SOBRAS DO COTIDIANO II Deslocar, Re (ver) e Transformar
SOBRAS DO COTIDIANO II Deslocar, Re (ver) e Transformar
SOBRAS DO COTIDIANO II Deslocar, Re (ver) e Transformar Garagem Experimental (Casa da Alice) Rua Andrade Neves, 1092, Centro, Pelotas, RS, Brasil.
Sobras do Cotidiano II: Deslocar, Re (ver) e Transformar 19 de Novembro a 19 de Dezembro de 2019 Equipe Curatorial Alice Jean Monsell, Mara Nunes, Thiago Ligabue, Eduardo Toledo, Raquel Betun, Vivian Parastchuk Artistas Alice Monsell Duda Gonçalves Gustavo de Campos Raquel Betun Vivian Parastchuk
Gabriela Kacelnikas Eduardo Toledo Silva Helene Sacco Rogger Bandeira William Alexsander
Diego Bötefür Graziela Cecília Mara Nunes Thiago Ligabue
SOBRAS DO COTIDIANO II Deslocar, Re (ver) e Transformar Catálogo: Eduardo Toledo (Bolsista PIBIC CNPq/UFPel) e Alice Monsell Revisão: Equipe curatorial Fotografia: Daniel Moura (Fotografia de Daniel Moura, salve em casos de outro autor indicado)
Realização Projeto de pesquisa Sobras do Cotidiano e Contextos dx Artista em Deslocamento Projeto de extensão Contextos de Atuação do Artista Grupo de Pesquisa DeslOCC Deslocamentos, Observâncias e Cartografias Contemporâneas do CNPq/UFPel
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS/MESTRADO CENTRO DE ARTES UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto Hélio D’Angola, Pelotas, RS, Brasil. Agradecimentos às bolsas PBIP-AF/UFPel e PIBIC/UFPel/CNPq
Uma poesia das sobras na beira do Antropoceno A pesquisa em artes Sobras do Cotidiano busca, por meio do uso de matérias não primas, recicladas e objetos apropriados, questionar o uso e reaproveitamento de materiais na arte contemporânea, considerando que estamos numa nova era designada de o Antropoceno, e notando a urgência de mudar os hábitos e os modos de produção e exploração de matérias primas retiradas diretamente da natureza. O Antropoceno é o termo utilizado por geólogos para designar a nova época, atualmente em debate, devido aos fortes indícios de que as práticas humanas já estão transformando a superfície da terra mais do que os fenômenos naturais, e de forma ecológica - e socialmente desastrosa, notando, por exemplo, as recentes consequências fatais da mineração no Brasil. A exposição coletiva Sobras do Cotidiano II: Deslocar, Re(ver) e Transformar mostrou produções poéticas de dois projetos: o projeto de pesquisa Sobras do Cotidiano e Contextos dx Artista em Deslocamento e o projeto de extensão Contextos de Atuação do Artista, coordenados pela professora Alice Monsell e vinculados ao grupo de pesquisa DeslOCC: Deslocamentos, Observâncias e Cartografias Contemporâneas (CNPq/UFPel). Os quatorze artistas / pesquisadores em arte investigam, em adição às questões de materialidade, também problemas diversos da arte contemporânea e da vida: o gênero, a paisagem, o consumismo e o meio ambiente. Produzem propostas de arte postal, fotografia, pintura, gravura, objetos, colagens, relevo e instalações experimentais. Dentre os trabalhos na exposição, alguns são de jovens entre cinco e quinze anos do Instituto Hélio D’Angola, Porto de Pelotas - RS que mostraram bonecas de papel, barquinhos, foguetes, recortes decorativos e fotomontagens realizadas nas Oficinas de Reaproveitamento Artístico de Materiais do projeto de extensão Contextos de Atuação do Artista, as quais ocorrem semanalmente no Instituto Hélio D’Angola do Quadrado, com o apoio de Aida Oliveira.
