costura urbana: articulações entre rio e ferrovia

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costura urbana articulaçþes entre rio e ferrovia



costura urbana: articulações entre rio e ferrovia T R AB ALH O

D E

G R AD U AÇÃO

I N T EG R AD O

INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO . IAU-USP

ALINE SGOTTI

SÃO CARLOS-SP . NOVEMBRO 2016


"Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte."


FOLHA DE APROVAÇÃO: Trabalho de graduação integrado apresentado ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade De São Paulo sob a orientação dos professores David Moreno Sperling, Luciana Bongiovanni Martins Schenk, Lucia Zanin Shimbo e Joubert José Lancha, membros da comissão de apoio permanente e do professor Marcelo Suzuki, coordenador do grupo de trabalho.

_________________________________ Profº Dr. David Moreno Sperling IAU-USP

_________________________________ Profº Dr. Marcelo Suzuzi IAU-USP

__________________________________

Conceito final: Data:



As cidades (...) são plásticas por natureza. Moldamo-las à nossa imagem: elas por sua vez, nos moldam por meio da resistência que oferecem quando tentamos impor-lhe nossa própria forma pessoal. Nesse sentido parece-me que viver na cidade é uma arte, e precisamos do vocabulário da arte, do estilo, para descrever a relação peculiar entre homem e material que existe na contínua interação criativa da vida urbana. A cidade tal como a imaginamos, a suave cidade da ilusão, do mito, da aspiração, do pesadelo, é tão real, e talvez mais real, quanto a cidade dura que podemos localizar nos mapas e estatísticas, nas monografias da sociologia urbana, de demografia e de arquitetura. JONATHAN RABAN (RABAN apud HARVEY, 1992, p.)



RESUMO As sensações causadas por determinado lugar são diversas ao se caminhar, passar de carro, permanecer nele por alguns instantes ou por longos anos. Tais percepções apreendidas pelos transeuntes somadas à afetividade e às lembranças do local constituem a imagem da cidade, de modo que os espaços urbanos, os percursos, os vazios e as passagens habitam o imaginário do sujeito mesmo quando passam despercebidos ao olhar apressado.

O presente trabalho, “costura urbana: articulações entre rio e ferrovia” propõe a produção de espaços que deem aos usuários novas percepções e experiências ao caminhar, percorrer e sentir o espaço, partindo de locais já presentes no cotidiano citadino, mas que são subtilizados, costurando-os à cidade. O projeto proposto pretende conectar dois lados da cidade, de um a parte norte e do outro a sul, segregadas por linhas, a primeira, os trilhos da ferrovia, a segunda, o rio. Ambas limitam as possibilidades de travessias ao longo do percurso sendo barreiras a circulação. Assim, a estratégia de conexão tem como primeira diretriz o redesenho do tecido urbano existente, com novas quadras, ruas e passagens. Utiliza-se para a costura: o sistema de caminhos e transposições; as edificações, a vegetação e o sistema de apoios espalhados pelo parque que se localizam nos cruzamentos dos diversos fluxos e usos. O área escolhida para a intervenção é um vazio urbano existente entre o rio e a ferrovia em MatãoSP, que é redesenhada com a proposta de um parque urbano; um complexo de edifícios que conta com biblioteca, oficinas de arte e anfiteatro; recuperação da área da estação ferroviária dando a ela novos usos e reativando as edificações existentes; novo desenho para a margem do rio proporcionando o contato das pessoas com a água e proposta de habitações.

Palavras-chave: rio, ferrovia, vazio urbano, parque, equipamento cultural.


desenvolvimento


1 2 3 4 5 6

as inquietações

11

a cidade

17

o entre

27

as referências

35

a intervenção

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a bibliografia

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Avenida 15 de Novembro, MatĂŁo-SP. Fonte: Autora, 2016.


