DISTRIBUIÇÃO & Redação Qualquer pessoa ou entidade interessada em distribuir o Boletim do Kaos na sua quebrada (ou não), pode retirar em quantidade (50, 100, 200 ou pacote com 400 exemplares) na nossa redação. É grátis.... querendo agendar, email abaixo. Ou vá às terça-feira, das 20h às 22h durante o SARAU SUBURBANO.
EDITORIAL
LIVRARIA SUBURBANO CONVICTO O Boletim do Kaos chega a edição de numero 12 e vem cheio de atitude. Nesta edição vamos falar de movimento negro, afinal dia 20 de novembro é Dia da Consciência Negra.
Esse é o nosso querido jornal.....
E nós também fazemos parte do quilombo comandado por zumbi.
Mande críticas construtivas, elogios e sugestões de pauta.
Você vai ver também numa super matéria, como anda a parceria entre a Suburbano Convicto Produções e a UNINOVE que além de viabilizar esse jornal, ainda leva pra faculdade o Sarau Suburbano é 10! e muitas outras ações como o FALA AÍ UNINOVE.
Aguarde que em dezembro teremos uma edição super especial de final de ano.
Tem nas matérias de capa a grande Leci Brandão e o jovem MC Rashid. Vamos falar ainda de Rene Silva do Voz da Comunidade do Complexo do Alemão.
E o seu canal direto pra falar com o Boletim do Kaos é .... suburbanoconvicto@hotmail.com
É NOVEMBRO !!! Viva Zumbi dos Palmares. Alessandro Buzo editorwww.buzo10.blogspot.com TWITTER: @Alessandrobuzo
Redação do Boletim do Kaos Rua 13 de Maio, 70 - 2o andar Bela Vista São Paulo - SP - CEP: 01327-000 (11) 2569-9151 suburbanoconvicto@hotmail.com Pontos de Distribuição O Boletim do Kaos é encontrado em diversos endereços nas periferias de São Paulo, de eventos culturais ao comércio local.
O brinde ainda é na humilde, com sidra, nos copo de requeijão. Mas se não for verdadeiro, no copo, nem põe a mão. Tubarão Dulixo
Tem a Banda Bixiga 70 lançando seu segundo disco e o Toni C lançando a Biografia do Sabotage. Conto “O Assalto” de Alessandro Buzo e ainda Tirinhas HQ de Walter Luis.
LANÇAMENTOS
Jornal Boletim do Kaos Alessandro Buzo Editor e repórter Jessica Balbino Reportagens Alexandre de Maio Diagramação Suburbano Convicto Produções - Distribuição
Todos esses trabalhos vcs encontram na Livraria Suburbano Convicto do Bixiga.
Rua 13 de Maio, 70 2o andar - Bela Vista - São Paulo SP - Cep: 01327-000
O assalto
Por: Alessandro Buzo
- Papo é o seguinte. Poucas palavras no rádio. Tudo certo pra ter início em 10 minutos, exatamente às 14h. - Copiado - Respondeu Douglas. A equipe dois tem Douglas, Brita e Mauro. Assim que recebeu a senha de 10 minutos, Douglas pede 1 minuto pros companheiros e sai do carro. Liga pra esposa: - Amor, não posso explicar nada agora, mas hoje eu resolvo nossa situação, não vamos ser despejados, nem nossa filha vai ficar sem remédio. - Onde você está, Douglas? Pelo amor de Deus não faz nenhuma besteira. - Desligo e se acontecer qualquer coisa, lembra que eu te amo e amo nossa princesinha, manda um beijo pra nossa Bruninha. Tchau. - Onde você?..... TU TU TU TU Desespero de Cristina, esposa de Douglas. Por conta das despesas com o tratamento da filha que nasceu com uma doença rara, eles se endividaram e agora estão prestes a serem despejados. Equipe um tem Montanha, o chefe.... Cavera e Paulo. Mais Mônica e Valeska. O plano foi minuciosamente passado até a exaustão. Montanha e Valeska já foram na joalheria, já compraram um anel. Almoçaram na praça de alimentação, viram toda a movimentação dos seguranças. Paulo e Mônica também foram. Fizeram quase as mesmas coisas. Elas, bonitas, recrutadas por Montanha num puteiro no extremo da zona Sul de São Paulo. Não sem antes ganhar a confiança das moças, com noites de sexo, gordas caixinha, passeios pra jantar fora do puteiro, cumplicidade. Elas gostam de vida boa e Montanha sempre tem dinheiro e vontade de trepar porque elas também gostam muito. Logo descobriram de onde vinha, quando numa cantina, na hora de pagar a conta ele sacou uma pistola e levou tudo que tinha no caixa, deu um saco preto pra Valeska e disse: - Pega celulares e carteiras na mesa, quem tentar esconder eu mato sem piedade. Choveu celular e Valeska pegando tudo. Se sentiu a bandida quando viu um moça com um colar lindo e disse: - Tira bebê, que o colar agora é meu. A equipe 1 entra no shopping e caminham tranquilamente por outros corredores até exatamente 14h30, a segurança muda o plantão esse horário, menos vigilantes. Os dois casais entram no mesmo momento, anunciam o assalto, eles fortemente armados e elas recolhendo as joias, sabiam a vitrine das mais valiosas. A equipe 2 fica de bobeira nas proximidades, estacionam próximo do carro da fuga da equipe 1, no horário que começou o assalto lá no primeiro andar e se pintar polícia, são o reforço da quadrilha. Por volta das 14h30, parte o carro da equipe 1, a equipe 2 ainda fica a postos, sabem a hora de partir pra estacionar 14h30. Fizeram o percurso mil vezes, com carros diferentes pra não levantar suspeita. Tudo começa a funcionar como um relógio. Antes do horário, Paulo pagou sorvete de creme pra
Mônica, ela loira e linda, pondo sorvete na boca dele e sorrindo. Meio frio, ele com blusa leve de capuz. De grife, diga-se de passagem. Na praça de alimentação famílias e gente de negócios em horário de almoço tardio. Nos corredores a maior normalidade do mundo numa terça-feira de um grande shopping. Montanha e Valeska viram os cartazes dos filmes na entrada do cinema, bebeu um chope na passagem pela praça de alimentação, dali levantaria na hora exata de chegar 14h30 na loja, um minuto dali até lá, 14h29 ele levanta, relógio ajustado com o dos amigos. Cavera chegou antes, almoçou na praça e está dando cobertura pro chefe Montanha. Montanhae Valeska levantam ele aguarda um pouco e levanta também. Um minuto de tempo pra ele ter chego a joalheria. De um lado do corredor vem Montanha e Valeska, do outro Paulo e Mônica. Entram no mesmo instante, o Montanha rende o gerente e duas moças, pede pra ninguém gritar. Agir com naturalidade. Paulo rendeu a outra vendedora e uma cliente.
pra ele ela era só uma amiga puta, mas parece que o sentimento andava querendo falar mais alto, mas MONTANHA não demonstrava nada. Ele é frio e calculista. Em tudo. Só é quente na hora de transar com Valeska, que é ambiciosa: - Se eu não gostasse de dinheiro não estaria aqui nesse puteiro dando pra esses caras que chegam aqui bêbados na madrugada, alguns deles gastando o dinheiro que era pra outras despesas do lar, mas o álcool o levou até o inferno e ele queria abraçar o capeta que atendia por Valeska, mas que nasceu Camila. Um dia após o assalto, a joalheria não divulgou o valor mas estimasse em torno de R$ 500 mil, a polícia havia identificado o morto e bateram na sua casa, Cristina atendeu e vendo a polícia pensou o pior e caiu em desespero, o seu marido não havia retornado depois daquele telefonema, só ela e sua mãe sabiam do telefonema, mas nem sonhavam no que ele havia se metido pra arrumar dinheiro. O tenente comunicou a esposa e perguntou: - Você sabia do envolvimento dele ? Tem armas ou drogas na casa? - Nada disso, nunca imaginei. Correu pro quarto da filha, pegou ela no colo. Clima ficou tenso, ela poderia ter sido baleada.
