eixo moema-capão mobilidade urbana como prática para requalificação da paisagem cultural
SENAC . TCCII . nov20 . Aline Menezes . Ralf Flôres
eixo moema-capão
mobilidade urbana como prática para requalificação da paisagem cultural trabalho de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo centro universitário SENAC Santo Amaro
Aline Yuri Tsushima Menezes
Ralf Castanheira Flôres (orientador)
São Paulo 2020
agradecimentos À minha família, amigos, colegas e professores por todos os momentos felizes e difícieis que compartilhamos juntos na minha trajetória. Às surpresas da vida que me possibilitaram conhecer a pessoa que amo e que sou noiva e aos nossos 7 filhos (felinos) – que se não existissem, não sobreviveríamos –. E, por fim, às todas possibilidades de (ainda) transformar o mundo.
“Se descobrirmos que nossa vida se tornou muito estressante, alienante, simplesmente desconfortável ou sem motivação, então temos o direito de mudar de rumo e buscar refazê-la segundo outra imagem e através da construção de um tipo de cidade qualitativamente diferente.” David Harvey, 2013, p.13
sumário considerações iniciais 11 parte 1 introdução 12 o território e o cotidiano na cidade do trabalho 15 a cidade como prática 19 dimensionamento do problema 23 mobilidade urbana em são paulo 25
parte 2 dinâmicas globais e a construção da metrópole 29 em um país periférico] de várzea a cidade 35 mapa: bacias hidrográficas de são paulo 38-39 segregação urbana e o quadrante sudoeste eixo de intervenção 40 mapa da desigualdade 42-43 parte 3 [eixo moema-capão] histórico: transporte 44 mapa expansão urbana 45 linha do tempo 46-47 (re)construindo o percurso 48 histórico: ocupação 50 parte 4 dinâmicas atuais 58 paradigmas enfrentados 62-63 parâmetros adotados 64-65 referências: projetos e planos urbanos 70 potencialidade: paisagem cultural 72 projetos previstos na macrorregião 74 parte 4 estratégia de intervenção 76 (1) conectar 78 (2) permanecer: parque santo dias 84 rua josé jambeiro 88 av. giovanni gronchi 92 estação de tratamento de água theodoro ramos 98 cine vila rica 104 (3) pertencer: considerações finais 108-109 referências bibliográficas 112
9
10
Colagem: Acervo da autora
considerações iniciais O avanço das inovações técnicas de infraestrutura viária e de transportes transformaram o modo de viver e o cotidiano das cidades. Além de impregnar um imaginário urbano e social que se retro alimentam de incertezas e falsos progressos. Por outro lado, é através da paisagem cultural que se constrói a imagem da cidade, por conseguinte, uma sociabilidade, modos de agir e, portanto, uma vida urbana específica, que dentro do atual sistema político econômico dominante se mantém em constante contradição. Dar luz aos acontecimentos históricos em sua totalidade são práticas historiográficas modernas e fundamentais para o desenvolvimento humano e justiça social, mas que, por jogos de forças e de poder parte das memórias são apagadas enquanto outras exaltadas. Desmistificar a história, transformar o cotidiano dando-lhe um rumo real ao desenvolvimento humano - e renovar a relação sociedade-natureza, é o que o projeto urbano e arquitetônico deste trabalho pretende inspirar.
11
introdução “Que tomemos a problemática do patrimônio
indiretamente nas mil atividades que asseguram sua
cultural no seu nervo próprio: o do fato social [...] o
vida física e desenvolvem sua vida espiritual.” (CIAM,
caráter da cidade não se encontra nela, mas na
Carta de Atenas, 1933, p.2)
sociedade, no tipo de relações entre os homens que a institui e organiza” (Meneses, 2006, p.36) As inovações tecnológicas dos meios de transportes transformaram, não só a paisagem cultural das cidades, mas o modo de viver e se relacionar com o espaço. Novas divisões técnicas, sociais e espaciais de produção foram necessárias, gerando assim, um outro modelo de ordenamento, sociabilidade e desenvolvimento urbano.
12
Chancelado em 2009 pelo IPHAN, a paisagem cultural é um inovador instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro que se dá por uma porção peculiar do território nacional. A região se vale pelos processos naturais cósmicos e características próprias da interação do homem com a natureza através do tempo. O contexto geográfico e a organização social específica de cada território revelam dinâmicas próprias daquela população.
A metropolização das cidades durante o
século XX, derivado do duplo processo de urbanizaçãoindustrialização iniciado pelas revoluções tecnológicas em território europeu, levou um grande contingente de trabalhadores do campo para as cidades. No Brasil temos hoje cerca de 84% dos 209,3 milhões de habitantes do Brasil vivendo em áreas urbanas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2015, do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. “Isolado, o homem sente-se desarmado; [...] Transformado em elemento constitutivo de uma sociedade que o mantém, ele colabora direta ou
Mesmo muito antes das cidades modernas, as formações de núcleos e assentamentos humanos, a partir da revolução agrícola, por meio das técnicas agrária de otimização da produção (processo que ocorreu em tempos diferentes em cada lugar do mundo), diminuiu a incidência de grupos nômades, impactando profundamente a vida humana. O termo “metrópole”, de acordo com Choay (1965), existe desde a antiguidade, exemplos de Nínive, Babilônia - podendo citar talvez Tenochtitlán, atual Cidade do México, que no auge da sua civilização chegou a 11 milhões de habitantes - foram cidades com o cotidiano muito parecido com o que temos hoje mas ainda eram exceções no globo até pelo menos o século XX quando o fenômeno realmente se torna mundial. Porém, as técnicas e as acumulações das técnicas variam em proporções diferentes dependendo da civilização, país e região. Mas que, com as sucessivas elaborações, vão se sobrepondo ao um novo conjunto de técnicas característico do período atual (SANTOS, 2002). Hoje, as técnicas de transporte e estocagem de bens, informações e pessoas avançam cada vez mais em menos tempo (ASCHER, 2010) e de forma cada vez mais universal (SANTOS, 2002). Assim como o surgimento da escrita e contabilidade, a invenção e o desenvolvimento dos meios de transportes foram decisivos para a formação das metrópoles e do modo de produção do espaço. O transporte, aliado às inovações desde a imprensa à internet, as técnicas de construção como o concreto armado, ou as de armazenamento como a refrigeração, estão diretamente ligados à forma de crescimento, tanto horizontal como
vertical das cidades. Os avanços das técnicas, portanto,
permite a alocação de novas atividades produtivas,
podem ser vistos como excelentes parâmetros até
mecanismos de defesa territorial e militar, formando-
então para se conceber o modelo de desenvolvimento
se corpos institucionais de grande poder político e
das cidades, prevendo sua dimensão. Em outras épocas
econômico. No Brasil na medida em que se modernizava
da história houveram tentativas desse tipo, como David
as estradas de ferro, tornando-as mais rápidas e
Hume, filósofo e historiador britânico do século XVIII,
facilitando a comunicação, atraia-se as camadas
que calculava que as cidades poderiam chegar até 700
mais abastadas da população paulista (fazendeiros
mil habitantes, ou William Petty, formado em economia
e grandes proprietários), que antes habitavam em
política em Londres em meados do século XVII, fixou
suas próprias fazendas. Assim, os proprietários e
um limite de 5 milhões de habitantes para a cidade em
fazendeiros ao mesmo tempo que estavam próximos
que vivia. Em 1889, Júlio Verne, advogado e escritor
de seus empreendimentos, aproveitavam a vida intensa
francês, previu que as grandes cidade poderiam chegar
dos grandes centros. No começo da década de 1930,
ao número de 10 milhões de habitantes mas apenas para
São Paulo possuía 61% do capital invertido na indústria,
ano de 2889 (CHOAY, 1965, p.14).
mesma proporção do número de operários (PRADO, 1983, p.37).
O processo de aglomeração urbana, conhecido através do conceito de conurbação introduzido por
A capital paulista nasce, portanto, da consolidação
Patrick Geddes (1854-1932), se dá pelo agrupamento de
da hegemonia da elite paulistana através da localização
um assentamento de diversas regiões de uma mesma
de
porção do território devido à atração de um núcleo ou
comunicação, o potencial hidráulico da Bacia do Alto
centralidade de uma cidade de maior dimensão. Biólogo
Tietê e pela grande mão de obra, agora, assalariada.
escocês, aluno de um grande darwinista, T.H. Huxley,
Portanto, as particularidades do sítio urbano expressas
Geddes se aprofunda na pesquisa sobre a evolução e
na porção geomorfológica e hidrológicas ganham
transformação das cidades, onde o campo lhe foi aberto
sua dimensão social por meio da realização do valor,
pela geografia e sociologia francesa, estudando uma
processo de acumulação e na próprias divisões e
série de cidade, como Edimburgo, Palestina e Índia.
organizações territoriais do trabalho.
O autor também criou alguns outros conceitos como eras paleotécnica e neotécnica, caracterizando as manifestações no processo de industrialização sendo a primeira era marcada pela mineração, introdução da máquina a vapor e as primeiras estradas de ferro e a segunda marcando um novo processo ainda em vigência na sua época. Entretanto, a expansão territorial não é meramente uma avanço tecnológico
mas um dispositivo que
suas
indústrias,
favorecida
pelo
sistema
de
13
14
Figura: Expedição na subída da serra (olhando em direção ao mar), Vallandro Keating (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENAC-PMSP, 2004)
Figura: “Drenagens da região de São Paulo”. AB’SÁBER, Aziz.
Figura: Panalto e Baixada Santista antes da ocupação, Vallandro Keating (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENACPMSP, 2004)
o território e o cotidiano na cidade do trabalho Categoria específica do patrimônio cultural, criada
da paisagem e ordena os fenômeno, integrando em uma
em 1992 pela Unesco (reconhecida em território europeu
única estrutura. Para Villaça (2011), a ideia do espaço
em 1995 pela recomendação (R)95 e pelo IPHAN em
social e urbano como como produto produzido pelo
2009 pela portaria nº 127), a paisagem cultural se
trabalho humano foram o maior avanço ocorrido no
constitui pela sua escala de abrangência sobre o
campo da geografia. Entre eles autores como Lefèbvre,
território e pode ser definido por um porção espacial
Harvey, Gottdiener e tantos outros, contribuíram para
ou recorte territorial. Nesse recorte deve trazer marcas
o entendimento dessa dimensão do espaço, que antes
de diferentes temporalidades da relação do homem
limitava-se a simples recursos descritivos.
com a natureza, e o que define as paisagens a serem protegidas é por esse caráter dinâmico e vivo com a
A Bacia Sedimentar de São Paulo é uma unidade
natureza tecida ao longo do tempo. O instrumento de
geomorfológica muito particular da porção sudoeste do
patrimônio é uma marco da superação do tratamento
Planalto Atlântico Brasileiro. Sua formação deriva de
compartimentado entre o patrimônio natural e cultural
eventos ligados tanto ao tectonismo, responsável pela
e entre o material e imaterial, tornando-se um conjunto
separação do continente Africano e Sul-Americano,
único e que está em constante transformação por meio
como pelo processo sedimentar, ligado à bacia do rio
dessa estreita interdependência entres práticas sociais
Tietê, conhecido como Bacia do Alto Tietê (BAT).
do cotidiano da cidade e o ambiente, portanto, a própria produção do espaço.
“[...] existe uma região de São Paulo na Geografia Brasileira, da mesma forma que existe um Recôncavo
O conceito advém da geografia alemã, pensando
Baiano, uma região da Guanabara, uma região do
entre o final do século XIX e começo do XX. Antes, na
médio vale superior do Paraíba, ou uma Baixada do
geografia alemã, se diferenciava a paisagem natural
Ribeira de Iguape” (Ab’saber, 1957, p13)
(naturlandschaft) da cultural (kulturalandschaft). Em 1925, Carl Saver, propôs a superação destas noções dicotômicas em “The Morfology of Landscape” em que diz que a “paisagem” por si só é uma noção integradora que contém duas dimensões em inter-relação. Para Saver (1998) a paisagem imprime uma realidade que não expressa os componentes separadamente mas sim como um sistema no qual possui forma, estrutura e função que sujeita a um desenvolvimento, mudança e fim, e que depende também do método de investigação. Esse método pode ser dito como “método morfológico” que organiza sistematicamente o conteúdo
A morfogênese do relevo de São Paulo revela a atuação do clima intertropical e extratropical na qual se dão pelas chuvas intensas e duradouras. O processo sedimentar das águas teve outrora, grande importância na paisagem cultural da região, onde parte da organização econômica dos moradores em que os tiradores de areia e cascalho e os oleiros ainda eram presentes. “O clima ou os climas urbanos da metrópole não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações com os fatos associados à produção do espaço através das
15
Figura: Construção do Viaduto Santa Efigênia (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENAC-PMSP, 2004)
Figura: Panalto e Baixada Santista antes da ocupação, Vallandro Keating (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENAC-PMSP, 2004)
práticas sociais vigentes no cotidiano desta sociedade
16
- plataformas interfluviais secundárias, esculpidas
urbana” (TARIFA & ARMANI, 2001, p. 28, SILVA, 2009,
nas abas do Espigão Central e dotadas de marcante
p. 30)
tabularidade. Triângulo Histórico, República, Santa Efigênia, Jardim Europa, Santo Amaro, Tatuapé.
O sítio da capital paulista nasce nas colinas entre os níveis intermediários de 740-745 m e foram
790-895 m: Altas colinas e espigões secundários. Colinas do Sumaré e da Aclimação.
fundamentais para o tipo de ordenamento do território.
800-820 m: Espigão Central. Rua Domingos de
A primeira expansão da cidade, após a construção do
Morais, avenidas Paulista e Dr. Arnaldo. (Ab’saber,
viaduto do chá à esquerda do Anhangabaú, ponto que
2010, p.212)
se recebe o afluente Saracura, objetivava não só uma melhor circulação de bens e pessoas mas o fomento
Mais adiante, passado o espigão central e a jusante a
pelo mercado de terras. Antigas chácaras serviram
bacia de Pinheiros característico pelo relevo tabuliforme,
e destinaram-se às elites paulistanas e assim a
há, a partir dos anos 1930, nas margens do rio Pinheiros,
formação do primeiro bairro planejado. Com um modelo
o processo de
de arruamento em ângulos retos e ajardinados, foi
imobiliários destinados à classe dominante e também,
implementado desenhos urbanos derivados do modelo
ainda na mesma porção, quando mais afastados, os
europeu do século XIX através do movimento criado por
subúrbios industriais na direção de Santo Amaro.
ocupação dos empreendimentos
Ebenezer Howard de “cidades-jardins”. As várzeas, ou planícies aluviais, definem um 720-722 m: Planícies aluviais do Tietê - em geral,
vasto ambiente fluvial que recobre grande parte da
dotados de dois níveis: um, raso e baixo, afetado por
Bacia Sedimentar de São Paulo. A origem da produção
cheias anuais; outro, ligeiramente mais alto e sujeito
de seu espaço se deu por terrenos de difícil acesso,
somente a cheias periódicas.
depósito de materiais e vias de comunicação limitadas
725-730 m: Baixos terraços fluviais dos vales do
pelas travessias dos córregos a montante em direção
Tietê-Pinheiros. Brás, Pari, Pinheiros, parte baixa do
ao espigão central. Eram também lugares de moradia
bairro da Lapa.
da classe operária, que nas épocas de chuva viam
745-750 m: Terraços fluviais do nível intermediário
suas casas submersas pelas águas. Ainda assim, a
17
cidade foi erguida a partir de seus elementos naturais constitutivos e pelas forças de trabalho das populações empobrecidas que ali viviam.
pedidos de permissão para utilização do rio e das várzeas do Rio Pinheiros. Eram pedidos para cortar lenha, levar o gado a beber água, pastar cabras, pescar no rio, empinar papagaio, jogar futebol nas várzeas,
Por muito tempo, as várzeas eram quintais dos
aos quais se deu invariavelmente resposta negativa,
bairros nas colinas e serviam de pastos para as
sob alegação de que não se poderia perturbar o
carroças que povoaram a região. As várzeas receberam
andamento das obras. (Seabra, 2015, p45)
desde corporações militares, a áreas de usos comuns de esportes populares como campos de futebol e clubes
O espaço e o tecido urbano são produtos sociais
beira-rio e regatas, dependendo do clima e regime dos
moldado por condições e contextos específicos de cada
rios regionais. Na medida em que a região se tornava
lugar, ou seja, tendo a natureza como base e a força e o
estratégica para valorização da propriedade privada,
trabalho humano como fonte que o alimenta e dinamiza.
