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FORÇAS DE
Defesa A Revista do Poder Naval, Poder Aéreo e Forças Terrestres Número 3 • out/nov/dez • 2011 • www.fordefesa.com.br • Preço: R$18,00
NESTA EDIÇÃO QQ Embarque
no NAe São Paulo QQ Defesa antiaérea de forças navais
QQ Os QQ Pelotão
da FAB
Punhal
Jaguares do 1ºGDA e a Defesa Aérea Brasileira
EDITORIAL
O Grupo DCNS é um líder mundial em defesa naval, mas também um agente inovador no setor de energia. O sucesso do Grupo é construído sobre uma base excepcional de conhecimento e recursos industriais únicos. A DCNS projeta, constrói e mantém navios de combate de superfície e submarinos, assim como sistemas integrados e infraestruturas vinculadas.
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ste número de Forças de Defesa deu bastante trabalho para ser feito. Nossa equipe viajou a bordo do navio-aeródromo São Paulo, fez voos de helicóptero para fotos e vídeos, foi até Brasília-DF e Anápolis-GO para conhecer o COMDABRA e o 1º GDA e trazer para você, nosso leitor, muitas imagens e informações inéditas. Nosso objetivo, além de fazer uma revista bonita e agradável de ser lida, é levar o leitor a sentir um pouco da emoção que tivemos ao fazer essas matérias. O ano de 2011 foi particularmente positivo para nossos sites e para a revista, que nasceu para criar uma sinergia com as versões online. O resultado tem sido gratificante e a repercussão melhor ainda. Graças à venda pela Internet, leitores estrangeiros e de todos os estados da Federação adquiriram a revista impressa. Mesmo já havendo no mercado outras publicações que tratam, há muitos anos, de temas relacionados à Defesa, ainda existe um campo
Consultor Romulo Federici federici@rfederici.com.br
A revista do Poder Naval, Poder Aéreo e Forças Terrestres
Equipe Editorial Guillherme Poggio poggio@fordefesa.com.br Fernando “Nunão” De Martini nunao@fordefesa.com.br
www.fordefesa.com.br www.naval.com.br www.aereo.jor.br www.forte.jor.br Ano 1 - Número 3 2011 Periodicidade trimestral
Administração e Publicidade Dinair Alves dinairalves@fordefesa.com.br publicidade@fordefesa.com.br Colaboradores Ícaro Gomes (Natal - RN) Milton Lima (Salvador - BA) Rafael Cruz (Recife - PE) Samuel Pysklyvicz (Goiânia - GO) Sergio Santana (Aracaju-SE)
Impressão WalPrint Gráfica e Editora Rua Frei Jaboatão, 295 Rio de Janeiro-RJ Tel.: 21 2209-1717 walprint@walprint.com.br
Nossa capa: Navio-aeródromo São Paulo fotografado por Alexandre Galante no dia 7 de setembro de 2011, ao largo do Rio de Janeiro o k ã w ç a a h iz ky rn S e d -1 o F M A s o
Defesa
Editores de Fotografia Guilherme Wiltgen wiltgen@fordefesa.com.br Luiz Padilha luizpadilha@fordefesa.com.br
2012 traga boas novidades para o setor e que nossos governantes colaborem cumprindo seus papéis na implementação dos projetos de reequipamento das Forças Armadas. Se cumprirem a parte deles, a nossa parte, que é manter a “chama acesa”, fica mais fácil.q
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mentalidade de Defesa na sociedade. Nesse sentido, nós estamos fazendo a nossa parte, indo a campo, registrando imagens, conversando com quem está na linha de frente e com quem toma decisões, para trazer boas histórias e informação de qualidade. Esperamos que o ano de
Editor-Chefe e Jornalista Responsável Alexandre Galante alexgalante@fordefesa.com.br
DCNS do Brasil Rua Lauro Müller, 116 - sala 3102 Botafogo - Rio de Janeiro - 22290-160
QQ Guilherme Wiltgen, Alexandre Galante e Luiz Padilha a bordo do NAe São Paulo
enorme a ser explorado, com base no “feedback” que recebemos de novos leitores. É evidente que grande parte da sociedade brasileira ainda não demonstra interesse por esses assuntos, mas a Estratégia Nacional de Defesa apresenta justamente, entre suas metas, o desenvolvimento de uma
FORÇAS DE
O grupo DCNS desenvolve também soluções inovadoras no setor da engenharia civil nuclear ou da energia marinha renovável.
EDITORIAL
No mar, no ar e na terra
FORÇAS DE
Defesa
NESTA EDIÇÃO
A Revista do Poder Naval, Poder Aéreo e Forças Terrestres Número 3 • out/nov/dez • 2011 • www.fordefesa.com.br • Preço: R$18,00
Embarque no NAe São Paulo Q Defesa antiaérea de forças navais Q
Forças de Defesa Av. Princesa Isabel 334 Bl3 406 Copacabana - CEP 22011-010 Rio de Janeiro - RJ 55(21)3042-6365 Para adquirir exemplares das edições anteriores enviar e-mail para: revista@fordefesa.com.br As opiniões dos articulistas não representam necessariamente a opinião da revista.
Os Jaguares do 1ºGDA e a Defesa Aérea Brasileira
Q Q
Pelotão Punhal da FAB
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O deputado fala sobre as medidas que estão sendo tomadas para fortalecer nossa Indústria de Defesa
Visitamos as instalações do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro e contamos um pouco do que aprendemos
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Entrevista - Deputado Carlos Zarattini, presidente da Frente Parlamentar de Defesa
NDCC Almirante Saboia no apoio ao Haiti
COMDABRA, o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro
Um dia no 1º Grupo de Defesa Aérea
O navio suspendeu no dia 18 de outubro para realizar a Comissão Haiti XIII. Veja as fotos.
Passamos um dia na Base Aérea de Anápolis para conhecer a rotina dos Jaguares e seus Mirage 2000
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L’Adroit, um OPV com design inovador
Conheça as características do novo navio-patrulha da DCNS, que acaba de entrar em operação na Marine Nationale
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Além do horizonte - defesa antiaérea de forças navais
Conheça os sistemas que poderão equipar os futuros navios-escolta da Marinha do Brasil
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No mar, com o NAe São Paulo
Embarcamos no maior navio de guerra do hemisfério sul numa comissão de treinamento para pilotos de helicóptero
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A modernização dos jatos AF-1 Skyhawk da MB
A Embraer está modernizando os jatos AF-1 da Marinha do Brasil. Conheça os sistemas que serão instalados
A FAB apresentou o P-3AM
A FAB apresentou oficialmente à imprensa seu novo patrulheiro marítimo. Confira o que vem por aí
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Pelotão Punhal, a tropa de elite da FAB
Conheça os desafios para entrar para o pelotão de operações especiais da Força Aérea Brasileira
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Camuflagem com baixa assinatura visual
Veja como ficou a nossa proposta de pintura para o novo helicóptero do GRAER da Polícia Militar do Paraná.
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1° Batalhão de Aviação do Exército (BAvEx) faz 25 anos
Conheça a história do 1º BAvEx e do renascimento da Aviação do Exército
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Navio-aeródromo: capitânia de Esquadra balanceada para o Brasil O almirante de esquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereira explica porque o Brasil precisa de navio-aeródromo
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Jubileu de prata do Esquadrão HU-2
O Esquadrão Pégasus da Força Aeronaval completa 25 anos de existência.
