Capas da editoria mundo gazeta do povo 2013

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GAZETA DO POVO terça-feira, 11 de junho de 2013

www.gazetadopovo.com.br/mundo Editor EXECUtiVo: RHODRIGO DEDA Editor rEsponsáVEl: CÉLIO MARTINS

Relações inteRnacionais

Presença do irã em países da américa latina será mantida após a eleição presidencial, preveem analistas

mundo@gazetadopovo.com.br

Mundo

❚❚Página 24

>>>> seguRança

EUA investigam delator de “grampo” Glenn Greenwald/Guardian

“Nós (EUA) hackeamos todo mundo em qualquer lugar. Posso ver os seus e-mails, senhas do seu cartão de crédito ou o celular da sua mulher. Eu não quero viver em um mundo onde tudo o que eu faça e fale seja registrado.”

“A extensão da capacidade da NSA é horripilante. Uma vez que você está na rede, posso identificar sua máquina. Você nunca estará seguro, em nenhum lugar, mesmo que coloque qualquer proteção.”

Edward Snowden,

Edward Snowden,

ex-assistente técnico da CiA que revelou o esquema de monitoramento dos EUA.

ex-assistente técnico da CiA que revelou o esquema de monitoramento dos EUA.

Governo norteamericano estuda como buscar edward Snowden no exterior. Paradeiro de técnico da Cia é desconhecido

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Washington Agência O Globo

❚❚As agências de investigação e inteligência dos Estados Unidos deflagraram ontem uma caçada ao ex-técnico da CIA Edward Snowden, de 29 anos. Como funcionário terceirizado de uma das principais firmas prestadoras de serviços ao Pentágono, ele é o responsável confesso pela exposição de dois programas ultrassecretos de monitoramento e coleta em massa de dados telefônicos e eletrônicos pelo governo americano. Enquanto o presidente Barack Obama e sua equipe

O “big brOther” de Obama Espionagem do governo dos EUA vai de empresas telefônicas a ataques cibernéticos. Ligações no dia 5, o jornal Guardian publicou uma ordem do tribunal de Vigilância e inteligência externa que exigia que a empresa de telefonia Verizon entregasse à agência nacional de Segurança (nSa) os registros de ligações de milhões de clientes.

Catálogo

no dia seguinte, o Guardian e o

em 7 de junho, os dois jornais revelaram uma diretriz da Casa Branca pela qual obama ordenara às agências de inteligência

optavam pelo silêncio, segundo informações extraoficiais, o FBI (a polícia federal) fazia operações de busca na casa e no computador de Snowden, no Havaí, e entrevistas com sua namorada, mãe, pai e madrasta em três estados. A CIA, agência central de inteligência, tentava determinar a localização do ex-fun-

cionário, cujo último paradeiro conhecido é Hong Kong. Snowden deixou os EUA no dia 20 de maio e estava hospedado no Mira Hotel, na região central de Hong Kong, até a manhã de ontem, e não se tem conhecimento do seu destino desde então. Para levá-lo à Justiça — uma investigação criminal

já foi aberta domingo —, o governo americano precisa trazê-lo de volta ao país. E, por isso, começou a pressão de alas políticas por extraditá-lo. O ex-técnico tanto pode pedir asilo a Hong Kong — com o qual os EUA mantêm um tratado de extradição, o que seria arriscado para ele — como a outro país.

Internet

Andy Rain/EFE

Ciberataques

PressãO eurOPeia Chanceler da Alemanha pedirá esclarecimentos a Barack Obama

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Londres Folhapress

❚❚O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, disse ontem que Edward Snowden é um herói que expôs um dos casos mais sérios da década. Seg undo A ssange, Snowden está agora em uma “posição muito séria”. Para o fundador do WikiLeaks, a mesma retórica que foi aplicada contra ele e contra Bradley Manning – soldado americano julgado pelo vazamento de milhares de documentos secretos ao WikiLeaks – será usada contra o Snowden. Manning começou a ser julgado no dia 3 deste mês. Entre as 22 acusações que enfrenta, a mais grave é de “conluio com o inimigo” por ter transferido ao WikiLeaks informações confidenciais sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e mais de 250 mil documentos do Departamento de Estado. Assange, que vive há quase um ano na embaixada do Equador no Reino Unido, afirmou ainda que está em

estabelecer uma lista de países que poderiam ser alvos de ataques cibernéticos americanos. Segundo o Washington Post, os eua tinham começado a colaborar com países vizinhos do irã diante da ameaça que a nação representaria para a segurança informática americana.

no último sábado, o Guardian informou sobre a existência de outro programa que permite à nSa recopilar dados em função da origem da informação. a prática seria dirigida à ciberespionagem no exterior.

Para fundador do Wikileaks, snowden é herói ❚ ❚

Washington Post revelaram a existência do programa secreto de vigilância Prism, que autorizava a nSa e o fBi a acessarem os servidores das nove maiores empresas de internet dos eua, entre elas Microsoft, Google, facebook e apple. Com essa prática, instaurada em 2008, o governo poderia reunir arquivos, chats, áudios, vídeos, e-mails e fotografias de usuários.

“Snowden revelou um dos eventos mais sérios da década.” Julian Assange

contato com o “pessoal de Snowden”, mas se recusou a dar mais detalhes. Ele descreveu Manning e Snowden como homens “sérios que acreditam em algo e demonstraram grande coragem”.

BerLim

Agência Estado

a chanceler da alemanha, angela Merkel, vai pedir esclarecimentos ao presidente dos estados unidos, Barack obama, sobre o recém-revelado programa norte-americano de espionagem eletrônica dedicado a, entre outras coisas, coletar dados de estrangeiros engajados em atividades “suspeitas”. em Bruxelas, autoridades da união europeia (ue) manifestaram ontem a intenção de aproveitar uma reunião ministerial transatlântica prevista para começar na quinta-feira em dublin para questionar seus homólogos norte-americanos sobre o impacto do programa Prism sobre a privacidade de cidadãos europeus. o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, disse a jornalistas ontem que Merkel questionará obama sobre a atuação da agência de Segurança nacional dos eua (nSa, na sigla em inglês) quando o norte-americano visitar Berlim na semana que vem. o escândalo de espionagem tem potencial para atrapalhar

uma reunião de cúpula prevista para o dia 18 e por meio da qual os dois líderes pretendem reafirmar os fortes laços entre eua e alemanha. Será a primeira visita oficial de obama a Berlim desde sua chegada à Casa Branca. obama tem saído em defesa dos programas secretos de espionagem que recentemente vieram a público como “necessários para defender os eua do terrorismo”. os comentários de obama, no entanto, pouco serviram para aplacar as preocupações da alemanha e de outros países europeus que rotineiramente recorrem aos serviços de tráfego de voz e dados de sites baseados nos eua. as leis europeias de privacidade são mais avançadas que as dos eua e seus cidadãos costumam defender esse direito com muito mais vigor. o Ministério de interior da alemanha já está em contato com autoridades norte-americanas para determinar se a espionagem infringiu a privacidade de cidadãos alemães. em Londres, o secretário de exterior do reino unido, William hague, negou que o governo britânico teria usado informações fornecidas pelos norte-americanos para contornar as leis britânicas.

