SP LABIRINTO: metrópole anestesia

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SP LABIRINTO metrópole anestesia

amanda tiemi hoshina alturrias orientação de luís antônio jorge trabalho final de graduação fau usp são paulo, 2015

à minha mãe (in memoriam), cuja ausência inspirou esse trabalho.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Luís Antônio Jorge, por transparecer sua paixão a cada palavra dita e por me guiar nos caminhos incertos deste trabalho. À professora Karina Leitão, por sempre acreditar e pela tranquilidade nas horas de desespero. À minha família, pelos valores ensinados. Em especial ao meu pai e ao meu irmão, que na adversidade mostraram o verdadeiro significado de família.

Ao Caio, pela paciência e por estar sempre ao meu lado, independentemente do meu estado de espírito; por ser meu revisor de textos, auxiliar de filmagem e editor de som; obrigada por não me deixar desistir nunca.

Aos que tiveram a paciência de ouvir as minhas inquietações e compartilhar as próprias, contribuindo imensamente na realização deste trabalho.

Aos amigos que estão próximos e aos que estão do outro lado do mundo, por aceitarem intempestividades, por secarem lágrimas e por compartilharem gargalhadas. Obrigada por tornarem minha vida muito mais leve e divertida. À FAU, por me ensinar a ver um mundo de uma outra perspectiva.

AVISO AOS LEITORES

Os vídeos apresentados neste trabalho podem ser vizualidados em um smartphone ou tablet a partir da leitura de códigos QR, através de um aplicativo específico que pode ser baixado gratuitamente. Os códigos encaminharão para a página do YouTube, onde alguns vídeos, desenvolvidos ao longo do processo, foram postados. Caso não seja possível utilizar este recurso, os vídeos também estão disponíveis no CD anexado ao final do caderno.

“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.” italo calvino

SUMÁRIO

introdução: inquietações 13 capítulo I: uma conversa com Psique 19 capítulo II: os prisioneiros de Chronos 31 capítulo III: encontrando o Minotauro 51 capítulo IV: o processo 63 considerações finais: a saída? 93 referências 99

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INTRODUÇÃO

INQUIETAÇÃO

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1. “Quase 30% dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo apresentam transtornos mentais, de acordo com um estudo que reuniu dados epidemiológicos de 24 países. A prevalência de transtornos mentais na metrópole paulista foi a mais alta registrada em todas as áreas pesquisadas.” Dado levantado pela pesquisa São Paulo Megacity Mental Health Survey, que faz parte de uma pesquisa mundial de iniciativa da Organização Mundial da Saúde. (Notícia publicada pela Agência FAPESP, disponível em: <http://agencia.fapesp. br/grande_sao_paulo_tem_alta_prevalencia_de_ transtornos_mentais/15215/> acessado em 27 de outubro de 2015)

2. Pesquisa realizada pelo jornal o Estado de São Paulo com base nos dados do sistema de mortalidade Datasus. (Notícia publicada pelo Estadão, disponível em: <http://sao-paulo. estadao.com.br/noticias/geral,mortes-pordepressao-crescem-705-imp-,1545121/> acessado em 27 de outubro de 2015)

O superficial relacionamento de elevador que uma amiga e sua vizinha do andar de baixo estabelecem há mais de dez anos; o incômodo, que beira certa aversão, de amigos, desacostumados à intensidade metropolitana, em vivenciar a frenética São Paulo; e a rápida desconexão do meu pai com a vida na capital, que há pouco mais de um ano a abandonou definitivamente, despertaram o meu interesse por uma leitura das dinâmicas presentes nas grandes cidades.

Pesquisas apontam que a região metropolitana de São Paulo lidera um ranking de cidades com elevada incidência de transtornos mentais1 e que a taxa de morte por depressão2 é crescente. A perda de um familiar, que sucumbiu às pressões da vida na grande metrópole e passou a integrar esta taxa, me aproximou da psicologia e, consequentemente, direcionou meu olhar para uma leitura do comportamento do homem, este entendido como sujeito coletivo, frente à vida no meio urbano.

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Às vezes devemos olhar para as grandes cidades do mesmo modo que admiramos uma pintura impressionista, ou seja, assim como é necessário guardar certa distância para admirar uma obra de Monet, o é também para melhor compreender uma metrópole com a magnitude da de São Paulo. Viver um ano em Madri significou essa distância e me permitiu vivenciar outro tipo de experiência em uma grande cidade. Tive a oportunidade de imergir em uma cultura distinta, onde a siesta 3 ainda é uma tradição presente no dia-a-dia.

A capital espanhola, uma das maiores cidades da União Europeia, também se configura como um grande centro urbano, um polo econômico, político e cultural do país. No entanto, o regresso à rotina acelerada da vida na capital paulista provocou um estranhamento e uma dificuldade de me inserir novamente no ritmo desta cidade. Já não mais dominada pelo frenesi de São Paulo, passei a olhar de forma mais atenta para minha própria rotina e para

3. Tempo destinado para dormir ou descansar depois do almoço.

aquilo que ocorria ao meu redor e, assim, pude notar algumas das dinâmicas que condicionam a vida na metrópole.

A cidade influencia no comportamento do homem metropolitano ou é o comportamento deste que determina sua configuração? Quais os efeitos que o espaço pensado e construído pelos arquitetos e urbanistas tem sobre os seres humanos? Estes foram alguns questionamentos levantados após este afastamento e que surgiram de angustias pessoais e de outros que também se sentem sufocados pela metrópole.

Portanto, este trabalho nasce de uma inquietação sentida não só por mim, mas também por aqueles que estão próximos, com quem estabeleço relações mais íntimas, e por desconhecidos, com quem apenas cruzo olhares ao circular pela metrópole. Experimentei diversos rumos e alternei direções na tentativa de dar uma resposta a estas perturbações.

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CAPÍTULO I

UMA CONVERSA COM PSIQUE 4

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Iniciei este trabalho sem saber ao certo quais caminhos iria percorrer. A única certeza era que não seria um percurso fácil, uma vez que escolhi me aventurar em campos por mim pouco conhecidos. Provida do fio de Ariadne5, concedido por Luís, meu orientador, comecei minha procura por uma relação entre o comportamento do homem e a metrópole.