desde o decreto da Lei de Terras de 1850, instaurouse um processo fundiário que caracterizava pela
“Há espaço desde que se considere vetores de
concentração ilícita de milhares de hectares de terras
direção, quantidades de velocidade e a variável tempo.
públicas na mão de poucos proprietários, por meio das
O espaço é um cruzamento de móveis... O espaço
chamadas “grilagens” de terra. Avolumavam-se nos escritórios da Light os
estaria em relação ao lugar da mesma forma que a palavra quando é pronunciada... Em suma, o espaço é um lugar praticado” (Certeau, 1998, p.172)
Figura: Grevistas no largo do Palácio (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENAC-PMSP, 2004)
18
a cidade como prática Jane Jacobs (1916-2006), jornalista redatora da
e suas manifestações material e mental que para
revista Architectural Forum e autora de um dos
Patrick Geddes se tratava de uma natureza viva em
mais brilhantes livros sobre a natureza da cidade, se
constante evolução, mostrando a importância do olhar
debruçou nas dinâmicas cotidianas no uso da rua como
pela perspectiva geográfica, histórica e prática. “(...)
espaço potencialmente estratégico para interferir e
praticamente desaparece a distância entre teóricos e
qualificar a vida urbana em seus diversos aspectos,
práticos, que estão hoje em nosso país, radicalmente
sociais, políticos e econômicos. Ela constrói, não
separados” (Geddes sobre o cotidiano na coordenação
só a importância das ruas como espaço vital para
dos planos de construção dos espaços verdes e edifícios,
participação social, mas também, tece firmes críticas
Choay, 1965, p.274).
sobre ao modelo liberal e ao mercado financeiro que esmagam, ao mesmo tempo que fragmentam, as
Já em Lewis Mumford (1895), discípulo de Geddes,
possibilidades mais elementares da vida urbana e
sua contribuição nos estudos das cidades nos mostram
impossibilitam de todas as formas possíveis a fruição
a importante função biológica e social dos espaços
pública de seus cidadãos. Sua visão antropológica e
livres, vital para requalificação da paisagem urbana
sociológica da cidade seguem uma corrente que Choay
e natural. Foi crítico dos parques paisagísticos, de
intitula como “planejamento humanista” de urbanismo
estilos próximos da aristocracia rural, os quais foram
progressista, visando reintegrar o problema urbano em
chamados por Camillo Sitte (1843-1903) de “espaços
seu contexto global, tanto físico-territorial como político
verdes sanitários” devido a visão higienista do século
e cultural. Essa vertente se desenvolveu fora do meio
XIX, que consistia em soluções pouco ou nada funcionais
especializado dos urbanistas e construtores, constituído
na visão sociológica de combater congestionamentos
por um trabalho coletivo entre sociólogos, historiadores,
e a desordem crescente das cidades. Mesmo com seu
economistas, juristas, psicólogos, biólogos e hoje em
valor recreativo inegável - apesar de serem acessados
dia, com geólogos e geógrafos.
pela massa trabalhadora apenas aos fins de semana -, os parques paisagísticos serviam também como
O estudo das cidades, enquanto ciência aplicada, se
uma barreira para as classes privilegiadas contra o
fundamenta, basicamente, por conhecer sua evolução a
desenvolvimento, ao mesmo tempo, como destaca
partir de suas origens e distribuição, desenvolvimento
Mumford: “nenhum esforço foi feito para criar em cada
e estrutura, seu funcionamento interno e externo
bairro espaços livres íntimos, onde jovens pudessem
19
Figura: Jane Jacobs em sua bicicleta, Nova York, EUA. Foto: Bob Gomel/Time & Life Pictures/Getty
20 jogar bola à vontade e os adultos descansar durante
Goff (1990), sobre a origem do calendário nos diz “os
a semana sem ter de fazer uma longa caminhada”
que controlam o calendário controlam indiretamente o
(CHOAY, 1965, p.286).
trabalho, o tempo livre e as festas” (p.514) mostrando a relação entre tempo e poder. Em seu capítulo “O Céu
Outro interessante ponto em Mumford é quando
e a Terra, a Lua, o Sol, e os homens” fala da insistente
ele avalia os avanços da cidade industrial que junto
perseguição de sociólogos e antropólogos pela origem
trouxeram o tempo livre aos trabalhadores, em função
social dos calendários – portanto, de quem controla
da automação pelas máquinas e do aumento das
o tempo. Mas comecemos pela etimologia da palavra
profissões liberais do setor terciário, reduzindo no
‘calendário’ que destaco a terceira pelo dicionário Aulete:
geral as horas de trabalho da população. Tais ganhos
“organização ou sistema oficial para a contagem do tempo,
podem ser traduzidos como uma forma de emancipação
baseada principalmente na astronomia, que o divide em
da classe trabalhadora que, por outro lado, cria-se
ciclos que se repetem (dias, meses, estações do ano,
uma demanda crítica, intelectual e política no uso
ano)”. Para semana, cria-se uma interrupção regular do
desse bônus, e destaca: “Para que essa emancipação
trabalho, fixando-se pelo repouso e tempo livre que se
não se converta em um castigo, temos de substituir
adaptou muito bem ao ritmo biológico dos indivíduos e
as soluções sedativas e anestesiantes atualmente em
também às necessidade econômicas (LE GOFF, 1990).
uso, particularmente no que diz respeito à anestesia
“Nas sociedades urbanizadas contemporâneas o dia de
através da velocidade sempre crescente dos meios de
repouso tende a transformar-se num fim-de-semana de
transporte” (CHOAY, 1979, p.288).
dois dias, o sábado e o domingo: o week-end inaugurado pelos Ingleses, primeira nação industrializada.” (Le Goff,
Assim como o espaço, o tempo é também uma construção humana e demasiadamente política. Le
1990, p.516)
Figura: Jacobs e ativistas do lado de fora da Penn Station em Nova York para protestar contra sua demolição planejada em 1963. Fotografia: Walter Daran
21 A preocupação sobre a relação do tempo livre e
Mas também lembrar que o acesso às memórias coletiva,
tempo de deslocamento se faz cada vez mais frequente.
e assim o patrimônio histórico da cidades produzidas
Compreender as dinâmicas das cidade é compreender
outrora pelas sociedades, devem ser ressignificada e
como e porquê seus cidadãos se movimentam. Para
renovada a partir das dinâmicas sociais no presente.
André Lemos (2009) “segundo Lewis Mumford (1988), a
Como Harvey (2013, p.28) afirma: “A liberdade da cidade
cidade é lugar de content e de magnet, de contenção e
é, portanto, muito mais que um direito de acesso àquilo
atração. Ela se realiza no fluxos de mobilização, mistura
que já existe: é o direito de mudar a cidade mais de
e ampliação, que se opõem ao isolamento e autonomia
acordo com o desejo de nossos corações.”
mais fechada das antigas aldeias”. Para Vasconcellos (2018, p.10) “as formas físicas do desenvolvimento urbano – relativo ao uso e ocupação do solo – e suas características físicas e sociais têm impacto direto no sistema de transporte e de trânsito e são por ele afetadas também, num processo de interação”. A questão da mobilidade está no cerne da evolução “das primeiras necrópoles, passando burgos medievais e pela cidade industrial do século XX, com a expansão dos meios de transporte e das mídias de massa” (LEMOS, 2005), e que não anula o objetivo dos meios de transporte em massa, e aqui eu evidenciou o coletivo, para o progresso social a equidade entre os homens.
22
Figura: “Conquistar a rua! Compartilhar sem dividir”, Org. Andres Borthagaray, p.11/12
Figura: “Conquistar a rua! Compartilhar sem dividir”, Org. Andres Borthagaray, p.15/16
dimensionamento do problema
Figura: “Conquistar a rua! Compartilhar sem dividir”, Org. Andres Borthagaray, p.10
Atualmente, o município de São Paulo possui um tecido urbano com cerca de 317 milhões de metros quadrados de construções residenciais formais (a área total urbanizada é de 949 milhões) e teve em 2019, uma arrecadação em torno de 8 bilhões apenas por imposto territorial urbano, 20% da arrecadação total. Sua população é de aproximadamente 12,3 milhões de pessoas apenas no município e cerca de 22 milhões na região metropolitana de São Paulo – uma das maiores metrópole da América Latina, rivalizando, apenas com o número de habitantes da região metropolitana da Cidade do México. Mesmo com o maior orçamento municipal do Brasil, cerca de 60 bilhões em 2019, 3 milhões de pessoas vivem em favelas e loteamentos irregulares e estimase um déficit habitacional dentro da RMSP de 600 mil moradias. Além da desigualdade econômica, a desigualdade territorial evidencia processos marcantes de segregação urbana e racial legitimando as violências cotidianas no território. Isso se dá através das condições históricas e mecanismos ideológicos consolidado pelo modelo de desenvolvimento econômico do país e do mundo e que agem, de forma sistêmica, no dia a dia da nossa cidade.
“A segregação é a mais importante manifestação espacial-urbana da desigualdade que impera em nossa sociedade.” [...] No caso das metrópoles brasileiras, a segregação urbana tem uma outra característica, condizente com nossa desigualdade: o enorme desnível que existe entre o espaço urbano dos mais ricos e o dos mais pobres.” (Villaça, 2011, p37)
23
24
a mobilidade urbana em São Paulo Os serviços de transporte e a mobilidade urbana, sempre foram temas centrais dentre as políticas públicas do urbano. Na cidade de São Paulo, tivemos desde propostas de extinção da tarifa, elaborado pela gestão Erundina (1989/93), a privatizações de serviços públicos como o da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) criado em 1947 e responsáveis pelo sistema de bondes na época e 1995 vendido pela gestão Maluf (1993/97). Até chegarmos
Figura : Sistema de Tramway, 1930, com base na carta cadastral SARA BRASIL (SANTOS, I. Morim. 2014)
em junho de 2013, primeiro ano de gestão Haddad, com as grandes mobilizações de rua liderados pelo Movimento Passe Livre com o retorno do tema tarifa zero (MARQUES, 2018). Mas a história não começa e nem acaba aí. O primeiro serviço de transporte prestado em São Paulo data de 1865, pelos tílburis (veículos de aluguel a cavalo) através da iniciativa de Donato Severino. Os serviços eram prestados por meio de uma tabela de preço e horário dos veículos, sendo usados até o início do século XX. Já em 1887, incentivada pelos barões
Figura : Sistema viário principal, 1930, com base na carta cadastral SARA BRASIL (SANTOS, I. Morim. 2014)
Figura: Vale do Pacaembu, com Higienópolis ao fundo, 1926 (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENAC-PMSP, 2004)
prolongamento e pavimentação. Ideia cristalizada pelo Planos de Avenida em 1930, planejando os tipos de modais que poderiam ser aplicados na cidade de São Paulo – metrô, ônibus, bonde, táxi e automóvel individual. A preferência para os veículos sobre pneus era de que os trilhos sobre os solo viário prejudicariam o sistema de trânsito, pois, impediam o fluxo livre nas vias principais, e que os transportes feito no nível da rua deveriam ser priorizados. Excluindo, portanto, os modais sobre trilhos como bondes e metrô e incentivando o uso dos modais Gráfico 1: Número de passageiros por modo (bonde e ônibus) (PEREIRA, 2013:25/ Fonte Dados SÃO PAULO (Pref.) Anteprojeto de um sistema de transporte rápido, 1956
motorizados e sobre rodas (SANTOS, 2014), gerando uma cultura individualista, insustentável ambientalmente e altamente violento já que despriorizam as faixas segregadas para cada modal, favorecendo os acidentes de trânsito.
do café, inaugurou-se a primeira estrada de ferro no estado de São Paulo através da empresa The São Paulo Railway Company. Ligando Santos a Jundiaí, a linha foi aberta com objetivo de aumentar o escoamento pela produção de café, se tornando o principal produto de exportação do país no começo do século seguinte.
Em
1871,
são
introduzidos
os
primeiros
transportes coletivos de fato, através da Companhia de Carris de São Paulo que, em 10 anos, implantaram cerca de 24 km de trilhos, onde bondes puxados por burros chegaram a transportar 1 milhão de passageiros por ano. E a introdução dos bondes elétricos, por volta de 1900, com a única linha interurbana para Santo AmaroVila Mariana operada até a sua desativação em 1966 Tanto o bonde como a iluminação pública da cidade se deram através do capital canadense pela empresa Light & Power Company, que posteriormente foi responsável pela geração e distribuição de energia elétrica no município, garantindo seu monopólio no território. Em 1912 a rede de bonde já possuía 190 km o que levou a diversas adaptações viárias como alargamento,
A partir das décadas de 20 e 30 a região sudoeste de São Paulo recebe diversas iniciativas de infraestrutura. Inaugurada em 1929, pela Autoestradas S/A, a Autoestrada Washington Luís já previa seu uso para o então aeroporto de Congonhas inaugurado 8 anos depois. Outro fato relevante é de que, em 1930 já circulavam em torno de 400 ônibus na cidade, e em 1934 sua frota já era de 700 veículos (gráfico 1), processo que marca o início do pesado estímulo pelo veículo sobre rodas, alegando a maior flexibilização do trajeto e acesso às vias ainda não pavimentadas tornando-o, com o tempo, o principal modo de transporte público da cidade e assim, a deliberada decadência do transporte sobre trilhos com os bondes. No estudo de Prestes Maia para o Plano de Avenidas de 1930, estruturou-se o tecido urbano de São Paulo por meio da implantação do sistema viário radioconcêntrico. Segundo Maia este sistema estruturaria tanto a expansão urbana quanto o modelo de transporte. Prestes Maia inaugura a então conhecida avenida 23 de maio, antiga avenida Itororó (se configurando como via expressa apenas na década de 1960).
25
Tabela 1: Índice de motorização, Município de São Paulo (VASCONCELOS, 1999:262) Ano
População
Hab./Veí
1920 1930 1940 1950 1960 1870 1980
579.033 876.327 1.326.261 2.198.096 3.666.701 5.924.615 8.493.226
170 39 42 29 22 9 5
viadutos, pressionam o poder público para ampliar e aprimorar o sistema viário nas regiões de seu interesse (quadrante sudoeste) transferindo cada vez mais para esse quadrante suas moradias, construindo seus locais de emprego e indicando os melhores locais para o seu comércio e serviço (VILLAÇA, 2006). Entre 1964 e 1974, são construídas as primeiras vias expressas, avenida 23 de Maio e Rubem Berta, as marginais do rio pinheiros e tietê, alargamento da avenida paulista e iguatemi para
“Em novembro de 1891 o primeiro carro motorizado
26
tornar-se avenida faria lima, construção do Minhocão,
chegou ao Brasil, mais precisamente no porto de
avenida bandeirantes (vale do córrego da traição),
Santos. Nas primeiras décadas do século 20, São
avenida brás leme e grande parte da radial leste. Na
Paulo recebeu fábricas da Ford e da General Motors.
década seguinte e de interesse para esse trabalho, a
Entre 1920 e 1939, só no Estado, o número de carros
avenida Luís Carlos Berrini e a Juscelino Kubitschek.
saltou de 5.596 para 43.657, e o de caminhões foi de 222 para 25.858. Em 1956, foi inaugurada em São
Em 1968, acontece a última viagem dos bondinhos
Bernardo do Campo a primeira fábrica da Mercedes-
e assim, a implantação da primeira linha de metrô.
Benz. A revolução automotiva dos anos 50 trouxe a
Realizado pelo consórcio HMD, formado pelas empresas
São Paulo tecnologia, empregos e desenvolvimento.
alemãs Hochtief e Deconsult e pela empresa brasileira
Hoje, o Estado produz mais de um milhão de veículos
Montreal, as obras do Metrô começaram no final da
por ano”1.
década de 1960 e em 1974 é inaugurada Linha Azul do
Na década de 50, o governo Juscelino Kubitschek impulsionou a vinda de indústrias automobilísticas estrangeiras ao Brasil institucionalizado pelo Grupo Executivo da Indústria Automobilística - GEIA, de
Metrô. O Estudo do Sistema de Transporte Urbano de Passageiros da Região Metropolitana de São Paulo
1955. Dando então o início da difusão do automóvel no território e provocando congestionamentos, agravados continuamente, a partir interesses obscuros pela minoria econômica e politicamente poderosa da sociedade paulistana que tendo como discurso a eficiência e otimização do tempo de deslocamento por meio das construções de novas avenidas, elevados e
1 História da Industria Automobilística. Governo de São Paulo, São Paulo, s.d. Disponível em: <https://www.saopaulo.sp.gov. br/conhecasp/historia/a-industria-automobilistica/#:~:text=Em%20 1956%2C%20foi%20inaugurada%20em,sp.gov.br).>. Acesso em: 20/11/2020
Figura: Cidade Policêntrica, PUB (SÃO PAULO (Cid), 1969:81)
Viagens diárias por modo, São Paulo (PESQUISA OD, 1997-2007) Tabela 2: Pesquisa OD 1997 Modo Transp. viário
Nº de viagens
% total das viagens
18.014.501
57%
2.345.747
8%
11.071.957
35%
particulares e de massa do tipo motorizado e sobre vias e não sobre trilhos, como recomenda o planejamento urbano sustentável.