QQ Helicóptero Super Lynx espotado no convoo do NAe São Paulo
Luiz Padilha
ÍNDICE
ÍNDICE
NOSSOS LEITORES
NOSSOS LEITORES
NOSSOS LEITORES
NOSSOS LEITORES
QQ Bengt Jáner, diretor da Saab no Brasil e Alexandre Galante
QQ Comandante da Força de Superfície, Contra-Almirante Savio
QQ Comandante de Operações Navais (CON), Almirante de Esquadra Prado Maia e Luiz Padilha
QQ Comandante do 1ºDN, Vice-Almirante Carlos Augusto QQ Tenente-Coronel Aviador Navarro, Comandante do 1ºGrupo de Defesa Aérea
QQ Comandante em Chefe da Esquadra (COMENCH), Vice-Almirante Guerra
QQ Comandante da DAerM, Contra-Almirante Cardoso Gomes
QQ Coordenador do Programa de Reaparelhamento, Contra-Almirante Saboia (DGMM)
QQ Major-Brigadeiro do Ar Holanda, Comandante do COMDABRA QQ General de Divisão Peternelli, Comandante do Comando Militar do Sudeste (CMSE) e General de Brigada Diniz, Comandante da Aviação do Exército (AvEx)
QQ General de Brigada Laerte, Diretor da Diretoria de Material da Aviação do Exército (DMAvEx) e Guilherme Wiltgen 6
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Deputado Carlos Zarattini, presidente da Frente Parlamentar de Defesa Nacional Romulo Federici, consultor da revista Forças de Defesa, entrevistou o Deputado Federal Carlos Zarattini no início de outubro de 2011. O deputado respondeu a várias perguntas e falou sobre as medidas que estão sendo e serão tomadas pela Frente Parlamentar para fortalecer nossa Indústria de Defesa
QQ Deputado Federal Carlos Zarattini e Romulo Federici
n Forças de Defesa – O Brasil, pelo seu tamanho e localização e dispondo de recursos naturais vitais, além de ser um dos maiores produtores mundiais de alimento e estando prestes a ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo com o descobrimento da camada do Pré-Sal, seria em tese um alvo potencial das potências estrangeiras nas próximas décadas? Deputado Carlos Zarattini – O Brasil não só é rico nas coisas que você mencionou, no petróleo e riquezas minerais, mas também somos ricos em água, que será um bem escasso futuramente e a nossa maior reserva de água é na Amazônia. Então logica-
mente nós temos que preservar e garantir essa nossa riqueza através de uma política de defesa dissuasória, ou seja, que a gente tenha um poder de fogo que evite sermos atacados por qualquer outro país. Mas acredito que nesse momento não temos um cenário com possibilidade de ataque, o que não quer dizer que isso não venha a ocorrer no futuro, principalmente por conta da nossa riqueza energética e de bens naturais. Ao mesmo tempo vemos também as ameaças terroristas e de forças não regulares, que vêm crescendo e se organizando, então evidentemente o Brasil tem que estar preparado
Forças de Defesa
gem na oposição à Ditadura Militar, então esse tema ficou bastante reduzido na preocupação dos vários governos que vieram. Agora estamos entrando num momento em que o Brasil tem um grande impulso de desenvolvimento com crescimento significativo e isso exige que você tenha uma força de defesa compatível. Por isso a questão da soberania nacional voltou ao centro político do governo Lula e agora com a Dilma, então é inevitável que tenhamos essa discussão e voltemos a ter o desenvolvimento do Estado Brasileiro na questão da Defesa. n FD – O advento da Frente Parlamentar de Defesa Nacional significa um maior engajamento da classe política nos temas relativos à Defesa? Zarattini – Sim, o objetivo da Frente é exatamente provocar o debate das questões de Defesa dentro da Câmara dos Deputados. Ela reúne mais de duzentos deputados que têm uma coordenação e nosso objetivo é promover atividades que levem ao debate dessas questões e ao apoio a projetos que visem exatamente reorganizar num patamar mais avançado a Defesa Nacional. Queremos lutar pela aprovação de projetos, recursos para as questões de Defesa, porque pensamos que toda Política de Defesa e industrial tem a ver com o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Podemos ver o exemplo de países como a França e os EUA onde o desenvolvimento sempre esteve ligado à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico do setor de Defesa, que repercutiu no setor industrial como um todo. Nós acreditamos que no Brasil podemos fazer o mesmo.
para todo tipo de ataque, mesmo que não sejam ameaças neste momento. n FD – Como explicar que durante praticamente todo o século XX o tema Defesa Nacional não foi prioridade política ou administrativa em nível Federal, o que só veio a ocorrer nos últimos dez anos no Brasil? Zarattini – A questão da Defesa após a redemocratização foi um tema praticamente marginalizado. Primeiro porque nós estávamos saindo de uma ditadura militar, que criou uma repulsa a essa questão militar no Brasil. Todas as forças democráticas que assumiram o governo após 1985 tinham uma ori-
n FD – O senhor poderia explicar como a Frente trabalha? Zaratinni – Nós temos uma coordenação com vice-presidentes para cada região do País, nesta segunda fase que iniciamos há pouco mais de três meses. Na verdade a Frente foi fundada há três anos, tendo como presidente o deputado Raul Jungmann, que buscou trabalhar para a aprovação dos projetos da Estratégia Nacional de Defesa, os quais foram todos aprovados. Agora nosso objetivo é buscar garantir a sequência de aprovação desses projetos, como a MP 544 e ao mesmo tempo lutar para termos recursos e desenvolver projetos que sejam de interesse da Defesa e do interesse tecnológico nacional.
ENTREVISTA
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A questão da Defesa após a redemocratização foi um tema praticamente marginalizado. Primeiro porque nós estávamos saindo de uma ditadura militar, que criou uma repulsa a essa questão militar no Brasil
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n FD – Como os contribuintes interessados na Defesa Nacional podem pedir informações ou acompanhar os trabalhos da Frente? Zarattini – Nós ainda não temos um setor de comunicação, mas pretendemos colocar no ar um site onde vamos divulgar nossas atividades. Estivemos reunidos com o Instituto de Altos Estudos da Câmara dos Deputados numa discussão sobre a questão dos submarinos, onde o almirante Fragelli, que é o coordenador do Programa de Submarinos (Prosub) esteve presente na Câmara e fez uma excelente exposição sobre o andamento do projeto dos submarinos, que inclui a construção de 4 submarinos convencionais e um submarino de propulsão nuclear. Nós vamos discutir também a questão dos minerais estratégicos, que são importantes para a Defesa. São as famosas “terras raras”, que são minérios importantes para o desenvolvimento do País. Pretendemos também preparar para o início de 2012 um grande semi-
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Podemos ver o exemplo de países como a França e os EUA onde o desenvolvimento sempre esteve ligado à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico do setor de Defesa
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nário na Câmara fazendo uma avaliação dessas questões. Já realizamos esse seminário através da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional há dois anos e agora pretendemos fazer o segundo seminário com a presença dos ministros da Defesa, da Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Industrial e Indústria e Comércio, para a partir disso ampliar o debate não só na Câmara, mas em toda a Sociedade. n FD – Quais são os projetos que a Frente pretende colocar em pauta prioritariamente? Zarattini – Em termos de projeto de Lei, temos o projeto da Empresa Estratégica de Defesa, a Medida Provisória 544. Ela será votada provavelmente no início de fevereiro de 2012. Ela já está em vigor porque uma medida provisória quando editada entra automaticamente em vigor, mas deverá ser votada pela Câmara e pelo Senado em fevereiro. Nossa prioridade é a aprovação desse projeto. Ao mesmo tempo nós temos a questão do Orçamento de 2012 e antes ainda o Plano Plurianual, que prevê todos os investimentos do Brasil nos próximos 5 anos. E consta nesse Plano recursos para programas estratégicos, como os submarinos e helicópteros, que também são uma compra importante que o Brasil está fazendo e com produção aqui na Helibras. Temos também a questão do satélite geoestacionário que, além de servir para a comunicação das Forças Armadas, vai servir também para a Internet Banda Larga. E também a famosa discussão dos caças, que é uma questão que nós precisamos efetivamente resolver, pois nossa Força Aérea não pode ficar desprovida de uma tecnologia avançada como a dos caças de última geração.
POLÍTICA DE DEFESA
POLÍTICA DE DEFESA
ENTREVISTA
n FD – Esse tema dos caças será discutido em 2012? Zarattini – A presidente Dilma esteve com o presidente Sarkozy na viagem que fez no mês de setembro, e informou ao chefe de governo francês que esse assunto seria retomado no início de 2012, porque em 2011 o Brasil teve “o freio de mão puxado” nos gastos para reorganizar o orçamento perante essa situação de crise internacional. Nós não podemos vacilar em relação a isso, mas no próximo ano devemos ter a coisa mais organizada e preparada para avançarmos nessa questão.
