Cadernos de Atividades - PAEJA

Page 1




ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Conteúdo CAPÍTULO I HISTÓRICO DA EJA - O CAMINHO DA MODALIDADE NO MUNICÍPIO................................... 5 CAPÍTULO II HISTÓRIAS CONTADAS SOBRE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ......................... 17 Pela docente Viviane Heckler.......................................................................................................................................................... 17 Pela docente Cíntia Merolillo........................................................................................................................................................... 18 Pela docente Saraí Schmidt.............................................................................................................................................................. 18 Pela discente Iolita Oliveira- EMEF João Baptista Jaeger................................................................................................... 18 Pela docente Eleandra Gnoatto Ferreira..................................................................................................................................... 19 Pela discente Djenifer Wazlawick- EMEF Senador Salgado Filho................................................................................... 19 Pela discente Camilly Victoria Dutra - EMEF Elvira Brandi Grin...................................................................................... 19 Pela discente Alexandra Rohrig - EMEF Eugênio Nelson Ritzel...................................................................................... 20 CAPÍTULO III PROPOSTA PARA EXECUÇÃO DO PROJETO DE APOIO À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – PAEJA............................................................................................................................................ 21 1. DADOS DO PROJETO..................................................................................................................................................................... 21 2. OBJETIVOS DA PROPOSTA..........................................................................................................................................................22 3. FORMA DE EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS................................................................................................................................. 23 3.1 Composição da Equipe Técnica PAEJA/ Fundação La Salle...................................................................................... 23 CAPÍTULO IV DIAGNÓSTICO DA REALIDADE..................................................................................................................24 Sondagens realizadas com os educandos................................................................................................................................24 CAPÍTULO V PLANO DE TRABALHO: PROJETO #DECOLAR...................................................................................27 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO........................................................................................................................................................ 27 2. JUSTIFICATIVA................................................................................................................................................................................... 27 3. OBJETIVO GERAL.............................................................................................................................................................................28 3.1 Objetivos Específicos....................................................................................................................................................................29 4. METODOLOGIA.................................................................................................................................................................................29 5. DESENVOLVIMENTO......................................................................................................................................................................29 CAPÍTULO VI CONTRIBUIÇÕES DOCENTES.....................................................................................................................32 PAEJA/BID: DESAFIOS E PROPOSTAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS................32 REFLEXÕES A PARTIR DE VIVÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BAIRRO SANTO AFONSO......................................................................................................................35 EJA: fazer do sonho uma realidade.......................................................................................................... 37 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................................................... 37 DESENVOLVIMENTO........................................................................................................................................................................... 37 CONCLUSÃO........................................................................................................................................................................................... 38 A IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÂO DO ESTUDANTE NA EJA..................................................39 EXPERIÊNCIA COM OFICINAS DE ROBÓTICA..................................................................................... 41 O TORNEIO ESPORTIVO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA EJA SOB A PERSPECTIVA INTERACIONISTA.................................................................................................43 SUSTENTABILIDADE PRÁTICA NA EMEF. JOÃO BAPTISTA JAEGER..........................................44 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................................................................... 44 1. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................................................................................... 45 2. MATERIAIS E MÉTODOS ...............................................................................................................................................................46 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................................................................................46 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................................................48

3


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO: metodologia dialética na EJA e os desafios

do educador na contemporaneidade.........................................................................................................................................49 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................................49 1. METODOLOGIA DIALÉTICA: conceito e origem...............................................................................................................49 2. O PAPEL DO EDUCADOR............................................................................................................................................................. 50 3. APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS: EJA – ANOS INICIAIS........................................................................................... 51 4. NA AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO QUE SE DÁ A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO..........................................52 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................................. 53

CAPÍTULO VII DEPOIMENTOS DISCENTES.........................................................................................................................55 RELATOS DE ALUNOS E ALUNAS DA EMEF JOÃO BATISTA JAEGER.......................................55 RELATOS DE ALUNOS E ALUNAS DA EMEF SENADOR SALGADO FILHO...............................58 CAPÍTULO VIII COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS......................................................................................................... 61 1. ATIVIDADES DOS EIXOS TEMÁTICOS...................................................................................................................................... 61 2. SAÍDAS DE CAMPO..........................................................................................................................................................................64 3. FORMAÇÃO DE LÍDERES...............................................................................................................................................................66 4. OFICINAS DE EMPREGABILIDADE............................................................................................................................................69 5. FORMAÇÃO DOCENTE.................................................................................................................................................................. 71 6. ARTICULAÇÃO DE REDE............................................................................................................................................................... 73 7. REUNIÕES DE EQUIPES.................................................................................................................................................................. 74 ENCARTE...............................................................................................................................................................76 Capítulo IX Educação de Jovens e Adultos em escolas públicas mineiras:

relações entre especificidades, atendimento e formação................................................................................................. 78 RESUMO..................................................................................................................................................................................................... 78 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................................... 78 2. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR............................................................... 80 3. MICRORREGIÕES E OFERTAS DE EJA.....................................................................................................................................82 3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIO....................................................................................................................................82 3.2 REGIÃO DOS INCONFIDENTES...............................................................................................................................................82 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................................................................................... 83 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................................ 85 REFERÊNCIAS......................................................................................................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS......................................................................................................................................................88

4


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DA EJA - O CAMINHO DA MODALIDADE NO MUNICÍPIO

Ana Lúcia Orengo Guiel1 A trajetória da educação para jovens e adultos no município de Novo Hamburgo percorre o tempo histórico de políticas públicas normatizadas em âmbito federal e estadual. A partir dessa compreensão, há o registro da oferta de alfabetização e a pós alfabetização no município. Atravessar a história da educação brasileira e ir ao encontro de acontecimentos relacionados à oferta para os adolescentes, jovens e adultos, nos permitiu identificar uma trajetória educacional com reflexo do panorama político, econômico e social, tendo a política educacional influenciado a organização e funcionamento da Educação de Jovens e Adultos. A Prefeitura de Novo Hamburgo assegura o funcionamento da Secretaria de Educação, através da Lei nº 87, no ano de 1980 dando origem a Secretaria Municipal de Educação e Desporto, SMED, e atualmente denomina-se Secretaria Municipal de Educação, SMED. A atribuição da gestão das escolas estava atrelada pelo registro do funcionamento da 2ª Região Escolar, em 1941, atendendo os seguintes municípios: Novo Hamburgo, São Leopoldo, Taquara, São Sebastião do Caí, Montenegro e São Francisco de Paula. Pelo Decreto Lei nº 31 de 27 de abril de 1945, tendo a secretaria de educação recebido a denominação de Instrução Pública. As iniciativas da oferta de educação para adultos configuraram propostas que atenderam as demandas trazidas pela comunidade, instituições privadas e por órgãos da sociedade civil. A capacitação da população, trazida nas relações estabelecidas entre organismos públicos e privados apontavam a escolarização como necessária, e para além da alfabetização, a continuidade dos estudos, como apresentou o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Novo Hamburgo, via ofício à Secretaria Municipal de Educação e Cultura- SEMEC, com o pedido de integração de ações para aperfeiçoamento dos trabalhadores da categoria profissional com o argumento de serem “tão explorados e maltratados pela classe patronal”. Tais considerações estão detalhadas no seguimento deste histórico. No país, a discussão sobre o analfabetismo surge entre os anos de 1920 a 1930. Para Luiz Pereira (1970, p. 126), no período de 1930 tem o grande despertar da sociedade brasileira, e de maneira oficializada nos anos de 1946 a 1950 em período pós-guerra, e de redemocratização surge a 1ª Campanha Nacional de Alfabetização de Adolescentes e Adultos criada pelo Ministério de Educação. Tendo nascido pelo governo federal, o Fundo do Ensino Primário dando condições da extensão da ação educativa. 1.

Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Graduada em Pedagogia – Habilitação Supervisão Escolar. Professora da Rede Municipal de Novo Hamburgo. Assessora da EJA na Secretaria Municipal de Educação- SMED.

5


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A criação da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), influencia no movimento nacional denominado de Educação de Base. A proposta desta campanha foi de atingir, crianças e adolescentes ainda não escolarizados. A crítica da campanha deu-se, pela restrição apenas à alfabetização, e suas importantes lições foram referidas na entrevista do professor Osmar Fávero, publicado por Salto para o Futuro (2016) em vídeo de domínio público, denominado “Educação de Jovens e Adultos, Histórias e Memórias”. Como lições, o professor aponta a forma de estender a educação obrigatória, como supletivo e a sua entrada pelo viés dos municípios contribuindo para o processo de ruralização. A educação de massa foi duramente criticada no período dos anos 50, e no seguimento histórico, aspectos voltados à intervenção do estado foram identificados. Enquanto também, os interesses políticos no país ocupavam-se em tornar a população adulta mais capacitada, visando à promoção de força de trabalho de maneira rápida suprindo as necessidades dos setores da economia, o sistema educacional caracterizava-se por modelo exportado com ênfase a uma educação de base tecnicista. Em divergência ao modelo mecânico surgem movimentos de educação popular a partir de 1960 com o objetivo de tornar a população atuante na vida política do país, conforme Ribeiro (1987, p. 150). Através dos Movimentos de Cultura Popular (MCP), a expressão e o desenvolvimento da capacidade de criação foram valorizados, tendo como condição essencial, o diálogo e a troca entre os que possuíam o conhecimento intelectual com o povo. No estado de Pernambuco, em Recife, e no estado do Rio Grande do Norte, estes movimentos aconteceram por atividades que propiciavam a alfabetização e a educação de base. Considerava-se aqui, o aprender com o povo como princípio do trabalho educativo. Neste contexto, a alfabetização passa a ser vista pela necessidade de que novos métodos precisam ser criados. Uma das propostas inovadoras foi o método da alfabetização em 40 horas, de Paulo Freire, a partir das experiências com adultos trabalhadores, em 1964. O Plano Nacional de Educação de Alfabetização (PNA) projetava a alfabetização de cinco milhões de brasileiros até 1965, porém, houve a sua extinção, em 1964, devido a diferentes orientações de ênfase política e econômica que interromperam os núcleos de “educação popular”. Ainda sobre a adequação da prática pelo método e pelo conteúdo trazido por Freire (1975), no livro Educação como Prática da Liberdade, destaca-se a indagação do autor: “Como proporcionar ao homem, meios de superar atitudes ingênuas, diante de sua realidade? Como ajudá-lo a criar, se analfabeto, sua montagem de sinais gráficos? Como ajudá-lo a inserir-se? ”. Neste sentido, o autor ocupou-se do desenvolvimento de um “método ativo, dialogal, crítico e criticizador“. Outro marco importante foi o I Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular ocorrido no ano de 1963, e o Seminário da Cultura Popular em 1964, juntamente com o Movimento de Educação Básica (MEB). Este último, ligado ao governo federal, passando a constituir-se como movimento de cultura popular. Ressalva-se que este movimento de engajamento do povo almeja “mudança social”, conforme Paiva (apud RIBEIRO, 1987, p.152).

6


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

A partir deste cenário reflexivo, o sujeito da educação de adultos, passa a ser compreendido como aquele que possui especificidades e potencial, experiências de vida cotidiana e com as relações de trabalho. A influência da Escola Nova no período, atrelada a um otimismo pedagógico, apresenta para a educação um processo com menos característica mecânica, estando ligada às teorias europeias. Os Movimentos populares no cenário nacional aparecem como principais organizações de participação da sociedade. O MEB é caracterizado por Ribeiro como: [...] tomando como base a ideia de que a educação deveria ser considerada como comunicação a serviço da transformação do mundo. Esta transformação, no Brasil, era necessária e urgente, e por isso mesmo, a educação deveria ser também um processo de conscientização que tornasse possível a transformação das mentalidades e das estruturas. A partir de então defendia-se o MEB como um movimento engajado com o povo e nunca como qualquer tipo de estrutura social ou qualquer instituição que pretende substituir o povo. (p.151) A alfabetização, antes de 1964, foi dada como indispensável para a população adulta no país. Nesse momento, grupos buscaram iniciativas pedagógicas para alfabetizar com o intuito de fortalecer a participação da população na política. A criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), pela lei nº 5.370 de 1967, coloca a alfabetização pelo viés funcional e diretamente vinculado à vida econômica. A década de 1970 foi caracterizada pelo MOBRAL como a década da Alfabetização Funcional, tendo sido alcançado no Rio Grande do Sul o índice de 9% de alfabetizados. A tendência tecnicista, e os interesses sociais estão presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB 5692/71, que respalda a implantação do ensino supletivo, tendo a EJA um capítulo específico. O Ministério da Educação e da Cultura (MEC), em 1974, propôs a implantação dos CES (Centros de Estudos Supletivos), ressalvando-se que nesse momento político do país, os centros tinham também, influências tecnicistas. Em Novo Hamburgo, a educação de adultos passa a ser ofertada com registros de turma de supletivo na década de 60. Esta oferta educativa apresentou-se através de iniciativas conjuntas com parceiros da sociedade civil e com organizações sociais, em espaços diversos da comunidade, tendo sido pensadas vagas para a população, em atendimento não somente nas escolas da rede pública, mas sim indo ao encontro da população que necessitava deste acesso, em locais que frequentava, ou que estavam vinculados no âmbito da assistência, saúde e do trabalho. Na EMEF Hermes da Fonseca as turmas de supletivo foram vinculadas, no ano 1969, por emissão de certificado pela Secretaria de Educação e Cultura do estado do Rio Grande do Sul, por Programa de Educação Integrada em 1972, e por emissão de histórico escolar em 1978, pela SEMEC. As turmas foram abertas em diversos locais públicos2: 2.

E.M. Deodoro da Fonseca- Admissão de professores (01.03.73). Nível 2- E. M. Jorge E, Koch, C. E. João Ribeiro, C.E. Clemente Pinto, E. M. Marcos Moog, E. M. Afonso Pena, Sindicato, E. M. Caldas Júnior, E. M. Salgado Filho, E. M. Rodrigues Alves, E.M. Francisca Salle, Ginásio São Luiz, E.M. São João, G.E. Rincão dos Ilhéus, G.E. Otávio Rosa, E.M. Imperatriz Leopoldina, E.M. Hermes da Fonseca, E.M. Hermes da Fonseca, G.E. Pedro Adams Fº, Presídio Municipal. 29/12/72- Curso de Educação Integrada (19:15min às 22:15min). 08/09/1982- Relação dos conscritos analfabetos – Ministério do Exército, III Exército, 3ª Região Militar

7


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

escolas municipais, colégios estaduais e no presídio estadual. Os recursos aplicados ao pagamento de professores foram registrados em 1970 e 19713. Os programas previstos no município, vinculados à alfabetização, foram o PAFPrograma de Alfabetização Funcional (1979): convênio com o Consórcio dos municípios com Prefeituras (COMUN) e o Programa de Alfabetização Funcional (PAF/VR) com a utilização de rádio. Também, nesse ano, ocorre o Projeto Especial de Alfabetização pela SEMEC, tendo como clientela os adolescentes e os adultos não alfabetizados. O projeto tinha como colaboradoras entidades sociais, religiosas, educacionais e assistenciais, assim como a imprensa escrita e falada, associações de classe, estabelecimentos comerciais e industriais, comunidade em geral, com a organização de uma comissão municipal estadual e central do MOBRAL. As integrações das ações da SEMEC continuaram, juntamente, com organizações da sociedade civil e com órgãos públicos. A escolarização, a capacitação, os movimentos culturais e o atendimento assistencial ocorreram junto ao III Exército, 3ª Região Militar, no Município de NH, em 1981, para turmas de alfabetização, sendo as atividades coordenadas pela Secretaria de Saúde e Ação Social, com cursos: Higiene Alimentar, Pessoal; Para Gestantes; Culinária; Saneamento; Atendente (gabinete odontológico; Organização de Horta e Jardins; Datilografia; Colônias e praias de férias; torneio taça FEBEM. Também, atividades coordenadas pela LBA: tricô, crochê, corte e costura, costura em calçado, pintura em tecido, artesanato em cera, culinária, orientação geral; acolchoado, atividades coordenadas pelo Conselho Municipal de tTurismo, como a Comemoração da Semana Farroupilha, atividades coordenadas pelo Conselho Municipal de Desportos e associações de futebol, torneio gigante de futebol, atletismo ao alcance de todos, jogos intermunicipais, atividades coordenadas pela FENAC, como a Feira da Habitação, Feira Nacional do Calçado e as atividades coordenadas pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos 4. A década de 80 caracterizou-se pela Ação Comunitária, uma nova linha assumida pelo MOBRAL. Todos os programas do MOBRAL nas áreas pedagógica, cultural, profissionalizante e de saúde tiveram continuidade para atender as necessidades e solicitações dos municípios. Em registro datado de 10/07/1980, para a Coordenadora Estadual do MOBRAL - RS, Prefeito Municipal, Sr. Eugênio Nelson Ritzel, informa sobre recursos para o MOBRAL. Outro registro encontrado foi do Projeto de Educação Comunitária para a Saúde (1984), vinculado ao MEC, Secretaria de Ensino do 1º E 2º GRAUS - SEPS. Por ofício em 1988, houve o convênio entre a Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo e a Fundação Educar, no Programa de Educação Básica (PEB). Alguns atestados de alunos que foram encontrados referem-se às escolas municipais: Nilo Peçanha, 2ª 3. 4.

8

1970, 1971- Repasses de recursos para Cursos de Supletivos pelo Secretário de Estado do Rio Grande do Sul (24/10/1970). Gratificação para o exercício da função de professores. VII Festival Estadual de Arte Popular e Folclore, Promoção: Coordenação Estadual do MOBRAL do Rio Grande do Sul; Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Apoio Técnico: Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF), Agencia Pedagógica – APEDE, Programas previstos para 1979 – PAF - Programa de Alfabetização Funciona l (1979): convênio COMUN com Prefeituras , com duração de 5 meses R$ 120,00. Produtividade mínima de 50%. PAF/VR- Programa de Alfabetização Funcional com a utilização de rádio: convênio COMUN. Número de aulas radiofonizadas: 90; Duração de cada aula radiofonizada: 20min; 5 meses; 200 horas de 2ªf a 6f.; 2 horas diárias de aulas via Emissora local ou a nível Estadual; Atividades Coordenadas pelo SESI: curso de pantalona, básico de corte e costura, cursos rápidos especializados: bordado básico e crochê. Iniciação ao voleibol, iniciação ao futebol de salão, ginástica masculina. Atividades coordenadas pela associação comercial e Industrial: organização e implantação CIPAS (comissão interna de prevenção de acidentes), Aperfeiçoamento para secretárias, correção de ativo imobilizado, Legislação previdenciária, imposto de renda, análise transacional de vendas, Legislação do Trabalho.


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

etapa, 1989; Senador Salgado Filho, 1ª a 5ª séries, 1989; Eugênio Nelson Ritzel, 1ª Etapa, 1989. No decorrer da história, direitos sociais foram assegurados por um conjunto de 5 leis . A Constituição de 1988 versa pelo direito de acesso ao ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. Tendo, neste direito social a possibilidade de ingresso à educação até então negado aos jovens e adultos. Também, em busca de acesso à educação, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e Mobiliário de Novo Hamburgo, em junho de 1991, dirigem-se à SEMEC por ofício, com interesse de participação no projeto de alfabetização de adultos diante da necessidade de aprimoramento da categoria profissional “tanto no aspecto particular quanto no profissional”. O desenvolvimento dos Projetos, aderidos pela Secretaria de Educação, seguiram as orientações normativas do governo federal e estadual, mediante o acompanhamento dos entes públicos, dos setores e dos departamentos responsáveis pela educação. As escolas do município credenciadas, ou em processo, passam a atender turmas da educação de adultos inicialmente, para posteriormente atenderem a modalidade EJA em seus cursos. Segue assim, a descrição dos espaços escolares e seus períodos históricos. A escola municipal de ensino Fundamental (EMEF) Harry Roth possui dados de oferta de turmas em 1993, 1994, 1995 e a Eugênio Nelson Ritzel em 1993,1994,1995, egressas da Modalidade de Ensino Supletivo para o Projeto de Alfabetização Massiva6, este pertencente ao Projeto Alfabetização e Comunidade7 com turmas de 1ª a 4ª série. As EMEFs Martha Wartenberg, em 1997, 2000, 2002; Boa Saúde em 1998 e 2000; Harry Roth em 2000; Imperatriz Leopoldina em 1998 e Eugênio Nelson Ritzel em 2000, também certificaram alunos do Projeto Alfabetização Massiva. O Projeto Alfabetização e Comunidade8 instituído pelo parecer nº 1.046/96 obteve apoio da Faculdade de Educação da FEEVALE, Grupo Editorial Sinos e pela Comissão Municipal de Educação. O projeto objetivou o atendimento a trabalhadores analfabetos e semianalfabetos residentes em Novo Hamburgo. Na paróquia São Luiz Gonzaga, no centro da cidade, cinquenta alunos do grupo de 3º idade foram atendidos nas Etapas I e II. A SEMSAS, através da Casa de Saúde Mental do Centro de Convivência, possuía parceria com a SMED, tendo 10 pacientes do Centro de Convivência, com aulas de alfabetização e pós-alfabetização. O Programa Piá 2000 – Projeto Alfabetização e Cidadania, promovido pelo Estado do Rio Grande do Sul, no período de abril a novembro de 1998, foi ofertado no município para adultos, em convênio firmado de dois anos entre município e estado. Houve um processo seletivo simplificado de apoiadores voluntários, que recebiam uma bolsa mensal para ministrarem as aulas ocorridas em espaços diferenciados da comunidade. Foram 13 polos de atendimento, com organização diversa de períodos, em escolas da 5.

6. 7. 8.

Direitos sociais: 1934 - Constituição Federal: a oferta do serviço de ensino em si terá sua gratuidade assegurada;1985 - Promulgada a Emenda Constitucional nº 25 à Constituição de 1967, que garantiu o direito ao voto aos analfabetos; 1971- Lei 5692: Obrigatório o ensino de 7 aos 14 anos; 2001 - Plano Nacional de Educação: Estabelece 9 anos de duração do Ensino Fundamental (dos 6 aos 14 anos). Parecer CEE 315/91. Parecer CEE 196/93 Projeto Alfabetização e Comunidade (1ª Etapa, Alfabetização: 400h e 2ª Etapa, Pós-alfabetização: 600h). Para o ingresso no projeto, o aluno precisaria ter a idade de 14 anos.