Buscamos uma poesia das sobras e da potência dos materiais plásticos, das imagens inesperadas que relevam a realidade que vivemos em suas palavras coladas sobre papel ou nos dispositivos enlatados que projetam da parede. Uma marca de ferrugem de um machado velho imprime sua marca da vida rural numa folha de papel pardo. No ar, percebe-se uma mola de arame doce, criada manualmente, que se estende de uma parede à outra, na qual se penduram pequenos objetos e folhas catados na rua durante caminhadas em Pelotas. Porque juntamos tantas coisinhas? Uma paisagem foi pintada sobre um suporte de envelope postal reutilizado que nos olha e pede: quando vai acabar os dias cinzentos para ver novamente o calor do cerúleo? Potes de mantimentos sem conteúdo foram apropriados da cozinha, e comentam sobre o que resta neste estado das coisas em que nos encontramos, tão cheios de nosso vazio. E se não sobrar tinta para fazer um quadro, se não há nada mesmo, nem pincel, nem canção, nem sonho, podemos pintar? Com o que sobrou, uma pintura pode ser feita com as cores de tecidos velhos esticados sobre chassis, como na proposta pictórica que usa malhas de roupas de segunda mão com tons roxa e cinza para reinventar nossa ‘embalagem do corpo’. O que mais temos no mundo é um excesso de pacotes, sacolas, latas, caixas, embrulhos, os quais podem ser coletados e reaproveitados numa proposta poética. As velhas embalagens de iogurte e letras cortadas de um jornal formam micro colagens delicadas, e poesias para ler e denunciar o consumismo. O que sobra de latas de refrigerante e cerveja vazias são suportes para uma pintura-relevo gigante. E as latas também se transformam em matrizes para a monotipia de uma grande imagem em guache. Fotografias foram impressas em papel reciclado “sustentável”, assim como outra artista reaproveitou as folhas de cadernos velhas para construir uma ‘cortina’ disposta numa janela. Tocos velhos de árvore, achados no quintal da casa, se viram uma moldura temporária para fotografias da figura humana nu e detritos não urbanos. Uma brincadeira bem-humorada ironiza o espaço liso e o estriado por meio de papelão corrugado em formato de uma mini cabine de votação. Uma das poéticas se cruza a arte e o meio ambiente, no território da Eco Arte. O projeto de pesquisa Comunidade do Balneário dos Prazeres: Caminhar, fotografar e Microações-eco-artística, da Mara Nunes, mestranda do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UFPel, investiga as marcas de destruição ambiental no Balneário dos Prazeres, Laranjal, Pelotas-RS. Ela trabalha com fotografias do lixo no entorno do Balneário, também chamado Barro Duro, e registra os índices visuais de erosão e do descaso humano em relação à praia e mata nativa no entorno da Lagoa dos Patos. Suas ações-eco-artísticas são realizadas em colaboração com crianças e famílias, moradores da comunidade do Balneário dos Prazeres.
A exposição coletiva contou com a participação de quatorze artistas, sendo estes professores e alunos dos cursos de Bacharelado e Mestrado em Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas - UFPel: Alice Monsell, Bella Kacelnikas, Diego Bötefür, Duda Gonçalves, Eduardo Toledo Silva (Bolsista PIBIC/UFPel), Graziela Cecília, Gustavo de Campos, Helene Sacco, Mara Nunes, Raquel Betun (Bolsista PBIP-AF/UFPel), Rogger Bandeira, Thiago Ligabue, Vivian Parastchuk e William Alexsander (Bolsista PBIP-AF/UFPel). Alice Monsell, 2019
Foto: Alice Monsel
Artistas Alice Monsell Gabriela Kacelnikas Diego Bötefür Duda Gonçalves Eduardo Toledo Silva Graziela Cecília Gustavo de Campos Helene Sacco Mara Nunes Raquel Betun Rogger Bandeira Thiago Ligabue Vivian Parastchuk William Alexsander e Os jovens participantes das Oficinas de reaproveitamento artístico de materiais do projeto de extensão Contextos de atuação do artista realizadas no Instituto Hélio D’Angola, Quadrado, Porto, Pelotas, RS, Brasil
Mara Nunes Na exposição, uma montagem de fotografias mostra o Balneário dos Prazeres no Laranjal, Pelotas-RS, localizado na beira da Lagoa dos Patos. As fotografias objetivam visibilizar as marcas da destruição, tais como as modificações causadas pela erosão natural da praia, as queimadas de árvores provocadas pelas pessoas que utilizavam a praia, mas não a cuidavam. Hoje esta prática está diminuída, mas ainda acontece. O descarte impróprio de lixo na água é registrado na obra Sacola plástica mais de 400 anos e revela o que é abandonado na Lagoa, assim como Rede de pesca 600 anos. As raízes expostas de uma figueira centenária inclinada na beira da praia e prestes a tombar na Lagoa podem ser visualizadas na fotografia Declínio, indicam sua queda iminente. Isopor tempo indeterminado explora outra técnica fotográfica que envolve a coleta de objetos na praia, os quais são fotografados no momento da liquefação, desgaste evocando a ideia de perda de energia, de erosão. Outros registros e objetos informam sobre as oficinas-eco-artísticas realizadas com crianças moradores do Balneário dos Prazeres e as microações que envolvem a comunidade na produção de vídeos sobre o local.