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REPORTAGEM QQ Luiz Padilha
PODER NAVAL
Luiz Padilha
luizpadilha@fordefesa.com.br
O
Navio de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) Almirante Saboia suspendeu no último dia 18 de outubro para realizar a Comissão Haiti XIII, a fim de cumprir mais uma missão de apoio logístico ao contingente brasileiro da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), composto pela Força de Fuzileiros da Esquadra e do Exército Brasileiro. Segundo o capitão de mar e guerra Valter Citavicius Filho, comandante do navio, logo após o retorno da comissão Haiti XII o Almirante Saboia recebeu toda a atenção necessária para que pudesse cumprir qualquer nova missão que surgisse. O navio recebe uma manutenção preditiva para estar pronto para sus-
pender sempre que a Marinha precisar. Nesta comissão, o navio partiu um pouco mais leve pois não levou tropa. Mas sua carga nem por isso deixou de ser importante. A MINUSTAH prima por tentar minimizar as agruras de um povo por demais sofrido, e a cada missão cumprida pela Marinha, mais etapas são ultrapassadas na busca do bem estar da população haitiana. O navio é o único da Marinha do Brasil (MB) que possui aparelho para Raio X, banco de sangue e uma banheira para tratamento de queimados. Com seus 2 dessalinizadores, poderá, caso seja solicitado, enviar água potável para o contigente em terra. O Almirante Saboia também está levando uma carga de nossa revista Forças de Defesa número 2, para que nossos militares possam ler na hora do descanso.
PODER NAVAL
REPORTAGEM
NDCC ‘Almirante Saboia’ no apoio ao Haiti 16
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validar as características de navegabilidade (marinheiras) e outras qualidades náuticas do navio. Esses testes marcaram a segunda fase do programa “Gowind”, que é considerado o maior esforço da DCNS para ampliar sua fatia no mercado de navios de superfície de pequeno e médio deslocamento. De acordo com o cronograma do contrato, os testes deveriam ser iniciados apenas 14 meses após o início da construção do L’Adroit. Segundo a DCNS, esse prazo foi cumprido com sucesso, assim como os testes de mar, que tiveram a duração de quatro meses.
TECNOLOGIA PODER NAVAL
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TECNOLOGIA QQ O arranjo geral do OPV da classe “Gowind” permite observar os espaços dos diferentes compartimentos do navio
Inovador pelo design
Com um comprimento de 87 metros, boca de 13 metros e deslocamento de 1.000 toneladas, o L’Adroit oferece três semanas de persistência em águas azuis. Outras características são o alcance de 8.000 milhas náuticas, a velocidade máxima de 21 nós (requisito operacional da Marinha Francesa, mas pode ser aumentada), hangar, convoo com capacidade de operar com helicóptero de 10 toneladas e UAV de 1 tonelada, além da reduzida tripulação de 30 pessoas, com espaço para mais 29 passageiros. A propulsão é flexível, com dois eixos e hélices de passo controlável, motores elétricos para baixa velocidade e “bow thruster”. Pode ser equipado com canhões / metralhadoras de 20 e 30mm, além de armamentos não letais como canhão de água e sistema acústico de longo alcance. Entre as inovações incorporadas, e que interessam tanto ao comando naval quanto às forças de guarda costeira, estão o passadiço panorâmico de 360° de visibilidade no padrão da aviação naval, além do mastro único fechado, em que os sensores também têm 360° livres de obstáculos. Também se destacam a capacidade de lançar barcos rápidos “commando” em menos de 5 minutos, assim como a provisão completa para veículos aéreos e de superfície não tripulados (UAV e USV). A DCNS afirma que incorporou à família “Gowind” a sua longa experiência em sistemas de informação de comando. Os navios da classe podem ser facilmente adaptados para vigilância de área ampliada e, quando operando em conjunto com os centros de controle em terra e outros navios em rede, fazer a detecção automática de atividades suspeitas de outras embarcações.q 24
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QQ À esquerda, a praça de máquinas do L’Adroit. À direita, o navio visto pela “alheta de boreste”
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Além do horizonte
QQ As fragatas espanholas classe F-100 são devidamente equipadas para detectar e abater ameaças aéreas que se encontram além do horizonte. Na foto a Álvaro de Bazán, primeira unidade da classe.
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Divulgação
QQ Sequência mostra lançamento de míssil Standard pelo sistema de lançamento vertical de um contratorpedeiro da Coreia do Sul. O país está oferecendo, por meio da Hyundai, uma versão da classe KDX-2 equipada com o míssil Standard para o programa Prosuper da MB.
Navantia
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TECNOLOGIA
A defesa antiaérea da Marinha do Brasil não dispõe atualmente de sistemas de mísseis superfície-ar de médio/longo alcance. Mas essa situação pode mudar com as futuras escoltas QQ Guilherme Poggio poggio@fordefesa.com.br
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m dezembro de 1920 a imprensa norte-americana publicou a seguinte declaração do capitão de mar e guerra William Leahy, então diretor de Artilharia Naval da Marinha dos Estados Unidos da América (US Navy): “O experimento por completo demonstrou ser improvável que um moderno encouraçado seja destruído ou mesmo colocado fora de ação por bombardeio aéreo”. A declaração de Leahy, que mais tarde se tornaria um dos principais almirantes da história da US Navy, estava relacionada aos testes conduzidos contra o casco do ex-USS Indiana, um pequeno e velho encouraçado que serviu na Guerra Hispano-Americana. O Indiana foi afundado por bombas aéreas previamente dispostas em posições vitais do navio. Elas foram detonadas remotamente após simulações de ataques aéreos com o lançamento de bombas de festim. Não satisfeito com a argumentação de Leahy, o general de brigada William Mitchel (considerado o “pai” da Força Aérea dos Estados Unidos), que à épo26
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ca ocupava o cargo de diretor de Aeronáutica Militar do “Army Air Service” (Serviço Aéreo do Exército), insistiu na realização de novos testes. Nos anos seguintes, foi grande a discussão sobre o real valor bélico dos aviões e dirigíveis frente aos encouraçados. Seria necessário um novo conflito mundial para por fim à questão. Durante a Segunda Guerra Mundial, a aviação embarcada e a aviação baseada em terra foram comprovadas como sérias ameaças às marinhas. E, para contrapô-las, proliferaram nos diversos conveses os canhões automáticos de 20 a 40mm como principais armamentos antiaéreos de menor alcance. Com a introdução de espoletas de proximidade e guiagem por radar, ao longo do conflito a artilharia antiaérea de maior calibre (até 127mm) tornou-se muito mais efetiva contra ameaças aéreas a altitudes e distâncias maiores, porém sempre dentro dos limites do horizonte.
Novas armas, novos conceitos
Foi durante a Segunda Guerra Mundial que ocorreram os primeiros empregos efetivos de armas guiadas.
US Navy
Os alemães passaram a lançar, a partir de aviões Do 217, bombas planadoras radio-controladas denominadas “Fritz X” pelos aliados. Outra arma alemã antinavio de relativo sucesso foi o míssil Hs 293. A resposta dos aliados veio na forma do míssil antinavio norte-americano Bat, com guiagem por radar. Não se deve esquecer de colocar, neste contexto, o impacto que alcançaram os inúmeros ataques de aeronaves (e até mísseis) “kamikaze” japoneses, que também tinham o efeito de armas guiadas (no caso, por um ser humano disposto a morrer para atingir seu alvo). Uma das características destes artefatos é que eles podiam ser lançados de uma distância relativamente segura e, em muitos casos, superior ao alcance do armamento antiaéreo embarcado nos navios, embora ainda nos limites do horizonte, pois a guiagem nos primeiros tempos dependia da visualização do alvo. Mais tarde, com o desenvolvimento dos mísseis ar-superficie de emprego naval, as aeronaves passaram a lançá-los a distâncias cada vez maiores, além do horizonte divisado pelos alvos. Assim, ao longo das décadas do www.naval.com.br
QQ O míssil Standard equipa todos os cruzadores e contratorpedeiros da US Navy
pós-guerra, foi sendo criado um vácuo na defesa antiaérea de uma frota. Isso porque os caças embarcados (quando existentes) protegiam a frota muito além do horizonte e os canhões antiaéreos faziam apenas a defesa mais próxima. O aumento da velocidade e desempenho das aeronaves também dificultava seu abate por projéteis disparados de canhões. A US Navy, na vanguarda das pesquisas do pós-guerra, criou o programa “Bumblebee” para combater essas ameaças. O objetivo era desenvolver mísseis superfície-ar (MSA ou SAM – surface-to-air missile) de médio e longo alcances. O programa representava um enorme desafio tecnológico para a época, pois envolvia o desenvolvimento de novos propelentes, sistemas de detecção, monitoramento e guiagem precisos, além de métodos de lançamento efetivos. Como resultado do programa ‘Bumblebee’, surgiram os mísseis RIM-2 Terrier, de médio alcance, e RIM-8 Talos, de longo alcance, ambos operacionais a partir da segunda metade da década de 1950. Assim, os elementos básicos para colocar em prática o conceito da defesa em camadas (ou em profundidade), já estavam em campo naquela época.