O republicano Peter King, presidente do subcomitê de Segurança Interna da Câmara, pediu urgência ao governo nas medidas para garantir a extradição de Snowden. Mas, no próprio partido, houve vozes dissidentes. Líder libertário, o ex-candidato a presidente nas primárias de 2012 Ron Paul defendeu que os alvos da ira norte-americana devem ser o governo e seu programa de espionagem dos cidadãos. “Devemos estar agradecidos a indivíduos como Snowden, que vê injustiça conduzida por seu próprio governo e vem a público, a despeito dos riscos”, disse Paul. As declarações mostram como os EUA amanheceram divididos sobre Snowden. Ativistas de direitos civis o consideram um herói, enquanto atuais e ex-agentes das forças de segurança o tratam como traidor. A estratégia para buscar Snowden no exterior envolve tanto as delicadas relações com a China quanto com nações aliadas.

empresas voltam a negar colaboração em programa ❚❚Apesar de o jornal The New York Times ter revelado, no último fim de semana, que as empresas de internet negociaram com o governo americano formas de acesso a dados de seus usuários, as companhias voltaram a negar que tenham participado de um programa de vigilância. Procuradas ontem para comentar a informação do jornal, as empresas disseram que não disponibilizaram ao governo dos Estados Unidos acesso direito a seus servidores. Também não informam se usuários do Brasil, um de seus principais mercados, foram monitorados. Reportagem do NYT informou que Facebook e Google chegaram a discutir a criação de um portal onde o governo poderia solicitar informações sigilosas, e as empresas os forneceriam. O Twitter teria sido a única companhia a se recusar a colaborar. Em nota, o Facebook no Brasil afirmou “só fornece informações na medida exigida pela lei”.


Novo eNfoque

i lu IVA inc RT

organização dos estados Americanos aceita rever abordagem sobre drogas no continente

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Mundo

PO

SÁBADO, 8 De JUNHO De 2013

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ES

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GAZETA DO POVO

❚❚Página 6

>>>> esPioNAgem

“Grampo” dos EUA atinge todo o mundo Agência Nacional de Segurança norte-americana viola privacidade de usuários de empresas telefônicas e de internet de todos os países

De Redação, com agências

❚❚A violação de privacidade pelo governo dos Estados Unidos – que veio à tona após a revelação de um sistema secreto de coleta de informações de telefones e internet – atinge usuários de todo o mundo, e não apenas cidadãos norte-americanos como se chegou a divulgar na quinta-feira. O programa chamado Prism (prisma, em inglês), operado pela Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês), conforme revelou os jornais The Guardian e Washington Post, compila áudios, e-mails, fotos, vídeos e outros dados de usuários de empresas internet, como Google, Microsoft, Apple e Facebook. O sistema do governo também tem acesso a informações de empresas telefônicas, como a gigante Verizon. Através do Prism, os funcionários podem acessar os registros de usuários de todo o mundo em sistemas que operem sob a base legal dos Estados Unidos, sem a necessidade de autorização judicial. Quando a NSA encontra uma comunicação considerada suspeita, ela é separada e registrada como “infor-

Kevin Lamarque / Reuters

me”. Segundo o relatório da agência, mais de 2 mil informes são acumulados por mês. Desde que o programa entrou em vigor, em 2007, foram emitidos cerca de 77 mil informes. As empresas de internet que teriam sido violadas negam conhecimento sobre o Prism e dizem que os dados só são obtidos pelo governo norte-americano por petição judicial. Google, Apple e o Facebook afirmaram que as ordens judiciais são entregues após avaliação criteriosa das ordens judiciais. “O Facebook não é nem nunca foi parte de nenhum programa para dar aos EUA ou a qualquer governo acesso direto aos nossos servidores. Não tinha sequer ouvido falar de Prism até ontem (quinta-feira)”, reagiu o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. Código A interceptação de informações faz parte do chamado Código Patriótico (Patriot Act, em inglês), aprovado em 2001 durante o governo de George W. Bush. O documento inclui uma série de medidas para evitar o avanço de terroristas no país e é uma resposta aos atentados do 11 de Setembro. A revelação de detalhes do sistema de espionagem, na quinta-feira, provocou uma onda de críticas por parte de defensores de direitos civis e líderes democratas. Ontem, o diretor da Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, afirmou que os esforços são legais, limitados e necessários para detectar ameaças terroristas. Ele negou que os cidadãos americanos estão tendo a privacidade invadida.

obama considera “invasão modesta” de privacidade ❚ ❚

Washington Agência Estado

❚❚O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu ontem as medidas de co-

“Você não pode ter 100% de segurança e também ter 100% de privacidade e inconveniência zero.”

leta de dados de seu governo, afirmando que os programas ajudam a prevenir ataques terroristas e representam somente pequenas invasões de privacidade nas vidas das pessoas.

“Você não pode ter 100% de segurança e também ter 100% de privacidade e inconveniência zero”, disse o presidente em uma aparição na Califórnia. Ele afirmou que “invasões modestas” na privacidade das pessoas são o preço a pagar pela proteção da nação. Obama afirmou que há “algumas desvantagens envolvidas” nos programas de coleta de informações da Agência de Segurança Nacional (NSA) que recolhem informações de te-

lefone, internet e outros registros. “Eu fiz uma crítica saudável sobre estes programas. Minha equipe os avaliou cuidadosamente, nós realmente expandimos parte da supervisão, aumentando algumas das salvaguardas. Mas a minha avaliação e a avaliação da minha equipe foi que eles nos ajudaram a evitar ataques terroristas.” Obama disse ainda que todos os membros do Congresso têm conhecimento a respeito da coleta de dados.

“O Facebook não é nem nunca foi parte de nenhum programa para dar aos EUA ou a qualquer governo acesso direto aos nossos servidores.”

ço civil, se transformou em um espaço militarizado. Mas todos nós a utilizamos para nos comunicar uns com os outros, com nossa família, com o núcleo mais íntimo de nossa vida privada. então, na prática, nossa vida privada entrou em uma zona militarizada. É como ter um soldado embaixo da cama”. Obviamente, cada cidadão deve ficar preocupado ao saber que todo o rastro de seu histórico na internet está em poder de algum organismo de segurança. Mas se levarmos em conta que os dados de cada um, somados, representam informações de toda uma nação, a situação ganha dimensões catastróficas. em seu prefácio especial para a América Latina, Assange toca nesse ponto e alerta para a ameaça que a vigilância norte-americana pode represen-

tar para a região, já que a grande maioria do tráfego que entra e sai da América do Sul passa por linhas de fibra óptica que cruzam fisicamente as fronteiras dos eUA. “A vigilância de uma população inteira por uma potência estrangeira ameaça a soberania. O governo norte-americano tem violado sem escrúpulos as suas próprias leis para espionar seus cidadãos. e não há nenhuma lei contra espionar cidadãos estrangeiros.” Diariamente, acusa Assange, centenas de milhões de mensagens saídas de todo o continente latino-americano seriam devoradas por órgãos de espionagem norte-americanos e armazenadas em depósitos gigantescos. em resumo, o livro mostra como a internet, sempre tida como a grande ferramenta de

Mark Zuckerberg, fundador e presidente do Facebook.

