Formação do artista no Brasil

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FORMAÇÃO DO ARTISTA NO BRASIL*

José Resende

A arte é s o b r e t u d o u m m o d o d e c o n h e c i m e n t o . C o m o tal, s e u r e l a c i o n a m e n t o c o m o m e r c a d o é s e m p r e difícil, t r u n c a d o . O i n t e r e s s e d o artista é a p r o f u n d a r u m p r o c e s s o d e i n v e s t i g a ç ã o i n t e l e c t u a l . O d o m e r c a d o é u m objeto vendável. A proposta d e integrar a arte n a Universidade envolve, é claro,

proble-

m a s d e difícil s o l u ç ã o . M a s p e l o m e n o s c o l o c a o t r a b a l h o d e arte n a p e r s p e c t i v a c o r r e t a e c o l o c a o s artistas n u m a situação mais produtiva: próximos dos seus c o m p a n h e i r o s q u e lidam c o m o conhecimento e sua divulgação.

A f o r m a ç ã o d o artista c o n t e m p o r â n e o deve ser definida a partir d e u m conceito preciso de seu papel na sociedade. Tal conceituação implica discutir o e s p a ç o o c u p a d o , hoje, p e l a arte n o c o r p o d a c u l t u r a e, m a i s , i m p l i c a verificar a relação, decorrente, entre o p r o c e s s o formativo do artista e s u a real possibilidade de atuação. O lugar d a arte, c o m o está preconizado pelo sistema, tem sido circunscrito

recentemente

pelo mercado,

mantido

e a p o i a d o p e l a s elites

e c o n ô m i c a s d o p a í s , e m b u s c a d e u m b e m q u e l h e s c o n f i r a status; mento

tradicional,

aliás, apesar d a novidade

deste

sociais e comporta-

mercado. Arte

tem

sido

referida, ainda, p e l o velho p a t e r n a l i s m o do p o d e r p ú b l i c o , q u e e n c a m p a e institui prestígio ao subsidiar m a n i f e s t a ç õ e s e valores artísticos. D e outro lado, s u a atuação tem

sido delimitada

à m a r g e m do corpo d a cultura,

"elites" culturais - extensão, freqüentemente c o n ô m i c a s -, q u e c o n f e r e m forma

de

conhecimento

próprias

rala, d a s m e s m a s elites socioe-

à manifestação artística u m

quase diletante

pelas

pela

hermetismo

sua inoperância

no

e

uma

processo

social. N a verdade, tanto a " S e m a n a de 2 2 " quanto a s Bienais q u e lhe s u c e d e r a m 3 0 anos depois, referências importantes p a r a a arte brasileira,

representam

o c o m p o r t a m e n t o cultural d e u m a m e s m a elite oligárquica q u e , e m b o r a modificando padrões e introduzindo

novas referências artísticas àquele

momento,

detém, a i n d a hoje, a visão o c i o s a d a cultura q u e confere à arte o s e u

requinte 1

e status superior e q u e p r e t e n d e n a c i o n a i s os critérios d e s u a e s c o l h a . E m b o r a referida desta maneira, arte, enquanto forma de

I . O mercado

pensamento,

tem

ramificado

de

as obras mais

n ã o t e m merecido o aval desta m e s m a cultura no sentido d a sistematização de seu conhecimento.

Ê importante

ressaltar que o acesso à sua linguagem

tem-

se feito, c o n s e r v a d o r a m e n t e , através de u m a visão q u e p r e s s u p õ e o inatingível (a estética), o transcendental,

o revelador (a ética), e é a p o s i ç ã o de oráculo que

continuam as Tarsila, quarenta mesma

arte

esta

sendo

os

anos

atrás.

maneira,

a

Bienal,

critérios

de premiação

escolha,

preservou

c o m u n i c a ç ã o , tv, p r o p a g a n d a - c o m o a t i v i d a d e s u b s i d i á r i a - e x e r c í c i o " c r i a t i v o "

José Resende,

chumbo,

1990

(80 X 40 X 30

cm)