Todos fizeram silêncio, clima tenso.
Um policial se dirigiu ao tenente e disse: - Nessa casa não tem nada, senhor.
Valeska e Mônica enchem duas bolsas que antes elas carregavam vazias de joias, partem os quatro com o Cavera atrás, nada de segurança e muito menos polícia.
Uma assistente social passou a falar com Cristina. Ela parecia em choque. Sua mãe chegou nesse momento e falou com a polícia, Cristina não tinha condições de nada.
O assalto só é percebido na saída da loja, a gerente saiu desesperada, ela estava em estado de choque. Ligaram rapidamente pra polícia, outra loja que tem um nextel de uma viatura das imediações, avisou o cabo Moka, que estava próximo e deu ordem pra Blazer ir pra saída do shopping.
No velório um homem, não era nenhum da quadrilha, era um laranja que ganhou R$ 200,00 pelo serviço. Chegou na mãe de Cristina e disse: - Meus pêsames, eu era amigo dele (tudo baixinho no ouvido), queria ajudar nas despesas, acabei de por um envelope branco no lixo ali fora, é uma ajuda pras despesas.
Quando a Blazer virou, o carro do Montenha e o Paulo numa moto com a Mônica, já tinham dobrado a esquina, quem estava na linha de frente saindo era a equipe dois, Mauro era o piloto e Douglas e Brita estavam atrás armados. Vendo que a perseguição seria pior, pararam no meio da rua, abriram a porta, desceram e metralharam a blazer. O motorista jogou pra cima de um carro estacionado e revidaram os tiros, mas a munição dos PMs era inferior, Douglas e Brita estavam com uma “lurdinha” (metralhadora) e Mauro com duas pistolas.
Dona Marta olhou o homem se afastar, depois como que caindo a fixa do que tinha ouvido foi lá e pegou o envelope, sem saber o que fazer resolveu ir ao banheiro e contou R$ 5 mil.
Quando os PMs estavam escondidos dos tiros e a viatura batida eles seguiram fuga, mas na hora de entrarem no carro Douglas foi atingido, Brita abriu a porta e mandou ele subir. Mas Douglas tinha caído morto, o tiro pegou na nuca. Mauro acelerou, Brita disse: - Ele morreu cara, o Douglas morreu e ele é o único que não é do crime. - Mas morreu como homem, representou na hora das trocas com os bota. Vai ter a parte dele. Toda quadrilha dispersou, joias guardadas uma semana até o receptador retirar e pagar. Ninguém se vê ou se fala ao telefone nesse período. Montenha deu um perdido uma madrugada, foi até o puteiro e transou com Valeska, Mônica havia abandonado o ofício, mas Valeska dizia que só sairia do puteiro quando Montenha montar uma casa pra eles. Treparam feito doidos e nem uma palavra sobre o assunto assalto. Na saída ele: - Tudo 100% como combinado. Disse na hora de pagar pelo serviço, dando a frase um duplo sentido. Montanha disse que era morte pra quem furasse o jejum de uma semana sem se ver nem se falar. Mas ele era o chefe e precisava transar com Valeska, imaginava ela no puteiro com outros caras, isso nunca o incomodou porque
Só contou pra Cristina no dia seguinte, o irmão do Douglas que mora em Ribeirão Preto (SP) foi quem emprestou R$ 2 mil pras despesas de funeral, havia dito que não havia pressa em receber de volta e que 50% do valor era uma ajuda dele. A polícia vigiou a casa de Cristina por alguns dias. Viu quando ela um dia antes de ser despejada se mudou pra casa da mãe dela. Deixaram de se preocupar com ela em 10 dias. No dia que o assalto completou um mês, a família fez uma missa, haviam feito uma de sete dias. Na saída da igreja, Montanha chega em Cristina como quem cumprimenta e diz: - Seu marido morreu como um homem e aqui está a parte dele, rendeu R$ 450 mil, dividido por oito, menos despesas com quem deu a fita, tem R$ 50 mil em dinheiro na sacola que eu deixei ali, e apontou pra um banco com Valeska sentada. Montanha saiu por um lado, Valeska por outro. Cristina disse: - Mãe, pega a minha sacola ali. Em casa contaram o dinheiro. Cristina lembrou –se da frase do Douglas ao telefone: - Amor, não posso explicar nada agora, mas hoje eu resolvo nossa situação, não vamos ser despejados, nem nossa filha vai ficar sem remédio. Não foi hoje, o despejo já foi, mas o tratamento da filha poderia ser um pouco melhor. z zCristina nunca descobriu como Douglas se envolveu...... agora que ele morreu. Ninguém sabe, nem eu. Alessandro Buzo é escritor www.buzo10.blogspot.com
Questionado sobre os temas abordados, que passeiam entre o social, o romântico, o racismo, o afetivo, o da gentrificação sofrida pelas periferias e o da diversão, o rapper pontua que não mudou, apenas amadureceu. “Sempre abordei esses temas, isso faz parte da minha parada. Tento passear por todas as temáticas nas quais eu me sinto confortável e com propriedade pra falar. E deixo a poesia trabalhar também… Por isso a gente vai de política a amor, família, rua, fé e até futebol sem se perder. O desafio é pegar o que tá a sua volta e trabalhar em cima disso, e o que é importante pra você também, é claro, porque estamos falando de arte. Tudo que eu falo, é importante e faz a diferença pra mim”, pontua.
“A escola me ensinou a ler, mas o rap me fez abrir um livro”, diz Rashid Rapper fala sobre a mixtape “Confundindo Sábios” e as temáticas musicais do álbum Por Jéssica Balbino* Foto:BOB DONASK “A escola me ensinou a ler, mas o rap me fez abrir um livro”, diz o rapper Rashid. E esta é apenas uma das muitas frases de efeito que ele disse em entrevista ao Boletim do Kaos e nas canções da recém-lançada – e elogiada – mixtape “Confundindo Sábios”.
Não é a toa que esta foi a mixtape que mais deu trabalho a Rashid, como ele mesmo confessa. “Escrevi e até gravei vários sons que no final ficaram de fora. Outros eu fiz, gravei, escutei e resolvi começar tudo do zero. Eu quero evoluir liricamente. No país de Chico Buarque e Mano Brown eu preciso suar a camisa compondo. Mas me sinto completamente satisfeito com este trabalho”, comenta. Por outro lado, o rapper que está na cena do hip-hop brasileiro desde 2008 confessa que ainda se prepara para gravar um disco oficial. “Acho que um disco é um passo muito grande, então tenho que ter certeza que vou lança-lo no momento certo”.
Sobre a mixtape A mixtape “Confundindo Sábios” lançada no último dia 24 de setembro chama atenção não apenas pela qualidade musical ou pelo título provocativo, mas também pelo aspecto visual, em que traz um garoto sorridente e tirando uma máscara, o que, segundo Rashid, é uma alusão às máscaras de preconceito, intolerância e marginalidade da sociedade. A foto é de Enio César e a arte de Marcelo Lima.
