Os caminhos do lixo Alice Monsell Os caminhos do lixo é uma proposta em andamento que começou em 2012 e inclui: uma série de desenhos em grafite, caneta esferográfica e pastel sobre papéis diversos; séries fotográficas; três conjuntos de múltiplos em formato de porta copos; colagens e assemblagens com sobras de papel, lixo e madeira; apropriações de formatos culturais (toalha de mesa, mapa); arte postal impressa sobre „papel sustentável 240‟ e objetos encontrados (objet trouvé, óculos quebrados). Estes constituem um registro ambiental cartográfico elaborado a partir de propostas coletivas: ações públicas de Limpeza e Manutenção e Caminhadas realizadas em Pelotas e Rio Grande, RS entre 2012 e 2018. Estas produções são vinculadas aos projetos do grupo de pesquisa Deslocamentos, observâncias e cartografias contemporâneas (CNPq/UFPel). As imagens mostradas neste portfólio apresentam tentativas de recriar contextos no espaço de apresentação de exposições coletivas, os quais testaram a capacidade de evocar os processos ambientais observados em deslocamento na cidade. Os caminhos do lixo é consequência de atos de caminhar e observar trajetos nas ruas, no mato e nas praias de Pelotas e Rio Grande, RS. Os registros fotográficos destes percursos revelam processos de destruição, da poluição da água, do descarte inapropriado, da corte e trânsito de árvores e da convivência constante com o lixo nas ruas. A visibilidade destes processos é nosso desafio, pois, o tempo linear esconde o que a caminhada nos torna visível com cada passo e cada virada de esquina.
A primeira caminhada coletiva em que participei foi em Marambaia, Rio Grande, no canal São Gonçalo, perto de Pelotas em 2013, com colaboradores do grupo de pesquisa DeslOCC, a partir da proposta de Duda Gonçalves Piquenique em Marambaia. A caminhada se tornou procedimento para investigar um espaço privado que se estende no público, através dos caminhos do lixo que começam na porta da minha casa.
Caminhada com Pablo na Gomes Carneiro até a Reitoria Anglo e de volta para o Centro de Artes da UFPel, 2013.
Caminhada durante a greve do setor de saneamento pĂşblico de Pelotas em 2014.
Caminhando com Lica durante a greve do saneamento básico de Pelotas. O lixo transbordava.
Caminhamos até a Casa da Árvore, em frente da Reitoria do Anglo e encontramos com Christano. Ele mostrou suas construções de infraestrutura sustentável
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Posto de Reciclagem Areal II, Porto, Pelotas, RS. Desenho, caneta esferogrĂĄfica e impressĂŁo de jato de tinta sobre papel sulfite, 2013.
Deslocamento do lixo visto da sacada da minha casa, impressão a jato de tinta e caneta esferográfica sobre papel sulfite, 2013. Estes primeiros desenhos, neste portfólio, são mostrados sem sua forma de apresentação. Diversos formatos foram experimentados para evitar expor imagens isoladas. Queria evocar os processos entrópicos que fluem de dentro de nossas casas para fora, dentro e fora dos ambientes privados e públicos, naturais e construídos. O lixo e a poluição do ar e da água fluem em nosso entorno, presentes o tempo todo em todo lugar. Incorporam-se no meio, se tornam invisíveis, ignorados, distantes, camuflados, indistinguíveis.
Caminhos do lixo da minha casa, Andrade Neves entre Dom Pedro II e Três de Maio, Pelotas. Caneta esferográfica e impressão a jato sobre papel sulfite, 2013.
Todos os caminhos do lixo acabam em Candiota, lรกpis grafite, caneta esferogrรกfica, pastel seco, impressรฃo a jato sobre papel sulfite, 2015.
Caminhada e Ação de Limpeza Marambaia com Bruno, Chico, Alice, Paulo e Carol, 2015.
Panoramambaia, lรกpis grafite sobre papel canson, 2014.
Detalhe
Sobrarmambaia, desenho, lápis grafite sobre canson, 2014.
Estes desenhos lineares marcam um desvio no modo de investigar a linha e menos a sombra. Observo os padrões naturais dos fios de grama, cada linha, cada estampa da sola do tênis jogado, o padrão dos buracos de um balde de plástico quebrado que o corrente do canal São Gonçalo abandonou na prainha de Marambaia, vindo de Pelotas. A invisibilidade do lixo real se transforma, no desenho, em camuflagem dos padrões lineares que se confundem.
Os caminhos hidrográficos do lixo com tênis panorâmico na prainha do canal São Gonçalo, Pelotas, RS. Múltiplo, impressão digital sobre papel, 2016.
Caminhada Rua Andrade Neves até Rua Tamandaré, esquina Álvaro Chaves, Pelotas, dia 16 de maio de 2015.
