Cap 3 apresentação

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Capítulo 3

UM NOVO CENÁRIO EDUCACIONAL E SUAS IMPLICAÇÕES METODOLÓGICAS

O desenvolvimento da capacidade intelectual, assim como das faculdades motoras, ocorre principalmente pela ação da criança e do adolescente sobre o seu meio físico e social estimulado por fatores externos. Assim, uma das principais funções da educação moderna, inclusive do ensino da Geografia, é a de criar oportunidades para que os jovens desenvolvam suas potencialidades tornando-se seres humanos capazes de interagir com as informações para transformá-las em conhecimentos significativos. Entretanto, acompanhar a quantidade e a velocidade da informação tem gerado muita angústia, porque estar rigorosamente atualizado é impossível na prática e, além disso, as injustiças sociais são intensificadas entre aqueles que têm o privilégio de ter acesso e domínio das informações, e aqueles que, devido a sua carência material, são excluídos do seu contato. Neste contexto caracterizado pelo desenvolvimento tecnológico e pela informação, a escola vive um momento crítico de identidade, uma vez que está inserida em uma sociedade na qual a informação se mostra a moeda mais valiosa. De fato, é inquestionável a quantidade de informações a que é possível se ter acesso independentemente da instituição escolar, assim como é possível notar também, a velocidade com que as informações são transmitidas. Aquilo que hoje constitui a última notícia, a mais recente tecnologia, o medicamento mais efetivo, é rapidamente ultrapassado e substituído. A escola não pode estar voltada exclusivamente para a informação. Não é essa a sua função. Sua função é a formação das novas gerações para o mundo do conhecimento. Por isso, a informação só possuirá importância na escola, se for usada para desenvolver habilidades e competências, possibilitar o acesso e a produção do conhecimento assim como, permitir uma leitura reflexiva da realidade a qual o cidadão está inserido. A escola tem uma função social na medida que forma o indivíduo para viver em sociedade.

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Conhecer é o ato cognitivo de compreender para transformar a si e ao mundo em que se está estabelecendo relações entre os diversos significados de uma mesma ideia ou fato. O conhecimento, assim, passa a ser uma rede de significados. A apropriação do conhecimento é, portanto, entendida como um processo constante de transformação e atribuição de significados e relações entre eles. Nesse processo, a cada nova interação com objetos do conhecimento, a cada possibilidade de diferentes interpretações, um significado se altera, novas relações se estabelecem, outras possibilidades de compreensão são criadas. Para Moran:

Conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora. Conhecer é saber, é desvendar, é ir além da superfície, do previsível, da exterioridade. Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior. Conhecer é conseguir chegar ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção da grande síntese, que se consegue ao comunicar-se com uma nova visão do mundo, das pessoas e com o mergulho profundo em nosso eu. O conhecimento se dá no processo rico de interação externo e interno. Pela comunicação aberta e confiante desenvolvemos contínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos níveis de conhecimento pessoal, comunitário e social. (MORAN et. al, 2001, p. 20)

A função da educação formal está diretamente ligada a ensinar a conhecer, formar para compreender, desenvolver o pensar para que os adolescentes e jovens saibam lidar com as informações e estabelecer relações entre elas, sejam elas quais forem, Mas, mais do que isso, saibam escolher, decidir, projetar, agir e criar, porque conhecem. A simples aquisição de informações não basta para preparar os adolescentes e jovens para enfrentar os problemas da vida e fazer determinadas escolhas, que podem ter um impacto importante em sua vida presente e futura, como cidadãos adultos. Não basta dar a cada criança, desde o começo de sua vida, um cabedal de informações sobre o mundo, a vida e a realidade a qual está inserida. Cada indivíduo deve ser equipado de modo a poder captar as oportunidades de aprender, tanto para alargar seus conhecimentos, seus saberes e suas atitudes, quanto para adaptar-se a um mundo complexo e interdependente; ou seja, a educação assume o dever de possibilitar ao educando aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver em comunidade. Segundo Almeida: 41


[...] entende-se que não se trata apenas de ter as crianças na escola (o que é ótimo do ponto de vista político e de saúde), mas de dar-lhes reais condições de aprendizagem para ler, escrever, contar e participar dos conhecimentos científicos, artísticos e culturais da humanidade. (ALMEIDA, 2005, p. 14)