Com uma mensagem bastante provocativa, não apenas no nome do álbum, Rashid, aos 25 anos, chama atenção de forma sutil, musical e poética para inúmeros contrastes, entre eles, o racismo. E isso é explícito não apenas nas 15 faixas, mas no recém conquistado Prêmio Jovem da Música Brasileira.
Logo na faixa inicial, “Eu Confesso”, fica nítido o motivo da confusão de sábios. Na sequência, a “Virando a Mesa”, com participação de Daniel Cohen e que foi divulgada como single antes do lançamento oficial do álbum e que ganhou até mesmo videoclipe mostra a importância da luta.
“Acho louco um jovem negro, de periferia, que faz rap e nada na contramão do mundo estar entre os destaques da música em 2012/2013, sendo um artista independente. É um ótimo passo. Um sinal para continuar trampando pesado. Sobre o álbum, podemos dizer que chamar atenção é resultado do trabalho. A cada lançamento a gente aprende coisas novas. O hip-hop é uma cultura nova, tudo que conquistamos até aqui são os primeiros passos de um gigante que tem um longo caminho pela frente ainda. Acredito na nossa cultura e fico muito feliz se meu trabalho servir como uma bandeira de “Eu Acredito!’, porque eu realmente acredito”, resume.
A terceira música “Bate e Gol” com produção de Dj Max é a próxima que deve ganhar um videoclipe. A quarta canção, “Vício”, com a participação de Tássia Reis fala sobre relacionamentos e não foge ao romantismo.
Para Rashid, o rap pode indicar mudanças positivas de comportamento e, por conseguinte, mudanças na periferia. “O rap me mudou, especialmente meu ponto de vista em relação ao mundo, a política, a polícia, a TV, entre outros. O rap me deu uma postura e um motivo pelo qual me orgulhar e é dessa forma que o rap muda a periferia”, acredita.
Já a quinta faixa, “Chapa Quente” destaca os scratches do álbum. Em “Vagabundo Qualquer”, a sexta faixa, também produzida por Dj Max, fala sobre sonhos e lutas. A sétima canção, que dá título ao álbum, traz a participação de Emicida. Em “Polícia e Ladrão”, com a produção de Dj Zala, Rashid pede respeito à periferia e ao povo. A nona faixa da mixtape, “Crônica da Maldita Saudade” tem o título autoexplicativo e foi produzida pelo próprio rapper, em parceria com a dupla Stereodubs e participação de Di Melo.
As três canções seguintes, “A Fila Anda”, “Mil Cairão” e “Nada Pra Ninguém” foram produzidas por Dj Caíque e lançadas antes da mixtape. Na sequência, em “Um Sonho Só”, Rashid rima ao lado de Kamau e mostra que pode incorporar o lirismo tão sonhado. A faixa de número 14 tem feat do músico Rael e produção assinada por Felipe Vassão. Na música Rashid homenageia a própria mãe. Em “Libertai”,o rapper traz reflexões justamente sobre liberdade. E, por fim, na canção “Abaixe Suas Armas”, Rashid novamente toca na temática social
e do sistema e deixa a mensagem simples e óbvia: “Minha luta é pela paz, mesmo que essa paz só dure enquanto durar essa canção” Rap + Erudito A junção de estilos tão distintos pode dar certo. A prova é que projetos que mesclam o popular e o clássico tem se tornado uma frequente. Paralelo ao lançamento da mixtape, Rashid apresentou-se no Sesc com projeto “Hip-Hop Com Erudito Dá Samba”, e acompanhado por Lurdez da Luz e 38 músicos e um maestro, confundiu sábios.
“Essa foi uma das melhores experiências que tive nos últimos anos. Aprendi muito com os músicos da orquestra, com o maestro e pude entender até um pouco mais do meu trampo mesmo. Foram misturados dois estados de espírito nesse projeto. Eu vi muitos músicos emocionados com um improviso ou alguma letra nossa e emocionei diversas vezes com as peças deles. As músicas ganharam muito sentimento” Serviço – A mixtape está disponível para venda e download no site: rashid. com.br •Jéssica Balbino é jornalista
Consciência Negra: quando o hip-hop encontra e negritude e milita Ativistas e militantes falam sobre o mês de novembro e a importância dos trabalhos voltados à conscientização Por Jéssica Balbino*
A possibilidade de um adolescente negro ser vítima de um homicídio é 3,7 vezes maior do que a de um branco. O dado é parte de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre racismo no Brasil divulgado no último dia 17 de outubro. Diante disso, é possível comemorar o Dia da Consciência Negra no próximo 20 de novembro? E qual a relação da cultura hip-hop e das periferias com isso? O Boletim do Kaos ouviu artistas e ativistas do movimento pelas periferias para saber o que eles pensam sobre o tema e como trabalham a questão em suas obras. Sabe-se da proximidade do hip-hop com o movimento negro desde que a cultura surgiu e apesar de quase 40 anos de construção, ainda notam-se letras e temáticas extremamente contundentes e relacionadas ao movimento negro. Poderíamos ouvir cada um dos envolvidos com a cultura, cada uma das militâncias, cada um dos movimentos, coletivos, posses e grupos, mas escolhemos pessoas comuns, artistas-cidadãos, que tem algo a dizer e muito preconceito a combater. O ativista Eduardo José Barbosa, de 41 anos, conhecido como Bobcontroversia está no movimento negro desde os tempos da escola e não esconde. “É uma história de muito sofrimento, porém inúmeros aprendizados. Se eu não tivesse passado pelo que passei hoje provavelmente não seria um ativista, militante e educador popular na busca pelo fim das desigualdades”, considera. Para ele, que já enfrentou inúmeras dificuldades por conta do racismo ao longo da vida, a data pode representar avanço em questões de união e desenvolvimento por parte dos negros. “Em minha opinião, ainda cabe muito posicionamento, falta posicionamento em relação ao oferecido por grandes empresários da cultura, da comunicação e etc, falta o devido entendimento do tamanho e a necessidade de formamos e fecharmos uma cadeia produtiva da cultura, do entretenimento, do vestuário e etc, que se bem articulada pode aleijar a grande indústria e seu olhar racista e segregador, desta forma haverá
inclusão e com isso a valorização da participação do preto e da preta no mercado”, pontua. Já a produtora cultural e militante da cultura negra e do feminismo no hip-hop, Márcia Cristina Izidoro de Oliveira, conhecida como Márcia Izzo, de 42 anos, não acredita que a data de 20 de novembro represente os negros. “A data é um marco por representar um ícone da história do povo, que foi Zumbi – com suas lutas e conquistas - porém ainda falta muito para conseguirmos transformar esta data em um momento de representação da população negra”, diz. Membro do coletivo Hip-Hop Mulher, Márcia reconhece que o mês de novembro é repleto de comemorações acerca da data, especialmente na cultura hip-hop, quando os eventos acontecem e a luta da negritude é lembrada, porém, ela ainda questiona mais espaço. “Ainda é uma data facultativa. O poder público ainda é quem decide se é feriado ou não. Em alguns municípios brasileiros a data é alterada para qualquer outro dia, ou seja, ainda não se tem o respeito e a clareza da importância do dia da Consciência Negra, que seria um dia de ressaltar a cultura, a educação e a tradição e não somente a cor da pele”, destaca. A empregada doméstica que escreveu a ‘Falsa Abolição’ e hoje é historiadora Conhecida pela canção ‘Falsa Abolição’, a historiadora Joyce da Silva Fernandes, de 28 anos é também conhecida como Preta Audácia e trabalha à frente do grupo Tarja Preta questões relacionadas à negritude. “Eu só conheci a militância política em 2006, com o grupo Tarja Preta e cada dia é um aprendizado. Depois disso eu ingressei no Educafro, que é um cursinho pré-vestibular para afrodescendentes e carentes e a partir daí percebi a grande lacuna em nossa história brasileira, que na maioria das vezes é contada pelo lado dos vencedores e não dos vencidos, por isso eu encaro como uma missão relatar, em minhas músicas, o que as pessoas não conhecem”, conta.
