Projeto "Vem Pro Centro" de Goiânia

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Revitalização de Centros Urbanos Memória Metropolitana Proposta para Goiânia, GO SECIMA/Governo de Goiás – SEPLAN/Prefeitura de Goiânia – FECOMÉRCIO


SECIMA Hwaskar Fagundes - Secretário SECIMA Marcelo de Oliveira Safadi - Sup. Executivo de Assuntos Metropolitanos André Luiz de Freitas - Gerente de Programas Metropolitanos FICHA TÉCNICA Coordenação Marcelo de Oliveira Safadi - Arquiteto André Luiz de Freitas - Arquiteto Redação e Pesquisa Aluízio Antunes Barreira - Arquiteto Garibaldi Rizzo de Castro Júnior - Arquiteto Mirian Moema Lima Silva - Arquiteta Sônia Maria Quinan - Engenheira Civil Redação e Edição Anna Carolina Cruz - Arquiteta Urbanista Bianca Camargo Paulino - Estagiária de Engenharia Civil Talytha Morgana Prestes Pereira - Estagiária de Arquitetura e Urbanismo Fernanda de Sousa Ferreira - Estagiária de Arquitetura e Urbanismo Revisão e Apoio Wolney Unes Entidades Participantes Governo de Goiás – SECIMA - SEDUCE - SEGOV Prefeitura de Goiânia - SEPLANH - AMMA - AGETUL - SEINFRA Ministério Público GO - Câmara Municipal de Goiânia - ALEGO FECOMÉRCIO - Sociedade Art Deco - SINDUSCON SINDILOJAS – IPHAN - CAU GO - CODESE - CREA GO Uni Anhanguera – UEG – IFG – UFG - PUC GO - UNIP Associação Empresarial da Região 44


INTRODUÇÃO O desejo de revitalizar o centro de Goiânia sempre esteve presente no imaginário de todo bom goianiense. A SECIMA dentro deste contexto se ofereceu para produzir uma série de reuniões com a sociedade e órgãos públicos visando à identificação de ideias comuns a todos. A partir do impulso dado pela paixão ao Art´Deco, percebemos uma oportunidade de avançar sobre os temas complementares, que propiciem o desenvolvimento econômico, eixo central da visão dos participantes. Neste sentido este programa seguiu até seu documento final, encerrando um processo de discussão que hoje tem como base de trabalho uma série de propostas e sugestões para a ocupação do Centro. #VEMPROCENTRO.

Vamos tomar um café Na sociedade contemporânea quando queremos conversar com alguém, trocar umas ideias, pensar em projetos, convidamos esta pessoa para um café. Um café com proza, com ideias, e no nosso caso, um Café Metropolitano. Assim fizemos por 3 vezes em 2017 em parceria com a Prefeitura de Goiânia SEPLANH, e com a FECOMÉRCIO contando com a participação de inúmeras entidades interessadas na revitalização de Goiânia e seu Centro histórico. Foram encontros memoráveis, sempre com a participação maciça da sociedade e das entidades. Neste contexto elaboramos um documento com diretrizes o qual apresentamos a seguir. Um documento feito a muitas mãos, sem a pretensão de ensinar ninguém, mas apenas reunir às ideias que eram comuns a maioria das pessoas presentes e interessadas. Foi interessante a participação de vários estudantes de arquitetura e das áreas culturais, assim como de inúmeros empresários do setor cultural, pois a base deste projeto é a cultura e o patrimônio. Também foi surpreendente a participação dos empresários do comércio e do setor imobiliário, partes fundamentais para o sucesso desta empreitada. A série de “Cafés Metropolitanos” aconteceram ao longo de 2017 em espaços emblemáticos do Centro da cidade, como o Colégio Lyceu de Goiânia, em 8 de fevereiro, no Sesc, em 29 de março e no Hotel Soft Inn Mega Moda, em 27 de abril.


´ SUMÁRIO Centros Urbanos e sua evolução As cidades e a evolução do urbanismo Os centros urbanos no mundo

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A cidade de Goiânia O traçado Porque Goiânia não seguiu seus planos diretores Planos diretores de Goiânia Legislação Urbanística O centro de Goiânia – Da infância lúdica á maturidade conturbada Porque revitalizar? O desejo de revitalização e suas iniciativas – nem tudo foi em vão Porque somente a preservação não promove a revitalização

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Goiânia, patrimônio e legislação Programa de revitalização do centro de Goiânia Objetivos Identificação e localização do programa Base legal e conceitual Quadro sinóptico dos objetivos do programa

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Diretrizes para revitalização do Centro de Goiânia Vamos tomar um café Contexto Objetivos Gerais Desenvolvimento econômico Ações institucionais de segurança Pública Infraestrutura Básica Valorização do Patrimônio Promoção do centro Histórico

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Conclusão

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Centros Urbanos e sua evolução A cidade de Goiânia, criada para ser a Capital Institucional do Estado de Goiás, teve o Batismo Cultural em 1942, passando a receber olhar especial do Governo Federal, principalmente por tornar-se o principal ponto de apoio à Marcha para o Oeste. Além disso, a cidade serviu ainda de apoio à ocupação da Amazônia Legal e à construção de Brasília, Capital Federal. Como capital do Estado de Goiás, tem passado por grandes transformações, principalmente na rapidez de ocupação de seu território, para abrigar anseios de brasileiros de todo o País que ali se encontram. Com um crescimento acima da média, o projeto piloto de Goiânia foi programado para 50 mil habitantes, ao passo que em 15 anos (1950) essa capacidade já havia sido esgotada (conforme o gráfico 1),

04 sem que houvesse tido investimentos para sua expansão, o que causou vários problemas, de tráfego a regras de ocupação. Na década de 70, uma nova dinâmica provocou demanda discrepante para a região sul, especialmente no quadro da oferta de terras ao Estado para implantação de equipamentos públicos como o Autódromo e o Estádio Serra Dourada, o que permitiria posteriormente a construção do primeiro shopping de grande porte da cidade, o Flamboyant, em vista do aumento da densidade de ocupação da área. Outro fato que estimulou o crescimento desordenado da malha urbana foi a guerra fiscal entre os municípios vizinhos a Goiânia, que reduziram alíquotas de ISSQN, tornando as periferias mais atrativas para as empresas e


05 retirando grande parte delas do Centro. Assim a conturbação urbana foi inevitável. Goiânia demorou a perceber a perspectiva do transporte público e continuou sendo planejada sob a ótica do carro. Nesse contexto forma-se aos poucos um centro vazio, com baixa capacidade de desenvolvimento econômico, esgarçamento do tecido urbano com a demolição de prédios históricos, o que ocasionaria mudança da paisagem, transformando edifícios históricos em estacionamentos. A perda da qualidade comercial teve seu início com o surgimento dos shoppings centers, o que fomentou um interesse menor em manter e intensificar a ocupação do Centro.