Defesa em Camadas
Na defesa em camadas, diferentes formas de defesa são empregadas com www.naval.com.br
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No mar, com o NAe São Paulo
QQ Alexandre Galante e Guilherme Wiltgen alexgalante@fordefesa.com.br wiltgen@fordefesa.com.br
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ntre os dias 5 e 7 de setembro de 2011, embarcamos no navio-aeródromo (NAe) São Paulo, capitânia da Marinha do Brasil. Durante três dias a bordo do A 12 (indicativo visual do São Paulo), o maior navio de guerra do hemisfério sul, acompanhamos as operações aéreas e a rotina dos tripulantes, que trabalham duro para manter e operar o único porta-aviões brasileiro em atividade. E não é à toa que o trabalho a bordo tem sido duro: após mais de cinco anos em reparos de máquinas e atualização de sistemas, o NAe São Paulo está voltando, gradativamente, a operar com as aeronaves da Aviação Naval Brasileira. Acompanhe, nas próximas páginas, um pouco do que ocorreu no nosso embarque. Agradecemos desde já ao comandante do navio, capitão de mar e guerra José Renato e ao oficial de relações públicas, capitão de corveta Parracho, por toda a atenção dispensada nos três dias que permanecemos a bordo.
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REPORTAGEM
Luiz Padilha
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REPORTAGEM
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comando de cortar o rotor. Imediatamente após o corte, a tripulação realiza o “check” de pós-voo e a aeronave é liberada para os coletes roxos realizarem o reabastecimento de combustível. Além de realizar a tarefa de varredura do canal de navegação, cabe ao Esquadrão HU-1 realizar o “PEDRO”, que é a guarda de aeronaves no período diurno, quando um UH-12/13 Esquilo permanece em voo estacionário a bombordo do navio-aeródromo, em configuração SAR (Search and Rescue – Busca e Resgate). Isso se dá durante todas as operações aéreas, a fim de, no menor tempo possível, realizar o resgate dos tripulantes das aeronaves de asa fixa ou rotativa que venham a sofrer um acidente durante a decolagem ou aproximação, com queda no mar. Dentre outras funções, o Destacamento Aéreo Embarcado (DAE) do HU-1 cumpre ainda a função de SAR (Busca e Salvamento) para o caso de homem ao mar e de transporte de pessoal e material.
“Helitrapo”
Pouco após cruzarmos a boca da barra do Rio de Janeiro, a aeronave IH-6B Jet Ranger III N-5051 (Garça 51) foi posicionada no “spot 1” e aproada ao vento. Era o início das atividades aéreas para Qualificação e Requalificação de pouso a Bordo (QRPB). A Garça 51 realizou diversas rotinas de decolagens e pousos, em variados circuitos de aproximação, tanto nos spots de vante quanto nos de ré. Durante o QRPB, os pilotos vão sendo
trocados em “Hot Seat” (literalmente, “assento quente”, sem que a aeronave corte o rotor) e novamente seguem para mais uma seção de decolagens e pousos. Durante esses procedimentos, vários pilotos do HI-1 foram se qualificando para o pouso a bordo do navio ou se requalificando para o pouso. Durante as saídas, diversas vezes o HU-1 e o HI-1 se revezaram na missão de “PEDRO”.
Já com a cidade do Rio de Janeiro como pano de fundo, aproximou-se para pouso no “spot 7” a aeronave UH14 Super Puma N-7070, do 2° Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-2). O HU-2, quando embarcado no navio-aeródromo, tem como uma de suas principais missões a de guarda noturna de aeronave, chamada de “PAULO”. Essa missão é própria do HU-2 por suas aeronaves possuirem “auto-hover” e aproximação automática, características que facilitam o voo pairado sobre o mar com total segurança, mesmo sem condições visuais para seus pilotos. Muitas vezes essa arriscada missão é revezada com os SH-3A/B Sea King do 1° Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino (HS-1). O HU-2 ainda provê apoio de transporte de pessoal e carga durante uma operação anfíbia, junto aos NDCC (navio de desembarque de carros de combate) e NDD (navio de desembarque doca), transportando frações de Fuzileiros Navais e equipamentos. Todo o
transporte de carga pesada é realizado pelo UH-14 Super Puma, que em alto-mar também realiza VERTREP (Vertical Replenishment – reabastecimento vertical) com outros navios da Esquadra. Durante as operações aéreas do dia 6 de setembro, ocorreu o primeiro pouso embarcado da aeronave UH-15 Super Cougar N-7101. O helicóptero realizou a aproximação lateral e pousou na “gaveta”, à ré do AH-11A Super Lynx e à frente do UH-14 Super Puma, desembarcando uma comitiva de almirantes que participariam da comissão. Entre eles, estava o contra-almirante Liseo Zampronio, comandante da Força Aeronaval. Apesar de estar sendo realizada uma “Helitrapo” (operação de treinamento com helicópteros), a movimentação no convoo foi constante e totalmente sincronizada, proporcionando pousos e decolagens simultâneas de diversos tipos de helicópteros da Aviação Naval, desde os modernos Super Lynx e Super Cougar aos pequenos Bell 206, responsáveis pela instrução de todos os aviadores navais.
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parte do Grupo Tarefa (GT), como as fragatas Niterói (F40) e Independência (F44), o navio-tanque Gastão Motta (G23) e a corveta Barroso (V34). À primeira vista, essa atividade parece uma preocupação exagerada, mas conforme o São Paulo iniciava seu deslocamento, aos poucos fomos entendendo a sua necessidade. Isso porque, por incrível que pareça, várias embarcações persistiam em não atentar às normas de navegação e tentavam cruzar a proa do NAe, sendo rapidamente “interceptadas” e imediatamente desviadas, tanto pelo UH-12 quanto pelas lanchas. Com o grande navio já no través da Escola Naval e com o caminho livre para prosseguir, o Águia 84 foi recolhido. O pouso se deu no “Spot 2”, anteriormente ocupado pelo Lince 06, que partiu para embarcar na fragata Independência. Logo após o pouso do Águia 84, pudemos observar o trabalho sincronizado das equipes do convoo. Imediatamente os peiadores (coletes azuis), fixaram a aeronave ao convoo, enquanto seus pilotos seguiram as ordens dadas pelo orientador (colete amarelo), até o
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QQ Helicópteros UH-14 e UH-15 operando simultaneamente no convoo
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A modernização dos AF-1 Skyhawk da Marinha do Brasil
QQ Com a modernização feita pela Embraer, os jatos AF-1/AF-1A Skyhawk poderão operar até 2025, com aviônica semelhante à instalada nos F-5M e A-1M da FAB
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om o objetivo de atualizar a ampliar a disponibilidade de suas aeronaves de asa fixa, assim como restabelecer a operacionalidade do Esquadrão VF-1, em 14 de abril de 2009 a Marinha do Brasil (MB) assinou um contrato com a Embraer, no valor de US$ 140 milhões. O contrato visa a modernização de 12 aeronaves, sendo nove AF-1 (A-4 KU Skyhawk) e três AF-1A (TA-4KU 46
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Skyhawk), e foi anunciado durante a LAAD 2009. Daquela data até hoje, conforme o avanço do projeto, foram revelados diversos detalhes sobre os novos sistemas e equipamentos que serão instalados e o texto a seguir traz uma visão geral. O programa é dividido em fases e atualmente se encontra na etapa de “Preliminary Design Review” (PDR), onde se realizam vários testes e estudos de engenharia que definem a configuração final dos AF-1/1A, os “Falcões” da MB.