Microações-eco-artísticos no Balneário dos Prazeres Fotografia e impressão digital sobre papel reciclado, cartona, sisal Dimensões variadas 2019.
Declínio Mara Nunes, fotografia, impressão digital, papel reciclado 29,7 x 42 cm 2019
Detalhe: Sacola Plástica 400 anos Fotografia, impressão digital, papel reciclado 29,7 x 42 cm 2019
Raquel Betun O trabalho começou a ser desenvolvido por meio de registros fotográficos, a partir do interesse em trabalhar com práticas corporais. As práticas foram realizadas em um ambiente não urbano da cidade Capão do LeãoRS. Posteriormente, as fotografias passaram por manipulações digitais para criar imagens experimentais que buscam meios visuais para dialogar com questões da normatividade de gênero. O deslocamento para um local mais afastado da cidade promoveu maior conforto e liberdade às pessoas que colaboram nas práticas que envolvem a nudez de seus corpos registrados em fotografias, com a minha direção. Foram registradas imagens digitais de meu corpo inteiro, relacionando-se com a natureza, buscando não idealizar o corpo ou mostrar padrões de beleza tradicionais para a produção artística. Foram capturados os movimentos simples do corpo no ambiente como o caminhar, subir em uma árvore e deitar na grama. Interessava-me na relação de equilíbrio dada pelo verde das árvores e das folhas no contexto. Senti uma sensação de aceitação de meu próprio corpo naquele ambiente isolado e sem restrições. A partir do momento que percebemos que não temos que nos comportar como a sociedade espera, começamos a jornada de expressar a nossa própria identidade, tanto de gênero quanto de personalidade. Por meio da sobreposição de fotografias, crio um novo corpo, um corpo ambíguo, andrógino, não conformante com as normas da heteronormatividade, que é livre para ser o que for que deseja ser, e amar quem queira amar e ser amado. Um corpo que, em contato com a natureza, é tão livre quanto ela - e que se sente confortável do jeito que é.
Deterioratus, Fotografia com manipulação digital, Impressão digital sobre papel reciclado 41 x 31 cm 2019 Foto Alice Monsell
Seminibus Fotografia e manipulação digital Papel reciclado 240 gramas 31 x 31cm 2019
Foto Alice Monsell
Detalhe Seminibus
Bella Kacelnikas O Dentro: A proposta deste trabalho é denunciar a ilusão do descarte do lixo que existe no mundo contemporâneo, espaço onde as pessoas produzem lixo dentro de suas propriedades e acreditam que ao jogálo fora eles deixam de existir. O texto trata destes espaços, o dentro e o fora onde jogamos todo o lixo que produzimos, a proposta principal era utilizar do artifício palavra para renovar esta percepção. Para materializar este conteúdo me apropriei das letras já impressas de revistas recolhidas no lixo, o meu objetivo era proporcionar a palavra e assim arranjei às letras da maneira mais ajustada possível para proporcionar uma organização que facilitasse a leitura evitando a aparência que a escrita de recortes que é conhecida popularmente por ser com letras grandes e irregulares mesclando diversas manchetes. Quando organizo as palavras dentro do papel, que selecionei por ser um papel especial para mim, já que foi o primeiro que reciclei manualmente, penso no desenho que fazem dentro da folha e com elas tento criar significados, posicionandoas no interior de um lugar que as separa do tal fora. O dentro trata dessa separação inexistente entre o meu e o do outro e também de uma preocupação com o nunca sairá de dentro de nós e de nossos espaços públicos. Senhor do eu: Observo de perto todos os dias alguns conhecidos repetirem atividades que geram acúmulos de sacolas plásticas que são tão pequenas que não servem para nenhuma atividade depois. Em Senhor do eu, me apropriei destas sacolinhas para que amarradas umas às outras formem uma corrente. Após a corrente desenvolvi um texto em colagem no qual trago atenção pela atividade de não perceber o que se acumula e não perceber as coisas inúteis do dia a dia. O título faz alusão a uma passagem da bíblia que trata dos egoísmos que eu denuncio em nossas atividades diárias. Sem título: A colagem Sem Título foi feita usando embalagens, em sua maioria de alimentos destinados ao público infantil, que propunham ser interativas ao consumidor, esta interatividade ressignifica o uso comum das embalagens, traz uma alusão a permanência deste material, quando seu conteúdo já foi consumido suas sobras ainda podem se tornar matéria para novas atividades para além do uso prático. É um modo de reaproveitar e isso torna possível perceber os materiais de outra maneira. O Dentro Colagem; papel de revista sobre papel artesanal e reciclado 17 x 16 cm 2019
