ESPAÇOS PÚBLICOS AO AR LIVRE EM ÁREAS DE PASSAGEM NO VALE DO ANHANGABAÚ
ESPAÇOS PÚBLICOS AO AR LIVRE EM ÁREAS DE PASSAGEM NO VALE DO ANHANGABAÚ ANA DANIELA PIZZATTO DALLA ROSA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO PROFESSOR ORIENTADOR LUÍS ANTÔNIO JORGE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 2012
AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Luís Antônio Jorge, por, além de toda sua dedicação, me ensinar a olhar com maior sensibilidade o mundo a minha volta. À minha família, por ter me dado apoio e carinho incondicional em todos os momentos de minha trajetória acadêmica. Ao meu companheiro Joan Font, por toda sua ajuda e paciência em todos os momentos. Sem você, este trabalho não teria chegado até aqui. Aos meus amigos que ofereceram, além de sua amizade, inestimável ajuda: Thelma Cardoso, Gabriel Negri, Mariana Pierobon, Julia Paccola, Marysol Brito, e Lígia Lupo. Aos meus amigos da FAU, por todo o aprendizado e auxílio, não apenas neste trabalho, mas em todos os anos de nossa formação nesta faculdade. São eles: Rafael Assunção, Juliana Allonso, Kathleen Chiang, Thiago Martinelli, Daniele Queiroz, Daniela Zilio, Nathalia Watanabe, Victor Aguiar, Carolina Lopes,Fernando Boari, Felipe Gomiero, Flavia Pereto.
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SUMÁRIO
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AGRADECIMENTOS
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MOTIVAÇÃO DO TEMA
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INTRODUÇÃO
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O ESPAÇO PÚBLICO - CONCEITUAÇÃO
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AS RELAÇÕES SOCIAIS E O ESPAÇO PÚBLICO
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O USO ESPONTÂNEO DO ESPAÇO PÚBLICO
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SOCIEDADE E ESPAÇO PÚBLICO
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OS ESPAÇOS PÚBLICOS VISITADOS
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VISITA AO PARQUE DO IBIRAPUERA
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VISITA AO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
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VISITA AO SESC POMPÉIA
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OUTRAS VISITAS
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REFERÊNCIAS PROJETUAIS
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PRIMEIROS ESTUDOS DE INTERVENÇÃO
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VALE DO ANHANGABAÚ - O LOCAL DE INTERVENÇÃO
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O PROJETO DOS TRÊS ESPAÇOS PÚBLICOS AO AR LIVRE
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PRAÇA DA LADEIRA DA MEMÓRIA PRAÇA SAMPAIO MOREIRA PRAÇA SÃO BENTO MATERIAIS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA
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MOTIVAÇÃO DO TEMA Minha evolução no curso de arquitetura e urbanismo abriu meu olhar para perceber como os diferentes espaços públicos são usados e apropriados, por parte de seus usuários, em distintas cidades do Brasil e do mundo. Meu intercâmbio universitário para Barcelona, Espanha, em 2009-2010, aprimorou e instigou este olhar, porque me possibilitou conhecer diversos lugares novos, com culturas e pessoas diferentes, e me permitiu perceber e comparar como os espaços públicos podem ser diferentes em cada local e contexto, tanto em relação a seus espaços físicos, quanto a como são usados. Essas vivências me motivaram a estudar esses diferentes tipos de espaços públicos, seja por meio de visitas a alguns deles, como usuária deste espaço, ou pela pesquisa em livros e revistas que tratam do tema, como sua conceituação ou exemplos de projetos; ou ainda pela troca de experiências com amigos que visitaram lugares interessantes à pesquisa. O objetivo é agregar referências suficientes para embasar um projeto de espaço público na cidade de São Paulo.