Sem fronteiraS Serviço de espionagem britânico obteve acesso a sistema americano

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Londres

Agência Estado

O Reino Unido tem compilado, secretamente, dados de comunicações de gigantes da internet dos estados Unidos com a ajuda da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana, segundo o jornal The Guardian. O diário afirma ter documentos que mostram como o serviço de inteligência britânico (GCHQ) teve acesso ao sistema norte-americano de escutas Prism a partir de junho de 2010, acrescentando que os dados geraram cerca de 200 relatórios de inteligência no último ano. O GCHQ recusou-se ontem a comentar sobre o assunto, limitando-se a assegurar apenas que leva suas obrigações legais “muito a sério”. O Guardian informa que as provas do envolvimento do GCHQ vieram da mesma apresentação de 41 páginas de Powerpoint que foi a fonte das matérias publicadas tanto pelo jornal britânico quanto pelo Washington Post sobre o Prism, um programa de espionagem até então desconhecido usado para coletar e-mails, áudio, vídeo e outros dados de grandes empresas de internet como Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, YouTube e Apple. enquanto o Prism tem como alvo, em tese, dados de estrangeiros em solo estrangeiro, o Post noticiou que os espiões precisavam simplesmente acreditar que havia mais do que uma pequena chance de o alvo ser estrangeiro antes de começar a colher seus dados. O jornal também citou um material de treinamento que diz que espionar os norte-americanos inadvertidamente “não é algo com o que se preocupar”. Não está claro se as autoridades britânicas serão alvo das mesmas restrições no que diz respeito a seus próprios cidadãos.

Livro Um soldado embaixo da sua cama

“Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado.”

Eduardo Aguiar

A admissão do presidente Obama confirma oficialmente o que Julian Assange, fundador e conselheiro do WikiLeaks – o site que ficou famoso ao expor segredos por trás de guerras e acordos entre nações, principalmente os estados Unidos –, já denunciava no livro, Cyberphunks – Liberdade e o Futuro da Internet, lançado no começo do ano. escrita durante seu exílio político na embaixada do equador no Reino Unido, a obra traz conversas do autor com outros ativistas nas quais debatem temas como, justamente, o acesso das informações pessoais de usuários da internet por

Trecho do livro Cyberphunks, de Julian Assange.

parte de governos e grandes corporações. entre outras coisas, ele afirma que o Facebook, por exemplo, tem cerca tem 800 MB de informações guardadas sobre cada um de seus usuários cadastrados.

ele detalha: “Quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espa-

emancipação e de liberdade de expressão, está sendo transformada rapidamente em instrumento antagônico, de controle, a serviço do poder político e econômico. Se as previsões de Assange e seus cypherpunks pareciam ser bastante exageradas, a admissão do governo americano mostra que na verdade elas estão mais próximas da realidade do que poderíamos supor. Resta saber agora como o mundo vai reagir. As pessoas, se continuarão dispostas a conviver com um soldado sob a cama. e os governos, se permanecerão inertes ao ver que todas as informações de sua população estão indo parar nas mãos de órgãos estrangeiros. Ao ver, enfim, sua soberania ir para o espaço.


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GAZETA DO POVO sexta-feira, 7 de junho de 2013

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Revolta tuRca

Primeiro-ministro da turquia diz que não vai ceder a manifestantes

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Mundo

❚❚Página 24

“Big BRotheR”

EUA monitoram telefones e contas na internet de indivíduos e empresas Rick Wilking/Reuters

Prática de compilação em massa de registros telefônicos e eletrônicos iniciada por Bush foi mantida por obama

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Loja da Verizon, empresa telefônica que foi obrigada a fornecer dados de usuários aos serviços de segurança dos EUA.

Washington Agência O Globo

❚❚Crítico das práticas adotadas pela gestão de George W. Bush na guerra ao terror após os atentados do 11 de Setembro, o presidente dos EUA, Barack Obama, manteve um controverso programa de monitoramento e compilação em massa de registros telefônicos e eletrônicos de indivíduos e empresas dentro do país, independentemente de pairarem suspeitas sobre eles. Ultrassecreta, sob o comando da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), a operação foi revelada pelo jornal britânico The Guardian na noite de ontem. A edição online do periódico publicou a cópia de uma ordem secreta da Corte de Vigilância e Inteligência Externa que obrigou, em 25 de abril deste ano, a operadora de telecomunicação Verizon a repassar diariamente ao FBI (po“Trata-se de um lícia federal) os programa no qual registros telefôum número não nicos de todos os especificado de milhões de clienpessoas inocentes tes da sua divisão é colocado sob o controle permanente corporativa. A ordem expira dia 19 de agentes do de julho. governo.” No f i m do dia, o jornal The Jameel Jaffer, vice-diretor Washington Post da União Americana pelas afirmou que o liberdades Civis (AClU). programa não está restrito a chamadas telefônicas. Fontes informaram ao jornal que o FBI e a NSA têm acesso à base de dados de nove empresas de tecnologia sob a operação Prism — Google, Apple, Microsoft, Facebook, Yahoo, AOL, Skype, YouTube e PalTalk. São coletadas informações brutas de uso de internet, desde troca de “e-mails” (mensagens eletrônicas, em inglês) até chamadas de voz online, passando por fotos, vídeos, documentos anexos e localização das conexões. Google, Apple e Facebook negaram ter conhecimento

da ferramento. A notícia da ampla busca de informações sem alvo certo acentuou as críticas de organizações civis, jornalistas e políticos de que Obama, apesar de seus discursos, tem privilegiado a segurança nacional em detrimento das liberdades e direitos civis na política de contraterrorismo. Ele chancela, desta forma, o Estado de vigilância excessiva, em sigilo, com regras e interpretações legais que não são de conhecimento público, e sem prestação de contas, o que ele criticara antes de assumir a Presidência. Pelo programa, o FBI conduz as investigações, mas cabe à NSA, órgão de espionagem, a análise dos dados. Assinada pelo juiz Roger Vinson, a ordem à Verizon obriga a entrega dos números de origem e destino de chamadas fixas e de celulares provenientes dos EUA, o tempo de duração e a localização de quem ligou e atendeu, além de dados técnicos de identificação de ligações. A Verizon administra 100 milhões de linhas. Dados pessoais — nome, endereço, histórico das contas — e o conteúdo das conversas são preservados. Mas, com os registros, a NSA tem capacidade de identificar usuários. O juiz não explica o motivo da ordem e em qual investigação se encaixa. E proíbe a Verizon de comentar a operação.

