[IFF - TFG Arquitetura e Urbanismo] Cata-vento: centro de tratamento psicológico

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centro de tratamento psicolรณgico para crianรงas e adolescentes



A tarefa do arquiteto consiste em proporcionar Ă vida uma estrutura mais sensĂ­vel. Alvar Aalto


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centro de tratamento psicológico para crianças e adolescentes

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Aline Ferreira de Azevedo Cruz Orientadora: Margarida Tavares Coorientadora: Ana Paula Lettieri Campos dos Goytacazes, RJ | 2017



agra deci men tos Agradeço à minha família, pelo apoio em todos esses anos, independente dos caminhos que escolhi traçar, e por sempre me ajudarem quando preciso, mesmo que houvesse um custo. Este trabalho não seria possível sem eles. Também agradeço à minha orientadora, Margarida Tavares, e à minha coorientadora, Ana Paula Lettieri, por todo apoio e dedicação nos últimos meses, e por não me deixarem desanimar. Aos meus colegas da turma VII, que nunca mediram esforços em compartilhar conhecimento e informações. Com vocês, aprendi a trabalhar em equipe. Em especial, agradeço à Damianna, Hugo, Ítalo, Jefferson, Luiza, Mariah e Tainá. Aos meus amigos, que não desistiram de mim nos últimos cinco anos, apesar das ausências e desencontros, e sempre me acolherem com palavras amigas, em qualquer situação. E, por último, mas não menos importante, agradeço a Joaquim pela ajuda nos momentos em que mais preciso, pela motivação diária e por me ensinar a ser uma pessoa melhor.


resu mo As discussões acerca da saúde mental vêm aumentando ao longo dos anos, deixando, aos poucos, o preconceito que os cerceia. Dentro deste contexto, a saúde mental ganhou espaço interdisciplinar, entendendo as influências da percepção humana no seu bem-estar. O presente trabalho aborda a proposta de criação de um Centro de Tratamento Psicológico para crianças e adolescentes com transtornos mentais comuns, vistowque, atualmente, não há espaços voltados para o tratamento e reintegração de pessoas com tais transtornos no município de Campos dos Goytacazes – RJ. O trabalho foi baseado nos princípios humanistas, levando em conta temas como psicologia e percepção ambiental, para melhor compreender a relação do homem com o ambiente, além de abordar um breve histórico da psiquiatria, e a saúde mental na infância e adolescência. Utilizou-se como métodos para a elaboração deste trabalho, as pesquisas bibliográficas, pesquisa da legislação local e legislações pertinentes. Espera-se, com este trabalho, contribuir para ressaltar a falta de espaços voltados para o tratamento de transtornos mentais comuns, e o papel do arquiteto, urbanista e paisagista na construção social do homem. Palavras-chave: Saúde Mental. Crianças e Adolescentes. Psicologia Ambiental. Percepção Ambiental. Centro de Tratamento.


abs tract Discussions about mental health have been increasing over the years, gradually leaving the prejudices behind them. Within this context, mental health has gained interdisciplinary space, understanding the influences of human perception on their well-being. The present work deals with a proposal to create a Psychological Treatment Center for children and adolescents with common mental disorders, since there are currently no spaces for the treatment and reintegration of people with such disorders in the municipality of Campos dos Goytacazes RJ. The work was based on humanistic principles, taking into account topics such as psychology and environmental perception, to better understand the relationship between man and the environment, as well as a brief history of psychiatry and mental health in childhood and adolescence. Bibliographic research, research of local legislation and relevant legislation were used as methods for the elaboration of this work. It is hoped, with this work, to contribute to highlight the lack of spaces aimed at the treatment of common mental disorders, and the role of architect, the urban planner and the landscape architect in the social construction of mankind. Keywords: Mental Health. Children and Adolescents. Environmental Psychology. Environmental Perception. Treatment Center.


su má rio

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breve histórico da reforma psiquiátrica, p. 15 introdução, p. 12

saúde mental na infância e adolescência, p. 26

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psicologia ambiental, p. 31


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referenciais bibliográficos, p. 45

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projeto arquitetônico, p. 59

referenciais bibliográficos, p. 100 considerações finais, p 98


introdução

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A saúde mental ainda é um assunto pouco discutido e disseminado na sociedade brasileira. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014), de 10 a 20% dos adolescentes sofrem de transtornos psicológicos e parte deles são negligenciados. Estes, por não receberem o devido tratamento, podem se agravar na fase adulta. Conforme afirma a UNICEF (2011):

Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 20% dos adolescentes tenham problemas de saúde mental ou de comportamento. A depressão é o principal fator isolado que contribui para a carga mundial de doenças em meio a indivíduos de 15 a 19 anos; e o suicídio é uma das três principais causas de mortalidade em meio a indivíduos de 15 a 35 anos de idade. Em termos globais, estima-se em 71 mil o número anual de adolescentes que cometem suicídio; e é 40 vezes maior o número de adolescentes que tentam o suicídio. Cerca de 50% dos transtornos mentais têm início antes dos 14 anos de idade, e 70% deles, antes dos 24 anos de idade (UNICEF, 2011 - ONLINE).

De acordo com Asbahr (2004), os transtornos mentais mais comuns em crianças são os transtornos de conduta, de atenção e hiperatividade e de ansiedade, que trazem sofrimento para os jovens e para aqueles com quem convivem. Além disso, podem gerar interferência no desenvolvimento intelectual e psicossocial, resultando em problemas psiquiátricos e de relacionamentos na fase adulta. Segundo Bacy W. Fleitlich e Robert Goodman (2002), um estudo realizado no Brasil em 2002 encontrou aproximadamente 10% de prevalência de transtornos psicológicos em crianças e adolescentes em áreas urbanas de classe média e em áreas rurais carentes (agricultura de subsistência), número semelhante à população de classe média dos países desenvolvidos. Entretanto, áreas urbanas e carentes (comunidades) apresentaram taxas mais elevadas, em torno de 20%, sugerindo a presença de outros fatores socioculturais, além do econômico, que diferenciam as duas populações de baixa renda estudadas, como a área rural de subsistência e a favela. A proposta do Centro de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes surge para tentar suprir a necessidade de informar a população e oferecer o diagnóstico e tratamento de acordo com as especificidades de cada criança e adolescente que necessita de cuidados especiais. Devido à falta de informação, os familiares, amigos e instituições de ensino não sabem como tratar adequadamente o jovem que sofre de transtornos psicológicos. Este jovem cresce num ambiente inadequado, muitas vezes nocivo, que interfere no seu desenvolvimento. Transtornos mentais são negligenciadas, apresentam tratamento com alto custo, e as escolas não estão preparadas para ensinar alunos que precisam de atenção diferenciada, ao seguirem o sistema tradicional de ensino. De acordo com Ximenes et al (apud FEITOSA et al, 2011), a demanda por tratamentos para transtornos mentais em crianças e adolescentes é crescente, e existe falta de serviços e especialistas nessa área, fato que contribui para a 13


dificuldade dos profissionais da saúde em geral em encaminhar crianças e adolescentes com problemas emocionais. Ainda acrescenta que os poucos serviços existentes apresentam longas filas de espera, e nem sempre as crianças são assistidas. Sendo assim, há necessidade de criação de um espaço que possa acolher os jovens, tratá-los e reinseri-los na sociedade, além de atuar diretamente na conscientização da população e trabalhar em conjunto com escolas da cidade, para que se possa avaliar o comportamento da criança e do adolescente, verificar e diagnosticá-lo. A proposta deste trabalho busca oferecer um ambiente onde o jovem possa se sentir à vontade, aprender e se relacionar com os outros, além de melhorar suas habilidades físicas e cognitivas. O objetivo geral deste trabalho consiste na elaboração de um anteprojeto de um Centro de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes, com a finalidade de contribuir para a saúde mental e o bem-estar social dos jovens da população de Campos dos Goytacazes, diminuindo a ocorrência de transtornos mentais em adultos. Para tanto, procurou-se projetar um espaço que proporcione o bemestar às crianças e adolescentes, além de propor uma edificação que atenda às necessidades dos mesmos e de seus familiares. Buscou-se também a criação de uma estrutura física capaz de receber atividades físicas, culturais e artísticas, que esteja em harmonia com os jardins e a natureza. Para o levantamento de dados e melhor entendimento e desenvolvimento do anteprojeto, foi feita uma visita ao Centro de Atenção Psicossocial InfantoJuvenil (CAPSi), órgão responsável por atender crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e moderados na cidade de Campos dos Goytacazes, onde foram realizadas conversas informais com a equipe sobre a relevância da criação de um Centro de Tratamento Psicológico na cidade. Foram empreendidas, também, pesquisas bibliográficas para maior conhecimen to sobre o campo da psicologia ambiental, os principais transtornos psicológicos que afetam crianças e adolescentes, e como pode-se criar um ambiente de tratamento através da arquitetura. Fizeram-se necessárias, ainda, pesquisas por referências projetuais que nortearam os aspectos físicos e funcionais do projeto. Foi realizada uma visita técnica para analisar os aspectos físicos do local onde se pretende implantar o Centro de Tratamento Psicológico, assim como o estudo da legislação pertinente, incluindo leis urbanísticas, para a adequação da proposta de projeto nas leis vigentes no município. Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. Sendo três capítulos teóricos, que embasam a realização do anteprojeto, apresentando como se deu a evolução dos tratamentos psiquiátricos, a saúde mental da criança e do adolescente, e a relação do homem com o ambiente que o cerca. Há um capítulo com referenciais de projeto, suas principais características e aplicabilidade, atuando como introdução ao conceito e realização do anteprojeto de arquitetura. O capítulo cinco aborda a descrição e desenvolvimento projetuais. As considerações finais relatam o que foi aprendido no decorrer deste trabalho e o que se pretende com o mesmo. Além disso, reforça o papel social do arquiteto, urbanista e paisagista, inserido na sociedade.

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breve histรณrico da reforma psiquiรกtrica

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Para o melhor entendimento de como se faz a assistência a pessoas com transtornos mentais atualmente, buscou-se fazer um breve histórico, a fim de melhor explicar quais os caminhos traçados pela psiquiatria até hoje. Os manicômios surgiram para assistir às pessoas com transtornos mentais, visto que a palavra tem sua origem na língua grega, “mania” significa loucura e “komêin”, curar. Nos séculos XVI e XVII, os Hospitais e as Santas Casas de Misericórdia abrigavam os “loucos”, como locais de acolhimento e piedade. Nestas instituições, os religiosos recebiam os excluídos, doentes, prostitutas, ladrões, miseráveis e “loucos” para oferecer-lhes conforto e tentar, de alguma forma, diminuir seu sofrimento. (AMARANTE, 1998; FOUCAULT, 1984, 2004 apud KNOPP, 2012). Sobre essa época, Rosa relata: Os loucos, antes da fundação do hospício, se tranquilos, eram acolhidos pela sociedade e assim podiam circular livremente; porém, se agitados e agressivos, eram reclusos nas cadeias públicas. Além do critério comportamental, a classe social também definia a abordagem do louco, pois os ricos eram tratados domiciliarmente ou enviados para tratamento na Europa (ROSA, 2008, p. 87 apud KNOPP, 2012, p.11). Conforme afirmado por Koda (2002, apud KNOPP, 2012), foi apenas no final do século XVIII, que Pinel criou o conceito de doença mental. Várias instituições foram inauguradas em seguida, a fim de tratar os indivíduos que são afetados por essas doenças. A partir disso, Pinel começa um trabalho de separação e classificação dos diversos tipos de “loucura”, o que acabou resultando na exclusão dos indivíduos com transtornos mentais da sociedade. Conforme afirmam Alberti e Couto (2008), foi com Pinel que se deu a primeira Reforma Psiquiátrica. Com isso, os “loucos” tinham um local para si, onde eram excluídos da vida em sociedade num sistema asilar, que pode ser equiparado com uma prisão. Os indivíduos eram vítimas de maus tratos, falta de higiene e superdosagem de medicamentos, além de serem isolados da família e da vida em sociedade. Szasz (1978, apud KNOPP, 2012) discorre sobre as origens do sistema de hospital psiquiátrico: “O grande confinamento dos insanos”, segundo a adequada denominação de Michel Foucault, começou no século XVII: “Uma data pode servir de marco: 1656, o decreto que fundou, em Paris, o Hôpital Général. O decreto que fundou esse estabelecimento, e outros promulgados na França, foram ordenados por Luís XIII (SZASZ, 1978, p.41 apud KNOPP, 2012 p.12).

De acordo com Alberti e Couto (2008), foi somente após a Segunda Guerra Mundial que o sistema asilar de “tratamento” e a massa que ocupava os manicômios foram questionados novamente. Alguns principais fatores que influenciaram o enfraquecimento das internações nestes hospitais psiquiátricos foram o crescimento econômico de alguns países, a reconstrução social e os movimentos sociais e civis. Além destes, outros fatores importantes são:

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os psicofármacos e a entrada da psicanálise nos meios psiquiátricos. O aumento considerável do número de psiquiatras com formação psicanalítica, tanto nos hospitais ingleses quanto nos franceses, gerou uma nova postura diante do paciente. Posteriormente, como consequência, seria cobrada a participação do Estado, fazendo com que o mesmo se inserisse nesta área. Logo surge na Europa a Psicoterapia Institucional, que atendia os pacientes de forma setorizada, tal experiência começou na França. A Psicoterapia Institucional teve uma forte adesão à Psicanálise, principalmente a de orientação lacaniana, e defendia que não somente os pacientes estavam doentes, mas a instituição de modo geral, ou seja, os agentes da instituição e seus funcionários também estavam doentes. Sua proposta era ser uma ação de saúde pública. Ainda no período da Segunda Guerra, na Grã-Bretanha, iniciam-se as comunidades terapêuticas, principalmente através do trabalho realizado por Main, Bion e Reichman, por meio do atendimento em grupo aos soldados. Logo a Organização Mundial da Saúde (OMS) elogiou a estruturação de programas de atendimento parcial e nos serviços residenciais completos propostos por Bion. Foi na Inglaterra que se usou primeiro o termo Saúde Mental em detrimento da doença (ALBERTI E COUTO, 2008). Quando retornavam das guerras, os jovens soldados ingleses apresentavam danos emocionais, e para voltar a viver em sociedade, precisavam cuidar de seus transtornos. Surge então um problema na Inglaterra, devido ao aumento da demanda por profissionais capacitados para tratar transtornos mentais, e a escassez dos mesmos. Main, Bion e Reichman usam então o potencial dos próprios pacientes no tratamento. Ainda nessa época surge o termo Psicossocial, no livro Psychosocial Medicine James L. Halliday, que estabelecia as primeiras relações entre o psiquismo e as transformações sociais. Sobre o tratamento oferecido por Main, Bion e Reichman no MonthField Hospital, Amarante explica que eram organizadas reuniões para discutir “[...] as dificuldades, os projetos, os planos de cada um; realizavam assembleias com duzentos ou mais pacientes; elaboravam propostas de trabalho em que todos (pacientes e funcionários) pudessem estar envolvidos, etc”. (AMARANTE, 2007, p.42). A OMS define a saúde mental como “[...] o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001, apud COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2005, p.4). Amarante (2007) afirma que a saúde mental, ao contrário da psiquiatria, não se baseia em apenas um tipo de conhecimento, e não é exercida por apenas, ou fundamentalmente, por um profissional, o psiquiatra. O autor aponta: Saúde mental não é apenas psicopatologia, semiologia. Ou seja, não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais. Na complexa rede de saberes que se entrecruzam na temática da saúde mental estão, além da psiquiatria, a neurologia e as neurociências, a psicologia, a psicanálise (ou as psicanálises, pois são tantas!), a fisiologia, a filosofia, a antropologia, a filologia, a sociologia, a história, a geografia (…). Mas se estamos falando em história, em sujeitos, em sociedade, em culturas, não seria equivocado excluir as manifestações religiosas, ideológicas, éticas e morais das

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comunidades e povos que estamos lidando? (AMARANTE, 2007, p.16).