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No princípio, buscava uma relação com foco nos fenômenos psicológicos, no entanto, não me restringi a leituras de urbanistas e psicólogos. Muitos professores desta instituição incentivam a leitura de outros campos do saber e, assim como eles, acredito que é necessário buscar a transdiciplinaridade para tentar compreender a metrópole em toda sua complexidade. Portanto, além de fundamentar meu trabalho em referências acadêmicas, busquei também apoio nas artes plásticas, literatura, fotografia e cinema.

O embasamento teórico se deu a partir de uma seleção de textos de diversas ciências, como urbanismo, filosofia, sociologia,

4. Psique: deusa da mitologia grega que é a representação da alma. Na psicologia é o conjunto de processos psíquicos conscientes e inconscientes.

5. Com origem na mitologia grega: Ariadne concedeu à Teseu um novelo que ele utilizou para se guiar no labirinto do Minotauro.

antropologia e psicologia, com o objetivo de entender as dinâmicas sociais, espaciais e temporais presentes na metrópole e a influência destas nos indivíduos que nela habitam.

Dentre as leituras que realizei, me deparei com os estudos de Hall e Park, que defendem, não só a influência do homem na constituição da cidade como também a ideia de que este é produto de sua experiência no espaço: “[...] a cidade não é meramente um mecanismo físico e uma construção artificial. Está envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõem; é um produto da natureza, e particularmente da natureza humana.” (PARK, 1916, p. 29) “[...] praticamente tudo o que o homem é e faz vincula-se à experiência do espaço. O sentido humano do espaço é uma síntese de muitos insumos sensoriais: visual, auditivo, cinestésico, olfativo e térmico.“ (HALL, 1997, pp. 161)

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No artigo A metrópole e a vida mental, o sociólogo alemão Georg Simmel faz uma reflexão sobre as dinâmicas nas grandes cidades do século XX e as consequências provocadas pelas transformações da era moderna na constituição psíquica do homem.

Apesar de possuir mais de um século, sua teoria continua atual e pode ser utilizada como instrumento de análise para as megacidades do século XXI. 22

Simmel (1967) afirma que a metrópole provoca um consumo de consciência distinto do que a vida no campo e que a base psicológica do tipo metropolitano de individualidade se fundamenta na intensificação dos estímulos nervosos, fruto da alternância brusca e contínua entre estímulos exteriores e interiores. O desgaste mental provocado por estes infindáveis estímulos induziram o apuramento de um órgão de proteção contra a avassaladora vida nas grandes cidades. O homem metropolitano se torna mais racional, ou seja, utiliza mais seu intelecto, camada mais superficial da

mente, para preservar sua subjetividade. Nas palavras do sociólogo, “ele reage com a cabeça, ao invés de com o coração”.

Portanto, ao tentar se defender da devastadora cidade grande, o homem metropolitano desenvolve novos fenômenos psíquicos, como a atitude blasé 6 e a atitude de reserva 7, apontados também por Louis Wirth: “A reserva, a indiferença e o ar blasé que os habitantes da cidade manifestam em suas relações podem, pois, ser encarados como instrumento para se imunizarem contra exigências pessoais e expectativas de outros.” (WIRTH, 1938, p. 109) 6. O autor afirma que a atitude blasé é o resultado de estímulos contrastantes que, em rápidas mudanças e compressão concentrada, são impostos aos nervos; e se configura como uma incapacidade de reagir a novas sensações com energia apropriada e no poder de discriminar.

7. Mecanismo de autopreservação, traduzido como uma indiferença ou leve aversão, que protege a capacidade mental do homem metropolitano.

Tais atitudes permitem ao cidadão da metrópole estabelecer um distanciamento mental e uma relação mais superficial e transitória que, aos olhos dos que habitam as cidades pequenas, parece frio e desalmado. Ao mesmo tempo em que estas lhe proporcionam uma liberdade distinta da vivenciada em outros modos de vida, também expõem a sensação de solidão em meio à multidão.

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Enxerguei na teoria de Simmel e dos demais autores um possível campo de experimentação para o desenvolvimento do meu trabalho final e a ferramenta escolhida para esta foi a fotografia, linguagem que possuo grande apreço. Acredito que essa forma de expressão é um importante instrumento de aproximação das questões da nossa sociedade e de grande relevância na construção de um discurso.

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Ao transitar pela cidade buscava cenas que de alguma forma expressassem os fenômenos descritos por eles. No entanto, senti certa dificuldade de traduzir em imagem algo tão subjetivo como os fenômenos da psique humana. Acredito que um conhecimento maior no campo da psicologia e um pouco mais de maturidade fossem necessários para enfrentar a complexidade do objeto de estudo.

Diante dessa dificuldade busquei novas possibilidades. Além dos estudos acadêmicos, tentei explorar a literatura, a partir da

leitura do conto O homem da multidão 8, de Edgar Allan Poe e os poemas do ciclo Quadros Parisienses 9, de Charles Baudelaire; a fotografia, buscando inspiração em profissionais como Cristiano Mascaro e Fran Simó, atentando para como trabalham a temática urbana e a estética; e o cinema, observando as reflexões sobre a relação homem e metrópole presentes nos filmes Um homem que dorme 10 e Medianeras 11.

8. POE, Edgar Allan. O homem da multidão; tradução Dorothée de Bruchard. Porto Alegre: Paraula, 1993.

9. BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal; apresentação de Marcelo Jacques; tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

10. QUEYSANNE, Bernard e PEREC, George. Un homme qui dort. 1974.

11. TARETTO, Gustavo. Medianeras. 2011

Essas distintas leituras, mais do que possibilitarem uma melhor compreensão da relação entre homem e metrópole, desviaram meu olhar para outro foco e me revelaram novos caminhos.

A questão agora era: continuar no mesmo rumo ou experimentar novas trajetórias? Perante esta encruzilhada, decidi aventurar-me por terras intrincadas, as terras sob domínio de Chronos.

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Imagem 01 - Fran Simó. Barcelona: #3661. Disponível em <https://www. flickr.com/photos/fransimo/> acessado em 03 de novembro de 2015.

Imagem 02 - Cristiano Mascaro. Série: São Paulo, a cidade - Faróis no Parque Dom Pedro. Disponível em: <http:// cristianomascaro.com.br/> acessado em 03 de novembro de 2015.

Imagem 03 - Shin Noguchi. Série: BW. Disponível em: <http://www. shinnoguchiphotography.com/> 03 de novembro de 2015.

Imagem 04 - Alexandre Urch. Série minhoca de metal. Disponível em: <http://alexandreurch.com.br/> acessado em 04 de maio de 2015.

