A dif铆cil arte de dar nome aos bois por Amir Brito Cad么r
Texto & Imagem • • • •
Comentário Na imagem No lugar da imagem Como arte
• A dificuldade para nomear os trabalhos se apresenta porque as imagens são concretas, enquanto a linguagem permanece abstrata. A distância entre uma e outra parece intransponível.
Georgia O'Keefe Brooklyn Bridge, 1949
Albert Gleizes On Brooklyn Bridge, 1917
Toda obra de arte ĂŠ uma tentativa de dizer o indizĂvel.
• Muitas vezes, a ausência de um título é uma exigência da obra, cuja autonomia poderia ser perturbada pela intromissão das palavras. A presença de um título arruinaria o esforço em fazer a obra dizer.
"Meus desenhos s達o feitos para serem vistos e n達o falados. A obra de arte tem de falar por si mesma". Mira Schendel, em entrevista ao jornal Folha de S達o Paulo, em maio de 1978
Mira Schendel •
• •
Como tornar um substantivo comum um substantivo indeterminado? Foi o que fez Mira Schendel na série de naturezas-mortas de 1983, sem título (mais ou menos frutas). Ela pode ter emprestado o nome das composições ovais de Mondrian, Mais ou menos marinhas (1914). A artista tinha o costume de colocar nome apenas nas séries (“objetos gráficos”, “datiloscritos”), raramente em trabalhos individuais. Diante de sua recusa em colocar nomes, alguns de seus trabalhos receberam um apelido dado por amigos ou pela sua filha, como é o caso de trenzinho e droguinhas.
• Francis Ponge foi um poeta que, solicitado pelas instâncias mudas de todas as coisas para que elas possam se exprimir em seus próprios termos, deu voz ao sabão e à vela. • Ao fazer falar as coisas, a atividade do escritor e do artista plástico se confunde.
• O título de um poema contém a obra em si, pelo menos no caso do poema, é a partir do título que começamos a ler a página que temos diante de nós. • Diante da imagem, o nome Sem título pode indicar que as palavras são insuficientes, ou melhor, é inútil dizer o que quer que seja. É o que afirma Frank Stella, “o que você vê é o que você vê”.
• Dois acontecimentos marcaram a escolha de títulos para as pinturas: a invenção da imprensa em meados do século XV; a instituição das Academias e as exposições regulares que são os Salões dos séculos XVIII e XIX. • Precisamos dos títulos para identificar as telas em nossas conversas e nossas pesquisas. A citação de títulos famosos em um ensaio é um instrumento poderoso utilizado pelos críticos para convencer o público da legitimidade de seu argumento.
Ronda Noturna ou A Companhia de Frans Banning Cocq e Willem van Ruytenburch “O capitão Frans Banning Cocq dá a ordem ao seu lugar-tenente para preparar a companhia para partir”
Gustave Courbet. O estĂşdio ou O Atelier do Pintor: Uma Alegoria Real Somando Sete Anos de Minha Vida ArtĂstica (1885)
Courbet. O encontro ou Bom dia, Sr. Courbet
Wesley Duke Lee Com o simples acréscimo de duas letras, ele nos coloca em dúvida diante de suas obras que recebem dois títulos: ou eles se complementam ou se anulam, como acontece em O trapézio ou uma confissão, O nome do cadeado é: as circunstâncias, Retrato de Sérgio e Leila ou a respeito do casal.
Nomear = Criar
• As obras abstratas desafiam o artista a escolher um nome, para que a obra seja o produto da interação entre a imagem e o seu título, não apenas a soma das partes, mas algo próximo de um hieróglifo.
Barnett Newman Onement
Hélio Oiticica •
•
As categorias tradicionais, pintura e escultura, eram insuficientes para dar conta da invenção. Primeiro surgem os metaesquemas, termo que aponta para algo além dos esquemas bidimensionais apresentados, depois os relevos espaciais, na fronteira da pintura e escultura. Foi preciso usar neologismos para seus trabalhos, que passam a ser chamados de bólides (tipo de meteorito) e finalmente o termo indefinido e por isso mais abrangente parangolés para denominar suas capas e tendas. Esta palavra, posteriormente, foi dicionarizada, com o sentido de conversa fiada; lábia.