Saúde mental pode ser entendida, portanto, como um conjunto de fatores que interferem no bem-estar do indivíduo, sendo assim multidisciplinar. Não existem, então, respostas concretas e definitivas em torno da saúde mental, como uma ciência exata, fazendo com que a saúde mental não se caracterize como ausência da doença mental. A partir do novo termo, novas formas de atender às pessoas com transtornos mentais surgem. Em 1961, o psiquiatra Franco Basaglia tornou-se diretor do Hospital de Gorizia, província italiana, e teve início então a Psiquiatria Anti-nstitucional, ponto de partida para a Reforma Psiquiátrica italiana. Apoiando-se no modelo da comunidade terapêutica, tentava-se humanizar, transformar a instituição psiquiátrica e, a posteriori, levar a experiência dos pacientes para fora da instituição, para a sociedade que os excluiu. De acordo com o psiquiatra: Uma comunidade que se queira terapêutica deve levar em conta esta realidade dupla, a doença e a estigmatização, para poder reconstruir gradualmente o rosto do doente, como devia ser antes de a sociedade, com seus inúmeros atos de exclusão e através da instituição que inventou, agir sobre ele com sua força negativa (BASAGLlA; 1967 [1985], p.124 apud ALBERTI; COUTO, 2008).

No entanto, diferente dos movimentos ocorridos na França e Inglaterra, o movimento iniciado por Basaglia e seu grupo se opôs fortemente ao sistema manicomial, criticando as diversas formas de violência sofridas pelos pacientes. Além disso, Basaglia afirma que o problema em si não é a doença mental, mas a relação que se estabelece com ela. Em 1963, John Kennedy lançou um Programa de Saúde Mental para os EUA, o qual chegou a ser considerado uma revolução na psiquiatria norteamericana. O que mais chamou a atenção nesse programa foi a proposta da Psiquiatria Preventiva, de Gerald Caplan. Como observado por Alberti e Couto, [...] para a Psiquiatria Preventiva residia na postulação de que as várias formas de doença mental, nas diferentes populações, eram resultado de fatores contrastantes, fatores positivos, denominados subsídios e fatores negativos, denominados práticas de risco. O trabalho da Psiquiatria Preventiva seria identificar tais fatores negativos e tentar corrigi-los de maneira positiva, para que eles não viessem a desencadear uma doença mental (ALBERTI; COUTO, 2008, p.53).

No Brasil, em 1841, foi criado o Hospital Dom Pedro II, conhecido por ser o primeiro hospital de atendimento a psiquiatria no país. O tratamento aos pacientes foi feito com violência, usando camisa de força, choques elétricos e superdosagens de medicamentos. O tratamento psiquiátrico brasileiro foi associado à Medicina 18


Higienista, cujo objetivo era “limpar” a cidade do Rio de Janeiro dos riscos de infecção gerados pela falta de saneamento e planejamento urbano e da massa de desempregados e indigentes que habitavam as ruas. (RESENDE, 1987, apud ALBERTI; COUTO, 2008). A Política de Saúde Mental no Brasil baseou-se no modelo manicomial. Porém, nos anos de 1970, segundo afirmam Alberti e Couto: [...] o movimento que resultou nas ‘Comunidades Terapêuticas’ instaladas em alguns hospitais psiquiátricos, passou a apostar na possibilidade de efetivamente sustentar um trabalho terapêutico em função das propostas que vinham das reformas realizadas em outros países e dos investimentos pessoais de alguns psiquiatras (ALBERTI; COUTO 2008, p.55).

Então, de acordo com Delgado (1998, apud ALBERTI; COUTO, 2008), três eventos políticos desencadearam o início da contestação e aquilo que se denominou Reforma Psiquiátrica brasileira: i) o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no ano de 1977, em Camboriú – SC; ii) o I Congresso de Trabalhadores de Saúde Mental, 1979, em São Paulo e iii) o III Congresso Mineiro de Psiquiatria, em 1979, com a presença de Basaglia, que teve forte influência na reforma psiquiátrica brasileira. Ainda conforme Alberti e Couto: A partir do projeto de lei, conhecido como projeto Paulo Delgado, apresentado à Câmara Federal, em 1989, iniciou-se, em nível nacional, um movimento crescente de reformulação das Políticas Públicas de Saúde Mental, que abriu as portas dos hospitais psiquiátricos tanto para a entrada de pesquisadores e técnicos de diversas áreas quanto para a saída de pacientes que, muitas vezes, encontravam-se internados há décadas. Uma das grandes contribuições da primeira versão do projeto de lei foi possibilitar o debate sobre a Lei Federal de Saúde Mental, tendo em vista que a referida lei datava de 1934, baseando-se, mormente, na exclusão dos pacientes do convívio social (ABERTI; COUTO, 2008, p.56).

Apenas 12 anos após a criação da proposta feita por Delgado, a lei foi sancionada no país. Conforme afirma Knopp (2012), a Lei Federal 10.216 reformula a assistência em Saúde Mental, e privilegia o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais. Em 7 anos, a Lei 10.216 (BRASIL, 2001) promoveu grandes mudanças: o surgimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), as residências terapêuticas e o trabalho articulado em Redes de Atenção Psicossocial (RAPs), principalmente nas capitais. Em áreas mais afastadas, ainda há resistência, e a reforma ocorre mais lentamente. O que fica mais claro após a Lei 10.216, é que se prioriza a atenção, o cuidado e a reinserção dos indivíduos na sociedade, revertendo o quadro do modelo manicomial, onde o centro de tratamento não tinha como objetivo a cura

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e o cuidado, mas a exclusão dos pacientes. Conforme a Portaria Nº 3.088 (BRASIL, 2011), os Centros de Convivência fazem parte da rede atenção psicossocial, sendo importantes para a promoção de interação social, produção, e intervenção na cultura e na cidade. Segundo Pereira (2014), em Campos dos Goytacazes1, a rede de atenção psicossocial conta com um Pronto Socorro Psiquiátrico2 , que funciona como porta de entrada para os demais serviços da rede, atendendo a 1.600 pessoas por mês, segundo dados da Prefeitura de Campos3 ; dois Ambulatórios, sendo um deles o Hospital São José4 e o outro Hospital Psiquiátrico Dr. João Viana5; que oferecem consultas de psiquiatria e psicologia; quatro CAPS, CAPS II6, CAPS III7, CAPSad8 e CAPSi9, que oferecem tratamentos conforme especificidade do paciente e dois Hospitais Psiquiátricos, Hospital Psiquiátrico Espírita Dr. João Viana10 e Hospital Psiquiátrico Henrique Roxo11. A política da saúde mental em Campos dos Goytacazes foi marcada pela predominância da estrutura manicomial. Com o impulso que veio da Reforma Psiquiátrica brasileira, novos dispositivos foram instalados na cidade, dentre eles estão os CAPs e ambulatórios. Pode-se observar então que a cidade já evoluiu a caminho da Reforma. Segundo pesquisa realizada por Pereira (2014), houve uma evolução na política da saúde mental na cidade de Campos dos Goytacazes, mas até então falta muito a ser feito. Ainda segundo a pesquisa, muitas pessoas da cidade continuam presas a modelos antigos e tradicionais de tratamento – recorrendo à internação. De acordo com Rosa (2010, apud PEREIRA, 2014), diferente de outras doenças, o transtorno mental tem origem multifatorial (biológica, social, psíquica e cultural) e é notado a partir de um comportamento desviante daqueles socialmente aceitos. Como consequência, os transtornos mentais acabam, muitas vezes, passando despercebidos, por serem, muitas vezes, “invisíveis”. Embora existam tantos estudos acerca da ressocialização dos pacientes, ainda há muitos estigmas e preconceitos que cerceiam os indivíduos que apresentam transtornos mentais, que dificultam a vida em sociedade. Além disso, estas dificuldades afastam os sujeitos dos tratamentos, pois os mesmos preferem se esconder a sofrer repressão. Atualmente, nos CAPs, ocorrem terapias ocupacionais, que buscam reinserir os indivíduos que sofrem de transtornos mentais na sociedade. Rissato, Crotti e Antonelli comentam: 1 Campos dos Goytacazes é o maior município em extensão territorial do interior do estado do Rio de Janeiro, com população de 463.731 habitantes (IBGE, 2010). 2 Endereço: Rua Saldanha Marinho, nº 59, Centro. 3 Fonte: http://www.campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=33644, acesso em fev., 2017. 4 Endereço: Rodovia Raul Souto Maior, s/nº, Goytacazes. 5 Endereço: Rua Machado de Assis, nº. 49, Parque Rosário. 6 Endereço: Rua André Luís, nº. 54, Jardim Carioca. 7 Endereço: Rua Primeiro de Maio, 43, Centro. 8 Endereço: Rua José do Patrocínio, nº. 104, Centro. 9 Endereço: Rua José do Patrocínio, nº. 154, Centro. 10 Instituição filantrópica conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Endereço: Rua Machado de Assis, nº. 49, Parque Rosário. 11 Instituição particular conveniada ao SUS. Endereço: Rua Conselheiro Thomaz Coelho, 194, Centro.

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Neste contexto extra-hospitalar, a arte assume um papel de extrema importância, viabilizando o processo de reabilitação e inclusão sócio familiar dos portadores de transtornos mentais e priorizando o tratamento do paciente como um todo (RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008, p.1).

De acordo com Benetton (2006, apud RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008), Pinel criou o tratamento moral, que hoje é o que se entende por terapia ocupacional, em um ambiente asilar, o qual possuía três ideais: liberdade, racionalidade e a humanidade. Ainda Benetton (1994, apud RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008), ressalta a relevância da realização de atividades para que se mantivessem ativos os pacientes com transtornos mentais. Além disso, também afirma que as atividades não existem somente para serem realizadas, mas conversadas, discutidas, debatidas, mudar de lugares e de pessoas, e que, inclusive, podem não ser realizadas. Sobre isso, Rissato, Crotti e Antonelli acrescentam: O ensino das atividades é imprescindível, pois é através deste que acontece a realização das atividades, começando a dar sentido a Terapia Ocupacional, é também neste momento que se desperta a criatividade do paciente, para que o mesmo crie ou recrie uma melhor forma de viver (RISSATO; CROTTI; ANTONELI, 2008, p.5).

Levando em conta as considerações sobre terapia ocupacional, e o processo de humanização dos cuidados com pacientes que sofrem de transtornos psicológicos, o projeto aqui proposto visa adotar algumas atividades que contribuirão para o processo de recuperação e ressocialização dos indivíduos que sofrem de transtornos mentais, sendo elas: arteterapia, musicoterapia, prática de exercícios físicos, jogos e brincadeiras, meditação, contato com a natureza e os animais. Algumas atividades estão relacionadas com a terapia ocupacional, enquanto outras são tratamentos complementares, já que se entende a saúde mental como multidisciplinar.

[Arteterapia] A arteterapia é definida pela Associação Brasileira de Arteterapia (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ARTETERAPIA, 2017) como um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde. A configuração dos campos prático e teórico da arteterapia tiveram início na psiquiatria, onde aconteceram as primeiras experiências com uso da arte com a finalidade de promover o bem-estar mental. Reis (2014) comenta:

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Na arteterapia o fazer artístico é um instrumento para a promoção da saúde e da qualidade de vida. Nela podem ser usadas como recursos terapêuticos as mais diversas atividades artísticas: desenho, pintura, modelagem, música, poesia, dramatização e dança. Estas atividades visam a facilitar a expressão do sujeito por meio de outras linguagens (plástica, sonora, escrita, corporal) além da verbal, ampliando as possibilidades de comunicação, facilitando o autoconhecimento e promovendo o desenvolvimento da criatividade (REIS, 2014, p.247).

De acordo com Cirnai (1995 apud REIS, 2014), o fazer artístico auxilia a pessoa no aprendizado de lidar criativamente com a sua própria vida, fazendo com que possa ocorrer um contato profundo e eficaz na relação terapêutica. A arte aplicada em terapias é um poderoso meio para a expressão de subjetividade das pessoas que sofrem com transtornos psicológicos, fazendo com que o mesmo possa conseguir demonstrar sua visão única de mundo, possibilitando, assim, o autoconhecimento e a melhor resolução de conflitos pessoais e de relacionamentos.

[Musicoterapia] A música como elemento capaz de influenciar diretamente as sensações dos indivíduos é reconhecido cientificamente. A partir de estudos e experimentos, surge a musicoterapia. Esta, de acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia, é uso profissional da música para otimizar a qualidade de vida e bem-estar das pessoas, tanto físico, quanto emocionalmente (WORLD FEDERATION OF MUSIC THERAPY, 2011 apud SAMPAIO,2015). De acordo com Sampaio et al (2015), através da musicoterapia, o indivíduo experimenta a música, e participa ativamente, realizando performance, composição e improvisação musical, além do processo auditivo. Wigram e Gold (2006 apud SAMPAIO, 2015) afirmam que a musicoterapia favorece a motivação, as habilidades de comunicação e a interação social, além de melhorar a atenção.

[Prática de Exercícios Físicos] A saúde mental está diretamente relacionada à saúde física, visto que uma afeta a outra diretamente. Pessoas que sofrem com transtornos mentais estão mais sujeitas a sofrerem com outros tipos de doenças, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares (SAÚDE DA MENTE, 2017). Por outro lado, tanto as doenças cardiovasculares quanto a obesidade podem provocar transtornos mentais. Neste contexto, a prática de exercícios físicos é fundamental para contribuir com a melhora da saúde física, e consequentemente, da saúde mental. Além disso, segundo o site Saúde da Mente: 22


Estudos realizados tanto em animais quanto em humanos sugerem que exercícios, principalmente os aeróbios (que varia entre baixa e média intensidade e longa duração), auxiliam na preservação da memória, na qualidade do sono, no humor, diminuem os níveis de estresse, combatem as doenças ligadas ao envelhecimento e ainda ajudam a controlar os sintomas de depressão e ansiedade, tanto em pacientes com algum transtorno psiquiátrico, quanto na população em geral (SAÚDE DA MENTE, 2017, s.p.).

Ainda de acordo com o site Saúde da Mente (2017), a contribuição dos exercícios físicos ocorre devido ao aumento de endorfina no sistema nervoso. Endorfinas são produzidas no cérebro quando o indivíduo pratica a atividade física, e esta provoca sensação de prazer e bem-estar. As contribuições vão além do fator biológico, pois promove integração social, ao fazer com que o indivíduo conviva e faça trocas com outras pessoas e combata a tendência ao isolamento (SAÚDE DA MENTE, 2017).

[Meditação Mindfulness] Em geral, classifica-se a meditação em dois estilos básicos na visão ocidental: mindfulness e concentrativo (CAHN & POLICH, 2006; DAVIDSON & GOLEMAN, 1977; apud DELL’AGLIO & MENEZES, 2009). O tipo mindfulness é uma adaptação ocidental, sendo descrito como uma prática de abertura, onde ocorre percepção dos estímulos, como pensamentos, sentimentos e sensações, livre de julgamentos e análises (DELL’AGLIO & MENEZES, 2009). De acordo com Barros (2013, apud GIRARD & FEIX, 2016), o objetivo do mindfulness é treinar a mente para que a mesma esteja sempre consciente do que está executando. Ao ser treinada, a mente passa a reconhecer seu conteúdo mais claramente, e assim, aprende a lidar melhor com as emoções. Segundo Girard e Feix (2016), aprender a lidar com as emoções é uma das causas mais recorrentes da busca por ajuda psicológica, e dentro deste contexto, a prática do mindfulness vem ganhando espaço no campo da psicoterapia. Muitas vezes, antes de iniciar a prática da meditação mindfulness, é preciso treinar a concentração, fazendo com que o indivíduo foque, primeiro, num só objeto. Este objeto é, normalmente, a própria respiração. No entanto, existem diferentes práticas, e elas devem se adequar à demanda do indivíduo que busca tratamento.

[Contato com a natureza] Ambientes saudáveis influenciam diretamente na nossa saúde mental. De acordo com Lundin & From (FROM & LUNDIN, 2009), o impacto da natureza no estado mental do homem vem sido descrito em vários estudos. Roger Ulrich (1984, apud DOBBERT & BOCCALETTO, 2015) realizou uma 23


pesquisa em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos em um hospital na Filadélfia, com o intuito de avaliar a influência da paisagem proveniente da janela dos pacientes em seu processo de recuperação. No resultado da pesquisa, os pacientes que tinham suas janelas voltadas para os jardins precisaram de menos analgésicos e se recuperaram mais rapidamente que os demais. Podemos perceber, com base no estudo de Ulrich, que a relação entre o indivíduo e o espaço que o cerca pode ser também uma ferramenta que acelera o processo de cura, e as paisagens naturais promovem uma melhor sensação de bem-estar. Kaplan comenta: O contato com áreas verdes, ainda que recriadas pelo ser humano, porém conservando as características do meio natural, traz benefícios para a saúde, como a diminuição do estresse, melhora na realização das atividades laborais e bem-estar. (KAPLAN & KAPLAN, 1995 apud DOBBERT & BOCCALETTO, 2015, p.144).

