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Poeta em Destaque: Arthur Gregório Valério

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Testemunho

Minha vida é um sol empoeirado de setembro, um ocaso de ferrugem, coberto de silêncios sanguíneos e velharias jogadas pela estrada das coisas. Sou o mato, e não o mar. Um canavial de ilusões perdidas, enquanto sonho meu suor e acordo na tempestade roxa, de borboletas más, como uma palavra de água, na aurora e na goteira da casa.

Abençoo minha testa com barro... Meus olhos, essas pedras duras que escondem uma alma magra, têm sede de uma claridade pura, que não há. Enquanto todas as estrelas que conheço, e que amo são de terra e de mato e não de luz, e não de céu. Pois nada me consola quando a tarde cai. Pois amo tudo o que perece, e só porque perece. Sempre estrangeiro no sem-lugar do mundo. Noite a dentro de um poço, em pele de cobra e alma de lua, feito a lembrança vaga, que o fogo abrasa, solitária e nua. ***

O Juízo Final de cada dia

A vida, quem sabe é isto, uma vaga lembrança no sonho da eternidade. De fato, no sono, interminável e sem início do verdadeiro rei... Sem verdade. Que nunca dorme, e nem pode ser acordado. O rei dos anjos, dos anjos que tocam a lira. Da lira que então destrói o mal, pois nunca se perde lembrança alguma no escuro do esquecido, ou nos avessos de, na floresta, ser estranho. No que foi vivido. Pois o futuro é incerto, mas o passado é sempre ganho.

Os anjos cantam então agora, e são os homens, as mães com seus filhos, a soar sete bênçãos na aurora, de onde voam sete nuvens arrebentadas, e torcidas em lágrimas de sol.

Cada ser de metal logo glorifica a carne. Torna-se santo, tudo que é vivo e a criação abrasa no fogo eterno do poente pálido que tudo consola.

MULHER! MULHER! MULHER! Por Conceição Lima

(No seu Dia Internacional, 08 de março, em 2023)

Eis a criatura Mulher, Aqui, ali, acolá... Berço e guarida da vida Colo fecundo do mundo. Guerreira, fiel companheira, Delicada, iluminada, dedicada, Faceira, sutil, feiticeira. Mulher! Ah! Simplesmente Mulher!

Eis a incrível Mulher, Acolá, ali e aqui... Alento em qualquer caminhada, Aconchego na doce chegada, Mistério, sedução e malícia, Favo de mel e delícia! Mulher, tão somente Mulher!

Ali, aqui, acolá, Esteja onde estiver, Um anjo chamado Mulher, Leveza, sabedoria, beleza irradia... Que o Universo abençoe o seu Ser Que os Céus proclamem seu Nome, E que a essência do seu Viver, Se desdobre em eterna Magia! Mulher! Mulher! Mulher!

Trovas em Destaque

"O vento leva pedaços das promessas não cumpridas. O tempo rasga os espaços renovando nossas vidas."

Nely Cyrino de Mello Ribeirão Preto / SP

Poetas Inesquecíveis

Andorinhas

Alvim Alvino Barbosa

(Alvim Barbosa na fecundidade de seu silêncio)

Uma revoada de andorinhas passou por Guarapari. Acho que procuravam amor, sem ervas daninhas, como eu procurava por ti. Elas voaram, voaram, revoaram em desenhos azuis, estrelas pelo espaço. Todas num mesmo compasso, como se um maestro original regesse uma orquestra só de cores. Pousaram em fios, telhados, vestiram as árvores.

Como chegaram, partiram as andorinhas, porque não encontraram em Guarapari o amor sem ervas daninhas, como eu também não encontrei a ti.

Do livro: O Tempo na Ponte – Pág. 79

* 07/12/1935

† 01/06/2007 Tarde chegaste

Vera Regina Marçallo Gaetani

Sê bem vindo, amor, mas do lado de fora... Desculpa-me, por favor, mas te atrasaste, houve demora...

As portas estão trancadas, o fogo já se apagou, as janelas fechadas e o tempo... já se esgotou.

