para Lea. Não podia cair nas mãos de DS ou Esteban. Há um botão de emergência no topo da escada sob o retrato de meu pai. Se puder abrir a porta da frente e pressionar o botão, todos os homens virão correndo. Mas não poderão entrar na casa se a porta não estiver aberta. Marguarita deu uma espiada sorrateiramente para DS, que estava rindo histericamente de Esteban. Ela continuou, escrevendo tão rápido quanto podia, seu corpo cobrindo os movimentos. Não pode apertar o botão para chamar os homens se não puder abrir a porta para eles. Muito perigoso. Ela deslizou o papel virado para cima pelo chão sob a mão de Lea, para que ela pudesse lêlo. Lea espreitou por entre os dedos a nota. Seus olhos se arregalaram e ela balançou a cabeça. Antes que Marguarita pudesse puxar o papel, ela o pegou e colocou na boca. Marguarita sorriu

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para ela. Ficaram presas para sempre naquele momento de amizade e entendimento completo. Podia contar com Lea. Estavam juntas nisto. Viver ou morrer. O riso maníaco de DS parou abruptamente. Marguarita sentiu todos os músculos tensos quando seu olhar focalizou as duas mulheres. — Porque está deitada no chão ? Levante seu traseiro. Se quiser que esta cadela viva pelos próximos cinco minutos, diga-me onde ele está. — Ele atravessou a sala e arrastou Lea para que ficasse de pé, empurrando sua arma contra seu olho esquerdo. Marguarita se esforçou para levantar-se, fingindo puxar-se até a parede, ofegante e apertando as costelas. Ela olhou em volta por ajuda, e depois cedeu quando apertou o cano da arma contra o olho de Lea. Marguarita indicou a cozinha com o queixo, o olhar dela correndo para longe do dele de uma forma intimidada. DS se aproximou dela, pegando-a pelo braço, puxando-a para perto dele. O cheiro da droga escorria de seus poros fazendo com ela quisesse vomitar. Ela se encolhia longe dele, usando seu outro braço como escudo, como se para se proteger da face maltratada. Ele a agarrou com mais força, seus dedos se cravando em sua pele, querendo deixar hematomas, querendo que sentisse sua força. Percebeu como Zacarias gentilmente a tocou, inundou sua mente, trazendo um calor que a abraçou por inteiro. A força de Zacarias era dez vezes maior que a desse homem, no entanto, uma vez que ele descobriu que os humanos eram muito diferente dos Cárpatos, seu cuidado com ela sempre estava em primeiro lugar em sua mente. Mesmo quando era um pouco áspero durante o sexo, marcando seu corpo, levava um tempo aliviando qualquer dor depois que descobria as respostas do seu corpo. DS era um homem que gostava de infligir dor e humilhação aos outros. DS era o monstro que pensava que Zacarias era. Zacarias nunca prolongaria o sofrimento pelo simples prazer de vêlo. Ele distribuía justiça. Erradicava o mal, mas não gostava de seu trabalho. Ele simplesmente fazia o melhor de si. — Esteban, levante sua bunda do chão. Pela primeira vez, Marguarita se permitiu olhar para o irmão de Lea. DS tinha derrubado o pó restante da mesa no chão. Esteban estava ocupado tentando conseguir cada partícula. Seu rosto, quando olhou para cima, estava salpicado de branco. Seu coração doeu por Lea, que fez um som suave de dor. DS ouviu e riu, se divertindo ainda mais. —Sim, Lea, olhe para ele. Seu irmão mais velho, isso é tudo o que importa para ele. Não você. O seguiu por todo o mundo. Sabe o que ele faz? Contrabandeia armas para mim. Trafica mulheres. Crianças. Qualquer coisa que eu peça. Vende sua alma por essa droga. E esta... — Ele balançou Marguarita como se fosse uma boneca de pano. — Ela serve ao diabo. Realmente precisa ter bom senso. Ouça sua voz. Está muito zangado com ela. Obviamente pertence à sociedade que acredita em vampiros e tem como alvo minha família, mas há muito mais que isso.

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O coração de Marguarita saltou. Não sabia que Zacarias ainda estava em sua mente, calmo e cuidadoso, uma presença observando, mas devia saber. Uma vez que estava em perigo, se estava mantendo a ponte entre eles ou não, ele não a deixaria sozinha. Era desse tipo de homem. Sua mente trabalhou rápido para entender o que ele estava dizendo. Lea estava com problemas duplos, talvez mais que Marguarita. DS era fanático por vampiros, mas isso não era tudo sobre Zacarias. DS procurou Esteban por um motivo, o controlava por raiva. Isto era sobre Lea. Ele deve ter tentado com ela no início, antes de tudo isso. Ela tem uma habilidade natural para reconhecer o mal. Provavelmente não está ciente disso, mas resistiria a qualquer avanço, porque seu subconsciente a protegeria. Está atraído pela luz e a inocência e precisa corromper e destruir isto. Ele a quer. Pode usar isso. Ele não vai querer matá-la. Machucá-la — sim — mas não matá-la. Marguarita ficou estarrecida. Não vou colocá-la em perigo. Houve um breve momento de calor deslizando pelo gelo em sua mente. Mulher tola. Quer que ela corra para a porta e a abra para Cesaro e seus homens. Estou dizendo que ele não vai matá-la. Isso devia aliviar sua mente, não fazê-la se sentir culpada. Realmente é uma pequena lunática ilógica. Ela sabia que ele estava tentando distraí-la do medo. O medo paralisava qualquer pessoa, e com DS arrastando-a até a cozinha, seu coração batia, acelerando fora de controle. Ela podia sentir o sabor acobreado de seu próprio sangue em sua boca. Este plano tinha que funcionar. Zacarias a fez se sentir um pouco melhor. Pelo menos não estava furioso com ela, tornando as coisas piores. Ela tropeçou várias vezes, cada pequena demora um segundo que contava em favor de Zacarias. Apontou com muita relutância para a porta do porão com uma mão trêmula. No momento que DS deixou cair seu braço, ela rapidamente tirou seu bloco de notas. Ele vai me matar por essa traição. DS arrancou a bolsa das mãos de Esteban. — Ele vai estar morto quando eu enfiar uma estaca em seu coração, cortar sua cabeça e encher sua boca com alho. —Não pode acreditar que Zacarias De La Cruz está dormindo debaixo da terra, —Lea explodiu. —Está louco ao pensar isso. Marguarita tocou seu pulso e urgentemente balançou a cabeça, mas Lea continuou, sua voz cheia de desprezo. — Ele é um homem, de carne e osso, como nós. Eu o vi. Ele é muito elegante para está dormindo na terra. Ele não tinha presas e sentei-me à mesa com ele para tomar chá e comer bolo. DS reagiu imediatamente, selvagemente, balançando a mochila pesada, batendo a bolsa no estômago de Lea, fazendo ela se dobrar. Lea caiu na parede, batendo a parte de trás de sua

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cabeça. Ela escorregou para o chão. DS chutou seu quadril e cuspiu. Ele agarrou Marguarita por seus longos cabelos e arrastou-a até a porta do porão — Você primeiro, cadela, apenas para o caso de ser uma armadilha. Ela está morta? Poderia dizer? Freneticamente, enquanto abria a porta do porão, ela chamou Zacarias. Ela deveria ter impedido Lea, com mais tenacidade, de insultar DS. Lea não pareceu perceber que ela era o gatilho. Gire sua cabeça Ela sentiu Zacarias movendo-se nela e por um momento sua visão ficou estranha. Ela prendeu a respiração quando DS a puxou e quase a empurrou degraus abaixo. Ela se segurou na parede, acendendo a luz. Os degraus eram estreitos e íngremes. Apenas uma pessoa por vez poderia descer por eles. Ela está viva. Vi seu peito se movendo. O alívio tomou conta dela. Soltou a respiração e começou a descida para o porão. Ela pisava em cada degrau cautelosamente, tentando contar dez segundos entre cada passo, ciente da posição do sol como nunca esteve antes. Havia ainda muito tempo antes de se pôr e permitir que Zacarias tivesse sua liberdade. — Esteban, traga sua irmã aqui em baixo. Se ela se recusar a andar, arraste-a. Esteban riu. — Você é um filho da puta, Dan. — Eu disse a você para nunca me chamar assim, — retrucou DS. Furioso, empurrou Marguarita entre as omoplatas, a fazendo voar escada abaixo. Ela aterrissou de bruços, no chão duro, o vento a nocauteou. DS pisou sobre ela e olhou ao redor com satisfação. O chão era todo de terra. O lugar era frio e escuro, um ambiente perfeito para vampiros. Ele olhou para o relógio antes de tocar Marguarita com a ponta do pé. — Vá para lá, contra a parede, longe da escada. Ela se esforçou para ficar fora de seu alcance, estremecendo quando Lea gritou. Ela se orgulhava por sua amiga não implorar a Esteban. Era evidente que estava perdido para elas. Nas garras da droga e profundamente sob a influência de DS. Lea afundou ao lado dela e se deram às mãos, as dobras da saia da Marguarita escondiam o pequeno ato de amizade. — O que acontecerá quando não encontrar nada, —sussurrou Lea com medo. Marguarita encolheu o ombro impotente. Ela provou o medo em sua boca. Teria que agir para salvar Zacarias. Nunca desistiria dele. Ela não o traiu para o vampiro e não o faria para uma criatura tão suja como DS. Ambos os homens começaram a remover a terra com a pá tão rápido quanto podiam. O solo estava bastante solto na parte superior e fácil no início, mas quando eles chegaram mais fundo, tornou-se mais difícil, ficando duro, quase como cimento.

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— Você vê, Esteban? Este é seu lugar de descanso, ou não seria assim. — Excitação permeava a voz de DS. — É malditamente duro, —Esteban reclamou. — Só continue cavando. Marguarita não sabia que o solo era tão duro e só podia supor que Zacarias usava sua energia para mudar a composição. Não faça isso. Precisará de sua força no caso de eu falhar, ela repreendeu. Sou da terra e a Mãe Terra protege os seus da melhor forma que pode. A resposta enigmática não ajudou muito sua ansiedade. Uma hora e meia se arrastou. Ambos os homens há muito tiraram suas camisas, suando e praguejando. A terra bocejava, aberta como um monstro acenando, o buraco com uns bons seis metros de profundidade. DS enxugou o suor de seu rosto e olhou para Marguarita, seu rosto mais uma vez uma máscara de fúria. — Você mentiu para mim. Esteban gritou, o som estridente e assustado. Apontou para o buraco, se afastando.

CAPÍTULO 17 Ratos. Pequenos ratos cavando a terra. Nas profundezas da terra rica, Zacarias podia ouvir os dois homens afundando suas pás no chão. Raspando. Cortando. Rasgando a terra, cavando, como ratos que eram. O som ecoou através das camadas de terra, se espalhando como uma doença, que rasgava sem fim e dilacerava. Mãe Terra estremeceu com o ataque maligno e ele a sentiu, rodeando-o com os seu braços seguros. Seu corpo estava inerte, mas sua mente corria, tentando descobrir uma maneira de superar a maldição de sua espécie. Nunca em sua vida se sentiu tão completamente indefeso. Tão frustrado. Ele sempre aceitou a fraqueza que era o preço da grande força e poder. A noite pertencia à sua espécie e o dia pertencia aos humanos. Essa era a maneira de seu mundo e era tão uma parte dele como viver de sangue. Em todos aqueles séculos e nunca, nenhuma uma vez protestou contra essa lei, mas era o único em risco. Só ele. Sua vida foi de dever e aceitação. Se o encontrassem antes, pouco teria importava. Mas isto não era sobre ele. Isto era diferente. Tudo era diferente. Sua mulher — sua companheira — estava em perigo e não podia fazer absolutamente nada. Ele não tinha controle sobre a situação. Nenhum controle sobre Marguarita. Sem capacidade de destruir os homens que a ameaçavam. Era forçado a permanecer impotente enquanto ela sofria e era muito mais difícil de suportar que se alguém houvesse martelado uma estaca em seu próprio coração.

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DS colocou as mãos sobre ela — um crime punível com a morte — e ainda fez pior. Bateu nela. Zacarias sentia cada golpe em seu corpo macio. Se permitiu sentir, absorver a dor que experimentava. O ataque pareceu durar uma vida inteira, golpes atingindo seu rosto, seios, e então suas costelas. Os chutes atingiram seus quadris, pernas e braços. A respiração deixou seus pulmões num estouro explosivo, deixando uma ardência desesperada por ar. A fúria o varreu. Uma raiva mais profunda que qualquer coisa que já conheceu. Ele a proibiu de se colocar em tal perigo e ainda assim o desobedeceu. Deliberadamente levou seus inimigos para longe de seu lugar de descanso. Eles cavaram por um longo tempo e podia dizer pela diminuição da velocidade das pás que sua convicção estava começando a minguar. Viravam sua raiva para Marguarita e ele seria incapaz de detê-los. Convocando toda a força que possuía, enviou sua vontade crescente através da terra. — Onde diabos ele está? — DS exigiu, jogando sua pá no chão com ar de desgosto. Ele olhou para Marguarita. — É melhor me dizer, ou, eu juro, vou enterrá-la viva aqui embaixo. Ela lentamente levantou e rabiscou em seu bloco de notas. Eu disse que nunca fica muito tempo. Este é o único lugar que sei que ele fica. DS bateu o papel da mão de Marguarita, agarrou-a e a arrastou em direção à sepultura aberta. Marguarita se jogou longe do buraco e apontou para cima freneticamente. — Vai me levar lá desta vez, ou então, entendeu né? Ele estava com raiva suficiente para enterrá-la viva, podia ver isso. Ela balançou a cabeça freneticamente. Profundamente dentro de sua mente podia ouvir gritos contra o que ela estava prestes a fazer. Agora ou nunca. Ela acabaria com isso, ou morreria tentando. Não. Marguarita, traga-o para mim. Não faça isso. Pela primeira vez, realmente sentiu pânico em Zacarias. Ele jamais entenderia, mas ela sentia que não tinha escolha. Eu te amo. Sinto muito, mas nunca vou desistir de você. Nunca. Nada me induzirá a fazer isto. Por favor, não fique comigo até o fim. — Pare! Pare com isso agora. — Lea se levantou e correu para DS. — Está louco. Absolutamente doido.— Ela se lançou em DS, batendo em suas costas. Esteban riu, afastando-se da cova para se apoiar em sua pá, rindo. — Parece que tem problema com as mulheres, DS. Alguma vez já considerou que não existe tal coisa como um vampiro? DS empurrou Marguarita com força e se virou com raiva para Lea. — Sua maldita cadela. Poderia ter tudo. — Ele agarrou a frente de sua blusa e a rasgou, expondo seus seios. Marguarita arfou e enfiou a mão no bolso, encontrando a presença reconfortante da faca. Não tinha escolha agora. Tão irritado como DS estava, podia estuprar Lea bem na frente deles.

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DS jogou Lea no chão, pisando entre suas pernas abertas, suas mãos soltando o zíper de sua calça jeans. Esteban limpou a boca e se virou para a cova, desviando seu olhar para longe da visão de sua irmã no chão debaixo de um homem que seguramente a estupraria. Ele agarrou sua pá e a afundou profundamente. Mais uma vez a sepultura irrompeu com pequenos corpos balançando, mil deles, derramando do fundo e dos quatro lados. Ele gritou, pulou atrás e jogou a pá. DS se virou quando Esteban cambaleou atrás, gritando para longe do túmulo vazio. Esteban correu em direção às escadas. DS sibilou uma advertência baixa, sua influência sobre Esteban forte o suficiente para impedi-lo, mas não o suficiente para trazê-lo de volta para a beirada do buraco profundo. Marguarita desceu ao lado de Lea e agarrou a mão dela. Ambas as mulheres avançando lentamente atrás, tanto quanto podiam, tentando não chamar a atenção de DS. O choro silencioso de Lea estava em seu ouvido, mas com sua audição aguçada, ouviu outra coisa, um sussurro como se milhares de pernas roçassem a terra. Ela não cometeu nenhum erro, cometeu? Certamente Zacarias diria se mudasse seu lugar de descanso. Preciso saber que está seguro. Por um momento houve silêncio, e ela enfiou o punho na boca para não soluçar. Seus olhos queimavam. Lea colocou a cabeça no ombro de Marguarita procurando conforto, tentando segurar as extremidades de sua blusa rasgada juntas. Assim como preciso saber que está segura. E não está. A ferocidade na voz dele a fez estremecer, mas pelo menos não sentia a iminente sensação de perigo. O que quer que houvesse naquele buraco não era Zacarias. DS se aproximou cautelosamente e olhou abaixo. Onde o solo parecia castanho, antes, agora estava salpicado com pontos pretos. Aranhas rastejando dos lados do buraco, do fundo, e começando a preencher o túmulo enquanto ele olhava com horror. Os corpos se moviam de uma maneira fascinante, as perninhas rastejando umas sobre as outras para chegar ao topo do monte, crescendo mais e mais alto quanto mais aranhas se juntavam. — Ele está aqui, — gritou alegremente DS. — Estamos chegando perto dele. Deve estar usando os insetos para se proteger. — Não vou me aproximar deles,— declarou Esteban. Ele caiu sobre o degrau inferior, mergulhou as mãos trêmulas pelos cabelos. — Parecem famintas e, se saírem desse buraco, vou sair daqui. — Vai fazer o que eu disser. — DS estudou a massa dos corpos. As aranhas emergiam de pequenos buracos nas laterais do túmulo, e começaram a rastejar para cima como se o buscassem. Ele estremeceu e virou para olhar Marguarita e Lea. Marguarita sabia que seu rosto estava pálido. Ela podia ver a cripta horrível de insetos e seu corpo inteiro recuou. Apertou os lábios com

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força, tentando não mostrar que a qualquer momento podia se levantar e correr. Estava mais aterrorizada com as aranhas do que com DS. Ela tentou ser grata por Zacarias tê-las enviado... DS acreditava que este era o seu lugar de descanso. Como tática de adiamento, foi brilhante. Mas ela tinha pavor de aranhas. Fechou os olhos e desejou que todas fossem embora. DS pegou o pulso dela e a puxou para cima. — Agora que sabemos onde ele está, realmente não precisamos de você, não é?— Ele começou a arrastá-la para a beira da sepultura aberta. Ela lutou como um gato selvagem, chutando e esmurrando, ignorando seus punhos quando caíram sobre ela. Ele conseguiu levá-la para o lado do buraco escancarado, mas ela escapou, histérica agora, incapaz de fazer sua mente funcionar. Não podia afundar naquela cova de aranhas. Não iria sobreviver. Seu coração batia tão fora de controle que temia ter um ataque cardíaco. Tenha calma. Não vão machucá-la. Não posso. Não posso fazer isto. Faça elas irem embora. DS a puxou com violência e bateu em seu rosto forte o suficiente para a atordoar. — Vai entrar. Precisamos descobrir se são venenosas, e tenho planos para a pequena Lea. — Ele a pegou e jogou na cova justo quando Lea se jogou, o atacando nas pernas, jogando pela borda para dentro do buraco profundo, junto com Marguarita. Todos três pousaram pesadamente, chapinhando nas aranhas, DS e Lea empurrando Marguarita para o centro do enxame de aranhas que se deslocavam sob o peso dos dois corpos humanos. Marguarita sentiu as horríveis pernas de aranha, milhares delas, rastejando sobre sua pele, no cabelo, sua boca. Ela a abriu para emitir um grito silencioso e as aranhas fervilharam acima dela como se fosse carne fresca. Não conseguia respirar, tinha medo de engolir. Fechou os olhos tão apertados quanto possível, disposta a desmaiar. O toque em seus ouvidos era alto, o grito em sua mente alto e longo, um gemido de puro terror. Sívamet. Respire comigo. As aranhas não vão machucá-la. Confie em mim. Entre em mim e vou mantê-la segura. Frenética, se entregou a ele, seguindo o caminho para sua mente, seu espírito deixando seu corpo para as aranhas e o caos, se entregando aos cuidados de Zacarias. Instantaneamente se sentiu calma, centrada. Quente até. Nem sabia que estava gelada. Ele a cercou com seu ser, segurando-a perto, protegendo-a contra o pesadelo horrível no qual se encontrava presa. Foi o grito de Lea que a trouxe de volta. Seus olhos se abriram enquanto seu espírito corria de volta para seu próprio corpo. Esteban freneticamente empurrava a terra para dentro da cova em cima de todos eles, com a intenção de enterrar as aranhas, indiferente que sua irmã, Marguarita e DS estavam presos lá dentro. Ele empurrava grandes montes de terra pela beirada do buraco tão rápido quanto podia.

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Lea gritou e começou a bater a terra de seus cabelos. DS xingou Esteban e deu um salto, tentando se agarrar na beirada do buraco. Esteban esmagou seus dedos com a pá e continuou a empurrar histericamente sobre todos eles. DS, num acesso de raiva, pegou Lea pelo pescoço e começou a estrangulá-la, cortando seus gritos, sacudindo-a enquanto apertava ainda mais. Marguarita conseguiu ficar de pé, mergulhando a mão no fundo do bolso da saia, retirando a faca. Arremessou a bainha longe, tentando não ver as aranhas rastejando por toda parte, correndo pelo braço dela e grudando em seu cabelo. Ela tropeçou em direção a DS, sentindo as aranhas se esmagando sob seus pés. Seu estômago embrulhou. Terra chovia sobre sua cabeça e ombros. Teve que limpar os olhos para tirar os grãos. Estava totalmente concentrada em DS, focalizando sua visão, sabendo que tinha instantes antes que ele matasse Lea. Ela deu três passos, cortando a distância, sem saber onde mergulhar a lâmina. Estava de costas e nunca considerou ter que matar outro ser humano. Ele é mau. A voz era mortalmente calma. Gotejando cristais de gelo. Ela se aproximou. Os olhos de Lea se arregalaram. Seu rosto estava vermelho escarlate. Os dedos afundavam, cortando o ar. Outra chuva de terra caiu sobre eles, direito sobre suas cabeças e ombros. DS não afrouxou seu aperto nem por um instante. Marguarita respirou fundo. Uma força a invadindo. Golpeou a faca tão forte quanto pôde, usando cada gama de medo que ela tinha para conduzir a lâmina através da pele e músculo, profundamente nos rins de DS. Gire a lâmina. A ordem foi entregue numa voz calma. Pressionando os lábios, fez como Zacarias instruiu. Foi muito mais difícil que pensava que seria, mesmo com tanto poder atravessando seu corpo. Agora puxe-a. Sabia que o sangue derramaria com a remoção da lâmina. Estava matando esse homem. Engolindo em seco, obedeceu. A sensação da lâmina cortando a carne era uma sensação horrível – sabia que nunca esqueceria — mas torcer e depois arrancá-la foi muito pior. Ela recuou, sufocando com a bílis. DS enrijeceu. Seus olhos se arregalaram quando virou a cabeça para olhar para ela. Suas mãos caíram longe da garganta de Lea. Lea escorregou para o chão coberto de aranhas, tossindo, desesperada por ar. DS cambaleou atrás, virando na direção de Marguarita. Estendeu uma mão em sua direção, justo quando Esteban jogou outra pá de terra sobre eles. Marguarita contornou DS, e puxou o braço de Lea. Tinha que levantá-la. Sabia que se não conseguisse colocar Lea de pé, nunca sairiam da cova. Não teriam chance se a terra as aprisionasse.