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Imagem 05 - Rinzi Ruiz. Série: Street Photographs BW (L) - Night wait. Disponível em: <http://www. rinziruizphotography.com/> acessado em 03 de novembro de 2015.

Imagem 06 - Rui Palha. Série: Street Moments. Disponível em: <http://www. ruipalha.com/> acessado em 03 de novembro de 2015.

Imagem 07 - Cena do filme Un homme qui dort.

Imagem 08 - Cena do filme Medianeras

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CAPÍTULO II

OS PRISIONEIROS DE CHRONOS 12

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“Em Cloé, cidade grande, as pessoas que passam pelas ruas não se reconhecem. Quando se veem, imaginam mil coisas a respeito umas das outras, os encontros que poderiam ocorrer entre elas, as conversas, as surpresas, as carícias, as mordidas.

Mas ninguém se cumprimenta, os olhares se cruzam por um segundo e depois se desviam, procuram outros olhares, não se fixam.” (CALVINO, 1990, p. 51, grifo meu)

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No fragmento da obra de Italo Calvino em epígrafe, o mercador veneziano Marco Polo descreve ao imperador Kublai Khan a fictícia cidade de Cloé. Entretanto, a metrópole de São Paulo, com seus mais de 20 milhões de habitantes, se encaixa perfeitamente nesta descrição.

Todos os dias, milhares de pessoas circulam pelas ruas e avenidas da gigantesca São Paulo e são incontáveis os entrelaçamentos de olhares que ocorrem em um segundo. No entanto, diferentemente de Cloé, as pessoas, imersas na frenética dinâmica

12. Na mitologia grega Chronos é o deus do tempo.

metropolitana, raramente fantasiam conversas ou carícias; presas em um congestionamento ou esmagadas no transporte público estão mais preocupadas se não estão atrasadas para o trabalho ou se chegarão a tempo em seu próximo compromisso.

A dinâmica temporal da metrópole foi um dos inúmeros caminhos que se revelaram durante minhas leituras e seria, a partir de então, o novo enfoque do meu trabalho final. No entanto, sem abandonar completamente o anterior, uma vez que grande parte das angústias dos habitantes da metrópole está vinculada às pressões do tempo.

A concepção de tempo sofreu inúmeras transformações ao longo dos séculos. Anteriormente era fundamentado nos ciclos da natureza e nos ritos e proibições religiosas. A Revolução Comercial, com suas exigências próprias, impôs uma nova cadência, substituindo o tempo natural e o religioso pelo tempo do dinheiro.

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A dinâmica temporal que vivenciamos hoje teve início com a revolução industrial e se acentuou com a globalização. Jonathan Crary (2015, p. 71) afirma que a substituição das temporalidades cíclicas baseadas nos fenômenos naturais, como os movimentos da Lua e do Sol, pela perenidade da iluminação artificial utilizada nas fábricas redefiniu a relação entre tempo e trabalho, possibilitando a produção ininterrupta. Maria Rita Khel expõe em seu livro O tempo e o cão 13 as consequências desta substituição: 34

“Sob essas novas condições ditadas pela vida econômica, a medição do tempo se torna mais precisa e rigorosa.” (KHEL, 2009, p. 125) O filósofo francês Gilles Lipovetsky também explora a questão do tempo em nossa sociedade, que ele identifica como hipermoderna14, e afirma que a obsessão pelo tempo não se restringe apenas às relações laborais:

13. KHEL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.

14.

Termo assinalado por Sébastien Charles no livro Os tempos hipermodernos.

“Hipermodernidade: uma sociedade liberal, caracterizada pelo movimento, pela fluidez, pela flexibilidade [...]”.

“A obsessão moderna com o tempo não mais se concretiza apenas na esfera do trabalho que está submetido aos critérios de produtividade – ela se apossou de todos os aspectos da vida. A sociedade hipermoderna se apresenta como a sociedade em que o tempo é cada vez mais vivido como preocupação maior; a sociedade em que se exerce e se generaliza uma pressão temporal crescente.”

(LIPOVETSKY, 2004, p. 75) Essa pressão apontada por Lipovetsky se caracteriza por uma sensação de escassez do tempo e se impõe no centro de novos conflitos sociais, levando a uma condição de estresse permanente e despertando os mais diversos distúrbios psicossomáticos: “Sempre mais exigências de resultados a curto prazo, fazer mais no menor tempo possível, agir sem demora: a corrida da competição faz priorizar o urgente à custa do importante, a ação imediata à custa da reflexão, o acessório à custa do essencial.”

(LIPOVETSKY, 2004, p. 77)

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Crary (2015, p. 66) salienta que essa obsessão pelo tempo e a competição por ele suscitada se deve ao fato de que parte da cultura moderna teve sua constituição baseada na ideia de que uma gratificação individual poderia vir a partir da imitação de ritmos, eficiência e dinamismo impessoais das máquinas. Além disso, ressalta que a sociedade que ele classifica como 24/7 – 24 horas por sete dias na semana – ostenta a ilusão de um tempo sem espera, provocando uma atrofia da paciência e, consequentemente, uma intensificação de ressentimentos e competições quando a espera real, como por exemplo, os congestionamentos ou filas de banco, se faz presente.

A partir dos estudos desses autores, somados às reflexões dos filmes Berlim: a sinfonia de uma grande cidade 15 e Koyaanisqatsi: uma vida fora de equilíbrio 16, que também abordam questões da vida moderna, passei a olhar mais atentamente para a influência que o tempo exerce em minha vida e dos demais que vivenciam a dinâmica metropolitana.

15. RUTTMANN, Walther. Berlin: Die Sinfonie der Grosstadt. 1927.

16. REGGIO, Godfrey. Koyaanisqatsi: life out of balance. 1982.

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Imagens 09 e 10 - Cenas do filme Berlin: Die Sinfonie der Grosstadt.

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Imagens 11 e 12 - Cenas do filme Koyaanisqatsi: life out of balance.

Por que se arriscar ao cruzar o semáforo no vermelho? Por que viajar espremido no vagão do metrô só para estar mais próximo à escada? Por que correr na transferência entre uma linha e outra do metrô? Por que subir as escadas rolantes correndo? Por que estar sempre com pressa? Pressa para comer, pressa para chegar ao trabalho, para voltar para casa, estamos sempre com pressa.