Resende

23

de Da

institucionalizando

na" do m e s m o conceito. Além de contemporaneamente

questões do mercado, arte está sendo u s a d a pelas novas áreas de expressão -

Di,

os Portinari

lhe serve de pedestal, q u a n d o não o "funcionalismo decorativo", versão "moderatrelada às j á óbvias

visão:

valorizadas

visão

paternalista

cultura.

e uma

da


ou decorativo - e tem permanecido, e m a m b a s as situações, decididamente

ato-

l a d a , e j u s t i f i c a d a , n u m a v i s ã o p s i c o l ó g i c a , q u e s ó t e m feito a c e n t u a r a p o s i ç ã o mítica do artista na sociedade. N ã o se pretende aqui discutir problemas, mais do que conhecidos, do n o s s o p r o c e s s o cultural, m a s , sim, trazer a l g u m a s q u e s t õ e s ligadas à f o r m a ç ã o

2 . Mais mente

recente-

os

Institutos

de Pesquisa a pressão

e questionam

limites deste processo,

medida

um

de

do

paradoxo

implícito

em

conceito

cultura

que

na

considera 2

secundários e/ou diletantes processos de conhecimento não rentáveis , m a s que a d m i t e - e s e p e r m i t e - a r e n t a b i l i d a d e d o "status

da

cultura"...

sofreram

do

N e s t e sentido, importa lembrar que o artista brasileiro tem surgido de

governo,

no sentido

de se

tornarem

uma

empresa

rentável.

A pesquisa perderia,

do artista no Brasil, que levantam

pura

sem

dúvida,

a possibilidade

de

desenvolvimento.

u m a f o r m a ç ã o p r ó x i m a d o a u t o d i d a t i s m o ; s e u c o n t a t o c o m a arte t e m - s e feito através de u m relacionamento

mestre-discípulo, c o m artistas mais velhos,

cursos universitários de atividades afins, c o m o arquitetura, das

à imagem,

preenchem

como

a gráfica; as escolas de

ou

ou atividades liga-

Belas Artes,

muito,

m a i s s e u p a p e l f o r m a t i v o e d e i x a r a m d e ser, i n c l u s i v e ,

não

referência

p a r a u m possível q u e s t i o n a m e n t o crítico. C e r t a s instituições, c o m o o M A M do Rio de Janeiro e a FAAP de S. Paulo, tentaram preencher este vazio e m determinado momento,

criando cursos mais sistematizados, que, entretanto,

tiveram, de certa forma, u m a i m a g e m Recentemente,

cursos

de

man-

diletante. artes

plásticas

foram

introduzidos

Universidades através das Faculdades de C o m u n i c a ç ã o . O que ocorre,

nas

porém,

é a sua integração quase c o m o arcabouço teórico para atividades ditas práticas: p r o p a g a n d a , j o r n a l i s m o , tv, g r á f i c a , d e s e n h o i n d u s t r i a l e t c . . . , p o s i ç ã o c ô m o d a e ideal p a r a manter a situação d a arte dentro do sistema, na medida e m que não a define c o m o atividade a u t ô n o m a e, d e s t a forma, n ã o define o c a m p o d e atua ç ã o específico do artista. O p a p e l d a arte nesta direção é claro: "calçar" c o m 3.

Manifestações

como

o cinema,

por

utilizarem e

por

representarem

a

possibilidade

de

comercialização

em

definem-se como

culturais

produtos com

certa

autonomia critérios.

de

Neste

senti-

do, artes

plásticas

questionam problema mais

aguda,

este

de

forma

na

medi-

da em que não produto

são

facilmente

comercializado larga

escala

forma mento,

de estão

ladas alheios

3

Ê necessário, portanto, que se reponha a arte c o m o objeto de conheci-

meios

industriais

massa,

a t r i b u t o s c u l t u r a i s f e r r a m e n t a s e f i c i e n t e s d o s i s t e m a - p r o p a g a n d a , tv e t c .