(ativos)
Tabela 3: Pesquisa OD 2007 Modo Transp. viário
Nº de viagens
(Marta Suplicy, PT, 2001-2004) e o Dá Licença para
22.067.460
58%
o Ônibus (Haddad, PT, 2013-2016) com a segregação
3.038.575
8%
12.988.350
34%
de faixas de rolamento para circulação exclusiva de ônibus, e o CicloviaSP (2014) com a implantação de
(sobre trilhos)
Outros
Entretanto, programas como o Passa Rápido
% total das viagens
(motorizados)
Metrô/Trem
de mobilidade urbana feita em grande parte a pé e circulação viária, no qual se predomina os transportes
(sobre trilhos)
Outros
anos 1980, o que revelam a predominância do modelo em carro. Os números demonstram a supremacia da
(motorizados)
Metrô/Trem
Os números de viagens de cada modal são consistentes em sua hierarquia desde pelo menos os
faixas segregadas para circulação de bicicletas, além do Frente Segura (gestão Haddad) com o aumento da
(ativos)
segurança viária, são identificados como redistributivos do solo viário e foram iniciativas importantes para a
(SISTRAN) em 1974 previa a ampliação do transporte por ônibus através da implantação de corredores de ônibus elétricos. Nos Plano Diretores das décadas de 1980 e 1990 também trazem propostas priorizando o transporte público, criando assim os primeiros corredores de ônibus da cidade.
carro. Outro marco importante na gestão dos serviços de transporte foi a inovação do modelo analógico para digital. Na produção mecânica, os cobradores eram encarregados de vender passagens, girar a catraca,
A construção da cidade e seus espaços, são produtos de um delicado funcionamento cotidiano da gestão de políticas públicas, seja na área de transporte, trânsito, licenciamentos,
desconstrução de paradigmas do uso irracional do
orçamento,
habitação
ou
limpeza
urbana, além de tantos outros (MARQUES, 2018, p.4). No caso, os serviços de transporte de massa e modelo de trânsito, são os mais notados durante nossos percursos diários, influenciando sensivelmente no tempo útil e livre da população, pois, servem majoritariamente nos deslocamentos entre casa-trabalho. E, assim como a limpeza urbana, por exemplo, a frequência e a qualidade do serviço são fundamentais.
fornecer informações sobre os serviços e auxiliar o motorista quando necessário, essa mudança também foi transformadora no cotidiano da cidade (MARQUES, 2018, p.242).
27
28
Colagem: Acervo da autora
dinâmicas globais e a construção da metrópole em um país periférico As novas configurações e divisão social de trabalho, relações econômicas, políticas e religiosas na europa marcaram a transição do sistema feudal para o capitalismo comercial. As cidades em si, se revelaram como grandes obras e bases importantes para a própria acumulação e mobilidade do capital gerando consigo novas atividades, tipologias e imagem da cidade, assim um novo espaço entre o trabalho e o lugar de morar. No Brasil, a invasão euro cristã em território pindoramico, consistiu pela forte exploração dos recursos naturais e povos tradicionais, grande parte mortos pelas doenças trazidas pelos colonos e parte do motivo para a introdução da mão de obra escrava africana, que serviram às dinâmica dos fluxos de consumo estabelecidos, no início, pela intensa e duradoura extração da cana-de-açúcar. A exploração da terra e da mão de obra como mercadoria, tanto em África como em Ásia, marcaram um processo que engendraram e consolidaram o avanço da cidade mercantil moderna e configuração contemporânea dentro da dinâmica global no século XVI. Com as revoluções liberais que sucederam a partir do final do século XVIII, junto às inovações técnicas que viabilizaram novas formas de produção e escoamento da produção, como as máquinas a vapor e as ferrovias, favoreceram as trocas e negócios da burguesia ao mesmo tempo que geraram as lutas de classe e categorias importantes para os avanços constitucionais como, por exemplo, a Lei das Dez Horas com o limite de 10h de jornada de trabalho para mulheres e jovens, conquistado em 1860 na Inglaterra. Ou, quando no começo do século XIX, a condição do trabalhador consistia no uso do trabalho infantil e expectativa de vida ser em torno de 28 anos. Engels, em 1844, em “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra” escreve:
“abaixo da ponte montes de lixo, edifícios (vilas operárias,
antigos
estabelecimentos
industriais)
degradadas, velhas janelas e caixilhos de vidro ao pedaços” Para compreender essas novas dinâmicas urbanas é importante conceituar o momento chave do Iluminismo (século XVIII), que para Choay, trouxeram renovação iconográfica e conceitual das antiguidades e uma nova presença e percepção do tempo.
Essa nova leitura
da realidade trazida pelas ciências naturais, como a geologia nas pesquisas sobre o tempo do planeta ou como na paleontologia transformaram o modo de vida, no qual apenas no século XVI, por meio das descobertas das eras pré-históricas com os fósseis, foi possível desmistificar o próprio conceito da origem do mundo, onde antes a crença era a de que um deus tinha colocados as ossadas lá (CHOAY, Alegoria, p.82).
29
As cidades modernas se desenvolveram e se constituíram
particularmente
pelas
rupturas
e
transformações constantes. Para Ascher, as revoluções urbanas modernas e a própria sociedade moderna se distinguem das anteriores simplesmente pelo fato da mudança e as transformações serem seus princípios essenciais. Essas sociedades anteriores às revoluções urbanas se diferenciam na medida em que priorizavam as tradições e referência ao passado para a construção do seu futuro, mantendo ali uma dinâmica e técnicas restritas no espaço tempo. “Mundo pouco seguro” já que as cidades medievais se resguardavam por meios de muralhas e asseguravam sua dinâmica feudal através de corporações e interdependência com senhores feudais (ASCHER, 2010, p.20). O
desenvolvimento
da
sociedade
moderna,
portanto, inaugura e complexifica novas lógicas para o funcionamento das cidades através de novas técnicas e inovações como as de transporte, abastecimento e estocagem de bens, informações e de pessoas. Para Choay, essas mudanças de concepção da cidades tradicional para moderna, e assim, as próprias
Figura: “Povo ataca delegacia do Cambuci, conhecida como “Bastilha”, outubro de 1930. (São Paulo: Metrópole em Trânsito, SENAC-PMSP)
30
revoluções técnicas e sociais, trouxeram uma ruptura
necessária a reconstituição da força armada no país,
traumática do tempo levando a “tomada de consciência
como relata Caio Prado Júnior (1976, p.185): “Impõe-se
de uma mudança de era histórica”. A contradição
assim o problema de como organizar no Brasil uma
na época, para William Morris (1834-1896, parte do
força armada eficiente, contando para isto apenas
movimento artes e ofícios) era a racionalização e
com uma população dispersa e rarefeita, composta
separação do orgânico e mecânico, onde a organização
de quase 50% de escravos e outra grande parcela de
do espaço pelas máquinas se misturavam com o mundo
elementos heterogêneos e mal assimilados. Nunca
interior e espiritual. Já Ruskin (1819-1900) observa outro
foi possível resolver devidamente este problema, e
fenômeno, o da configuração dos espaços públicos e
o soberano portugues teve de contar até o fim de sua
domésticos onde percebia a precariedade das habitações
permanência no brasil com a boa vontade de seu aliado
e as transformações nas técnicas e tecnologias dos
inglês; e para sua ação no prata foi obrigado a recorrer
edifícios públicos através do uso de novos materiais
a tropas recrutadas em portugal depois da expulsão
como o ferro e vidro em que ele interpreta como uma
dos franceses. Mas a existência do problema serviu de
“superfície em que o tempo não está autorizado a
estímulo para reformas da política de povoamento do
marcar” (CHOAY, Alegoria, p.147).
país”. Momento marcado pelo início da forte imigração, concretizado pelas políticas nacional estimulando a
Como país colonizado e periférico1, o Brasil se
vindo de trabalhadores em grande parte italianos e
manteve pela produção voltada para exportação de
alemães que posteriormente se alojaram em cortiços,
insumos primários. Com isso, se favoreceu mais uma
nos centros das cidades.
vez a mão de obra escrava, institucionalizada pelo tráfico e sequestro da população em África gerando, assim,
A mão de obra negra africana escravizada se
o processo de racialização do povos, legitimado pela
destacou na produção de cana de açúcar na região
reprodução econômica no país. Entretanto, antevendo a
nordeste do país durante pelo menos dois séculos.
necessidade de substituir a mão de obra escrava por
Apenas em 1727, por Belém do Pará, o café chega em
trabalhos assalariados, demanda gerada tanto pelas
território brasileiro e se estabelece com mais vigor no
resistências e revoltas negras bem sucedida no Haiti
interior do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e
em 1791 libertando-se dos domínios franceses, como
Paraná e que se torna por sua vez a principal base da
pelo aumento da oferta de mercadorias e diminuição
economia. E em 1850 se torna o maior produtor mundial,
do mercado consumidor. Assim, em 1808, a família
com 40% da produção mantendo-se até anos de 1930,
Real portuguesa se desloca para o Brasil abrindo os
época de maior expansão colonial, quando entre 1840 e
portos às nações amigas, iniciando o povoamento e
1900 as grandes potências passam de 60% para 91% do
metropolização de algumas cidades do Brasil.
controle terrestre do mundo2.
Porém, antes da chegada da côrte portuguesa foi
1 “A dicotomia entre os produtos manufaturados do centro e os produtos primários da periferia demarcou a primeira Divisão Internacional do Trabalho primária (século XIX e início do XX). Enquanto o setor agrícola era o grande empregador nos países periféricos, o setor urbano, especialmente a indústria, destacava-se no emprego da maior parte da mão-de obra nas economias centrais” (POCHMANN, 1999)
2 “Da mesma forma, países como a Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra, que juntos representavam apenas 13% da população mundial, foram responsáveis por 74% da produção total de manufatura do mundo durante o começo do século XX (Chirot, 1977). Em relação o emprego industrial, que geralmente revela relações de trabalho e de remuneração menos precárias, verificou-se que ele se concentrou em poucos países, as passo que 75% do total da ocupação no setor primário estavam associadas às economias periféricas.” (POCHMANN, 1999, p.7)
31 Em 1884, na Alemanha, a Conferência de Berlim
Paulo e sua elite paulista continuavam sem poder
marca o início da colaboração europeia na partição
político. Washington Luiz, representante da oligarquia
e divisão territorial da África, ao mesmo tempo que
paulista, foi derrubado pela junção de forças de Minas
surgiam as grandes empresas, por meio da fusão de
Gerais e do Rio Grande do Sul, que alçou Getúlio Vargas
cartéis e a união dos capitais industrial e bancário
à presidência. Na busca pelo poder político de São
(financeiro), viabilizando, para poucos empresários a
Paulo, Washington Luiz vê a imagem dos Bandeirantes,
possibilidade de produção e difusão de uma nova onda
uma estratégia de unificar a identidade do território ao
de inovação tecnológica. Enquanto isso, se consolida
mesmo tempo que clamava palavras de ódio à população
o modelo liberal democrático no Brasil pela República
negra e menos favorecida:
Velha, uma República federativa, na qual os Estados tinham razoável autonomia. Para Villaça (1999, p.193)
“É aí que, protegida pelas depressões do terreno,
“a exigências da acumulação e circulação do capital
pelas voltas e banquetes do Tamanduateí, pelas
comercial e financeiro, porque até o final do século
arcadas das pontes, pela vegetação das moitas, pela
XIX São Paulo ainda não tinha autonomia financeira,
ausência de iluminação se reúne e dorme e se encachoa,
era custeado pelas províncias e metade era gasto com
à noite, a vasa da cidade, em uma promiscuidade
planos de embelezamento para a cidade”, marcando o início dos projetos sanitaristas e de embelezamento, que visavam, além do alargamentos e ajardinamento das vias, a erradicação das ocupações de baixa renda e “áreas insalubres” como os cortiços. Mas que logo vê seu declínio pela falta de recursos para execução. Mesmo considerando-se a metrópole do café, São
nojosa, composta de negros vagabundos, de negras edemaciadas pela embriaguez habitual, de uma mestiçagem viciosa, de restos inomináveis e vencidos de todas as nacionalidades, em todas as idades, todos perigosos. É aí que se cometem atentados que a decência manda calar; é para aí que se atraem jovens estouvados e velhos concupiscentes para matar e roubar, como nos dão notícia os canais judiciários,
Figura : Avenida Adolfo Pinheiro, 1984. “Comício pelas Diretas Já”. Acervo: Biblioteca Pref. Prestes Maias
com grave dano à moral e para a segurança individual, não obstante a solicitude e a vigilância de nossa
que com as dificuldade em defender abertamente seus
polícia. Era aí que, quando a polícia fazia o expurgo
interesses, desenvolvem mecanismos de dominação e
da cidade, encontrava a mais farta colheita”. (ex-
uma facção urbana para a classe financeira. (VILLAÇA,
Secretário da Justiça e da Segurança Pública, futuro
1999, p. 202) Após a segunda guerra mundial, a cidade
presidente da República, Washington Luiz, à frente da
de São Paulo inicia o seu processo de modernização
Prefeitura Municipal durante a gestão de 1914 a 1919,
acelerada e intensa, marcada pela urbanização de
sobre negras, negros, indígenas e outras pessoas
“baixos salários” até pelo menos a década de 70,
pobres que ocupavam a Várzea do Carmo.)
gerando a chamada “modernização excludente”, ao
Com declínio da economia cafeeira, São Paulo busca um nova fase para sua modernização e industrialização. Para Villaça (1999) época no qual o crescimento da riqueza do país, entre as décadas de 30 e 60, através da centralização e concentração do capital, passou
32
em respostas às reivindicações da classe operária,
da “cidade bela” e do “consumo” para a cidade da produção e do interesses imobiliários mas que teve sua classe operária condicionante para os limites de poder da classe dominante a partir dos anos 1930, demonstrando a crescente conscientização da classe operária populares urbanas e a fragilidade da classe dominante. Com Revolução de 1932, Getúlio Vargas chega ao poder. Ao promulgar a nova constituição de 1934, introduz uma série de novas leis trabalhistas e previdenciárias e avanços como
voto secreto, o
ensino primário obrigatório e o voto feminino. Além das iniciativas que regulamentaram as relações de trabalho no país como Lei de Férias; o novo Código de Menores; a regulamentação do trabalho feminino, e o estabelecimento de convenções coletivas de trabalho, preocupando setores do empresariado com a crescente
mesmo tempo que movimentava os campos artísticos e intelectual e criação de instituições como Masp, MAM, Teatro Brasileiro de Comédia, entre outros. Apenas na década de 60, a cidade incorpora em seus planos aspectos além dos planos físico-territorial, mas econômico e social que, entretanto, ficam só no discurso, devido às estruturas administrativas cada vez mais setorizada e burocratizadas, levando-se assim a um “apogeu tecnocrata”. Todavia, houveram avanços, que, de acordo com Leme (1999), os planos (na época) mostrava um amplo diagnóstico econômico, social e territorial da população, baseado em comunidades de diferentes tamanhos e hierarquias. Para Villaça (1999), “o planejamento urbano deixou de ser assunto de engenheiro e arquiteto mas passou a sê-lo de economistas, sociólogos, geógrafos, advogados, aí surgiram a ideia do ‘urbanismo’ e assim dos ‘planos diretores’”. Com a terceira revolução industrial3, início do
intervenção do Estado nas relações de trabalho. Em São Paulo, o Plano de Avenidas de 1930, terá grande repercussão para a construção do sistema viário da cidade com conjunto de vias radiais e para perimetrais, gerando uma cidade dispersa. Época que em substituição da aristocracia rural, a burguesia urbano-industrial se tornava cada vez mais violenta
3 “Durante os anos 50 e 60, a expansão das antigas empresas multinacionais para várias áreas geográficas ajudou a diversificar a especialização das firmas, diante da maior intensificação da competição inter-empresa, a partir da ajuda norte-americana na reconstrução européia. A ampliação da competição em torno de novos mercados e a procura de menores custos de produção contribuíram para o estímulo à re-localização de determinados processos produtivos para os países semi-periféricos, especialmente.” (POCHMANN, 1999, p.12)
33 capitalismo financeiro pela DIT onde os primeiros
“Trabalhadores do setor secundário e até mesmo
países desenvolvidos, através da globalização e
da indústria fordista brasileira foram excluídos do
aperfeiçoamento
imperialistas,
mercado imobiliário privado e, freqüentemente,
continuam explorando os países agora já industrializados
buscaram a favela como forma de moradia.