Por que somos prisioneiros de Chronos? Julio Cortázar faz uma reflexão sobre a relação entre nossa sociedade e o tempo no conto Preâmbulo às instruções para dar corda no relógio, mostrando-nos como o tempo já é parte de nós: “Pense nisto: quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar. [...] Dão a você — eles não sabem, o terrível é que não sabem — dão a você um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso.” (CORTÁZAR, 1998, p. 16)

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Esses foram alguns dos questionamentos e reflexões que guiaram meu olhar para novos experimentos fotográficos. Busquei apontar minha objetiva para cenas do cotidiano da metrópole que evidenciassem a influência do tempo. A impaciência de um pai na fila do supermercado ou a minha em uma fila de banco, a irritabilidade do meu irmão diante de um congestionamento e a insistência de uma senhora em querer entrar no vagão lotado, foram algumas delas.

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Também passei a reparar nos dispositivos urbanos que alteram de alguma forma a relação que os habitantes da metrópole têm com o tempo, como por exemplo, os semáforos, as escadas e esteiras rolantes, elevadores, ente outros. Louis Wirth (1938, p.

112) afirma que “o relógio e o sinal de trânsito simbolizam a base da nossa ordem social no mundo urbano”; com certeza outros símbolos surgiram com o advento de novas tecnologias, como por exemplo, os smartphones, no entanto, estes dois ícones ainda são muito presentes em nossa sociedade.

Durante meu deslocamento pela cidade me chamou atenção a obsessão que grande parte dos indivíduos tem com o deslocamento rápido: a hostilidade de motoristas diante de uma situação que os fazem parar e esperar, como os engarrafamentos; a disputa de espaço próximo à porta que leva mais rapidamente a escada rolante no metrô; ou ainda o quase atropelamento de um pedestre apressado, que não podia “perder” um minuto e esperar o verde para cruzar a rua.

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Imagem 13 - Av. 23 de Maio em trânsito.

Foto tirada com máquina analógica Yashica, filme 35mm. (acervo pessoal)

Imagem 14 (esq.) - Sรณ atravesse no verde. Foto tirada com mรกquina analรณgica Yashica, filme 35mm. (acervo pessoal) 42

Imagem 15 (dir.) - Fechando o cruzamento. Foto tirada com mรกquina analรณgica Yashica, filme 35mm. (acervo pessoal)

Esse olhar mais atento ao comportamento das pessoas frente às pressões temporais da vida metropolitana e a aproximação a novos autores, como Zygmunt Bauman e Massimo Cacciari, suscitaram novos questionamentos: Será que ainda podemos levar uma vida mais flexível, com horários de entrada e saída menos rigorosos? Será que, ainda vivendo na metrópole, podemos nos libertar da tirania do tempo? Maria Rita Khel afirma que não: “O homem contemporâneo vive tão completamente imerso na temporalidade urgente dos relógios de máxima precisão, no tempo contado em décimos de segundo, que já não é possível conceber outras formas de estar no mundo que não sejam as da velocidade e da pressa.” (KHEL, 2009, p. 123)

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“Olha! Aqui tem fila até para subir escada.” (comentário de uma mulher esperando para subir as escadas na estação Paulista do metrô)

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Imagem 16 (esq.) - Fila pra tudo. Foto tirada com celular. (acervo pessoal)

Imagem 17 (dir.) - Aperta que cabe mais um. Foto tirada com celular. (acervo pessoal)

“Esse tudo de gente até parece manifestação, mas não se preocupa não, é só a fila pra aquela esteira.” (conversa entre duas amigas na transferência da linha amarela para verde do metrô)

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Imagem 18 (esq.) - Manifestação?. Foto tirada com celular. (acervo pessoal)

Imagem 19 (dir.) - Linha de produção.

Foto tirada com celular. (acervo pessoal)

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Simmel (1967, p. 17), em 1902, já levantava esta problemática, afirmando que a vida na metrópole é extremamente variada e complexa e a ausência de uma rigorosa pontualidade provocaria uma ruptura em sua estrutura, levando a um caos inextrincável.

Acrescenta ainda que, as longas distâncias resultam em uma perda de tempo de implicações altamente maléficas. Cacciari (2010, p.

56) também discorre sobre esse tema e afirma que, atualmente, fazemos todas as nossas contas com base no tempo e não mais no espaço e que este se converteu unicamente em um obstáculo.

Portanto, não só a população é afligida, mas também a metrópole, ou seja, a estruturação do espaço urbano também sofre e se transforma em consequência dessa pressão temporal generalizada e crescente. Rios foram retificados e ocultados para dar passagem a grandes avenidas, linhas de trem e viadutos foram erguidos e passagens subterrâneas escavadas. Todas estas operações, que retalharam o território em milhares de pedaços, foram consumadas para que a circulação na metrópole fosse a mais eficiente e rápida

possível, evitando ao máximo as perdas. Mariana Novasky, em seu trabalho final, também aborda a transformação e a desvalorização do espaço urbano em função do tempo, mais especificamente, o tempo de deslocamento: “A ideia de que deslocar-se na cidade seja um fardo, defendida pelo senso-comum, mais até do que comprovada empiricamente pelas más experiências, conduz a um projeto de cidade que prioriza unicamente os fluxos e ignora as demais funções urbanas.” (NOVASKY, 2014, P. 17) Após todas essas leituras percebi que a maior parte dos dispositivos urbanos que procurava fotografar estava relacionada não só ao tempo, mas também à circulação. Foi então que comecei a refletir se um registro estático, como a fotografia, fazia sentido para representar algo dinâmico, como a passagem do tempo e a circulação na cidade.

Um dia, voltando da faculdade para casa me deparei com a estação Butantã do metrô lotada, centenas de pessoas esperavam para

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comprar o bilhete ou para passar na catraca; se acumulavam na porta do único elevador ou próximo às escadas para atingir o nível mais inferior, onde poderiam finalmente entrar no vagão e seguir de volta para casa. Circulavam por todas as partes, desciam e subiam pelas diversas escadas, transitavam nos distintos níveis. Aquela cena chamou minha atenção, peguei o celular e comecei a fotografar. No entanto, com a fotografia não conseguia transmitir o mesmo impacto que a cena real, então optei por fazer um vídeo.