por

em

e,

mento específico; que o acesso à s u a linguagem, despida das revelações transcendentais ou manifestações do depoimento psicológico mais íntimo do artista - q u e s ó s e r v e m , e n f a t i z e - s e m a i s u m a v e z , p a r a m i t i f i c a r a a r t e -, c o n f i g u r e - s e e m diálogo mais direto, onde seu discurso seja objeto (do c o n h e c i m e n t o ) e não meio. Trata-se, portanto,

de compreender

arte e n q u a n t o

linguagem

(pensa-

mento) e de formular s u a leitura, o objetivo primeiro. Trata-se, ainda, de perceber que a arte, enquanto

f o r m a d e p e n s a m e n t o e m si m e s m o i n t e g r a d o ,

tanto e m u m p r o c e s s o cultural mais a m p l o , deve ser e n t e n d i d a e

por-

questionada

n e s t e nível d e a b o r d a g e m . Preconizar, entretanto, u m p r o c e s s o didático eficiente a partir de tais objetivos se traduz e m i m p a s s e : a inoperância d o profissional (idealmente m a d o ) e m u m contexto que não lhe reserva e s p a ç o e que lhe deixa c o m o

foralter-

n a t i v a u m a a t u a ç ã o n o fio d a n a v a l h a - e n t r e o i s o l a m e n t o e s t é r i l e a p u b l i c i d a d e

como

conhecicontrovalores

ao seu

real

significado.

diluidora; entre o mercado e a marginalidade (procedente, no entanto, atitude, mas passível de u m a mitificação conveniente ao sistema). O

na sua

problema

central n ã o reside n a f o r m a ç ã o e m si, c o m o se vê, m a s n a p o s s i b i l i d a d e c o n -


creta de atuação. E m outras palavras, o problema é determinar

o posiciona-

mento real do artista na sociedade. E q u a c i o n a r e s t a q u e s t ã o e m nível formativo r e m e t e , e m u m

primeiro

m o m e n t o , a m o d e l o s de e s c o l a q u e tentaram estabelecer o elo profissão/ meio social. A referência mais imediata é a B a u h a u s , que p o s s u í a u m a intenção

e

ideologia neste sentido. S u a p r o p o s t a p a r e c e hoje insustentável e o que resta dela, devidamente

deteriorado,

e s p e c i f i c a m e n t e p a r a o designer,

está e m curso e m algumas escolas voltadas absorvido pelo sistema e incentivador do con-

sumo. Modelos mais contemporâneos são as escolas americanas ou inglesas que, no momento,

são as únicas reconhecidas c o m o instituição.

Definem-se

integradas a o s i s t e m a , n a m e d i d a e m q u e f a z e m parte do circuito oficial (não p o d e n d o ser referência, portanto, fora dele), e, d e s t a forma, a o lado d a s galerias, m u s e u s , crítica e t c , reforçam e e n d o s s a m a p o s i ç ã o do m e r c a d o ,

que,

aliás, de u m tempo para cá, g a n h o u o apadrinhamento considerável do E s t a d o (ex.: o c o n h e c i d o p r ê m i o d e R a u s c h e n b e r g e m V e n e z a , s o b p r e s s ã o d a p o l í t i c a Kennedy) e tem sido veiculada, eficientemente

e m nível i n t e r n a c i o n a l ,

pelas

revistas que criaram, inclusive, u m a "história d a arte" - a partir d a d é c a d a de 1 9 6 0 - referenciada no próprio m e r c a d o , ou seja, n a novidade constante. Por outro lado, é importante salientar que as e s c o l a s nestes dois países, apesar de integradas no sistema, detêm a tradição de exercer arte processo de conhecimento,

como

o q u e d e c e r t a f o r m a t e m - l h e s a s s e g u r a d o o priv-

ilégio d a maioria dos q u e s t i o n a m e n t o s relevantes d a arte

contemporânea.

Ê evidente que a situação d a arte no Brasil remete-se a u m

contexto

cultural outro, além das óbvias defasagens socioeconômicas, m a s é necessário que se enfatize que esta situação tem sido definida, mais recentemente, por u m circuito que se desenvolveu prematuramente, antes que a arte p u d e s s e se estruturar c o m o referência, portanto; neste sentido, qualquer modelo que venha a acentuar

