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Educação

Patrimonial Empreendimento:

Alphaville Rio das Ostras

Empreendedor:

Alphaville Urbanismo



Educação

Patrimonial


Educação FICHA TÉCNICA PRODUÇÃO

RAFAEL DEMINICIS CAMILA LEAL

Patrimonial MARA PEREIRA FOTOGRAFIA

CAMILA LEAL

MARA PEREIRA

PROJETO GRÁFICO

ALEXANDRE SALOMON

ESTE PROJETO FOI CONCEBIDO ENTRE JULHO E AGOSTO DE 2014.


O QUE É PATRIMÔNIO? Basicamente, patrimônio é tudo aquilo que é deixado como herança de gerações anteriores e, por se considerar que possui valor (material ou sentimental), mobiliza-se para preservar no presente e, talvez, deixar em condições para que possa ser herdado pelas gerações futuras. O patrimônio é intrinsecamente seletivo, pois é um processo de escolha do que se preserva e do que se deixa.

O Patrimônio, do indivíduo à coletividade Hoje, quando falamos em patrimônio, duas ideias diferentes, mas relacionadas, vêm a nossa mente. Em primeiro lugar, pensamos nos bens que transmitimos aos nossos herdeiros – e que podem ser materiais, como uma casa ou uma joia, com o valor monetário determinado pelo mercado. Legamos também, bens materiais de pouco valor comercial, mas de grande significado emocional, como uma foto, um livro autografado ou uma imagem religiosa do nosso altar doméstico. Tudo isso pode ser mencionado em um testamento e constitui o patrimônio de um indivíduo. A esse sentido legal o termo, devemos acrescentar outro, menos importante: o patrimônio espiritual. Quando pensamos no que recebemos de nossos antepassados, lembramo-nos não apenas dos bens materiais, mas também da infinidade de ensinamentos e lições de vida que eles nos deixaram. A maneira de fazer nhoques – que não se resume a receita, guardada com cuidado no caderno com a letra da nossa querida mãe ou avó -, o modo como sambamos (algo que nunca estará num caderninho!) os ditados e provérbios que sabemos de cor e que nos guiam por toda a vida são exemplos de patrimônio imaterial inestimável. Até agora tratamos do patrimônio como algo individual, de cada um de nós, mas, a partir de nossas percepções e sentimentos, podemos entender o uso do mesmo termo para se referir aquilo que é coletivo. Há uma diferença essencial, contudo. O patrimônio individual depende de nós, que decidimos o que interessa. Já o coletivo é sempre algo mais distante, pois é definido e determinado por outras pessoas, mesmo quando essa coletividade nos é próxima. Se dez pessoas diferentes forem listar o patrimônio de seu condomínio ou do seu bairro, chegarão a listas muito díspares. A associação de moradores pode determinar que constituem o patrimônio comum (...). Se é assim em uma comunidade pequena, tanto maior será a distância entre indivíduo e as grandes coletividades, como o município, o estado, a nação ou a humanidade como um todo. Para entender o patrimônio coletivo, é necessário, antes, refletirmos sobre a própria vida coletiva. A coletividade e o patrimônio. A coletividade não é uma simples soma de indivíduos, assim como o todo não é uma mera junção das partes, como afirmou a, há 2.500 anos, o filósofo grego Platão. Podemos lembrar também o que diz outro pensador antigo, Aristóteles, ao assinalar que as palavras não são apenas a junção de letras, como um animal não é a soma dos órgãos. As coletividades são constituídas por grupos diversos, em constante mutação, com interesses distintos e não raro, conflitantes. Uma mesma pessoa pode pertencer a diversos grupos e, no decorrer do tempo, mudar para outros. Passamos, assim, por grupos de faixa etária: crianças adolescentes, adultos, idosos. Passamos ainda de estudantes a profissionais e, em seguida, a aposentados. São, portanto, inúmeras coletividades que convivem em constante interação e mudança. Inevitavelmente, essa diversidade leva a multiplicidade de pontos de vista, de interesses e de ações no mundo. Como diziam os latinos, cada cabeça, uma sentença. As opiniões por sua vez, resultam da diversidade de interesses, dos benefícios que se espera obter. Foram ainda os romanos a cunhar uma expressão que explica bem essa diversidade de interesses: cui bono, quem se beneficia? Os interesses sociais de governantes e governados, de homens e mulheres, crianças e adultos, cristãos e muçulmanos nem sempre são convergentes. O que para uns é patrimônio, para outros não é. Além disso, os valores sociais mudam com o tempo. Por tudo isso, convém analisar como patrimônio foi visto ao longo dos tempos e dos grupos sociais.” (FUNARI; PELEGRINI; 2006. p.8-10). Referências FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra de C. Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2006.

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O QUE É CULTURA? Cotidianamente, ouvimos falar em cultura política, cultura empresarial, cultura agrícola, cultura de células, cultura popular, etc. Ao nos deparamos com o fato de que esse termo pode ser aplicado a distintas circunstâncias e para distintos assuntos, devemos compreender que foram instituídos distintos conceitos de cultura até a atualidade. A palavra cultura é utilizada por diferentes campos em substituição a outros termos como mentalidade, espírito, tradição e ideologia (CUCHE, 2002, p.203). Parte desta complexa distinção semântica se deve ao próprio desenvolvimento histórico do termo: a palavra cultura tem sua matriz na palavra colore, que originou o termo em latim, mas com diversos significados como habitar, cultivar, proteger, honrar. A definição de cultura no sentido de agricultura mantém-se ainda hoje para determinados contextos. Além disso, a palavra é também comumente associada a elevadas formas de manifestação artística e/ou técnica da humanidade (como a música erudita europeia), sendo o termo alemão “kultur” o que mais se aproxima mais desta definição. Mas a definição mais corrente tem correspondência com a que foi formulada em meados do século XIX pelo cientista social inglês Edward B. Tylor: “A cultura ou civilização, num sentido etnográfico alargado, é aquele tudo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e qualquer outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem em quanto que membro da sociedade” (TYLOR, 1871 – citada por KAHN, 1975 p.29). Aliás, a partir deste período formou-se um campo científico exclusivamente dedicado aos debates que envolvem a definição de cultura: a Antropologia – do qual participaram pesquisadores como: Leslie White, Clifford Geertz, Franz Boas, Bronislaw Malinowski e outros.


Franz Boas: “A cultura inclui todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo na medida em que se vem afetadas pelos costumes do grupo em que vive, e os produtos das atividades humanas na medida em que se vem determinadas por ditos costumes” (BOAS, 1930 – citada por KAHN, 1975. p.14). Bronislaw Malinowski: “Esta herança social é o conceito chave da antropologia cultural, ou outro ramo do estudo comparativo do homem. Normalmente se a denomina cultura na moderna antropologia e nas ciências sociais. (...) A cultura inclui os artefatos, bens, procedimentos técnicos, ideias, hábitos e valores herdados. A organização social não se pode compreender verdadeiramente exceto como uma parte da cultura”. (MALINOWSKI, 1931 – citada por KAHN, 1975. p.85). Ward Hunt Goodenough: “A cultura de uma sociedade consiste em todo aquele que conhece ou crê com o fim de operar de uma maneira aceitável sobre seus membros. A cultura não é um fenômeno material: não consiste em coisas, gente, conduta ou emoções. É mais um organização de tudo isso. É a forma das coisas que a gente tem em mente, seus modelos de percebê-las de relacioná-las ou de interpretá-las” (GOODENOUGH, 1957 – citada por KEESING, 1995. p.56). Cliford Geertz: “A cultura se compreende melhor não como complexos de esquemas concretos de conduta – costumes, usos, tradições, conjuntos de hábitos –, como tem ocorrido em general até agora, senão como uma série de mecanismos de controle – planos, receitas, fórmulas, regras, instruções (o que os engenheiros de computação chamam ‘programas’) – que governam a conduta”. (GEERTZ, 1989. p.51). Lewis Roberts Binford: “Cultura é todo aquele modelo, com formas que não estão de baixo do controle genético direto (...) que serve para ajustar aos indivíduos e os grupos nas suas comunidades ecológicas”. (BINFORD, 1968 – citada por KEESING, 1995. p.54). Robert Cresswell: “[A cultura é] a configuração particular que adota cada sociedade humana não só para regular as relações entre os fatos técno-económicos, a organização social e as ideologias, porém, também para transmitir os seus conhecimentos de geração em geração”. (CRESSWELL, 1975. p.32). Marvin Harris: “A cultura alude ao corpo de tradições socialmente adquiridas que aparecem de forma rudimentar entre os mamíferos, especialmente entre os primatas. Quando os antropólogos falam de uma cultura humana normalmente se referem ao estilo de vida total, socialmente adquirido, de um grupo de pessoas, que inclui os modos pautados e recorrentes de pensar, sentir e atuar”. (HARRIS, 1982. p.123). Anthony Giddens: “Cultura se refere aos valores que compartilham os membros de um dado grupo, as normas que pactuam e aos bens materiais que produzem. Os valores são ideais abstratos, enquanto as normas são princípios definidos ou regras que as pessoas devem cumprir”. (GIDDENS, 1991. p.65). Paul Willis: “... é um sistema relativamente coerente de ações materiais e de sistemas simbólicos engrenados que, com respeito a cada área, tem suas próprias práticas e objetivos; e que estas práticas e objetivos constituem o meio ordinário da vida social”. (WILLIS, 2003. p.448) Nestor García Canclini: “Cultura como o conjunto de processos sociais de significação, de produção, circulação e consumo da significação na vida social”. (CANCLINI, 2004. p.34)

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Mas, em outro viés, fortemente associado ao conceito de civilização no século XVIII, a cultura muitas vezes se confunde com noções de: desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos elitistas. Essa confusão entre cultura e civilização foi comum, sobretudo, na França e na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, onde a palavra se referia também a um ideal de elite. Ela possibilitou o surgimento da dicotomia (e, eventualmente, hierarquização) entre cultura erudita e cultura popular, melhor representada nos textos de Matthew Arnold, ainda fortemente presente no imaginário das sociedades ocidentais.

