Sesc 24 de Maio

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SESC 24 DE MAIO Paulo Mendes da Rocha + MMBB Arquitetos



Trabalho desenvolvido por alunos da sexta etapa do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie Amanda Peixoto Carolina Dick Ronaldo Hass Ronnie de Almeida Stefanni Matos Arquitetura no Brasil II Professores Abilio Guerra e Felipe Contier

SĂŁo Paulo, Novembro de 2017



1. INTRODUÇÃO

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2. BIOGRAFIAS

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3. CONTEXTO HISTÓRICO

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4. O PROJETO

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5. DESENHOS

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6. PARCERIA PMR + MMBB

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7. PROJETOS SIMILARES

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8. MAQUETE

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9. PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS

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10. BIBLIOGRAFIA

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1. INTRODUÇÃO “A Obra de Paulo Mendes da Rocha é, sobretudo, arquitetura: isto é, produto de uma ação subjetiva orientada para os valores universais. ” (WISNIK, Guilherme – Livro Encontros) O Sesc 24 de Maio, o mais recente projeto do renomado arquiteto, surge como uma obra reflexo desses valores universais defendidos por seu criador em um espaço territorial extremamente consolidado. Este trabalho é fruto da proposta de desenvolvimento da habilidade de análise projetual, sendo desenvolvido em três partes que consistiram, respectivamente, em: primeiro, junção e compreensão das principais informações sobre o projeto a ser estudado; segundo, produção do modelo físico do projeto visando sua concepção estrutural e, terceiro, a obra aqui apresentada, a conclusão da proposta analítica do Sesc 24 de Maio em forma de um livreto. Nesta singela composição textual, busca-se

analisar e compreender em um nível mais intelectual o desenvolvimento do Sesc 24 de Maio em sua concepção, assim como comparálo com outras obras do Mendes da Rocha, bem com outros projetos da rede Sesc. Ao longo do desenvolvimento deste livreto, serão reforçados conhecimentos adquiridos pelo estudo de diferentes fontes bibliográficas, assim como percepções próprias do grupo que, ao final, visam apresentar de uma maneira sucinta e clara o projeto em questão. O recém-inaugurado centro cultural e de lazer implantado na Rua 24 de Maio, pertencente ao movimento de retomada e requalificação do Centro da cidade de São Paulo, é fruto do processo de modernização do antigo prédio da Mesbla, fechado em 1998. Considerando o histórico do entorno imediato, a escolha do impacto que a obra exercerá torna-se a primeira e principal questão neste projeto. Assim como dito por Paulo Mendes

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em entrevista ao livro Encontros, a arquitetura deveria se dedicar a conceber obras de consolidação dos lugares. Ao transformar suas palavras em uma edificação construída, tornase possível associarmos essa preocupação de criar obras que consolidem seus territórios com o partido do projeto do Sesc, realçado em elementos como as marcantes rampas vedadas pela pele de vidro e a grande piscina na cobertura coroando a obra.




2. BIOGRAFIAS Paulo Mendes da Rocha Paulo Archias Mendes da Rocha nasceu em Vitória, Espírito Santo, no dia 25 de outubro de 1928. A família do arquiteto mudou-se para a cidade de São Paulo em 1940, onde seu pai, Paulo Menezes Mendes da Rocha, foi nomeado Presidente dos Recursos Navais e do Porto da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo entre 1943 e 1947, fato que provavelmente foi o originador da busca e curiosidade do arquiteto pelas engenhosidades existentes no mundo. Em entrevista recente (BACOCCINA, 2017), Paulo relatou seu carinho pelo centro da cidade de São Paulo, especialmente quanto as áreas mais tradicionais e mais antigas como a Rua 15 de Novembro, Rua do Comércio, Praça Patriarca e seus respectivos entornos, além de outros pontos de destaque. Sua afeição pelo centro começou desde os seus 10 anos de idade, quando estudou no Colégio São Bento, localizado no centro da cidade de São Paulo.

Seu trajeto ao colégio era muito prazeroso pois consistia em um passeio de bonde e uma caminhada pela Rua São Bento as 7h00 da manhã. “Eu vou dizer uma coisa: a vida urbana, de um modo geral, é a coisa mais livre que pode existir para um homem hoje, no mundo. É viver nas áreas centrais das cidades. Tanto que você pode dormir na rua...”. (ROCHA, Paulo) Em 1954, formou-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. Recémformado, Paulo foi trabalhar em um escritório no centro da cidade, no antigo prédio da indústria Flizola, localizada no início da Rua da Consolação, em frente à biblioteca Mário de Andrade. Posteriormente, nos anos 60, João Batista Vilanova Artigas, na liderança da reforma de ensino da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), convidou Paulo, vencedor do

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concurso para o ginásio do Clube Paulistano, para ser seu assistente no Departamento de projetos da escola, o que proporcionou uma elevação do nível de ensino da faculdade. Porém, como outros intelectuais brasileiros, em 1969, o arquiteto foi afastado de seu posto pela ditadura militar, voltando apenas em 1980 (ARTIGAS, 2016). Em 1984, com 69 anos, Vilanova Artigas prestou o concurso para professor titular, entretanto, logo veio a falecer, deixando a tarefa de formar novos arquitetos, que havia sido interrompida pela ditadura, nas mãos de seus assistentes, Paulo e Maitrejean (ARTIGAS, 2016). Através desta oportunidade, Paulo Mendes, com suas pensamentos sociais e humanistas, influenciou diversas gerações de arquitetos e artistas. O arquiteto fez vários projetos para espaços públicos, como a reforma da Pinacoteca, o centro cultural da Fiesp e o pórtico para a Praça do Patriarca. Nas últimas décadas, Paulo

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Mendes assumiu uma posição de destaque na arquitetura brasileira contemporânea, o que o levou a ganhar, em 2006, o Prêmio Pritzker – mais importante prêmio de arquitetura no mundo. O júri justificou sua vitória explicando que sua obra modifica a paisagem e o espaço, procurando atender tanto as necessidades sociais quanto estéticas do homem.