Helio Oiticia. Relevos Espaciais
O nome pr贸prio e o t铆tulo de nobreza
Hans Holbein • A partir do século XVI, o título dos retratos contribui com todo o resto para representar este sujeito. A palavra ‘título’ está associada à posição social da pessoa retratada, um duque, conde ou rei. O pintor inscreve o nome de seu nobre modelo sobre o retrato que faz à sua semelhança para que seu modelo seja antes de tudo um nome, o signo de sua província ou de seu povo.
–“Algumas vezes o que acontece é que gosto dos nomes – das palavras em si. Por exemplo, a pintura que intitulei Dhalia nada tem que ver com uma dália (...) algumas pinturas nem chegam a levar título, e se chegam (por vezes mais de seis meses depois de pintadas) é apenas para poderem ser identificadas. Freqüentemente os títulos se referem a lugares onde estive na época em que um quadro foi pintado”. Franz Kline
Sean Scully • para demonstrar que cada pintura é diferente da outra, elas receberam nomes de mulheres, como Catherine, Magdalena, Marianna, Helena. • é muito importante que suas pinturas tenham um título, que serve para dar uma personalidade individual a elas, para que uma pintura possa permanecer gravada na mente de uma pessoa.
Sean Scully. Wall of light
• No texto Além da Pintura, ele utiliza o procedimento de colagem para escrever uma narrativa formada pelos títulos de suas obras entremeados com verbos e advérbios. • Quais são as colagens de Max Ernst cuja nomenclatura toda criança digna desse nome deve saber de cor? é o nome de outro texto, onde se pode ler a sucessão de títulos de suas colagens formando um poema.
TĂtulos descritivos
• Quando a pintura se baseava em uma narrativa conhecida, os títulos auxiliavam a identificar os personagens • Eram emprestados das Escrituras Sagradas, da mitologia grega ou de lendas (antiguidade, Idade Média)
Belshazzar's Feast, 1635 Oil on canvas, 168 x 209 cm
• O título pode simplesmente apresentar a obra, descrever seus elementos. Um título serve para aludir, apelidar, assumir, atribuir, citar, comentar, criar, criticar, datar, dedicar, definir, desafiar, descrever, desencadear, disfarçar, distinguir, evocar, explicar, generalizar, homenagear, identificar, imaginar, indicar, influenciar, instruir, integrar, interpretar, inventar, ironizar, limitar, meditar, narrar, nomear, polemizar, questionar, representar, significar, subverter, sugerir, surpreender, transformar.
Os provérbios flamengos Um trecho da Bíblia muito lido na época de Bruegel era o Eclesiastes, um dos livros do Velho Testamento que contém a frase "o número de tolos é infinito". Com este quadro, Bruegel teve a intenção de entreter e instruir. Fez isso com admirável sucesso, criando uma janela para o mundo, tanto no sentido visual como moral. A obra de Bruegel resistiu ao tempo porque cada geração tem a sensação de que ela se refere às questões e à realidade do seu próprio tempo.
Um malandro com chapéu colorido de pompom branco está roubando nas cartas. Sua atitude para com o mundo é representada graficamente: ele defeca no globo abaixo da janela. Dentro da taverna, dois tolos "levam um ao outro pelo nariz”: um ignorante tenta instruir outro ignorante
Fogo e água A mulher carrega fogo em uma das mãos e água na outra: ela não consegue formar uma opinião. Ao seu lado, o porco que arranca a rolha do barril representa a ganância. O hipócrita O pilar representa a Igreja; o homem que abraça e ao mesmo tempo morde o pilar é um hipócrita. Ele mantém seu ato em segredo, "debaixo do chapéu", que está colocado em cima do pilar. A mulher que amarra um demônio numa almofada representa a esposa tirana. Bruegel dedicou um quadro a esse tema, conhecido como Dulle Griet (Margarida Louca). Os provérbios daquela época diziam que uma mulher assim era capaz de visitar o inferno sem nada sofrer.