As cidades e a evolução do urbanismo As cidades mais antigas surgiram há cerca de 10 mil anos, ao logo dos vales dos rios Tigres e Eufrates, Nilo e Indo. Essas primeiras cidades mostraram grande importância política, econômica e social, porém a partir do século XVIII é que o processo de urbanização ganha nova escala, por conta da industrialização e dos grandes aumentos de população.

Nos centros urbanos os fatores de atração não se resumiam ao processo de industrialização, mas também à expansão do setor de serviços. Atualmente, mais da metade da população mundial vive em cidades e o modo de vida urbano-industrial foi o principal responsável pelo deslocamento de grande parcela da população das áreas rurais. Nos países da América do Norte e Europa, a urbanização atingiu níveis elevadíssimos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2014), hoje 54% da população mundial vive em áreas urbanas, uma proporção que se espera venha a aumentar para 66% em 2050. O processo de urbanização dos países centrais e periféricos do capitalismo apresenta diferenças significativas entre si, diretamente relacionadas ao processo de industrialização e da mecanização do setor rural, que permitiu um maior adensamento da população, seja pela forma da produção seja pela garantia de abastecimento de produtos de primeira necessidade.


06 Os centros urbanos no mundo Nos países centrais do capitalismo, o processo de industrialização passou por diferentes etapas (1ª, 2ª e 3ª Revoluções Industriais), com evolução gradativa. Consequentemente, o processo de urbanização acompanhou esse ritmo de desenvolvimento, fazendo com que milhares de pessoas fossem migrando para as cidades ao longo de todo esse processo, acompanhado da criação de infraestruturas urbanas. Já nos países periféricos, a urbanização também acompanhou o ritmo da industrialização, porém como esse processo ocorreu em um curto espaço de tempo, foi possível perceber que a urbanização ocorreu de maneira rápida e desordenada. Assim, as cidades que receberam grandes fluxos migratórios não se encontravam preparadas para o rápido crescimento urbano, o que causou a formação de espaços urbanos segregados, com reduzida oferta de água, rede de esgoto e pavimentação de vias.


A CIDADE DE GOIÂNIA O TRAÇADO Segundo o Dossiê cidades planejadas na Hinterlândia – o projeto de Goiânia de Tânia Daher, no plano piloto original de Atílio Correa Lima, Goiânia era dividida nos seguintes setores: - Central – zona comercial, residencial e centro administrativo; - Norte – zona comercial, residencial popular, zona industrial e estrada de ferro; - Sul – zona residencial e comércio local; - Oeste – zona residencial e comércio local.

O Setor Oeste não foi desenhado por Lima, pois foi reservado para quando o Setor Sul estivesse ocupado, e o Setor Leste não foi incluído no plano. O Setor Sul desenhado por Lima, num formato aberto, espelhando o desenho do Setor Central, seria mais tarde todo reformulado por Armando Godoy, recebendo o traçado fechado das cidades-jardim. Esse bairro seria essencialmente residencial, mas com serviços para atendimento local. As quadras residenciais seguiram o modelo de Raymond Unwin: vias internas para os fundos das casas e entrada social pelas áreas verdes. O zoneamento implantado por Godoy no projeto de Goiânia não

07 obedeceu ao critério de Ebenezer Howard, que eliminaria diferenças sociais de seus habitantes. Na verdade, o projeto de Godoy trazia apenas o desenho, abandonando todas as outras concepções da cidade-jardim. O projeto inicial de Atílio já fora implantado, com separação entre zona residencial operária e outras zonas residenciais. Godoy mantém essa separação no seu projeto. Embora Atílio já tivesse localizado no Setor Central as atividades ligadas ao lazer, Godoy cria no Setor Sul áreas de lazer, de importância secundária. Assim como Unwin, ele dissolve esse caráter de centralidade do poder público, representado pelo Centro Administrativo adotado por Atílio, criando outro centro de cunho mais comunitário, que seria a Praça do Cruzeiro, no Setor Sul, local da futura catedral. O traçado de Goiânia se estruturou em três pilares, o sistema viário, o zoneamento e a configuração do terreno. Conforme o plano das cidades francesas, o traçado deveria conter a qualidade mais importante, a funcionalidade. As vias foram calculadas segundo a intensidade e direção do tráfego. O sistema viário


08 foi composto por vias regulares em forma de xadrez, por ser o sistema mais fácil e rápido para a circulação de veículos. As vias em diagonal como as Av. Araguaia e Tocantins, tiveram um objetivo além de funcional, também estético, isto é, levar a visão do espectador em direção ao centro administrativo, enaltecendo-o. A avenida Paranaíba e Perimetral são em curvas, tem a função de desviar do Setor Central o tráfego externo de veículos pesados, levando-o diretamente à zona industrial e desafogando o trânsito do núcleo urbano. O plano piloto de Goiânia foi elaborado para uma população de 50 mil habitantes e a área da cidade não foi fixada, de modo que esse número poderia crescer sempre: existia a possibilidade de estendê-la futuramente. Assim o urbanista carioca desenha o traçado da nova capital em uma estrutura aberta, conforme o modelo francês, com avenidas implantadas para unir a parte existente às novas áreas acrescidas. Dentro deste contexto o centro de Goiânia sustentava a dinâmica econômica e social da cidade, mas que aos poucos o traçado veio se tornando inadequado, pois a nova dinâmica urbana exigiu um crescimento rápido que não seria atualizado.

Quando, em 1968, Jorge Wilheim iniciou a revisão do plano diretor, ele identificou problemas e apresentou algumas alternativas. “O plano de Goiânia, com suas ruas circulares e seu centro administrativo (...) houve uma intervenção de Agache e Godói, e também de Luis Saia, o qual propôs o uso recreativo dos fundos de vale. Mas em Goiânia se identificam outros fatores que conduziram o desenvolvimento urbano para além do previsto por Corrêa Lima. (....) em 1968, quando a cidade enfrentava algumas decisões difíceis referentes à diretriz que seria adotada para sua expansão: superar os entraves das estruturas que a limitavam a leste ou preparar amplo crescimento para oeste, estendendo o setor planejado?


09 fQuanto ao debate, elaboramos três cenários alternativos de expansão e os pusemos em discussão pública, mostrando as vantagens e desvantagens de cada um. Havia conflitos de interesses imobiliários, pois, nas cidades em crescimento, o mercado imobiliário atua politicamente. Goiânia tinha cerca de 430 mil habitantes, e estimava-se que alcançaria 1,2 milhão em 1980 e talvez 4 milhões no ano 2000 - na realidade, Goiânia chegou a 1093 007 habitantes nesse ano; os demógrafos frequentemente erravam nas projeções, por não considerarem a hipótese de mudanças no desenvolvimento nacional e no destino das correntes migratórias, ou mesmo a de diminuição e reversão dessas últimas. De qualquer modo, previa-se um crescimento continuado da população. E, para além das tendências leste-oeste, numerosos conjuntos habitacionais de grande porte estavam sendo construídos sem outro critério que o da oferta de glebas, podendo vir a polarizar de forma caótica as expansões. Adotou-se a alternativa de crescimento para oeste, propondo-se uma malha viária aberta direcionada, assim como uma ordenação de instrumentos, consistente com esta malha direcionada.” (Wilheim, J.)