Questionada sobre a música ‘Falsa Abolição’, Joyce lembra que quando escreveu a canção ainda não era historiadora e trabalhava como empregada doméstica. “Eu chegava em casa e devorada os livros de história e ficava imaginando como seria eu lecionando e cantando rap – olha as viagens da pessoa (risos)”, lembra. Joyce, lembra que pensou em ter bastante peso da história brasileira reunida em uma única música e foi em busca das informações. “Não é todo mundo que gosta de estudar história, então com a música a informação é melhor digerida”. Deu tão certo que o clipe da canção foi gravado e deve ser lançado ainda este mês, também como comemoração do Dia da Consciência Negra. Por isso a rapper intitulou o novo trabalho como Audácia e pretende escrever tudo que sempre quis, especialmente em temas relacionados à negritude. Ela acredita que existe a consciência negra no país, apesar do pouco que é relatado. “No final de um show, uma menina negra disse que não deixava mais ninguém chama-la de mulata, porque mula é animal sem alma, ou seja, ela conseguiu absorver as informações contidas na minha música, porém a luta é longa. Não dá para reparar 125 anos de ‘falsa abolição’ em poucos anos”, comenta. Assim, por meio do rap, ela tenta conscientizar o público de que embora exista avanço, o racismo existe e precisa ser combatido. “Precisamos lembrar da lei. 10.639, que obriga o estudo da África nas escolas e que isso ainda não acontece. Precisamos lembrar do nosso querido guerreiro Zumbi dos Palmares. Eu e todos os negros só queremos ser reconhecido pelos nossos atos e não pela cor da pele. Enquanto acharem estranho um negro médico, professor, jornalista ou advogado, eu estarei aqui pra cutucar o mundo e passar a minha mensagem”, acrescenta.
BOB CONTROVERSISTA
PARCERIA CULTURAL LEVA POESIA E HIP-HOP PARA UNINOVE Fotos: Marilda Borges Da redação Desde o início de 2013, a Suburbano Convicto Produções e a UNINOVE mantêm uma forte parceria que vem rendendo ótimos frutos. Um dos resultados dessa ação conjunta é o Sarau Suburbano é 10!, uma versão especial do Sarau Suburbano, que acontece toda terça, na Livraria Suburbano Convicto no Bixiga.
Sarau Suburbano é 10! na Unidades Uninove, sempre com auditório lotado e participação dos alunos.
Com apresentação de Alessandro Buzo (SP Cultura, quadro do jornal SPTV da Rede Globo) e Tubarão Dulixo, o Sarau Suburbano é 10! já acontece na UNINOVE desde março deste ano, contando com a participação de poetas convidados, que declamam suas poesias e acolhem os alunos que também expressam seus trabalhos. Neste segundo semestre, o SARAU está com mais uma atração especial em cada edição. Em agosto e setembro, o convidado foi Fernandinho Beat Box, que deu um show nos campi Memorial e Vergueiro. Em outubro e novembro, a programação segue com Zinho Trindade & Banda, Akins Kinte e cinema da periferia.
Alessandro Buzo, Evandro Borges, Carlos Galdino, Akins Kinte, Augusto Oliveira, Tubarão Dulixo e Fernandinho Beat Box, UNIDADE MEMORIAL.
Buzo e funcionários UNINOVE na Convenção de Atendimento 10 no Hotel Casa Grande no Guarujá-SP.
Prof. Eduardo Storópoli, Reitor Akins Kinte, Alessandro Buzo, Fernandinho Beat Box,
Dalva Soares, Buzo e Viviane Delgado. Fala Aí Uninove Nesses eventos, a participação dos alunos da UNINOVE tem sido muito grande e rica, o que gera uma imensa troca de ideias e saberes. CONVENÇÃO ATENDIMENTO 10 Ainda em setembro, aconteceu uma edição bem diferente do Sarau Suburbano é 10!. O evento foi realizado no Guarujá, no Casa Grande Hotel Resort, durante a Convenção Atendimento 10. Em vez de contar com a participação dos alunos, dessa vez quem mostrou seus talentos artísticos foram os colaboradores da UNINOVE. Invadimos a praia levando Alessandro Buzo, Fernandinho Beat Box, Augusto Oliveira, Akins Kinte, Carlos Galdino e Zinho Trindade. Foi sensacional, lindo e inesquecível. FALA AÍ UNINOVE Outra novidade que está no ar, desde agosto, é o quadro FALA AÍ UNINOVE!, exibido no canal oficial da universidade no YouTube. O programa vem para mostrar alguns dos muitos projetos sociais espalhados por São Paulo, que contam com o apoio da UNINOVE.
UNINOVE colaborou com brinquedos e doces no Favela Toma Conta do Dia das Crianças, que a Suburbano Convicto Produções realiza desde 2004.
Essa parceria firmada entre a CULTURA DA PERIFERIA (Suburbano Convicto) e UNIVERSIDADE (UNINOVE) é um caminho que encurta distâncias e promove encontros, visando a integração social, acadêmica e cultural. É isso. FALA AÍ UNINOVE !!!
Fernandinho Beat Box, Zinho Trindade, Renata Prado, Rocha Miranda, Alessandro Buzo, Carlos Galdino, Augusto Oliveira, Akins Kinte, Murilo SDC, Jefferson Messias e Sueid Kinte.
Bixiga 70 lança segundo álbum em vinil e VD
1.
2.
3.
