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Imprimir Arquitetura / Reforma

Fluidez e visão total Ambientes amplos, aberturas generosas com varandas e elementos de madeira, que protegem sem barrar a entrada de ar e de luz solar, são os principais benefícios obtidos com a reforma desta casa, em São Paulo. As soluções do escritório Brasil Arquitetura valorizaram o imóvel, que ganhou leveza interna e limpeza nas fachadas Texto Marilena Dêgelo. Repórter de imagem Viviane Gonçalves Menos é mais. A afirmação, feita no início do século passado pelo arquiteto Mies van der Rohe, virou hoje um lugar-comum, mas foi seguida ao pé da letra na reforma desta casa de 560 m², no Alto da Lapa, em São Paulo, SP. Da antiga construção, que tinha a estética dos anos 1980 – com janelas pequenas, muitas divisões internas e excesso de informação nos acabamentos –, o projeto do escritório Brasil Arquitetura aproveitou apenas a estrutura de concreto. “Tiramos mais do que colocamos para deixar as fachadas limpas, com linhas retas, e os espaços integrados, dando a ideia de amplitude e fluidez”, diz o arquiteto Francisco Fanucci, um dos sócios do escritório. “Ficou mais agradável com as salas e as janelas maiores. Agora dá para aproveitar a vista para o vale”, afirma o advogado Humberto Macabelli, 55 anos, que mora ali com a mulher e uma filha. Em função do acentuado declive no terreno de 330 m², a casa, dividida em dois blocos, possui diversos níveis: três, no da frente, e quatro, no dos fundos. “O excesso de pilares resultou em vãos pequenos, de três e dois metros de largura, e fragmentou a casa em cômodos apertados e espaços estanques”, diz Fanucci. A solução foi demolir a maioria das paredes, abrindo esses vãos. A antecâmara de muxarabis de ipê, 2 x 2 m, feita Os voltados para o exterior receberam portas-janelas que dão para varandas, feitas de lajes em balanço. “A pela Marcenaria Baraúna, forma o hall de casa, que é muito verticalizada, ganhou linhas entrada, no andar intermediário do bloco da frente. Descendo a escada (ao fundo), chega-se horizontais com as varandas e a cobertura, que substituiu os telhados de duas águas e beirais largos.” ao living e, subindo, às suítes


Da estrutura original da casa, os pilares ficaram aparentes no living e formam vãos de 3, 2 e 3 m de largura. Os abertos para o exterior (ao fundo), receberam portas-janelas escondidas pela cortina, da La Belle Bergère. Na lareira, mosaico de pedras da Differenza. Móveis da Décor Friends. Almofadas e objetos da Art de Vie Marché


O jardim de inverno ocupa os dois lados da escada entre a sala de jantar, no bloco da frente, e o espaço gourmet, no dos fundos. O teto é forrado por tábuas de OSB pintadas de azul-claro e o piso de pedra Goiás é da Só Pedras. Na foto, a cadela Brisa SAIBA MAIS Com a eliminação de paredes internas, a escada de concreto, que fica entre os blocos e une os pavimentos, foi aberta no centro do jardim de inverno. Isso integrou visualmente os ambientes sociais desde o hall de entrada, feito de painéis de muxarabis. Ao descer um patamar de escada, chega-se ao living, no volume dos fundos, e mais um, à sala de jantar e à cozinha, integradas no bloco da frente. Para dar unidade às salas, as vigas de concreto do teto foram escondidas por painéis de madeira. “Esse forro ampliou os ambientes por causa das linhas das réguas simétricas às tábuas do piso”, afirma o arquiteto. Antes, no lugar do living, havia um mezanino, que ocupava meia laje, e um vazio, que duplicava o pédireito da sala, localizada no andar debaixo. “Completamos a laje para fechar o piso e instalar o living, que agora está perto dos quartos, nos andares de cima”, diz Fanucci. A antiga sala virou espaço gourmet, com forno de pizza e churrasqueira. Embaixo, há mais um pavimento com salão, banheiro e sauna, que dá acesso à piscina, nos fundos do terreno.


No meio do jardim de inverno, a escada, antes confinada, agora fica em espaço aberto. Ela tem guarda-corpo de chapa metálica, com pintura de esmalte cinza martelado, feito por Douglas Rodrigues, da Camargo e Silva

Para esconder as vigas de concreto, o teto do living recebeu forro de réguas de pinho-de-riga, feitas pela Marcenaria Baraúna, que correm em simetria às do assoalho de ipê, da Indusparquet. Isso deu amplitude e aconchego ao ambiente com estante criada por Aline Cobra e executada pela Cabral Marcenaria. Objetos da Art de Vie Marché