No entanto como se pode verificar o planejamento urbano cedeu ao impacto do desenvolvimento imobiliário, sem observar o planejamento, e assim a cidade se esparramou nas mais diversas direções.

Por que Goiânia não seguiu seus planos diretores? O primeiro plano diretor para Goiânia foi concluído e oficializado em 1938. Desenvolvido inicialmente pelo arquiteto e urbanista Atílio Corrêa Lima entre 1933-1935, em seguida houve alterações realizadas pelo engenheiro urbanista Armando Augusto Godoy, de 1935 a 1937. Houve em seguida o plano de Coimbra Bueno, que mudou substancialmente as linhas gerais do planejamento e inseriu bairros com origem particular como a Vila (mais tarde Setor) Coimbra e o Setor Bueno. Esse plano foi válido de 1936 a 1950, quando foi substituído pelo de Ewald Jansen, em vigor entre 1952-1954. O plano seguinte nunca seria oficializado, desenvolvido pelo arquiteto Luiz Saia, de 1959 a 1962 e que não teve sua aplicabilidade nem eficiência verificadas, devido ao momento político. O arquiteto Jorge Wilheim elaborou outro plano que vigorou de


10 1968 a 1971, seguido pelo plano de Jaime Lerner em 1975 e pelo de Lubomir F. Dunin, em 1980. O próximo plano diretor seria elaborado pela empresa Engevix Engenharia S.A., desenvolvido entre 1989 e 1992 e oficializado em 1994. O quinto Plano Diretor de Goiânia foi aprovado pela Lei Complementar nº 171/2007, que se encontra ainda em vigor, atualizado em julho de 2010. Além desses planos diretores, houve ainda alguns planejamentos setoriais, como o Plano de Transporte Urbano de Massas de Goiânia (1988) e o Plano de Saneamento Básico – Água e Esgoto (1995). Segundo o arquiteto Sérgio Moraes, a versão do PDIG 2000 permite a divisão do desenvolvimento da cidade de Goiânia em quatro fases: De 1933 a 1950 – A criação do lugar De 1950 a 1964 – A ampliação do espaço De 1975 a 1992 – A expansão urbana De 1992 a 2004 – Espaços urbanos segregados Outros analistas entendem que a partir de 2004, dá-se a consolidação do lugar. Há que se notar que nos anos 1980 a cidade de Goiânia passa por um processo de periferização, com criação de bairros e conjuntos habitacionais de

baixa renda, criados pelas administrações públicas, o que provocaria novo ciclo de adensamento nos vazios urbanos.

Legislação urbanística O início da implantação da cidade de Goiânia deu-se em glebas pertencentes a três fazendas, Botafogo, Criméia e Vaca Brava, perfazendo um total de cinqüenta alqueires, doadas por seu proprietário Andrelino de Moraes. Dada a importância da Capital em local para melhor acesso às regiões do Estado, a hidrografia analisada era suficiente para atender à população de uma cidade de médio porte. Com topografia acessível, com formações planas e poucas elevações, o arquiteto Atílio Correia Lima desenvolveu o plano urbanístico no sítio escolhido para a implantação da nova cidade. As obras se iniciaram em 1933 e em 1935 a cidade já contava com 5.500 habitantes, segundo dados do IBGE (2014). E o registro histórico mostra que esta população foi instalada fora do canteiro de obras em acampamentos improvisados para operários. Estas ocupações eram denominadas “invasão”, pois não havia


11 autorização para acampar legalmente. As ocupações foram apelidadas pelos próprios trabalhadores, como “Invasão do Botafogo” e outras. Ao redor do plano urbanístico, nas quatro direções haviam ocupações, como a leste a Invasão do Botafogo (posteriormente criou-se ali a Vila Nova para atender esta demanda, em seguida contiguamente houve a criação da Nova Vila). A Oeste, havia a invasão da Vila Operária, entre o final do plano urbanístico e a cidade de Campininha das Flores (hoje Campinas, bairro de Goiânia). Ao Norte, havia a invasão do Ferroviário e ao Sul a invasão da Macambira, futuro loteamento Setor Pedro Ludovico. O arquiteto Luiz Fernando Teixeira em artigo “Legado histórico da construção de Goiânia” diz: “Até 1950, o Estado controlava, com planejamento, o desenvolvimento de Goiânia. A população urbana naquela época era de 40.333 habitantes. De repente, entre 1950 e 1964, foram aprovados 183 loteamentos sem qualquer critério urbanístico que se assemelhasse ao plano de Atílio. Lotes lindeiros aos fundos de vale, desarticulação viárias dos loteamentos entre si e, principalmente com a cidade planejada. Esse fato se explica com a revogação, pelo decreto-lei n° 16 de 20

de junho de 1950, da exigência da implantação das infraestruturas urbana nos novos loteamentos. Durante 20 anos a cidade cresceu sem ordenamento urbano necessário para garantir o futuro da configuração de seu espaço social.” Outra situação determinante no desenvolvimento da cidade é que o governo, à época da construção, teve de implementar com maior rapidez os edifícios públicos e o traçado urbano acabou tendo de ser ampliado (mesmo nas mãos de particulares). Teve grande impacto o custo de infraestrutura, rede de águas pluviais, meios-fios, arborização urbana, jardins, rede de água e reservatórios no Setor Sul (na rua 94, posteriormente na rua 90) e residências para os poderes executivo, legislativo e judiciário. Nesta mesma época, foi instalada rede de energia elétrica bem como a Hidrelétrica do Jaó, com o barramento do Rio Meia Ponte, além da pavimentação de vias e construção de jardins públicos na Praça Cívica e no Horto Florestal. Por conta disso tudo, o déficit público foi elevado e, com a falta de recursos para as obras na cidade, a administração propôs pagamento aos fornecedores por meio de permuta de glebas de terras.


12 Essas glebas seriam, mais tarde, parceladas aleatoriamente sem seguir uma orientação maior na conexão com a futura malha viária principal da cidade. Foi esse o caso do Setor Bueno e da Vila Coimbra, entre vários outros. É possível ver na planta de Goiânia de 1938 denominada “Planta Geral de Orientação”(Figura 3), varias glebas junto à represa do Jaó, posteriormente modificadas, em 1947, e aprovadas com nova planta. O Setor Coimbra conectava-se à malha viária na Avenida Anhanguera, próximo ao Lago das Rosas e posteriormente foram edificados o Setor Bueno e o Jardim América.