QUEM É QUEM na Banda Bixiga 70 1 - Douglas Antunes – trombone; 2 - Mauricio Fleury – teclado e guitarra 3 - Daniel Nogueira – sax tenor 4 - Gustávo Cék – percussão 5 - Cris Scabello – guitarra 6 - Daniel Gralha – trompete 7 - Rômulo Nardes – percussão 8 - Marcelo Dworecki – baixo 9 - Décio 7 – bateria 10 -Cuca Ferreira – sax barítono Alessandro Buzo foi ao Bixiga entrevistar a banda Bixiga 70. Coincidências à parte, o nome do grupo foi escolhido justamente por causa do lugar em que estão localizados: O numero 70 de uma rua no bairro Bela Vista, tradicionalmente conhecido como Bixiga. E foi lá no estúdio Traquitana onde rolou a entrevista exclusiva ao jornal Boletim do Kaos. No bate-papo, a banda contou sobre o segundo álbum e a agenda de shows por todo Brasil e até mesmo alguns países do exterior. Buzo: Como foi a ideia de se juntarem e formarem a banda? Os músicos já frequentavam o estúdio ? E como foi a repercussão do primeiro álbum, que foi um grande sucesso... Cris Scabello: Foi sim um grande sucesso, acho que os resultados foram maiores do que esperávamos no começo, até porque nossa pretensão não era tão grande, era mais se reunir pra fazer um som que agradasse os interesses do grupo. Falando do nascimento da banda, grande parte dos músicos já se conheciam de trabalhos na noite paulistana e trabalhos que passavam por aqui no Estúdio Traquitana. Há muito tempo a gente falava de juntar uma turma e fazer um som, acho que todo músico tem essa vontade, de trabalhar com bastante gente pra experimentar essas possibilidades sonoras. Quem foi o catalisador pra juntar esse time foi o Décio 7, que foi pescando um por um, trouxe
o Maurício, eu já trabalhava com ele aqui no estúdio e acabei entrando, foi sendo aglutinado as pessoas aí. Com 6 meses de banda, depois do primeiro show, nós gravamos nosso disco, tínhamos poucos show e rodagem. Buzo: Quando foi lançado? Cris Scabello: Em dezembro de 2011. Na verdade misturamos as datas, o nosso primeiro show foi em 15 de Outubro de 2010, a gente gravou o disco no meio de 2011 e lançou no final do ano. A gente ficou muito feliz, surpreso até, acho que o resultado do trabalho foi superpositivo. A gente fez muitos shows pelo Brasil e fora também. Fomos a segunda vez pra Europa esse ano, no fundo ainda estamos colhendo os frutos desse primeiro disco, foi um disco que marcou bastante, o público tem um apego pelo primeiro disco mesmo tendo curtido o segundo. Então é isso.... Buzo: Sonho do músico e juntar pessoas, vocês fizeram isso com quantos ? Cris Scabello: Somos em 10. Buzo: Depois de tudo isso, venho o novo álbum, quem pode falar sobre ele ?
Cuca Ferreira: A gente acabou de lançar esse segundo disco, fizemos os primeiros show de lançamento agora em setembro de 2013. A gente sabia que pelo sucesso do primeiro a responsabilidade era maior. O primeiro tinha o lance de ser uma novidade sonora pro que estava sendo feito em São Paulo, o segundo já não tinha esse efeito novidade, ai rolou um processo de trabalhar o triplo do que tínhamos trabalhado no primeiro, já tínhamos muito nos shows, já tínhamos mudado a forma de tocar, com muito mais pegada, energia, entrosamento. Mas quando foi pra gravar a gente se internou aqui 3 meses, todos os dias, você lembra, as vezes descia ai. (O Estúdio Traquitana fica no mesmo prédio da Livraria Suburbano Convicto), pra conseguir fazer um disco pra nos deixar feliz, agora a expectativa é rodar mais pelo Brasil e eventualmente fora também, mas a gente que muito sair de São Paulo, uma expectativa também de fazer um coisa que temos feito pouco, mas queremos fazer muito com esse novo disco, que é tocar na periferia de São Paulo.A gente adora o circuito que a gente toca, de SESC e noite paulistana, mas a gente quer chegar nesse público de periferia que ou-
4. viu pouco o primeiro disco, ou só ouviu na internet, mas ainda não viu o show. Buzo: Posso dizer que estamos num bom momento pra música instrumental ? Décio 7: Eu sinto que a música instrumental sempre existiu, o Bixiga 70 é instrumental, mas é como se fosse canções, é uma outra abordagem da música instrumental, eu acho que por isso talvez que a gente tenha despontado em outros cenários que talvez a música instrumental não apareceria, tenha encontrado outros públicos que talvez estavam querendo ouvir esse som, mas não tinha acesso. O Bixiga, a gente brinca que é um som instrumental que cabe na lancheira do menino e na maleta do papai, um som que tem pretensões musicais sim, mas é guiado mais pela intuição, influências musicais nossas do que, conceitos técnicos. Buzo: Imagino que o nome Bixiga 70 é porque o estúdio de vocês está localizado no numero 70 de uma rua do bairro do Bixiga, é isso mesmo ? Bixiga 70: Risos...... é isso mesmo, a resposta já está dada. Buzo: Vocês estão aqui no Bixiga, como eu, a gente acaba vivendo o bairro, como descrever aqui? Rômulo Nardes: Eu morei aqui até pouco tempo, minha mãe mora aqui no bairro e eu gosto muito daqui, faz uns 13 anos que circulo aqui, passo na Rua 13 de Maio em diversos horários, gosto muito de ir naquela feirinha de domingo. É isso... Marcelo Dworecki: Eu acho que é bem propício habitar o Bixiga, aqui é um terreno muito frutífero pra gente, porque ela contempla várias etnias, várias classes sociais. Um pouco do KAOS da nossa música, vem desse KAOS social, econômico, urbano do Bixiga. A gente está em casa. Gustávo Cék: E o melhor que é no centro da cidade, fácil acesso. Buzo: E a ligação da banda com a festa do Dia do Graffiti, o que esperar pra 2014? Cris Scabello: O dia do graffiti no Bixiga existe antes da gente chegar, era promovido pelo Toni Nogueira da DGT Filmes, você mesmo estava envolvido antes da gente. Só que quando a gente chegou e construiu a Banda, existia formas de atuação do Bairro que a gente queria somar, uma forma de ocupação do bairro. Com o crescimento do evento, na ultima edição teve 5 mil pessoas circulando na rua, vendo os grafiteiros, vendendo sua cerveja, sou coxinha. Trazendo as crianças pra passear, vimos que estávamos fazendo algo que a comunidade queria também, que é o lance de se
5.
6.
apropriar na rua. E a nossa ideia com esse evento é fazer isso no nosso pedaço, que a pessoa possa transitar em paz. Um espaço de todo mundo. Manifestações artísticas e isso tudo fez surgir um coletivo de pessoas interessadas na transformação social, que é o OCUPAÍ BIXIGA. Buzo: Defina a banda Bixiga 70 em poucas palavras. Mas antes queria fazer um convite, vocês falaram que querem tocar na periferia, então quero deixar o convite oficial pra vocês tocarem no FAVELA TOMA CONTA do Dia das Crianças 2014 no Itaim Paulista ? Bixiga 70: Estamos oficialmente confirmados. Buzo: Então pode agendar, dia 12 de Outubro de 2013 no Itaim Paulista. Voltando..... Como definir a Banda Bixiga 70? Cris Scabello: Bixiga 70 é um caleidoscópio. Daniel Gralha: Pra mim é uma grande escola, pessoal. Musicalmente humanamente falando... tem sido de um privilégio imenso poder participar do amadurecimento desta história que está sendo construída e me considero um cara de sorte por viver isso do lado das pessoas que estão aqui que são especiais. Tem sido fundamental pro meu aprimoramento humano e o resultado sonoro que tem saído disso é está sendo muito prazeroso também. Cuca Ferreira: Bixiga 70 pra mim é a minha celebração de liberdade. Marcelo Dworecki: Acho que o Bixiga 70 é um coletivo de músicos que acreditam piamente que fazendo um som sincero e genuíno. Essa parada vai pegar. Mais do que tentar se adequar a alguma coisa a gente faz o nosso aqui e deixa pra ver no que vai dar. Gustávo Cék: Bixiga 70 é colheita e semeadura, de uma jornada que pessoalmente começou lá atrás quando eu comecei a ter contato com a música, o cheiro do violão do meu pai, os toca discos lá de casa, as referências que meu irmão me trouxe desde pequeno, até carregar instrumento no trem lotado, indo pro Itaim Paulista com minha filha no colo, tocando maracatu, aqui é uma colheita que consegue atingir o povo não só na parte instrumental, mas o corpo, a dança, comunicar de outras formas, como disse o Gralha é um aprendizado humano também. Rômulo Nardes: Pra mim é tipo uma liberdade de se expressar musicalmente, bem forte isso. Décio 7: Pra mim o Bixiga 70 é bomba rítmica, um encontro de amigos que fazem som.