Evidências apontam que quando crianças e adolescentes mantêm contato com a natureza, ocorre melhora nos níveis de atenção com crianças que sofrem com déficit de atenção, melhora emocional, cognitiva e de desenvolvimento relacionado com valores (FABER TAYLOR et al., 2001; KELLERT, 2002 apud DOBBERT & BOCCALETTO, 2015).

[Contato com animais e cinoterapia] Partindo do princípio da importância do meio para o bem-estar do ser humano, os microssistemas presentes neste meio também têm influência direta no comportamento e sensação do indivíduo, a partir de uma inter-relação dinâmica. Assim, não se pode excluir a presença de animais como parte importante deste meio. Segundo Faraco et al (2009), a inclusão de animais em práticas de saúde coletiva ainda é pouco estruturada, e é uma possibilidade que foi ganhando espaço informalmente. Apesar disso, manter contato com a natureza e os animais é também uma questão de reencontro com a própria natureza humana. Sobre isso, Faraco et al afirmam: A ideia de (re)aproximação à nossa condição natural também reflete a noção de que nos afastamos dela, ou que somos (ou temos) uma condição bastante diferenciada das demais espécies, ainda que parecemos “magneticamente” atraídos por algumas delas (FARACO et al, 2009, p.4).

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Ainda de acordo com Faraco et al (2009), somente a partir do ano de 1960


que o psiquiatra Boris Levinson documentou, a partir de suas observações, que a relação com animais de companhia deveria ser considerada no cuidado da saúde, pelo valor terapêutico atribuído a essa relação. Partindo deste conceito, a cinoterapia foca no cachorro para a realização de terapia que envolve o contato com os animais. Tal contato melhora crianças com ansiedade e depressão, visto que estas se sentem amadas, seguras e competentes, capazes de cuidar de um outro ser (BICHOS..., 2003 apud OLIVEIRA, 2007).

[Jogos e brincadeiras] O ato de brincar e jogar são importantes por estarem diretamente ligados a uma ação cujo objetivo é o divertimento. A diferença entre brincar e jogar está no fato que a brincadeira é uma atividade não estruturada, enquanto o jogo requer um conjunto de regras a serem seguidas. De acordo com Vygotsky (1991 apud CORDAZZO & VIEIRA, 2007), na brincadeira, a criança cria um espaço imaginário, onde ela pode, através da fantasia, satisfazer desejos impossíveis na sua realidade. Ou seja, a mesma nasce de uma necessidade de um desejo frustrado pela realidade. Além disso, a brincadeira é a atividade principal da infância. Não só devido à frequência de uso dessa atividade pelas crianças, como também no papel fundamental que o ato exerce no desenvolvimento infantil (CORDAZZO & VIEIRA, 2007). Ainda de acordo com Cordazzo e Vieira: A elaboração criativa no jogo proporciona trocas afetivas e uma convivência alegre e descontraída, que permite aos envolvidos, trabalharem suas fantasias, estabelecerem vínculos com o meioambiente, no qual estão inseridos e conseguirem ingressar e participar da vida cultural, viabilizando a emergência do sujeito social (RIGHETTI, 1996 apud CORDAZZO & VIEIRA, 2007, p. 91).

Por fim, o brincar não apenas proporciona desenvolvimento físico, intelectual e afetivo. De acordo com Ramalho (2000, apud CORDAZZO & VIEIRA, 2007), brincar permite a preservação da cultura e favorece a socialização. Valorizar a brincadeira possibilita o desenvolvimento da saúde, inclusão e facilita a interação social.

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saúde mental na infância e adolescência


Como foi visto no capítulo anterior, o campo da saúde mental no Brasil sofreu muitos avanços nos últimos 27 anos, mas quando pensamos nas crianças e adolescentes, pouco foi feito. Eles também foram submetidos aos regimes de exclusão, e também sofreram violências diversas dentro de diferentes instituições e manicômios. A saúde mental da criança e do adolescente não recebe tanta atenção quanto a dos adultos. No Brasil, o Ministério da Saúde não apresenta programas que contemplam crianças e adolescentes com transtornos mentais que não sejam graves. Os casos mais graves ou severos são assistidos pelos Centro de Atenção Psicossocial para a Infância e Adolescência (CAPSi), que, de acordo com CAPSi de Campos dos Goytacazes, encaminham crianças e adolescentes com transtornos emocionais e comportamentais para os ambulatórios. Com isso, acaba sendo desconsiderada a abrangência do termo saúde mental, restringindo-se apenas ao atendimento psiquiátrico, negligenciando o atendimento de crianças e adolescentes com transtornos mentais e comportamentais menos severos. No entanto, pode-se testemunhar, de acordo com Dias (2009), o cenário da atenção a crianças e adolescentes no campo da saúde mental, onde coexistem com a atual Reforma Psiquiátrica, práticas manicomiais capazes de gerar consequências tão devastadoras quanto os existentes em hospícios. Estigmas e preconceitos ainda cerceiam transtornos mentais, provocando uma exclusão sutil, muitas vezes dentro da própria família, e principalmente na instituição escolar. Ainda sobre o assunto, Dias afirma: Sabe-se que crianças e adolescentes ainda são encaminhadas para instituições que, sob os significantes de “cuidado e proteção” ou que remetem à ideia de acolhimento, como “Associação de pais e amigos dos excepcionais”, escolas especiais, submetem-nas a práticas ortopédicopedagógicas, tomando como frente de trabalho o apagamento do sintoma, retirando da criança a possibilidade de subjetivar suas questões; além de contribuem para a desassistência no campo da saúde mental (DIAS, 2009, p.3).

Essas instituições trabalham na tentativa de transformação dos comportamentos “anormais” em “normais”, procurando restabelecer a ordem para aquilo que vai de encontro aos valores dominantes sobre a “normalidade”. Segundo Dias (2009): Ao ser considerada como anormal e passível de conserto, não estaria sendo retirada da criança a possibilidade de subjetivar suas questões e criar saídas singulares para lidar com seu mal-estar, mesmo que uma dessas saídas seja a loucura? (DIAS, 2009, p.4).

Ainda de acordo com Dias (2009), muitas vezes as questões referentes aos adultos adiam as discussões sobre crianças e adolescentes, o que contribui para a desigualdade entre os dois campos de pesquisa. Esta desigualdade 27


não se designa necessariamente à diferença entre os cuidados oferecidos às crianças e os adultos, mas à prioridade dada ao tratamento do adulto em detrimento da criança. De acordo com Campos (1992, apud DIAS, 2009): A submissão do planejamento da área infantil aos projetos referentes aos adultos, em função de uma concepção que colocava a clínica psiquiátrica da criança como um decalque da clínica do adulto, relegando historicamente a estas o mesmo destino dos adultos; o entendimento de que as clínicas e escolas para “retardados” encobriam todos os problemas mentais na infância; a falta de peso na difusão de saberes sobre a especificidade dessa clínica que pudesse mobilizar a própria área de saúde mental e outros setores da saúde e da sociedade como um todo (CAMPOS, 1992, p. 9 apud DIAS, 2009, p.5).

É possível perceber que o principal problema no tratamento das crianças e adolescentes está na noção equivocada que se pode oferecer o mesmo tratamento para crianças e adultos. É necessário repensar o tratamento mental das crianças e adolescentes, atentando-se para o fato que os sintomas podem se agravar na fase adulta, quando não tratados adequadamente na infância e adolescência – fases onde parte dos transtornos mentais se manifestam. A literatura aponta que cerca de 10 a 20% das crianças apresentam problemas de saúde mental e necessitam de assistência especializada (HALPERN & FIGUEIRA, 2004, apud SANTOS, 2006). Discute-se ainda que os transtornos mentais em crianças e adolescentes resultam de falhas nas instituições onde as crianças e os adolescentes estão inseridos ou das instituições que prestam assistência às mesmas (BOARINI & BORGES, 1998; CABRAL & SAWAYA, 2001, apud SANTOS, 2006). A partir de pesquisas bibliográficas, Thiengo et al. (2014) concluem que os transtornos mentais que prevalecem em crianças e adolescentes são depressão, transtornos de ansiedade, de déficit de atenção com ou sem hiperatividade, por uso de substâncias e de conduta, associados principalmente a fatores biológicos, genéticos e ambientais. Thiengo et al. comentam: Verifica-se uma carência na atenção à saúde mental infanto-juvenil, não só em países em desenvolvimento, mas também em países desenvolvidos. Assim, identificar os transtornos mais prevalentes e seus fatores associados pode colaborar com a melhora na atenção e aumento da oferta de serviços específicos para população infanto-juvenil (THIENGO et al., 2014, p. 370).

Para que sejam feitos estudos capazes de melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes que apresentam transtornos mentais, é preciso reconhecer que tal assunto é interdisciplinar e complexo, e não há uma área de estudo capaz de oferecer respostas e soluções. É necessário que haja integração, discussão e 28


pesquisa em diversas disciplinas, na busca de resultados positivos e satisfatórios, para que haja, verdadeiramente, democracia. Quando se pensa na criança, não se pode afastá-la do âmbito familiar. Adultos negligentes, abusos sexuais, violência doméstica, pais alcoólatras ou usuários de drogas, ausência de figura paterna, materna ou ambos, acabam por influenciar e marcar fortemente a personalidade da criança, e influir no desenvolvimento ou não de transtornos mentais. Bechtel (1997, apud CUNHA & GÜNTHER, 2014, p.171) assinala que filhos de fumantes têm entre 20 a 80% de chance de apresentar problemas respiratórios. Partindo dessa afirmação, pode-se imaginar o quanto crianças não “herdam”, de forma inconsciente ou passiva dos adultos que os cercam, e o ambiente no qual está inserido. Ainda de acordo com Bechtel, “As crianças são menos influenciadas pela aprendizagem e mais influenciadas pela sua herança” (BECHTEL, 1997, p.46, apud CUNHA & GÜNTHER, 2014, p.172). Atualmente, atentemo-nos ainda ao desenvolvimento das cidades e do crescimento da falta de segurança nas ruas. As crianças ficam presas em suas casas, depois presas em suas instituições de ensino, e, em casa, muitas vezes não se conectam com a família e com a cidade, devido ao distanciamento cada vez mais frequente, dado ao uso da internet, e falta de segurança pública. As crianças crescem em “bolhas”, protegidas por seus pais ou responsáveis, e, muitas vezes isoladas. As mesmas, como seres sociais, não foram feitas para o isolamento. Tal comportamento aproxima-as ainda mais à falta de saúde mental. Além disso, os padrões de beleza e comportamento são cada vez mais exigidos, fazendo com que as crianças e adolescentes que não se encaixam, sintam-se deslocadas e não-pertencentes aos grupos que os cercam.

[Transtornos mentais comuns em adolescentes] De acordo com o psiquiatra Josué de Castro (DIÁRIO DO NORDESTE, 2008), os transtornos mentais psicóticos, ou psicose, são aqueles que resultam em perda de contato com a realidade, e podem ser crônicos ou se manifestar através de surtos psicóticos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002, apud LOPES et al, 2016), cerca 90% dos transtornos mentais não são psicóticos. Os transtornos mentais não psicóticos são denominados de Transtornos Mentais Comuns (TMC). Estes têm prevalência de 20-30% da população geral, e apresentam, principalmente, sintomas de ansiedade, depressão, além de queixas específicas ou somáticas (GOLDBERG & HUXLEY, 1992 apud LOPES et al, 2016). Os TMC em crianças e adolescentes podem ser sintomas iniciais de transtornos mentais mais severos além de prejudicar as relações sociais e o rendimento escolar (Patel et al, 2007 apud LOPES et al, 2016). O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), realizou um estudo de prevalência dos TMC em adolescentes no Brasil, aplicado em municípios com mais de 100 mil habitantes, nos anos de 2013 e 2014. Para a avaliação, foi utilizado General Health Questionnaire, versão de 12 itens (GHQ-12), e o resultado da mesma pode ser verificado no quadro 1.

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Quadro 1: Tamanho da amostra, população e prevalências de transtornos mentais comuns nos municípios com mais de 100 mil habitantes, segundo sexo, faixa etária, natureza da escola e macrorregião.

Fonte: ERICA, Brasil, 2013-2014 apud LOPES et al, 2016. A partir deste estudo, pode-se concluir que há grande demanda de adolescentes que apresentam TMC, e estes não são tratados pelos CAPSi, visto que os mesmos encaminham a maioria dos casos de TMC para ambulatórios, ficando restritos, principalmente, a casos de gravidade alta ou moderada. Além disso, o ambiente no qual a criança está inserida deve ser feito para facilitar o tratamento. Ajudá-la, partindo de estudos feitos em conjunto com a psicologia ambiental, espaços devem ser feitos e pensados para ela, contribuindo para seu bem-estar. O ambiente físico, assim como o social, também tem influência sobre o comportamento da criança.

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psicologia ambiental

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Para que a arquitetura contribua para a atenção e o cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes, é necessário entender a Psicologia Ambiental e sua aplicabilidade, com o objetivo de tornar o espaço construído mais agradável e funcional, contribuindo para proporcionar o bem-estar de seus usuários. Segundo Fisher, Bell & Baum (1984, apud GÜNTHER & ROZESTRATEN, 2005), a psicologia ambiental pode ser definida como o estudo da inter-relação entre comportamento e ambiente, construído ou natural. A psicologia ambiental é, então, multidisciplinar, integrando ergonomia, arquitetura, urbanismo, paisagismo, geografia social, sociologia urbana, biologia e meteorologia, a fim de melhor entender a relação do homem com o meio que o cerca. Bateson (1986, apud OKAMOTO, 2014) afirma: Sempre coloquei em minha vida as descrições de varas, pedras, bolas de bilhar e galáxias em uma caixa, o pleroma , e deixei-as em paz. Na outra caixa coloquei as coisas vivas: caranguejos, pessoas, problemas de beleza e problemas de diferença. (BATESON, 1986, p.15, apud OKAMOTO, 2014, p.13).

Ainda Bateson (1986, apud OKAMOTO, 2014) explica que a arquitetura muitas vezes é deixada na primeira caixa, embora devesse estar na segunda, já que apresenta caráter estruturador das chamadas “coisas vivas”. O espaço transmite estímulos ao ser humano através dos elementos que o compõe. Então, o indivíduo o percebe – esta etapa entremeia questões relativas ao sujeito e ao meio e é onde se obtém informação. Na próxima etapa, a consciência, as questões relativas ao sujeito são tratadas, gerando, por consequência, um comportamento determinado (OKAMOTO, 2014). A figura 1 apresenta uma sistematização deste processo. A arquitetura encontra-se claramente como agente transformador nas etapas aqui apresentadas, estando relacionada claramente com o que afirma Merleau-Ponty (1999, apud SILVA, 2008), percebemos os objetos sempre os relacionando a outros objetos do mundo. O fator determinante da arquitetura dentro deste contexto, está na tentativa de minimizar possíveis estresses e ansiedades que podem acometer o indivíduo dentro de um ambiente que causa estranheza. Almeja-se levar espaço aos indivíduos, deixá-los livres para apropriarem-se do meio onde estão inseridos, respeitando seu território e sua noção de privacidade. A intenção não é assustar, causar desconforto, mas acolher, provocar aconchego e segurança. Busca-se na arquitetura coisas não muito diferentes do que se procura em um amigo. Sentirse confortável num espaço é o primeiro passo para uma melhor saúde mental. Quando se pensa em centros de tratamento psiquiátrico ou psicológico, pensa-se em espaços hospitalares, em muros e grades, e até mesmo ao sistema manicomial de tratamento, devido à prevalência deste sistema por muito tempo no Brasil. Esta organização espacial, segundo From e Lundin (2009), acaba por gerar no paciente o sentimento de inferioridade, dependência e aprisionamento. Quando um indivíduo busca atendimento psiquiátrico ou psicológico, chega ao ambiente ansioso, assustado por causa do ambiente estranho, com medo de seus

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sintomas e de estar ficando “louco”. Se este ambiente o intimida num primeiro momento, a sensação fica. Figura 1: Sistematização do processo de relação Pessoa-Ambiente.

Estímulos

Percepção

Consciência

Comportamento

Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.

