Ensino Médio para Jovens e Adultos 1ª fase - 2005/1 Organizadoras: Professora Esterzinha A. P. Gevaerd Professora Masae Kawano
Um Toque de Criação
Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina Florianópolis Junho de 2006
APRESENTAÇÃO
Esta é uma turma de alunos com características um pouco diferentes. Trata-se de uma turma de Educação de Jovens e Adultos, com idades que variam de 22 a 59 anos. Grande parte deles está afastada dos bancos escolares há muito tempo, mais de trinta anos, até. E o que eles têm de especial? A vontade de estudar e o valor que dão ao estudo, afinal, são pessoas que, por variados motivos alheios à sua vontade, foram afastados da escola. Essa é a terceira turma de Educação de Adultos que o CEFETSC recebe e, a exemplo das duas anteriores, surpreendem seus professores, com o conhecimento acumulado, com suas histórias de vida... A primeira parte deste livro reúne textos produzidos por esses alunos nas aulas de Geografia, quando, com a professora, refletiam sobre „O Lugar‰. Os textos que produziram sobre „o seu lugar‰ surpreenderam a professora. Nas aulas de Português, ao estudar o texto narrativo, a fala do narrador e do personagem (discurso direto e indireto), os alunos produziram um texto narrando um „Âepisódio da infância‰. Resultou nesses textos maravilhosos que constituem a segunda parte do livro. Nós, professora Masae e professora Esterzinha, achamos que esses textos não deveriam ficar restritos a nós, por isso os reunimos aqui e os compartilhamos com você.
Leia e delicie-se com eles! Nós recomendamos. Professora Esterzinha A. P. Gevaerd Professora Masae Kawano
SUMÁRIO
O LUGAR 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 31 32 34 36 38 40 42 44 45 46 48
O meu lugar Meu lar Movida a música Meu lugar Sou brasileiro e não desisto Recanto de paz Mudança de lugar De onde tu és? Nós, alunos privilegiados Minha cidade Tempo passou Quantas lembranças Meu lugar preferido Sempre um lugar Minha cidade natal Tantos lugares Meu primeiro habitat Meu trabalho Meu lugar maranhense Meu recanto Meu cantinho Meu lugar de trabalho
INF˜NCIA 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 73 74 76 78 79 80 82 84
A pescaria que nada deu, mas muito se aprendendeu A casa azul História de amor A descoberta A guerra dos marimbondos Coisas boas Meu irmão mentiroso Dezembro da minha infância Eu e minhas bonecas Bola de areia Minha primeira vez no colégio Gula Minhas férias Sabor de infância Nossa primeira compra Casamento na infância Uma tarde de domingo Sono pesado A viagem
O LUGAR
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O MEU LUGAR O meu lugar é um local muito agradável. Resido na Agronômica, meus vizinhos são ótimos, sempre ajudando uns aos outros, é uma rua que se preocupa com o bem-estar de todos. Claro que, como toda vizinhança, temos nossas divergências, mas quando é para o bem comum, sempre se decide pelo melhor. Falando em meu lugar, não posso deixar de falar da minha casa. Ah, que lugar maravilhoso! Temos um ótimo relacionamento como família. Meu marido é um cara super legal, conversamos muito, somos muito amigos e nos entendemos muito bem. Sempre que divergimos em alguma coisa, vemos o que é melhor para a família, sempre alguém tem que ceder. Tenho um filho de 18 anos e uma menina 13 anos. São umas bênçãos nas nossas vidas. Mas, algo interessante que gostaria de ressaltar é o respeito do lugar dentro de casa, na mesa e no sofá. Lendo o texto „Lugar‰, percebi que, realmente, em casa, temos a mania de sempre sentar no mesmo lugar. Depois de ler esse texto, conversei com eles, todos o leram e decidimos mudar nossos lugares, e realmente conseguimos ver tudo de uma outra maneira.
Texto e ilustração: Maria de Fátima de Souza Braga
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MEU LUGAR Nasci em Florianópolis, sou manezinha da Ilha, esse é o meu lugar. Como todos os turistas que vêm a Florianópolis, dizem que a cidade é maravilhosa. Desde quando nasci, moro em Florianópolis e aqui pretendo ficar. Lembro de minha infância, quando com minhas amigas brincava, eu sempre queria falar de onde morava. Passando alguns anos, quando já estudava e comecei a trabalhar. Adorava vir para o centro da cidade, achava tudo interessante. Hoje, depois de muito tempo trabalhando, acho um pouco estressante. Mas gosto muito de passar pela praça XV, acho a figueira muito linda e a catedral também. Meu lugar tem praias lindas e os pontos turísticos maravilhosos. A família de minha mãe mora em Joinvile, mas sempre que podem estão em Florianópolis, nas praias. Isso sem contar que a novela das seis foi gravada em nossa cidade. Sou uma pessoa muito feliz morando em Florianópolis e, quando tiver filhos, pretendo falar sobre o lugar onde moro.
Texto: Maria Helena Farias
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TANTOS LUGARES Interessante. É a segunda vez que me deparo com este tema e continuo pensando como naquele curso de teologia. Não consigo definir um lugar só meu. Veja só: nasci em Niterói – RJ, e aos dezessete anos mudei-me para Florianópolis – SC. Aqui, com minha mãe e meus irmãos moramos de aluguel em muitos bairros, até conseguirmos comprar um imóvel. Depois me casei e fui morar em outro lugar, lugar este da família do meu marido, com quem eu o compartilhei. Algumas economias, e mais tarde adquirimos um lugar para expandir a família. Então? Como escolher um lugar, se eu tenho tantos... Isso sem falar do colo do meu pai, onde aprendi a reconhecer as primeiras letras do alfabeto, nas refeições, a mamãe contando estórias no Atlas do meu irmão, viajávamos para muitos lugares. Com a turma da esquina, num bom bate-papo, ouvindo música, no time de vôlei do clube, no EMJA, meu lugar que foi sorteado. Não sou de criar raízes. Não gosto de cercas, portões, grades, muros altos, „não entre‰, „proibido‰... Quero ter muitos lugares, principalmente no coração de todas as pessoas que conheço e que ainda vou conhecer.