Para este autor, a educação de boa qualidade possibilita ao aluno fazer uma leitura da realidade, partindo do saber local e dos problemas mais próximos para ir à cultura universal, às contribuições que a humanidade já produziu até hoje, para fazer uma releitura do contexto atribuindo-lhe novos significados. Percebemos que a educação e o ensino de Geografia, que é a minha área de atuação profissional, exigem transformações no qual ensinar é mais do que informar, é construir significados. Aprender é mais que adquirir informações ou conceitos, é desenvolver a capacidade de observação, comparação, análise, reflexão e capacidade de fazer uma leitura da realidade produzida socialmente. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia do Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental (1998), a Geografia, em seu processo de desenvolvimento histórico como área do conhecimento, vem consolidando teoricamente sua posição como uma ciência que busca conhecer e explicar as múltiplas interações entre a sociedade e a natureza e, consequentemente, propicia um trabalho pedagógico que visa a ampliação da capacidade dos alunos de observar, conhecer, explicar, comparar e representar as características do lugar em que vivem e de diferentes paisagens e espaços geográficos inseridos em um contexto, não só local mas também global. É necessário compreender a realidade espacial, natural e humana, não de uma forma fragmentada, mas como uma totalidade dinâmica. Esta nova visão epistemológica da Geografia exige um profissional mais bem preparado e capacitado para fazer a leitura desta atual dinâmica das transformações e propor caminhos teóricos e metodológicos capazes de interpretar e explicar esta realidade em movimento. A Geografia apresenta um conjunto de conhecimentos sobre as sociedades e os lugares. Esses saberes contribuem para que os alunos se conscientizem das possibilidades, limites e responsabilidades da ação individual e coletiva dos sujeitos nos lugares onde vivem e em contextos espaciais mais amplos, como os de seu país e do mundo. 42


A proposta dos PCNs exige um profissional que não só seja capaz de transmitir informações, mas que tenha a capacidade de conduzir o educando no processo de produção de conhecimentos significativos. Nesta perspectiva, os recursos midiáticos de tela, seja o computador, a televisão, tablet ou smartphone, ajudam na elaboração dos diagnósticos da realidade e facilitam na associação de informações e na produção de novos saberes. Entretanto, o professor tem que ter clareza dos objetivos que deseja alcançar e dos métodos que pretende adotar, assim como habilidade para manusear os recursos que serão utilizados no decorrer do processo. Conforme uma matéria do jornal Correio Popular, publicada no dia 19 de julho de 2007, alunos da rede estadual paulista compreendem melhor as imagens do que os textos. Os dados foram extraídos de uma análise da porcentagem do aproveitamento dos estudantes nas questões do Saresp 2003 (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). A pesquisa revelou que as questões classificadas como "visuais" (que incluem fotografia e pintura) tiveram um índice de acerto maior comparada às demais, classificadas como "imprensa" (artigos e charges, por exemplo), "instrucional" (conta de luz e regulamento), "literário" (contos, poemas e letra de canção), "publicitário" (cartaz e propaganda) e "epistolar" (carta de reclamação). Estas questões são relacionadas, em maior ou menor grau, à compreensão de textos, e o levantamento considerou as questões que tiveram 60% ou mais de acerto nos três períodos. A Secretaria de Estado da Educação divulgou os dados divididos em turnos porque, de acordo com o governo estadual, a união em uma só porcentagem poderia distorcer os resultados. As questões ligadas a habilidades visuais foram as que mais chegaram, percentualmente, ao patamar estabelecido nos dois extremos do ensino médio. Na 1ª série, em quatro das sete questões (66,6% do total) houve índice de acerto superior aos 60%; já na 3ª série, duas das seis perguntas (33,3%) relacionadas à habilidade visual chegaram ao mesmo patamar. Esta pesquisa nos mostra que os estudantes têm mais facilidade com a parte visual porque o dia a dia faz um apelo maior para as imagens. A coordenadora de estudos e normas pedagógicas da Secretaria da Educação, Sônia Maria Silva, afirma que “[...] o aluno já acorda bombardeado por imagens de TV, fotografia de jornal e propaganda. Por outro lado, a população lê cada vez menos" (Correio Popular, 19 de julho de 2007, p. 08). 43