A psiquiatria humanista deve ser tomada como base quando se pensa em psicologia ambiental. O ambiente deve proporcionar ao indivíduo potencial de bem-estar, contribuir para determinados comportamentos, ações e sensações que beneficiem o mesmo. Tratando-se de crianças e adolescentes, objeto de estudo deste trabalho, deve-se levar em consideração suas idades, visto que isso influi na interação da mesma com o meio que a cerca. Assim como estar na presença ou ausência dos pais ou pessoas próximas. O espaço para receber a criança precisa ser seguro, divertido, interessante e convidá-la a explorar. Para os adolescentes, a percepção ambiental se faz mais madura, menos diferente, independente da pessoa que o acompanha. Adolescentes e jovens gostam de se apropriar de ambientes existentes

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de forma única, expressando-se dessa forma. Para melhor entender a relação pessoa-ambiente e aplicá-la ao anteprojeto arquitetônico proposto neste trabalho, precisa-se entender como funciona a apropriação e apego aos espaços realizados pelos seres humanos.

[Apropriação e apego] A apropriação trata de adequar algo ou um lugar às necessidades pessoais do indivíduo ou de um grupo, provocando o sentimento de posse de algo como próprio. De acordo com Ornstein (1995, apud PIMENTEL, 2015), a forma como o indivíduo se apropria do espaço está diretamente ligado à sua herança e variações culturais. A partir de imagens associativas, a pessoa atribui significado ao meio onde está inserido. Conforme afirma Tassara (2004, apud PIMENTEL, 2015), o indivíduo busca nas suas relações, tanto interpessoais quando ambientais, segurança e conforto, sentimentos que são associados a noção de lar. Além de segurança e conforto, muitas outras funções psicológicas são atribuídas ao lar, e sua importância pode variar dependendo da idade ou do sexo, ou também da etapa atingida no processo de construção do lugar como um espaço significativo nas vidas dos habitantes. Para se obter uma teoria mais abrangente do desenvolvimento afetivo, o apego talvez pudesse ser melhor conceituado como um “componente” de diferentes vínculos, em vez de um laço específico (TASSARA, 2004, p. 100 apud PIMENTEL, p.26).

Ainda segundo Tassara (2004, apud PIMENTEL, 2015), pode ocorrer a necessidade de autoexpressão no ambiente. A personalização do espaço é importante para a ligação do lugar a pessoa que ali frequenta. A proposta deste trabalho é de criar um centro de convívio pra crianças e adolescentes que sofrem de transtornos mentais comuns (TMCs), onde os mesmos passarão um curto período de tempo. No entanto, é imprescindível que ocorra a apropriação e o apego dos mesmos com o espaço, para que este processo de aprendizado e recuperação do bem-estar ocorra de forma completa, dentro de um ambiente que seja familiar e seguro para os mesmos. Dentro deste contexto, deve-se permitir a personalização dos ambientes pelas pessoas que frequentarão o espaço, a caracterização e demarcação de território. Reconhecendo a Psicologia Ambiental como locus privilegiado na interseção entre os campos da Arquitetura e da Psicologia, este trabalho procura realizar o esforço de projetar uma edificação que considere, em especial, a relação pessoaambiente. Em face disso, a palavra “percepção” passa a ser uma das palavra-chave para o desenvolvimento desse Centro de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes.

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[Percepção ambiental e arquitetura] A percepção consiste na interpretação dos estímulos que o homem recebe do meio que o cerca, através dos sentidos. Assim, a percepção ambiental é a interpretação dos estímulos do ambiente que o rodeia, e está diretamente relacionada com a arquitetura e os elementos que compõe o interior das edificações. Visto que o presente trabalho se trata de uma proposta de anteprojeto para um Centro de Tratamento Psicológico, no qual, a saúde mental é o foco, devese levar em consideração que as ações que acontecem na mente humana não estão relacionadas no cérebro somente. De acordo com Ackerman (1992, apud OKAMOTO, 2014), a mente humana não está limitada ao cérebro: A maioria das pessoas pensa na mente como localizada na cabeça, mas as últimas descobertas da fisiologia afirmam que a mente não se encontra exatamente no cérebro, mas percorre o corpo em caravanas de hormônios e enzimas, ocupadas em dar sentido às maravilhas que catalogamos como tato, paladar, olfato, audição e visão. (ACKERMAN, 1992, p. 19, apud OKAMOTO, 2014, p. 80).

A partir deste conceito, o estudo de alguns sentidos do ser humano e de como o indivíduo percebe o ambiente que o cerca, faz-se interessante para melhor compreender e tomar decisões projetuais no processo da criação de uma arquitetura que provoque bem-estar. Sobre a relação entre arquitetura e os sentidos, Serra (1999 apud ALVES, 2006) completa: Acostumados a definir arquitetura como forma geométrica, o espaço como proporção e a edificação como função e uso com um valor estético associado, esquecemos com frequência a possibilidade de valorizála também em termos de energia, como soma total de luz e cor, som, temperatura e qualidade do ar (SERRA, 1999, s.p., apud ALVES, 2006, p. 120).

Para a valorização do espaço em termos de energia, busca-se entender como se dá a percepção humana do ambiente, a partir dos sentidos.

[Visão, iluminação e cores] O ser humano só é capaz de enxergar as cores, relacionadas à presença da luz, que é refletida pelos objetos. A visão, de acordo com Okamoto (2014), ocupa 87% das atividades envolvendo os cinco sentidos, fazendo com que o indivíduo tenha a impressão de que a realidade é aquilo que vê. A missão instintiva da visão 35


é localizar e reconhecer possíveis ameaças à segurança. Ainda conforme Okamoto (2014), há níveis de percepção, que ocorrem de forma gradativa, na visão, sendo elas: i) a configuração dos objetos e dos seres (silhuetas); ii) a visão do volume (luz e sombra); iii) a sensação de peso (textura e padrão). Ao utilizar luz e cores, a arquitetura pode explorar a percepção do ser humano, provocando as sensações e comportamentos desejados para cada ambiente. A iluminação, tanto artificial quanto natural, é importante para a qualificação dos espaços construídos. A luz beneficia o estado fisiológico e psicológico do indivíduo. Construções que valorizam o contato com o exterior garantem o conforto visual, térmico e psicológico do ser humano. Além disso, biologicamente, a luz natural, proveniente de átrios, janelas e zenitais (figura 2), é a melhor para os ambientes internos. (VASCONCELOS, 2004 apud PIMENTEL, 2015). De acordo com Del Rio, Duarte e Rheingantz (2002 apud LETTIERI, 2013), excesso de iluminação, por outro lado, pode gerar ofuscamento e excesso de ganho de calor aos usuários, provocando sensações desagradeis, como estresse, caos, e estes evitarão visitar tais locais. Pode-se concluir então que a luz pode trazer benefícios e malefícios, dependendo de como é utilizada, e qual a função do ambiente que está sendo projetado. Figura 2: Exemplos de iluminação natural utilizada em ambientes internos.

Fonte: BARROS et al, 2005.

As cores só existem porque existe luz. Segundo Pimentel (2015), estudos científicos comprovam o efeito das cores no estado psicológico dos indivíduos. “Elas têm a propriedade e a habilidade de despertar sensações e definir ações e comportamentos, além de provocar reações corporais e psicológicas” (MANAIA, 2011, p.74 apud PIMENTEL, 2015, p.33). As cores podem ser classificadas como quentes ou frias (figura 3). Conforme Vasconcelos (2004 apud PIMENTEL, 2015), Modesto descreve que as cores quentes são relacionadas com a agitação, e transmitem proximidade, calor, opacidade e secura, enquanto as frias são calmantes, provocam a sensação de distância, frieza, leveza, umidade e transparência

Figura 3: Espectro visível das cores. Cores quentes Cores frias Fonte: VASCONCELOS, 2004 apud PIMENTEL, 2015.

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[Olfato] O olfato também é um sentido utilizado de forma persistente, levando em consideração que a respiração é vital. Okamoto (2014), comenta que “(...) as fragrâncias têm sido por séculos uma forma de nos dar prazer e simpatia com relação ao ambiente e às pessoas. A simpatia, ou empatia, começa com o cheiro” (OKAMOTO, 2014, p.86). O olfato está próximo do sistema límbico, e tem uma forte ligação com os sentimentos. De acordo com Hirsch (WEISS, 1995 apud OKAMOTO, 2014), o olfato afeta o humor, a memória a habilidade de resolver problemas, o apetite sexual e a escolha de parceiros. Cheiros desagradáveis aceleram a respiração e os batimentos cardíacos, enquanto os agradáveis reduzem o estresse. Sendo assim, a utilização de plantas e do paisagismo para beneficiar os usuários através do aroma se faz muito positiva, além de purificarem o ar, através da absorção de toxinas, alegram o ambiente e aumentam o contato com a natureza (VASCONCELOS, 2014 apud PIMENTEL, 2015).

[Paladar] Conforme explica Okamoto (2014), o cotidiano dos seres humanos também está relacionado ao paladar. O alimento é a fonte de energia, sendo, portanto, essencial para a existência. Por instinto, a criança já nasce sabendo mamar, e enquanto cresce, acaba por levar tudo à boca, por ser o primeiro sentido que desenvolve. Além disso, o ato de comer está diretamente relacionado com o contato com o outro. Ainda Okamoto (2014), comenta: (...) devido ao atual estilo de vida, todos os membros da família saem de casa: os pais vão para o trabalho, as crianças, à escola e a outras atividades sociais ou esportivas. Esse fato tem ocasionado desencontros, fragmentando o convívio familiar. Algumas famílias conseguem reunirse uma vez por dia, à hora do jantar (no meio urbano). Quando existe. (OKAMOTO, 2014, p.86)

O ambiente onde ocorre a alimentação deve ser devidamente elaborado, pensado cuidadosamente, a fim de proporcionar interação social a partir do ato de comer. Questões como iluminação, dimensão da mesa e altura do encosto da cadeira são importantes para criar uma ambiência confortável.

[Tato, sentido háptico e conforto térmico]

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De todos os sentidos, o tato é o maior em extensão. O corpo humano é revestido de pele, e por toda a extensão da mesma, é possível sentir tudo que entra em contato com ela. Através da visão o indivíduo tem acesso a parte superficial dos elementos, enquanto que, através do tato, pode entrar em contato com a ampla realidade do meio em que vive. Quando toca a superfície, a pessoa sente a interiorização do objeto. Sentir o tato é o que define o corpo humano no meio que o cerca, e é como este sente a existência de si (OKAMOTO, 2014). De acordo com Montagu (MONTAGU, 1988), há vários sentidos táteis que são definidos por tato, como pressão, dor, prazer, temperatura, fricção, informações que são recebidas pelos músculos ao realizar movimentos e assim por diante. Para descrever o tato a partir de sua extensão mental, utiliza-se o termo háptico. Bloomer e Moore (1975, apud OKAMOTO, 2014) argumentam: (...) o sentido háptico é o sentido do toque reconsiderado para incluir o corpo todo, em vez de somente os instrumentos de tato como são, por exemplo, as mãos. O sentido háptico não é outra coisa senão o sentido do tato ampliado. Como sistema perceptivo, o sistema háptico inclui todas aquelas sensações (pressão, calor, frio, dor e cinestesia) em que previamente se havia dividido o sentido do tato e, consequentemente, todos aqueles aspectos de percepção sensível que têm a ver com o contato físico dentro e fora do corpo (BLOOMER & MOORE, 1995, p. 46, apud OKAMOTO, 2014, p. 95).

O sentido háptico é imprescindível para que o ser humano assegure sua integridade física, devido à percepção de perigo, e o sentimento de dor e calor, que impedem o indivíduo de sofrer queimaduras graves ou insistir em uma atividade que provoca dor. Além disso, Okamoto (2014) afirma que “(...)o entorno exerce também importância sobre nós. A harmonia, a suavidade ou a agressividade do meio ambiente reflete sobre nosso sistema háptico, sobre a nossa sensibilidade” (OKAMOTO, 2014, p. 96). Dentro do sistema háptico, encontra-se o conforto térmico. É através da pele que o calor ou frio é percebido no ambiente, e este é essencial para a sobrevivência do ser humano. O papel da arquitetura, é de suma importância que o projeto apresente soluções para proporcionar conforto térmico aos usuários. De acordo com Okamoto (2014), o cérebro trabalha melhor em temperaturas mais frias do que quentes. Desta forma, é preciso trabalhar medidas que minimizem o impacto do clima da região em que se pretende implantar um projeto arquitetônico.

[Audição] O ouvido está permanentemente aberto, logo, a audição está diretamente relacionado à segurança, até mesmo quando o indivíduo está dormindo, a comunicação oral, e ao sentido de equilíbrio. Qualquer som que destoe ao fundo sonoro do ambiente onde está inserido, provoca tensão e insegurança à pessoa (OKAMOTO, 2014). 38


Os sons afetam o bem-estar do ser humano. Alguns sons provocam prazer, enquanto outros, estresse e desconforto. Nos aspectos arquitetônicos, pode-se trabalhar o tratamento acústico e utilização de barreiras acústicas e visuais na elaboração do interior da edificação, e, no paisagismo, trabalhar elementos que possam provocar sons relacionados a relaxamento, como de água ou folhas de árvore balançando ao vento.

[Sentido proxêmico, barreiras visuais e acústicas, mobiliário e nichos] Segundo Davis (apud OKAMOTO, 2014), Hall criou o termo proxemia e o definiu como o estudo da estruturação inconsciente do microespaço humano. É a relação dos indivíduos com as pessoas e o espaço que os cercam, as distâncias que promovem comunicação, contato e interação interpessoais de forma a não causar estranhamento ou incômodo aos mesmos. Okamoto (2014) acrescenta que “Todo homem tem necessidade do espaço territorial, e a utilização desse espaço influencia seu relacionamento com os outros” (OKAMOTO, 2014, p.112). No estudo do sentido proxêmico, o espaço é dividido em quatro categorias: íntimo, pessoal, social e público. Trataremos dessas categorias para melhor compreender a vivência espacial do homem, e as distâncias confortáveis entre os indivíduos para que possam se relacionar em um ambiente social. Tais distâncias variam de acordo com a cultura dos povos. As distâncias apresentadas neste trabalho são aplicadas ao povo brasileiro. O espaço íntimo, de acordo com Okamoto (2014), possui distância de 0 a 45 cm. A essa medida, acontecem relações interpessoais íntimas, como as que acontecem entre parceiros amorosos e a relação entre a mãe a criança, pois há contato físico direto, ou a possibilidade de haver. Dependendo da cultura, também pode acontecer com pessoas próximas. Na cultura brasileira, a proximidade física com familiares e amigos é comum, ocorrendo abraços, e conversas mais próximas em determinadas ocasiões. Quando não se tem intimidade, esta proximidade torna o contato embaraçoso. Segundo Okamoto (2014), o espaço pessoal é entendido como uma bolha que cerca o indivíduo, e a distância para que ocorram as relações pessoais está no intervalo entre 45 e 120. Sommer (1973, apud OKAMOTO, 2014), explica sobre a bolha: O espaço pessoal refere-se a uma área com limites invisíveis que cercam o corpo da pessoa, e na qual os estranhos não podem entrar. (...) não tem necessariamente a forma esférica, nem se estende igualmente por todas as direções. Ela se ajusta conforme situações de presença de outras pessoas no local. (SOMMER, 1973, p. 32, apud OKAMOTO, 2014, p.113).

Ainda de acordo com Okamoto (2014), essa bolha desaparece em algumas situações, como escuro ou na intimidade, e se faz presente, instintivamente, na presença de qualquer outro ser.

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Gifford (1997, apud BARROS et al., 2005) defende que o espaço pessoal é influenciado por questões pessoais (gênero, idade e personalidade), questões físicas, sociais (medo, segurança, atração e relações de poder e status), religiosas, étnicas e culturais. Pode-se concluir, então, que a bolha do espaço pessoal funciona como um escudo que protege o indivíduo das pessoas que os cercam, fazendo com que este entre em alerta para proximidades que provocam estranheza. O espaço social ocorre onde são tratados assuntos impessoais. É utilizado nas relações entre empregado e empregador e para tratar de negócios. A distância mantida para que essas interações aconteçam estão entre 120 e 365 cm. Essa distância também é utilizada para organização de espaços de trabalho, para que os funcionários continuem trabalhando, sem permitir assuntos pessoais, e também para apresentar relação de status e poder (OKAMOTO, 2014). De acordo com Sommer (1973, apud OKAMOTO, 2014), a distância entre 200 e 365 cm é utilizada para relações formais ou de negócios, ocorrendo apenas contato visual. Quando o indivíduo deixa de olhar, ocorre a exclusão do outro. Ainda Sommer (apud OKAMOTO, 2014), realizou um estudo com estudantes dispostos em diferentes arranjos físicos a fim de constatar como a posição do indivíduo influi nas interações interpessoais que o mesmo realiza. No quadro 2, pode-se observar a preferência dos estudantes por posições em mesas. Quadro 2: Preferência por posições em mesas.