9


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

rede municipal e da rede estadual e na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, no bairro Hamburgo Velho. Os horários estavam organizados das 18h às 22h e das 18:30min às 22h30min (2 vezes na semana), e das 18:30min às 21:30min (3 vezes na semana) no turno da noite, 1 turma no turno da tarde. A comunidade aparece mais uma vez, como elo de parceria, a partir da organização de uma turma em residência de membro da comunidade no bairro Jardim Mauá. O acesso à alfabetização chega do encontro das necessidades e dos anseios da população. Os alunos e alunas desta turma traduziam a relação do vínculo, como forte contribuição para a permanência, não aceitando o deslocamento para o espaço escolar ao término do Programa, conforme relato da Coordenadora do Programa Pia 2000 da SMED, a professora Eliane Anselmo. A professora descreve, “é que houve a ênfase em formar pequenos grupos em espaços da comunidade”. As turmas do Piá 2000 estavam, também, vinculadas às EMEFs Anita Garibaldi, Antônio Bemfica Filho, Arnaldo Reinhard, Boa Saúde, Eugênio Nelson Ritzel9, Francisca F. P. Saile, Getúlio Vargas, Harry Roth, Imperatriz Leopoldina, Marina M. P. Gabarino, Maria Quitéria, Martha Wartemberg e a EEE Wolfran Metzler. Dentre todos os registros encontrados que tratam da educação de adultos, o aluno recebe a denominação de adolescente no ano de 1984. A idade de acesso se dava aos 14 anos neste período. A referência “a jovens e adultos” tem seu registro em histórico escolar no ano de 2000, para os alunos da EMEF Eugênio Nelson Ritzel. Quanto à legislação do Ensino Fundamental, a Câmara de Educação Básica obteve a aprovação do Parecer CEB nº 4 de 1998, que tratou das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio. Esta foi homologada e resultou na Resolução CEB nº 2 de 15/4 de 1998. Segundo Cury (2000), a Câmara de Educação Básica respondia sobre a deliberação em relação as diretrizes propostas pelo Ministério da Educação e Desporto (art. 9º § 1º, c da lei n. 4.024/61, com a versão dada pela Lei n. 9.131/95). Estas diretrizes do Ensino Fundamental, pelo viés do nível de ensino, deram o aporte legal à educação de jovens e adultos no período vigente. A EJA tem seu respaldo legal, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB no Título V, artigos 37 e 38, passando a ser denominada de modalidade de Educação de Jovens e Adultos. No Parecer CEB 11/2000, do relator Jamil Cury, são tratadas as diretrizes da EJA, sendo o primeiro documento norteador, que buscou a adequação do processo de ensino-aprendizagem pelas especificidades dos sujeitos da modalidade, considerando tempos e espaços próprios. Apresenta três funções importantes: a reparadora, aquela que busca restaurar o direito à educação escolar sem discriminação; a equalizadora, quando é negado o direito à educação ou, tendo sido interrompido o seu percurso educacional, serão asseguradas as condições necessárias para a continuidade do processo de escolaridade, com a garantia de retorno da permanência em política própria, diante das suas especificidades; e a qualificadora, a que perdura, vindo ao encontro dessa modalidade de ensino, que atende à democratização da sociedade. Visto a necessidade de maior entendimento relativo à Educação de Jovens e Adultos, em 2007 houve a realização de Formação Continuada de Professores, pelo Progra9.

O parecer nº366/99 autoriza o funcionamento no prazo de 2 anos do Curso de Suplência do Ensino Fundamental na EMEF Eugênio Nelson Ritzel. Parecer emitido Conselho Estadual de Educação e Comissão de Educação de Jovens e Adultos. Referia-se a no mínimo 15 alunos matriculados, a partir de 14 anos de idade.

10


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

ma Brasil Alfabetizado, em curso de Alfabetização de Jovens e Adultos, que envolveram profissionais das EMEFs Arnaldo Grin, Elvira Brandi Grin, Eugênio Nelson Ritzel, José de Anchieta e Senador Salgado Filho. O programa primava por erradicar o analfabetismo. Pelo Programa Brasil Alfabetizado, as turmas da modalidade Alfabetização de Jovens e Adultos – AJA ocorreram nos anos de 2009 a 2010, em diversos espaços, tais como: no Abrigo de Meninas e Meninos, Centro Social Madre Regina e no Lar São Vicente. A oferta de turmas de alfabetização foi constituída ao longo da história, e a partir de 2008, foram implantadas as turmas de anos finais nas EMEFs Arnaldo Grin, Eugênio Nelson Ritzel, Elvira Brandi Grin e Senador Salgado Filho. O município assume como compromisso a oferta da modalidade, possibilitando a continuidade dos estudos à população. Primar pela organização e funcionamento da EJA no município, passa pela elaboração de um regimento, e este foi denominado de Regimento Escolar Parcial Padrão para Educação de Jovens e Adultos. Tem sua aprovação em 11/12/2008, dispondo sobre a organização das seis etapas. As Etapas 1 e 2 tem sua organização com carga horária presencial de 800h: ocupam-se com o ensino e a aprendizagem do código escrito (leitura de mundo e leitura de palavra), apropriação dos diferentes códigos culturais, linguagens que incluem conceitos relacionados na Proposta Pedagógica da escola. As Etapas finais de 3 a 6, são divididas em ensino presencial e não presencial, sendo 80% presenciais e 20% das horas não presenciais. A carga horária designada para cada ano letivo: 800 horas, sendo 640 presenciais e 160 não presenciais, totalizando 3.200 horas de acordo com a legislação pertinente. Para estas etapas, o currículo abrange as diferentes áreas do conhecimento. Na avaliação das Etapas 1 e 2, os resultados são expressos através de parecer descritivo, em período trimestral. Nas Etapas 3, 4, 5 e 6, os resultados são expressos através de parecer descritivo e de nota de 0 a 100, em período trimestral. Os esforços permanecem em relação à importância da escolarização e também, da qualificação dos alunos da EJA. Dessa forma, na EMEF Eugênio Nelson Ritzel ocorreu o projeto de extensão Jovem Empreendedor, Ação Geração de Trabalho e Renda, em parceria com a FEEVALE, de agosto de 2008 a julho de 2011. As atividades realizadas na EJA, contam com os interesses dos alunos e alunas, tendo como intencionalidade a adesão às ações pensadas. O Torneio realizado desde 2009 tem por finalidade o desenvolvimento do esporte educacional. No seu planejamento, a participação das equipes diretivas, professores e alunos, é condição essencial. Houve a elaboração de regulamento, sendo o documento avaliado a cada nova edição. O congresso técnico envolve todos, tendo a orientação da assessoria da SMED. As modalidades escolhidas foram o handebol e o futsal masculino e feminino no decorrer destes anos. A cada Torneio avalia-se a modalidade a ser praticada, organizando a estrutura necessária. A diretora da EMEF Elvira Brandi Grin, Professora Ana Paula Dick Schleich lembra que o 1º Torneio ocorreu no Ginásio Alberto Mosmann, na FENAC. Na continuidade da formação permanente dos professores, a SMED investiu na em estudos relativos à metodologia de projetos, como possibilidade de alcançar melhores resultados. Nos anos de 2010 e 2012, houve a continuidade de formação com a oferta do curso de “Metodologia de Investigação Científica”, realizado em parceria com 11


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

a Fundação Liberato, instituição reconhecida internacionalmente por realizar a Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia - Mostratec. É percebida a necessidade de realizar uma Feira de Iniciação Científica e Tecnológica a nível municipal. Esta feira foi denominada “I Feira Municipal de Iniciação Científica e Tecnológica – I FEMICTEC”, no ano de 2013. Contou com a inscrição de 120 projetos, nas categorias: CATEGORIA: EMEI, CATEGORIA: EMEF 1 – 1º ano ao 5º ano (Anos Iniciais) e CATEGORIA: EMEF 2 – 6º ano ao 9º ano (Anos Finais). Na IV FEMICTEC, em 2016, a EJA estava presente, e seus projetos mobilizaram as iniciativas e o protagonismo para a realização de pesquisa científica. Na V FEMICTEC, os alunos e alunas da EJA, participam com 6 projetos, recebendo a premiação pelo projeto “A Sobrevivência das Pessoas em Situação de Rua de Novo Hamburgo”, realizado pelos alunos da EMEF Arnaldo Grin. No ano de 2018, na VI FEMICTEC, 08 projetos foram apresentados, e destes houve a premiação do projeto “Medicamentos - Solução ou Problema?”, elaborado pelos alunos da EMEF Sen. Salgado Filho. O potencial da Feira Municipal tem em sua estrutura anterior, a realização de Feiras Científicas e de Mostras Interdisciplinares nos espaços escolares, em que os alunos socializam suas construções, criam os espaços de apresentação organizando os processos e etapas desenvolvidas numa dinâmica de sentido, convergente às novas indagações e aprendizagens. Em 2015, um grupo de professores passa a estudar o componente curricular Articulação de Saberes. Diante da experiência, no trabalho desenvolvido com os educandos no componente, produzem as Diretrizes Curriculares Municipais. Então, em contribuição à iniciação científica, o componente curricular Articulação de Saberes, constitui-se, por estabelecer a relação do conhecimento com os demais componentes curriculares, através da interdisciplinaridade e transversalidade, em ambiente que os ”induza à investigação, à busca e ao confronto de informações para convertê-las em conhecimento, com vistas à elaboração de argumentos que os tornem capazes de aprender para compreender seu próprio meio e o mundo a sua volta”. Este grupo entende da necessidade da elaboração das Orientações para o Trabalho de Pesquisa em Sala de Aula sendo este elaborado, em favor da compreensão das etapas da pesquisa científica, como uma orientação de apoio ao professor. No ano de 2013, houve a retomada dos estudos sobre o novo regimento com as equipes diretivas tendo sido levadas as discussões às escolas. O documento é nomeado de Regimento Escolar Padrão do Ensino Fundamental, sendo aprovado em dezembro de 2013 pelo Conselho Municipal de Educação. O Regimento apresenta o detalhamento da Modalidade, que passa a atender a Etapa 1 em período anual e a 2, 3, 4, 5 e 6 em período semestral. A organização atenderá os currículos da Escolarização10 e da Formação ao Longo da Vida11. Refere-se a um currículo, em que “a educação permanente remete aos processos de escolarização e de formação ao longo da vida. A avaliação na Etapa 1 prevê o resultado expresso ao final do ano por parecer descritivo e conceito. Nas Etapas 2, 3, 4, 5 e 6 o resultado da avaliação é expresso ao final do semestre por parecer descritivo e conceito. Adotam-se os seguintes conceitos: A – Atingiu; AP – Atingiu parcialmente; NA – Não atingiu. 10. Art. 9º No currículo de escolarização, as diferentes áreas de conhecimento são distribuídas na carga horária ao longo da semana. 11. Art. 10º O currículo da formação ao longo da vida compõe-se de projetos de atividades desenvolvidos ao longo dos semestres de forma optativa aos alunos.

12


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Sobre o currículo Formação ao Longo da Vida, em 2014, as escolas organizaram-se por períodos planejados nas 4ª feiras, por oficinas, projetos e por ações pedagógicas importantes para a formação e apoio à aprendizagem dos alunos e das alunas. A oferta correspondeu inicialmente aos espaços de acolhida do aluno, diante dos seus interesses para a participação, como também, os professores e equipes diretivas faziam os encaminhamentos para atendimento às necessidades de cada sujeito da EJA. No ano de 2015, as açõeas pedagógicas são organizadas no período entre 18h e 19h, conforme o funcionamento de cada escola, priorizando uma proposta diversificada e de encontro aos interesses e necessidades dos alunos e alunas. Tal espaço passa a ser criado e recriado nas escolas. Desde 2014, a participação dos estudantes nas assembleias oportuniza um lugar de troca, de resolução de problemas, a partir das demandas surgidas no contexto da comunidade escolar e desta forma torna as relações mais próximas e as construções coletivas. Em contribuição à formação permanente foram estabelecidas parcerias com a Associação de Bem-Estar da Criança e do Adolescente (ASBEM,) Sociedade Ginástica, SESI, SENAI e SENAC, voluntários e com órgão públicos, como a COMUSA e SINE. As temáticas desenvolvidas foram as seguintes: Oficina-Temática: Gestão de Negócio; Planejamento Pessoal e Profissional; Palestra-Temática: Saneamento Básico - Tratamento da Água - Coleta da Água da Chuva; Palestra - Temática: Serviços prestados (documentação e encaminhamentos para formação e trabalho); Cursos EAD; Curso Crescendo e Empreendendo; Oficina - Experimentos: Reaproveitamento de papéis (capa e blocos) e Projeto de Punhobol (Departamento de Punhobol). A Rede Municipal de Ensino, a partir de 2018, atende a EJA em seis escolas: EMEF Arnaldo Grin, EMEF Elvira Brandi Grin, EMEF Salgado Filho e EMEF Eugênio Nelson Ritzel. A EMEF Boa Saúde, em abril de 2018 oferta as Etapas 1 e 2 no Centro de Esportes Unificados (CEU) e a EMEF João Baptista Jaeger atendeu os alunos da EMEF Arnaldo Grin em 2017, e obteve seu credenciamento em 12 julho de 2018, pelo Conselho Municipal de Educação, para o funcionamento das Etapas de 1 a 6. A caminhada histórica da EJA nos permite identificar mudanças importantes enquanto uma política, que precisa romper com o modelo supletivo, da “oferta aligeirada e compensatória”, para aquela pensada pela perspectiva de formação permanente e cidadã, de aproximação das áreas da educação e do trabalho. A Educação de Jovens e Adultos tem sua oferta, em espaços escolares e não escolares, como vimos ao longo da trajetória. Para tanto, o Decreto nº 5.840 de 2006, possibilitou a implantação de cursos12 vinculadas ao PROEJA FIC - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, em termo de cooperação entre Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus Bento Gonçalves em 2010. Posteriormente, com o IFSUL Campus Avançado Novo Hamburgo em 2016, foram oportunizados mais dois cursos por acordo de cooperação, e em 2018, a oferta foi de três novos cursos. A ASBEM vinculou-se aos convênios nos anos de 2010 e 2018 por ser uma or12. Cursos: 2010-2012-Comércio e Serviços, Design Madeira, Marcenaria. 2016- Agente de Projetos Sociais e Desenhista Mecânico. 2018- Auxiliar em Operações de Logística, Promotor de Vendas e Operador de Fresadora com Comando Numérico Computadorizado.

13


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

ganização social que atende a população de adolescentes, jovens e adultos quanto à formação profissional no município desde 1979. Desta forma, cinco cursos do programa ocorreram na sede da Associação. Para a implantação do Programa estava prevista a formação de professores e gestores no ano de 2010 e 2011, tendo a carga horária de 240 horas, priorizadas em encontros sistematizados que oportunizaram a compreensão de referenciais legais, concepção de educação, organização do currículo e de práticas metodológicas. Os estudos apoiaram a produção de um artigo que tratou das trajetórias dos alunos e alunas no decorrer do curso, como de ações desenvolvidas pelos professores que possibilitaram a sua permanência na ASBEM. Os referenciais teóricos e as experiências contribuíram para a elaboração do artigo “O Espaço de Formação e as Ações que Mobilizaram a Trajetória de Permanência dos Educandos/as do PROEJA FIC no Município de Novo Hamburgo”, que acarretou na publicação do livro PROEJA FIC, Tecendo Novos Caminhos para a Educação de Jovens e Adultos no Rio Grande do Sul, no ano de 2012. Os jovens e adultos matriculados no PROEJA FIC, na ASBEM, em 2010 e 2012, estavam vinculados à EMEF Elvira Brandi Grin. No ano de 2018, a EMEF Arnaldo Grin oferta aos alunos no espaço da ASBEM, os cursos de Promotor de Vendas e de Auxiliar em Operações de Logísticas, na EMEF Eugênio Nelson Ritzel, o curso de Operador de Fresadora com Comando Numérico Computadorizado e na EMEF Sen. Salgado Filho, também o curso de Auxiliar em Operações de Logística. Pelas experiências obtidas na EJA, e no PROEJA FIC, uma nova relação de currículo é trazida, a partir da concepção de educação permanente e articulada com as áreas do conhecimento que dialogam. No que se refere ao currículo da escolarização, as diferentes áreas trabalham de maneira interdisciplinar, voltando-se a integração curricular. Com uma trajetória interrompida e com a escola fazendo distorção série/ano, acentua-se o índice de evasão e retenção para muitos sujeitos da EJA. Estes dados evidenciam um prejuízo na vida dos alunos e alunas, causando a descontinuidade do seu processo formativo. As causas do afastamento podem ser entendidas pelos seguintes motivos: por fatores escolares, extra-escolares e intraescolares, reprovações, trabalho e em busca recente, identificamos a gravidez precoce, como mais um impedimento. Esta problematização faz-nos apresentar os resultados dos anos de 2016 e 2017, em relação aos números de alunos matriculados, evadidos e reprovados nos 2 últimos anos. O número de alunos da EJA, no ano de 2016, chega ao total de 1.037, e no ano de 2017 totaliza em 1.090. Estes resultados apresentam as matrículas do 1º e 2º semestre. A organização das turmas ocorre em período semestral, menos na 1ª etapa da modalidade, que está organizada em período anual. No 2º semestre de 2016, são 482 alunos matriculados, e destes 133 (27,59%) alunos evadem e 116 (34,02%) reprovam. No ano de 2017, 491 alunos são matriculados no 2º semestre, e destes, 104 (21,18%) alunos evadem e 94 (24,67%) reprovam. Identifica-se a diminuição do número de evadidos e reprovados. Estes dados estão expostos no Caderno 1 da EJA, sob o título “EJA: Desafios e Conquistas: Um panorama da Educação de Jovens e Adultos em Novo Hamburgo” (2016, p. 9). Além, destas informações, constam índices referentes aos anos de 2012 a 2014. Tais considerações expressam as conquistas, mas também as tantas variáveis e especificidades da população da EJA.

14


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Sobre a compreensão dos fatores do distanciamento, às vezes de maneira prolongada e outras vezes momentâneas do espaço escolar, podemos pensar no modelo adotado de currículo, como limitado e pouco apropriado, distante dos sujeitos, mas, sem dúvida, um currículo diferente poderia abranger o projeto de vida, considerar as necessidades e o potencial de cada um dos sujeitos. Nas EMEFs João Baptista Jaeger, no bairro Santo Afonso e na Sen. Salgado Filho, no bairro Canudos, ocorreu o desenvolvimento do Projeto de Apoio a EJA - PAEJA. A Fundação La Salle foi a pessoa jurídica contratada para esta ação, estando estruturada em três eixos: Acompanhamento do percurso dos jovens e adultos vinculados à EJA; Qualificação dos espaços pedagógicos e Educação Permanente; Avaliação da experiência, que se se insere no subprograma de Promoção de Direitos e Prevenção às Violências, estruturado através do Programa de Desenvolvimento Municipal Integrado (PDMI) de Novo Hamburgo/RS. O Projeto iniciou no ano de 2016, em período de cinco meses, e no ano de 2018, o contrato de consultoria prevê doze meses. Atrelado ao trabalho com a EJA, mais um significativo registro é o Termo de Referência de 2015 e 2017, que apresenta o PAEJA, em que a assessoria da EJA da SMED corrobora com a consultoria responsável, em relação à concepção pedagógica e detalhamento da organização e estrutura da modalidade. Neste sentido, o documento oferece orientações à consultoria a ser contratada, a partir da descrição de objetivos, princípios, produtos e diretrizes para implementação da ação. Trata-se de um documento fundamental para a sistematização do trabalho a ser desenvolvido pelo PDMI, que tem apoio financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Uma nova publicação situada como caderno “EJA: Desafios e Conquistas: Um panorama da Educação de Jovens e Adultos em Novo Hamburgo”, pelo Projeto de Apoio a EJA em 2016, retratou a Educação de Jovens e Adultos no município, no contexto da prevenção à violência, da história e concepções da modalidade e dos relatos docentes. Os alunos contaram suas histórias em Roteiro de Vida, tendo na criação de histórias em quadrinhos a oportunidade de expressarem suas experiências, produzindo assim, sentido e aprendizagem. Estiveram envolvidos neste referencial as equipes diretivas, professores e alunos das escolas, assessoria da SMED e da equipe da Fundação La Salle. O PAEJA 2018 busca o diagnóstico das EMEFs João Baptista Jaeger e Sen. Salgado Filho de maneira sistemática, onde as equipes diretivas, professores e alunos são escutados visando a maior aproximação com a realidade local. Então surge o Projeto DECOLAR, justificado “por criar novas possibilidades didático-pedagógicas e por vivenciar uma prática na EJA que possibilite a ação-reflexão-ação, numa abordagem ‘dinâmica’”. A qualificação dos espaços objetiva a permanência dos alunos na escola, e conforme a avaliação anterior do Projeto de 2016, os alunos dão como positivo as ações desenvolvidas e sugerem a continuidade do projeto, trazendo como necessário a ampliação do tempo das oficinas propostas. Dentre as experiências por políticas de acesso a jovens e adultos, a SMED investe na formação continuada das equipes diretivas e dos professores no decorrer dos anos de experiência, com esta modalidade de ensino. As formações nesta trajetória oportunizam a reflexão e o diálogo sobre a prática educativa, através de uma construção coletiva de aporte a aprendizagem dos educandos, considerando o conhecimento formal arti-

15


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

culado entre as áreas do conhecimento, requerendo a sua abrangência pelas múltiplas relações que a vida requer. Alcançar o aluno e a aluna tem nos desafiado a pensar e repensar de maneira cuidadosa e implicada, no seu acesso e na sua permanência. Uma organização aberta para a modalidade tem atendido ao longo dos anos, as necessidades destes sujeitos e busca nas demandas contemporâneas a adequação do espaço educativo. A partir do compromisso pela inovação da educação, e por acreditarmos no potencial de transformação dos sujeitos, temos na caminhada da rede de ensino uma formação que considera as dimensões que constituem os nossos alunos e alunas da EJA na perspectiva de uma educação integral.

16


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

CAPÍTULO II

HISTÓRIAS CONTADAS SOBRE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Este capítulo contém depoimentos de docentes, discentes e comunidade escolar da rede municipal de Novo Hamburgo, resultado de registros das histórias contadas sobre alfabetização de Jovens e Adultos entre os anos de 1999 e 2000, coletados pela Secretaria Municipal de Educação para compartilhar as experiências vivenciadas durante este período.