MMBB Arquitetos O MMBB, fundado em 1991 em São Paulo, é um escritório de arquitetura formado por Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga, arquitetos graduados pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) entre 1986 e 1987. Contou, entre seus sócios, com Vinicius Gorgati (1990 a 1992) e também Angelo Bucci (1996 a 2002). A partir de 2013, Fernando de Mello Franco se licenciou das atividades e responsabilidades do escritório para assumir a função de Secretário


de Desenvolvimento Urbano da cidade de S찾o Paulo. Atualmente, o escrit처rio tem parceria com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o que contribuiu para novas oportunidades de desenvolvimento de projetos de grande porte para 처rg찾os institucionais e do governo, ligados a atividades culturais e educacionais.

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3. CONTEXTO HISTÓRICO Nas últimas décadas, os locais do centro de São Paulo que foram abandonados no século passado têm sido ocupados por atividades culturais e socioeducativas, tornando-se espaços heterogêneos que se assemelham às características da cidade. A região da República tornou-se um polo de gastronomia, enquanto o entorno da Praça da Sé recebeu diversas galerias de arte e já se fala sobre processo de gentrificação. Ainda assim, a área compreendida entre a Praça da República e o Teatro Municipal, que já foi considerada um elegante centro de compras, ainda não havia recebido seu impulso de renovação, muito embora, por parte do governo, há quase 3 décadas, há investimentos na área de restauração de edificações para abrigar diversos equipamentos culturais, tentando atrair a população consumidora para a região; por parte da população, a região tem sido alvo de diversos coletivos culturais e o movimento de retomada do centro tem ganhado força. O local,

conhecido como centro novo (área entre o Vale do Anhagabaú e Praça da República e entre a rua Xavier de Toledo e a Avenida São João), aos poucos retoma o vigor que possuía entre as décadas de 1920 e 1960, quando era marcado pelo alto convívio social, sendo considerado um polo cultural. O centro novo ocupa menos de 0,5% do território da capital, mas por ele passam cerca de 700 mil pessoas diariamente. Segundo a pesquisadora Solange Ferraz de Lima, autora do ensaio Eterno Centro Novo – A História do “Lado de Lá” do Vale do Chá, o lugar é formador da cultura metropolitana, devido a atuação do setor terciário, a presença de imigrantes e migrantes e a presente arquitetura verticalizada. A região era abrigo de muitos cinemas, cineteatros, emissoras de rádio e programas musicais de auditório, além de importantes livrarias e ateliês, sendo, em sua maioria, instalados nas galerias comerciais dos edifícios

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modernos construídos na metade do século XX. Embora reduto de intelectuais e artistas, a região começou a apresentar declínio no final dos anos 1960, com a mudança da sede do governo dos Campos Elíseos para o Morumbi, além da migração de parte do setor terciário dedicado às classes média e alta para shoppings e outros espaços de entretenimento, deixando os rastros dessa mudança e abandono pelo centro. Esse declínio provocou o empobrecimento da região e o esvaziamento durante a noite, enquanto se mostra movimentada pelo comércio e serviços durante o dia. Além disso, houve o fechamento de diversos espaços culturais, o que não extinguiu os ambientes de sociabilidade, os quais foram incorporados pelas galerias, muitas localizadas na Rua 24 de Maio, que possui forte presença imigrante e jovem. Desse modo, o projeto que o local agora recebe busca atender a uma demanda existente, somando-se a uma cultura de rua característica do centro, Lima (2005).

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O projeto do Sesc 24 de Maio, inaugurado em 2017, é uma iniciativa de retomada da região, junto com outras unidades recém-inauguradas, demonstrando a necessidade de oferta de opções de lazer para a população, incentivando a pluralidade paulista. Para sua construção, o antigo prédio da Mesbla, uma loja de departamento fechada há quase 20 anos, foi requalificado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e a equipe do MMBB, de modo que os espaços internos foram transformados a partir da estrutura existente e uma nova, central, foi criada para suportar a piscina na cobertura, no local da antiga cúpula do edifício original. O objetivo era aproveitar ao máximo a construção existente do antigo edifício, mas se adequando melhor aos usos criados. Essa iniciativa demonstra como é possível respeitar arquiteturas antigas enquanto cria lugar para abrigar outros usos e suprir novas necessidades.


O prédio da Mesbla possuía uma planta em U, deixando o vão central do edifício livre para permitir a entrada da iluminação natural. O projeto de Paulo Mendes vai no caminho contrário, preenchendo o miolo com a estrutura principal e deixando a periferia para a circulação e as atividades do prédio, permitindo também que os usuários tenham uma vista da cidade e dos prédios do entorno, atualmente mal cuidados, mas repletos de história. A fachada do edifício demonstra também sua vontade em se relacionar com a vizinhança, desaparecendo no meio desta. A nova estrutura brutalista do arquiteto é mantida em concreto aparente, enquanto as partes remanescentes do antigo edifício são pintados de branco ou cinza. Alguns pontos estratégicos recebem também o rosa colonial, inspirado no casario colonial da cidade, de acordo com o autor. Para ele, as outras cores devem ser fruto da ação dos usuários.