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Lea cambaleou aos seus pés no momento exato que DS se sentou abruptamente. Ele olhou para as duas com choque no rosto. Marguarita percebeu que ainda segurava a faca e quase abriu mão dela para largá-la. Mantenha-a . Pode precisar dela. Como as pás de terra jogadas por Esteban podem ajudá-la a sair do buraco. Ela queria isso desesperadamente. DS estava morrendo na frente dela. Aranhas se espalhavam por seu corpo, cobrindo cada centímetro dele, até que não podia ver seu rosto. Era como uma cena de filme de terror. Ela não podia olhar para ele — ou para as aranhas. Olhou para Esteban. Talvez Lea pudesse chegar até ele. Esteban parecia ter a intenção de enterrá-los vivos, enterrar as aranhas. Olhando-o, não achava que existia muita esperança... Ele tinha uma estranha expressão ausente e seus movimentos se tornaram mecânicos. Lea abriu a boca para gritar, tossiu e agarrou sua garganta. Marguarita balançou a cabeça, avisando a ela para ficar em silêncio. Algo estava terrivelmente errado com Esteban. Não parecia como se soubesse o que estava fazendo. Enquanto jogava a terra de volta na cova, descobriu que se ficassem de um lado e permitissem que o monte ficasse cada vez maior, ele criaria uma saída para elas. Ela temia que se Lea o distraísse, podia tentar encontrar uma outra maneira de matá-las. Eventualmente, algumas aranhas abriram caminho para a superfície. Em vez de se dispersarem, se arrastaram para Esteban. Ele não pareceu notar. Enchia sua pá e jogava a terra e voltava por mais como um robô. As aranhas se moviam sobre suas botas e por cima de suas pernas, um fluxo constante delas, silenciosas e sorrateiras, um número crescente dela. Ao lado dela, Lea prendeu a respiração e agarrou o ombro de Marguarita. — Tenho que avisá-lo, — ela sussurrou, as palavras quase inaudíveis. Ela parecia rouca e imediatamente teve outro ataque de tosse. Marguarita balançou a cabeça, temendo que Esteban tentasse atacá-las na cabeça com sua pá. Não podia se imaginar tentando esfaqueá-lo. O corpo de DS tombou, uma ação em câmera lenta que chamou sua atenção, apesar de sua determinação em não olhar. As aranhas pareciam um cobertor em movimento com um segundo fluxo constante saindo do buraco para o enxame de Esteban. Seu estômago balançou, e ela se afastou da visão medonha. Esteban de repente franziu a testa e olhou para si mesmo. As aranhas já estavam se movendo para seu pescoço e rosto. Cada parte de seu corpo estava coberta, sobrecarregada com a enorme massa de pequenos corpos. Centenas de milhares. Ele deixou cair a pá e gritou. No momento que abriu a boca, aranhas fluíram rapidamente correndo por sua garganta, a enchendo, enchendo os olhos e nariz. Esteban caiu para trás, os saltos de sua bota tamborilando na terra. Pare com isso. Tem que parar. Está o matando. É claro que estou. Zacarias ainda estava muito calmo. Acha que eu permitiria alguma vez que tal homem vivesse?

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Ele é irmão de Lea Ela está melhor sem ele. Preciso descansar. Alerte Cesaro. Ele já havia eliminado Esteban de sua mente. Ela sabia que não havia nenhuma utilidade em discutir, mas tentou de qualquer maneira. Não temos o direito de tomar sua vida. Isto é assassinato. Ele tentou matar vocês duas. Permitiu seu amigo batesse tanto em você como em sua irmã e ele teria ficado e permitido que sua irmã — e possivelmente você — fosse estuprada antes de serem assassinadas. Não vou discutir com você. Ele foi embora. Ela sentiu a perda instantaneamente. Depois de estar preenchida por ele, o isolamento, a completa sensação de ficar sozinha era esmagadora. Felizmente, Esteban rolou para fora de sua vista e o contínuo rufar de suas botas caiu no silêncio. As aranhas abandonaram Lea e Marguarita e fluíram para os dois homens, deixando as mulheres um pouco estupefatas e confusas e ligeiramente doentes. — Temos que sair daqui,— disse Lea em sua voz rouca. Lágrimas escorriam pelo seu rosto inchado. — Temos que ajudá-lo. Marguarita limpou o sangue de DS da lâmina e enfiou a faca na bainha, colocando-a em seu bolso por via das dúvidas. Cuspiu para se certificar que nenhuma aranha estava em sua boca e virou a cabeça para baixo e sacudiu os cabelos, passando as mãos pela massa espessa para garantir que saíram de seu cabelo, também. Ela subiu no monte de terra que Esteban fez. Havia uma pequena raiz firmada como um laço logo acima da sua cabeça e ela a puxou experimentalmente. Parecia firme. Ela a agarrou e puxou forte. Lea se moveu e cruzou os dedos para dar a Marguarita um ponto de apoio. Marguarita levantou a cabeça sobre a borda com cautela. O corpo de Esteban, bem como o de DS, eram um cobertor em movimento. Ela engoliu a bílis e encontrou um lugar na beirada do buraco para se agarrar. Foi preciso esforço para se puxar acima. Ela não percebeu o quão fraca estava depois que a adrenalina foi embora. Sentia-se exausta, seu corpo quase muito pesado para se mover. Ela caiu em seu estômago e se arrastou para longe da beirada do buraco, lutando para não chorar. Ela e Lea tinham um longo dia pela frente e um monte de perguntas a responder. Ela matou um homem. Tudo o que queria fazer era chorar. Rastejando de volta para a borda, ela se inclinou para ajudar Lea a sair. Mais uma vez, foi uma luta. Lea estava tão fraca quanto ela. No momento que Lea chegou à superfície, se arrastou até seu irmão, tentando fazer com que as aranhas saíssem do seu rosto. Era óbvio que não estava respirando, mas Marguarita não a impediu. Ela se sentou no degrau e deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto sujo. Lea finalmente afundou-se em seus calcanhares, levantou o rosto para o teto e gritou, um som impotente, desesperado. Ela enterrou o rosto nas mãos e soluçou. Marguarita juntou-se a ela, mas não houve nenhum som e bem no fundo, acrescentou seu próprio grito impotente.

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Nem tinha ideia de quanto tempo ficaram ali, naquele aposento mal iluminado chorando, mas finalmente, foi Lea que se forçou a levantar e foi até Marguarita. Elas permaneceram, segurando-se uma na outra numa tentativa de se confortarem mutuamente antes de Lea se afastar um pouco e enxugar o rosto manchado de terra. — Temos que chamar as autoridades. Marguarita puxou o bloco de notas para fora. Zacarias é a autoridade aqui. Ele voltará em breve. Em uma hora ou assim. Temos que chamar Cesaro. Lea assentiu. Ambas as mulheres subiram a escada, não olharam para trás, ambos ainda com lágrimas escorrendo pelo rosto. Marguarita pressionou o alarme para chamar os homens e abriu a porta totalmente. O ar fresco entrava junto com a luz do sol. Apesar de machucar seus olhos e parecer chamuscar sua pele, ela ergueu seu rosto em direção ao céu e estendeu os braços. Não estava certa se seria capaz de entrar novamente. Ela matou um homem. Cavalos varriam o quintal numa corrida mortal. Julio e Cesaro pararam a poucos centímetros, saltando de seus cavalos, rifles na mão, olhando ambas as mulheres. Lágrimas e sujeira escorriam pelas suas faces. Estavam cobertas de contusões, os olhos inchados, lábios partidos e hematomas arruinando a pele. A blusa de Lea estava rasgada na frente. Havia uma contusão sobre o seio esquerdo. Julio tirou a jaqueta e subiu os degraus de dois em dois para alcançar a varanda, bloqueando o corpo dela dos outros homens se movendo no quintal. — Marguarita, está bem? — Ele exigiu enquanto envolvia Lea em sua jaqueta. Ela balançou a cabeça e deu um passo para seus braços, chorando. Lea pegou o outro ombro, envolvendo os braços em volta de sua cintura, soluçando em uníssono com Marguarita novamente. Cesaro as empurrou além dele, sinalizando a casa aos seus homens. Tocou o ombro de Marguarita. Foi Lea quem respondeu. — Embaixo no porão — Ela engasgou com as palavras. — Estão mortos. Julio a puxou atrás para examinar sua garganta inchada, machucada. — Quem fez isso? Marguarita estava muito feliz que não pudesse falar, deixando Lea contar a história. Recuperando sua compostura, se acomodou na sombra da varanda, agradecida pelos óculos escuros que Cesaro trouxe para ela. Encolheu as pernas e se balançou enquanto Lea contava aos homens tudo o que aconteceu. Lea, é claro, pensava que Zacarias estava longe do rancho e ambos, Cesaro e Julio assentiram, aprovando a forma como se salvaram — e Zacarias — embora Lea não soubesse o que fizeram. —Teremos que trazer as autoridades para falar com o Señor De La Cruz. Ele vai cuidar de tudo, — assegurou Cesaro a Lea. —Ele vai tomar todas as providências necessárias. Marguarita estremeceu. Ela não podia imaginar Zacarias conversando com as autoridades. O mais provável era que falasse e ficariam hipnotizados por sua voz para fazer exatamente o que ele desejava. Ele não teria nenhum escrúpulo em manipular as mentes para acreditar no que desejava

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que acreditassem. Agora, isso não importava para ela. Ela esperou ali até o pôr do sol, os homens correndo de um lado para o outro em torno e o próprio comandante chegando na fazenda De La Cruz numa chamada urgente. Ela soube o momento exato que Zacarias se levantou. Não a tocou em sua mente, não veio a ela para aliviar o terrível isolamento e medo. Quando ela o tocou, porque não podia evitar, não podia parar a necessidade, colocou uma geleira entre eles. Seu calor não pareceu suficiente para penetrar aquele gelo glacial, espesso, duro e impenetrável. Marguarita estremeceu e esfregou as mãos de cima para baixo em seus braços. Estava chegando e estava numa fúria gelada. Ela sentiu um pequeno tremor no chão. No estábulo, os cavalos ficaram inquietos. Acima deles, o céu ficou mais escuro e uma sombra de nuvens chegavam do sul. Um vento soprou folhas e detritos por todo o quintal. Os homens trocaram olhares rápidos e inquietos. O medo tomou conta de seu estômago. Ela sentiu sua raiva carregar o ar até as nuvens escuras se tornarem gigantes que pairavam acima de suas cabeças. O vento leve esfriou, ganhando velocidade, resfriando o ar. Um trovão rolou. Relâmpagos bifurcados dentro das nuvens sombrias, grandes relâmpagos que atiravam em todas as direções, mas nunca chegavam à terra. Ainda assim, todos sentiam aquela carga ominosa e o frio cortante do vento. Sua respiração. Sua mente. Tudo gelo. Turbulenta e tempestuosa, mas a mantinha apertada. Justo quando a tempestade estava controlada, estão chegou Zacarias, caminhando com passos largos até a casa, alto e perigoso, ombros largos e peito poderoso. Chamas de azul gelo brilhavam nos seus olhos negros de meia-noite. Era o homem mais intimidante que já viu, a polícia e trabalhadores de rancho deviam sentir o mesmo. Ficaram em silêncio enquanto ele se aproximava, olhando uns para os outros, inquietos. Carregava o perigo com ele no conjunto de seus ombros, no modo fluido como se movia, no conjunto de sua mandíbula e no gelo em seus olhos. Parecia o que era — um predador perigoso — e da mesma maneira que deixava os animais inquietos, fazia o mesmo com os humanos. Se movia em completo silêncio, e ainda comandava o espaço em volta dele, enchendo-o completamente com seu poder. Apenas olhou para ela. Focalizou. Seu olhar ficou preso. Aquelas chamas glaciais azuis saltaram mais alto, brilhando como safiras escuras de puro gelo. Os homens que se juntavam na frente da casa se afastaram sem uma palavra, abrindo caminho para a varanda da frente — para Marguarita. Sua boca ficou seca e seu estômago deu cambalhotas. Seus dedos encontraram o material da saia e o apertaram em seu punho. Poderia gritar, se pudesse. Ele bloqueou tudo e todos estendendo a mão para ela. Parecia um gesto solícito, mas o conhecia bem. Sua mão tremia na dele, quando ela se levantou, o encarando. Ela queria que a puxasse para seus braços e a abraçasse. Que a confortasse. Mas sua expressão era tão distante quanto seus olhos... Gelo fluía em suas veias e formava uma geleira em sua mente muito grossa para penetrar.

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Estava totalmente focado nela, sentiu sua atenção concentrada como uma lança atravessando seu coração. Para Zacarias, ninguém mais existia. Ele não se importava o mínimo com os homens de pé, como estátuas em seu quintal. Havia apenas Marguarita — e sua desobediência. Sua mão se moveu sobre seu rosto, os dedos roçando cada contusão, seu olho inchado e o lábio rachado. Sua respiração sibilou para fora, uma ameaça, muito lenta, que enviou outro arrepio que deslizou por sua coluna vertebral. Seu coração acelerou e ele ouviu isto, mas não a acalmou. A dor em seu rosto e cabeça diminuía com seu toque — mas o leve toque dos dedos era distante, nada pessoal. O sol chamuscou sua pele. Sua desaprovação por suas ações era como um golpe duro para seu coração. Ela sabia que ele proibiu seus atos e que ficaria com raiva, mas isso era mais que raiva. Sua distância a cortou até os ossos. Assim como sua alma e coração. Estava cuidando dela, mas não havia nenhum conforto em suas ações. Ela engoliu em seco e tentou alcançá-lo. Não podia ficar dentro com os corpos e as aranhas. Era demais. As chamas azuis saltaram, e por um momento seus olhos pareceram brilhar com um fogo estranho, assustador. Os corpos foram removidos e as aranhas se foram. Vá para dentro agora. Vou falar com o comandante. Marguarita se recusava a chorar. Sabia o tempo todo onde estava se metendo e Zacarias se afastou das emoções. Tinha todos os longos séculos de sua existência. Ela o colocou em contato com sentimentos, permitindo tocar neles. Ele sofreu, deitado lá, preso embaixo da Terra enquanto ela estava em perigo. Ela escolheu seu próprio caminho, desobedeceu suas ordens diretas, algo que provavelmente ninguém fazia. Ela tinha dito que se colocava sob seus cuidados, e orgulho e honra se recusavam a deixá-la chorar. Ela acenou com a cabeça e passou por ele, cabeça erguida, afastando-se da multidão, sabendo que pensavam que Zacarias era muito solícito com ela. Zacarias foi para o lado de Lea, dando aquele mesmo leve toque com seus dedos, e suavemente sussurrando, a voz hipnótica, aliviando sua dor um pouco, assim como a dor do espancamento nas mãos de DS. Marguarita podia ouvi-lo garantindo à garota que cuidaria de tudo e que Julio a levaria para casa e cuidaria dela. Em seguida, veio a voz baixa convencendo o comandante de tudo que queria que o homem acreditasse. É claro, o comandante aceitou tudo, meio que se curvando para Zacarias, o bilionário esquivo que tanto se ouvia falar. Teria o direito de se gabar, o conheceu pessoalmente e lenda do De La Cruz só cresceria. Eventualmente todo mundo foi embora e a casa ficou escura e silenciosa. Marguarita foi deixada para enfrentar Zacarias sozinha. Ela o queria lá, e ainda assim estava com muito medo do

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que ele faria. Ele a avisou várias vezes que enfrentaria consequências. Não podia imaginá-lo batendo numa mulher. Simplesmente não era seu estilo. Ele tirou a dor de seu rosto, então não queria que ela sofresse fisicamente, certo? Ela tinha que estar certa. Ela torceu suas mãos. Esperando. Onde estava ele? Era pior esperar no escuro que ele aparecesse e desse sua sentença que não saber. Ela sentou por alguns minutos, o coração batendo forte e o sabor do medo crescendo. Incapaz de ficar parada, foi até a porta aberta e olhou para fora. Ele estava lá, grande como a vida, olhando para a noite. Ele virou a cabeça e olhou para ela. É claro que sabia que ela estava lá. Seus olhos queimando através da tela, queimavam como uma marca em seu coração. Ela recuou, sua mão se movendo defensivamente em sua garganta. As linhas em seu rosto estavam mais profundas que o habitual e sua mandíbula bem definida. Não havia misericórdia naquele sombrio rosto inexpressivo. Sua boca sensual parecia um pouco cruel, e seus olhos não continham nada, nada além de todo aquele azul de flamejante gelo. Ele girou num movimento fluído e rápido, e a alcançou em um segundo. A tela da porta nunca abriu e fechou. Ele parou um momento, segurando seu olhar, bebendo seu terror, sua mente fechada na dela, seu coração e alma distantes — tão distantes que não podia alcançá-las. Este não era o seu Zacarias. Este era o predador. Eu sou ambos, e é hora que aprenda essa lição. Sem preâmbulo, agarrou seu braço, a arrastando para si, seus dentes afundando em seu pescoço. A dor a cortou, mas aos poucos deu lugar a puro calor erótico. Ela lutou por um momento, ainda com medo, sabendo que seu controle deslizava perigosamente. Ela não podia se conectar, ele se recusava a deixá-la entrar, mas estava lá em sua mente, comandando —exigindo que — ela se entregasse a ele. Desta vez, ela temia que estivesse perguntando. O medo crescente não cessou, mesmo quando o calor varreu seu corpo e eles doíam por ele, seu núcleo se aqueceu e chorou por ele. Ele não parou. Não abrandou. Ela se viu afundando naquele lugar, naquele subespaço de sua mente onde Zacarias se tornava seu mundo. Onde havia apenas seu corpo forte e uma força fenomenal, sua necessidade e fome. Era um lugar primitivo, forjado por sua vontade, mais velho que o tempo, onde as leis da selva se aplicavam. No meio de todo aquele calor sensual, um calafrio começou em algum lugar e começou a crescer. Ela estava com frio. Esfriando, como se o gelo em suas veias tivesse despejado nas delas e lentamente se espalhasse ao longo de seu corpo. As pernas dela se transformaram em borracha, muito instáveis, como se ela não pudesse mais se sustentar. Ela se agarrou no pescoço de Zacarias para se ancorar, mas seus braços estavam fracos demais para segurar. Mesmo quando caiu, seu braço a prendeu com ele, a levantando de pé, mas ele não parou. Ela tinha a sensação de flutuar, mas seus olhos se recusavam a abrir. Em pânico, tentou lutar. Pare. É demais. Tem que parar. Eu digo quando for demais.

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Marguarita ouviu o silvo suave da ameaça, a necessidade de dominação e sua vontade de ferro que era implacável. Ela não tinha nenhuma chance de se salvar. Vida ou morte. Viver ou morrer. Cabia a ele. Ela se entregou completamente, sem mais luta, nem mesmo em sua mente. Escolha, então. Ela não tinha mais forças para lutar com ele. Ele estava tirando o sangue de sua vida, como se fosse impossível saciar sua fome. Havia uma vantagem em sua alimentação, ambas sexuais e perigosas, como se tivesse tomado uma decisão que não se afastaria. A determinação nele era tão profunda, tão escura, que não conseguia encontrar uma maneira de alcançá-lo. Eu já fiz. As palavras deviam a tranquilizar, mas enviaram outro tremor através do seu corpo. Foi o jeito como as disse, a geleira de puro frio que escorria como pingentes de sua voz. Ele a levou até o quarto principal e colocou na cama, seu corpo cobrindo o dela, o tempo todo drenando seu sangue precioso. Ela se sentiu desmaiando. Vai ficar comigo. Venha para mim, Marguarita. Agora. Venha para mim. Estava muito cansada, muito fraca, para fazer qualquer coisa senão obedecer. Seu espírito foi para ele que a cercou, segurou com ele quando seu corpo queria escapar para outro mundo que ela não reconhecia. Só então passou a língua nas punções e abriu a camisa para cortar o peito. Você se alimentará. Era um comando absoluto. Ele estava no controle, seu espírito preso ao dele. Sua mão pegou sua nuca, forçando-a a tomar o sangue Cárpato rico e sombrio. Sua boca se movia contra ele. Desta vez, não a afastou do ato. O sangue corria para ela, sua própria essência, apressando-se a fazer seu trabalho, a reclamá-la para sempre, torná-la sua irrevogavelmente. Ela sabia que ele dominava sua mente. Esta era a consequência de suas ações. Sua reivindicação. Ela se esforçava para entender. Ele os prendeu juntos do modo de seu povo. Por que tanta satisfação? Por que mostrar esta particular de dominação? A força estava voltando, mas mantinha seu espírito cativo até que tomasse bastante do seu sangue que considerasse satisfatório. Seu corpo continuou como uma manta quando ele levantou a cabeça e olhou em seus olhos. Ela estava sentindo falta de alguma coisa. Algo importante. Ele parecia muito expectante. Ainda frio e distante, mas alerta e vigilante. Ela tocou os lábios com a língua. O rachado e inchaço haviam desaparecido. Seu rosto não estava ferido, mas havia uma nova, estranha batida em sua cabeça. Não só podia ouvir as batidas do coração, mas as sentia, cada movimento, o sussurrar do sangue, fluxo e refluxo. Uma onda de dor atravessou seu corpo e seu estômago embrulhou.

CAPÍTULO 18

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Marguarita encarou Zacarias com enormes, aterrorizados, acusadores olhos. Parecia muito pálida, seus escuros cabelos de seda espalhados ao redor deles. O que fez? Zacarias mudou seu peso. Estava começando então. Sua conversão. Seu sangue estava trabalhando para mudar seu corpo, remodelar seus órgãos, e trazê-la plenamente para seu mundo. Satisfação marcava as linhas de seu rosto. — Nunca mais serei forçado pela minha própria companheira a ficar deitado indefeso sob o solo, enquanto ela se põe em perigo deliberadamente. Você me desobedeceu pela última vez, Marguarita. Os dentes brancos se viraram para ela, ainda ligeiramente alongados. As chamas em seus olhos piscavam, e a quente massa letal de raiva vulcânica ainda fervia em suas entranhas. Por horas, ficou deitado abaixo da superfície, despojado de todo poder, enquanto ela arriscava sua vida e sua alma. Para quê? Não podia haver uma boa razão suficiente para tal decisão da parte dela. Ele estaria para sempre desonrado. Ela até mesmo sabia a verdade sobre ele. Ela viu seu segredo mais sombrio, que protegeu por séculos — seu legado de escuridão. Seu próprio pai virando vampiro momentos depois da morte de sua mãe. Isso teria acontecido com ele. Se DS conseguisse matá-la, Zacarias teria se elevado como vampiro e eliminado a fazenda inteira. — Que o sol queime você, mulher. — Cuspiu a maldição para ela, quando a fúria batia em suas veias, rompendo o gelo, uma explosão vulcânica. Ele não podia suportar tocá-la. Não podia ficar perto para inalar sua fragrância. Sua mulher. Sua companheira. Traidora. Arriscando tudo por um capricho infantil para provar que era sua igual em força e poder. Arriscando a ele. Arriscando a eles. Arriscando seus irmãos e sua família. Ele se empurrou para fora da cama e caminhou através do quarto, um gato selvagem rondando, letal e ainda muito furioso. A tensão no quarto se expandiu, mas não conseguia encontrar uma maneira de recuperar seu controle glacial. Sua ira queimava seu caminho através da geleira maciça e suas emoções eram uma tempestade furiosa fora de controle. Sempre soube que não entenderia uma mulher moderna. Aceitou que sua companheira nunca viria para ele — nunca o aceitaria como era. Estava mais do que preparado para partir honradamente para a próxima vida. Ela mudou tudo isto, destruiu todos os seus planos e deveria perceber a enormidade do que fez. Não tinha nenhum direito de arriscar sua alma — nunca. Jamais. Não neste ano e não daqui a cem anos. Marguarita se contorcia, com os olhos arregalados, com choque, as mãos voando para seu estômago. Uma onda de desconforto deslizou por sua espinha. Seu olhar saltou para ela. Toda a atenção centrada sobre ela. Claramente, estava com dor. Em todos os seus séculos, nunca viu um humano se transformado. Simplesmente não se associava estreitamente com eles. Seus irmãos já fizeram isso, mas ele nunca se preocupou em perguntar sobre o que acontecia. Três trocas de

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sangue eram necessárias e devia cuidar disto — desde que ela fosse psíquica, o que Marguarita claramente era. A apreensão deu um nó na boca de seu estômago. Certamente nada podia dar errado. Ele tinha sangue poderoso, mas a escuridão era profunda nele. Sombras se infiltraram no quarto escuro, em sua mente, perturbando, provocando possibilidades que não considerou. Se cometeu um erro? — O que está errado?— Ele exigiu. Ela puxou as pernas para cima, rolando para o lado na posição fetal, com o rosto se contorcendo de dor. Ela fechou os olhos, como se a visão dele fosse insuportável. Inesperadamente, uma dor apunhalou seu coração. Ele provou o medo em sua boca. — O que está errado? Quando pergunto a você, quero uma resposta. Ele não podia esperar, não quando começou a se contorcer de dor, as lágrimas escorrendo por seu rosto e seu corpo se retorcendo descontroladamente. Pela primeira vez em sua vida, o pânico tomou conta dele, uma sensação assustadora. Isso não deveria acontecer. Ele se estendeu para sua mente, precisando sentir o que ela sentia, precisando compartilhar sua própria pele, saber o que estava acontecendo com ela. Ele a alcançou, mas bateu contra uma parede. Ela o rejeitava. Rejeitava a ele. Sua companheira. Sua mulher. Não apenas o desobedecia, abrindo caminho para o desastre total, mas agora, estava se recusando ao seu mais íntimo caminho privado. Ela o deixou de fora e, julgando pela força dessa porta, precisaria de um aríete para abri-la. Ela tinha uma barreira natural, sabia disso, mas sempre o deixou passar. Agora, com seu sangue fluindo em suas veias, o escudo era ainda mais forte do que foi. Tinha ficado com medo de a danificar antes, e agora, se destruísse aquela barreira, não tinha ideia do que aconteceria com ela. E a única maneira dela deixá-lo entrar era se a derrubasse. — Deixe-me entrar. Ela não respondeu, teimosamente puxou os joelhos ao peito, balançando seu corpo, seu cabelo caindo em torno de seu rosto, o deixando do lado de fora. Ela estava com dor — isso era mais que evidente. Ele atravessou o quarto imediatamente, se aproximando até colocar a mão em seu estômago. Havia mais que uma maneira de obter as informações que procurava. Ela respirou profundamente estremecendo, como se a dor estivesse diminuindo e virou a cabeça, seus olhos escuros olhando para ele. Fios de cabelo caíram sobre seu rosto, agora úmido de suor. Seu corpo estava revestido com um bonito brilho. Quando a palma de sua mão e dedos entraram em contato com a pele dela, ela estremeceu e tentou dar um tapa em seu braço. Fique longe de mim. E quero dizer isto. Não quero você aqui. Marguarita não podia acreditar que ele faria isso com ela. Todos, tudo que conhecia — mesmo os cavalos — viam o monstro que ele era para todo mundo, menos ela. Era indiferente, um predador sombrio e perigoso com nenhum sentimento real. Tudo que acreditava sobre ele era uma fantasia. Ele quebrou seu coração, e não tinha mais nada além do orgulho. Não podia

