As flores tambĂŠm ficam instĂĄveis e podem ferir
Ana Miguel’s works relate to the predominantly female presence of the body. To this end, she invents a series of characters which articulate a sensitised environment. The resulting interactive objects take the form of monstruous small creatures which both amuse and repel the viewer. One of the creatures sings Leonard Cohen’s ‘I’m Your Man’ in a plaintive tiny voice. Meanwhile, the viewer is invited to lie on a huge cushion which says ‘I love you’ on contact. A spider’s web made of wool looms above the reclining viewer as he/she contemplates a red velvet spider whose leg extremities are made from human teeth. Human relationships are portrayed through commonplace statements emptied of their innocence. The overall effect of the work is reminiscent of a familiar dream-state, which, while initially pleasant, reveals itself as deeply unsettling. Nicolas de Oliveira, Museum of Installation, London, 2000.
I LOVE YOU, detalhe do travesseiro I LOVE YOU, detail with pillow
Dear Flowers, 2000, vista da instalação no MOI, Londres installation view at MOI, London
Dear Flowers, 2000, detalhes da instalação details of the installation
Dear Flowers, 2000, detalhe com personagem laranja no jardim detail with orange character in the garden
Dear Flowers, 2000, desenho para a montagem da instalação drawing for the installation
Dear Flowers, detalhe, 2000 Dear Flowers, detail
O juízo em suspenso no jardim de Ana Miguel
O sentido do sentido se ganha e se perde ao longo do dia. De um lado do jardim de Ana estende-se um terreno fértil, semeado em fofas almofadas. Entre estas almofadas crescem flores vermelhas que dançam e se remexem, arriscando seu equilíbrio, agitando grandes pistilos fálicos. Como no paraíso original, corremos o risco de que “maus” pensamentos e “más” intenções nos perturbem. Do outro lado, dois vestidinhos de lã. Um vermelho, enfeitado com pequenas germinações do mesmo material do vestido, das quais sobressaem alfinetes de metal. As mangas compridas do outro, de cor branca natural, terminam em olhos de boneca que piscam. O primeiro vestido entoa, com uma voz aguda, meloso e romântico, em inglês, “I’m your man” uma canção de Leonard Cohen. E o outro implora obsessivamente, em espanhol, com voz áspera de homem: “No te vayas, mi niño”. Continuando o percurso, nos encontramos com quatro aranhas vermelhas que balançam numa teia, também vermelha, que flutua no alto, como uma nuvem. Podemos nos deitar sobre um acolchoado para brincar com elas, apoiando nossas cabeças sobre pequenos travesseiros que dizem I love you quando pressionados. A artista busca que o espectador se desloque e que o movimento do seu corpo acompanhe o do seu olhar. Obriga-o a desistir de uma atitude passiva para poder ver melhor a obra.
As almofadas nos amam e os vestidinhos cantam para nós. Uma voz de mulher diz ser um homem, enquanto uma voz de homem põe-se a suplicar, como costumam fazer as mulheres. Ana Miguel trabalha a partir da língua, demonstrando-nos que as palavras e o tom em que são ditas tanto aclaram como obscurecem o sentido, criando espaços de tensão. As convenções não chegam a detervminar a natureza dos seres nem das coisas. Quando cuidamos de um jardim, nos damos conta de que é um lugar vivo, em constante transformação, escreve a artista. No cuidado com o jardim vai se estabelecendo um diálogo entre este e o seu tratador, no qual as perguntas e as respostas se sucedem de forma arbitrária. Cada folha, cada ramo, cada inseto contribui para as pequenas mudanças que vão acontecendo a cada dia, modificando sua natureza. Ana Miguel pensa os seus trabalhos a partir de sensações físicas nas quais se inscrevem as tensões e inseguranças que formam parte da nossa vida cotidiana. Com alguns elementos que têm a ver com as prendas femininas, aos quais incorpora olhos, dentes e alfinetes afiados, cria objetos e paisagens, com os quais maneja sutilmente o questionamento por meio da fantasia. Um adorno pode converter-se num instrumento de tortura e uma peça de vestir num testemunho inquietante. Nestas histórias se introduzem o medo como componente erótico e a vontade de dominar por meio da sedução. Os relatos que suas obras constróem são contos de fadas ambíguos nos quais o bem e o mal se confundem, mesmo porque estas definições não chegam a explicar as pulsações humanas profundas. Alina Tortosa, Buenos Aires, junho de 2000.