O edifício, agora, segue uma lógica de passeio público e também de convivência para os cidadãos em uma espécie de praça coberta, como se observa na transversal que se abre pelo térreo entre as duas ruas que delimitam o terreno. Essa praça se repete também em outros pavimentos sem vedação, como o Jardim da Piscina. O Sesc abre-se, então, para os diversos povos que se abrigam na cidade. Indo na contramão do urbanismo vigente até então, pretende-se concentrar as atividades necessárias para o cidadão em um único local, ao invés de espacializá-los pelos bairros, permitindo a criação de um espaço que de fato permita e incentive a convivência.

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4. O PROJETO Há poucos metros de importantes edifícios como o Teatro Muncipal, a Praça das Artes e a Galeria do Rock, o Sesc 24 de Maio é o mais novo equipamento de uso público no centro histórico de São Paulo. Concebido por Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório MMBB Arquitetos, o projeto de reforma e ampliação do edifício começou a ser desenvolvido em meados de 2001, quando as instalações da antiga loja de departamentos Mesbla, famosa na década de 70, foram adquiridas e passaram, então, a fazer parte de uma nova proposta de ocupação para a área central. Segundo o arquiteto, “[A ocupação] é indispensável para a cidade – ninguém vai demolir tudo para construir do zero um empreendimento como esse”. Hoje, cerca de 5 mil pessoas visitam diariamente as instalações da nova unidade inaugurada há pouco mais de um mês, e que conta com atividades programadas para os cerca de 28 mil

m2 de área contruída, distribuídas ao longo de 14 andares. Inserido no cruzamento das ruas Dom José de Barros e 24 de Maio, o prédio atrai o olhar de quem passa por ali. A pele de vidro, presente nas fachadas, reflete o entorno imediato e, como em um grande painel espelhado, revela as misturas que compõe esse universo chamado cidade. Além disso, o revestimento translúcido garante a passagem de luz para o interior do edifício e ainda permite que os usuários assistam a vida que acontece do lado de fora. O passeio pela nova unidade do Sesc se inicia no pavimento térreo, onde, por meio de um atalho que liga as duas ruas circundantes, convida os pedestres a adentrarem o edifício. Desde então, o público pode descer, por meio da escada ou um dos cinco elevadores, para assistir a uma apresentação no teatro com capacidade para 245 pessoas, e ainda fazer um lanche no café ao lado; ou então caminhar até

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os pavimentos superiores através das rampas protegidas por uma cortina de vidro desenhada pela estrutura metálica que a sustenta. As rampas não só transpõem e ligam os espaços, mas adquirem caráter de um novo elemento de estar, assumindo assim um protagonismo inquestionável. “Queremos que aqui seja uma extensão da rua, que promova um ritmo de passeio pela cidade”, cita o arquiteto. Ainda no térreo, cuja esquina é chanfrada (dialogando com o precedente), encontram-se o balcão de atendimento, áreas técnicas, e é possível notar a presença de parte dos pilares da estrutura preexistente e as 4 grandes colunas erguidas para sustenar a piscina de 25 x 25 metros para 400 pessoas, localizada na cobertura. Pelas rampas, o usuário é levado a conhecer as demais instalações do edifício, passando despercebido pelo primeiro pavimento, onde

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estão as salas de administração do complexo, e chegando, em seguida, à “comedoria”, no pavimento equipado com cozinha e praça de alimentação. Entre o terceiro e o sexto andar encontram-se salas de convivência, biblioteca (com cerca de 12 mil títulos), além das áreas de exposição e oficinas - ambas com cerca de 1300 m2 de área. No sétimo andar está a clínica odontológica, com 14 salas de atendimento. Chegando aos últimos pavimentos, o público, de diferentes idades, é convidado a se exercitar por meio da prática esportiva. Do oitavo ao décimo andar estão o “espaço brincar”, os vestiários e a academia equipada com salas para ginásticas artística e acrobática, e sala de dança com espelhos e barras. Ao final do percurso, o visitante se deslumbra com o espelho d’água nas bordas do terraço jardim, e de brinde pode apreciar a vista da cidade sentado em uma das mesas do café, como em uma grande praça aberta. Mais acima


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estão os vestiários e a piscina descoberta, com 25m de comprimento, 1,4m de profunidade e sistema de aquecimento, um objeto de grande destaque no projeto e que acaba se tornando inusitado por estar situado em pleno centro histórico da capital paulista.

as demais estruturas em concreto aparente. Os mobiliários internos foram especialmente projetados pelo arquiteto e se destacam pelos materiais empregados: chapas de aço dobradas para os assentos e madeiras revestida para as mesas.

No prédio anexo, implantado em terreno à venda na época e comprado pelo Sesc imediatamente após a solicitação de Paulo Mendes, estão todas as instalações de serviço, como sanitários, reservátórios, depósitos, camâras frigoríficas e máquinas pesadas.

Por fim, vale destacar que o novo Sesc 24 de Maio é, sem dúvida, a obra de caráter mais urbano do ilustríssimo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Trata-se de um projeto que reúne qualidades únicas, e que só poderia assim ser por sua localização e relação que estabelece com o entorno. O centro histórico, rico e já tão cheio de vida, dá mais um importante passo em seu lento, mas vigoroso processo de requalificação e ressignicação no contexto urbano de uma cidade tão grande quanto São Paulo. O público agradece.

