Textos da exposição 'Amador Perez 50 anos - Fotolivrografias'

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Amador Perez 50 Anos Fotolivrografias

Paço Imperial . 3 de agosto a 20 de outubro de 2024

Curadoria . Amador Perez

Notas de um percurso

A arte sempre me atraiu, desde a infância, e na adolescência colecionei publicações vendidas em fascículos nas bancas de jornal, experimentando técnicas para copiar imagens na tentativa de entender como eram feitas as reproduções.

Nos anos 70, interessado por fotografias de jornais e revistas, selecionei e utilizei essas imagens como referências para desenhar a grafite, matéria que exploro até hoje, pesquisando paralelamente as possibilidades da xerox com os poucos recursos disponíveis à época.

Elaborando e aprofundando questões do desenho, desenvolvi séries nos anos 80 e 90 com técnica bastante acurada, virtuosismo que fundamenta o desejo de materializar fantasmas da minha imaginação estimulada pela força das estampas da arte.

Cada vez mais interessado nos métodos de reprodução gráfica, no início dos anos 2000 experimentei a combinação de técnicas de gravura, procedimentos fotográficos e recursos digitais, sempre propondo relações instigantes entre os meios.

A partir de 2015 comecei a fotografar com o celular, redescobrindo o aparelho, que assumi como um novo instrumento de trabalho, dando continuidade à pesquisa e reflexão sobre materialidade e imaterialidade, singularidade e multiplicidade das obras de arte e suas reproduções.

A exposição Amador Perez 50 Anos Fotolivrografias é composta por quatro núcleos: Eus e Um, variações digitais recentes sobre a série homônima original de 42 autorretratos que desenvolvi através de desenhos a grafite e lápis de cor

entre 1987 e 1990; Linha do Tempo, seleção de 50 trabalhos que apresentam uma visão retrospectiva de minha trajetória; série Piranesiana:Fundição (2015-22), onde parto do fascínio que a obra gráfica de Piranesi exerce sobre mim explorando seus projetos de lareiras, surpreendentes gravuras em metal onde o autor representa o fogo em 37 variações singulares; e a série Goyesca:Taurografia(2018-23), onde reúno e componho sobre estampas da icônica Tauromaquiade Goya, objetos relacionados, em minha fantasia, às touradas e à própria técnica da gravura.

Nunca limitei meu trabalho a um tipo de técnica apenas e pretendo que a diversidade de meios que utilizo exprima a coerência das minhas ideias.

AmadorPerez50Anos

Rafael Cardoso – 2024

(historiador da arte e escritor)

Cinquenta anos de carreira. Poucos artistas têm o privilégio de comemorar esse marco em plena efervescência. Uns despontam cedo, e depois esmorecem. Outros começam tarde. O mais comum são os que vivem uma fase de intensa criatividade, em que produzem as obras que firmam suas reputações, e passam o resto da vida a burilar esses achados. Amador Perez é exceção. Começou bem, lá pelos idos de 1974, e fica cada vez melhor. É um raro caso de universo imaginativo em contínua expansão.

Quando tomei consciência do trabalho dele, em 1990, Amador já era reconhecido como mestre do desenho. Suas obras tinham um grau de elaboração técnica que provocava palpitações no coração de um pobre estudante de história da arte. Mas o virtuosismo pelo qual era aclamado mascarava uma densidade conceitual então menos compreendida. Nos anos seguintes, o artista foi revelando aos poucos que o desenho era uma ferramenta, entre outras. Molhou os dedinhos na gravura, pulou ondas na colagem, mergulhou de cabeça na manipulação digital, veio à tona na fotografia. Seu domínio é a imagem, em toda sua mutabilidade oceânica.

Por trás do périplo por virtuosismo e variações existe uma ideia fixa. Atravessa toda a obra de Amador a obsessão pelo poder das imagens de evocar a memória. Não a capacidade de registrar as aparências – a velha discussão da mimese e seu avesso –mas a conversa das imagens com outras imagens. Aquilo que os historiadores da arte entendem por iconografia, e que Aby Warburg teorizou como Bildwanderung . Por meio das imagens nos comunicamos com vivos e mortos. Amador se concentrou nesses últimos, seu panteão artístico particular, mas não como hagiografia. O artista se interessa em fazer reverberar os sentidos retorcidos pelo tempo. Seu objeto de fascínio são as reproduções, matéria-prima para a transmutação de significados.

Na era atual de memes, storiese deepfakes , vivemos a apoteose da manipulação de imagens. Para o bem e (geralmente) para o mal, o poder de conduzir as conversas imagéticas molda o mundo em que vivemos. Nesse contexto, artistas e estudiosos vêm se debruçando sobre a importância de desconstruir as imagens e difundir o conhecimento de como elas operam. É um desafio ao qual Amador Perez contribui, a seu modo, há cinquenta anos. Destrinchar imagens, ressignificá-las, preservá-las do apagamento, é a essência de uma obra mais atual do que nunca. É provável que o artista entre para outra categoria que abarca poucos: aqueles que estiveram à frente do seu tempo.