Limpeza Jardim, Rua Tamandaré, esquina Álvaro Chaves, Porto, Pelotas, RS. Alice Monsell e Chico Furtado Camargo (PIBIC/UFPel), ação pública, 16 de maio de 2015 e 18/5/16.
Limpeza Jardim, Alice e Chico, levando as sobras do jardim num balde branco do Porto até o Centro, 2015.
Montagem parietal de registros de Limpeza Jardim, ação pública da proposta Os caminhos do lixo, na exposição coletiva Sobras do Cotidiano: Ambiente, deslo..ca..mentos, poéticas de resistência, Hello Hostel Pelotas, 2018. Registros de exposição: Daniel Moura.
Entrar naquela sala nos fundos da galeria era como se entrasse num mercado de pulgas com tudo gratuito. Emprestei bancos antigos de bondinho guardados na sala atrás da galeria DMAE e os desloquei para o espaço da galeria, para o canto da sala onde apresentei os desenhos. Configurei, com os objetos, uma forma de apresentação que parece uma sala de visitas de uma casa com seus sofás-banco de bondinho, a lixeira (que é a escultura com formato de lixeira - Reconstruindo o absolutamente inútil), o banco-mapa e os „quadros. A configuração doméstica é como um fundo que confunde dois espaços culturais que coexistem; A casa-galeria. Este espaço duplo potencializa situações, pequenas convivências e percepções. Ao ver as fotos da abertura, é engraçado. Percebo na foto um canto calmo do DMAE, mas sei que este espaço pertence, naquele momento, ao contexto maior de uma badalada abertura de exposição coletiva.
Nem sei se as pessoas que porventura se
sentaram no banco realmente perceberam isso como arte, ou que estavam participando de uma proposta. Mas, perceberam o alívio de poder sentar e falar: “Não aguento mais ficar em pé nesta abertura!”. Então, descansaram nos bancos de bondinho de costas para os desenhos.
Os caminhos do lixo na galeria de arte do DMAE, Porto Alegre, durante a exposição coletiva Arte + Arte: Arte e Política, Olhares Contemporâneos, 2017.
Processos entrópicos 1: Fantasmagoria dos tocos com ato de manutenção. Montagem de desenho de lápis grafite e fotografias, impressão a laser sobre papel sustentável 240, papel canson, moldura metálica com vidro, 2018.
Os caminhos do lixo Alice Monsell Instalação de desenhos, fotografias e objetos, a partir de Ações de Limpeza e Caminhadas de 2012 a 2018. Exposição coletiva: Sobras do Cotidiano: Meio ambiente, deslo..c...camentos, poéticas de resistência. Hello Hostel Pelotas, 2018. Regsistos de exposição: Daniel Moura.
Uma proposta em andamento
Os caminhos de lixo propõe um deslocamento do olhar,
um transitar pelas situações ambientais observadas e pelas práticas artísticas de manutenção da terra.
Experimentar o movimento, ao andar no percurso estreito.
sobe e desce, vira esquina, canto e coluna
Bi waiser, Be wiser, desenho, grafite, pastel, sobra de caderno Cotman e isopor, 2017. Foto: Daniel Moura.
Caminha na Rua Conde de Porto Alegre atĂŠ o Terminal das Toras com Bruno, Chico e Mara, 2016.
Um desenho sobre o trânsito de madeira para fazer papel para fazer um desenho para fazer mais madeira para fazer mais papel e assim por diante. Desenho-assemblagem. Låpis grafite sobre papel velho, com isopor, 2017. Foto: Daniel Moura.
Porta copos para esquecer o Terminal das Toras Pelotas-RS. Objeto e fotografia, papel, papelão reciclado, colagem e impressão a laser sobre papel sustentavel 240, 2018. Registro de exposição: Daniel Moura.
Autorretrato. Desenho, lรกpis grafite e pastel seco sobre sobra de papel. 2018. Foto: Daniel Moura.
Caminhada e Ação de Limpeza Laranjal I com Bruno, Chico, Maíra, Alice, Mara; e em Barro Duro. 2016. Registro de exposição: Daniel Moura.
Caminhada e Ação de Limpeza Laranjal II, Mara, Rogger, Rafael, Alice na praia de Laranjal, Lagoa dos Patos. Registro de exposição: Daniel Moura.
Sacola-corporificada-100% reciclĂĄvel 5Ppolipropileno. Colagem, impressĂŁo a laser sobre papel sustentĂĄvel 240, embalagem de polipropileno, 2018.