comprando seus produtos por meio de juros e royalties
Trata-se
(“daquilo que pertence ao Rei”) e gerando uma tecnologia
industrialização com baixos salários. A moradia tem
superior com um valor produtivo e especulativo e
sido predominantemente, nas metrópoles, obtida por
altamente tecnológico. Com a Crise do Petróleo 1973,
meio de expedientes de subsistência. Trata-se de
intensificaram-se os discursos a favor do transporte
uma mercadoria que não é produzida via processo de
público, principalmente os sobre trilhos, dado o possível
trabalho marcado por relações capitalistas (Ferro, 1969
dos
mecanismos
esgotamento da matéria prima dos combustíveis fósseis usadas ampla e descontroladamente pelo transporte individual sobre rodas. No espaço urbano de São Paulo, essa época, as chamadas “décadas perdidas” entre anos 70 e 90, se manifestaram através da fragmentação e pulverização do setor produtivo levando ao país, e principalmente São Paulo, o processo de desindustrialização e reestruturação urbana por meio do rentismo e especulação do setor imobiliário, aumentando a taxa de desemprego e agravando o processo de periferização em toda a cidade. Como afirma Ermínia Maricato:
do
“produtivo
excluído”,
resultado
da
e Maricato, 1979). A produção do ambiente construído e, em especial o ambiente urbano, escancara a simbiose entre modernização e desenvolvimento do atraso.” (MARICATO, 2003, p.153)
34
Colagem: Acervo da autora
Figura: Aldeia Tibiriça, São Paulo, Vallandro Keating (SÃO PAULO: Metrópole em Trânsito, p. 23)
de várzea à cidade Através da lógica latifundiária, com títulos artificiais
quando era identificada como o agente modernizador da
de propriedade da terra, o espaço urbano de São Paulo
cidade. A introdução da primeira ferrovia, como vimos,
se estabelece, então, por meio de propriedades privadas
surgiu do escoamento da produção de café e com isso,
com as famosas “grilagens”. As formas de apropriação
as políticas migratórias, trazendo milhões de imigrantes
e valorização mercantil desses elementos, tanto
para região, conformando a dominação do espaço.
naturais como antrópica, ocorrem de modo cumulativo
Através da lógica latifundiária de espoliação direta,
e se passam como se fossem processos espontâneos
rentismo e a própria exploração da natureza.
durante seu desenvolvimento (SEABRA, 2015, p.38). É importante mencionar que o tema da higiene A difusão da cafeicultura em São Paulo condicionou
nos debates urbanísticos no final do século XIX foi
e favoreceu formas de negócios e acordos pecuniários
predominante. Devido ao surgimento das grandes
com empresas estrangeiras, como foi o caso da Tramway
cidades que se mantiveram altamentes precárias nas
Light and Power Company. Fundada em 1899 no Brasil,
condições de moradia e saneamento, com doenças e
mediante capital canadense, a companhia foi autorizada
epidemias presentes sistematicamente. Em São Paulo
por decreto do presidente Campos Sales a atuar no
esse fenômeno se atrelou as precariedade na relação
Brasil operando sob o regime de concessão de serviços
de trabalho assalariado que embora considerado no
públicos obtidas junto às câmaras municipais. Parte de
Código Municipal, o tema só foi tratado completamente
um conglomerado financeiro e industrial beneficiava
pelo governo estadual ao instituir o Código Sanitário de
não apenas o país de origem mas também países como
1894 e formar a Diretoria de Higiene, com poderes de
Estados Unidos e Inglaterra, além de outros mercados
polícia sanitária e inspeção intervindo mais diretamente
financeiros da época.
nas melhorias sobre o tema (ROLNIK, 2003).
Tratava-se, portanto, da apropriação de um bem
Com a lei nº 2249 instituída em 1927, dá o direito a
natural, gerando assim uma nova sociabilidade que, para
empresa Light de captar águas do Tietê. Em 1929, com
a Light, além de ser uma garantia de mercado (acúmulo
o grande volume de chuva acima do previsto, o rio,
do capital) significava também a dominação que lhe
até então, Jurubatuba, transborda sobre toda várzea.
dava o Império Britânico nas relações com o Estado
As “linha da máxima enchente” demarcou o terreno
Brasileiro e o envolvimento com as oligarquias locais.
de domínio da companhia Light e assim a fixação dos
Os bairros, dentro da Bacia do Alto Tiête, serviram
marcos territoriais, iniciando a produção de energia
praticamente como canteiro de obras da Companhia,
pelas hidrelétricas nas décadas seguintes. Além disso,
35
Figura : “Cochos” do Rio Pinheiros, década de 1920. Disponível em: <https://www.ecp.org.br/sao-paulo-cidade-onde-o-ecp-arquitetou-sua-historia/> Figura: Campos de Piratininga, Vallandro Keating (SÃO PAULO: Metrópole em Trânsito, p. 23)
a Light instaurou processos de compras e aquisições
recém-construídas: Anchieta, Anhangüera e Dutra.
de outras empresas menores que já produziam
A construção dessas estradas acabou induzindo a
eletricidade e também de outros serviços urbanos. Por
expansão urbana ao longo delas, unindo o município de
décadas, o grupo Light operou no Brasil e consolidou
São Paulo aos municípios vizinhos, consolidando assim
seu monopólio.
o processo de metropolização da cidade juntamente com o processo de migração, expressivamente da
Coincidindo com o decreto estadual (nº 4487/1928),
população da região norte e nordeste do país marcado
regularizando a situação dos índios nascidos no
pela “modernização excludente” e de baixos salários
território nacional, inicia na década 30, o projeto para
(MARICATO, 2003).
retificação do rio Pinheiros, finalizado em apenas 1950 quando seu nome foi criado (até então era chamado de Jurubatuba ou Jeribatiba).
“Cada vez mais os “planos” passam a ser discurso apenas, pois, a classe dominante não tem propostas para resolver os problemas que agravam. Não há
36
Assim, foi executado os projetos técnicos e montado
como anunciar a obras de interesse popular, pois
o seu Departamento de Terras do Pinheiros a partir do
estas não serão feitas, e não há como anunciar
levantamento de todas as propriedades da várzea,
as obras que serão feitas, porque estas não são de
desde a Bacia do Tietê até Santo Amaro. Sua inversão
interesse popular” (VILLAÇA, 1999, p.204)
em 1940 possibilitou a produção da energia elétrica pela represa e Usina Hidrelétrica de Billings (720m de
Em 1989 a constituição paulista, em função da poluição
queda), através da Usina Elevatória de Traição, obras
do rio Pinheiros e Tietê, proibiram o bombeamento para
que condicionaram o uso da água para uso energético
Billings para poder gerar a da Usina Hidrelétrica de
na mão de uma única empresa com preço de monopólio.
Henry Borden. Hoje só se reverte o curso do rio quando
Enquanto em 1955, se fazem a interligação da rede de
temos grandes situações de riscos de enchente. Hoje
Esgoto, jogando o esgoto da cidade sem tratamento no
o rio Pinheiros funciona como um canal totalmente
rio.
operado, podendo-se definir se vai abrir e quanto vai abrir as comportas, para onde ele vai fluir, nível da água Previsto por Prestes Maia e reforçado por Robert
e em que velocidade.
Moses, coordenador do Departamento de Obras, presidente da Comissão de Remoção de Cortiços e do
O Comitê da Bacia do Alto Tietê, criado em 1991 (Lei
Conselho de Parques de Nova Iorque, a partir de 1950 o
nº7.663/1991) deliberou o marco da gestão dos recursos
modelo rodoviarista se consolidava. Os tamponamentos
hídricos da região, entre o estado e município, além
de leitos de rios que geraram conhecidamente as
da sociedade civil (PlanMob 2015, p170). Em 1994, cria-
avenidas de fundo de vale, que são até hoje grande
se o “Projeto Tietê” para salvar os rios da poluição e
parte dos problemas de enchentes na cidade. Assim,
enchentes. “Para controlar as enchentes, entrou em
lança-se o Programa de Melhoramentos Públicos para
execução o Plano da Macrodrenagem (com horizonte
a cidade de São Paulo (1950), onde Moses propunha
para 2020), e para combater a poluição das águas,
um sistema de vias expressas radiais, ligando o centro
políticas específicas destinadas a controlar a poluição
aos subúrbios e um anel viário acompanhando os vales
industrial tiveram sucesso, mas os rios continuam
do Tietê e Pinheiros, dando acesso às auto-estradas
poluídos porque a maior carga poluente (70%) é de
origem doméstica. Portanto está relacionada ao modo e
consumir e de viver” (SEABRA, 2015, p48). Em
2014, 40% do esgoto foi para os rios Pinheiros e Tiête
37
(GOLDENSTEIN, 2015*). Entretanto, como maior solvente universal, as águas do rio tem o poder de dissolver e arrastar toda composição orgânica que ali estiver, mas no caso dos rios urbanos se não tiver nenhum sistema coletor eficiente e boa gestão dos resíduos sólidos, grande parte chegam no rio. Portanto, como afirma Renato Tagnin: “Nós precisamos de uma ação que mude paradigmas. Não vai dar pra fazer um reforminha “meia boca” e achar que vai conseguir limpar qualquer rio porque o rio é o resultado do percurso, e o percurso é a cidade” (TAGNIN, Renato. 2015*)
* “Rio Pinheiros – Sua História e Perspectivas”, Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, 2015. Disponível em: < https://www. youtube.com/watch?v=0ZDfLI2BuW4&feature=emb_title>. Acesso em: 20/11/2020
Figura : Linha do tempo Rio Pinheiros, produzida pela autora.
bacias hidrográficas são paulo legenda
38
0
1km
2km
39
40
01
02
03
04
05
06
07
08
eixo de intervenção Figura: Demonstração de Villaça (2012) da Região de Grande Concentração das Camadas de Mais Alta Renda. Apropriado pela autora Mapa 01 (Áreas com nenhum ou baixa privação social); Mapa 02 (Distritos com menor população negra); Mapa 03 (Melhores locais para jovens);
Mapa 04 (Distritos com temperaturas mais
amenas); Mapa 05 (Distritos com melhores IDH); Mapa 06 (Distritos com maior renda familiar); Mapa 07 (Distritos nos quais estão localizadas as Zonas Z-1 – Zona Exclusivamente Residenciais Unifamiliares); Mapa 08 (Distritos com menos número de óbitos por homicídio)
Figura: Sistema Y do Plano de Avenidas (Zmitrowicz;Borghetti, 2009) apropriado pela autora
segregação urbana e o quadrante sudoeste eixo de intervenção A partir de 1954 a avenida Santo Amaro é asfaltada, seu fluxo aumentava na medida que a cidade se industrializava-urbanizava. Sua ocupação foi facilitada de
propagandas
ideológicas
migratórias
estrangeiras instaladas na cidade. A partir dos anos 70, com novas crises e colapsos financeiros globais, o setor produtivo de São Paulo se pulveriza, levando a uma nova reestruturação urbana e periferização da cidade, alimentado por meio de relações precárias de trabalho, aumento do setor terciário e especulação imobiliária (MARICATO, 2003), levando populações – em grande parte migrantes do norte e nordeste do país – a procurarem terrenos mais factível com o seu bolso. A não-consolidação dos transportes coletivos no contexto da demanda populacional, como a cidade de São Paulo, intensificou e proporcionou cada vez mais uma forma de cidade dispersa e desigual, marcada pela exclusão social e dominação ideológica. Assim, quanto mais desigual, mais eficiente a cidade é para elites econômicas, especialmente no quadrante sudoeste do município que, de acordo com Villaça (2011), usam de seu poder e instrumental político para decidirem os locais de suas residências, seus empregos (terciários) e de seu comércio e serviços gerando uma “tripla segregação dos mais ricos”, afastando as camadas mais populares desse circuito; tornando espaços vazios e subutilizados ao mesmo tempo que concentram um “duplo uso”: o local de emprego e atendimento ao restante da população. Com isso, a cidade fragmentada e desigual se manifesta pela disparidade entre grandes enclaves de riqueza de uma minoria e a ausência total de infraestrutura básica e equipamentos para a grande parte da população. Sobre as abordagens recentes de segregação, Villaça discorre sobre os fenômenos bem conhecidos na cidade de São Paulo: os condomínios fechados. Esse
Av. Santo Amaro
clamando por mão de obra para as indústrias
Av. Washignton Luís
através
fenômeno pode ser descrito como “enclaves urbanos ou de riqueza” mas que por sua vez está no campo dos fenômenos que se distanciam da real estrutura de poder e dominação. Eles revelam apenas uma cultura da elite e do mercado imobiliário sobre o uso do solo que, no entanto, não traduzem fielmente as articulações políticas e econômicas em sua totalidade levando-nos apenas para um julgamento moral, assim como a pobreza, é apenas uma das manifestações da desigualdade. Para Villaça (2011) o Quadrante Sudodeste de São Paulo se caracteriza pela “Região de Grande Concentração das Camadas de Mais Alta Renda”, mas também as de baixa e maior vulnerabilidade (Mapa da Desigualdade, 2019). O traço marcante do desenvolvimento do sistema viário deste quadrante é o estágio superior caracterizado pela grande oferta de vias perimetrais (fig,Sistema Y) todas implantadas ou retificada entre as décadas de 1960 e 1970, em contraste com outras regiões da cidade.
41
mapa da desigualdade Fonte: REDE NOSSA SÃO PAULO, 2019. Produzido pela autora.
42
43
eixo moema-capão histórico: transporte Avenida Santo Amaro Uma das principais e mais antigas vias radiais
de ônibus e implantação dos ônibus articulados. O
que ligam centro à região sul de São Paulo. A rua
equipamento beneficiou na época cerca de 70 mil
de Santo Amaro, que passou de Estrada a Avenida,
pessoas que moravam ou transitavam ali, reduzindo o
cruzava grandes córregos tortuosos e que com o
tempo de viagem em até 50% dependendo do horário. A
desenvolvimento da indústria automobilística e Planos
previsão era de que o terminal recebesse 73 ônibus por
de Avenida dos anos 1950 tiveram seus leitos retificados
hora e 48 linhas alimentadoras (bairro-terminal) e 25
e tamponados, conformando grandes rupturas e
linhas troncais (terminal-centro)1. Hoje possui 6 linhas
barreiras urbanas. Com o processo de verticalização
troncais e 28 linhas alimentadoras.
e a priorização do mercado imobiliário no eixo, gerouse a ocupação de uma população mais abastada, onde vemos sua paisagem cada vez
44
mais “higienizada” e
“Dos dez terminais mais movimentados da cidade, sete estão localizados na Zona Sul.” Em 2014 o terminal Capelinha recebia em média 180 mil pessoas por dia
homogeneizada.
e apenas a linha ligando o Terminal Capelinha a Vila Primeiro local a ter uma estrada ferro, onde se
Mariana, somava-se 40 mil diário; em média, 146
passava locomotivas pelo espigão, trilhos de bondes
pessoas por viagem. As 15 empresas de transporte e 9
ligando o centro a Santo Amaro que se fez na atual
cooperativas em São Paulo, na época, movimentavam
Avenida José Diniz - Ibirapuera. A estrutura viária de
cerca 15 milhões de reais diariamente, sendo 6 milhões
Santo Amaro, desde o início, teve forte presença dos
de subsídio da Prefeitura para a manutenção do valor
veículos privados, portanto, tem sua história marcada
da passagem2.
pelo conflito de espaço entre os carros e transportes coletivos (trólebus e ônibus). Apenas a partir da década de 1980 implantaram o corredor de ônibus, tornando o embarque e fluxo de ônibus mais rápidos e seguros.
Avenida João Dias A construção da ponte João Dias se deu entre as décadas de 70 e 80, pela empresa Light (a ponte Interlagos/Jurubatuba
e
a
Ponte
Socorro
foram
construídas pela Auto-Estradas), serviu para o suportar o grande fluxo que se apresentava na época. Em 1996, a gestão Maluf entrega o projeto do terminal João Dias previsto pelo projeto dos corredores
1 “Prefeito inaugura o terminal João Dias“, Folha de São Paulo, 1996. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/9/24/ cotidiano/29.html>. Acesso em: 20/11/2020 2 “Ranking dos 10 terminais mais movimentados”, G1, 2014 < http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/08/conheca-o-rankingdos-10-terminais-de-onibus-mais-movimentados-de-sp.html>. Acesso em: 20/11/2020
legenda
evolução da mancha urbana Dados: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Produzido pela autora
45
Figura: Mapa expansão urbana (ocupação e transporte - eixo de interveção). Produzido pela autora.