Fonte: Sommer (1973, p. 78, apud OKAMOTO, 2014). Modificado pela autora.

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A arquitetura de interiores apropria-se dos arranjos físicos estudados por Sommer, e das distâncias sociais para criar ambientes impessoais. Okamoto (2014) comenta que: [...] a distância entre as cadeiras nas salas de estar em espaços públicos, como aquelas utilizadas nos aeroportos, não permitem conversas íntimas e normais. Isso é feito para tornar o ambiente impessoal, típico de salas de espera em clínicas, onde o silêncio impera (OKAMOTO, 2014, p.118). O espaço público é aquele onde, de acordo com Hall (1966 apud OKAMOTO, 2014), uma pessoa pode perceber o outro, e adotar uma postura de fuga ou defesa, se ameaçada. Este compreende a distância entre 350 a 750 cm. Nessa distância, as conversas ocorrem com voz relativamente alta. O sentido proxêmico, que pode ser entendido como as distâncias interpessoais, demonstram o tipo de relacionamento existente entre dois ou mais indivíduos. No quadro 3, as distâncias interpessoais são apresentadas de forma resumida. A partir da definição dos espaços e distâncias que o homem, de forma inconsciente, impõe para as suas relações com os outros, pode-se perceber a noção da extensão do Eu. A partir do entendimento da extensão do indivíduo, que deixa de atuar apenas no corpo, e passa a atuar também no espaço que o cerca, pode-se entender a apropriação espacial do homem do ambiente no qual está inserido, e o apego que o mesmo estabelece com o meio. Quadro 3: Distâncias interpessoais. Distância

Íntima

Pessoal

Social

Pública

Preferência

Dimensão (cm)

Conversação

Próxima

De 0 a 15

Sussurro audível

Longe

De 15 a 45

Conversação Íntima

Próxima

De 45 a 75

Voz moderada

Longe

De 75 a 120

Participação Pessoal

Próxima

De 120 a 220

Assunto impessoal

Longe

De 220 a 365

Negócio formal

Próxima

De 365 a 730

Discurso formal

Longe

> 750

Declaração pública Manifestação

Fonte: OKAMOTO, 2014. Modificado pela autora. 41


Para aplicar o sentido proxêmico no projeto de arquitetura e interiores, pode-se utilizar barreiras visuais e acústicas, os mobiliários e os nichos para influenciar a inter-relação entre os usuários. As barreiras visuais e acústicas (figura 4) preservam a privacidade, promovem a interação social, ou isolam o usuário do espaço. De acordo com Barros et al (2005), quando móveis, essas barreiras também contribuem para a maior adaptabilidade do ambiente, além de poder representar status, separando usuários ou grupos dos demais. Figura 4: Possíveis barreiras visuais e acústicas.

Fonte: BARROS et al, 2005.

Os mobiliários flexíveis adaptam-se de acordo com as atividades que serão desenvolvidas no ambiente (BARROS et al, 2005). Ao pensar no tipo de mobiliário empregado para o interior da edificação, deve-se pensar nos espaços íntimo, pessoal, social e público, além da preocupação com a ergonomia. As dimensões dos mobiliários podem facilitar interações sociais, ou impor barreiras que impossibilitam ou dificultam a comunicação (figura 5). Figura 5: Mobiliários e a preocupação com as dimensões.

Fonte: BARROS et al, 2005. Os nichos podem ser classificados como: fixos (inclusos na edificação), ou flexíveis (que podem se adaptar ao ambiente, utilizando móveis). Estes funcionam como fechamentos ou conchas (figura 6), criando espaços íntimos, que acabam por provocar interações interpessoais, e destacam o espaço pessoal (BARROS et al, 20015). Além disso, 42


os nichos podem melhorar o bem-estar quando o indivíduo se alimenta, relacionando-se diretamente com o paladar. Figura 6: Exemplos de nichos sociopetos.

Fonte: BARROS et al, 2005.

[Sentido de movimento e amplidão]

Le Boulch (1987, apud OKAMOTO, 2014) afirma: (...) os organismos vivos estabilizam sua própria composição, orientam a natureza menos complexa que os rodeia. Portanto, o organismo nunca é um sistema em repouso, mas é sempre a sede de uma atividade: a necessidade de ação é a própria necessidade de viver. (..) é o movimento que confere ao comportamento seu caráter de ação, por oposição à simples reação condicionada (LE BOULCH, 1987, p.21, apud OKAMOTO, 2014, p. 99).

O ser humano, está, portanto, em constante movimento, em processo de ação e reação ao ambiente que o cerca. Deve-se atentar ao fato que o movimento ocorre no espaço vazio, onde não há elementos. Segundo Okamoto (2014): É no espaço entre as coisas que nos movimentamos, atuamos, vivemos. Esse espaço, com sua significação, sua importância e o valor a ele atribuído, conduz à ação e é nele que se realizam todas as atividades. (OKAMOTO, 2014, p. 105).

De acordo com Okamoto (2014), a intensidade da circulação de pessoas tem influência direta nos ambientes próximos, atraindo ou inibindo a saída das pessoas para fora, dependendo da abertura dessas salas. Maior abertura torna o espaço sociofugo, enquanto menor abertura faz com este seja sociopeto. Segundo 43


Hall (1966, apud OKAMOTO, 2014), Osmond criou os termos sociofugo e sociopeto, estando o primeiro relacionado a ambientes que tendem a manter as pessoas afastadas, e o primeiro a ambientes que tendem a unir as pessoas. Ainda conforme Okamoto (2014): A criação do espaço arquitetônico é a criação do espaço vivencial, tanto para o indivíduo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para outra. (OKAMOTO, 2014, p. 101)

O sentido de movimento está intimamente ligado à ergonomia dos espaços, dimensões que proporcionam comodidade aos indivíduos ao se movimentar, e amplidão. Segundo Barros et al (2005), o ambiente que permite o ajuste de tais distâncias de acordo com as circunstâncias, caracteriza-se como amplo (figura 7). Figura 7: Ambiente amplo e indicação de circulação de pessoas.

Fonte: BARROS et al, 2005.

Alta incidência de iluminação, cores claras em materiais de acabamento e pé direito alto, ou ambientes descobertos e/ou sem paredes transmitem a sensação de amplidão. Ainda assim, desde que não comprometam a sensação de amplidão, nichos e mobiliários podem ser utilizados para proporcionar sensação de intimidade em ambientes amplos (BARROS et al, 2005). Para Hall (apud BARROS et al, 2005), ambientes amplos são aqueles que permitem o usuário caminhar de um canto a outro.

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referenciais projetuais

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Östra Psychiatry Hospital

46 Figura 8. Fonte: ARCHITIZER, 2017


[Referenciais Funcionais] Östra Psychiatry Hospital Ano do projeto: 2006 Local do projeto: Östra Sjukhuset, Göteborg, Suécia Autor do projeto: White Arkitekter O principal objetivo do Hospital Psiquiátrico Östra (Figura 8) foi de quebrar o estigma associado aos hospitais psiquiátricos. O ambiente institucional e com portas trancadas é visto como o oposto do que os arquitetos responsáveis entendem como “arquitetura de cura”. O Östra ganhou um prêmio denominado Care Building Prize em 2007, e o autor do projeto, Stefan Lundin, vem se dedicado à pesquisa de Psicologia Ambiental desde então. Os jardins são entendidos como o coração do projeto, sendo local de encontro dos pacientes. O hospital não apresenta longos corredores e não é associado a prisão. A escolha de materiais e o design de interiores se deu a partir de preceitos intimistas. Pode-se observar (Figura 9) o uso da madeira e de cores para criar situações de conforto e aconchego. Figura 9: Interior do Östra Psychiatry Hospital – Madeira.

Fonte: ARCHITIZER, 2017.

Projetado para transmitir a sensação de calma, o hospital apropria-se de 47


iluminação natural (Figura 10) e de quartos individuais, para que o paciente sinta sua individualidade e tenha um “ninho”. Sobre o espaço, From e Lundin afirmam: Pequenez de escala, um exterior atraente, pequenas unidades de cuidado que fornecem, tanto aos pacientes quanto aos funcionários, quartos privados, o bom acesso ao cenário natural, e a cor e o projeto que promovem o processo de cura (FROM & LUNDIN, 2009, p.21 – tradução realizada pela autora). Figura 10: Östra Psychiatry Hospital - Uso da iluminação artificial e natural na criação de espaços.

Fonte: ARCHITIZER, 2017.

O programa do hospital compreende, em seu primeiro andar, o hall de entrada, a área administrativa e a área de atendimento à emergência. No segundo pavimento, há o acesso de ambulâncias, a continuação da área de emergência, os arquivos e os vestiários. No terceiro, encontra-se o café, a cozinha, as unidades de tratamento, área de terapia funcional e treinamento, facilidades para lecionar, avaliação de remédios, e salas de contemplação. No quarto pavimento, há salas de treinamento, a gerência, a administração e unidades de tratamento. Em um bloco conectado ao primeiro prédio, encontra-se sala de reciclagem, escritórios, serviços, salas de terapia e consultas, recepção, estação de unidades de tratamento, átrio, salão, cozinha, despensa, sala de jantar, sala de atividades, salão de uso comum, quartos de pacientes com duas camas, quartos de paciente com válvula de isolamento, vestiário, loja, sala de reunião e trabalho em equipe, sala de tratamento, sala de retenção, sala dos funcionários, sala de utilitários sujos, sala de utilitários limpos, lavanderia e depósito. No projeto destacam-se suas aberturas e 48


vistas para os jardins (Figura 11). Figura 11: : Interior do Östra Psychiatry Hospital – iluminação natural através de painéis de vidro, e utilização de jardins internos.

Fonte: ARCHITIZER, 2017.

A escolha deste projeto como referencial funcional se deu a partir da aproximação do mesmo com a psiquiatria humanista, tendo como objetivo fugir do sistema manicomial e respeitar o espaço do indivíduo e dos funcionários. A integração entre o espaço construído e a natureza proporcionam bem-estar e cuidado com o indivíduo em tratamento. A proposta foi pensada de forma que pudesse contribuir ativamente para o processo de melhorar a saúde mental das pessoas que trabalham ou são atendidas no local. 49


Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos

50 Figura 12. Fonte: ARCHDAILY, 2017


Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos Ano do projeto: 2010 Local do projeto: Barcelona, Espanha Autor do projeto: Aldayjover Arquitectura y Paisaje A Residência e Centro de dia para Problemas Psiquiátricos (Figura 12) encontra-se entre duas torres gêmeas de 10 andares. No entanto, no lote onde foi inserido, só é possível construir até 3 pavimentos. Devido as normas urbanísticas, esta edificação não pode ser rodeada de jardins, que seria ideal pela tipologia, então, optou-se por fazer uma circulação que rodeasse um jardim interno. Os usos fundamentais foram estruturados por nível, não por bloco. A maior parte do centro dia encontra-se no térreo, o que possibilita maior integração com o pátio interno, e garante a privacidade dos usuários, como pode ser observado na figura 13. Essa edificação foi selecionada para fazer parte dos referenciais Funcionais devido ao seu programa, que se relaciona com a proposta projetual deste trabalho. No subsolo, concentra-se: serviços gerais, estacionamento e instalações de apoio e uso de funcionários. No térreo está o ginásio, refeitório e as dependências menores e de uso ocasional. Há um mezanino que abriga todos os escritórios (médicos, psicólogos e salas de visita). Nos pavimentos acima estão as 3 residências, e no terceiro andar encontra-se a área para instalações (ARCHDAILY, 2017). Figura 13: Implantação e Planta Térrea da Residência e Centro dia.

Fonte: ARCHDAILY, 2017. 51


Nova EscolaeMunicipal Residência Centro de dia paraFrederikshavn em Problemas Psiquiátricos

52 Figura 8. 14.Fonte: Fonte:ARCHITIZER, ARCHDAILY, 2017


[Referencial Tipológico] Nova Escola Municipal em Frederikshavn Ano do projeto: 2012 Local do projeto: Frederikshavn, Dinamarca Autor do projeto: Arkitema Architects A nova escola municipal em Frederikshavn (Figura 14), foi implantada em forma de estrela, fazendo com que todas as salas de aula da escola pudessem receber luz e ventilação naturais, além de facilitar o acesso ao pátio. Esta escola, como referencial tipológico, apresenta implantação interessante, fazendo com que a construção se abra completamente no terreno, como pode ser visto em sua planta de implantação na figura 15. A forma de estrela, com os ambientes voltados para a área externa, acaba por unir a construção com o terreno. Figura 15: Implantação da Nova Escola Municipal em Frederikshavn.

Fonte: ARCHDAILY, 2017.

Outros fatores que contribuíram para a escolha desde projeto como referencial tipológico foram a predominância horizontal que a escola apresenta, e a existência de uma praça central de convivência, que pode ser acessada a partir de todos os departamentos da mesma. 53


Casa da Crianรงa

54 Figura 16. Fonte: ARCHDAILY, 2017


[Referencial Plástico] Casa da Criança Ano do projeto: 2014 Local do projeto: Briis-sous-Forges, França Autor do projeto: MU Architecture A Casa da Criança (Figura 16) surgiu como a proposta de se misturar no bosque que o rodeia, deixar com que a criança sinta o cheiro da natureza, as mudanças provenientes das estações do ano, e que pudesse observar a sombra das árvores de dentro das suas salas de aula. A estrutura da escola é curvilínea, acompanhando o desenho formado entre as árvores. Como referencial plástico, a casa da criança foi escolhida devido ao uso predominante da madeira, e de sua proposta de se misturar com a natureza que a rodeia, adotando formas curvilíneas como pode ser visto em sua implantação (Figura 17), possibilitando ao usuário a integração com o ambiente externo a partir de qualquer ambiente. Figura 17: Implantação da Casa da Criança.

Fonte: ARCHDAILY, 2017. Além disso, construção reflete um caráter natural e poético do entorno no qual está inserido, sendo dependente da natureza que o cerca, para que seus grandes vãos possam enquadrar a paisagem natural do entorno. Pode-se dizer que a arquitetura ocupa o papel de coadjuvante. 55


PavilhĂŁo da Expo Flora Taipei

56 Figura 18. Fonte: ARCHDAILY, 2017


[Referencial Tecnológico] Pavilhão da Expo Flora Taipei Ano do projeto: 2010 Local do projeto: Cidade de Taipei, Taiwan Autor do projeto: Bio-architecture Formosana Os Pavilhões da Expo Flora Taipei (figura 18) integram arte arquitetônica e tecnológica, estendendo-se sobre o terreno respeitando as árvores existentes. Pode-se encontrar um sistema inteligente de controle das aberturas, dos elementos de sombreamento e nos sistemas de ar condicionado. Na cobertura, também se encontra a alta tecnologia aplicada: a estufa utiliza isolantes transparentes para ajudar na fotossíntese das plantas, e uma espécie de cortina ajusta a luz interna automaticamente, de acordo com o tempo. Além disso, há painéis solares que proporcionam energia alternativa, reduzindo as emissões de gás carbônico. A temperatura interna é reduzida por causa da parede de gotejamento da estufa. O hall foi equipado com ventiladores de umidade, que vaporizam água no ambiente e resfriamento de piso em vez de ar condicionado. A cobertura verde reduz o efeito de ilha de calor, e a vegetação nas laterais do pavilhão, como pode-se observar na figura 19, contribuem com a baixa manutenção e isolamento térmico (ARCHDAILY, 2017). Figura 19: Pavilhões da Expo Flora de Taipei – vegetação nas paredes.

Fonte: ARCHDAILY, 2017. 57


A escolha do referencial tecnológico se deu a partir de uma construção sustentável que pudesse ser exemplo de tecnologias que podem ser aplicadas no projeto, como os painéis solares nas fachadas inclinadas no pátio, e o recolhimento de água da chuva para tanque de purificação (Figuras 20 e 21), onde a flora aquática absorve metais pesados na água e demais elementos aceleram a precipitação de contaminantes, purificando a água naturalmente. Figura 20: Lago de purificação da água da chuva - geral.

Fonte: ARCHDAILY, 2017. Figura 21: Lago de purificação da água da chuva - detalhe.