Pela docente Viviane Heckler “A Alfabetização de Adultos, além de uma mudança na minha carreira, foi também um desafio contagiante. Era uma turma grande, criativa e comprometida. Iniciavam o ano bastante tímidos e a cada aula dada, adquiriam maior confiança. Mesmo com receio de tentar, às vezes até vergonha e em outras, preferiam faltar para não se expor, começaram a enfrentar os desafios e superar seus medos. Cada um era auxiliado e avaliado no seu próprio processo de aprendizagem e com clareza suficiente para que conseguisse comparar como estava com cada etapa superada. Tudo que era trabalhado: o nome, as letras, os números, a sua origem, rima, seus sonhos, os registros e a sua história, tudo era realizado com muito interesse e dedicação. No início de cada semana costumávamos fazer uma roda de chimarrão e nela conversávamos sobre tudo que tínhamos vontade: trabalho, rotina, conquistas, frustrações, oportunidades, medos, leituras, sugestões, etc. Com o tempo e a integração do grupo, até problemas pessoais de alguns, eram ali resolvidos. Era um grupo muito unido. No final de cada semana, bilhetes eram deixados com mensagens de carinho e objetivos alcançados. A confiança da turma era tanta que aceitavam participar de todos os projetos propostos: oficina de artes, culinária, eletricidade, economia, palestra motivacional... O maior desafio foi a participação da turma numa peça teatral: ‘A Lenda Da Erva Mate’, dirigida pelo ator Joel Garcia e por mim. O figurino foi confeccionado pelos próprios alunos e feito com o reaproveitamento de sacolas plásticas. A lembrança desta época, na minha vida, está tão clara em minha mente e já fazem quase duas décadas. São memórias queridas e saudosas que jamais serão esquecidas, pois além de me deixar orgulhosa, foi uma fase muito emocionante e gratificante da minha vida. Fase esta, que me fortaleceu no momento em que eu também atravessava muitas mudanças e serviu para alavancar tanto esta nova fase da minha carreira como outras que ainda estavam por vir. Fases que foram repletas de significados, verdades, dúvidas, desafios, inseguranças, paciência, ansiedade, empatia, resiliência e felicidade. Agradeço a Deus por ter tido esta oportunidade. A Alfabetização de Adultos é um grande desafio para o professor, uma oportunidade imperdível de se ter, de se viver durante a sua carreira, pois é muito gratificante, é de 17


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

uma grandeza, troca, cumplicidade, afeto, carinho, aprendizagem e prazer inenarráveis. Aquela experiência que todo professor deveria ter. Amei!!!”

Pela docente Cíntia Merolillo “...trabalhei na EJA com grupo de pessoas que trabalhavam durante o dia de porteiro, doméstica, no comércio, e como dona de casa. ... o que mais me chamou atenção na época era a vontade de aprender, o carinho e o respeito pela professora que carinhosamente chamavam de “professorinha”. Quando fiz aniversário fizeram uma vaquinha e me presentearam com uma linda toalha de banho bordada por uma colega. Anos mais tarde fui a um edifício e o porteiro me reconheceu e agradeceu pelas minhas aulas e que elas muito o ajudaram a superar as dificuldades. Tenho boas lembranças desses momentos em saber que pude contribuir para que muitos continuassem a sua trajetória de aprendizagem e ideais. E esse grupo muito me ensinou a ser uma professora e um ser humano melhor. Agradeço o EJA por essa oportunidade em minha vida”.

Pela docente Saraí Schmidt “Minhas lembranças do tempo da EJA são de uma época que marcou significativamente minha trajetória. Eu era uma jovem professora da rede municipal e recém-formada em Jornalismo que estava ingressando na equipe da Secretaria Municipal de Educação. Fiquei envolvida na discussão da relação da educação e mídia e logo surgiu a curiosidade e o interesse pela alfabetização. Desenvolvi um projeto de alfabetização a partir da leitura de jornais com os catadores da Central de Reciclagem de Lixo de Novo Hamburgo. Duas vezes na semana eu ocupava meu horário de almoço para encontrar homens e mulheres que tinham abandonado os bancos escolares na infância. Fizemos de um galpão nossa sala de aula. E nas páginas do Jornal NH descobrimos o mundo da leitura. As notícias, a página policial, a editoria de esporte despertava no grupo a vontade de desmistificar o mundo das letras. Em cada encontro, em cada palavra, em cada frase, em cada página de jornal o sorriso de quem estava tendo a coragem de enfrentar o desconhecido mundo reservado para os “alfabetizados”. Foi um grande desafio para a jovem jornalista e uma emoção que carrego até hoje. Ver alegria, o sorriso de quem juntava as letras e vencia as primeiras leituras. Ao mesmo tempo fiquei extremante sensibilizada com a precariedade das condições de trabalho e de vida de quem estava na Central de Reciclagem. Vi de perto a dor da falta de visibilidade de pessoas que viviam do lixo e da indiferença de muitos!”

Pela discente Iolita Oliveira- EMEF João Baptista Jaeger “Hoje concluímos mais uma etapa de nossas vidas e esta sem dúvida, é apenas uma das tantas vitórias que estão por vir. 18


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

A EJA não foi o nosso primeiro desafio, mas, com certeza, modificou a nossa história como estudantes, pois cada um de nós já havia trilhado alguns caminhos até que nos deparamos com este espaço pensado para nós e por nós”.

Pela docente Eleandra Gnoatto Ferreira “[...] Então, pesquisando, descobri que paraninfo vem do grego, e significa padrinho. A ele cabe a última lição como professor, e o primeiro conselho, como amigo. Então queridos afilhados, tenho o prazer em dizer-lhes que hoje, vocês iniciam uma nova fase em suas vidas. E quando isso acontece, é inevitável nos sentirmos inseguros e até com medo do que a vida possa nos apresentar e principalmente nos cobrar deste momento em diante. Mas, tenho certeza que vocês serão capazes de superar qualquer insegurança e seguir adiante, em busca dos seus objetivos. Entre tantas coisas que gostaria de dizer a vocês hoje, uma é indispensável. Lembrem-se, na vida devemos ter objetivos grandiosos, mesmo que pareça impossível alcançá-los. Mas, o importante é como trilhamos o caminho para atingi-los. E, gravem o que lhes digo, o melhor caminho, sempre é o caminho do bem, aquele seguido com amor e fé. Porém, já lhes adianto, muitas vezes permanecer no caminho correto é parecer esquisito, estranho, careta... Mas, sigam firmes e fortes, confiem na sua capacidade, não se acomodem, acreditem no seu potencial, na sua capacidade de superar limites e vencer obstáculos”.

Pela discente Djenifer Wazlawick- EMEF Senador Salgado Filho “[...] O que poderia ser a escola, se não um conjunto desses momentos que serão eternos em nossas mentes? Apesar de termos estudado todos juntos apenas este ano, podemos dizer que ele marcou nossas vidas para sempre. Por quê? Porque no começo, não nos falávamos direito; era cada um na sua, com seu grupinho. Com o passar dos dias, fomos nos conhecendo melhor, nos abrindo uns para os outros, fazendo novas amizades e criando laços. Dizer que este ano foi perfeito é um erro, porque vários acontecimentos tiraram nosso sono, nos deixaram preocupados, nos estressaram. Mas, com trabalho em equipe, calma e paciência pudemos resolver tudo. Chegando ao fim deste ano, consolidamos uma amizade não apenas entre nós, mas com nossos professores e gostaríamos de agradecê-los por tudo que fizeram por nós durante a nossa passagem na escola”.

Pela discente Camilly Victoria Dutra - EMEF Elvira Brandi Grin “[...] Hoje é um dia muito importante na vida de cada formando. Afinal, estamos alcançando mais uma vitória em nossas vidas. Mas esta foi só mais uma conquista de muitas que virão pela frente. Por isso quero parabenizar todos os meus colegas que estão aqui hoje e fazem parte dessa conquista. Agradeço também pelos bons momentos que tivemos na turma, as amizades que fizemos durante este tempo que passamos juntos, 19


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

pelas risadas, as brincadeiras.... Também tivemos várias discussões, como qualquer turma, mas sempre nos aconselhamos e nos apoiamos uns nos outros, como se fossemos uma família “.

Pela discente Alexandra Rohrig - EMEF Eugênio Nelson Ritzel “Bem, todos temos dias ou épocas importantes em nossas vidas, e hoje, é certamente um dia mais do que especial para nós, é um novo ciclo de vida. Uns terminam sua trajetória escolar, outros a continuam por mais 3 anos seguidos de ensino médio, uns seguirão para uma faculdade ou diretamente para algum tipo de trabalho. Mas não importa onde estejamos, o que importa é que não esqueceremos os ensinamentos que nos foram passados pelos nossos professores. Eles nos aturaram e muito nos aconselharam, porque queriam o nosso bem. Gostaríamos de pedir que jamais nos esqueçam e sempre se lembrem de nós com muito carinho, pois nunca esqueceremos de vocês e de suas lições”.

20


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

CAPÍTULO III

PROPOSTA PARA EXECUÇÃO DO PROJETO DE APOIO À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – PAEJA Ivete Terezinha Barth13 Rejane Beatriz Verardo14

A proposta aqui apresentada foi elaborada com base no Termo de Referência (TDR) publicado pela Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo com o objetivo de estabelecer os parâmetros para Contratação de Pessoa Jurídica (PJ) para apoio na execução do Projeto de Educação de Jovens e Adultos – EJA, a ser desenvolvido nos Bairros Santo Afonso e Canudos, em Novo Hamburgo, RS, parte do Programa de Desenvolvimento Municipal Integrado (PDMI). A presente proposta é apresentada pela Pessoa Jurídica Fundação La Salle, entidade ligada à Rede La Salle de Educação, situada no município de Canoas/RS, com atuação nacional. A entidade tem como principal objetivo gerar benefícios à sociedade através de quatro áreas de atuação: Projetos Sociais, Projetos Técnicos, Concursos Públicos e Avaliações de Conhecimento. Entre seus princípios de trabalho, estão: 99 99 99 99 99 99

Fidelidade aos princípios lassalistas; Foco nas demandas sociais e desenvolvimento comunitário; Gestão Participativa; Transparência; Desenvolvimento sustentável e a proteção ambiental; Educação e cidadania.

1. DADOS DO PROJETO Nome do Projeto: PROJETO DE APOIO À EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - PAEJA Duração prevista: 12 meses Local de realização: EMEF João Baptista Jaeger, do bairro Santo Afonso e EMEF Senador Salgado Filho, do bairro Canudos Município: Novo Hamburgo

13. Coordenadora do PAEJA. 14. Assessora Pedagógica.

21


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2. OBJETIVOS DA PROPOSTA Na execução desta proposta foram observados os fundamentos legais que regem a educação nacional e a da Secretaria de Educação no Município (SMED) que constam no Regimento Escolar do Ensino Fundamental, na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, e a proposta pedagógica da Escola Coruja, que busca a consolidação dos princípios da Escola Cidadã nas dimensões físico-material, sociocultural, territorial geográfica e intelectual/experiencial. As atividades da Fundação La Salle foram pautadas pelo o olhar para os sujeitos, buscando a efetiva acolhida do aluno, da família e da comunidade através da compreensão de seus interesses, dificultas e também das rupturas demandadas deste coletivo. Dessa forma, estabeleceu-se, em parceria com a PMNH, os objetivos principais do TDR: 1. Contribuir para a elevação de escolaridade de jovens e adultos, considerando prioridade com a juventude, tendo em vista a conclusão do Ensino Fundamental; 2. Desenvolver, junto a toda comunidade escolar, processo de Formação permanente; 3. Potencializar os espaços pedagógicos das escolas referidas na oferta da modalidade EJA, possibilitando a adequação e a qualificação, contribuindo com a comunidade escolar e local; 4. Considerar o desenvolvimento do aluno e das finalidades do Ensino Fundamental, na Modalidade EJA, contemplando a organização nas dimensões formativas: parte contendo a Base Nacional Comum e parte diversificada; 5. Potencializar a formação continuada de jovens e adultos, assegurando conexões com o mundo do trabalho e articulando os currículos: da escolarização e da formação ao longo da vida; 6. Valorizar os diferentes saberes oriundos da sistematização historicamente construída, na escola em suas peculiaridades e da comunidade em seu contexto; 7. Proporcionar práticas sociais de enfrentamento a situações de violência, orientadas pelos princípios de uma sociedade democrática, solidária e sustentável. Além dos 7 objetivos principais estabelecidos pelo TDR, a Fundação La Salle, na execução do Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA), contribui com a PMNH dentro do seu escopo para a realização dos seguintes objetivos específicos: a. Democratizar o acesso e permanência de jovens na Educação de Jovens e Adultos; b. Ampliar, adequar e potencializar o espaço pedagógico nos locais de execução: salas de aula, espaços pedagógicos e poliesportivos levando-se em consideração as especificidades dos sujeitos do EJA; c. Qualificar os educadores/as para desenvolverem práticas escolares na Modalidade EJA, pelo uso de metodologia que contribua para a autonomia, para o protagonismo juvenil e para a educação pela pesquisa; 22


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

d. Dialogar com os diferentes saberes e experiências dos educandos/as, promovendo a busca e ampliação de conhecimentos; e. Promover maior integração entre equipe pedagógica, funcionários da escola, educandos/as e seus familiares; f. Articular os dois currículos, da escolarização e da formação ao longo da vida, através de práticas interdisciplinares e integradas; g. Potencializar a formação continuada aos jovens e adultos para o mundo do trabalho, reconhecendo a formação como ato de aprender a todo o coletivo escolar;Promover a relação entre as múltiplas culturas que perpassam o ambiente escolar; h. Desenvolver conteúdos que afirmem especificidades de políticas de inclusão social, de gênero, étnicas e de orientação sexual; i. Fomentar os princípios da democracia e da cidadania na ação pedagógica, com vistas à formação humana, capaz de contribuir para uma sociedade solidária e sustentável; j. Fomentar as atividades culturais e desportivas de caráter pedagógico; k. Articular ações em parceria com as secretarias e serviços voltados aos jovens e adultos, e preferencialmente aos jovens em situação de vulnerabilidade ou risco social; l. Promover maior integração dos sujeitos da EJA, considerando a articulação entre comunidade escolar e cidade; m. Promover processo de integração dos sujeitos da EJA, considerando a articulação entre comunidade escolar e cidade; n. Promover processo de integração entre esta ação e as demais ações previstas da Política de Segurança Cidadã e Prevenção as Violências.

3. FORMA DE EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS Pautados nos objetivos apresentados, os produtos a serem desenvolvidos pela Fundação La Salle compreenderão o espaço educativo a partir do desenvolvimento de estratégicas de investigação, planejamento individual e coletivo, levando os educandos/as à emancipação, sendo capazes de envolver-se nas atividades e refletir sobre a sua aprendizagem, a partir da metodologia dos projetos de aprendizagem escolhidos pelo coletivo, proporcionando troca de conhecimentos no contexto dos sujeitos. Serão também estimuladas a participação destes sujeitos em miniassembleias, assembleias e comissões, entre outras constituições, articulando a integrando uma miríade de ações educativas, esportivas e culturais ao meio escolar, possibilitando também novas formas de cooperação e reconhecimento entre os sujeitos.

3.1 Composição da Equipe Técnica PAEJA/ Fundação La Salle IVETE TEREZINHA BARTH – Coordenadora Pedagógica REJANE BEATRIZ VERARDO – Assessora Pedagógica FRANCINI VALGAS DE SOUZA – Educadora Social NEUSA DOS REIS DE CARVALHO - Educadora Social 23


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

CAPÍTULO IV

DIAGNÓSTICO DA REALIDADE Sondagens realizadas com os educandos

Francini Valgas de Souza e Neusa dos Reis de Carvalho15 O Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA) visa o protagonismo dos educandos em suas trajetórias de aprendizagens. Para isto, no final do mês de março e início do mês de abril de 2018, as educadoras sociais, Francini Valgas de Souza e Neusa dos Reis de Carvalho, realizarão uma atividade de sondagem com os estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) João Batista Jaeger, localizada no bairro Santo Afonso, e da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Senador Salgado Filho, localizada no bairro Canudos, ambas situadas na cidade de Novo Hamburgo. Esta ação teve como objetivo o levantamento de dados para subsidiar o planejamento das ações a serem desenvolvidas pelo PAEJA. Na EMEF João Batista Jaeger, a sondagem ocorreu na noite do dia 27 de março de 2018. As educadoras sociais do PAEJA realizaram primeiramente as atividades com a turma das etapas 1 e 2 e em um segundo momento com a etapa 3. A atividade se iniciou com uma apresentação da proposta do PAEJA dentro da escola. Em seguida foi proposto aos educandos que se dirigissem à quadra coberta da escola para participarem da dinâmica “A Rede”, a qual teve por objetivo uma apresentação dos educandos e de seus talentos. A reflexão realizada sobre a teia/rede que se formou no meio do círculo com a linha que interligava os educandos foi que o grupo tem mais força quando as pessoas estão unidas/interligadas fortalecendo as potências de cada um. Também foi colocado pelas educadoras sociais que os talentos dos educandos podem auxiliar nas oficinas dentro da escola, valorizando, desta forma, as vivências desses dentro do espaço escolar. Logo após a conversa com a turma, foi proposto que eles se dividissem em grupos com o intuito de exporem ideias de oficinas e passeios que gostariam de participar no ambiente escolar. Após as decisões dos grupos sobre as atividades, em círculo, cada grupo escolheu um representante para falar das sugestões escolhidas. Assim que todos os grupos apresentaram suas sugestões, foi proposto que eles escolhessem oficinas e passeios em comum, finalizando assim o momento da sondagem. No dia 03 de abril de 2018, foram realizadas as sondagens com as turmas das etapas 4, 5 e 6. Nesse dia, em função do cronograma, o desenvolvimento das atividades foi um pouco diferente. A dinâmica da “Rede” foi realizada apenas com os educandos da etapa 4, e com as outras duas turmas, todo o processo de sondagem ocorreu em sala de aula, onde foi realizada uma conversa inicial de apresentações e descobertas de talentos, sendo feito posteriormente o levantamento de sugestões de oficinas e passeios.

15. Educadoras Sociais do Projeto PAEJA.

24


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Sugestões que apareceram com mais frequência nas turmas da EMEF João Batista Jaeger: • • • • •

Etapa 1 e 2: Oficinas: Costura/crochê, marcenaria, mídias digitais. Passeios: Museu PUC, serra gaúcha, Feevale teatro; Etapa 3: Oficinas: Culinária, canto, beleza, dança. Passeios: Acampamento, museu/teatro, estádio de futebol, Feevale; Etapa 4: Oficinas: tecnologia, futebol, culinária. Passeios: parque tecnológico, cinema, museu da PUC; Etapa 5: Oficinas: Artesanato, desenho, culinária. Passeios: Gramado, pontos turísticos Porto Alegre, cinema, estádio futebol; Etapa 6: Oficinas: culinária, mecânica, pintura/desenho. Passeios: Gramado, parque aquático, Paintball.

As sondagens na EMEF Senador Salgado Filho, também ocorreram durante o turno da noite, nos dias 26 e 28 de março de 2018, com os educandos da EJA das etapas 1,2, 3, 5 e 6, com finalização no dia 2 de abril com a etapa 4. Em função do espaço foi realizada uma adaptação da atividade inicialmente planejada. Desta forma, as atividades foram realizadas dentro de sala de aula, sendo primeiro apresentado o projeto nas turmas e em seguida os educandos se apresentaram verbalizando um talento. Logo após foi proposto aos estudantes que formassem grupos com 4 ou 6 educandos, para que conversassem sobre sugestões de passeios e oficinas que gostariam de participar. Após a conversa em grupo, foi disponibilizado um papel pardo para cada grupo colocar as sugestões de passeios e oficinas sugeridas e apresentar para as suas turmas. Ao final da atividade, as educadoras sociais pediram para cada turma escolher as sugestões em comum entre os grupos. Sugestões que apareceram com mais frequência nas turmas da EMEF João Batista Jaeger: • Etapas 1 e 2: Oficinas de Dança, Culinária, Leitura e Jogos teatrais, Palestra com CFC; Passeios: Beto Carrero, Gramado e Museu da PUC. • Etapa 3: Oficinas de Violão, Mecânica e artesanato; Passeios: Museu da PUC, Zoológico Gramado, Museu de arte ou história. • Etapa 4: Oficinas de Dança, esportes e mecânica; Passeios: Museu da PUC, Parque aquático, Cinema e Gramado. • Etapa 5: Oficinas para formar a banda da escola, dança, fotografia, futebol e desenho; Passeios: Museus, Beto Carreiro, Parque aquático e Estádio de futebol. • Etapa 6: Oficinas de dança, teatro, culinária, música e instrumentos; Passeios: Museu da PUC, Cinema e Zoológico. Com o resultado das sondagens foi possível planejar as ações, levando em consideração os interesses dos(as) educandos(as) e de acordo com a realidade em que estão inseridos. Desta forma, foi construído plano de trabalho intitulado projeto #Decolar, 25


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

que consiste no desenvolvimento das seguintes ações: projetos por eixos temáticos, saídas de campo, formação continuada com os educadores e equipe diretiva, oficinas pedagógicas e palestras relacionadas ao mercado de trabalho e ao desenvolvimento de liderança.

26


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

CAPÍTULO V

PLANO DE TRABALHO: PROJETO #DECOLAR 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Projeto: #Decolar Instituição: EMEF Senador Salgado Filho, bairro Canudos e EMEF João Baptista Jaeger, bairro Santo Afonso, município de Novo Hamburgo/RS. Modalidade: EJA/Etapas I, II, III, IV, V e VI do Ensino Fundamental. Público alvo: educandos, educadores e equipe diretiva.