Moran et alii (2001, p. 18-20) afirmam que podemos processar a informação de três formas: o processamento lógico seqüencial, que se expressa por meio da linguagem falada e escrita em que vamos construindo o sentido aos poucos, em seqüência espacial ou temporal; o processamento de informações na forma de hipertextos onde há a comunicação “linkada”, isto é, a leitura é feita como em “ondas” em que uma ideia leva a outra acrescentando novos significados; e, por fim, há o processamento multimídica, ou seja, “[...] juntamos pedaços de textos de várias linguagens superpostas simultaneamente, que compõem um mosaico impressionista, na mesma tela, e que se conectam com outras telas multimídia” (MORAN, 2001, p. 19). Para ele,

Convivemos com essas diferentes formas de processamento da informação. Dependendo da bagagem cultural, da idade dos objetivos pretendidos predominará o processamento seqüencial, o hipertextual ou o multimídico. Se estivermos concentrados em objetivos específicos muito determinados, predominará provavelmente o processamento seqüencial. Se trabalharmos com pesquisa, projetos de médio prazo, interessar-nos-á o processamento hipertextual, com muitas conexões, divergências e convergências. Se temos de dar respostas imediatas e situar-nos rapidamente, precisaremos do processamento multimídico. Na sociedade atual, em virtude da rapidez com que temos que enfrentar situações diferentes a cada momento, cada vez utilizamos mais o processamento multimídico. Por sua vez, os meios de comunicação, principalmente a televisão, utilizam a narrativa com várias linguagens superpostas, que nos acostumam, desde pequenos, a valorizar essa forma de lidar com a informação, atraente, rápida, sintética, o que traz conseqüências para a capacidade de compreender temas mais abstratos de longa duração e de menos envolvimento sensorial. (MORAN et al, 2001, p. 20)

O uso de filmes, documentários, programas de tv ou vídeos do You Tube são recursos didáticos muito utilizados pelos professores para enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, para Guimarães (2003; p.25), a televisão e os vídeos exercem uma grande influência em nossas vidas, recriando e difundindo fatos e acontecimentos, além de ser uma das principais formas de lazer e entretenimento para a maior parcela da população. A televisão, por exemplo, possui um potencial educativo informal significativo, pois o seu acesso se dá no meio familiar e a sua popularização fez com que se tornasse um instrumento de fácil 44


consumo, tanto que, na maior parte das vezes, os assuntos que estão na pauta das discussões diárias são aqueles que foram transmitidos por esta mídia. A instituição escolar, percebendo esta capacidade atrativa desta mídia de formar opiniões, procurou assimilar, em escalas diferenciadas, este recurso à sua prática pedagógica, fazendo com que o uso desse equipamento e da sua programação fosse freqüentemente utilizado na compreensão de determinados conteúdos.

[...] os programas mais usados pelos professores em sala de aula são, por ordem de importância e freqüência: os filmes gravados pelos professores a partir de sua veiculação pela TV, o programa Globo Repórter produzido e transmitido pela Rede Globo de Televisão, o programa Globo Rural e o programa Globo Ecologia, ambos também transmitidos pela Rede Globo de Televisão. Um grande número de programas foi citado pelos professores, como, por exemplo Brasil Legal e Fantástico (Rede Globo), SBT – Repórter (Sistema Brasileiro de Televisão). O programa Globo Repórter, depois dos filmes, é a referência mais forte para o trabalho do professor de Geografia, no que se refere à televisão. Ele é certamente o programa produzido pela TV brasileira mais utilizado pelos professores, o que é justificado pela possibilidade de inter-relação entre muitos dos temas por ele abordados e o conteúdo curricular da Geografia. Associado a isso aparece o alto índice de audiência da emissora (Rede Globo) que garante destaque ao debate dos temas e ainda o fato de o programa ser veiculado semanalmente em horário fixo, o que confere ao professor maior facilidade para realizar a gravação. (GUIMARÃES, 2003, p. 35)

Na pesquisa apresentada por Guimarães (2003, p. 29), quando o professor é interrogado sobre os recursos metodológicos mais utilizados em seu trabalho em sala de aula com o ensino de Geografia, o livro didático aparece como o recurso didático mais utilizado, seguido pelo uso de jornais e revistas e, em terceira opção, é mencionado o uso da televisão em conjunto com um aparelho de reprodução audiovisual. Porém, a autora destaca que na tentativa de diversificar as estratégias didáticas, os recursos metodológicos que apresentam maior destaque são a imprensa escrita e o vídeo.

[...] podemos perceber que há entre os docentes uma preocupação na busca constante de alternativas para tornar o ensino da disciplina de Geografia mais interessante, vivo e dinâmico, despertando o interesse dos alunos pelo

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conteúdo e assim, tornando as aulas e a relação professor-aluno mais prazerosa. (GUIMARÃES, 2003, p. 30).