PARA REFLETIR “Os valores e as virtudes promovidos pelas concepções humanistas e universais da cultura pretendem ser cínicos, menos interessados e menos triviais que aquele do mercado. Entretanto, criam um espaço de cultural contínuo, que compreende as produções mais modestas e mais triviais classificadas abaixo do continuum, ao passo que as produções mais virtuosas, mais heroicas, mais singulares, mais universais e mais essenciais são colocadas no alto dessa hierarquia. As qualidades eleitas para representar as propriedades culturais superiores são em geral as que, de um jeito o de outro, são julgadas dignas para contribuir com a elevação espiritual da humanidade e o enobrecimento de seu comportamento. Essa concepção edificante de cultura é muito difundida: mergulha raízes no idealismo platônico, reforça-se no humanismo da renascença, depois na filosofia do humanismo e, enfim, no progressismo modernista. Ela se nutre também das versões spencerianas da teoria evolucionista e não daquela de Darwin, como mostra Patrick Tort (1996). Nesse sentido certas obras iriam se impor porque tem virtudes e qualidades superiores as outras produções que revelam o ‘metabolismo’ as vida comum (Arendt, 1972). Exemplares, eles constituiriam os tesouros e as obras principais do patrimônio da humanidade. Essa abordagem entrega geralmente ao tempo o cuidado de fazer a seleção e classificação das obras, e em seguida contenta-se em registrar o resultado do filtro temporal que ela considera relativamente neutro. Essa citação de Hannah Arendt (1972, p.257) ilustra bem tais concepções humanistas: ‘[o artista é] o produtor autêntico dos objetos que cada civilização deixa para trás como quintessência e testemunho durável do espírito anima’. Em geral esses sistemas promovem os valores das elites ocidentais. A autenticidade, a espiritualidade, a singularidade, a originalidade, a unidade, a universalidade, a perenidade permitem hierarquizara produção cultural em razão de gradientes de superioridade e inferioridade. Essencialmente centradas sobre esse tipo de noção do patrimônio universal e sobre o poder criativo incorporado nas obras pelo gênio do humano e sua cultura, as concepções da Unesco contribuíram para a universalização dessa visão da cultura. Evocando o seu sentido histórico de ‘governo dos melhores’ (em grego, aristokratia), essa concepção vertical e hierárquica da cultura pode ser qualificada como aristocrática. Essa etiqueta não repercute da mesma maneira em todo o Ocidente, mas é interessante notar que no Reino Unido os melhores artistas podem ser enobrecidos pela rainha, e, na França, a república pode enobrecê-lo por meio de três graduações: chevalier, officer ou comandante da Ordem das Artes e Letras. Podemos também classificar nessa categoria certas ideias exclusivas da cultura que recusam sua noção antropológica e utilizam esse termo exclusivamente em referência ao que engrandece o espírito. Desde o século XVI, essa concepção de ‘cultura culta’ privilegia a dimensão intelectual e seu desenvolvimento por meio de práticas apropriadas. Assim, para Jean Luis Harouel, que se refere a Hannah Arendt, ‘não existe mais ‘cultura popular’ ou ‘cultura burguesa’, ‘cultura de massa’ ou ‘cultura operária’. O que existe é a cultura e a incultura’ (Harouel, 1994, p.25).


Essa noção de cultura é ao mesmo tempo exclusiva e hierárquica. É exclusiva pelo fato de limitar os fenômenos culturais classificando como cultura o que, de acordo com seus critérios, não é cultura. É também hierárquica pois organiza os fenômenos culturais por um gradiente de elevação. Alain Finkielkraut (1987), outro adepto dessa concepção, lamenta o fato de a fronteira entre a cultura e a diversão ter sido atenuada, e a da instabilidade do ‘todo cultural’ tem substituído o que se relacionava exclusivamente a ‘vida com o pensamento’. Criticando o que é contrário a essa percepção, ele condena os efeitos da concepção pós-moderna da cultura: ‘Nós vivemos em função do feeling: não há mais verdade, nem mentira, nem estereótipos, nem beleza, nem feiura, mas uma paleta infinita de prazeres, diferentes e iguais. A democracia que deveria dar a todos o acesso a cultura se define, então, pelo direito de cada um a cultura de sua escolha (ou a chamar de cultura sua vontade do momento)’ (1987, p.142)”. (DARRAS, 2008. p.28-29).

Referências CANCLINI, Nestor Garcia. Diferentes, desiguales y desconectados. Mapas de la interculturalidad. Barcelona: Gedisa, 2004. CRESSWELL, Robert. Éléments d’ethnologie. París: A. Colin, 1975. CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 2002. DARRAS, Bernard. As várias concepções de cultura e seus efeitos sobre os processos de mediação cultural. In: Arte/Educação como mediação cultural e social. São Paulo: Editora UNESP, 2008. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989. GIDDENS, Anthony. Sociología. Madrid: Alianza Editorial, 1991. HARRIS, M. Introducción a la antropología general. Madrid: Alianza Editorial, 1981. KAHN, James Steven (org.): El concepto de cultura: textos fundamentales. Barcelona: Anagrama, 1975. KEESING, R.M. Teorías de la cultura. In: VELASCO, Honorio (org.) Lecturas de antropología social. Madrid: UNED, 1995. WILLIS, Paul. Producción cultural no es lo mismo que reproducción cultural, que a su vez no es lo mismo que reproducción social, que tampoco es lo mismo que reproducción. In: VELASCO, Honorio. et all . (orgs.). Lecturas de Antropología para educadores. El ámbito de la antropología de la educación y de la etnografía escolar. Madrid: Trotta, 2003.

O QUE É PATRIMÔNIO CULTURAL? Patrimônio cultural é um conceito contemporâneo vai além de apenas conjugar as noções de patrimônio e cultura. Patrimônio cultural se constitui pelo conjunto de bens que cada povo produziu em determinado momento do passado, que se conservou ou foi intencionalmente preservado até o presente e, no momento em que se estabelecem práticas valores democráticos e universalistas entre os povos, instituem-se políticas públicas direcionadas para a recuperação, preservação e divulgação de uma multiplicidade de patrimônios.

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“Sugere o professor francês [Huges de Varine-Boham] que o Patrimônio Cultural seja dividido em três grandes categorias de elementos. Primeiramente, arrola os pertencentes à natureza, ao meio ambiente. São os recursos naturais, que tornam o sítio habitável. Nesta categoria estão, por exemplo, os rios, a água desses rios, os seus peixes, a carne desses peixes, as suas cachoeiras e corredeiras transformáveis em força motriz movendo rodas de moendas, acionando monjolos e fazendo girar incrivelmente rápidas as turbinas das usinas de eletricidade. O meio ambiente fornece-os as árvores, suas frutas e sua madeira para as construções, para os barcos, para as carroças e para os dormentes das estradas de ferro. Fornece-nos a terra que recebe úmida a semente do pão de cada dia e que, também, pode ser violentamente apiloada nos taipais mamelucos da arquitetura paulista. Dá-nos o ar frio das serras, da Serra de Paranapiacaba, que isolou os paulistas do resto do mundo, serra que condicionou toda uma sociedade voltada para o sertão, quando a língua virou dialeto e os usos e costumes quase se vernacularizaram em novos feitos tão diferentes daqueles d´álem mar. O clima envolve e condiciona o comportamento das gentes. A paisagem orienta e está plena de símbolos, de marcos, de pontos de referência, de encruzilhadas que dirigem o viajante que passeia pela natureza estado sempre em casa – o Piabiru, o caminho geral dos índios, era o corredor que serpenteava entre os acidentes do terreno respeitando-os, aproveitando-os e tirando vantagem de cada obstáculo. O segundo grupo de elementos refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber e ao saber fazer. São os elementos não tangíveis do Patrimônio Cultural. Compreende toda a capacidade de sobrevivência do

homem no seu meio ambiente. Vai desde a perícia no rastejamento de uma caça esquiva na floresta escura até as mais altas elucubrações matemáticas apoiadas nos computadores de última geração, que dirigem no espaço cósmico as naves interplanetárias que estão a ampliar o espaço vital do homem. Saber polir uma pedra para com ela cortar árvores de grade porte. Saber esculpir um tronco duro de piúva o parafuso prensa de espremer o tipiti estufado de massa de mandioca ralada para o fabrico de farinha. Saber desenhar a épura da geometria requintada pela qual será cortada a pedra justa da igreja de todos. Saber construir, tecer o pano da coberta de cama, divertir-se com o jogo de cartas, rezara Santa Bárbara em noite de temporal, curtir a pele de veado para fazer a alpercata e o gibão. Saber transformar o bago vermelho do café em pó solúvel na xícara de porcelana. Tudo isso, por exemplo, vem formar o grande grupo dos elementos do saber. O terceiro grupo de elementos é o mais importante de todos porque reúne os chamados bens culturais que englobam toda a sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer. Aliás, a palavra artefato talvez devesse ser a única a ser empregada no caso, tanto designando um machado de pedra polida como um foguete interplanetário ou uma igreja ou a própria cidade em volta dessa igreja. Pelo visto, esse terceiro grupo de elementos é que nos interessa neste texto, devendo os dois outros grupos ser tratados em livros a parte, mais dedicados aos recursos da natureza, a ecologia, a história do conhecimento, aos relatos sobre as intervenções, aos manuais de tecnologia etc.” (LEMOS, 1987. p.8-10).


AS MEDIDAS DE TRATAMENTO DO PATRIMÔNIO CULTURAL PODEM SER AS SEGUINTES: Preservação Conjunto de ações voltadas aos bens culturais que tem como objetivo o registro, a manutenção da integridade dos bens, através de decisões sobre a sua salvaguarda, conservação, restauração e/ ou musealização, em conjunto com a garantia de acesso ou continuidade do uso pelas sociedades do presente.

Inventário Metodologia de pesquisa que constitui o primeiro passo na atividade de conhecimento, de salvaguarda e de valorização dos bens culturais de um acervo, consistindo na sua descrição individual, padronizada e completa, para fins de identificação, classificação, analise e conservação.

Tombamento Processo de registro, inventariação e arrolamento de bens culturais, reconhecendo-os como integrantes do conjunto do patrimônio cultural de um lugar. O termo tombo foi assinalado como designando ao registro, o arquivo e a catalogação de documentos públicos e históricos (PIRES, 1999. p.75). No Brasil o tombamento é um ato administrativo que pode ser ativado por qualquer cidadão, mas efetivado por órgãos específicos do poder público federal, estadual ou municipal, e um instrumento jurídico que identifica os bens culturais que serão obrigatoriamente protegidos pelo estado (MACHADO, 2004).

Salvaguarda Conjunto de ações de apoio e fomento voltadas ao acondicionamento de bens culturais em determinados locais, por membros das comunidades produtoras ou por profissionais especializados, em que se demanda a garantia de segurança, organização e manutenção da integridade dos bens, através de atividades bastante particulares que dependem das características de cada objeto em questão (TOJI, 2009. p.20).

Conservação Conjunto de medidas destinado a conter as deteriorações de um objeto ou resguardá-lo de danos. De maneira gral é sinônimo de preservação, mas dentro do universo dos museus, diferencia-se pelo caráter mais específico, pressupondo-se uma materialidade. Identifica-se com os trabalhos de intervenções técnicas e científicas, periódicas ou permanentes, repetidos e continuados, aplicados diretamente sobre uma obra ou seu entorno, com o objetivo de prolongar sua vida útil e sua integridade.

