Carta aberta "POR UMA CULTURA COMO POLÍTICA DE ESTADO"

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CARTA ABERTA DAS TRABALHADORAS E DOS TRABALHADORES DAS ARTES E DA CULTURA NO ESTADO DO AMAZONAS AO GOVERNADOR WILSON LIMA

POR UMA CULTURA COMO POLÍTICA DE ESTADO Diante da gravidade do anúncio da fusão da Secretaria de Cultura (SEC) e da Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer (SEJEL) com a Secretaria de Educação (SEDUC), e no que concerne ao orçamento da SEC, o Mobiliza Cultura vem a público se manifestar em defesa da integridade, permanência e fortalecimento das políticas culturais. Assim, queremos uma resposta sobre a real necessidade dessa fusão e seus benefícios para a área cultural, uma vez que o Portal da Transparência informa que o orçamento da SEC teve aumento de 22,6% este ano, saltando de R$ 82,1 milhões, em 2018, para R$ 100,8 milhões em 2019. E segundo pronunciamento dado pelo Governador do Amazonas, Wilson Lima, o orçamento acabou em junho de 2019. Caso esses dados e informações elencados acima não corresponderem com os indicadores do Governo do Estado e demais órgãos gestores, solicitamos a disponibilidade dos arquivos para melhor divulgação dos gastos realizados pela SEC neste ano. Fica a questão: onde o orçamento planejado foi investido? Nós, trabalhadoras e trabalhadores das Artes e da Cultura no Amazonas representamos, nesta carta aberta, os cidadãos e cidadãs dos municípios do Estado do Amazonas que, a partir da fruição e do entendimento sobre a importância da arte e das suas e nossas identidades culturais, se orgulham de seus artistas, das manifestações culturais presentes e do nosso diverso patrimônio cultural, que nos fazem únicos no mundo e que nos fazem amazonenses, brasileiros e brasileiras. Ademais, este documento representa também a diversidade política e vão além de questões partidárias e ideológicas. Este é mais um momento que exige mobilização em torno das políticas culturais desenvolvidas em todas as esferas - União, Estados e Municípios - e de instituições públicas e privadas, que promovem o acesso aos bens e serviços culturais, o fomento às artes, a preservação do patrimônio cultural, acesso aos


equipamentos culturais e a promoção da diversidade cultural brasileira. A cultura é um direito fundamental e constitucional, e é essencial a manutenção de estrutura adequada para a existência permanente e perene de órgãos próprios que possam gerir e executar políticas públicas, fomento de atividades e contratação de equipe e técnicos. Nos últimos anos, mesmo com o esvaziamento político e a drástica redução orçamentária, a permanência da SEC foi uma demarcação institucional do campo das artes e da cultura no Estado. Mais do que uma conquista setorial dos artistas, produtores, gestores e grupos culturais, foi uma conquista da sociedade. Entretanto, se faz necessário um diálogo mais aberto e a construção de um orçamento participativo para alcançar soluções viáveis diante da crise atual. Em 1997, ano que a SEC foi criada, houve um orçamento executado de 5.001.888,80 milhões. O maior orçamento da SEC ocorreu no ano de 2012 com 174.120.994,00 milhões, com diminuição gradativa do orçamento nos anos seguintes. O recurso orçamentário nunca ultrapassou a 1,64% do total do orçamento do Estado, e no ano de 2016, por exemplo, foi de apenas 0,65%. Em 2010, na tentativa de melhorar a eficiência da gestão cultural estadual, foi criada a Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), autorizada pela Lei nº 3.582/2010 e instituída pelo Decreto nº 31.136/2011, para a promoção artística, formação de técnicos e artistas, gerando empregos, renda e incentivo ao crescimento justo e sustentável da cultura no maior estado do Brasil. Entretanto, se observa que este modelo de gestão detém parte significativa dos recursos para operação no Estado do Amazonas, terceirizando o papel da SEC através de contratos de gestão, a exemplo de determinados equipamentos culturais, todos os corpos artísticos do Teatro Amazonas e eventos específicos. Portanto, defendemos a Cultura em sua dimensão simbólica, econômica e cidadã, e que nas políticas culturais isso também deve ser entendido. Precisamos definir uma agenda política e estratégica para a pasta. Acreditamos que seja desnecessária a fusão da Secretaria de Cultura (SEC) com outras secretarias. Defendemos também a construção de um orçamento participativo; a regulamentação do Fundo Estadual de Cultura (Lei 3.585 de 29 de dezembro de 2010); a reativação do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho em Defesa do


Patrimônio Histórico e Artístico do Amazonas; a consulta pública do Plano Estadual de Política Cultural para sua implementação enquanto lei; a criação da Lei de Incentivo

Estadual;

a

democratização

dos

equipamentos

culturais;

a

descentralização da ações culturais nos municípios e nas zonas da capital; a retomada de Editais

Públicos para fomento; e incentivos que beneficiem não

apenas a capital, mas contemplem o interior do Estado com suas particularidades diversas. Por todas essas razões listadas, o Mobiliza Cultura conclama a sociedade amazonense e brasileira, principalmente o Governo do Amazonas, a realizar uma profunda reflexão e agir rapidamente de forma participativa sobre os desafios colocados, sem esquecer que a pasta da Cultura é tão importante quanto Saúde, Educação, Segurança, Transporte, Moradia e o Combate à Fome.

Manaus, 10 de setembro de 2019.

Mobiliza Cultura Arte ocupa Manaus Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana - ARATRAMA Associação de Circo do Amazonas - ACA Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé - ATB Associação dos Terreiros de Umbanda do Amazonas - ATUAM Associação Nossa Senhora da Conceição Banzeiro de Ideias Centro Popular do Audiovisual Cia de Teatro Vitória Régia Coletivo Conexão Puxirum Coletivo Difusão Coletivo Mona Coletivo Psycult Conselho Nacional de Cineclubismo - CNC Contém Dança Cia Índios.Com Cia de Dança Instituto Nossa Senhora da Conceição Jirau Amazonas Marcha da Maconha Manaus Movimento Abrace Um Museu Movimento Levante MAO Ocupa MinC Manaus


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