Revista ELAS

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MERCADO DE TRABALHO Carolina Ruhman Sandler fala sobre a desigualdade de gêneros no meio profissional

FEMINISMO NEGRO Natália Souza conversou com a nossa equipe sobre o empoderamento das mulheres negras

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Dani Costa Russo revela como o feminismo livra as vítimas da violência contra a mulher

NOVEMBRO DE 2016 | EDIÇÃO Nº 1

ELAS


ELAS “Que nada nos limite. Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância.” (Simone de Beavoir)



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8 | GEEK Gamers femininas contam como enfrentam o machismo & Super Girl Power 12 | PADRÕES DE BELEZA “O mundo não é feito para gordas” & Beleza Padronizada 18 | LINHA DO TEMPO Quando surgiu o feminismo? 20 | MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO Mulheres do futuro 24 | DICAS Saiba como reconhecer o machismo no seu dia a dia 26 | FEMINILIDADE Bela, recatada e do lar 28 | FEMINISMO NEGRO O feminismo negro nas redes sociais 36 | VIOLÊNCIA DOMÉSTICA A violência está em casa 40 | MATERNIDADE Não romantezemos a maternidade 42 | EMPODERAMENTO A força da mulher 44 | CURIOSIDADES Vamos aprender um pouco sobre o feminismo? 46 | ENTRETENIMENTO Conheça Carol Rossetti, a autora do livro de ilustrações Mulheres 48 | EDITORIAL Feminismo não é doença, me respeita!


Carta das editoras Bem-vinda mulher, O feminismo, machismo... O que são e como te afetam? Talvez você os conheça por boca a boca das amigas e família, ou ainda pela internet. Mas você tem a dimensão de como podem afetar a sua vida? A revista ELAS veio para mostrar à você o quão importante é ter o conhecimento de si mesma, se empoderar e não ter medo de falar o que pensa, quando e onde quiser. Você não é obrigada a nada e é por isso que o feminismo te abraça, porque te ajuda a ser forte como deve. Aqui estão reunidas mulheres com histórias de vida diferentes, mas todas com o objetivo de se transformar em donas de si mesmas. Elas são gordas, magras, negras, brancas, heterossexuais ou homossexuais. Elas representam cada uma das mulheres que existem, com suas individualidades, dores e lutas. Através deste pequeno projeto, esperamos alcançar o coração de cada uma de vocês, que se sentem diariamente oprimidas, violentadas, feias ou sozinhas. Reunimos todos os tipos de relatos com o objetivo de oferecer um ombro amigo para quando você, cara leitora, precisar. Esperamos que com a ELAS, o mundo se torne um lugar mais confortável e compreensível com todos os dilemas, dramas e personalidades femininas. Aprecie!

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Colaboradores

AMANDA LIRA | REDAÇÃO, EDIÇÃO DE IMAGENS, PESQUISA, ENTREVISTAS, REVISÃO, COLUNAS

BRUNA SARAIVA | REDAÇÃO, ARTE, FOTOGRAFIA, EDIÇÃO DE IMAGENS, ENTREVISTAS, COLUNAS

ILUSTRAÇÕES ÍSIS REIS FONTE GEEK MALENA FONTE PADRÕES DE BELEZA BIA GREMION FONTE MERCADO DE TRABALHO CAROL RUHMAN SANDLER, ANA PAULA PASSARELLI FONTE FEMINISMO NEGRO NATÁLIA SOUZA FONTE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DANI COSTA RUSSO FONTE MATERNIDADE MARIANA FUSCO VARELLA FONTE EMPODERAMENTO UANNA MATTOS, ALINE PAZ FONTE ENTRETENIMENTO CAROL ROSSETTI

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GAMES SEM GÊNERO

Mulheres lutam pela igualdade até no mundo dos jogos A indústria de jogos é bilhonária, só no Brasil no ano de 2015 faturou mais de 1 bilhão de dólares, segundo pesquisa realizada pelo site G1. E segundo o Game Brasil 2016, mais de 50% dos consumidores de jogos são mulheres. Mas mesmo sendo mais da metade do público, meninas que jogam ou participam de fóruns on-line sofrem assédios de todos os níveis, é praticamente impossível encontrar uma menina que nunca tenha recebido mensagens de outros jogadores com cunho machista. Silx joga on-line há anos e, por ser mulher em um grupo de jogadores homens, aprendeu a lidar com o machismo nesse meio “O público de jogos no geral é majoritariamente masculino e as poucas mulheres que estão no meio acabam sofrendo assédio dos homens pelo fato de existirem poucas imagens femininas nesse meio”, declara. Mas se engana quem pensa que os vídeo games foram criados como “brinquedos de meninos”. Na década de 1960, quando surgiram os primeiros consoles, a ideia era que a família inteira jogasse, porém na década de 1980 a Nitendo, buscando entrar no mercado norte-americano, lançou seus consoles como brinquedos de meninos e com jogos voltados para o público masculino da época. E isso resultou em décadas de machismo, sexismo e descriminalização feminina. Malena é uma youtuber com mais de 2 milhões de inscritos no seu canal e que mesmo com toda visibilidade que conquistou na internet, não impediu que passasse por situações regadas de machismo: ELAS: Você possui imensa visibilidade nas redes sociais através do seu canal, em algum momento já sentiu manifestações de cunho machista contra você? MALENA: Sempre tem um comentário ou outro. No mundo em que vivemos, algumas pessoas ainda não aprenderam que não existe mais coisa de menino ou de menina. Todo mundo pode e DEVE fazer aquilo que te faz feliz. Gênero já era. Tudo é de todo mundo. ELAS: Ainda existe muito preconceito contra meninas que gostam e jogam vídeo games, o que você diria para aquelas que gostam, mas tem medo de se arriscarem a competir contra os meninos? MALENA: Apenas vão e joguem! Não precisa ter medo de nada! Se você gosta daquilo que está fazendo, é isso que importa

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ELAS: Recentemente a revista Galileu divulgou uma pesquisa que mostra que praticamente 100% de meninas gamers já sofreram assédios. Você já passou por alguma situação de assédio? MALENA: Sim... É complicado. Hoje está melhorando, com o número de meninas gamers crescendo, os meninos estão começando a acostumar com o fato. Porém, há um tempo era super recorrente. Entrava numa partida, com nick, char feminino, ou até mesmo chat por voz, sempre dava como resultado algum engraçadinho dizendo: “Oi gostosa”; “Vem aqui que Malena, youtuber e autora do livro Fala Aí Malena! eu te ensino a jogar” e outros. ELAS: Acha importante repassar mensagens de empoderamento feminino para as meninas que te acompanham? Quais são suas principais atitudes a respeito? MALENA: Eu sempre incentivo, não só as meninas, mas a todos a fazerem aquilo que te faz feliz! Independentemente de qualquer coisa ou do que falarem. Não existe coisa só de menino ou de menina. Vai, se joga e seja feliz.