Restauração Ato de repor partes de algo que já está desgastado pela ação do tempo ou por um acidente, que depende do conhecimento prévio sobre o objeto em questão, isto é, informações que atestem informações sobre o estado original do objeto. Para o levantamento destas informações e para a execução da recuperação é necessário um conjunto de profissionais especialistas. Uma restauração em um prédio histórico, por exemplo, é um trabalho interdisciplinar, que envolve arquitetos engenheiros, historiadores e uma mão de obra especializada em determinadas técnicas construtivas (MACHADO, 2004).

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Musealização Uma das formas de manter a preservação de bens culturais, realizada por museus. Constitui a ação, orientada por determinados critérios e valores, de recolher, conservar e difundir objetos como testemunhos do homem e do seu meio. Processo que pressupõe a atribuição de significado aos artefatos, capaz de conferir –lhes um valor documental ou representacional.

Todo e qualquer objeto, como é amplamente reconhecido, apresenta dados extrínsecos e intrínsecos. Peter Van Mensch (1989, 53-62), identifica três matrizes dimensionais para a abordagem dos objetos (museológicos) como portadores de dados necessários para as ações de preservação, pesquisa e comunicação:

A. Propriedades físicas 1. Composição material 2. Construção técnica 3. Morfologia subdividida em: a. Forma espacial e dimensões b. Estrutura de superfície c. Cor d. Padrões de cor e imagem e. Texto (quando for o caso)

B. Função e significado 1. Significado primário a. Significado funcional b. Significado expressivo (valor emocional) 2. Significado secundário a. Significado simbólico b. Significado metafísico

C. História 1. Gênesis, o processo através do qual a ideia e a matéria-prima se mesclam em uma forma 2. Tratamento a. Primeiro uso (geralmente em concordância em as intenções do artífice) b. Reutilização 3. Deterioração a. Fatores endógenos b. Fatores exógenos 4. Conservação e restauração. (Retirado de CHAGAS, s/d)


PARA REFLETIR “Articular o passado (...) significa apoderar-se de uma lembrança tal como lampeja no momento de um perigo. Trata-se de flagrar uma imagem do passado tal como se apresenta ao sujeito histórico no momento de perigo, de modo imprevisível.’ [Walter Benjamin. Sobre o Conceito de História (1940)]. Eu queria comentar um pouco esse trecho com vocês. Quer dizer: a lembrança surge em momento de perigo e o sujeito da preservação deve conhecer esse perigo, deve compreender o presente para compreender o passado. Nessa situação, quem preserva não é de modo algum um memorialista confortavelmente reclinado na poltrona da contemplação, nem um arquivador que pudesse se contentar com a computação mecânica de dados, ainda que tivesse à disposição um sofisticado equipamento de gravar, registrar e armazenar. Não. O autor da preservação é sujeito histórico, quer dizer, um indivíduo exposto e vulnerável, mas também capaz de agir. Preservar pressupõe um projeto de construção do presente”. (BOLLE, 1984. p.12-13).

AS DIRETRIZES DAS POLÍTICAS DE PATRIMÔNIO CULTURAL SÃO INSTITUÍDAS POR VÁRIAS INSTÂNCIAS – MUNDIAL, NACIONAL, REGIONAL E LOCAL: Mundial As políticas voltadas ao patrimônio cultural em nível mundial foram instituídas pela primeira vez na Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (UNESCO) de 16 de novembro de 1972, com a elaboração de uma lista do Patrimônio Mundial da Humanidade – revista a cada conferência e com previsão de investimentos. Até 2013 compunham esta lista 981 sítios, sendo 759 culturais, 193 naturais e 29 mistos, de 160 países diferentes.

Brasil – União A primeira política nacional de proteção ao patrimônio cultural brasileiro foi instituída em 1934 e em 1937 foi colocada sob os cuidados de um órgão federal específico, atualmente denominado como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que seria responsável por estabelecer critérios de registro, tombamento, as regras de preservação dos bens tombados, financiamento e fiscalização. As leis federais mais importantes voltadas a definição e a políticas de preservação do patrimônio cultural foram instituídas no início da década de 1960 e a partir da Constituição de 1988. As políticas direcionadas a preservação do patrimônio arqueológico brasileiro são de exclusiva responsabilidade do IPHAN.

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Estado do Rio de Janeiro As políticas voltadas ao patrimônio cultural do Rio de Janeiro foram inauguradas em 1964 com a criação do 1º órgão estadual com essa incumbência no país: a Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Guanabara (DPHA), que em 1975 deu lugar ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), de acordo com as mudanças no quadro político-territorial regional. Através de um decreto de 1969, da Constituição Estadual de 1989 e de leis da década de 1980, definiuse o que tratava o patrimônio cultural do estado e as formas de se estabelecer o registro, o tombamento, as regras de preservação e o financiamento dos bens em nível estadual.

Município de Rio das Ostras A Lei orgânica do Município de Rio das Ostras, instituída em 1994, dentre outras coisas previu a definição do que se trata o patrimônio cultural desse município. A esta lei são complementares: a Lei de 10 de outubro de 1997, que cria a Fundação Rio das Ostras de Cultura, autarquia vinculada a prefeitura de Rio das Ostras responsável por planejar as ações de preservação do patrimônio cultural do município; os apontamentos específicos do Plano Diretor Municipal (2006), que dá novas orientações à política do patrimônio cultural.

NÍVEL LOCAL OU EXTRA-ESTATAL A Sociedade, representada por suas comunidades, associações de moradores, associações de classe e grupos étnicos, podem estabelecer seus próprios parâmetros de preservação do patrimônio cultural, como meio de defesa de seus interesses e por visibilidade em contextos mais amplos ou como estratégia inicial para que seus patrimônios e parâmetros de preservação sejam adotados por instâncias estatais.

DE FORMA GERAL, OS PATRIMÔNIOS CULTURAIS PODEM SER CLASSIFICADOS OU QUALIFICADOS EM DUAS CATEGORIAS PRIMÁRIAS: Material – que pode ser subdividido em:

• Móveis: utensílios, documentos, ferramentas, instrumentos, estátuas, obras de arte etc.; • Imóveis: basicamente edificações (com fins de moradia, comerciais, industriais, templos religiosos etc.).

Imaterial

•F estividades, ritmos, contos, cantos, danças, cultos religiosos, grafismos e técnicas produtivas, tradicionais de determinada região, com grande força do simbolismo e da oralidade; •P ersonalidades vivas de destaque regional que portam grande conhecimento sobre o patrimônio cultural imaterial da cultura popular; Variando entre estas categorias, os patrimônios culturais podem ser qualificados ou classificados por diferentes categorias secundárias (que se somam ou sobrepõem):


• Histórico • Arqueológico • Arquitetônico • Obra de engenharia • Paisagístico – Natural, Rural ou Urbano • Ecológico • Museológico • Intelectual • Bibliográfico • Monumento • Artístico • Quilombola • Da Cultura Negra • Da Cultura Indígena • Da Cultura Popular • Vivo • Outros: Tecnológico, Paleontológico, Militar, Naval etc.

Referências: BOLLE, Willi. Texto I – Seção: Cultura, Patrimônio e Preservação. In: ARANTES, Antônio Augusto (org.). Produzindo o Passado: Estratégias de Construção do Patrimônio Cultural. São Paulo: Brasiliense, 1984. CHAGAS, Mário. Cultura, Patrimônio e Memória. In: Site - http://www.revistamuseu. com.br/18demaio/ artigos.asp?id=5986 FUNARI, Pedro Paulo A.; CARVALHO, Aline. Patrimônio e diversidade: Algumas questões para reflexão. In: Primeira Versão. N. 143 - Patrimônio Cultural, Diversidade e Comunidades. Campinas: IFCH/UNICAMP, 2011. LEMOS, Carlos A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 1987. MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação Patrimonial: orientação para professores do ensino médio. Caxias do Sul: Maneco, 2004. PIRES, Maria Coeli Simões. Da proteção ao patrimônio cultural: o tombamento como principal instituto. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. TOJI, Simone. Patrimônio imaterial: marcos, referências, políticas públicas e alguns dilemas. In: Revista Patrimônio e Memória. v.5, n.2. São Paulo: UNESP, 2009.

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CONJUNTO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE RIO DAS OSTRAS CASA DE CULTURA BENTO COSTA JÚNIOR – Patrimônio Material Arquitetônico e Histórico. Construída no final do

século XIX para abrigar material de pesca e mais tarde como depósito de sal, somente em meados de 1940 foi transformada em residência da família do médico Bento Costa Júnior. O imóvel, considerado uma das mais antigas construções de Rio das Ostras, guarda em seu interior histórias significativas de uma pequena vila de pescadores. A avaliação oficial feita pelo INEPAC considerou o espaço patrimônio histórico e cultural da cidade. O trabalho de restauração veio em seguida observando e mantendo seu estilo arquitetônico. Em seu salão, totalmente reformado, com iluminação adequada, são realizadas exposições de artistas plásticos dos mais variados estilos. Tombamento Municipal – Decreto nº 078/1999. Local: Praça São Pedro. POÇO DE PEDRAS DO LARGO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO – Patrimônio Material Arquitetônico, Histórico e

Monumento. Marco zero da cidade. Construído pelos escravos em meados do século XVIII, o Poço de Pedras do Largo de Nossa Senhora da Conceição serviu como marco para a construção da cidade de Rio das Ostras. Registros históricos indicam que o poço era utilizado pelos antigos navegadores que cruzavam a Baía Formosa e aportavam no cais do morro do Limão (atual Iate Clube) para que a tripulação pudesse ter água potável. Na década de 1990, após as obras de calçamento da orla da Praia do Centro, o Poço de Pedras foi demolido. No ano de 2000, após o trabalho de busca de registro fotográfico antigo da cidade realizado pela Fundação Rio das Ostras de Cultura, foi totalmente reconstruído pela Prefeitura e passou a ser ponto constante de visitação de turistas. Local: Praia do Centro. CENTRO FERROVIÁRIO DE CULTURA GUILHERME NOGUEIRA - Antiga Estação Ferroviária de Rocha Leão. Funciona na

antiga Estação Ferroviária de Rocha Leão. Sua construção, utilizando mão-de-obra escrava, iniciou em 1877 e foi concluída em 1887. As paredes, em blocos de pedra bruta fixadas com estrume, mantêm até hoje o ar bucólico da época. A cobertura do prédio, com telhas francesas vindas de Marseille (França), foram preservadas. Em 2006, uma revitalização foi realizada e todo o prédio ganhou novo visual com pintura externa em cores mais vivas. O Museu Ferroviário foi valorizado com nova iluminação e melhor disposição das peças pertencentes à antiga Leopoldina Railway. Local: Rocha Leão. PRAÇA DO TREM - A Praça do Trem possui uma pequena estação de trem onde funciona a Fábrica de Tapetes e