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INTRODUÇÃO Os objetos de estudo deste Trabalho Final de Graduação serão os espaços públicos das cidades. Espaços estes vistos como qualquer tipo de local que possibilite encontros, convívio social, desenvolvimento de diversos tipos de atividades, que estimule a vida urbana. Podem ser espaços coletivos, espaços abertos, fechados, combinados a equipamentos urbanos, espaços de transição entre público e privado, enfim, o objeto de estudo será qualquer local onde haja a possibilidade de uma vida pública acontecer. A definição concreta do que seria o espaço público, neste caso, não se faz tão necessária, porque a intenção deste trabalho não é defini-lo, senão entendê-lo. Entender suas peculiaridades e generalidades. Suas diferentes escalas e as conseqüências disso. A intenção é entender sua essência, seus diferentes aspectos que o tornam locais de êxito ou não na cidade, locais em que ocorre sua apropriação por parte de seus usuários como locais de estar, lazer, descontração, encontro, recreação, enfim, pretende-se captar atributos do espaço que o tornam convidativo. Seria o registro de atributos fixos da arquitetura e do espaço - escadarias, coberturas, espelhos d’água, edifícios, rampas, etc-; e os sistemas de fluxos, como seus diferentes cenários com o passar da semana, dia e noite, atividades que ali acontecem, se há feiras, se são área de passagens de pedestres entre outros pontos da cidade, se são espaços
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que atraem usuários pela presença de comércios, serviços ou equipamentos urbanos, sua relação ou não com habitações, etc. Este registro, desenvolvido por meio da análise de diferentes casos no município de São Paulo e também em locais fora do Brasil, que serão tratados posteriormente ao longo deste trabalho, terá como objetivo oferecer respaldo para que o produto final deste Trabalho Final de Graduação seja o projeto de uma rede de espaços públicos inseridos dentro de uma área já consolidada na cidade de São Paulo, que considerem os atributos então levantados. A bibliografia, que inclui principalmente livros de Jane Jacobs, Richard Sennett e Jan Gehl, serviu de respaldo para, além de ajudar a guiar o olhar para certos aspectos antes não percebidos, o melhor entendimento do que significa um determinado espaço público dentro do contexto em que está inserido, seja este um contexto urbano, econômico e social. Esclareceu em muitos aspectos, ao contrário da idéia de um espaço físico que se encerra em si mesmo, a importância de um espaço público de qualidade como mediador de uma vida urbana, do seu papel dentro das relações entre pessoas de uma mesma vizinhança, ou de uma mesma cidade, e também elucidou sobre seu potencial de melhorar qualitativamente a vida de um cidadão em sua relação com a cidade. Forneceu bases também para o entendimento das relações
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sociais predominantes na atualidade e na forma como isso repercute no uso dos diferentes espaços das cidades. Diante do conceito de que o urbanismo não é uma ciência exata baseada apenas em dados e teorias, esta bibliografia, por se tratar principalmente da relação do homem com o espaço, forneceu bases para que pudesse se desenvolver a forma de “fazer urbanismo” que parte da observação da realidade para que, a partir disso, se levantem hipóteses e se possa chegar a desenhos de arquitetura para o urbano. Estes assuntos abordados na bibliografia foram de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho, desde o sair para a cidade para registrá-la até o momento de decisão de qual e onde será o projeto final de intervenção.
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O ESPAÇO PÚBLICO - CONCEITUAÇÃO Quanto à conceituação do que são os espaços públicos, duas definições são relevantes para este trabalho. A primeira definição é a de Jan Gehl, “Espaço público é o lugar que possibilita encontros”(GEHL, J. 2006). A segunda definição é de Josep Maria Montaner, “Tal vez en la sociedad de consumo en la que vivimos una definición para el espacio público sería aquel en el que se puede estar sin más, sin actividad, sin obligación, en definitiva, un espacio para perder el tiempo en actividades no productivas sino relacionales o introspectivas; un espacio libre de las presiones del hacer que abocan, en el mundo contemporáneo, invariablemente al consumo. Pensar realmente en el espacio público como espacio de derecho es de una gran complejidad. El espacio público tiene el potencial de ser apropiado y transformado por una ciudadanía en evolución, que destrone la visión androcéntrica del derecho ciudadano. A pesar de sus limitaciones y sus insuficiencias, y de su origen falsamente democrático, el espacio público de hoy puede ser muy positivo para ir construyendo relaciones sociales” (MONTANER, J.; MUXÍ, Z.; 2010). Estas duas definições elucidam muito bem os critérios adotados neste trabalho para que certo espaço fosse considerado ou não como um espaço público. É o local em que se encontram pessoas, em que se realizam atividades não laborais, sem obrigações. É o local onde se aflora a vida urbana.