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Anos

Pesquisa Game Brasil 2016

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SUPER GIRL POWER

Por que as mulheres ainda são hipersexualizadas nas HQ’s? As primeiras HQs criadas do Superman, em 1938, seguida do Batman, foram feitas de homens para homens e isso se refletia no conteúdo das histórias e na forma que a mulher era retratada: como um objeto sexual e sem personagens principais, sempre secundaristas e abaixo de um personagem masculino. Somente em 1941 surgiu a Mulher Maravilha, primeira heroína com discurso de empoderamento feminino. Diana era uma guerreira amazona que mesmo com homens tentando seduzi-la, deixava claro que sua prioridade era o bem da humanidade e não o casamento. Tempestade, Batgirl, Miss Marvel e todas as outras heroínas que surgiram após a Mulher Maravilha, partiam do mesmo princípio de empoderamento, sendo mulheres fortes e independentes. Porém o público das revistas continuava sendo o masculino e com isso a hiperssexualização, mesmo com a mensagem de empoderamento, ainda continuava. Os desenhos das mulheres em HQ’s eram de corpos esculturalmente perfeitos, roupas curtas e poses sexys. Tudo isso para que os meninos que consumiam as revistas se sentissem satisfeitos. Porém, o público feminino começou a aumentar e a partir dos anos 2000, quando os discursos feministas e de empoderamento ganharam forças, as editoras mudaram o comportamento em relação às mulheres. As roupas, aos poucos, foram deixando de ser fetichistas e passaram a ser tão dinâmicas quanto as dos personagens masculinos

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além de colocar o foco das histórias nas mulheres, sem deixa-las como coadjuvantes ou vítimas. O melhor exemplo de mudança, é a atual Miss Marvel. Kamala Khan, filha de paquistaneses que se mudaram para os EUA, quebrou duas barreiras: a cultural/religiosa e comportamental. Ela é uma adolescente, ainda no ensino médio, que ganha poderes e passa a defender sua cidade dos vilões. Sua HQ é repleta de lições sobre o poder feminino e a cultura mulçumana. Isso tudo só é possível porque a roteirista é mulher, Willow Wilson, que também é mulçumana.


Kamala Khan, Ms. Marvel

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“O padrão é uma coisa absurda, ele distorce a visão que você tem de si mesma.” (Bia Gremion)

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“O mundo não é feito para gordas” Ser magra é sinônimo de beleza na sociedade e ser gorda é inaceitável

Bia Gremion, Instagram pessoal

Cintura fina e marcada, quadris sinuosos, bumbum grande e durinho, pele lisa sem celulite ou estrias, barriga reta, sem dobrinhas ao se sentar e sem gordura aparente. Essa descrição poderia ser de uma boneca Barbie, mas é tudo o que uma mulher sente pressionada a ser desde que passa a ser parte ativa da sociedade, consumindo propagandas mostrando o ideal para seu próprio corpo. Uma mulher gorda, com mais quadris, mais barriga, pernas com celulite e estrias se sente como uma pessoa errada e julgada por aquilo que ela é. São olhares de reprovação, incentivo ao emagrecimento vindos de revistas femininas e programas de televisão e a falta de representatividade em pessoas públicas que se tornam referências de beleza. Bia Gremion é modelo plus size, ativista do feminismo e da gordofobia. Ela sofreu com problemas psicológicos durante a adolescência por não conseguir aceitar seu próprio corpo, fazia todas as dietas milagrosas

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que revistas femininas prometiam, não conseguia sair de casa e passou anos sem usar calças jeans por não encontrar seu tamanho em lojas de fast fashion como C&A, Marisa e etc. “Há um ano e meio eu estava com toda a papelada para realizar a cirurgia bariátrica e eu ia fazer essa cirurgia que não é um método saudável. Mas decidi não fazer depois de conhecer as mulheres gordas e eu me identifiquei”, conta Bia. Quando passou a encontrar representatividade em blogueiras e modelos plus size, percebeu que ela não precisaria realizar um processo tão invasivo quanto uma cirurgia para se enquadrar ao que as pessoas lhe disseram a vida toda que seria o ideal. Quem é magra não é necessariamente saudável e ser gorda não significa ser doente e isso é algo que absorvemos durante todos os dias. Quando conheceu o movimento feminista contra a gordofobia, Bia conseguiu perceber que ela não era


errada, que que poderia ser como quisesse pois já era o suficiente: “Foi quando eu vi o que eu sou é bom e não tem problema nenhum, não é errado me sentir bonita, partindo da questão rasa da aparência física, e também na questão de saúde. ” “O padrão é uma coisa absurda, ele distorce a visão que você tem de si mesma. Ele faz você acreditar que não é boa o suficiente, com a intensão de te vender o que vai te fazer ser boa o suficiente. Se você é magra, vai ser magra demais, nunca será o suficiente”, explica Bia sobre como o padrão de beleza traz problemas psicológicos às mulheres. Para ela, é extremamente plausível pessoas gordas serem neuro-atipicas, já que vivem em um mundo que não foi feito para elas, “as roupas não são feitas para você, a cadeira não é feita para você, a catraca não é feita para você e a mídia diz que relacionamentos amorosos também não são feitos para você”.

Para Bia a aceitação do próprio corpo aconteceu há um ano, desde que passou a ler e conhecer sobre o empoderamento e sua importância. É extremamente importante que exista representatividade para todos os tipos de mulheres e mostrar que ninguém precisa buscar ser igual à outra, todas tem sua beleza, seja ela com o corpo magro ou gordo.

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BELEZA PADRONIZADA O quanto os padrões de beleza afetam as mulheres O culto à beleza é uma herança da nossa civilização que surgiu na Grécia Clássica (V e IV a.C). Hoje em dia manter-se dentro do padrão estético pré-estabelecido por indústrias da moda, beleza e publicidade tornou-se uma obsessão, levando inclusive à transtornos psicológicos mais sérios. Mas será que a beleza existe somente dentro dos padrões?

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A ideia de se encaixar em um padrão prede- “Muitas mulheres desenvolfinido de beleza vem de todos os lados, na televisão, filmes, cantoras (es) e principalmente, redes sociais. Ele existe tanto para homens quanto para mulheres, mas para elas é ainda mais intensa a cobrança, pois se a mulher não está magra, jovem e com a pele bonita o suficiente, a ideia que se passa é que ficará solteira para sempre. Ressaltando a percepção de que obrigatoriamente precisam ser admiradas por homens.

A busca para se encaixar é constante, meninas cada vez mais novas alisam os cabelos, fazem cirurgias plásticas para alterar algum aspecto do corpo, desenvolvem distúrbios alimentares em busca da magreza excessiva, etc. Essas atitudes vêm para se adequarem ao que veem nas propagandas que consomem todos os dias. Por exemplo, encontrar uma mulher com curvas fazendo propaganda de lingerie deveria ser algo comum, já que os corpos não são todos magros, existem variações e eles tem que ser demonstrados para que haja representatividade, mas quando uma marca toma essa iniciativa vira um grande evento no meio publicitário. E a grande parte do problema surge exatamente do consumo de peças do vestuário ou produtos de beleza, eles são feitos para que as pessoas se adaptem a eles, e não o inverso, que seria o correto. As mulheres sentem necessidade de serem magras para usarem uma peça de roupa que está na moda, mas que vai até um tamanho limitado, ouvem o tempo inteiro regras de etiqueta para pessoas que estão “fora de forma” e, aos poucos, isso cria uma não-aceitação tão enraizada que em determinado momento da vida elas nem lembram o porquê de se odiarem do jeito que são.

vem problemas neuropsicológicos, além de doenças fisiológicas e lidar com tudo isso para conseguir olhar no espelho e se amar” O processo de aceitação, depois de anos ouvindo que é errado ser de determinada maneira, é extremamente difícil e doloroso. Muitas mulheres desenvolvem problemas neuropsicológicos, além de doenças fisiológicas e lidar com tudo isso para conseguir olhar no espelho e se amar, precisa de apoio médico e de pessoas próximas. Felizmente, com a ajuda de coletivos feministas on-line, é possível encontrar esses apoios de forma rápida e, muitas vezes, gratuita. Conseguir se desvencilhar do pensamento de que está fora dos padrões e deve se moldar a ele, é uma conquista enorme, aos poucos as mulheres estão tendo coragem de bater no peito e dizer que são lindas, não importa o tamanho do manequim ou se o tom do cabelo combina ou não com o da pele. O padrão da perfeição não existe. É preciso ensinar às meninas desde pequenas a amarem a si mesmas, independente do que as revistas e a TV dizem ser o certo. O certo é ser feliz, se olhar no espelho e amar o corpo em que habitamos, nosso corpo é a nossa casa, precisa ter nossa personalidade e identidade, não precisamos ser todas iguais para sermos consideradas bonitas. Afinal, não existe a fórmula da beleza.