Figura: Mapa município de Santo Amaro, 1930. Apropriado pela autora
eixo de intevenção Figura: “Reconstituição do caminho do carro para Santo Amaro” (destaque para “caminho aberto pouco antes de 1640”). Apropriada pela autora
LINHA DO TEMPO avenida santo
amaro
1746: denominado “Caminho de Santo amaro”
1881: denominado “Rua de Santo Amaro”
1916: denominado “Estrada Nova de Santo Amaro” (com novo trecho “Rua Brigadeiro Luiz Antonio”)
46 acontecimentos correlacionados
1867: Estrada de Ferro SantosJundiaí
1891: Avenida Paulista
1906: Cria-se nova linha interubana de bonde para Santo Amaro pela Cia Light (Av. Ibirapuera)
1954 ------------------>
1920: Primeiros ônibus operam na avenida
1929: Avenida Washington Luis
1988
córrego morro do s retificado
futuro córrego morro do s
av. joão dias
estrada de itapecerica
Figura: Mapa Vila Andrade, 1954. Fonte: Vasp Cruzeiro. Apropriado pela autora
av. joão dias
estrada de itapecerica
Figura: Mapa Vila Andrade, 1988. Fonte: Geosampa. Apropriado pela autora
Figura: “Trânsito ruim marca Santo Amaro” (imagem avenida Santo Amaro em 1978), Jornal O Estado de São Paulo, 31/08/1994. Acervo: Biblioteca Pref. Prestes Maias
Figura: Avenida Santo Amaro, década de 1980. Foto: Michael Roschmann/Dirk Budach
1952: Asfaltamento e alteração do nome para “Avenida Santo Amaro”
1966: Desativação dos bondes para Santo Amaro
1985: Implantação do corredor de ônibus pro trólebus Sistran
1970: Avenida dos Bandeirantes (Córrego da Traição)
1972: Avenida 1975: Ponte João Jornalista Roberto Dias Marinho (Córrego Água Espraiada)
1976: Avenida Juscelino Kubitschek (Córrego do Sapateiro)
2003: Desativação dos trólebus (Suplicy)
1996: Terminal de ônibus João Dias
2015: Projeto (Parcial) de Requalificação Urbana da Avenida Santo Amaro
2010: Ciclovia Marginal Pinheiros
Figura: Termina de ônibus João Dias em sua inauguração, 23 de setembro de 1996. CapãoAtento
Figura : Roteiro da linha de trólebus Santo Amaro-centro. Revista Veja, década de 80. Acervo: Biblioteca Pref. Prestes Maias
47
48
Eixo | Macroárea de intervenção 0
500m
1km
2km
(re)construindo o percurso Como vimos, o percurso conduz a bairros como
transporte individual e paisagem marcada por seu canal
Moema, Brooklin, Santo Amaro, Vila Andrade até sua
aberto e habitações precárias em áreas de alto risco
conclusão, em Capão Redondo. O trajeto se faz por via
geológico. Já ao atravessarmos o canal do rio Pinheiros
subterrânea e elevada através da linha de metrô e por
pela ponte João Dias, a paisagem construída durante
solo através das três vias arteriais encadeadas pela a
toda a sua extensão (avenida João Dias e Santo Amaro)
avenida Santo Amaro, avenida João Dias, estrada de
se faz pelos cruzamentos com as principais vias radiais
Itapecerica e sua adjacente, avenida Carlos Caldeira
e arteriais da região, conhecida como as avenidas de
Filho. A última, onde percorre o canal da bacia do Morro
fundo de vale, onde córregos correm vivos sob suas
do “S”, subafluente do rio Pinheiros que hoje é ocupada
estruturas ou, como em um dos casos, aberta mas ainda
por numerosas faixas de rolamento para circulação de
negada para sua utilização.
Eixo | Sobrevoou Sem escala
49
Eixo | Área de intervenção Sem escala Figura: Brooklyn Paulista, década de 1920. Acervo: Site Grupo Votorantin.
50
histórico: ocupação Brooklin Paulista A partir do século XIX, a região de Moema se
empresa cerca 13% das receitas, segunda fonte de
estabelecia como uma propriedade rural privada,
receita depois de sua fábrica no setor têxtil. Com o
pertencente a Joaquim Pedro Celestino. Em 1880, a
capital proveniente das vendas, foram feitas séries de
área possuía um grande número de chácaras ocupadas
investimos, com destaque para as estradas de ferro
pelos imigrantes ingleses e alemães. Seu loteamento se
elétrica que integraram-se ao sistema estadual de
deu por volta de 1913, por Fernando Arens Jr e em 1920,
transporte ferroviário. Os investimentos objetivavam o
Moema contava com cerca de 4 mil habitantes.
aumento do escoamento da produção de seus produtos e das matérias primas necessárias com o apoio, do
Em 1918 no Brooklin Paulista, hoje, parte do distrito
então presidente na época, Washington Luís.
de Itaim Bibi e Campo Belo, se instalou a Sociedade
Fundadas pelos imigrantes italianos Luigi Caloi e
Anonyma da Fábrica Votorantim que ao incluir uma área
Agenor Poletti em 1898, outro grupo a ocupar a região do
administrativas desses terrenos, chamada “Secção
Brooklin foi a fábrica de bicicleta da Caloi. Por volta de
de Terrenos”, passou a gerenciar e organizar lotes
1940, abrem sua fábrica na, atualmente, Avenida Santo
imobiliário nesta região.
Amaro e que antigos moradores da região hoje em dia indicaram ser na esquina com a Rua Pássaros e Flores,
A venda de terrenos no Brooklin representou à
atualmente ocupada por uma agência bancária.
Figura: Primeira Fábrica da Caloi, bairro do Brooklin, anos 1940.
Figura: Fábrica Caloi, Linha de Montagem e Produção, anos 1940.
51
“Com o advento da 2ª Guerra mundial, as industrias do mundo inteiro sofrem para permanecerem ativas, e com a Caloi as coisas não seriam diferentes. Por esta razão Guido encontra dificuldades em adquirir peças de reposição importadas, daí resolve produzir estas peças
mercado das bicicletas ainda cresce, pois, o carro ainda era inacessível para a maioria da massa trabalhadora. Com o Golpe de 64 e as reformas monetárias que se seguiram, fizeram a produção nacional de bicicletas, entre outras, ruírem devido a crise gerada pela
aqui mesmo, num barracão no bairro do Brooklin, na
dependência e dívida pela moeda americana em solo
grande São Paulo.”
nacional, impossibilitando a importação das máquinas
1
Outra grande fábrica do ramo a se instalar no
pelos fabricantes e o acesso aos empréstimos
bairro do Brooklin, foi pelo grupo Monark, na mesma
governamentais. Assim, as duas “grandes fábricas”
época. Como únicas fábricas nacionais, concorrem com
foram, aos poucos, sendo pulverizadas às “pequenas
diversas outras marcas importadas da provenientes da
notáveis” e “sobreviventes” ao imperialismo norte
Europa.2
americano, por meio de aquisições e fechamentos das marcas.
Mesmo com a entrada do setor automobilístico, fomentado por Juscelino Kubitschek no anos 1950, o
Construído por volta de 1963, o Cine Vila Rica é um dos poucos edifícios dessa época que não foi demolido, junto com alguns outros conjuntos comerciais e residenciais
1 “A História da Caloi”, Mundo Caloi, s.d. Diponível em: < https:// omundocaloi.wixsite.com/mundocaloi/historia-da-caloi>. Acesso em 20/11/2020 2 “A História da Bicicleta no Brasil”, 2020. Disponível em: <https://revistabicicleta.com/historias-da-bicicleta/a-historia-dabicicleta-no-brasil-2/>. Acesso em: 20/11/2020
com sua grande maioria de uso misto (fachada ativa) que possivelmente datam da mesma época, como o Condomínio Vila Rica, ao lado do cinema, construído em 1974.
Eixo | Área de intervenção Sem escala
52
Figura: Antigo Cine Guarujá, Avenida Santo Amaro, 1980.
Figura: Antigo Cine Radar, Avenida Santo Amaro, 1950. Figura: Antigo Cine Vila Rica, Avenida Santo Amaro, dias atuais.
Figura: Avenida Santo Amaro, década de 60.
os cinemas de rua da avenida Santo Amaro Construído por volta de 1963, o Cine Vila Rica (desativado/subutilizado) é um dos poucos edifícios dessa época que não foram ou demolido ou utilizado. Outros cinemas localizados também na avenida foram
53
o Radar (1950, demolido), Cine Del Rey (1970, demolido), Graúna (1960, desativado/em uso) e Guarujá (s.d, desativado/em uso). Além do Auto Cine Snob’s (1960, demolido), um dos primeiros auto cines de São Paulo, entre diversos outros cinemas de rua. A presença dos dos antigos cinemas nos revela uma intensa dinâmica de pedestres e transeuntes para as atividades culturais já inexistentes hoje em dia na avenida Santo Amaro. Com exceção do auto cine, todos os outros era ativados para os pedestres – lembrando que até 1968 o bonde, da atual avenida Ibirapuera ligando o bairro de Santo Amaro a Vila Mariana, ainda estava em operação. Além dos cinemas populares, outros conjuntos comerciais e residenciais, em sua maioria de uso misto (fachada ativa), possivelmente datam da mesma época. Assim como o Condomínio Vila Rica, construído em 1974, ao lado do antigo Cine Vila Rica, são patrimônios, ainda vivos e em uso, da região mas que visivelmente sofrem pelo desmantelo dos interesses privados imobiliários em jogo.
Figura: Cartaz Cine Del Rey, década de 70.
Eixo | Área de intervenção Sem escala Figura: Represa do Guarapiranga , 1936. SãoPauloinFoco
54
Santo Amaro/M’Boi Mirim Por volta de 1556, construída à beira do rio Jeribatiba (atual rio Jurubatuba), alimentado pelas águas da serra do mar na direção do interior chegando a sua foz no Rio Tietê, a região era conhecida na época como Ibirapuera (ou Virapuera). Pertence ao grupo indígena Guaianases de Caá-ubi, Santo Amaro surge como um dos sítios estratégicos para ocupação da colônia portuguesa no planalto paulista. Repartido a Capitania em três locais delimitados pelo Padre Provincial dos Jesuíta, Manoel da Nóbrega determina a fundação da Casa de São Vicente (São Vicente), Casa de São Paulo da Companhia de Jesus (São Paulo) e Jeribatiba (Santo Amaro), locais onde realizavam a prática de catequização dos grupos tradicionais que ali viviam. Com o número de índios catequizados e colonos instalados, Padre José Anchieta determina o local como um povoado e decide então a construção de uma capela. João Paes e Suzana Rodrigues, que moravam numa região próxima, doaram uma imagem que tinha de Santo Amaro (preservada até
hoje) para capela de taipa de pilão em 1560. Em 1607 nas margens do rio Jurubatuba foi instalado o Engenho de Nossa Senhora de Assunção de Ibirapuera (primeira extração de minérios de ferro da América do Sul) localizada a oeste de Santo Amaro, próximo ao assentamento de um grupo tradicional de M’Boi Mirim, hoje porção delimitada pelo grande distrito que preservaram seu nome. A extração durou apenas 20 anos, depois ficou esquecida por mais 200, servindo apenas como via de passagem com destino para Itapecerica da Serra e Embu. No século XVII, o Rio Jeribatiba e Jurubatuba (atual Pinheiros) era conhecida com a “estrada líquida” dos Bandeirantes, que são lembrados como os “civilizadores” e “urbanizadores” de São Paulo. Com ordens do imperador Pedro I que, preocupado com o povoamento e com as constantes invasões dos castelhanos do sul do país, governantes da Província de São Paulo possibilitaram, em 1827, o assentamento de 129
Figura: Estação de Tratamento de Água Theodoro Augusto Ramos, década de 1930-40. Acervo Sabesp
colonos alemães na região. Essa ocupação se deu em
são vendidos pelos produtores aos comerciantes, por
parte na região de Santo Amaro e em parte na região
atacado, com grave prejuízo ao varejo franco ao povo
de M’Boi Mirim.
(...)” demonstrando a necessidade da regulamentação dos preços e impostos sobre os produtos que vieram a
Cumprindo determinações da Câmara Municipal
aumentar a renda municipal.
de São Paulo, em 1832, elege-se sete vereadores que forma o corpo legislativo da cidade, elevando-se a
Em 13 de Maio de 1888 , houve no antigo “Largo do
município independente. Em 1837 a Câmara aprova a
Jogo da Bola” do município, uma grande comemoração
construção da Cadeia Pública de Santo Amaro (em 1886,
em celebração a promulgação da lei de abolição a
denominada como Praça Floriano Peixoto), tornando-se
escravatura que após as festividades, em 9 de junho de
uma centralidade para a região, assim como a edificação
1888, o local passe-se a chamar “Largo 13 de Maio”. Com
do cemitério, curral, açougues, entre outros.
a construção da Matriz de Santo Amaro, atual Catedral, em 1924, o município já se apresentava como um
Grande parte dos hortifrutigranjeiros consumidos por São Paulo, como batatas, marmelada, farinha de mandioca, milho e carne eram produzidos no M’Boi
expressivo centro comercial na região sul do território.
No início do século XX, devido a importância
Mirim. Em Santo Amaro se destacava a lavoura de
produtiva da região e do fato de existir um eixo já
cereais, e também a extração de madeira, areia e
consolidado pela estrada de ferro e vias de comunicação
pedras destinados às construções civil, justificando
como a própria estrada de Santo Amaro, em 1907,
a implantação da estrada de ferro movido a vapor em
a companhia Light investiu no represamento do rio
1886, que ligava Santo Amaro à São Paulo.
Guarapiranga, afluente de Pinheiros, para regularizar a vazão do Tietê nos meses de seca. As águas da represa,
Com a necessidade de regularizar as vendas, em
no período de estiagem, serviam para alimentar as
1890 registra-se o interesse pela construção de um
turbinas da Usina de Parnaíba à noroeste de São Paulo.
mercado na região, dando origem ao Mercado Popular
Aos fins de semana, os locais hoje conhecidos como
na Vila de Santo Amaro. Em 1893, Carlos da Silva
Jardim ngela e São Luís eram atraídos pelos moradores
Araújo escreve à Câmara Municipal: “considerando que
locais a praticarem a caça e pesca e esportes aquáticos.
a falta de mercado nesta vila torna-se vexatória aos seus habitantes, mormente a classe menos favorecida de fortuna. Considerando que desta falta resulta o monopólio dos gêneros de primeira necessidade que
Em 1929, é aproveitado o primeiro cubículo
de água da então recente represa do Guarapiranga
55
Eixo | Área de intervenção Sem escala
56 Figura: Ponte João Dias, década de 70. Acervo: Carlos Fatorelli
e de construção civil da europa, como por exemplo
populacional, que a região recebeu grande parte da
o concreto armado, as obras proporcionaram o
população existente até hoje, vinda de diversas regiões
desenvolvimento científico e de pesquisa na cidade
do país. Apesar da falta de investimentos habitacionais,
trazidos pelos especialistas alemães. As obras foram
levando a ocupações em áreas de riscos, por exemplo,
executadas pela Companhia Constructora Nacional e
a região recebeu o Parque Ecológico do Guarapiranga
registrada oficialmente em território nacional em 1924
em 1974 com projetos desenvolvidos pelo escritório
como filial da empresa alemã Wayss & Freyta que já
Burle Marx e Cia nas margens da represa. Em 1977 é
atuava no Brasil desde 1913 através da empresa de
construído o Centro Empresarial de São Paulo, próximo
L. Riedlinger – empresa pioneira no uso de concreto
a ponte João Dias, inaugurada na mesma época.
armado no Brasil. Localizada no bairro Alto da Boa Vista, cuja ocupação
Campo Limpo/Capão Redondo
foi intensificada pela introdução do bonde como sistema de transporte público urbano – também utilizado para
Há relatos que Fernão Dias, em um dos
o transporte de materiais durante a construção da
inventários encontrados no começo do século XVII,
Estação – conectando os centros dos antigos municípios
chega a fazer referência à área do rio Pirajuçara como
de São Paulo e Santo Amaro, gerando novas demandas
terras de plantio e roça e que sua família chegou a
por serviços de infraestrutura.