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AS RELAÇÕES SOCIAIS E O ESPAÇO PÚBLICO Em seu livro La humanización del espacio urbano, Jan Gehl discorre sobre os três tipos de atividades exteriores que se pode desenvolver e que ocorrem ao mesmo tempo: atividades necessárias, como sair as ruas para se dirigir ao trabalho, à escola, universidade, mercado, etc, independente da vontade de se realizar tal ação; atividades opcionais, em que é necessário o desejo da pessoa de sair ao espaço exterior e também dependem do tempo e da qualidade do espaço externo que a ele se apresenta; e as atividades sociais, que podem ocorrer ou não e dependem das outras duas anteriores. Ainda que a qualidade do entorno físico, do espaço público, da rua, parques, ou o que Gehl chama de “espaço entre edifícios” não influencie diretamente no número de atividades consideradas necessárias, o mesmo não ocorre com as demais. As atividades opcionais aumentam drasticamente em situações em que há boa qualidade no entorno físico e isso acaba por afetar positivamente as atividades sociais. Estas atividades sociais podem ser das mais superficiais, como dividir um banco e observar um acontecimento, ou até mesmo cumprimentar, conversar e praticar alguma atividade em conjunto. Há diversos níveis de relações sociais e estas situações encontram terreno fértil para acontecer onde há pessoas reunidas em um mesmo espaço físico. É nesta situação que o projeto de arquitetura pode influenciar e muito como pano de fundo para estas relações entre as pessoas, facilitando-as. Os estudos de caso então apresentados almejam captar estas situações. Mostrar projetos inteiros ou pequenos detalhes que, de alguma forma, propiciem o convívio social, convidem o cidadão a participar do uso, previsto ou espontâneo, do espaço público.
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O USO ESPONTÂNEO DO ESPAÇO PÚBLICO Um aspecto de grande potencial captado em toda a análise é a capacidade de ativar certos espaços da cidade por meio do estímulo ao uso espontâneo. Com a pesquisa, percebeu-se que essa é uma possibilidade que tem ganhado cada vez mais força. Exemplos destes tipos de atividades espontâneas são pela arte, teatros ao ar livre, instalações que interagem com o público, experimentos, grafite, música, poesia, filmes, projeções, locais para patinação, skate, bicicleta, e, geralmente, são um tipo de apropriação do espaço que cria um vínculo de empatia entre este e o usuário. Atrai a atenção de um pedestre para o espaço e o convida a participar. Um exemplo deste tipo de interação é o projeto desenvolvido pela Volkswagen chamado The Fun Theory, que tem como lema provar que a diversão é o caminho mais fácil de mudar o comportamento das pessoas para melhor (“The fun is the easiest way to change people’s behaviour for the better”). Para isso, eles realizam diversas intervenções nos espaços da cidade para promover diversão e isso realmente gera resultados positivos, como a escada em forma de piano instalada na saída de um metrô (The Piano Staircase), para incentivar o uso da escada ao invés das escadas rolantes; e também a instalação de auto-falante em uma praça pública para que as pessoas deixassem a mensagem que quisessem para os demais usuários. Em ambos os casos, a interação dos usuários com estas
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intervenções se iniciou de forma tímida, mas, pouco a pouco, ganharam empatia e passaram a ser disputados pelas pessoas. O interessante também é que esta forma de apropriação espontânea pode ocorrer em distintos tipos de lugares públicos, como túneis, ruas, ruínas, locais demolidos, praças, calçadas, até mesmo locais privados que, por possuir janelas ou aberturas por onde se pode espiar, observar, participar, tornam-se públicos. Eles fogem da monotonia e por essa razão são atrativos.