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QUANDO SURGIU São o total de três ondas do feminismo ao

PRIMEIRA ONDA Conquista de direitos Surgiu no início do século XIX até o meio do século XX, a principal característica era o forte conteúdo político com a busca pelo direito de voto e de estudar em universidades, assim como tinham os homens. Teve início nos EUA e Inglaterra, espalhando-se pelo mundo logo em seguida.

SEGUNDA ONDA Além da lei A partir da década de 1960, já haviam alguns direitos conquistados pelas mulheres e com maior participação no mercado de trabalho. No entanto surgiam novos questionamentos, como sexualidade, direitos reprodutivos, família e autonomia sobre o próprio corpo. Um grande marco da segunda onda foi o livro de Simone de Beauvoir “O Segundo Sexo”, procurando compreender o lugar da mulher no mundo.

18| Linha do tempo


O FEMINISMO? longo da história do mundo moderno

TERCEIRA ONDA Empoderamento e diversidade Assim como a segunda onda, a terceira também vem com questionamentos filosóficos e sociológicos. A partir da década de 1990, as pautas tratadas são as lutas de gênero que vão além do masculino e feminino, questionamentos raciais e socioeconômicos. A filósofa norte-americana Judith Butler trouxe importantes questionamentos em seu livro “Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade”, publicado em 1990.

QUARTA ONDA Internet e redes sociais

A quarta onda não é oficializada, porém muitas feministas discutem a necessidade de se dividir a terceira onda a partir do ano de 2015, ano que surgiram grandes movimentos e coletivos on-line com o objetivo de espalhar os princípios feministas e ajudar as mulheres a se empoderar e lutar contra o machismo, já que as redes sociais são a principal forma de comunicação nos dias atuais.

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20 | Mulheres no mercado de trabalho


MULHERES DO FUTURO

CAROL RUhman Sandler e ana paula passareli falam qual o papel do feminismo na luta pela igualdade de gêneros no mercado de trabalho

Teoricamente, a mulher está inserida do “Demorou um poumercado de trabalho desde o século XX, entretanto, a desigualdade de gêneros ainco para cair a fida está muito presente tanto nas empresas como nos empregadores. Algumas pesquisas mostram que o crescimen- cha de que esse to da mulher no mercado de trabalho segue sem fronteira. De acordo com os dados di- tipo de comentário vulgados pelo governo federal, no Brasil, cerca de 37,3% das famílias são sustentados era machista.” por mulheres. Mesmo com a grande participação das mulheres no mercado de trabalho, uma pequena parcela consegue assumir cargos executivos de grandes instituições. E quando isto acontece, as mulheres estão na faixa dos 36-40 anos de idade. Carolina Ruhman Sandler é CEO e fundadora do site Finanças Femininas e especialista em educação financeira para mulheres, tendo como objetivo, auxiliar e ensinar mulheres de todos os tipos a administrarem melhor seu dinheiro e conseguir através disso, sua independência financeira. Em uma entrevista exclusiva para a Elas, Carolina contou um pouco sobre sua empresa e, quando questionada sobre como é ser uma profissional em uma área socialmente vista como masculina, respondeu ser uma batalha diária “É um desafio. Quando eu montei o site, tiveram muitos questionamentos do tipo ‘esse site não é muito sexista? O que são finanças para a mulher? Economia doméstica? Como comprar menos bolsas? ’.

O site nasceu a partir de uma revelação onde durante uma pesquisa voltada para finanças para a mulher, descobriu um déficit de conteúdo sobre o assunto. A partir disso, pesquisou muito, correu atrás e criou o Finanças Femininas com o objetivo original de levar conteúdos voltados para a mulher contemporânea, mas apostou investir no nicho específico voltado para a economia. Mesmo com o crescente sucesso do projeto, Sandler comentou que passa por muitas provações “Ainda tem muita gente que ativamente luta contra o que fazemos. É óbvio não ser o mesmo tipo de preconceito enfrentado por ativistas transexuais ou gordofobia, por exemplo. Aqui tocamos em um assunto muito sensível, onde acreditamos que ensinando mulheres a administrar melhor seu dinheiro, de alguma forma ela encontrará seu empoderamento feminino através da educação financeira, e isso é uma coisa muito gratificante. ”

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A gratificação e o orgulho de criar um projeto tão inovador, estão estampados no olhar de Carol, que luta com todas as armas em busca da libertação e emancipa-

“98% dos casos de abusos físicos, existe também abuso financeiro.

ção da mulher

O poder econômico do homem para poder controlar a mulher. Vivemos nessa sociedade onde o homem deve ser o provedor e que o papel dele pagar as contas enquanto a mulher é induzida ao consumo desenfreado de coisas fúteis”.

Também conversamos com a empresária e ex-sócia do site Plano Feminino Ana Paula Passarelli, que assim como o Finanças Femininas, foca em disponibilizar conteúdos para mulheres modernas que fogem dos estereótipos. Agora, porém, Ana criou uma nova iniciativa chamada Convide uma Mulher “Uma pesquisa revela que somente 10% de pessoas que se apresentam em eventos de marketing, comunicação e tecnologias, são mulheres. Então, nós criamos uma lista com nomes femininos relevantes que podem palestrar sobre estas áreas. ” Mesmo em áreas e situações diferentes, Ana e Carol concordam que mulheres devem sim lutar em prol de um mercado de trabalho igualitário, onde todos possam obter as mesmas oportunidades. Elas também ressaltaram que os movimentos feministas iniciados nas redes sociais, são muito importantes para a conscientização de todos “O acesso à informação nunca será um ponto negativo. É excelente ver meninos e meninas cada vez mais novos se interessando pelos seus direitos”, contou Passarelli.

Carolina Ruhman Sandles, CEO do Finanças Femininas

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Infogrรกfico retirado do site otempo.com.br

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Saiba como reconhecer o machismo no seu dia a dia O machismo não se limita somente ao estupro, assédio ou violência. Existem atitudes que são impregnadas na nossa rotina que também são machistas e nem percebemos. São quatro termos em inglês que foram criados para identificar esses comportamentos.

Manterrupting A palavra é uma junção de man (homen) e interrupting (interrupção), em uma tradução livre significa “homens que interrompem”. Ou seja, quando numa reunião de trabalho sempre interrompem quando a mulher vai dar opinião ou sugestão, não consegue concluir frases. Essa atitude é bem comum de se encontrar até mesmo em grupos de amigos ou familiares.

Bropriating A união das palavras bro (brother, irmão, mano) e appropriating (apropriação) refere-se quando um homem se apropria de uma ideia/sugestão dada por uma mulher e recebe os créditos por isso. Em algumas situações, a mulher é ignorada, enquanto o homem, falando exatamente a mesma coisa, é considerado algo inovador.

Mansplaining O termo une man (homem) e explaining (explicar). Grande parte das mulheres já passaram por um mansplaining, quando um homem

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faz questão de explicar coisas óbvias ou simples como se a mulher não fosse capaz de compreender. Mas também se aplica quando um homem quer colocar o certo como algo errado, a intensão é sempre desmerecer o conhecimento que a mulher tem, coloca-la como incompetente.

Gaslighting É a violência emocional por meio de manipulação psicológica, levando a mulher e todos ao seu redor ter certeza de que ela é louca, desiquilibrada e incapaz. Uma forma de deixar a mulher duvidando da sua capacidade e senso de realidade, percepção e raciocínio. Esse comportamento não é exclusivo de mulheres, mas são as mais afetadas por causa da cultura e sociedade machistas. Algumas das expressões características são:

• “Você está exagerando” • “Nossa, você é sensível demais” • “Para de surtar” • “Você está delirando” • “Cadê seu senso de humor?” • “Não aceita nem uma brincadeira?” • E o mais clássico: “você está louca”.