Do livro: Cantos, Contos e Crônicas

* 18/02/1932

† 01/06/2020

Parabéns, Curitiba!

Leonor Borges Vieira

Hoje é o seu aniversário!

Há 298 anos você nascia num campo de pinheirais. Hoje você continua sendo a cidade verde. Parabéns, Curitiba! Cidade sorriso. Quem a conhece não a esquece jamais. Curitiba, o Brasil todo procura imitá-la no colorido das flores, no traçado dos ônibus, na cultura geral. Parabéns, Curitiba de Jaime Lerner.

Curitiba de todos nós!

29 de março de 1991

Do livro: Espaço Poético – Pág. 58

* 10/10/1927

† 29/06/2016

A balança

Annibal Augusto Gama

A vida é uma balança com dois pesos de cobre. Com um pesa a esperança, com outro, a decepção. Um pesa pouco e vende fiado e confiado. O outro pesa uma arroba e na conta ainda rouba teus dias que lá se vão.

Do livro: 50 Anos Falando Sozinho

* 14/12/1924

† 26/07/2020

Vazanteiro* Por Agenor Filho

Dono deste chão com sua infinita beleza caminha o vazanteiro com seus passos largos.

Cultiva, com suas mãos, nossa terra e tira dela o sustento para nossa mesa. A vazante é um pequeno riacho, que desagua do Velho Chico, águas que dão vida e sabor aos cultivos desta terra.

O vazanteiro é o dono desse chão! A alma sertaneja revela nesse homem sorriso tímido e fala ingênua, olhar desconfiado, pele queimada pelo sol, misturada com a cor barrenta da nossa terra.

Houve um tempo, em que os vazanteiros desciam rio abaixo com suas canoas cheias de produtos da lavoura, vendiam e abasteciam o comércio local, gerando renda e trabalho para essa gente.

A esperança do vazanteiro está em cultivar sua própria terra e crescer com suas plantações.

Ele acredita na sua força bruta em lidar com a terra, cultura que aprendeu com os pais com o trabalho duro na roça. Um povo resiliente, que enfrenta os caprichos das devastações da seca e em época de chuva, às fortes enchentes. Mesmo com as dificuldades, ainda tem esperança de tirar proveito do solo fértil das vazantes e que, ao pé de suas habitações, emergirão roças de milho, melancias, abóboras, quiabos e feijão. Do próprio cultivo preparam a farinha de mandioca, o peixe, a carne de porco, galinha caipira, são suas criações. A família é numerosa.

Com a esperança pintada nos olhos e o brilho do sol estampado na pele, o vazanteiro carrega a hospitalidade do povo mineiro por ser símbolo dessa terra.

*Vazanteiros

Assim como outros povos e comunidades tradicionais, os vazanteiros possuem um modo de vida próprio. São chamados assim porque praticam uma agricultura que está associada aos ciclos dos rios. No Cerrado, eles estão localizados, principalmente, às margens do Rio São Francisco e seus afluentes.

O ciclo natural do rio – seca, enchente, cheia e vazante – sempre possibilitou a esses povos, que têm forte influência indígena, quilombola e ribeirinha, o acesso à terra periodicamente fertilizadas pela matéria orgânica depositada em longas extensões das margens e ilhas.

As terras baixas, chamados de baixões, são os locais onde a terra é mais fértil e úmida. É lá que eles vivem e cultivam legumes, verduras, frutas e pasto. Além disso, as vazantes e os brejos, com seus buritizais e babaçuais, garantem o sustento dos extrativistas, que também compõem essas comunidades.

Mas, a construção de reservatórios para usinas hidrelétricas ao longo da bacia do “Velho Chico” vem, sistematicamente, reduzindo e destruindo as áreas vazantes, causando profundas alterações na organização e no modo de vida desse povo.

Fonte: https://redecerrado.org.br/comunidades_ cerrado/vazanteiros/ *** ageNor FiLho é formado em Pedagogia com Pós Graduação em Psicopedagogia pela Faculdade Anhanguera, Polo Ribeirão Preto, e em Jornalismo, pela Universidade Ribeirão Preto (UNAERP).