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suportar olhar para ele e não o deixaria entrar em sua mente — nunca mais iria compartilhá-la de boa vontade com ele. Teria que tomar o que quisesse. A dor de seu coração despedaçado era muito pior que a dor física que impingiu a ela. Zacarias ficou chocado. Não esperava essa rejeição absoluta, mas ela o impediu de entrar em sua mente, e agora achava que podia mantê-lo longe de seu corpo. Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, viu a próxima onda crescendo, varrendo seu corpo, cada músculo rígido, a respiração saindo de seus pulmões. Seus olhos se arregalaram, vidrados pela dor. Suas costas arquearam, em seguida, se curvaram, seu corpo convulsionando, quase jogado para fora da cama. Ele a pegou, segurou firme, com medo que se machucasse mais. Suas mãos deslizaram sobre sua pele, agora ardendo em febre. Cada órgão torcia e ameaçava explodir dentro dela. Sua pele estava tão quente que ele quase afastou sua mão. Ele tentou enviar calor de cura através de sua pele, mas pareceu piorar as coisas. Seu corpo estremeceu quase numa posição sentada, os dentes apertados quase como se estivesse em rigor mortis, antes dela bater de volta contra o colchão. Sua respiração saiu num protesto silencioso, mesmo quando ele sentiu a onda recuando. No momento que seu olhar focou nele, ela se jogou para longe dele, para fora da cama, a colocando entre eles. Ela tentou se arrastar para longe dele, seu corpo brilhando de suor, o cabelo emaranhado na parte de trás do pescoço e pelas costas. Fraca, caiu de bruços. Zacarias estava sobre ela num instante, seu coração batendo tão rápido quanto o dela, com muito medo por ela agora. Tinha que descobrir o que estava errado e como ajudá-la. — Deixe-me ajudar, Marguarita.— Apesar do seu medo por ela, mantinha sua voz suave. Sua mão agarrou seu tornozelo. Marguarita o chutou com força com seu outro pé e ficou de gatinhas para escapar. — Pare com isso. Não quero ter que forçar sua obediência. — Seu medo crescia com o pensamento de perdê-la. Algo estava terrivelmente errado e precisava consertar. Por que não? Ela se virou, com o rosto molhado de suor e pequenas gotas vermelhas. Seus olhos mostravam acusação e mágoa. Estava tão errada sobre você. Você é exatamente o que me disse — um monstro. E suas palavras de ligação são uma mentira. Você mentiu. Elas não significam nada. Marguarita mal podia respirar, presa entre a dor e a dissolução. Amou aquelas palavras que ele sussurrou para ela, as palavras de ligação, ele disse. Ele se casou com ela ao modo de seu povo, com palavras como carinho, coração e alma. Coisas ditas como sempre ao meu cuidado. Ele roubou seu coração com aqueles vislumbres de um homem que desesperadamente precisava de salvação, e aquelas ternas palavras incríveis que de alguma forma os uniram. Não há cuidado. Certamente nada como amar. Pegue suas palavras vazias e as guarde. Eu não as quero. Zacarias recuperou o fôlego, sua acusação o rasgando, juntamente com a visão de suas lágrimas, listradas de cor de rosa. Agora mesmo nada importava para ele mais que sua condição

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física. Ele tinha que encontrar uma maneira de ajudá-la. Ele se concentrou em encontrar um caminho através da barreira em sua mente. — Marguarita, — ele se armou com sua voz baixa, suavemente aveludada, na fronteira com o hipnótico. —Poderia estar em apuros, sívamet. Tem que me deixar entrar para ver o que está acontecendo. Vá embora e me deixe em paz com isso. Posso passar por isso sozinha. Não quero nada a ver com... Ela se interrompeu abruptamente. Seus olhos se arregalaram e sua boca escancarou num grito silencioso. Horror se espalhou por seu rosto. Seu estômago parecia vivo, ondulando, contraindo os músculos dos braços e pernas em nós. Zacarias chegou até ela novamente, a necessidade nele agora beirando a insanidade total. O que estava errado? O que estava acontecendo de errado? Isso não fazia sentido para ele. Claramente ela estava em agonia. Ela não tinha controle, seu corpo lutando para expulsar as toxinas, lutando para reformular órgãos e mudar seu corpo de humano para Cárpato. Ele estava certo que se pudesse compartilhar sua mente, assumiria a dor, mas mesmo no auge da onda, nunca sua barreira contra ele vacilou. Precisava de outra maneira sem machucá-la. Esperar a onda de dor passar foi uma agonia para ele. Ele respirava por ela, tentando tirar do ar o suficiente para ambos. Ele notou que cada onda durava mais tempo e parecia mais dura. Esperou até que pudesse ver o reconhecimento em seus olhos antes que tentasse novamente. — Marguarita. Não pode continuar desta maneira. A situação está piorando. Deixe-me entrar e eu posso tirar a dor. O temperamento ardia em seus olhos. Não quero sua ajuda. Prefiro sofrer. Não quero esquecer, nunca quero esquecer esta sua lição. Ele precisava que ela continuasse falando. A comunicação telepática era direta de sua mente até a dele. Encontrou seu fio e usando um toque muito delicado, teceu seu fio ao dela. — Isso não foi uma lição, Marguarita. Sabia que eu a traria para meu mundo. Isto é a consequência. Para proteger a nós dois. Para proteger meus irmãos de ter que me caçar. Para proteger sua família aqui de um monstro diferente de qualquer outro. Eu posso fazer isso sozinha. Pode dizer que não é um castigo, mas quis que isso fosse dessa maneira. Ele empurrou as duas mãos pelos cabelos. — Sabia que eu a traria para meu mundo e consentiu, — ele reiterou, mantendo a voz muito baixa, quase prendendo a respiração enquanto com cuidado e muito suavemente envolvia mais de si mesmo em torno desse fiozinho que ela usava para acessar sua mente. Pensei que ia me apresentar com amor e carinho, não de tal maneira, fria e sem sentimentos. Não com tanta dor. Ela engasgou novamente, com as mãos voando para seu estômago. Não quero você. Vá embora.

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Mais uma vez ela rolou, se esforçando para ficar nas suas mãos e joelhos. O vômito foi explosivo, terrivelmente doloroso quando expulsou todas as toxinas do seu corpo. Seu corpo convulsionou novamente, se contorcendo, levando-a para a frente até que bateu na parede, e rolou novamente, puxando as pernas até a barriga. Horrorizada com sua falta de controle, ela escondeu o rosto nas mãos quando percebeu a sujeira por toda parte. Por favor, vá embora. Sua tenacidade no fio entre eles crescia mais forte a cada contato. Era apenas uma questão de tempo antes que pudesse deslizar em sua mente e assumir o controle sem seu consentimento. — Esqueceu o que aconteceria se fosse morta, Marguarita? — Ele fez a pergunta na mesma voz baixa. — Sabia do meu legado. Descobriu um segredo que poucos tem conhecimento, meu segredo mais sombrio, e ainda assim persistiu em sua desobediência. Ele não conseguia evitar que a dor da traição subisse. Fez todo o esforço para não senti-la, se distanciando mais uma vez de toda a emoção avassaladora, mas agora que a barreira foi perfurada, era incapaz de conter a maré. Não se importava o mínimo com o resto do mundo. Para ele, tudo e todos ainda estavam separados dele, perdidos para ele, a menos que pudesse sentir através dela. Mas Marguarita era diferente. Ele a via completamente, as cores vívidas. A sentia e através dela, suas emoções, tudo perdido para ele por todos aqueles séculos — tanto bons como ruins. Ela se tornou seu mundo e acreditou nela. Acreditou em si mesmo por causa dela — pela primeira vez, pensando que podia realmente viver com alguém. Ele viveu séculos sozinho na honra e ainda, com uma única decisão, ela podia ter destruído e anulado tudo que ele já fez — tudo que era. Não se lembrava de seu pai como o homem que o criou e moldou sua vida. Lembrava dele apenas como um não-morto, vampiro cruel que mataria seus próprios filhos. Marguarita faria que ele fosse aquela mesma memória — aqueles que teriam que caçar e matar. Era mais que possível que fosse assassinado por seus próprios irmãos. Um único som de desespero escapou de sua garganta. Ele passou uma mão no rosto como se pudesse remover o conhecimento de sua traição muito facilmente. Apenas me deixe. Havia cansaço em sua voz. Ela estava se debilitando, a luta entre humana e cárpato cobrando seu preço. Mas, mesmo com sua lembrança, ela parecia não entender o quão terrível sua traição foi. Ele não podia se dar ao luxo de pensar em si mesmo agora. Ela estava em apuros e ele queria — não, precisava — aliviar a mudança. Este episódio terrível, traumático não podia continuar. — Sabe que não posso. — Silenciosamente, quis que ela respondesse. Cada vez que o fazia, abria a mente um pouco mais, dando-lhe a oportunidade de segurar o fio que permitiria assumir o controle sem prejudicá-la.

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Estou muito cansada para discutir. Faça o que quiser. O que quero, obviamente, não importa para você. O cansaço em sua voz o alarmou. Se sabia uma coisa sobre ela com certeza, era que era um lutadora. Naquele momento, sentiu que ela desistia de sua vida, dele, de tudo isso. Estava disposta a desistir de tudo para escapar. Ele estava tão concentrado nela que viu uma onda se aproximando quase antes dela mesmo. Desta vez era ainda mais intensa. Mãos invisíveis a pegaram e jogaram abaixo como uma boneca de pano. Ela caiu de costas, com as mãos voando para a garganta. Zacarias teve que segurar seu corpo se contorcendo e a virando para impedi-la de sufocar. Zacarias não podia persuadi-la, ou suplicar mais. Precisava que isso parasse, quase mais do que ela. Ondeando as mãos, removeu todos os vestígios de vômito e toxinas que seu corpo expulsou do chão. Uma brisa limpou o quarto de todos os cheiros. Velas surgiram, trazendo a fragrância suave de lavanda pela casa inteira. Em desespero, assumiu o controle, atrás daqueles fios em sua mente. O completo caos reinava. Medo no lugar mais alto. Mágoa. Seu sentimento de traição era tão forte quanto o dele. Sua motivação para desobedecê-lo não tinha nada a ver com igualdade, ou afirmar sua independência. Em parte, era um voto impresso desde seu nascimento, o vínculo de companheira e seu próprio caráter se recusando a permitir que colocasse sua vida em perigo. Ela desobedeceu por amor a ele. Zacarias gemeu em voz alta, tentando compreender a enormidade do que isso significava. Ele ainda não compreendia verdadeiramente aquela emoção. Ele sentiu isto há muito tempo — muito tempo atrás — mas a emoção estava tão longe que deixou de ser reconhecida pelo que era. Marguarita sabia como amar. Ela entregou a si mesma aos seus cuidados, confiando nele para fazer a melhor coisa por ela. O amor dela o envolvia. Inundava. Levantava. Mais uma vez, o calor fluiu através do gelo de seu corpo e mente, encontrando as sombras, construindo pontes onde as conexões deveriam estar. Ele a sentiu dentro de si — onde pertencia — cimentando-os juntos com seu amor. Com a essência do que era ela. Ela tomou uma decisão errada ao se recusar a obedecê-lo, sim, mas não entendeu a magnitude da repercussão. Ele poderia dizer a ela, mas seu conhecimento não era o mesmo que o dele. Ele sabia que o mal caminhava no mundo, sabia o que podia e fazia, ele o combateu durante séculos. Ela foi criada num ambiente de amor onde os vampiros eram lendas. Sim, enfrentou um, e teve a coragem para desafiá-lo, mas nunca viu realmente a destruição que podiam causar em grande escala. Zacarias não tinha tempo para examinar as revelações em sua mente. O preço terrível em seu corpo devia ser interrompido. Ele afastou todos os pensamentos de si mesmo e suas próprias reações à maneira como sua mente trabalhava, a profundidade de sua capacidade de dar e sentir.

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Isso não importava... Só parar a dor esmagadora. Ele saiu de seu corpo, fluindo como puro espírito para o dela, usando esse segmento delicado para encontrar seu caminho. Assim como em sua mente, o caos reinava em seu corpo. Podia ver claramente o que estava acontecendo, a reforma de seu corpo, as mudanças que ocorriam para que ela se transformasse em Cárpata. Deveria ter percebido que seria uma experiência de quase-morte, ela teria que morrer como humana para renascer como Cárpata. E ela estava lutando contra isto. Se recusando. Isto, também, era inesperado. Ele não veio confortá-la quando ela precisou disto. Ele aumentou o trauma, ao invés acolhêla em seus braços e a segurar. Ela o rejeitou e seus modos tão duramente agora quando ele se agarrava a eles. Ela fechou o acesso à sua mente deliberadamente, sabendo que sofreria, mas não querendo sua ajuda em sua passagem. Não mais querendo seu conforto ou a ele. Ele pensou que ela era uma lunática por vê-lo como qualquer coisa, exceto um predador perigoso, há muito tempo nas sombras, sua alma já enegrecida, furada com um milhão de pequenos buracos que era impossível de reparar. E, ainda assim, ela viu além das sombras escuras, o homem se agarrando à vida em algum lugar nas extremidades. Perdido. Estava tão perdido. Ele não sabia nada além de caçar e matar. Ela era a única a se entregar livremente a ele, confiando que honraria seu voto ritual obrigatório. Zacarias convocou sua energia até que era todo poder e luz de cura. A reformulação dos órgãos podia ser acelerada, mas a única maneira de parar a dor era a tomando para ele, tanto quanto pudesse. Compartilhar com ela. Senti-la com ela. Ela resistiu. Ele sabia que o faria, mas estava fraca, ele era forte e seu sangue atendia seu chamado. — Descanse o máximo possível entre as ondas — disse ele suavemente quando a dor diminuiu em seu corpo. Ele manteve esse vínculo, sua ligação com ela. Ela suspirou e virou a cabeça para longe dele quando a ergueu em seus braços do chão. O quarto cheirava a limpo, o odor de lavanda e camomila se movendo ao redor deles. A cama tinha lençóis frescos cheirando levemente. Ele a colocou no centro exato e se deitou ao lado dela, prendendo seus braços ao corpo dela a ancorar. — Sei que não quer minha ajuda para atravessar isto, Marguarita,—ele disse suavemente, tirando o cabelo úmido de seu rosto. Seus cílios espessos eram um negro gritante contra a pele branca, quase translúcida. Ela estremeceu continuamente, incontrolavelmente. Até mesmo seus dentes batiam. — Mas preciso. Sei que neste exato momento não pode entender, mas não tenho escolha. O pensamento acabava de sair da sua boca antes da revelação seguinte. Seria possível? Talvez Marguarita não tivesse nenhuma escolha, também. Que o amor que sentia, tão forte, tão profundo, compartilhando partes que não podia nem ver ou tocar sem ela pudesse ter feito seu vínculo muito mais profundo que percebeu. Ela estava nele. Sua mente, sim, mas ela tocava sua alma. Ela via coisas que ele não via. E aqueles traços que invocava tinham que estar lá ou ela não poderia sentir a emoção tão forte por ele.

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Ela virou a cabeça na direção dele. Seus cílios tremularam e ela olhou diretamente em seus olhos. O impacto de seu olhar o atingiu como um soco. Ele já podia ver a mudança em seus olhos, a cor mais profunda e mais rica. Antes que pudesse falar, seus olhos se arregalaram.Ele sentiu uma onda quando esta a consumiu, mais rápido e mais forte, um choque para seu corpo passou séculos desde que reconheceu uma dor real. A sensação de mil facas apunhalavam o interior de seu corpo, penetrando e cortando tudo enquanto queimavam por meio dele. Suas entranhas pareciam retalhadas, desfiadas e entrelaçadas, amarradas com nós rígidos. A respiração deixou seu corpo e o soco veio, uma onda como um aríete, batendo por meio dele. Seu crânio subitamente era pequeno demais para seu cérebro, uma explosão de estilhaços explodindo em sua cabeça enviando ondas de choque através de seu corpo. Ao lado dele, o corpo de Marguarita convulsionou. Ele a segurou com ele, pele a pele, compartilhando a agonia, passando por cima disto com ela, seu corpo suando gotas minúsculas de sangue que salpicavam sobre seu corpo. Ele não sabia. Como podia sequer perguntar aos seus irmãos? Cada um deles compartilhou a informação, disse um ao outro o quão ruim a conversão poderia ser? —Isto está acabando, sívamet, —ele sussurrou. Ao compartilhar a dor com ela, pelo menos diminuiu a violência dos ataques. —Tente respirar uniformemente. Seu coração está batendo muito rápido. Deixe seu corpo seguir o ritmo do meu. Deliberadamente combinou o frenético e acelerado de seu coração ao dele, a respiração ofegante, áspera de seu corpo, e muito lentamente, segurando-a com ele, começou a diminuir a velocidade. Seu olhar se agarrou a ele. Seu coração palpitou por um momento. Ela parecia derrotada, nada como o Marguarita que saiu sozinha para uma floresta chuvosa à noite com um predador a perseguindo. Marguarita que sorria para ele quando estava no seu pior. Marguarita. Ele sussurrou o nome dela, a segurando próxima dele, dentro de sua mente. Ela não lutou contra ele desta vez, extremamente fraca para dar muito sentido ao que estava acontecendo com ela. Estava lá ao lado dela e ouvia a chuva caindo no telhado, amplificando o som o suficiente para que pudesse ouvir o som suave através do rugido em sua cabeça. Deliberadamente, acrescentou pequenas rajadas de brisa para mudar o padrão do som contra as janelas e paredes. Ao lado dele, Marguarita lentamente relaxou, a tensão aliviando as dores, os músculos rígidos o suficiente para permitir que respirasse a mistura calmante de lavanda e camomila. Não lutou com ele novamente e Zacarias notou que o nó terrível no seu intestino se aliviava também. Ele acariciou seus cabelos numa suave carícia e murmurou uma tolice em seu próprio idioma. Ou talvez não fosse tolice, talvez atingisse aquelas sensações estranhas que viviam profundamente dentro dele, aquelas que sabiam que não podiam perdê-la, não para o fardo de sua alma, mas para a emoção avassaladora que brotava como um tsunami que não podia parar.

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Ela não podia saber o que ele estava dizendo, ele mal sabia. Mas quando a próxima onda golpeou, ela virou a cabeça e olhou para ele, se concentrando nele, ao invés de se afastar. Seus olhos se arregalaram, vidrados, quando a dor bateu. Desta vez, Zacarias estava preparado e sabia exatamente como tirar a maior parte dela. Seu corpo estava limpo de todas as toxinas e a caminho de se tornar completamente Cárpato. Quando a dor diminuiu, ele percebeu que seria seguro colocá-la na terra curativa. —Posso fazê-la dormir, Marguarita. Quando acordar vai sentir fome e necessidade de sangue, mas não sentirá dor. Seu olhar saltou para palma da sua mão quando limpou os pequenos pontos de sangue de sua testa. — Vai despertar totalmente Cárpata. Sua língua tocou seu lábio seco, na tentativa de umedecê-lo. Não importa. Só quero acabar com isso. Detestava a derrota nela. Marguarita era o fogo de seu gelo, não exteriormente, não no sentido de temperamento e escolhendo brigas, de fato, exatamente o oposto. Mas era apaixonada pelo que acreditava e quem e o que amava. Se entregava completamente a tudo que fazia, da mesma maneira que se entregou completamente a ele. Estava cansada, seu corpo e mente esgotados. Não podia culpá-la. Ele se sentia torcido e não sofreu como ela. — Não quero que pense que estou fazendo qualquer outra coisa sem seu conhecimento. — Ele esperou, mas não respondeu. — Vou comandar seu primeiro sono, e depois disso, seu corpo assumirá o comando e dormirá sozinho quando você comandar. Tem meu sangue correndo em suas veias. É sangue antigo, muito poderoso e vai aprender rapidamente a exercer esse poder. — Tinha que se apressar antes que a próxima onda crescente viesse. —Sabe que a Terra rejuvenescerá você. — Ele fez uma declaração. Os cílios dela tremularam e o medo penetrou em seus olhos, mas balançou a cabeça. O que faço se me encontrar presa debaixo da terra? Ele roçou outra carícia no cabelo dela, mais porque precisava tocá-la do que porque estava em seu rosto. — Você vai se mover. Comandar. Imagine o solo em sua mente, fazendo o que deseja. Pode demorar algumas vezes, mas se não entrar em pânico e pensar como um humana, que está enterrada viva, então vai ficar bem. Seu coração acelerou quando usou a frase, enterrada viva, mas ela balançou a cabeça. — Estarei com você para facilitar seu caminho,— ele assegurou. Está vindo. Ela não suplicou para levá-la embora. Não perguntou, nem pediu. Marguarita deixou claro, mesmo em seu estado esgotado, que não pediria nada a ele. Ele sentiu a ondulação da mesma maneira que ela, e assumiu o comando imediatamente, exigindo que dormisse profundamente o sono curador, o sono rejuvenescedor de seu povo. Os

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Cárpatos detinham seus corações e pulmões, e pareciam mortos enquanto a Mãe Terra usava seus ricos nutrientes e minerais para ajudá-los na plena recuperação e força. Ele parou o coração e os pulmões de Marguarita tão delicadamente como possível. Ele a levantou nos braços, embalando suavemente contra o peito, os olhos em chamas e seu coração em pedaços. Ela estava mole, seus longos cabelos caindo para um lado, revelando a curva do seu rosto e seus longos cílios. Parecia tão jovem e inocente, uma mulher bonita, devastada pela conversão, desiludida com o homem que jurou cuidar e protegê-la. Zacarias a levou através da casa para o quarto principal, ondeando a mão para tirar a cama do caminho. O tapete tecido à mão a seguiu e o chão abriu para a câmara de dormir nas profundezas da estrutura. Outro aceno de mão abriu o solo, quase um barro preto rico em minerais. Ele sentiu a terra a agasalhando, quando ele flutuou ambos para baixo naquele casulo morno. Muito gentilmente ele a deitou, cuidadoso com seu cabelo, se inclinando para roçar sua boca sobre a dela. Ela não sentiria — não saberia o quão tolo estava agindo quando estava num sono profundo, mas ele se sentiu livre para deslizar seus dedos para baixo do braço até a mão dela. Entrelaçou seus dedos com os dela, a ternura brotando inesperadamente. Ele podia tê-la perdido? Ela se afastou dele. O rejeitou. Doeu. Puro e simples, sua rejeição era total, quando mais precisava dele. Ela preferiu sofrer que permitir que entrasse em sua mente, fundindo seus espíritos. Sua recusa a entrar no mundo moderno poderia ter custado tudo. Ele afundou ao lado dela, com os olhos em chamas, o peito doendo. Manteve a posse de sua mão, seus dedos acariciando os dela. Ele tinha tudo em Marguarita. Ela ofereceu um mundo que mal podia imaginar, e muito menos desejar. Ele não sabia o quanto ele quis isto. Não seu povo, nem os amigos sabiam. Era um solitário, mas podia tolerar os outros por causa dela. Deveria ter prestado atenção no que as palavras ritual significavam. Sua felicidade. Seus cuidados. Era um homem confiante por uma razão. Não podia empurrar sua responsabilidade para Marguarita. Se esperava que ela o seguisse, precisava colocar a culpa onde pertencia. Nada disso aconteceria se tivesse tomado o sangue de Solange, quando foi oferecido. Não queria ter nada a ver com o novo mundo e suas formas modernas. Queria ficar onde estava confortável. Não teria havido nenhuma questão em assumir o comando da situação e proteger sua companheira. Ele não tinha as ferramentas disponíveis por causa de pura teimosia. Ele gemeu e balançou a cabeça. Tinha os meios adequados à sua frente para oferecer à sua mulher proteção e felicidade, mas era muito arrogante, muito cheio de seu orgulho e honra para aproveitar os presentes entregues a ele. Não mais. Era um lutador. Isso era quem ele era e Marguarita Fernandez era uma mulher por quem valia a pena lutar. Era o único que feito para caminhar ao lado dela. Zacarias levou seus dedos à boca e beijou sua mão, pequenos beijos de borboleta, seu coração doendo por eles dois.