dominar a região entre o rio pirajuçara e Embu. Esse fato é de importante conhecimento, pois, pressupõe
Mas foi apenas na década de 60, com o grande boom
que no contexto de circulação entre a vila de são paulo
Figura : Campo Limpo, início do século XX. Acervo UNASP
57 e as formações próximo ao rio pirajuçara, além do já
contradiz autores como Langenbusch “que acreditam
descritos aldeiamentos de M’boi mirim e vila de santo
serem os caminhos ao longo dos rios impróprios à
amaro, a região já possuíam a existencia de um traçado,
circulação a não ser as ferrovias” (SILVA, 2009, p. 69).
possivelmente feita pela atual via de comunicação, a
Estrada do Campo limpo em direação hoje a Taboão da
Uma característica marcante das ferrovias extra-
Serra, possibilitando o surgimento de centralidades na
regionais é o seu traçado [...] Este não coincidiu, salvo
região hoje de Capão Redondo.
reduzindos trechos, com o das correspondentes estradas de tropa [...] Em vários casos, tal divergência
“No km 15, encontra-se a antiga venda
do Taboão. N’este lugar conhecido, e ponto de todos os viajantes do sertão, há bifurcação de estradas, seguindo para M’Boy e outra, à esquerda, dirigindo-se para os bairros de Campo Limpo e do Capão Redondo,
repousa em diferentes valorização de elementos topográficos. As estradas de tropa procuravam evitar as várzeas
Em 1914, o pastor adventista alemão John
onde se ramifica uma rede de caminhos para Santo
Lipke, acompanhado por obreiros da igreja de Santo
Amaro, Itapecirica e o Sertão de Juquitiva” (JORDÃO,
Amaro, construiu o colégio secundário fundado pelos
M.F.– O Embu na história de São Paulo - Prefeitura
Adventistas no ano de 1915, no Capão Redondo. Por volta
Municipal de Embu:1960)
dos anos 1950 a ocupação se intensifica na medida em que se instalavam as fábricas na região de Santo Amaro
O que nos mostra que tanto a Estrada de Campo
e loteavam os antigos sítios e chácaras, que foram
Limpo como o de Itapecerica, são caminhos coloniais
destinados, sobretudo, as moradias dos operários que
e importantes para a ligação entre a vila de são paulo
migraram do interior e tantos outros estados do país.
e que os rios são referências e os terraços fluviais da bacia de São Paulo a melhor forma de circulação. O que
58
Sem escala
Gráfico: Dados da Rede Nossa São Paulo, 2019. Produzido pela autora.
dinâmica atuais
como se desloca No território escolhido a partir da pesquisa Origem-
Como demonstra Vasconcellos (2005, p23) em
Destino, foi possível perceber que todos os dias um
seus exercícios etnográficos, as pessoas organizam e
grande contigente de trabalhadores se deslocam
decidem seus deslocamentos a partir de seus desejos e
no sentido centro. Deles destaco algumas principais
condições, e são ações que interferem e se relacionam
centralidades como Moema (1), subregião da Granja
um com o outro. Dentres os fatores individuais
Julieta (2), centro de Santo Amaro (3), subregião de
condicionantes para compreensão ampla sobre o
Vila Miranda (4), centro de Itaim Bibi (5) e Berrini (6).
deslocamentos na cidade, estão:
Esses padrões se dão por modo coletivo portanto ônibus, metrô e trem. O modal sobre rodas ainda é um grande destaque nas viagens., que pudemos ver vem
_fatores
pessoais:
idade,
renda,
escolaridade,
gênero;
sendo consolidado por diversos motivos e interesses políticos econômicos desde sua introdução na década
_fatores familiares: estágio do ciclo de vida (se é
de 20 em detrimento dos bondes elétricos (começo do
casada ou não, se tem filhos, e quantos), a posse de um
século XX) e do metrô (década de 70), já que o modal
automóvel;
atende maior flexibilização do trajeto e acesso às vias. _fatores externos: a oferta de transporte, seu custo, o custo de usar o automóvel, a localização dos destinos desejados, a hora de funcionamento dos destinos desejados. Para Villaça (1999), cada vez mais a atuação urbana da classe dominante passará a ser contestada, especial e precisamente naqueles setores no quais ela vinha mais tradicionalmente intervindo: nos setores imobiliários e no do sistema viário de transportes. Assim, como pudemos ver no capítulo anterior, a distribuição socioterritorial do quadrante sudoeste se deu de forma dispersa na medida em que grupos sociais de alta renda e a classe dominante de São Paulo se estabelecia ao longo desse vetor de crescimento da cidade. Gráfico 2: Porcentagem por tipo de transporte, São Paulo. Dados: Pesquisa OD 2017 (feito pela autora)
59
0
1km
2km
0
1km
2km
60
Figuras: Tempo médio de Deslocamento, Rede Nossa São Paulo e MobCidades, apropriado pela autora
por que se desloca “[...] espaço urbano não é dado pela natureza mas é um espaço produzido” (VILLAÇA, 2011) As pesquisas OD partem de um espaço urbano dado, portanto, não são movimentos espontâneos. O segundo maior motivo de deslocamento na cidade se dá pelas viagens moradia-escola. De acordo com a Pesquisa Origem-Destino de 2017 foram coletadas 14.670.928 viagens por esse motivo dentro da Região Metropolitana de São Paulo, abaixo apenas dos 18.572.271 de viagens moradia-trabalho. Em terceiro lugar se dá pelo motivo 0
1km
2km
por compras com 1.929.215, em quarto por sáude com 1.827.264 e apenas em quinto por lazer com 1.816.626.
quanto se desloca A dominação sobre o tempo de deslocamento, como vimos, se dá por diversos fatores. Tanto pela qualidade
transporte coletivo e de 26 min para o transporte individual (Pesquisa OD, 2017).
e oferta de transporte coletivo quanto pela localização das atividades produtivas da cidade, além dos fatores
A forma de dominação sobre o espaço e como
culturais sobre a organização do tempo (LE GOFF, 1990).
organizamos o tempo atinge sobre diversas formas as camadas de maior vulnerabilidade já que seus empregos
A região sul do município é a segunda zona com
são os mais precários e de maior jornada, ou quando
maior tempo médio de deslocamento. A região engloba
informais (cotidiano ainda mais desgastante). Como
o quadrante sudoeste e regiões mais distantes,
podemos ver nos dados levantados pela Rede Nossa
como Parelheiros e Marsilac, o que pode ser um dos
São Paulo e MobCidades (figura), boa parte da população
motivos do tempo registrado. A média geral do tempo
deixam de fazer alguma atividade pela questão de tempo
de deslocamento na RMSP é de 1 hora por meio do
ou inacessibilidade por sua localização.
61
Figuras: Perfil - Tempo médio de Deslocamento, Rede Nossa São Paulo e MobCidades, apropriado pela autora
Figuras: O que deixam de fazer os usuários de ônibus municipal, Rede Nossa São Paulo e MobCidades, apropriado pela autora
62
0
1km
2km
paradigmas enfrentados Para requalificar o espaço é necessário compreender os diversos paradigmas que estruturam o cotidiano da cidade, seja ficamente, seja mentalmente. Para isso, algumas avaliações para a região foram consideradas:
problemas
desafios
- sociais (barreiras de classe, raça e gênero)
- limites administrativos (bacia sedimentar de
- econômicos (terrenos vazios e subutilizados sem cumprir a função social) - geológico (subutilização do potencial topográfico e altimétrico para uso de modais ativos)
são paulo possui uma área de abrangência de nível estadual) - órgãos públicos (baixa autonomia e poder para tomada de decisão)
- hidrológico (subutilização dos canais e leitos)
- geológico (áreas de risco e inundações)
- acessibilidade (impedância e obstáculos
- aspecto cultural (racismo estrutural, machismo
frequentes) - patrimônio histórico (desvalorização de patrimônio histórico de antigos edifícios não tombados e a subutilização dos edifícios tombados) - patrimônio natural (má conservação e degradação das áreas de preservação, tamponamento de leitos e córregos) - áreas verdes e livres (má conservação de parques e espaços de convivência) - moradia (estado precário ou em área de risco e inundação) - infraestrutural (falta de acesso a rede de gás, água e esgoto)
e espaços de constrangimento; violência urbana e policial; velocidade do trânsito; baixa confiança do setor público e Estado) - aspecto econômico (circuito do mercado especulativo imobiliário, nível de desemprego, poder de compra) - aspecto simbólico (conservação de monumentos colonialistas, enclaves de riqueza)
63
64
0
1km
2km
parâmetros adotados Plano Diretor de São Paulo, 2014 Como parte do processo de revisão do conjunto de leis de política urbana do município, como Zoneamento, Código de Obras e Edificações, Planos Regionais e de Bairro, o Plano Diretor Estratégico de São Paulo, lei municipal de número 16.050 de 2014, versa o crescimento e desenvolvimento urbano de forma orientativa e propositiva com objetivo de garantir a melhoria da qualidade de vida em todos os bairros do município.
Nas
áreas
consolidadas,
um
gabarito
máximo, limitando a produção imobiliária junto com a diminuição do potencial construtivo intra-bairro, ao
65
mesmo tempo que se estabelece um aumento quando próximo aos corredores de transporte público coletivo. Nas áreas mais periféricas, um estímulo ao uso misto possibilitando a geração de emprego e a socialização do espaço público, buscando reequilibrar e humanizar todo o tecido urbano progressivamente. Além disso, a lei destaca a importância do controle social e participação da população para que seja possível sua implementação e prevê a estruturação de um Sistema de Informação, Monitoramento e a Avaliação para a sua aplicação durante a gestão. Reconhece
as
grandes
questões
da
cidade-
metrópole de São Paulo na área da mobilidade urbana, meio ambiente, moradia e trabalho e enfatiza uma visão sistêmica de atuação que relacione ações estruturantes com as de qualificação de escala local e cotidiana. Algumas das estratégias instituída pelo PDE e apropriadas pela autora no desenvolvimente deste projeto foram:
eixo de intervenção Figura: Mapa “Promover desenvolvimento econômico da cidade Centralidades polares e lineares”, PDE-SP, 2014. Apropriado pela autora
66
0
1km
2km
0
1km
2km
PRINCÍPIOS ESTRUTURADORES (premissas utilizadas para
PRINCÍPIOS NORTEADORES (utilizados para os métodos
compreensão do território a nível econômico, político e
de aproximação e delimitação das áreas de influência e
geográfico)
intervenção)
Melhorar a Mobilidade Urbana: reverter o modelo de mobilidade, atualmente centrado no transporte individual, integrando e articulando os diferentes meios de transportes; ampliando a rede e qualificando o transporte público coletivo e os ativos (sistema cicloviário e circulação de pedestres); reconhecendo novos componentes de transportes para o sistema de logística como o hidroviário e compartilhamento de automóveis, estruturando a matriz de deslocamentos de forma mais abrangente, eficiente e ambientalmente equilibrada;
Orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público: otimizar o aproveitamento do solo nas áreas próximas à rede de transporte coletivo de média e alta capacidade (metrô, trem, corredores de ônibus), promovendo o adensamento habitacional, qualificação e ampliação dos espaços públicos e oferta de serviços e equipamentos urbanos;
Qualificar a vida urbana dos bairros: visa o controle da verticalização dispersa com uma rede de centralidade
Preservar o patrimônio e valorizar as iniciativas culturais:
estruturada por meio de ofertas de equipamento urbanos
ampliar a proteção, articulação e dinamização de espaços
e sociais, ampliação das áreas verdes e espaços livres,
simbólicos e culturais, qualificando a identidade e vida
definindo instrumentos para projetos urbanos locais a serem
cultural dos cidadãos, por meio de instrumentos culturais
formulados em conjunto com a sociedade.
para preservação de bens históricos, paisagístico, ambiental e social, Zonas Especiais, Polos de Economia Criativa e Territórios Culturais;
PRINCÍPIOS QUALIFICADORES (utilizados para qualificar e consolidar as propostas para ordenamento e transformação
Reorganizar as dinâmicas metropolitanas: visa melhorar a
do uso do solo)
distribuição da oferta de trabalho e moradia pelo território e articular polos de emprego de forma estratégica através
Promover o desenvolvimento econômico da cidade: visa
das Macroáreas de Estruturação Metropolitana (área de
reduzir as desigualdades socioterritoriais, fortalecimento das
infraestrutura ideal para o deslocamento de pessoas e
centralidades urbanas polares e lineares e desconcentrando
produtos, com ferrovias, rodovias e rios) promovendo a
as ofertas de emprego por meio da criação de parques
transformação urbana nessas áreas
tecnológicos e econômicos específica para cada centralidade, ampliando e qualificando a redes de infraestrutura; promovendo a distribuição das atividades produtivas na cidade;
Incorporar a agenda ambiental ao desenvolvimento da cidade: promover as zonas de proteção e preservação ambiental, novos parques atrelados a um fundo municipal com especial finalidade de garantir a ampliação de áreas verdes e espaços livres na cidade.
67
eixo de intervenção
Planejamento de Integração de Transportes Urbanos PITU, 2025 Realizado
pela
Secretaria
dos
Transportes
Metropolitanos - STM, o Planos Integrados de Transporte Urbano – PITU, planejamento estratégico de
68
transportes públicos da cidade, objetiva desenvolver programas de implantação, expansão ou modernização do sistema de transporte metropolitano que atendam adequadamente às necessidades da população quanto a sua mobilidade, desenvolvimento socioeconômico e qualidade de vida. O planejamento de transportes deve considerar não só a expansão da oferta, mas também, a gestão da demanda a partir dos dados da Pesquisa OrigemDestino (OD). Isso é possível por mecanismos de uso do solo e outras variáveis, presentes e futuras, de modo a atender as necessidades de viagens para a mobilidade das pessoas e a movimentação de bens, em níveis de serviço aceitáveis e compatíveis com os recursos financeiros existentes, considerando as políticas públicas para o setor nas regiões. A contenção de área urbanizada é uma das importantes políticas propostas pelo PITU 2025. A densidade populacional na RMSP, considerada apenas a mancha urbanizada (e não o total da área da região metropolitana), é da ordem de 83 hab/Ha (ano 2000), que corresponde a uma população de 17,8
2 milhões de habitantes, vivendo em uma área de 2.137 km (fonte: Emplasa). Como é pouco provável a redução da mancha urbanizada, seria desejável, para obter o máximo possível de incremento de densidade, que os 22.9 milhões de habitantes previstos como população de 2025 estivessem situados na 2 mesma área atual, ou seja, os 2.137 km antes mencionados. Com isso a densidade aumentaria para 107 hab/Ha, um número ainda bem inferior ao vigente em numerosas cidades asiáticas. Outro eixo importante no PITU 2025 trata-se dos fenômenos conhecidos ao aumentar ou melhorar as ofertas de transporte em determinada região: o impacto no mercado imobiliário, valorizando os imóveis e os preços dos aluguéis; aumentando o circuito do capital financeiro no setor; e gerando a mais valia imobiliária apropriada pelos donos dos imóveis. Por isso, o plano prevê programas habitacionais e subsídio para os grupos de baixa renda por meio de políticas públicas capazes de compensar o efeito mercadológico centrifugador que mesmo não sendo o foco do presente trabalho, coloco como política fundamental e prioritária para a concretização da requalificação da paisagem cultural, tentando trabalhar com a requalificação indireta mas também importantes para o aumento da qualidade e dignidade da maioria da população.
69
TICP Perus-Jaraguá, Subprefeitura de Perus O Território de Interesse da Cultura e da Paisagem Perus-Jaraguá (TICP Perus/Jaraguá) foi um dos perímetros definidos através do Plano Diretor de São Paulo (Lei 16050/2014), junto com o TICP Paulista/Luz (analisei apenas o primeiro projeto, pois, foi o único que encontrei a proposta consolidada). O TICP Perus/Jaraguá engloba os distritos de Perus, Anhanguera, Jaraguá e se estende parcialmente no distrito de Pirituba integrando e articulando diversos equipamentos existentes gerando um perímetro de incentivo a diversidade cultural, social e ambiental. Organizado por meio do Plano Regional da Subprefeitura de Perus e consolidado no Caderno de Propostas da subprefeitura dos Perímetros de Ação, a proposta se faz por meio de objetivo e diretrizes, além da identificação das possíveis secretarias e atores envolvidos que darão base para a reestruturação do território. Nele, é destacado os equipamentos de interesses diversos, como:
• ambiental: unidades de conservação, parques tradicionais, parques lineares e áreas de vegetação remanescentes; • natural, cultural e histórico: como fábricas, sindicatos, casas de cultura, hospitais, igrejas, antigos cinemas, mercados populares e praças; • equipamentos educacionais: CEUs, Clube Escola, institutos federais, escolas municipais e estaduais e um centro educacional de cultura indígena, o CECI, do grupo Tekoa Ytu. • e iniciativas culturais e educativas: ocupações artísticas, associação de moradores, comunidades quilombaques, coletivos de skate e hip hop e CEUs como ponto de encontro desses coletivos. Sem falar em pontos de interesse geológicos e históricos de uso dos minerais da região. Há também, lugares que estão em planejamento como: o Parque Bordas da Cantareira, Parque Luta dos Queixadas e Parque Aterro Bandeirantes, entre outros.