Armado até os dentes "Colocar o guizo no pescoço do gato" era a tarefa perigosa que um intrépido rato tentou realizar, num conto de fadas flamengo. Este homem está sendo supercauteloso; está literalmente 'armado até os dentes", para proteger-se da ira de um gato velho e manso. “Muito trabalho e pouca lã, disse o tolo, e tosquiou o porco”. Batendo a cabeça na parede. Muitos personagens, como este tolo que bate a cabeça na parede, perdem tempo em trabalhos vãos.
– O nome não tem mais função narrativa, nenhum personagem deve ser procurado em meio às formas e cores, e por vezes o nome se torna descritivo, como Dark on brow de Mark Rothko
TĂtulos poĂŠticos
Max Ernst •
Max Ernst fez colagens com velhas ilustrações e desenhos de revistas técnicas que criavam situações poéticas novas com algumas intervenções gráficas mínimas. Assim ele fez alguns de seus livros, como A mulher 100 cabeça e Uma semana de bondade, justapondo imagens e legendas dispostas em seqüência para criar uma narrativa.
Paul Klee • Nas mãos de Klee as palavras de uso ordinário se transformam em um idioma pessoal. • A qualidade imaginativa de seus títulos é tão admirada quanto os seus desenhos, onde Pássaros fazem experimentos científicos com sexo. • Personagens inusitados surgem, como Ancião calculando, Anjo Distraído, Anjo inacabado, Um Velho Músico Angelical.
TĂtulo divergente
Damien Hirst • A ironia como instrumento de crítica: • I Want You Because I Can't Have You, que parece indicar a situação do mercado de arte, o desejo de posse e a posição do artista. • Uma bola de ping-pong equilibrada em um jato de ar pode ser encarada como uma crítica à fragilidade das relações humanas quando lemos a frase do titulo I want to spend the rest of my life with everyone, one to one, always, forever, now (1991)
The Physical Impossibillity of the Idea of Death in the Mind of Someone Living tubar達o em um tanque com formol (1991).
O título modifica a recepção da obra
Giorgione. A Tempestade. (c. 1508 )
Edward Munch Puberdade (1895)
Paul Gauguin faz um convite à meditação nas questões da vida e da morte: D´où venons-nous? Que sommes-nous? Où allons-nous? (1897).
James McNeill Whistler, Arrangement in Gray and Black: Portrait of the Artist´s Mother, (1871)
Manet • As pessoas retratadas com seus trajes, ou melhor dizendo, figurinos, de modo algum são personagens narrativos. Sabemos que estamos diante de modelos que posaram em estúdio observando os títulos Jeune femme étendue en costume espagnol, de Manet.
• a cena é pouco reconhecível para um quadro de gênero • a representação é contemporânea, o que exclui o quadro histórico • o grupo é por demais curioso para ser considerado um retrato.
Guto Lacaz. Le Dejéneur sur l' herbe Tupinambá, apropriação, 1988 Theodore de Bry e Merian, a partir de relato de Hans Staden, 1592
• “O título se justifica apenas quando ele for vago, indeterminado e mesmo tender a criar confusão e ambigüidade, ou seja, deve compartilhar da mesma atmosfera da imagem, pois do contrário o título poderia anular o poder evocador da pintura”. (Odilon Redon)
• As telas de Kandinsky são uma afirmação nua que não toma apoio em nenhuma semelhança e que, quando se lhe pergunta ‘o que é’, só pode responder se referindo ao gesto que a formou: ‘improvisação’, ‘composição’; ao que se encontra ali: ‘forma vermelha’, ‘triângulos’. Michel Foucault
Kandisnky. Dois pontos verdes
• Em uma pintura de Paul Klee, os elementos formais se agrupando sugerem uma cabeça de olhos fechados, e ao lermos o título, Will it be a girl? (1939) a garota começa a tomar forma. • Para Gombrich, do ponto de vista dos títulos, os trabalhos puramente formais são os mais interessantes porque resolvem a tensão entre a imagem e a idéia dando uma direção inesperada a nossa imaginação. • O título desperta uma cadeia de associações que modifica nossa interpretação daquilo que vemos.