7.
8.
9.
10.
ninguém. Desta forma eu acredito que não afeto. Sou pequeno ainda. Buzo: Como você define o Junior e o trabalho do Afroreggae? Rene Silva: Eu gosto muito do trabalho que o AfroReggae desenvolve nas favelas do Rio e a expansão que esta fazendo para São Paulo. É uma importante organização para que disperse o interesse do jovem com coisas ruins dentro da favela.
Rene Silva da voz a comunidade no complexo do Alemão.
Buzo: Nos fale do livro que acaba de lançar ? Rene Silva: O livro foi escrito pela jornalista mineira Sabrina Abreu em parceria comigo. Ela veio fazer uma reportagem de um ano da invasão do Alemão e me entrevistou. Depois desse dia, nunca mais perdemos o contato e ai surgiu a ideia de escrever o livro e contar a nossa história em algumas páginas e fotos.
Em entrevista exclusiva ao Boletim do Kaos, ele diz como tudo começou. Hoje Rene é seguido por 60 mil pessoas no Twitter e tem grande entrada na mídia, fez novela e sonha alto. Por: Alessandro Buzo Buzo: Como surgiu o Voz das Comunidades? Rene Silva: O jornal “Voz da Comunidade” (no singular) surgiu em 2005 quando eu estudava na Escola Municipal Alcides de Gasperi, próximo ,a minha casa no Morro do Adeus, uma das 13 favelas que formam o Complexo do Alemão.
Buzo: Desde quando você mora no Complexo do Alemão e o que sente pela comunidade? Rene Silva: Desde sempre. Sou nascido e criado no Morro do Adeus, que por muito tempo não foi reconhecido como Complexo do Alemão para os moradores porque existia uma facção rival e conflitos todas as noites, mas de 2008 pra cá isso mudou e hoje é considerado também parte do Alemão.
A iniciativa foi na escola, eu participava de um jornal escolar e três meses depois perguntei para a diretora se seria possível a criação de um pra minha comunidade também. Quando a gente escrevia no jornal da escola, os problemas eram resolvidos. Então eu imaginei que os da comunidade onde eu moro também seriam. Começamos com 100 exemplares que a gente imprima na escola com apoio da diretora Talma Romero, que sempre incentivou desde a primeira ideia. O “Voz das Comunidades” (no plural) surgiu seis meses após a invasão da polícia no Alemão. Percebemos que muitas outras comunidades ainda não tem voz ativa para mostrar seus problemas sociais e criamos o portal de notícias que hoje tem mais de mil acessos diários.
Buzo: Favela ou comunidade.... por quê? Rene Silva: Os dois. Dependendo da situação. Buzo: Como você espera ver o Alemão daqui 10 anos: Rene Silva: Espero que as pessoas não sofram tanto com falta de saneamento básico e infraestrutura de casas. Buzo: Como você denomina o Voz da Comunidade ? Rene Silva: Veículo de comunicação comunitária.
Buzo: Vocês foram diretamente afetados no ataque a sede do Afroreggae Buzo:Em que momento e porque você achou imno Alemão, no incêndio queimou a sua portante narrar os acontecimentos da ocupação do complexo do alemão de dentro pra fora, quando nem redação, como foi esse momento pra a mídia tinha acesso e o que isso mudou a sua vida ? você, como recebeu a notícia? Rene Silva: Recebi a notícia por Rene Silva: Eu não tive nenhuma ideia de ficar famoso, nem mesmo de publicar em tempo real a invasão mensagem de um amigo meu que do Alemão. Quando comecei a escrever, na verdade mora próximo do local onde funcionava a redação e seria inaugurada a eu estava respondendo aos meus amigos que perpousada do Afroreggae na semana guntavam toda hora como estava a situação onde eu moro. Horas depois que eu já estava respondendo seguinte. Fiquei desesperado porque todos os meus amigos e começaram a chegar varias não estava acreditando no que tinha acontecido. Achei que fosse algo para pessoas famosas como Regina Casé, Luciano Huck, atingir diretamente o “Voz da ComuWilliam Bonner, Preta Gil, Fernanda Paes Leme entre nidade” também, mas depois percebi outros que naquele momento apenas assistiam pela qual era a real situação do José Junior televisão todo o processo de invasão da polícia nas com pastor. favelas do Alemão. Começavam a chegar milhares de pessoas pra me seguir naquele momento e eu sai do meu Twitter pessoal e comecei a publicar pelo do @vozdacomunidade. Aí publiquei com ajuda da equipe do “Voz da Comunidade” tudo o que estava rolando no Alemão com informações que eu recebia também por mensagens dos meus amigos que moravam em outras áreas.
Buzo: Como passou a ser a atuação desde então ? Rene Silva: A atuação continuo da mesma forma, só estamos fazendo a redação em outro lugar. Continuo reunindo os jovens e dando voz à comunidade com a galera. Buzo: Teme pela sua segurança ou de alguém do Voz? Rene Silva: A gente nunca pode confiar em ninguém 100%, mas eu tenho muita fé em Deus e não devo nada a
Buzo: Cite 10 referências positivas do Complexo do Alemão, esportiva, social ou cultural Rene Silva: Associação Mulheres de Atitude, Educap, Favela é Fashion, Raízes em Movimento, Praça do Conhecimento, Fábrica Verde, Oca dos Curumins, Surf no Alemão, Turismo no Alemão e Gedma. Buzo: Como foi atuar em Salve Jorge, uma novela das 21h na Globo, como a comunidade viu isso ? Rene Silva: Foi muito bem vista pelos moradores. Mostrou um pouco da realidade em que vivemos, mas ainda faltou muita coisa né. Mas eu fui muito bem visto, inclusive muita gente que não me conhecia passou a conhecer depois dessa participação. Buzo: UPP, o que pensa sobre elas ? Rene Silva: Acho que é um bom projeto, mas tem muitos erros como em todo lugar. Não queremos somente a UPP, é preciso de mais investimentos também.
BATE BOLA !!!!
Um time? Flamengo Um livro? Um Pé de que? (Regina Casé e Estevão Ciavatta) Um filme? Cidade de Deus Um ator? Nando Cunha Uma atriz? Nanda Cunha Um sonho? Que todos jovens da favela entrem para uma faculdade, isso se tornará realidade se Deus quiser.
Sem Terra, combate ao racismo, Movimento LGBT, professores... Já cantei por todas essas causas. Costumo dizer que estou deputada, mas sou cantora e compositora e isso nunca vou deixar de ser. Procuro conciliar a carreira artística e a atividade parlamentar, mas priorizando sempre a ação na Assembleia Legislativa.