Dentro deste contexto de ocupação acelerada da cidade, diversos planos de ordenamento urbano tiveram sua vigência de implantação relativamente breve, apesar dos esforços de técnicos

e entidades formadoras de profissionais que se dedicaram em proporcionar soluções antevendo o futuro. A Marcha para o Oeste, com a construção de Brasília e as rodovias federais nas diversas direções foram outros fatores da rápida ocupação urbana, acima do esperado num espaço de tempo e de gerações. Outro aspecto marcante é que a ocupação acelerada mostrou questões estruturais que dificultaram alternativas de fluidez ao trânsito e obras estruturais no sistema viário passaram a ser necessárias. O primeiro exemplo foi a duplicação da Rua 69 no Centro, para implantação da Av. Independência. No Setor Pedro Ludovico, a Avenida 5ª. Radial teve diversos lotes desapropriados e transformada em Avenida T-63, avançando em meio ao Setor Bueno em direção oeste. O Córrego Botafogo, cujas margens eram área de proteção hídrica, com a mata que divide o Centro da Vila Nova, foi ocupado por residências e, nos anos, 1990 foi criada a Avenida Marginal Botafogo, posteriormente ampliada até a Avenida Goiás Norte. Outra área de proteção que desapareceu por ocupação urbana foi o Areião, região de nascentes, onde a vegetação nativa foi trans-


13 formada em lotes para famílias de baixa renda à época. O parcelamento urbano de Goiânia teve seu maior quantitativo nos anos 1940 e 1950, deixando de cumprir a legislação existente à época, em relação à infraestrutura, como pavimentação de vias. Glebas de menor tamanho recebiam vias estreitas o que dificultou a integração entre bairros e vias estruturais. A cidade se modificou nos anos 1960 com a construção de dezenas de conjuntos habitacionais financiados pelo BNH que criaram verdadeiros novos bairros em várias regiões:

Bairro Feliz, Vila Alvorada, Conjunto Vera Cruz, Conjunto Novo Horizonte, Parque Atheneu, Conjunto Anhanguera, Vila Redenção, Vila Canaã, Bairro Goiá, Jardim Atlântico e diversos outros conjuntos, construídos pelo poder público e mesmo por iniciativa privada.

O Centro de Goiânia da infância lúdica à maturidade conurbada Setor Central ou Centro, como é mais conhecido, é o primeiro bairro de Goiânia. Projetado pelo arquiteto Atílio Correia Lima em 1933, ano do lançamento da pedra fundamental do bairro e executado nos anos seguintes, o bairro central de Goiânia antigamente era bem menor do que é hoje. As Avenidas Araguaia, Goiás e Tocantins são largas, como Pedro Ludovico queria, para se diferenciar das ruelas da antiga capital, Goiás Velho. Essas três principais avenidas convergem para o centro do poder: a Praça Cívica, com os prédios que abrigariam o Palácio do Governo e os órgãos públicos, e têm seu fechamento


14 na extremidade norte, com a Avenida Paranaíba. Foi através desse projeto que o bairro teve início. Os primeiros moradores foram abrigados na parte mais baixa, que ficava a partir da Avenida Araguaia em direção ao Córrego Botafogo. O projeto da nova cidade incluía uma preocupação educacional: as primeiras letras eram feitas no Grupo Escolar Modelo, e os estudos continuavam no Liceu de Goiânia, ambos incluídos no plano piloto de Atílio. Dona Maria Ludovico de Almeida Silva afirma que o trajeto até a instituição era feito passando pelos quintais das casas de uma Goiânia que nem conhecia o significado da palavra violência. Após as aulas era hora das brincadeiras na Praça Cívica. A vida religiosa acontecia numa capelinha, onde hoje é o Edifício Dom Abel, já que a Catedral Metropolitana ainda estava em construção. Os adultos tinham muitas opções de diversão, apesar do bairro ainda estar em seu início. Eles aproveitavam o vai-vem na porta do Grande Hotel, as festas e matinês no Jóquei Clube e a sensação da época: as festinhas nas casas de amigos. Pioneiros do bairro afirmam que naquela época o Centro de Goiânia era como um pequeno bairro do interior

ou seja, tinha poucas lojas, somente o Cine Santa Maria, até a inauguração do Cine Teatro Goiânia (atual Teatro Goiânia), em 1942. O tempo era de uma tranquilidade inimaginável para quem vive hoje na metrópole agitada. Mas nem tudo eram flores. A falta de infraestrutura às vezes trazia graves problemas. O setor foi envolvido por diversos bairros, o que acabou deixando as rodas de conversas até altas horas, as matinês do Jóquei Clube e o namoro ingênuo e despreocupado no banco da praça para trás. Mas tudo isto faz parte do passado. Atualmente, durante o dia, o setor conserva a correria das grandes cidades, porém à noite, quando o transporte coletivo leva de volta a população para seus bairros de origem, o local se transforma num espaço quase abandonado. As pessoas não têm motivos para irem ao Centro neste horário, e não sentem segurança para isso. Os shoppings, a dinâmica comercial, os tributos mais caros, além de uma série de outros fatores promoveram o abandono do centro, incluindo sua desatualização com as demandas urbanas da década de 80/90, que exigiam um espaço cada vez maior para o automóvel.


15 Por que revitalizar? Revitalizar literalmente é “dar nova vida”. Assim, o porquê do desejo de revitalização vem a partir de um querer revigorar algo que está camuflado no tempo, que já não tem mais uso. No caso do centro de Goiânia, existem famílias que sucedem os pioneiros da construção da cidade, por isso, o desejo de revitalizar. Outro fator é a possibilidade de alavancagem do turismo da região, já que Goiânia tem um dos mais importantes acervos de Art Déco do Brasil.

O movimento Art Déco consolidou-se como arte decorativa ou design na exposição de Paris no ano 1925. Impulsionado pelos movimentos sociais posterior à Primeira Guerra Mundial, período também conhecido como época da máquina. Conseguiu a conjugação da indústria com a arte e que tudo relativo à época podia ser construído nas artes, na arquitetura e nos materiais, tudo com baixo custo e penetração em todas as camadas sociais e ao alcance delas. O surgimento desse movimento na arquitetura na cidade de Goiânia (então em fase de projeto e construção) deu-se pela coincidência histórica de que a década de 30 foi o auge do movimento em todo o mundo com ideias e projetos racionais e modernistas. Tanto é assim que a multiplicação das edificações daquele período foi baseada neste conceito. No país em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e outros monumentos e edificações se tornaram símbolos de uma época das cidades. No caso da cidade de Goiânia as edificações foram realizadas no Centro da Cidade como símbolo de poder político e administrativo do Estado de Goiás. O principal elemento marcante da cidade, símbolo do momento, é o Palácio das Esmeraldas.


16 Outros edifícios são a Procuradoria Geral (inicialmente sede do Poder Judiciário), o Coreto, a Secretaria de Cultura (já foi Secretaria de Fazenda), o Museu Zoroastro Artiaga, o Instituo Federal, o Grande Hotel, a Estação Ferroviária e muitos outros. Mas o imprescindível motivo da revitalização é o fato do centro perder sua importância institucional e econômica, com o deslocamento de vários prédios públicos para outras zonas, o que acabou levando também boa parte do comércio, que migrou para os shoppings.