[...] concentra-se exclusivamente na ilusão a mais evidenciada possível das coisas que estão no mundo e passam a estar também, com a suspeitosa máxima exatidão da fotografia, no mundo do desenho […]

Roberto Pontual, 1974, Jornal do Brasil

[...] O corpo de Nijinski, enquanto movimento, foi tornado estático pela fotografia […] Dançar e desenhar interagem. Nos desenhos, o movimento de Nijinski é o movimento do desenho [...] Os desenhos desmentem as fotografias […]

Júlio Castañon Guimarães, 1983, livro Nijinski: imagens

[...] Perez "joga" com relações significativas entre desenho e pintura [...] O preto e branco do grafite passa por uma identidade com a imagem fotográfica [...] assume um jogo com as imagens […]

Wilson Coutinho, 1985, Jornal do Brasil

[...] suas áreas brancas e não desenhadas valorizadas, com alguma coisa de vazio e de absoluto, como uma afirmação tautológica de um sinal puro dirigido unicamente para si mesmo: com o silêncio das coisas sós […]

Pedro Luiz Pereira de Souza, 1992, Centro Cultural Banco do Brasil

[...] Gesto e olhar fotográficos aparentemente operam uma fábrica de duplicação do real. E esse é um real que sai da história da arte

[...] A temperatura e a carnalidade da pintura transferem-se para o mundo de luzes e sombras e mineralidade do grafite […]

Paulo Herkenhoff, 1994, Escola de Artes Visuais do Parque Lage

[...] Há, no trajeto e nas escolhas de Perez, a evidência de um conjunto de valores, pacientemente elaborados, que permite sondar o imaginário estético e suas relações com a percepção – a percepção dos criadores e a percepção pública […]

Roberto Corrêa dos Santos, 1998, livro Tais Superfícies Estética e Semiologia

[…] se aprofundarmos o exame de seu desenho, vamos ver que ele está, na verdade, elaborando conceitos e levantando questões que dizem respeito não apenas à poética do desenho, mas ao desenho como linguagem, isto é, o desenho como forma de reflexão […]

Frederico Morais, 1999, livro Coleção do Artista

[...] uma recriação de imagens da arte através da observação de seus fantasmas fotográficos [...] Nas séries de Amador, a sequência é essencial […] enfatiza uma dimensão inseparável da poética desse artista – o tempo […]

Fernando Cocchiarale, 1999, livro Coleção do Artista

[...] Dada a variedade de meios que usa, qualificá-lo como desenhista é insuficiente [...] não lhe interessa tanto a representação do mundo, mas sobretudo o mundo da representação [...] minimiza a matéria, exalta a luz […]

Roberto Conduru, 2005, Centro Cultural Cândido Mendes

[...] A partir de imagens, gerar a imagem em seu estado puro, ideal, espectral – a imagem perfeita e incorpórea que só existe dentro da mente de cada um [...] um estatuto mais amplo da imagem e da representação como fenômenos de materialização do imaterial […]

Rafael Cardoso, 2005, Paço Imperial

[...] Um homem olha por uma janela [...] vasto branco vazio para o qual o homem olha [...] o branco do suporte, o branco pertence ao próprio papel, palco da ação de Amador […] É possível que, sob esse prisma, possamos reler toda a obra de Amador Perez […]

Paulo Sergio Duarte, 2014, Centro Cultural Cândido Mendes

[...] Aqui e agora revela-se fotógrafo […] conciliou sua prática artística com o ensino do desenho [...] os livros sempre fizeram parte de seu dia-a-dia […] Um gesto feito com as mãos, que disparam a câmera e também folheiam os livros. Caminham por eles […]

Joaquim Marçal, 2019, Paço Imperial

Linha do Tempo

Nijinski: imagens 14. Nijinski: imagens

18.

19. série A ilha dos mortos

20. série A ilha dos mortos

21.

Um momento secreto da dança de Zerep - série Eus e Um

22.

Intenso, Eus e Um

23. Madame Récamier Madame Récamier Madame Récamier

24. O mundo de Christina O mundo de Christina

25. Gioventù

26. série Gioventù

27. Tiziano, série Speculatio

28. Edvard, série Speculatio

29. O mundo de Christina A, 2001-2012,

30. O mundo de Christina B, 2001-2012,

31. O mundo de Christina C, 2001-2012,

32. O mundo de Christina

33. Autorretrato apoiado em um muro,

Impressões da Arte, 2002-2006

34. Autorretrato

Impressões da Arte, 2002-2006

35. A fechadura

Gabinete de Leitura

36. Mademoiselle Rivière

Gabinete de Leitura

37. série Quantos Quadros, 2006-2013,

38. série Quantos Quadros, 2006-2013,

39. série Um, Dois

40. série Um, Dois

41. série Memorabilia

42. série Memorabilia

43. série DVWC

44. série DVWC

45. série DVWC

46. série DVWC

47. série DVWC

48. série DVWC

49. série DVWC

50. série DVWC

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