Bonecas, criada através de um programa de geração de renda da Fundação Rio das Ostras de Cultura. Com um showroom e um palco italiano, ali são também encenadas as produções da fundação. O local conta com playground, quadra poliesportiva e academia de ginástica. Na frente da estação, encontra-se a réplica de uma locomotiva, tombada pelo IPHAN. Local: R. Henrique Sarzedas – Liberdade. PÍER DA COSTAZUL - O píer avança 200 metros para dentro da praia e além de permitir a observação de uma linda

paisagem, é o novo ponto para pesca de caniço. Ideal para aproveitar o nascer do Sol e admirar toda orla da praia de Costazul vista por outro ângulo, o píer é parada obrigatória para quem quer fotografar as belezas naturais da cidade. Bastante utilizada para a pesca de caniço. Local: PRAÇA DA BALEIA - Esta área de lazer e contemplação abriga a escultura de uma Baleia Jubarte com 20 metros

de comprimento de estrutura metálica, recoberta com chapas de bronze e liga de latão. É de autoria do artista plástico, Roberto Sá, conhecido internacionalmente pelas por suas esculturas hiper-realistas. Esta é a maior homenagem a um cetáceo no mundo. Local:


PONTE ESTAIADA SOBRE O RIO DAS OSTRAS - A ponte sobre o rio das Ostras, com sua arquitetura futurista com

vigas estaiadas, é um dos cartões-postais da cidade. Inaugurada no dia 12 de abril de 2007, a ponte ganhou uma iluminação diferenciada, assinada por Peter Gasper, um dos maiores especialistas do país. Local: FOLIA DE REIS - Ocorria em todo o município; há pretensão da Fundação Rio das Ostras de Cultura de resgatar o

patrimônio no município. Local: FESTAS DE SÃO PEDRO - A Festa em homenagem ao padroeiro dos pescadores começa com a tradicional procissão

marítima e missa solene na Capela de Nossa Senhora de Lourdes, localizada na Boca da Barra. Acontece nos dias 29 de junho. A imagem da santa é levada da igreja até o píer da Boca da Barra, de onde saem os barcos para a procissão. Organizado pela Colônia de Pescadores Z-22, o evento inclui shows, brincadeiras e um “arraiá” animado, com barraquinhas de comidas e bebidas típicas. Local: Vila de Pescadores. FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO - As festividades da padroeira da cidade acontecem na Igreja de Nossa

Senhora de Conceição, uma semana antes do calendário oficial, com missas diárias e noites temáticas. O Dia da Padroeira, 8 de dezembro, é comemorado com comidas típicas e música ao vivo. Também acontecem queima de fogos, carreata e procissão. Local: Matriz de Nossa Senhora da Conceição. FESTA DE SÃO CRISTÓVÃO – Comemoração ao padroeiro dos motoristas. A Festa de São Cristóvão é uma realização

da Associação de Moradores e Amigos do bairro São Cristóvão. Local: Matriz de Nossa Senhora da Conceição. FÁBRICA DE BONECAS DE PANO - Em uma pequena estação construída no centro da Praça do Trem, em Rocha Leão,

distrito de Rio das Ostras, funciona a colorida Casa de Bonecas, fábrica de produção artesanal de brinquedos mais popular do município. Por lá, seis artesãs locais recortam os moldes, desenham e costuram lindas bonecas. Também confeccionam panos de prato, acessórios de cozinha, jogos americanos, enfeites para quartos infantis, tapetes e muito mais. “As ideias vão surgindo e nós vamos colocando em prática. O que a criatividade vai trazendo, a gente vai produzindo”, afirma Alessandra Folganes, que está há oito meses à frente do projeto. Atualmente, as artesãs produzem as bonecas Gilda. Inspiradas em uma boneca norueguesa chamada Tilda, a versão brasileira da bonequinha veste modelitos especiais. “A gente tenta trabalhar com figurinos que estão dentro das tendências da moda”, diz Alessandra. As bonecas também têm versões negra e com óculos, “para trabalhar com as diferenças”. O objetivo do projeto, iniciado em 2003 sob a coordenação da Fundação de Cultura, é que as artesãs possam futuramente abrir seus próprios negócios e que novas aprendizes possam ser qualificadas. “Essa é a possibilidade que a gente tem de dar uma qualidade de vida melhor a essas mulheres e suas famílias”, explica Alessandra. Local: Rua Henrique Sarzedas, s/n, Praça do Trem, Rocha Leão. PARQUE MUNICIPAL DOS PÁSSAROS - O parque tem o objetivo de preservar um conjunto de áreas que servem de

abrigo para a reprodução de espécies de pássaros ameaçadas de extinção. Nele, os visitantes podem observar os pássaros, outras espécies e a vegetação característica da restinga, ao percorrer suas trilhas ecológicas. O Parque também conta com o maior Viveiro de Aves do Brasil. Com um volume de 48 mil m3, contém réplicas de ecossistemas do Bioma da Mata Atlântica e abriga aproximadamente 162 aves da região Sudeste do Brasil. Local: Jardim Marileia.

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PARQUE MUNICIPAL DE RIO DAS OSTRAS - Antigo horto florestal do DER-RJ, o Parque Municipal de Rio das Ostras

possui 129.878 m² de área verde para a contemplação da natureza. Além disto, é um espaço aberto à visitação, com trilhas e parque infantil. A magia do local pode ser traduzida em beleza, simplicidade, paz e lazer, para lembrar que preservar a natureza é um dever de todos nós. O Parque Municipal de Rio das Ostras está aberto à visitação, diariamente, das 8h às 17h. Local: Rodovia Amaral Peixoto, km 155, Mar do Norte. MONUMENTO NATURAL DOS COSTÕES ROCHOSOS - O Monumento Natural dos Costões Rochosos é uma extensa faixa

de rochas compreendida entre a Praia da Joana e a Praça da Baleia. Foi transformada em reserva ecológica pela prefeitura e possui grande riqueza de fauna e flora, além de uma bela vista do nascer do sol. Tombamento municipal em trâmite na Secretaria de Planejamento. Local: PRAIA DE ITAPEBUSSUS - Com extensão de aproximadamente de 2 km, possui águas mornas e esverdeadas,

com areias amareladas. O atrativo é um lugar perfeito para curtir a natureza, com várias formações rochosas, formando pequenos logos. Propícia para prática de pescas de linha e mergulho. Local: Ponta de Itabepussus. FIGUEIRA CENTENÁRIA - Árvore centenária localizada à beira-mar que, segundo relatos históricos, serviu de

abrigo a Imperadores que faziam em Rio das Ostras uma breve parada em seu roteiro de viagem pela região. Foi revitalizada em 2000 pela Prefeitura. Agora conta, em seu redor, com bancos para que as pessoas possam descansar à sombra de sua copa e admirar as belezas da costa riostrense. Local: Calçadão da Praia do Centro, em frente à rua Maria Letícia, e entre as praças José Pereira Câmara e São Pedro. ORLA DA COSTAZUL - A orla de Costazul conta com área de lazer e preservação, com ciclovia, academia de ginástica

ao ar livre, quiosques, playgrounds e 15 mil m² de área de restinga preservada. APA DA LAGOA DE IRIRY - Unidade de conservação que abriga a Lagoa de Iriry, conhecida pela sua água escura

originada pela vegetação existente. Sua recente revitalização atrai visitantes, amantes da natureza. RIO DAS OSTRAS E MANGUEZAL - O rio que deu origem ao nome da cidade e nos seus 15km de extensão, em conjunto

com o manguezal que hoje é área de proteção ambiental, abriga um dos principais ecossistemas do município e da região, com grande diversidade de fauna e flora. CENTRO HUGO PAULO DE OLIVEIRA - O complexo cultural Centro Integrado de Literatura e Dramaturgia Hugo Paulo

de Oliveira, cujo nome é uma homenagem ao escritor e poeta riostrense, é formado pela Biblioteca Pública Municipal e o Teatro Popular de Rio das Ostras. A Biblioteca promove exposições, oficinas de redação e leitura, cursos, palestras, concursos literários, rodas de leitura e contações de histórias. Conta com acervo de mais de 40 mil títulos, incluindo material em braille e videoteca. O espaço inclui uma sala infanto-juvenil, gibiteca, sala com computadores e internet, área de convivência, além da Sala da Memória Fluminense, que preserva jornais microfilmados. Local: Avenida Amazonas. GRUPO CRIA - Quando o Grupo Cria nasceu, em 1990, Rio das Ostras ainda não era um município. Desde então, o

grupo vem apresentando ininterruptamente projetos artísticos que abrangem artes cênicas, música, performance, literatura, educação, roteirização e produção de eventos. Ao longo de 23 anos de trabalho intenso, o grupo já formou atores e dançarinos que hoje não estão mais na cidade. Claudia estima ainda que o Cria já tenha atraído


mais de 20 mil espectadores em sua história. Em 2006 o Grupo Cria fundou o Núcleo de Cultura Urbana, que reúne jovens artistas ligados ao movimento hip hop e oriundos de projetos sociais nos quais o Cria atuou. O Núcleo hoje integra artistas das regiões litorânea e metropolitana do Rio de Janeiro e do Norte Fluminense. Local: Rua Dr. Bento Costa Júnior, 70, Centro. LOBÃO - O artista também faz intervenções em escolas e grafita telões para eventos musicais na região. A orla de

Cabo Frio exibe obra sua que retrata a natureza e as dunas do balneário. Em 2014, ele deve inaugurar painéis gigantes no Teatro Municipal de Rio das Ostras, cidade do litoral onde mais deixou se traço. Para grafitar, Lobão se pendura em beirais e andaimes, munido de capacete, cinto de segurança, tinta de parede e de piso, spray, esmalte sintético, pistola e rolos. Como a maioria de suas obras é por encomenda, recebe críticas dos grafiteiros. “Dizem que sou moralista, que só faço trabalho autorizado. Mas se estiver com tempo, espaço, e sem obrigação financeira, também faço meu protesto.”, frisa o artista. Local: Rua Campomar. RIO DAS OSTRAS JAZZ & BLUES FESTIVAL - Considerado um dos melhores festivais do gênero no país e na América