O senhor do eu Colagem de papĂŠis de revista sobre papelĂŁo, sacolas plĂĄsticas. 28 x 15 x 20 cm 2019
Sem tĂtulo Colagem de papĂŠis e embalagens sobre papelĂŁo 34 x 30 x 3 cm 2019
(Acima, fotomontagem de Gustavo de Campos)
Rogger Bandeira Partindo de uma relação com o corpo e o cotidiano, o vestuário aproxima o expectador da obra, com essa relação íntima, abre-se um parêntese para pensarmos isso que nos reveste, nos envolve. De certo modo, somos todos embalados todos os dias por algodão, linho, lycra e etc. Quando nos vestimos, somos um produto, vendemos uma imagem. Essa imagem, agora deslocada do corpo humano para o bastidor da pintura tradicional, não carrega uma identidade, está por ela mesma. Assume sua própria flacidez em repouso, descansa e escorre, podendo até ser mórbida.
Sem título Pintura; roupas de segunda mão sobre chassi 95 x 94 x 8 cm 2019
Foto Alice Monsell
Helene Sacco
O trabalho parte da apropriação de materiais do cotidiano doméstico da artista. Tratam-se de objetos ligados à alimentação cotidiana, potes de acrílico onde é costume guardar arroz, feijão e farinha. A inserção da escrita, "Quando o que sobra tão pouco que quase não resta nada além do vazio", procura articular dimensões políticas cotidianas que iniciam no doméstico e privado e se dirigem à uma situação social maior que abarca grande parte da população do país. Cria uma leitura sobre o excesso de vazio, de restrições, de faltas, e a potência com que ela nos afeta.
Quando sobra tão pouco que quase não resta nada além do vazio Objeto; estante de ferro, três potes para mantimentos de acrílico, uma xícara, caneta marcador Objeto: 20 x 17 x 17 cm; estante: 91 x 71 x 31 2019
Foto Alice Monsell
Alice Monsell
Corpos suspensos caminhantes no espaço e no tempo é uma experimentação com a acumulação de objetos catados na rua durante as caminhadas em Pelotas – pares de óculos quebrados, papéis, e objetos colecionados ao longo dos últimos dez anos que, por uma razão ou outra, foram guardados, como um balde amassada por um trator no sítio, um pedaço de papel com escrita em braile, uma máscara de tecido para proteger a respiração e uma sacola de farmácia. Faz mais ou menos cinco anos que comecei a pendurar estes objetos no ateliê, esperando uma oportunidade de sua apresentação pública. Na mostra, foram suspensos em ganchos e molas estendidos de um lado do recinto para o outro. Todos pendurados por uma única mola de arame doce feita à mão. A mola comprida, suspensa no alto da sala, acima da cabeça do visitante, passa pela janela de um quarto parcialmente fechada com uma cortina de papéis retirados de cadernos velhos de uma aula de modelo vivo no Instituto de Letras e Artes da UFPel (antiga Centro de Artes). De certa forma, é uma representação das minhas caminhadas dentro e fora da minha casa. Os objetos que acumulei suspendem o tempo e os espaços da minha vida.
Corpos suspensos caminhantes no espaço e no tempo Domesticação, colagem; arame doce, arame galvanizado, parafina, rosas, papéis variados, objetos achados na rua, chaves de aço folhas costuradas por Gabriela Kacelnikas, papel de cadernos velhos, ferro, vidro, cordas, fita, gancho e óculos Cortina na parede: 200 x 90 x 15 cm Arame suspenso: 220 x 500 x 15 cm 2019
Foto Alice Monsell
Gustavo de Campos Esta imagem tridimensional combina técnicas construtivistas de fotomontagem e assemblagem para interferir na fotografia de um rosto de cavalo de modo lúdico por meio da colagem de materiais reaproveitados. O humor entra em jogo quando uma embalagem comercial para ovos amarela e dois tampos para vinho pretos representam os olhos esbugalhados reminiscentes de figuras do Looney Tunes, como Pernalonga. A figura foi desenvolvida como brincadeira para mostrar técnicas de montagem com recortes de revistas aos jovens participantes das Oficinas de Reaproveitamento Artístico de Materiais realizados no Instituto Hélio D’Angola, no Quadrado, Porto de Pelotas-RS, em 2018, quando o artista atuava como bolsista PBA-PREC do projeto de extensão Contextos de Atuação do Artista (CA/UFPel).