O desejo da revitalização e as iniciativas nem tudo foi em vão Pedro Wilson Guimarães, ex-prefeito de Goiânia (2001-2004), cujo slogan era “Goiânia: Você fazendo parte”, em 2002 criou um Grupo Executivo para Revitalização do Centro Histórico de Goiânia (Gecentro), com a finalidade de estudar, propor e coordenar a operacionalização da atuação das ações do setor público voltadas para a recuperação dos espaços centrais da Cidade.


17 Direcionaram-se a cinco áreas principais: – Revitalização da Praça Eurico Viana (Av. República do Líbano com Rua 2): A intervenção deu-se basicamente na arborização e no ajardinamento, além do novo mobiliário. – Revitalização da Praça Joaquim Rufino (Rua 4 com Rua 7, Setor Oeste): Por meio de uma parceria público-privada, as modificações se deram de acordo com as necessidades dos moradores. Assim criou-se um playground, refizeram-se a paginação e um novo paisagismo com traçados contemporâneos. – Revitalização da Praça do Avião (Praça Santos Dumont, Setor Aeroporto): Novo projeto urbanístico, concebendo novos mobiliários, parque infantil, pista de caminhada, recanto para terceira idade, nova paginação e praça de alimentação. – Revitalização do Mercado Aberto (Av. Paranaíba entre as Ruas 68 e 74): O Mercado Aberto foi estabelecido em local previamente designado por Atílio Correia Lima, em seu plano original, como espaço para feiras e comércios periódicos. Encontra-se ainda próximo à Avenida Goiás, que na época da idealização do plano sofria com comercio informal dos ambulantes.

– Revitalização da Avenida Goiás: Releitura do traçado original de Atílio Correia Lima, buscando valorizar a identidade e a história da cidade. Mantiveram-se a arquitetura remanescente do estilo Art Déco e os monumentos históricos, como relógio, coreto e o Bandeirante. Entregue em 2003 (projeto Cara Limpa). O Gecentro não parou por aí, ainda foram propostos alguns mecanismos de ação para que a vida no Centro fosse mantida. Idealizou-se, de forma inovadora, a operação urbana consorciada na cidade de Goiânia, que teria como projeto piloto a região central da cidade. Idealizaram-se também as Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), além dos projetos Cara Limpa e Estação Cultura. O Gecentro também lançou projetos de requalificação da Praça Tamandaré, do Parque Lago das Rosas e do Bosque dos Buritis. Também foram objeto de propostas a Avenida 85, Marginal Botafogo e a Avenida Leste-Oeste. A pretensão do poder público foi abrangente no que diz respeito a suas ações por meio do Grupo Executivo de Revitalização do Centro. – Estação Ferroviária: Projeto de restauro e recuperação do edifício


18 A obra foi licitada e iniciada em dezembro de 2017. Situação e uso futuros do edifício ainda indefinida. – Cara Limpa: O projeto visava oferecer incentivos tributários a imóveis no centro histórico que mantivessem suas características arquitetônicas. Previa ainda fiação subterrânea e uniformidade das calçadas. O projeto foi parcialmente executado com recursos obtidos por meio de renúncia fiscal pela Casa Brasil. – Monumento do Trabalhador: Previsão de reconstrução do monumento, demolido por ocasião da ditadura. – Praça Cívica: Remoção do asfalto na praça, com construção de estacionamento subterrâneo e requalificação do piso adequado para pedestres. – Praça do Trabalhador: Adequação entre a praça no entorno do monumento e a área da Feira Hippie, com previsão de área de estacionamento para ônibus. – Vila Cultural: Valorização do Teatro Goiânia e de seu entorno, com demolição de todos os imóveis da quadra e edificação de anexo ao teatro, com grande praça ao nível da rua. O projeto foi executado e concluído, mas sem a operação prevista inicialmente (parceria público-privada). – Circuito Cultural: O projeto em fase inicial prevê a destinação dos edifícios

públicos da Praça Cívica a atividades culturais, como exposições e museus. – Projeto BRT: Em fase de execução, apesar de paralisado há alguns meses, o projeto prevê uma linha de ônibus expressa fazendo a ligação norte-sul, passando pelo centro da cidade. – Mobiliário urbano: Fruto de um concurso realizado pela prefeitura, o projeto vencedor faz uma releitura do Art Déco, prevendo linha completa de mobiliário, de lixeiras a bancos, passando por defensas, abrigos para pontos de ônibus e placas de identificação de monumentos. – Casa do Advogado de Goiás: O edifício de propriedade da Ordem dos Advogados do Brasil, na Av. Goiás, foi totalmente restaurado com recursos próprios da entidade e destinado a abrigar atividades culturais bem como a servir de apoio a advogados e oferecer serviço informativo à população. – Nova sede do Iphan: O Iphan recebeu do governo federal a antiga sede da Secretaria da Fazenda, na Praça Cívica. O edifício está em fase final de reforma para sediar o órgão e outros atrativos culturais, formando a Casa do Patrimônio.


19 É a memória que motiva as pesPor que somente a preservação não promove a revitalização? soas a fazerem. Entretanto, sem ativiPreservar é a manutenção de um bem no estado físico em que se encontra e a desaceleração de sua degradação, visando prolongar e resguardar o patrimônio cultural. Entretanto somente a preservação não garante sua utilização, ao passo que a revitalização promove o uso, dando vitalidade ao espaço. Revitalizar trata de um conjunto de ações, a fim de permitir a um determinado espaço nova eficiência, novo sentido em seu uso, visando uma dinamização do espaço e do seu entorno. A necessidade de intervenção em centros urbanos se dá não apenas para que se conserve toda a estruturação existente, mas, sobretudo pela necessidade de restaurar ou requalificar a identidade dos espaços e das pessoas com que se relaciona. Assim compreenderemos essas diferenças e responderemos as essas questões, desvendando os termos envolvidos. As perspectivas até hoje de revitalização dos centros urbanos sempre foram feitos com base no desenvolvimento e resgate histórico.

dade econômica junto à memória, a revitalização poderá ficar subutilizada, como já ocorreu, por exemplo, após o restauro de edifícios como a Estação Ferroviária, o Grande Hotel e o Coreto. Esses restauros não tiveram muito efeito, pois não foram pensados juntos a uma atividade econômica ou cultural. No caso do Grande Hotel, o problema foi que, mesmo instalando equipamentos públicos em seu interior, a questão política interferiu, pois, com a mudança do gestor, mudaram-se os interesses. A associação de ações de conservação de patrimônio, desenvolvimento de novas atividades econômicas, o incremento de instrumentos fiscais e tributários e a mudança de paradigmas no uso do solo podem promover uma mudança do interesse na região, atraindo novos negócios e promovendo o território central de forma contemporânea.


GOIÂNIA, PATRIMÔNIO E LEGISLAÇÃO.