2. JUSTIFICATIVA O Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA) surge da necessidade de fortalecimento do coletivo escolar da EJA Ensino Fundamental, visando à ampliação do acesso e da permanência do educando/a à elevação de sua escolaridade e a qualificação das ações educativas oferecidas. O campo dos saberes, relacionados à educação, vem alargando-se ao longo dos anos. São teorias, propostas metodológicas, conhecimentos cientificamente construídos, que abordam a epistemologia do conhecimento e as metodologias que instrumentalizam a prática pedagógica. Os professores que permanecem agindo como transmissores de conhecimentos e avaliando seus alunos de forma pontual, desta forma reflete uma realidade contemporânea do cotidiano escolar. Após análise do diagnóstico da realidade realizado na EJA Ensino Fundamental, nas duas escolas participantes do projeto PAEJA, EMEF Senador Salgado Filho, bairro Canudos e EMEF João Baptista Jaeger, bairro Sto Afonso, município de Novo Hamburgo/RS, observou-se a necessidade de repensar a práxis escolar e desenvolver ações e mecanismos que pensem o aluno como sujeito na construção do próprio conhecimento, envolvendo os trabalhadores da educação, professores e equipe diretiva, a comunidade e os educandos, na busca da transformação da realidade. Segundo, Paulo Freire: A educação problematizadora, que não é fixismo reacionária, é futuridade revolucionária. Daí que seja profética e, como tal, esperançosa. Daí que corresponda à condição dos homens como seres históricos e à sua historicidade. Daí que se identifique com eles como seres mais além de si mesmos – como “projetos” – como seres que caminham para frente, que olham para frente; como seres para quem o imobilismo ameaça de morte; para quem o olhar para traz não deve ser uma forma nostálgica de querer voltar, mas um modo de melhor conhecer o que está sendo, para melhor 27


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

construir o futuro. Daí que se identifique com o movimento permanente em que se acham inscritos os homens, como seres que se sabem inconclusos; movimento que é histórico e que tem o seu ponto de partida, o seu sujeito, o seu objeto (FREIRE, p. 24, 1988). A proposta de uma metodologia de pesquisa, pensada em conjunto com as escolas participantes do PAEJA, possibilitará novas experiências na práxis pedagógica, cujo resultado visa à retenção dos alunos em sala de aula, o combate à evasão e o sucesso escolar, através de ações que promovam o desenvolvimento integral, de habilidades e potencialidades, autonomia na construção do conhecimento e o pensamento crítico dos sujeitos, tendo o educador, engajado no projeto, como mediador no processo de ensino/aprendizagem, planejando a partir dos conhecimentos prévios dos educandos. No Termo de Referência do projeto foram sugeridos temas de suma importância como a Formação Continuada; Qualidade de Vida: Saúde, Meio-ambiente, Esporte e lazer; Direitos Humanos e Promoção das Diversidades; Desenvolvimento Integral: Educação, Trabalho, Cultura e Tecnologia da Informação; Política Nacional da Juventude - Diretrizes e Perspectivas. A partir das necessidades e interesses identificados, na primeira etapa, onde foi realizada a sondagem/diagnóstico com professores e educandos, foram construídas propostas de ações de modo horizontal (oficinas, palestras, passeios, eventos para a comunidade escolar) a serem desenvolvidas, de forma participativa e colaborativa, envolvendo toda a comunidade escolar da EJA: educandos, educadores e equipe diretiva. Neste sentido, a elaboração do referido projeto se justifica por criar novas possibilidades didático-pedagógicos e de vivenciar uma prática na EJA que possibilite a ação-reflexão-ação, numa abordagem “dinâmica”, que se dá de dentro para fora, ou seja, desconstruindo-construindo-reconstruindo o conhecimento. Assim, através das experiências e vivências compartilhadas com as ações do #decolar, a escola ganha VIDA. De acordo com Pedro Demo: Não existe conhecimento sem o sujeito cognitivo, cultural, e biologicamente plantado. Toda teoria é uma reconstrução da realidade e, como toda reconstrução humana, falível, provisória. Assim, ao lado da epistemologia do conhecimento, há que observar a realidade (DEMO, p. 17, 2004).

3. OBJETIVO GERAL Fortalecer o coletivo escolar da EJA Ensino Fundamental das escolas EMEF Senador Salgado Filho do bairro Canudos e EMEF João Baptista Jaeger do bairro Santo Afonso, no município de Novo Hamburgo/RS, visando a ampliação do acesso e da permanência do educando/a, a elevação de sua escolaridade e a qualificação das ações educativas desenvolvidas, com atividades interdisciplinares e de pesquisa, proporcionando a troca de saberes e fazeres, na promoção da autonomia e do protagonismo do educando na busca do conhecimento. 28


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

3.1 Objetivos Específicos • Desenvolver o espírito investigativo e autonomia na construção do conhecimento; • Desenvolver o trabalho em grupo; • Dialogar com as diversas áreas do conhecimento; • Promover o debate e reflexão no processo ensino/aprendizagem; • Elaborar um produto final para apresentação, que será a culminância do miniprojeto.

4. METODOLOGIA Dividido em eixos temáticos, as ações foram pensadas a partir das sondagens realizadas com os educandos e educadores, durante o diagnóstico da realidade. Através de uma metodologia de projetos de trabalho, serão desenvolvidas ações levando em consideração a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade entre as diversas áreas do conhecimento, favorecendo a participação e cooperação dos alunos, educadores e equipe diretiva, tornando o processo de aprendizagem mais dinâmico e significativo, valorizando o protagonismo dos educandos na construção do conhecimento. Na formação continuada, será oportunizado aos educadores e equipe diretiva, momentos de aprendizagens, trocas de experiências, debate e reflexão da práxis pedagógica na EJA. O projeto contemplará as seguintes atividades: Miniprojetos; Oficinas Pedagógicas; Formação Continuada; Saídas de campo; Seminário e lançamento do Caderno Temático. Segundo Hernandez (1998), “os Projetos de Trabalho contribuem para uma (re) significação dos espaços de aprendizagem de tal forma que eles se voltem para a formação dos sujeitos ativos, reflexivos, atuantes e participantes”.

5. DESENVOLVIMENTO

Figura 2 – Rede temática 29


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Miniprojetos: Serão realizados encontros a cada 15 dias, com duração de 2 horas, em dias alternados da semana, no sistema rotativo. Cada grupo contará com educadores mediadores para coordenar e auxiliar na construção e elaboração do projeto, de acordo com a área do conhecimento da temática escolhida, a partir dos cinco eixos temáticos: Tecnologia, Cultura, Corpo e Movimento, Audiovisual e Sustentabilidade. A partir da escolha de um tema, os educandos desenvolverão o trabalho em grupo, realizarão pesquisas, investigação, registro de dados, formularão hipóteses, tornando-se sujeito do seu próprio conhecimento. Poderão participar alunos de várias turmas, organizados de acordo com o eixo temático escolhido, onde desenvolverão o trabalho de criação de um produto final, que será apresentado à comunidade na feira de projetos, considerado evento de culminância das aprendizagens realizadas nos miniprojetos.

Figura 3 – Organograma dos Eixos Temáticos Oficinas Pedagógicas: Com duração de 30 min. até 1 hora, sempre às 18h. No formato de oficinas específicas, onde serão trabalhados temas atendendo as demandas de interesse dos alunos, de preparação para o mercado do trabalho e culturais, divididos em dois eixos: Oficinas de Empregabilidade e Formação de Lideranças, visando fortalecer o convívio e o vínculo escolar nas inter-relações entre alunos, professores e a comunidade. As oficinas terão duração de 30 min. até 1 hora, sempre às 18h, de segunda à quinta-feira. Formação Continuada: Serão desenvolvidos encontros de estudo com os educadores e a equipe diretiva, quinzenalmente, com duração de 1h30 a 2 horas, sendo um encontro para formação continuada e outro para reunião pedagógica. Serão abor30


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

dados e trabalhados temas sugeridos pelos próprios educadores durante as sondagens, proporcionando um espaço para debate e reflexão sobre a práxis escolar e o processo ensino/aprendizagem, divididos em quatro eixos: Planejamento, Mediação de Conflitos, Cidadania e Tecnologia. Saídas de campo: Passeio de integração do grande grupo e visitas técnicas para pesquisa de campo. Camisetas: Confecção de camisetas do projeto, que contará com a participação dos alunos na escolha da cor e frase slogan do projeto. Seminário e lançamento do Caderno Temático: O seminário terá como objetivo, oportunizar a troca de experiências das aprendizagens realizadas durante o desenvolvimento do projeto nas duas escolas participantes.

31


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

CAPÍTULO VI

CONTRIBUIÇÕES DOCENTES Este capítulo contém artigos da equipe diretiva e de professores das duas escolas participantes do Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA), EMEF João Baptista Jaeger e EMEF Senador Salgado Filho, do município de Novo Hamburgo. A fim de valorizar os saberes docentes e contribuir para a melhoria da práxis pedagógica na Educação de Jovens e Adultos (EJA), contamos com um material para estudo e troca de experiências com projetos de pesquisa que foram desenvolvidos no ano de 2018 com os educandos, com a formação de professores e reflexões sobre o contexto escolar na modalidade da EJA.

PAEJA/BID: DESAFIOS E PROPOSTAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Catherine Thumé16

A Constituição Federal de 1988 nos diz em seu artigo 205: (...) A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988). A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a modalidade de ensino que acredito ser hoje a que mais desafia o professor. Ela é destinada a garantir os direitos educativos da população com 15 anos ou mais que não teve acesso ou interrompeu os estudos antes de concluir a Educação Básica. A população da EJA é composta por alunos jovens vindos do ensino regular, na sua maioria multirepetentes, com dificuldades de aprendizagem ou outras situações, e adultos de diferentes segmentos sociais como trabalhadores, donas de casa, encarcerados, aposentados e idosos. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA, a Educação de Jovens e Adultos deve considerar o perfil dos sujeitos que a ela compete atender e sua faixa etária, ao propor um modelo pedagógico que assegure equidade e diferença. 16. Licenciada em Artes Plásticas. Vice-diretora da EMEF S. Salgado Filho - bairro Canudos/NH.

32


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

(...) I - quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação; II- quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores (RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 1, DE 5 DE JULHO DE 2000, p. 1). Essa modalidade de ensino ainda deve desempenhar segundo o parecer CNE/ CEB 11/2000, três diferentes funções: funções reparadora, equalizadora e qualificadora. (...) a função reparadora deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma oportunidade concreta de presença de jovens e adultos na escola e uma alternativa viável em função das especificidades sócio-culturais destes segmentos para os quais se espera uma efetiva atuação das políticas sociais. É por isso que a EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio a fim de criar situações pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos (PARECER 11/2000, p. 9). Como função equalizadora busca-se: (...) A reentrada no sistema educacional dos que tiveram uma interrupção forçada seja pela repetência ou pela evasão, seja pelas desiguais oportunidades de permanência ou outras condições adversas, deve ser saudada como uma reparação corretiva, ainda que tardia, de estruturas arcaicas, possibilitando aos indivíduos novas inserções no mundo do trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura dos canais de participação (PARECER 11/2000, p. 9). E por fim, a função qualificadora, considerada como muito mais que uma função e definida também como o próprio sentido da EJA: (...) Ela tem como base o caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares. Mais do que nunca, ela é um apelo para a educação permanente e criação de uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade (PARECER 11/2000, p.11). Neste sentido, o PAEJA – Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos vem para contribuir nestas funções e qualificar a prática pedagógica através da formação continuada dos professores, visando à permanência do aluno em sala de aula e sua qualificação. Num primeiro momento o projeto realizou um diagnóstico com alunos, professores e equipe diretiva para verificar as necessidades da EMEF Senador Salgado Filho. 33


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Posteriormente, em conjunto com a escola, foram “construídas propostas de ações de modo horizontal (oficinas, palestras, passeios, eventos para a comunidade escolar) a serem desenvolvidas, de forma participativa e colaborativa, envolvendo toda a comunidade escolar da EJA: educandos, educadores e equipe diretiva”. Dentre estas ações está o fortalecimento dos projetos de pesquisa realizados pelos alunos na disciplina de Articulação dos Saberes e na apresentação destas para toda comunidade escolar, desenvolvendo o protagonismo dos educandos. Na proposta de oficinas pedagógicas estão sendo realizadas atividades preparativas para o mercado de trabalho no intuito de preparar os educandos para a elaboração de currículos e entrevista de emprego. Na Formação de Líderes serão realizadas ações beneficentes e de melhoria do ambiente escolar. Uma destas ações já realizada foi a doação de um lanche, elaborado pelos próprios alunos, para os frequentadores do Centro de Referência Especializado em Assistência Social para a População em Situação de Rua (Centro Pop/SAS Rua). Outra proposta é a realização de passeios de integração e pesquisa. Um destes foi assistir ao filme “Jurassic World” no cinema e outro a visitação à Feira de Iniciação Científica da EMEF Prof. Adolfina J.M. Diefenthäler, pois também é através de diferentes linguagens que promovemos o desenvolvimento integral do ser. Cabe ressaltar ainda a importância dos momentos de formação continuada dos educadores, nos quais refletimos sobre a práxis pedagógica e o processo ensino/aprendizagem, para a aquisição de novos aprendizados, a busca de soluções de problemas e o compartilhamento de novas metodologias de ensino. Por fim, a fala de Vasconcellos reflete o nosso objetivo maior: (...) Não se trata mais de estudar para ganhar seu lugarzinho no bonde da história; trata-se, isto sim, de estudar a fim de ganhar competência e ajudar a mudar o rumo deste bonde, ou seja, ajudar a construir uma sociedade onde haja lugar para todos (VASCONCELLOS, 1995, p. 49).

34


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

REFLEXÕES A PARTIR DE VIVÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BAIRRO SANTO AFONSO Ângela Maria de Moura17 Na busca de atender as demandas para modalidade Educação de Jovens e Adultos, onde os sujeitos envolvidos neste processo de aprendizagem demandam de características particulares na construção do conhecimento e requerem ações especializadas e um olhar diferenciado para cada sujeito a ser alcançado neste processo de formação voltado a cidadania e ao mundo do trabalho. Para tanto, o texto traz algumas reflexões de quem são estes sujeitos na atualidade que frequentam a Educação de Jovens e Adultos e como motivar os mesmos para que permaneçam na busca de sua formação. O público da EJA que são atendidos diariamente no bairro Santo Afonso, na cidade de Novo Hamburgo com alto índice de criminalidade e vulnerabilidade social demandam um grande empenho dos profissionais envolvidos neste processo de ensino aprendizagem. Nossos alunos compreendem desde jovens adolescentes de 15 anos até o adulto, incluindo a terceira idade, os mesmos possuem histórias de vidas diferentes, expectativas e objetivos em relação ao aprendizado que necessitam ações educativas significativas que venham ao encontro dos sonhos e anseios deste público heterogêneo. O direito a Educação de Jovens e Adultos está assegurado no artigo 37 e inciso I da Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira (LDB), como modalidade de ensino “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. O direito a educação na modalidade da EJA, tem criado programas e propostas curriculares que atendam às necessidades e práticas pedagógicas, capaz de construir sujeitos críticos, autônomos que atuem na construção do seu desenvolvimento. Esses sujeitos que fazem parte da comunidade escolar da EJA na atualidade narram várias histórias de vidas, ou seja, seus fracassos, sonhos e motivos para estarem neste espaço mesmo que tardiamente em suas vidas, entre estes relatos estão o abandono da vida escolar para a entrada no mundo do trabalho, as drogas, bem como a exclusão efetuada muitas vezes pelo próprio meio escolar, a falta de incentivo familiar a falta de ações pedagógicas que atendessem as suas expectativas. Ao se deparar com os anseios desses jovens e adultos que fazem parte da comunidade escolar atual é papel da escola oportunizar espaços, ações pedagógicas que favoreçam o convívio social, ou seja, se tornar um local onde esses sujeitos vivam suas juventudes, muitas vezes suas carências afetivas, sua formação e crescimento pessoal. Brunel (2004) ao afirmar que: [...] sabendo que os jovens que frequentam a EJA construíram a sua trajetória escolar fora dos padrões definidos pela escola regular e que este 17.

Vice-diretora da EMEF. João Baptista Jaeger.

35


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

número cresce a cada ano, é pertinente nos questionarmos acerca do que está ocorrendo com a instituição, já que ela não está conseguindo atender plenamente às necessidades de uma boa parcela de jovens que poderia frequentar este espaço (p.37). Cabe a nós professores da EJA reveremos nosso olhar sobre esses sujeitos da contemporaneidade, e principalmente avaliar a prática pedagógica refletindo sobre nossa responsabilidade quanto à escolarização e vida desses jovens e adultos suas expectativas, dificuldades, sonhos e desejos.

36


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

EJA: fazer do sonho uma realidade Ariadne Martins Corrêa18

INTRODUÇÃO A trajetória da EJA na escola João Baptista Jaeger é recente. Esta modalidade fazia parte de outra escola e foi transferida em 2017, em caráter provisório, porém a partir de 2018, por votação dos alunos e professores resolveram presentear nossa escola com esta rica experiência. De acordo com a LDB: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiverem acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.” (artigo.37) O perfil de aluno da escola é muito diversificado, contamos aproximadamente com 150 alunos no segundo semestre de 2018, que retornaram à escola com diferentes objetivos. Muitos reingressam à escola, sendo os principais obstáculos para a desistência foi devido a gravidez precoce, violência, sujeitos/vítimas de uma sociedade desigual. À escola tem como proposta um ensino para vida, trabalhar a partir dos sonhos e conquistas de cada aluno. Partir do interesse, construir projetos, realizar sonhos e abrir para um mundo de possibilidades. A vida é sim a maior escola, aproveitar cada relato, troca de experiência se torna fundamental para um ensino que promova a transformação social.

DESENVOLVIMENTO O primeiro passo para conseguir ir em busca de um ensino que promova a transformação é descobrir qual o perfil de aluno temos na nossa escola, isso se faz com uma entrevista realizada todo semestre e com assembleia regulares realizadas mensalmente com aspectos positivos e negativo do processo de ensino-aprendizagem. Também contamos com a parceria do projeto PAEJA, que desenvolve juntamente com à escola um trabalho de resgate deste alunos evadidos e com projetos bem estruturados que estão engajados com a proposta curricular. Durante esta caminhada, no decorrer dos projetos foi possível identificar uma mudança no ambiente escolar. Com a proposta de oficinas realizadas com a habilidade dos alunos, tais como culinária, dança... foi possível destacar uma união maior entre os professores, alunos, equipe diretiva. Além disso, o índice de evasão reduziu de forma significativa. De acordo com FREIRE: “Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (p. 47) Assim os projetos em desenvolvimento tem como objetivo criar possibilidades, contribuir para a vida acadêmica bem como cotidiana para fazer novas escolhas ou aprimorar conhecimentos já adquiridos. 18. Coordenadora Pedagógica da EMEF. João Baptista Jaeger.

37


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A nossa função enquanto escola é acolher estes alunos e desenvolver suas potencialidades, buscar o novo e não ficar estagnado no tradicional. O ensino por projetos e pesquisa, é uma das propostas desenvolvidas na rede municipal de Novo Hamburgo. Temos uma disciplina específica desta área chamada Articulação de Saberes, que vem com esta proposta de realizar a interdisciplinaridade, o trabalho em grupo, equipe, a curiosidade, indagações e a busca por experiências que estão além dos muros da escola. Toda esta dinâmica leva a construção do conhecimento, o resgate dos sonhos e a construção de uma nova realidade. A parceria da equipe PAEJA para a formação e execução dos projetos está sendo fundamental para a concretização das atividades, além das formações periódicas com professores, recursos disponibizados, contamos com a parceria de profissionais engajados, dispostos a colaborar para a efetivação dos projetos, com sugestões, conversas construtivas que estão promovendo uma integração entre todos os envolvidos. A E.M.E.F. João Baptista Jaeger está construindo uma nova caminhada, buscando a cada dia o resgate de alunos excluídos, marginalizados, violentados. Pessoas, que na maioria das vezes, já tiveram sonhos e foram frustrados. A busca da autoestima, o conhecimento fora dessa realidade, acesso a outras culturas, inclusão digital, são algumas das propostas que estamos proporcionando, juntamente com esta parceria da PAEJA, para ter além de tudo uma educação de qualidade. Conseguir elaborar novos planos, dar ouvidos aos alunos, uma educação democrática, que tem discussões e assembleia, onde as próprias regras são construídas coletivamente, traz um significado enorme não só para vida escolar deste aluno, mas para a vida social deste indivíduo.

CONCLUSÃO A EJA, antes de qualquer modalidade de ensino, exige um olhar diferenciado, humano. São indivíduos que buscam sair da sua zona de conforto e estão em busca de novos sonhos, que de alguma forma resolveram buscar padrões diferentes do que a sociedade impõe com certos. É fácil quando tudo está pronto e todo teu planejamento ao longo da vida deu certo e aconteceu conforme o esperado. Difícil é criar resiliência e buscar novos começos, retomar de onde parou, conseguir sorrir nas entrelinhas da vida. Apesar de ainda ser um ensino em construção, pois não há parâmetros específicos para ele, se torna ainda mais encantador. Exige dedicação, diálogo e dinamismo, as vezes somos o professor e na maioria delas o aprendiz. O ensino se torna esclarecedor, a troca de experiências entre jovens, adultos e idosos dentro da sala de aula traz esta singularidade que torna essa experiência ainda mais rica. O ensino democrático, é uma construção, onde tudo é votado, discutido e debatido com os alunos. Não agradamos a todos, mas neste processo é onde aprendemos a argumentar, criticar, valorizar as escolhas, respeitar as diferenças e aceitar as decisões. Enfim a trajetória está só no começo, ainda vamos em busca de novos caminhos, conhecimentos, tudo que venha agregar, acrescentar de forma positiva na vida dos nossos alunos. Tornar o sonho em realidade é o que nos move, o combustível de todo ser humano e entre ele está uma sociedade mais justa, que julgue menos e acolha mais.