Enigma of the Hour
• No cubismo, a distância que existe entre o aspecto habitual do objeto tido como modelo e o resultado do trabalho tornou o título muito importante para conservar esse itinerário. Não é a semelhança entre o objeto designado pelo título e a imagem que nos propõe que é interessante, mas justamente sua dessemelhança; o título torna-se então o testemunho de uma aparência perdida.
Duchamp • O uso diferenciado de letras maiúsculas e minúsculas acentua o movimento da leitura em LE PASSAGE de la vierge à la mariée. Não apenas o nome, mas a maneira como foi escrito contribui para transmitir a idéia de passagem que está no quadro.
Bruce Nauman - Self Portrait as a Fountain
Duchamp Fresh Widow
• O uso de jogos de linguagem é constante em sua obra, como por exemplo, o anagrama em Anemic cinema. O artista diz que ao invés de descrever o objeto, como num título, pretendia transportar a mente do espectador em direção a outras regiões, mais verbais
Waltércio Caldas • •
•
Um simples cartão preto, pendurado por uma linha, com um círculo recortado no centro, e o título torna a superfície ativa: Espelho. Uma obra como A emoção estética (ferro pintado e sapatos sobre tapete, de 1977), de Waltercio Caldas, mostra uma tentativa de situar uma experiência que por si é inexprimível em palavras, e que o titulo apenas indica como impossibilidade, ele não explica nada. Uma constante na poética do artista é a relação arbitrária entre significante e significado, título e obra. Na descrição dos materiais que compõe a obra, Tubo de ferro, copo de leite (1978), o único mistério é que não há nenhum mistério.
A emoção estÊtica (ferro pintado e sapatos sobre tapete, 1977
Condutores de percepção (1969), os tubos não conduzem coisa alguma a não ser o sentido depositado pelo título, que já corresponde a boa parte do trabalho
Leonilson. NinguĂŠm
Leonilson O que vocĂŞ desejar, o que vocĂŞ quiser, eu estou aqui, pronto para servi-lo (vestido branco, 1991).
Onement
Andre Serrano
As palavras na pintura
Pierre Alechinsky
Frans Picabia • Neste caso, é indispensável que o texto esteja na tela, para que fique evidente a relação entre a imagem e seu título, para evitar que se pense em um erro do catálogo ou da etiqueta
L.H.O.O.Q. shaved about 1965 Readymade: reproduction of the Mona Lisa (playing card), mounted on diner invitation New York, Museum of Modern Art
Joan Miró • se Miró tivesse deixado no exterior de sua tela os quatro termos escargot femme fleur étoile, certamente seríamos convidados a ler os nomes e procurar cada um deles • ele pintou seu título entre as figuras, com uma escrita cursiva, o que implica a continuidade do traço, ao contrário do que acontece com os tipos de imprensa. • nada nos impediria de interpretar como “escargot” a figura à direita; como a tela tem apenas três figuras, podemos ver que “étoile” está ali menos para qualificar que para substituir uma estrela ausente (que teríamos procurado em vão, ou identificado por engano, se o título estivesse no exterior). • Em uma pintura, quando dispostas de uma maneira não-convencional, as palavras tornam-se figuras.
René Magritte • As relações arbitrárias entre objetos, imagens e nomes são o tema de muitas obras do belga René Magritte. • “às vezes o nome de um objeto pode substituir uma imagem”.