As Flores Também Ficam Instáveis e Podem Ferir, vista da instalação na Galeria São Paulo, 2000 Flowers Also Become Unstable and Can Hurt, installation view at São Paulo Gallery, 2000
I LOVE YOU, detalhe da aranha I LOVE YOU, detail with spider
Ver é ouvir. A audição na obra beckettiana de Ana Miguel é a metáfora do olho que escuta « fisicamente », mas não constitui uma escuta afetiva do ser em estado de abandono. A artista monta uma cáustica ironia à noção cultural de mulher como ser frágil. Essa é a origem da circulação da aflição através dessas vozes. Sem elas, a cena psíquica não existiria : não haveria a constituição do sujeito. Aqui, o olho não escuta. Sua instalação Personagens no jardim (2000) busca uma trilha epicureana. Em seus jardins, se não há plantas carnívoras, existem, no entanto, plantas perversas. São flores que ferem. Primeiro, havia Leonard Cohen, que, numa canção romântica, apresentava um homem que seduz uma mulher com grandes promessas. « Passei anos trabalhando I’m your man, ensaiando versões, tentando imprimir um certo tom, agudo e histérico, nessa canção. (…) encontrei um tom no limite do descontrole, articulando palavra a palavra », diz a artista. O trabalho vocal de Ana Miguel explora a entonação da fala e a proto-musicalidade da voz, temas da música para Susanne Langer em Sentimento e Forma, constituindo texturas sonoras abjetas. Em contraposição de ironias, usa uma voz grave para enunciar uma frase tipicamente feminina, « No te vayas mi niño ». O dueto – duas vozes distintas sempre da mesma Ana Miguel – constitui uma situação impossível. Sem cabeça, esses corpos não tem olhos nem ouvidos. As duas figuras são só voz, reivindicação, queixa, fluxo fantasmal. É a impossível escuta. E essa ausência da escuta é uma das condições da origem da histeria. Paulo Herkenhoff, maio de 2008.
dois personagens do jardim, 2000 estrutura em metal, fitas de veludo, crochet, olhos de boneca, cera rosa, alfinetes, åudio 40 x 27 e 37 x 27 cm two characters from the garden, 2000 metalic structure, velvet ribbon, crochet, wool, doll’s eyes, pink wax, pins, audio
pequenas bagagens, 2000 tecido elĂĄstico, fita de veludo, aros de lingerie, botĂľes de caftan, lĂŁ small luggages, 2000 elastic cloth, velvet ribbon, lingerie rings, caftan buttons, wool
As Flores Também Ficam Instáveis e Podem Ferir A obra de Ana Miguel não é um desdobramento contemporâneo das conquistas do modernismo. Sua pertinência estética passa deliberadamente ao largo da predominância formal e plástica sobre o tema, anunciada no impressionismo, perseguida pelo fauvismo e cubismo, mas conquistada, de modo pleno, pela arte abstrata. Assim como muitos artistas da atualidade, Ana produz objetos que ultrapassam o âmbito da forma pura, pois tratam de conteúdos éticos indispensáveis para a formulação de uma estética contemporânea. Há, portanto, em seu trabalho, a retomada em novas bases de uma dimensão semântica que fôra essencial à arte do passado e que, perdida no mundo modernista, torna-se, outra vez, a cada dia, mais premente. Na passagem da década de 50 para a de 60, a hegemonia da forma criada (sujeito) foi substituída, no campo da produção artística, pela apropriação das imagens da mídia ou da indústria (pop) e pelo uso de materiais, formas e métodos industriais (minimal). Reconhecidas do ponto de vista autoral apenas pelo estrito mundo do design, mas socialmente anônimas, essas imagens e formas, associadas ao sentido descartável do consumismo, situam-se num lugar simbólico efêmero e, por isso mesmo, oposto à perenidade aspirada pelas obras de arte. Entretanto, autorizados desde Duchamp a ingressar no campo da arte, os readymade e os demais objetos que se agregaram à história das conquistas estéticas recentes, jamais foram apropriados devido às suas qualidades cromáticas, plásticas e formais estritas. Ao contrário, quando os artistas deslocam para o campo da arte, objetos estranhos à sua lógica, eles assim o fazem para reintroduzir, neste campo, um sentido crítico- verbal. Por isso diminuem, na criação de seus trabalhos, o peso da esfera formal pura, exclusivamente retiniana (Duchamp), a que vinha sendo reduzida a produção e a fruição visuais. A simples integração da forma utilitária na arte, termina por trazer para a obra, não só sua significação funcional prévia, isto é, ideológica, como assinala, já que se afastou da invenção formal tomada como um fim em si mesmo, uma nova atitude do sujeito-artista. Ana Miguel produz objetos que, em sua maioria, parecem brinquedos. Tanto as técnicas usadas para confeccioná-los (à exceção da gravura, eventualmente usada pela artista de modo não convencional), os materiais de que são feitos e seu funcionamento, parecem estranhos ao universo da arte. No entanto, mesmo assim, eles nos são familiares porque evocam o cotidiano