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26 | Feminilidade


Bela, recatada e do lar

Saiba como os estereótipos impedem a construção identitária da mulher

Desde o século XX há discussões sobre o que é ser mulher e essa questão se mantém ativa até hoje. Até um determinado momento ser mulher era nascer biologicamente com os órgãos sexuais femininos, isso bastava para que fossem designadas as características consideradas femininas, como usar rosa e gostar de coisas delicadas. Simone De Beauvoir, no seu livro O Segundo Sexo, escreveu uma frase icônica que gera debates até hoje: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, exatamente para quebrar a percepção de que ser mulher e ser feminina são sinônimos. Essa percepção se dá por causa da construção da feminilidade na sociedade, que já está enraizado dentro do comportamento humano. Um exemplo prático e cotidiano é quando nasce um bebê, se for menina as roupas, quarto e acessórios serão rosa e com desenhos delicados. Se for menino, azul com elementos de esporte. E o mesmo acontece com brinquedos, que deveriam ser divertidos e lúdicos, passam a ser áreas proibidas para meninas brincarem de carros e bonecos de super-heróis e meninos não devem gostar de bonecas ou brincar de casinha. É um comportamento instintivo que nós temos de associar cores ou determinados brinquedos aos gêneros. Mas isso é o que os define? Uma menina desde pequena é ensinada com doses homeopáticas que deve sentar como mocinha, usar lacinhos e roupas com tons rosados, brincar de casinha e de boneca como se já estivesse sendo treinada para ser dona de casa e mãe, usar maquiagem, arrumar sempre os cabelos – que devem ser longos, jamais igual ao corte masculino – e, quando crescer, ser quem mantém a casa organizada. Listando parecem ser atitudes comuns, sem nenhum objetivo, mas isso tudo impede para que a mulher tenha a liberdade de odiar rosa, ter cabelos curtos, gostar de carros e ser solteira.

A quebra desse padrão não é feita de um dia

para outro. Recriar a consciência de que as crianças não têm gênero definido somente pelos órgãos sexuais, elas podem brincar e gostar do que quiserem, se descobrirem sem ser proibidas de nada. Isso faz com que cresçam com uma percepção diferente da qual fomos criados e, aos poucos, vão se tornando uma geração com menos preconceito e machismo. Um exemplo de quebra de padrão de gênero é a filha da atriz Angelina Jolie, Shiloh, que aos 4 anos escolheu ser chamada de John e conforme foi crescendo, passou a misturar roupas do vestuário feminino e masculino. Em entrevista à revista Vanity Fair, em 2010, Angelina foi perguntada sobre sua filha e o que achava a respeito: ““Ela quer ser um menino, ela adora usar roupas ‘de menino’. Ela pensa que é um dos irmãos da família”. Por ter sido criada com total liberdade de escolha e sem predeterminação de gênero, John sofre julgamentos justamente por conta do padrão de feminilidade que domina a nossa sociedade. Para a maioria das pessoas, é inaceitável que uma menina não seja feminina. Com artistas de grande notoriedade espalhando a quebra de padrões, esse assunto está ganhando, aos poucos, maior visibilidade, saindo de grupos de discussões de gênero e tomando cada vez mais espaço em casas de família. Ninguém deve ser limitado a ser algo, ter liberdade de escolha é um ponto importante para que ocorra a mudanças nos comportamentos humanos e o preconceito contra gêneros, seja ele qual for, diminua. Nascer mulher não nos faz mulher. O que nos torna mulher é tudo aquilo que somos levadas a aceitar. A construção da feminilidade é feita dentro da cultura que somos inseridas, quando nascemos não temos consciência do que é de menina ou de menino, mas nossos pais nos ensinam isso desde o primeiro momento de vida.

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O Feminismo Negro nas Redes Sociais Por: Amanda Lira | Fotos: Bruna Saraiva

“Quando uma negra fala algo, ela não é ouvida, mas se a branca fala exatamente a mesma coisa, recebe atenção.” (Natália Souza)

28 | Feminismo Negro


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O recorte do feminismo negro dentro do femi-

nismo é fundamental. A taxa de estupro e crimes contra mulheres negras é muito mais alto do que contra mulheres brancas. É óbvio que não deve se colocar o sofrimento de uma sobre a outra, mas é necessário entender que há necessidades diferentes entre elas. Ao ponto que mulheres brancas eram consideradas “sub-humanas” e desvalorizadas na sociedade, as negras tinham que lidar, além disso, com o fato de serem vistas como escravas, serviçais, propriedade privada e não um ser humano. O feminismo negro chegou ao Brasil no início dos anos 1980, ainda com o objetivo de colocar as negras como protagonistas das suas próprias lutas, porém ainda há dentro do feminismo uma briga de egos no qual as mulheres brancas julgam esse recorte desnecessário e exclusivo. Segundo pesquisa realizada em 2009 pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 50% das mulheres brasileiras eram negras, e mesmo sendo metade da população feminina, ainda não é possível ver igualdade na sociedade.

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As mulheres negras passaram a ‘incomodar’ com seu movimento e recorte dentro do feminismo, porque deixaram de ser passivas perante as injustiças que viveram. Não deixaram mais que as rotulassem como a “globeleza” da vez e passaram a bater no peito e ter orgulho da própria história, gritar para quem quisesse ouvir que elas estão aqui para terem tanto direito quanto qualquer outra pessoa. A mulher sofre com o machismo, a mulher negra sofre com o adicional do racismo e a negra periférica sofre também com a situação econômica social em que vive. É o que conta Natália Souza, militante e ativista nas redes sociais em prol da igualdade de gêneros, raças e classes sociais.


ELAS: Como e por que você conheceu o feminismo? Natália: Eu conheci o feminismo com 16 anos e foi pelas redes sociais. Eu comecei a ver meninas compartilhando textos sobre o empoderamento feminino e eu era muito novinha, então o que começou a fazer eu ter interesse foi mostrar as diferenças em coisas simples, como por exemplo: “Mulher não pode ir na balada, mulher não pode ter mais de um companheiro, mulher não pode se vestir de tal forma” e isso começou a me fazer questionar sobre os privilégios que eu não tinha por ser mulher. Mesmo eu tenho me reconhecido feminista com 16 anos, aos 8 eu já tinha uma noção de que tinha coisas que não podia fazer por ser mulher, eu adorava coisas de heróis e por ser menina eu ouvia que deveria gostar de Barbie. Então acho que desde sempre eu contestava essas coisas e era feminista, mas só com 16 anos, através de outras mulheres que já estavam empoderadas eu comecei a me empoderar. ELAS: O que mudou desde então? Natália: Desde então acho que mudou muita

“Eu fui ensinada que eu não era bonita, que meus traços não eram bonitos e o feminismo me mostrou que esse negócio de beleza e corpo ideal é um padrão que a sociedade inventou” coisa na minha vida, principalmente na questão da aceitação. Eu sempre odiei o que vi no espelho porque eu fui ensinada que eu não era bonita, que meus traços não eram bonitos e o feminismo me mostrou que esse negócio de beleza e corpo ideal é um padrão que a sociedade inventou e nos impôs, só que não é porque isso é me imposto que eu tenho que seguir. E o feminismo me deu voz pra eu me identificar e conhecer, porque sempre foi tudo obscuro pra mim, meu corpo e minha cultura. Hoje em dia eu me considero livre, porque não tenho mais aquele pensamento amarrado em coisas que me foram impostas. Essa aceitação é a coisa mais gratificante do feminismo.

