Lance! - 02 de outubro de 2011

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LANCE! DOMINGO, 2 DE OUTUBRO DE 2011 www.lancenet.com.br

Boxe

Apenas base do MMA?

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O boxe, pelo menos o amador, não forma mais tantos competidores em Manaus, apenas prepara para outros esportes como as artes marciais mistas, após meses de treinamento ��

SILVIO LIMA

Direto, cruzado e gancho. Quem normalmente usa esses golpes são os lutadores de boxe. Mas, nos últimos tempos, eles têm servido de base para o badalado MMA (Artes Marciais Mistas, em português) e o esporte que consagrou lutadores como Adilson Maguila e Arcelino Popó Freitas, tem servido apenas para preparar lutadores de vale-tudo. Pelo menos isso ocorre em Manaus, na categoria amador. De acordo com o presidente da Federação Amazonense de Pugilismo (FAP), Pedro Nunes, que prepara atletas amadores e realiza combates na Zona Leste, só neste ano 14 lutadores de boxe passaram a praticar o MMA. “O boxe amador está falido. Depois de quatro a seis meses de treino a garotada já quer lutar o vale tudo para ganhar dinheiro”, aﬁrmou. “O atleta começa a lutar boxe e, quando ele começa a ganhar as lutas amadoras, logo vêm os promotores de MMA e pagam cerca de R$ 500 por luta”, completou. Mas Pedro Nunes disse que a migração não é um problema para a FAP pois, segundo ele, o atleta passa a ganhar um dinheiro honestamente. “É melhor do que o garoto estar brigando na rua. Eu tenho aqui na Zona Leste um projeto social e dou R$ 20 para quem luta como forma de pagar o vale-transporte dele para as lutas”, explicou. O presidente da Federação de Pugilismo aﬁrma também que até atletas consagrados, como o campeão brasileiro de boxe da categoria olímpica dos pesos pesados, em 2006, Cássio Umberto, hoje luta MMA em Boa Vista (RR). “Têm outros estados como o Pará que a febre da luta-livre é maior do que aqui em Manaus. Para lá, só este ano já foram três atletas que já tinham uma boa base de boxe”, ressaltou Pedro Nunes. A única opção, de acordo com Pedro Nunes, para que os atletas amadores não continuem migrando para o MMA é o apoio dos governantes. “É preciso que o governo do Estado ou a prefeitura lance algum projeto de bolsa-atleta para formar

Segundo a federação de pugilismo, os boxeadores migram cada vez mais para o MMA

competidores olímpicos. Não só para o boxe, mas também para outras modalidades de lutas”, afirmou. Pedro Nunes afirma que, apesar do apelo econômico do MMA, o boxe leva vantagem. “Se formos analisar, o próprio UFC (um dos eventos de MMA), a maioria das lutas são definidas com o boxe. Além disso, todo praticante de vale-tudo tem que ter noção da luta”, ressaltou. O profissional no Brasil A situação do boxe profissional no Brasil não muda muito, não pela migração para o MMA, mas pela falta de campeões. Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), Mauro Silva, a categoria está falida. “Isso acontece principalmente em decorrência da má administração que os lutadores têm

por seus empresários. E, com isso, tem atleta de elite acaba ﬁcando pelo meio do caminho”, ressaltou. De acordo com Mauro Silva, a CBBoxe só inspeciona e homologa o título do boxe proﬁssional. “A confederação só é responsável pelo boxe olímpico, o qual tem o patrocínio do governo federal e tem muitos campeões”, disse. Por conta disso, Mauro acredita que conseguiu expressão no cenário nacional. “É uma luta de rua levada para dentro de um ringue ou octógono. Mas eles têm excelentes atletas na modalidade deles. O exemplo é o Anderson Silva, um dos melhores”, comentou. “Acredito que cada esporte tem o seu espaço, o Brasil é grande”, completou.

