rosa rubiginosa #1: sobre a recusa

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rosa rubiginosa #1: sobre a recusa



5 re-mixes sobre a recusa

por Mariana Paim página 2

Ilustração por Jeannie Helleny página 7

Me rendo

por Brena O'Dwyer página 8

Passa-Tempo

por Carole B. página 9

Fotografia por Jeannie Helleny página 10

(sem título)

por Taís Bravo página 11

capa: Anaïs-karenin 1


5 re-mixes sobre a recusa

por Mariana Paim

I Olho para o desvão dos dias calculando em negativo [com afinco fanático o instante em que não creia mais no acumulo dos livros na estante dos filmes, discos, lugares e listas de coisas intermináveis que devo conhecer de passado tudo, tão inútil agora, que guardamos enquanto nos perdíamos a sós entre cidades sem correspondência ou endereço conhecido e ainda reconhecendo assim que creio que acumulei demais os nãos que ficaram entre dentes e continuam a me rasgar feito pedra embora me recuse [com a mesma alegria e ferocidade a continuar me perdendo no que já não me cabe mais nas mãos ou no peito

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II Recuso todos os n達os que me inventaram para caber nas expectativas

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III Toda recusa é uma forma de [re] existência

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IV Recuso o que me é posto em oferta e não pode ser composto em demasia Minha vida, amor tem sido isto uma procura incansável pela tessitura de excessos desfiando afeto quando não posso perder a mim mesma onde penso encontrá-lo

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V Escuta! essa recusa nรฃo estรก no tom de escusa

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Me rendo

por Brena O'Dwyer

Passei grande parte da adolescência recusando a flexibilidade, meu ascendente em gêmeos totalmente domado pela lua em capricórnio. Eu queria vomitar cada vez que ouvia alguém dizendo que uma outra menina era flexível. "Endureçam" era o que eu pensava e fazia. Não queria ser dobrável, eu não queria ser fácil, eu queria do meu jeito e que fosse bem difícil. Eu só não queria ser mais uma menina fraca. Eu precisava de uma casca, dura, grossa. Fui ficando pesada e curvando. De tanto nariz erguido acabei com dor nas costas. A lombar não guenta, não tem saudação ao sol que dê solução. Até que eu disse sim, tá legal, vamos fazer do seu jeito, tá ok, tanto faz. Estranho não ter que discutir tudo de repente. Descobri a força do tanto faz, tudo bem, não vou perder meu tempo. As barras de concreto nas pontes tem espaços entre elas, não podem ser maciças, de outra forma não ficam de pé. O abismo que encontrei entre ser intransigente apenas quando vale a pena - não por medo, o tempo todo.

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Passa-tempo

por Carole B.

Tenho pavor quando a consciência não sai de si. Da fumaça atônita já não espero quase nada – só a perda reincidente do que nunca abandonei. A pele é a confissão do tempo que se despedaça. De todo tempo irreparável. Do tempo que, sem fumaça alguma, já estaria morto, mas que, como fumaça, caminha para morte. À medida que envelheço, são tão fúteis os espelhos, incapazes de mostrar além do que já pesa. Quando é insuportável estar no corpo, buscamos o élan nas cinzas; o perigo real impõe-se onde nem cinza nem pó nos elevam para os abismos ansiados. Ao contrário: nos deixam cada vez mais presos na superfície dos poros, na ardência entre os ossos dos olhos, na bílis santa que não purga o medo, na espera pífia por espelhos que revelem. Estou pregada como máscara às profundezas dos ossos! A resposta do pó é sempre outra pergunta - eu só tenho fé na dúvida. Nenhum telefonema. Quando ligam, não quero falar. Quando desligam, sequer atendi. Quando escrevem, a língua é outra. Quando entendo, não faz sentido. Se me procuram, já me mudei. Quando me encontram, não sou mais eu. E se me amam, já me acabei... Se sou feliz, não me suporto. Hoje estou triste, pois desconheço outro modo. Nunca alcanço o que me cura, se estou doente; quando estou sã, a cura vem me molestar, dente por dente. Meus olhos ferem o que é opaco, mas a verdade nem mesmo assombra. A consciência descostura a espiral do sagrado. Até a fumaça é prostituta da norma! A fleuma estéril leva ao delírio: há imagens talhadas e sangue aos meus pés. Telefones criam asas enquanto o tempo sapateia sobre os vincos da testa – tenho pavor mesmo é de quando me sinto forte. Viver agora como se morrer chegasse logo ainda vai me matar.

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(sem título)

por Taís Bravo

esses garotos perdidos ou não sabem se ater sabem querer ocupam o tempo e as mãos chegam até a linha espiam à vontade vão certos voltam pontualmente descubro diante do buraco tudo é beira, me diz a cidade falsa em limites me interrompe os fins jamais foram questão de tempo é princípio meu só ir

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"Como ĂŠ possĂ­vel perder-te sem nunca te ter achado minha raiva de ternura meu Ăłdio de conhecer-te minha alegria profunda." - Maria Teresa Horta (Poema sobre a recusa)


colaboraram: Anaïs-karenin, Brena O'Dwyer, Carole B., Jeannie Helleny, Mariana Paim, Taís Bravo produção editorial: Carolina Maia, Luísa de Freitas


alpacapress.com.br


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