• “Mesmo a palavra certa não conserta uma criação capenga, como lembra Dom Quixote, ao rememorar um artista que pintou um galo de maneira tão canhestra, retratando-o com tamanha inadequação que precisou escrever em letras maiúsculas ao lado dele: Isto é um galo.” Alberto Manguel, Os livros e os dias
Os Dois MistĂŠrios, 1966
Magritte. A interpretação dos sonhos
Citação, Intertexto
• Mallarmé´s Dream (depois chamado Mallarmé´s Swan)
• Para Robert Motherwell, os títulos confirmam o seu campo de interesse, remetem não apenas à filosofia (“In Plato´s Cave”), mas indicam suas preferências literárias. • Em sua primeira exposição, em 1944, já aparecem os temas que permeiam toda sua obra: a poesia francesa, o simbolismo, a revolução: , The Little Spanish Prison; Pancho Villa, Dead and Alive; Three personages shot.
Barnett Newman – “Stations of the Cross”
1. Cy Twombly, que foi aluno de Kline e Motherwell na Black Mountain College na década de 50, pinta em 1962 uma de suas obras mais conhecidas, Leda e o cisne. Em uma pintura sem figuras, a cor, o gesto e a tinta carregam a tela de um erotismo que já se insinuava em trabalhos anteriores; ao escrever o nome da tela em seu canto inferior, o artista cria um campo alusivo que remete nossa memória e nossa imaginação para sua esfera de interesse, para a antiguidade clássica, a mitologia grega e todos os quadros com o mesmo título que o precederam.
CarĂssimo Wesselman
Cy Twombly
Wesley Duke Lee CarĂssimo Wesselmann...
A citação aparece como forma de homenagem irreverente na obra de Regina Silveira, em Rébus para Duchamp (1977), In Absentia M.D. (Bottlerack, 1983-2002) e na série de sombras projetadas de esculturas ausentes do plinto, chamada de "Masterpieces” M.Duchamp, M. Oppenheim e Man Ray (1993).
Regina Silveira •
•
As inúmeras referências à história da arte estão presentes em trabalhos como A arte de desenhar (1982), De Artificial Perspectiva 2 (1976), cujo título remete aos tratados renascentistas de arquitetura, e Anamorfas (1990), que remete aos estudos de ótica e distorção com lentes do período barroco. A própria idéia de representação é questionada em nomes como Aparência (1980), Símile (1983) e Simulacros (1984).
Waltercio Caldas • Entre homenagem e ironia, algumas de suas obras batizadas com nomes próprios, como se fossem filhos do artista. Platão (dois espelhos redondos, 1996), Thelonious Monk (1998), Spinoza (escultura que lembra um monóculo; consta que o filósofo também fabricava lentes, 1986) e Fra Angelico (1997) são obras que nos fazem pensar - o que pode existir em comum entre um pintor, dois filósofos, um cientista e um músico de jazz? • Algumas obras assumem o lugar de uma dedicatória, como é o caso de Para Rilke (papel vegetal e pedra).
• Einstein (bola branca de bilhar e alfinete com cabeça negra, 1987)
Sherrie Levine. Flaubert, Un coeur simple
A imagem determina o tĂtulo O tĂtulo determina a imagem
•
Em uma tela chamada de Paysage vineux (1944), convivem dois campos semânticos diferentes: o de um gênero pictórico bem codificado e o adjetivo qualificativo “vineux” que tem o poder de evocar ao mesmo tempo a cor e a bebida: é a cor que preenche esta paisagem.
Dubuffet •
A nomeação das paisagens pode indicar um percurso intelectual do artista. O fundo e a forma, a figura e a paisagem se imbricam, os planos se sobrepõem, o espaço se torna paradoxal em Trois personnages dans un paysage de montagne (1925). Aos poucos, a denominação “paisagem” desaparece para dar lugar a uma palavra mais indefinida, como na tela Site avec trois personnages (1981). Os personagens continuam a povoar as telas, até sua desaparição na tela chamada Site sans personnage de 1981. A própria idéia de lugar é abandonada em sua última série, Non-Lieux.