Ao longo da história houve tentativas de criar legislação no intuito de preservar edificações do período do início de Goiânia. Dada a importância do sítio urbano de Goiânia, foi feito um estudo e certificado por órgão federal o tombamento de edificações do início da cidade. Foram objetos de tombamento: – 22 edifícios públicos – O traçado viário do projeto piloto – O nome das vias públicas no projeto piloto Em 11 de dezembro de 2002, foi acolhido pelo Iphan o pedido de tornar Patrimônio Nacional o acervo arquitetônico Art Dèco de Goiânia, com parecer do prof. Paulo Bertran. Interessante destacar que, ao reconhecer a importância desse patrimônio, o Brasil deixa de ser Barroco para se situar na Era Moderna: foi o primeiro conjunto Art Déco a merecer a distinção. É interessante notar que a grande maioria do patrimônio artístico nacional está concentrada no Período Colonial. Antes de Goiânia os únicos conjuntos urbanos reconhecidos eram Brasília e o

20 Complexo da Pampulha em Belo Horizonte, ambos modernistas. Ao lado da legislação federal, a legislação do Município de Goiânia também dá certa atenção ao assunto, especialmente por meio dos seguintes instrumentos: – Lei Complementar nº 31, de 29 de dezembro de 1994 – Decreto nº 2.266, de 11 de julho de 2005, que trata da identificação das Zonas Especiais da Cidade. O Centro da cidade, área de inicio da urbanização e ocupação feita pelo Estado de Goiás tem parâmetros urbanísticos, que merecem análise funcional e histórica. Houve períodos em que foi possível realizar ocupação com edifícios de grande porte residencial, sem afastamento frontal. Por outro lado, ainda hoje é possível realizar o levantamento de imóveis originais. Importante ressaltar que muitos edifícios têm grandes painéis de propaganda cobrindo todo o imóvel.


20 Programa de Revitalização do Centro de Goiânia OBJETIVOS – Preservar as edificações da época da criação da cidade de Goiânia, como motor de influência nas cidades que compõem a Região Metropolitana de Goiânia, representativas do início das cidades e de momentos que marcaram a história de suas origens; – Incentivar a preservação de edificações de época e também a conservação, pois as gerações atuais desconhecem a origem e a importância da história para a cidade, como elementos catalisadores de incrementos turísticos e econômicos para a cidade; – Melhorar os ambientes centrais das cidades por meio de projeto de revitalização estética e de uso, incorporando as edificações que possuem valor arquitetônico; Operação Urbana Consorciada; – Criar mecanismos de compensação e remuneração do patrimônio edificado conservado; este item ainda não esta contemplado pelas leis do município de Goiânia; – Ampliar a oferta de equipamentos sociais e culturais com transferência

de propriedade de edificações para o poder público, por meio de pagamento com direitos de construção e outorga onerosa ou Transferência do Direito de Construir; – Melhorar o ambiente de negócio e garantir aos empreendimentos locais perspectiva de ampliação do comércio – Possibilitar novas atividades econômicas para suprir e substituir as atividades que foram retiradas do centro; – Promover projetos de habitação popular e também projetos residenciais de médio e alto padrão, conforme tendência mundial;

Identificação e localização do programa O primeiro passo é a necessidade de estabelecer parâmetros que determinem as características desejáveis para a inclusão das edificações e quadras no Programa de Revitalização do Centro de Goiânia, como forma de garantir interesse social e econômico. Observa-se uma convergência de idéias na definição do triângulo central formado pelas avenidas Tocantins, Araguaia, e Paranaíba, No entanto dentro de uma visão ampliada sugerimos a inclusão das adjacências até a Avenida Independência, Rua 91,


21 Alameda do Botafogo, Avenida Universitária e Rua 26 com Alameda do Buriti. Num segundo momento, a preservação das fachadas históricas (Art Déco e modernismo), inclusive com as cores e detalhes utilizados na época, deverão ser também objeto do interesse do programa.

Base legal e conceitual Considerando a legislação do Município de Goiânia, em especial a Lei Complementar nº 31 de 29/12/1994 e o Decreto nº 2266 de 11/7/ 2005, que tratam da Identificação de Zonas Especiais da Cidade de Goiânia e abrangem de forma direta o Centro da cidade em sua revitalização histórica e funcional, como área de preservação histórica. A partir dessa legislação é que os usos definidos deverão ser observados, tanto em relação ao perímetro da área, como à abrangência dos usos permissíveis. Entre outros aspectos, pode-se observar a otimização e preceitos que devem viabilizar o presente trabalho e a envolvência dos órgãos necessários ao cumprimento da proposta, que deve ser incrementada e referendada pelos municípios da região metropoli

tana, para que com um conjunto de entidades reunidas seja possível fazer a implementação e a conjugação de esforços para alcançar o interesse comum, sendo ele os ganhos de trabalhar como um conjunto uníssono. Num exercício especulativo inicial, veem-se alguns usos preenchendo esses requisitos iniciais, como turismo, hospitalidade e atividades ligadas à cultura e à educação, de ensino superior a cursos de línguas e profissionalizantes. Essas atividades têm em comum algumas características, tais como: ¬– Horários especiais e diferenciados: o funcionamento em período noturno age complementarmente ao horário tradicional do comércio – Potencial econômico do comércio: o aumento do fluxo de consumidores em atividades intensivas aumenta o potencial para o comércio – Potenciais da paisagem – Funcionamento 24 horas VALORIZAR

CONSERVAR

REVITALIZAR

VALORAR

PROMOVER


22 VALORIZAR – Reconhecer as edificações de cunho significativo e arquitetônico: – Recuperação de edifícios Art Déco, modernistas ou de significado histórico determinante – Modernização ou requalificação interna, desde que mantidas as características externas REVITALIZAR – Fazer intervenção urbana visando à preservação e valorização dos empreendimentos, com ganho social e econômico VALORAR – Considerar importante e garantir desconto em impostos, taxas e emolumentos incidentes: – Nas edificações com arquitetura de época – Nos usos dessas edificações que promovam ou contribuam para sua conservação – No restauro e/ou recuperação da arquitetura original – Permuta de índices de outorga onerosa em outros locais da Região Metropolitana de Goiânia CONSERVAR – Como medida de interesse geral os instrumentos legais devem ser elaborados de maneira clara e objetiva para que haja compreensão do sentido da legislação:

– Ao proprietário do imóvel dentro da área denominada Centro Histórico (serve para outros imóveis nos municípios da RMG) deverá ter isenção integral do IPTU e autorização para comércio noturno. Passa a ter direito de obter direito de solo criado em troca da outorga onerosa em outros locais da cidade. O proprietário deverá apresentar ao poder público que regulamenta a área a proposta para a instalação de novo uso que não seja habitacional. PROMOVER – Dar publicidade, mostrar o potencial e os valores do Centro, por meio do uso ampliado e de alterações na postura. Uso ampliado: – Gastronômico – Escritórios – Academias – Livrarias Postura: – Fechamento de trechos em sazonalidades (festivais, mostras, concertos, e outros) – Fechamento de trechos em horários alternativos – Centro ciclístico/pedonal – Festival de vitrinismo e similares


23 Observação: A aplicação do quadro acima se faz necessária para desafogar os bairros residenciais; revitalizar o centro para utilização em todos os horários e aproveitar o uso coletivo de transporte. Porém, só será possível se houver a vontade política e a discussão com os segmentos envolvidos.