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O meio de expressão em vídeo me possibilitou realizar novos experimentos, que, além de suscitarem uma nova forma de olhar e explorar a metrópole, me abriram novos caminhos para prosseguir com meu trabalho final. Com esse novo recurso em mãos, tentei provocar reflexões sobre a dinâmica metropolitana, que compreendessem as questões discutidas incialmente – o comportamento do homem metropolitano – e as que surgiram no decorrer de novas leituras – a temporalidade e a circulação na metrópole.

Imagens 20 e 21 - Escadas da estação Butantã. Fotos tiradas com celular. (acervo pessoal)

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Vídeo 01 - Escadas da estação Butantã.

Vídeo registrado com celular. (acervo pessoal)

CAPÍTULO III

ENCONTRANDO O MINOTAURO

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Metaforizar a cidade é um recurso utilizado por diversos autores na tentativa de compreender e exprimir toda sua complexidade. Desde a Idade Antiga a cidade é comparada ao corpo humano; Baudelaire utiliza as alegorias da ruína e da morte para traduzir as consequências das transformações sofridas pela Paris de Hausmann, que por sua vez fundamentou parte de suas reformas nos ideais higienistas que interpretavam a cidade como um organismo vivo; Calvino recorre a múltiplos símbolos – memória, céu, olhos – para problematizar as condições da vida urbana. Para assimilar e expressar as reflexões levantadas no desenvolvimento deste trabalho também recorri ao artifício metafórico. As leituras e os experimentos que realizei e o olhar atento de meu orientador, me revelaram a metáfora da cidade-labirinto.

Imagem 22 - Frame do vídeo que motivou o uso da metáfora metrópolelabirinto. Composição realizada a partir do espelhamento do vídeo capturado na estação Butantã do metrô. Vídeo capturado com celular. (acervo pessoal)

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Vídeo 02 - Escadas da estação Butantã.

Composição por espelhamento. Vídeo registrado com celular e editado no Adobe Premiere. (acervo pessoal)

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O labirinto possui diversos significados e se manifesta desde os tempos mais remotos. Para o Minotauro17 ele era uma prisão; para os cristãos da Idade Média uma peregrinação à Jerusalém18; já para Zaid e Abenjacan19, um esconderijo e uma armadilha respectivamente. Rituais de iniciação, busca por autoconhecimento são outras das analogias atribuídas ao labirinto; também é sinônimo de desafio, desorientação, obscuridade e até mesmo diversão.

No entanto, o enfoque deste trabalho não está nas simbologias enumeradas acima. Para entender as dinâmicas que ocorrem no território metropolitano tentei explorar o labirinto a partir da ideia de um espaço complexo e que se configura essencialmente por passagem, circulação.

Adotei esta metáfora para estudar a metrópole de São Paulo e acredito que também poderia ser utilizada em uma leitura de outras grandes cidades. No entanto, compartilho do ponto de vista de Cristina Grau (1997, p.126), que afirma que esta se aplica a cidades concebidas a partir da justaposição de fragmentos e de

17. Na mitologia grega, Minotauro é um monstro com cabeça de touro e corpo de homem que foi aprisionado no labirinto construído por Dédalo a mando do rei Minos de Creta.

18. Segundo Matthews (1922) a presença de desenhos de labirintos no chão das igrejas seria uma alternativa aos peregrinos que não tinham condições de ir a Jerusalém.

19. Personagens do conto Abenjacan, o Bokari, Morto em Seu Labirinto, de Jorge Luis Borges.

repetições equívocas; a cidades que por mais que as conheçamos, somos incapazes de desenhás-la em sua totalidade.

O espaço urbano vem sofrendo modificações desde que os deslocamentos deixaram de ser realizados prioritariamente por ferramentas naturais, como as pernas humanas, e foram acentuadas com a massificação do uso do automóvel. A incapacidade do homem moderno de parar e ainda mais de ficar parado, como afirma Bauman (2001, p. 37), e a busca inexorável do trânsito veloz demandam transformações ainda mais drásticas, como explica Cacciari:

20. Hoje temos a necessidade de transformações ainda mais radicais, pois a demanda por mobilidade cresceu de forma tão desmensurada graças às novas tecnologias, que entraram em conflito com o espaço, principalmente, onde este é resistente ou não se transformou anteriormente. (tradução minha)

“Hoy tenemos la necesidad de transformaciones aún más radicales, porque la demanda de movilidad ha crecido tan desmesuradamente gracias a las nuevas tecnologías, que han entrado en conflicto con el espacio, sobre todo allí donde éste es resistente o bien no se ha transformado con anterioridad.” (CACCIARI, 2010, p. 57)20

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Essa incapacidade de ficar parado pode ser notada no projeto Nova Babilônia, do artista holandês Constant, que se contrapunha ao modelo da cidade funcionalista e preconizava uma cidade baseada nos conceitos do nomadismo e do “labirinto dinâmico”, onde os habitantes poderiam transitar livremente e de forma desorientada, o que permitiria a apropriação do espaço urbano.

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Imagem 23 - Constant (1920-2005).

Litografia New Babylon nº 09 1963. (disponível em <http://www. gemeentemuseum.nl/en/masterpieces/ themes/new-babylon> acessado em 02 de novembro de 2015)

Imagem 24 - Constant (1920-2005).

New Babylon Nord 1958. (disponível em <http://www.gemeentemuseum.nl/en/ masterpieces/themes/new-babylon> acessado em 02 de novembro de 2015)

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Diferentemente da utopia de Constant, na qual a cidade-labirinto não é condicionada pelo tempo produtivo e propicia a interação entre os habitantes e o meio urbano, o labirinto que se configurou na metrópole de São Paulo foi submetido pela máxima “tempo é dinheiro”, priorizando os espaços de fluxos principalmente de veículos, e abdicando dos demais.

O Elevado Presidente Costa e Silva, popularmente conhecido como Minhocão, é um grande exemplo dessa configuração.

Uma nova camada de circulação foi construída com o objetivo de conectar de forma rápida e sem obstáculos a região oeste ao centro da cidade, condenando ao esquecimento e a degradação os bairros que eram por ele atravessados.

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Diversas vias da metrópole foram moldadas para uma passagem ligeira com ausência ou com mínimo possível de obstáculos, como as marginais Tietê e Pinheiros, as avenidas 23 de Maio e do Estado, os túneis Ayrton Senna e Maria Maluf, transformando o espaço urbano, como aponta Sennett: “O espaço tornou-se um lugar de passagem, medido pela facilidade com que dirigimos por ele ou nos afastamos dele. [...] Transformado em um simples corredor, o espaço urbano perde qualquer atrativo para o motorista, que só deseja atravessá-lo e não ser excitado por ele.” (SENNETT, 2014, p. 16)

Imagem 25 - Vista do MinhocĂŁo.