Os principais pontos do programa de modernização e a configuração dos “Falcões” QQ
Revisão Geral das aeronaves (PMGA); Novo radar com múltiplas capacidades (Elta 2032); Sistema OBOGS (On Board Oxygen Generation System), que gerará o oxigênio proveniente da atmosfera para os tripulantes, sem a necessidade de abastecimento das atuais garrafas de oxigênio; Novo sistema de geração de enerwww.naval.com.br
gia, com a substituição dos atuais geradores e conversores; Novos rádios para realizar, automaticamente, comunicação criptografada, permitindo no futuro a transmissão de dados via data link; Sistema inercial (EGI) de última geração; HOTAS (Hand On Throttle and Stick), controle de sistemas mantendo as mãos na manete e no manche; Novo HUD (Head Up Display), visor ao nível dos olhos que permitirá
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ao piloto manter sua atenção para fora do cockpit; Dois displays táticos coloridos multifunção (CMFD) de 5 x 7 polegadas, que apresentarão ao piloto as informações de missão em “páginas” selecionadas; Computador principal que executará todos os cálculos balísticos e de navegação para emprego de armamentos (bombas, metralhadoras de 20mm e futuramente o míssil MAA-1B); Revisão Geral dos motores;
Instalação de Radar Warning Receiver (RWR), que possibilita detectar e se evadir de ameaças que emitem sinal de radar, como mísseis e caças inimigos, o que aumenta a capacidade de sobrevivência da aeronave e a probabilidade de sucesso nas missões; Instalação do 3º Rádio VHF para capacitar a aeronave a operar seus dois rádios Rohde Schwarz na transmissão de dados via data link, enquanto permanece com a escuta dos órgãos ATC (Air Traffic Controler –
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Navio-Aeródromo: Capitânia de Esquadra balanceada para o Brasil
QQ Mauro Cesar Rodrigues Pereira Almirante de Esquadra (Ref)
A
ntes de abordar tópicos relativos à esquadra necessária ao Brasil é forçoso relembrar suas responsabilidades em função da área de atuação esperada. Cabe, portanto, falar sobre a fronteira oriental do país, a mais desconhecida de nossa sociedade, pois a muito poucos é dado conhecê-la, por suas condições singulares. Trata-se de uma fronteira marítima, cujas características nada têm a ver com o que se considera, normalmente, em relação às fronteiras terrestres, bastante conhecidas e estudadas por todos. Para simplificar esta introdução, algumas comparações serão destacadas. Inicialmente, a fronteira terrestre é tomada como uma medida linear, é passível de demarcação no terreno, por marcos ou acidentes geográficos e separa territórios sob a responsabilidade de estados nacionais constituídos, que sobre eles exercem soberania plena. No caso marítimo, principalmente na condição brasileira, que se abre frontalmente para o oceano Atlântico, a fronteira é uma superfície de mar, que começa em uma linha imaginária, sem possibilidade de demarcação, delimitando regiões de massa líquida e do solo subjacente, onde são conferidos ao país direitos, mas não soberania, sendo livre à navegação de qualquer um, de qualquer bandeira. Enquanto a fronteira terrestre possui cerca de 16.000 quilômetros de extensão e nos separa de nove estados soberanos, a fronteira marítima tem um bordo externo com aproximadamente 11.000 quilômetros, medidos sobre a linha imaginária, e apresenta como dimensão principal 4.500.000 quilômetros quadrados. Acima e além dessa área não há países com responsabilida-
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de sobre o espaço, que pode ser frequentado por quem o deseje, trazendo à nossa fronteira qualquer país do mundo. Enquanto as regiões internas às fronteiras terrestres são fruto de conquistas legítimas e, portanto, propriedade, os direitos nos espaços marítimos decorrem de convenções internacionais que, ao atribuírem tais direitos a alguém, também lhe impõem deveres, dentre os quais o de
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O propósito deste texto é alcançar um grande público, incluindo as pessoas cujos interesses nos assuntos de defesa precisam ser aguçados e ter os conhecimentos sobre a matéria ampliados
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exercer os direitos segundo regras universais, cabendo-lhe impedir que terceiros as deixem de observar, sem falar ser de sua responsabilidade o impedimento a outrem de desfrutar do que lhe é ali atribuído. Embora as semelhanças de tamanho, de biodiversidade, de recursos vivos e não vivos nelas existentes e as cobiças externas que despertam justifiquem a denominação de Amazônia Azul ao espaço marítimo onde exercemos jurisdição limitada, por ser comparável à bem conhecida Amazônia, essa verde, há inúmeras diferenças importantes a considerar entre ambas, algumas já mencionadas linhas atrás. Enquanto a posse da área terrestre garante-se pela fixação de população brasileira, sendo viável incentivar, para tanto, o aumento da densidade populacional, tal não pode acontecer na área marítima, essencialmente desabitada, o que requer patrulhamento constante por forças navais. A fronteira oriental, portanto, nasce de direitos assegurados internacionalmente em contrapartida à aceitação e bom cumprimento de deveres.
Estes resultam, por vezes, em aumento considerável da área sob responsabilidade brasileira. É o caso das obrigações assumidas em tratados sobre salvaguarda, busca e salvamento da vida humana no mar, comumente conhecida pela sigla SAR, derivada do idioma inglês. A área marítima atribuída ao Brasil passa, com isso, de quatro milhões e meio de quilômetros quadrados, cerca de metade do território continental, para perto de treze milhões e novecentos mil quilômetros quadrados, atingindo distâncias da costa de até 1.850 milhas náuticas, ou seja, quase 3.500 quilômetros. Além de precisarmos manter patrulhamento naval nessas áreas imensas, em função dos compromissos obrigatórios, há por considerar que delas e até além delas podem ser desfechados ataques ao território nacional ou às águas jurisdicionais, sendo, assim, região em
que a capacidade de tomar ações de defesa tem de ser considerada. Não é lícito ou viável cogitar-se, liminarmente, da negação do uso do mar em casos de crise, seja pela prudência de não escalar as reações a possíveis opositores em limites superiores à gravidade da situação, de forma contraproducente, seja porque a liberdade dos mares terá de ser mantida em relação a não adversários. Conclui-se daí que a esquadra terá de contar com alta capacidade de exercer o controle de áreas marítimas. Falar-se em tal controle significa a formação de considerável força de superfície à qual caberá, também, em tempos de paz, exercer o patrulhamento naval, tanto com navios menores em águas próximas, como com os de maior porte em distâncias longínquas. O propósito deste texto é alcançar um grande público, incluindo as pessoas
PODER NAVAL
OPINIÃO
Guilherme Wiltgen
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AVIAÇÃO NAVAL
Jubileu de Prata do Esquadrão HU-2 QQ Guilherme Wiltgen wiltgen@fordefesa.com.br
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A escolha da aeronave
Para constituir o acervo aeronáutico do HU-2, foi selecionado o helicóptero AS 332F1 Super Puma, uma versão navalizada e evoluída do já consagrado AS330 Puma. O modelo, fabricado pela empresa francesa Aerospatiale (hoje Eurocopter), já era utilizado no Brasil pelo 3°/8° GAv (Grupo de Aviação) da Força Aérea Brasileira (FAB). Destinada inicialmente para o uso off-shore, a versão do Super Puma encomendada pela MB recebeu alterações para o uso militar embarcado. As mais importantes são a cauda e o rotor
QQ UH-14 (em voo) e UH-15 operando juntos pela primeira vez no NAe São Paulo
Guilherme Wiltgen
m meados da década de 1980, a Marinha do Brasil (MB) identificou a necessidade de se adquirir um vetor aéreo capaz de apoiar a Esquadra no mar e também as operações com o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). A aeronave deveria realizar o transporte não só de tropas, mas também de todo o equipamento necessário, desde o navio até uma zona de desembarque, além de poder executar operações especiais no período noturno. Para operar um novo vetor com essas características, nascia o 2° Es-
quadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-2). Criado pelo Decreto n° 93.274 de 18 de setembro de 1986, o Esquadrão HU-2 iniciou suas atividades como núcleo (NuEsqdHU-2) em 25 de março de 1987, sendo ativado como esquadrão em 25 de fevereiro de 1988. Seu primeiro comandante foi o capitão de fragata Augusto José da Silva Fonseca. O HU-2 tem por missão “aprestar os meios subordinados no cumprimento das tarefas que lhe são inerentes no âmbito das Operações Navais a fim de contribuir para o preparo e aplicação do Poder Naval”.
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AVIAÇÃO NAVAL
principal dobráveis, para facilitar a hangaragem nos navios, além de novos aviônicos, radar e flutuadores.
O Pégasus
Como todo esquadrão da Aviação Naval, o HU-2 precisava decidir por um símbolo que o representasse. A escolha recaiu sobre Pégasus, o cavalo dotado de asas da mitologia grega que, após renascer da água do mar, se junta a Perseu para destruir o último dos Titãs. A escolha se deu pela semelhança da aeronave com esta figura mitológica, pois apesar do helicóptero ser destinado ao transporte de tropas e de carga, mostrou-se altamente manobrável e versátil. Aliando a robustez de um cavalo de
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Forças de Defesa
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carga com a agilidade dos pássaros, surgiu o “Cavalo Alado da MB”. Daí por diante, o Esquadrão HU-2 e suas aeronaves passaram a ser conhecidos como Pégasus e seus tripulantes como “Cavaleiros e Escudeiros de Pégasus”.