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ELAS: Sobre os projetos feministas e em defesa à mulher criados nas redes sociais, o que você acha a respeito? Natália: Ah, eu acho que a gente tá em 2016, então todo movimento nasce na internet, Facebook, redes sociais. E tem gente que acha que essas coisas não resolvem nada, mas acho que resolve sim. Pelo Facebook, por exemplo, são muitas pessoas atingidas quando tem uma campanha ou visibilidade muito grande, ajudam muito porque acaba caindo no conhecimento de outras mulheres que nunca tinha ouvido falar do feminismo. Então acho que é super válido e pode trazer pra vida real. ELAS: Você já se sentiu acolhida por algum coletivo feminista? Como foi? Natália: O coletivo das mulheres negras foi o que

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mais me acolheu. Apesar do feminismo ser pra todas as mulheres, a minha luta como mulher negra não vai ser a mesma de uma mulher branca, porque a branca tem que lutar contra o machismo, a misoginia, o patriarcado e eu tenho que lutar contra o racismo, o preconceito, o machismo… É muita coisa. Então acho que quando eu comecei a perceber que existia essa diferença nas duas lutas, o movimento de mulheres negras me acolheu muito rápido, porque eu ficava muito perdida em certas coisas. E esse acolhimento me mostrou que a minha luta vai ser muito maior, porque eu to bem atrás de direitos que as mulheres brancas já tem e eu não. ELAS: Nos conte sobre a quase vingança pornô que você sofreu Natália: A maioria das pessoas acham que ele era meu namorado, mas ele não era, nem ex. Eu tinha me envolvido com ele a gente ficou durante um mês, mais ou menos, e eu percebi que ele estava criando sentimentos mais fortes por mim, então eu falei que não queria mais, porque não queria


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sério no momento. Aí ele surtou, criou vários fakes pra conseguir falar comigo. E eu tinha tirado umas fotos e mandei pra ele na época que estávamos juntos e ele disse que ia postar nas redes sociais. Não dei a mínima. Passaram uns dois dias e as ameaças de postar as fotos continuaram, pra resolver a situação fui lá e eu mesma publiquei no meu perfil, com os prints das ameaças. O post viralizou, teve vários compartilhamentos e um dia depois o Facebook bloqueou minha conta por três dias. E o curioso é que na época que aconteceu o estupro coletivo contra uma menina, todos os dias apareciam vídeos e fotos do crime, mas não eram excluídos e nem bloqueados os perfis. Depois das ameaças, abri um B.O online só pra sujar a ficha dele e deixar registrado. Muitas meninas vieram desabafar comigo, dizendo que já sofreram o mesmo tipo de ameaça e que se tivessem visto minha atitude antes, também teriam feito a mesma coisa.

Print retirado da página pessoal de Natália Souza dias após a ameaça do ex-companheiro

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“Muitas meninas vieram desabafar comigo, dizendo que já sofreram o mesmo tipo de ameaça e que se tivessem visto minha atitude antes, também teriam feito a mesma coisa.” ELAS: Como as pessoas próximas a você reagiram a isso? Natália: Meus pais não ficaram sabendo disso, só perguntei ao meu pai o que deveria fazer, mas sem dizer que havia acontecido comigo. A minha irmã foi a única pessoa que soube, além dos meus amigos e a maioria deles me apoiou. As minhas amigas queriam se unir e bater no cara, mas não deixei. Eu achei que ia ter mais críticas do que apoio, mas foi o inverso e acho que isso foi a chave: ter recebido apoio ao invés de julgamentos. Por isso não fiquei mal.

Print retirado da página pessoal de Natália Souza em protesto à ameaça


ELAS: O quão importante você vê o recorte do feminismo negro? Natália: Acho que o feminismo negro tem que ser muito recortado do feminismo. Porque às vezes vejo dentro do feminismo, as mulheres brancas achando que as negras tem a luta só contra o machismo. Se a mulher negra vai lá e aponta o machismo, ela é muito apoiada, mas quando aponta o racismo, são ignoradas. A gente tem que parar de achar que a mulher é 100% confiável, tem muitas que são racistas, do mesmo modo que tem muitas que reproduzem o machismo, também tem aquelas que reproduz o racismo. Então acho que se tiver mais recorte, se as mulheres brancas começarem a enxergar que a negra tem que ter mais apoio na luta contra sua cultura e o racismo, vai ter uma hora que vão se unir e a força será ainda maior. É preciso realmente tomar as dores uma da outra, parar de achar que sororidade existe só nas redes sociais e começar a apoiar na vida real também, porque o racismo mata muito. Na periferia,

por exemplo, a mulher negra é vista como mãe solteira ou tem que ficar se preocupando com alguém da família que saiu de casa e corre risco de vida. O machismo pra lidar é mais fácil, porque está na estrutura da sociedade patriarcal que vivemos, com o tempo você aprende a driblar falas e atitudes machistas. Mas ouvir que o seu cabelo é duro é impacto muito maior, como quando eu era pequena, eu lidava melhor com as pessoas falando que não podia brincar com bonecos de heróis do que quando falavam que meu cabelo era duro, era um impacto muito maior. A mulher branca tem muito mais voz, a estrutura é: homem branco, mulher branca, homem negro e mulher negra. Quando uma negra fala algo, ela não é ouvida, mas se a branca fala exatamente a mesma coisa, recebe atenção. Isso vale pra qualquer pessoa que tenha privilégio, como a mulher magra e a mulher gorda, por exemplo. Quando você tem consciência do seu privilégio, passa a enxergar a luta das outras pessoas de maneira diferente.

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A VIOLÊNCIA ESTÁ EM CASA Um relacionamento abusivo existe com várias formas diferentes, mas todas com o mesmo objetivo: diminuir a mulher A cada hora, pelo menos cinco mulheres são mortas por violência doméstica, segundo a ONG Action Aid que também prevê que até o ano de 2030 mais de meio milhão de mulheres serão mortas por parceiros ou familiares. Esses números parecem ser exagerados, mas são baseados somente nas denúncias registradas em delegacias, ou seja, pode haver ainda mais crimes domésticos contra mulheres, que permanecem em segredo por medo. Sempre que o assunto de violência contra mulher entra em debate, o primeiro argumento dos homens é que a cada dez brasileiros assassinados, nove são homens. Porém o que não entra em pauta é o fato de que as mulheres são torturadas física e psicologicamente em mais de 90% dos casos por pessoas da família, namorados e ex parceiros. Ou seja, a mulher não tem como fugir, se vive dentro de um ambiente violento e, dependendo da situação, já não vê perspectiva de conseguir mudar de vida.

A jornalista Dani Costa Russo escreveu sobre a violência doméstica em seu livro “Beijos no Chão”, de uma maneira que fosse possível perceber o quanto o homem é capaz de manipular o psicológico da mulher pelo simples prazer de se sentir no poder. ELAS: A lei Maria da Penha foi criada com o objetivo de ser um apoio para mulheres que sofrem com violência, você acha que ela consegue ser efetiva? Por que? Dani: Não, a lei a boa, mas o problema é que as delegacias

36 | Violência Doméstica

que atendem a mulher não são unificadas, então cada uma é independente da outra, quem faz a delegacia é quem está regendo ela, no caso delegado (as). Se essas pessoas não estiverem dispostas a aplicar essa lei de maneira efetiva mesmo, não acontece. Então assim, eu não sei como está hoje de uma maneira geral nas delegacias, mas, por exemplo, o homem vai preso e só sai sob fiança, isso é maravilhoso, mas do que adianta se na hora de fazer o boletim de ocorrência e o exame de corpo delito o plantonista na delegacia é um homem que não aceita que você tenha uma acompanhante feminina perto, te manda tirar a roupa, te humilha.... Não adianta. Então acho que a lei Maria da Penha, por si só ela poderia ser efetiva se as delegacias tivessem estrutura, mas eu acredito que elas não tenham. Já mudou muito o panorama da violência contra a mulher dentro de casa com a lei, não que o homem esteja pensando duas vezes antes de bater, mas quando acontece e


mexe no bolso dele e da família, gerando constrangimento, ele vai saber que terá uma consequência e a mulher se sente relativamente segura. ELAS: O quanto o feminismo consegue ajudar uma mulher que está sofrendo violência? Dani: Se a mulher estiver disposta, tira ela da violência. Porque é uma questão de empoderamento, quando você se empodera e você se deixa ajudar, saí da violência. Não vamos dizer em casos extremos de homens que são assassinos, que perseguem essa mulher e a mata. Mas vamos supor em um caso de uma jovem namorando um homem onde existe essa coisa dele ser agressivo com ela, dele ser violento com ela, ás vezes nem fisicamente, mas o terrorismo psicológico mesmo. Se ela aceitar e ouvir, acredito que possa ajudar totalmente nesse aspecto.