1. as inquietações


pessoa lugar pessoa cidade pessoa pessoa

entrelaçamentos entre: 12

As inquietações projetuais partem do questionamento da relação entre indivíduo e cidade, sendo essa essencial para sua constituição, visto que a cidade em seu conjunto, é produzida coletivamente, sendo passível a diferentes olhares, modos de habitar, de transitar e de sentir. Portanto, associado ao imaginário de cada usuário há uma cidade distinta que resulta de suas vivências, memórias e sonhos. A cidade não é apenas vítima do sistema racionalizado e da produção e consumo, mas se trata na verdade da produção de signos e imagens (SÓLA-MORALES, 1996). Nela, o modo de habitar, de se locomover e de se relacionar passa por constantes transformações, pautadas em função do tempo e do espaço em que ocorrem, de modo que as sensações causadas por determinado lugar são diversas ao se caminhar, passar de carro, permanecer nele por alguns instantes ou habitá-lo por longos anos. Tais percepções apreendidas pelos transeuntes somadas à afetividade e às lembranças do local constituem a imagem da cidade, de modo que os espaços urbanos estão intrinsecamente presentes no imaginário do sujeito. Assim, os locais de passagem, as transições, os percursos e os vazios fazem parte do cotidiano estando na memória coletiva mesmo quando passam despercebidos ao olhar apressado.


Com base nessas reflexões, requalificar os espaços e as relações estabelecidas com eles implica também na alteração da relação do indivíduo com a cidade, que passa a ser sentida de uma nova forma, de modo que ligar a rotina ao desconhecido, sair do comum e dar espaço a novas e percepções e experiências seriam formas de fazer com que locais inóspitos ao habitante passassem a atuar de maneira ativa na vida urbana, modificando o entorno e a dinâmica da urbe a partir da apropriação e da urbanidade gerada em tais situações. Desse modo lugares que antes tendiam à um desvio na passagem podem vir a ser um caminho agradável, locais abandonados podem se tornar atrativos. A urbanidade aqui citada se refere a uma característica do espaço construído e da esfera de percepção do sujeito, e que depende da relação entre o ambiente urbano e aquele que o usa, em uma dimensão que envolve o corpo e o espaço, tanto na escala do edifício quanto na escala da cidade. Dessa maneira, a urbanidade se encontra no modo como a relação entre o corpo e o espaço se materializa (AGUIAR, 2012).

Logo, os espaços providos de urbanidade são gentis com o corpo, convidam ao estar e proporcionam vínculos de afetividade com a cidade. Decorrente desse fato, estando presente na memória, o lugar adquire um novo sentido, pois o espaço da imaginação é “um espaço poético” e um espaço que foi apropriado pela imaginação não pode permanecer como um espaço indiferente (BACHELARD, 2005), pois o “ser é atrelado a seus espaços” (HEIDEGGER, 1971), ele habita o lugar ao mesmo tempo que é habitado por ele. A dimensão do habitar se expande, assim, consequentemente a cidade também é casa, e, deve ser hospitaleira, fornecendo ambientes que propiciam a experiência do acolhimento, que convidem os habitantes a frequentar os espaços públicos e a se encontrar com o outro, com o desconhecido. Nesse sentido a arquitetura se apresenta como um instrumento capaz de fornecer possibilidade para o estabelecimento da urbanidade, não por si só, mas a partir de mecanismos capazes de abrigar o encontro, o convívio coletivo e as demais relações que se dão no espaço, de modo que “a arquitetura não é somente uma utopia, mas um meio para alcançar certos resultados coletivos” (Lina Bo Bardi).

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Assim, a arquitetura se apresenta como transformadora do espaço, e, consequentemente da cidade e das pessoas, pois ela sugere novas formas de sociabilidade e apropriação. Dessa maneira o Sesc Pompéia, projeto de Lina Bo Bardi, é uma referência para esse trabalho, pois se trata de uma antiga fábrica de tambores que através da intervenção arquitetônica passou a ser um local de encontro entre pessoas, arte e cultura, gerando laços afetivos com o lugar e o estabelecimento de novas dinâmicas para o entorno. Na mesma lógica, tem-se High Line Park, em Nova York, projetado por James Corner Field Operations e Diller Scofidio + Renfro, como um “jardim suspenso” que foi construído numa linha férrea desativada, revitalizando uma extensa área urbana e propondo novas conexões, percursos e estares. Ambos os projetos revelam a potencialidade de lugares que utilizaram a arquitetura como meio para adquirir novas significações e funções no espaço urbano, em espaços que eram vestígios do sistema econômico e de produção e que foram requalificados a partir da proposta de novos usos. Atualmente o espaço público é cada vez mais inóspito e a relação interpessoal mais escassa. Em

high line park

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sobrepor usos

pertencimento identidade apropriação

articular percursos

relação corpo e paisagem

contrapartida o presente trabalho “costura urbana: entre rio e ferrovia” propõe a conexão e revitalização de áreas abandonadas à dinâmica urbana, com espaços que buscam acolher as pessoas e que possibilitem a apropriação da cidade e a transformação da paisagem, trazendo aos usuários novas percepções e experiências ao percorrer e sentir o espaço, partindo de locais já presentes no cotidiano citadino, mas que são subtilizados, costurando-os novamente à cidade.

propor passagens

sesc pompéia

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13


Paisagem urbana com a estação ferroviária, Matão-SP. Fonte: Autora, 2016.