“Pensei que poderíamos organizar o edifício principal com as atividades e o anexo com os banheiros, vestiários e depósitos. Essa conveniência deixa o prédio principal com o vazio do desfrute”, diz Paulo Mendes. Característica predominante em praticamente todos os pavimentos é a ausência de paredes tradicionais e a valorização das colunas como elemento de sustentação, em composição com

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5. DESENHOS

Cobertura

Pav 10

Pav 2

Térreo

Subsolo

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Primeiro Subsolo - Teatro e CafĂŠ

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Térreo - Praça do Sesc 24 de Maio

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Segundo Pav. - Comedoria

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Décimo Pav. - Dança

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DĂŠcimo Primeiro Pav. - Jardim da Piscina

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Cobertura - Piscina e Praรงa do Sol

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Corte Transversal a R. Dom JosĂŠ de Barros

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Cobertura - Piscina e Praรงa do Sol

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Elevação R. Dom José de Barros

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Elevação Rua 24 de Maio

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6. PARCERIA PMR + MMBB Inicia-se em 1995 a colaboração conjunta entre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e o escritório MMBB, com o projeto do Centro Cultural Fiesp (SP). Desde então, a parceria continua em muitos e distintos projetos e, para o MMBB, essa colaboração “oferece a oportunidade de desenvolvimento de projetos de grande porte para órgãos institucionais e de governo, destinados para atividades culturais, educacionais, representativas e de serviços. ” Fundado em 1991, pelos arquitetos graduados na FAU-USP, Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga, o escritório MMBB tem como prática projetual a realização de parcerias com outros arquitetos e escritórios de arquitetura e engenharia no desenvolvimento de grande parte dos seus projetos - eles acreditam que tal colaboração possibilita uma atuação diversificada. Já Paulo Mendes da Rocha, apesar de já ter tido um escritório próprio, tem sua carreira marcada por projetos vencedores de concursos ou convites para trabalho.

Quando comparamos as obras individuas desses arquitetos, como o museu do MUBE ou a intervenção metálica na Praça do Patriarca de PMR com as obras do MMBB, como a Residência na Vila Romana ou o projeto do Jardim Edite, notamos uma semelhança entre a preferência de materialidade – intenso uso do concreto, estrutura metálica e vidro -, além do valor empregado na concepção dos mesmos. É interessante ressaltar essa questão dos valores já que ambos acreditam e defendem, em suas concepções, a cidade como principal protagonista do projeto. Analisando entrevistas, pode-se associar muito os discursos tanto do Paulo Mendes quanto dos arquitetos do MMBB a uma preocupação em comum quanto a necessidade de discutir a cidade. Sem dúvida, o Sesc 24 de Maio é um dos maiores projetos para todos os arquitetos envolvidos, devido ao seu impacto urbano e toda a sua importância e responsabilidade por ser parte de um processo de retomada do

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centro novo de São Paulo. Além do Sesc, outro importante projeto de parceria é o Museu do Coches, em Lisboa. Neste, Paulo Mendes é convidado para a sua concepção e, mais uma vez, forma parceria tanto com o MMBB quanto com arquitetos locais para o desenvolvimento do projeto. Podemos estabelecer uma sucinta relação entre esses dois projetos, cujos programas são semelhantes. Ao analisá-los, percebese algumas semelhanças quanto a técnicas projetuais, como a liberação do térreo tanto para o fluxo de pedestre, como para um espaço de convivência. Além disso, outros pontos de equivalência são a construção de uma praça interna, o estabelecimento do auditório no subsolo e o uso da rampa como importante elemento de transição vertical. Outra questão semelhante entre os projetos mencionados é a escolha da materialidade para a sua execução: vê-se mais uma vez o uso majoritário do concreto associado com estrutura metálica e

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vedação de vidro. Porém, há também diferenças entre os partidos: enquanto o Sesc tem seu programa distribuído em um volume verticalizado, o Museu dos Coches se desenvolve na horizontal e em diferentes volumes. Claro que a resposta distinta para esses projetos se deve exatamente por tratarem-se de diferentes propostas com condicionantes singulares, como o próprio terreno de implantação; mas, em linhas gerais, é possível estabelecer uma linguagem em comum derivada dessa parceria.


7. PROJETOS SIMILARES A rede Sesc teve início em 1946 como projeto cultural e educativo tendo como marca a inovação e transformação social. Com uma abrangente diversidade de atividades, apenas em São Paulo a ação conta com mais de 36 unidades, sendo sua maioria centros culturais e desportivos. O Sesc 24 de maio é a mais recente unidade inaugurada desse projeto, com a autoria de Paulo Mendes da Rocha, e pertence a um movimento de retomada do centro novo. Além disso, outro ponto de destaque desse projeto é o fato dele envolver a reformulação de um edifício preexistente. Partindo de uma situação semelhante, o Sesc Pompeia da Lina Bo Bardi é outra obra dessa rede cultural que, assim como o projeto do PMR, também envolveu um processo de retrofit. É interessante ressaltar as singularidades tanto desse contexto quanto das soluções arquitetônicas semelhantes adotadas por diferentes arquitetos, como o uso da rampa

como elemento de destaque e o intenso uso do concreto aparente. Assim como as escalas dos projetos se diferem, o mesmo ocorre na relação dessas obras com o seu entorno - o Sesc 24 de maio encontrase em uma área com alto adensamento e seu partido opta por conceber uma construção que se entrelaça com as outras edificações; já a obra de Lina, também como uma resposta a seu contexto industrial menos adensado, é materializada em uma volumetria que se destaca na paisagem. Quando se observa tanto essas unidades quanto outras da rede Sesc, nota-se como diferentes arquiteturas podem abrigar um programa tão semelhante, mesmo tendo que responder a diferentes condicionantes. Cada unidade é, portanto, fruto dos inúmeros fatores que determinam o partido, assim como da solução criada pelo arquiteto para atender as necessidades e condicionantes do território em que o projeto irá se inserir.