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SOCIEDADE E ESPAÇO PÚBLICO Há também alguns aspectos analisados sobre a cidade de São Paulo que devem ser colocados em questão. O primeiro dele é o próprio processo de abandono a que está submetida a maioria dos espaços públicos, desde calçadas, ruas, pequenas e maiores praças. Muitas se encontram depredadas, o que já remete à questão de como gerar um espaço público que não passe também por este processo. Outro aspecto muito significativo é a freqüente privatização do espaço público, ou seja, o lazer passou a ser um objeto de consumo, em que bares, restaurantes, lojas, shoppings centers, locais privados, cumprem a função destinada ao espaço público, a função de locais de convívio. Pela observação de nosso modo de viver, dos costumes de algumas famílias, do nosso ideal do que é “sair de casa para passear”, nota-se que a maioria das pessoas não percebe essa inversão de papéis no contexto em que está inserida. Essa inversão já se tornou tão comum, e acredito que isso muito se deve pela americanização dos nossos padrões de vida, que consideram essa situação normal, não nota como a idéia do ócio, lazer, “sair de casa” está inerente à idéia do consumo. Em São Paulo, dificilmente se encontra um espaço público com infraestrutura de qualidade onde se possa sentar, ler um livro, conhecer pessoas, apenas observar o movimento das ruas, enfim, praticar a vida pública. Todos estes aspectos estão muito relacionados e se complementam. O aspecto que provavelmente explique estes fenômenos é o tipo de sociedade que existe
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atualmente. Vivemos num mundo regido pelas imagens e pelo consumo e isso pode ser levado a diversas esferas. Na da cidade, do urbanismo e arquitetura isso também ocorre. É valorizada a espetacularização, o formalismo, a cultura do consumo de imagens e signos, que permitem a produção de cidades como bancos de imagens. O espaço é consumido como mercadoria e dessa forma, os indivíduos se tornam meros coadjuvantes em relação à dinâmica da cidade. Predomina o “ter” em relação ao “ser” e tornam-se passivos em relação a o que vêem e, no caso em questão, ao espaço público. Estas questões levantadas até agora - quanto a situação em que se encontram os espaços públicos da cidade de São Paulo e também ao tipo de vida pública que vivemos- , não podem ser desatreladas das realidades a que estamos sujeitos, como a “vida” virtual, em que se propagam os meios de comunicação de massa, principalmente a televisão, e a priorização das relações sociais através da mídia e da internet, e também a ascensão do automóvel. Realidades que intensificaram ainda mais a interiorização e isolamento da vida pública das pessoas, se é que assim se pode chamar. Dessa forma, estes aspectos levaram as pessoas a usarem cada vez menos o espaço público da cidade, a saírem menos às ruas, levou a interiorização da vida ociosa e da vida coletiva. As ruas passaram a ser apenas locais de passagem, conectoras do local de saída e de destino e os espaços públicos da cidade
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esvaziados. Como já foi dito, são diferentes aspectos que se relacionam, se intensificam, interferem um no outro. Logo, o desafio do espaço público a se projetar ultrapassa a esfera da análise dos atributos de fixos e fluxos dos espaços públicos que obtiveram êxito quanto a sua apropriação. O desafio é também como usar estes atributos para se criar um espaço que transgrida esta ordem, que ative a percepção de um individuo para participar deste espaço, para participar do que ele oferece e, dessa forma, sair dessa passividade em relação à dinâmica da cidade. Em meio a esta situação potencialmente desanimadora e pelo fato do projeto a ser desenvolvido de espaço público dirigir esforços para romper com esta situação, houve a busca de teóricos que tratassem de saídas quanto a esta passividade do homem público e sua relação com a dinâmica da cidade. Destacaram-se Michel de Certeau (1925-1986), que foi historiador e filósofo francês, autor de A invenção do cotidiano. Artes de fazer; e textos escritos por teóricos da Internacional Situacionista (IS), como Guy Debord (1931-1994), cujo trabalho mais conhecido é A Sociedade do Espetáculo, escritor francês, um dos principais autores da Internacional Situacionista. Os principais textos da Internacional Situacionista foram compilados no livro Apologia da deriva. Escritos situacionistas sobre a cidade, organizado por Paola Berenstein Jacques. Segundo Certeau, “o homem seria capaz de imprimir no espaço seus
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momentos de intensidade e ruptura em relação ao cotidiano a partir de táticas de resistência, suas artes de fazer” (TRAMONTINO,2011). Por exemplo, a opção de mudar trajetórias de caminhos ao invés de manter sempre o mesmo percurso ou realizar ações que rompam com um status pré-estabelecido, ou seja, sua arte de fazer. Essa teoria pode ser relacionada com a intenção projetual de incentivar a apropriação do espaço por parte de um cidadão, criando um espaço convidativo ao uso que rompa com a situação de passividade em relação ao cotidiano a que está submetido. Para os situacionstas, isso seria “usar a arquitetura e o ambiente em geral para induzir à participação, para contribuir nessa revolução da vida cotidiana contra a alienação e a passividade da sociedade. (…)A idéia central é a construção de situações, isto é, a construção concreta de ambiências momentâneas de vida, e sua transformação em uma qualidade passional superior.“ (JACQUES,2003, págs. 20 e 21).