2. a cidade


A partir das inquietações colocadas, a investigação sobre a cidade se voltou à Matão-SP, minha cidade natal e um cenário já presente no meu imaginário, que foi possível experimentar as questões e relações expostas no texto, mas que ainda reserva aspectos a serem descobertos. Dessa forma, ao se voltar ao território olhar buscou locais sem uso, encontrando bordas ao longo da linha férrea, lotes vazios que resistiram à ocupação, entorno de áreas industriais, fábricas no perímetro urbano, antigas chácaras na área central, entre tantas situações que configuram áreas complexas ao deslocamento urbano, com espaços que estão no dia-a-dia dos transeuntes, mas inóspitos ao pedestre. Nesse contexto, a área central destacada no mapa ao lado foi selecionada como potencial de projeto a ser explorada. Seguem porém alguns aspectos relevantes da leitura urbana, antes da abordagem específica desse espaço que são base para as decisões tomadas e precedem a análise do local, retomado mais adiante. Com localização considerada estratégica, pois se situa na área central do estado de São Paulo, Matão é rodeada por cidades de grande influência econômica como Araraquara, São Carlos, Ribeirão Preto, entre outras. Foi fundada em 1892 no contexto da expansão cafeeira, sendo importante para seu desenvolvimento a passagem dos trilhos da linha férrea da FEPASA e posteriormente as rodovias Washington Luiz e a Brigadeiro Faria Lima, que conectam a cidade ao entorno.

Matão


Mancha urbana

com o mapeamento de possíveis espaços de intervenção e as principais vias de circulação da cidade.

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expansĂŁo urbana

zoneamento urbano


Desta forma a cidade teve seu crescimento impulsionado, o que possibilitou o surgimento, primeiramente da indústria metalúrgica voltada à implementos agrícolas, em especial à canade-açúcar. Mais tarde, tem-se a indústria da produção de insumos da laranja, o que caracteriza a economia da cidade como industrial e que permanece até os dias atuais. A presença de tais indústrias ocasionaram o aumento populacional, que passou de 8.229 habitantes em 1960 para 60.547 em 1991, sendo cerca de 80.990 hoje, segundo os dados do IBGE de 2014. A ocupação se deu num primeiro momento no núcleo central da cidade, ao redor da praça e da Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus e nas proximidades do Rio São Lourenço, se expandindo em uma mancha maior por volta da década de 1960, indo também em direção à linha férrea e à estação, como observa-se no mapa ao lado, que ilustra a expansão urbana. Nesse processo muitos lotes permaneceram vazios, inclusive na área central e indústrias que antes eram afastadas de áreas residenciais foram incorporadas a elas, o que pode ser visto no mapa referente ao zoneamento urbano. Ainda de acordo com os mapas tem-se que os vetores de expansão vão em direção aos eixos sul e leste principalmente, em direção à

Rodovia Faria Lima. Esquematicamente:

Esquema de vetores do crescimento urbano, com base nos dados do plano diretor da cidade Por outro lado, os equipamentos e espaços públicos não acompanharam tal crescimento , sendo escassa a presença de locais que congregam pessoas, principalmente voltados à atividades culturais. O levantamento realizado (nas páginas 23 e 24) mostra que o cenário atual conta com poucos parques e praças de uso ativo, e outras atividades como exposições e oficinas acontecem em locais muitas vezes improvisados, que acabam limitando as atividades e o número de pessoas. Assim, considerando as características da cidade, somadas às inquietações que se voltam este trabalho – que se referem à precarização dos espaços públicos de qualidade – agrega-se a cultura, em função da demanda, e, como meio de gerar vitalidade.

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5

1

praça central

2 igreja matriz

4

áreas livres e equipamentos públicos 22

1. casa da cultura

2. biblioteca

3


Dessa forma a cultura atuaria como irradiadora de novas possibilidades de convívio e interação entre as pessoas e entre as pessoas e a cidade.