Justificativa Programa foi criado em 2006 para “garimpar” grupos terroristas o polêmico programa de monitoramento foi criado em segredo em 2006 com o objetivo de amealhar o maior número possível de registros de comunicação nos eua. segundo o governo, a intenção é, como num quebra-cabeças, garimpar atividades anormais, definir padrões de comportamento e de linguagem e estabelecer a rede de contatos de indivíduos e empresas, de forma a descobrir as associações de suspeitos de li-

gações com grupos de terroristas e sua forma de atuação, para desmantelá-los e prevenir ataques. dentro desta ofensiva, a Prism foi instituída em 2007 e desde então ampliada, tendo se tornado a principal ferramenta de trabalho da nsa no monitoramento de atividades terroristas, segundo o The Washington Post. a agência nacional de segurança (nsa, na sigla em inglês), tem acesso aos centros de processamento das companhias, que por sua vez conhecem a iniciativa e estão obrigadas por lei a participar.

grupos civis condenam ação do governo ❚ ❚

Washington Folhapress

❚❚A revelação da operação de monitoramento em grande escala das comunicações telefônicas e por internet de milhares de cidadãos, realizadas pelo governo dos EUA, provocou reações de grupos de defesa dos direitos civisa e de respeito à privacidade. “Trata-se de um programa no qual um número não especificado de pessoas inocentes é colocado sob o controle permanente de agentes do governo”, disse Jameel Jaffer, vice-diretor da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU). “É uma prova de até que ponto os direitos democráticos fundamentais são secretamente submetidos às exigências de agências de inteligência sem controle”, acrescentou. “Agora que este controle anticonstitucional foi revelado, o governo deve acabar com ele e informar sobre seu alcance real”, disse Michelle Richardson, do escritório legislativo da ACLU em Washington. “O Congresso também deve fazer uma profunda investigação”, acrescentou. A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também condenou a ação do governo. Segundo a ONG, que cobrou uma investigação por parte do Congresso americano, trata-se de uma falta de respeito grave à liberdade da informação. O ex-vice-presidente democrata Al Gore descreveu a prática como “obscenamente ultrajante”. Já o senador de Oregon, Jeff Merkley – também democrata – disse que a ação elevava com intensidade as preocupações uma vigilância exagerada do governo. “Este tipo de coleta de dados sigilosos em massa é uma violação escandalosa da vida privada dos americanos”, disse Merkley.

tirando dúvidas O jornal The Washington Post organizou uma lista de perguntas e respostas para explicar o documento publicado pelo The Guardian e esclarecer o escândalo de captação de informações pessoais. O governo está ouvindo todas as minhas ligações telefônicas?

>>>>

não. de acordo com o documento obtido pelo The Guardian, apenas números – como telefones digitados e horário das ligações – foram coletados, não o áudio. Mas é possível que a agência nacional de segurança (nsa, na sigla em inglês) tenha outros programas que façam isso.

O governo pode coletar informações sem um mandado judicial?

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É difícil saber, já que os detalhes são secretos. Mas grupos que lutam pelas liberdades civis argumentam que o executivo abusa do poder que tem e vai contra a Quarta emenda – que regulamenta as apreensões.

Por que a NSA quer tantas informações?

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a agência está provavelmente usando um software para procurar informações que indiquem atividades terroristas. a ideia é que a nsa consiga construir um perfil do “terrorista típico” com esses dados e, assim, localize quem se encaixa nesse perfil.

Isso soa um pouco paranoico. Os oficiais do governo realmente fariam isso?

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há exemplos na história dos estados unidos em que houve abuso do poder de fiscalização. o mais famoso é o que causou a renúncia do presidente richard nixon em 1974.

O que vem depois?

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a descoberta reaqueceu o debate, mas não dá para saber se o Congresso mudará as leis, já que senadores poderosos defendem o programa da nsa. o que é certo é que o governo de obama vai investigar quem vazou o documento ao The Guardian. Reprodução

Reprodução de slides com detalhes sobre o programa que capta informações pessoais dos cidadãos. A Inteligência dos EUA pode ter acesso a servidores de nove companhias da Internet.


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Mundo

GAZETA DO POVO sexta-feira, 7 de JUNHO de 2013

>>>> turquia

Premiê mantém reforma de “parque da discórdia” Reação EUA criticam Erdogan por chamar manifestantes de terroristas

AncArA Folhapress

❚❚O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ontem que manterá os planos de reforma do parque Gezi – estopim dos protestos que enfrenta há uma semana –, em Istambul, e criticou a tática de manifestantes de “queimar e destruir”. Em visita à Tunísia, Erdogan disse nutrir “respeito e amor” pelos que protestam por questões ambientais, mas voltou a afirmar que há o envolvimento de grupos terroristas nas manifestações. “Se você disser: ‘Vou promover uma reunião e queimar e destruir’, não vamos permitir isso”, disse, após reunião com seu homólogo tunisiano, Ali Laarayedh. “Somos contra que a maioria domine a minoria, e não podemos tolerar o contrário.” Diante das declarações de Erdogan, os manifestantes decidiram permanecer na Praça Taksim, que faz parte do complexo do parque. A reação da Bolsa de Istambul também foi imediata: houve queda de 4,7% ontem, enquanto a lira turca caiu e chegou a 1,89 diante do dólar norte-americano.

Manifestante no Parque Gezi, origem dos protestos em Istambul.

Ontem, um policial morreu após ser gravemente ferido durante protestos na cidade de Adana, no sul do país. Ele é o terceiro morto desde o início dos confrontos entre manifestantes e policiais, na última sexta-feira. Cerca de 4,3 mil pessoas ficaram feridas. A visita de Erdogan à Tunísia foi marcada por

protestos. Veículos blindados apoiados pela tropa de choque da polícia cercaram a embaixada da Turquia e mantiveram cerca de cem manifestantes a distância. Outro protesto reuniu dezenas de pessoas que se agruparam na frente da Câmara de Comércio antes de uma reunião entre Erdogan e empresários tunisianos.

>>>> Oriente MédiO

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❚❚Após o confronto entre rebeldes e o Exército sírio na região de Kuneitra, o governo austríaco decidiu retirar seus 377 soldados do local, o que representa uma baixa de 42% no contingente da ONU. As Colinas de Golã são um território sírio ocupado por Israel desde 1967. Para os israelenses, a saída austríaca compromete a operação na região. “Reconhecemos a contribuição da Áustria para a paz, mas lamentamos a decisão e esperamos que não resulte em escalada da violência”, disse a chancelaria de Israel. O líder da rede Al-Qaeda, Ahman al-Zawahri, disse para os sírios se unirem contra Assad e impedir o que ele chamou de “criação de um Estado-fantoche” dos EUA.