Latina, o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival já realizou mais de dez edições na cidade litorânea. O Festival figura no calendário oficial de eventos do estado do Rio e todos os shows são gratuitos e ao ar livre. A iniciativa pioneira fez nascer também uma entidade própria: a Abrafest – Associação Brasileira dos Produtores de Festivais de Música Instrumental, Jazz e Blues -, responsável por fazer circular pelo país diversos músicos consagrados. Local: Palcos montados na Cidade do Jazz, em Costazul; na Praia da Tartaruga, na Lagoa do Iriry e na Praça São Pedro. OFICINA DE LUTERIA - A Oficina de Luteria foi criada pela Fundição Escola de Artes e Ofícios em 2002, com a

chancela da Unesco, para formar reparadores de instrumento de corda, dentro de um programa de capacitação de mão-de-obra e geração de renda. As vagas foram ocupadas a partir de um processo de seleção, com provas de geometria, matemática e raciocínio lógico. Local: Rua Beija Flor, s/n. esquina com a Rua Almirante Heleno Nunes 300, Colinas. DE 4 NO ATO – O grupo teatral De 4 no Ato foi formado em 1994 por um coletivo de atores que mescla em suas

apresentações manifestações folclóricas, pesquisa e linguagens populares. Em 1995, estrearam a peça infantil Zacatraz. Dois anos depois, montaram João e Maria e, em 1998, os infanto-juvenis Caos na Fronteira e Chapeuzinho Vermelho do Agreste. Em 2000, o grupo ampliou seu trabalho para o público adulto encenando a tragédia grega Fedra, de Jean Racine. Em seguida vieram Voyeur, o monólogo Flor de Cactus, uma série de montagens infantis e o teatro de rua, encenado até hoje. O De 4 no Ato já se apresentou em 85 cidades do Brasil. Em 2006, o espetáculo de ciranda e maracatu Belelê Balaio – Uma Comédia em Cordel, baseado nos contos do jornalista Câmara Cascudo, abriu as portas para apresentações em espaços culturais em Santiago (Chile), Jujuy, Tucumán e Salta (Argentina). CENTRO DE MÚSICA DANÇA E TEATRO – O Centro de Formação Artística de Música, Dança e Teatro oferece cursos

técnicos de canto, violão, cavaquinho, contra-baixo, guitarra, violino, bateria, piano, flauta doce e transversa, além de balé clássico e teatro. Os projetos Orquestra KUARUP Sopros & Cordas, Companhia de Dança Baía Formosa, Orquestra Curumim e Coral Acauã têm como sede o Centro de Formação Artística. De arquitetura contemporânea, traz na fachada ondas feitas de resina e recobertas em mosaico, entrecortadas com tartarugas. A obra é uma homenagem ao artista espanhol Gaudi e é assinada pela artista plástica Clara Arthaud. O prédio foi sede da primeira Câmara Municipal instalada após a emancipação da cidade. Local: Praça José Pereira Câmara.

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PRAÇA DO TREM – A Praça do Trem possui uma pequena estação de trem onde funciona a Fábrica de Tapetes e

Bonecas, criada através de um programa de geração de renda da Fundação Rio das Ostras de Cultura. Com um showroom e um palco italiano, ali são também encenadas as produções da fundação. O local conta com playground, quadra poliesportiva e academia de ginástica. Na frente da estação, encontra-se a réplica de uma locomotiva, tombada pelo IPHAN. Local: R. Henrique Sarzedas – Liberdade. CONCHA ACÚSTICA – Inaugurada em 2010 como espaço para exibição de novos talentos, a Concha Acústica recebe

durante todo o ano shows mensais gratuitos de jazz e blues, além de ser um dos palcos já consolidados do Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, que acontece em junho. Local: Praça São Pedro. FESTIVAL DA ONDA – O tradicional Festival da Onda todo ano reúne audições e encenações dos alunos de dança,

música e teatro do Centro de Formação Artística de Música, Dança e Teatro. Todas as apresentações acontecem no Teatro Popular e têm entrada franca. Ocorre sempre nos meses de outubro e novembro. Local: Avenida Amazonas. CIA DE DANÇA BAÍA FORMOSA – Companhia de Dança Baía Formosa, da Fundação Rio das Ostras de Cultura, celebra

nove anos de atuação artística em 2012. Formada pelas melhores alunas do curso de educação profissional e técnica de dança do Centro de Formação Artística, a Baía Formosa tem direção de Nora Kholki Carneiro. Local: Praça José Pereira Câmara.


ESCOLA MUNICIPAL DE DANÇA HELBA NOGUEIRA – A escola de dança oferece formação profissional em balé clássico,

além dos cursos de sapateado, jazz, dança moderna e contemporânea, sob a coordenação da bailarina Nora Esteves. Local: Prédio da Onda, Praça José Pereira Câmara, s/n, Centro. CENTRO DE EDUCAÇÃO POPULAR – Professores voluntários resgatam a identidade cultural da cidade em um projeto

social que surgiu em 2007, em uma comunidade carente da periferia de Rio das Ostras, o bairro de Praia Âncora. A primeira iniciativa do Centro Cultural de Educação Popular de Rio das Ostras (CEPRO) foi a montagem de uma biblioteca popular com livros do acervo pessoal dos próprios professores. Hoje a biblioteca tem mais de 5 mil livros, sendo importante fonte de pesquisa na região. Local: Alameda Casimiro de Abreu, 292, Nova Esperança. FESTA DO FEIJÃO - Com pratos à base de feijão e muitos shows musicais, a Festa do Feijão comemora há sete

edições a colheita das sementes cultivadas no município. O público pode experimentar, a preços acessíveis, diferentes pratos preparados com feijão preto Xodó e feijão vermelho Pingo de Ouro, elaborados pelos produtores locais. Promovida em parceira entre a Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca e os produtores rurais. A entrada é franca. Acontece sempre em outubro.

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PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO O que é arqueologia? É uma ciência que estuda as sociedades do passado a partir dos vestígios materiais encontrados submersos, no solo ou no fundo do mar; através de técnicas de escavação e registro; e análise dos resultados através de diferentes parâmetros teóricos. Mas a Arqueologia é uma ciência essencialmente transdisciplinar, na qual as análises são atravessadas por uma gama de outras ciência. No Brasil estas contribuições estão muito mais concentradas nas técnicas de análise de campo e dos artefatos, como a geologia, a biologia humana, a zoologia, a botânica, antracologia, física nuclear, química, matemática, metalurgia, arquitetura, fotografia etc. Em outros países, para além das técnicas, outras ciências oferecem auxilio a Arqueologia, como as de especialidade histórica – da qual faz parte a paleografia, a epigrafia, a toponímia, onomástica, numismática, cronologia, esfragística, heráldica, genealogia, diplomática, criptografia, linguística e outras; e as de especialidade artística – como as análises de esculturas, pinturas, gravuras, desenhos, cerâmicas, esmalte, tecelagem, tapeçaria, vestuário, adornos etc. Além disso, a ciência arqueológica tem se dividido em diferentes especialidades: Arqueologia Pré-histórica, Arqueologia Indígena, Arqueologia Histórica, Arqueologia Urbana, Arqueologia Industrial, Arqueologia Subaquática, Arqueologia Funerária, Zooarqueologia, Arqueologia do lixo, Arqueologia da repressão e outras.

Porque a maioria dos vestígios de interesse arqueológico estão enterrados? A arqueologia não se faz apenas com objetos obtidos em atividades de escavação, porém, em muitos locais onde houve ou ainda há ocupação humana, de acordo com a passagem do tempo e as mudanças sociais, diversos fatores foram responsáveis pelo soterramento dos materiais destas populações. Estes fatores, concentrados ou combinados, são geralmente os seguintes:

Fatores geológicos Nas regiões de solos friáveis, facilmente removível pelos elementos, o vento transportam as mais pequenas partículas de matéria e estas acabam por se acumular em locais determinados, quer na extensão de largas planícies, quer em antigas depressões no terreno ou formando dunas. Quando os testemunhos da passagem de determinadas sociedades ficam abandonados, na proximidade de uma fonte de materiais friáveis, com a chuva a incidir sobre ele, o vento arrasta fragmentos e poeiras e deposita-os em camadas cada vez mais espessas, acabando por recobri-los. A espessura das camadas “arenosas” varia segundo a duração destes fenômenos climáticos. A chuva, por outro lado, ao causar erosão da superfície dos terrestre, arrasta com as águas vertentes materiais que se acumulam ao longo dos obstáculos, transportando-os e sepultando-os. Em casos mais extremos, os degelos e tremores de terra podem provocar o deslocamento de terreno. Viu-se no passado, e ainda hoje acontece, que rios de lama acabam por sepultar vales com as suas aldeias. Inundações catastróficas durante um período muito longo provocam depósito de limo com certa espessura. O fluxo e refluxo do mar provocam desabamentos nas costas e por vezes recobrem de aluviões certos vestígios. Há portos que sofrem assoreamento, são abandonados, mergulham no solo, afetado pelas infiltrações. Os meandros das ribeiras dos rios mudam de lugar, forçando os grupos humanos habitantes a mudarem de lugar que desde logo é entregue sem defesa as ações naturais. Nas cavernas, os blocos soltos dos tetos e paredes, as acumulações de restos diversos, as enxurradas das torrentes e águas de riachos, os depósitos calcários, as dejeções, as ossadas de animais, atulham parcialmente a gruta ou abrigo, enterram os vestígios deixados pelo grupo habitante. Não é o casso do Brasil, mas também os glaciares, ao avançar, expulsam


os grupos habitantes e recobrem os vestígios deixados no local, de saibros e depósitos lodacento; e, finalmente, erupções vulcânicas capazes de recobrir uma cidade inteira de lavas ou cinzas que, depois, se solidificam.

Fatores zoológicos Os vermes da terra, ao penetrarem no solo, permitem a movimentação dos objetos enterrados e aprofundamento ainda maior dos mais resistentes e pesados. Ao criarem buracos pela retirada de partículas de terra, rejeitarem estas partículas na superfície e pelo consumo de determinados materiais orgânicos enterrados, os vermes concorrem para uma nova dinâmica de soterramento dos vestígios de sociedades do passado, pois criam camadas mais recentes e espaços que promovem o desabamento de estruturas e se rearranjam posteriormente pela ocupação com partículas e vestígios das camadas acima, movimentadas pelo peso destes materiais e com o auxílio da infiltração de água. Outros animais escavadores – insetos, ratos, toupeiras, coelhos, texugos, raposas, porcos etc. concorrem também para este trabalho.