38


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

A IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÂO DO ESTUDANTE NA EJA Rosemari Brehm de Oliveira19 Sou professora de Geografia na Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EMEF Salgado Filho em Novo Hamburgo, pouco mais de um ano. Neste período notei algumas mudanças no comportamento de alguns estudantes e gostaria de relatar alguns fatos que, na minha opinião, contribuíram para isso. Como sabemos, a EJA é uma modalidade de ensino voltada para pessoas que não tiveram oportunidade, por vários motivos, de acessar o ensino regular na idade apropriada. Muitos desses estudantes chegam na EJA com descrédito total em sua capacidade de aprendizado, demonstrando auto estima baixa. Não poderia deixar de citar que a história da EJA no Brasil está muito ligada a Paulo Freire, que implementou um projeto de alfabetização para jovens e adultos em 1963, criando um método de rápido aprendizado, para que os analfabetos fossem incluídos no processo político eleitoral brasileiro, conquistando direito ao voto e, por conseguinte, fossem melhor representados. Paulo Freire também nos ensinou a valorizar as diversas qualidades de nossos alunos, independente dele saber ler e/ou escrever. Pois são pessoas que possuem uma história anterior à escola e esta história deve ser valorizada. Como exemplo disto, no primeiro semestre de trabalho nesta escola, eu e meus colegas de Arte e Português, desenvolvemos um projeto interdisciplinar, com a Etapa III, onde os estudantes criaram cordéis relatando seu cotidiano. Foram auxiliados neste processo pela professora Marília de Português, na construção da rima correta para os versos do cordel; pelo professor Toni de Arte, na criação artística da capa e eu tive o prazer de auxiliar os estudantes na criação das histórias narradas no cordel. Foram aulas interessantes, onde destinávamos uma parte ao ato criativo de cada um repensar sua própria história, ruas raízes, seus motivos de vinda para a cidade, como era o bairro nos tempos de criança, enfim, houve uma ressignificação do Lugar, objeto de estudo importante na Geografia. Notamos que o desenvolvimento e a valorização destes trabalhos, motivou muito os estudantes, que muitas vezes não participavam da aula por motivos de timidez ou baixa estima. A partir da construção do Cordel e da consequente valorização da sua história, tornaram-se mais participativos, melhorando seu desempenho escolar e se vendo capazes de vencer obstáculos. Outro exemplo importante ocorreu na disciplina de Articulação dos Saberes, onde foram desenvolvidos vários projetos interessantes de pesquisa. Os estudantes escolheram os temas de acordo com seus interesses e após orientação dos professores responsáveis, avançavam nas etapas da pesquisa, compreendendo seus processos, na busca de seus objetivos. No final do semestre passado, criou-se um momento inusitado na EJA, onde todos os estudantes apresentaram suas pesquisas para os demais colegas. No início houve certa resistência de falar em público, devido à timidez, mas no decorrer da noite os estudantes demonstraram maturidade, se apropriando dos conteúdos pes19.

39


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

quisados, motivo de orgulho para seus professores orientadores. Inclusive tivemos uma destas pesquisas, vencedora na FEMICTEC deste ano, na categoria EJA. As alunas Djenifer Wazlawick, Ketlin Vitória da Silva Lara e Rafaela Benche, da Etapa VI, participaram da Feira Municipal de Ciência e Tecnologia, com a pesquisa: “Medicamentos: Solução ou Problema? ”, sob minha orientação, mostrando que muitos remédios são tomados sem prescrição médica e causam sérios danos à saúde e que devemos ficar atentos às informações que constam na bula, mesmo daqueles prescritos. Os exemplos acima mostram como é importante, independente dos conteúdos trabalhados, buscarmos a valorização dos conhecimentos prévios de nossos alunos e sempre incentivá-los a ir além, pois todos são capazes de alguma forma, de contribuir para seu próprio aprendizado. Despertar a capacidade de realização no estudante, que estava até então adormecida, acredito ser o melhor caminho para ele se tornar protagonista de sua própria história. E o fato de muitos deles terem passados provações pelas quais nunca passaremos, já mostram o quão vencedores são, ao escolherem o retorno à sala de aula!

40


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

EXPERIÊNCIA COM OFICINAS DE ROBÓTICA Eduardo José Closs20

Sou professor de matemática nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental Martha Wartenberg e Senador Salgado Filho da cidade de Novo Hamburgo. Desde o início de 2018 participei das formações do Curso de Robótica Educacional Básico, oferecido pelo CEPIC – Centro Municipal de Informática Educativa. Foram feitas duas oficinas de Robótica com os alunos da S. Salgado Filho, sendo que participei em um desses momentos no dia 30 de outubro de 2018. A escola S. Salgado Filho participa do Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA) promovido pela Fundação La Salle. Em uma das reuniões do PAEJA no segundo semestre, foi pedido aos professores sugestões de ações a serem trabalhadas com os alunos, então, a Professora Rose, de geografia, sugeriu que os alunos poderiam trabalhar com robótica, porque alguns alunos já haviam comunicado a ela esse interesse. Nesse momento, ao cogitar essa possibilidade, eu disse que poderia ajudar, já que tinha conhecimento nessa área. Então a equipe do PAEJA me sugeriu que fizesse um projeto para adquirir um Kit de Robótica para a escola. O Projeto de Robótica foi feito e aprovado, no momento estamos aguardando a chegada dos materiais para começarmos a trabalhar com os alunos. Enquanto isso, o CEPIC foi informado que a escola estaria prestes a adquirir um Kit semelhante ao que já está sendo usado no Município de Novo Hamburgo por outras escolas municipais, assim, foram proporcionados dois momentos para que os alunos tivessem contato com a robótica. Na noite do dia 30 de outubro, estive presente na Oficina de Robótica com o pessoal do CEPIC de Novo Hamburgo. Nessa oficina foi feito uma demonstração do funcionamento de um robô seguidor de linha, bem como de brinquedos desenvolvidos por alunos, que eu trouxe da Martha Wartenberg, a escola que conquistou prêmio de criatividade e segundo lugar na 3ª Olimpíada Municipal de Robótica ocorrida durante a MOSTRATEC 2018. Os alunos da EJA da Salgado Filho ficaram entusiasmados ao ver o funcionamento do carrinho seguidor de linha e da criação dos alunos da outra escola. Após as demonstrações daquilo que poderiam desenvolver, os alunos foram convidados formar grupos e a montar o que quisessem com as peças dos kits trazidos pelo CEPIC e também foram desafiados a fazer um programa para acender leds (luzes). Durante os dois períodos em que tivemos a Oficina os alunos tentaram resolver os desafios e ficaram até uma parte do recreio fazendo as atividades. Foi um momento interessante, porque eles se sentiram motivados, trabalharam em grupo e estavam concentrados em tentar resolver os desafios. Alguns alunos comentaram comigo, por exemplo, que para programar um robô “precisamos saber matemática, senão não va20.

41


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

mos conseguir programar”. Eles sentiram que precisavam saber também a matéria da sala de aula para ir além e aprender coisas novas. Também fiquei admirado que um aluno que estava interessado na oficina de grafite, mas que resolveu trocar para a robótica.

42


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

O TORNEIO ESPORTIVO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA EJA SOB A PERSPECTIVA INTERACIONISTA Eduardo Mariano Kobolt21 No contexto da Educação de Jovens e Adultos (EJA) as aulas de Educação Física tem sido um grande desafio para os professores desta disciplina, pois, devido ao perfil dos alunos e alunas, os mesmos tem se demonstrado pouco interessados em participar destas aulas por ser uma matéria não obrigatória em casos específicos da lei. Diante disto, destaco aqui os torneios esportivos sob a perspectiva interacionista realizados no primeiro semestre de 2018 da EJA, na Escola Municipal João Baptista Jaeger da cidade de Novo Hamburgo, como recursos motivadores que influenciam o ensino aprendizagem, possibilitando ao aluno a participação ativa no seu desenvolvimento cognitivo, bem como colaborando para seu protagonismo nesta área. O diálogo e a busca por compreender o que tornaria as aulas mais atrativas acabaram proporcionando a possibilidade dos educandos(as) de se expressarem, interagirem e opinarem tornando-os sujeitos ativos neste contexto. A partir disto, o método adotado foi à realização de três torneios esportivos durante o primeiro semestre letivo, onde contamos com o apoio do projeto de PAEJA na aquisição de medalhas e troféus, camisetas esportivas e transporte para a participação em torneios do município de Novo Hamburgo. O primeiro foi de Futsal, o segundo de Tênis de Mesa e o terceiro de Cobranças de Pênaltis, realizados na quadra de futsal, motivando os alunos a se organizarem e se prepararem para estes processos de competição. Ao final do primeiro semestre de 2018, constatou-se um aumento na participação mais efetiva de muitos alunos e alunas que se mostravam desinteressado ou até mesmo daqueles que já estavam dispensados das aulas de Educação Física. Portanto, como estratégia pedagógica, fica o exemplo da realização de torneios esportivos nas aulas de Educação Física na EJA, que oportunize momentos de atividades em que os alunos estejam inseridos de modo participativo, promovendo a interação nas aulas, motivando-os a participar e a serem sujeitos atuantes no processo ensino aprendizagem.

21. Professor de Educação Física da EMEF João Japtista Jaeger

43


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

SUSTENTABILIDADE PRÁTICA NA EMEF. JOÃO BAPTISTA JAEGER Augusto Guilherme Teixeira Frutuozo22 Raquel Bueno23 Viviane Marques24

INTRODUÇÃO A sustentabilidade é a capacidade de sustentação ou conservação de um processo ou sistema. A palavra sustentável deriva do latim sustentare e significa sustentar, apoiar, conservar e cuidar. O conceito de sustentabilidade aborda a maneira como se deve agir em relação à natureza. Além disso, ele pode ser aplicado desde uma comunidade até todo o planeta. De acordo com (Brundtland, 1987), a sustentabilidade é alcançada através do Desenvolvimento Sustentável, definido como: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”. Segundo Reigota (1994) a Educação Ambiental visa à formação de cidadãos críticos, conscientes e atuantes na sociedade, na promoção de uma educação mais abrangente. Busca-se um entendimento mais amplo sobre as ações cotidianas, enfatiza-se uma ação global, onde o cidadão, ao ter conhecimento dessa realidade, produz um pensamento crítico para assim atuar conscientemente como modificador do meio onde está inserido. Na Carta de Belgrado há seis objetivos, que se tornam imprescindíveis para um trabalho de educação ambiental: conscientização, conhecimento, comportamento, competência, capacidade de avaliação e participação. Esses objetivos têm como princípio o esclarecimento e a atuação consciente dos sujeitos frente ao problema ambiental, bem como a busca de um novo comportamento que visa adquirir o sentido dos valores sociais, sensibilizando pelo interesse ao meio ambiente. Para Sato et all (2005 apud BRASIL, 2014) a educação ambiental: Deve se configurar como uma luta política, compreendida em seu nível mais poderoso de transformação: aquela que se revela em uma disputa de posições e proposições sobre o destino das sociedades, dos territórios e das desterritorializações e que acredita que mais do que conhecimento técnico-científico, o saber popular igualmente consegue proporcionar caminhos de participação para a sustentabilidade através da transição democrática (BRASIL, 2014). A Educação Ambiental é uma das ferramentas existentes para a sensibilização e capacitação da população em geral sobre os problemas ambientais. Com ela, busca-se desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de consciência so22. Lic. em Biologia, Prof. na Rede Municipal de ensino, augustotex@yahoo.com.ar. EMEf João Baptista Jaeger. 23. Pedagoga. Profª. na Rede Municipal de ensino. raquelbueno@novohamburgo.rs.gov.br. EMEf João Baptista Jaeger. 24. Lic. Em Matemática. Profª. na Rede Municipal de ensino. vivi071078@yahoo.com.ar. EMEf João Baptista Jaeger.

44


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

bre a gravidade dos problemas ambientais e a urgente necessidade de nos debruçarmos sobre eles (MARCATTO, 2002).

1. REFERENCIAL TEÓRICO O termo sustentabilidade surgiu a respeito dos recursos renováveis e foi adotado pelo movimento ecológico. O conceito refere-se a existência de condições ecológicas necessárias para dar suporte à vida humana em um nível específico de bem estar através de futuras gerações, e isto é sustentabilidade ecológica e não desenvolvimento sustentável (LÉLÉ, 1991). De acordo com Ayres (2008), a sustentabilidade é um conceito normativo sobre a maneira como os seres humanos devem agir em relação à natureza, e como eles são responsáveis para com o outro e as futuras gerações. Neste contexto, observa-se que a sustentabilidade é condizente ao crescimento econômico baseado na justiça social e eficiência no uso de recursos naturais (LOZANO, 2012). Muitas vezes, a sustentabilidade é vista em dois níveis diferentes: sustentabilidade fraca ou sustentabilidade forte. A sustentabilidade fraca pode ser interpretada como a extensão do bem estar econômico (NEUMAYER, 2003), portanto, o capital econômico produzido pelas gerações atuais poderá compensar as perdas de capital natural para as gerações futuras (FIORINO, 2011). Portanto, na sustentabilidade fraca é exigido que o valor do capital natural seja preservado, por exemplo, no caso dos recursos não-renováveis, a extração passe a ser compensada por um investimento em recursos renováveis substitutos de valor equivalente (por exemplo, parques eólicos para substituir os combustíveis fósseis na geração de energia elétrica). Avaliação mais aprofundada para determinar todos os seus efeitos sobre meio ambiente. Se isso fosse feito, a maioria delas não passaria num simples teste da sustentabilidade, pelo menos no longo prazo. O conceito atual de desenvolvimento sustentável, que foi expresso na Cúpula Mundial em 2002, mas teve inicio em 1987 no Relatório Brundtland, considerado altamente inovador para aquela época, o relatório foi o primeiro a trazer para o discurso público o conceito de desenvolvimento sustentável, assim envolve a definição mais concreta do objetivo de desenvolvimento atual (a melhoria da qualidade de vida de todas os habitantes) e ao mesmo tempo distingue o fator que limita tal desenvolvimento e pode prejudicar as gerações futuras (o uso de recursos naturais além da capacidade da Terra). O desenvolvimento sustentável procura a melhoria da qualidade de vida de todos os habitantes do mundo sem aumentar o uso de recursos naturais além da capacidade da Terra. As tentativas de obter uma avaliação quantitativa da sustentabilidade podem ser encontradas em várias pesquisas. Porém, os esforços mais significativos para mensurar o desenvolvimento sustentável começaram, somente, na década de 90. Esses esforços cresceram após 1992 quando na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), a Comunidade Internacional exprimiu obviamente a necessidade de se mensurar o nível de desenvolvimento sustentável. A busca de indicadores e índices de desenvolvimento sustentável passou a ser uma questão bem discutível na literatura mundial e nacional. Naquela época foram desta45


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

cados como os dois assuntos mais urgentes para serem resolvidos: a falta de metodologias de avaliação quantitativa (que se tornou um fator limite) e a grande carência de dados estatísticos ambientais. Por isso, paralelamente à discussão do conceito de sustentabilidade têm-se procurado metodologias capazes de mensurarem tal desenvolvimento, medindo o nível do desenvolvimento de uma nação e da sustentabilidade de seus sistemas socioeconômicos e ecológicos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS Com a parceria e ajuda do projeto PAEJA (Projeto de apoio ao EJA) se iniciou este projeto que está dentre outros 4 eixos de pesquisa que todos os alunos do EJA da João baptista Jaeger estão inseridos. O eixo da sustentabilidade orientado por quatro professores: Adriane Araujo, Augusto Teixeira, Viviane Marques e Raquel Bueno. Os alunos foram misturados de todas as etapas, desde a etapa 1 até a etapa 6. Desta forma de quinze em quinze dias o projeto tinha atividades ou com os professores orientadores ou com oficinas ligadas ao assunto de estudo. Fora isso semanalmente nas terças-feiras das 18h as 18h30 se realizava uma reunião de planejamento e execução de atividades com os orientadores, neste horário vinham poucos alunos, mas sempre bem produtivo. A oficina realizada foi a de Cozinha Sustentável com a Nutricionista Gladis fazenda, uma oficina bem prática que os alunos participaram e demonstraram muita aceitação pois se fez receitas simples, saborosas e bem sustentáveis. Outra ação realizada foi com relação a reutilização e reciclagem de materiais com uma oficina prática, com materiais adquiridos pelo projeto PAEJA, com ajuda dos alunos e professores utilizamos técnicas para reutilizar o óleo de cozinha para fabricar sabão. Outra atividade realizada foram as entrevistas onlines com mais de 100 alunos de todas as etapas da Escola, para ter uma noção diagnóstica do conhecimento dos alunos sobre assuntos relacionados a sustentabilidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para tornar o projeto mais prático e vivencial, realizamos uma entrevista com mais de 100 alunos do EJA, para saber a opinião deles e como este projeto poderia ter um teor mais na área de conscientização e mudança de atitudes. Desta forma, como mostra o Gráfico 1, observamos que 86% dos alunos já viram perto de sua casa descarte irregular de lixo de diversas formas:

Gráfico 1

46


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Um pouco mais de 51%, no gráfico 2, nunca provou um alimento doce ou salgado com restos de alimentos ou talo e cascas de frutas e verduras:

Gráfico 2 Já no gráfico 3, 71% gostaria de participar de oficinas de cozinha sustentável na própria escola:

Gráfico 3 No gráfico 4, 72% gostaria de participar em alguma ação de revitalização e ajuda no seu bairro:

Gráfico 4 Por último no gráfico 5, podemos observar que 35% dos alunos nunca escutou falar nada sobre o assunto da sustentabilidade.

Gráfico 5 Por este meio conseguimos notar vários pontos positivos e negativos que poderiam ser melhorados, como promover oficinas de cozinha saudável, reaproveitamento de óleo de cozinha e oficinas de papel reciclado. A escola pode ter um papel de grande

47


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

importância para estes alunos e comunidade em geral, trazendo este tema transversal de suma importância em diversos momentos do cotidiano escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos parcialmente este projeto, pois realizamos oficinas interativas de cozinha saudável, oficinas de reciclagem de óleo e fabricação de sabão, demos inicio a composteira com resíduo orgânico proveniente da cozinha e também levaremos a cabo até o final do ano, diversas ações e a participação ativa dos alunos, corpo docente e funcionários, como uma oficina de reciclagem de papel, tendo a sustentabilidade como uma meta mas, que só será alcançada, quando tornar a conscientização algo que transforme atitudes e maneiras de agir e de pensar. Sustentabilidade não deve ser só uma palavra da moda, mas, sim, um estilo de vida que se vivencie diariamente com escolhas que tornem o mundo um lugar cada vez melhor, com mais qualidade de vida e com seres menos egoístas tornando nosso viver bem melhor do que foi ontem.

48


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO: metodologia dialética na EJA e os desafios do educador na contemporaneidade

Rejane Beatriz Verardo25

INTRODUÇÃO A partir das reflexões sobre minha prática docente, cujo tema Lendo o Mundo Através dos Livros, com uma turma de nível 2 da EJA, percebi que nem tudo o que pensamos fazer pode dar certo ou estar a contento dos alunos e que precisamos estar preparados para enfrentar os desafios e mudar de estratégia, quando nossos métodos pedagógicos não estão adequados à realidade da turma. O comprometimento com a docência se reflete nas nossas ações como no resultado do nosso trabalho. O que me levou as seguintes inquietações: Será que planejamos para nossos alunos ou para nós mesmos? Até que ponto possibilitamos o protagonismo do educando na busca do conhecimento? O objetivo deste trabalho é suscitar reflexões sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na EJA, sob um olhar crítico, trazendo para discussão e análise o Método Materialista Dialético de Paulo freire, de encontro com a Metodologia Dialética de Celso Vasconcelos. Percebendo a carência de uma política pedagógica específica que pense a práxis do ensino-aprendizagem da EJA, senti a necessidade de aprofundar o assunto sobre a metodologia dialética, levando em conta as especificidades desta modalidade e, desta forma, contribuir no sentido de provocar a reflexão sobre a práxis docente, se quisermos de fato fazer a transformação da realidade.

1. METODOLOGIA DIALÉTICA: conceito e origem Dialética é uma palavra com origem no termo em grego dialektiké e significa a arte do diálogo, a arte de debater, de persuadir ou raciocinar. Para os gregos, dialética era separar fatos, dividir as ideias para poder debatê-las com mais clareza. A dialética também é uma maneira de filosofar, e seu conceito foi debatido ao longo de décadas por diversos filósofos, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Hegel, Marx e outros. Dialética é o poder de argumentação, mas também pode ser utilizado em um sentido pejorativo, como um uso exagerado de sutilezas. Consiste em uma forma de filosofar que pretende chegar à verdade através da contraposição e reconciliação de contradições. A dialética propõe um método de pensamento que é baseado nas contradições entre a unidade e multiplicidade, o singular e o universal e o movimento da imobilidade. O método dialético de conhecimento se pauta, pois, pela construção do conhecimento a partir do movimento do pensamento que vai do abstrato (enquanto indeterminado, com relações não apreendidas) ao concreto (de pensamento).

25. Assessora Pedagógica do PAEJA/Fundação La Salle. Graduada em Pedagogia, Formação em Coordenação Pedagógica e Pósgraduanda no curso de Formação Docente no Ensino Superior da UNILASALLE.

49


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Primeiro farei uma crítica à metodologia expositiva destacando dois aspectos: primeiro, do ponto de vista pedagógico corre-se o risco de não aprendizagem em função do baixo nível de interação entre sujeito-objeto de conhecimento. Segundo, do ponto de vista político o grande problema é a formação do homem passivo, não crítico, bem como o papel que desempenha como fator de seleção social. Já, a Metodologia Dialética baseia-se em outra concepção de homem e de conhecimento. Entende o homem como um ser ativo e de relações. De acordo com Vasconcelos (1992), a teoria dialética do conhecimento nos aponta que o conhecimento se dá basicamente em três grandes momentos: a Síncrese, a Análise e a Síntese. Ora, sendo essa dinâmica de conhecimento universal, vale também para a metodologia pedagógica em sala de aula. Ocorre, no entanto, que a sala de aula tem uma especificidade, qual seja o processo de conhecimento por parte dos educandos é dirigido pelo educador. Em função desta situação, tem-se a necessidade de uma tarefa de caráter pedagógico, referente à mobilização para o conhecimento, o que quer dizer que cabe ao educador não apenas apresentar os elementos a serem conhecidos, mas despertar, como frequentemente é necessário, e acompanhar o interesse dos educandos pelo conhecimento.