Agressão de skinheads mata militante em Paris

❚❚Um militante de um partido

de extrema-esquerda morreu após ser agredido por skinheads durante uma briga em Paris. Clément Méric, 19, era integrante do grupo ação antifascista, vertente do Partido de

O papa é pOp Um fiel que estava na multidão da Praça são Pedro, no Vaticano, jogou um terço missionário em direção ao Papa francisco, que o pegou no ar para a surpresa da multidão que acompanhava o pontífice. ao longo do percurso, ele também vestiu um gorro verde da diocese de Macerata, na itália, e acendeu uma “tocha da paz” – que será levada em uma peregrinação que percorrerá uma distância de mais de 24 km em aproximadamente 5 h, saindo de Macerata e indo em direção ao santuário da santa Casa de Loreto.

Uruguai quer comercializar maconha nas farmácias

Tel Aviv Folhapress e Agência Estado

ViOlência

a diplomacia americana pediu ontem aos líderes turcos que evitem expressões “inúteis” depois de o primeiro-ministro da turquia, recep tayyip erdogan, ter relacionado alguns manifestantes que participam dos protestos contra seu governo ao terrorismo. esta foi a quinta vez, em uma semana, que o governo de Washington reagiu à situação na turquia, país aliado dos estados Unidos. “Continuamos apoiando os indivíduos que se manifestam pacificamente e exercem sua liberdade de expressão e estimulamos as autoridades a evitar qualquer retórica inútil, qualquer comentário que não contribua para apaziguar a situação na turquia”, declarou a porta-voz do departamento de estado, Jen Psaki. a porta-voz foi consultada sobre as declarações de erdogan em túnis ontem, quando o premier denunciou a presença de “extremistas” na manifestação, alguns “envolvidos com o terrorismo”. O governo de ancara acusa o grupo de extrema esquerda dHKP-C (frente revolucionária de Libertação do Povo), que assumiu a autoria de um atentado contra a embaixada americana, em fevereiro passado. Nesta semana, o secretário de estado dos eUa, John Kerry, expressou sua “preocupação” com as manifestações e com a violenta repressão policial.

>>>> pOlêMica

Áustria retira soldados das Colinas de Golã

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Fotos: EFE e Reuters

Stoyan Nenov/Reuters

Primeiro-ministro turco acusa envolvimento de “grupos terroristas” em manifestações

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Imagens do universo

esquerda, 4º lugar na última eleição presidencial francesa. ele estava em meio a uma briga de manifestantes e um grupo de skinheads da Juventudes Nacionalistas revolucionárias, de extrema-direita. O ato foi condenado por toda a classe política francesa. O presidente françois Hollande afirmou ter dado “as

instruções mais firmes para que os autores desse ato odioso possam ser detidos o mais breve possível”. O líder da direitista UMP, Jeanfrançois Copé, falou de uma “agressão bárbara”. O Partido Comunista e a frente de esquerda também se manifestaram, chamando a agressão de “homicídio político”.

MonTevidéu Agência Estado

❚❚O bloco parlamentar da Frente Ampla, a coalizão do governo do presidente José Mujica, do Uruguai, chegou a um consenso sobre o projeto para a legalização da produção e comercialização da maconha no país. O acordo entre os parlamentares implica a venda de maconha nas farmácias de todo o país. O plano original previa uma produção em fazendas estatais e a distribuição em quiosques controlados pelo Estado uruguaio. Mas o governo passou longos meses até elaborar um projeto de consenso dentro da coalizão Frente Ampla. As farmácias estão pressionando para ficar com a distribuição, alegando que constituem os profissionais mais idôneos para a tarefa. O setor também admite que a comercialização da droga poderá salvar as farmácias uruguaias da crise econômica. O governo, depois de um ano de delongas, agora sustenta que quer aprovar o projeto de lei nos próximos seis meses.

adeuS À Sereia a atriz esther Williams, conhecida como “a sereia de Hollywood”, morreu aos 91 anos. a protagonista de clássicos como “a rainha do mar”, “a bela ditadora” e “a filha de Netuno” foi uma das grandes estrelas dos estúdios MGM.


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GAZETA DO POVO QUINTA-fEIrA, 6 dE JUNHO dE 2013

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Chuva

Enchentes causam mortes e destruição em países do centro da Europa

mundo@gazetadopovo.com.br

Mundo

❚❚Página 7

>>>> Conflito

Manifestantes pressionam por saída de chefes da polícia na Turquia Umit Bektas/Reuters

Apoiados por centrais sindicais, ativistas entregam lista de exigências ao governo do primeiro-ministro Erdogan

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Istambul Agência Estado e Folhapress

❚❚Líderes da onda de protestos na Turquia iniciaram negociações com o governo que podem pôr um fim nas manifestações que estão levando milhares de pessoas às ruas do país desde a última sexta-feira. Em reunião com o vice-premiê do país, Bülent Arinç, o grupo de manifestantes pediu a demissão de chefes de polícia das cidades onde houve violência contra quem estava protestando. O grupo condenou o “vexatório” estilo do primeiro-ministro Erdogan e pediu que o governo interrompa o projeto na Praça Taksim, proíba o uso de gás lacrimogêneo pela polícia e liberte todos os manifestantes presos, além de eliminar todas as restrições de liberdade de expressão e reunião. A Associação também quer que funcionários do governo – dentre eles, governadores e graduados policiais – responsáveis pela violenta repressão sejam demitidos e que as autoridades façam um pedido de desculpas formal.

Centrais sindicais Os manifestantes ganharam ontem a adesão dos sindicatos turcos à causa, que declararam greve de dois dias. “Nós viemos mostrar que também somos contra o autoritarismo do governo”, disse a farmacêutica Ferda Firncl. A paralisação foi convocada pela Confederação dos Sindicatos de Trabalhadores

>>>> ConsErvadorEs

Aliados do regime dominam eleição no Irã

Manifestantes exigem o fim do projeto de reforma do Parque Gezi, em Istambul, e da truculência policial

Da Redação, com agências

❚❚As eleições do próximo dia 14 no Irã serão dominadas por candidatos ligados ao regime. Nomes que desagradavam os mais conservadores não passaram pelo crivo do Conselho de Guardiães. O ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani (esq) e Esfandiar Rahim Mashaie, aliado próximo do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad, tiveram as candidaturas vetadas. A decisão do poderoso Conselho de Guardiães, que aprova ou rejeita presidenciáveis no Irã, abriu caminho para que políticos do círculo de confiança do aiatolá Ali Khamenei sucedam Ahmadinejad, que não pode

Osman Orsal/Reuters

Mais dE

3 Mil pessoas ficaram feridas desde o início dos conflitos entre manifestantes e a polícia na semana passada. Três pessoas morreram e 25 foram presas por incitar protestos no Twitter.