“A mulher fica pensando na dependência financeira, emocional, achando que vai ficar sozinha para sempre, e isso faz parte do jogo” ELAS: A personagem do seu livro passa por um momento bem difícil tendo que lidar com a angústia de conviver com a violência e não ter forças para se libertar, essa situação não é difícil de encontrar na vida real. Qual você acha que seria a atitude correta para ajudá-la, sendo uma pessoa que está fora da situação?

Dani: A única coisa que eu poderia dizer sobre a violência dentro de casa é que as pessoas precisam meter a colher. Esse papo de “ai, a gente não vai se meter, a gente não sabe o que essa mulher está fazendo para apanhar”, na boa, mesmo que ela estivesse fazendo alguma coisa, não tem que apanhar. O que as pessoas precisam fazer é interferir mesmo, abordar essa mulher e perguntar para ela se ela gostaria de compartilhar os sentimentos dela, porque também não adianta sair batendo o pé na porta dizendo que vai resgatá-la, isso não vai modificar uma família, isso vai assustar aquela mulher e ela não vai querer ser ajudada. Acho que se a minha personagem tivesse tido a chance de ter contato com alguém que pudesse ajuda-la, a abordagem teria que ser muito sutil, para conquistar a confiança e ela poder confiar também. Aí seria um processo de empoderamento mesmo, dar toda a confiança que ela precisa para poder sair daquela situação. Porque a mulher fica pensando na dependência financeira, emocional, achando que vai ficar sozinha para sempre, e isso faz parte do jogo, o homem abusivo tem uma listinha de destruição, começando pela autoestima. A abordagem tem que ser o mais sutil possível,

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a não ser que ela esteja em um momento correndo risco de vida e aí sim devem ser tomadas providencias o mais rápido possível. ELAS: Como foi a pesquisa realizada para a criação dessa personagem? Dani: Foi uma pesquisa informal, no bate-papo. Gosto de fazer isso para criar minhas personagens, para entender o que eu posso incluir de sentimento em cada personagem ao invés de ficar imaginando, vou lá e pergunto para alguém. Ficou muito claro que existe um padrão de comportamento nos homens que são extremamente violentos, que é relacionado diretamente ao narcisismo que ele tem, faz com que ele não veja nada além dele mesmo e que dá a ele a certeza de que a mulher pertence a ele, são objetos de uso dele. Ou seja, não tem empatia ou carinho, mesmo parecendo que sim. Mulheres que são o tempo todo enganadas da seguinte maneira: “Eu nunca disse isso, eu nunca fiz isso, você é louca”. Aí eu percebi que muitas tinham um sistema, mas já no fim do processo, antes de se libertar, que é o de anotar. O homem vai lá e diz alguma coisa, elas iam lá e anotavam, porque aí se o cara dissesse que eram loucas, elas corriam lá nas anotações e conferiam.

“Imagina chegar a ponto de ter que anotar tudo que fala e faz para ter certeza de que não é louca.” Imagina chegar a ponto de ter que anotar tudo que fala e faz para ter certeza de que não é louca. Outra coisa que sempre tem associado são vícios, seja bebida, drogas, jogos ou então uma rotina incapaz de ser mudada. Todos esses maridos, pais, irmãos ou namorados que fiquei sabendo nas pesquisas tinham essa característica. ELAS: Há alguns dias surgiu uma tag no Twitter sobre relacionamento abusivo e suas diversas formas de existir. Qual a melhor maneira de lidar e se livrar de um relacionamento assim? Dani: Eu quando me vi em um relacionamento abusivo foi de uma maneira que nunca vou esquecer. Estava lendo uma revista fútil feminina e tinha uma matéria, em um pedaço dizia alguma coisa sobre relacionamento abusivo

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e tinha umas três coisas que me identifiquei com todas. Aí na hora pensei que estava bem ferrada, porque na minha cabeça não era um relacionamento abusivo. Então uma grande pesquisa para começar e identificar. Acho importantíssimo anotar as coisas, o comportamento dele e o que está dizendo. Inclusive anotar, por exemplo, frases como “Ah, vai sair com essa roupa hoje? ”, colocar que ele quis que trocasse de roupa, incluindo a descrição do tom de voz. Se tiver alguém de confiança, também é importante perguntar a opinião. Acho que a melhor maneira é essa, pesquisar, se identificar e conversar com alguém e, por último, ir falar com o cara.

Símbolo internacional da luta contra a violência doméstica


ELAS: Você acredita que em algum momento relatos de violência contra a mulher vão deixar de sofrer machismo? Como por exemplo, “ela merecia porque era vagabunda”? Dani: Gente, não vai parar nunca isso. Não vai parar porque não adianta. É claro que vai diminuir bastante, eu tenho muitos amigos homens que hoje tem uma postura diferente porque perceberam que tinham sido criados em um contexto machista e não sabiam. Meu marido mesmo, hoje vê e fala as coisas de modo diferente, porque ele nem sabia. Parar mesmo, não vai. Mas vai diminuir, está forte o discurso feminista. Está tão forte que ás vezes o cara deixa de fazer um comentário, não porque ele respeita alguém, mas porque não está afim de ouvir alguém retrucar. E eu digo isso por experiência própria. Se você for em redações e lugares de comunicação, as mulheres estão sendo mais feministas e isso está mudando as pautas. Se você for olhar as sessões femininas dos portais, já estão mudando. A gente não percebe muito, mas se você for olhar com cuidado, já tem muitas mulheres feministas, então fica difícil o homem ou a mulher com pensamento machista se articular dentro de um lugar sem pensar no que vai ter que dizer. Não tem como hoje em dia, grandes profissionais não terem uma consciência feminista, ainda existem aqueles que não são, mas vai chegar um momento que não vai ter espaço, porque a gente está denunciando muito mais as coisas.

“A gente não percebe muito, mas se você for olhar com cuidado, já tem muitas mulheres feministas, então fica difícil o homem ou a mulher com pensamento machista se articular dentro de um lugar sem pensar no que vai ter que dizer”

Dani Costa Russo com seu recente livro lançado Beijos no Chão

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Não romantizemos a maternidade A romantizaçação da maternidade é um tabu cada vez mais discutido nas redes sociais, por isso, conversamos com Mariana Varella sobre o assunto

Desde crianças, somos criadas como princesas, tendo sempre que estar arrumadas para agradar os outros, “sentar como uma menina”, acreditar que somos frágeis e até mesmo nossas brincadeiras são diferenciadas. Carrinho, armas, correr e andar de bicicleta são coisas de meninos. As garotas podem brincar somente com panelinhas, bonecas ou profissões socialmente consideradas como femininas, como professora ou enfermeira. Com essa consciência, crescemos acreditando que nossa vida já está planejada. Sabemos que para agradar as pessoas que amamos, devemos namorar, casar, ter filhos, cuidar da casa e da família. A profissão ou hobbies devem sempre ficar em segundo lugar. Quando a mulher está passando pelo período tão esperado da gestação, é obrigada a acreditar e fingir que tudo é um conto de fadas. Não existe dor, cansaço ou estresse. Se existe, deve ser encoberto pela beleza da maternidade, mesmo sentindo somente desespero, medo e muitas vezes solidão. São coagidas a suprir os reais sentimentos em prol de uma mentira construída e alimentada a anos pela sociedade patriarcal e, caso pensem diferente, são consideradas loucas, perversas e por vezes, assassinas (em casos de abortos). Atualmente, diversas mulheres têm se manifestado de forma negativa nas redes sociais a respeito da romantização da maternidade, expressando de forma real o quão é difícil e doloroso o processo da gestação e primeiros anos de uma