Guimarães (2003, p. 30) argumenta que a utilização de jornais e revistas nas aulas de Geografia é muito comum porque, além desse tipo de material ser valorizado pelos docentes devido ao seu grau de acesso e manuseio, este recurso é mais simples de trabalhar do que a tv e o vídeo.

Para trabalhar com jornais e revistas os professores não precisam enfrentar as dificuldades de gravar o programa ou consegui-lo em locadoras de vídeo, em outras instituições ou ainda com terceiros. Além disso, não precisam passar pela desgastante tarefa de reservar a sala de projeção ou como em muitas escolas, levar o equipamento para a sala de aula. Apesar disso, o professor afirma que o vídeo é um recurso mais interessante para os alunos que a imprensa escrita e que quase sempre obtém melhores resultados quando o utiliza pois, como os alunos gostam, eles se envolvem mais na atividade.” (GUIMARÃES, 2003, p. 30)

Através dos depoimentos que os professores de Geografia apresentaram na pesquisa de Guimarães, percebeu-se que a maioria dos entrevistados não apresenta visões radicais e contrárias às aproximações entre a tv e a escola. Pelo contrário, eles se mostraram flexíveis e abertos ao uso da tv como recurso metodológico. Questionados sobre as vantagens no uso deste meio técnico nas aulas de Geografia, a maioria elencou como ponto de destaque o fato deste recurso despertar o interesse dos alunos pelo conteúdo e possibilitar, por meio da imagem e do áudio, o entendimento direto de espaços distantes e realidades impossíveis dos alunos conhecerem pessoalmente ou mesmo difíceis de serem apreendidas através de um texto. Segundo Guimarães (GUIMARÃES, 2003, p. 32), ao questionar os professores se a televisão atrapalha ou dificulta a ação educativa da escola, 47% afirmaram que a tv não atrapalha, 18% responderam que sim e 35% responderam que dificulta em alguns casos, sendo que neste último aspecto os mais citados foram os fatos desse veículo ocupar muito o tempo do aluno, de empobrecer a sua linguagem e exceder-se na transmissão de cenas de violência. 46


Diante destes dados, Guimarães (2003, p. 38) destaca que é importante que a escola realize uma reflexão sobre a mensagem rápida da TV, que na maioria das vezes não revela o que está além do observável; ou seja, é necessário que a escola promova uma reflexão sobre como este recurso tecnológico mostra a realidade e quais são os pressupostos ideológicos que estão por de trás das suas informações e dos fatos retratados por ela. Para Baccega (citado por GHILARDI; BARZOTTO, 2002, p. 79), o mundo é trazido até a nossa percepção e conhecimento por meio de relatos que foram editados, ou seja, ele é redesenhado num trajeto que passa por centenas ou, às vezes, por milhares de mediações até que se manifeste no rádio, na televisão, no jornal ou numa conversa informal. Como não podemos estar presentes em todos os lugares e presenciar todos os acontecimentos, somos obrigados a confiar nos relatos; porém, estes relatos são editados por mediadores que podem ser instituições ou pessoas que selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler, fazendo com que a montagem do mundo que conhecemos esteja de acordo com interesses diversos, sobretudo o econômico e o político.

Editar é, portanto, construir uma realidade outra, a partir das pressões ou acréscimos em um acontecimento. Ou, muitas vezes, apenas pelo destaque de uma parte do fato em detrimento de outra. Editar é reconfigurar alguma coisa, dando-lhe novo significado, atendendo a determinado interesse, buscando um determinado objetivo, fazendo valer um determinado ponto de vista. (GHILARDI; BARZOTTO, 2002; p. 79)

Moran eti alii (2001, p. 34) observam que a imagem transmitida pela televisão, pelo cinema ou pelo vídeo, é sensorial, e por isso, tem um volume grande de componentes implícitos, ou seja, passa muitas informações que não são captadas pelos nossos sentidos e por isso o seu conteúdo deixa de ser processado. A informação transmitida em forma de dado não se transforma em conhecimentos que possibilitam fazer uma leitura da realidade. O olho nunca consegue captar toda a informação. Então escolhe um nível que dê conta do essencial, do suficiente para dar um sentido ao caos, de organizar a multiplicidade de sensações e dados. Foca a atenção em alguns aspectos analógicos, nas figuras destacadas, nas que se movem, e com isso conseguimos acompanhar uma história. Mas deixamos de lado inúmeras informações visuais e sensoriais, que não são percebidas conscientemente. A força da