Texto e ilustração: Emirame Demaria Silva
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COISAS BOAS Uma das coisas boas que me acontece na vida é relembrar desde a infância o que a vida nos oferece, a outra é poder contar pra alguém. Minha mãe fazia tudo „na casa‰, cantando. Tinha tempo para brincar e contar histórias. Meu pai era mais sério, mas nos convidava para „ler‰ o jornal com ele. Desse jeito, descobrimos as letras e até os monossílabos. Essa era a sua maneira de brincar conosco. Também nos levava ao cinema, a mim e meus quatro irmãos, quando aos domingos pela manhã tinha programação infantil. Então crescemos e fomos brincar na rua: de casinha, escola, médico, bolinha de gude (eu sempre perdia), pião, soltar cafifa (que meu irmão colocava lá em cima no céu e eu não conseguia mantê-la no alto), pular corda (quando algum adulto a balançava), de correr, de pegar, esconder, de bicicleta (que era uma para cada família, e tinha que aguardar a sua vez), de descer o morro da igreja (em dupla ou mais) na folha seca de coqueiro. Chegar lá embaixo sem sair esfolado era uma vitória. E o primeiro dia de aula. Que emoção! Nem dormi direito, pensando no dia seguinte: como seria a escola, a professora (uma para todas as matérias), os colegas. Seria difícil? Não, não foi,. Estudar era bom, e as férias também. Porque eram férias! Quando acabava o mês de junho, iniciavam nossas férias. Trinta dias! Que beleza! Dava até para sentir saudades da escola, de estudar. E no último dia de novembro, tínhamos mais férias, três meses. Aí chegava o Natal e com ele o brinquedo, cada um mostrava o seu. Também tinha a Páscoa, com direito a procurara seu „coelhinho‰. Até hoje é assim. E a festa junina, com doces típicos e a dança da quadrilha para os grandes. Os pequenos a assistiam e aprendiam. Tiveram muitas coisas boas que, ao relembrar, ainda sinto a emoção da época e muita felicidade. Texto e Ilustração: Emirame Demaria Silva 62
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EU E MINHAS BONECAS Sempre que me remeto ao passado, gosto de lembrar de fatos que aconteceram na minha infância. Nós éramos cinco irmãos: dois meninos e três meninas. A diferença de idade de um parao outro era de um ano, eu sou a mais moça das meninas, por isso sempre fiquei com as roupas, sapatos e brinquedos das minhas irmãs, raramente ganhava algo novo, exceto no Natal, que meus pais faziam um esforço e sempre davam uma roupa e um brinquedo novo para todos. Lembro-me de um Natal em que eu estava muito doente, pois sofria de bronquite, sinusite e anemia quase profunda. Minha mãe, para me agradar, deu-me duas bonecas, e as minhas irmãs ganharam só uma. Deu uma confusão! Foi quando eu estava quietinha no meu canto, que minhas irmãs vieram e começaram a me incomodar. Eu gritava, chamando minha mãe e dizia: - Mãe, a Katurrito estão olhando para mim! Minha mãe não entendeu e foi ver o que estava acontecendo. Minhas irmãs chamavam-se Rita e Kátia, eu chamava as duas juntas de Katurrito. Quando minha mãe chegou já era tarde. - O que está acontecendo aqui? Gritou minha mãe. Eu falei: - Mãe, elas estragaram as minhas bonecas. - Mas o que vocês fizeram? Indagou minha mãe. A Rita falou que a culpa foi da Fátima, porque ficava debochando que tinha duas bonecas e elas apenas uma cada. - Muito bem, agora vocês também vão ficar sem boneca e não façam isso nunca mais. Foi uma história, na época, de chorar, mas com o passar do tempo, sempre que nos encontramos, nos lembramos de alguns fatos, e este foi um do qual ríamos muito. Eu, que raramente ganhava alguma coisa nova, quando ganhei, por ciúmes de minhas irmãs, acabei ficando sem bonecas. Texto e Ilustração: Maria de Fátima Souza Braga 68
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BOLA DE AREIA Certo dia, saímos para brincar nas dunas. Éramos três pessoas, cada um foi levando o que queria. Ao chegar no local, vimos um grande tubo de ferro, então começamos a nossa brincadeira. De um lado ficavam duas pessoas, de outro lado, outra. Assim, nós tínhamos que derrubar o adversário. Mas primeiro ficamos fazendo umas bolas de areia, para que pudéssemos jogar um no outro. Gritou meu primo Alcides: - Eu vou derrubar vocês! São muito fracos para mim. Logo em seguida também levantou o Carlos, que lhe disse: - Eu quero ver se vai conseguir. Vamos derrubar você! Fiquei com as bolas de areia nas mãos e, em seguida, comecei a atirar em direção a ele. E assim foi por muito tempo, só que de repente eu acertei o Alcides, bem nos olhos, e ele gritou: - Fui atingido. Parem, por favor, não estou vendo nada na minha frente. Socorro! Me ajudem! Mas foi alarme falso, e acabamos sendo derrotados por ele. Foi uma brincadeira que marcou a minha infância e até hoje nós nos lembramos. Foi muito marcante!
Texto e Ilustração: Rogério Nazareno Machado
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