O levantamento dos equipamentos de Matão (incluindo educação, lazer e cultura) mostra que os locais relacionados à arte na cidade são poucos e concentram-se nas principais e mais antigas quadras do centro, sendo eles: A Casa da Cultura, edifício histórico onde funcionam exposições temporárias e a Secretaria de Cultura, e onde funcionava também a Biblioteca Municipal, que atualmente está instalada próxima à Casa da Cultura, em um prédio anexo a ela bastante precário pois o antigo espaço não comportava mais o uso devido à problemas construtivos e falta de manutenção e reforma. O Espaço das Artes, que abriga as oficinas de artes em geral, com desenho, pintura, escultura, música, dança e teatro, oferecidas pela Prefeitura em uma antiga residência adaptada, que não oferece espaço suficiente e muitas vezes não adequado a tais usos. Por fim há o anfiteatro, que é o da Escola Estadual Henrique Morato, mas é usado por toda população já que não há outro no município, o que faz com que ocorram apresentações públicas também no Cine Teatro Matão, cinema de caráter privado, mas que é utilizado para suprir essa demanda.

3. espaço das artes

4. anfiteatro

5. cinema

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Analisando-se a inserção urbana do espaço de projeto escolhido e observando-se a expansão da ocupação em Matão (mapa página 21), tem-se quea área é um vazio que está localizado na mancha que foi ocupada na década de 1960, mas permaneceu inabitado, à margem da especulação imobiliária. Atualmente a área é propriedade privada e é dada no plano diretor como área de urbanização compulsória, porém não há previsão de quando isso possa se efetivar. Assim, o presente trabalho propõe o uso desse vazio como espaço público, concebendo não somente o vazio como ausência, mas como promessa, como encontro, como espaço do possível, da expectativa (SÓLA-MORALES, 2002). Dessa maneira, o olhar se expande abrangendo a inserção de tal espaço na escala da cidade, vislumbrandoo como parte integrante de um possível sistema de espaços verdes, que contém o CAJU (1), ao norte, área verde com complexo esportivo e escola, o parque José Taralo Mendes (2), a área de lazer mais ativa e frequentada atualmente, o “aeroporto” (4), uma pequena pista de pouso com potencial de vir a ser um espaço verde e por fim a área de intervenção, que também prevê uma localização estratégica, já que o vetor de expansão urbana tende à leste (ver mapas e diagrama das páginas 21 e 22). Assim, como estratégia de abordagem diante dos aspectos e das demandas expostas a proposta de projeto se consiste essencialmente na proposição de um projeto urbano com diretrizes de um parque com equipamentos de cultura, com demais programas e propostas que se desenvolvem a partir dessa decisão.

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N

1

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3

4

principais åreas de alagamento e possível sistema de espaços verdes

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Fim da rua Castro Alves, MatĂŁo-SP. Fonte: Autora, 2016.


3. o entre


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a ferrovia

o vazio

o rio

29 25


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Partindo para a escala local, o entre, espaço escolhido para intervenção, localiza-se próximo à área central de Matão e guarda camadas de história. De um lado é limitado pelo Rio São Lourenço e de outro pelos trilhos da linha férrea da fepasa, ainda usados por trens de carga. Tal espaço pode ser compreendido como um “terrain vague”, termo usado por Sóla Morales se referindo à lugares aparentemente esquecidos, em que predomina a memória do passado sobre o presente, lugares obsoletos em que somente certos valores residuais parecem manter-se apesar de sua completa desafeição com a atividade da cidade. São lugares externos, fora dos circuitos e das estruturas produtivas e que se converteram em “áreas que a cidade não se encontra mais ali” (SÓLA-MORALES, 2002). Diante dessa caracterização a área de projeto se apresenta como desafio a ser reconectada à cidade e à dinâmica urbana. As imagens expostas ilustram algumas situações presentes na área e em seus limites, como a estação ferroviária na primeira sequencia de fotos, mostrando sua relação com a cidade, os galpões que restaram da estrutura ferroviária existente na segunda sequencia, a Vila Ferroviária e algumas situações existente ao longo dos trilhos, como passagens improvisadas, além da relação deles com as pessoas e com a cidade no terceiro e ultimo conjunto de fotos. Assim a partir das fotos é possível construir o cenário de onde se instala a intervenção.