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Fique comigo, mica emni kuηenak minan - minha linda lunática. Prometo a você, serei um homem melhor, um melhor companheiro para você. Você se entregou para mim uma vez. Fará isto novamente. Aprendi o que significa amar. E aprecio você. Ele beijou sua mão novamente e respirou fundo, fechou a terra acima dela e deixou a câmara para sair na noite. Seu mundo. Ele pertencia ali. Pela primeira vez sentiu sua afinidade com ele, a forte ligação de sua espécie com a noite em si. As nuvens ofuscavam a meia-lua. A chuva era uma melodia leve, firme e suave, música para ele. Os insetos e rãs forneciam um coro para a sinfonia. Ele faria este mundo de Marguarita também. Mas precisava, pelo menos — para ela — dar alguns passos para o mundo que ela amava. Em sua vida nunca pediu ajuda a qualquer outro. Nem aos seus irmãos, nem àqueles corajosos o suficiente para chamá-lo de amigo. Pedir ajuda era contra seu código, mas por Marguarita, por sua mulher, sabia o que precisava ser feito. Ele saiu da varanda para a noite tropical, ouvindo o conforto familiar das criaturas da noite. Sem Marguarita em sua mente, unindo todas as conexões quebradas e preenchendo todas as sombras escuras, já não via cores, mas a lembrança da emoção era forte nele. Como não podia ser? Ela estava em sua mente, em seu coração, ligado à sua alma, e sentia seu amor por ela, senão qualquer outra coisa. Zacarias enviou seu apelo para a noite. Tenho grande necessidade, Dominic. Venha para mim. É de máxima urgência. Parte dele estava envergonhado por chamar um Cárpato que livremente pensava como amigo. Homens como Dominic e ele não tinham exatamente amigos. Não sabiam exatamente como ter amigos. Zacarias não estava completamente certo do que essa palavra realmente abrangia. Morreria para proteger Dominic, mas esse era seu modo de vida, e não amizade. Devo ir para as Montanhas dos Cárpatos, logo que possível. Temos notícias que devemos levar ao príncipe. A resposta foi fraca, como se estivesse há uma grande distância. Mas pelo menos foi ouvida, o que significava que Dominic estava dentro do alcance que podia encontrá-lo e ainda ficar perto de Marguarita. Encontrarei você. Me dê suas coordenadas. Tenho necessidade de uma troca de sangue. Você está ferido? Havia uma parte dele que não queria dividir que tinha uma companheira. Marguarita era muito importante e temia que todos os inimigos viessem atrás dela se contasse. E tinha muitos inimigos. Fechou os olhos brevemente e se obrigou a confiar. Minha companheira vai despertar com necessidade em alguns dias e será necessário protegê-la a todos os momentos. Já que foi ameaçada por minha recusa ao presente de Solange. Ele sentiu o choque de Dominic até mesmo à grande distância e quase o fez sorrir. Naquele momento, apesar de aceitar que seria sempre diferente, que sem a presença Marguarita nunca sentiria como os outros, quase sentiu diversão verdadeira pela reação de Dominic.

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Esta notícias são — inesperadas — mas bem-vindas. Me dê suas coordenadas. Vou encontrá-lo e espero poder voltar antes desta noite terminar. Ela não pode ser deixada sem proteção. Já tivemos um confronto com Caçadores de vampiros humanos. Se um chegou, há possibilidade de mais. Zacarias estava certo que Ruslan estava na área, mas ele não se mostrou, e os pequenos ataques na fazenda foram apenas sondagens. Era possível que Ruslan planejasse atacar o príncipe, mesmo com seu exército reduzido e os ataques no rancho fossem apenas uma diversão, mas não queria arriscar. Dominic enviou as informações necessárias, e Zacarias se elevou no ar. Vou encontrá-lo, disse Dominic. Meu tempo é muito limitado porque minha mensagem é muito urgente, mas não deve ser mais que algumas horas fora do nosso caminho. Saiba que ainda estamos experimentando, Zacarias, e embora possamos andar sob a luz do sol da manhã e da tarde, tudo depende da posição do sol. Não estamos sem nossas necessidades Cárpatas. Seu corpo ainda ficará inerte quando o sol estiver no seu pico mais alto. Vai ficar assim por várias horas. Ainda estamos vulneráveis e há um grande perigo de ser pego no sol quando experimentamos. Penso que quanto mais perto estamos da virada, menos funcionará. Dominic o estava advertindo, mas Zacarias estava disposto a assumir o risco. Não desejava enfrentar a luz do dia. Faria por Marguarita, e estaria ao seu lado o maior tempo possível, esperando desfrutar de sua felicidade. No momento que ele percebesse que era necessário voltar à terra, ela o acompanharia. Ele nunca seria como os outros Cárpatos, confortável no mundo dos humanos ou Cárpatos. Nunca sentiria como os outros. Seu mundo seria Marguarita, da mesma forma que mundo do seu pai foi sua mãe. Vou ter cuidado e conhecer minhas limitações, Dominic. Meus irmãos estão bem? Preocupados com você. Talvez devesse considerar trazer sua mulher para vê-los. Esperaram muito tempo por este dia. Zacarias sabia que devia fazer isto. Parte dele até mesmo queria o encontro, mas sabia que não seria o que seus irmãos esperavam e realmente não queria desapontá-los. Ele perdeu muito nos longos séculos sozinho. Marguarita o encheu, permitindo explorar suas sensações, permitindo ver as cores, mas agora mesmo, enquanto voava por cima da floresta tropical, tudo era cinza e sem brilho. Cores e emoções não ficavam muito tempo sem ela na mente dele. Seu pai foi incapaz de suportar a ausência após um tempo, então levou sua mãe para a batalha. Agora, Zacarias sabia o quanto foi difícil, especialmente depois que tiveram filhos e não sentia nada por eles a menos que sua companheira estivesse perto o suficiente para se conectar com ele. Zacarias enviou uma oração silenciosa para qualquer poder superior que pudesse estar ouvindo, que tivesse força para resistir em colocar Marguarita em perigo, que sempre mantivesse sua segurança acima de suas próprias necessidades. Nunca me deixe cometer o erro de arriscá-la por minha própria fraqueza.

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Ele fez a longa viagem com Dominic voando em direção a ele, em menos de duas horas, o que significava que teria que voltar para Marguarita ao amanhecer. Se cumprimentaram da maneira formal dos guerreiro Cárpatos, agarrando um ao outro pelo antebraço. — Bur tule ekämet kuntamak — Força, irmão — Zacarias saudou. — Eläsz jeläbam ainaak — uma longa vida na luz —Dominic respondeu, os olhos penetrantes examinando cuidadosamente Zacarias. Zacarias balançou a cabeça. —Não vai ver o que deseja ver. Marguarita me permite ver cores e sentir emoções. Sem ela comigo, estou totalmente sozinho num mundo completamente cinza. — Sabia que em algum lugar perto, a mulher guerreira de Dominic, Solange, estava pronta para defender seu companheiro escolhido. Era uma força a ser reconhecida, e podia sentir os pelos da nuca o alertando do perigo. Dominic suspirou quando baixou os braços e recuou. — Sinto muito, meu amigo. Zacarias deu de ombros. —Ela se tornou o centro do meu universo e aceito e agradeço a oportunidade que nunca imaginei. Por ela, faço isso. Dominic manteve os olhos em Zacarias. — Está disposto a trocar sangue comigo? Caçadores davam sangue quando necessário, mas uma troca significava que um Caçador podia seguir o outro facilmente. A ideia era repulsiva para Zacarias. Era um solitário. Um homem à parte e sua segurança era suprema. Recluso, evasivo, tomava muito cuidado para não deixar nenhum rastro quando não queria ser seguido. Por Marguarita teria que estender essa confiança. Acenou com a cabeça. Dominic sorriu. —Não é necessário.— Ele se virou e acenou para sua companheira. Ela saiu do abrigo, uma mulher letal que não hesitaria em matar se necessário. Parecia feliz em ver Zacarias. Ele já estava sentindo uma sensação estranha rastejando em seu intestino. Precisava voltar — para ficar com ela — Marguarita. Estar completamente sozinho já não era algo que podia suportar. Ele tomou o pulso estendido e mais uma vez bebeu da mulher poderosa. Dominic, também forneceu para ele, dando a ele a mistura de sangue poderoso que passaria para sua mulher. — Já me alimentei de sua mulher antes, Dominic, e ainda assim o sol me queimou. Acha que isso vai funcionar para mim como estou? Dominic encolheu os ombros. — O efeito fica mais forte a cada vez que o sangue é tomado, mas há limites e a única maneira de saber é tentando. Zacarias, tenha uma rede de proteção disponível para você. Seja cauteloso. Zacarias assentiu.

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— Não posso ficar longe dela. Agradeço a ambos. Que o vento conceda uma viagem rápida. — Ele agarrou os antebraços de Dominic com força e saudou Solange antes de tomar o céu mais uma vez. Seu coração disparou. Marguarita. Logo estaria com ela.

CAPÍTULO 19 Ele estava inquieto. Quando um Caçador, como Zacarias De La Cruz estava desconfortável, era um bom momento para sair à procura de problemas, porque deviam estar perto — ou se aproximando. Três noites. Devia ser tempo suficiente para Marguarita se curar completamente. Por três longas noites se deitou ao lado dela, a segurando nos braços, e ainda assim, o mundo estava triste sem ela para encher os espaços vazios dentro dele. Ele estava entorpecido. Completamente só. Quando alguém se acostumava a tal coisa, quando as emoções e as cores enfraqueciam lentamente, era mais fácil aguentar, mas perder isso tudo tão rápido, num momento seu calor o preenchendo, expulsando as sombras, e no próximo completamente só, era muito mais difícil que esperava. Ainda assim, Zacarias se viu medindo os passos durante a noite, onde podia respirar pela informação da noite em vez de acordar Marguarita mais uma vez. A noite estava acabando, mas ainda assim se recusava a levá-la para a superfície. Alguma coisa estava um pouco errada. Não conseguia encontrar o que, não com o vento ou com os insetos. Tudo parecia normal, mas não estava. Sabia que não. Ele desceu da varanda e foi para o quintal, sua visão de caça aguçada agora — à procura de uma pequena discrepância que o alertaria do perigo. Precisava dela. Zacarias De La Cruz que nunca precisou de ninguém em sua vida, precisava de Marguarita. E precisava da alegria dela, se entregando a ele, sua risada, seu calor, seu corpo macio e doce. Estava imaginando coisas, porque estava com medo de encará-la? O medo era uma emoção e sem Marguarita não tinha tais complicações. Não, havia algo aqui, algo não estava certo. Era só uma questão de tempo. Seu corpo continuou em alerta, pronto para qualquer coisa. Seus cavalos pisoteavam inquietos no estábulo. Sentindo falta dela. Como ele sentia falta dela. Ele se afastou do pátio em direção à floresta tropical que delimitava suas terras, atraído por um arrepio desconhecido de alerta, ouvindo a noite. Insetos em coro, as rãs se juntando, o gado mugindo e os cavalos pisoteando. Ainda — existia aquela nota — ou a falta dela. Talvez fosse somente ele. Se sentiu excluído. Algo não estava certo na boca do seu estômago. Preocupação com a segurança Marguarita estava dominando sua mente. As coisas estiveram relativamente quietas no rancho desde que Esteban e DS morreram. Até mesmo Cesaro ficou longe da casa principal. Ele deu sangue cada vez que Zacarias foi até ele e até mesmo parecia um pouco mais à vontade com ele, mas Zacarias não o procurou por companhia, apenas para

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alimento. Ele caminhou em torno da linha da cerca até a parte detrás da propriedade, cada sentido em alerta. Zacarias esquadrinhou a área pelos pontos vazios que podiam indicar que um vampiro estava próximo. Absolutamente tudo parecia em seu lugar, perfeito, perfeito demais. Ele não acreditou. Um ataque era iminente, mas de que direção? Isto era outra sondagem, ou a coisa real? Asas se agitaram nas árvores. Sem mover a cabeça, deixou seu olhar ser levado para a linha espessa de árvores guardando a floresta tropical. Olhos cintilaram de volta para ele. A calma desceu sobre ele como um manto. Expandiu seus sentidos. A coisa era real, então. O constante movimento no dossel anunciava mais e mais o ajuntamento de pássaros. Ele queria levar a luta o mais longe possível da fazenda, não estava disposto a arriscar Marguarita, os trabalhadores ou seus cavalos amados. Estava agradecido que estivesse sob o solo, que ainda não a tivesse trazido para a superfície onde um vampiro podia detectar sua presença. Tanto quanto qualquer um de seus inimigos sabia, não tinha companheira. Ele não sentia as emoções que a maioria dos Caçadores Cárpatos experimentavam uma vez que encontravam a outra metade de sua alma, de modo que a este respeito, tinha tanto de sorte como azar. A falta de emoção o ajudaria em sua batalha. Ele continuou a se mover, usando o mesmo passo largo, sem pressa, muito fluido, sentindo seus músculos afrouxando em preparação. Sua respiração era uniforme, seu coração firme e forte. O vento levantou, o mais sutil dos movimentos. As copas das árvores balançaram um pouco mais, folhas esvoaçantes. Ao longo do chão a grama ondulava em ondas lentas. Este era o lance inicial. A batalha sempre parecia um pouco como uma partida de xadrez para ele. Combate era seu mundo e entendia isso, cada nuance. Zacarias continuou seu passo casual, se aproximando da cerca e das árvores. A floresta tropical parecia calma e escura. A chuva caia de forma constante, gotas suaves que mudaram um pouco quando o vento soprou para longe das árvores e para a fazenda. O terreno inclinado para baixo ligeiramente, a grama um pouco mais perto da linha de cerca. Zacarias caminhou ao longo da cerca, o tempo todo de olho nos pássaros, no escuro da floresta tropical. Mesmo enquanto caminhava, com os braços balançando naturalmente ao lado do seu corpo, as mãos teciam um padrão sem emenda. Ele mal percebeu a chuva. A água fresca gotejando continuamente do céu, das nuvens rolando acima de sua cabeça. Uma gota bateu em seu pescoço e queimou sua pele. Ele se desligou da dor instintivamente, lançando seu escudo tecido sobre sua cabeça enquanto corria em direção à cerca e da floresta para levar a luta para longe de Marguarita. Um dilúvio de pequenas gotas ácidas caía do céu, enquanto o vento se levantava. Seu escudo protegia sua cabeça, mas o vento soprava as gotas que queimavam suas costas e coxas quando correu para a cobertura das arvores. Bolas de fogo atingiram a terra ao seu redor, várias atingindo seu escudo com uma força alarmante. Em cima, uma nuvem escura se agitou numa massa ígnea de linhas vermelhas e laranjas.

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Zacarias deu mais um passo e o chão se abriu numa longa fissura dentada, funda e boquiaberta. Ele caiu dentro, seu escudo caindo longe dele. A chuva ácida e os dardos ígneos o cortaram. A terra estremeceu e se moveu, se fechando. Zacarias se dissolveu em pequenas moléculas, se movendo acelerado em direção ao solo, tentando superar o fechamento da fissura. O ruído dos dois lados da pedra e a terra se unindo foi horrendo, ecoou por quilômetros. Pássaros gritaram e alçaram voo. Grandes predadores dispararam abaixo num frenesi, em busca de presas. O chão se agitou, um tremor estremeceu as fundações do estábulo e da fazenda. Zacarias se levantou no ar. De uma só vez os pássaros gritavam em exaltação, olhos programados para encontrar as pequenas moléculas através da chuva e do vento, mergulhando nelas como se corresse para a superfície da água para mergulhar abaixo por peixes. Zacarias não tinha escolha, a não ser que quisesse ser dilacerado e consumido pelos pássaros. Ele correu em direção a eles, encontrando o ataque, mudando de moléculas para um dragão cuspidor de fogo, algo que raramente fazia, mas agora, precisava livrar o céu dos pássaros predatórios. Ele atirou nas fileiras que atacavam seus lados, dando bicadas como loucos nas gotinhas vermelho rubi que gotejavam dele. O cheiro de sangue aumentou o frenesi dos pássaros. Ele girou e se inclinou lateralmente, indo para cima deles, enviando um jorro de fogo varrendo a massa. Penetrou a noite quando os corpos enegrecidos caíram do céu. As aves restantes iam chegando, se lançando sobre no dragão, centenas que se multiplicaram em milhares, bicando e o rasgando com garras afiadas , cavando através da pele dura para tentar chegar ao Cárpato no interior. O peso dos pássaros jogou o dragão na direção da Terra. Rasgado e ensanguentado, Zacarias explodiu do dragão antes que batesse no chão, a maioria das aves montando na grande carcaça no chão, o rasgando numa espécie de fúria. Chamando para o céu, usou a nuvem agitada de massa vermelho-alaranjado, atraindo-a para baixo para atingir as aves com grandes bolas de fogo. Gritando, as criaturas cruéis tentaram levantar voo para, mas longas lanças e dardos minúsculos de chamas saltavam de uma para a outra até que todas estavam envolvidas em fogo. — Deseja continuar com essa charada boba, Ruslan, — Zacarias chamou quando se estabeleceu na pequena clareira do outro lado da cerca, na floresta tropical em si. Continuou na borda mais profunda sob o dossel das árvores, levando a luta para mais longe de Marguarita. Um trovão chegou como resposta. As nuvens bateram e ferveram. A nuvem negra estourou acima, uma torre de fogo e enxofre se agitando furiosamente no céu. O vento soprava por entre as árvores, mas não movia as nuvens acima. Galhos balançavam, grandes braços chegando quase até o chão da floresta, como se curvando — ou parecendo agarrar alguém com seus dedos ossudos. Uma figura escura, encapuzada emergiu lentamente do tronco de uma grande mafumeira7. Moveu-se lentamente, sem nenhum sinal de pressa. Era o testemunho do poder de um mestre, já 7

A mafumeira (Ceiba pentandra) é uma planta tropical da ordem Malvales e da família Malvaceae (antiga Bombacaceae), nativa do México, América Central e Caraíbas, norte da América do Sul. A planta é conhecida também por algodoeiro. A mafumeira é um símbolo sagrado na mitologia Maia. Os indígenas da Amazônia consideram-na a "mãe-das-árvores". É conhecida como "Árvore da

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que as árvores e terreno circundante não recuaram com sua presença. A natureza não podia suportar a abominação dos não-mortos, mas um verdadeiro mestre era tão adepto da ilusão, que por breves períodos, mesmo a Mãe Terra podia ser enganada. Nem uma folha ou talo de grama secou. A figura era alta, imponente, os ombros largos e andava com total confiança. Entrando no bosque onde o dossel protegia o chão da floresta, ele se desfez do seu capuz. A longa cabeleira era tão negra quanto a noite, o rosto jovem e brutalmente bonito. Sorriu e estendeu a mão para Zacarias. — Filho. Nos encontraremos novamente em circunstâncias mais agradáveis, eu espero. Zacarias fez uma careta. Do que Ruslan estava brincando? Testando para ver se tinha emoções? Se tinha uma companheira? Todos os outros irmão De La Cruz encontraram sua companheira. Ruslan os odiava ainda mais por isso. Acreditava-se superior a todos eles — então por que não podia ter as mulheres? Zacarias e sua família eram indignos de tais coisas. — Eu esperava mais de você, Ruslan. Este truque é velho. Mostre-se e acabe logo com isso. — Pela primeira vez percebeu que não sentir emoção sem Marguarita fundida com ele poderia ser mais que uma maldição. Ruslan não podia pôr em risco o que não sabia. Zacarias ondeou sua mão com verdadeira casualidade, como se aquela imagem perfeita de seu pai não o aborrecesse em nada — e na verdade —não sentia absolutamente nada ao ver o homem que foi seu herói de infância. Seu aceno removeu a ilusão e revelou a verdadeira forma de Ruslan. Por um segundo ficou despido da civilidade, seu corpo apodrecido através de mil larvas rastejando pelo meio dele. Seu rosto estava esburacado, seus olhos afundados e seus dentes enegrecidos e serrilhados, pontudos como pontas de gelo sobressaindo de suas gengivas. No tempo que levou para Zacarias piscar, essa imagem mudou, como se nunca tivesse existido. Ruslan estava diante dele como foi séculos atrás. Jovem. Viril. Seu rosto sem linhas, quase belo, em vez de bonito. Zacarias parecia áspero e mais velho em comparação, as linhas gravadas em seu rosto e algumas cicatrizes cruzando aqui e lá. — Vejo que sua vaidade não mudou em nada, — Zacarias saudou. —Sempre amou seu rosto bonito. Suponho que isto foi metade da razão que escolheu se tornar vampiro. Ruslan colocou atrás seu longo cabelo. — Pelo menos você ainda parece muito feio. Há muito tempo o observo de perto, velho amigo. Se recusa a se juntar a nós e se recusa a morrer. Em todos esses séculos nunca ficou num lugar mais que uma única noite ou na melhor das hipóteses duas. No entanto, permanece aqui. — Ele varreu seu braço em direção à fazenda e o vento mudou seu curso, seguindo sua direção, levando consigo dezenas de pequenas bolas de fogo que choveram em todas as pastagens e estruturas.

Vida" ou a "escada do céu", o seu diâmetro de porte belo e majestoso unido às sapopenbas (raízes), muitas vezes formam verdadeiros compartimentos, transformados em habitações pelos indígenas, caboclos e sertanejos. Ao sobrevoar a região amazônica, qualquer um, mesmo sem conhecer a árvore é capaz de a identificar e captar sua energia. A sua altura, porte e beleza é o destaque na imensidão da flora amazônica.

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Zacarias enviou a chuva num dilúvio rápido, apagando os pequenos incêndios imediatamente. Flexionou os ombros, agora queimados até o osso com mil marcas da chuva ácida e das pequenas bolas de fogo que Ruslan agora estava usando contra o rancho. — Podemos fazer isso a noite toda, mas com certeza não acha que ficaria impressionado com tais jogos infantis? Joguei com seus bonecos, mas não são realmente dignos da minha atenção. Pensei que, finalmente, poderia ter um adversário de mérito. — Você não cura seus ferimentos. Será que havia uma pitada de ansiedade no tom de Ruslan? Zacarias deu de ombros novamente. — Não sinto tais coisas, então por que seria necessário realmente?— Ele observou Ruslan atentamente, observando as narinas do vampiro alargando e sua língua lambendo continuamente os lábios. — Será que o cheiro do meu sangue incomoda você? Ruslan balançou a cabeça. A sacudiu novamente. Muito parecido com um tique que não podia parar. O lamber dos lábios continuou compulsivamente. — Não mais que o cheiro de qualquer sangue para meu consumo. Não se alimentou esta noite. Ofereço meu sangue. — Como é cavalheiro. — Zacarias fez uma pequena reverência num arco curto, zombador. —O que quer, Ruslan? Cansei de seus jogos. Veio pela libertação? Justiça? Ficarei mais que feliz em enviá-lo desta terra se é isso que deseja. — A justiça é uma boa palavra para usar para um traidor de amizade. De fraternidade. Você se uniu a nós e fez uma aliança contra aquele fedelho do príncipe. Ele é pior que seu pai antes dele. —Ruslan cuspiu, a boca cheia de vermes brancos se contorcendo. Zacarias deu de ombros. — O que é então? — Por um longo tempo pensei em ter você junto às nossas fileiras, mas nunca veio. Então enviou um insulto, destruindo meu último exército de marionetes. — Foram apenas peões que enviou para me testar. Esperava que eu os matasse. Bucha de canhão8, Ruslan, nada mais. Sua conspiração tola para matar o príncipe não funcionou. Tinha que saber que testando em mim provaria isso. — Nunca deveria estar lá.— A voz de Ruslan subiu para uma nota mais alta. Sua bela máscara escorregou um pouco. As árvores estremeceram quando ele gritou sua raiva crescente. Mal podia conter sua raiva, seus dedos enrolando em punhos apertados. — Nunca passou nenhum tempo com seus irmãos. Nunca ficou num mesmo lugar. Por quê? Por que mudaria seu padrão depois de tantos séculos? Fez isso só para me irritar? — Você me lisonjeia, Ruslan. Não achei que me desse tanto crédito. Sou um Caçador — nada mais e nada menos .