Bird on Space
Dubuffet. Vaca de Nariz Sutil
TĂtulo mostra o que a imagem nĂŁo consegue
José Antonio da Silva • • • •
Para Silva, muitas vezes o quadro é um comentário social ou uma crônica de sua vida. Acabou o sossego dos brasileiros, 1980 retrata a chegada das caravelas portuguesas Só um milagre salva o Silva, 1995 Em outros casos, é preciso ler o título junto com o que ele escreve na tela, pois são apontamentos de sua relação com o mundo das artes plásticas
O pintor utiliza adjetivos para transformar a paisagem cotidiana, em telas como Árvore com frutos e paisagem feliz (1951), Paisagem alegre com pescadores (1979) e na curiosa Natureza morta do quem não ama – com a inscrição “quem não vive não ama” (1976).
Longa boiada a perder de vista (1948)
Trem de ferro com curvas impossĂveis (1986)
Performativo
John Baldessari • Uma série de perguntas relativas à análise e a percepção de pinturas estão escritas ocupando a maior parte do espaço da tela Composing on a canvas. O título no gerúndio convida o espectador a participar da criação da obra, na medida em que lê o texto e responde mentalmente as perguntas. Em diversas de suas pinturas com citações textuais da história e da crítica de arte, o título serve para situar essas referências e criticar o sistema de arte.
Sigmar Polke faz uma paródia do misticismo associado à pintura abstrata dos anos sessenta, escrevendo o título em sua tela de 1969, Instâncias superiores ordenam: pinte o canto direito de preto!
Richard Serra. Splashing. 1968.
Tautologias
Jannis Kounellis, untitled (paint), 1965
Baldessari
Baldessari
• Tudo foi expurgado desta pintura, a não ser a arte; nenhuma idéia entrou nesta obra (1966-68) mostra que o texto pintado não funciona como imagem, como acontece com a caligrafia, mas como desencadeador de um processo mental.
Ben Vautier. Eu sou bela e negra
On Kawara • Na série conhecida como "Date Paintings“, a tautologia inerente a toda obra de arte é o tema de suas pinturas.
Robert Barry
Uma questão de tradução
Joseph Kosuth • “Uma obra de arte é uma tautologia na medida em que é uma apresentação da intenção do artista, isto é, ele está dizendo que aquela obra de arte particular é arte, o que significa que ela é uma definição de arte. Assim, o fato de ela ser arte é verdadeiro a priori (é o que Judd quer dizer quando afirma que “se alguém chama algo de arte, isso é arte”)
Kosuth. Art as Idea
One and Three Chairs •
Os problemas de tradução de uma língua para outra e de uma linguagem para outra são parecidos. Assim, Kosuth fez mais duas obras com o mesmo título, como se estivesse traduzindo um conceito de uma linguagem a outra. Em cada uma das versões, o artista apresenta uma cadeira diferente e sua respectiva fotografia, substituindo a definição dicionarizada em inglês pela tradução de “cadeira” em um dicionário de Inglês/Alemão e Inglês/Francês. Até mesmo a idéia de obra única fica sob suspeita quando três versões da obra recebem o mesmo título, mostrando que não existe cópia ou original.
Neste auto-retrato, o artista alemão Albrecht Dürer faz uma tríplice representação de si mesmo: à esquerda, o monograma formado pelas iniciais A e D e o ano de realização. No centro, a representação visual, e no outro lado, uma inscrição em latim, que diz algo como "Assim eu, Albrecht Dürer de Nuremberg, pintei a mim mesmo com cores indeléveis, com a idade de 28 anos". As obras de Joseph Kosuth guardam uma semelhança estrutural com esta pintura, a definição do objeto representado continua do lado direito.
TĂtulo e imagem sĂŁo equivalentes
• Se pensarmos na arte conceitual como a abolição de uma especificidade dos meios, faz sentido que o discurso, que é o próprio conceito, se transforme em obra. • Até mesmo as palavras do título podem assumir o lugar da obra • Quando a obra é uma idéia (que é expressa verbalmente e não precisa ter outra realização material a não ser o texto escrito como registro dessa idéia), ela só precisa ser lida para existir. Nenhuma imagem pode ser o equivalente visual de uma declaração verbal, a não ser uma imagem mental.
Não é a obra que recebe um título, mas é o título que origina a obra.
Kosuth. Five words in green neon