Fonte: ARCHDAILY, 2017. 58


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o projeto arquitetĂ´nico

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A proposta de anteprojeto, objeto de estudo deste trabalho, é um Centro de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes. Este Centro visa a promoção de bem-estar através de terapias tradicionais e complementares, e se difere dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) por ser voltado principalmente para casos de transtornos mentais de baixa intensidade, e os chamados Transtornos Mentais Comuns (TMC), que são subdiagnosticados, e negligenciados, principalmente em áreas carentes. Além disso, os Centros de Convivência fazem parte da rede de atenção psicossocial, que ainda está em expansão na cidade de Campos dos Goytacazes. Neste capítulo, o anteprojeto arquitetônico será apresentado, seguindo a ordem de seu desenvolvimento. Serão apresentados o terreno pensando na implantação do anteprojeto, o conceito e partido do mesmo, seu programa de necessidades e pré-dimensionamentos, setorização, fluxograma, implantação, as plantas baixas e os principais estudos realizados durante sua evolução.

[Localização] O terreno escolhido para elaboração do anteprojeto do Centro de Tratamento está situado na cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, Brasil (Figuras 22 e 23). Sua fachada frontal está voltada para a Rua Antônio Manoel, sua fachada posterior está voltada para a Rua Princesa Isabel, que já possui previsão de prolongamento até a Av. Dr. Arthur Bernardes, sua lateral direita está voltada para a Rua José Ildefonso E. Campos, e a esquerda para a Av. Dr. Arthur Bernardes. Pode-se utilizar terrenos semelhantes para a implantação do projeto. A escolha do terreno se deu principalmente pela localização, estando próximo de duas vias arteriais, a Av. 28 de Março, distante cerca de 270 m, e a Av. Dr. Arthur Bernardes, para onde está voltada uma das fachadas, facilitando o acesso ao mesmo. Além disso, o terreno é amplo, permitindo a horizontalidade da edificação, e o contato com a natureza, e está em um bairro tranquilo, predominantemente residencial, para fugir do estresse que centros urbanos costumam transmitir.

Figura 22: Localização do Estado do Rio de Janeiro no Mapa do Brasil e Localização da cidade de Campos dos Goytacazes no Mapa do Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Acervo pessoal, 2017. 60


Figura 23: Localização do terreno no mapa de Campos dos Goytacazes e uma ampliação com a marcação do terreno (com prolongamento previsto da Rua Princesa Isabel).

Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.

Legislação De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo do município de Campos dos Goytacazes, o terreno está situado na Zona Residencial 4. É possível observar, nas figuras 24 e 25, a delimitação do terreno no Mapa de Uso e Ocupação do Solo e os principais eixos. O Centro de Tratamento Psicológico na ZR-4 (Zona Residencial 4) deve estar em um Eixo Local. A Rua Antônio Manoel, via principal de acesso ao Centro, é um eixo de comércio e serviço (ESC-1), destinada ao comércio e serviço local e ao uso residencial unifamiliar e multifamiliar. Sendo assim, o terreno escolhido está em conformidade com as leis municipais. A taxa de ocupação nos terrenos da ZR-4 é de 80%, de acordo com o Anexo II da Lei de Uso e Ocupação de Solo, e o coeficiente de aproveitamento é 3,5. Ainda segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo, um empreendimento com o grau de impacto do Centro está sujeito a um Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança, devido ao tráfego que pode ser gerado a partir dele, tanto de veículos como pessoas, que afetará o entorno.

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Figura 24: Terreno no Mapa de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes.

Fonte: Mapa de Uso e Ocupação do Solo (2008). Modificado pela autora.

Figura 25: Legenda de Eixos do Mapa de Uso e Ocupação do Solo.

Fonte: Mapa de Uso e Ocupação do Solo (2008). Modificado pela autora.

Acessos O terreno é cercado por três vias, porém, como existe a previsão de prolongamento da rua Princesa Isabel, serão consideradas quatro vias neste estudo, como pode ser visto na figura 26. O acesso principal se dará pela Rua Antônio Manoel, que será para atendimento e recebimento dos usuários. O acesso ao estacionamento se dará a partir da Rua José Ildefonso E. Campos, onde também estará o acesso de funcionários e serviço.

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Figura 26: Mapa de acessos.

Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.

Acesso de funcionários e serviço

Acesso de principal

Av. 28 de Março Av. Dr. Arthur Bernardes R. Antônio Manoel R. José Ildefonso E. Campos Rua Princesa Isabel

Insolação, ventilação e ruídos A figura 27 aponta o estudo de insolação feito, demonstrando a orientação solar do terreno. Na figura 28 são indicados o sentido do vento predominante na cidade de Campos, que é o Nordeste, e os ruídos, oriundos principalmente da Av. Dr. Arthur Bernardes e do cruzamento da mesma com a Rua Antônio Manoel, provenientes de carros e buzinas.

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Figura 27: Estudo de insolação.

Sol nascente

Sol poente

Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017. Figura 28: Estudo de ventilação e ruído.

Vento (Nordeste) Ruído

Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.

Aspectos Físicos O terreno é plano e tem forma trapezoidal, com ressalva para um espaço voltado para a Av. Dr. Arthur Bernardes, onde há residências já construídas em parte do terreno. As figuras 29, 30, 31, 32 e 33 mostram as vistas do terreno nas duas principais vias de acesso, as ruas Antônio Manoel, e José Ildefonso E. Campos. 64


A topografia do terreno se apresenta plana, predominante da cidade de Campos dos Goytacazes, com alguns declives que podem ser desconsiderados, e tem área total de 19.660,72m². Há uma árvore da espécie Delonix Regia, mais conhecida como Flamboyant, na esquina das ruas Antônio Manoel e José Ildefonso E. Campos (Figura 30), que se faz marcante e é utilizada pelos usuários do entorno, que construíram um banco de madeira rústico embaixo da mesma. Além disso, sua sombra é utilizada como estacionamento para os comércios locais. Figura 29: Vista da fachada frontal adotada para o terreno voltada para a rua Antônio Manoel.

Fonte: Acervo pessoal, 2017. Figura 30: Esquina das ruas Antônio Manoel e José Ildefonso E. Campos, demonstrando o banco adaptado pelos moradores embaixo da árvore.

Fonte: Acervo pessoal, 2017.

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Figura 31: continuação da vista da fachada frontal adotada para o terreno, na Rua Antônio Manoel (parte voltada para a Associação Mantedora Asilo Nossa Senhora do Carmo).

Fonte: Acervo pessoal, 2017. Figura 32: Vista da fachada secundária adotada para o terreno, na Rua José Ildefonso E. Campos (sentido da Rua Antônio Manoel).

Fonte: Acervo pessoal, 2017. Figura 33: Vista da fachada secundária adotada para o terreno, na Rua José Ildefonso E. Campos (sentido da futura extensão da Av. Princesa Isabel).

Fonte: Acervo pessoal, 2017.

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Entorno Os usos dos terrenos no entorno imediato foram analisados, para que pudesse ser avaliada a viabilidade da implantação de um Centro de Tratamento Psicológico no local. Pode-se observar, na figura 34, a predominância residencial do entorno, tornando o espaço propicio à tranquilidade e relaxamento Figura 34: Mapa de uso ocupação do solo no entorno do terreno.

Terreno

Residencial

Comercial

Institucional

Religioso

Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.

No entorno, pode-se perceber a falta de equipamentos públicos, como praças e espaços de uso comum. Em uma das visitas, algumas crianças do bairro utilizavam o terreno escolhido como campo de futebol, algo perigoso, visto que há animais mortos e alguns lixos jogados, próximo à área que estava sendo utilizada. De acordo com a percepção ambiental da autora deste trabalho, o vazio urbano provocado pelo terreno transmite sensação de abandono e insegurança.

Gabarito No gabarito apresentado na figura 35, nota-se a predominância de construções de até dois pavimentos, devido ao uso do solo ser principalmente residencial. Entretanto, há algumas construções de três pavimentos no entorno. Tal configuração torna o ambiente acolhedor, afastado das zonas de intensa atividade comercial, com muito movimento de pedestres e carros, que acabam por afetar e comprometer o bem-estar das pessoas.

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Figura 35: Mapa de gabarito do entorno do terreno.

Terreno 3 pavimentos 2 pavimentos 1 pavimento Fonte: GOOGLE. Modificado pela autora, 2017.

[Diretrizes rojetuais] Foram elaboradas algumas diretrizes iniciais, que nortearam as decisões projetuais em conjunto com conceito e partido adotados, sendo elas: • Interações Sociais: criar espaços que promovam a sociabilidade, partindo dos arranjos sociopetos, e as distâncias interpessoais. • Integração com o bairro: permitir que a comunidade interaja com os usuários do Centro, criando espaços que possam ser utilizados por ambos simultaneamente. • Relação do interior com o exterior: tal relação deve ocorrer em escala micro, com a integração da edificação com o ambiente externo, e macro, através de soluções que possibilitem o ambiente externo à edificação de estar em contato sutil com a cidade. Promover atividades externas, para que o indivíduo possa vivenciar o espaço livre. • Edificação como parte da natureza que a cerca: a construção deve apresentar características naturais, sem elementos que chamem atenção, para que a mesma possa se misturar, como se fizesse parte da natureza em seu entorno. • Iluminação natural: projetar espaços com iluminação natural, para que o usuário possa sentir-se mais próximo da natureza. Além da utilização deste ser mais sustentável, devido à redução da necessidade do consumo de energia elétrica. • Acessibilidade: a edificação deve estar apta para receber qualquer indivíduo que quiser visitá-la ou frequentá-la. 68

• Valorização do encontro: utilização de espaços de convivência em diferentes tamanhos para atender às atividades dos usuários. Criação de um espaço central


que seja o ponto de encontro dos usuários. • Inserção urbana: buscar solucionar algumas carências do bairro através do projeto que se pretende implantar no local, a partir do estudo do entorno, sintetizado na figura 36. Figura 36: síntese do estudo do entorno.

o que a área tem? vazios urbanos poucos equipamentos públicos apropriaçao inadequada de terrenos o que a área precisa?

verde lazer esportes conexões espaços de convivência Fonte: Desenvolvido pela autora, 2017.

[Conceito e Partido] O cata-vento (figura 37) é um brinquedo, constituído por uma haste feita com algum material fino e firme, normalmente de madeira, e uma dobradura de papel, imitando um moinho de vento, criando um efeito visual interessante quando em contato com o vento. Pode-se entender como a capacidade de tornar visível o invisível – o vento. Os transtornos mentais são invisíveis, como o vento. Dentro do contexto de um Centro de Tratamento Psicológico para Crianças e Adolescentes que sofrem com transtornos mentais comuns, o conceito deste projeto é o cata-vento, que aparece como o objeto que remete à infância, e ao mesmo tempo, torna belos os “ventos” mais devastadores que podem vir a ocorrer na vida da criança e do adolescente. Tornando visível o invisível. Figura 37: Cata-vento.

Fonte: FLATICON, 2017. 69


O conceito será traduzido por uma arquitetura em blocos, se fechando em um espaço comum, como as pás do cata-vento, como pode-se ver no primeiro estudo volumétrico, na figura 38. No espaço central, onde os blocos se encontram, haverá um jardim voltado para contemplação e relaxamento, com espaços para convívio social. Todos os blocos se abrirão para este espaço, formando grandes antessalas. Entre os blocos haverá grandes espaços verdes, para que o contato com a natureza se faça presente em todos os espaços do Centro de Tratamento, para que mesmo nos momentos de crise, os usuários possam sentir a tranquilidade, aconchego e paz que a natureza é capaz de transmitir. Nos jardins que cercam os blocos, também pode-se ter a sensação de estar andando sobre um cata-vento, já que os mesmos seguem a forma e se fecham no espaço central comum. Figura 38: Estudo inicial de volumetria e de implantação.

Fonte: Acervo pessoal, 2017.

[Capacidade, atendimento e logística] Afim de melhor desenvolver o programa e pré-dimensionamento, buscou-se formular a logística de funcionamento e atendimento do Centro de Tratamento Psicológico. Além de elaborar um esquema com número aproximado de funcionários. O Centro funcionará durante o dia, das 6h às 18h, e receberá crianças e adolescentes para consultas com os psicólogos e o psiquiatra. Além disso, funcionará como centro dia para pessoas em período de reintegração, que necessitam de uma maior atenção ou que estejam em fase de terapia. No quadro 4, pode-se entender melhor a distribuição dos grupos que passarão meio período na unidade. Os mesmos são formados por 25 crianças e 25 adolescentes, totalizando em 50 usuários por turno. No total, o Centro atenderá 150 crianças e 150 adolescentes, divididos em 6 grupos. A ideia de alternar os dias, surgiu a partir de conversas informais no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) de Campos dos Goytacazes, onde discutiu-se a institucionalização das crianças e adolescentes, e a necessidade de haver dias em que os mesmos pudessem viver a cidade, a família e atividades diversas, que promovam bem-estar. A quantidade de dias que a pessoa frequentará 70


o centro dependerá das recomendações dos psicólogos, do psiquiatra ou a pedido dos pais ou responsáveis.

Quadro 4: Distribuição dos grupos durante a semana.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

O número estimado de funcionários é de 43, considerando as atividades dos ambientes elaborados. A quantidade de enfermeiros foi calculada a partir do número de usuários, sendo um enfermeiro para cada 5 crianças ou adolescentes. Além disso, cada psicólogo e psiquiatra deverá atender de 8 a 16 pessoas por dia. Os profissionais poderão fazer consultas em domicílio quando necessário, e deverão participar de campanhas em conjunto com as escolas e o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) do município. [Programa de necessidades e pré-dimensionamento] O programa de necessidades foi elaborado a partir das pesquisas bibliográficas, e das conversas informais com a equipe do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) de Campos dos Goytacazes realizadas no início do desenvolvimento deste trabalho. A tabela 1, a seguir, apresenta o programa de necessidades e o pré-dimensionamento dos ambientes pensados para compor o anteprojeto do Centro de Tratamento Psicológico. Tabela 1: Programa de necessidades e pré-dimensionamento.

Funcionários

Administração

Atendimento

Setor

PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO Ambiente Quantidade Área (m²) Área total (m²) Recepção 1 50 50 Consultórios 3 25 75 Assistente Social 1 15 15 Enfermaria 1 15 15 Lavabos 3 30 Sala de Terapia (pais e responsáveis) 1 25 25 Sala de direção 1 12 12 Sala de Auxílio à direção 1 15 15 Arquivo 1 5 5 Sala de Reuniões 1 25 25 Mini-auditório 1 75 75 Sala dos Funcionários

1

35

35

Vestiário

2

30

60 71


Apoio Logístico Terapia Ocupacional Atividades Complementares Esporte e lazer Canis

Guarita Estacionamento Depósito geral Sala de Artes Sala de Vídeo Sala de Música Sala de Jogos Brinquedoteca Lavabos Sala de múltiplos usos Dormitório Despensa Refeitório Cozinha Sala de dança Biblioteca Sala de informática Sala de exercícios diversos Vestiários Salão externo Pista de corrida e caminhada Jardim sensorial Praças Plantio Sala de Cuidados Canis Consultório veterinário Lavabo Sala de banho e tosa Depósito de ração e materiais

2 2 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 7 1 1 4 1 1 1

8 30 60 30 30 50 50 40 15 15 120 40 80 120 20 50 35 120 500 50 10 4 15 5 15

16 30 60 30 30 40 40 30 40 15 15 120 40 80 120 20 50 70 120 500 50 10 16 15 5 15

Fonte: Acervo pessoal, 2017.