Leci durante gravação do CD/ DVD “Cidadã da Diversidade”
LECI BRANDÃO Cidadã da Diversidade Buzo: Nos fale como foi a gravação desse CD/DVD “Cidadã da Diversidade” ? Leci Brandão: Em 39 anos de carreira eu só havia gravado um DVD. Senti que estava na hora de colocar outro DVD na rua. O CD e o DVD saíram graças ao empenho das pessoas que me acompanham. Os músicos da minha banda, meu empresário Osmar Costa e aos amigos que me dão total apoio, pois é difícil colocar um trabalho na rua sem gravadora. Queria um DVD que fosse a cara do povo e das pessoas que apoiam o nosso trabalho, e o resultado saiu exatamente como eu queria. “Cidadã da Diversidade” traz, como já diz o próprio nome, um pouco da pluralidade dos ritmos brasileiros. Tem toada dos bois de Parintins, tem música em homenagem ao Círio de Nazaré, tem hip-hop, tem afoxé da Bahia e, claro, muito samba e partido alto.
biano Sorriso. Com a Thulla eu canto “Madrugada”, que é um soul de autoria da Marta Moura, uma compositora da zona sul de São Paulo. Essa música participou de um concurso de compositoras da periferia. Ela não foi a vencedora, mas eu gostei muito desse trabalho e resolvi gravar com a Thulla, que é uma diva negra. Ela é uma cantora que tem uma personalidade forte no palco e uma voz maravilhosa. Com o Rappin Hood gravei “Sou Negão”. Eu já havia gravado essa música com ele no CD “A Filha da Dona Lecy”. Ele foi o primeiro cantor a me convidar para participar de um clipe onde eu gravei justamente essa música e, agora, neste DVD, ele novamente aceitou meu convite para essa participação. O Fabiano Sorriso é músico da minha banda, o Sampagode, e me acompanha há muito tempo. Além de excelente músico ele é também um ótimo cantor. Com ele regravamos “Círio de Nazaré”, uma música que está neste CD porque fiz uma promessa dentro de uma igreja em Buzo: Como tem sido a repercus- Belém. É uma homenagem ao povo são ? paraense. Leci Brandão: Estou muito feliz com a receptividade do público Buzo: Como dividir seu tempo entre a esse CD e ao DVD. A música o trabalho como deputada estadual de trabalho, “Supera”, está to- por São Paulo e a carreira artística? cando nas rádios e as pessoas Leci Brandão: Não tem sido fácil. O estão pedindo. Nos shows, sinto povo de São Paulo depositou seu que o público está ouvindo esse voto de confiança em mim, na minovo trabalho com carinho. nha história. Como parlamentar, estou procurando honrar e ser coerenBuzo: Nos fale das participações te com tudo o que cantei durante que tem nesse DVD toda a minha carreira artística. Como Leci Brandão: Nesse trabalho cantora, defendi muitas causas. Em conto com as participações todos os palcos das lutas sociais eu mais que especiais de Thulla estive presente. Diretas Já, demarcaMelo, de Rappin Hood e de Fa- ção de terras indígenas, Movimento
Buzo: São Paulo hoje tem muitas rodas de samba de comunidade, o samba está forte? Leci Brandão: Acredito que o samba como movimento autêntico e legítimo das comunidades é forte. Ele existe apesar da invisibilidade diante do poder público. Isso demonstra a força das coisas que vêm do povo. Apesar disso, acredito que as comunidades de samba, os terreiros, as rodas, os batuqueiros e todos os que fazem samba no estado de São Paulo devem exigir do poder público o reconhecimento do seu trabalho. Esse reconhecimento deve vir por meio de políticas públicas que coloquem o samba no seu merecido lugar de reconhecimento como patrimônio cultural do nosso povo. Enquanto parlamentar eu tenho trabalhado muito pra isso. O diálogo do nosso mandato com as comunidades de samba tem sido constante. Realizamos uma audiência pública sobre o tema pela primeira vez na Assembleia Legislativa com a presença dos secretários de Cultura do Estado e do município. Durante essa audiência, várias propostas foram feitas e o nosso mandato está empenhado em realizar o que foi apontado, mas sou apenas uma no universo de 94 deputados.... Buzo: Carnaval, expectativas pra 2014 no Rio e em SP? Leci Brandão: Eu sempre vivi o Carnaval. Fui comentarista dos desfiles do Rio de Janeiro e de São Paulo durante muitos anos. Os desfiles das grandes escolas são espetáculos lindos que contam muitas histórias do nosso povo, de fatos importantes, prestam homenagens a pessoas importantes. Mas os desfiles há muito tempo vêm valorizando pessoas que são de fora da comunidade e que só aparecem nas quadras na época do Carnaval. São as chamadas celebridades. Já disse várias vezes e repito: celebridade é quem fica na história e não as pessoas que têm 15 minutos de fama e não
fazem nada que realmente transforme para melhor a vida das pessoas. Celebridade é Cartola, Clementina de Jesus, Candeia e os grandes nomes que já estão na história. Os desfiles devem valorizar quem realmente faz o samba da escola o ano inteiro. Agora, os desfiles do Rio e de São Paulo são grandiosos. Todos sabem que sou mangueirense, mas tenho muito carinho pelas escolas de São Paulo, que sempre me acolheram de braços abertos e por quem já fui homenageada. Buzo: Você flerta sempre com o hip-hop. Como é essa ligação? Leci Brandão: Eu sempre disse que a moçada do hip-hop é, atualmente, a única voz que a periferia tem para falar de seus problemas, da sua realidade. Então, desde o primeiro momento em que tive contato com o hip-hop eu passei a ser fã dessa rapaziada. Tenho muito respeito pelo hip-hop e acredito que essa relação é recíproca. Fora isso, neste novo CD gravei “Ponto de Cultura”, que tem uma pegada de rap com samba. A música fala da importância da arte e da cultura que nasce nos pontos de cultura e, ao mesmo tempo, dos desafios que o povo da periferia enfrenta para fazer sua arte e se expressar. Buzo: No Tributo ao Sabotage, você foi importante na liberação da autorização pra que acontecesse, uma semana depois de terem proibido uma festa de rap que seria promovida pela MTV. Porque tanta dificuldade pra se promover cultura? Leci Brandão: Começa pelo olhar do poder público para o que é Cultura. Se a festa ou o show fosse de um gênero musical que as elites consideram importante, como a música clássica, por exemplo, tenho certeza que seria mais fácil a realização. Também conta o fato de se promover o acesso do povo da periferia à cultura e ao entretenimento. Buzo: Considerações finais... Leci Brandão: “Cidadã da Diversidade” é um trabalho que segue, de forma coerente, o que eu sempre cantei. A particularidade deste CD é que ele é o primeiro que gravei depois de ter sido eleita deputada estadual. O contato com as pessoas na condição de parlamentar aumentou ainda mais a certeza de que ainda precisamos de muitas mudanças em nosso país para vivermos em uma sociedade em que todos sejam tratados como cidadãos.
Brasileiro.” Algo muito errado com nossa cultura é o suficiente para alguém decretar “O Hip-Hop Está Morto!”, e ele prossegue neste texto apresentando um sintoma: “Qual foi a última vez que viu um evento grande de hip-hop? Eu te respondo: faz tempo que não tem.” Alguns então, se precipitarão em dar o diagnóstico: “O Hip-Hop Está Morto!”. O título, infelizmente, é mais atual que nunca. Buzo: Mas trouxe algum problema, mal entendido com o público do hip-hop? Toni C.: Eu não tive problemas e mal-entendidos, ao contrário, ouço elogios sinceros de quem parou para ler com cuidado a obra. Como canta o grupo Sistema Negro na música O livro da Vida: “Apenas quem lê-lo por inteiro entenderá o título”. Desses estou aberto às críticas. Tenho medo apenas de quem não lê, aqueles que dizem assim... “fiquei sabendo que o livro é assim, assado”. Esses me dão calafrios.