Fatores botânicos A vegetação rasteira está em constante crescimento em locais abandonados, muitas vezes acumulando-se e formando camadas sobre as quais continuam a crescer. Os arbustos e árvores, perdem folhas e ramos, caem inteiras sobre o solo apodrecendo depois, introduzem as raízes entre as camadas do solo, entre as pedras e os objetos, desviam-nos, desmantelam-nos, deslocam-nos, acabam por sepultá-las com um manto vegetal que aumenta de espessura sem cessar Os musgos invadem as superfícies úmidas e acumulam-se. Este húmus em formação constante espessa-se de ano a ano. A floresta que se recupera em antigos locais de assentamento recobre, dissimula e enterra a paisagem com antigas edificações.

Fatores humanos Estes agem sobretudo nos locais das cidades (mas também pela no manejo do solo para a agricultura, principalmente no momento atual de aplicação de grandes maquinário para a plantio e a colheita). O solo batido, empedrado, é destruído para a reconstrução, enterram-se os materiais inutilizáveis a fim de procurar fundações mais sólidas para novos edifícios. O nivelamento é feito sobre os restos das casas antigas e por isso a um nível mais alto. Se um incêndio sobreviver, se uma guerra devastar uma cidade de todas estas ruínas que a atravancam: demolir-se-á, aplanar-se-á a fim de se obter um solo horizontal para construir de novo. Acontecem assim que se descobrem, no local de uma cidade, numerosos níveis sobre postos. Os mais baixos testemunharão ocupações mais antigas. Um monumento é ampliado, depois pouco a pouco demolido e suas partes substituídas por outras, utilizando por vezes as mesmas fundações. É assim que algumas construções podem esconder outras. Inexoravelmente, o nível das cidades não cessa de se alterar. Compreender-se-á que, segundo as regiões (diferentes sob o ponto de vista climático e geológico), vestígios que datem da mesma época se possam encontrar a profundidades diferentes. Certas camadas arqueológicas pertencentes a pré-história estão enterradas muito profundamente enquanto outras se pode encontrar perto da superfície atual do solo. (Adaptado de FRÉDÉRIC, 1980. p.49-52) Antes de se desenvolver qualquer atividade de escavação ou de atividades interventivas mais sistemáticas, a Arqueologia propõe a realização de análises prévias para a localização de áreas de interesse, para a delimitação do espaço de intervenção dentro destas áreas e para a constatação do grau de preservação dos bens ali enterrados. “Antes de abrir a terra, a fim de extrair os objetos, é necessário que saiba primeiro o que se procura. Sendo a arqueologia principalmente uma história da cultura material e da vida social de um povo, num dado lugar, durante um certo período, temos de compreender que qualquer traço, por mínimo que seja, qualquer aspecto (ainda que só descoberto ao microscópio), qualquer objeto, por significante que seja, é significativo. Qualquer interesse que possam ter em si mesmos, os objetos isolados pouco representam, em geral, para um arqueólogo: separados do contexto, do meio, perdem a vida, tornam-se matérias mortas de pouca utilidade para a reconstituição de

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um retalho da vida. Ao contrário, qualquer traço ou prova, qualquer objeto que não tenha sido deslocado de sua posição inicial, permanece em estreita relação com seu meio, ainda que este possa ter sido no decorrer do tempo, profundamente transformado. Podem encontrar-se os testemunhos deste meio. O objeto retoma então a vida, como um ornamento o seu lugar em uma mesa. As informações assim recolhidas poderão ser de vária ordem.” (FRÉDÉRIC, 1980)

ARQUEOLOGIA EM CAMPO Para regiões onde ainda não se encontraram materiais de interesse arqueológico ou existem suspeitas da existência de vestígios de antigas ocupações, a Arqueologia estabelece a seguinte ordem de trabalho:

Diagnóstico não-interventivo/preditivo Composto pelo cruzamento de uma série de levantamentos: de fontes historiográficas com dados indicativos dos locais de antigas ocupações e, quando possível, dos hábitos e práticas dos respectivos grupos habitantes; das características geomorfológicas da região, com a intenção de identificar elementos topográficos que são de formação diretamente ligada a estruturas de antigos assentamentos; da disposição de elementos possivelmente favoráveis a ocupação humana (geralmente, locais próximos a recursos hídricos e terrenos menos acidentados); e de elementos geográficos favoráveis a determinados padrões de assentamento já conhecidos em região próxima ou em regiões de iguais características. A partir deste trabalho, resultam as primeiras estimativas de locais com maior ou menor potencial arqueológico.

Diagnóstico prospectivo Estabelecimento de técnicas e metodologias de campo adequadas a identificação dos primeiros indícios de ocorrência de materiais arqueológicos, da disposição desses vestígios em extensão e profundidade no solo ou subsolo, que configurem a existência de sítio arqueológico (digno de preservação ou intervenções mais intensas para estudos mais aprofundados), geralmente executadas por: • leitura do subsolo com equipamentos magnéticos ou sondas (muito utilizadas em meio subaquático), sem necessidade de abertura do solo. • percorrimento de toda a área para a identificação de materiais em superfície. • execução de aberturas esparsas e com a possibilidade de serem de formas diferenciadas de escavação: por tradagem, isto é, a realização de perfurações com uso de trado mecânico ou torno; sondagem, com a escavação por níveis artificiais (de 10 em 10 cm) e de dimensões geralmente de 1x1m; ou trincheiras, com escavação por níveis artificiais (de 10 em 10 cm) e de dimensão retangular, geralmente de 1x3m, 1x4m, 1x5m em diante.

Escavação sistemática Estabelecimento de metodologia adequada para a execução de aberturas dentro de uma área definida como sítio arqueológico. Os métodos de escavação variam desde a aplicação do Método Haris, do Método Wheeler ou de método dinâmico de abertura de acordo com as interpretações surgidas na medida da ocorrência de vestígios. Cada um destes métodos segue parâmetros próprios de intervenção no solo, bem como de descrição dos


achados, porém, há um padrão mínimo descritivo a ser seguido em quaisquer escavações arqueológicas. Os registros de campo devem ter rigor na localização de cada elemento contatado; dar atenção especial as descrições dos sedimentos encontrados em cada camada escavada, como a granulometria, a plasticidade e a cor do solo (podendo fazer a coleta de sedimentos específicos); e registro da posição em que foram encontrados os artefatos e estruturas (fragmentos ou peças integrais) e descrição ou classificação tipológica prévia destes artefatos e estruturas, isto é, com informações sobre qual parte de determinado objeto pertence, suas formas, funções, decorações e período de produção e uso original.

O que é Sítio Arqueológico? De forma genérica, é uma área/espaço definida pelos arqueólogos como de interesse para os estudos e com seus limites bem definidos. Entretanto, no que tange a política de gestão do patrimônio cultural pelo estado, o registro de sítio arqueológico, tal qual o tombamento, tem peso jurídico na garantia de preservação da área delimitada contra a ocupação do solo e o impacto de obras.

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TEORIAS ARQUEOLÓGICAS Basicamente, constituíram-se até hoje na ciência arqueológica três vertentes teóricas, que tomam para si respectivamente um papel classificatório, analítico ou interpretativo:

1. Arqueologia Histórico-Cultural • Sofreu influências do evolucionismo cultural que a antecedeu. • Preocupa-se com o estudo da distribuição geográfica dos artefatos e suas relações com grupos históricos. • Enfoca principalmente o estudo de sequências regionais empiricamente documentadas pelos artefatos. •D estaca reconstruções cronológicas minuciosas e descritivas, enumerando as culturas arqueológicas e ressaltando atributos técnicos dos artefatos exumados. •P rocura explicar as mudanças culturais como causadas externamente, pelas migrações de povos ou pela difusão geográfica as culturas. O modelo histórico-cultural parte do pressuposto que a cultura seja homogênea e que as tradições sejam passadas de geração a geração. Precursores: Gustaf KOSSINNA (1858-1931) e Vere Gordon CHILDE (1892-1957) No Brasil, foram precursores desta corrente teórica o casal de arqueólogos estadunidenses Betty Jane MEGGERS (1921-2012) e Clifford EVANS (1912-1985), com a realização do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), na década de 1960.

2. Arqueologia Processual (Nova Arqueologia) • Sofreu influências do neo-evolucionismo. • Baseia-se também na teoria geral dos sistemas e no positivismo lógico. • Foca-se na identificação e na explicação dos processos culturais no registro arqueológico. •A dvoga enfoques teórico-metodológicos rigorosos no sentido de dotar a Arqueologia de um caráter científico. •B usca a construção de modelos cuja aplicação propiciaria a formulação de leis evolutivas que explicassem e interpretassem os processos culturais. •E nfoca a noção de cultura como um sistema adaptativo, caracterizando mudança cultural a partir de fatores internos, destacando a importância de variáveis ambientais nas pesquisas arqueológicas. Principal representante: Lewis Roberts BINFORD (1930-2011)

3. Arqueologia Pós-Processual •E nvolve diversas tendências teóricas contemporâneas, muitas delas procedentes da sociologia, da semiótica, do estruturalismo, da filosofia e do marxismo. •T rouxe com ênfase para a Arqueologia a dimensão dos significados simbólicos que variarão e se destacarão em diferentes contextos culturais.


•V isa resgatar o significado cultural adquirido pela cultura material que determinada sociedade produziu e utilizou. •R etoma para a Arqueologia a discussão de problemas de caráter histórico derivados de propostas da Nova História. •P ropugna a destacada ação dos arqueólogos enquanto construtores do passado a partir de sua classe social, ideologia, cultura e gênero como pontos de partida para as perguntas que formula às evidências arqueológicas. Principal representante: Ian HODDER (1942-) (Retirado, com acréscimos, do material didático do Prof. Dr. Antônio Martiniano Fontoura, 2010 – Universidade Federal de Santa Catarina. Site: http://www.ngd.ufsc.br/files/2012/04/11_teoria_arqueologica.pdf).

Contudo, algumas vertentes teórico-metodológicas específicas também ganharam destaque:

Cadeia Operacional Outro meio que os arqueólogos usam para compreender melhor o que os artefatos significam é observar com atenção como eles foram feitos (confeccionados). O arqueólogo francês André LEROI-GOURHAN (1911-1986) desenvolveu nos anos 50 o conceito de Chaîne Opératoire ou Cadeia Operacional.

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O conceito refere-se à tentativa de reconstruir os meios utilizados para a confecção do artefato e os usos que dele se faziam, além de se tentar entender o lugar das atividades técnicas desenvolvidas nas sociedades humanas antigas. LEROI-GOURHAN considerava a tecnologia uma atividade social e que a arqueologia deveria considerar as raízes socioculturais e a rede de ações que deram origem aos artefatos. A análise da cadeia operacional pode explicar o contexto no qual uma ferramenta foi confeccionada e usada.