este circuito e se integrar na s u a visão, s e m questioná-lo,

torna-se

claramente indesejável. A difícil t a r e f a d e inverter a q u e s t ã o d a arte, d e r e f e r e n c i a d a a referenc i a l , s o m e n t e s e r á viável, e n t r e t a n t o , s e s e u i s o l a m e n t o for r o m p i d o e, p r i n c i p a l m e n t e , s e s u a i n c o r p o r a ç ã o e m u m p r o c e s s o c u l t u r a l a b r a n g e n t e for instit u í d a (e n ã o e n q u a d r a d a , p o r t a n t o . . . ) d e n t r o d o s i s t e m a . N a atual situação brasileira, a Universidade é a única alternativa possível, m a i s d o q u e isto, é a alternativa n e c e s s á r i a à instituição d a arte

enquan-

to á r e a e objeto do c o n h e c i m e n t o culturalmente atuante na s o c i e d a d e . Ê , pois, taticamente importante devolver ao E s t a d o a responsabilidade de manter e criar c o n d i ç õ e s p a r a o desenvolvimento de u m a d a s áreas do conhecimento, n u m a afirmação do processo cultural c o m o u m todo; preconizar a Universidade significa a possibilidade de negar c o n c e s s õ e s ao seja do poder público, seja das entidades e c o n o m i c a m e n t e

paternalismo,

fortes,

tendentes

sempre à compartimentalização da cultura - forma de controle de seu desenvolvimento; significa defender a arte de u m a posição excessivamente vulneráResende

25


vel às d e p e n d ê n c i a s q u e o m e r c a d o cria, ou às c o n d i ç õ e s e s p e c i a i s q u e o M u s e u exige. A o contrário, a Universidade, e n q u a n t o instituição q u e se p r e t e n d e relativamente a u t ô n o m a de ingerências externas, é o e s p a ç o correto para a sistematização de u m c o n h e c i m e n t o específico de arte. N a verdade, não se trata a q u i de defender u m a s i t u a ç ã o nova e salvadora; antes disto, interessa verificar e enfatizar a falta de u m e s p a ç o , c o m u m e p ú b l i c o , p a r a a d i s c u s s ã o d a arte e, r e l a t i v a m e n t e i n d e p e n d e n t e ,

para a atu-

a ç ã o do artista. N e s t e sentido, abrir u m e s p a ç o p a r a a arte não improvisa, antes retoma u m caminho j á percorrido por outras áreas do A pertinência

da atividade universitária

conhecimento.

no contexto

social

contem-

porâneo remete-se, s e m dúvida, aos questionamentos e à crise dos valores da cultura ocidental; de outro lado, refere-se às contingências específicas de c a d a país. N o Brasil, q u e é o q u e no m o m e n t o interessa discutir, c o n v é m

lembrar

q u e a abertura de Universidades é u m fato recente - a U S P t e m q u a r e n t a

anos

- e , a l é m d i s t o , d e v e - s e t e r e m c o n t a q u e a p e n a s 1% d a p o p u l a ç ã o g l o b a l d o p a í s c h e g a a o c u r s o superior; neste sentido, o p a p e l d a U n i v e r s i d a d e n ã o e s t á totalmente determinado

e seus serviços à comunidade

têm

sofrido, por

motivos

vários e desconhecidos, a carência de u m a definição - é suficiente que se lembre a física, ou a s ciências h u m a n a s e m geral, áreas do c o n h e c i m e n t o q u e estão se estruturando neste processo e tentando a delimitação de c a m p o s pertinentes à a t u a ç ã o no social. A complexidade de tais q u e s t õ e s não v e m ao c a s o analisar a q u i e não se pretende particularizar ou levantar problemas, m a s , sim, reconhecer neles a especificidade do m o m e n t o brasileiro. A incorporação d a arte n a Universidade significa sujeitá-la aos questionamentos

do processo, de u m a forma ampla, e

colocar e m tese a viabilidade, ou não, de s u a interferência neste processo. Objetivamente,

o e s p a ç o na Universidade reservado às artes plásticas

(e à arte e m geral) define-se e m r e l a ç ã o à s o u t r a s á r e a s p e l o c a r á t e r e x p r e s s i v o implícito na s u a conceituação. Neste sentido, a formação de u m artista é pens a d a c o m b a s e e m dois alicerces: o exercício c o m a l i n g u a g e m (a manifestação expressiva) e o contato c o m u m repertório de c o n h e c i m e n t o s que p o s s a determinar u m a intenção p a r a esta l i n g u a g e m (a atividade especulativa). E s t a s d u a s a b o r d a g e n s se relacionam dialeticamente e não p o d e m ser p e n s a d a s separadamente, ou c o m predominância de u m a sobre a outra, sob risco de

mal-enten-

didas distorções: se a ênfase maior é d a d a ao exercício c o m a linguagem, o que ocorre c o m u m e n t e