PROPOSTAS DE REVITALIZAÇÃO DO CENTRO DE GOIÂNIA Mecanismos econômicos, fiscais, promocionais e legais no âmbito Estadual e Municipal visando requalificar o Centro de Goiânia.


Desenvolvimento Econômico

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1- Redução do IPTU para imóveis ocupados no Centro 2- Redução de alíquota de IPTU para imóveis residenciais com valor de patrimônio histórico bem-conservados (redução de 80% no IPTU durante 10 anos) 3- Redução de alíquota de IPTU para imóveis comerciais com valor de patrimônio histórico bem-conservados (redução de 80% no IPTU durante 20 anos e de 50% no ISSQN) 4- Incentivos fiscais para novas edificações: redução de alíquota do IPTU/ ISSQN/ ICMS 5- Isenção do IPTU para comércio 24 horas na Rua do Lazer; 6- Imóvel no Centro com valor de patrimônio histórico restaurado recebe como forma de pagamento “Transferência do Direito de Construir” do imóvel já existente: cada metro quadrado construído daria o direito de construir 2 metros quadrados em áreas determinadas pelo Município, de modo a gerar atração em investimentos na região do Centro Histórico de Goiânia 7- Retirada do comércio informal (camelôs/ambulante) do Perímetro Central, com manutenção da fiscalização 8- Facilitação da instalação temporária de comerciantes informais nos imóveis desocupados, até a sua adequação e regularização 9- Regularização do comércio informal para que não concorra com o comércio instalado (banca de revistas e similares) 10- Integração dos polos de moda e vestuário 11- Desenvolver um roteiro que integre os polos da Rua 44, Avs. Bernardo Sayão, 85 e Benjamin Constant (semijóias) 12- Organizar grupos para a vigilância e guarda de veículos, através do cadastro de flanelinhas, como ação social 13- Incentivo Fiscal (ISSQN/ ICMS) para o comércio que escalonar e flexibilizar o horário de atividades no Centro


26 14- Atualização de redes de dados e cabeamento ótico compatível com o programa Polo Digital; 15- Definição e priorização do conjunto de atividades de forma a não estimular a precarização e a criação de zona de risco de atividades de ilícitas (distribuidoras de bebidas). 16- Criação de mecanismos econômicos para promover a verticalização dos estacionamentos de veículos: 17- Redução de 10% na alíquota do ISSQN/ ITU/ IPTU ou outro mecanismo, de acordo com número de pavimentos construídos; 18- Aumento na alíquota do ITU/ IPTU em 100% para estacionamento térreos e/ou cobrar ISSQN;

Ação Institucional de Segurança Pública 1- Policia militar – Postura ostensiva e ação repressiva 2- Guarda Municipal – Presença em ruas movimentadas 3- Policia Civil – Identificação de indivíduos suspeitos 4- Corpo de bombeiros – Unidades de resgate presentes 5- Polícia presente na porta das lojas, trazendo segurança para o comerciante 6- Extensão do horário da segurança pública, conforme o horário de funcionamento nas escolas e estabelecimento comerciais 7- Focos Operacionais: Praça Cívica, Av. Goiás, Av. Anhanguera e Av. Universitária

Infraestrutura básica 1- Execução do projeto de restauro e requalificação da Praça do Trabalhador e Estação Ferroviária, com recursos do Governo Federal 2- Construção da estrutura na Feira Hippie e Praça do Trabalhador conforme projeto existente e já quantificado, por intermédio de Parcerias Público-Privada (PPP) e/ou Operação Urbana Consorciada (OUC);


27 3- Ruas Amigáveis (mesmo nível das calçadas, com pisos adaptáveis aos pedestres); 4- Readequação das calçadas das Ruas 3 e 4, nos padrões do Jóquei Clube; 5- Alteração de lei municipal de meios-fios, padronizando entre 5 e 7 cm; 6- Estudo da ampliação da área de calçadão no Centro, gerando uma melhor convivência e segurança à sociedade e instalação de parklets; 7- Plantio de árvores por tipo de rua e podas qualificadas; 8- Parceria com o setor privado para instalação de sanitários públicos com infraestrutura, com espaço para publicidade; 9- Instalação de parquímetros ou estacionamentos controlados; 10- Padronização da sinalização pública 11- Instalação de sinalização indicativa para o Centro, nas entradas de Goiânia; 12- Aumento de 40 km/h para 50 km/h a velocidade nas Avenidas Araguaia, Tocantins e Paranaíba e todas as avenidas e ruas; 13- Estabelecimento de horário de carga e descarga entre as 20 e as 7 horas, incluindo manutenção de gás; 14- Promoção de mutirão de limpeza e manutenção urbana; 15- Instalação de novas lixeiras.

Valorização do Patrimônio Histórico 1- Isenção do IPTU do imóvel de valor arquitetônico em uso que devolva a fachada restaurada, segundo o projeto Cara Limpa, sob responsabilidade da Prefeitura;


28 CRITÉRIOS: 1- Imóvel cuja fachada for restaurada no prazo de 6 meses: isenção do IPTU por 5 anos 2- Imóvel cuja fachada for restaurada no prazo de 1 ano: isenção do IPTU por 3 anos 3- Imóvel cuja fachada for não for restaurada no prazo de 1 ano: autuação 4- Reconstrução de imóveis demolidos com incentivos em lei; 5- Revisão de licenças de ocupação na Rua do Lazer; 6- Valorização das fachadas das edificações conforme o projeto Cara Limpa; 7- Reapresentação do projeto de lei de Engenhos Publicitários; 8- Criação de linha de crédito para revitalização das fachadas; 9- Estabelecimento de incentivos tributários progressivos. 10- Reestudo das fachadas de prédios ou imóveis não históricos, entrada, elevador e acessibilidade; 11- Expedição de alvarás para imóveis antigos que não possam atender às novas normas de estacionamento ou acessibilidade, bem como flexibilidade das regras do Corpo de Bombeiros, conforme o ramo de atividade (para os itens da valorização do patrimônio histórico); 12- Criação do Alvará de Locação por níveis (pré-qualificação do alvará por imóvel).

Promoção do Centro 1- Realização de eventos culturais com estímulo à população, incluindo principalmente terceira idade; 2- Incentivo tributário para instalação de unidades de ensino público e particular.