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(Militar) homens considerados dispensáveis, porque eles fazem parte de um grande exército

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Todo o tempo que falava, Zacarias não se permitiu focar completamente em Ruslan. O vampiro tinha armadilhas à espera de serem lançadas. Observou todos os detalhes, incluindo o vento crescente. Era sutil, mas a grama se curvava só naquele pequeno pedaço na direção dele. As folhas tremularam e tornaram de um cinza estranho quando antes eram de um maçante e lamacento marrom-esverdeado. O vento provocou a terra ao redor de seus pés, agitando as folhas e a vegetação rasteira da floresta. Trepadeiras estranguladoras estremeceram. Flores enroladas nos troncos das árvores perderam as pétalas. Para Zacarias pareciam um cinza esbranquiçado caindo no chão da floresta. — Não me disse por que ficou aqui, velho amigo—, Ruslan persuadiu. —É um comportamento estranho para você. Zacarias deu de ombros, soltando seus músculos. —Um pouco uma lesão, mas nada para se preocupar. Abundância de alimento, enquanto me recupero. Não se preocupe, estou em melhores condições agora. Ruslan estalou a língua. — Isso não foi o relatado para mim. Meus homens têm muito a responder. Me disseram que seus ferimentos ainda são muito graves. — Não acredite em tais contos. Não gostaria que se preocupasse, Ruslan, com seu velho amigo. Sou bem capaz de levar a justiça a todos os não-mortos que caminham nesta terra. Chamas saltaram à vida nos olhos de Ruslan. Ele fez uma careta e uma vez mais aquela máscara bonita deslizou revelando dentes escurecidos, serrilhados e lamacentos retrocedendo as gengivas. Seus dedos tremeram, e em seguida os fechou mais uma vez num punho apertado. O vento arrastou mais dos detritos no chão da floresta. Zacarias sentiu uma picada de dor, e imediatamente a deteve quando alguma coisa grande atravessou sua perna. Olhando para baixo, viu trepadeiras rastejando e se contorcendo juntas, enrolando ao redor e através de sua perna, começando por seu pé e tornozelo. Elas cresceram juntas, e por meio de sua carne, agindo como lanças para tecer dentro e fora de sua perna,fazendo dele uma parte da nova planta. As trepadeiras estavam cobertas de musgo semelhante a escamas com pequenos ganchos. Todas as escamas se agarraram e serpentearam acima e através de sua perna, enganchando em sua carne. Tentou se mover e percebeu que a perna estava segura rapidamente, enquanto a trepadeira crescia através de sua perna o prendendo no lugar. Imediatamente soube que alguma coisa viva estava sendo injetada nele, corpos minúsculos correndo sob sua pele, perfurando músculo e tecido, cavando mais fundo. Ele ignorou a sensação. Era mais que provável que o objeto o enfraquecesse, fizesse sangrar, até que fosse incapaz de combater eficazmente Ruslan enquanto a trepadeira, literalmente, o mantinha no lugar, fazendo dele parte de sua estrutura. O vampiro mestre era muito experiente para desafiá-lo diretamente no mão-a-mão. Trocaria golpes de longe e continuaria seu plano de batalha beliscando Zacarias, se afastando das picadas

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até que estivesse certo que o Caçador era incapaz de se defender. Só então se moveria para matar. A estratégia tinha uma falha. Zacarias era um Caçador voltado para um propósito único. Seu corpo não significava nada para ele. Só matar importava e mataria Ruslan Malinov. Nada mais naquele momento podia concernir a ele. Ignorando a trepadeira enroscando em sua perna, agora quase em sua coxa, levantou suas mãos em direção à floresta e chamou sua própria arma. O vento mudou de volta para Ruslan, uma mudança rápida, dando-lhe pouco tempo para se vangloriar. O céu escureceu ao redor do vampiro quando milhares de pequenas moscas voaram sobre e para Ruslan. Cada buraco podre fornecia uma entrada, sua boca, olhos e narinas. Ilusões não importavam, viam apenas carne podre. Como mísseis minúsculos que torpedeavam profundamente no corpo de Ruslan, se procriando, iam depositando as larvas e se reproduzindo numa taxa rápida. As moscas se multiplicavam mesmo quando atacadas. Ruslan rasgou seu peito, as unhas afiadas cortando seu rosto, dando a Zacarias o tempo necessário para estudar a cultura da trepadeira crescente em sua perna. Era uma armadilha simples, utilizando o que já estava no lugar. As plantas mortas, assim como folhas e vegetação do chão da floresta. A fim de dar vida a elas, Ruslan teve que colocar uma pequena parte de si mesmo naquelas plantas mortas. As folhas no chão da floresta continuavam alimentando as trepadeiras, para que perfurassem através da pele e músculo e fossem ainda mais fundo, até emergir do outro lado. Zacarias deixou seu corpo físico para que seu espírito entrasse em seu corpo. A trepadeira se enroscava pelo seu corpo, apunhalando e furando como uma lança a carne e ossos e se movia em direção a uma coisa — a pequena luz de seu espírito nele. Embora na verdade, sem Marguarita, a luz fosse pequena, estava lá, mantendo sua honra. Os vermes minúsculos que consumiam suas entranhas também eram sustentados por essa luz. Zacarias respirou profundamente e deixou a vida ir. Toda a vida. Parou seu coração por um momento, se recusou a permitir que o ar atravessasse seus pulmões. A planta se soltou imediatamente, mas quando forçou seu corpo a trabalhar de novo, os vermes continuaram a festa. Zacarias era principalmente escuridão. Sombras e manchas, corrompido de uma forma que poucos ou nenhum outro Caçador estava. A escuridão era a mesma que permitia ignorar tais feridas, a dor excruciante. Já fazia parte daquele mundo. Seu pai foi lendário, com incríveis habilidades na batalha, mas era o único dos Cárpatos que Zacarias conheceu que carregava as sombras dentro da sua alma — até que seu filho nasceu. Agora, deliberadamente, Zacarias se agarrou àquelas sombras — as abraçou — se deixou perder toda a luz, aproveitando a escuridão que parecia fazer parte dele para ajudá-lo. No momento que toda a luz dentro dele foi extinta, os vermes começaram a morrer. As sombras eram muito escuras para mantê-los vivos. A planta perdeu sua capacidade de continuar

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crescendo, e com ela solta, Zacarias foi capaz de se desviar dos galhos tecidos exteriormente, deixando as trepadeiras ainda dentro de seu corpo. Tinha de haver uma fonte para trazer as folhas mortas e trepadeiras à vida. Zacarias era um Caçador e cheirava os não-mortos de imediato, uma pequena fatia de Ruslan dando vida à sua criação. Ruslan não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, não enquanto rechaçava o ataque das moscas minúsculas. Levou apenas alguns momentos para matar aquela força escura e assumir o controle da trepadeira dentro de seu corpo. Ignorando o grito de fúria de Ruslan que prometia vingança, Zacarias mudou as moléculas da planta restante, remodelando, absorvendo, utilizando as trepadeiras grossas dentro dele para substituir o tecido muscular que perdeu. Não podia fazer nada sobre a perda de sangue, pelo menos nada natural e da terra que estava dentro da sua capacidade de manipular. No momento que seu corpo estava curado, atacou sem hesitação, um borrão em movimento, em alta velocidade através da distância entre o vampiro e ele mesmo, cortando a distância rapidamente. Ruslan gritou e correu na direção dele. O trovão explodiu. Sacudiu a terra. O raio chiou através do céu em grandes chicotes quando os dois colidiram. Zacarias dirigiu seu punho fundo, perfurando o tórax apodrecido. Sangue ácido derramou sobre ele, queimando a pele até o osso. Bateu em alguma coisa sólida, abruptamente parando seu ataque, impedindo-o de alcançar o coração enegrecido. O rangido passeou por seu braço, e chamas se fundiram ao redor de seu braço enviando ondas de dor que ele cortou. As moscas pequenas se elevaram para o ar num enxame negro, fechando ao redor de ambos, vampiro e caçador. Era difícil não respirá-las para seus pulmões. Garras rasgaram seu peito, esculpindo pedaços grandes de pele e músculo. Zacarias se dissolveu, permitindo que o vento o levasse para longe de Ruslan, dando tempo para curar seus ferimentos temporariamente e impedir tanto sangue quanto possível de vazar sobre o chão. Ruslan lambeu seus dedos, sua língua longa e obscenamente espessa, bifurcada como a de uma serpente. Seu rosto já não tinha sua máscara de beleza. O vampiro de verdade foi revelado. Zacarias viu sua quota de cadáveres em decomposição, mas nada igualado à Ruslan Malinov. A carne se despiu dele. Vermes rastejavam através de buracos em sua carne. Sua boca era apenas um buraco, sem lábios, seus olhos afundados. Todos os seres vivos se encolhiam diante dele, a grama murchou, samambaias e musgo ficando marrom enlameados. Até mesmo os insetos corriam para longe. Apenas as moscas pretas persistiam, se banqueteando com a carne apodrecida e depositando tantos ovos quanto era possível nos órgãos enegrecidos. — Realmente se mostrou, velho amigo,— Zacarias observou. —Acho que seu braço está prestes a cair. Ruslan rugiu, a ameaça retumbando pela floresta, balançando as árvores. Levantou os braços, para cima e para baixo, as palmas apontadas para o céu. Tudo ao redor de Zacarias voltou

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à vida, as folhas sussurravam, girando e voando com o caos criado por Ruslan. Era impossível ver através das folhas que chicoteavam enquanto formavam uma criatura após a outra. Ele estendeu os braços e fechou os olhos, removendo a distração de milhares de folhas nascendo em torno dele. Usou seus outros sentidos para encontrar a ameaça no interior dos escombros em movimento. As figuras cercaram a área inteira, formando um anel solto e aumentando o número dentro do círculo até que a floresta estava povoada com grandes monstros se movendo em sua direção. As sombras neles chamavam a escuridão dele. Ruslan aprendia depressa. — Temo que pouco importa como eu pareça para você, Zacarias. Meu pequeno exército não se importa, nenhum deles. Não preciso gastar energia para seus últimos momentos. Deve se juntar a mim. Na verdade, sempre teve a escuridão em você — muito mais do que eu já tive. Este era seu legado, o maior presente de seu pai, mas se recusou a abraçá-la. — Havia desprezo real na voz de Ruslan. —Teve a grandeza entregue a você, mas escolheu ser um mártir, sofrendo sozinho, enquanto eu tenho o que eu quiser. Zacarias lentamente abriu os olhos, sorrindo, sabendo que os dentes brancos eram um contraste gritante com os enegrecidos de Ruslan, boquiaberto — e este pequeno detalhe podia picar a vaidade de Ruslan como nada mais poderia. — Não posso temer você, Ruslan. Não posso sentir o que faz para mim. Não me importo com nada além de destruí-lo. Acha que tem a vantagem, mas na verdade, eu tenho. Quer continuar sua existência miserável. Busca o poder. Deseja governar o mundo. Destruir o príncipe. Me matar. O sorriso de Zacarias se tornou tão frio quanto gelo. — Tantos desejos, quando eu tenho apenas um. Sua morte. Você é nada mais que kuly —um verme, um demônio que devora as almas. É realmente han ku vie elidet — um ladrão de vida, e para isso, pronuncio sua sentença. A vegetação morta e apodrecida, coletada ao longo de centenas, talvez milhares de anos entrou em frenesi, batendo os braços e dentes crescendo à medida que se arrastavam em sua direção. Zacarias enviou o vento, mas as criaturas foliares não foram afetadas nem um pouco, se mantendo contra o pé de vento. A risada de Ruslan feria os ouvidos de qualquer um dentro de qualquer alcance de audição. Ele dançou alegremente ao redor. — Não acho que serei eu quem vai morrer esta noite, Caçador. As criaturas estavam fechando o cerco, deixando o ar estagnado, opressivo, com cheiro de morto, de coisas em decomposição. Precisava de alguma coisa completamente oposta para se opor à força de Ruslan, dando-lhe o tempo necessário para matar o vampiro. Deliberadamente Ruslan atacou seu pior segredo, aquelas sombras cortando seu corpo, tomando sua alma. Agora não era momento de orgulho. Ou de medo. Era um Caçador e não tinha escolha a não ser usar todos os recursos possíveis. Ruslan Malinov era a maior ameaça para o povo Cárpato. Sem

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ele, o exército de vampiros diminuiria, dando a Mikhail, o príncipe, tempo para reunir seu povo e reforçar todas as defesas. Ele fez o impensável. Marguarita. Precisa acordar. Não podia se permitir pensar nela e o que poderia sentir ao acordar sob a terra. Era humana e já tinha pedido muito a ela. Esse vampiro era o responsável por levar os Cárpatos à beira da extinção. Ele não podia escapar, não importa o preço para o Caçador — ou sua amada companheira. ***Twkliek*** Nas profundezas da fazenda, Marguarita ficou ciente de duas coisas: estava enterrada viva, e Zacarias estava em apuros. Despertou instantaneamente, o conhecimento inundando seu corpo junto com uma fome terrível que arranhava e raspava seu estômago. Manteve seus olhos bem fechados, decidida a não entrar em pânico. Sabia que teria se simplesmente acordasse enterrada viva, mas sentiu Zacarias. Estranhamente, podia ouvir seus batimentos cardíacos, mas não parecia ser o ar em movimento através de seus pulmões. O som ecoava assustadoramente através de sua cabeça. Ela se concentrou em Zacarias, ignorando sua necessidade de gritar, sentia o peso da terra empurrando abaixo sobre ela. Suavemente, com grande cautela, encontrou o caminho para sua mente. Dor a engolfou — dor maligna — selvagem, uma agonia que forçou seu corpo inteiro, facilmente rivalizando com a que sentiu na conversão. Ela escorregou para fora dele antes que pudesse se entregar, afastar ou desmaiar de horror pela dor que ele sofria. O que disse a ela? Disse como mover o solo de seu lugar de descanso. Visualize, Marguarita, lembrou a si mesma. Verá que vai conseguir. Sua primeira tentativa deu em nada, apenas no pânico se infiltrando, mas determinada ela o afastou. Use sua vontade. Seu pai sempre disse que era teimosa o suficiente para mover montanhas, se realmente quisesse fazer isso, assim mova este pouco de terra, ela ordenou a si mesma. Sua mente gritava no momento que seu dedos se moveram e ela ficou mais consciente do que nunca que estava sob o solo, mas manteve os olhos bem fechados e forçou sua mente a imaginar o solo se abrindo como o Mar Vermelho, empurrando tanto para cima quanto para o lado. Quando pode respirar e olhar para o teto da câmara, enxugou as gotas de suor de seu rosto e sentou. Estou aqui. Venha para mim. Dentro de mim — da sua maneira. Se isso der errado, se retire imediatamente.

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Ela não hesitou. Não importava o quanto estivesse irritada ou ferida com ele, um homem como Zacarias De La Cruz nunca pediria tal coisa num tempo de batalha a menos que fosse necessário. Encontrou o já familiar animal primitivo nele e entrou, deslizando sempre muito gentil com ele. A escuridão levou sua respiração. Selvageria pura, matar ou ser morto. Cada parte dele parecia escura e sombria, paredes de gelo puro, blocos delas, enchendo sua mente e suas veias de gelo. Suas entranhas estavam devastadas. A dor era excruciante, mas de alguma maneira ele podia bloquear isto, algo que ela não entendia, mas estava agradecida. Não queria saber como tudo aquilo aconteceu, ou como podia permanecer em pé, focado em destruir todo o mal. Ela derramou calor dentro dele. Amor. Tudo que era. Ela se entregou a ele, o enchendo, forçando a escuridão a retroceder, derramando seu brilho em cada sombra. Ele não fez nenhum movimento para se conectar com ela, mas ela o sentiu se abrindo para o fluxo de calor — da empatia e compreensão. Ele enviou um convite para a floresta tropical. Ela sentiu a convocação. Não, não exatamente uma convocação, mais um pedido como ela faria. Nenhum comando. Sem arrogância. Nenhum indício de auto-suficência. Apenas um pedido de ajuda. Os mortos na floresta tem que ser destruídos pelos vivos. Ela ficou espantada dele saber tais coisas — como sua mente trabalhava tão rapidamente cercada por criaturas empenhadas em destruir. Ele precisava de um caminho claro para Ruslan e isso era tudo que importava para ele naquele momento. Marguarita respirou fundo quando figuras de folhas atacaram, balançando Zacarias, cortando pele e osso, o girando no centro entre elas, usando todos os meios disponíveis para mantê-los afastados. Fogo. Vento. Nada funcionava e todo o tempo, Ruslan ria, um som estridente, que a fazia ranger os dentes. Ela se obrigou a tentar ficar desconectada com o que acontecia com Zacarias. Estava muito calmo, sua mente funcionando. Tudo isso era uma distração. Ela não via como podia ajudar, mas não podia ajudar com seu medo, mesmo que estivesse aterrorizada por ele. Ele não tentou esconder a verdade dela — que estava na mente dele — mas ele não estava na mente dela. Ela apenas estava lá porque ele precisava de outra arma, e não reconhecia que ela era uma mulher de carne e sangue — sua mulher. Ele não tinha medo por ele mesmo ou por ela. Só sentia a necessidade de destruir do mal. O dossel da floresta ondulou com vida e macacos caíram dos ramos das árvores nas costas das criaturas, os derrubando, rasgando e se afastando pulando para o próxima. Levou um momento ou dois para Marguarita perceber que as criaturas destruídas estavam bloqueando o caminho para o exultante Ruslan. Zacarias correu através da abertura que os macacos fizeram para ele, todo seu ser focado numa coisa só. Sabia exatamente onde estava Ruslan e onde seu coração estava localizado. Teve

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tempo para avaliar o obstáculo que encontrou em seu ataque anterior e descobriu como penetrar aquela armadura protetora para alcançar o coração murcho. Estava em Ruslan antes que o vampiro tivesse tempo de perceber que estava vulnerável. Zacarias, mais uma vez mudou as moléculas em seu corpo, mudando no último momento para atravessar aquele revestimento, usando uma fração de segundo para abrir seu punho e agarrar o coração. Seus dedos escavaram através dos tendões e músculos, os rasgando num esforço para chegar ao órgão. Ruslan gritou, explodindo no rosto de Zacarias seu fedor pestilento e apodrecido. Afundou as duas mãos na barriga de Zacarias, a abrindo, derramando sangue no chão, louco de raiva, mergulhando a cabeça no conteúdo, tentando comer o Caçador vivo com seus selvagem dentes serrilhados. Zacarias arrancou o coração do tórax , rolando para tentar tirar o vampiro de cima dele. O poderoso sangue Cárpato caía sobre o rosto de Ruslan e pelo seu queixo enquanto seu próprio veneno preto queimava Zacarias na mão e braço até o osso. Zacarias arremessou o coração dele e apertou ambas as mãos acima da cabeça de Ruslan e as moveu, quebrando o pescoço de Ruslan e arremessando o vampiro para longe dele. Fechou as duas mãos sobre sua barriga aberta, as pernas saindo debaixo dele. Ele aterrissou com força sobre os joelhos, respirando fundo, superando a dor antes que pudesse empurrá-la para longe dele. Ruslan caiu a poucos metros dele e rolou com a cabeça pendendo obscenamente de um lado. Zacarias gemeu quando viu que caiu sobre seu coração extraído. O vampiro pegou seu coração e o levantou no ar, o sangue negro caindo e crepitando ao longo do terreno. Lambeu os dedos no ar, tentando extrair cada bocado de sangue Cárpato de seu braço e mão antes de correr. No momento que Ruslan foi atacado, puxou sua energia do exército de mortos, de forma que as folhas e galhos caíram de volta no chão da floresta. Os macacos voltaram para as árvores. Zacarias se deixou cair, olhando para a chuva. Mais uma vez era um chuvisco suave, o atingindo no rosto. Fez um grande esforço para trazer a energia branca-quente para se livrar do veneno do vampiro. Assim que ela estava fora dele, ele baixou os braços cansados para os lados. Eu estou indo para você. Marguarita fez uma afirmação, não uma pergunta. Ele se encontrou sorrindo. Sua linda lunática. Ela tinha todo o direito de desprezá-lo, todos os motivos para temê-lo, e se ordenasse que ficasse afastada, ela o teria desafiado e vindo de qualquer maneira. Não havia como parar uma força tão calma e estava longe demais para tentar. Ela nunca parecia incomodar-se em discutir. Apenas fazia o que acreditava estar certo. Seu sangue estava vazando por todo o chão e se curar seria uma tarefa difícil. Não se esqueça de suas roupas. Cesaro estará cavalgando por este caminho a qualquer momento. Eu teria que matá-lo e não estou certo se estou à altura da tarefa.

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Ela tentou rir, ele teria que dar isso a ela. Seu divertimento veio em meio às lágrimas. Ela estava chorando por ele e ele sabia que estaria fazendo muito isso nos próximos anos. Eu deveria tê-la convertida com amor, Marguarita. Com cuidado. Deveria ter a abraçado quando estava com tanto medo. Estou tão longe, no escuro, talvez não haja como me trazer de volta. Eu não quero trazer você de volta. Só quero salvá-lo. Há uma diferença. Você terá que fazer as roupas você mesmo. Não posso controlar isso. Havia impaciência em sua voz. E estava muito mais fechada do que foi. Zacarias levantou a cabeça. Sua égua amada corria na sua direção com Marguarita montada em suas costas, e graças ao bom Deus o cavalo tinha uma marcha suave. Ela estava completamente nua. Ele balançou a cabeça. Ela lentamente o enchia com sua luz, empurrando a escuridão. Ele podia ver que seu sangue era vermelho, fundindo no chão ao seu redor. Ela desceu do cavalo e correu na direção dele enquanto ele ondeava a mão para vesti-la. Ela quase tropeçou em sua saia enquanto corria para ele. Usando as duas mãos, empurrou um pano macio que carregava contra sua barriga. Deite-se. Apenas relaxe por um momento. E não me deixe ir muito longe de sua mente. Não quero que sinta isso. Ele se permitiu deitar novamente e apenas observava o rosto dela — o rosto amado com tanta preocupação estampada nele. Muito amor — amor que não merecia. — O que quer dizer quando diz que não quer me trazer de volta das trevas, que só quer me salvar? É a mesma coisa. Ela balançou a cabeça, cavando o solo para encontrar a terra mais rica, imaculada que pudesse encontrar. Usou sua própria saliva para fazer uma pasta. Na verdade, não é a mesma coisa. A escuridão que despreza tanto é um dom precioso e que você pode contar. Permite que cace do jeito que faz. O mantém vivo quando outros morreriam. Ela estremeceu visivelmente quando fechou as feridas apertando a pasta lamacenta que fez. Ele tocou seus lábios com os dedos delicados. — Acha que é um dom não sentir? Estar tão perto da escuridão que a cada momento que existo é uma luta? Sim. É esta escuridão que permite que instintivamente saiba onde sua presa está indo, para ficar um passo à frente dela. Para suportar este tipo de ferimento mortal que mataria qualquer outra pessoa. Já está curando a si mesmo, Zacarias. E já está pensando onde esse vampiro estará escondido até amanhã à noite. O amanhecer está perto e sabe que ele está buscando um lugar de descanso. Isso é o que essas sombras fazem por você. Permitem que viva e faça o que ninguém pode fazer. Então, não, não quero tirar isso de você. — Mas tem medo que eu não volte para você. Ela estendeu o pulso para ele. A fome batia nela, mas era muito mais importante dar a ele tudo que podia para sustentá-lo e ajudá-lo a se curar o mais rápido possível.