Elevado 3.5 (disponĂ­vel em <http:// www.elevadotrespontocinco.com.br/> acessado em 02 de novembro de 2015)

Imagem 26 - Vista da Av. 23 de Maio. (acervo pessoal)

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Os diversos corredores erguidos e escavados na metrópole proporcionam um deslocamento rápido e fácil, ou seja, exige-se muito pouco esforço físico daquele que transita no meio urbano, reforçando a sensação de desconexão com o que está ao redor. A alta velocidade, além de impedir a apreciação da paisagem, permite um estado de inércia no corpo que se desloca.

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“O viajante [...] vivencia o mundo como uma experiência narcótica; o corpo se move de maneira passiva, anestesiado no espaço, para destinos estabelecidos em uma geografia urbana fragmentada e descontínua.” (SENNETT, 2014, p. 17) Essa experiência entorpecente também é apontada por Leach (2001) que afirma que tanto para os surrealistas como para Walter Benjamin a metrópole é uma fonte de embriaguez perpétua.

Os diversos estímulos ou choques, como denominava Benjamin, como a cacofonia produzida pelo ruído das buzinas e das sirenes

e as luzes brilhantes, despertam um efeito narcótico, anestesiando a mente do homem metropolitano. É no conceito da metrópole-labirinto, somada à experiência narcótica assinalada por Sennett e Leach, que se desenvolve este trabalho. A partir de imagens, obtidas através de composições de diversas localidades de São Paulo, pretende-se levantar novas e visitar velhas questões sobre as dinâmicas da vida metropolitana e compreender a influência que este labirinto de narcose exerce na relação entre o homem e o espaço urbano.

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CAPÍTULO IV

O PROCESSO

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Alimentada pelas leituras e experimentações realizadas anteriormente e munida de uma metáfora que pudesse traduzir as inquietações suscitadas ao longo deste trabalho, acreditei que não tardaria muito para que minha jornada se encaminhasse para o desfecho desejado. No entanto, muitos caminhos desse labirinto ainda seriam percorridos até que a saída fosse encontrada, isto é, se em algum momento ela realmente foi encontrada.

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Os cenários metropolitanos – captura e edição Meu desejo desde o início deste trabalho foi que o produto final refletisse a minha leitura da dinâmica metropolitana, claro que influenciada pelos teóricos citados e pelas demais pessoas que vivenciam esta dinâmica, porém fundamentada em minhas percepções. Portanto, optei por utilizar somente registros e criações próprias. Tanto as cenas de circulação na metrópole como a sua paisagem sonora foram capturadas in loco por mim, algumas vezes

sozinha, o que gerava certo medo e desconforto, outras acompanhada, o que proporcionava uma sensação de segurança, porém, o medo de sofrer uma violência é uma constante na vida daqueles que habitam esta metrópole.

Inspirada pelas obras de Piranesi, principalmente na série Carceri d’invenzione, pelas composições de Escher e pela cena do sobe e desce da multidão nas diversas escadas da estação Butantã, comecei a enfocar meu olhar em outros cenários metropolitanos em que a sobreposição de vias de circulação estivesse presente, onde o cruzar de olhares fosse possível ou onde o espetáculo de faróis e a sinfonia de buzinas, inevitáveis.

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Imagem 27 (esq) - Echer (1898-1972).

House of Stairs - 1951 (disponível em <http://www.mcescher.com/> acessado em 02 de novembro de 2015)

Imagem 28 (dir) - Piranesi (1720-1778).

Carceri d’invenzione VII (disponível em <http://www.italianways.com/ le-carceri-dinvenzione-di-piranesi/> acessado em 02 de novembro de 2015)

Existem inúmeras possibilidades de olhar a grande cidade, no entanto, duas formas chamaram minha atenção e despertaram o interesse pelo registro em vídeo. A vista do alto me possibilitou visualizar as diversas vias e camadas que se sobrepõe na cidade. Já a vista em 1ª pessoa me permitiu adentrar o subterrâneo e cruzar ruas e avenidas, linhas de trem e rios.

Dentre as locações escolhidas estão: as estações de metrô, com suas intermináveis escadas, como na estação Pinheiros, ou com as procissões na transferência de uma linha para outra, como na estação Paulista; os túneis e passagens subterrâneas, como o Túnel Ayrton Senna, que atravessa um dos maiores parques de São Paulo – o Ibirapuera – sem nem percebermos; e as pontes e viadutos, como o complexo viário João Jorge Saad, mais conhecido como “Cebolinha”, que foi concebido para facilitar a circulação de veículos na região, mas que pode se tornar um pesadelo na vida do motorista desavisado.

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Imagem 29 - Vista do Cebolhinha.

Filmagens na cobertura do MAC USP (acervo pessoal)

Imagem 30 - Vista do Viaduto Santa Efigênia e Vale do Anhangabaú.

Filmagens no espaço LAMA-SP (acervo pessoal)

Com registro dos diversos cenários da metrópole de São Paulo em mãos, novas questões surgiram. O que fazer com eles?

Como elaborar uma composição que transmitisse as questões que me propus a estudar? Como apresentá-los de forma coerente?

O processo experimental foi uma constante ao longo de todo o desenvolvimento deste trabalho e nesta etapa não seria diferente. A experimentação foi o fio que me conduziu pelas inúmeras direções que poderia avançar.

Um dos caminhos explorado foi o da composição através do recorte e da colagem de alguns elementos das cenas capturadas, como por exemplo, as escadas rolantes das estações de metrô, criando novas paisagens urbanas possíveis ou impossíveis. Este a princípio foi abandonado, pois percebi que os conhecimentos básicos de edição de vídeo que adquiri no desenvolvimento deste trabalho não seriam suficientes para criar um produto com a

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qualidade que desejava. Então busquei novos rumos para o produto final.

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O espelhamento, artifício que me revelou a metáfora cidade-labirinto, foi explorado com a intenção de enfatizar a busca inexorável pela máxima eficiência da circulação, principalmente a de veículos. Ao multiplicar os fluxos, novas paisagens urbanas foram criadas, evidenciando a configuração labiríntica da metrópole. Apesar de parecer um caminho acertado, utilizar somente este recurso me pareceu insuficiente para traduzir as questões da metrópole-labirinto. Então continuei percorrendo os seus caminhos incertos, buscando outros meios de representação.