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linguagem audiovisual está no fato dela conseguir dizer muito mais do que captamos, dela chegar simultaneamente por muitos mais caminhos do que conscientemente percebemos e de encontrar dentro de nós uma repercussão em imagens básicas, centrais, simbólicas, com as quais nos identificamos ou que se relacionam conosco de alguma forma. (MORAN et al, 2001, p. 34)

Outros recursos metodológicos utilizados pelos professores é a cópia de textos no quadro e as atividades em grupo, entretanto, o uso predominante da cópia de textos nas aulas como forma de transmitir as informações necessárias para o estudo, revela uma baixa produtividade porque consome um tempo significativo da aula e demonstra ao educando a falsa idéia de que aprender significa apenas dominar determinados conceitos registrados de maneira textual. Este recurso técnico faz com que o conteúdo se torne desinteressante e cansativo, pois não estimula a reflexão e o diálogo. O uso constante da cópia de texto do quadro impossibilita o diálogo entre professor e aluno porque centraliza a ação pedagógica na simples cópia de informações e conceitos que são escritos no quadro pelo professor, a partir de um fragmento pertencente a um conteúdo maior que é mencionado no livro didático. Não se pretende aqui afirmar que copiar algumas informações no quadro e solicitar que os alunos registrem nos seus cadernos seja um procedimento obsoleto e improdutivo, pelo contrário, é importante ressaltar que esta metodologia faz parte do processo ensino e aprendizagem, o erro, porém, está em usar este recurso como sendo o único instrumento didático possível de ser utilizado. A cópia de textos no quadro é um recurso limitado porque é incapaz de explorar outras linguagens como a fotográfica, a cartográfica e os gráficos, pois se limita apenas à apresentação do conteúdo estudado através da linguagem escrita. Este recurso, além de não exigir muito planejamento porque basta apenas que o docente escolha um fragmento textual relacionado com o assunto estudado, ele é também um instrumento de controle disciplinar, pois enquanto o texto é colocado no quadro e os alunos estão copiando, a classe encontra-se de certa forma organizada e disciplinada porque os alunos estão quietos, preocupados em transferir para o caderno o que está no quadro. Enquanto os alunos copiam o conteúdo, o professor tem a oportunidade de explicar a matéria sem muita interrupção dos alunos que estão atentos a transcrição das informações que se encontram no quadro. 48


A cópia de textos no quadro é importante durante a apresentação de uma síntese da unidade estudada ou para registrar alguns conceitos trabalhados, mas, fazer dessa metodologia uma técnica predominante é não acompanhar as mudanças tecnológicas em que todos, professores e alunos, estão inseridos. É perder a oportunidade de desenvolver no educando uma consciência reflexiva que seja capaz de realizar uma leitura da realidade e transformar os conceitos geográficos em conhecimentos significativos. Percebemos que até o final do século 20, os recursos didáticos utilizados nas escolas se restringiam a livros didáticos, lousa, aula expositiva e trabalhos em grupo. Hoje, embora recursos multimídia também sejam usados, as aulas ainda mantêm aquela estrutura em que os conhecimentos, habilidades e tarefas são apresentados pelo professor e a atividade dos alunos é receptiva e, em muitos casos, passiva. Embora ainda sejam válidos, esses recursos não evidenciam ligação com a revolução que está acontecendo fora da sala da aula, e que afeta diretamente a vida dos alunos, que já adotaram uma postura bem mais ativa na busca de informações e conhecimentos. No atual contexto educacional, o grande desafio que enfrentam os educadores não é mais obter ou inventar meios técnicos para desenvolver o processo de aprendizagem, mas o de saber utilizar os recursos tecnológicos como ferramentas de ensino. De acordo com Ghilardi e Barzotto, (2002, p. 83) “[...] é preciso criar cada vez mais motivos para que a tecnologia e a educação se encontrem e integrem seus propósitos e conhecimentos, buscando complementos, uma na outra”. Para Kenski, “[...] o desafio é o de inventar usos criativos da tecnologia educacional que inspirem professores e alunos a gostar de aprender, para sempre. A proposta é ampliar o sentido de educar e reinventar a função da escola [...]. (KENSKI, 2007, p. 67) No atual contexto, a aquisição de informações ultrapassa os muros escolares e se espalha pelos inúmeros recursos presentes no nosso cotidiano. A televisão, o rádio, a Internet, o jornal e tantos outros equipamentos estão a cada segundo nos informando sobre algo e a escola tem a tarefa de desenvolver nos alunos habilidades e competências para transformar as informações, adquiridas por meio destes veículos, em conhecimentos contextualizados que possibilitem fazer uma leitura do espaço geográfico.