e não vivências estéticas. Essa significação deslocada está na origem do sentido contemporâneo da poética de Ana. Tecidos em croché ou cortados em tecidos de cores e texturas variadas, mas sempre atraentes, os trabalhos dessa artista são costurados para receberem um enchimento que lhes empresta volume e maciez. Em seguida, se pensados enquanto animais ou vegetais, adquirirem olhos, dentes ou folhagem. Finalmente alguns deles adquirem traços animais: movimentam-se (a pilhas) e comunicam-se pela emissão de palavras e sons eletrônicos. Outros, imóveis, evocam um discreto repouso ou a imobilidade eterna, de tipo vegetal. Nas últimas três ou quatro décadas os sentidos ético e estético evocados pela finalidade e pela aparência visual de quaisquer objetos, mudou radicalmente. Se considerarmos o caso dos brinquedos e personagens infantis, surgidos desde então, veremos que os animais humanizados das fábulas e filmes, deram lugar a um tipo muito particular de ficção científica, quase delirante. Novos monstros, animais, planetas e culturas, totalmente inventados, sem origem, receberam a humanidade anteriormente destinada por Esopo, La Fontaine, Andersen, Lewis Caroll e Walt Disney aos animais, plantas, heróis e deuses de longa carreira simbólica e imaginária. Tomados a partir de sua configuração material, os seres de Ana Miguel pertencem, sem sombra de dúvida, ao repertório projetado para o consumo infantil pela indústria cultural. Entretanto ao se apropriar das aparências desse imaginário recente, desprovido de raízes culturais profundas, a partir das narrativas tradicionais entranhadas, há séculos, no universo simbólico ocidental, Miguel diferencia seus trabalhos, de modo definitivo, das expectativas meramente infantis e, por isso mesmo, distingue-os dos brinquedos contemporâneos. O sentido feminino do trabalho dessa artista freqüentemente explicado pela evocação ao universo da criança e pelo meios técnicos de que lança mão ( costura, croché, etc.), não constitui o sentido último de sua obra. Entretanto esse ar infanto-feminino é, sobretudo, uma passagem para questões muito mais abrangentes e essenciais da poética de Ana.
Mas a articulação dos objetos a um imaginário ancestral, distante das operações do consumo característico do mundo moderno e contemporâneo, é reconhecível somente no conjunto da produção da artista. O funcionamento autônomo das peças em relação à totalidade do trabalho supõe a introdução de elementos que as diferenciem dos brinquedos dos quais, taticamente, extraem suas aparências. Sedutores à primeira vista, esses objetos macios e delicados não foram confeccionados com objetivo lúdico. Esses quase seres possuem uma agressividade latente, embora discreta, que contrasta com sua frágil configuração. Indicada pelo uso de elementos como dentes, alfinetes e olhos de boneca, a violência exalada dos trabalhos impede que muitos percebam a delicadeza neles contida e reduzam-nos ao âmbito da perversão. Para a artista, porém, a face violenta de suas obras não possui um caráter ontológico. Ao contrário, ela pretende mostrar-nos que a separação entre bem e mal, norma e perversão tem uma existência apenas discursiva e que a vida escorre entre possibilidades que não coincidem com a ordem e a pureza transmitidas por uma ética e uma estética normativas. Vistas sob esse ângulo as peças de Ana Miguel trazem à tona um nível não consciente (mas não necessariamente inconsciente) e corpóreo da realidade, que se posta silenciosamente em todos os nossos atos. Algo próximo ao que Merleau-Ponty chamou de lençol de sentido bruto (O Olho e o Espírito) pois antecede a toda separação, divisão ou redução definida pela linguagem natural, filosófica e científica. As Flores Também Ficam Instáveis e Podem Ferir pertencem ao jardim no qual crescemos (os homens contemporâneos). Nele cada flor agrada e fere sem qualquer inocência ou maldade. Também no Jardim das Delícias de Bosch os homens do renascimento alemão aparecem como quase-flores. Separados entre céu, purgatório, e inferno eles pertencem a um mundo hierarquizado que não é mais nosso. Só a experiência estética nos permite romper, ainda que provisoriamente, as amarras do passado. A obra de Ana Miguel pode nos ajudar a rompê-las no presente. Fernando Cocchiarale, março de 2001