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8. MAQUETE O modelo físico do Sesc 24 de Maio foi confeccionado na segunda etapa da proposta de trabalho, que visou o desenvolvimento da concepção estrutural do projeto. Após um estudo dos desenhos técnicos, foi compreendido que a construção do modelo necessitaria do entorno imediato devido a sua importância para o projeto. Logo, tendo em vista a composição final, a escala escolhida para a sua produção foi a 1:250.

Já quanto ao entorno, a intenção era proporcionar um entendimento da relação entre a volumetria do mesmo com o Sesc, optandose, portanto, pela utilização da madeira MDF, por ser um material completamente distinto do modelo do projeto.

Assim como a escolha da escala, a seleção dos materiais foi fundamental para a execução do modelo. O objetivo era usar os que mais representassem a materialidade original do projeto, bem como proporcionar um destaque para o mesmo. Como resultado, foram utilizados os papéis holler, acetato e colorplus azul representando, respectivamente, o concreto, o vidro e a água, elementos principais da composição de acordo com o entendimento do grupo.

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9. PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS Por Amanda Peixoto Almeida Ousado. Uma maneira de descrever diversos aspectos da obra criada por Paulo Mendes da Rocha e o MMBB – desde o modo como lidou com o edifício preexistente até a disposição do programa. Inserido no centro novo, um dos fatores que faz com que ele mereça destaque é o fato de propor uma relação urbanística diferente com a cidade, tendo seu térreo livre representando a possível melhor definição de fruição pública. Abrindo uma transversal entre as ruas 24 de Maio e Dom José de Barros, exclusiva de pedestres, o local é um convite aberto tanto a passagem quanto a permanência. Além disso, o programa definido pelo Sesc torna o edifício um exemplo para a cidade. O projeto não se contentou em apenas oferecer atividades socioeducativas e culturais, mas também esportivas e dedicadas ao bem-estar, como o serviço odontológico. A criação de um

local que possa servir diversas atividades para o usuário sem a necessidade de deslocamento não só é beneficiária para o cidadão em si, mas para a sociedade como um todo – afinal, o planejamento urbano até então praticado segregou as atividades em diversos bairros, estimulando a locomoção pela cidade, o que, graças a fraca integração e qualidade do transporte público, muitas vezes, acontece pelo transporte individual. O fato de estar inserido no centro de São Paulo só eleva todas essas qualidades, dada a localização privilegiada, mas também não é ao acaso: a região clama por uma renovação há muitas décadas. Tanto no cenário econômico quanto social, foi uma área de destaque entre os anos de 1920 e 1960, perdendo esse poderio quando o polo econômico da cidade se deslocou na direção sudeste. Diversos edifícios foram abandonados desde então, o que é três vezes uma perda para a cidade: do ponto de vista estatístico, dado o déficit habitacional

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metropolitano, do ponto de vista urbanístico, já que a cidade falha em oferecer com qualidade diversos equipamentos para os usuários e, por fim, do referencial estratégico, por ser um desperdício a subutilização de edifícios com tão privilegiada localização.

Operação Urbana Centro – fato muito benéfico para o Sesc 24 de Maio, já que a OUC permite que as áreas dedicadas a atividades culturais e fruição pública não sejam computáveis, o que fez com que o projeto ganhasse mais que o dobro de área construída.

O abandono de tantos imóveis da área é uma tristeza do ponto de vista arquitetônico também, especialmente se referindo a construções repletas de história nas quais a deterioração tornou-se comum de ser vista ao passear pelo centro. Esse desleixo promove uma sensação de insegurança na região, ocasionando medo nos transeuntes. Passear pelo centro da cidade deveria ser uma atividade prazerosa, mas se tornou motivo de pânico para muitos cidadãos.

É neste contexto de revitalização do centro e criação de locais destinados a atividades culturais que o Sesc 24 de Maio nasce. Mas, além de lidar com o contexto histórico, econômico, social e urbanístico da região, o projeto teve outro desafio: não significa a criação de um novo edifício, mas a revitalização de um existente. O projeto ergue-se no antigo prédio da Mesbla, loja de departamento fechada há quase 20 anos.

Há algumas décadas, o governo tenta modificar esse cenário e, recentemente, a população tem se movimentado, buscando a retomada da região. Diversos programas de incentivo foram criados e o centro novo foi englobado na

O objetivo era reutilizar ao máximo a estrutura existente e esse é um toque muito importante do projeto, que demonstra uma forma diferente dos arquitetos de lidarem com as preexistências, ao invés de simplesmente destruí-las para


criar o novo. As demolições realizadas foram impostas pelos novos usos, como por exemplo, no caso da área destinada a circulação, que foi toda modificada. Além disso, a estrutura do edifício não era capaz de sustentar a piscina da cobertura, uma exigência dos clientes e, por esse motivo, houve a demolição da cúpula do vazio central do edifício que recebeu quatro grandes pilares destinados a sustentar o tanque da piscina. A estrutura criada pelo novo projeto é demonstrada em sua aparência e brutalidade e as partes remanescentes do antigo edifício recebem cores, como o rosa colonial, aplicado em alguns locais. Norteado por essas diretrizes e restrições, o projeto ainda consegue ser ousado. A fachada envidraçada, voltada para o miolo da quadra, que objetiva assemelhar-se ao desenho de um mosaico delimitado pela estrutura metálica, de acordo com Paulo Mendes da Rocha, foi a maneira mais próxima de deixar as rampas, que percorrem todo o edifício, com a sensação de