Sem título Assemblagem-fotomontagem; papéis e recortes de revista, embalagem de isopor para ovos, sobras de lã, acrílico, cola e tampos metálicos 22 x 12 x 15 cm 2018
Graziela Cecília Os registros fotográficos foram realizados no Laranjal, durante o evento Caminhada e Ação de Limpeza Laranjal IV em 30 de abril de 2019, proposta aos colaboradores do projeto de pesquisa Sobras do Cotidiano e Contextos dx Artista em Deslocamento como uma ação artística coletiva e propositiva do projeto de pesquisa Sobras do Cotidiano e Contextos dx Artista em Deslocamento, DeslOCC do Mestrado em Artes Visuais da UFPel. Estas fotografias apresentam capturas por um olhar pessoal de observação ao entorno e à paisagem, focando no lixo desprezado pelo ser humano e procurando expressar de forma poética atos que devem ser lembrados, que desperte uma conscientização para que não mais componhamos tantas “paisagens esquecidas” como estas.
Paisagem esquecida Arte postal; fotografia digital sobre papel reciclado 12 x 18 cm 2019
Foto Alice Monsell
Paisagem esquecida – emaranhado (detalhes) Arte postal; fotografia digital sobre papel reciclado 18 x 12 cm 2019
Vivian Parastchuk Este trabalho surgiu da Caminhada e Ação de Limpeza do Laranjal IV de 2019. Durante a caminhada, busquei fotografar o lixo disposto pela praia do Laranjal, na Lagoa dos Patos que, ironicamente, remete a coisas naturais. No postal do Peixe Exótico no Laranjal, busquei trazer algo que está ali e não pertence àquele local. No postal Água de Coco, no qual a imagem está na vertical, tentei trazer algo que remetesse a fotografias de água de coco na beira da praia postadas em redes sociais.
Água de Coco Arte postal, impressão digital sobre papel reciclado 18 x 12 cm 2019
Peixe ExĂłtico no Laranjal Arte postal, impressĂŁo digital sobre papel reciclado 12 x 18 cm 2019
Foto: Alice Monsell
Diego Bötefür O trabalho mostra um dos objetos do meu entorno na Serra Gaúcha que utilizo para criar desenhos de árvores, machados, pás e outras ferramentas do trabalho e da vida rural. Para fazer este desenho, preparei a superfície de uma folha de papel Kraft com tinta branca e deixei um machado velho na folha. O machado deixou uma marca, uma impressão do objeto. O fundo da imagem é pintado com tinta branca, água e o pó de ferrugem de objetos enferrujados.
Sem título Desenho, ferrugem, água e tinta acrílica sobre papel pardo 129 x 59 cm 2019
Detalhe
Eduardo Toledo Silva Consumo diariamente produtos alimentícios e de higiene. Limpo e guardo as embalagens como um potencial material artístico. O lixo passa a ter função no processo do fazer experimental no ateliê, me provocando a criar outras maneiras de manipular a embalagem para desenvolver minha poética visual. Esta pintura-relevo surgiu da ideia de ocultar a embalagem atrás do suporte bidimensional, e considerando uma apresentação que parte do ponto de vista frontal que o público tem da imagem. A pintura, vista de frente, parece bidimensional, entretanto, foi construída por módulos justapostos, alguns dos quais se afastam da parede formando um relevo, que se pode perceber ao aproximar-se da imagem. Esta proposta dá continuidade aos trabalhos anteriores da série Natureza morta, expostos na primeira edição da exposição Sobras do Cotidiano no Hello Hostel Pelotas em 2018, os quais são desenhos em pastel sobre suportes de papel que foram montados sobre embalagens na parede. Neste trabalho de 2019, utilizo latas de refrigerante para projetar o suporte fora da parede, não apenas na apresentação das folhas, mas também usando a lata como matriz no processo da gravação de tinta guache sobre os papéis. Este procedimento, técnica em monotipia, consiste em cobrir a superfície externa da lata com guache preto e enrolar a ‘lata-matriz’ sobre o papel jornal, assim, produzindo múltiplos em relevo.