A chegada do UH-14 Super Puma
Em 15 de abril de 1987, o esquadrão assistiu à chegada de um C-130L Hercules à Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA). Pertencente à SFAIR, o Hercules (coincidentemente outro representante da mitologia grega) carregava em seu compartimento de carga o “Pégasus 71” da Aviação Naval: o UH-14 Super Puma N-7071. Ainda nos dias 23 e 25 daquele mês de abril, outros dois Super Puma desembarcaram na BAeNSPA, o N-7070 e N-7072.
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REPORTAGEM
REPORTAGEM PODER AÉREO
PODER AÉREO
Fotos de Luiz Padilha
QQ Um dos caças F-103 (Mirage IIIEBR) usados na 1º Missão Operacional de Interceptação realizada em 1982
A Defesa Aérea do Brasil
QQ Alexandre Galante
alexgalante@fordefesa.com.br
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COMDABRA (Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro) é o centro nervoso da Defesa Aérea do País. Localizado em Brasília-DF, à primeira vista seu edifício sede não parece grande o suficiente para conter as instalações e o pessoal que garantem, dia após dia, a capacidade de saber o que ocorre em cada quilômetro quadrado dos nossos céus. Ledo engano. Uma vez dentro de prédio, essa primeira impressão foi se desfazendo ao longo da nossa visita, conforme cami64
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nhamos pelas salas do complexo. Fomos recebidos pelo comandante do COMDABRA, majorbrigadeiro do ar Marcelo Mário de Holanda Coutinho, que nos apresentou a história e a filosofia que nortearam a criação do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro e depois nos acompanhou ao Centro de Operações. Nesta e nas próximas páginas, mostramos em imagens e texto um pouco do que vimos e ouvimos nesta primeira visita.
A concepção do sistema
A concepção brasileira de Defesa Aeroespacial teve que levar em conta o grande desafio de cobrir todo o território nacional, com mais de 8.500.000 de quilômetros quadrados de área, 16.800 km de fronteiras terrestres e 7.300 km de fronteiras marítimas. O Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (SISDACTA) ativou seu primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéwww.aereo.jor.br
reo (CINDACTA) em 1976, que cobria inicialmente apenas a região sudeste. Em 1985, começou a funcionar o CINDACTA II, cobrindo a região Sul; em 1992, o CINDACTA III, responsável pelo Nordeste e, em 2005, o CINDACTA IV (SIVAM), na região Norte. A Aeronáutica levou, portanto, quase 30 anos para conseguir cobrir todo o território nacional. O COMDABRA, propriamente dito, foi ativado em 1995. O controle do espaço aéreo do País é levado a efeito pelo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) e pelo Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA). O primeiro é www.aereo.jor.br
responsável pelo controle do tráfego aéreo civil e o segundo pela Defesa Aeroespacial. Ambos os sistemas compartilham os mesmos meios de detecção, comunicação e controle. O COMDABRA é o núcleo do SISDABRA, que compreende os quatro CINDACTA, as unidades de Caça e de Alarme Aéreo da Força Aérea Brasileira (FAB), a 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea do Exército Brasileiro (EB), além do navio-aeródromo São Paulo e seus jatos AF-1 (A-4 Skyhawk), da Marinha do Brasil (MB). Eventualmente, o SISDABRA também integra agências não-governamentais, organizações regionais e
de defesa civil, meios federais, estaduais e municipais. Todas as informações acerca do tráfego aéreo nos céus do País têm acesso irrestrito por parte do COMDABRA. Assim, o comando é capaz de mobilizar e dispor, num curto espaço de tempo, tudo que o Brasil possui em meios e recursos de defesa aérea. Enquanto Comando Operacional, o COMDABRA é um Grande Comando Combinado, diretamente subordinado ao seu Comandante Supremo (presidente da República) e componente da Estrutura Militar de Guerra (EMG). Em tempos de paz, o COMDABRA está subordinado ao Comando-Geral
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Luiz Padilha
Major-brigadeiro do ar Mário de Holanda Coutinho, comandante n Forças de Defesa – O senhor poderia fazer um breve resumo de sua carreira na FAB e como tem sido a experiência de comandar o COMDABRA? Maj brig Holanda – A minha carreira é semelhante à de muitos caçadores da nossa FAB. Destaco como principais pontos que marcaram a minha trajetória a qualificação como Líder de Esquadrilha no 1º/4º GAv., os vários anos de intensa atividade como instrutor de caça do saudoso Esquadrão Pacau, a passagem pela Base Aérea de Anápolis, onde tive a oportunidade de voar o Mirage III e de comandar o Grupo de Suprimento e Manutenção. Destaco, ainda, a passagem pela chefia da Seção de Operações do 1º/4º GAv., a experiência vivenciada por quatro anos como Assessor Militar na Vice-Presidência da República, o cargo de Chefe do Estado-Maior da Terceira Força Aérea, o inesquecível Comando da Base Aérea do Recife e os conhecimentos adquiridos nos dois anos de 70
Forças de Defesa
Adido do Exército e da Aeronáutica em Portugal. Como Oficial General fui Secretário da Comissão de Promoções da Aeronáutica, Comandante da Primeira Força Aérea, Subchefe de Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa e, no momento, estou no comando do COMDABRA. O COMDABRA é uma organização muito especial por ser o único comando conjunto ativado deste o tempo de paz. Sobressai, ainda, por possuir uma significativa estrutura de detecção, telecomunicação, meios aéreos, meios antiaéreos e, sobretudo, dedicados profissionais, constituindo o maior complexo operacional da área militar destinado a uma única missão: a defesa do espaço aéreo brasileiro. Assim, comandar esta organização tem sido um especial privilégio e um permanente desafio. n FD – O público leigo em geral, e mesmo o público militar não ligado à
Força Aérea, frequentemente expressa visões equivocadas sobre Defesa Aérea. Por exemplo, costumam dividir a área do Brasil pelo número de caças como se todos estivessem voando em “patrulha” ao mesmo tempo, cada um vigiando sua fatia desse espaço. Ou imaginam que um caça pode fazer uma interceptação a Mach 2 nos confins da Amazônia partindo de Anápolis. Pensando nesse público, gostaríamos que fizesse uma breve explanação realista do que significa hoje a Defesa Aérea, com caças de alto desempenho, num país do tamanho do Brasil. Maj brig Holanda – Resumidamente, poderíamos dizer que países de grandes dimensões precisam de um Sistema de Defesa Aeroespacial que possibilite concentrar a força necessária no local e no momento desejado. No caso brasileiro, foi montado um sistema de radares de vigilância que cobre todo o território nacional e permite um acompanhamento constante dos moviwww.aereo.jor.br
mentos aéreos sobrejacentes. Os quatro Centros de Operações Militares (COpM), um por CINDACTA, realizam o trabalho de definição da situação aérea geral. Os COpM são supervisionados pelo COMDABRA e ambos funcionam vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano. Isto quer dizer que os tráfegos detectados são identificados e classificados. Caso um tráfego não possa ser classificado, receberá a designação de pendente, desconhecido, a vigiar ou hostil, dependendo do seu comportamento em voo. Em qualquer situação, estará sujeito a ser interceptado por aeronave de caça e submetido às medidas de policiamento do espaço aéreo pertinentes. As medidas são aplicadas de maneira crescente e passam pelo reconhecimento, interrogação, modificação de rota, pouso obrigatório, tiro de aviso e tiro de destruição. As unidades aéreas de caça mantêm aeronaves em Alerta de Defesa Aérea e em condição de serem acionadas a qualquer momento, durante todo o ano. Paralelamente à vigilância do espaço aéreo, é realizado um trabalho constante de avaliação da ameaça e, havendo necessidade, aeronaves são deslocadas para a área onde o seu emprego seja pertinente e dissuasivo, utilizando-se a capacidade de mobilidade, que é uma das mais importantes características da Força Aérea. n FD – Desde que foi implantado um Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, no Brasil, houve duas interceptações realizadas por caças supersônicos no contexto de um conflito externo real, a Guerra das Malvinas (1982). Houve um aprendizado na doutrina, com base nessas duas experiências? Apesar de quase 30 anos terem se passado, ainda hoje se discute essas duas experiências reais e as doutrinas da época? Maj brig Holanda – As experiências vivenciadas pelas interceptações citadas são marcos importantes na história da Defesa Aeroespacial no Brasil. É oportuno salientar que as técnicas utilizadas à época para interceptar, identificar, interrogar, desviar a rota e obrigar a aeronave interceptada a realizar o pouso obrigatório são as mesmas dos dias de hoje. Ressalto que foram interceptações realizadas em tempo de paz sobre aeronaves que entraram no espaço aéreo brasileiro sem autorização e, portanto, sujeitas às medidas de policiamento praticadas na ocasião e, ainda, em vigor nos noswww.aereo.jor.br
