Terre de Femmes 2012 - Elda Sousa

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candidatura ao prémio terre de femmes 2012 da fundação yves rocher

elda sousa


Candidatura ao Prémio Terre de Femmes 2012 da Fundação Yves Rocher de Elda Sousa Ilustração da capa: Nélia Susana Ferreira Setembro de 2011



1.1

viveiro de plantas indígenas da associação dos amigos do parque ecológico do funchal

Em Agosto de 2010 um incêndio de grande dimensão devastou o coberto vegetal da cordilheira central da ilha da Madeira, incluindo o trabalho que a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (AAPEF) vinha realizando desde 2001 no Pico do Areeiro e no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha, criado numa propriedade privada com 5,3 hectares que a Associação adquiriu em 2005. Nesta propriedade estava a ser desenvolvido um projecto de recuperação da biodiversidade, bastante delapidada pelo pastoreio intensivo e por fogos. O projecto, para além da reflorestação feita exclusivamente em regime de voluntariado, englobava um circuito pedonal de descoberta da natureza com informação sobre a origem e evolução geomorfológica da serra encimada pelo Pico do Areeiro, das características climáticas das terras altas, da flora da avifauna e do último andar bioclimático. Pretendíamos, igualmente com este projecto, despertar as consciências para a profunda relação entre a floresta e os recursos hídricos, demonstrando no terreno como é possível aumentar consideravelmente a infiltração da água e diminuir os riscos das cheias repentinas. O incêndio de Agosto de 2010 destruiu quase uma década de trabalho da AAPEF, mas logo após a catástrofe decidimos que era importante retomar o projecto de recuperação do coberto vegetal. Devido à enorme extensão da área ardida, a Direcção Regional de Florestas da Madeira não tinha disponibilidade nos seus viveiros para fornecer a quantidade e a variedade de plantas indígenas que necessitávamos. Surgiu, então, a ideia de criar o nosso próprio viveiro.

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Felizmente pudemos contar com a ajuda do amigo Duarte Silva, co-proprietário e director do hotel Quinta Jardins do Lago, que disponibilizou temporariamente o espaço para instalar o viveiro num terreno baldio, onde deverá ser edificado um novo empreendimento turístico. Para além da cedência da área, a Quinta jardins do Lago também nos fornece, gratuitamente, a terra para as plantações, composto orgânico e água de rega. Duas semanas após o incêndio levámos as primeiras plantas para o viveiro da Quinta Jardins do Lago. Foram cerca de 500 pequeninos loureiros (Laurus novocanariensis), que tinham germinado espontaneamente à sombra dum velho loureiro num jardim dum amigo da Associação. No próximo mês de Outubro, após as primeiras chuvas, essas plantas irão para o solo no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha. Pouco a pouco o viveiro foi ficando conhecido entre os associados da AAPEF, sobretudo devido à divulgação feita no blogue da Associação – http://bisbis.blogspot.com. Começaram a aparecer voluntários dispostos a trabalhar, sementes para semear e mais ofertas de plantas. Como eu possuía alguns conhecimentos e prática de jardinagem o Prof. Raimundo Quintal, presidente da AAPEF, nomeoume responsável pelo viveiro. Devido à minha profissão de Guia Intérprete, sem horário fixo, acabo por ter bastante tempo disponível que decidi dedicar, com toda a minha alma, ao viveiro. Tínhamos começado com 500 plantas mas, em pouco tempo, o viveiro cresceu. Eram necessárias caixas para as sementeiras, recipientes para plantar as plantas de raiz nua que chegavam e para começar a repicagem das primeiras plantas germinadas no viveiro. A AAPEF vive das quotizações dos seus sócios. A casa, que servia de apoio às actividades desenvolvidas no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha, foi destruída pelo fogo e está a ser feita uma poupança com o objectivo de construir um novo abrigo na montanha.

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Assim, no viveiro tentamos sempre fazer o nosso trabalho gastando o mínimo possível de dinheiro e reutilizando o máximo possível. Para as sementeiras a solução foi reutilizar as caixas de esferovite de pescado e marisco. As plantas maiores são plantadas em vasos de plástico oferecidos por uma empresa de jardinagem e, para as plantas mais pequenas, reutilizamos embalagens Tetra Brick e garrafas de plástico. Mais uma vez utilizámos o nosso blogue para divulgar os cartazes criados pela associada Nélia Susana, explicando a transformação das embalagens em recipientes para plantas.