Alice Monsell
Orange, Nova Jérsei, EUA, 1958. Residente Pelotas, desde 1985.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS 2019: PANDORA, A SALA - galeria do Centro de Artes da UFPel, Pelotas-RS. EBA 70 anos. Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo-MALG/UFPel, Pelotas. ANTEǀVERǀTER. MALG/UFPel, Pelotas. Exposição Extrapágina. Espaço de Convivência CEHUS/UFPel, Pelotas. Edição Especial Água Essência da Vida-25 Anos Semana da Água do RSRS. Sede da Corsan - Porto Alegre-RS. Arte Postal Parque Longe. Biblioteca do EAV Escola de Artes Visuais-EAV do Parque Lage, Rio de Janeiro-RJ. Sobras do cotidiano II: Deslocar, Re(ver) e Transformar. Garagem Experimental, Pelotas. 2018: Água Essência da Vida, Abertura Palácio do Ministério Público do RS, Porto Alegre e itinerância em: Canoas, Farroupilha e Montenegro, RS. Feira de Múltiplos do 16ª edição do Projeto Armazém, Centro Integrado de Cultura/MASC de Florianópolis-SC. II DES..LO.C.C. As Paisagens Cotidianas Descansar e Resistir. Museu de Doce da UFPel, Pelotas. Armazém 16ª Edição - O mundo como Armazém, Museu de Arte Santa Catarina - MASC/sala Lindolf Bell, Florianópolis-SC. Sobras do Cotidiano: Meio Ambiente, Deslocamentos, Poéticas de resistência, Hello Hostel Pelotas, RS. Uma Mostra Chamada Desejo, Espaço Incomum-Centro de Convivência e CIDEC-Sul, Campus Carreiros/FURG, Rio Grande, RS. 2017: DeslOCC As Paisagens Cotidianas, A SALA-Galeria do Centro de Artes da UFPel, Pelotas II Exposição Internacional de Arte e Gênero. Museu de Arqueologia e Etnografia-MArquE da UFSC, Florianópolis, Santa Catarina-SC. Arte + Arte 2017: Arte e Política, Olhares Contemporâneos, Espaço DMAE (Prefeitura Municipal e Associação Chico Lisboa), Porto Alegre-RS. 2016: 1ª Hello Arte Internacional, Hello Hostel Pelotas, Pelotas. 7ª Edição do Projeto Armazém e Feira de Múltiplos, NaCasa Coletivo Artístico, Florianópolis-SC. Exposição Armazém Especial: Acervo, O Sítio Arte Educação Coworking, Lagoa da Conceição, Florianópolis-SC. Experiência Bibliotheca: Aproximações infraordinárias, Bibliotheca Pública e 44ª Feira do Livro de Pelotas, Secretaria Municipal de Cultura-SeCult, Pelotas. Pretexto Múltiplo (2016) + 10ª Edição Projeto Armazém, Galeria de Artes do SESC, Joinville-SC. Transgressões de Pandora: Subjetividades e polifonias, A SALA-galeria do Centro de Artes da UFPel, Pelotas. 2015: 1ª Bienal Internacional de Arte e Cidadania da UFPEL, Espaço Cultural da UFPel, Pelotas. 6ª Edição Projeto Armazém, Museu Victor Meirelles, Florianópolis, SC. Paralelo 31: Coordenadas da Arte em Pelotas, Casarão 6 de SeCult da Prefeitura de Pelotas, Pelotas. Qui va au nord va au sud, Syndicat Potentiel e curadoria Vincent + Feria da Université de France, Strasbourg, França. 2014: Casa da Alice III 2014, Garagem Experimental/Casa da Alice, Pelotas. 2013: Paisagens em Fluxo, [Pelotas Rio Grande do Sul de julho a... 2012/2013], Ágape Espaço de arte, Pelotas-RS. A Casa de Alice 2013 (Projeto em expansão), Garagem Experimental/Casa da Alice. I Exposição Internacional de Arte e Gênero, MArquE/ Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC. Lugares Livro, SeCult da Prefeitura de Pelotas, Pelotas. Outra História Mostra ILA IAD (1990-2010), Laneira, Pelotas-RS. Paisagem Sulina-Pelotas em Fluxo, Galeria de Arte Loíde Schwambach da FUNDARTE, Montenegro-RS. Respirando Junto, Triplex Galeria, Pelotas-RS. 2012: Artes e Ofícios para Todos, Galpão Liceu de Artes e Ofícios, Luz, São Paulo-SP. Deslocamentos Urbanos, Centro Cultural Adail Bento Costa-SeCult/Prefeitura de Pelotas, Pelotas. Paralelo 31: Reverberações da Arte Contemporânea em Pelotas, Espaço de Arte Ágape, Pelotas-RS. 2007: 2º prêmio, 1º Salão 10 X 10 da FUNDARTE, Galeria de Arte Loíde Schwambach da FUNDARTE, Montenegro-RS e itinerância. EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS: 2008: Domesticação da Galeria de Artes da Loide Schwambach, Galeria de Arte Loíde Schwambach da FUNDARTE, Montenegro-RS. 2007: Domesticando o Espaço IDEA, Galeria Espaço IDEA, Campus Carreiras/FURG, Rio Grande-RS.