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criança. O assunto tem gerado cada vez mais polêmica e muitas vezes ameaças às autoras dos depoimentos. É o caso de Julia Harger, autora do blog Vegana é a Mãe, onde publicou o texto “Desconstruir a Maternidade Romântica é Nosso Papel”, que conta de forma real como foi sua experiência pré e pós gestação “Mãe não é exclusivamente amor, carinho e compraixão. Mãe é uma mulher que sofre. Que chora, que reclama.” escreveu. “Dói ficar em casa 100% do tempo com um bebê, mas também dói sair de casa sem ele.” Seu relato gerou diversos comentários, tanto positivos de pessoas que concordam e apoiam a desmentificação da maternidade, quando negativos. Julia ainda alertou “Tem que querer muito. Não compre a ideia poética de ser mãe”. Mariana Fusco Varella, filha e editora do site do Doutor Drauzio Varella, dona do blog Chorumelas é ativista do movimento feminista nas redes sociais e conversou conosco sobre o assunto. Segundo ela, “A maternidade, como bem sabe toda mãe, apesar de compensadora não é fácil. Exige, entre muitas outras coisas, dedicação e abdicação da própria independência, e nem toda mulher está preparada ou deseja encarar a tarefa. ” Marina participou ativamente na Virada Feminista Online no dia 28 de setembro deste ano, onde compartilhou sua opinião como mulher e como médica sobre a maternidade idealizada e a questão do aborto, se colocando a favor da descriminalização do ato.


Mariana Varella, foto retirada de sua página no Facebook Chorumelas

“Nunca conheci ninguém que fosse favorável ao aborto, que achasse que a decisão de interromper uma gravidez fosse fácil ou bacana. É uma solução extrema. Mesmo assim, as mulheres abortam. E o fazem por motivos variados e independentemente do que achamos. Segundo o IAG (Instituto Alan Guttmacher), entidade americana que estuda a questão do aborto no mundo, cerca de 1 milhão de mulheres abortam todos os anos no Brasil. ” Varella publica textos opinativos tanto em sua página no facebook como no blog pessoal, onde aborda temas diversos sobre o movimento feminista. Suas postagens variam desde tabus como abortos e sexualidade, como crimes contra a mulher.

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A força da mulher

Todas têm um poder dentro de si, o empoderamento nasce de dentro. Uanna Mattos e Aline Paz respectivamente. Autoras do livro Meu Corpo, Minhas Regras

O empoderamento feminino não se limita a aceitação do próprio corpo dentro dos padrões de beleza, é bem mais que isso. Se trata de reconhecer o quão forte uma mulher pode ser dentro da sociedade, lutar para conquistar o espaço que a pertence por direito e ser respeitada como deve ser qualquer pessoa. A luta das mulheres é também política e social, poder se sentir parte do mundo que ajudou a construir tanto quanto os homens. A conquista pelo direito ao voto, em 1932 aqui no Brasil, foi um marco na história das mulheres, porque algo que homens já faziam desde o início da democracia, elas tiveram que protestar durante anos para também ter a voz e opiniões ouvidas. Uma mulher, desde que nasce, precisa vencer uma batalha por dia contra o machismo e cada uma dessas vitórias faz com que ela vá se sentindo poderosa como deve ser. Mas o

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empoderamento surge de maneiras diferentes na vida de cada uma, por exemplo, no caso das jornalistas Uanna Mattos e Aline Paz, veio por meio do estudo que fizeram para realizar o trabalho de conclusão de curso da faculdade. Durante as pesquisas foram se identificando com os ideais feministas e mudaram completamente seus pontos de vista em relação a ele: “o feminismo mesmo surgiu na minha vida quando a gente começou a pensar sobre o TCC e o empoderamento também veio junto, porque até então o empoderamento era zero na minha vida”, declara Uanna. A autoestima está diretamente relacionada ao nível de empoderamento da mulher, quanto mais empoderada ela estiver, mais segura de si mesma irá se sentir e isso se reflete também no modo de ver as outras mulheres e não as julgar, como anteriormente fazia. “Acho que a maior insegurança era com o


corpo, a questão de nós duas sermos gordas. Isso, pelo menos na minha vida, pesava bastante. Ainda pesa, mas eu consigo lidar com isso de uma maneira melhor por causa do feminismo”, Uanna sobre sua autoestima. Já Aline teve também a batalha de aceitar a própria imagem, “eu não usava biquíni há uns 12 anos, usei esse ano, top cropped, entre outras coisas. Não tirava foto também, comecei a tirar foto por causa da Uanna. Eu sempre falava ‘Ai, não quero tirar foto, tô feia hoje’ e ela falava que eu ia passar a minha vida sem ter uma foto.” O fruto da pesquisa sobre empoderamento e feminismo que, em um primeiro momento, seria somente para um trabalho final da faculdade, tomou forma e ficou maior do que o esperado, se transformando em um livro publicado. “Meu corpo, minhas regras” é o primeiro livro de Uanna e Aline,

ambas fizeram tudo juntas, desde a escolha das histórias, até as revisões. No livro existem relatos de diversas mulheres com vidas diferentes, algumas mais perturbadoras do que outras, mas todas com suas essências que resultaram em mulheres completamente empoderadas e donas de si mesmas.

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Vamos aprender um pouco sobre o feminismo?

ConďŹ ra a lista de coisas que todos devem saber sobre o movimento feminista, mesmo que vocĂŞ seja contra.

44 | Curiosidades


A falta de informação e a disseminação do ódio em diversos aspectos dentro do ativismo feminista, faz com que muitas pessoas não compreendam o real significado da luta, sendo contra o movimento por completa ignorância. Muitos pensam que o feminismo é o inverso do machismo, ou seja, a abominação, desrespeito e complexo de superioridade ao sexo masculino, sendo que este movimento, trata-se da busca pela igualdade de gêneros em todos os grupos sociais e políticos. Por esse motivo, a Elas decidiu criar compilado de informações cruciais que todos devem saber sobre o feminismo. Confira:

Direitos iguais

Não existe rivalidade

O feminismo tem como prioridade e principal objetivo conquistar a igualdade de gêneros e o respeito de escolha, seja no ir e vir sem sofrer quaisquer tipos de violência vinda do sexo masculino ou no direito de decidir se quer ou não prosseguir com uma gestação.

Ao contrário do que grande parte dos leigos pensam, o feminismo é o movimento que busca direitos iguais, enquanto o machismo se coloca em posição de superioridade ao sexo feminino, impondo sua vontade sem se preocupar com o bem-estar e livre arbítrio da mulher.

Direito de escolha

Há mulheres que afirmam não serem feministas, pois não são obrigadas, contudo, o feminismo é a luta para que a mulher possa afirmar não ser mesmo obrigada a nada, tendo sua própria opinião e domínio do seu corpo e sua vida. Prova disso são os padrões de beleza. Muitas feministas deixaram de ser escravas do consumo em busca da aparência perfeita, substituído a obsessão pela magreza e cabelos lisos, por corpos diferentes e cabelos naturais. Vale lembrar que existem vários tipos de mulheres ativistas. Algumas ainda buscam seguir os padrões, mas continuam lutando a favor da igualdade. Isso torna o movimento amplo e acolhedor a qualquer tipo de simpatizantes.

Misandria, misoginia, femismo e machismo

A dúvida e confusão entre os significados de misandria e feminismo ainda paira na cabeça de muitas pessoas, por isso, é importante esclarecer que misandria trata-se do ódio e repulsa ao sexo masculino, praticado geralmente por mulheres denominadas misândricas. A misoginia é exatamente o oposto. O ódio e repulsa ao sexo feminino. Outra questão que provoca bastante confusão é os significados de femismo e machismo. O femismo trata-se da mulher se colocar superior ao homem, enquanto o machismo coloca o homem a cima da mulher. Lembrando que o femismo se difere no feminismo.