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Você é tão bom em pôr de lado as suas memórias que uma pequena parte minha pensa que um dia vai se esquecendo de lembrar de mim depois da batalha. Ele tomou seu pulso e muito gentilmente fez o corte, permitindo que o sangue que dava vida fluísse para ele. Era sangue de um Cárpato antigo agora. Poderoso e forte, porque seu sangue corria em suas veias. O sentiu chegar ao seu corpo, cada órgão, todos os músculos e tecidos, cada célula. Sempre retornarei para você — sempre, mas só posso ser quem sou, Marguarita. Quero ser gentil para você. Quero dar tudo que merece. Sempre esperarei que siga minha liderança... Sua sobrancelha subiu. Com a mão livre ela alisou seus cabelos atrás. Pensa que sou ignorante disto sobre você? Quero quem é, Zacarias, mas espero que siga os votos que me jurou. Quero ser valorizada. Quero que tenha em mente a minha felicidade quando tomar suas decisões. E tem que saber sempre serei eu. Vou decidir por mim mesma quando sentir que está errado. Ele olhou para seu rosto, um sorriso em seus olhos. Não posso conceber estar errado. Bem — houve um tempo. . . Seu riso derramou em sua mente. Um? Vou permitir porque depois desta batalha poderia estar um pouco fora de si. Ele bateu a língua no corte em seu pulso. — Cesaro vem. Vai te dar sangue e terá que tomar, Marguarita. Preciso ir. Sua respiração ficou presa na garganta. Ir? Não estou entendendo. Ir para onde? Tem que ir para a terra e se curar, isso é o que tem que fazer e posso ficar com você. — Tenho que caçar Ruslan. Ela sacudiu a cabeça obstinadamente. Não. Não pode fazer isso, não esta noite. É quase madrugada e pode ser pego no sol. — Viu minhas memórias de Dominic e sua mulher compartilhando seu sangue comigo. Sim, mas também o vi avisando que tem que ser cauteloso, testar seus limites. Não fez isso e você mesmo disse que quanto mais forte for a escuridão, menos um Cárpato pode tomar sol. Não faça isso, Zacarias. Por mim. Não faça isso. Ele estendeu a mão e acariciou suavemente a longa extensão de seu cabelo. — Esse vampiro em particular é um mestre diferente de qualquer outro. Não teria essa chance novamente em outros 10 mil anos. Estou pedindo para não me pedir isso. Neste exato momento, eu daria tudo que quisesse — até mesmo isso, Marguarita. Mas preciso que não me faça este pedido. Ela fechou os olhos com força. Por um momento mal conseguia respirar. Teria que deixá-lo ir. Não podia ser outra coisa senão o que era — um Caçador. Estaria pedindo que fosse algo que não era. Veja se volta para mim inteiro.

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Zacarias se levantou, suas roupas em farrapos sangrentos. Dilacerações e ferimentos riscavam seu corpo. O pano ensanguentado caiu de sua barriga, mas o ferimento estava fechado. Ele flexionou os músculos. — Vai tomar o sangue de Cesaro de seu pulso. Ele irá proteger você enquanto estou fora. Emoldurando seu rosto com as mãos, Zacarias se debruçou até beijar sua boca virada para cima. Ela se agarrou por um momento, indiferente que Cesaro os observava. Relutantemente, Zacarias a colocou de lado e se elevou no ar. No momento que estava longe dela, a liberou de sua mente, empurrando-a para fora, confiando que ficaria de fora. Só podia haver uma chance com isso. Ruslan Malinov era um adversário muito perigoso para permitir que escapasse. Zacarias sentiu o fedor do vampiro e o seguiu, usando as gotinhas como guia. Passou séculos patrulhando de cima abaixo as fronteiras da Amazônia cruzando e indo de país a país. Conhecia cada caverna, cada lugar onde um vampiro podia escolher como lugar de descanso. Ele sabia onde seu inimigo mais provavelmente iria. Mais do que isso, Marguarita estava certa em dizer que a escuridão nele permitia pensar como o não-morto. Ruslan ia querer chegar o mais longe possível de Zacarias, mas ia querer ser capaz de se alimentar tão facilmente quanto possível. Haviam muito poucas cidades e fazendas na área perto de cavernas. Zacarias conhecia cada uma delas. Estava convencido que Ruslan escolheria a mais inacessível, uma simples fenda na rocha permitindo que um metamorfo achatasse seu corpo o suficiente para deslizar dentro daquele túnel estreito e íngreme que levava até as entranhas da terra. Ruslan a guardaria tão bem como só um mestre vampiro poderia fazer, por isso ou Zacarias chegava na frente dele — antes do amanhecer e se ocultava dentro para esperar — ou poderia levar horas para desvendar as salvaguardas e poderia ser pego pelo sol. Ruslan tinha uma vantagem sobre Zacarias, mas era esperto e sabia que seu sangue estava ao vento e um Caçador como Zacarias sentiria o cheiro tão bem quanto qualquer lobo. Usaria pistas falsas, recuaria, todos os truques que sabia para esconder seu verdadeiro destino do Cárpato e que tomaria tempo. Ruslan tentaria usar o sol contra o Caçador, só iria para a terra no último momento, por isso não havia risco de um Caçador pegá-lo em seu covil. Zacarias tinha que tomar uma decisão — seguir sua intuição — e depender da mesma coisa que sempre detestou em si mesmo — ou seguir a trilha. Qualquer uma poderia custar sua presa. Marguarita disse que a escuridão nele era um dom. Ela confiava porque era uma parte dele. Ele pensava nisso como um mal. Só se lembrava de seu pai como do mal, nunca antes disso. Era como se naquele momento negasse a vida inteira de seu pai, séculos de honra e dever. Seu pai ensinou cada habilidade que possuía. Ele jogou sua companheira para o ar e riu prontamente com ela. Ele se alegrou a cada filho que nasceu e lamentou, chorando sem a mínima vergonha, lágrimas de sangue quando sua filha perdeu a batalha pela sobrevivência. Seu pai não foi mal toda a sua vida.

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Então, deixou a escuridão guiá-lo. Abandonou a trilha e escolheu a caverna mais profunda na terra, correndo para chegar lá antes de sua presa. Se estivesse errado, perderia sua chance, mas estaria a salvo do sol. Zacarias ignorou a borda rochosa onde o pedregulho rachado era o único sinal de entrada para o túnel estreito. Usou a cautela, permitindo que uma ligeira brisa deslizasse por ela, examinando a área por todos os ângulos. Ruslan parecia não ter alcançado o lugar de descanso antes dele. Ele se aproximou, cuidando para não perturbar os seixos, testando a entrada. Não havia nada que o impedisse de entrar. Como vapor esfumaçado, Zacarias deslizou dentro da montanha, tecendo seu caminho através da fenda longa pelo túnel estreito e pequeno. Seguiu cada vez mais fundo abaixo da terra. O som de água pingando cresceu em volume quando se aproximaram de uma pequena câmara. O túnel diminuiu de modo que apenas um animal pequeno poderia chegar até a caverna maior. Ruslan não chegou ali antes dele. Existia um certo odor de vampiro, um que um mestre poderia mascarar apenas por um tempo. Isso significava que nunca encontrou esta caverna em particular? Não havia mais tempo para sair à procura. Tinha que confiar em sua experiência. Levou seu tempo, examinando a pequena câmara, encontrando várias rachaduras correndo pelo teto e paredes. Água pingava constantemente da parede norte, mas a parede sul era principalmente rocha. Escolheu uma das fendas menores para se esconder. Seu corpo precisava desesperadamente ir para a terra. A mudança custava energia, e até mesmo com o sangue de Marguarita, sabia que não tinha muito tempo antes que se tornasse fundamental se curar na terra ou seria tarde demais. Poucos Cárpatos seriam capazes de sobreviver aos ferimentos mortais que tinha e continuar a caçada. Sabia que a escuridão dentro dele permitia que não reconhecesse o que estava acontecendo com seu corpo. Lutou, curou a si mesmo e continuou sem dor ou esgotamento. Mas eventualmente seu corpo entraria em colapso. Se Ruslan escolhesse esta caverna, Zacarias não podia pensar sobre quando aquele colapso viria. Minutos se passaram. Sabia a posição exata do sol e estava muito próximo de subir. Podia sentir sua presença como uma lâmpada ardente pressionada contra ele. Sabia que a luz sempre chegaria até ele, mesmo se o sangue real de Solange realmente permitisse mais algumas horas do dia para se mover. Nunca estaria confortável, mas se fizesse Marguarita mais feliz, suportaria, assim como suportaria seus companheiros humanos. Uma rocha rolou no solo. Algo riscou ao longo da parede do túnel estreito do lado de fora da câmara. Zacarias ficou relaxado, não gastando nenhuma de sua preciosa energia. Estava em má forma e se aparecesse muito cedo e Ruslan fosse capaz de lutar, os dois morreriam esta noite. O fedor de carne podre era levado até a câmara. Imediatamente, a calma familiar varreu Zacarias. Nada mais importava agora — e nem ele, nem nada — exceto destruir este vampiro que causou ao povo Cárpato tanta dor e perda. Esta era

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a razão pela qual Zacarias nasceu e se criou, para lutar. Por isso a escuridão nele era tão profunda — para defender seu povo contra a mais vil criatura, o mal imaginável. Ele ficou quieto, paciente, observando enquanto Ruslan preparava suas salvaguardas e cambaleava para seu lugar de descanso. Sua cabeça ainda estava inclinada para um lado, o que dizia a Zacarias que o vampiro estava tão ferido como ele. Ruslan também não permitiria algo assim, a menos que precisasse conservar sua energia. Zacarias não se moveu quando Ruslan se deitou e cruzou os braços sobre o peito, dando a si mesmo o sono dos mortos. Mesmo assim, Zacarias esperou até que o sol começou sua escalada. Queria garantir Ruslan estivesse inerte. Com infinita cautela se desalojou do teto e caminhou para o lugar onde o vampiro mestre estava descansando. Instantaneamente os olhos de Ruslan se abriram. Ele sibilou, um som baixo de ódio. Não havia movimento, mas isso não significava que não era capaz. Zacarias ficou fora da área de ataque só por precaução. — Que honra é essa? Vindo para mim na minha hora mais fraca? — Ruslan exigiu. A sobrancelha de Zacarias subiu. — Exterminar vermes não se trata de honra. Viver com um código de conduta é honroso, Ruslan. Isso é o que nunca conseguiu entender. Matar não é honrado. Este é meu trabalho. Honra exige que eu use qualquer ferramenta possível, qualquer arma para destruir o mal — e você é o mal. Não há honra no método de matar, apenas no cumprimento de um trabalho necessário. O cacarejo de Ruslan encheu sua mente. — Pode rasgar meu coração aqui nesta caverna, mas não pode trazer o relâmpago tão profundo sob a terra. Vamos ver quem sobrevive para o anoitecer. — Não tenho nenhuma intenção de arrancar seu coração. — Zacarias se aproximou da figura inerte com extrema precaução. Ruslan era um vampiro poderoso e, como um Caçador, respeitava esse poder, sabendo que o mestre não iria facilmente para seu fim. Ruslan pareceu confuso, com os olhos ocos cheios de ódio e astúcia. Morcegos caíram sem aviso, cobrindo o corpo de Zacarias, mordendo com dentes afiados, tentando o drenar por seu mestre. Vermes explodiram através das paredes de terra e aranhas rastejaram de todos os cantos, todas convocadas pelo mestre. Alguns ratos enfiaram a cabeça para fora do túnel, os olhos redondos fixos em Zacarias. Zacarias dissolveu sob o peso dos morcegos, se deslocando rapidamente para atravessar a câmera. Brilhou através da sala, um relâmpago brilhante e terrível, muito quente, um sol concentrado que chamuscou os morcegos e expulsou os insetos e ratos para longe. Precisava de apenas uma pequena quantidade de tempo. — Não pode se manter nisso para sempre,— Ruslan cantou —, e são meus para comandar. — Não importa.— Zacarias estava sobre ele imediatamente, escavando o peso morto em seus braços. O mau hálito que explodiu em seu rosto o desorientou por um momento. Havia veneno na respiração concentrada, mas ele mudou, levando a forma podre do vampiro com ele.

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O que está fazendo? Ruslan exigiu, usando a comunicação comum entre os Cárpatos, pela primeira vez realmente alarmado. Aonde está me levando? Para a superfície. Suas salvaguardas mantém os outros fora, mas não nos mantém dentro. Zacarias soube o momento exato que Ruslan entendeu o que estava fazendo. Depois de atravessar o túnel e a fenda , ele mudou novamente, levando a ambos para o amanhecer. A boca de Ruslan se abriu totalmente num grito silencioso de agonia. Com um esforço repentino, impulsionado por pura vontade e desespero, enterrou as garras profundamente na pele de Zacarias. Se eu queimar, então você também irá. Zacarias afundou com seu fardo no chão, sua força quase desaparecendo. Não seria capaz de entrar na caverna e sabia pela sensação do sol em sua pele que não teria tempo suficiente para desvendar as salvaguardas. Eu te amo, Marguarita. Realmente sinto muito pelos erros que cometi com você. Alcance meus irmãos, vão ajudá-lo quando eu me for. Zacarias não podia se permitir pensar no que aconteceria a ela ou a todas as coisas que fez de errado com ela. Queria que suas lembranças dela fossem mantidas perto, aquela sensação de amor completo,desinteressado que ela lhe deu. Diga-me onde está. Não vou até você, não se preocupe, mas me mostre. Ela estava calma. Absolutamente, completamente calma. Essa era Marguarita, e pela primeira vez ele acreditou. Foi enviada a ele para salvá-lo de si mesmo — seu milagre pessoal. Se alguém podia salvá-lo — era ela — mas ele não via como. Mesmo de carro, não havia como alcançá-lo a tempo. Ele não disse, qual era o ponto? Estava cansado, tão exausto que mal conseguia se mover. Não se atreva a desistir. Ele adorava essa pequena mordida em sua voz. O que está rindo? Ruslan exigiu. Vai morrer comigo. Se apresse. Vou mostrar como desvendar as salvaguardas se tiver força para me tirar do sol. Zacarias abanou a cabeça. — Você morre esta manhã , Ruslan. Não importa o custo para mim, o mal nunca mais vai andar na terra novamente. O corpo de Ruslan se contorcia. Ficou vermelho lagosta. Aqueceu até que a pele queimava Zacarias. Aquelas garras ainda permaneciam enganchadas em seus lados, os mantendo juntos quando o vampiro começou a chiar, sua pele apodrecida começou a borbulhar. A fumaça cresceu. O cheiro de carne queimando encheu o ar. Ruslan gritou, o som rasgando seu peito e garganta para assustar os pássaros nas árvores próximas. Buracos explodiram através do corpo de Ruslan. O mau cheiro aumentou fazendo com que Zacarias quisesse vomitar. As garras afrouxaram, e sem o aperto daquelas afiadas unhas, o sangue começou a vazar sobre o chão, formando um charco pequeno ao redor dele.

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Fique comigo, Zacarias,Marguarita insistiu. Sua calma o surpreendeu. Ela devia estar em pânico, mas sua mente estava muito mais clara que a dele. Ele estava muito cansado para pensar. Entregue-se a mim, ela sussurrou. Confie em mim para mantê-lo seguro. Ele nunca confiou em ninguém. Se fizesse o que ela pedia e passasse seu espírito para ela guardar, não haveria nada que ela não soubesse sobre ele. Sua incapacidade de sentir sem ela o envergonhou. Nunca conheceria o verdadeiro amor de seus irmãos, a menos que ela estivesse em sua mente. Ele sempre estaria desconfortável na presença de humanos. Mal podia tolerar o mundo e ela saberia. Veria que ele não sentia nada, mesmo por aqueles que o serviam. Veria demais. O quanto uma mulher podia tomar? Entregue-se a mim. Livremente — como eu me entreguei a você. Perdê-la para a morte talvez fosse um ato de covardia — e não permitir que ela enfrentasse o verdadeiro monstro a quem se deu. Ele a reclamou. Os uniu. Por tudo isso, ela era a única a darse a ele mais e mais, satisfazendo cada demanda sua. Ruslan explodiu em chamas, gritando seu ódio ao mundo. As garras caíram da pele de Zacarias, o liberando, e Zacarias se arrastou para longe do vampiro queimando. Uma fumaça negro subia para o céu como um farol. Zacarias observou até que aquele calor branco-quente consumiu cada centímetro do vampiro mestre, até que estava certo que o coração se foi e nenhum pedaço dele permanecia em qualquer lugar. Só então tombou a cabeça atrás e deixou que seu corpo se transformasse num boneco de pano flácido. Ele respirou fundo e, em seguida, deu o salto de fé que ela iria o querer de qualquer maneira, tão obscuro e sombrio como era. Enviou seu espírito para fora de seu corpo físico, aos seus cuidados. Pouco antes que fechasse os olhos, ouviu o som de um helicóptero e sorriu. Aquilo era parte do equipamento do mundo moderno —seu mundo. Talvez houvesse algo para ele afinal. Sua diligente companheira, obviamente, usava seu laço de sangue ou qualquer outra coisa com Julio ou Cesaro, e Lea Eldridge que estava voando em seu resgate.

CAPÍTULO 20 Quanto é necessário para um Cárpato se curar de ferimentos tão horríveis? Uma semana? Duas? Um mês? Marguarita caminhou lentamente pela casa escura, em direção ao seu próprio quarto e banheiro. Aprendeu a tomar sangue de Julio e Cesaro, uma tarefa difícil. Aprendeu a separar o solo horrível, passando a mão freneticamente em seu cabelo e corpo, apavorada que aranhas pudessem estar rastejando acima dela. Existia tanto que não sabia, tanto que precisava aprender.

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Toda noite saía para o estábulo até seus amados cavalos, mas, mesmo cavalgando seu Paso Peruano, uma de suas maiores alegrias, já não podia impedir a esmagadora tristeza que sentia. Não importava quantas vezes dissesse a si mesma que Zacarias estava seguro, que estava na verdade deitado em sua câmara de descanso. Não importava quantos dias passasse deitada ao lado dele, o segurando, escovando seus longos cabelos para o lado e estudando todas as linhas esculpidas em seu rosto, ainda temia por ele — lamentava por ele. Às vezes temia que pudesse ficar louca. Mais de uma vez despertou com Zacarias ao lado dela e aranhas rastejando sobre ela, e as tirava dele num acesso de raiva, lembrando-se da massa de aranhas na qual ela caiu, sem nenhum conforto dele. Mas, principalmente, tentou não chorar por ele, tentou não suplicar que acordasse e ficasse com ela. Precisava dele desesperadamente, mas se recusava a ser fraca, quando ele precisava se curar. Havia tantas coisas a fazer, para ocupar seu tempo. Ela ainda não conseguia fabricar direito sua roupa. Ela normalmente tomava banho e se vestia como sempre fez. Preferia tomar banho porque não podia se livrar do terror de aranhas. Ela dormia no chão, pelo amor de Deus, sabia que elas rastejavam através dela toda a noite e acreditava que provavelmente faziam ninhos em seu cabelo. Ela pulou quando braços deslizaram em torno dela e ouviu Zacarias rir baixinho no ouvido dela. — Duvido muito que as aranhas façam ninhos em seus cabelos, minha linda pequena lunática. Seu coração bateu, e por um momento, ela congelou, com medo de acreditar que era ele. Medo que o tivesse acordado por causa de seu desespero. Muito lentamente, ela se virou e olhou para ele. Seus olhos, sempre meia-noite negra, tinham um brilho de safira azul fantástico, aquele que adquiria quando a olhava e estava particularmente excitado. Apenas a visão dele a deixou fraca. — Sonhei que me deu uma palestra sobre aranhas e talvez realmente tenha me atingido algumas vezes, em retaliação. Poderia haver verdade nisso? Ela sorriu. Talvez. Se assim fosse, nesse caso, certamente merecia. Sua mão foi para o seu estômago plano e duro. As cicatrizes riscavam onde antes sua pele era lisa. Pensei que isto sumiria. Era a única coisa que podia pensar para dizer quando tudo que queria fazer era beijá-lo para sempre, mantê-lo tão apertado que nenhum deles conseguisse respirar e levá-lo o mais profundamente possível em seu corpo para que nunca encontrasse a saída. Ele tocou sua garganta. — Esperava que fosse capaz de falar como tanto queria. Acho que nós dois estávamos muito feridos para até mesmo o sangue Cárpato mais poderoso poder nos curar completamente.

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Ele encheu o quarto. Encheu todos os seus sentidos, de forma que seu corpo inteiro alcançou o dela, tão ciente dele. Ele entrou em sua mente, num fluxo suave e gentil que a surpreendeu. Ela quase não reconheceu o leve toque. A sensação gelada estava lá, mas em vez da geleira familiar, o gelo parecia flutuar em sua mente, aquecendo lentamente. Ela observou a mudança em seu olhos, desejo e fome deslizando pela alegria de vê-la. Ele inclinou a cabeça para a dela e ela virou sua boca. A dele era quente e dominadora, e tudo mais que se lembrava. Seu corpo pertencia a ele instantaneamente, derretendo contra ele, flexível e macio, fazendo suas próprias exigências. Ele levou seu tempo a beijando, repetidas vezes. Zacarias levantou a cabeça lentamente, relutante, suas mãos emoldurando seu rosto, olhando seus olhos como se estivesse procurando alguma coisa. A satisfação deslizou em seu olhar; evidentemente, encontrou o que estava procurando. Ele acenou com a mão em direção ao banheiro. De uma só vez o cheiro de seu óleo favorito espalhou pelo quarto como uma nuvem de vapor flutuante. — Vamos, a levarei para o banho. Sabe que não tem que fazer isso. É um ritual bobo quando podemos nos limpar apenas com um pensamento. Isso não a fazia se sentir limpa, nem superava seu medo irracional por aranhas rastejando por seu cabelo. — O banho é um ritual bonito e espero que o continue por muitos séculos.— Ele corrigiu suavemente, — Importante para você, e ao mesmo tempo, me traz muito prazer. — Ele pegou a mão dela e beijou sua palma. — Não vi seu medo de aranhas. Estava enterrado muito fundo em suas memórias de infância. Deveria ter tomado mais cuidado, como quero agora. Tenho toda a intenção de inspecionar cada centímetro de você todas as noites para ter certeza que estas criaturas ridículas não a incomodem nunca mais. Ela estremeceu, sentindo o roçar de milhares de pernas peludas, esfregando os braços para se livrar da sensação. Zacarias segurou seu queixo de modo que ela não tinha escolha a não ser se afogar em seus olhos, naqueles charcos escuros, negros de gelo líquido profundo — tão frios, que às vezes, queimavam num azul meia-noite profundo. Ele podia deixá-la sem fôlego com apenas um olhar ardente. A ideia dele inspecionando seu corpo tão de perto todas as noites enviava um milhão de borboletas voando através de seu estômago. Ele pegou a mão dela e puxou até que ela o seguiu até o banheiro agora fumegante. Muito gentilmente a ergueu, colocando na água profunda da banheira. Ele inclinou a cabeça dela atrás contra a borda , e se colocou de lado. — Feche os olhos e me deixe fazer isso. Quero que saiba que não tem uma única aranha em qualquer lugar perto de você quando eu acabar. Não pense em nada, sívamet. Ela afundou nas profundidades, notando que a água era uma lagoa verde, e parecia como o céu. Ela fechou os olhos e enquanto ele percorria com as mãos todo o caminho, absorvendo a massa de cabelos longos. Ela deixou a água quente perfumada e o hipnotizante som de sua voz levá-la à deriva numa maré de felicidade. Zacarias estava vivo e ele estava com ela. Qualquer

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outra coisa era passado, sabia que agora ela queria o homem que era — primitivo e sempre alerta para o problema. Capaz de explodir em violência quando necessário. Um amante exigente. Um companheiro exigente. Ele seria fácil? Ela não tentou se enganar que seria. Ele confiou nela com seu espírito, sua própria essência, e ao fazê-lo, ela viu tudo dele, compartilhou tudo dele. Ela sabia que ele nunca se sentiria como os outros Cárpatos emparelhados, a menos que estivesse firmemente fundido com ela — mas o que nunca poderia entender era que a aterrorizava pensar nele caçando sem que a escuridão nele lhe desse uma vantagem extra. Ela queria isso para ele. Ele nunca pararia sua caça para erradicar o mal. Nunca. Nem que ela queria que fosse qualquer outra coisa além de quem era. Com a cabeça apoiada na curva da banheira, com as mãos massageando o xampu em seu couro cabeludo, Marguarita flutuava num mundo de sonho. Ele murmurou suavemente na sua própria língua, um monótono canto escuro, em sua áspera voz aveludada, e ela foi nessa maré, se entregando aos seus cuidados. Havia neste momento apenas Zacarias e o prazer da água quente no corpo dela. Ela não tinha nenhuma ideia da passagem do tempo. A água continuava quente, enquanto ele lavava o cabelo dela e então começou uma lavagem lenta do seu corpo, primeiro no rosto, e então com um cuidado meticuloso e incrivelmente suave pelo corpo. Lágrimas queimavam em seus olhos. Ela nunca o imaginou tão terno. Ela duvidava que ele próprio soubesse que era capaz de tanta ternura. Seu corpo começou numa queimação lenta, calor crescendo para brasas ardentes, suas mãos passando a persistentes, memorizando, reclamando. Ele a enxugou com o mesmo cuidado, levando seu tempo com seu cabelo, o secando enquanto o escovava. Só então a levantou em seus braços e a levou para sua cama. Zacarias deitou Marguarita com uma gentileza primorosa. Lá na escuridão, com sua visão extraordinária, inspecionou seu corpo, mais uma vez precisando memorizar cada centímetro dela, ver por si mesmo que não havia nenhuma sequela da conversão, da agressão de DS sobre ela. Sua língua deslizou sobre sua boca, os dedos acariciaram seus seios, deslizaram para as costelas, e depois sobre a curva de seu quadril. Ele queria provar cada centímetro dela, de repente, ávido por ela. Ela era sua, a única que preenchia sua vida, seu coração e reparava sua alma o suficiente para devolver-lhe a vida. A boca voltou a sugar seu seio enquanto suas mãos trabalhavam e os dentes arrastavam, a língua fluindo ao longo dele e rolavam. Seu corpo aqueceu e ele cutucou suas pernas as separado com seu joelho. Queria demorar, levá-la tão alta que ela nunca desceria, mas precisava desesperadamente estar dentro dela, uni-los, corpo e alma, pele contra pele. Tinha que se sentir inteiro novamente. A escuridão devia recuar até o momento que levaria semanas para voltar. Venha para mim, ele convidou em voz baixa. Dê-me seu amor, Marguarita, tudo. Todo. Despeje-se em mim e me preencha com você. Preciso de você.