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OS ESPAÇOS PÚBLICOS VISITADOS
OS ESPAÇOS PÚBLICOS VISITADOS Os casos estudados foram visitados e registrados por meio de fotografia, croquis e texto, em uma espécie de diário de bordo deste corpo-a-corpo com alguns lugares da cidade da São Paulo. O espaço foi analisado sempre considerando dois aspectos que interagem e modificam um lugar: fixos e fluxos. Estes termos são usados pelo geógrafo Milton Santos em sua definição do que é o espaço e, sendo o espaço público antes de qualquer coisa um espaço, estes termos são aplicáveis neste caso. “O que é o espaço? O espaço comporta muitas definições, segundo quem fala e o que deseja exprimir. Aqui a voz é a de um geógrafo que propôs algumas formas de enfocar a questão: o espaço como reunião dialética de fixos e de fluxos; o espaço como conjunto contraditório, formado por uma configuração territorial e por relações de produção, relações sociais; e, finalmente, o que vai presidir à reflexão de hoje, o espaço formado por um sistema de objetos e um sistema de ações. Foi assim em todos os tempos, só que hoje os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixos, fixados ao solo; os fluxos são cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos, mais rápidos. [...]Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações, e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra sua dinâmica e se transforma” (SANTOS, 1994, pág. 55).
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Assumindo-se, no caso deste trabalho, os atributos fixos como aspectos da arquitetura e do espaço físico; e os sistemas de fluxos como os diferentes cenários que este mesmo espaço pode assumir com o passar do dia e da semana, estes termos balizaram a metodologia de análise do espaço público adotada. É importante reconhecer que, apesar da grande maioria dos lugares públicos mencionados no trabalho terem sido por mim visitados, há alguns que não o foram e ainda assim são citados por terem alguma característica relevante ao trabalho e que serão analisados segundo os mesmo critérios. É claro que estes espaços públicos não se encerram em si mesmos. Sempre há a relação direta e indireta com o entorno em que está inserido e isso pode trazer conseqüências positivas e negativas. Um espaço que esteja onde ninguém passa ou ninguém veja, pode estar condenado ao fracasso. Jane Jacobs, em Morte e Vida de Grandes Cidades, elucida muito bem essa relação com os inúmeros exemplos concretos e estatísticos que se passaram em cidades norteamericanas na década de 19601. Fala da vida pulsante de uma calçada de rua ou de um parque urbano inseridos num local onde há a diversidade de usos e de usuários. A mistura de comércios, serviços, habitação e espaços públicos atrai grande número de usuários às ruas em diferentes horários do dia, o que torna suas calçadas ocupadas, movimentadas e seguras na maior parte do tempo. Essa dinâmica, por sua vez, atrai os olhos de pessoas que gostam de acompanhar o
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movimento das ruas desde suas janelas e também convida outros a andar pelas calçadas, mesmo que não haja um motivo definido, o que torna o local ainda mais seguro, porque se iniciam as relações de vizinhança e de convívio público. Ainda que se trate especialmente das calçadas das ruas por ser um dos principais exemplos de espaço público da cidade, o que é dito sobre este caso, a meu ver, pode ser considerado para qualquer outro tipo de espaço público projetado. Para Jacobs, “sob a aparente desordem da cidade tradicional, existe, nos lugares em que ela funciona a contento, uma ordem surpreendente que garante a manutenção da segurança e a liberdade. É uma ordem complexa. Sua essência é a complexidade de usos das calçadas, que traz consigo uma sucessão permanente de olhos. Essa ordem compõe-se de movimento e mudança, e, embora se trate de vida, não de arte, podemos chamála, na fantasia, de forma artística da cidade e compará-la à dança – não a uma dança mecânica, com os figurantes erguendo a perna ao mesmo tempo, rodopiando em sincronia, curvando-se juntos, mas a um balé complexo, em que cada indivíduo e os grupos têm todos papéis distintos, que por milagre se reforçam mutuamente e compõe um todo ordenado. O balé da boa calçada urbana nunca se repete em outro lugar, e em qualquer lugar está repleto de novas improvisações” (JACOBS, 2007, pág. 52).