Arqueologia comportamental ou transformacional Os arqueólogos aprendem sobre as sociedades humanas do passado estudando resíduos, fragmentos, peças, artefatos, escombros que resistiram até o presente. Porém, estes materiais não permaneceram intactos ao longo do tempo. Todos sofreram alterações significativas no processo de sua formação arqueológica (no processo de formação dos sítios arqueológicos). Estas alterações dizem respeito as transformações mecânicas, químicas e comportamentais ocorridas desde a criação e uso do objeto até o momento da sua redescoberta e estudo. Para Michael SCHIFFER (1947-) o fato dos artefatos achados e estudados serem considerados “transformados” ao longo do tempo por processos naturais e culturais é importante e deve ser considerado. SCHIFFER foi discípulo de BINDFORD e desenvolveu uma abordagem que privilegiava o estudo do comportamento humano, especialmente do fazer, do usar e do descartar objetos. Procurava como processualista, explicitar as regras e as leis que regulavam a pesquisa arqueológica. Para ele não havia nenhuma teoria satisfatória até o surgimento do estudo de como o registro arqueológico era formado. Para SCHIFFER o processo de formação pode ser de dois tipos: natural e cultural. As transformações naturais e culturais ocorridas afetam os objetos e suas associações quando movidos do contexto sistêmico do passado (onde foram descartados) para o contexto arqueológico do presente (onde foram redescobertos). Isto significa que a arqueologia para SCHIFFER, não se limita ao estudo das sociedades antigas, mas está interessada em como os objetos se transformam do momento que foram descartados até o presente. Este princípio pode ser aplicado para o estudo e entendimento dos objetos contemporâneos também. Traçar a história do objeto desde sua origem, passando pelos seus vários usuários, analisando os seus vários usos e modificações que sofreu até o presente, permite inferir muito sobre o que ele é e sobre seus usuários. O lixo e os dejetos também desempenham um importante papel no estudo da cultura material do passado e do presente. William RATHJE (1945-2012) desenvolveu um estudo escavando lixões modernos nos EUA, para investigar o que se comia, o que se descartava e como seria possível minimizar a produção de lixo sólido. Nesta investigação RATHJE descobriu, entre outras coisas, que as pessoas mentem nas pesquisas sobre a quantidade de álcool que consomem.

Arqueologia cognitiva A arqueologia cognitiva pretende investigar as formas de pensamento e crenças do passado (universo ideológico), através dos vestígios materiais. Para Colin RENFREW (1937-) a arqueologia cognitiva envolve inferir sobre como as pessoas pensavam no passado, por meio da cultura material preservada. A arqueologia cognitiva não se ocupa necessariamente em identificar os significados dos objetos e artefatos estudados, mas em descobrir como funcionava o pensamento das pessoas destas antigas sociedades e como este pensamento modelava as suas ações. Arqueólogos como RENFREW estão interessados na maneira como os seres humanos usavam os símbolos e em entender mais sobre a necessidade que eles tinham de usar símbolos para se comunicar e se relacionar


socialmente uns com os outros. Pode-se também, usar este e outros métodos inferenciais para se entender melhor como analisar os objetos contemporâneos. (Retirado do material didático do Prof. Dr. Antônio Martiniano Fontoura, 2010 – Universidade Federal de Santa Catarina. Site: http://www.ngd.ufsc.br/files/2012/04/11_teoria_arqueologica.pdf).

A ARQUEOLOGIA EMPRESARIAL Nos últimos, em função das exigências ligadas ao processo de licenciamento ambiental para obras de engenharia, houve um crescimento exponencial no número de atividades arqueológicas desenvolvidas no Brasil e em outros países que passam por contexto político-econômico similar. A Arqueologia Empresarial é uma tendência criada a partir desta demanda, que está baseada em obrigações legais a serem cumpridas pelo empreendedor, previstas basicamente na Resolução do CONAMA 001/1986 e na Portaria do IPHAN 230/2002. Estas diretrizes legais, em justaposição às fases de licenciamento ambiental, são divididas basicamente nas seguintes etapas: Diagnóstico não-interventivo Prospecção e/ou Resgate. Nas fases de Prospecção e Resgate, cumprem-se programas de Educação Patrimonial na região afetada pelo empreendimento. Além disso, ainda que mínima, há sempre alguma probabilidade de ocorrência de vestígios que não se conseguiram identificar na fase prospectiva, mesmo com a utilização de técnicas das mais modernas. Mas se considerando a dinâmica de trabalho em obras de engenharia e que seus impactos são irreversíveis para os materiais e o contexto arqueológico, indica-se sempre o Monitoramento Arqueológico pontual ou sistemático junto a execução das obras. Os vestígios arqueológicos encontrados nestas atividades são de propriedade da União (devendo ter tratamento cuidadoso, arquivamento, curadoria e salvaguarda em instituição autorizada). Sobre a propriedade, o mesmo vale para as terras diagnosticadas como sítios arqueológicos.

LISTA DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS SÍTIO NOVA FRIBURGO – Sítio de Contato, onde se encontraram fragmentos de vidro, cerâmica neobrasileira, louça,

material lítico, malacológico. Coord.: S: 22°27’55’’ / W: 41°59’59’’. SÍTIO MASSANGANA (RJ-JC-94) - Sítio Lítico, onde se encontraram artefatos líticos (batedor). Destruído. Coord.: S:

22°30’02’’ / W: 41°56’22’’. SÍTIO CASA ROSA (RJ-JC-97) - Sítio Histórico, onde se encontraram vestígios de estrutura (baldrame de pedra), tijolos, telhas, vidros e louças. Coord.: S: 22°27’28’’ / W: 41°59’49’’. SÍTIO PASTO DO CEMITÉRIO (RJ-JC-98) - Sítio Histórico, onde se encontraram vestígios de estrutura (baldrame de pedra), tijolos, telhas, vidros, louças, cerâmicas vitrificadas, metal, argamassa de cal. Cood.: S: 22°27’50’’ / W: 41°59’59’’. SÍTIO DO SALGADO (RJ-JC-92) - Sítio Cerâmico, onde se encontrou uma tigela tupiguarani com pintura (doada pelo proprietário do terreno à época) e outros fragmentos através de coleta de superfície ou em profundidade, até 1,30 m. Coord.: S: 22°27’25’’ / W: 41°56’31’’. SÍTIO DA JAQUEIRA (RJ-JC-96) - Sítio Histórico, onde se encontraram vestígios de louça, vidro, telha, tijolo. Coord.:

S: 22°27’02’’ / W: 41°56’32’’. SÍTIO SAMBAQUI FAZENDA ITAPEBUSSUS (RJ-JC-93) - Sítio de Sambaqui, onde se encontraram vestígios líticos e

malacológicos, encontrados em coleta superfície. Parcialmente destruído. Cood.: S: 22°29’11’’/ W: 41°53’02’’.

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SÍTIO SERRAMAR (RJ-JC-91) – Sítio funerário, onde se encontrou uma Urna cerâmica (doada pelo proprietário do

terreno à época). Cood.: S: 22°29’11’’ / W: 41°53’02’’. SÍTIO CASA DE PEDRA (RJ-JC-95) - Sítio Histórico, onde se encontraram vestígios de estrutura (fundação da casa-

baldrame), telha, tijolo e pedra. Coord.: S: 22°31’18’’ / W: 41°57’52’’. SÍTIO SAMBAQUI DA TARIOBA (RJ-JC-03) – Sítio de Sambaqui, onde se encontraram vestígios arqueológicos como

estrutura (buraco de estaca, fogueira), lítico, ocre, malacológico e ósseo (humano e animal). Museu de arqueologia in situ. Cood.: S: 22°31’40’’ / W: 41°56’22’’.

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A educação é um dos campos fundamentais da produção e reprodução da vida social e, por isso, um valor universal e incontestável. Além disso, o aprimoramento contemporâneo dos métodos e técnicas pedagógicas tem mostrado que a educação pode ser uma das principais ferramentas para a geração de liberdade e autonomia, desde que conjugue a mediação e o estímulo ao crescimento individual, com a promoção de atividades ao mesmo tempo reflexivas, críticas e compreensivas de questões do passado e do presente das sociedades, dentro de um programa de mobilização de recursos coletivos e institucionais e com o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Segundo o IPHAN a Educação Patrimonial deve consistir em mais do que uma proposta interdisciplinar de ensino voltada para questões ligadas ao patrimônio cultural, e sim, deve servir de veículo para provocar no educando sentimentos de surpresa e curiosidade, com o objetivo de despertar a vontade de conhecer cada vez mais o meio ambiente e o patrimônio cultural regional e global; de intervir em prol da preservação desses patrimônios; de refletir sobre a sua própria realidade individual e coletiva, na resolução de problemas sociais (como moradia, saneamento, abastecimento de água, etc.); e, enfim, de tornar-se um multiplicador dos conteúdos adquiridos, métodos de análise e ações sociais. Dentro destes objetivos, o Guia Básico de Educação Patrimonial e obras posteriores do IPHAN (como o Manual de Atividades Práticas de Educação Patrimonial, de 2007) orientam que as atividades a serem desenvolvidas podem se dividir em quatro etapas (que se espelham nas etapas do processo institucional de avaliação e consagração dos patrimônios culturais realizados atualmente): • Observação: utilização de exercícios de percepção sensorial (visão, tato, olfato, paladar e audição) por meio de perguntas, experimentações, provas, medições, jogos de adivinhação e descoberta (detetive), etc., de forma que se explore, ao máximo, o bem cultural ou tema observado. • Registro: exercícios com desenhos, descrições verbais ou escritas, gráficos, fotografias, maquetes, mapas, por meio dos quais se busca fixar o conhecimento percebido, aprofundando a observação e o pensamento lógico e intuitivo. • Exploração: exercícios de análise do bem cultural com discussões, questionamentos, avaliações, pesquisas em outros lugares (como bibliotecas, arquivos, cartórios, jornais, revistas, entrevistas com familiares e pessoas da comunidade), desenvolvendo as capacidades de análise e espírito crítico, interpretando as evidências e os significados. • Apropriação: exercícios de recriação do bem cultural, através de releitura, dramatização, interpretação em diferentes meios de expressão (pintura, escultura, teatro, dança, música, fotografia, poesia, textos, filmes, vídeos, etc.), provocando, nos participantes, uma atuação criativa e valorizando assim o bem trabalhado. Os resultados da aplicação desta metodologia desenvolvem atividades que levam os participantes à reflexão, descoberta e atitude favorável a respeito da importância e valorização do nosso Patrimônio Cultural. Sua aplicação é bastante útil e deve ser mantida como base inicial para a realização das atividades.