ENTREVISTA
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Paralelamente à vigilância do espaço aéreo, é realizado um trabalho constante de avaliação da ameaça e, havendo necessidade, aeronaves são deslocadas para a área onde o seu emprego seja pertinente e dissuasivo
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sos dias. O fato confirma a inspirada base institucional que nos legaram aqueles que conceberam e operacionalizaram o SISDABRA. Comparando com aquela época, a doutrina de emprego evoluiu no campo da interceptação em tempo de conflito. Essa nova doutrina é resultado da introdução de novos armamentos como os mísseis BVR (além do alcance visual), que demandaram a criação de novas táticas e técnicas de emprego, as quais foram incorporadas às atividades de pilotos e controladores de defesa aérea. n FD – Como tem sido a experiência com o principal vetor responsável pela interceptação de aeronaves de baixo desempenho, em tráfegos ilícitos, nas fronteiras Oeste e Norte do Brasil, o A-29? Os três esquadrões equipados com o Super Tucano, a partir de suas bases ou desdobrados, vêm dando conta dos desafios de uma área tão vasta ou seria desejável ampliar a quantidade e distribuição? Não haveria tam-
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O A-29 já se mostrou um excelente vetor para emprego ar-solo. A experiência adquirida na sua utilização como interceptador de aeronaves de baixa performance tem sido igualmente exitosa
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bém a necessidade de um quarto esquadrão mais ao Sul, como planejado inicialmente à época de desenvolvimento do A-29? Maj brig Holanda – O A-29 já se mostrou um excelente vetor para emprego ar/solo. A experiência adquirida na sua utilização como interceptador de aeronaves de baixa performance tem sido igualmente exitosa, colocando a aeronave em situação privilegiada na sua faixa de atuação e perfeitamente adequada para atender à missão subsidiária atribuída à FAB, que é combater ilícitos transnacionais, que utilizem o espaço aéreo para a prática ilegal. Quanto ao número de unidades, estas têm se mostrado bem dimensionadas para as necessidades atuais de interceptação de tráfegos de baixa performance, principalmente, pela possibilidade, largamente utilizada, de operar com as aeronaves deslocadas. Emprego este que se mostrou multiplicador do potencial, tendo em vista a ampliação da área coberta pelos vetores, fato comprovado pela experiência vivenciada nos últimos anos de operação.
PODER AÉREO
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ENTREVISTA
n FD – Recentemente, foi deslocado para Manaus o Esquadrão Pacau, reequipado com caças supersônicos F-5EM, provendo assim uma defesa de ponto na região de sua base e eventuais bases de desdobramento - o que é um ganho inegável para uma região que nunca teve um esquadrão de caças a jato operando rotineiramente, ainda que a área seja extremamente vasta. Por outro lado, não se opera mais jatos (mesmo subsônicos, como era o caso do AT-26 Xavante) na Base Aérea de Natal, onde operava o Pacau - e supõe-se que a base, por si só, seja um alvo de valor militar, abrigando importantes unidades de instrução. Na verdade, toda a região Nordeste ficou sem qualquer esquadrão equipado com caças a jato. Isso não poderia ser considerado uma lacuna importante na nossa Defesa Aérea, como era a Amazônia até agora? Em caso afirmativo, há planos para preenchê-la? Maj brig Holanda – Perguntar a um caçador se ele desejaria ter mais unidades de caça terá sempre uma resposta afirmativa. Contudo, analisando o contexto da pergunta, há que se ter em mente que a administração das necessidades e possibilidades será, sempre, um desafio dos mais difíceis. A atual configuração das unidades existentes baseou-se no que prevê a Estratégia
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Um dia no 1º GDA Luiz Padilha
QQ Alexandre Galante alexgalante@fordefesa.com.br
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o dia seguinte à visita ao COMDABRA, nos dirigimos até Anápolis-GO para conhecer o 1º Grupo de Defesa Aérea, o Esquadrão Jaguar. Fomos recebidos pelo Relações Públicas (RP) do esquadrão, capitão Lucio, que fez uma apresentação sobre a história e a missão dos Jaguares no auditório. Em seguida, ele nos mostrou as instalações da unidade. Entre 74
REPORTAGEM
Forças de Defesa
os locais visitados, estava a sala de planejamento das missões, que infelizmente não pode ser fotografada. Nela tivemos a oportunidade de conversar com pilotos e tirar várias dúvidas sobre o treinamento e operações com o Mirage 2000 (designado F-2000 na FAB). Várias “lendas de Internet” foram destruídas pelas respostas dos pilotos, entre as quais a de que as asas dos aviões estavam comprometidas. Na verdade, segundo um deles, o Mirage 2000 é exigido ao máximo nas
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REPORTAGEM
manobras de combate aéreo, nas quais a aeronave puxa “Gs” elevados para escapar ao travamento do radar inimigo. As esquadrilhas Vermelha, Azul, Verde e Amarela treinam diariamente num polígono conhecido como Área Dourada, que compreende o município de Itaberaí e adjacências. Durante nossa visita, assistimos a três saídas de aeronaves em missões de treinamento, inclusive à noite. Os Jaguares exercitam-se sistematicamente em missões BVR (além do www.aereo.jor.br
QQ Piloto da Esquadrilha Amarelha dos Jaguares de prontidão no alerta: decolagem em poucos minutos em caso de acionamento
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QQ Instrução de entrada
tática com explosivos, realizada com o Comanf
Conheça os desafios para entrar no pelotão de operações especiais da FAB Fotos: Coleção do Autor
QQ Sérgio Santana
QQ Adestramento
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de entrada tática
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m 1994, o então Ministério da Aeronáutica criou o Estágio Básico de Admissão ao Pelotão de Operações Especiais (PELOPES) do Batalhão de Infantaria da Aeronáutica do Rio de Janeiro (BINFAE-RJ), sediado no III Comando Aéreo Regional (III COMAR). O corpo de instrutores era integrado tanto por oficiais da FAB que haviam concluído o Curso de Operações Especiais (do célebre Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro - BOPE) quanto por outros membros da Força lotados no III COMAR. Contudo, antes da conclusão do Estágio foi iniciada a Operação Rio, na qual a tropa, então também integrada pelos alunos do Estágio e sob o código “PUNHAL”, atuou infiltrada nas favelas cariocas. Tal emprego constituiu-se no seu batismo de fogo. Logo a palavra foi incorporada ao grito de guerra da tropa: INFILTRA! DESTRÓI! RETRAI! PUNHAL! Apenas em 2002 formou-se o primeiro oficial no Estágio de Admissão, e o curso foi redesignado “Estágio de Operações Especiais”. Cinco anos depois, sua denominação foi alterada para “Curso de Operações Especiais”, passando a ocorrer a cada dois anos. Em 2008, foi rebatizado “Curso de Operações Especiais em Segurança e Defesa” (COESD), destinado primordialmente aos integrantes dos PELOPES da FAB, mas podendo também ser frequentado por militares do Exército e da Marinha.
Objetivos do COESD
Dentre os objetivos do curso, constam os que proporcionam aos alunos 88
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PUNHAL! FORÇAS ESPECIAIS
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conhecimentos necessários à formação e treinamento de um Pelotão de Operações Especiais, apto a planejar e executar operações relacionadas à Segurança e Defesa; a exibição de atitudes típicas de um Elemento de Operações Especiais; e, finalmente, a valorização das funções operacionais levadas a cabo por uma Tropa Especial.