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Através da mistura de olhares macro e micro para a cidade, para o espaço público em si ou para o lugar de que faz parte, para os atributos fixos e de fluxos existentes nestas diferentes escalas e pela percepção de como tudo isso influencia nas atividades exteriores necessárias, opcionais e sociais das pessoas, criaram-se bases para o projeto de espaço público, que será o produto final deste trabalho. Bases estas relacionadas principalmente com critérios de escolha do local de projeto, aspectos arquitetônicos e programa do espaço público.
1 Jane Jacobs em Morte e Vida de Grandes Cidades fala da importância do urbanismo que produz suas teorias olhando para a cidade, para a cidade real, e que dela extrai ensinamentos. Trata da densidade das cidades que não é vista na cartografia, na legislação. Reproduz sua memória, costumes, cultura e, apesar de falar das cidades norte-americanas da década de 60, Jacobs trata de temas atuais que podem ser colocados dentro do contexto de qualquer cidade. Discorre sobre assuntos urbanísticos de senso comum, comprovando-os com dados e estatísticas precisos.
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VISITA AO PARQUE DO IBIRAPUERA - 04/SET/2011- DOMINGO - 16h A visita ao Parque do Ibirapuera foi bastante peculiar. Não me dirigi a ele com o intuito de fazer uma visita para o Trabalho Final de Graduação. Fui principalmente como usuária do espaço, como qualquer pessoa que almoça no domingo e decide ir, acompanhada de uma amiga, dar uma caminhada para aproveitar o ensolarado fim de tarde na cidade. Ao chegar, notei de imediato que não havia sido a única pessoa a sentir vontade de aproveitar aquele dia lindo. A quantidade de pessoas correndo, fazendo caminhadas, andando de bicicletas, patins, skate, chegava a ser exagerada. É claro que a presença da ciclovia demarcada por faixas em tinta no chão ajudava e muito a delimitar o tráfego de pessoas de bicicleta ou correndo. Não pude deixar de levar a máquina fotográfica para fazer o registro daquele espaço público. Várias características deste parque me lembraram diversos aspectos levantados por Jane Jacobs em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades. Em seu capítulo dedicado especialmente aos parques urbanos, é dito que um parque (ela se refere a outros tipos de parques, inclusive para cidades norte-americanas, mas, ainda assim, diversos aspectos são aplicáveis a este caso) pode obter êxito por possuir quatro atributos principais: complexidades (variação genuína de cenários), centralidade (elemento mais importante da complexidade, é o lugar conhecido por todos como o centro do parque), insolação e espaço muito bem definido (o destaca como um elemento importante no cenário urbano).
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1 - sombras das árvores atraem pessoas para diversos tipos de atividades. 2- pessoas à sombra na margem de um dos lagos do parque. 3 - pessoas ao sol na Praça da Paz. É interessante perceber que se pode encontrar os dois tipos de situação no mesmo parque: muita sombra e muito sol. 4 - vista para o espigão da avenida Paulista desde um dos lagos. 5 - beiral do museu Afro-brasileiro repleto de adolescentes em situação de convívio. Os grafites nas paredes reforçam a atmosfera descontraída e jovial do lugar. 6-amplos
espaços
abertos
que
possibilitam
aglomerações espontâneas de pessoas que se apropriam do lugar. Diversidade de usos que trazem vida para o espaço público.
Acredito que o Ibirapuera retrata muito bem esta complexidade. Nunca há monotonia. Um usuário consegue se surpreender a cada visita, como se a cada vez fosse encontrar algo diferente. Em minha caminhada, observei bosques, pistas para caminhadas que permeiam tanto áreas de sombra e de sol, lagos cheios de cisnes e pessoas as suas margens, namorados, famílias, crianças; uma imponente ponte, repleta de gente, que leva pessoas de um lado a outro de um dos lagos. Notei praças ensolaradas, parquinhos para crianças e idosos, quadras poliesportivas, a longa marquise, as dezenas de carrinhos de sorvete. Os cenários não se repetem, apontam visuais deslumbrantes para seu próprio interior e para a cidade, como o espigão da Avenida Paulista, e oferece uma gigante diversidade de usos, todos envoltos em tal complexidade que dificilmente alguém conseguiria reproduzir sua planta, sem auxilio aéreo. O atributo da centralidade, por Jacobs citado, ali existe. Em seus exemplos, ela aponta a necessidade de uma centralidade em cada parque, como o local em que há maior encontro, seu ponto principal. Consigo ver, pelo imenso tamanho do parque, diversas centralidades, sem que se enfraqueçam. Talvez uma das principais seja a marquise, que percorre uma grande extensão do lugar, e também os lagos. Em outro momento, Jacobs discorre a respeito dos parques que, por serem vazios por diversas razões, necessitam do atributo por ela chamado de “artigos de primeira necessidade”, ou seja, usos específicos que acabam por
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1 - parquinhos para crianças. 2 - praça com equipamentos esportivos 3- brincadeiras com patins em quadras de esportes. 4 - quadras de basquete com muitos usuários. Ambos os casos criam situações de sociabilidade. 5 - ciclovia que percorre grande extensão do parque e ajuda a dividir os fluxos de pessoas. 6 - exemplo de complexidade do parque urbano: ao fundo, um elemento de primeira necessidade, o planetário; no plano intermediário, assentos, elementos essenciais em um parque; no primeiro plano, o comércio, existente por todo o parque.
