EPIFANIAS - José Guardado Moreira

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JosĂŠ Guardado Moreira Poesias

2007


epifanias

O presente é o momento onde passado e futuro se espelham na ilusão da existência separada do eterno agora.

O estar ante indica um falsa separação que na ilusão do presente se toma por dualidade.

Quem olha acolhe em si o reflexo que no presente é a coisa real.

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A mente comum é o louco da casa enchendo o nada de coisa nenhuma.

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A mente que pensa é um catavento cego que afiança existir fora da realidade.

A mente que sente o vazio do pensamento contempla a realidade no estado de plenitude.


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O natural da mente é a plena claridade vazia de intenção.

O silêncio da mente é o primeiro sinal do agora consciente fluindo no real.

O que é pensado da memória vem nela jazendo seco morto e sepultado.

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O que se imagina é uma fantasia na retina vazia do presente sonhado.

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O nada do vazio é apenas uma ideia que a mente imagina como uma ausência sempre presente.

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O natural do ser é o fluxo consciente no não existente da imensa claridade.

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O natural da mente é ser não nascida e não limitada pelo impermanente.

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A natureza inerente do ser cintila sempre como uma não fantasia ao sol da noite e do dia.

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Esvazia-te pois nascer é lembrar-se sempre do espaço sem nome onde a essência brilha.


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Quem vive pela memória perde-se no sonho morto que se pretende como real.

Repousa sem agir e respira na pausa a luz perfeita do não existir.

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No espaço natural da luz transparente não há apego nem rasto da mente original.

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Querer parar o fluxo da mente é o mesmo que deter uma coisa inexistente.

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O tigre selvagem e o dragão celeste casam na estrela polar o sopro de leste e o cinábrio da manhã.

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Quem separa a luz da treva e o vazio do pleno não reconhece ainda a transparência da não mente.


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A limpidez do espaço e luz incondicionada eis a morada da eterna não mente.

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Quem apaga a noite para ver as estrelas esquece que o céu é um véu no espaço da luz materna.

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Sem o peso da letra o corpo é puro espaço luminoso e vasto onde o ser respira em júbilo constante .

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Espaço sopro e terra vermelha eis a tríplice morada da luz que encarna no corpo a unidade.

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O respirar natural e livre do instante a instante liberta o ser da morte.

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O que não finda nem começa faz do não agir a pausa da longa expiração.


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O não agir suspende o fluxo constante onde se instala a luz do instante.

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Quem quer entender que a consciência é do ser a luz natural respira sem temer a pausa entre a vida e a morte nascente.

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O propósito do ser reside no desapego e no discernimento que na pausa interna fazem da não mente o espelho consciente da sapiente claridade.

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A qualidade da atenção revela-se a cada instante quando a pausa do alento respira a eternidade.

32

A hora da verdade não existe no tempo pois no momento se respira a clara visão da realidade.

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Achando sem procurar eis a resposta ao desafio da existência natural onde o ser encontra do fio da consciência.


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Querer pela intenção ser o que se é resulta em esconder de si mesmo a face iluminada.

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Nada desejar ou querer nada fazer ou almejar eis a condição primeira onde a sageza se revê.

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O mar líquido do fogo consciente semeia na mente o pomar do infinito.

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A mente é fumo cortina e ilusão que oculta no mundo o real da percepção.

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A sensação do real perde na memória o acto imaculado de saber directamente.

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O silêncio do corpo abre no oceano da luz vasta e clara o olho da não mente.


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Nu na caverna sombria da mente o clarão anuncia a eclosão consciente.

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As três cabeças do corpo denso sustentam no pilar o vestíbulo imenso da graça abrindo a várzea consciente.

42

O vento esconde no manto de chuva uma claridade fugaz de tição ardendo no poço do mundo.

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A arte do agora consiste em saborear a cada momento o perfume intenso do contentamento.

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O aroma do mundo que o orvalho tece respira no fogo alegre a presença do fundo que o alento enobrece.

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Ressoando no osso a vibração interna canta no corpo a mutação terrena.


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Ardente e veloz a luz da mutação lamina no corpo a escória do tempo antes de alcançar o saber do momento.

47

Um dia na vida basta para beber da cascata imersa no eterno agora.

48

A nuvem passa deixando no céu limpo a perfeita sensação da sabedoria clara onde tudo respira.

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Abrindo a porta da torre vazia o farol ardente reluz do centro do saber pleno.

50

Entoa a escala descendo da alva ao fundo de escada e alenta a subida com a for莽a da vaga que irradia ondas de sabedoria.

51

As duas cabe莽as num corpo s贸 cantam o ouro da estrela polar ardendo no p贸.


52

O cubo negro da estrela caindo na noite densa muda o corpo em prisma solar.

53

A lente de areia activa na glândula o raio de luz unindo a volúpia terrena ao gozo celeste.

54

Após a núpcia o quarto consciente espelha no corpo o ser em presença.

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A coisa única contém a trindade na quarta parte onde a mão desenha a esfera da união.

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O ardor da face queima no véu a ilusão negra da luz primeira.

57

A chave mestra roda no corpo e acende no portal da noite o clarão.


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A cada hora respira e labora pois do ardor brota a atenção ao fulgor do nada.

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Atenta na pausa que não respira pois do nada nasce a sabedoria.

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Na face oculta pelo fumo do céu brilha a infusão da graça plena.

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No zero tudo começa e acaba voltando o sem tempo ao nada.

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Se a aspiração não é intensa o sono do coração é poeira densa.

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Acende na cabeça a dupla chama da esfera alada intensa e dourada.


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A balança pesa a rosa e o cardo deles extraindo o ouro do fiel.

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A massa cinzenta é apenas o espelho onde o invisível se torna presente.

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O silêncio é o eixo onde giram fugazes as esferas aladas do desconhecido.

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O som universal ĂŠ luz condensada criando do nada a forma da vogal.

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A consoante nasal desdobra no sopro o espanto inicial presente no corpo.

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O arco-Ă­ris desce no humano que sente no gosto terreno o perfume intenso do sopro pleno.


70

Não temas a via breve pois a longa viagem do regresso não existe.

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