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Logo de seguida começámos a receber uma grande quantidade de embalagens, não só dos nossos associados, mas de bares, escolas e hotéis. As caixas de esferovite, as caixas de plástico onde colocamos as plantas envasadas e as paletes de madeira são-nos oferecidas pelo Serviço dos Mercados do Funchal. Todos estes resíduos de embalagens acabam por ter utilidade no nosso viveiro.

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Em Janeiro de 2011, passados apenas cinco meses após os incêndios e o início dos trabalhos no viveiro, conseguimos enviar para o Cabeço da Lenha a primeira remessa de plantas. Ao longo da época de plantação do Inverno 2010/2011 cerca de 1400 plantas, na maioria herbáceas de crescimento rápido, já inteiramente produzidas pelo viveiro, foram utilizadas na recuperação da biodiversidade do Cabeço da Lenha. Quase todos os sábados entre 200 a 300 plantas saíam no viveiro, como demonstra o quadro seguinte. Espécie Aichryson divaricatum Argyranthemum pinnatifidum Echium candicans Erica platycodon subsp. platycodon Erysimum bicolor Euphorbia mellifera Geranium palmatum Geranium maderense Hypericum grandifolium Laurus novocanariensis Melanoselinum decipiens Ocotea foetens Phyllis nobla Picconia excelsa Rosa mandonii Salix canariensis Semele androgyna Sambucus lanceolata Sibthorpia peregrina TOTAL

22/01/11 3 163 26 — 2 1 1 — 6 — 1 — 9 1 1 21 — 1 3 239

28/01/11 — 65 — — — 8 1 — — 19 7 — 220 — — — — — — 320

19/02/11 — 21 — — — — — — — 204 7 — 8 — — — — — — 240

12/03/11 — — — — — — — 11 — 125 129 3 94 — — — — — — 362

26/03/11 — 15 21 12 — — — — — — 88 — 124 — — — 7 — 1 268

TOTAL 3 264 47 12 2 9 2 11 6 348 232 3 455 1 1 21 7 1 4 1429

As plantações na montanha são efectuadas somente entre Outubro e Março, com o objectivo de garantir a água suficiente para a sobrevivência das pequenas plantas. Neste momento possuímos cerca de 10 000

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plantas no viveiro, das quais mais de 80% estarão em condições de serem plantados no terreno no decorrer do Outono e Inverno. O transporte dos voluntários para o Cabeço da Lenha, situado a cerca de 1500m de altitude é assegurado, de forma gratuita, uma vez por mês por um autocarro da Câmara Municipal do Funchal e o transporte das plantas é feito por um camião, também disponibilizado pela mesma Câmara. Nos restantes dias em que decorrem trabalhos os voluntários juntam-se em carros privados para se deslocarem até à serra sobranceira ao Funchal. Durante o mês de Agosto recomeçámos a recolha de sementes e efectuámos novas sementeiras de forma a garantir a continuação do projecto no próximo ano.

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1.2

localização do viveiro e do campo de educação ambiental do cabeço da lenha

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1.3

tabela de gastos do viveiro e orçamento para 2011/2012 Despesas do viveiro na época de plantação 2010/2011

Movimento

Data 08/09/10 02/10/10 20/10/10 27/10/10 10/11/10 02/12/10 20/07/11 26/08/11 TOTAL

Material para viveiro

Preço (€) 36.50 117.75 373.99 181.13 20.00 39.37 4.35 500.00 1273.09

Descrição Sacos de plástico para plantas Rede + canalizações Mão-de-obra para toldo + cimento + brita Estacas de pinho tratadas Rede Ferramentas Serra + cano Sistema de rega por aspersão

Orçamento do viveiro para época de plantação 2011/2012 Movimento Material para viveiro Mão-de-obra para viveiro

Data 2011/2012 2011/2012 TOTAL

Preço (€) 800.00 400.00 1200.00

Todas as despesas do viveiro são suportadas pela AAPEF. Como forma de angariarmos algum dinheiro, fizemos sementeiras de Geranium maderense, uma herbácea endémica da Madeira, com grande valor ornamental, que não consegue sobreviver nas grandes altitudes onde estamos a desenvolver o nosso projecto, mas que se desenvolve muito bem nos jardins das zonas costeiras. Mais uma vez contámos com a associada Nélia Susana, criadora do cartaz que mostramos de seguida, que foi colocado no nosso blogue para publicitar a venda das plantas.