atrair diversos tipos de usuários, tornando-os parques específicos e que passam a ser freqüentados. Além de suas centralidades, o parque ainda possui alguns dos chamados “artigos de primeira necessidade”, que intensificam o seu êxito como espaço público. Passei pelo jardim japonês, pelo planetário, pela OCA, pelo Pavilhão da Bienal, pelo Museu Afro-brasileiro, pela marquise, pelo Auditório Ibirapuera, vi o Museu de Arte Moderna – MAM -, Monumento das Bandeiras (sempre cheio de turistas), o Obelisco, e ainda, pesquisando pelo site oficial do parque, descobri que há o viveiro Manequinho Lopes, o gramado Praça da Paz e o novo museu MAC-USP. Estes são os “artigos de primeira necessidade” que considero como centralidades do parque. Há ainda aqueles menores e de igual importância, que são as já citadas quadras poliesportivas, parquinhos, bicicletários, entre outros. O interessante dessa mistura de usos genéricos e de usos específicos de um parque é que tem como conseqüência a diversidade de usuários que são atraídos em qualquer momento do dia ou semana para este espaço tão complexo, o que faz dele um ótimo exemplo de espaço púbico com qualidade espacial e de usos. Para concluir a experiência desta visita, uma frase do livro de Jane Jacobs ilustra muito bem a situação deste parque: “Só uma conjuntura genuína de diversidade econômica e social, que resulta em pessoas com horários diferentes, faz sentido para um parque e tem o poder de conceder-lhe a dádiva da vida” (JACOBS, 2007, pág. 111).
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VISITA AO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO - 16/SET/2011- 6a- 15h45 Fiquei impressionada em como este equipamento urbano consegue agrupar diversos tipos de atividades que coexistem e se complementam. O principal acesso ao local está logo na saída do metrô Vergueiro, o que coloca o edifício em uma localização privilegiada por facilitar o deslocamento dos usuários até o local. Quando cheguei por esta entrada, já avistei um grupo reunido de pessoas sentadas em mesas reservadas, aos fins de semana, para jogos de R.P.G. Pareciam estar tendo uma aula ao ar livre. Logo à frente, havia pessoas jogando xadrez e pessoas pendurando suas bicicletas em um local feito para isso. Logo depois, pelos amplos corredores de um dos volumes que compõe este equipamento, havia um grupo de garotos de diversas idades ensaiando ou praticando break. Não sei se era uma oficina de dança oferecida pelo CCSP ou se eles se apropriaram livremente do espaço, mas, de qualquer forma, achei muito interessante o fato de terem encontrado um local para praticar que fosse aberto, à sombra, amplo, onde pudessem interagir ou mostrar seus talentos para os demais usuários do espaço, e sem, para isso, precisar disputar o espaço com eles. Escutavam a música que conduzia a dança e junto a isso, logo na sala a frente do corredor, havia uma banda que ensaiava para o concerto que haveria à noite naquele espaço. Este era formado por um palco rebaixado em alguns metros, em relação ao nível do corredor, e envolto por uma escadaria que servia de assentos para a platéia.