[Setorização] A setorização foi elaborada para que os ambientes fossem organizados de forma coerente, de acordo com as funções e atividades exercidas em cada um dos mesmos, tornando mais cômoda a movimentação dos usuários e funcionários por estes. A setorização geral é mostrada na figura 39. O setor de atendimento ao público foi locado no bloco que ficasse mais próximo do acesso principal à edificação. Ainda neste setor, há alguns espaços voltados para o setor administrativo. Os setores de atividades complementares e terapias ocupacionais, que abrange a maior parte do anteprojeto, foram implantados de modo que pudesse 72


ocorrer uma maior movimentação dos usuários pela edificação, provocando-o a explorar o espaço, principalmente, a praça central. A outra parte do setor administrativo está próxima a entrada de serviço, e ao setor de funcionários, para que estes pudessem estar integrados. Além disso, estão próximos à cozinha, para que haja maior facilidade no recebimento de alimentos, e na movimentação dos funcionários responsáveis por esta. As praças públicas ocuparam a fachada principal da construção, fazendo com que a árvore Flamboyant, que já é utilizada pelos moradores do bairro, conforme visto anteriormente, pudesse continuar pertencendo a população do entorno, além de proporcionar lazer à área mais próxima do comércio local. O setor de apoio logístico concentra-se nos acessos da edificação, nos extremos, de forma que não interfira na utilização dos espaços criados. Figura 39: Estudo de setorização.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. Pista de corrida/ caminhada Apoio Logístico Terapia ocupacional Atividades complementares Administração Animais Banheiros e vestiários Setor de Funcionários Praça Pública Acessos 73


[Fluxograma] O fluxograma foi elaborado para a realização de um estudo da circulação entre os setores. Para o desenvolvimento do mesmo, foi necessário entender as atividades realizadas por cada ambiente, posicionando-os para que a movimentação entre estes se desse de forma eficiente. Figura 40: Estudo inicial de fluxograma.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 74


A decisão projetual do Centro de Tratamento Psicológico, fez com que a circulação pelo mesmo se desse da forma menos linear possível, buscando integrar a maioria dos ambientes em uma única circulação que envolve toda a construção. Na figura 40, pode-se observar que todos os ambientes dos quatro blocos principais que compõem o anteprojeto estão conectados, fazendo com que apenas algumas circulações estivessem isoladas. O estudo de fluxos neste trabalho pode ser justificado pela necessidade de entender a proximidade de alguns ambientes, de forma a tornar mais confortável o trabalho dos funcionários. Além disso, por tratar de crianças e adolescentes, os ambientes de maior estadia precisavam estar mais distantes do fluxo público, afim de garantir a segurança e privacidade para os usuários. [Implantação] A construção foi implantada a partir do conceito do projeto, em forma de cata-vento. Os quatro principais blocos da edificação foram locados a partir de uma praça central, que também funciona como ponto de encontro, tornando-se o marco principal da circulação. Optou-se por uma distribuição horizontal, para que houvesse uma maior área de integração com o ambiente natural, aproveitando a amplitude do terreno. A construção foi rotacionada no terreno, a partir do centro da praça, para que o acesso do bloco de atendimento público ficasse voltado para a fachada principal, na Rua Antônio Manoel. A decisão de tornar a Rua Antônio Manoel como principal via de acesso deuse pelo fato de ser uma rua movimentada, importante para o entorno. No entanto, esta não é tão movimentada quanto a Avenida Arthur Bernardes, facilitando o acesso e manobra de veículos. Na Rua José Ildefonso Evangelista Campos estão os acessos de funcionários e a vaga de carga e descarga. Esta rua foi escolhida por ser a menos movimentada, causando menos impacto no tráfego de carros do entorno. Como o terreno ocupa uma quadra inteira, exceto por construções já existentes na fachada voltada para a Avenida Arthur Bernardes, pôde-se pensar num recuo do muro, para que fosse possível a existência de calçadas largas, e praças para atender o entorno. Na figura 41, pode-se observar a implantação do Centro de Tratamento Psicológico, a localização dos blocos, as construções anexas, os estacionamentos, e as praças públicas. A circulação dos blocos é voltada para a área externa, criando algumas varandas em volta dos mesmos, fazendo com que os usuários estejam em contato constante com o exterior, e evitando longos e monótonos corredores. A área total de circulação é de 1936,61m². Há dois estacionamentos, um para visitantes, que fica na área externa, para que, à noite, possa também atender à praça, com 26 vagas, e um para funcionários, com acesso pela Rua José Ildefonso Evangelista Campos, também com 26 vagas. O número de vagas segue as exigências de clínicas no Código de Obras de Campos dos Goytacazes (CAMPOS DOS GOYTACAZES, 2016). Próximo ao estacionamento dos funcionários, há bicicletários.

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Figura 41: Implantação.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 1. Estacionamento de visitantes 4. Bloco D 7. Salão Externo 10. Estacionamento de funcionários

2. Área de Alimentação 3. Guarita 5. Bloco A 6. Casa na Árvor 8. Bloco C 9. Bloco B 11. Depósito 12. Área dos Animais

Além das construções, há espaços na área externa, como pode ser visto na figura 42. A criação de espaços ao ar livre foi pensada a partir da necessidade de apropriação da criança e do adolescente. Partindo da importância do contato com a natureza, pensou-se em fazer com que os espaços externos fossem mais atraentes do que os internos, provocando os usuários a ocupar a área externa na maior parte do tempo que estivesse no centro. Em uma das visitas ao Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) de Campos dos Goytacazes, pode-se perceber que não havia espaço para as crianças na recepção do local, fazendo com que as mesmas ficassem impacientes. Com isso, optou-se por criar um parque infantil próximo a recepção. Há uma pista de corrida de obstáculos, e um jardim zen, inspirado nos jardins japoneses. Os jardins sensoriais são divididos em duas partes, uma acessível, onde 76


o usuário provoca as sensações na altura ideal para portadores de necessidades especiais, e uma parte feita para que os usuários pisassem em diferentes texturas. Além disso, foram elaboradas praças no entorno da edificação. As praças labirinto e colmeia são voltadas para a contemplação, para que não houvesse ruídos que atrapalhassem o setor de atendimento, no bloco A. A praça do encontro é o ponto de interseção entre a biblioteca e o refeitório, podendo ser usada como extensão dos dois ambientes, e a praça capoeira é onde será realizada a atividade de capoeira, e outras apresentações livres. Próximo ao reservatório, há a praça das águas, que apresenta chafarizes de superfície em toda sua extensão. Figura 42: Implantação das Praças.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 1. Praça Pública 4. Parque Infantil 7. Jardim Sensorial 10. Praça das Cores 13. Bicicletário

2. Praça da História 5. Corrida de Obstáculos 8. Praça das Águas 11. Praça Colmeia

3. Jardim Zen 6. Praça Labirinto 9. Praça Capoeira 12. Praça do Encontro

Na praça pública, há uma quadra, onde é prevista a realização de atividades complementares, uma área de alimentação, próximo a um recuo, onde há vagas

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exclusivas para uso de foodtrucks e foodbikes, um parque infantil, uma pista bowl de skate, uma academia, bancos e elementos paisagísticos. [Bloco A] O bloco A, que pode ser visto na figura 43, é voltado principalmente para o atendimento ao público, e é composto por uma recepção, lavabos, consultórios, uma enfermaria, uma sala de terapia em grupo, e um mini auditório. O acesso a este bloco se dá pela Rua Antônio Manoel, através de uma circulação direta. Como já foi citado anteriormente, as circulações se dão pela área externa. A recepção apresenta mobiliário pensado com base no sistema sociopeto, e balcão com duas alturas, para que portadores de necessidades especiais e crianças possam ter acesso a informações com conforto. A janela curva da mesma, é voltada para o nordeste, sendo privilegiada com a ventilação natural, visto que o vento predominante da região é o nordeste. A janela atrás do balcão também facilita a ventilação natural. Os lavabos feminino e masculino apresentam fraldários, também com duas alturas para garantir a acessibilidade. O lavabo para portadores de necessidades especiais é separado, para facilitar e promover conforto em casos que precisem de acompanhamento. Os consultórios são amplos, para que consiga passar uma ideia de sala de estar, proporcionando um ambiente mais intimista, e que não remeta ao usuário a ideia de um hospital. Os consultórios de psicologia também contam com tapetes no chão, almofadas e mesas, para que se consiga trabalhar no espaço em que a criança ou adolescente se sinta mais à vontade. Além disso, se for do desejo do usuário, a consulta pode ser realizada em qualquer espaço da edificação. A enfermaria atende às pessoas que passam o dia lá, para primeiros socorros. Também funciona como uma pequena farmácia, para aqueles que precisam ser medicados regularmente. A Assistência Social funciona como um apoio aos usuários e suas famílias, contando com um banco em sua lateral, para que possa reunir uma maior quantidade de pessoas em sua sala. A sala de terapia em grupo é ampla, conta com uma mesa redonda, sofá e um jogo de mesa, para que as pessoas se comportem como numa reunião de amigos, de forma mais intimista. O mini auditório tem capacidade para 49 pessoas, com assentos para portadores de necessidade especiais. Este foi projetado para palestras voltadas para os funcionários e familiares, e reuniões com os responsáveis pelos usuários. Utilizou-se iluminação zenital em alguns pontos de destaque, ou em espaços com escassez de esquadrias, como na sala de arquivo, no palco do mini auditório, e no espaço onde há um sofá na recepção. Todas as esquadrias do bloco, exceto as dos lavabos, são de alumínio, pintada de preto, e vidro. Optou-se por grandes vãos, para que fosse possível observar a natureza do jardim central e da área externa de todos os ambientes, além destes serem beneficiados com iluminação e ventilação natural. Neste bloco, o jardim interno é contemplativo, de forma a não gerar ruídos ou muita movimentação, para que não atrapalhe as consultas, ou provoque distrações.

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Figura 43: Bloco A.

1 –Recepção 2 – Arquivo 3 – Lavabo 4 – Lavabo PNE 5 – Consultório Psiq. 6 – Consultório Psic. 7 – Enfermaria 8 – Serviço Social 9 – Sala de Terapia 10 – Mini-Auditório 11 – Jardim interno

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. [Bloco B] O bloco B (Figura 44) foi elaborado para as atividades complementares, e conta com biblioteca, sala de informática, sala de exercícios, espaço para plantio, sala de dança e vestiários. A biblioteca apresenta alguns mobiliários especiais para crianças, e um espaço para histórias, onde o funcionário responsável pela biblioteca pode ler para as mesmas. Além disso, há um espaço para este funcionário, um sofá, e tapetes com almofadas dispostos em todo o ambiente, tornando-o mais informal, e convidativo a uma leitura prazerosa. A sala de informática funciona como auxilio, para casos em que a criança ou adolescente precise fazer alguma pesquisa escolar no tempo que está no centro. A partir desta sala pode-se acessar o pátio interno. A sala de exercícios ocupa um grande espaço, para que sejam realizados exercícios físicos diversos, como alongamento, yoga, exercícios aeróbicos, entre outros. Também conta com duas esteiras. A sala de dança é ampla, e apresenta uma pequena arquibancada, para apresentações. O pátio interno contém algumas caixas com horta, cujas especiarias 79


serão utilizadas na cozinha do refeitório. O objetivo é fazer com que as crianças e adolescentes, em conjunto com o responsável pelos jardins, cuidem da horta. Na circulação até o pátio, há um armário com materiais de jardinagem, e alguns lavatórios. Este bloco também apresenta amplas esquadrias para iluminação e ventilação naturais.

Figura 44: Bloco B.

1 – Biblioteca 2 – Vestiário 3 – Sala de dança 4 – Plantio 5 – Sala de Exercícios 6 – Sala de Informática

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

[Bloco C] O bloco C (Figura 45) apresenta ambientes voltados principalmente para os funcionários, como a sala dos mesmos, vestiários, sala de reunião, sala de auxílio ao diretor, sala do diretor com lavabo, e atividades complementares para os usuários, como cozinha, despensa e refeitório. Também há um depósito de material de limpeza neste bloco. Este bloco foi elaborado a partir da despensa, que deveria ser locada próximo ao acesso de funcionários, facilitando a armazenagem de alimentos. A partir de então, locou-se a cozinha, que pode ser utilizada pelos usuários com auxílio do responsável pela cozinha, e o refeitório. Por ser um centro dia, utilizado em dois turnos diferentes, o refeitório não atende a grandes refeições, apenas lanches rápidos. O refeitório foi locado de forma a estar integrado à praça central e ao pátio externo, para que os usuários pudessem escolher onde ficar. Contando com a área interna e externa, o refeitório apresenta 51 lugares. O mobiliário do mesmo também foi pensado para 80


criar nichos, com barreiras visuais e acústicas, e alguns em formato sociopeto. Figura 45: Bloco C.

1 – Refeitório 2 – Área externa do Refeitório 3 – DML 4 – Vestiário 5 – Sala dos Funcionários 6 – Sala de Reunião 7 – Auxiliar da direção 8 – Lavabo 9 – Direção 10 – Despensa 11 – Cozinha Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

A sala de funcionários foi projetada para que oferecesse privacidade e conforto para os mesmos, e apresenta papel de refúgio. A sala de reuniões apresenta mobiliário com medidas que permitam menos distância entre os funcionários, tornando o ambiente mais amigável. A sala de auxílio à direção é ampla, e serve também como recepção. A sala do diretor é pequena e intimista, diminuindo a distância interpessoal, provocando mais conforto e comodidade na comunicação. 81


[Bloco D] O bloco D (Figura 46) é composto por um dormitório, uma sala de múltiplos usos, lavabos e ambientes do setor de terapia ocupacional, como arteterapia, musicoterapia, cinema, sala de jogos e brincadeiras, como listados e explicados no primeiro capítulo deste trabalho. Na sala de artes, há mesas de diferentes tamanhos, para atender adolescentes e crianças, lavatórios, e cavaletes removíveis, que podem ser transportados para a área externa, para que as atividades possam ser realizadas ao ar livre. Na videoteca, há tapetes e almofadas, poltronas e uma televisão. Na sala de música, há cadeiras, e diversos instrumentos musicais, para que as pessoas possam utilizá-los com liberdade. Figura 46: Bloco D.

1 – Sala de múltiplos usos 2 – Dormitório 3 – Parque infantil 4 – Sala de jogos 5 – Brinquedoteca 6 – Sala de Música 7 – Videoteca 8 – Sala de Artes 9 – Lavabo 10 – Lavabo PNE

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Fonte: Acervo Pessoal, 2017.


A brinquedoteca tem como objetivo atender às crianças, enquanto a sala de jogos é voltada para os adolescentes, com jogos de mesa, tabuleiros e videogames. O dormitório é para as crianças, que, como vão passar meio período no Centro, podem se sentir cansadas. A sala de múltiplos usos foi elaborada para realização de atividades diversas, determinadas pela equipe ou pelos usuários. Além disso, há um parque infantil no pátio interno, com equipamentos acessíveis. Neste bloco, também se explorou amplas aberturas, e esquadrias de alumínio e vidro, para que haja maior integração, ventilação e iluminação natural. [Setor de animais] Neste setor (Figura 47), há ambientes voltado para os cuidados dos cães, como consultório veterinário, um lavabo, sala de banho e tosa e sala de cuidados. Também conta com quatro canis e um depósito de ração. Há um espaço para os cães ficarem soltos próximos ao canil, com caixa de areia, e uma praça com brinquedos e piscina destinados aos animais, onde as pessoas podem entrar para brincar com eles. Figura 47: Setor de animais.

1 – Praça dos cães 2 – Veterinário 3 – Sala de cuidados 4 – Lavabo 5 – Canil externo 6 – Sala de banho e tosa 7 – Canil 8 – Depósito

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

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[Depósito geral] Há um depósito geral (Figura 48) que dá apoio ao Centro de Tratamento, com materiais de jardinagem, limpeza e alguns mobiliários que necessitam de reparos. O mesmo está locado próximo ao estacionamento de funcionários, para facilitar a carga e descarga. Figura 48: Depósito geral.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

[Guaritas] As duas guaritas (Figura 49) apresentam a mesma planta baixa, com um lavabo e uma sala com duas janelas de vidro, uma voltada para a calçada e outra para o interior do terreno, para ocorrer o controle de entrada e saída. Figura 49:Guaritas.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

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[Salão externo] O salão externo (Figura 50) foi pensado para utilização da área externa com conforto ambiental e acessibilidade. É formado apenas por uma cobertura e pilotis, sem elementos de vedação. O salão pode ser utilizado para prática de meditação, pintura e desenho com cavaletes, festas e eventos diversos. Figura 50: Salão Externo

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

[Praça pública] A praça pública (Figura 51) foi elaborada para atender a população local. Esta é composta por um espaço de estacionamento voltado para foodtrucks e foodbikes, uma área de alimentação, um parque infantil, uma quadra poliesportiva, um banco sociopeto, uma pista de skate bowl, espelhos d’água e uma academia. Além disso, há canteiros e espaços voltados para o paisagismo, com bancos dispostos em toda extensão da praça. Figura 51: Praça Pública.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 85


1. Estacionamento de Foodtrucks e Foodbikes 2. Parque Infantil 4. Quadra Poliesportiva 5. Banco Sociopeto 7. Espelhos d’água 8. Academia

3. Área de Alimentação 6. Pista de Skate Bowl 9. Fonte

A área de alimentação (Figura 52) apresenta mobiliário semelhante ao encontrado no refeitório da edificação, em formato sociopeto e fazendo nichos, com barreira acústica e visual. Esta área está locada próximo ao espaço destinado a estacionamento de foodtrucks e foodbikes, e ao parque infantil, para que estes espaços se complementem. Figura 52: Área de Alimentação.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

[Cobertura] Para as coberturas, adotou-se a platibanda com telhas termoacústicas, para manter a plástica pensada inicialmente. Na cobertura principal, instalou-se placas fotovoltaicas na área central, para utilização de energia solar na edificação. [Volumetria] A volumetria do projeto, como pode ser observado na figura 53, foi elaborada a partir do cata-vento, com grandes vãos de circulação que remetem a varandas, com pilotis expostos, passando a sensação de segurança e esbelteza. A escolha da madeira ecológica como principal material das fachadas dos blocos ocorreu devido à influência do referencial plástico, de forma que a edificação fosse coadjuvante da natureza que a cerca. Procurou-se interpretar a arquitetura de forma simples, e com padrões, para que a mesma não provocasse sensação de caos, ou excessos nos usuários. Além disso, materiais como a madeira, passam sensação intimista, de acolhimento.