2. O PAPEL DO EDUCADOR Nós, educadores, somos mediadores entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Partindo desse pressuposto, fazer a transformação da realidade através da educação, é provar que não há nada mais sublime do que a docência fundamentada em uma educação inclusiva que valoriza as potencialidades de cada um, permitindo que se dê a aprendizagem à qualquer tempo. Freire nos diz que, (...) o educador, como tarefa primeira, tem que ter uma definição sobre seu papel, saber porque ele deve existir (ou não). Se não tem convicção disso, como pode educar? O específico do educador o não se restringe à informação que oferece, mas exige sua inserção num projeto social, a partir do qual desenvolva a capacidade de desafiar, de provocar, de contagiar, de despertar o desejo, o interesse, a vida no educando para que possa se dar a interação educativa e a construção do conhecimento, bem como a instrumentalização, para que o educando possa continuar autonomamente a elaboração do conhecimento. (FREIRE, 2011) Deverá agir como “facilitador das relações” e “problematizador das situações”. É claro que há a necessidade do educador dominar o conteúdo e dominar muito bem, para saber onde é importante dar ênfase, relacionar, criar, selecionar e organizar (caso contrário ele seria um simples “animador”) (VASCONCELOS, 1992). A provocação para a aprendizagem tem a ver com a sensibilidade para com as pessoas a quem se dirige, como significado que aquilo tem para ele, bem como ancor50


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

relação que tem com a existência. Trata-se de acompanhar a caminhada do educando na sua relação com o conhecimento, estando atento às nuances, ao momento, ao grau de interação.

Sujeito

Educador

Objeto de Conhecimento

Na metodologia dialética o objeto do conhecimento implica uma ação educativa no sentido de desafiar, estimular, provocar e ajudar o sujeito a estabelecer uma relação significativa com o objeto. É o que coloca Vasconcelos, quando se refere à metodologia dialética de conhecimento em sala de aula: A tarefa pedagógica, por sua especificidade, implica que num determinado período de tempo, num determinado espaço, um determinado grupo de sujeitos se debruce sobre um determinado objeto de conhecimento. Para que o objeto de conhecimento que o professor propõe torne-se objeto de conhecimento para o aluno, é necessário que o aluno, enquanto ser ativo que é, esteja mobilizado para isto, ou seja, dirija sua atenção, seu pensar, seu sentir, seu fazer sobre o objeto de conhecimento. A tarefa do educador é ajudar o educando a tomar consciência das necessidades postas socialmente, colaborar no discernimento de quais são as essenciais e na articulação delas com o objeto de conhecimento em questão. Numa sociedade massificadora e alienante, fica evidente a dificuldade do educador em realizar esta tarefa, mas também, por isto mesmo, a sua importância. (VASCONCELOS, 1992) Neste sentido, Freire acrescenta que é preciso possibilitar que, “voltando-se sobre si mesma, através da reflexão sobre a prática, a curiosidade ingênua, percebendo-se como tal, se vá tornando crítica” ou seja, “na formação permanente dos sujeitos, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. ” (1996, p. 39). Daí afirma Freire que “a reflexão crítica sobre a prática se torna exigência da relação teoria/ prática sem a qual a teoria pode ir virando blá-blá-blá e a prática ativismo” (1996, p. 22). O educador-mediador é aquele que olha para dentro do seu aluno, que é capaz de sentir, de escutar, que se preocupa com as aprendizagens do aluno, que inova sem medo de arriscar, que transmite confiança e que acredita no potencial de cada um, no sentido de desafiar, estimular, provocar e ajudar o sujeito a estabelecer uma relação significativa com o objeto de conhecimento.

3. APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS: EJA – ANOS INICIAIS Exemplo de prática desenvolvida com uma turma de nível 2, da EJA, no estágio curricular do VII semestre: Dentre tantas atividades significativas, destacarei a nossa vi51


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

sita à biblioteca da escola, onde realizamos uma pesquisa de campo. Tal atividade teve como proposta mobilizar o grupo a fazer uma releitura da biblioteca como um espaço cultural e de pesquisa, destinado a levar conhecimento às pessoas através dos livros. A turma toda tinha vergonha de ir à biblioteca porque se sentiam constrangidos por não saber ler e escrever corretamente. Foi então que pensei em incluir esta atividade, porque depois de observar e indagar sobre esta questão, descobri que alimentavam o desejo de poder sentar na biblioteca e ler um livro ou até mesmo retirá-lo emprestado para ler em casa, como outros alunos da escola fazem. Depois da visita os alunos pareciam ter quebrado o gelo. Sentiram que era possível participar de todos os espaços da escola e usufruir das coisas que tem a oferecer. Mais felizes ficaram quando, finalmente, retiram o seu primeiro livro emprestado da biblioteca, formalizando o cadastro. Às vezes basta um empurrãozinho e tudo se modifica. Mas, para que isso aconteça é preciso alguém com olhos de ver, com ouvidos de ouvir, com a sensibilidade de perceber as reais necessidades dos alunos. Essa é a verdadeira função do educador, a de abrir portas para consumar a inclusão na sua plenitude, não a de transmitir conhecimento, mas, a de ensinar a pescar o próprio peixe, com justiça, com dignidade e, sobre tudo, com respeito. Uma educação significativa deve partir das condições concretas de existência e para isto, o educador, enquanto articulador e coordenador do processo, precisa ter um bom conhecimento da realidade com a qual vai trabalhar: alunos, escola, comunidade, sociedade, assim como a ciência que vai ministrar. Não se trata de conhecer a “vida íntima” de cada aluno, membro da comunidade, etc., mas de apreender suas principais características, seus determinantes. Com relação aos alunos, é importante que conheça suas necessidades, interesses, representações, valores, experiências, expectativas, problemas que se colocam, etc., como forma de ter pontos articulação com o conhecimento a ser construído. O educador deverá entender o educando, seu ponto de vista, para saber como ajudá-lo na construção do conhecimento (seja pelo estabelecimento de contradição, pela problematização, etc.). (VASCONCELOS, 1992)

4. NA AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO QUE SE DÁ A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO É na ação-reflexão-ação que construímos conhecimento. Do ponto de vista pedagógico para Vasconcelos (1992), quanto mais próximo for o processo de direção, por parte do educador, do processo de elaboração do conhecimento, maiores serão as probabilidades de uma assimilação eficaz. Mais próximo não significa, necessariamente, “mais concreto”, no sentido vulgar (como empírico, palpável) e sim, mais concreto no sentido filosófico (síntese de múltiplas determinações). Lembro aqui os três sustentáculos da educação que fornecem, de algum modo, os elementos básicos para aprender a viver juntos: APRENDER A CONHECER - APRENDER A FAZER - APRENDER A SER.

52


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Compreender o mundo para fazer a transformação da realidade. O ato de transformar o mundo e de compreendê-lo no processo de sua transformação acaba sendo, necessariamente, um ato social, coletivo, que não deve significar ação de um sobre o outro, de um para o outro, mas sim de um com o outro – e com todos os outros –, de forma verdadeiramente dialógica, sem opressores ou oprimidos. Neste sentido Freire diz que, a existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. (2005, p. 90)

CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo da compreensão de mundo, a metodologia materialista dialética por Freire, é o processo pelo qual o sujeito enfrenta o fenômeno de pesquisa e o apreende e dele toma consciência enquanto totalidade. Esta metodologia fica clara na descrição, em Pedagogia do Oprimido, de como o educador investiga os temas geradores, de como ele, no diálogo com os educandos, consegue decodificar as temáticas significativas, de forma a ter acesso aos elementos constitutivos das situações-limite dos educandos. A investigação destas temáticas será, portanto, a “investigação do próprio pensar do povo [...], que não se dá fora dos homens, ou em um homem só, ou no vazio, mas nos homens e entre os homens, e sempre referido à realidade”. (FREIRE, 2005, p. 117). A inter-relação professor/aluno, o conhecimento do meio ambiente onde vivem os educandos, a utilização dos diferentes meios de comunicação, pode contribuir, para o desenvolvimento pessoal e intelectual de cada aluno. Os conhecimentos básicos desempenham, aqui, um papel importante: ler, escrever e contar. Além das três dimensões da educação: ética e cultural; científica e tecnológica; econômica e social, a educação é, também, uma experiência social, em contato com a qual o sujeito aprende a descobrir-se a si mesmo, desenvolve as relações com os outros, adquire bases no campo do conhecimento e do saber-fazer. De acordo com Vasconcelos: A tarefa pedagógica, por sua especificidade, implica que num determinado período de tempo, num determinado espaço, um determinado grupo de sujeitos se debruce sobre um determinado objeto de conhecimento. Para que o objeto de conhecimento que o professor propõe torne-se objeto de conhecimento para o aluno, é necessário que o aluno, enquanto ser ativo que é, esteja mobilizado para isto, ou seja, dirija sua atenção, seu pensar, seu sentir, seu fazer sobre o objeto de conhecimento. (VASCONCELOS, 1992)

53


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

É neste sentido que, para Paulo Freire, “uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade”. Para ele, “a autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser” (2002, p. 121). Ou seja, só pode haver autonomia para o ser inacabado que tomou consciência do seu inacabamento decidindo-se, ética e responsavelmente por sua própria liberdade. Nestes termos, “ninguém é sujeito da autonomia de ninguém”. (FREIRE, 2002, p. 121). O diálogo aparece como categoria fundamental na escrita de Paulo Freire, é elemento constitutivo do agir humano. Uma reflexão não abstrata, interveniente e transformadora da realidade concreta, “intervir no mundo” é uma vocação ontológica, isto é, para além da tomada de consciência como uma espécie de qualidade extrínseca, dos fatos, dos acontecimentos, a conscientização é exigência humana, é um dos caminhos para pôr em prática da curiosidade epistemológica. Para que haja uma aprendizagem significativa, o educador deve valorizar a autoria dos educandos, dando espaço para o protagonismo, através da participação em grupo, do trabalho coletivo, contextualizado, da experiência, da pesquisa, partindo dos conhecimentos prévios da turma, fazendo com que o aluno desconstrua e reconstrua conhecimento, para fazer a transformação da realidade, partindo de situações reais e concretas. Segundo Vasconcelos (1992): A educação dialética, apropriando-se dessa percepção, procura traduzí-la pedagogicamente para a situação de sala de aula, onde também se coloca a necessidade de construção do conhecimento, respeitadas as devidas diferenças. Pela problematização o educador estabelece contradição com o conhecimento parcial, equivocado, que o aluno traz, possibilitando a superação deste estágio de conhecimento.

Como sustenta Paulo Freire: Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência (2002, p. 98). Nesses termos, o nosso procedimento diz respeito à ontologia do inacabamento em Paulo Freire, para quem a “inconclusão do ser humano” é o seu ponto de partida, pois, “o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente (FREIRE, 2002, p. 55) Para o Materialismo Dialético a totalidade, enquanto categoria filosófica, o objeto do saber, portanto, não pode ser o mundo abstrato, o mundo que existe apenas nas ideias, mas ao contrário, o mundo concreto, as situações reais, enfim, o mundo material. Abstrato e concreto formam um único método de conhecimento, onde como opostos se dialetizam no ato de pensar. Um conhecimento, para levar à ação, deve ser carregado de significado (compreensão) e de afetividade (envolvimento emocional). 54


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

CAPÍTULO VII

DEPOIMENTOS DISCENTES Este capítulo contém depoimentos de alunos e alunas participantes das ações do Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA), da EMEF João Baptista Jaeger e EMEF Senador Salgado Filho, do município de Novo Hamburgo, coletados pela equipe do projeto, entre novembro e dezembro de 2018. Os relatos abordam aspectos positivos e negativos da participação dos educandos e educandas nas ações desenvolvidas, bem como sugestões de atividades e de continuidade do projeto nas escolas.

RELATOS DE ALUNOS E ALUNAS DA EMEF JOÃO BATISTA JAEGER “O PAEJA foi bom. Nas oficinas aprendi muita coisa nova nesse meio de ano. Foi ótimo aprendermos a fazer uma composteira e como plantar as verduras de outras maneiras. Os passeios são bons, alguns como educação física, foi bom para aprender mais sobre a nossa cidade. O passeio para os museus foi ótimo também para aprendermos mais sobre nossa cidade. Resumindo, não tem projeto que nos ensina e nos passa as melhores dicas. Adorei muito todos os passeios. Abraços T3”.

“O projeto PAEJA foi importante em vários aspectos, por exemplo na campanha do agasalho, nos vários passeios, reuniões de confraternização e etc.”.

“Eu gostei muito deste projeto porque tinha muitas atividades que incentivaram os colegas a irem para as aulas. Os professores são muito legais, eu adorei o curso. Uns ajudam os outros e se preocupam com a gente, isso é que forma uma família unida”.

“Eu achei o projeto muito importante e interessante, pois agrega conhecimentos e cultura. Uma das saídas mais importante foi a ida ao teatro Feevale”.

“Ao longo deste ano foram feitas muitas ações, para que os alunos e professores andassem em sintonia e promovessem a inclusão e o aprendizado de modo geral. Na minha opinião foi obtido sucesso nos objetivos estabelecidos. Parabéns! ”.

55


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

“Esse projeto foi muito importante. Porque ajudou os alunos que não vinham mais a voltar para escola. Faltaram alguns equipamentos para a escola, mas os passeios foram muito bons. Quero agradecer a todos que ajudaram neste projeto. Obrigado”.

“Gostei muito da escola, especialmente dos professores. De todas as escolas que eu fiz eja, essa foi a única que eu encontrei professores tão maravilhosos, sempre alegres, com um jeito muito legal e interessante de ensinar, sempre dispostos a ajudar”.

“Gostei das oficinas, dos passeios, busca ativa, pois tinham pessoas que não gostavam de vir para as aulas por não ter muitas diversidades, mas com o apoio dos colaboradores com projetos novos, atraíram mais alunos”.

“Achei muito importante o incentivo com os alunos, indo nas casas, buscando sempre apoiar, ajudar. Os passeios sempre muito agradáveis. O papel da PAEJA é muito importante na escola, pois nos faz sentirmos importantes. É bom saber que estas pessoas se importam com a educação no Brasil. A Fran (Educadora Social), é um amor de pessoa, sempre muito querida e educada”.

“Através do PAEJA, conheci diferentes lugares e pude vivenciar grandes experiências, aumentando assim os meus conhecimentos”.

“Os projetos me motivaram a continuar estudando porque é sempre bom aprender coisas novas e os passeios nos tiraram daquelas aulas entediantes”.

“Achei muito produtivo o projeto e gostei muito de todos os momentos que tivemos em grupos nos passeios em tudo mesmo. Agradeço de coração tudo que fizeram por nós. Fran você é uma pessoa excelente e muito querida”.

“No PAEJA eu participei de alguns projetos, no qual eu tive oportunidade de fazer diversas amizades. Eu como líder da turma, tive várias ideias em que pude colocar em prática”.

“Bom o que eu gostei foi o projeto da cultura. Eu já adorava desenhos, mas esse projeto fez eu amar mais a arte. Também participei do futsal. Tem também uns professores muito legais, o que faz as aulas serem mais legais ainda”.

56


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

“Tenho 28 anos e após alguns anos longe das salas de aula tive o privilégio de retornar aos estudos na escola João Batista Jaeger. Pensava eu que as aulas seriam tediosas, cansativas, mas foi bem diferente do que eu tinha imaginado. Através do projeto de apoio a Educação de Jovens e Adultos #decolar, descobri que tinha muito mais do que caneta e papel, tinha corpo e movimento. Sustentabilidade, audiovisual, arte e grafite sem contar com eventos que alavancam a cultura com a nossa semana farroupilha. Acabei conhecendo profissionais maravilhosos que atuam na área da educação”.

“Eu participei das oficinas de grafite, que foi massa e da dança no qual me soltei bastante. Achei muito bom os passeios e as palestras. A ida ao museu também gostei bastante. Enfim teve várias coisas que gostei, até mesmo um grupo de jovens que a Fran e a Dani fizeram na quarta-feira e a camiseta da escola que está muito bonita, to curtindo muito a volta à escola”.

“O projeto mês mostrou um tipo de arte que eu já conhecia mais não tinha convicção da história do grafite, da sua origem e das suas discriminações. Grafite é arte, cultura e um modo de se expor”.

“Comecei no projeto em agosto, participei do projeto corpo e movimento. Participei de todos os passeios que podia, um em específico foi o da feira do livro, que amei muito e que ocorreu um show. Mas o melhor de tudo nesse projeto sem dúvida nenhuma foi a vinda da Fran para a escola, uma pessoa incrível que eu amei conhecer e que por mim, poderia continuar muito tempo na escola. Amei os projetos que tive com ela, principalmente da organização para o Halloween. Sem dúvida nenhuma ela foi a melhor parte do projeto”.

“Sustentabilidade: uma oficina de compostagem Adorei o projeto pois aprendi muitas coisas que ainda não sabia, como por exemplo, como fazer pequenas hortas em casa pra quem tem pouco espaço. A Mostratec foi um passeio onde foram desenvolvidos trabalhos com os alunos da escola e foi muito bom ver grandes aprendizados de todos. Esperamos ter muitos passeios e trabalhos onde possamos tirar proveito das coisas boas”.

“Quero agradecer toda a dedicação e aprendizado, vocês são incríveis e tudo que fizeram pela nossa escola foi o melhor que já tivemos. Obrigada PAEJA por todo aprendizado”.

57


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

“Só tenho que agradecer pelos projetos, no qual teve muitas palestras bem interessantes, passeios ótimos e a Francine é uma ótima professora que está sempre fazendo o seu melhor”.

“Eu gostei do projeto porque aprendemos muitas coisas uteis ao nosso dia-a-dia, como por exemplo, o projeto que fizemos de sustentabilidade, sobre como separar o lixo seco do orgânico (papel, vidro, plástico, verduras, etc). É muito prazeroso para quem tem oportunidade de aprender e ensinar as pessoas. Muito obrigada “PAEJA”. Pensando no nosso futuro: #vida”.

“O projeto foi maravilhoso, nos ajudou em todos os sentidos, tivemos belos passeios e atividades. Eu participei do corpo em movimento. É um ótimo projeto com pessoas qualificadas como a professora Francine e a professora Rejane, só tenho que agradecer por toda a ajuda”.

RELATOS DE ALUNOS E ALUNAS DA EMEF SENADOR SALGADO FILHO “Bom eu acho que esse projeto está ajudando muito gente que não teve chance de estudar e que está atrasado como eu, e também está sempre trazendo novidades como museu, também cinema e agora vai ter a feira do livro, e também participei das oficinas de grafite. E o que eu acho que podia mudar era o respeito das pessoas dentro da escola e com os professores”.

“É criativo, vários projetos interessantes, participei de vários projetos no PAEJA, fiz oficinas de dança, grafit, feira do livro, PUC. Estou achando bem legal e interessante, e até mesmo hoje participei de uma palestra interessante”.

“Eu acho bom os projetos. Eu fui em 2 projetos, grafite e robótica, e a robótica me ajudou muito no conteúdo de matemática. E o grafite me ajudou em artes. Queria um projeto em esporte”.

“Gostei bastante da aula de robótica, mas poderia ter mais sobre programação. É um grande incentivo.... Montamos robôs e programamos. Tivemos bastante conhecimento sobre robótica, mas poderia ter mais sobre programação, mais intensivo um 58


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

curso de informática. A escola tem tudo! Tem os computadores, o que falta para eles começarem a serem usados? Tem muitas pessoas no colégio Salgado Filho com conhecimento em informática, mas o que falta é oportunidade, mas em fim não depende só do colégio. TI é uma área que cresce muito a cada ano, deveria ser mais focado nessa área. E cada vez mais o mundo depende da computação para tudo... Mas isso já é um grande passo. Espero que dê certo”.

“Eu achei bem legal essas atividades que o grupo anda trazendo, gostei bastante da ida ao cinema. Queria que estas atividades continuassem tendo na escola porque achei bem interessante. Importante também para nos distrair um pouco e aprender mais como nas oficinas. Não fui na primeira, mas na segunda fui e gostei bastante, podem repetir isso na escola”.

“Olá! Me perguntaram sobre as oficinas que foram patrocinadas na escola, bom ao meu ver todas foram boas cada uma. Por que atendeu a todos os alunos cada um do seu jeito. Sei que deu certo porque ouvimos os comentários que o pessoal tinha gostado. Foram várias coisas feitas ao longo do ano, eu particularmente gostei pois sempre que tinha um passeio ou uma oficina ficava animada para ver o que seria feito, e a gente via o interesse dos professores em estar junto com a turma. Gostaria que esse tipo de trabalho continuasse para o próximo ano”.

“Eu gostei muito da oficina que escolhi, foi muito legal. Eu aprendi a grafitar e foi show, eu achei que essas oficinas eram para matar tempo de aula, achei que era um saco, mas eu vi que era bem maneiro, eu gostei muito”.

“Eu gosto da camiseta da escola com serigrafia. Queria aprender mais sobre serigrafia. Eu gostei muito do cinema, foi muito importante para a gente ver sobre isto. Eu gostei muito do projeto na escola”.

“Achei a ideia de projeto muito legal, com diversos conteúdos para diversos gostos. As oficinas foram um novo aprendizado em meio a tantos, achei superinteressante aprender algo diferente das outras matérias de sempre. Os passeios unem um pouco mais os alunos, acho que deviam fazer mais passeios nesse projeto. As oficinas me proporcionaram uma nova experiência, sou muito grata! Obrigada”.

“Eu participei apensas de uma oficina, pois eu entrei nesse último trimestre. Achei interessante e diferente, fiz a oficina de grafite, foi bacana, mas ouvi falar dos outros projetos da PAEJA e pelo jeito foi diferente, legal. No meu contexto o PAEJA é muito interessante para colocar em atividade em outras escolas”. 59


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

“O EJA para mim foi um aprendizado muito bom, nossa turma fez coisas muito legais. Tivemos muitas palestras, sobre emprego, sobre sexo e coisas relacionadas a tal, fomos ao cinema, passeios idas à feira do livro. E o projeto que eu mais gostei foi poder participar de um curso na ASBEM”.

“Eu adorei as oficinas de grafite e dança, e os passeios que a gente foi estava muito legal e a palestra que tivemos sobre sexualidade e aprendemos muito. Além disso tivemos o passeio para o museu da PUC que a gente se divertiu muito. Na formação de líderes é muito legal pois fazemos muitas gincanas com a escola”.

“O PAEJA para mim foi um diferenciamento. Ele fez a diferença pelo incentivo agregando várias oficinas que fez que os alunos tivessem mais entrosamento. Causou polêmicas, o que era rotineiro, tornou-se mais prazeroso, ficávamos esperando ansiosos pelo dia seguinte. Como exemplo eu estava faltando bastante. A Neusa que é uma das meninas do projeto conversou comigo me mostrando a importância da não desistência. Ainda me senti tão valorizada quando vi que a frase que eu tinha feito foi escolhida para as camisetas, fiquei estonteante….”