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A aquisição da informação, dos dados, dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer, hoje, hoje, imagens, resumos, de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. (MORAN et alli, 2001, p. 30)

Vivenciamos um momento de transição que atinge diversos segmentos da sociedade resultante da adoção das tecnologias. Quando mencionamos tecnologias, estamos nos referindo às tecnologias de informação e comunicação, as quais são denominadas de TICs, associadas ao uso da internet e seus serviços que suscitam cenários, desafios e oportunidades diversos daqueles, que muitos de nós professores, fomos formados. O fato de termos muita informação disponível e com acesso facilitado não garante a qualidade do seu uso. A Internet tem o potencial de democratizar o acesso à informação, facilitar a geração e a publicação de conteúdos, fomentar a construção do conhecimento, além de permitir o intercâmbio de informações por meio de plataformas como as redes sociais. Entretanto, para que os indivíduos usufruam de tais potencialidades e incorporem esses usos no seu cotidiano, é condição básica que o usuário, seja professor ou aluno, supere os desafios nos âmbitos do acesso, do uso e, principalmente, da sua apropriação enquanto ferramenta de produção de conhecimentos e de conteúdos. Na medida em que os alunos e os professores estão cada vez mais conectados às novas tecnologias digitais, o grande desafio a ser discutido no âmbito da comunidade escolar é o desenvolvimento de suas habilidades para o uso crítico da rede, tema que está contido na ideia de alfabetização midiática e informacional.

Os professores brasileiros demonstram interesse em utilizar recursos educacionais digitais, mas nem sempre existem condições de infraestrutura e capacitação para o uso da Internet com propósito pedagógico. Embora a infraestrutura de TIC esteja avançando nas escolas brasileiras, o seu uso, bem como a sua apropriação nas práticas pedagógicas, ainda representa um desafio para projetos educacionais e políticas públicas. De acordo com a TIC Educação 2014, apenas 30% dos professores de escolas públicas fazem da sala de aula o principal local de uso das TIC nas atividades com alunos – um resultado estável em relação a 2013. (TIC educação 2014, p. 29 – livro eletrônico http://www.cetic.br/media/docs/publicacoes/2/tic-educacao-2013.pdf acessado em 12/07/2016)

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De acordo com a pesquisa apresentada na TIC Educação 20141, um dado relevante sobre a apropriação das tecnologias entre os professores é o crescimento do uso dos dispositivos móveis para acesso à Internet: entre os professores de escolas públicas, 64% acessam a rede por meio do celular. O uso de recursos educacionais digitais para o preparo de aulas ou atividades com alunos é uma atividade muito difundida entre professores, o que indica um interesse crescente pelo uso das TICs nas práticas pedagógicas. A pesquisa TIC Educação 2014 aponta que 82% dos professores de escolas públicas produziram conteúdos para as aulas por meio do uso das novas tecnologias. Já o uso da Internet para publicação ou compartilhamento de conteúdos próprios a serem utilizados com os alunos é feito por 28% dos professores de instituições públicas. A pesquisa TIC Educação ainda identificou que as novas tecnologias estão mais presentes no cotidiano dos alunos, mas esse contato nem sempre se dá no ambiente da escola. São usuários de Internet 87% dos alunos de escolas públicas urbanas. Entre eles, a proporção dos que acessam a Internet por meio de telefones celulares chega a 79%. Apesar do crescimento do acesso à Internet entre os alunos, somente 41% dos estudantes de escolas públicas usuários de Internet fizeram uso da rede na escola, sendo que o principal local de acesso é o próprio domicílio (77%2).