é a verificação - compulsiva - das capacidades expressivas

d a p e s s o a , o q u e , e m si, n ã o c o n s t i t u i i n t e r e s s e p a r a a arte, e s i m p a r a a p s i cologia. intenção

De

outro lado, se a ênfase

adequada,

corre-se

maior

o risco de

dá-se no

tornar-se

engajamento

a arte

uma

em

ilustração

uma de

p r o b l e m a s alheios a ela, s e m u m a real convicção na força de significado que constitui

o u s o d a l i n g u a g e m e m si m e s m o - o q u e é, n o f u n d o ,

negar

sua

existência enquanto forma de pensamento. Sistematizar u m

conhecimento

que, e m última instância,

focaliza a

expressão artística no seu conceito, implica desvincular a arte das mediações


q u e lhe são conferidas e q u e dificultam, portanto, a d i s c u s s ã o sobre s e u real significado no m u n d o contemporâneo. cada questão da procedência

N e s t e sentido, i m p l i c a levantar a deli-

ou viabilidade, hoje, da expressão artística

no

p r o c e s s o social (o q u e recolocará, entre outros, os p r o b l e m a s levantados p e l a " v a n g u a r d a c o n c e i t u a i " , c o n o t a d a a p e n a s n a s u a i n t e n ç ã o p o l í t i c a e, s o b e s t e título, d e v i d a m e n t e c o n s u m i d a e diluída pelo s i s t e m a ) . D e outro lado, arte remetida a seu conceito detém a possibilidade de se relacionar de forma independente

c o m outras áreas do conhecimento

em

função de quadros de referências - e não dos e s q u e m a s justificatórios da sua existência... E m relação ao processo didático, entender a formação de u m significa, paralelamente

a outras áreas da Universidade, defender

a

artista atuação

profissional c o m o d e t o n a d o r d e s t e p r o c e s s o , n a m e d i d a e m q u e m é t o d o s de trabalho e níveis d e a b o r d a g e m s ã o as referências pertinentes a u m a f o r m a ç ã o q u e se p r e t e n d e crítica. N a verdade, o d i s t a n c i a m e n t o entre corpo teórico e manifestação prática, ou, e m outras palavras, a cisão entre o professor (de arte) e 4

profissional (da arte) é preconizadora provável, e indesejável, de modelos .

4. É conveniente

Neste sentido, a situação profissional do artista na Universidade abre,

por lei, uma

objetivamente, perspectiva para o desenvolvimento do trabalho:

realimentado

tempo

determinado

seus professores

constante que o relacionamento interdisciplinar deve, e m princípio, propor, seu

doutoramento), são

festação expressiva) e de s u a inserção e m u m processo cultural abrangente

(a

especulação teórica). A Universidade, enquanto centro de produção, levanta critérios e esta-

eliminados docente,

do

que

o Museu

e

a

Crítica,

calços importantes

do

circuito,

lado, desmistificar a instituição M u s e u , remetendo-a a u m a função

clara

de que

sociólogo,

o

o físico,

que

professor

o a

é o

historiador,

e não o

sional

ainda

que

quadro

afirmação

u m trabalho autogerador. N ã o é portanto a liberdade ideal que se preconiza,

englobados neste processo de formação profissional, o que pressupõe, de

(mestrado, sem o

numa

simplesmente,

m a s a possibilidade concreta desta liberdade de atuação. Ê desnecessário lem-

em de

automaticamente

belece referências; quebra, na verdade, o isolamento do artista e o desgaste de

brar

exige,

produção

pelas múltiplas leituras pertinentes à s u a área de a t u a ç ã o e exposto ao diálogo

e n t e n d i m e n t o se faz, portanto, através d a s i s t e m a t i z a ç ã o d a l i n g u a g e m (a mani-

lembrar

que a Universidade

profisUniversidade

contrata.

são um

informati-

va, articulada por u m a atividade crítica reconhecível; e p r e s s u p õ e , de outro, o e m b a s a m e n t o t e ó r i c o a u m a C r í t i c a q u e s e a f i r m e e s p e c u l a t i v a e, d e s t a f o r m a , corretamente

entendida na s u a p o s t u r a frente a o circuito.