Sem título Monotipia, latas vazias, papel jornal, tinta guache 182 x 214 x 20 cm 2019
Thiago Ligabue Neste trabalho o material que resta do dia a dia se arranja na geométrica reutilização das formas espelhadas. Dispositivo montado sobre a simetria de ambos os lados. Módulo prático que evoca o visual nas diferentes texturas do espaço. Frente a frente, lado a lado. Um liso e o outro estriado. Sente-se e absorva rapidamente o conhecimento de um conceito dado.
Módulo Prático Visual de Rápida Absorção Conceitual Objeto Tridimensional / Instalação Papelão, papel pardo, vidro, tábua de MDF e banco de madeira 33 x 72 x 35 cm 2019
William Alexsander Cada trabalho da série Objetos contidos tem objetivo de reapresentar uma natureza-morta, porém entrando em contraposição, pois, tal objeto incita movimento e passagem. O trabalho também aborda a questão de privação e segredo, uma vez que o conteúdo – ar ou água - que sairia do objeto é impedido. Como conjunto, fazem faz parte de uma série de objetos que trabalham com a materialização dessa ideia de privação e segredos.
Objetos contidos Escultura; garrafa de vidro, bule de chá, suco em pó, água, rolha de cortiça, pregos, balões de látex (bexiga), porcelana fria, cimento Garrafa e balão: 6 x 15 x 5 cm Garrafa e cimento: 9,5 x 15 x 10 cm Potes de vidro: 7 x 12 x 6 cm 2019
Duda Gonçalves A artista, pesquisadora em arte e professora do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Pelotas desenvolve uma produção na área de arte contemporânea com referências na pintura. Como líder do Grupo de Pesquisa Deslocamentos, observâncias e cartografias contemporâneas (UFPel/CNPq), investiga as relações entre arte e cotidiano, as cartografias e deslocamentos de artistas, a paisagem cotidiana na arte contemporânea, os dispositivos de arte que promovem a multiplicação e a circulação da obra em diferentes mídias e contextos. No trabalho, Paisagem cotidiana para camuflagem em dias cinzentos, um envelope de correio de papel pardo foi furado criando dois buracos, por meio dos quais brilha um dentro azul claro. A pintura, em tinta acrílica, é apresentada na altura dos olhos e parece provocar o observador a se ver camuflado e, ao mesmo tempo, perceber outras paisagens. Seria o observador ou o horizonte que se camufla? A pintura, disposta na parede, também olha o observador e solicita um ato de encarar, ver e, de certa forma, se tornar paisagem. Pinceladas fazem nuvens escuras pretas, brancas e cinzas e nos fazem experimentar a cor fria do céu pelotense “em dias cinzentos” e ansiar pela chegada do cerúleo. Paisagem cotidiana para camuflagem em dias cinzentos Pintura, tinta acrílica sobre envelope de papel pardo 34 x 24 cm 2018
Foto Alice Monsell
Instituto Hélio D’Angola
O Instituto Hélio D’Angola, coordenado por Aida Oliveira, foi criado em homenagem a seu pai Jorge Luis Chagas Oliveira (Hélio). O Instituto, anteriormente conhecido como Katangas, quando era boteco, hoje funciona como espaço cultural com uma área de lazer e de esportes para crianças e jovens, onde as famílias da comunidade participam de eventos, festas culturais e outras atividades organizadas pelo Instituto, tais como aulas de Zumba e aulas de reforço escolar nas quintas-feiras e sábados de manhã. As oficinas artísticas são ministradas das 9h às 10h da manhã aos sábados durante o período letivo e têm como principal objetivo o incentivo à criação de trabalhos artísticos por meio da reutilização de materiais que geralmente jogaríamos no lixo não orgânico. Os participantes da oficina criam colagens, fotomontagens, assemblagens, esculturas, brinquedos e trabalhos bi- e tridimensionais. Buscamos, por meio da arte, incentivar a conscientização sobre o meio ambiente, uma nova percepção ecológica sobre o que consumimos e descartamos, que promove a ressignificação do que é lixo e o que pode ser reaproveitado e reutilizado nas produções artísticas e no cotidiano. O público participante inclui crianças e adolescentes na faixa etária de cinco a quinze anos que moram na comunidade do Quadrado.
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