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Desde 2005, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) publicam a produção de estatísticas sobre o acesso e uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos mais diversos segmentos da sociedade. Anualmente são realizadas pesquisas nacionais especializadas no tema TIC, conduzidas pelo Centro Regional de Estudos sobre o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Entre as diversas pesquisas conduzidas pelo Cetic.br está a TIC Educação, realizada anualmente desde 2010, e que investiga o uso e a apropriação dos computadores e da Internet em escolas públicas e privadas, de Ensino Fundamental e Médio, localizadas em áreas urbanas brasileiras. 2

Uma outra pesquisa denominada de “Juventude Conectada” de 2014, coordenada pela Fundação Telefônica Vivo e realizada em parceria com o IBOPE, o Instituto Paulo Montenegro e o Núcleo das Novas Tecnologias da Comunicação Aplicadas à Educação Escola do Futuro - USP, traz informações semelhantes para entender especificamente os jovens brasileiros na era digital. Segundo o estudo, que envolveu entrevistas com 1.440 jovens de 16 a 24 anos das cinco regiões do país, o telefone celular é o principal meio de acesso à internet para 42% dos entrevistados de todas as classes socioeconômicas, seguido pelo computador de mesa (33%), computador portátil (22%) e tablet (3%). O celular aparece como opção preferencial por permitir a conexão à internet a toda hora e em qualquer lugar, característica marcante nessa geração.

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O uso da Internet para elaboração de aulas ou atividades com os alunos continua sendo uma ação comum entre professores de escolas públicas: 96% deles afirmaram já ter utilizado algum tipo de conteúdo obtido na rede com essa finalidade. Os resultados da pesquisa apontam o uso frequente de fragmentos de conteúdos disponíveis na Internet (tais como imagens e vídeos), citados com maior intensidade que o uso de materiais completos, tais como videoaulas ou apresentações prontas. Entre os tipos de conteúdo citados por uma proporção menor de professores, estão os que envolvem um engajamento mais interativo por parte dos estudantes, tais como softwares educacionais (47%) e jogos (44%). Os dados da pesquisa também apontam que a maioria dos professores (86%) realizou algum tipo de modificação no conteúdo obtido na Internet para preparação de aulas. O uso de conteúdos digitais para elaboração de aulas, como visto anteriormente, já é uma prática recorrente entre os professores. Observa-se que uma proporção considerável de docentes de escolas públicas também utiliza a Internet ou o computador para produzir conteúdos próprios (82%). Mas é ainda incipiente, contudo, a publicação ou compartilhamento desses materiais na Internet: somente 28% dos professores da rede pública afirmaram adotar tais práticas. Tendo como referência esses dados, podemos afirmar que novas metodologias de ensino podem ser criadas utilizando os recursos e aparatos tecnológicos pois, esses já fazem parte do cotidiano das pessoas, principalmente dos alunos. Quando pensamos em metodologias de ensino baseadas no uso dos recursos tecnológicos, percebemos que o ato de ensinar e aprender ganha novos significados porque a aprendizagem não se restringe mais ao espaço físico da escola ou a transmissão pelo professor, mas se estende para outros ambientes distantes da sala de aula. O uso dos recursos digitais possibilita com que os processos de comunicação tendem a ser mais interativos e a relação professor-aluno mais aberta e significativa porque a aula acaba transcendendo os limites do espaço físico. À medida que avançam as tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade se altera e também se modifica o significado de uma aula. Segundo Moran (MORAN, 2000), hoje entendemos por aula um espaço e um tempo determinados. Esse tempo e esse espaço serão cada vez mais flexíveis. O professor continua "dando aula" quando está disponível para receber e responder a mensagens dos alunos, quando cria uma lista de 52


discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, com os alunos sendo supervisionados, animados e incentivados pelo professor. O ensino torna-se híbrido, isto é, ocorre na sala de aula, de forma presencial e de acordo com o tempo da aula e o espaço físico da escola, e se estende no ambiente virtual por meio dos recursos digitais permitindo ao aluno estudar de acordo com a sua necessidade e horário. O ensino mediado pelas ferramentas digitais permite interações espaço-temporais mais livres e a adaptação do aluno ao seu ritmo de aprendizagem. No prefácio do livro Ensino Híbrido - personalização e tecnologia na educação organizado por Trevisani e outros autores (Trevisani, 2015), José Armando Valente afirma que o ensino híbrido é uma abordagem pedagógica que combina atividades presenciais e atividades realizadas por meio das tecnologias digitais de informação e comunicação. Existem diferentes propostas de como combinar essas atividades, porém, na essência, a estratégia consiste em colocar o foco do processo de aprendizagem no aluno e não mais na transmissão de informação que o professor tradicionalmente realiza. De acordo com essa abordagem, o conteúdo e as instruções sobre um determinado assunto curricular não são transmitidos pelo professor em sala de aula. O aluno estuda o material em diferentes situações e ambientes, e a sala de aula passa a ser o lugar de aprender ativamente, realizando atividades de resolução de problemas ou projeto, discussões laboratórios, entre outros, com o apoio do professor e colaborativamente com os colegas. Moran aponta que:

Híbrido significa misturado, mesclado, blended. A educação sempre foi misturada, híbrida, sem re combinou vários es a os> tem os atividades metodologias, públicos. Esse processo, agora, com a mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível, amplo e profundo: é um ecossistema mais aberto e criativo. Podemos ensinar e aprender de inúmeras formas, em todos os momentos, em múltiplos espaços. Híbrido é um conceito rico, apropriado e complicado. Tudo pode ser misturado, combinado, e podemos, com os mesmos ingredientes, preparar diversos "pratos", com sabores muito diferentes. (TREVISANI et al, 2015, p. 27)

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Segundo Valente (TREVISANI et al, 2015), o ensino híbrido não é um modismo, mas uma tendência que acompanha as mudanças que ocorreram em praticamente todos os serviços e processos de produção de bens que incorporaram os recursos das tecnologias digitais. Se traçarmos um paralelo com os demais segmentos da nossa sociedade, como o sistema bancário, o comércio, as empresas, o que está sendo proposto no ensino híbrido tem muitas características semelhantes aos procedimentos observados atualmente nos serviços e nos processos de produção. (...) (...) Todas essas transformações fizeram com que o foco das atividades, que anteriormente estavam nos agentes que proviam esses serviços, passasse para os usuários. Além disso, as tecnologias permitiram que o cliente se desvinculasse de um determinado local para realizar suas atividades, como aconteceu com as agências bancárias. (...) O ensino híbrido é a tentativa de implantar na educação o que foi realizado com esses 'outros serviços e processos de produção. A responsabilidade da aprendizagem agora é do estudante, que assume uma postura mais participativa, resolvendo problemas, desenvolvendo projetos e, com isso, criando oportunidades para a construção de seu conhecimento. O professor tem a função de mediador, consultor do aprendiz. E a sala de aula passa a ser o local onde o aprendiz tem a presença do professor e dos colegas auxiliandoo na resolução de suas tarefas e na significação da informação, de modo que ele possa desenvolver as competências necessárias para viver na sociedade do conhecimento. (TREVISANI et al, 2015, p. 13-15)

A proposta do ensino híbrido, é que o estudante tenha um contato prévio com as informações antes de entrar em sala de aula e o tempo da aula seja reservado para o aluno se concentrar nas formas mais elevadas do trabalho cognitivo, ou seja, aplicação, análise, síntese, significação e avaliação dos conhecimentos a serem adquiridos de acordo com os conteúdos programáticos da turma e não para, de maneira exclusiva, o professor fazer a exposição do conteúdo a ser estudado. Essa metodologia faz com que o conteúdo apresentado durante a aula tenha um significado maior para o aluno pois, ao trabalhar com as informações de maneira prévia, ele consegue relacionar os dados fazendo com que as informações se transformem em conhecimentos significativos. Uma estratégia de ensino que utilizo é agendar com os alunos um simulado antes de iniciar o estudo de um determinado capítulo do livro didático. Por meio do simulado, o aluno é obrigado a fazer em casa ou em qualquer outro espaço e tempo, a leitura prévia do conteúdo que será estudado. 54


O simulado é criado utilizando uma ferramenta do Google denominada de Google Form (formulário). Em seguida, o seu link é postado no meu site (www.alferomendes.com.br) e os alunos têm uma data limite para acessar o site do professor e fazer a atividade proposta. Para fazer o simulado, o aluno é obrigado a ler o capítulo que será estudado pois, as questões propostas não cobram dele conhecimentos sobre o assunto em questão, mas, dados e informações do texto como, por exemplo: na página 55, a autora comenta sobre o clima do nosso país, assinale a alternativa que apresenta de maneira mais completa a sua afirmação. Após o encerramento do prazo, o simulado é corrigido pelo sistema e os alunos recebem via e-mail os seus resultados com o gabarito. Na sala de aula, são apresentados em forma de gráfico as respostas dos alunos, como é mostrado na imagem abaixo, e o conteúdo é exposto pelo professor a partir das dúvidas e erros dos alunos.

Imagem extraída do Google Form demonstrando as respostas dos alunos para a pergunta realizada sobre o assunto tratado

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