Públicos (KESK), a Confederação dos Sindicatos Revolucionários de Trabalhadores (DISK), A Associação de Médicos da Turquia (TTB) e a Associação de Engenheiros e Arquitetos (TMMOB). Confrontos Grandes contingentes policiais voltaram a enfrentar manifestantes nas cidades de Ancara, Istambul, Tunceli e

mais se reeleger. Entre os oito candidatos aprovados estão Said Jalili, chefe negociador para a questão nuclear, o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, o ex-prefeito de Teerã Mohamed Qalibaf, e o ex-presidente do Parlamento Gholam-Ali Haddad, todas figuras conservadoras e de comprovada lealdade ao aiatolá Khamenei, líder supremo do país. No país, já era esperado o veto às candidaturas reformistas. Presidente entre 1989 e 1997, Rafsanjani era apoiado por críticos do governo e foi um dos líderes que apoiaram as manifestações realizadas após a controversa reeleição Ahmadinejad, há quatro anos. Na ocasião, milhares de pessoas, convocadas por várias forças da oposição, organizaram protestos contra o governo. Ao excluir os dois candidatos, o regime dos aiatolás tenta silenciar as principais forças moderadas e opositoras e evitar uma repetição dos protestos de 2009.

Hatay. Nessa, na fronteira com a Síria, uma manifestação realizada após o funeral de um jovem que havia morrido por causa do impacto de uma granada de gás lacrimogêneo foi dispersa pela polícia com jatos de água e mais bombas de gás. Em Istambul, a Praça Taksim e seus arredores seguiam em um ambiente tranquilo, mas, após a meia-noite local, a polícia voltou a lançar grandes quantidades de gás lacrimogêneo contra mais de mil de pessoas sentadas em uma área verde próxima ao Bósforo. “Todos os dias, atendemos feridos por balas de borracha, embora a maioria dos pacientes seja pela inalação de gás, pelo impacto das granadas ou por teren sido pisoteado durante os confrontos”, explicou um voluntário no improvisado centro médico da Praça Taksim.

Atacada por gás, mulher vira símbolo A foto de uma mulher no momento em que ela é atacada com gás lacrimogêneo disparado por um policial – pos-

tada nas redes sociais – provocou revolta entre os manifestantes turcos. A arma química não letal é disparada pelo agente em direção à jovem, que trajava um vestido vermelho e levava uma bolsa branca (cores da bandeira da Turquia). Ela vira para ten-

tar se proteger, mas é atingida pelo gás. Para alguns ativistas, a imagem representa a violência usada pela polícia turca na repressão aos protestos. Veja mais em: http:// turkishpolicebrutality.tumblr. com e http://www.facebook. com/OccupyGezi

Os cOncOrrentes Sete dos oito candidatos à Presidência do Irã são governistas.

Mehdi Dehghan/EFE

Said Jalili

Gholam Adel

Mohsen Rezai

Hassan Rouhani

48 anos, negociador do programa nuclear do Irã (governista)

68 anos, ex- presidente da Assembleia Consultiva Islâmica (governista)

59 anos, do Conselho de discernimento (governista)

65 anos, ex-secretário do Conselho Nacional Supremo de Segurança (governista)

Mohammed Aref

Mohammed Qarazi

Mohammed Qalibaf

Ali Akbar Velayati

62 anos, ex-vice-presidente (reformista)

72 anos, ex-ministro das Telecomunicações (governista)

52 anos, prefeito da capital Teerã (governista)

68 anos, ex-chanceler governista)


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www.gazetadopovo.com.br/mundo Editor EXECUtiVo: RHODRIGO DEDA Editor rEsponsáVEl: CÉLIO MARTINS

GAZETA DO POVO Domingo, 9 De junho De 2013

violação de privacidade

empresas de tecnologia cederam à pressão do governo dos eUa para obter dados de usuários

mundo@gazetadopovo.com.br

Mundo

❚❚Página 25

>>>> análise

A Turquia democrática resiste Com mais de 4 mil feridos e 3 mortos, manifestantes turcos mostram ao mundo que não querem abrir mão de direitos conquistados há 90 anos

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Da Redação, com Thomas Rieger, especial para a Gazeta do Povo

❚❚Em meio às manifestações que ficaram conhecidas como “Primavera Árabe” e destronaram ditadores que detinham o poder há décadas em países da África e do Oriente Médio, a Turquia era vista como uma ilha de tranquilidade e de prosperidade econômica no mundo muçulmano. Candidato à entrada na União Europeia desde 1987, o “mais europeu dos países islâmicos” é governado desde 2002 pelo primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan – elogiado por governos ocidentais – e não dava sinais de atrito entre o povo e o partido governista, o Justiça e Desenvolvimento (AKP). Esse quadro se mostrou equivocado desde a semana passada. A brutalidade da polícia ao tentar expulsar manifestantes que queriam impedir a destruição de um parque para a instalação de um shopping em Istambul, cidade mais populosa da Turquia, serviu de estopim para que a população fosse às ruas das principais cidades do país gritando palavras de ordem contra o premiê, que vem adotando medidas que visam à islamização do país, como a proibição da comercialização do álcool. O que ocorre hoje na Turquia, para o cientista político e mestre em cultura política turca Daniel

Modelo político turco começou nos anos 1920

❚❚A República da Turquia surgiu com a abolição do Império Otomano na década de 1920. O primeiro presidente, Mustafá Kemal Atatürk – sobrenome que significa “o pai dos turcos” – empreendeu uma série de medidas para ocidentalizar o país e torná-lo mais moderno. “Todos os símbolos islâmicos foram banidos e as mulheres ganharam direito de voto, tornando a Turquia pioneira na busca por igualdade de direitos de gênero”, explica o mestre em cultura política turca Daniel Dall’Agnol. Além de reformas no sistema educacional, da adoção do alfabeto com grafia latina e do estabelecimento de sobrenomes para a população – antes, as pessoas não tinham nomes de família –, Atatürk foi o responsável pela separação entre Estado e Igreja pela qual os manifestantes con-

Fernando Schatzmann

Dall’Agnol, não é uma primavera, mas uma luta pela manutenção de valores democráticos. “Enquanto os países árabes lutaram para sair de uma ditadura islâmica, os turcos batalham para não se tornarem uma. Eles conhecem a democracia ocidental desde 1923 e não querem retroceder”, conta.