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Ele nunca admitiu sua necessidade por ninguém antes. Ele sentiu seu movimento nele, aquela luz impossível, tão quente, tão cheia de uma emoção que nunca podia esperar compreender. O sentimento o subjugou, e como sempre foi tentado a empurrá-lo de lado, mas não agora. Não esta noite. Ele enfiou a mão entre seus corpos para sentir seu líquido acolhedor. Ele era grande e entrar nela era sempre desconfortável para ela. Não queria uma chance de machucá-la, não importa o quão ansioso estivesse para estar dentro dela. Ele olhou para o rosto dela, querendo ver cada expressão quando lentamente se empurrou dentro de seu corpo. Sentiu sua envoltura apertada, suavemente aveludada, dando lugar a ele à medida que a invadia. Todo o tempo ela derramava calor dentro dele. Amor. Sentiu-se cercado por ela. Em casa. Ele realmente voltava para casa. Quando se enterrou ao máximo, tocando seu colo, balançando ambos, ele parou, suas mãos agarrando as dela, entrelaçando seus dedos. — Eu a deixarei louca às vezes, Marguarita, mas juro que vou tentar agradá-la. Prometo a você com todo meu coração, dou minha palavra de honra, que sempre vou fazer meu melhor para fazê-la feliz. Há algumas coisas que não estou certo que posso mudar. Ela sorriu para ele. Não pedi para mudar. Apenas para fundir sua vida com a minha. Há coisas boas sobre meu mundo se estiver aberto a elas. Ele se retirou e mergulhou fundo, observando seus olhos vidrados. Amava aquele olhar em seu rosto, aquele choque selvagem de prazer. Adorava saber que o colocou lá. Mais uma vez ele ficou imóvel. — Tenho irmãos, sabe disso. Quando estivermos com eles, não serei capaz de ficar longe de você. Preciso de você para me conectar com essa emoção que estou a tanto tempo sem. Ela sorriu lentamente. O provocou com sua mente. Não acho que será um problema Ele estava bem e verdadeiramente perdido e estava grato por esse sentimento. Começou um ataque lento e sensual em todos os seus sentidos, compartilhando sua mente, compartilhando o crescimento da pressão, do prazer primoroso. Ela sempre seria seu mundo. Ele teria que compartilhá-la com este mundo que vivia — e amava — mas por ela, podia administrar isso. Ele abaixou a cabeça e tomou o seio em sua boca, seu peso em seus cotovelos agora. Esta será nossa base, mas devemos viajar, Marguarita. Juntos. Estou dependendo disso. Gosto bastante das coisas que suas mãos e boca e corpo fazem por mim. Sou dependente de você. Mas mais que isto, Zacarias, sou apaixonada por você. Quero que me leve com você. Ele sentiu seu amor dentro de si, unindo todas as conexões quebradas por ele. Em torno dele. Tornando certo ser como ele era, danificado e talvez um pouco quebrado. Ele a beijou enquanto suas mãos tomavam posse de seus quadris, a elevando, em preparação para uma cavalgada selvagem. Você é a única pessoa que eu amarei.

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E isso era verdade. Ele finalmente pertencia a um lugar — a alguém. Marguarita era sua casa. Fim

** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros da Tiamat. Muita gente está querendo ganhar fama e seguidores usando os livros feitos por nós. Não retirem os créditos do livro ou do arquivo. Respeite o grupo e as revisoras.

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Cânticos Curadores Cárpatos Para entender corretamente os cânticos curadores dos Cárpatos, requerem-se conhecimentos em várias áreas: 1. O ponto de vista dos Cárpatos sobre a cura 2. O "Cântico Curador Menor" dos Cárpatos. 3. O "Grande Cântico Curador" dos Cárpatos. 4. A Estética Musical Cárpata. 5. Música 6. A Canção de Curar a Terra 7. A Técnica de Cantar Cárpata

1. O ponto de vista dos Cárpatos sobre a cura. Os Cárpatos são um povo nômade cujas origens geográficas podem ser traçadas em retrospectiva ao menos tão longe como as Montanhas Urales do Sul (perto dos estepes do Kazahstan de hoje em dia), no extremo entre a Europa e Ásia (Por esta razão, os linguistas de hoje em dia chamam a seu idioma "proto-Uralico", sem saber que este é o idioma dos Cárpatos) Ao contrário da maior parte dos povos nômades, a vagabundagem dos Cárpatos não se devia à necessidade de encontrar novas terras de pasto quando as estações e o tempo mudavam ou a

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busca de melhor comércio. Em vez disso, os movimentos dos Cárpatos estavam provocados pelo grande propósito de encontrar um lugar que tivesse a terra correta, um terreno com o tipo de riqueza que realçaria enormemente seus poderes de rejuvenescimento. Com o passo dos séculos, emigraram para o oeste (faz uns seis mil anos) até que ao fim encontraram sua perfeita terra natal... seu "susu"... nas Montanhas dos Cárpatos, que é o longo arco que embalava as exuberantes planícies do reino da Hungria. (O reino da Hungria floresceu durante ao menos um milênio... fazendo do húngaro o idioma dominante da Concha Cárpato... Até que as terras do reino se dividiram em vários países depois da Primeira guerra mundial: Áustria, Checoslováquia, Romênia, Yugoslávia, Áustria, e a moderna Hungria). Outras pessoas do Sul dos Urales (que compartilhavam o idioma Cárpato, mas não eram Cárpatos) emigraram em diferentes direções. Alguns terminaram na Finlândia, o que explica por que o húngaro e finlandês moderno estão entre os descendentes contemporâneos do idioma ancestral Cárpato. Mesmo estando presos por sua escolha, a terra dos Cárpatos, a peregrinação continuou, enquanto procuravam no mundo as respostas que os capacitariam a manter e criasse sua descendência sem dificuldade. Por causa de suas origens geográficas, a visão dos Cárpatos da cura compartilha muito com a maior tradição euro-asiática do xamanismo. Provavelmente a mais próxima representação moderna dessa tradição está apoiada em Tuba (e se refere a ela como "Xamanismo Tuvianian),Ver o mapa.

A tradição euro-asiática.... dos cárpatos aos xamãs siberianos... opinava que a enfermidade se originava na alma humana, e só posteriormente se manifestava como diversas condições

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físicas. Por conseguinte, a cura xamã, embora não descuidava o corpo, concentrava-se na alma e seu cura. As enfermidades mais estendidas se entendiam que eram causadas por "a partida da alma" em que toda ou alguma parte da alma da pessoa doente se afastou do corpo (aos reinos inferiores), ou tinha sido capturada ou possuída por um espírito malvado, ou ambas as coisas. Os Cárpatos pertencem a esta maior tradição xamanista euro-asiática e compartilham seus pontos de vista. Embora os próprios Cárpatos não sucumbiam à enfermidade, os curadores Cárpatos entendiam que os ferimentos mais profundos eram também acompanhados por uma "partida da alma" similar. Acompanhando o diagnóstico de "partida da alma" o xamã-curador estava portanto obrigado a fazer uma viagem espiritual aos mundos inferiores, para recuperar a alma. O xamã poderia ter que vencer tremendos desafios com o passar do caminho, particularmente lutar com o demônio e vampiro que havia possuía a alma de seu amigo. A "partida da alma" não requeria que uma pessoa estivesse inconsciente (embora esse certamente pode ser o caso também). Entendia-se que uma pessoa ainda podia parecer estar consciente, mesmo falar e interatuar com outros, e ainda então ter perdido uma parte da alma. O curador ou xamã experimentado veria instantaneamente o problema não obstante, em sinais sutis que outros poderiam passar por cima: a atenção da pessoa vagando de vez Então que, uma diminuição de seu entusiasmo pela vida, depressão crônica, uma redução no brilho de sua “aura", e coisas pelo estilo. 2. O Cântico Curador Menor dos Cárpatos. Kepä Sarna Pus (O "Cântico Curador Menor") é utilizado para ferimentos que são de natureza meramente física. O curador Cárpato abandona seu corpo e entra no corpo do Cárpato ferido para curar os ferimentos mortais de dentro e fora utilizando pura energia. Ele proclama "ofereço livremente, minha vida por sua vida", enquanto dá seu sangue ao Cárpato ferido. Porque os Cárpatos são da terra e unidos ao chão, são sanados pela terra de seu país natal. Sua saliva com frequência também é utilizada por seus poderes rejuvenescedores. Também é muito comum nos cânticos Cárpatos (para o menor e o maior), ser acompanhados pelo uso de ervas curadoras, aromas de velas Cárpatas, e cristais. Os cristais (quando são combinados com a empatia Cárpata, a conexão física com o universo inteiro) são utilizados para acumular energia positiva de seus arredores que depois se utiliza para acelerar a cura. Algumas vezes se utilizam covas como local para a cura. O cântico curador menor foi utilizado pelo Vikirnoff Von Shrieder e Colby Jansen para curar ao Rafael Da Cruz cujo coração tinha sido arrancado por um vampiro no livro titulado Segredo Sombrio.

Kepä Sarna Pus (O Cântico Curador Menor) O mesmo cântico é utilizado para todos os ferimentos físicos, "sivadaba" ("dentro de seu coração"), mudaria para referir-se a qualquer parte do corpo que esteja ferida. Kuńasz, nélkül sivdobbanás, nélkül fesztelen löyly.

Jaz como dormido, sem pulsado de coração, sem respiração aérea

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Ot élidamet andam szabadon élidadért.

Ofereço livremente minha vida por sua vida. O jelä sielam jǒrem ot ainamet és soŋe ot élidadet.

Meu espírito de luz esquece meu corpo e entra em seu corpo. O jelä sielam pukta kinn minden szelemeket belső.

Meu espírito de luz envia todos os espíritos escuros de seu interior à fuga. Pajńak o susu hanyet és o nyelv nyálamet sívadaba.

Pressiono a terra de nossa terra natal e a saliva de minha língua em seu coração. Vii, o verim soŋe o verid andam.

Ao fim, dou-te meu sangue por seu sangue. Para ouvir este cântico, visita: http://www.christinefeehan.com/ members/. 3. O Grande Cântico Curador dos Cárpatos. O mais conhecido... e mais dramático... dos cânticos curadores dos Cárpatos era Em Sarna Pus ("O Grande Cântico Curador"). Este cântico estava reservava para recuperar a alma do Cárpato ferido ou inconsciente. Tipicamente um grupo de homens formariam um círculo ao redor do Cárpato ferido (para "lhe rodear com nossa cuidado e compaixão"), e começa o cântico. O xamã ou curador ou líder é o personagem principal nesta cerimônia curativa. É ele quem em realidade faz a viagem espiritual ao mundo inferior, ajudado por seu clã. Seu propósito é dançar estaticamente, canto, tambores, e cântico, tudo enquanto visualiza (através das palavras do cântico, a viagem mesmo) , uma e outra vez.. até o ponto no que o xamã, em transe, abandona seu corpo, e faz essa mesma viagem. (Certamente, a palavra "êxtase" provém do latim ex-statis, que literalmente significa "fora do corpo.") Uma vantagem do curador Cárpato sobre muitos outros xamãs, é seu vínculo telepático com seu irmão perdido. A maior parte dos xamãs deve vagar na escuridão dos reino inferiores, em busca de seu irmão perdido. Mas os curadores Cárpatos "ouvem" diretamente em sua mente a voz de seu irmão ferido lhe chamando, e isto pode atuar como um radiofaro direcional. Por esta razão, o cântico Curador tende a ter um êxito mais elevado que a maior parte das outras tradições deste tipo. Algo da geografia do "outro mundo" serve-nos para examinar, a fim de entender completamente as palavras de Grande Cântico Curador Cárpato. faz-se uma referência ao "Grande Árvore" (no Cárpato: No Puwe). Muitas tradições ancestrais, incluída a tradição Cárpata , entendem que os mundos... os mundos celestiais, nosso mundo, e os reino inferiores... estão pendurados em um grande polo, ou eixo, ou árvore. Aqui na terra, estamos colocados a meio caminho nesta árvore, sobre um de seus ramos. portanto muitos textos antigos com frequência se referem ao mundo material como "terra meia", a meio caminho entre os céus e o inferno. Subindo a árvore chegaríamos aos mundos celestiais. Descendendo pela árvore até a raízes chegaríamos aos reino inferiores. O xamã era necessariamente um mestre em mover-se acima e abaixo pela 254


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Grande Árvore, às vezes sem ajuda, e às vezes assistido por (ou mesmo montado à garupa) um espírito guia animal. Em várias tradições, esta Grande Árvore é conhecida de várias formas, o axis mundi (o "eixo dos mundos"), Ygddrasil (na mitologia nórdica), Mount Mem (o mundo sagrado da montanha da tradição tibetana), etc. O cosmos cristão com seu céu, purgatório/terra, e inferno, é também uma comparação válida. Mesmo se dá uma topografia similar na Divina Comédia de Dante. Dante é conduzido em uma primeira viagem ao inferno, para o centro da terra; depois para cima ao Monte Purgatório, que se assenta na superfície da terra diretamente oposto ao Jerusalém; depois mais para cima primeiro ao Éden, no alto do Monte Purgatório; e depois mais acima até o último céu. Na tradição xamanista, entende-se que o pequeno sempre reflete o grande; o pessoal sempre reflete o cósmico. Um movimento nas maiores dimensione do cosmos também coincide com um movimento interno. Por exemplo, o axis mundi do cosmos também corresponde ao espinho dorsal do indivíduo. As viagens acima e abaixo pelo axis mundi com frequência coincidem com o movimento das energias natural e espiritual (algumas vezes chamada kundalini ou shakti) no espinho dorsal do xamã ou místico.

Em Sarna Pus (O Grande Cântico Curador) Neste cântico, eká ("irmão") substituiria-se por "irmã", "pai", "mãe" dependendo da pessoa a ser curada Ot ekäm ainajanak hany, come. O corpo de meu irmão é um conglomerado de terra, próximo à morte. Me, ot ekäm kuntajanak, pirädak ekäm, gond és irgalom türe. Nós, o clã de meu irmão, rodeamo-lhe com nossa cuidado e compaixão. Opus wäkenkek, ot oma sarnank, és ot pus fünk, álnak ekäm ainajanak, pitänak ekäm ainajanak elävä. Nossas energias curadoras, palavras ancestrais de magia, e ervas curativas benzemos o corpo de meu irmão, mantendo-o vivo. Ot ekäm sielanak pälä. Ot omboce päläja juta alatt ou jüti, kinta, és szelemek lamtijaknak. Mas a alma de meu irmão está somente pela metade. Sua outra metade vaga nos mundos inferiores. Ot em mekemŋ amaŋ: kulkedak otti ot ekäm omboce päläjanak Minha grande ação é esta: Viajo para encontrar a outra metade de meu irmão. Rekatüre, saradak, tappadak, odam, kaŋa ou numa waram, és avaa owe ou lewl mahoz. Nós dançamos, nós cantamos, nós sonhamos estaticamente, para chamar a meu espírito pássaro, e abrir a porta ao outro mundo. Ntak ou numa waram, és muzdulak, jomadak.

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Monto meu espírito pássaro e começamos a nos mover, estamos em caminho. Piwtädak ot No Puwe tyvinak, ecidak alatt ou jüti, kinta, és szelemek lamtijaknak. Seguindo o tronco da Grande Árvore, caímos nos mundos inferiores. Fázak, fázak nó ou saro É frio, muito frio. Juttadak ot ekäm ou akarataban, o'sívaban, és ou sielaban. Meu irmão e eu estamos unidos em mente, coração e alma. Ot ekäm sielanak kaŋa engem A alma de meu irmão me chama Kuledak és piwtädak ot ekäm Ouço e sigo seu rastro. Sayedak és tuledak ot ekäm kulyanak Encontro o demônio que está devorando a alma de meu irmão Nenäm coro; ou kuly torodak. Furioso, luto com o demônio. Ou kuly pel engem Tem medo de mi. Lejkkadak ou kaŋka salamaval. Golpeio sua garganta com um relâmpago Molodak ot ainaja, komakamal. Rompo seu corpo com minhas mãos nuas Toya és molanâ. esgota-se e cai em pedaços. Hän cada Foge Manedak ot ekäm sielanak. Resgato a alma de meu irmão Aladak ot ekäm sielanak ou komamban. Elevo a alma de meu irmão no oco de minha mão.

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Alŋdam ot ekäm numa waramra Subo a meu espírito pássaro. Piwtädak ot No Puwe tyvijanak és sayedak jälleen ot elävä ainak majaknak. Seguindo a Grande Árvore para cima, voltamos para a terra da vida. Ot ekäm elä jälleen. Meu irmão vive de novo. Ot ekäm weńća jälleen. Está completo de novo. Para ouvir este canto, visita http://www.christinefeehan.com/ members/. 4. Estética Musical Cárpata Nas peças cantadas dos Cárpatos (como o "Lullaby" e "Som para curar a Terra"), você vai ouvir elementos que são compartilhados por muitas das tradições musicais da região geográfica Uralic, alguns dos quais ainda existem a partir da Europa Oriental (búlgaro, romeno, húngaro, croata, etc) para Romany ("ciganos"). Alguns destes elementos incluem: • a rápida alternância entre modalidades principais e secundárias, incluindo uma mudança repentina (chamado de "terceiro Picardy") de menor para maior para acabar com um pedaço ou seção (como no final do "Lullaby") • o uso do close (apertado) harmonias • o uso de ritardi (retardando a peça) e Crescendi (aumento em volume) por breves períodos • o uso de glissandos (slides) na tradição cantada • o uso de trinados na tradição cantar (como na invocação final do "som para curar a terra"), semelhante ao Celtic, uma tradição de canto mais familiar para muitos de nós • o uso de quintos paralelos (como na invocação final do "som para curar a terra ") • uso controlado de dissonância •" chamada e resposta "canto (típico de muitas das tradições de canto do mundo) • estender o comprimento de uma linha musical (pela adição de um par de barras) para aumentar o efeito dramático • e muitos mais" Lullaby "e" som para curar a terra "ilustram duas formas bastante diferentes de Carpathian música (um pedaço, intimista e uma peça de ensemble energético), mas independentemente da sua forma, a música Carpathian está cheio de sentimento.

5. Canção de ninar Essa música é cantada por mulheres, enquanto a criança ainda está no útero ou quando a ameaça de um aborto é aparente. O bebê pode ouvir a música enquanto está no interior da mãe, e a mãe pode se conectar com a criança telepaticamente também. A canção de ninar é para

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tranquilizar a criança, incentivar o bebê a continuar, tranquilizar a criança ou protegê-la com amor, mesmo de dentro até o nascimento. A última linha, literalmente, significa que o amor da mãe que protege seu filho até que a criança nasça ("ascensão"). Musicalmente, a canção cárpata "Lullaby" é em três quartos de tempo ("tempo de valsa"), assim como uma parcela significativa do mundo várias canções de ninar tradicionais (talvez a mais famosa seja "Lullaby Brahms '"). O arranjo para voz solo é o contexto original: uma mãe cantando para seu filho, não acompanhada. O arranjo para coro e conjunto musical violino ilustra como até mesmo os mais simples são muitas vezes peças dos Cárpatos, e como facilmente se prestam aos contemporâneos arranjos instrumentais ou orquestrais. (A ampla gama de compositores contemporâneos, incluindo Dvořák e Smetana, se aproveitaram de uma descoberta similar, de outros de música oriental tradicional europeia em seus poemas sinfônicos.) Odam-Sarna Kondak (Lullaby) Tumtesz o wäke ku pitasz belső. Sinta a força que o mantém dentro. Hiszasz sívadet. Én olenam gæidnod. Confie em seu coração. Eu serei seu guia. Sas csecsemõm, kuńasz. Silêncio meu bebê, feche seus olhos. Rauho joŋe ted. A paz virá para você . Tumtesz o sívdobbanás ku olen lamt3ad belső. Sinta o ritmo dentro de mim. Gond-kumpadek ku kim te. Ondas de amor cobrirão você. Pesänak te, asti o jüti, kidüsz. Protegendo, até que noite chegue. 6. Canto de Cura da Terra Esta é a canção de cura da terra — que é usada pelas mulheres Cárpatas para curar o solo cheio de várias toxinas. As mulheres tomam posição dos quatro lados e chamam o universo para recorrer à energia da cura com amor e respeito. O solo de terra é seu lugar de descanso, o lugar onde se rejuvenesce, e devem torná-lo seguro não só para si mas para seus filhos não nascidos, bem como para seus homens e crianças que vivem. Este é um belo ritual realizado pelas mulheres juntos, levantando suas vozes em harmonia e convidando os minerais da terra e propriedades curativas para vir e ajudá-los a salvar seus filhos. Elas literalmente dançam e cantam para curar a terra numa cerimônia tão antiga quanto sua espécie. A dança e as notas da canção são ajustados de acordo com as toxinas sentidas através dos pés descalços da curadora. Os pés são colocados num certo padrão e as mãos graciosamente tecem a magia de cura, enquanto a dança é executada. Elas devem ter um cuidado especial quando o solo é preparado para os bebês. Esta é uma cerimônia de amor e cura. Musicalmente, o ritual é dividido em várias seções: • Primeiro verso: A seção "chamada e resposta", onde o líder canta a "chamada" do solo, e, em seguida, algumas ou todas as mulheres cantam a "resposta" na estreita harmonia estilo típico da tradição

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musical dos Cárpatos. A resposta repetida é uma invocação da fonte de energia para o ritual de cura: "Oh Mãe Natureza,". • Primeiro Coro: Esta seção será cheia de dança batendo palmas e outros meios utilizados para invocar e aumentar a energia em que o ritual é feito • Segundo verso • Segundo coro: a invocação de encerramento: Nesta parte final, dois líderes da música, em estreita harmonia, tem toda a energia recolhida pelos padrões anteriores da canção / ritual e a focam inteiramente no propósito de cura. O que vai ouvir são gostos breves do que seria normalmente um ritual de muito mais tempo, em que o verso e peças são desenvolvidos e o coro repetido muitas vezes, fechado por uma interpretação única da invocação final. Sarna Pusm O Maγet (Song to Heal the Earth) Primeiro verso Ai Emä Maγe, Oh, Mãe Natureza Me sívadbin lańaak. Somos suas amadas filhas. Me tappadak, me pusmak o maγet. Dançamos para curar a terra. Me sarnadak, me pusmak o hanyet. Cantamos para curar a terra. Sielanket jutta tedet it, Unimo-nos a você agora, Sívank és akaratank és sielank juttanak. Nossos corações, mentes e espírito são somente um. Segundo Verso Ai Emä maγe, Oh, Mãe Natureza Me sívadbin lańaak. Somos suas amadas filhas. Me andak arwadet emänked és me kaŋank o Prestamos homenagem à nossa Mãe e invocamos Põhi és Lõuna, Ida és Lääs. Norte e Sul, Leste e Oeste. Pide és aldyn és myös belső. Acima e abaixo e dentro também Gondank o maγenak pusm hän ku olen jama. Nosso amor à terra cura o que é preciso Juttanak teval it, Juntamo-nos com você agora Maγe maγeval. Terra para terra. O pirä elidak weńća. O círculo da vida está completo. Para ouvir este canto, visite: http://www.christinefeehan.com/members/