“Eu gostei muito das oficinas que vocês fizeram e uma delas que eu gostei muito mais foi a da robótica, mas as outras também foram muito boas. E a minha opinião sobre as próximas oficinas que poderiam ter na escola é de mecânica. A oficina de robótica foi muito boa para aprender como funciona as tecnologias dos robôs. E parabéns pelo ótimo trabalho”.

“A cada oficina, passeio, saída de estudos, palestras, aprendemos mais e mais... A convivência e a interação com a natureza através da renovação e preparação dos canteiros, nos motivou ao cultivo de plantas em nossas casas. Conhecemos mais sobre os índios, seus hábitos e costumes.... Mais saúde e qualidade de vida com a oficina de biomassa! Adoramos ir ao museu, conhecemos e aprendemos sobre coisas e fatos que nem imaginávamos! O PAEJA nos proporcionou diferentes formas de aprendizagens e vivências, muito bom”.

60


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

CAPÍTULO VIII

COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS Fortalecer o coletivo escolar da Educação de Jovens e Adultos das escolas, EMEF Senador Salgado Filho, bairro Canudos e EMEF João Baptista Jaeger, bairro Santo Afonso, município de Novo Hamburgo/RS, visando a ampliação do acesso e da permanência do educando/a, a elevação de sua escolaridade e a qualificação das ações educativas desenvolvidas, com atividades interdisciplinares, proporcionando a troca de saberes e fazeres, na promoção da autonomia e do protagonismo do sujeito na busca do conhecimento, é o objetivo geral do Projeto #Decolar. O Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA), trouxe para a escola a desacomodação do lugar de origem, espaços e tempos da EJA. As ações proporcionaram o acolhimento, o trabalho compartilhado e a valorização de vivências e saberes da comunidade escolar, num ambiente colaborativo e de aprendizagens significativas, promovendo transformações e a construção conjunta do conhecimento. Após análise do diagnóstico da realidade realizado nas duas escolas pela equipe PAEJA, observou-se a necessidade do projeto contribuir para repensar a práxis escolar e desenvolver ações e mecanismos que pensassem o aluno como sujeito na construção do próprio conhecimento, envolvendo os trabalhadores da educação, professores e equipe diretiva. Neste sentido, foram planejadas ações de formação permanente e de integração, levando em consideração a interdisciplinaridade entre as diversas áreas do conhecimento, favorecendo a participação e cooperação entre educandos/educadores/ equipe diretiva, tornando o processo de aprendizagem mais dinâmico e significativo, buscando, desta forma, valorizar o protagonismo e a autonomia do sujeito na construção do conhecimento e o desenvolvimento das habilidades, potencialidades e pensamento crítico. Neste capítulo, apresentaremos os registros das ações desenvolvidas durante o período de realização do projeto no ano de 2018: Atividades dos Eixos Temáticos; Saídas de Campo; Formação de Líderes; Oficinas de Empregabilidade; Formação Docente; Articulação de Rede; Reuniões de Equipes.

1. ATIVIDADES DOS EIXOS TEMÁTICOS ...os Projetos de Trabalho contribuem para uma (re)significação dos espaços de aprendizagem de tal forma que eles se voltem para a formação dos sujeitos ativos, reflexivos, atuantes e participantes. (HERNANDES, F.; MONTSERRAT, V, 1998)

Os eixos temáticos foram elaborados a partir do resultado das sondagens realizadas nas escolas pelo PAEJA, com o principal objetivo de valorizar o protagonismo 61


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

dos educandos, proporcionando atividades interativas que possibilitaram a percepção de outros saberes. Inicialmente foram pensadas oficinas e projetos, divididos em cinco eixos temáticos: Cultura, Audiovisual, Tecnologia, Corpo e Movimento, Sustentabilidade. A participação dos alunos, alunas e professores nas atividades se deu por área de interesse. Na EMEF João Baptista Jaeger as atividades foram desenvolvidas no formato de projeto de pesquisa onde os professores construíram com os educandos os temas que seriam pesquisados, assim como sugestões de oficinas que auxiliariam no desenvolvimento dos projetos. Os encontros dos eixos temáticos ocorreram durante os dois semestres de 2018, intercalando orientadores e alunos com as oficinas. O Eixo da Cultura trabalhou com o Grafite e teve como pano de fundo os monumentos da cidade de Novo Hamburgo; o Audiovisual se juntou ao Eixo da Tecnologia e desenvolveram a comunicação digital a partir da criação de um Blog e Vlog com assuntos do cotidiano da escola; no Eixo Sustentabilidade o tema foi reaproveitamento de alimentos e o descarte correto do lixo doméstico; já no Eixo de Corpo e Movimento a pesquisa abordou a importância da atividade física para a saúde. Os projetos elaborados nos eixos ocuparam espaços além das salas de aulas, foram apresentados em feiras e se fizeram presentes em outras escolas, como o Projeto do Grafite, desenvolvido pelo Eixo da Cultura. Na EMEF Senador Salgado Filho as oficinas por eixos ocorreram no segundo semestre, uma no mês de setembro com as oficinas de Grafite - Eixo Cultura, Robótica – Eixo Tecnologia, Compostagem – Eixo Sustentabilidade, Dança Urbana – Eixo Corpo e Movimento. No mês de outubro ocorreu a continuação das oficinas de Grafite, Robótica e Dança Urbana, sendo também realizado a oficina de Biomassa no Eixo Sustentabilidade. Também foram realizadas outras oficinas em horário e dias diferentes: a Horta na Escola e Educação Ambiental do Eixo Sustentabilidade, de Serigrafia, de Mandala e de Instrumento Musical Indígena do Eixo Cultura. Percebemos que os eixos temáticos contribuíram nas ações pedagógicas para a escola, porque possibilitaram o protagonismo dos educandos de forma ativa, promovendo a integração entre os pares e a troca de experiências entre oficineiros e integrantes da escola, enriquecendo as práticas pedagógicas e os conceitos trabalhados.

62


Trajetรณria coletiva na perspectiva inclusiva

63


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2. SAÍDAS DE CAMPO Com o objetivo de potencializar as relações de aprendizagens, o PAEJA em parceria com as escolas participantes, a EMEF João Baptista Jaeger e a EMEF Senador Salgado Filho, foi possível planejar saídas pedagógicas que dialogassem com as temáticas que estavam sendo trabalhadas em aula, levando em consideração o interesse dos(as) educandos(as), no levantamento feito nas sondagens realizadas, onde escolheram locais que gostariam de conhecer. A escolha dos locais a serem visitados foi pensado em conjunto com as equipes diretivas, professores e equipe PAEJA. Esta ação possibilitou a integração da comunidade escolar, com a cidade e outos espaços ainda não visitados, ampliando assim, o conhecimento e o fortalecimento de vínculos no convívio social, ao mesmo tempo em que promoveu aprendizagens significativas além dos muros da escola, onde a articulação entre teoria e prática se faz presente e vai do subjetivo ao concreto, ou seja, fora da sala de aula. Foram realizadas visitas técnicas, culturais e de integração: EMEF João Baptista Jaeger: Visita ao Museu Egípicio/Porto Alegre; Visita ao Planetário/Porto Alegre; Conhecendo Minha Cidade #PartiuNh; Visita ao SENAI NH; Assistir o Curta Diversidade e Inclusão/FEEVALE; Visita Cultural à Gramado. EMEF Senador Salgado Filho: Assistir Filme Juracik World/Cinespaço NH; Visita ao Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS; Visita à Feira do Livro de Porto Alegre; Assistir o Curta Diversidade e Inclusão/FEEVALE; Visita Cultural à Dois Irmãos.

64


Trajetรณria coletiva na perspectiva inclusiva

65


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

3. FORMAÇÃO DE LÍDERES A Formação de Líderes teve início no ano de 2018, desenvolvida nas Escolas João Baptista Jaeger e Senador Salgado Filho através do PAEJA da Fundação La Salle, com a mediação das educadoras sociais Francini Valgas de Souza e Neusa dos Reis de Carvalho. Esta ação teve o objetivo de desenvolver a autonomia dos educandos por meio de planejamento de ações na escola, possibilitando a interação entre a comunidade escolar e o desenvolvimento de competências de liderança tais como empatia, comunicação, trabalho em equipe, autopercepção, entre outras. Inicialmente foi passado nas turmas e divulgado a formação de líderes, sua proposta e encontros. Na EMEF João Baptista foi acordado que seriam dois representantes por turma e na EMEF Senador Salgado Filho foi aberto para todos os alunos sem limite de inscrição. Os encontros ocorreram regularmente, com mediação realizada pelas educadoras sociais para a discussão de interesses e demandas da escola e comunidade. Durante o ano letivo o grupo permaneceu aberto para a entrada de quem se interessasse a participar dos encontros. As ações do projeto foram possíveis pelo espaço e horário disponibilizado pela equipe diretiva, que era informada sobre as atividades com o grupo, na observação dos acontecimentos dentro da escola. Na EMEF Senador Salgado Filho no primeiro semestre ocorreu a ação do “Café Beneficente” com a finalidade de ajudar pessoas em vulnerabilidade social através da doação de um sanduíche e um copo de café com leite, feitos e entregues pelo grupo no centro POP localizado em Novo Hamburgo. No segundo semestre foram desenvolvidas várias ações: a ação “Educação com Consciência”, realizada pelo grupo em cada turma, com propósito de conversar com os colegas sobre respeito dentro da escola, com divulgação de cartazes para conscientização de atitudes positivas no espaço escolar. A ação “Comemoração da Semana Farroupilha” com objetivo de promover uma atividade de cultura e lazer através da música gaúcha tradicional e distribuição de pipoca salgada feita pelo grupo. A ação “Outubro Rosa” para conscientização dos educandos da EJA sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e colo do útero, com entrega material informativo e fita rosa. A ação “Educação Ambiental” teve o objetivo de despertar o sentimento de apropriação do espaço escolar e proximidades do bairro Canudos, realizando uma caminhada em torno da escola no recolhimento do 66


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

lixo, praticando e refletindo sobre os cuidados com o meio ambiente, e teve a participação da professora Ceci na construção do plano de ação. Na última ação, a vice-diretora Catherine sugeriu ao grupo participar do “Dia de Doar”, organizado pela Associação Evangélica de Ação Social - AEVAS, na arrecadação de produtos de higiene e limpeza a ser entregue nos abrigos de Novo Hamburgo. Na EMEF João Baptista, a campanha “EJA Corações Quentes: aqueça outros corações”, foi a grande ação do primeiro semestre realizada pelo grupo de líderes. Esta ação foi além dos alunos da EJA e alcançou as famílias dos educandos do dia, na arrecadação e distribuição dos agasalhos. No segundo semestre, a partir de uma pesquisa realizada com os colegas, o grupo de líderes escolheu realizar ações que fortalecessem os vínculos e diminuíssem as faltas. Assim, foram realizadas ações de integração entre a comunidade escolar, como a Festa de Halloween que é um exemplo delas. Além disto, o grupo de líderes virou referência para outras ações da escola, a exemplo da organização das assembleias escolares. Foi possível perceber o envolvimento dos(as) educandos(as) e equipe diretiva na construção de ações positivas, assim como a ocupação e representação em diferentes espaços de fortalecimento da comunidade escolar.

67


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

68


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

4. OFICINAS DE EMPREGABILIDADE Dentre as ações desenvolvidas pelo Projeto PAEJA no período de 2018, foram realizadas palestras e oficinas voltadas para a preparação para o trabalho, com o objetivo de potencializar a formação continuada de jovens e adultos, assegurando conexões com o mundo do trabalho e articulando os currículos: da escolarização e da formação ao longo da vida. Desta forma, promover processo de integração dos sujeitos da EJA (Educação de Jovens e Adultos), considerando a articulação entre comunidade escolar e a cidade. Foram desenvolvidas oficinas de Como Elaborar Seu Currículo, Entrevista de Emprego, Palestra da AME (Agência Municipal de Emprego de Novo Hamburgo), Oficinas de apoio na construção de currículo.

69


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

70


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

5. FORMAÇÃO DOCENTE Durante o período de desenvolvimento das atividades do projeto, de maio à novembro de 2018, foram desenvolvidos encontros de formação continuada com os educadores e membros da equipe diretiva, nas duas escolas, EMEF João Baptista Jaeger e EMEF Senador Salgado Filho, participantes do Projeto de Apoio à Educação de Jovens e Adultos (PAEJA). Esta ação foi coordenada pela assessora pedagógica do PAEJA, Rejane Beatriz Verardo e teve por objetivo promover um espaço de escuta, debate e reflexão da práxis docente no processo ensino/aprendizagem, como formação permanente, visando contribuir para a construção coletiva da prática pedagógica na Educação de Jovens e Adultos. Foram trabalhadas as seguintes temáticas: Metodologia Dialética; Planejamento; Trabalho com Projetos; Avaliação na EJA; O Papel do Educador na EJA. A docência é uma atividade multifacetada que implica interação de conhecimento, atividades, estrutura, recursos e que envolve estudantes, professores, coordenadores de ensino, pessoal administrativo, pais, e em última instância o governo através das políticas públicas. Na esteira destes acontecimentos não há como se repensar o papel do professor e as características emergentes que requer o exercício do seu trabalho docente, sem avaliar todo o contexto que envolve a profissão. Ë na interação do professor com todos esses atores e com as variadas oportunidades de formação continuada que a profissão docente será socialmente construída. Neste sentido, se faz mister entender o trabalho docente da EJA na sua especificidade, pois, nada pode se dar isoladamente, educando e educador, todos devem caminhar juntos. Ensinar é uma arte que necessita ser aperfeiçoada a cada dia e requer criatividade e inovação.

71


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

72


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

6. ARTICULAÇÃO DE REDE Com a proposta de trabalhar em rede e de promover a integração entre o Projeto PAEJA e os demais projetos desenvolvidos pelo BID NH e com a Rede de Apoio ao Educando do município de Novo Hamburgo, estas reuniões tiveram o objetivo de trocar informações e articular com as demais ações previstas da Política de Segurança Cidadã e Prevenção as Violências, no intuito de aumentar o potencial de coesão social e possibilitar uma maior adesão e permanência dos(as) educandos(as) ao EJA. No período de 2018, foram realizadas diversas reuniões de articulação com a Rede de Proteção Social e Afetiva: UGPPV BID, SMED, PAEJA/Fundação La Salle, Comunicação Cidadã e Audiovisual/FEEVALE, Esporte, Lazer e Cultura/FEEVALE, Justiça Comunitária/ FEEVALE, Projeto de Fortalecimento/FEEVALE, CRAS, CREAS, ASBEM, Observatório – SEG, SECULT, Agência da Boa Notícia, Praça da Juventude, Unidade de Saúde da Família, Programa Jovem Aprendiz, AME, Pronatex, Dinc, SMEL, CAPS, famílias dos educandos/ as, Rede de Apoio do bairro Santo Afonso e Canudos,etc.

73


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

7. REUNIÕES DE EQUIPES As reuniões de equipes realizadas durante todo o período de 2018 tiveram por objetivo promover espaços de diálogo para a construção, o planejamento e alinhamentos das ações a serem desenvolvidas nas escolas, EMEF João Baptista Jaeger e EMEF Senador Salgado Filho, em parceria com o projeto PAEJA. Foram realizadas diversas reuniões entre as equipes de acordo com a necessidade: Equipe PAEJA; Equipe PAEJA/Fundação La Salle; Equipe PAEJA/SMED; Equipe PAEJA/SMED/ UGPPV BID; Equipe PAEJA/Equipe Diretiva da EMEF João Baptista Jaeger; Equipe PAEJA/Equipe Diretiva da EMEF Senador Salgado Filho.

74


Trajetรณria coletiva na perspectiva inclusiva

75


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

ENCARTE Página final com fotos do registro das turmas das duas escolas com as camisetas do Projeto PAEJA, em formato de um encarte.

76


Trajetรณria coletiva na perspectiva inclusiva

77


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Capítulo IX

Educação de Jovens e Adultos em escolas públicas mineiras: relações entre especificidades, atendimento e formação

Fernanda A. O. Rodrigues Silva26 Leôncio Soares27

RESUMO O trabalho traz resultados da pesquisa que vimos realizando nos últimos anos sobre as relações entre as especificidades que caracterizariam a EJA e a formação de seu educador. Analisa em que medida e de que modo as ações desenvolvidas em escolas públicas de dez municípios mineiros organizam a EJA. O estudo qualitativo traçou o panorama de atendimento da EJA nos municípios, levantou dados acerca das matrículas, das escolas, dos professores e das propostas pedagógicas. Foram realizadas reuniões com os gestores de EJA, visitas às salas de aula e entrevistas com alunos, professores e coordenadores. Os resultados apontam que os níveis de atendimento às características da EJA são diferenciados e acontecem dentro das possibilidades que a regulamentação municipal permite, inclusive a presença ou não de um coordenador municipal de EJA. Há reconhecimento por parte dos professores, alunos, coordenadores e gestores de que a Educação de Jovens e Adultos tem características próprias. Avaliamos que somente este reconhecimento não tem sido suficiente para amparar uma proposta de EJA consequente às particularidades ou às demandas do seu público. De acordo com dos dados, as terminologias ‘formação inicial’ e ‘formação continuada’ se mesclam. Para alguns educadores a formação inicial tem sido em serviço, no momento da formação continuada. A presença de um coordenador de EJA no quadro da secretaria municipal faz diferença tanto no tratamento oferecido à EJA quanto na formação diferenciada de seus educadores. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos.Escola pública. Formação docente.

1. INTRODUÇÃO A comunicação apresenta resultados do estudo28 realizado sobre as relações entre as especificidades que caracterizam a EJA, a formação do educador de jovens e adultos e a escola pública (SOARES, 2001; SILVA; 2013; SOARES; SOARES, 2014) e teve 26. Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto 27. Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais 28. A pesquisa que embasou a comunicação foi financiada pelo CNPQ.

78


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

como objetivo analisar em que medida e de que modo as ações desenvolvidas em escolas públicas consideram as especificidades da educação de jovens e adultos (EJA). O itinerário da pesquisa foi composto pelo mapeamento da oferta de EJA em duas microrregiões mineiras (de Belo Horizonte e dos Inconfidentes) representadas pelos municípios de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Lagoa Santa e Nova Lima (microrregião de Belo Horizonte) e Acaiaca, Diogo de Vasconcelos, Itabirito, Mariana e Ouro Preto (microrregião dos Inconfidentes). Após essa etapa selecionamos cinco escolas públicas de cada microrregião para aprofundar a análise. Os critérios de escolha destas escolas se balizaram em tempo de atendimento à EJA, espaços que tiveram a experiência com a produção de material didático próprio e a possível existência de artigos, dissertações e teses sobre elas. Foram realizadas observações, coleta documentale entrevistas com alunos, professores e coordenadores. Estudos anteriores (2009-2013) analisaram quatro projetos nacionais29 (SOARES; SOARES, 2014), dos quais foi possível elencar um conjunto de singularidades que caracterizam a EJA, como: (1) Legado da educação popular; (2) Diversidade dos sujeitos; (3) Recursos didáticos; (4) Proposta curricular; (5) Formação de educadores e (6) Políticas públicas adequados à EJA. Com os mesmos projetos, o tema da formação do educador da EJA foi aprofundado por Silva (2013) e dele emergem ideias-força de formação: (1) Centralidade do processo no educando; (2) Orientação permanente do educador por grupo multidisciplinar; (3) Contextualização histórica da EJA e do próprio Projeto; (4) Realidade do educando como princípio pedagógico; (5) Elaboração de instrumentos didáticos próprios e (6) Sistematização regular do trabalho e acompanhamento constante do trabalho em sala de aula. De posse dos atributos da EJA e das ideias-força de formação extraídas de projetos, a presente pesquisa se debruçou sobre o atendimento da EJA com vistas a compreender como se estabelecem as relações entre especificidades, formação e atendimento da EJA em escolas públicas municipais. Para tanto, buscamos entender os municípios do ponto de vista da demanda e da oferta de EJA, das propostas pedagógicas e das atividades de formação do educador. Espera-se que a pesquisa possa fornecer elementos sobre a organização do trabalho escolar e a formação do educador para a EJA em nível regional de modo que possamos comparar com os achados da pesquisa anterior e explorar as demandas que essas práticas fazem aos cursos de formação de educadores da EJA. Perguntamo-nos, então, qual a formação inicial e como tem sido a formação continuada do educador da EJA nas redes públicas de ensino dadas as particularidades dos municípios. Com os argumentos construídos, concluiu-se que as especificidades e as ideias-força são elementos potenciais à construção de elementos estruturantes da formação do educador de EJA.

29. Projeto Paranoá (DF), Projeto Escola Zé Peão (PB), Projeto Ensino Fundamental (MG), Centro de Educação do Trabalhador Paulo Freire (RS).

79


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR O campo da Educação de Jovens e Adultos cresceu exponencialmente após o advento da redemocratização no paísa partir de 1985 com o fim da ditadura militar. Isso não quer dizer que ele foi menos importante no passado. Entendemos por educação de jovens e adultos o que Haddad e Di Pierro (2000) definiram como um conjunto muito diverso de processos e práticas formais e informais relacionados à aquisição ou ampliação de conhecimentos básicos, de competências técnicas e profissionais ou de habilidades socioculturais. Beisiegel (2004) e Paiva (2003) abordam em seus estudos como a educação de adultos se constituiu ao longo da história como campo de lutas, de conquistas, de políticas e de pesquisas. Brandão (2002) reflete como o legado da educação popular, tal como defendido nos anos de 1960, se incorporou às propostas de escola cidadã surgidas a partir de meados dos anos de 1980. Arroyo (2011), por sua vez, discute a Educação de Jovens e Adultos como um campo de direitos e de responsabilidade pública. A Constituição Federal de 1988 pode ser compreendida nessa trajetória como um marco das conquistas expressas no Art. 205 que estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado. Esse direito é novamente afirmado no Art. 37 da LDBEN de 1996. O Parecer 11/2000 do Conselho Nacional de Educação estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos. Recentemente, em 2007, outro passo importante foi dado em direção à garantia do direito à educação dos jovens e adultos com a inclusão da EJA no FUNDEB. Simultaneamente a esses marcos legais, presenciamos a organização da oferta de educação de jovens e adultos por meio de projetos e programas nas esferas municipais, estaduais e federal30. O movimento dos Fóruns de EJA, iniciado em 199631, também impulsionou o avanço do campo da EJA na medida em que estabeleceu espaços de discussão da políticapública, do intercâmbio de experiências, da divulgação da pesquisa resultando em importantes movimentos como a realização anualmente dos ENEJAs (Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos) culminando com a realização da VI CONFINTEA (Conferência Internacional de Educação de Adultos) em 2009 no Brasil. Ainda como desdobramento dos ENEJAs, teve início uma série de seminários nacionais sobre a formação do educador de EJA. O primeiro deles foi sediado na Belo Horizonte (2006), seguido de Goiânia (2008), Porto Alegre (2010), Distrito Federal (2012), Campinas, SP (2015). Mesmo que o panorama seja revelador da visibilidade e do crescimento que o campo da EJA vive na contemporaneidade, muito ainda há que ser realizado para que o direito à educação dos jovens e adultos seja, de fato, efetivado. Fávero (2009, p. 92) avalia a trajetória da EJA como um passado de histórias e um presente de promessas, porém, “não mais meras e repetitivas campanhas de alfabetização, nem ofertas facilitadas do ensino copiado do sistema regular, mas ações educativas que preparem para a vida, para uma nova vida, ao longo de toda a vida.” Pensar a EJA para além de campanhas de alfabetização, faz-se necessáriorefletir que a formação dos educadores tem se inserido na problemática mais ampla da insti30. MOVA, PAS, PRONERA, PBA, PROJOVEM, PROEJA, PRONATEC. 31. Para saber mais ver Soares (2004).