estarem ao “ar livre”, sem serem atingidas pelas intempéries. Infelizmente, estas rampas, que parecem tão convidativas no térreo, podem se tornar cansativas, já que se repetem em todos os pavimentos, que são muito semelhantes entre si, variando entre atividades culturais convenientes a qualquer momento e atividades que não são de interesse do público geral (como o serviço odontológico e a academia). Já as fachadas voltadas para as ruas demonstram a vontade dos arquitetos em fazer com que o edifício se dissolva no entorno, refletindo a arquitetura já existente e se relacionando melhor com a mesma. Associada com a circulação nas periferias, elas permitem que o usuário tenha uma visão privilegiada da cidade, podendo admirar os edifícios que compõem o entorno. Tal privilégio é destaque no jardim da piscina que não possui vedação e oferece um pouco de liberdade para o visitante no centro de uma cidade que tanto aprisiona. Não só a vista comove, mas também as outras sensações

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proporcionadas: pode-se sentir o vento que sopra pela cidade, assim como os cheiros e os sons que ela gera – oportunidade pouco proporcionada pela arquitetura metropolitana. Imagina-se que o pavimento dedicado a piscina também proporcione experiência igualmente incrível, mas a visita não foi possível. A estrutura nova criada, apoiada em apenas quatro pilares, cria outro fenômeno dentro do projeto: a planta livre. Esta, que não foi prejudicada pelos pilares existentes do edifício da Mesbla, proporciona a fácil variação de programas e libera a circulação do usuário. Além disso, surgem espaços únicos de contemplação mencionados, mas também locais com usos inesperados, que podem ser decididos pelo usuário. A liberdade de poder circular pelo pavimento, ou sentar no centro do mesmo e ainda visualizar o entorno do Sesc, ou ainda, sentar em uma das cadeiras projetadas pelo arquiteto na biblioteca de modo a apoiar os pés quase que na fachada do edifício, ler

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um livro enquanto contempla a paisagem, ou encontrar alguém enquanto se discute sobre as possibilidades que o centro ainda tem a oferecer, são uma oportunidade única oferecida pelos autores do projeto. Em suma, o Sesc 24 de Maio atende às expectativas de quem esperava mais uma obra impressionante de Paulo Mendes da Rocha e o MMBB. As boas intenções de tornar o projeto caminhável, como no caso das rampas e dos pavimentos semelhantes, por vezes, forçam demais o usuário, mas o final do trajeto recompensa: nada se assemelha às sensações que o jardim da piscina pode oferecer. É uma mistura de estar ao ar livre e estar em um espaço coberto (uma verdadeira praça coberta, suponho), além de se inserir no centro de São Paulo e, ao mesmo tempo, estar tão distante dele. Um exemplar arquitetônico que comoveu e permitiu que o amor pela arquitetura renascesse – afinal, todo estudante de arquitetura espera a oportunidade de criar uma obra que faça


alguém se sentir assim. Um verdadeiro presente para os paulistanos e para todos que visitarem a capital – nada mais é necessário dizer, além de um “muito obrigada”.



Por Carolina Dick O Sesc 24 de Maio é um projeto recente do arquiteto Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório MMBB de grande referência para a arquitetura do Brasil, pois neste edifício houve uma preocupação em revitalizar o espaço no centro da cidade de São Paulo que, em horários fora da jornada de trabalho, se torna um lugar peculiar e fora do movimento intenso da cidade. Analisando como uma questão projetual, esta atenção em relação à inserção na cidade tende a se tornar cada vez mais frequente nos projetos arquitetônicos de São Paulo, uma vez que o foco, atualmente, é evitar a construção de edifícios fechados e que não tenham interação alguma com o restante do seu entorno, já que esta se torna uma medida também para aumentar a segurança local e tornar a cidade mais caminhável ao pedestre. Outra particularidade do projeto que me chamou

atenção é a relação do edifício entre seu interior e o exterior, no âmbito de promover sensações a pessoa que estiver dentro do Sesc. Sua primeira relação está no pavimento térreo que, durante o dia, por conter os portões levantados, este se abre para as Ruas 24 de Maio e Dom José de Barros e resulta no corte da circulação da esquina, fazendo com que o pedestre seja “convidado” a passar por dentro do edifício de maneira segura. Em segundo lugar, relação é feita pela linha visual promovida com a presença das rampas que acabam por ligar todos os andares. Estas rampas são banhadas por luz proveniente da pele de vidro e do contraste provocado pela estrutura metálica de treliças atraente localizada na fachada. A terceira relação é causada pela forma em “U” do antigo edifício, resultante do vão central livre, que permitia a entrada de iluminação natural. O antigo vão permitiu a construção de quatro

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colunas esbeltas feitas de concreto que vão desde o subsolo até o terraço, elemento que acaba favorecendo a construção do teatro no subsolo e a piscina a céu aberto na cobertura. A vista proporcionada pela piscina e vestiários nos últimos pavimentos do prédio se torna uma surpresa para o visitante, pois é nela que se se pode observar, de ângulos distintos, a cidade de São Paulo e alguns de seus edifícios famosos, como o Edifício Itália, a Galeria do Rock, o Edifício Altino Arantes, entre outros. Ainda tendo como base a forma projetual adotada pelo arquiteto no edifício e seus elementos, há de se lembrar do brutalismo de Paulo Mendes, uma vez que este é presente na obra e se contrasta com as cores dos móveis lá existentes que também foram projetados pelo arquiteto. Além disso, os móveis feitos de chapas metálicas curvadas têm cores vivas – sendo elas em amarelo, verde e vermelho –, o que acaba por tornar o local mais agradável visualmente e sem excesso ou extravagância de

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cores. A partir do exposto apresentado, conclui-se, portanto, que esta obra, além de apresentar aspectos culturais e educacionais comumente presentes em um programa de um Sesc, também foi estritamente minuciosa ao conectar o edifício com a cidade e com seus cidadãos. Isso a capacita e condiciona para ser uma obra com uma arquitetura sustentável no momento em que se preocupa em trazer diversidade e atividades que gerem vitalidade, inspiração e acalentem uma vida pública ao centro que possui cerca de 700 mil pessoas diariamente passando pelo local.