Autor dos livros: “O Respirar de uma Vida” (Uma história de superação, fé e milagre) e “Travessias do São Francisco” (A história de um povo) e “Noites de Setembro” (Pedras de Maria da Cruz/MG).

Membro da Casa do Poetas e do Escritor de Ribeirão Preto e União de Escritores Independentes.

- Vai, “Iro” (nome carinhoso que Diogo, meu irmão, me chamava), foi a voz que escutei desde o primeiro km da maratona. A ideia de correr uma maratona surgiu no dia dezoito de junho de 2022, quando a Ângela Xavier Monteiro (cunhada/irmã) compartilhou publicação sobre a maratona de Manaus. Pensei: “42 km? Impossível”. No dia seguinte fui ao Clube de Corrida Sesc e, ao fazer meu treino de seis a dez km, pensei: “meu irmão Diogo vai fazer cirurgia em julho e, se tudo der certo, gostaria de homenageá-lo com algo impossível, correr uma maratona”. Terminei o treino e perguntei à Profa. Tatiana Vizú se seria possível correr uma maratona até outubro. Ela respondeu que o tempo era curto e seria necessário intensificar os treinos. Liguei para o Diogo e disse “sua cirurgia vai dar certo e vou correr a maratona de Manaus”. Marquei férias e comprei passagem. Apenas quatro meses separavam a minha decisão da prova. A incentivadora e maravilhosa profissional professora Lucilene Timóteo montou meus treinos. Treinei muito, participei de corridas curtas de cinco, oito e dez km e também de uma meia maratona (21km), além de treinar com a turma USP coordenado pela espetacular professora Patrícia Daniela Silva. No entanto, continuava achando impossível correr 42km. Em quatro de julho de 2022 (aniversário do meu pai) a cirurgia do Diogo foi perfeita. Fiquei muito animado e intensifiquei os treinos para cumprir a promessa, mas no final de agosto ele sentiu uma dor muito forte e voltou a ser internado. Foram mais de duas semanas internado e, infelizmente, ele não resistiu. Momento de muita dor e desespero, parei de treinar e fiquei tentando encontrar algum sentido na vida. Ainda hoje não encontrei. Em conversas com familiares a com as maravilhosas professoras, decidi voltar aos treinos e homenageá-lo. Não sei descrever o que foi estar em Manaus e no meio da maratona. O escritor e maratonista Haruki Murakami que escreveu o livro "Do que eu falo quando falo de corrida" escreve que "Em corridas de longa distância, o único oponente que você tem que derrotar é você mesmo, o modo como costuma ser". Drauzio

Varella em seu livro “Correr” relata que "correr é experimentar no corpo a quintessência da palavra liberdade". Sentir a largada, toda aquela energia, o meu irmão comigo o tempo todo e o enorme carinho e apoio das queridas ngela, Érica, Ana Maria Zorzela, Natália Sena, Greice Suzuki. Corri pela gigante Manaus, passei pelo lindo teatro Amazonas, cruzei a ponte do Rio Negro sempre escutando: “Vai Iro”.

A chegada foi um dos momentos mais emocionantes que vivenciei na vida.

Disse ao Diogo "Cheguei aaaa"!!! *** ciro athayde Barros MoNteiro - Doutor e Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus- Marília, na Linha de pesquisa Gestão, Mediação e Uso da Informação. Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação e da Documentação da Universidade de São Paulo (USP) Campus Ribeirão Preto e graduado em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). É coordenador da Biblioteca Sinhá Junqueira (BSJ) em Ribeirão Preto http://www.bsj.org.br/. Foi funcionário da prisão por 10 anos e atuou com projetos de incentivo à leitura para pessoas em situação de privação de liberdade. Além disso, foi mediador de clubes de leitura, projetos de produção de poesia e arte no interior do cárcere. Atua com os seguintes temas: biblioteca prisional; biblioteca pública; apropriação dos dispositivos; leitura na prisão; mediação da informação; mediação da leitura; mediação cultural.

E-mail: ciroabmonteiro@gmail.com

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