Furtar-se a arte deste p r o c e s s o significa correr

o risco de, c a d a vez

mais, esvaziar-se conceitualmente. A falta de u m a perspectiva estimulante e a impossibilidade de u m a gratificação objetiva nas atuais condições de

trabalho

s ã o visíveis hoje, a o longo d o circuito. A Universidade

significa, finalmente,

abrir

um

espaço para o

rela-

cionamento arte/ público, colocado de u m a forma concreta: não se pretende obrigatório o conhecimento o conhecimento

d a linguagem d a arte, m a s se pretende necessário

de seu processo de produção. E m outras palavras, é desmisti-

ficar o ato criador c o m o o p a s s e de m á g i c a , o a c e s s o (revelado) a o s valoras d a 5

"cultura" ; é reconhecer n a arte o p r o c e s s o configurador de u m a visão, e não o

5. Tal questão entre

outros,

o mal

levanta, (cont.)


-entendido

da

pação

"partici-

popular"

"criatividade que

à arte

C i d a d e , r e m e t e - s e a u m a a t u a ç ã o p ú b l i c a a l é m d o projeto d e f o r m a ç ã o : signifi-

responsabilidade

c a a c e s s o ao, de certa forma e por razões óbvias, e n c l a u s u r a d o "mundo d a cul-

didática.

No fundo

sempre, plória

defesa de seu

superior: público

e

tura universitária", que, n ã o só através do estreito vestibular, deve romper o dis-

simstatus

incentivar a uma

pação

E m outra instância, este espaço, área c o m u m entre a Universidade e a

coletiva",

confere

uma

ato preconizador de u m a intuição.

e da

o

partici-

no ato criador

tanciamento entre o público universitário e o público e m geral. N e s t e sentido, não se trata de veicular cultura, visão ingênua e diluidora, m a s de

referenciar,

organizar e sistematizar processos culturais, não no espaço da Universidade,

é 6

expô-lo

ao

ridículo,

imaginá-lo frisando

imbecil,

exatamente

conceito

-

- e

cultura/

das

razões

da obra de

6. Importa

ca

de

músi-

universitários

indicam

as

dades

possibili-

reais

embora

se espera

e controle

espaço têm

como

e à revelia,

mercados.

tão

quanto

aval, para

de

novos

Neste

sen-

delimitando

público

a

assuma este

abertura

que

é que

empresários

utilizado

neste o

Universidade

tido,

arte.

lembrar

que festivais

que

serviço à c o m u n i d a d e .

desinteressan-

do o público

sentido,

enquanto

paternalismo

didático

reais

tação expressiva a possibilidade de reforço à atividade universitária

implícito

nesse

povo

o

m a s e m u m e s p a ç o urbano geral . E reconhecer neste espaço aberto à manifes-

um específico elitizado.

* A r t i g o o r i g i n a l m e n t e p u b l i c a d o n o p r i m e i r o n ú m e r o d a r e v i s t a Malasartes

( S ã o Paulo, set./out./nov.

de 1 9 7 5 , p. 24-25.)-

José

Resende

(São

de Arquitetura (1970), brasileiras

realizou

Paulo,

1945)

e Urbanismo diversas

da PUC

mostras

e está representado

é escultor.

Cursou

de Campinas.

no Brasil

em acervos

arquitetura Um

e no Exterior. de importantes

e, entre

1976

dos fundadores

do Grupo

Tem obras instaladas museus

nacionais

e 1986, Rex

em locais e

foi

professor

na

Faculdade

(1966)

e da Escola

Brasil

públicos

em várias

cidades

estrangeiros.


revista da graduação do Depto. de Artes Plásticas da ECA_USP


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