Cássio Umberto foi um dos grandes nomes do boxe local, mas hoje pratica o MMA em Boa Vista (RR)

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silviolima@emtempo.com.br

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Inclusão social

Criança é criança Projeto de ginástica artística em Manaus é o primeiro do Brasil a atender autistas. Pais e professores já veem transformação no dia a dia dos pequenos, com ajuda do esporte NATÁLIA CAPLAN natalia@emtempo.com.br

Correr, pular e rolar. Esses atos até podem parecer simples para muitas pessoas, mas a alegria no rosto de uma criança em meio a esta agitação mostra como o esporte pode mudar vidas. É em um ambiente assim que aproximadamente 15 meninos e meninas de 4 a 12 anos aprendem e se divertem no programa “Viva as Diferenças”, com exercícios de ginástica artística. O trabalho gratuito é único em todo o país. “Existe um no Rio de Janeiro, mas é particular e nem todos têm acesso”, disse o professor de educação física, Sonny Ferreira, ao lembrar que o projeto é desenvolvido nas manhãs de sexta-feira, no ginásio Luciano Soares — avenida Rondônia, s/n, conjunto Eldorado, Parque Dez, Zona Centro-Sul. A iniciativa completou dois meses e deve abrir uma nova turma em breve. Segundo o professor, a procura superou as expectativas e novos especialistas serão contratados para atender à demanda. “Recebemos mais de 300 ligações, porque não há muitas atividades especíﬁcas para esse público”, declarou o proﬁssional, ao ressaltar que a própria

sociedade isola os portadores da síndrome. De acordo com Ferreira, que trabalha há três anos apenas com deficientes, diferentemente do que a maioria das pessoas imagina, o autismo não é sinônimo de isolamento social. É a própria sociedade que exclui os chamados “diferentes”. O desenvolvimento das crianças, com ajuda da modalidade, prova que o preconceito é a verdadeira barreira. “A própria ciência comprovou que, quanto maior estímulo, melhor será o desempenho. Nós temos um trabalho válido, com melhorias na atenção, mobilidade, equilíbrio e habilidades motoras”, declarou. Além do estereótipo de “antisocial”, os autistas são vistos como doentes mentais, o que, segundo Sonny Ferreira, é totalmente errado. Segundo ele, as crianças são apenas retraídas e não têm problema em aprender e receber informações novas. A questão é se há profissionais preparados para lidar com a síndrome. “Eles não são aceitos pela atitude negativa da sociedade”, disse ao enfatizar que algumas instituições de ensino rejeitam a matrícula deles. “Não basta ser a melhor escola, deve ter um profissional disposto a trabalhar”, completou.

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Com a atividade física, Gracilene Azevedo diz que o desenvolvimento do ﬁlho Murilo Augusto, 4, melhorou

As atividades são feitas com um proﬁssional qualiﬁcado para o acompanhamento das crianças

Duas mães, a mesma luta Observar Victor Hugo, 5, brincar com os colegas de ginástica artística é um dos momentos favoritos de Graça Ferreira. Mesmo com apenas uma aula semanal, ela já notou muitas mudanças no comportamento do ﬁlho, que ainda não fala. “Ele está aprendendo a ter limites (noção do perigo), as esperar (ter paciência), ﬁcou mais animado”, disse, ao ressaltar que

tinha medo de que o menino se machucasse na modalidade. “Eu não conhecia o esporte, mas estou vendo como é importante para ele”, aﬁrmou. Como a hiperatividade é uma das características do autista, é preciso gastar muito a energia. Porém, segundo Gracilene Azevedo, é difícil encontrar atividades físicas para Murilo Augusto, 4. Ela

descobriu a doença há pouco mais de um ano e não sabia como lidar com o ﬁlho, que costumava ter crises violentas. Após as primeiras aulas esportivas, a tranquilidade voltou ao lar. “Ele sempre gostou de altura e até escalou a geladeira. Ele progrediu muito e está mais tranquilo e está soltando as primeiras palavras”, declarou emocionada.

Pioneirismo

A falta de atividades gratuitas direcionadas aos autistas é uma dificuldade encontrada por famílias em todo o Brasil. Segundo o coordenador do “Viva as Diferenças”, o grupo é muito específico e precisa de trabalho diferenciado. “A ginástica artística é importante, porque tem um método especializado. As crianças têm que extravasar para não ficarem irritadas”, disse, ao lembrar que o trabalho é de longo

prazo. As aulas do “Viva as Diferenças” são sempre às sextas-feiras, de 8h às 10h, com os materiais cedidos pela Federação Amazonense de Ginástica (FAG). O projeto é uma parceria entre a Secretaria Municipal de Desporto e Lazer (Semdej) e o grupo Mãos Unidas pelo Autismo (Mupa). Os interessados podem ligar para os telefones 3638-8715, 32488255 ou 3249-2462.

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