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Figura 53: Volumetria geral.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

Na figura 54, pode-se observar o acesso principal, e parte do Bloco A. Nele é possível visualizar a varanda frontal, ampla, e como se dá a circulação pelos blocos. Juhani Pallasmaa afirma que a “visão periférica nos integra com o espaço, enquanto a visão focada nos arranca para fora do espaço, nos tornando meros espectadores” (PALLASMAA, 2011, p. 13, apud MORAES, 2015). Partindo desta premissa, pode-se entender a visão periférica como agente principal da percepção ambiental do ser humano, onde ele participa ativamente do espaço que o cerca. Assim, buscou-se provocar sensações aos usuários enquanto estes caminham pela circulação dos blocos, tendo em sua visão periférica a paisagem natural e a paisagem arquitetônica, em contraste. Figura 54: Acesso Principal.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 87


Na figura 55 pode-se ver a Praça Labirinto e a praça central, que foi chamada de Praça das Cores, devido à utilização de ipês de quatro cores diferentes em seus quatro canteiros. No meio, há uma árvore, baseado no princípio de árvore-lugar, explicada por Rayssa de Oliveira (OLIVEIRA, 2014) como uma árvore que é visitada frequentemente pelas crianças, passando, assim, a estar presente no mapa afetivo das mesmas, diferenciando-se da árvore-paisagem, que, por sua vez, aparece como um plano de fundo das atividades. Ainda de acordo com Oliveira (OLIVEIRA, 2014), tais árvores devem apresentar galhos baixos, copas acessíveis, ser frutíferas ou não. Neste caso, optou-se por uma amoreira-preta, que apresenta características semelhantes às descritas, e ser frutífera. O tronco desta é rodeado uma pequena arquibancada, pintada de vermelho, sendo o único elemento colorido da paisagem, para destacar o espaço. Ao fim dessa arquibancada, há uma rede, até tronco, proporcionando mais um espaço para criação de laços com a árvore-lugar. Figura 55: Praça Labirinto e Praça das Cores.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

Na praça colmeia, foram elaborados pisos de madeira ecológica em formato hexagonal, e bancos revestidos da mesma madeira, como se tivessem sido elevados do piso, provocando uma sensação visual de movimento (Figura 56). Também foram locados espelhos d’água, com alguns bancos suspensos sobre estes, aumentando a sensação de movimento. A Praça Capoeira é o espaço destinado para prática de capoeira, no piso central. O elemento principal é a casa da árvore (Figura 57), com guarda-corpo voltado para a mesma, e possui acesso pela Praça das Cores. A Praça do Encontro (Figura 58) foi elaborada de forma a atender a biblioteca e o refeitório, como uma extensão, ao ar livre, com mesas e cadeiras dispostas, e escadas que podem servir de bancos. 88


Figura 56: Praรงa Colmeia.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

Figura 57: Praรงa da Capoeira e Casa da รกrvore .

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. Figura 58: Praรงa do Encontro.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

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Figura 59: Praça das Águas.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

A praça pública (Figura 60), visa atender a população do entorno, visto que não se deve separar a psicologia e percepção ambiental do urbanismo, o entorno também deveria ser contemplado com a edificação proposta neste trabalho. A praça conta com uma quadra poliesportiva, que será também utilizada pelos usuários do Centro de Tratamento Psicológico, em atividades complementares, uma área de alimentação, espelhos d’água, bancos e uma pista de skate bowl. Segundo Oliveira (OLIVEIRA, 2014), formas curvas, como as encontradas neste tipo de pista de skate, são confortáveis para crianças e adolescentes, que se apropriam da mesma, utilizando-as para desafiar a gravidade, brincar de bola, ou apenas acomodaremse no que pode ser comparado a uma rede de concreto. Figura 60: Praça Pública.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017.

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A partir dos estudos realizados, pode-se elaborar diversos espaços no terreno voltados para a criação de laços afetivos. O principal objetivo é fazer com que o ambiente externo seja mais atraente do que o interno, provocando a criança e o adolescente e estar em contato direto com os elementos naturais, e a criar um “cantinho” para si, podendo customizá-lo com seus quadros, e até mesmo pintar diretamente com tinta. Este “cantinho” é descrito por Oliveira (OLIVEIRA, 2014) como o lugar predileto da criança e do adolescente, contendo elos afetivos. Com a proposta deste projeto, buscou-se permitir a apropriação de espaços pré-definidos. Nichos e bancos em formato sociopeto, árvores, que podem ser uma árvore-lugar ou uma árvore paisagem, pergolados, pneus, pista de corrida de obstáculos, jardins sensoriais e espaços construídos com finalidades específicas estão dispostos no terreno, e cabe aos usuários designar, não somente uso a estes espaços, mas também a afetividade e caracterização. [Conforto ambiental] Para garantir o conforto ambiental da edificação, algumas medidas foram tomadas. Com relação ao conforto térmico, a ampla cobertura que se estende na circulação, proporciona sombra nas esquadrias fazendo com que não haja incidencia direta de sol. Além disso, optou-se por uma telha termoacústica, para maior conforto no interior da edificação, que atende tanto ao conforto térmico quanto ao acústico. O isolamento acústico, por sua vez, foi trabalhado a partir da área com maior ruído, proveniente da Avenida Arthur Bernardes, sendo assegurado pela vegetação. Utilizou-se arbustos em toda fachada voltada para a avenida, e árvores de médio a grande porte. O conforto lumínico se deu através da utilização de iluminação zenital e amplas esquadrias, além da utilização de vidro nas mesmas. [Mobiliários] Para compor os ambientes, a partir dos princípios humanistas, houve pesquisa por referenciais de mobiliários, e elaboração de croquis esquemáticos demonstrando, em perspectiva, alguns que merecem destaque. Na figura 61, pode-se observar uma mesa com banco infantil, que funciona com um sistema de encaixe, como um brinquedo. A disposição desse mobiliário acontece na biblioteca. Figura 61: Mesa com banco de encaixe.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 91


Os mobiliários locados no interior do refeitório, foram pensados de modo que pudesse haver vegetação no topo, aumentando o conforto acústico e a privacidade das pessoas no momento da alimentação. Na parte externa do refeitório, utilizou-se em um mobiliário lúdico. No interior do refeitório, estão locadas as mesas redondas circundadas por banco em formato sociopetos (Figura 62), que são protegidas por barreira acústica e visual, e a mesa de parede (Figura 63), acompanhada de bancos, que também tem barreiras visuais e acústicas. Na parte externa do refeitório, encontra-se a mesa-casinha (Figura 64), que também funciona como um brinquedo infantil, como se pertencesse a um parque infantil. Figura 62: Mesa com banco sociopeto.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. Figura 63: Mesa de parede com bancos.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. Figura 64: Mesa-casinha.

Fonte: Acervo Pessoal, 2017. 92


[Memorial Descritivo] Afim de destacar características construtivas do anteprojeto apresentado neste trabalho, desenvolveu-se um memorial descritivo destacando os principais materiais e tecnologias utilizadas na elaboração do mesmo. Tanque de purificação de água e sistema de captação de águas pluviais O tanque de purificação de água aparece como um lago na implantação projetual. Este tanque funciona como um filtro natural, a partir da flora, de águas pluviais e das águas provenientes apenas dos chuveiros da edificação. A água da chuva é captada pelas calhas, nos telhados, sendo direcionadas até o tanque, que também recebe água da chuva de forma direta. A vegetação elimina metais pesados e purifica a água, que, por sua vez, vai para uma caixa d’água extra, como pode ser visto na figura 65. No entanto, neste caso, o reservatório é externo, ao ar livre, e a filtragem acontece a partir de princípios biológicos, utilizando a vegetação apropriada. A água tratada pelo tanque será utilizada na irrigação do paisagismo, e nas instalações sanitárias. Figura 65: Sistema de reúso de água.

Fonte: FOLHA, 2014. 93


Optou-se por esse sistema para que houvesse redução do consumo de água, do custo com a mesma, e em respeito à natureza, importante elemento do anteprojeto. Para determinar a capacidade da caixa d’água abastecida pela estação de tratamento do município, partiu do cálculo estimado para instituições de ensino. Usou-se 93 usuários por turno, sendo eles 43 funcionários e 50 crianças e adolescentes, utilizando 50L de água cada um. O tanque de águas de reuso apresenta a mesma capacidade desta. Telhas termoacústicas A telha termoacustica também é conhecida como telha sanduíche, por ser composta de duas chapas metálicas com um material isolante no meio, como pode ser visto na figura 66. A escolha desta telha se deu principalmente pela propriedade termo acústica, garantindo o conforto ambiental da edificação. Além disso, estas telhas possuem baixa absorção de água, são leves e de fácil aplicação. Por serem cortadas de acordo com o projeto, evitam desperdícios de materiais na obra. São antifúngicas e antibacterianas, e não propagam chamas (ISOALFA, 2015). Figura 66: Telha termoacústica.

Fonte: ISOALFA, 2015.

Esquadrias Conforme visto anteriormente, as principais esquadrias do anteprojeto são de alumínio e vidro temperado. O vidro temperado acompanha a tecnologia Low-E (baixo emissivo), auxiliando no controle solar sem criar o efeito “espelho”. Este vidro apresenta uma fina camada metálica, que forma um filtro protetor de raios solares e ultravioleta (ARCOWEB – ONLINE), como pode ser obervado no esquema da figura 67. Tal tecnologia faz com que ocorra uma baixa transferência térmica do exterior para o interior. 94


Figura 67: Vidro Low-E.

Fonte: ANAVIDRO, 2014.

Energia Solar Optou-se pela implementação de placas fotovoltaicas (Figura 68) na cobertura do projeto, para que se pudesse aproveitar a alta incidência solar da região. A energia solar trabalhará em conjunto com a alimentação de energia proveniente da cidade, atuando como complemento, afim de reduzir os custos, além de ser um elemento de geração de energia de baixo impacto ambiental. Todos os painéis fotovoltaicos instalados na edificação estão voltados para o norte, com inclinação de 21%, acompanhando a latitude da cidade, sendo a melhor posição para captação de energia possível (PORTAL SOLAR – ONLINE). Figura 68: Placas fotovoltaicas.

Fonte: GALILEU, 2017. 95


Revestimento externo Para o revestimento das fachadas, optou-se pelo uso da madeira ecológica (Figura 69), cujo processo de fabricação ocorre a partir de matérias-primas recicláveis, como resíduos plásticos provenientes da indústria (ECOPEX – ONLINE). Apesar de não ser madeira natural, esta conserva características semelhantes, é sustentável e contribui para a preservação de recursos naturais. Além disso, também torna mais fácil a manutenção, se comparada a madeira natural. Figura 69: Madeira ecológica.

Fonte: EKOMPOSIT, 2017.

Paisagismo O paisagismo do Centro de Tratamento Psicológico foi elaborado com árvore de pequeno, médio e grande porte, plantas ornamentais, e vastas áreas de vegetação rasteira, cobertas por grama esmeralda, por ser uma grama de pisoteio. Além disso, há plantas com diferentes texturas, aromas e colorações, provocando os sentidos dos usuários. Algumas árvores foram escolhidas de modo que pudessem ser apropriadas pelos usuários. Árvores frutíferas apresentam características que podem ser associadas ao laço afetivo, sendo interessante a implantação das mesmas no terreno. Algumas das escolhidas foram a goiabeira (Figura 70), a amoreira preta (Figura 71), o pé de jaca (Figura 72) e pé de acerola (Figura 73).

Figura 70: Goiabeira.

Fonte: PERSPECTIVA ONLINE, 2015.

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Figura 71: Amoreira Preta.

Fonte: ARBOCENTER, 2017.


Figura 72: Pé de Jaca.

Fonte: PREFEITURA BELO HORIZONTE, 2017.

Figura 73: Pé de Acerola.

Fonte: CEA POLONÊS, 2012.

Além destas, árvores com grandes copas para promover sombras, como o Flamboyant (Figura 74), e árvores ornamentais, como Ipês (Figura 75), para provocar sensações visuais, também foram adotadas. Optou-se também por manter duas árvores Flamboyant, existentes no terreno, que são apropriadas pelos moradores locais. Figura 74: Flamboyant,

Fonte: SÍTIO DA MATA, 2017. Figura 75: Ipê.

Fonte: GIULIANA FLORES, 2017.

Seguindo os conceitos da psicologia ambiental, o anteprojeto proposto neste trabalho baseou-se na percepção ambiental e na relação pessoa-ambiente para criar espaços que proporcionassem reintegração, acolhimento e conforto para crianças, adolescentes e familiares em situação de tratamento, sem suprimir as necessidades da população do entorno. 97


considerações finais

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Na sociedade em que estamos inseridos, cada vez mais pessoas isolam-se em suas “bolhas”, utilizando smartphones, tablets e computadores, em detrimento das relações interpessoais. Dentro deste cenário, sabendo que o homem é um ser social, percebe-se a tendência de existir um a lacuna no desenvolvimento pessoal, autoconhecimento, e equilíbrio emocional, aumentando a incidência de transtornos mentais comuns. Crianças e adolescentes, que ainda estão em formação, são os mais suscetíveis a sofrer com as mudanças do comportamento humano que não condizem com a natureza do ser, podendo assim, desenvolver tais transtornos. Neste ponto, este trabalho oferece uma proposta arquitetônica de um espaço voltado para o tratamento e reintegração da criança e do adolescente que sofre com tais transtornos, sendo baseado em conceitos humanistas, relacionando o homem com o espaço natural e construído, fazendo com que o mesmo seja o objeto central de estudo, entendendo como a pessoa se comporta de acordo com os estímulos, e como percebe o ambiente à sua volta. O Centro de Tratamento Psicológico Cata-vento surge, não somente como um espaço voltado para tratamento psicológico e psiquiátrico, oferecendo a estrutura necessária para tal, mas também como uma síntese do papel social do arquiteto, urbanista e paisagista, em conjunto, formando um espaço voltado para o ser humano, sua relação com o meio, sem excluir, de nenhuma forma, seu entorno. A construção não está suspensa no espaço, mas inserida em um bairro, que, por sua vez, pertence a uma cidade. Assim como os assuntos ligados a saúde mental não podem se desassociar de uma visão holística do ser, uma construção não pode ser desvinculada do seu entorno A justificativa da escolha deste tema, deu-se pela ausência de espaços voltados para o tratamento de transtornos mentais comuns no município de Campos dos Goytacazes - RJ. Tais transtornos, sofridos por um número considerável de pessoas, necessita de atenção e cuidados específicos. A saúde mental não está dissociada da saúde física, então, é de responsabilidade pública tratar, de forma adequada, do bem-estar das pessoas. Neste ponto, vale ressaltar a importância das pesquisas bibliográficas, que permitiram melhor compreensão dos assuntos abordados, e uma visão diferente do objeto construído, e dos referenciais projetuais, que serviram para direcionar algumas decisões projetuais. Além disso, houve grande contribuição das conversas informais que aconteceram no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi), para que fosse possível entender a demanda e o tratamento da saúde mental no município. Visa-se, com este trabalho, tornar visível a necessidade de atenção para os transtornos mentais comuns, e servir como objeto de pesquisa para trabalhos futuros, com temáticas semelhantes. Além de ressaltar o papel do arquiteto e urbanista, como modelador de espaços, não só neste contexto, mas em todos, visto que este não trabalha com a criação de espaços vazios, mas lugares, que serão utilizados ou habitados por seres humanos, e serão diretamente influenciados por estes.

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referĂŞncias

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