Imagem 31 - Vista do “Cebolinha”.

Composição a partir de espelhamento; frame de vídeo. (acervo pessoal)

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Vídeo 03 - “Cebolinha”. Composição por espelhamento. Vídeo registrado com câmera Nikon e editado no Adobe Premiere. (acervo pessoal)

Também ensaiei a junção das duas técnicas anteriores através da colagem de novos elementos em cenários espelhados, como por exemplo, a inserção de relógios em uma estação repleta de pessoas cruzando de um lado para o outro.

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O jogo dos ritmos foi mais um mecanismo que encontrei para auxiliar no entendimento da dinâmica de São Paulo. Brinquei de manipular o tempo através da aceleração e retardamento e do avanço e retrocesso dos fluxos de veículos e de pessoas, alterando a relação de espaço-tempo na cidade.

Todos estes artifícios foram utilizados na tentativa de promover a discussão sobre os conflitos provocados pela preponderância das vias de circulação em detrimentos dos demais espaços urbanos.

Imagem 32 - Estação Pinheiros do metrô.

Composição a partir de espelhamento, com inserção de relógios; frame de vídeo. (acervo pessoal)

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Vídeo 04 - Estação Pinheiros do metrô.

Composição por espelhamento e adição. Vídeo registrado com celular e editado no Adobe Premiere. (acervo pessoal)

Imagem 33 - Vista da Passarela Ciccillo Matarazzo. Brincando com o tempo; frame de vídeo. (acervo pessoal)

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Vídeo 05 - Passarela MAC-Ibirapuera.

Alteração da velocidade e direção dos veículos. Vídeo registrado com câmera Nikon e editado no Adobe Premiere. (acervo pessoal)

A estética Incialmente pensava em utilizar somente imagens em preto e branco e explorar apenas o jogo de luzes que São Paulo proporciona. Entretanto, percebi que algo se perdia. As cores são elementos fundamentais para a percepção; são estímulos que também influenciam no modo como interagimos com o território metropolitano.

As cores estão muito presentes na paisagem urbana, tanto nas roupas das pessoas que circulam nas estações de metrô como nos veículos que transitam nas marginais. Também são exibidas combinadas com a luz, como no verde dos semáforos, no vermelho da luz de freio dos veículos e no arco-íris das antenas de rádio e televisão. A diversidade de cores e a intensidade das luzes que São Paulo nos proporciona são estímulos ainda mais potentes.

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Outro recurso gráfico que explorei na composição final foi encontrado de forma inesperada. Sempre evitei sair para gravar em dias de chuva, no entanto, em uma de minhas andanças para registrar a cidade uma garoa começou de forma repentina. As luzes que incidiam as gotas d’água que pousavam no parabrisas do carro produziram um efeito inebriante, remetendo a um quadro impressionista ou a uma experiência narcótica, como mencionada nos estudos de Sennett e Leach.

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Imagens 34 e 35 - Vista do Viaduto Julio de Mesquita. Estudos para estĂŠtica do vĂ­deo final, fotos P&B e colorida. (acervo pessoal)

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Imagem 36 - Vista da Av. Rebouças.

Estudos para estética do vídeo final, influência das luzes na percepção do espaço da metrópole. (acervo pessoal)

Imagem 37 - Vista da Av. 9 de Julho.

Estudos para estética do vídeo final, efeito da luzes no parabrisas molhado pela chuva. (acervo pessoal)

A composição sonora Assim como as luzes e as cores, os sons da metrópole também despertam as mais variadas sensações. As buzinas incessantes, os alarmes e sirenes ensurdecedores e os ruídos da obra vizinha podem provocar desde a irritabilidade até um estado anestésico.

Também são frequentes lembretes de que no território metropolitano não podemos parar.

A paisagem sonora urbana foi captada através de um gravador durante meus deslocamentos por São Paulo e inserida no produto final com o objetivo de enfatizar o conteúdo imagético.

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O vídeo O vídeo final explora diversos cenários de São Paulo, percorrendo grandes avenidas e vias expressas, observando as estações de trem e metrô e sondando as passagens subterrâneas e vistas aéreas. A sucessão de cenas, juntamente com a composição sonora, procura trazer a tona os vários estímulos proporcionados pela 80

metrópole, como o rápido movimento dos veículos e o show de luzes ofuscantes, e suscitar a discussão de como nós percebemos e vivenciamos o espaço metropolitano.

Imagem 38 - Estação da Luz, frame do vídeo final. (acervo pessoal)

Imagem 39 - Estação Sé do metrô, frame do vídeo final. (acervo pessoal)

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Imagem 40 - Túnel da linha 4-amarela do metrô, frame do vídeo final. (acervo pessoal)

Imagem 41 - Túnel Ayrton Senna, frame do vídeo final. (acervo pessoal)

Imagem 42 - Ponte Estaiada, frame do vĂ­deo final. (acervo pessoal)

Imagem 43 - Marginal Pinheiros, efeito das luzes sobre o parabrisas molhado, frame do vĂ­deo final. (acervo pessoal)

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Imagem 44 - Viaduto Santa Efigênia e entrada do túnel Papa João Paulo II, frame do vídeo final. (acervo pessoal)

Imagem 45 - Complexo viário João Jorge Saad, o “cebolinha”, frame do vídeo final. (acervo pessoal)

A instalação Os experimentos em vídeo poderiam ser apresentados de diversas formas, como por exemplo, na tela de um smartphone ou tablete, na tela de um computador ou em uma televisão. No entanto, senti que a reprodução através destes meios, apesar de serem amplamente utilizados hoje em dia, era insuficiente; senti a necessidade de espacializar as discussões levantadas neste trabalho.

Em uma das conversas com meu orientador surgiu a ideia de criar uma videoinstalação, na qual as imagens poderiam ser projetadas em diversos planos, representando as distintas camadas de circulação presentes na metrópole. Inspirada pela obra The veiling do artista estadunidense Bill Viola, iniciei alguns ensaios com os vídeos que já havia produzido.