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7. Técnica de Canto Cárpato Tal como acontece com as suas técnicas de cura, a "técnica de canto" real dos Cárpatos tem muito em comum com as tradições xamânicas de outras estepes da Ásia Central. O principal modo de cantar era usando sons secundários com a garganta. Exemplos modernos dessa maneira de cantar ainda podem ser encontradas nas tradições da Mongólia, Tuvan e tibetano. Você pode encontrar um exemplo de áudio dos monges budistas tibetanos Gyuto cantando em: http://www.christinefeehan.com/carpathian_chanting/. Tal como acontece em Tuva, note no mapa a proximidade geográfica do Tibete ao Cazaquistão e sul dos Urais. A parte inicial do canto tibetano enfatiza a sincronização de todas as vozes em torno de um único tom, visando a cura de um "chakra" particular do corpo. Isso é típico da tradição do canto Gyuto , mas não é uma parte significativa da tradição dos Cárpatos. No entanto, ele serve como um contraste interessante. A parte do exemplo do canto Gyuto que mais se assemelha ao estilo de cantar dos Cárpatos é o meio, onde os homens estão cantando as palavras juntas com muita força. O objetivo aqui não é gerar um "tom de cura", que afetará "chakra"um particular, mas sim para gerar energia, tanto quanto possível para o início do "fora do corpo", viagens e para combater as forças demoníacas que o curandeiro / viajante deve enfrentar e superar. As canções das mulheres dos Cárpatos (ilustrado pelo "Lullaby" e a "Canção para curar a terra") fazem parte da mesma música antiga tradição de cura e como o Cantos de Cura e o canto do Grande caçador guerreiro. Você pode ouvir alguns dos instrumentos em ambos os cantos: o "canto de cura dos guerreiros" e a " Canção para curar a terra. "Das mulheres. Além disso, eles compartilham o objetivo comum de gerar e dirigir poder. No entanto, as canções das mulheres são distintamente feminino. Uma diferença imediatamente perceptível é que, enquanto os homens falam de suas palavras na forma de um canto, as mulheres cantam músicas com melodias e harmonias, suavizando o desempenho global. Uma qualidade feminina, que cria é especialmente evidente.Proteção, uma qualidade feminina, que é especialmente evidente no "Lullaby". APENDICE 2

O idioma Cárpato Como todos os idiomas humanos, o idioma dos Cárpatos contém a riqueza e matiz que só pode vir de um longo histórico de utilização. No melhor dos casos só podem tocar levianamente alguns dos traços principais do idioma neste breve apêndice: 1. A história do idioma Cárpato. O idioma Cárpato de hoje em dia é essencialmente idêntico ao idioma Cárpato de faz milhares de anos. Uma língua "morta" como o latim de faz dois mil anos que evoluiu a um idioma moderno significativamente diferente (italiano) por causa de incontáveis gerações de falantes e grandes flutuações históricas. Em contraste, muitos dos falantes do Cárpato de milhares de anos

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estão ainda vivos. Sua presença... junto com o isolamento deliberado dos Cárpatos das demais forças maiores de mudança no mundo, atuou (e continua atuando) como força estabilizadora. A cultura Cárpato também atuou como força estabilizadora. Por exemplo, as Palavras Rituais, os vários cânticos curadores (ver apêndice 1), e outros artefatos culturais foram passados durante séculos com grande fidelidade. Uma pequena exceção deveria ser tomada em conta: A extensão dos Cárpatos em várias regiões geográficas separadas conduziu a algumas dialetizações menores. Entretanto os vínculos telepáticos entre todos os Cárpatos (ao igual à volta regular de cada Cárpato a sua terra natal) assegurou que as diferenças entre dialetos sejam relativamente superficiais (ex: umas poucas novas palavras, diferenças menores na pronúncia, etc) Devido ao mais profunda e interna linguagem de mentes as fórmulas permaneceram iguais por causa do uso contínuo através do espaço e o tempo. O idioma dos Cárpatos era (e ainda é) o proto-idioma para a família de idiomas dos Urales (ou Finno-Ugrian). Hoje no DIA, os idiomas urales se falam no norte, este e centro da Europa e na Sibéria. mais de vinte e três milhões de pessoas no mundo falam idiomas cujos origine podem ser rastreados até o Cárpato. Magyar ou Hungria (ao redor de quarenta milhões de falantes, Finlândia (ao redor de cinco milhões) e Estoniana (ao redor de um milhão), arco dos três maiores descendentes contemporâneos deste proto-idioma. O único fator que une aos mais de vinte idiomas na família ural é que suas origens podem ser traçadas de volta a um proto-idioma comum... o Cárpato... dividiu-se (faz ao redor de seis mil anos) nos vários idiomas da família ural. Da mesma forma, os idiomas europeus ao igual ao Inglês e o francês, pertencem a bem conhecido família indo-europeia e também provêm de um proto-idioma comum (um diferente ao Cárpato) A seguinte tabela proporciona um sentido para algumas das similitudes na família de idiomas.

Nota: A Finnic/Cárpato "k" se corresponde com frequência com a "h" húngara. Igualmente a Finnic/Cárpato "p" com frequência corresponde a "f" húngara. TABELA 1

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2. Gramática Cárpato e outras características do idioma Idiomas. De uma vez um idioma ancestral é um idioma de pessoas que estão sobre a terra, os Cárpatos estão mais inclinados para o uso de idiomas construídos desde términos concretos, "terrestres", em vez de abstrações. Por exemplo, nossa moderna abstração "apreciar" é expressa mais concretamente no Cárpato como "manter no coração", o "mundo inferior" é, no Cárpato, "a terra de noite, névoa e fantasmas"; etc. Ordem de palavras. A ordem das palavras em uma frase está determinada não por róis de sintaxe (como sujeito, verbo e objeto) mas sim por fatores pragmáticos e propulsados pelo discurso. Exemplos: "Tied vagyok." ("Teu sou"); "Sívamet andam." ("Meu coração te dou") Aglutinação. O idioma Cárpato é aglutinativo; quer dizer, palavras mais longas som construídas de componentes menores. Um idioma aglutinador utiliza sufixos e prefixos que cujo significado é geralmente único, e que estão encadeados uns atrás de outros sem encontrar-se. No Cárpato, as palavras consistem tipicamente em uma raiz que é seguida por um ou mais sufixos. Por exemplo, "sívambam" deriva da raiz "sív" ("coração") seguida por "am" ("meu," convertendoo em "meu coração"), seguido por "bam" ("ien," convertendo-o em "em meu coração"). Como pode imaginar, a aglutinação no Cárpato algumas vezes produz palavras muito longas, ou palavras que são difíceis de pronunciar. As vocais conseguem serem inseridas entre sufixos, para evitar que muitas consonantes apareçam em fila (que podem fazer a palavra impronunciável).

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Tipos essenciais. Como todos os idiomas, O Cárpato tem muitos tipos de essenciais, o mesmo substantivo será "soletrado" de forma diferente dependendo de seu rol na frase. Alguns dos tipos de substantivos incluem: nominativo (quando o substantivo é o sujeito da frase), acusativo (quando o substantivo é um objeto direto do verbo), dativo (objeto indireto), genital (ou possessivo), instrumental, final, supressivo, inesivo, elativo, terminativo e delativo. Utilizaremos o tipo possessivo (ou genital) como exemplo, para ilustrar como todos os tipos de substantivos no Cárpato acrescentam sufixos à raiz do substantivo. Então expressando posse no Cárpato... "minha companheira", "sua companheira", "sua companheira", etc... acrescenta um sufixo particular (tal como "am") à raiz do sufixo ("päläfertiil"), para produzir o possessivo ("päläfertiilam"—"minha companheira"). Que sufixo utilizar depende da pessoa ("meu", "teu", "dele", etc), e de se o substantivo terminar em consonante ou vocal. A seguinte tabela mostra os sufixos por substantivos em singular (não em plural", e também as similitudes dos sufixos utilizados no húngaro contemporâneo. (O húngaro é de fato um pouco mais complexo, no que também se requer "ritmo vocal", que sufixo utilizar também depende da última vocal do substantivo; portanto existem múltiplos eleições, onde o Cárpato só tem uma sozinha).

TABELA 2

O húngaro é de fato um pouco mais de complexo, em que também precisa "vocal rimando": que acrescente como sufixo usar também depende do último vocal no substantivo; portanto os exames de escogencia múltiplo nas células debaixo, onde Carpathian só têm uma só escolha.)

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Nota: Como se mencionou antes, as vocais com frequência se inserem entre a palavra e seu sufixo para evitar que muitas consonantes apareçam em uma fila (o que produziria uma palavra impronunciável). Por exemplo, na tabela de acima, todos os substantivos que terminam em uma consonante som, seguidos por sufixos que começam com "a". Conjugação de verbos. Como em seus descendentes modernos (tanto o Finlandês como o Húngaro), o Cárpato tem muitos tempos verbais, muitos para descrever aqui. Concentraremo-nos na conjugação do presente. De novo, colocaremos o húngaro contemporâneo junto ao Cárpato, para remarcar as similitudes entre os dois. Ao igual a no caso dos substantivos possessivos, a conjugação de verbos se realiza acrescentando sufixos às raízes verbais:

TABELA 3

Ao igual a todos os idiomas, há muitos "verbos irregulares" no Cárpato, que não encaixam exatamente com este padrão. Mas a tabela é ainda Então uma guia útil para a maior parte dos verbos.

3. Exemplos do idioma Cárpato. Aqui estão alguns breves exemplos do Cárpato coloquial, utilizados nos livros Escuros. Susu. Estou em casa. Möért? E o que? csitri pequena

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ainaak enyém para sempre minha ainaak'sívamet juttapor para sempre a meu coração conectada sívamet meu amor Sarna Rituaali (As Palavras Rituais) são um exemplo longo, e um exemplo de cântico em vez de Cárpato coloquial. Tome nota do uso recorrente de "andam" (Dou-te), para dar ao cântico musicalidade e força através da repetição. Sarna Rituaali (As Palavras Rituais) Avio-te päläfertiilam. É minha companheira Éntölam kuulua, avio päläfertiilam. Reclamo-te como minha companheira Ted kuuluak, kacad, kojed. Pertenço-te Élidamet andam. Ofereço-te minha vida Pesämet andam. Dou-te meu amparo Uskolfertiilamet andam. Dou-te minha lealdade Sívamet andam. Dou-te meu coração. Sielamet andam. Dou-te minha alma Ainamet andam. Dou-te meu corpo Sívamet kuuluak kaik että ao Ted. Do mesmo modo tomo os teus a meu cuidado.

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Ainaak olenszal'sívambin. Sua vida será apreciada por mim para sempre. Te élidet ainaak pide minan. Sua vida será colocada sobre a minha sempre. Te avio päläfertiilam. É minha companheira Ainaak'sívamet jutta oleny. Está unida a mim por toda a eternidade. Ainaak terád vigyázak. Está sempre a meu cuidado. Para ouvir estas palavras pronunciadas (e para mais sobre a pronúncia do Cárpato) por favor visite: http://www.christinefeehan.com/members/

4. Um Dicionário Cárpato muito abreviado. Este dicionário Cárpato abreviado contém a maior parte das palavras do Cárpato utilizadas nos livros. É obvio, um dicionário Cárpato completo seria muito mais longo que um dicionário normal de um idioma inteiro. Nota: Os substantivos Cárpatos e verbos de abaixo são raízes. Geralmente não aparecem somente, em forma "raiz" como abaixo. Em vez disso, normalmente aparece com sufixos (ex. "andam", "dou-te" em vê de só a raiz "and") agba—ser conveniente ou adequado. ainaakfél—velho amigo. ainaak—sempre aina—corpo ai—oh. ajustar—irmã akarat—mente, vontade aka—dar ouvidos, ouvir, escutar. ak— sufixo adicionado após um substantivo terminado em uma consoante para torná-lo plural.. alatt—através ál—benzer, pego aldyn—embaixo. alɘ—levantar. alte—abençoar, amaldiçoar. and sielet, arwa-arvomet, és jelämet, kuulua huvémet ku feaj és ködet ainaak—trocar a honra, a

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alma e salvação por um prazer momento e a condenação sem fim. andasz éntölem irgalomet!—tenha misericórdia! arvo—valor, preço. and—dar arwa-arvo olen gæidnod, ekäm—a honra te guie, meu irmão (saudação). arwa-arvo olen isäntä, ekäm—a honra te mantenha, meu irmão (saudação). arwa-arvo pile sívadet—a honra leve luz a seu coração (saudação). arwa-arvod mäne me ködak— Você pode segurar sua honra, sombrio (saudação). arwa-arvo—honra (substantivo). arwa—louvor (substantivo). asa—levantar, elevar ašša—não (antes de um substantivo); não (com um verbo que não está no imperativo); não (com um adjetivo). aššatotello—desobediente. asti—até. avaa—abrir a—verbo de negação (prefix). avio päläfertiil—companheiro avio—casado/a avo—descobrir, revelar. belso—dentro, bur tule ekämet kuntamak—bom nos encontrar, irmão (saudação). bur—bom, bem. ćaδa— fugir, escapar. come—estar doente, ferido, ou morrendo; perto da morte (verbo) ćoro— fluir, correr como a chuva. csecsemõ—bebê (substantivo). csitri— pequena diutal—triunfo, vitória. eći— cair. ekä—irmão ekäm—meu irmão. ek— sufixo acrescentado depois de um substantivo terminado em consonante para fazê-lo plural eläsz arwa-arvoval—você pode viver com honra (saudação). eläsz jeläbam ainaak—longa vida na luz (saudação). elä—viver. elävä ainak majaknak— terra da vida. elävä—vivo. elid—vida. Emä Maγe—Mãe Natureza. emäen—avó. emä—mãe (substantivo). embε karmasz—por favor. embε—se, quando emni kuηenak ku aššatotello—lunático desobediente.

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emnim—minha esposa, minha mulher. emni—esposa, mulher. én jutta félet és ekämet—Eu cumprimento um amigo e irmão (saudação). En Puwe—A Grande Árvore. Relacionada com a lenda de Ygddrasil, o axis mundi, Mount Meru, céu e inferno, etc. engem—sobre mim. en— grande, muitos én—eu. és—e ete—antes, na frente. että—que. fáz— sentir frio. fél ku kuuluaak sívam belső—amado. fél ku vigyázak—queridos. feldolgaz—prepare. fél—companheiro, amigo. fertiil—fértil. fesztelen—aéreo. fü— ervas, erva. gæidno—estrada, caminho. gond— cuidar, preocupar-se. hän agba—é assim. hän ku agba—verdade. hän ku kaśwa o numamet—proprietário do ceu. hän ku kuulua sívamet—guardião do meu coração. hän ku lejkka wäke-sarnat—traidor. hän ku meke pirämet—defensor. hän ku pesä—protetor hän ku piwtä—predador, caçador. hän ku saa kuć3aket—apanhador de estrelas. hän ku tappa—assassino, pessoa violenta (substantivo). Mortal, violento (adj.). hän ku tuulmahl elidet—vampiro (literamente; assaltante de vida). hän ku vie elidet—vampiro (literalmente; ladrão de vida). hän ku vigyáz sielame—guardião da minha alma. hän ku vigyáz sívamet és sielamet—guardião do meu coração e da minha alma. hän ku—prefixo: quem, o que. Hän sívamak—amado. hän— ele, ela, isso hany—conglomerado de terra hisz—acreditar, confiar. ida—leste. igazág—justiça. irgalom—compaixão, pena isä—pai (substantivo).

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isäntä—mestre da casa. it—agora jälleen—de novo jama—estar doente, infectado, ferido ou morrendo, perto da morte. jelä keje terá—o sol te queime (xingamento cárpato). jelä—luz solar, dia, sol, luz joma—estar em caminho, ir jörem— esquecer, perder um caminho, cometer um engano. joηesz arwa-arvoval—retorne com honra (saudação). joη—vir, retornar. juosz és eläsz—beba e viva (saudação). juosz és olen ainaak sielamet jutta—beba e torne-se um comigo (saudação). juo—beber. juta—ir, vagar jüti—noite jutta—conectado, fixo (adj) estar conectado, encaixar (verbo) kać3—presente. kaca—amante kadi—juiz kaik—todo kalma—cadáver, morte. karma—quer. Karpatii ku köd—mentiroso. Karpatii—Cárpato käsi—mão kaśwa—a própria. kaδa wäkeva óv o köd—firmes contra a escuridão (saudação). kaδa—abandonar, sair, ficar kaηa—chamar, convidar, pedir, suplicar kaηk—traqueia, pomo de Adão, garganta keje—cozinhar, queimar kepä—menor, pequeno, fácil, pouco kessa ku toro—gato selvagem. kessa—gato. kessake—pequeno gato. kidü—acordar, surgir (verbo intransitivo). kim— para cobrir um objeto inteiro com algum tipo de cobertura. kinn—fora, sem kinta—névoa, neblina, fumaça kislány kuηenak minan—minha pequena lunática. kislány kuηenak—pequena lunática. kislány—garotinha. köd alte hän—a escuridão te leve (xingamento cárpato). köd elävä és köd nime kutni nimet—o mal vive e tem um nome.

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köd jutasz belső—e que a escuridão te leve (xingamento cárpato). köd—nevoa, trevas, do mal (substantivo); nebuloso, sombrio, mau (adj.). koje—homem, marido kola—morrer kolasz arwa-arvoval—você pode morrer com honra (saudação). koma—mão vazia, mão nua, palma da mão, oco da mão kond—todos de uma família ou crianças de um clã. kont o sívanak—coração forte (literamente: coração de guerreiro). kont—guerreiro k—sufixo acrescentado depois de um substantivo que termina em vocal para fazê-lo plural kuć3ak!—estrelas! (exclamação). kuć3—estrela. kuja—dia, sol. kule—escutar. kulke—ir ou viajar (por terra ou água) kulkesz arwa-arvoval, ekäm—caminhe com honra, meu irmão (saudação). kulkesz arwaval—joηesz arwa arvoval—vá com gloria e retorne com honra (saudação). kuly—verme intestinal, demônio que possui e devora almas. kumpa—onda (substantivo). kuńa— ficar deitada como se estivesse dormindo. Fechar ou cobrir os olhos em um jogo de "cabra cega", morrer kunta—bando, clã, tribo, família kuras—espada, faca grande. kure—laço, gravata. kutnisz ainaak—Enquanto você durar (saudação). kutni—ser capaz de suportar, tomar. kuulua—pertencer, manter ku—que, o que. kuηe—lua, mês. lääs—oeste. lamti ból jüti, kinta, ja szelem—o mundo inferior (literalmente: "o prado de noite, neblina e fantasmas")- greta, fissura, ruptura (essencial) lamti—terra baixa, prado lańa—filha. lejkka—fresta, fissura, fenda (substantivo). Cortar; golpear; atacar com força (verb). lewl ma—o outro mundo (literalmente "terra espírito") Lewl ma incluindo lamti ból jüti, kinta, ja szelem: dos mortos, mas também inclui os mundos superiores En Puwe, a Grande Árvore. lewl—espírito liha—carne. lõuna—sul. löyly—respiração, vapor (relativo a lewl: "espírito") magköszun—obrigado. mana—abusar; amaldiçoar; arruinar. mäne—resgatar, salvar

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ma—terra, bosque maγe—solo; terra; território; lugar; natureza. me— nós meke—tarefa, trabalho (essencial) Fazer; fabricar; trabalhar (verbo) mića emni kuηenak minan—minha linda lunática. mića—linda. minan—meu minden—todo (adj.) möért?—para que? (exclamativo) molanâ—derrubar-se molo— esmagar, romper em pedaços. mozdul—começar a mover, entrar em movimento muonìak te avoisz te—eu ordeno que se revele. muonì—apontar; ordenar; determinar; comandar. musta—memória. myös—também. nä—para, por. nautish—desfrutar. nélkül—sem nenä—raiva. ńiη3—verme;larva. No Puwe—A Grande Árvore. Relativo às legendas do Ygddrasil, o axis mundi, Monte Meru, céu e inferno, etc. nó— como, da mesma forma. numa—Deus, céu, parte de acima, mais alto (relativo à palavra inglesa "numinous") numatorkuld—trovão (literalmente: luta no céu). nyál—saliva; cuspe (essencial), (relativo a nyelv: "língua") nyelv—língua O ainaak jelä peje emnimet ŋamaŋ—O sol queima essa mulher para sempre (xingamento cárpato). o jelä peje emnimet—O sol queime essa mulher (xingamento cárpato). o jelä peje kaik hänkanak—O sol queime todos (xingamento cárpato). o jelä peje terád, emni—O sol te queime, mulher (xingamento cárpato). o jelä peje terád—O sol te queime (xingamento cárpato). o jelä sielamak—Luz da minha alma. o köd belső—a escuridão te leve (xingamento cárpato). odam-sarna kondak—canção de ninar (literalmente: canção de ninar). odam—sonhar, dormir (verbo) olen—ser. omas—em pé. oma—velho, ancestral omboće— outro, segundo (adj.) ot—ele/ela (utilizado antes de um substantivo que começa por vocal) o—ele/ela (usado antes de um substantivo que começar com consoante).

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otti—olhar, encontrar óv—proteger novamente. owe—porta päämoro—objetivo; alvo. pajna—pressionar pälä— metade, ao lado de päläfertiil—casal ou esposa päläfertiil—companheira ou esposa. palj3—mais. peje terád—Se queimar (xingamento cárpato). peje—queimar. pél—ter medo, estar assustada pesäd te engemal—você está segura comigo. pesä—ninho (literal); proteção (figurado) pesäsz jeläbam ainaak—Possa você permanecer muito tempo na luz (saudação) pide—sobre. pile—inflamar; iluminar. pirä—círculo, anel (essencial). Rodear, incluir (verbo) piros—vermelho. pitäam mustaakad sielpesäambam—Eu abraço suas memórias e as guardo em minha alma. pitä—guardar, manter pitäsz baszú, piwtäsz igazáget—Não vingança, somente justiça. piwtä—seguir poår—bocado; pedaço. põhi—norte. pukta—afastar, acossar, pôr em voo pus—saudável; cura. pusm—restaurar a saúde puwe—árvore; madeira. rauho—paz. reka—êxtase, transe rituaali—ritual. sa4—chamar; nomear. saa—chegar, vir; tornar; obter, conseguir. saasz hän ku andam szabadon—Tome o que livremente ofereço. salama—relâmpago sarna kontakawk—Canto dos guerreiros. sarna—palavras, discurso, encantamento mágico (essencial) Cantar, cantarolar, celebrar (verbo) śaro— neve congelada. sa—nervo; tendão; cabo. sas—shhhhh (para um criança ou bebê). saye—levar, vir, alcançar siel—alma sieljelä isäntä—a pureza da alma triunfa. sisar—irmã.

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sív pide köd—o amor transcende o mal. sívad olen wäkeva, hän ku piwtä—Que seu coração fique forte, caçador (saudação). sívam és sielam—meu coração e alma. sívamet—meu coração. sív—coração sívdobbanás—pulsar de coração (literal) ritmo (figurativo) soηe —entrar, penetrar, compensar, substituir sokta—misturar; agitar ao redor. susu—lar, lugar de nascimento (essencial), a casa (adv.) szabadon—livremente szelem—fantasma sγe—chegar; vir; alcançar. taka—atrás; além. tappa—dançar, bater com o pé (verbo) Te kalma, te jama ńiη3kval, te apitäsz arwa-arvo— Você não é nada, apenas um cadáver andante de larvas infectadas, sem honra. Te magköszunam näη amaη kać3 taka arvo—Obrigado por este presente sem preço. ted—seu. terád keje—ser queimado (xingamento cárpato). te—você. Tõdak pitäsz wäke bekimet mekesz kaiket—Sei que tem coragem para enfrentar qualquer coisa. tõdhän lõ kuraset agbapäämoroam—sabendo que a espada fiel voa para seu objetivo. tõdhän—conhecimento. tõd—saber. toja—inclinar, romper torosz wäkeval—Lute ferozmente (saudação). toro—lutar. totello—obedecer. tsak—somente. tuhanos löylyak türelamak saγe diutalet—mil respirações pacientes trazem a vitória tuhanos—mil tule—conhecer tumte—sentir; tocar; tocar em. türe—cheio, satisfeito türelam agba kontsalamaval—paciência é a verdadeira arma do guerreiro. türelam—paciência. tyvi—raiz, base, tronco uskol—felizmente uskolfertiil—lealdade varolind—perigoso . veri ekäakank—sangue de nossos irmãos . veri isäakank—sangue de nossos pais . veri olen piros, ekäm—literalmente: o sangue é vermelho, meu irmão; figurativamente: encontrar sua companheira (Saudação)

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veriak ot en Karpatiiak— pelo sangue do Príncipe (literalmente: pelo sangue do grande Cárpato; xingamento cárpato). veri—sangue. veridet peje—que queime seu sangue (xingamento cárpato). veri-elidet—sangue-vida . vigyáz—preocupar-se vii—último, ao fim, finalmente wäke beki—força, coragem. wäke kaδa—firmeza . wäke kutni—resistência . wäke—poder wäke-sarna—voto; maldição; bênção (literalmente: palavras de poder ). wäkeva—poderoso . wara—pássaro, corvo weńća— completo, tudo. wete—água. ηamaη— isso; este aqui, que, para alguém lá.

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