As Flores Também Ficam Instáveis e Podem Ferir vista da Instalação na Galeria ECCO, Brasília, 2001, tecido, metal, alfinetes, mecanismo de corda, 200 x 216 cm Flowers Also Become Unstable and Can Hurt installation view at Gallery ECCO, Brasília, 2001, fabric, metal, pins, clockwork mechanism
Terrivelmente culpada, 2001 Estrutura em metal, veludo, crochet em lĂŁ mohair, dentes, ĂĄudio Alt./height : 73 cmt Terribly guilty, 2001 Metalic structure, velvet, crochet made with mohair wool, teeth, audio
I LOVE YOU, 2000 vista da instalação na Galeria ECCO, Brasília, tecido, lã, dentes, cera rosa, mecanismos variados 400 x 400 x 330 cm I LOVE YOU, 2000 installation view at ECCO Gallery, Brasília, fabric, wool, teeth, pink wax, sound and mechanisms
Você não me pega!, 2001, Veludo, lã, mecanismos eletrônicos 24x11x6 cm You won’t catch me! Velvet, wool, electronic mechanism
Colônia, 1999, Crochet com lã felpuda, olhos de boneca, cera rosa Alt./height : 20 cm ; diametro/diameter : 17 cm cada/each Colony, 1999, Crochet made with furry wool, doll’s eyes, pink wax
S/T (flor NÁ-NÁ), 2000, lã, olhos de boneca, cera rosa, mecanismo sonoro 17 x 18 cm cada No title (flower NÁ-NÁ), 2000, wool, doll’s eyes, pink wax, sound mechanism
estudo para composição de personagem, 1999 crochet em lã mohair, dentes, cera rosa character’s composition sketch, 1999 crochet with mohair wool, teeth, pink wax
para sempre meus, 2000 tecido, crochet, botĂľes de caftan, pluma sintĂŠtica 13 x 17 x 7 cm forever mine, 2000 cloth, crochet, caftan buttons, kapok
detalhe com pequenas gravuras e alfinetes detail with little etchings and pins
Flowers also get unstable and can hurt The work of Ana Miguel is not a contemporary unfolding of the modernism conquests. Its aesthetic pertinence is deliberately far from the formal and plastic predominance about the theme that has been heralded in the impressionism, pursued by the fauvism and cubism, but fully conquered by the abstract art. As many present artists, Ana produces objects which go beyond the pure form scope because they deal with ethical contents essential to the formulation of the contemporary aesthetics. Therefore, there is in her work the return of the new basis of a semantic dimension that was essential to the art of the past, lost in modernist world. This dimension becomes, day by day, more present. In the passage of the decade of the 1950s to the decade of the 1960s, the hegemony of the created form (subject) was replaced, in the artistic production field, by the appropriation of the media or industry (pop) images and by the use of materials, forms and industrial methods (minimal). Recognised because of its author view by the strict design world, but socially anonymous, those images and forms, associated to the disposable aspect of the consumption, are in a symbolic ephemeral place and, because of that, opposed to the perennial aspect inspired by the works of art. However, allowed since Duchamp to be introduced in the art field, the readymade and other objects that were incorporated to the history of the actual aesthetic conquests were never appropriated due to their chromatic, plastic qualities and strict forms. On the contrary, when the artists dislocate to the art field objects strange to their logic, they reintroduce, in this field, a critic and verbal sense. That is why they diminish, in the creation of their work, the weight of the pure formal sphere to it has been reduced to the visual production and fruition. The simple integration of the useful form in the art brings to the work, not only a functional previous significance, but also an ideological significance as it shows, since it has moved from the formal invention taken as an end in itself to a new attitude of subject-artist. Ana Miguel makes objects that look like toys. Both the techniques used to make them (except engraving, used by the artist in an unusual way), and the materials and its operation seem strange to the art universe. However, even though they are familiar to us because they remind the routine and not aesthetic experiences. This dislocate significance is in the origin of the contemporary sense of Ana’s poetics.