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Imagens 46 e 47- The Veiling (1995), obra do artista Bill Viola. Projeções de lados opostos de uma sala escura através de nove grandes telas suspensas. (Foto de Roman Mensing, disponível em < http://ebdjournal.com/blog/generaldesign/site-writings-the-veiling-1995> acessado em 11 de novembro de 2015)

Nos primeiros ensaios, além das projeções em diversas camadas de tecido, também ocorreu a ideia de trabalhar os espelhamentos não só através do programa de edição de vídeo, como também a partir de espelhos reais, intensificando a multiplicação dos fluxos e criando um espaço ainda mais labiríntico.

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Imagem 48 - Ensaio para instalação final: projeção em quatro camadas de tecidos e dois projetores em lados opostos da sala. Frame de vídeo. (acervo pessoal)

Imagem 49 - Ensaio para instalação final: projeção reversa em tecido e espelhamentos a partir de programa de edição de vídeo e espelhos reais. Frame de vídeo. (acervo pessoal)

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Vídeo 06 (esq) e vídeo 07 (dir) - Ensaios para instalação final.

A princípio foi pensado um espaço com duas instalações isoladas – projeção nas diversas camadas de tecido e combinação de projeção e espelhos. Entretanto, essa não pareceu a solução mais acertada para traduzir as questões discutidas neste trabalho. Unificar os dois conceitos em uma única instalação poderia conduzir ao desfecho desejado e foi o caminho que segui.

A instalação final visa reproduzir algumas dinâmicas metropolitanas, através dos elementos que a compõe espacial e sensorialmente – tecidos, espelhos, vídeo e composição sonora. A disposição destes elementos busca refletir a forma labiríntica de São Paulo e foi pensada para incitar a circulação, pois, assim como o espaço da metrópole é influenciado pelo transitar de pessoas e veículos, o movimento dos espectadores também irá interferir na percepção do espaço proposto.

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O projeto será instalado no auditório da FAU USP e compõe-se de quatro telas de tecido voil (duas de 4,5x2,5m; uma de 4,0x2,5m e uma de 3,0x2,5m); doze placas de acrílico espelhado nas dimensões 0,5x1,0m; 3 projetores de vídeo e duas caixas de som, posicionadas em lados opostos do palco.

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Imagem 50 - Planta com layout da instalação final. (acervo pessoal)

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Imagens 51 e 52 - Vistas da instalação final. (acervo pessoal)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A SAÍDA?

“Não há saídas, só ruas Viadutos e avenidas” (Música de Itamar Assumpção)

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Calvino afirma, como citado na epígrafe deste livro, que o inferno está aqui, formamo-lo estando juntos e vivemo-lo todos os dias e, que existem duas formas para não sofrer, uma é fácil e a outra, arriscada. Antes de me afastar da caótica metrópole de São Paulo, eu havia escolhido, mesmo sem perceber, a maneira fácil, abracei o inferno até o ponto de não mais senti-lo. No entanto, quando regressei sucedeu que já não me era possível utilizar o meio descomplicado. Minha única alternativa então era tentar a segunda maneira, a via arriscada. Este estudo, portanto, representa para mim o princípio dessa aprendizagem contínua, o início do reconhecimento de “quem e o que, no meio do inferno, não é inferno”.

Estamos tão imersos na dinâmica da metrópole, principalmente os que nasceram e cresceram em São Paulo como eu, que muitas vezes não percebemos que não estamos totalmente no controle de nossas vidas, que existem fatores externos que exercem

grande interferência no modo como interagimos ou deixamos de interagir com a cidade e como a enxergamos ou a ignoramos.

Este trabalho é um esforço para dar resposta a inquietações minhas e de muitos outros que de alguma forma não possuem ou que já perderam os mecanismos de proteção que nos auxiliam no viver metropolitano. Talvez as respostas não tenham sido encontradas, talvez ainda estejamos entorpecidos em algum caminho tortuoso deste labirinto. Porém, os questionamentos de como percebemos e experienciamos a metrópole foram levantados e a busca por mais indivíduos que reflitam sobre este tema, iniciada. Os fenômenos urbanos podem ser explorados de incontáveis formas e a velocidade com que o território metropolitano se transforma o torna uma fonte inesgotável de estudo. Massimo Cacciari o analisa da seguinte forma: “El habitar no se produce allí donde se duerme y de vez en cuando se come, donde se mira la televisión y se juega con el ordenador personal;

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el lugar del habitar no es el alojamiento. Sólo una ciudad puede ser habitada, pero no es posible habitar la ciudad si ésta no se dispone para el habitar; es decir, si no ‘proporciona’ lugares. El lugar es allí donde nos paramos: es pausa; es algo análogo al silencio. El territorio posmetropolitano ignora el silencio; no nos permite pararnos, ‘recogernos’ en el habitar. No conoce, no puede conocer distancias; éstas son su enemigo. En su interior todo lugar parece destinado a acartonarse, a perder intensidad hasta transformarse en nada más que un pasaje, un momento de la ‘movilización’ universal.” (CACCIARI, 2009, p. 35)21 Talvez uma das soluções para tornar as grandes cidades mais habitáveis seja deixar de pensá-las como o labirinto que privilegia a circulação e passar a imaginá-las como uma composição musical, valendo-se de todo o silêncio necessário. Como futura arquiteta e urbanista me esforçarei sempre para reconhecer as qualidades do espaço urbano e como elas nos afetam, para tentar torná-lo o mais habitável possível e, quem sabe assim, contribuir para que

21. O habitar não se faz onde se dorme e às vezes se come, onde assistimos televisão e jogamos no computador; o lugar do habitar não é o alojamento. Só uma cidade pode ser habitada, no entanto, não é possível habitar uma cidade se esta não se dispõe para o habitar, quer dizer, se não proporciona lugares. O lugar é onde nos paramos: é a pausa; é algo análogo ao silêncio. O território pósmetropolitano ignora o silêncio; não nos permite pararmos, percorrermos o habitar.

Não conhece, não pode conhecer distâncias; estas são seu inimigo. Em seu interior todo lugar parece destinado a debilitar-se, perder intensidade até se transformar em nada mais que uma passagem, um momento da mobilidade universal. (tradução minha)

cada vez menos pessoas integrem a crescente taxa de morte por depressão.

O território metropolitano é vasto e extremamente complexo. Olhar o passado e beber de outras fontes, como a literatura e o cinema, auxiliam-nos no entendimento das dinâmicas da vida urbana ao longo do tempo. O desafio daqui em diante é continuar mirando com cuidado, tentando atravessar o labirinto, e pensar em uma metrópole onde o circular e o habitar possam coexistir como uma só experiência.

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REFERÊNCIAS 99

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