TONI C faz biografia do mito Sabotage Ele fala nessa entrevista exclusiva ao Boletim do Kaos, tudo sobre essa obra e sua carreira literária. Foto: Márcio Salata Por: Alessandro Buzo Alessandro Buzo: Como, quando e porque começou a escrever? Toni C.: Um cara, gago, feio e tímido com mil ideias na cabeça precisa encontrar formas de se comunicar com o mundo. A escrita parecia ser uma boa via, se minha caligrafia não fosse ilegível. De tanto ouvir que minha letra é um garrancho fiz dela minha garrucha. Hoje eu sou mais meus escritos do que eu mesmo. Buzo: Sua infância foi onde? Nela você alguma vez disse: - Quando crescer vou ser escritor ? Toni C.: Nasci no bairro do Limão, zona Norte de São Paulo. Sempre quis ser muita coisa: DJ, jogador de basquete, queria mexer com computação gráfica, antes mesmo de ver um computador de perto. Nunca disse necessariamente: “serei escritor quando crescer”, mas desejava ser publicitário. Bom, de um modo ou de outro, sou ou fui tudo que desejei. Agora já posso crescer. Buzo: Como vê e a cena literária hoje na periferia e a importância dos saraus? Toni C.: Cara, nós banalizamos estes substantivos, eu sequer sabia o que era um “sarau”, e hoje são incontáveis. Tá certo,
tem muito “contrabando” no meio, coisas com gosto duvidoso, mas até isso fizemos, muitos por ai agora se tornaram escritores, poetas, tem livros publicados, frequentam saraus. Estamos alterando a geografia, a arquitetura e o fluxo das cidades, a cultura da periferia tem feito isso e abalado o centro. Buzo: Hip-Hop à Lapis e Literatura do Oprimido, você começou meio que organizador dessas obras? Toni C.: Estes livros são frutos da seção Hip-Hop a Lápis na internet. Eu sou organizador e um dos muitos autores destas antologias, só em Literatura do Oprimido são 60 e tenho orgulho em estar entre eles. Buzo: Já seu romance “O Hip-Hop Está Morto” ,o nome é um marketing forte... Toni C.: O livro é uma ficção na qual a história real do hip-hop no Brasil é narrada em forma de romance. Não sei exatamente o que você chama de “marketing forte”, o título é um anticlímax, não foi uma escolha mercadológica, às vezes penso que nem foi “escolha”, a frase é de um dos personagens da trama sobre os dramas verdadeiros que enfrentamos. Pouco antes de conceder esta entrevista, li um texto do Emicida chamado “Rap versus Rap (& a mídia)” em que ele diz “... Fiquei triste, pois se o Edi Rock/Racionais precisa explicar que tá do nosso lado, então tem algo muito errado no hip-hop
Buzo: Você se destaca pelo marketing bem feito de suas obras, quem pensa isso tudo? Toni C.: Valeu! É a gente cuida de todo o processo, não por vaidade, nem por personalismo, mas porque ninguém tinha interesse, ninguém acreditava, ninguém apostava que poderia dar certo. Por isso fomos aprendendo e hoje acompanho toda a cadeia produtiva do livro, da ideia, passando pela pesquisa, à redação, até as questões técnicas como artefinalização, distribuição e venda. Isso nos dá propriedade, eu costumava brincar dizendo que conhecia cada leitor de nossos livros, que é vendido de mão em mão. Ai criamos o selo LiteraRUA, uma loja virtual, temos nossos títulos agora disponível nas livrarias, já não é mais possível conhecer a todos. Obviamente não faço tudo sozinho, tenho uma equipe bastante competente de gente que também são parceiros. Buzo: Sua participação na obra #PoucasPalavras do Renan Inquérito ? Toni C.: Eu assino como editor deste pequeno grande livro. Renan é um estudioso, um rapper talentoso que fez um livro de poesia visual, resgatou do movimento concretista e deu nova cara com as frases de seu rap, as gírias da rua, a influência do graffiti. Ele quando me procurou, pensava em fazer 300 unidades, o cara tá chegando próximo de cinco mil exemplares vendidos, além de desenvolver a Parada Poética. Está trabalhando há quase um ano no próximo livro, estudando, pesquisando, ficaria feliz se ele me convidar novamente para a gente lançar seu novo trabalho juntos, ele é um dos braços da LiteraRUA. Buzo: Biografia do Sabotage, como tem sido a repercussão ? Toni C.: O livro “Um Bom Lugar”, superou todas as expectativas de repercussão antes de sair. Na pré-venda, já havia matérias publicadas em importantes veículos. O Sabotage é muito querido, e sua história é fascinante, só não consigo dar esta resposta completa, porque o livro ainda está sendo apresentado, mas a obra já chegou em lugares que jamais pisei, como o Japão, Estados Unidos, Inglaterra e Paris. Buzo: Você disse que o primeiro contato do projeto foi uma reunião com o Wanderson, filho do Sabotage, pedindo liberação, como foi os tramites depois disso até o lançamento ? Toni C.: Foi rápido, porque houve muita concordância e interesse mútuo.
Foi um rapper inovador, um artista inquieto que surpreendeu com sua atuação relâmpago no cinema e nas participações musicais inusitadas que desenvolveu. Até ser violentamente assassinado numa carreira ainda precoce.
Buzo: Como se deu a participação da família nos lucros que o livro tenha? Toni C.: Os familiares recebem metade de toda a verba arrecadada com os livros. Buzo: Quem foi importante pra essa obra existir ? Toni C.: Sabotage, (risos) é óbvio. Muita gente ajudou na construções desta obra, os próprios familiares, pessoas que conviveram e que trabalharam com ele, rappers como Celo X, Rappin Hood, Mano Brown, Helião, Sandrão, o pessoal do Instituto, enfim, um batalhão de gente que está listado nos agradecimentos do livro. Buzo: O livro é muito bem escrito, como foi a pesquisa e quanto tempo levou ? Toni C.: Obrigado pela leitura e comentário. O livro levou nove anos para ser iniciado e este foi um primeiro processo de pesquisa extensiva, após a concordância da família iniciei um processo de intensiva pesquisa, com entrevistas e a redação dos originais. Buzo: Acha que o Sabotage gostou ? Toni C.: Gosto de pensar que sim. Buzo: Descreva nas suas palavras quem foi Sabotage ? Toni C.: Foi um rapper inovador, um artista inquieto que surpreendeu com sua atuação relâmpago no cinema e nas participações musicais inusitadas que desenvolveu. Até ser violentamente assassinado numa carreira ainda precoce. Sabotage é a síntese do povo brasileiro, que mesmo sem dentes, sorri. Buzo: Cite 10 pessoas que daria uma grande biografia ? Toni C.: Para fazer jus ao nome do boletim, vou responder de maneira caótica. Eliane Brum em dedicatória
de seu livro escreveu: “Toda a vida é extraordinária”. Sendo assim, em tempos em que se discute a proibição das biografias, toda as pessoas tem seus episódios dignos de serem registrados em livros. Porém, farei o contrario, direi as 10 pessoas, que não possuem boas biografias: Paulo Maluf, Sérgio Naya, Val Marchiori, Antônio Carlos Magalhães, Amauri Jr., Chiquinho Scarpa, Daniel Dantas, Lalau, Pimenta Neves, Fernando Henrique Cardoso, José Serra... ops, são só dez né?