1 introdução AUTISMO E ARQUITETURA
sede para a associação Aquarela Pró Autista Erechim - RS
As sensações e percepções do ser humano estão diretamente relacionadas ao ambiente que o envolve, afetando seu comportamento. A interação comportamental do homem com o ambiente contextualiza as necessidades e a compreensão do uso dos espaços. (LAUREANO, 2017). Entendendo a importância na relação entre o meio e o indivíduo, na disciplina de TFG I foi elaborado o material teórico e gráfico a partir de estudos que buscam compreender as necessidades de um ambiente terapêutico voltado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a fim de ser utilizado como forma de proporcionar um trabalho funcional nas terapias, promovendo aspectos sensoriais e de percepção, como meio de auxiliar no desenvolvimento do autista a partir da interação do indivíduo com o meio em que se insere.
Assim, como continuidade, o TFG II retrata a materialização desses aspectos a partir do desenvolvimento do projeto arquitetônico para a Associação Aquarela Pró Autista, situada na cidade de Erechim-RS, conforme determinado como objetivo geral. E a partir dos objetivos específicos que buscou no TFG I, basicamente, compreender os aspectos de relação entre os indivíduos autistas e o meio, assim como compreender a relação da arquitetura com os aspectos sensoriais, como forma de assimilar como o ambiente pode auxiliar nas terapias de pessoas com TEA. A motivação para trabalhar com o autismo surgiu primeiramente pela vivência em relação ao tema e posteriormente, pela aproximação com a Associação Aquarela Pró Autista, a partir da participação como trabalho voluntário.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - ARQUITETURA E URBANISMO TFG II - aline garavelo
2 espectro transtorno do autista
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a terminologia mais atual utilizada para definir o autismo. Se trata de um transtorno do neurodesenvolvimento, o qual apresenta um conjunto de síndromes com diferentes características concomitantes que, basicamente, influenciam na capacidade de comunicação, socialização e comportamento do indivíduo. Como a manifestação dessas características não ocorre uniformemente, os indivíduos com TEA apresentam inúmeras singularidades e complexidades, seja quanto a relação social, relação do indivíduo com seu meio ou aos aspectos sensoriais. A causa do autismo ainda não é comprovada cientificamente, mas há estudos que apontam a origem como relações multifatoriais que podem estar vinculadas a aspectos genéticos, bioquímicos e/ou ambientais. Segundo Russo (2017), a relação genética é referente aos estudos de gene e não ao código genético (DNA), que influenciam no desenvolvimento do cérebro e na produção de neurotransmissores, os fatores bioquímicos são relativos a alterações de compostos no neurotransmissor e os fatores ambientas diz respeito ao ambiente de convívio do indivíduo.
manifestação dos sentidos
O déficit que as pessoas com autismo possuem quanto a integração sensorial pode se manifestar de forma hipersensível ou hiposensível, ou seja, pelo excesso ou falta de estímulos. E isso vai acarretar comprometimento nas habilidades lúdicas e comportamentais.
características + grau de autismo
As características presentes no indivíduo autista, geralmente, estão relacionadas a socialização, comunicação, e aspectos sensoriais. Na linguagem, sendo verbal ou não verbal, se comunicando através de figuras e apontamentos. E mesmo aos que desenvolvem a linguagem verbal, é comum que apresentem ecolalia, ou seja, a repetição de palavras. Além disso, é comum a estereotipia, que se define pelo comportamento repetitivo; o distúrbio do sono e alimentar, resistência quanto a mudanças de rotina e a relação de percepção sensorial, sendo hiper ou hiposensível. O grau do autismo é baseado no nível de dependência do indivíduo, podendo ser: NÍVEL 1 - leve: necessitam de pouco suporte, pois geralmente possuem as habilidades bem desenvolvidas, mas com problemas de organização e planejamento. NÍVEL 2 - moderado: apresenta as mesmas condições anteriores, contudo em menor intensidade. NÍVEL 3 - severo: com grave déficit nas habilidades de comunicação, interação, comportamento e cognição reduzida.
manifestação de forma hiposensível
- Desconsidera pessoas ou objetos no ambiente; - Visualiza apenas contornos de objetos; - Gosta de cor brilhante ou luz solar intensa. - Não responde quando é chamado pelo nome; - Gosta de ruídos; - Gosta de fazer barulhos excessivos e altos.
visão
3
manifestação de forma hipersensível
recepção dos estímulos sensoriais de forma excessiva
autismo + arquitetura
+ ambiência
paladar
+
integração sensorial
vestibular
proprioceptivo
A integração sensorial busca propor justamente a organização das informações decorrentes de diferentes sentidos, relacionando-os, para isso, utiliza-se exercícios que buscam desenvolver habilidades como audição, compreensão, equilíbrio e coordenação. Nesse sentido, a psicologia ambiental tem como objetivo relacionar os fatores e elementos ambientais como forma de influenciar nos sentidos, percepções e consequentemente nas ações dos indivíduos em relação ao meio em que se insere, a partir da apropriação do espaço. Portanto a ambiência é um fenômeno que possibilita a materialização desses atributos, pois nela expressam os sentidos humanos por meio das texturas, iluminação, sons e cores relacionados a dimensão cultural.
psicologia ambiental
olfato
tato
o déficit na integração sensorial nos autistas faz com que os sentidos se manifestem de forma confusa
- Ingere objetos não comestíveis; - Busca cheiros fortes; - É isento a alguns aromas. - Utiliza o toque de forma excessiva e desnecessária; - Possui resistência quanto a dor; - Possui resistência a temperaturas extremas. - Movimenta-se de forma excessiva e desnecessária; - Fica entusiasmado com tarefas que envolvam movimentos; - Inconsciente quanto a posição do corpo no espaço; - Confundem diferentes sensações com a fome;
elementos de
estimulação sensorial multifuncionalidade
Espaços que promovam a atividade intelectual e incentive o relaxamento, com estimulações que possam ser controladas.