EntrEvista Daniel Dall’agnol, cientista político e mestre em Cultura Política turca pela universidade de Yeditepe

Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Mudanças Mesmo com a intensa mobilização – que já conta com apoio das centrais sindicais –, é improvável que os turcos obtenham resultados a curto prazo. A saída de Erdogan do poder, por exemplo, é difícil de ocorrer. “O primeiro-ministro precisaria receber um voto de desconfiança de todo o parlamento, mas esse é formado por seus correligionários”, explica o professor de Relações Internacionais do Unicuritiba, George Sturaro. “Acredito que a população vai acabar se dividindo entre quem o apoia e quem discorda dele. De qualquer modo, a imagem do partido fica desgastada”, completa Dall’Agnol. Mesmo com a permanência do premiê no poder, entretanto, há uma possibilidade de os manifestantes conseguirem um resultado positivo. Os países da União Europeia têm uma “democracia liberal autêntica”, com liberdades civis e políticas, enquanto a Turquia vive apenas uma “semidemocracia”. “Se a população conseguir frear a islamização, as chances de entrar no bloco europeu aumentam”, justifica Sturaro.

“Os turcos estão habituados a revoluções em seu país”

❚ ❚

Por mais que a maioria dos brasileiros acredite que a Turquia faça parte do bloco de países do oriente médio, o cientista político Daniel Dall’Agnol, que morou lá em 2004, acredita que o país é essencialmente ocidental – o que legitima as manifestações que o povo turco vem promovendo desde a semana passada.

Por que você acredita que a Turquia é mais ocidental que oriental? os turcos defendem valores similares aos dos países do ocidente, como a democracia e o estado laico. Ao longo da história, sempre que a manutenção de princípios como esses foi ameaçada, o povo foi às ruas para se manifestar. Tanto que aconteceram três golpes militares (em 1960, 1971 e 1980) que tiveram como objetivo restabelecer a ordem no país e preservar esses ideais e receberam o respaldo da população.

1923

foi ano em que a Turquia se tornou uma democracia. Desde 1987, o país é candidato a ingressar no bloco europeu.

UCRÂNIA

Istambul

Se a população frear a islamização, as chances de entrar na União Europeia aumentam.

Os pErsOnagEns

ONDE FICA

A Gazeta do Povo conversou com três manifestantes que estão participando dos protestos e, segundo eles, lutando para conseguir manter a democracia no país.

Mar Negro Ancara

TURQUIA Mar Mediterrâneo 300 km

SÍRIA

IRAQUE

JORDÂNIA

Capital

Ancara

Cidade mais populosa

Istambul

População

75.627.384

PIB per capita

US$ 15.340

IDH

0,722 (elevado)

Modelo de governo

República parlamentarista

temporâneos lutam. “A postura do primeiro-ministro Erdogan vai contra os princípios democráticos defendidos por Atatürk, que é extremamente adorado na Turquia até hoje”, avalia Dall’Agnol. O partido do “pai dos turcos”, o Partido Republicano do Povo (CHP), nunca mais conseguiu chegar ao poder, o que ficou ainda mais distante a partir de 2001, com a criação do islâmico Justiça e Desenvolvimento (AKP) de Erdogan, principal partido da Turquia atualmente.

Da Redação, com Thomas Rieger, especial para a Gazeta do Povo

“Os policiais estão cobrindo os capacetes com rótulos de garrafas de água para que ninguém consiga identificá-los.”

“A mídia tradicional não mostra o que está acontecendo. Só conseguimos compartilhar nossa voz por meio da mídia social.”

“O primeiro-ministro se comporta como se fosse um sultão. Ele nunca se importa com o público e simplesmente faz o que quer.”

V.S.G., professora, 32 anos

Eda Ildam, especialista em marketing digital, 28 anos

G.U., Desenvolvedora de negócios e marketing, 31 anos

“É muita violência por nada”, explica a professora que prefere não ser identificada. moradora de istambul, onde começou a onda de protestos, ela aponta, em detalhes, exemplos da brutalidade policial. “os policiais jogaram bombas de gás lacrimogêneo de helicópteros e começaram a atirar contra sacadas durante o dia”, conta. Além de ir às ruas, ela adicionou as letras “TC” a seu nome no Facebook, representando apoio a “Türkiye Cumhuriyeti”, que significa “República da Turquia” na língua do país.

Vinda de istambul, mas moradora de Ancara, a especialista em marketing digital eda ildam enfatiza a importância da internet nos protestos em seu país. “Criamos hashtags como #occupygezi e #direngezi para mostrar nosso apoio e também desenvolvemos métodos para informar quando há alguma situação crítica”, comenta. Segundo eda, grande parte do povo turco está colaborando. “Quando cortaram o 3g da praça Taksim, os moradores da região nos deram as senhas do wi-fi. Se uma pessoa cai, 10 a ajudam.”

o governo de erdogan não está respeitando o povo da Turquia. É assim que a desenvolvedora de negócios e marketing g.u., que não quer revelar seu nome por medo, avalia a situação de seu país. “mesmo depois que os manifestantes disseram que queriam paz, a polícia nos atacou. Vivíamos pacificamente, mas as coisas mudaram. erdogan é um valentão.” ela, que já morou no Brasil, diz que, se a Turquia se tornar um país islâmico como a Arábia Saudita, ela e sua família irão embora. “nós temos medo”, diz.

É possível dizer que os turcos estão habituados a revoluções? Sim. Fazia tempo que uma não acontecia, mas isso não é novidade.

Se eles prezam tanto valores ocidentais, como permitiram que o governo de Erdogan chegasse a um terceiro mandato? A Turquia sempre lutou para sobreviver às crises econômicas. A partir dos anos 2000, movimentos populistas começaram a ganhar popularidade com discursos que defendiam a prosperidade econômica – o que é o caso do justiça e Desenvolvimento (AKP), partido do erdogan. Ao ser eleito, em 2002, ele conseguiu inaugurar uma década de advento econômico que içou o país ao que ele é hoje. mas, com o tempo, ele começou a usar o apoio que conquistou para legitimar seus atos.

Há a possibilidade de o Exército instaurar um novo golpe, como fez antes? Acho difícil, porque o erdogan, sabendo da história turca, tomou precauções e prendeu muitos líderes militares.


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GAZETA DO POVO terça-feira, 28 de maio de 2013

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Mundo

>>>>

Conflito árabe

Países da União europeia estão livres para fornecer armas aos rebeldes sírios ❚❚Página 24 Marcos Brindicci/Reuters

Crise

Governo e Judiciário argentinos entram em “choque” Ponto de discórdia é a lei que determina a escolha dos integrantes do Conselho da magistratura por voto popular