Figura: Acervo Vigliecca&Associados, Projeto Providencia, Chile [livro/book/libro], pág 66/67
70
Urbano:
Alameda
referências: projetos e planos urbanos Projeto Urbano Alameda Providencia - Chile, Vigliecca e Associados O projeto da Alameda Providencia, do escritório Vigliecca & Associados, além de se tratar de um eixo histórico para a cidade, a solução desenvolvida pela equipe é bastante peculiar em método de intervenção. O estudo se dá pelo contexto local em relação aos planos de transportes existentes e futuros que abrangem o local de intervenção. Dentro do contexto social e cultural, analisam também a área de influência do projeto e do território e, assim, a forma como o eixo se interliga com o restante da cidade por meio das atividades econômicas e pequenas centralidades, níveis de renda, serviços públicos, comércio popular, áreas residenciais e pólos geradores de tráfego, linha metroviária e suas conexões, frequência de ônibus e as interconexão modal. A setorização foi importante para processo de intervenção. Cada setor conta com uma “leitura” e um
“olhar” específico, pensado através da metodologia e critérios para o fluxo de transporte. Outro parâmetro da estratégia por setor foi da visão de desenvolvimento urbano e a identificação dos edifícios históricos e equipamentos existentes com influência metropolitana (de educação, de saúde, de comércio e terminais de transportes multimodais). Além de trabalhar com espaços livres em potenciais, qualificando o território como suporte para um grande eixo de transformação do solo e de novas dinâmicas de circulação e atração de empregos, reduzindo os deslocamentos diários. Outro
objetivo
foi
dar
legibilidade
sobre
a
materialização, capacidade e eficiência do sistema de transporte público, sendo possível uma maior associação do corredor de ônibus com as reestruturação do espaço público e requalificação paisagem com foco na escala de circulação de pedestres e ciclistas.
Espaço público em Medellín Nas últimas décadas, Medellín recebeu um grande contingente em busca de refúgio devido a conflitos de posse de terras no interior abrigando mais de 100 mil habitantes. A cidade portanto, utilizou como estratégia a transformação urbana para a renovação e integração social.
Realizando
projetos
como
construção
de
bibliotecas, colégios, jardins de infância e espaços para a recreação e o esporte, constituiu-se uma ferramenta fundamental para a superação dos períodos de profunda crise social. A ação partiu da implantação de grande edifícios em bairros de com maior vulnerabilidade social, tendo em vista as expressões culturais e urbanas singulares de cada lugar. Isso contribuiu para superação das urgências da grande maioria da população, possibilitando maior acesso e equidade aos serviços públicos. A cidade foi construída às margens do Rio Medellín, localizado no Vale do Aburrá, território de alto valor
POT. A lei aborda questões como o meio ambiente, áreas de risco, áreas protegidas, espaço público, habitação de interesse social, mobilidade, serviços públicos, gestão da terra, patrimônio natural e cultural
A iniciativa
consistiu em elaborar projetos urbanos que integrasse os componentes físicos, culturais e sociais a fim de: - reduzir os impactos ambientais em áreas sensíveis, por meio de remoções de assentamentos informais em áreas de risco, realocando a população para conjuntos habitacionais; - significar o espaço e o edifício público como novos lugares de encontro e convivência, apostando em programas de educação e cultura, fortalecendo as centralidades dos bairros, além de implantar centros integrais em torno a educação, cultura, esportes e recreação; - utilizar o Sistema Integrado de Transporte Metropolitano como estruturador da mobilidade da cidade e, por fim; - elaborar projetos urbanos junto à comunidade que buscassem atender a problemas de desigualdade e de violência, tendo como premissa o cuidado com o meio ambiente.
ambiental pela quantidade de corpos d’água. Além disso,
71
conta com topografia acidentada em seus dois costados e solo instável geologicamente, impróprio para a construção massiva de assentamentos em áreas de risco intensificada com a chegada de imigrantes. Assim como exemplo de Bogotá (1995-2005), Medellin, ao longo de quinze anos subsequentes a cidade experimentou diversas políticas, planos e novos projetos utilizando o espaço público como principal enfoque.As políticas públicas são pautadas pela função social e ecológica da propriedade; englobando habitação de interesse social, meio ambiente, espaço público e mobilidade. Lei 388/97, de Desenvolvimento Territorial alterou a Lei 9/89, transcendendo a visão de ilegalidade dos assentamentos precários ao fundamentar-se na função social e ecológica da propriedade, na prevalência do interesse geral sobre o particular, na função pública do urbanismo, na distribuição equitativa dos encargos e benefícios, e incorporando conceitos do debate internacional como melhoria, realocação e prevenção; regulamentando o Plano de Ordenamento Territorial –
Figura: Morfologia Urbana e Hidrografia, Medellin. Lucas Bueno
potencialidades paisagem cultural
72
0
As potencialidades do território de São Paulo, como pudemos ver, são enormes. Sua unidade geomorfológica
1km
2km
transporte ativo e também coletivo são inteiramente razoáveis.
pode ser lida como um patrimônio vivo para cidade que, além do grande potencial hídrico, as várzeas,
Porém, junto com o mapeamento do território foi
ou planícies aluviais, proporcionam um espaço de
identificado algumas desigualdades geológicas na forma
circulação exímio para as práticas urbanas e culturais.
de assentamentos humanos em área de risco. Portanto, é necessário considerar um plano de urgência a partir
O percurso, representado pelo eixo de intervenção,
do trabalho coletivo entre geotécnicos, arquitetos,
segue relativamente plano em praticamente toda sua
urbanistas, engenheiros e afins para que essa população
extensão, como podemos ver no esquema ao lado.
seja informada e que esteja previsto para essas áreas
Portanto, priorizar os espaços de circulação para o
projetos de urbanização ou realocação.
santo amaro av. joão dias
potencialidades paisagem cultural
av. santo amaro
capão redondo av. ellis maas (parque santo dias)
73
moema
av. santo amaro (parque ibirapuera)
Conexões | Rede de Transporte Coletivo e Ciclovia
projetos previstos na macrorregião
Sem escala
metrô linha-5 lilás Em 2003 a região do Capão Redondo recebeu a nova estação de metrô da linha lilás o que equivalia 19% extensão da rede metroviária na época. Porém, se percebeu sua subutilização agravada pela baixa conectividade com a integração com os ônibus, fundamental
para
promoção
da
intermodalidade.
“A inauguração é um avanço. Mas eu lamento a concorrência que vai existir entre a linha 5 e as linhas legenda
de ônibus do corredor Itapecerica. Uma vai esvaziar a outra. A população terá oferta até demais” disse Luiz Célio Bottura, do Instituto de Engenharia. O desconto era de apenas 12% em relação ao valor separado de cada meio de transporte justificando a inacessibilidade pelo uso do modal. (Folha, 2002, https://www1.folha.uol.
74
com.br/fsp/cotidian/ff2110200211.htm) Hoje a linha 5-lilás do metrô prevê a obra de sua
Rede de Transporte Coletivo e Ciclovia
extensão para o início do ano que vem (2021), por meio
Sem escala
da parceria privada. Serão três estações a mais na linha atual: Comendador Santana, M. Boi Mirim e Jardim ngela, trecho de 4,5 km no total. A extensão é prometida há bastante tempo, e ao contrário da primeira fase do
legenda
ramal por via elevada, o novo trecho será subterrâneo.
a CET peca por não instalar placas educativas para motoristas avisando sobre a preferência de ciclistas e pedestres sobre demais veículos, além de prever poucas travessias para acessar a ciclovia que será construída. Outro incômodo é que a nova ciclovia ainda não vai se conectar com ciclovias existentes/previstas na região” como mostra no mapa ao lado produzido pelo coletivo. E eles destacam: “Nos círculos laranjas temos: 1. Ciclofaixas da Vila Andrade/Vila Sônia e Juarez Távora, que começam na Av. Giovanni Gronchi (Morumbi) e vão até a ciclovia da Av. Eliseu de Almeida, na Zona Oeste. 2. Terminal João Dias/Estação Giovanni Gronchi, onde a nova ciclovia da Av. Carlos Caldeira vai acabar.
ciclovia carlos caldeira
3. Futura ciclovia entre a ciclofaixa da Av. Hebe Camargo e a ciclovia da Ponte Laguna, que se conecta
Dos 174 km de ciclovias prometidos pela gestão Bruno Covas (PSDB), apenas 3 serão implantadas fora do Centro-Sul: a Av. Carlos Caldeira, a Rua Itapaiúna e um trecho da Rua Miguel Yunes.
com a Margem Oeste da Ciclovia Rio Pinheiros e a ciclovia da Av. Chucri Zaidan. 4. Acesso popular para a Ciclovia Rio Pinheiros pela ponte que vai do Terminal à Marginal (sentido VillaLobos), que permite ir para as ciclovias da Margem Oeste
O projeto de ampliação e conexão da redecicloviária Eixo e Área de Influência Sem escala
e da Margem leste.
na Carlos Caldeira foi publicado esse ano e prevê
5. Em azul marinho nós marcamos as rotas que já são
rampas de acesso, grades de proteção e sinalização
utilizadas por ciclistas mas que a Prefeitura ainda não
nas travessias, com infraestrutura para ciclovia elevada (faixa segregada) localizada no canteiro central da via. Porém, relata a Equipe Bike Zona Sul: “Novamente,
fará ciclovias, mas esperamos que sejam feitas ciclovias nessas ruas.”
Figuras: Uso da Bicicleta. Rede Nossa São Paulo e MobCidades, apropriado pela autora
Além de não contar com a conexão das ciclovias da Marginal Pinheiros que se daria pela ponte central e mais antiga da João Dias, o projeto despreza totalmente o melhoramento da infraestrutura viária para travessia
75
do Rio Pinheiro pelo viaduto da Ponte João Dias. Importante acesso e espaço de circulação tanto de ciclistas como de pedestres da região.
Avenida Água Espraiada ou Roberto Marinho
Figura: Obras monotrilho, 2015. MobilidadeSampa
Por volta de 2010, o monotrilho da linha 17-ouro
Localizada embaixo da Ponte Estaiada, esquina com a
(sistema de média capacidade, com carregamento
Av. Eng. Luis Carlos Berrini e Av. Chucri Zaidan, em junho
e velocidade menores que de um metrô) abre seu
de 2016, Estação de Transferência de ônibus da Água
edital com o custo total do projeto estimado em 3,17
Espraiada começa a funcionar e assim uma novo uso
bilhões de reais. Hoje, em constante imbróglio judicial
para o espaço livre deixado pelo viaduto. “A estação de
e adiamentos, o Governo do Estado de São Paulo, em
transferência conta com bilheterias, banheiros e pontos
prestação de contas publicado em 16 de maio de 2020,
de recarga do Bilhete Único. Quando a estação Chucri
disse que a entrega dos 6,7 km da linha está para
Zaidan, da linha 17 – ouro, for inaugurada, o terminal
2022, mas que certamente não será entregue. “Sua
ficará praticamente acoplado a ela.” (ViaTrolebus, 2016,
previsão inicial de conclusão era antes da Copa do
acessado
Mundo de Futebol de 2014.” (Diário do Transporte, 2020,
br/2016/07/estacao-de-transferencia-agua-espraiada-
acessado em 20/11/2020, <https://diariodotransporte.
comeca-a-funcionar/ )
com.br/2020/09/25/apos-liberacao-da-justica-metrodetermina-que-byd-inicie-fabricacao-de-trens-dalinha-17-ouro/)
em
20/11/2020,
<https://viatrolebus.com.
estratégias de intervenção
1
76
Eixo | Sobrevoou Sem escala
2
3
(transporte ativo)
77
(transporte coletivo)
78
ponte joão dias importante ligação entre os locais de trabalho e bairros residenciais; grande demanda para utilização; estado precário
737
735
AV GIOVANNI GRONCHI ALT
AV ALBERTO AUGUSTO ALVES TERMINAL DE ÔNIBUS JOÃO DIAS AV ALBERTO A ALVES
CORTE | Avenida João Dias
PASSARELA TERM JOÃO DIAS
PASSARELA PED
79
737
731
728
725
CICLOVIA PINHEIROS ALTERNATIVA
725
0
CICLOVIA PINHEIROS
AV M C AGUIAR RIO PINHEIROS
NOVO ACESSO CICLOVIA ALTERNATIVA PINHEIROS ACESSO CICLOVIA PINHEIROS
VIADUTO
CPTM
PTE JOÃO DIAS
AV NAÇÕES UNIDAS
20m
40m
80
av. alberto augusto alves (sentido Capão Redondo)
81
av. carlos caldeira filho (córrego Morro do S)
av. ellis maas (Parque Santo Dias)
projeto: roteiro temático “Cultura, Tecnologia e Inovação” Através do diagnóstico levantado e a fim de gerar uma nova dinâmica para o território, o trabalho consiste
82
na elaboração de objetivos e diretrizes que propõe e orientam a transformações do uso do solo e instiga a novas formas de ver e viver a cidade. Contextualização: A revolução informacional do século XX – a partir dos primeiros satélites lançados no espaço em 1950; automatização pela robótica em 1970; e a internet nos anos 1990 – mudaram, mais uma vez, a forma de se deslocar e viver nas cidades. Essa modernização moldou a forma de negócios e demandas de emprego, além de encurtar distâncias e promover maior interação social por meio dos usos de ferramentas e processos eletrônicos. Objetivo: A proposta para o roteiro temático se faz pelo incentivo ao desenvolvimento do uso da tecnologia de forma criativa, com fomento às práticas culturais através da implantação de equipamento públicos de educação e cultura, como centros de pesquisas e formação, espaços para produção de arte, esporte e compartilhamento de conhecimento de forma que sejam acessíveis a grande parte da população, melhorando o atendimento ao cidadão. Além de tornarem-se pontos de referência cultural ao mesmo tempo que qualificam e geram novos empregos no setor criativo.
Parâmetros: Os equipamentos foram distribuídos de acordo com os parâmetros de centralidades (lineares e polares) tanto do PDE como do Plano Integrado de Transporte Público (PITU), e seguem, na sua volumetria, o cálculo de coeficientes de aproveitamento e taxa de ocupação permitida em sua maioria pelas Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Urbana e Prevista (ZEU e ZEUP), porções do território que consistem em promover usos residenciais e não residenciais com densidades demográfica e construtiva altas e a qualificação paisagística e dos espaços públicos de modo articulado à implantação do sistema de transporte público coletivo.
Programa: A partir de estudos volumétricos
e cálculos de áreas resíduais dos lotes e edifícios mapeados, os equipamentos seguem uma mesma unidade programática que consiste, basicamente, por uma estratégia de ocupação para instalação de salas de aulas, laboratórios, bibliotecas, espaços de convivência e auditórios (dependendo do espaço físico do lote), permitindo o acesso a infraestruturas básicas como banheiros públicos, paraciclos e bicicletários, além da articulação dos espaços livres, com iluminação, acesso a internet e estações de compartilhamento de veículos, possibilitando uma vida urbana mais coletiva e incentivando a circulação do transporte ativo.