Fabric in crochet or cuts in fabric of many colours and texture, but always, attractive, the works of this artist are sewed to receive a padding that gives them volume and softness. Then, if we imagine them as animals and vegetables they acquire eyes, teeth and leaves. Finally some of them acquire traces of animals: they move themselves and communicate by emitting electronic sounds. Other objects are still and remind us of unremarkable rest of an eternal immobility like a vegetable. In the last three or four decades, the aesthetic and ethical senses evoked by the purpose and the visual appearance of any object has radically changed. If we consider the case of the toys and children ‘s character, arose since then, we see that the animals humanised of stories and movies gave place to a particular kind of science fiction that is almost thrilling. New monsters, animals, planets and cultures were totally invented, without origin, received a humanity previously given by Esopo, La Fontaine, Andersen, Lewis Carroll and Walt Disney to animals, plants, heroes and gods of a big symbolic and imaginary career. Taken from their material configuration, the beings of Ana Miguel belong, with no doubts, to the repertoire projected to the children’s consumption by the cultural industry. However, when Ana takes the appearances of that recent imaginary, that does not have deep cultural roots, from the traditional narratives that are in the symbolic western universe for centuries, she makes a difference with her work in a definitive way. Her work distinguishes itself from the contemporary toys. The feminine sense of her work is often explained by the evocation of the children’s universe and by the technical means that it has (sewing, crochet, etc.) and is not the last sense of her work. However, its feminine and children’s aspect is a passage to questions that are much more wide-ranging and essential to Ana’s poetics. But the articulation of these objects to an ancestral imaginary, far from the operations of the consumption of the modern and contemporary world, is recognisable only in the whole production of the artist. The autonomous working of the pieces in relation to the totality of the work supposes the introduction of elements that make them different from the toys they take their appearance. Alluring at first sight, those soft and delicate objects were not made with
a playful goal. Those almost beings have a latent aggressive aspect, although discreet, that contrasts with their fragile configuration. Indicated by the use of elements such as teeth, pins, doll’s eyes, the violence exhaled from the works prevents that a lot of people note the delicacy existing on them and reduce them to a perverted scope. However, to the artist, the violent aspect of the works does not have an ontological character. Otherwise, she intends to show us that the separation between good and evil, norm and perversion has only a narrative existence and that life drains between the possibilities that do not coincide with order and purity passed by normative ethics and aesthetics. Seen by these angles, the objects of Ana Miguel emerge a non-conscious (but not necessarily unconscious) and physical level of the reality, that is silently present in all our. It is something near to what Merleau-Ponty called sheet of brutish sense (The Eye and the Spirit) because they are anterior to all separation, division, or reduction defined, by the natural, philosophical and scientific language. The Flowers also become unstable and can hurt are part of a garden where we grow (the contemporary men). In this garden, each flower pleases and hurt without innocence and cruelty. Also in the Garden of Delights of Bosch, men of the German renaissance are shown as almost flowers. Separated between heaven, purgatory and hell, those men are from a hierarchical world that is not ours anymore. Only the aesthetic experience allows us to break the ties from the past, even tough in a provisional way. Ana Miguel’s works can help us to break those ties in the present. Fernando Cocchiarale, Rio de Janeiro, March, 2001
palimpsesto particular, 2000 gravura em metal, bordado, tecido e pĂŠrolas 21 x 15 x 5 cm private palimpsest, 2000 engraving, embroidery, cloth and pearls crochet with mohair wool, teeth, pink wax
palimpsesto particular, 2000 gravura, tecido, pĂŠrolas e alfinete 21 x 15 x 5 cm private palimpsest, 2000 engraving, cloth, pearls and pin
palimpsesto particular, 2000 gravura, tecido, pluma sintĂŠtica e alfinetes 21 x 15 x 5 cm private palimpsest, 2000 engraving, cloth, kapok and pins
palimpsesto particular, 2000 gravura, bordado, tecido, fita de cetim e pluma sintĂŠtica 36 x 10 x 9 cm private palimpsest, 2000 engraving, cloth, satin ribbon and kapok
As Flores TambĂŠm Ficam InstĂĄveis e Podem Ferir, detalhe, 2000 tecido, metal, alfinetes, mecanismos de corda altura:37 cm Flowers Also Become Unstable and Can Hurt, detail, 2000 fabric, metal, pins, clockwork mechanism.
Você Viu o Que Eu Vi? lã, metal, olhos de boneca, cera rosa 16 cm cada Did You See What I Saw? wool, metal, doll’s eyes, pink wax.
fotografia/ photography: Edgar Cesar: 1, 3, 16, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29 Edward Woodman: 4 Carlos Terrana: 17, 18 Dalton Camargos: 6 Beto Felicio: 11 Juvenal Pereira: 10 versĂŁo para o inglĂŞs do texto de Fernando Cocchiarale/ english version: Ariane Cieglinski
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