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“Ao contrário do olhar panorâmico para o mundo, que mantém o sujeito de fora, distante e contemplativo, acreditamos que transformação de um lugar em cidade é também uma tarefa para nossos olhares, porque quando eles saem da anestesia, reconhecem, decompõem e interpretam, transformando observadores em cidadãos. O olhar é então capaz de relacionar os diversos planos sociais e visuais que coexistem. Numa visita a cidade somos obrigados a penetrar, caminhar, sentir cheiros, ouvir sons distintos, somos inseridos num espaço, nossa visão é circular, pós cubista. O que comanda nosso olhar para a cidade não é somente a paisagem, mas todo o nosso corpo é colocado em movimento. Interpretar o patrimônio é, portanto, uma experiência do corpo num espaço. O que pretendemos com este programa voltado para a interpretação do patrimônio é experimentar os espaços e daí encontrar as histórias do passado sem deixar de criar novas histórias. A cidade é um fórum de vivências, de encontros de diferentes sujeitos, mas assim como as obras de arte ela não possui uma única verdade: cabe a nós prová-la através de nossas sensações construir sentidos. O que nos interessa é descobrir como hoje nos encontramos com o nosso passado. A relação sugerida entre a experiência de descobrir ou redescobrir uma cidade com o olhar cubista tem a ver com o fato de que nos dois casos é preciso circular, ver de cima, de baixo, livre da visão linear. Hoje, ao olharmos para um objeto mergulhamos nele. Ao olharmos para um, encontramos os outros, como se os outros habitassem este um. Ao descobrirmos uma cidade também descobrimos outras: o Rio, por exemplo, nos remete a Lisboa, ambas parecem ligadas por uma correnteza marítima, em linha direta. Uma em frente a outra”. (LIMA, 2004. p.6).

Porém, pesquisas atuais e reflexões sobre ações práticas realizadas no Brasil (também no campo das artes, onde têm alcançado maior profundidade) mostram que a introdução do método conhecido como mediação (ou mediação da informação), previamente e ao longo da execução destas etapas, é extremamente necessária para o melhor cumprimento dos objetivos propostos inicialmente. A mediação pretende, em primeiro lugar, ir além da simples transferência de conteúdos, disseminação de informação ou distribuição da informação, buscando uma interferência, direta ou indireta; consciente ou sensorial; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de cada informação em questão. Para isso, este método propõe que as atividades devam operar sob a forma de: encontro, através da experiência de troca entre o educador e o educando; ampliação de conhecimento, com a construção compartilhada de significados, reconstrução, interpretação e associação; ir ao encontro dos interesses do outro, partindo-se de interesses individuais do educando; conectar conteúdos e interesses, com a escolha de uma melhor didática respeitando os interesses particulares; diálogo e conversação, através da abertura de espaço para o questionamento e a contraposição; compartilhamento, com o estímulo à expressão de opiniões para a superação coletiva dos questionamentos e contraposições; provocação, com o levantamento de dúvidas e questionamentos diante de determinadas certezas e absolutismos; e estar entre, pela colaboração com as decisões tomadas coletivamente.


Neste sentido, uma ação de mediação ao invés de introduzir perguntas prontas, induzindo a que sejam respondidas pelos participantes das atividades, a ideia é de construir perguntas e tentar respondê-las (ou não) conjuntamente com o público. Para isso, podemos nos inspirar em uma parte do Método de Paulo Freire, o qual nas primeiras fases do processo educativo opta pelo uso de imagens as “fichas de cultura”, utilizando uma série de imagens de patrimônios culturais, os nossos Cartões do Patrimônio Cultural, para sugerir observação, exploração, registro e apropriação. “O que é educar para ser parte viva do patrimônio cultural de uma cidade – herdeiro e transformador dos saberes culturais e artísticos de uma época? Os debates sobre valores e estratégias para a proteção e preservação dos bens patrimoniais materiais – objetos, edificações, bairros, cidades e territórios – se expandem para absorver sua dimensão imaterial, que se renova através dos meios de expressão, dos saberes locais, das tradições, das celebrações, um conjunto de conhecimentos transmitidos de geração para geração. Educação e cidadania se sobrepõem na construção de formas participativas de sustentabilidade e desalienação do significado dos bens patrimoniais, juntamente com os saberes culturais. As mudanças que vêm sendo delineadas apontam para uma compreensão relacional entre o patrimônio material, o objeto artístico-arquitetônico, e sua contrapartida imaterial, a dimensão humana que é ativa e interpretativa de saberes e crenças, ao mesmo tempo em que é festiva e ritualística”. (VERGARA, 2004. p.10).

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Fichas de Cultura “(...) Essas são as finalidades das fichas de cultura, que sugerem os debates a partir das imagens das situações existenciais: levar o grupo de educandos a rever criticamente conceitos fundamentais para pensar-se e ao seu mundo; motiva-lo para assumir, critica e ativamente o trabalho de alfabetizar-se. Quando você chega nas últimas páginas do livro, leitor, descobrirá que o certo já sabe, ou já imaginava. O trabalho com as fichas de cultura introduzia questões, inaugurava conceitos e convidava a ideias de um pensar que é, na verdade, o próprio fundamento do método: de sua filosofia e de sua pedagogia. Desde este primeiro trabalho coletivo dentro do círculo (porque antes dele já houve muito) é fundamental que o animador preserve o espírito de diálogo-e-participação que terá sido o da equipe, desde o seu aparecimento na comunidade. É importante que o grupo não apenas participe, como uma espécie de coro que segue e repete o solo do animador. É preciso que haja sempre o que o Paulo Freire chamou um dia de ‘participação criadora’. Assim ele não deve fazer, por sua conta e para os educandos, a decodificação da gravura. Já que é decodificando um desenho em ideias, em símbolos de fala, que o grupo cria e que os educandos aprendem, é preciso que seja seu este trabalho. O animador deve sempre evitar fazer para ou por. Deve criar situações em que, com a sua ajuda, o grupo faça o trabalho de pensar, de refletir coletivamente. Por isso não guia, favorece, orienta. Ao refletir com o grupo, não deve conduzir o debate sobre as situações existenciais – e, mais tarde, a partir das palavras geradoras – como se tudo fosse um jogo de adivinhação: ‘o que vemos aí? E agora?’. O grupo deve sentir que o trabalho é de problematização de uma realidade que a todos envolve: o que a gravura sugere? Em que um dos elementos se distingue do outro? Porque é assim e não de outra maneira? Como poderia ser? Qual o sentido do que se fala, do que se discute a partir do que todos veem?”. (BRANDÃO, 1981. p.50-51)

Por fim, sugerimos o deslocamento da atividade, até então com grau maior de introspecção e individuação, para uma experiência de exposição coletiva de pensamentos, descrições e proposições ativadas com a ação educativa até então, que se daria com a sugestão da construção de um Varal de Ideias do Patrimônio Cultural. Essa dinâmica foi inspirada em uma ideia simples presente na obra Varal de Lembranças: Histórias da Rocinha, na qual o varal aparece na forma que o livro expôs resultado do levantamento de documentos e entrevistas com moradores feitos por um grupo de pesquisadores. Por eles o varal é, no fim, percebido como indução do próprio método popular de exposição de histórias de vida, guardadas nas intimidades da memória, e uma metáfora para a coleção de causos, recortes, fragmentos, peças da história que se penduram na linha do tempo. Enxergamos através desta obra que o varal, por se constituir como método e metáfora de exposição de história


individuais para a construção da história de uma coletividade (que deveria, aliás, ser instituído como um patrimônio imaterial da cultura popular), portanto, guardaria em si uma boa forma de se estabelecer o compartilhamento de ideias sobre o patrimônio cultural, de local a mundial, com as pessoas envolvidas, encerrando assim as atividades de educação patrimonial. Aliás, de forma adicional ao que trata a passagem abaixo – na qual aparece somente a metáfora de se contar a história do morro como um torcer de roupas, em que a água espremida dos lençóis se compararia as lágrimas derramadas pelos moradores, com história marcada apenas pelo sofrimento e pela dor – o varal é o lugar de deixar secar nossas lágrimas, lugar inevitável de exposição de nossas intimidades (as cores, formas e tamanhos de nossas peças íntimas), nossas idiossincrasias (em roupas manchadas por descuido ou desleixo) e também de nossas identidades mais altivas e orgulhosas (em peças de roupas mais elaboradas e com estampas e cores da moda). Começamos a descobrir histórias que se trançavam com outras histórias, que explicavam outras histórias. - Eu não sabia que tinha sido assim... - Isso que ele falou é pura cascata! - Mais de três já contou a mesma história, diferente! Que história é essa? Que heróis são esses? Varal de lembranças. Uma meia a que falta um pé, uma saia de quatro babados, um trapo, um pano de renda. As histórias de do morro e as histórias de vida correm num mesmo amarrado. Não lembramos quem disse, está anotado num canto de papel: ‘Se vocês forem escrever a história do morro... É igual que torcer uma roupa quando sai da bica. Um lençol cheio de lágrimas. Dá pra cavar um rio, minha filha! Dá pra cavar uma vala funda!’ No dia de fim de semana, quando o tempo dava, a preguiça deixava o coração pedia, a gente estendia mais uma história, botava no quarador. Os roteiros iniciais envelheceram. Já não se decorava a pergunta pra falar na ‘hora’. Fomo criando intimidade com os personagens e com as façanhezas. As próprias histórias faziam o caminho delas...”. (UNIÃO PRÓ-MELHORAMENTOS DOS MORADORES DA ROCINHA, 1983. p.5)

REFERÊNCIAS BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o Método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1981. LIMA, Sueli de. Quando educar pra construir a cidade é parte constitutiva de uma educação por uma forma sensível de civilização. In: CCBB Educativo: Arte, Cultura e Cidadania. Caderno VII. 1º Semestre. 2004. Rio de Janeiro. UNIÃO PRÓ-MELHORAMENTOS DOS MORADORES DA ROCINHA. Varal de Lembranças: Histórias da Rocinha. Rio de Janeiro: Tempo e Presença/ SEC / MEC / FNDE, 1983. VERGARA, Luiz Guilherme. Anotações e reflexões: rituais de iniciação a arte, cultura e patrimônio. In: CCBB Educativo: Arte, Cultura e Cidadania. Caderno VII. 1º Semestre. 2004. Rio de Janeiro).

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PARA REFLETIR “Toda a aprendizagem sensorial-emotiva é muito marcada pelo mundo que os pais apresentam a criança, uma vez que esta chega a encontrar um mundo todo pronto, arrumado. Como é que se apresenta esse mundo? (...) Esse mundo de magia autêntica. Esse mundo lúdico, não tem nada a ver com a romantização do mundo oferecido em nome dos contos de fada por parte dos adultos. O mundo autêntico dos contos maravilhosos não é idílico – é belo e cruel.” (BOLLE, 1984. p.16-17).



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