83
área em potencial 1: Equipamento cultural + equipamento público (educação/esporte/cultura) + novo acesso ao Parque Santo Dias ZEIS-2 e ZM, Área: aprox 15,000m²
84 referências Centro de Formação Campo-Cidade, Município de Jarinú, São Paulo _USINA CTAH
Espaços de Exposições , Pretória, África do Sul _Mathews + Associates Architects
novo acesso ao Parque Santo Dias
85
ZEU
ZEPAM ZEUP
ZM
ZM
ZM ZEU
ZM ZM
ZEIS-2
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZEUP
ZC ZEUP
ZEIS-1
ZEU
ZEUP
ZEUP
ZEU
ZC
ZEU
ZM
ZM
ZC ZM
ZC
ZEU
ZEIS-3
ZC
ZM
ZEU
ZEU
ZECOR2
ZEU ZEU
ZER1
ZC
ZM
ZM ZC
ZEU ZEU ZM
ZEPAM
86
ZE
ZEU
ZC
ZEU
ZEUP
ZEU
ZC ZEU
ZEIS-2
ZM
ZM
ZM
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZEUP
ZEIS-2
ZEU
ZECOR2
ZEIS-1
ZC
ZEU
ZEU
ZC
ZEUP
ZEU ZM
ZEUP
córrego morro do s
av. telemaco langendonck est. de itapecerica
córrego morro do s
córrego moenda velha
av. carlos calderia filho
córrego morro do s av. carlos calderia filho
av. giovanni gronchi
av. santo amaro
r. da paz
av. santo amaro
av. adolfo pinheiros
r. josé de jambeiro
ZM córrego capão redondo
ZM
est. de itapecerica
ZEIS-2
av. alberto augusto alves
VISTA | Parque Santo Dias Sem escala
av. ellis maas est. de itapecerica
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
r. alceu de c. rodrigues
ZEPAM ZEUP
ZM ZM ZM
ZEIS-2
ZEIS-1 ZC
ZEUP ZM ZEUP
ZEU
ZEPAM ZEUP
ZEIS-2
ZM
ZM
ZEIS-2 ZEIS-1
ZC
ZEUP
córrego morro do s
av. telemaco langendonck est. de itapecerica
córrego moenda velha
ZM córrego capão redondo
VISTA | Av. Ellias Maas Sem escala
av. ellis maas
ZEIS-2
87
área em potencial 2: Equipamento uso misto + equipamento público (educação/esporte/cultura) + área livre ZEUP e ZEU / CA 4 - TO 0,70, Área: aprox 12,000m²
88
referências Espaços de Exposições , Pretória, África do Sul _Mathews + Associates Architects
Conjunto Habitacional Jardim Edith, São Paulo _ MMBB/ H+F arquitetos
89
ZEU ZEU ZM
ZEPAM ZEUP
ZEU ZEIS-2
ZM
ZM
ZEUP
ZEIS-2
ZEU ZEIS-1
ZC
ZEU ZEUP
ZEUP
ZEU ZM
córrego morro do s
ZM ZEU
av. telemaco langendonck est. de itapecerica
ZEIS-3 ZEU
ZEUP
ZC
r. josé de jambeiro
ZEIS-1
ZEU
ZEUP
ZC ZEU
córrego capão redondo
ZEU
VISTA | Rua José de Jambeiro
ZC
ZEU
ZM ZEIS-2
ZECOR2 ZEU
ZER1
av. ellis maas est. de itapecerica
Sem escala
90
ZC
ZEU córrego moenda velha
ZEU
av. carlos calderia filho
ZM
ZC ZM
córrego morro do s
ZEU
ZM ZC ZEU
ZEU ZM
ZC
ZEU
ZEU
ZM
ZC ZEU
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZEUP ZEU
ZECOR2 ZEU
ZEU
ZC
ZEUP
córrego morro do s
av. carlos calderia filho
córrego morro do s av. carlos calderia filho
ZEU
av. giovanni gronchi
av. santo amaro
r. da paz
av. adolfo pinheiros
r. josé de jambeiro
est. de itapecerica
av. alberto augusto alves
VISTA | Est. de Itapecerica est. de itapecerica
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
Sem escala
r. alceu de c. rodrigues
ZEU ZM
ZM ZEU
ZEU
ZEU
ZEUP
ZM
ZC ZM
ZC
ZEU
ZEIS-3
ZEU
ZC
ZEU
ZEIS-1
ZEU
ZEUP
ZC
ZM
ZEU
ZEU
ZECOR2
ZEU ZEU
ZER1
ZC
ZM
ZM ZC ZEU
ZEU
ZEU ZM
ZC
ZEU
91 ZEU
ZM
ZC ZEU
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZM
ZEUP ZEU
ZECOR2 ZEU
ZEU
ZC
ZEUP
ZEU ZM
córrego morro do s
av. carlos calderia filho
córrego morro do s av. carlos calderia filho
av. giovanni gronchi
av. santo amaro
r. da paz
av. santo amaro
av. adolfo pinheiros
r. josé de jambeiro
est. de itapecerica
est. de itapecerica
av. alberto augusto alves
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
r. alceu de c. rodrigues
r. bueno brandão
VISTA | Av. Carlos Caldeira Filho Sem escala
área em potencial 3: Polo Digital Tecnológico + espaço de permanência + área livre ZEU/ CA 4 - TO 0,70 (Zona de Centralidade entorno CAm 2 - TO 0,70), Área: aprox 17,000m²
referências 92 Nova Sede FAPESP, São Paulo _ Vigliecca&Associados + Rosa Kliass
Arquitetura de uso misto, Pelotas _MDAD - Matheus Diniz Arquitetura e Design + Área Urbanismo + LV Urbanismo
93
ZEUP
ZM
ZM
ZM ZEU
ZM ZM
ZEIS-2
ZEIS-3
ZEIS-1 ZEU
ZEUP
ZC
ZC ZM
ZEUP
ZC
ZEU
ZM
ZEUP
ZEUP
ZEIS-1
ZEU
ZEU
ZEU ZC
ZM ZEU ZEU ZM
ZEPAM
ZC
ZEUP
94
ZEU
ZEU
ZEIS-2
ZM
ZM
ZM
ZEIS-1 ZEU
ZEUP
ZEIS-2
ZEU ZEIS-1
ZC
ZEU
ZEU
ZC
ZEUP ZEUP
córrego morro do s
av. telemaco langendonck est. de itapecerica
córrego morro do s
córrego moenda velha
av. carlos calderia filho
córrego morro do s av. carlos calderia filho
r. josé de jambeiro
ZM córrego capão redondo
VISTA | Av. Giovanni Gronchi Sem escala
av. giovanni gronchi
est. de itapecerica
ZEIS-2
av. ellis maas est. de itapecerica
av. alberto augusto alves
ZM
ZEU ZM
ZC ZM
ZC
ZEU
ZEIS-3
ZEU
ZC
ZEIS-1
ZEU
ZC
ZM
ZEU
ZEU
ZECOR2
ZEU ZEU
ZER1
ZC
ZM
ZM ZC ZEU
ZEU
ZEU
ZC
ZEU
ZM
ZC ZEU
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZEU
95 ZM
ZECOR2 ZEU ZC
ZEU ZM
córrego morro do s av. carlos calderia filho
est. de itapecerica
av. giovanni gronchi
av. santo amaro
r. da paz
av. santo amaro
av. adolfo pinheiros
av. alberto augusto alves
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
r. alceu de c. rodrigues
r. bueno brandão
VISTA | Av. Giovanni Cronchi Sem escala
ZM
ZEIS-3
ZEU ZM
ZC ZM
ZC
ZEU
ZEU
ZC
ZEIS-1
ZEU
ZC
ZM
ZEU
ZEU
ZECOR2
ZEU ZEU
ZER1
ZC
ZM
ZM ZC ZEU
ZEU
ZC
ZEU
96 ZM
ZC ZEU
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZM
ZECOR2 ZEU ZC
ZEU ZM
córrego morro do s av. carlos calderia filho
est. de itapecerica
av. giovanni gronchi
av. santo amaro
r. da paz
av. santo amaro
av. adolfo pinheiros
av. alberto augusto alves
PERSPECTIVA | Av. João Dias av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
r. alceu de c. rodrigues
r. bueno brandão
Sem escala
97
PERSPECTIVA | Av. João Dias Sem escala
área em potencial 4: [Antiga Estação de Tratamento de Água Theodoro Ramos] > Polo Tecnológico e Pesquisa + espaço de permanência + área livre ZEIS-2 e ZM, Área: aprox 15,000m²
98
Parques SABESP, São Paulo _Levisky Arquitetos
99
FRUIÇÃO PÚBLICA
3
100
2 1
ZEU
ZEPAM ZEUP
ZM
ZM
ZM ZEU
ZM ZM
ZEIS-2
ZEU
ZEIS-3
ZEIS-1 ZEU
ZEUP
ZC
ZM
ZEUP
ZEIS-1
ZEU
ZEUP
ZEUP
ZEU
ZC
ZEU
ZM
ZM
ZC
ZEU
ZEU
ZECOR2
ZEU ZEU
ZER1
ZC
ZM ZEU
ZEU
ZEU ZM
ZEPAM
ZC
ZEU
101
ZEUP
ZEU
ZEU
ZEIS-2
ZM
ZM
ZM
ZEU
ZEIS-1 ZEU
ZEUP
ZEIS-2
ZEU
ZECOR2
ZEIS-1
ZC
ZEU
ZEU
ZC
ZEUP
ZEU
ZEUP
córrego morro do s
av. telemaco langendonck est. de itapecerica
córrego morro do s
córrego moenda velha
av. carlos calderia filho
córrego morro do s av. carlos calderia filho
Sem escala
av. santo amaro
r. da paz
av. adolfo pinheiros
r. josé de jambeiro
ZM
VISTA | Av. Santo Amaro
av. giovanni gronchi
córrego capão redondo
est. de itapecerica
ZEIS-2
av. alberto augusto alves
av. ellis maas est. de itapecerica
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
ZC
ZEU
ZEU ZM ZEU
ZC
ZM
ZEU ZECOR2 ZEU
ZER1 ZM
ZC ZEU
ZEU
102
ZEU
ZC ZEU
ZM
ZECOR2
ZEU ZM
av. santo amaro
r. da paz
av. santo amaro
av. adolfo pinheiros
VISTA | Rua da Paz Sem escala
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
r. alceu de c. rodrigues
r. bueno brandão
ZC
ZEU
ZEU ZM ZEU
ZC
ZM
ZEU ZECOR2 ZEU
ZER1 ZM
ZC ZEU
ZEU ZEU
103 ZC ZEU
ZM
ZECOR2
ZEU ZM
av. santo amaro
r. da paz
av. santo amaro
av. adolfo pinheiros
VISTA | Lote Antiga Estação de Tratamento de Água Theodoro Ramos Sem escala
av. ver. josé diniz
r. américo brasiliense
r. alceu de c. rodrigues
r. bueno brandão
área em potencial 5: [Antigo Cinema de rua Vila Rica] Equipamento público (cultura/educação) + espaço de permanência ZEUP e ZEU / CA 4 - TO 0,70, Área: aprox 12,000m²
104
referências RedBull Station São Paulo _ Triptyque
105
ZC ZEU
ZC
ZM
ZM
ZC ZEU
106 ZC
ZM
ZM
av. santo amaro
VISTA | Av. Santo Amaro r. alceu de c. rodrigues
Sem escala r. bueno brandão
ZC ZEU
ZC
ZM
ZM
ZC ZEU
107 ZC
ZM
ZM
av. santo amaro
VISTA | Inteorior do Antigo Cine Vila Rica r. alceu de c. rodrigues
Sem escala r. bueno brandão
108
0
500m
1km
2km
4km
considerações finais O espaço e o tecido urbano são produtos sociais moldado por condições e contextos específicos de cada lugar e por diferentes povos, ou seja, tendo o espaço geográdico como base e a força natural do trabalho humano como fonte que o alimenta e dinamiza, seja na cidade ou no campo. São Paulo, maior cidade da América Latina, além do grande potencial de recurso humano, possui também um grande potencial hídrico e geomorfológico escondido, dado seu processo de urbanização forjado pelo estrangeiro e modelo econômico dependende, levandonos ao contínuo processo de desindustrialização e baixa capacitação técnica e tecnológica. A paisagem cultural de São Paulo é definida pelo modo de vida dos diferentes povos que a habitam. Repensar as formas de deslocamento é compreender o espaço geográfico e todo patrimônio natural e cultural oferecido. A requalificação do eixo Moema-Capão foi um exercício para repensar o “percurso” e as diversidade s existentes ao longo dele, pretendendo impactar o sentido de pertencimento da cidade. A cidade que deve(ria) ser apropriada como um bem cultural coletivo, construído por ele e para ele.
109
110
111
“Seja como for, o caminho mais seguro para criar, no campo do patrimônio cultural, condições mais favoráveis para a inclusão social é, sem qualquer dúvida, o reconhecimento da primazia do cotidiano e do universo do trabalho nas políticas de identificação, proteção e valorização, e, consequentemente, de maximização do potencial funcional” Ulpiano de Meneses, 2006, p. 34
referências bibliográficas AB’SABER, Aziz Nacib. “O sítio urbano de São Paulo”. In: Modenesi-Gauttieri. Edições, 2010 AB’SABER, Aziz Nacib. “Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo”, FFLCH - USP, 1957 ASCHER, François. “Os novos princípios do urbanismo”, 2010. BONDUKI, Nabil. “O modelo de desenvolvimento urbano de São Paulo precisa ser revertido.”, 2011. Estudos Avançados, FAUUSP. BORTHAGARAY, Andrés [org.] “Conquistar a rua! Compartilhar sem dividir”. São Paulo, Romano Guerra, 2010, 160p. CERTEAU, Michel de. “A invenção do cotidiano”. 3.ª edição. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1998. CHOAY, Françoise. “O urbanismo: utopias e realidades: uma antologia”. São Paulo: Editora Perspectiva, 1979. __________________. “Alegoria do Patrimônio”. Tradução Teresa Castro. Lisboa: Edições 70, 1995.
112
DIAS, A.; SOUSA, R. “Santo Amaro: a evolução urbana do bairro sob diversos olhares”. São Paulo: LiteraRUA, 2016 IPHAN. ”Carta de Atenas”. Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - CIAM, 1933 JACOBS, Jane. “Morte e Vida de Grandes Cidades”, Martins Fontes, 2014. LANGEBUSCH, J. R. “A estruturação da Grande São Paulo”. IBGE: São Paulo, 1971 LEFEBVRE, H. “O Direito à Cidade”. Centauro, 2001 _____________. “A vida cotidiana do Mundo Moderno”, Editora Ática, 1991. LE GOFF, Jacques. “História e Memória”. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1990. LEME, M. C. S. “A formação do pensamento urbanístico no Brasil”. In: “Urbanismo no Brasil 1895-1965”, 1999 LEMOS, A. “Mobilidade e Espaço Urbano”, ABCCiber, 2009. In: BEIGUELMAN, G; FERLA, J. Nomadismo Tecnológico, 2009. Editora SENAC São Paulo, 2011 LYNCH, Kevin. “A imagem da cidade”. Tradução Maria Cristina Tavares Afonso. Lisboa: Edições 70, 1960. MALTA, C.;GAMA, L. H.; SACCHETTA, V. “São Paulo: Metrópole em Trânsito - Percursos Urbanos e Culturais.” Editora SENAC, PMSP, 2004
MARICATO, Ermínia. “Metrópole, legislação e desigualdade”, 2003. Estudos Avançados, FAUUSP. MARQUES, Eduardo. “As políticas do urbano”. Editora Unesp, 2018 MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. “A cidade com bem cultural – áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano”. In MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marise Campos de; BASTOS, Rossano Lopes; GALLO, Haroldo (Orgs.). Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo, Iphan, p. 33 -76, 2006. METRÔ-SP, Pesquisa Origem Destino, 2017. “Caracterização socioeconômica dos deslocamentos por modo de transporte” - Região Metropolitana de São Paulo POCHMANN, Marcio. “Economia global e a nova Divisão Internacional do Trabalho”, 1999 PRADO JR., Caio. “A Cidade de São Paulo”, 1983. REVISTA DO PATRIMÔNIO, n23; WENDERS, W. “A paisagem urbana”, p. 180, 1994. ROLNIK, Raquel. A cidade e a Lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. Studio Nobel/ Fapesp: São Paulo, 2003 SANTOS, Milton. “A Natureza do Espaço”, Edusp: São Paulo, 2002 SANTOS, I. M. “Sistema viário estrutural de São Paulo e estratégias urbanísticas - Planos, Projetos e Intervenções, 1930 a 2002”. Dissertação de Mestrado – Instituto de Arquitetura e Urbanismo, USP, 2014 SEABRA, O. C. de L. “Urbanização e industrialização: rios de São Paulo”. Labor E Engenho, 9(1), 37-48, 2015 SILVA, Marco Antonio Teixeira. “O ambiente fluvial das várzeas no espaço da metrópole: a bacia do Pirajuçara na metropolização de São Paulo. Dissertação de Mestrado, FFLCH USP: São Paulo, 2009 VASCONCELLOS, E. A. Mobilidade Urbana e Cidadania. Editora Senac São Paulo, 2018 VÁRIOS, Cidades rebeldes. Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo/Carta Maior, 2013 VILLAÇA, F. J. M. “São Paulo: Segregação Urbana e Desigualdade”. Estudos Avançados, FAUUSP, 2011 VILLAÇA, F. J. M. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In DEÁK,C.; SCHIFFER, S. (Orgs.) O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1999
113