80


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

tuição da EJA como um campo pedagógicoespecífico que, desse modo, requer a profissionalização dos seus agentes. Não raras vezes, o cotidiano desses profissionais consiste em uma série de improvisos e de transposições para os jovens e adultos das atividades desenvolvidas com crianças. Essa situação é preocupante na medida em que um ensino de qualidade demanda corpo docente qualitativamente preparado com condições adequadas de trabalho e remuneração. Soares (2001, p. 93) afirma que “formar o professor não é apenas qualificá-lo em uma ‘áreaespecífica’, capacitá-loteórica e metodologicamente para ensinar determinado conteúdo, mas é também formá-lo para enfrentar e construir a ação educativa escolar em sua totalidade”. A busca pela totalidade a qual se refere o autor encontra ressonância na formação adequada para atuar na EJA. De acordo com Moll (2004) o descaso com a EJA pode estar começando aos poucos a ser revertido pela ação local dos municípios e de seus parceiros. Seguindo com Soares (2001) e Moll (2004) pode-se concluir que uma das formas de retirar os jovens e os adultos do anonimato estatístico seria adequar a formação do educador a esse estudante. Os trabalhos acadêmicos que se referem à temática da formação (MACHADO, 2000; MOLL e VIVIAN, 2007; VÓVIO, 2010; LAFFIN, 2012, ALVARENGA, 2016), alertam que a formaçãorecebida pelos professores, normalmente por meio de treinamentos e cursos aligeirados, é insuficiente para atender as demandas da educação de jovens e adultos. Os autores concluem que, para se desenvolver um ensino adequado a esse público, é necessário uma formação inicial consistente, assim como um trabalho de formação continuada. Há quase unanimidade na constatação das dificuldades enfrentadas pelos professores em sua prática e da necessidade de preparaçãoespecífica dos professores para atuarem na EJA. Ribeiro (1999, p.197), entre outros, sugere que a temática da EJA deva compor os currículos de todos os cursos de formação de professores em largo espectro. Daí a necessidade de se pensar como seria a formação desse educador tanto inicial quanto continuada. Estudo anterior (SILVA, 2013) reafirmou as relações entre o processo formativo e a atuação docente a partir da hipótese de que ‘o lugar do aluno da EJA nas propostas pedagógicas incide diretamente na prática pedagógica’. Um dos resultados da investigação apontou que os quatro projetos centram o processo educativo no aluno da EJA, ou seja, estabelecem o aluno como princípio pedagógico. Em se tratando da rede pública de ensino, no caso das microrregiões de Belo Horizonte e dos Inconfidentes, faz sentido estudar a formação dos educadores da EJA e a atuação docente levando emconta que a EJA se constitui a partir de seus estudantes. Estudantes esses que buscam uma escola que se adapte a eles e não o contrário, ou sejam, o que estamos chamando de escola de qualidade. Reconhecemos a polissemia do termo ‘qualidade’ e optamos por coincidir com Paiva (2013, p. 90) que qualidade é “assumir compromisso com sujeitos de direito que vivenciam o ambiente escolar, construindo e reconstruindo suas vidas em/a partir desse ambiente.”

81


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

3. MICRORREGIÕES E OFERTAS DE EJA 3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIO Belo Horizonte: capital do estado. O município tem sistema próprio de educação. Belo Horizonte possui 119 escolas que oferecem EJA e também em 45 espaços não escolares. Foram localizadas pesquisas de pós-graduação sobre as escolas de EJA de Belo Horizonte. Contagem: O município é sistema próprio de educação. Atende a EJA em 22 escolas e três espaços Bem Viver. Foram localizadas pesquisas de pós-graduação sobre a EJA em Contagem. Betim: O município é sistema próprio de educação. A EJA é atendida em 16 escolas. Hápesquisas de pós-graduação sobre a EJA de Betim. Nova Lima: O município não é sistema próprio de educação. Ele tende a EJA em duas escolas. Foram localizadas pesquisas de pós-graduação que tratam da EJA em Nova Lima. Lagoa Santa: O município não é sistema próprio de educação. São duas escolas que atendem a EJA no município. Foram localizadas pesquisas de pós-graduação sobre a EJA em Lagoa Santa.

3.2 REGIÃO DOS INCONFIDENTES Os municípios da Microrregião dos Inconfidentes estão sob a jurisdição da Superintendência Regional de Ensino de Ouro Preto, portanto, não se constituíram sistemas próprios de educação. A fase inicial do mapeamento levou em conta os dados sobre demanda do Ensino Fundamental e a oferta nos cinco municípios. Ouro Preto: A EJA é atendida em 2 escolas. A EJA do município foi objeto de estudos de pós-graduação. Mariana: Mariana possui 3 escolas do município que ofertam EJA. Há estudos de pós-graduação sobre a EJA no município. Itabirito:O município oferece EJA em 1 escola. Encontramos estudos de pós-graduação sobre a EJA em Itabirito. Acaiaca: O município atende a EJA em 3 escolas. Há estudos de pós-graduação sobre a EJA no município. Diogo de Vasconcelos: O atendimento à EJA está presente em 4 escolas do município. Há estudos de pós-graduação sobre a EJA no município

82


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

Tabela 1: Panorama das Microrregiões inseridas no Estado e no Brasil Local

População Estimada 2016 (IBGE)

Demanda EJA (15 e mais) (Deepask/2010)

Matrículasde EJA EF na rede municipal (2016)

Matrículas de EJA na rede estadual (2016)

Brasil Minas Gerais Belo Horizonte Contagem Betim Nova Lima Lagoa Santa Ouro Preto Mariana Itabirito Acaiaca Diogo de Vasc.

206.081.432 20.997.560 2.513.451 653.800 422.354 91.069 60.787 74.356 59.343 50.305 4.061 3.918

58.000.000 5.897.281* 464.515 140.403 90.219 17.985 11.906 17.007 13.709 12.548 1.476 2.012

1.342.504 74.141 15.841 3.248 2.002 399 406 225 644 248 17 47

1.919.053 252.807 23.581 2.992 2.210 551 308 715 131 847 91 0

*(http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe/ibge/censo/cnv/escamg.def )/

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A caracterização dos municípios ajuda a entender como tem sido o fluxo do movimento educacional nas microrregiões. A partir daí, pode-se pensar a importância da EJA como modalidade da Educação Básica. Diante da produção da EJA nos municípios, deixando de lado velhos ditos de que a EJA é residual, qual a relação entre o atendimento, a oferta e as especificidades da EJA nos municípios? No primeiro momento, a fim de identificarmos o panorama do atendimento da EJA nos dois contextos cruzamos as seguintes variáveis: população acima de 15 anos, demanda de EJA, matrículas na rede pública e municipal. A investigação aponta que a demanda por EJA ainda não tem sido atendida pelos municípios e que a oferta atual, caso sejarevisada, pode vir a atender às especificidades da EJA. As salas de aula da EJA vem apresentando crescimento significativo de jovens nos anos finais do Ensino Fundamental em contraposição aos anos iniciais. Por exemplo, Contagem apresenta um número expressivo de jovens na EJA de cerca de 70%, o que tem representado um desafio para a gestão, para as escolas e para os professores. O maior desafio, segundo a coordenação de EJA do município de Contagem, é o descompasso entre a formação docente e a realidade dos jovens. A Secretaria Municipal de Educação chegou a oferecer o PRONATEC - EJA e a educação profissionalizante. No momento da pesquisa, a Secretaria de Educação estava discutindo na Câmara uma proposta curricular para o município. A EJA se constitui a partir de seus sujeitos, portanto, a presença do público juvenil requer um rol de características que merecem ser consideradas. Do mesmo modo, se for mais adulta e idosa, a EJA interroga mais ainda a educação. Os dados coletados da pesquisa nos municípios foram apresentados aos gestores em reuniões na UFMG. Quando comparadas as especificidades delineadas pelos estudos anteriores (SOARES; SOARES, 2014; SILVA, 2013) com as encontradas nos municípios, percebemos que há similaridades. Dentre elas destacamos: (1) Quando o mu83


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

nicípio não se constitui como sistema próprio de educação, a dependência em relação o Estado permite atendimento limitado às especificidades da EJA. Historicamente, o Estado de Minas Gerais tem assumido com mais afinco às salas semipresenciais do que a abertura de salas presenciais. Os municípios com capacidade menor de governança - Acaiaca, Diogo de Vasconcelos, Mariana32, por exemplo - dependem de número de alunos para abrirem salas de EJA conforme determina a legislação estadual. Um dos exemplos de dependência da legislação estadual é o estabelecimento do número mínimo de matrículas para a abertura de turmas de EJA; (2) O processo de nucleação de escolas tem sido uma tendência recorrente observada em todos os municípios. A princípio, a nucleação escolar tem sido aplicada de forma problemática para as escolas do campo (RODRIGUES et al, 2017). Enquanto arranjo econômico, passou a vigorar para as escolas urbanas também, como é o caso do município de Ouro Preto. Os impactos na EJA podem ser visíveis quando o número de matrículas vem caindo nos últimos anos no município; (3) O público da EJA tem sido marcadamente juvenil nas duas microrregiões estudadas. Percebe-se que a “produção” dos jovens da EJA vem se dando dentro do Ensino Fundamental obrigatório com a reprovação e o abandono escolares; (4) Um outro fenômeno, consequência da organização da EJA em períodos semestrais, é o término Ensino Fundamental II pelos jovens de 17 anos que precisam ficar um ano fora para ingressar no Ensino Médio EJA ou retornar ao ensino comum, do qual haviam sido banidos. Os municípios dependentes das resoluções estaduais precisam apresentar bons diagnósticos sobre o fluxo de matrículas na EJA a fim de ganhar a atenção do Estado; (5) A formação dos profissionais da EJA tem acontecido nos municípios junto com a formação docente em geral. Um espaço diferenciado tem sido os fóruns de EJA. Diogo de Vasconcelos, Itabirito e Mariana realizam fóruns municipais. Os fóruns como espaços de formação foram as conclusões dos estudos de Silva (2008) e Melo (2013); (6) O material didático para a EJA ainda é um desafio. Alguns materiais além e outros aquém, segundo os coordenadores municipais de EJA. Isso faz com que os materiais começam a aparecer, de forma diversificada e precisam de maior estudos. Em Belo Horizonte, por exemplo, para lecionar na EJA as escolas recebem material próprio; (7) Nas reuniões realizadas com os gestores e coordenadores de EJA dos municípios o tema da formação de educadores surgiu a todo momento, ora para afirmarem a inexistência dessa formação nos cursos de graduação, ora para mencionar iniciativas de formação continuada da parte das prefeituras, dos fóruns de EJA e das universidades. De modo geral, podemos dizer que os municípios trabalham com um perfil de professores que não tiveram preparação anterior para trabalhar com as dificuldades e as especificidades da EJA. Estudos sobre a formação reconhecem que para ser educador de jovens e adultos é preciso ter uma formação específica (ARROYO, 2006; SOARES, 2007; RIBEIRO, 1999; VÓVIO, 2010) e que se formar educador de jovens e adultos é, ao mesmo tempo, desenvolver atividades pedagógicas e dedicar tempo a estudos e reflexões permanentes sobre a prática (TARDIF, 2002). Das ideias-força identificadas em estudo anterior, a “realidade do educando como princípio pedagógico” começa a emergir nas formações, ou seja, a multiplicidade de educandos têm interrogado a formação.

32. Mariana perdeu capacidade administrativa em função do desastre de 2015 quando a barragem de Fundão estourou ocasionando interrupção dos trabalhos de mineração.

84


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo aponta considerações sobre as relações que se estabelecem entre as especificidades, o atendimento e a formação no campo da educação de jovens e adultos. Para tanto foram investigados dez municípios mineiros das microrregiões de Belo Horizonte e dos Inconfidentes. A pesquisa qualitativa reuniu diversas fontes de dados e os compreendeu pela análise de conteúdo dos estudo de casos múltiplos. Estudos anteriores identificaram um conjunto de especificidades e ideias-força da formação em EJA advindos de projetos e programas nacionais. O presente estudo se debruçou no estudo da identificação da oferta do poder local colocando em destaque as características do atendimento. Destacamos, de forma enfática, que alguns dos municípios são dependentes das normativas estaduais por não serem sistemas próprios de educação, o que os leva a ousarem moderadamente em suas ofertas de EJA. Exemplos de municípios que mantém autonomia são Belo Horizonte, Betim e Contagem. Aliado à autonomia, os municípios formularam proposta pedagógica própria para a EJA. Nos casos de municípios, que não se tornaram sistemas, a presença de um coordenador se torna fundamental tanto para dar visibilidade à EJA quanto para desenvolver as suas especificidades e, dentre elas, a formação adequada dos educadores. O que nos permite mencionar que vale aprofundamento nos cursos de formação ofertados pelas secretarias municipais. Apesar de a EJA não ser um capítulo recente na história da educação brasileira, os cuidados com sua oferta são. Pouco se tem registrado a EJA no campo da didática e da prática de ensino. De um modo em geral, os cursos de Licenciatura se envolvem pouco com a formação docente para a EJA. O presente estudo contribui com a inserção do jovem e do adulto no sistema público de ensino e reafirma a importância de se dar atenção a esses novos estudantes, uma vez que a EJA está longe de terminar, conforme erroneamente propaga o “senso comum”.

REFERÊNCIAS ALVARENGA, Márcia S.. Políticas de formação de educadores de jovens e adultos: disputas de sentidos e cartografia da ação. Revista Brasileira de Educação de Jovens e Adultos, vol. 4, n.7, 2016. pp.32-52. ARROYO, Miguel G.. Políticas educacionais e desigualdades: à procura de novos significados. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1381-1416, out.-dez. 2011. _________. Educação de jovens e adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. In: Soares, L. J. G. et al. (Org.) (2006). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos (2ª ed.). Belo Horizonte: Autêntica. (Coleção Estudos em EJA), 2006.

85


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

BEISIEGEL, Celso de Rui. Estado e educação popular. Brasília: Líber Livros. 2ª edição, 2004. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação popular na escola cidadã. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. HADDAD, Sérgio; DI PIERRO, Maria Clara. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 14, p. 108-130, 2000. LAFFIN, Maria Hermínia L. F.. A constituição da docência na educação de jovens e adultos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 210-228, Jan/Abr 2012. MACHADO, Margarida M.. A Prática e a Formação de Professores na EJA - Uma análise de dissertações e teses produzidas no período de 1986 a 1998.. In: 23a. Reunião Anual da ANPED, 2000, Caxambu. 23a. Reunião Anual da ANPED. São Paulo: ANPED, 2000. p. 238-238. MELO, Raquel S. M. de. Por um projeto de EJA para Divinópolis/MG : memórias de professores e formação em esferas (também) políticas. 2013. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2013. MOLL, Jaqueline. Educação de Jovens e Adultos / Jaqueline Moll, (org.) Sita Mara Lopes Sant’Anna... [et. al.]- Porto Alegre: mediação, 2004. 144 p. – (Série Projetos e Práticas Pedagógicas). MOLL, Jaqueline.; VIVIAN, Danise. Institucionalização e criação da EJA: perscrutando caminhos afirmativos no Centro Municipal dos Trabalhadores Paulo Freire em Porto Alegre. In: Haddad, Sérgio (Coord.). Novos caminhos em educação de jovens e adultos. São Paulo: Global, 2007, p.27-49. PAIVA, Jane. Qualidade na Educação de Jovens e Adultos: traduções em disputa na prática de redes públicas no Rio de Janeiro. Cadernos de Pesquisa em Educação PPGE-UFES , v. 2317742x, p. 18-27, 2013. PAIVA, Vanilda. História da Educação Popular no Brasil. Educação Popular e Educação de Adultos. 6ª edição. São Paulo: Loyola, 2003. RIBEIRO, Vera M. M.. A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico. Educação & Sociedade. Campinas, 1999, v. 20, n. 68, dez. RODRIGUES, Ana Cláudia da Silva; MARQUES, Dayana Ferreira; RODRIGUES, Adriege Matias, DIAS, Gilvania Lima. Nucleação de Escolas no Campo: conflitos entre formação e desenraizamento. Educação & Realidade, Porto Alegre, Aheadofprint, 2017.

86


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

SILVA. Fernanda A. O. R.. Elementos para a construção das especificidades na formação do educador da EJA. 2013. 372f. Tese. (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais, 2013. ________. Tópicas em história recente da EJA: a formação pela vivência e convivência nos Fóruns Regionais Mineiros. Dissertação. 2008. 246f. (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais, 2008. SOARES, Leôncio. A formação inicial do educador de jovens e adultos: um estudo da habilitação de EJA dos cursos de Pedagogia. In: Regina Vinhaes Gracindo (Org). Educação como exercício de diversidade: estudos em campos de desigualdades sócio-educacionais. Brasília: Liber Livro Editora, 2007, p p. 89-103. ________. As políticas de EJA e as necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos. In: Vera Masagão Ribeiro. (Org.). Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas leituras. 1a ed.Campinas-SP: Mercado de Letras, 2001, v. , p. 201-224. _______. O surgimento dos Fóruns de EJA no Brasil: articular, socializar e intervir. Alfabetização e Cidadania (São Paulo) , São Paulo, n.17, p. 25-35, 2004. TARDIF, Maurice. (2002). Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes. VÓVIO. Cláudia. Formação de educadores de jovens e adultos: a apropriação de saberes e práticas conectadas à docência. In: SOARES, 2010.[et.al.] (Org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 60-77.

87


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. Imagens Quebradas: Trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis: Vozes, 2004. AYRES, R.U. Sustainability economics: Where do we stand? Ecological Economics, v.67, n.2, p.281-310, 2008. BRASIL. MEC. Lei nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília. DF. Diário Oficial da União, Brasília: 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conceitos de educação ambiental. 2014. Disponível em: http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politicade-educacao-ambiental. Acesso em:18/7/2018. _______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/ Câmara Nacional de Educação Básica. Parecer CEB 11/2000, 10 maio 2000. Disponível em: <www.mec.gov. br/cne/parecer.shtm>. _______. Ministério da Educação. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Formação Inicial e Continuada (PROEJA FIC). Documento Base. Brasília: MEC, 2007. BRUNEL, Carmem. Jovens cada vez mais jovens na educação de jovens e adultos. POA: Mediação, 2004. BRUNDTLAND, G. H. (Org.) Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1987. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Constituição da República Federativa do Brasil, 5 de outubro de 1988. Parecer CNE/CEB 11/2000. DEMO, Pedro. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre: Mediação, 2004. FIORINO, D.J. Explaining national environmental performance: Approaches, evidence, and implications. Policy Sciences, v.44, n.4, p.367-389, 2011. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 27 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. 88


Trajetória coletiva na perspectiva inclusiva

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 17ª ed. Paz e Terra, 2011. GUIEL, Ana Lúcia Orengo et al (Org). O Espaço de Formação e as Ações que Mobilizaram a Trajetória de Permanência dos Educandos/as do PROEJA FIC no Município de Novo Hamburgo. Artigo, Novo Hamburgo, 2012. HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. LÉLÉ, S.M. Sustainable development: A critical review. World Development, v.19, n.6, p.607-621, 1991. LOZANO, R. Towards better embedding sustainability into companies’ systems: an analysis of voluntary corporate initiatives. Journal of Cleaner Production, v.25, n.0, p.1426, 2012. MANFREDI, Sílvia Maria. Educação Profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, p64, 2002. NEUMAYER, E. The determinants of aid allocation by regional multilateral development banks and united nations agencies. International Studies Quarterly, v.47, n.1, p.101-122, 2003. PMNH. Novo Hamburgo. Programa de Desenvolvimento Municipal Integrado Procidades. Termo de Referência – PAEJA (2017). REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Ed. Brasiliense,1994 RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 1, DE 5 DE JULHO DE 2000. RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 1989. SALTO PARA O FUTURO. Educação de Jovens e Adultos, Histórias e Memórias. Entrevista do professor Osmar Fávero. Salto para o Futuro, 2016. [VÍDEO]. SILVA, César Augusto Alves da. Além dos muros da escola: as causas do desinteresse, da indisciplina e da violência dos alunos. Campinas, SP: Papirus, 2011. SMED. Novo Hamburgo. Regimento Escolar Parcial Padrão para a Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Novo Hamburgo, 2008. 89


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

_______. Novo Hamburgo. Regimento Escolar Padrão do Ensino Fundamental na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Novo Hamburgo, 2013. VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico: Do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Para onde vai o professor. Resgate do professor como sujeito de transformação. São Paulo: 3º Edição, 1995. VASCONCELOS, Celso. Metodologia dialética em sala de aula. Revista Educação. AEC. Brasília: abril de 1992, nº 83. WESCHENFELDER, Gelson (Org.). EJA: Desafios e Conquistas: Um Panorama da Educação de Jovens e Adultos em Novo Hamburgo. Porto Alegre: Pacartes, 2016.

90


Trajetรณria coletiva na perspectiva inclusiva

91


ESPAÇOS E TEMPOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

92




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.