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estação

galpões vila dos operários

complexo esportivo

fábrica global sucoa

prefeitura municipal

praça


fluxos existentes

usos comercial residencial

conexĂľes propostas


Avenida e Rio São Lourenço, Matão-SP. Fonte: Autora, 2016.


4. as referĂŞncias


parque la villette, bernard tschumi

Termas de Vals, Peter Zumpthor


Parque Ibirapuera, Oscar Niemeyer

Após as análises e leituras urbanas as referências que nortearam o projeto partiram do programa proposto a área de intervenção: parque urbano e do desejo de trabalhar a arquitetura ligada ao relevo e à paisagem. Dessa forma, se apresenta o Parque La Villette, como inspirador de formas de conexão, já que ele estabelece uma lógica de ligação com a malha urbana e sistemas de ligação interna, valendo-se de de camadas sobrepostas resolve de forma racional o funcionamento do parque e os programas. Ainda na lógica de sistemas de conexão se apresenta também o parque Ibirapuera, em com a marquise como elemento estruturador das ligações entre edifícios e do sistema de circulação, proporcionando abrigo e espaço para a apropriação à programas diversos. Já o projeto de Peter Zumpthor traz como contribuição a relação entre arquitetura, paisagem e o relevo, diretriz impulsionadora ao presente trabalho. O teatro do parque Ibirapuera através da proposta do palco que se abre ao exterior se soma aos mecanismos de relação com a paisagem.

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Avenida e Rio São Lourenço, Matão-SP. Fonte: Autora, 2016.


5. o projeto


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A intervenção se consiste na proposição de diretrizes de usos e ocupações para a área analisada de modo a conectá-la à cidade, assim as estratégias de projeto se consistiram no desenho uma nova malha urbana, já que a existente era precária de caminhos e passagens em sua extensão, com novas ruas e a delimitação de quadras para futuras habitações, quadras onde já existiam habitações consolidadas, a delimitação do parque e um novo desenho para as bordas do rio. Como apresentado nos esquemas da página anterior são usados quatro dispositivos para a costura a urbana: o sistema de caminhos e transposições; as edificações, a vegetação e por fim o sistema de apoios espalhados pelo parque que se localizam nos cruzamentos dos diversos fluxos e usos do parque.

Malha existente

Malha proposta

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3

1

2 558

3

558

4

5

1. Museu Estação Ferroviária 2. Marquise 3. Galpão 4. Anexo galpão 5. Vila operária 6. Bebedouros e descansos 7. Oficinas de arte e exposições 8. Biblioteca 9. Anfiteatro 10.Jatos d’água 11.Mobiliário de skate e estar 12.Apoios (a-sanitários, b-lanchonetes, c-jardinagem) 1. Horta e árvores frutíferas 2. Piso elevado para travessia de pedestres 3. Pontes de conexão 4. Bacia de mitigação ao longo do rio 5. Proposta para novas habitações 6. Complexo esportivo existente 7. Estacionamento 8. Prefeitura Municipal 9. Realocação dos moradores da Vila Operária 10.Fábrica Global Sucos

558 557

556 556

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2 549

9 20

19

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12c

12a 550

13 11

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17

17

16 539

10

50 25

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50


Os dispositivos de costura, como mencionados, se consiste de forma especial no o sistema de caminhos, pisos estendidos, térreos percorriveis e transposições, assim tem-se o sistema de apoios espalhados pelo parque que se localizam nos cruzamentos dos diversos fluxos e usos ao longo dos caminhos e que se consiste em um mobiliário de 2,5x2,5m que ora é abrigo, ora piso elevado e outra piso rebaixado, com bancos e bebedouros e lixeiras, como no esquema abaixo, proporcionando pontos e parada e encontro entre as pessoas. São apresentados nas páginas seguintes alguns recortes do projeto com os programas, os usos e as ambiências propostas que coexistem nos outros dispositivos para costura e articulação do espaço.