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A mineira bateu um papo com a equipe da Elas e falou sobre sua arte, feminismo, próximos projetos e a repercussão de suas ilustrações Na luta do feminismo nas redes sociais contra o machismo, são bem vindos todos os recursos, sejam músicas, livros ou desenhos. Exemplo disso são as ilustrações criadas pela Designer mineira Carol Rossetti, que não só ficou famosa por suas obras, como se tornou referência do ativismo na internet. Em seu recente livro Mulheres – Retratos de Respeito, Amor-próprio, Direitos e Dignidade, Carol reúne ilustrações e textos sobre a pressão onde as mulheres devem estar dentro dos padrões impostos para serem aceitas e respeitadas na sociedade. A designer luta contra esses paradigmas através da arte, mostrando fatos reais sobre sexualidade, feminilidade, maternidade e outros assuntos polêmicos enfrentados diariamente por milhares de pessoas. Confira o bate papo! ELAS: Como surgiu a ideia de produzir as ilustrações com temas tão polêmicos? Carol: Na verdade, não vejo diversidade como um tema assim tão polêmico. Alguns temas acabam gerando mais discussões que outros, mas não imaginei que ilustrações dizendo que mulheres gordas tem direito ao amor-próprio seriam capazes de deixar tantas pessoas indignadas. Claro, temas como identidade de gênero, liberdade reprodutiva e sexualidade ainda são tabus para muita gente, mas várias das temáticas com as quais trabalhei eu pensei que seriam mais tranquilas. São causas com as quais me identifico, e encontrei minha forma de lutar por um mundo melhor através do que amo fazer, que é também o meu trabalho. ELAS: Você acha que o seu trabalho tem importância na luta do feminismo pela igualdade de gêneros? Carol: Espero que sim! Acho que consigo atuar no movimento da minha maneira, através do meu trabalho. Às vezes, sinto que consigo me comunicar bem com pessoas de fora do movimento. Tento trazer uma linguagem acolhedora para o meu trabalho, e através de uma abordagem não-agressiva as pessoas tendem a ficar menos na defensiva e o diálogo flui melhor. O diálogo sobre feminismo não deve ficar restrito a um grupo de ativistas, é preciso alcançar mais pessoas, é preciso encontrar uma forma de

46 | Entretenimento

conversar com outras gerações, outras realidades, outras classes sociais... Enfim, precisamos investir em estratégias de comunicação. ELAS: Por que você acha que as ilustrações fizeram tanto sucesso? Carol: Acho que foi justamente por causa do tom acolhedor das minhas mensagens, que permitiram que cada um se identificasse com a ilustração – seja na posição de vítima ou de agressor. O fato de serem mensagens muito claras e diretas também tem um efeito poderoso para começar discussões. Ainda assim, jamais imaginei que meu trabalho ficasse tão conhecido. As pessoas estão se abrindo mais para falar sobre feminismo, e minhas ilustrações coincidiram com o momento em que o assunto cresceu nas mídias sociais ELAS: Você ficou conhecida através das redes sociais e do meio digital. O quão importante você julga os coletivos feministas iniciados na internet em busca do empoderamento feminino? Carol: Acho muito importantes. Foi através deles que conheci melhor o movimento e me tornei feminista também. Acho que a internet não é um espaço menos real por ser um meio eletrônico, muito ao contrário. É uma ferramenta poderosa de disseminação de ideias, busca de informações e organização de movimentos. Claro, há também um outro lado, por ser um espaço que também potencializa o ódio e a intolerância. Mas os coletivos precisam existir no meio digital, também. .ELAS: Notamos que suas ilustrações são publicadas em várias línguas. Como você lida com a repercussão do seu trabalho? Carol: As traduções foram feitas, em sua maioria, por tradutores amadores voluntários de diversos países, que se identificaram com o projeto e se ofereceram para ajudar. A repercussão foi muito positiva e me rendeu oportunidades incríveis, como a do lançamento do livro que reúne essas ilustrações e que já foi publicado em cinco países diferentes. ELAS: Seu trabalho reflete na sua vida pessoal?


Carol: Eu amo meu trabalho. Foi o que escolhi fazer e não me arrependo jamais. Meu trabalho está muito ligado à minha vida pessoal por ser extremamente autoral e independente. E porque eu trabalho em casa, então nem se eu quisesse eu conseguiria fugir! ELAS: Quais ilustrações você mais se identifica? Carol: Gosto de todas da mesma forma! (risos) ELAS: Depois do seu livro (um sucesso absoluto), quais são os planos futuros para a sua carreira? Carol: Depois do projeto Mulheres, eu lancei o Cores. São tirinhas bem humoradas que tratam de vários temas já abordados no mulheres, mas dessa vez iniciando um diálogo com crianças também. Acredito que não seja suficiente trabalharmos por uma desconstrução sem investirmos na construção de uma geração mais consciente. O Cores também se tornou livro, que será lançado em novembro deste ano, através do financiamento coletivo pelo Catarse.

#MeuAmigoSecreto - Coletivo Não Me Kahlo A hashtag que dá nome ao livro foi criada de forma espontânea na época onde começam os jogos de amigo secreto/oculto em empresas e famílias. Da mesma forma que são dadas as dicas de quem é a pessoa a ganhar o presente, mulheres do Brasil inteiro passaram a fazer denúncias contra pessoas bem próximas, mas sem citar nomes. Crimes que iam desde abusos até violência doméstica com risco de morte. No livro são explicados diversos pontos do feminismo e ajuda as mulheres a encontrarem sua própria luta.

Vamos juntas? – Babi Souza O livro começou após a iniciativa surgir no Facebook, como forma de incentivar as mulheres ajudarem umas às outras. O coletivo ganhou tanta força online, que na vida off-line aquelas que acompanharam os relatos na página também passaram a ter iniciativas quando viam uma mulher sozinha na rua tarde da noite ou sofrendo algum tipo de abuso.

Meu corpo, minhas regras – Uanna Mattos e Aline Paz Com base no feminismo, as autoras reuniram depoimentos de mulheres que já passaram por diversos tipos de abusos e violências. Com a abordagem bem crua, é possível sentir por meio das palavras o sofrimento e a ascensão de cada uma delas, depois de conhecer o feminismo.

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Feminismo não é doença, me respeita! Com a ascensão do feminismo na in-

ternet, conseguimos finalmente mensurar o quão distorcida é a visão de algumas pessoas a respeito do movimento e suas causas. Com argumentos fracos, os discursos de ódio são incontáveis, sempre partindo do pressuposto de que o feminismo é o inverso do machismo. O machismo é violento. Machuca. Estupra. Mata. O machismo é a dominação do homem sobre a mulher, enquanto o feminismo é a luta por igualdade, liberdade, direito de ir e vir sem ser julgada por isso. A herança que carregamos de séculos e décadas passadas, de que a mulher deve ser sempre submissa e frágil resulta no machismo enraizado, na cultura do estupro que passa despercebida em tantas situações e no pré conceito de que mulheres feministas propagam o ódio contra os homens.

48 | Editorial

Basta uma mulher ter posicionamento a favor do feminismo para se ver o quanto ele é necessário. São xingamentos dos mais variados tipos, em sua grande maioria ofendendo a dignidade e falando da sua aparência física – pontos que são vistos pelos homens como os mais frágeis e fáceis de atingir. A propagação do ódio em sua maneira mais cruel é praticamente viral, comentários que se restringiam às mesas de bar, hoje tomam conta das redes sociais em forma de texto, imagens e vídeos. Lola Aronovich, professora na UFC e feminista, sempre posta suas opiniões e posicionamentos políticos e sociais em seu blog, já sofreu ameaças de morte, teve endereço e telefone divulgado na internet e tem suas fotos editadas de forma pejorativa, chamando-a de gorda, feia e mal-amada. Lola é só uma das inúmeras mulheres que são perseguidas e ameaçadas somente por lutar pelo seu direito dentro da sociedade. Ser feminista não é uma doença, não é coisa de mal-amada, não é coisa de mulher gorda e que não se depila. É ser simplesmente a favor de poder viver em paz, ter o poder de escolher o que quer fazer com o próprio corpo, poder dizer “não”, ser ouvida no ambiente de trabalho, ir e vir na rua sem ser obrigada a ouvir cantadas de desconhecidos.




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