Por Ronaldo Hass A arquitetura do edifício do SESC chamou a minha atenção principalmente por sua forte relação com as rampas que envolvem todo o projeto, criando um ritmo constante e convidativo para os ambientes e espaços. Os mobiliários do projeto são totalmente pensados para tal e dão sentido por estarem onde estão locados. No décimo primeiro andar, a relação do prédio com a cidade é muito presente, tendo toda a lateral vazada, permitindo a real conexão com o clima e visual da cidade, proporcionando sensações físicas e também de pertencimento. No último andar, a presença da piscina faz com que realmente se concretize a ideia de inserção do equipamento de lazer dentro da massa urbana que já é totalmente adensada.

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Por Ronnie de Almeida O trabalho aqui apresentado é resultado de um longo processo de pesquisa, construção e discussão acerca de uma obra considerada arquitetonicamente relevante para a sociedade. Neste caso específico, o objeto urbano se mostrou especialmente importante, à medida que suscitou reflexões sobre o espaço construído e sua relação com o preexistente. A intervenção dos arquitetos sobre a estrutura de um antigo edifício situado no centro histórico de São Paulo exige de quem a estuda uma compreensão que extrapola o entendimento do desenho e da técnica adotada. É preciso, antes de mais de nada, investigar o contexto das coisas, no tempo atual e no tempo já transcorrido, para que, assim, se possa enxergar o envolvimento e a responsabilidade de quem concebe um espaço de uso público comprometido com o presente, passado e futuro.

Como é sabido, o centro histórico da capital paulista passa, gradativamente, por uma requalificação, e o Sesc 24 de Maio é parte importante deste processo. A ideia de reocupação do centro fica clara quando, por exemplo, o arquiteto abre mão de demolir o existente e opta por preservar as estruturas da antiga loja de departamentos, propondo, assim, a reforma e sua ampliação para abrigar os novos usos solicitados. O partido adotado por Paulo Mendes da Rocha configura um espaço que dialoga claramente com os cinco pontos da arquitetura moderna estabelecidos por Le Corbusier, sobretudo quanto às fachadas e janelas livres, para as quais se adota uma pele de vidro desenhada sobre uma estrutura metálica; plantas livres nos pavimentos, garantindo assim permeabilidade e variação de usos; e coberturas livres, por meio do terraço jardim com espelho d’água e piscina descoberta. Também é inegável a influência da Escola

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Paulista, principalmente quando o arquiteto decide que as rampas sejam as protagonistas do passeio, cujo ponto de partida é o térreo e o de chegada a cobertura. A mesma estratégia é utilizada, por exemplo, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a FAU-USP, cujo projeto de 1961 pertence a Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. Sem dúvida, a ênfase na técnica construtiva, a adoção do concreto armado aparente e a valorização da estrutura são fortes influências da Escola Paulista reveladas na forma de um edifício contemporâneo e alinhado às atuais discussões sobre o espaço urbano. O térreo do novo Sesc revela ainda que os arquitetos se preocupam com o futuro que se constrói no agora, no entanto, sem abrir mão do passado. A esquina do edifício, entre as ruas Dom José de Barros e 24 de Maio, é chanfrada, de tal forma que estabelece uma conversa com o desenho do antigo edifício da Mesbla, que respeitava a legislação vigente à época de sua construção.

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Converge à preocupação com a memória o fato de se utilizar a cor rosa colonial como pintura de alguns pontos estratégicos, como nos fechamentos externos do térreo, inspirado, segundo o arquiteto, no antigo casario colonial da cidade. Diante do que foi apresentado, vale destacar o desenvolvimento deste trabalho como um processo de investigação no qual, através de diferentes exercícios, foram possíveis a reflexão e a construção deste ponto de vista particular, que culmina na compreensão da dimensão política de uma obra de tal relevância para o espaço urbano. Por fim, a fala do arquiteto sobre o Sesc 24 de Maio para a revista Carta Capital: “saiu do interesse do edifício como um fato isolado e deteve-se na questão da cidade [...]. O objeto da arquitetura, hoje, é a cidade, a realização da cidade. E aí entram conflitos incríveis.”