amplidão
Utilizar a amplidão possibilita a adaptabilidade do ambiente e permite o ajuste das distancias interpessoais.
mobiliários
desenvolvimento de habilidades
Os indivíduos com TEA possuem uma diferenciação na forma de percepção sensorial, pois enquanto os neurotípicos conseguem perceber o espaço com base nos sentidos de forma coletiva, os autistas possuem essa percepção fragmentada. Segundo Gaines et al. (2016), a capacidade de perceber os sentidos, como olfato, visão, paladar, som, tato, movimentos (vestibular) e o senso do corpo no espaço (propriocepção) de forma conjunta é uma capacidade conhecida como integração sensorial e se torna um elemento essencial para alcançar a percepção de uma situação e saber como agir.
integração sensorial
A integração sensorial é a capacidade de conseguir perceber os sentidos de forma conjunta, sendo esta a habilidade em organizar, interpretar sensações e responder apropriadamente ao ambiente. As pessoas com TEA, possuem uma dificuldade em obter uma rápida mudança entre estímulos diferentes e isso pode gerar comportamentos repetitivos, compulsivos e até mesmo auto-lesivos. Sendo que essa disfunção na integração sensorial muitas vezes está relacionada aos atrasos na linguagem. Esses comportamentos podem ser resultados de uma tentativa do indivíduo de gerar uma experiência sensorial ou de manter o controle após uma sobrecarga sensorial.
percepção do espaço
visão
autistas
neurotípicos
os neurotípicos percebem as informações que constituem espaço de forma conjunta
os autista percebem essas informações relativas ao espaço de forma fragmentada
Os mobiliários contribuem, com a questão da ergonomia e podem ser utilizados como forma de promover nichos ou barreiras, destacando assim o espaço pessoal.
layout
O layout dos ambientes também estabelece um espaço seguro e funcional a partir da flexibilidade.
distâncias interpessoais
Gifford (1997 apud Barros et al. 2005) aborda esse conceito a partir das distancias adequadas para o contato ou não-contato.
identidade visual
Identidade visual e legibilidade são importantes elementos de composição do espaço para estimular a independência das pessoas com TEA.
audição
- Muito sensível a ruídos altos; - Identifica os sons antes das pessoas neurotipicas; - Não gosta de ruídos de fundo.
audição
- É sensível a certos tecidos; - Não se agrada com toques;
tato
vestibular
proprioceptivo
+
- Aparenta-se desiquilibrado; - Se incomoda quando os pés ficam fora do chão ou de cabeça para baixo. - Possuem postura corporal diferente e na maioria das vezes desconfortável; - Possuem dificuldade em manipular pequenos objetos.
elementos construtivos
espaços ao ar livre
conforto acústico
Espaços ao ar livre, por promoverem uma parte essencial da consciência ambiental do indivíduo.
Determinar a materialidade em relação a absorção de ruído, recursos e estratégias para promover qualidade acústica.
texturas
volumetria
As texturas e cores possibilitam um trabalho tátil e visual, desenvolvendo a consciência corporal e cognitiva do autista.
Volume arquitetônico constituído de forma livre, desde que não interfira na funcionalidade e acessibilidade do espaço.
iluminação
dinamicidade
A iluminação pode proporcionar uma interação física e lúdica das crianças, além de possibilitar atividades mais focadas ou descontraídas.
Espaços dinamicos estão associados a multifuncionalidade. As paredes curvas podem ser uma estratégia para auxiliar no deslocamento do edifício.
núcleo comercial brechó e café
vestibular
tato
proprioceptivo
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS (2017), 1 a cada 160 crianças é diagnosticada com TEA. Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC (2017), indica esse diagnostico em 1 a cada 68 crianças.
mundial
-Seletivo quanto a alimentos, só ingere a partir de texturas, cheiros ou temperatura que o agrade.
paladar
olfato
1 menina para cada 4 meninos é autista
- Se incomoda com cores brilhantes e luz solar intensa; - Se distrai facilmente com movimentos; - Olha fixamente para pessoas ou objetos.
visão
olfato
+ + + + + estatísticas paladar
percepção sensorial percepção sensorial hipersensível hiposensível audição
recepção dos estímulos sensoriais de forma amena e as vezes até nula
PERCEPÇÃO SENSORIAL
Segundo o estudo “Retratos do autismo no Brasil”, realizado em 2013, estima-se que a população com autismo no Brasil é de aproximadamente 2 milhões de pessoas.
nacional
Segundo o estudo “Retratos do autismo no Brasil”, a população com autismo na região Sul do Brasil é de 170.000.
regional
+
conforto ambiental
conforto lumínico
É importante permitir ampla incidencia de luz natural, pois atribui a concepção de visão nítida e direta do mundo.
cor
A utilização de cores pode estar associada a uma importante função no edifício, pois podem promover diferentes estímulos.
interno - externo Promover diferentes relações entre os ambientes interno e externo, auxiliando no desenvolvimento da consciência corporal e cognitiva.
conforto térmico
O conforto térmico é um fator para manter a qualidade interna do ambiente, proporcionando a renovação do ar.
materiais
Possibilitar diferentes texturas e percepções sensoriais, mas sem sobrecarregar o ambiente.
zoneamento Zoneamento baseado nas percepções sensoriais do usuário, ao invés de serem estipuladas por zonas funcionais generalizantes.
auditório núcleo receptivo
núcleo terapêutico
núcleo admnistrativo
praça pública
Fachada vista a partir da Rua Acre.
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