Seleção
O candidato deve apresentar-se voluntariamente, além de estar capacitado a atirar com armas de fogo. Deve estar servindo numa unidade de Infantaria e apresentar estado de saúde compatível com as exigências do curso. Além disso (e principalmente), deve obter aprovação no TACFE, sigla para o Teste de Avaliação de Condicionamento Físico Específico. O TACFE é composto por: 35 flexões e
extensões de braços com apoio em solo, sem limite de tempo; 15 flexões e extensões de braços em barra (pronação), sem limite de tempo; 50 abdominais oblíquos em 2 minutos; subida em 4 metros de corda vertical sem auxílio dos pés ou pernas, sem limite de tempo; corrida de 5.000 metros em até 25 minutos, usando calça e coturno; nadar 200 metros em até seis minutos e flutuar na água por 30 minutos, com o 10º uniforme RUMAER.
QQ Elementos do Punhal,
caracterizados pelo “Boot” marrom, observam um caminhão das Nações Unidas no Haiti
Habilidades Operacionais
Existe a expectativa de que o candidato selecionado tenha desenvolvido, ao final do curso, o seguinte conjunto de aptidões, capacidades e conhecimentos: transpor cursos d’água, utilizando ou não meios auxiliares de flutuação; aplicar técnicas de defesa pessoal, imobilizações e desarmes contra possíveis atos de agressão; praticar as técnicas de suporte básico de vida em situações de emergência e www.forte.jor.br
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em resgate de feridos em combate; implementar técnicas de camuflagem individual e do equipamento em diversos ambientes; executar tiro militar básico e avançado com armas curtas e longas em uso na FAB. O candidato também deve fazer uso do sistema sensorial em combate AVOT (Audição-Visão-Olfato-Tato); construir e empregar as fortificações de campanha nas posições defensivas rurais e urbanas, com ferramentas portáteis e nível parque; empregar técnicas de navegação terrestre por carta, bússola e GPS; aplicar as técnicas de abordagem pessoal e de veículos suspeitos (de emprego em Missões de Garantia da Lei e da Ordem); executar as táticas de combate terrestres básicas, incluindo àquelas empregadas para combate em áreas urbanas. A lista continua: conhecimento dos principais agentes químicos utilizados na guerra convencional e de seus efeitos no corpo humano; planejar e
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FORÇAS TERRESTRES
1° BAvEx completa 25 anos
ESPECIAL FORÇAS TERRESTRES
ESPECIAL
QQ Lado a lado, a primeira
Guilherme Wiltgen
aeronave do 1º BAvEx, o HA-1 Fennec, e a mais nova, o HM-4 Jaguar (EC 725)
QQ Guilherme Wiltgen wiltgen@fordefesa.com.br
A
história do 1° Batalhão de Aviação do Exército (BAvEx) se confunde com o próprio ressurgimento da Aviação do Exército (AvEx), extinta em 1941 juntamente com a ala aérea da Marinha, devido à criação da Força Aérea Brasileira (FAB). Foi finalmente recriada pelo decreto n° 93.206 de 3 de setembro de 1986, fruto do empenho do então ministro do Exército do governo do presidente José Sarney, o general de exército Leônidas Pires Gonçalves. 94
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Na década de 1980, o Estado-Maior do Exército (EME), visando a modernização e adequação da Força Terrestre aos modernos cenários, iniciou os estudos doutrinários para o emprego de helicópteros pelo Exército Brasileiro (EB). Desses estudos nasceu um ambicioso programa de modernização e ampliação, designado FT-90 (Força Terrestre dos anos 90). O resultado foi a criação do 1° BAvEx, que teve como primeiro comandante o coronel Jomar do Nascimento Telles.
O Surgimento da Aviação Militar
A Aviação Militar brasileira se ini-
cia no terceiro ano da Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), também chamada de Guerra do Paraguai. Foi quando o Brasil, que nessa aliança com o Uruguai e a Argentina lutava contra o Paraguai, já dava indicativos da sua vocação ao pioneiro emprego da aviação no campo de batalha, utilizando balões de observação. É atribuída ao então Marquês de Caxias, que mais tarde se tornaria o Patrono do Exército, a solicitação para a aquisição de um balão. Isso teria ocorrido antes mesmo do Marquês sair do Rio de Janeiro para assumir o Comando no Teatro de Operações. Devido às www.forte.jor.br
características topográficas da região onde se concentravam os combates, terreno plano, pantanoso, com mato alto e sem a presença de elevações geográficas que auxiliassem na observação das posições inimigas, o balão se mostraria como uma arma fundamental para planejar a melhor forma de atacar o inimigo entrincheirado. O primeiro balão não pôde ser utilizado, pois acabou danificado pelo mau armazenamento. Isso forçou o ministro da Guerra a solicitar uma nova compra, que foi realizada nos Estados Unidos pelo cônsul brasileiro em Nova Iorque, que o encomendou ao professor www.forte.jor.br
Thaddeus S. Lowe. Reconhecido inventor e aeronauta, durante a ainda recente Guerra da Secessão dos EUA (1861-1865) Lowe realizou inúmeras ascensões sobre o campo de batalha, observando a movimentação das tropas Confederadas. As informações eram repassadas ao comando em terra com o auxílio de telégrafos. Foram adquiridos dois balões e os equipamentos para fabricação do hidrogênio, com o qual eles seriam inflados. Devido aos compromissos assumidos com o governo dos Estados Unidos, o professor Lowe não pôde vir ao Brasil, designando para a missão dois an-
tigos assistentes, os irmãos James e Ezra Allen. Os dois balões chegaram às vésperas da Batalha de Tuiuti. As observações aéreas sobre as fortificações paraguaias, assim como o acompanhamento dos movimentos de suas tropas, foram de fundamental importância para o planejamento estratégico do Marquês de Caxias, marcando também pela primeira vez a utilização de um meio aéreo em combate na América Latina. Com o desenvolvimento das aeronaves de asa fixa no século XX, a Aviação Militar continuou a evoluir até a criação do Ministério da Aero-
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dendo realizar missões de combate, apoio ao combate e apoio logístico.
As comemorações pelo Jubileu de Prata
Durante os meses de setembro e outubro, o 1º BAvEx realizou diversas atividades comemorativas para a celebração de seus 25 anos. Dentre elas, podemos destacar como um dos pontos altos a visita do astronauta brasileiro Marcos Pontes, que proferiu uma palestra motivacional para os militares do Falcão. A palestra de Pontes ressaltou o compromisso com a missão dada e o pioneirismo, assuntos que traduzem a própria essência desta pioneira unidade aérea do Exército Brasileiro. Outra atividade destacada foi a exposição de várias empresas do segmento de defesa, levando aos integrantes do 1º BAvEx o conhecimento das novas tecnologias empregadas nas modernas aeronaves de combate. Também foram mostrados aviônicos de última geração e armamentos helitransportados. No dia 1º de outubro, foi realizada a cerimônia militar em comemoração dos 25 anos, que contou com a sempre simbólica presença do coronel Telles, primeiro comandante.
Guilherme Wiltgen
FORÇAS TERRESTRES
ESPECIAL
QQ Foto histórica: coronel Telles (esquerda), primeiro comandante do 1º BAvEx,
seguido do general de brigada Diniz, do general de divisão Peternelli (ambos excomandantes) e do coronel Silva Júnior, atual comandante do 1º BAvEx
A cerimônia foi presidida pelo general de divisão Roberto Sebastião Peternelli Júnior, ex-comandante do batalhão e da AvEx e atual comandante do Comando Militar do Sudeste. Também estiveram presentes o general de brigada Eduardo Diniz, ex-comandante da unidade e atual comandante da AvEx, e o coronel Silva Júnior, que é o atual comandante do 1º BAvEx. Suas presenças demonstram a importância da unidade, pelo fato de dois de seus ex-comandantes já terem assumido o posto mais alto dentro da AvEx. Durante a solenidade militar, um
momento marcou de forma singular os militares participantes: foi a entrada autorizada de seus familiares, quando também foram trocadas as atuais bolachas do 1º BAvEx pelo modelo comemorativo dos 25 anos, demonstrando a importância da “família Falcão”. Esse é o 1º BAvEx, um dos responsáveis pela integração da Força Terrestre à 3ª dimensão nos modernos campos de batalha. Um batalhão que alia a agilidade de suas aeronaves ao profissionalismo de seus tripulantes, sempre prontos para defender o Brasil.q
Guilherme Wiltgen
QQ Tripulantes da EHEG2, a
mais nova esquadrilha da AvEx, formados junto ao HM-4 Jaguar EB-5001, tendo à frente seu comandante, major Vinícius
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