Por Stefanni Matos Entre as ruas 24 de Maio e Dom José de Barros, Paulo Mendes da Rocha dá vida a mais uma unidade da rede Sesc. Para o pedestre, sua presença é destacada graças ao contraste entre essa nova edificação, marcada pela fachada coberta de vidros, com os edifícios cujas fachadas remontam a um período mais histórico. Apesar do destaque da fachada quando comparada com seu entorno e a intenção de permeabilidade entre as ruas de sua implantação, a entrada para a obra, como a dos demais edifícios, não possui um desenho muito convidativo, o que ocorre tanto pela pouca iluminação vinda do interior do Sesc quanto pelo próprio formato do acesso. No térreo, há uma sequência de pilares que, em seu centro, ofertam um espaço de convivência e de passagem, com bancos e uma volumetria circular, sendo possível distinguir a olho nu a

diferença entre as colunas do edifício e os pilares que vão até a cobertura e sustentam a piscina de 450m². De fato, o diferencial da obra acontece nas extensas rampas de acesso e na pele de vidro posicionada atrás das mesmas, sem mencionar ainda a grande piscina como coroamento. A princípio, sem conhecer o projeto pessoalmente, podemos ter um estranhamento em relação a posição da pele de vidro transparente (cuja estrutura é o principal destaque), já que ela poderia estar nas fachadas principais do Sesc, chamando ainda mais atenção no meio do Centro Novo. Mas só ao caminhar por elas entendemos o motivo dessa segunda pele ter sido ali instalada. Ela acompanha o desenvolvimento da rampa, proporcionando luz e uma vista para seu visitante, a experiência de andar por elas seria completamente diferente caso estivessem ao lado de uma empena cega. Ainda as percorrendo, sou tomada por uma

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lembrança, quase um déja vú: recordo-me de estar fazendo uma visita técnica e escutar do arquiteto responsável que aquela extensa rampa era uma analogia ao desbravamento dos bandeirantes que ao subirem a serra, fundaram São Paulo. E, por coincidência ou não, o arquiteto responsável pelo projeto de minha lembrança era Pedro Mendes da Rocha, explicando seu projeto que também incluí uma notável rampa no futuro Museu da Cidade de São Paulo. Após essa recordação, sigo desconfiada conhecendo o projeto e seus pavimentos, cuja única diferença é sua funcionalidade, até chegar a área de exposições e descobrir que o tema é a cidade de São Paulo – talvez, aquelas rampas realmente desejam aludir a esse simbolismo dos Bandeirantes, mas apenas Paulo Mendes poderá confirmar essa suposição. Admito que a repetição de rampas e pavimentos consecutivos causa uma certa sensação de

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enclave; são pavimentos aos quais o público se direciona por uma escolha pré-determinada, ou seja, a mesmice do formato dos pavimentos e acessos não provocam um estimulo, um acontecimento inesperado. Entretanto, essa situação muda completamente no 11ª pavimento, quando o edifício se estende para fora de seus limites, encontrando-se com a cidade, fornecendo um respiro para o convidado que após seguir por todos os pavimentos ou por todas as rampas se depara com esse andar aberto, sob pilotis e com espelho d’água. Essa ambientação promove um momento de pausa, estimula uma permanência, uma contemplação: ainda não é possível ver São Paulo toda de cima, mas, de uma forma intencionada ou não, em uma das frestas notamos no horizonte o Edifício Banespa. O projeto consiste em uma forma praticamente cúbica e entendemos que a intenção era resolver o programa da melhor forma


possível, concentrando em um edifício vertical diferentes espaços destinados a ocupação do público. Mesmo assim, ainda percebemos características do arquiteto e seu modo de projetar: refiro-me a observações, talvez óbvias, como o intenso uso do concreto, estrutura metálica e aparente. Apenas a fachada não condiz tanto com outras obras suas, como o MUBE, por exemplo. Ela provavelmente é fruto da parceria com o MMBB, visto que muitos dos seus projetos utilizam o vidro como elemento de vedação. Quando comparado com outras obras, como o IMS da Paulista, podemos analisar semelhanças de partido, como o térreo livre ou o pavimento destinado a permanência como um espaço de respiro e contato com seu entorno - graças ao corte feito na edificação. Além disso, o posicionamento da áreas técnicas e auxiliares em um único volume anexo ao conjunto do projeto é outro ponto similar entre as obras “semi-públicas”.

Outra comparação importante pode ser feita em relação ao Centro Cultural da Vergueiro: a princípio, podemos achar que ambos são completamente distintos, principalmente pelo fato do CCSP possuir uma forma mais horizontal quando comparada com o Sesc 24 de Maio. O interessante ao observar essas duas obras é a percepção do seu impacto em relação ao seu entorno: ambas respeitam o gabarito sem procurar um destaque volumétrico que desfoque o restante da paisagem. Para não “tampar” a 23 de maio, a Centro Cultural se projeta para baixo do solo, enquanto que o Sesc, para acompanhar seu entorno, se projeta no alinhamento das edificações adjacentes. São posturas de dois arquitetos distintos perante a uma questão semelhante, que me parece corresponder ao valor de Paulo Mendes, quando disse na sua entrevista para a edição do livro Encontros que o projeto deve consolidar o território de sua implantação. Comparações a parte, após pesquisar e

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procurar entender a concepção do projeto, a sua importância e como os arquitetos envolvidos encararam tamanho desafio, podemos concluir, junto com as impressões pessoais, que o Sesc 24 de Maio foi a junção entre a resolução de um programa pré-estabelecido e os ideais de um grupo de arquitetos, com importante bagagem de trabalhos urbanos e de caráter público, que entendem a necessidade de priorizar o usuário dentro da concepção arquitetônica.

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10. BIBLIOGRAFIA REFERÊNCIAS TEXTUAIS:

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ICONOGRAFIA: Imagens páginas 4; 7; 12;16; 32; 38; 40; 45; 49; 50; 52 e 60 de autoria do Estudio Flagrante. Imagens páginas 52 e 55 da Rede Sesc. Imagem página 56 de Matheus José Maria, Imagem página 8 da FolhaPress. Imagem página 36 de autoria própria. Ilustrações páginas 19 e 21 do Jornal O Estado de São Paulo. Desenhos páginas 21; 22; 23; 24; 25; 26; 27; 28 e 29 do MMBB Arquitetos.

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