Saúde - 4 de março de 2012

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Caderno E

Saúde MANAUS, DOMINGO, 4 DE MARÇO DE 2012

DIVULGAÇÃO/STCK

e bem-estar

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(92) 3090-1017

O sexo nosso de cada dia Saúde e bem-estar E5

A terapia do amor A equoterapia une homem e animal em um processo de adaptação, onde o trote do cavalo serve de exercício para diversos pacientes

I

ALITA MENEZES Equipe EM TEMPO

dentificada como método terapêutico na década de 60, a equoterapia – terapia sobre cavalos – tem registros ainda no ano de 377 a.C, quando Hipócrates, no livro “Das Dietas”, reconhecia a equitação como uma atividade de regeneração à saúde. Hoje é cientificamente comprovado que 95% dos movimentos do cavalo se assemelham com o andar do ser humano, realizando ao mesmo tempo deslocamentos para direita e para esquerda, para cima e para baixo e para frente e para trás. É justamente por essa semelhança de movimentos entre o galopar e o caminhar, que os exercícios sobre os equinos favorecem o equilíbrio, a fortificação da coluna vertebral e toda musculatura dos membros superiores e interiores, além de valorizar ainda a interação entre homem e animal, favorecendo o desenvolvimento da atenção, da percepção e sentimentos. De acordo com a fisioterapeuta da Associação Amazonense de Equoterapia, Jeronice Rogrigues, o tratamento é indicado para portadores de síndrome de Down, paralisia cerebral, autismo e pessoas que sofreram de acidente vascular encefálico, bem como os que sofrem de limitações físicas e mentais ocasionadas por desastres. “Dependendo de cada caso, realizamos uma didática específica que irá priorizar a dificuldade do paciente, mas é importante frisar que a equoterapia quase sempre é uma terapia complementar, não eliminando a necessidade de outros tratamentos, como o fisioterapêutico, o fonoaudiológico e o psicoterapêutico”, esclarece a especialista. Sentimentos aflorados Durante o deslocamento com o cavalo, o praticante da equoterapia recebe de 1,8 mil a 2,2 mil estímulos cerebrais e ajustes tônicos, ou seja, movimentos automáticos para adaptar o corpo do praticante ao movimento do cavalo. Esses estímulos percorrem a coluna vertebral através da medula espinhal, chegando ao

sistema nervoso central e, a partir daí, os neurônios se unem, gerando novas células nervosas, que servirão como “ponte” na realização de uma determinada atividade motora dificultada por uma lesão cerebral. Mas, na prática, tudo isso só se torna possível porque o sentimento de carinho e amizade une o praticante ao animal. É também sentimento de solidariedade que faz com que a equipe da Associação Amazonense de Equoterapia, formada por três fisioterapeutas, três psicólogos, uma pedagoga e oito equitadores, se dedique voluntariamente ao atendimento gratuito da população. Contando com o apoio

Manoel Brito, 8 anos, é portador de autismo e pratica equoterapia há um ano e meio. Hoje ele já consegue interagir com outras pessoas

ESPAÇO

A maior urgência do espaço de equoterapia é por um picadeiro coberto que, de imediato, acrescentaria mais 50 vagas. Atualmente 400 pessoas estão na lista de espera por esse tratamento do Comando Montado da Polícia Militar que, além do espaço e dos cavalos, disponibiliza também o grupo de equitadores formados, a associação atende atualmente 70 pessoas, mas a lista de espera é muito maior que a capacidade de atendimento com, aproximadamente, 400 pessoas, entre crianças e adultos. Ricardo Souza, pioneiro na iniciativa, lembra que a associação foi fundada em junho do ano passado, pelos próprios pais dos pacientes. “Na verdade, os próprios profissionais da cavalaria já faziam o trabalho de equoterapia, mas a partir da criação da associação de pais foi possível conseguir mais recursos para que mais crianças fossem atendidas, apesar de ainda não ser o suficiente”, lamenta.

Tratamento evolutivo

Felipe Ramos, 16 anos, faz o tratamento há mais de 6 anos FOTOS: DIVULGAÇÃO/STCK

Ricardo Souza com o pai, Manoel Brito e o seu filho

A associação oferece tratamento grátis para quem precisa

De maneira geral, a equoterapia está dividida em três fases, que vão aprimorando gradualmente a capacidade motora e cognitiva dos praticantes. Segundo a fisioterapeuta Jeronice Rogrigues, na primeira etapa, chamada de hippoterapia, o praticante não consegue montar sozinho no dorso do cavalo, necessitando de um terapeuta montado ou ao lado, para ajudar nas atividades direcionadas ao seu tipo de tratamento. É justamente nesse período que o pequeno Manoel Brito, de 8 anos, se encaixa. Ele é portador de autismo e pratica a equoterapia há um ano e meio. Jeronice Rogrigues explica que, nesse caso, a terapia é mais voltada para o lado cognitivo, no contato com o cavalo, envolvendo abraços e também brincadeiras como jogar e receber a bola. “A maior dificuldade dele era a comunicação,

uma vez que o autista vive em um mundo paralelo. Hoje ele já consegue interagir com outras crianças e até o colocamos em um colégio de educação regular”, comemora o pai, Manoel Brito. Já na última etapa do tratamento, o praticante consegue realizar alguns exercícios de hipismo sozinho, como galopar, trotar e até dar pequenos saltos. Que o diga Felipe Ramos, 16, que, segundo o pai Francisco Pimentel, larga qualquer coisa para ir à equoterapia. O jovem que faz o tratamento há 6 anos tinha grande limitação do aprendizado e apresentava movimentos repetitivos involuntários. “Ele já se movimenta superbem e está no oitavo ano do ensino médio, o que para nós é uma grande conquista. Além disso, sua comunicação melhorou muito, antes ele era muito introspectivo”, afirma.


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