Para ampliar o quarto do casal, os arquitetos No banheiro do casal, a ducha e o vaso sanitário reduziram o terraço e o fecharam com paliçada. Aocupam boxes separados. A mesma porta de área extra virou o canto de leitura. Na decoração vidro fecha um lado ou outro. A janela é de Aline Cobra, a poltrona e a cama receberam protegida por paliçada da Marcenaria Baraúna. tecidos da Entreposto. Cômoda de espelho Banco de teca e gabinete desenhados por Aline executada pela Cabral Marce-naria. Manta da Cobra e feitos pela Cabral Marcenaria. Pastilhas Blue Gardenia de vidro da Colortil Subindo a escada, a partir do hall, estão as três suítes. A do casal teve o jardim de inverno, que era escuro, reduzido pela metade para ampliar o quarto. “Fechamos o jardim com paliçada (veja box à pág. 97), que protege sem prejudicar a circulação de ar e a iluminação natural”, explica o arquiteto. E, para aumentar a entrada de luz no quarto, uma nova janela foi colocada nesse canto, usado para leitura. “Reduzimos a casa a três ou quatro materiais para economizar a quantidade de informações e ganhar em qualidade.” A cobertura do jardim de inverno central, antes escura e quente como uma estufa, foi trocada por vigas de madeira finas com vidros sobrepostos para a circulação de ar. “A casa era o avesso do que priorizamos no escritório: espaços generosos e iluminados. O projeto de reforma ficou limitado pela estrutura”, diz Fanucci. “Havia obstáculos que impediam o relacionamento direto entre os ambientes. Agora, apesar dos vários desníveis, as pessoas podem se ver de todos os cantos.”


A sala de jantar e a cozinha são integradas no A construção verticalizada, devido ao declive do pavimento inferior do bloco da frente. Os dois terreno, ganhou linhas horizontais na fachada dos espaços estão definidos por diferentes tetos e fundos com as lajes de concreto em balanço, que pisos: madeira de um lado e pastilhas de vidro, da protegem as janelas dos quartos (no alto) e Vidrotil, do outro. A ilha central de granito preto, formam as varandas nos andares intermediários. com fogão embutido, envolve o pilar no meio da Na área da piscina, o piso é de pedras Goiás cozinha. Armários da Elgin Cuisine. Panela Doural. Sobre a mesa, da Decor Friends, dupla de vasos da Anni Verdi


O espaço gourmet tem portas de vidro com caixilhos de alumínio, da S Naldi, que dão para a varanda criada nos fundos. A churrasqueira e o forno de pizza ficam em um volume projetado


FICHA TÉCNICA Arquitetura: Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, da Brasil Arquitetura. Colaboradores: Cícero Ferraz Cruz, Pedro Del Guerra, Luciana Dornellas, Gabriel Grinspum e Anne Dieterich Data do projeto: 2005 Conclusão da obra: 2006 Área do terreno: 330 m² Área construída: 560 m² Custo total da obra: R$ 600 mil Execução: CAO Construções Estrutura: Fábio Oyamada Hidráulica e elétrica: Pessoa e Zamaro Consultoria luminotécnica: Ricardo Heder Elementos arquitetônicos que valorizam esta casa

Para a luz solar penetrar no jardim de inverno, entre os dois blocos, os arquitetos desenharam a cobertura de vidro transparente e vigas finas de madeira, perfiladas e distantes umas das outras. A sensação de estufa é evitada com a sobreposição das placas de vidro, em uma das laterais, formando um vão horizontal para a saída do ar quente.

A paliçada, também chamada de balaústres de madeira, era comum na arquitetura colonial, principalmente nas casas bandeiristas de São Paulo e Minas Gerais. Pode ser vista nas janelas da Casa do


Grito, no Ipiranga, e na igreja de São Miguel Paulista, na capital paulista. As estacas de madeira quadradas são colocadas em diagonal, lado a lado, com um espaçamento entre elas que impede a entrada de intrusos, mas permite a livre circulação de ar e a entrada de luz.

A pedra Goiás, arenito de cor cinza esverdeada, com brilho que tende para o quartzo, leva esse nome porque é encontrada em abundância no Estado de Goiás. As lâminas finas com recortes irregulares, originais das jazidas, são empregadas nos pisos, encaixadas em mosaicos. “Essa pedra é confortável para áreas externas, porque quase não aquece e é antiderrapante. Ainda tem preço baixo”, afirma Francisco Fanucci.


De origem árabe, os muxarabis são painéis de ripas de madeira sobrepostas em sentidos opostos, que formam telas vazadas. Foram trazidos pelos portugueses ao Brasil colônia e ainda existem em casarões históricos. Resgatados nos anos 1980 pela arquiteta Lina Bo Bardi na obra do Sesc Pompeia, são usados pelo escritório Brasil Arquitetura para fechar áreas pequenas. Filtram a luz, deixam o ar circular e dão privacidade como um véu: dentro, enxerga--se fora e fora, não se vê dentro.

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