❚ ❚

Buenos aires Agência Estado

❚❚O governo argentino de Cristina Kirchner promulgou ontem a polêmica lei que reforma o Conselho da Magistratura, organismo responsável pela nomeação e destituição de juízes. O número de integrantes foi ampliado de 13 para 19 representantes de advogados, juízes e acadêmicos, os quais passam a ser escolhidos pelo voto popular. Antes, eles eram indicados pelas associações representantes de cada categoria. A mudança abriu uma guerra entre o Executivo e o Judiciário, que deve acirrar-se a partir de agora, com as primeiras ações cautelares contra a reforma. “Não é possível que levem adiante um processo que não está previsto na Constituição, que é a única com poder para prever a forma de escolha dos integrantes do Conselho”, afirmou o presidente da Associação de Magistrados, Luis María Cabral. A associação, o Colégio de Advogados (equivalentes à Ordem dos Advogados) e o partido opositor União Cívica Radical (UCR) entraram com medidas cautelares contra a reforma. A promulgação da reforma foi acompanhada pela convo-

cação das eleições dos conselheiros junto com as eleições parlamentares que serão realizadas no dia 27 de outubro próximo. Previamente, os candidatos serão selecionados em eleições primárias obrigatórias, abertas e simultâneas às dos partidos, em 11 de agosto. A reforma foi aprovada no dia 8 de maio e mereceu críticas da relatora especial sobre a independência dos magistrados e advogados da Organização das Nações Unidas (ONU), a brasileira Gabriela Knaull. Causas Cristina Kirchner argumenta que a reforma é uma “democratização da Justiça”. Porém, os opositores afirmam que o objetivo é o de reter o controle judicial, especialmente, em momentos nos quais o governo e empresários próximos são alvos de uma série de denúncias de corrupção. “É um salvo-conduto para garantir a impunidade”, classificou a deputada Elisa Carrió, da Coalizão Civica. Além de acusações de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro que salpicam a Casa Rosada, a presidente e seu secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, e os diretores do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), estão sendo acusados de supostos delitos de “associação ilícita, malversação de recursos públicos, fraude contra a Administração Púbica e crime contra a ordem econômica e financeira por sua ação na falsificação das estatísticas”.

>>>> VenezUela

Apresentador é demitido após dar espaço a opositor

❚ ❚

CaraCas Folhapress

❚❚O canal de televisão venezuelano Globovisión demitiu anteontem o apresentador Kico Bautista um dia após seu último programa dar espaço a Henrique Capriles, ex-candidato de oposição à Presidência do país. A demissão ocorre semanas após a venda do canal, que era uma das últimas emissoras que faziam oposição ao chavismo e ao atual presidente Nicolás Maduro. A notícia cau-

sou a indignação de Capriles, que acusou a tevê de não querer emitir mais seus discursos. A demissão foi informada pela jornalista Ybéyise Pacheco no Twitter – ela é casada com Bautista. Ela relacionou a saída do marido ao que chamou de “censura contra Henrique Capriles”. Um dia antes, o programa de Bautista apresentou um discurso de Capriles em Barquisimeto, no oeste venezuelano. A atividade de Capriles foi a primeira a não ser transmitida ao vivo pela Globovisión, que

Televisão Programa de denúncias tem mais audiência que clássico de futebol

❚ ❚

24,6 Pontos

foi a média de audiência do programa “Periodismo para todos”, apresentado pelo jornalista Jorge Lanata e que tem foco em denúncias de corrupção no governo argentino. o jogo entre Boca Juniors e Newell’s old Boys, transmitido pela tevê pública no mesmo horário, conseguiu apenas 16 pontos.

A presidente Cristina Kirchner diz que reforma representa a “democratização da Justiça”.

“Não é possível que levem adiante um processo que não está previsto na Constituição, que é a única com poder para prever a forma de escolha dos integrantes do Conselho.” Luis María Cabral, presidente da Associação de Magistrados.

Buenos aires

Agência O Globo

Um programa jornalístico que tem feito uma série de denúncias contra o governo dos Kirchner teve mais audiência que o principal jogo de futebol do domingo na argentina. o governo mudou o horário da partida para competir com o “Periodismo para todos”, mas o programa acabou tendo 24,6 pontos contra 16 pontos da transmissão da disputa entre Boca Juniors e o Newell’s old Boys, que passou na tevê pública. Jorge Lanata, um dos jornalistas mais prestigiados da argentina, tem gerado uma onda de críticas e simpatia por divulgar há meses indícios de supostos casos de corrupção no governo. Nas últimas semanas, o foco de seu programa tem sido funcionários, patrocinadores e empresários próximos do falecido ex-presidente Néstor Kirchner (20032007) e de sua esposa e sucessora Cristina, além de denúncias contra o próprio casal. a pedido do governo, a associação de futebol argentino (afa) mudou há alguns dias o horário da última partida do torneio local, em uma aparente medida para que o jogo coincidisse com o programa de Lanata. Com bom humor, o jornalista e outros colegas apareceram no programa vestidos com uniformes de futebol em um cenário que imitava um gramado. - Se no final do programa ganhamos em audiência da tV pública, eles (o governo) perdem sua pior disputa. Porque, se ganharmos hoje, o que vão colocar na outra emissora? o melhor é que digam a verdade - afirmou Lanata durante a transmissão, que informava aos espectadores os gols da partida, que terminou em 4 a 0 para o Newell’s. a denúncia do último domingo mostrava fotos que provariam o suposto desmantelamento de um cofre para guardar dinheiro na casa do empresário Lázaro Báez, grande amigo de Néstor Kirchner. o executivo é investigado pela Justiça por lavagem de dinheiro, após denúncias divulgadas no “Periodismo para todos”.

Miguel Gutiérrez/EFE

costumava acompanhar todas as atividades do ex-candidato. Em mensagens no Twitter, ele acusou a emissora de rejeitar aparições dele ao vivo. Citando funcionários da emissora, o opositor afirmou que a intenção da nova direção é aliar-se ao governo. “O país precisa saber dessas coisas, não podemos ser uma sociedade de cúmplices.” Ele também acusou o sócio majoritário da emissora, Raúl Gorrín, de ter enriquecido de forma ilícita, e que a venda da emissora foi uma operação feita por chavistas para diminuir a liberdade de imprensa. Venda Último canal privado de oposição do país, a Globovisión foi vendida no último dia 13 por Guillermo Zuloaga a Raúl Gorrín e outros acionistas minoritários. A venda causou dú-

Religião Desabastecimento deixa Igreja sem vinho para a Eucaristia

Jornalista Kiko Bautista perdeu emprego após venda de tevê.

vidas sobre a nova linha editorial da emissora. Na última quinta-feira também foi demitido o deputado opositor Ismael García, que participava de um programa do canal. Dissidente do chavismo, o parlamentar divulgou um áudio de um jor-

nalista aliado ao governo com um espião cubano sobre um suposto golpe contra Nicolás Maduro. A saída de García foi confirmada na sexta pela Globovisión, que até ontem não havia se pronunciado sobre a demissão de Bautista.

a igreja Católica da Venezuela informou ontem que tem dois meses de reservas de vinho usado para celebrar a eucaristia. os templos podem ficar sem a bebida devido às dificuldades enfrentadas pela única fabricante do produto no país. em comunicado, o presidente da comissão de comunicação da Conferência episcopal Venezuelana, monsenhor roberto Lucker, disse que a Bodegas Pomar, responsável pelo fornecimento, não poderá mais prover o vinho necessário para a eucaristia por ter dificuldades para conseguir insumos para sua produção.


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