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O complexo cultural se consiste em um conjunto de três edifícios conectados por uma marquise que se localizam no eixo principal do parque, configurando um importante nó da intervenção, que congrega usos e públicos diversos em uma dinâmica de passagem e permanência e relação de interno e externo que se conecta ao relevo e desenha a paisagem. O edifício de oficinas de arte (1), em forma quadrada com dois pavimentos que buscam abrigar ateliers para realização de atividades como dança, música, pintura escultura, teatro, desenho entre outros e exposições. Os pátios internos buscam estabelecer as relações entre o interno e o externo, para que durante a passagem os transeuntes possam ver as atividades enquanto quem está dentro também consegue ter contato visual com o externo. A biblioteca (2) que se apresenta como volume suspenso, se conectando ao relevo e proporcionando uma varanda de estar para uso interno. No anfiteatro (4) é possível percorrer o piso que se conecta ao caminho e sobe em forma de rampa e seu palco, assim como o do parque Ibirapuera se abre, sendo também para apresentações externas. No conjunto a marquise (3) se apresenta como elemento de ligação que distribui os fluxos e proporciona abrigo para apropriações diversas.

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3 1 4 2

10

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Primeiro pavimento

Segundo pavimento

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EdifĂ­cios nexos propostos

5

1

2

3

4

6 10

50 25

60

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7


Para a área da estação ferroviária são propostos novos usos como forma de reabilitar o espaço mantendo-se a estrutura das edificações existente, com a estação (1), a vila operária (6 e 7), dois galpões (3 e 5) são propostos como elementos novos o anexo com dois galpões (4), a marquise de ligação (2) e uma escada de acesso direto a esse complexo. Como programa a estação abriga um museu com exposição permanente com a história da cidade e da linha férrea. Os galpões e o anexo para retomar e tornar ativa uma tradição de Matão abrigam atividades relacionadas à festa de Corpus Christi, festividade religiosa e já tombada como patrimônio cultural da cidade que ocorre uma vez ao ano com a confecção de “tapetes” nas ruas feitos de vidro moído e dolomita tingidos, o tingimento do material e a confecção das armações de suporte, (ilustrada na foto abaixo) são executados na cidade, assim os galpões serviriam de apoio para a confecção e armazenamento desses matérias além de oferecerem suporte para execução desse tipo de arte ao longo de todo o ano, não somente na festividade. Para a vila operária o uso proposto em 6 é um restaurante como ativação do uso noturno da área e em 7 a ocorrência de oficinas culinárias como parte da extensão da horta urbana proposta no parque. Para essas proposições os moradores dessas três casas foram realocados para a área mais próxima desse local em novas habitações, como pode ser observado na implantação das páginas 48 e 49.

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Para suprir as necessidades do parque há três apoios existentes, com dimensões de 14x14m, que se localizam em pontos estratégicos e ligados aos caminhos de circulação sendo que dois eles se conectam ao relevo proporcionando também uma praça em que é possível contemplar a paisagem. Eles abrigam os seguintes programas: 1 apoio para o parque com sanitários e bebedouros, 2 apoio para a horta com pias, ferramentas e espaço para oficinas de jardinagem e 3 abrigo para a lanchonetes que se localiza próxima à área de skate.

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1

3 2

10

50 25

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O novo desenho para a borda do São Lourenço busca estabelecer uma nova forma de contato com rio, já que ao longo de sua passagem pela cidade não há a existência do contato agradável com a água, a sequencia de fotos ao lado mostra como se dá essa relação em alguns pontos em seu percurso. Para o estabelecimento desse contato com a água tem-se passarelas que atravessam o curso d’água e em alguns momentos se alargam sobre ele proporcionando espaços de permanência. A intervenção nesse espaço propõe uma bacia de mitigação para conter as recorrentes enchentes dando a possibilidade para vazão de água e que também podem ser usadas como estar em outros períodos.

10

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50 25

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Por fim, diante do extenso vazio urbano que a área de intervenção se constitui propõem-se a partir do desenho da nova malha duas quadras destinadas a habitação. O foco do trabalho não foi o desenvolvimento delas, mas há a proposição de um plano de massas com as diretrizes dessas habitações, que se constituem em combinações de apartamentos duplex e de um pavimento que chegando até três pavimentos combinados que se conectam ao relevo e desenham a paisagem.

10

50 25

70

100


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BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Tradução Plínio Dentzien., 2001.

GEHL, Jan. Cidade Para Pessoas. São Paulo. Perspectiva, 2013. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Tradução Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2006. RUBINO, Silvana, GRINOVER, Marina (orgs.). Lina por escrito: textos escolhidos de Lina Bo Bardi . São Paulo: Cosac Naify, 2009. SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territórios. Gustavo Gili, 2002.

6. a bibliografia

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução Antonio de Pádua Danese. São Paulo: Martins Fontes, 2005.





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