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Já vendemos cerca de 400 gerânios e contribuímos para que esta espécie passasse a ser mais conhecida não só pelos madeirenses mas, inclusive, pelos turistas que visitam a Madeira, pois muitas das plantas foram vendidas para jardins de hotéis do Funchal e, algumas, até compradas por turistas durante a Festa da Flor.

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1.4

perspectivas

O nosso objectivo é o de conseguirmos produzir nos próximos anos uma grande quantidade de plantas indígenas para podermos continuar o trabalho de repovoamento vegetal da área mais alta do Parque Ecológico do Funchal, no Pico do Areeiro, e no Cabeço da Lenha. Pretendemos aumentar não só o número de plantas, mas também a variedade de espécies indígenas típicas das grandes altitudes.

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candidata

Dados pessoais Nome

Elda Doroteia Ferreira de Sousa

Data de nascimento

28 de Março de 1964

Profissão

Guia-intérprete

Faço parte do grupo de sócios fundadores, em 1996, da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal. Desde o princípio senti que este era um projecto importante para o futuro da ilha da Madeira e que, ao participar nas suas actividades, também poderia ajudar na preservação da natureza na minha Ilha. O coberto vegetal de altitude, destruído quase totalmente pelo incêndio de 2010, contribuía para a infiltração da água da chuva e do nevoeiro no terreno, fazendo com que a Madeira ainda não sinta grandes dificuldades em obter a sua água. A reflorestação protegerá toda a baía do Funchal em situações de cheias no futuro e evitará, em grande parte, o enorme problema de erosão que sofre a Madeira. A conservação da beleza natural da ilha da Madeira e, por consequente, de toda a zona de intervenção da AAPEF é fundamental para o futuro económico da ilha da Madeira que depende do turismo. Cada vez mais o turista que nos visita procura o sossego e a beleza natural. Todos os dias são aos milhares os turistas que percorrem as nossas montanhas, seja de carro seja a pé por levadas e veredas. Todos procuram o mesmo, a natureza no seu melhor. Em resumo, ao participar neste projecto sinto que estou a proteger a minha ilha e o seu futuro. Neste momento sou a responsável pela manutenção do viveiro de plantas indígenas onde passo a quase totalidade do meu tempo livre. Nas épocas de trabalho mais intenso, como na altura de sementeira ou repicagem, são vários os dias por semana que tenho de dedicar às plantas do viveiro.

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a associação dos amigos do parque ecológico do funchal

A AAPEF, formada em 1996, foi a primeira associação madeirense reconhecida como Organização Não Governamental para o Ambiente de Âmbito local - O.N.G.A. nº 99 e conta com cerca de 400 associados. Esta associação vive das quotizações dos seus associados. Desde o incêndio em Agosto 2010 a AAPEF tem vindo a organizar, todos os sábados, jornadas de trabalho com voluntários que têm vindo a cortar a vegetação ardida do Cabeço da Lenha e junto ao Pico do Areeiro.

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Parte do material ardido Ê triturado e a estilha produzida Ê usada para melhorar o solo na altura das plantaçþes.

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Entre Outubro de 2010 e Março de 2011, as primeiras plantas produzidas pelo viveiro foram cuidadosamente colocadas no solo.

Com a ajuda das plantas criadas no viveiro da Quinta Jardins do Lago, os voluntários da Associação dos Amigos do Parque Ecológico continuarão a dar um importante contributo para que das cinzas do pavoroso incêndio de Agosto de 2010 renasça a biodiversidade nas serras sobranceiras à cidade do Funchal, que voltarão um dia a amanhecer cobertas de vegetação.

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