29 3- Utilização de galerias comerciais de eventos noturnos (exposições de artes, lançamentos literários, gastronomia) 4- Estabelecimento de prêmio de valorização de imóveis do inicio da cidade no Centro Criação do programa Adote um Patrimônio; 5- Criação de ruas para circuitos em fins de semana; 6- Incentivo à utilização da Praça Cívica pelas famílias, com autorização para comércio ambulante (pipoca, algodão doce, água, churros, todos os dias) e instalação de banheiros públicos; 7- Bloqueio dominical do Anel Interno da Praça Cívica, com permissão de foodtrucks nos fins de semana e instalação de estrutura (banheiros públicos); 8- Promoção de concursos de fachadas, vitrines, decorações sazonais e natalinas; 9- Criação de parceria com as Agências Estadual e Municipal de Turismo para um processo contínuo de divulgação das mudanças e inovações, bem como os benefícios alcançados com a revitalização; 10- Flexibilização da legislação para ocupação de calçadas após as 19h30 para bares e restaurantes; 11- Criação de incentivos a cinemas e casas de show, com iluminação atrativa e segurança.


CONCLUSÃO As discussões e sugestões dos encontros realizados com os representantes de órgãos do poder executivo estadual, municipal e segmentos interessados, estão sendo encaminhadas às autoridades competentes para posicionamento objetivo e institucional, e oportunamente serem introduzidas em seus planejamentos estratégicos. Ao adotar uma política voltada para a publicidade aos produtos do comércio, da indústria regional como confecção, hortifrutigranjeiros, artesanatos, etc., bem como ao turismo de empreendimentos em art déco, certamente, além de colocar a cidade de Goiânia como destaque da moda, dos movimentos da arte construtiva, haverá a consolidação da indústria do turismo (de lazer, de negócios, cultural, religioso e outros), gerando mais emprego e renda à população.

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CIDADES QUE PASSARAM POR INTERVENÇÕES URBANAS Antes e Depois Revitalização de unidade habitacional coletiva no Gamboa, Rio de Janeiro.

Rua Sacandura Cabral, 295 - Gamboa. Recuperado com recursos municipais (1998) 16 unidades habitacionais + 01 loja (413,29m²). Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro.

Revitalização de unidade habitacional coletiva no Centro do Rio de Janeiro. - Rua Senador Pompeu, 34 - Central/ Cortiço tombado pelo IPHAN.


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Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro.

Pelourinho em Salvador, Bahia - Antes e depois da revitalização urbana

Fonte:(URSTENAU, 2009)

Fonte:(www.nublog.com.br, 2012)


32 Puerto Madero em 1989, antes da revitalização

Puerto Madero depois da revitalização

Fonte:www.google.com.br/search?q=revitalização+puerto+madero+fotos+antes+e+depois


33 Em 2000, a Prefeitura de Madri iniciou o projeto para recuperar as margens do rio Manzares. No lugar das marginais, a cidade ganhou um parque linear. - Rio Manzares em Madri, Espanha

Requalificação urbana em Barcelona, Espanha

Memorial do Muro de Berlim, Alemanha


34 Renovação urbana em Seul – Coreia do Sul O caso da recuperação do canal Cheonggyecheon, a aproximadamente 3 quilômetros da Universidade Feminina de Ewha em Seul, exemplifica como uma cidade pode mudar os seus padrões de crescimento, restaurar um importante e antigo canal urbano ao seu papel natural e gerar um dos mais interessantes espaços públicos para a população. O Canal Cheonggyecheon foi construído durante a Dinastia Joseon (1392-1410) e tinha a função de dreno para a cidade. Esse córrego sobreviveu durante centenas de anos, até 1940, quando a cidade se tornou populosa e se fixou em torno do córrego. Gradualmente, o córrego foi coberto por concreto e nos anos de 1976 cerca de 6 km de vias elevadas foram construídos acima dele. Isso tudo começou com o crescimento econômico da Coréia do Sul. A cidade começou a se expandir e, com isso, desenvolveu novas infraestruturas e rodovias para atender à demanda do crescente número de veículos. Somado ao aumento da população que precisava de mais vias para sua locomoção, o antigo canal que atravessa o centro de Seul se tornou praticamente um esgoto a céu aberto. E assim acabou soterrado em baixo de uma movimentada via expressa. Na época, a via foi considerada um exemplo de sucesso da industrialização, mas com o tempo ela se tornou símbolo da degradação das cidades e do desenvolvimento a qualquer custo. Mas a idéia de substituir a estrada começou em 1999 quando a Câmara Municipal de Seul precisou fechar uma das três artérias rodoviárias da cidade. Paradoxalmente, com o fechamento da via eles descobriram que o volume de viagens de carro caiu substancialmente. E isso é um exemplo do Paradoxo Braess, que afirma que: “Removendo o espaço em uma área urbana e diminuindo a capacidade extra dentro de um sistema de rede viária, pode-se diminuir o trânsito de automóveis em geral.”


35 Dessa forma, o prefeito de Seul começou a fazer lobby de uma importante iniciativa para eliminar a autoestrada. Em julho de 2003, urbanistas decidiram derrubar a autoestrada para revitalizar a área e ajudar Seul a se tornar uma cidade moderna e ecologicamente correta como parte de um vasto projeto de revitalização urbana. A via foi removida e o córrego foi recuperado e transformado em um impressionante parque urbano linear de 5,8 km de extensão, 400 hectares e 80 metros de largura. No trabalho de revitalização, mais de 75% do material da demolição da antiga via foi reutilizado para a construção do parque e reabilitação do córrego. Hoje, peixes, pássaros e insetos voltaram a povoar o local. E a temperatura da área em torno do parque é em média 3,6 graus Celsius mais baixa do que em outras partes da cidade. O projeto de restauração do Canal Cheonggyecheon levou em torno de três anos e custou por volta de 300 milhões de dólares, transformando o afluente em um espaço urbano ambientalmente amigável para seus residentes e visitantes. Hoje, você encontra casais, famílias e amigos de caminhada ao longo das margens e na água rasa. Compare a mudança:


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37 Imóvel histórico de Goiânia destruído para tornar estacionamento


38 REFERÊNCIAS Prefeitura Municipal de Curitiba Prefeitura de Medellín, Colômbia. Prefeitura do Rio de Janeiro (Caderno Habitat) Prefeitura Municipal de Salvador Prefeitura de Manaus Prefeitura de Buenos Aires Prefeitura Municipal de Goiânia Prefeitura de Madri Prefeitura de Barcelona

Sítios A Redação: www.aredacao.com.br http://www.suapesquisa.com/cidadesbrasileiras/cidade_goiania.htm http://www.encontragoiania.com.br/goiania/ http://www.scielo.br/pdf/cm/v17n33/2236-9996-cm-17-33-0179.pdf www.nublog.com.br http://noamazonaseassim.com.br/palacete-provincial/ www.banrepcultural.org www.vistaz.com.br www.skycrapercity.com www.EPM.com.co http://www.jorgewilheim.com.br/legado/Post/visualizar/16


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