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Prosseguindo a visita, cheguei a um dos ambientes mais agradáveis do espaço, o pátio central que articula todos os volumes do conjunto de edifícios. Não é o espaço com maior número de usuários presentes, mas sua localização o coloca como um local inevitável de ser percorrido. Neste pátio, pude observar a existência de pessoas tomando sol na cobertura do edifício, o que, depois de subir ao local, avistei que havia um monte delas ali, casais, pessoas sozinhas, pessoas dormindo, lendo livros, músicos. Foram colocadas até mesmo espreguiçadeiras, daquelas de piscinas, para os usuários usufruírem melhor do local. Esta cobertura era um extenso gramado sem sombra alguma e, mesmo que estivesse entre duas avenidas movimentadas que margeiam o espaço, a sensação era de paz, como um reduto de silêncio no meio do caos da cidade. Esse foi um dos aspectos mais interessantes do projeto. A importância do pátio é reforçada, porque é nele onde se encontra a linda escada metálica vermelha que dá acesso à cobertura. Adiante neste pátio, em direção ao bloco da biblioteca e local para exposições, havia um pequeno bosque em desnível, que acaba por resguardar o espaço da cafeteria logo detrás dele, e, mais adiante, um monte de mesas ao ar livre repleta de estudantes e pessoas lendo e usando seus computadores. É surpreendente a capacidade deste espaço de acolher diversos usos tão diferentes sem que haja interferências ou incômodo de um no outro. Os dançarinos não pareciam atrapalhar os estudantes e nem o silêncio destes aparentava constranger
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e desestimular aqueles. Ao adentrar o próximo edifício, em que se encontram as rampas que rasgam o seu grande vazio, me deparei com mais mesas de estudos repletas de gente. A biblioteca, também cheia de usuários, se encontra no nível subterrâneo. Há nela espaços destinados a crianças, (embora não houvesse nenhuma ali durante minha visita), internet, mesas com fones de ouvidos, onde se podia escutar algum documentário, arte, poesia, etc. Um dos espaços da biblioteca mais surpreendente é um local para se ouvir discos de vinil. Todos catalogados. Existiam quatro vitrolas e confortáveis poltronas para apreciá-los. Os dois últimos andares deste edifício são destinados a exposições de obras-de-arte e instalações. É o local mais vazio de todo o conjunto, exceto nos poucos locais em que estavam mesas de estudos. A maior parte dos usuários do espaço em geral é formada por jovens, estudantes, adultos intelectuais e funcionários do próprio local. Ao longo do edifício, há diversas entradas, distribuídas em diferentes níveis de ruas. É um espaço muito aberto e transmite a sensação de segurança, pela existência de usuários na maioria de seus lugares. Este local me pareceu extraordinário. Creio que os principais atributos que o tornam um local de êxito são as atividades que ali ocorrem e a forma como a arquitetura se encarregada de bem distribuí-las ao longo do espaço. A
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1 - pátio central que articula os principais ambientes fechados do complexo. Ao fundo, está a cafeteria e no plano intermediário está a escada que dá acesso à cobertura 2 -mesas no espaço ao ar livre da biblioteca repletas de pessoas. 3- mesas reservadas para jogos, como xadrez e RPG. Muitas pessoas sentadas conversando e estudando. 4 - espaço reservado a vinis na biblioteca.
distribuição em distintos volumes e a forma como o espaço se forma em níveis facilita a coexistência dos diversos usos e garante a presença de usuários em diferentes horários ao longo do dia e da semana. É um ótimo local gratuito para se estudar, relaxar, consultar livros, além de diversas apresentações e oficinas, que são pagas. Oferece sombra, tomadas, banheiros, mesas, luz, desníveis, árvores, segurança, xadrez, além de sensações como isolamento em relação ao caos da cidade, contato com diferentes tipos de pessoas e diversos tipos de arte, e oferece um local de estar “fora de casa” gratuitamente. Este centro cultural é um grande exemplo de espaço público por ser um local que possibilita encontros, segundo a definição de Jan Gehl para o que são os espaços públicos. Formado por pequenos e diferentes lugares de estar que o enriquece no todo, que gera diversidade. É um local de encontro, comércio e circulação que combina usuários de diferentes idades, raças, culturas e atividades. Mistura de diversas sensações, como comunidade e anonimato, familiaridade e surpresa, reduto de paz e espaço inserido na dinâmica da cidade – aspectos estes que o colocam como um bom local gerador de urbanidade, de vida pública. Enfim, encontrei em São Paulo um lugar público em que me sinto confortável e convidada a voltar mais vezes para me servir dele.
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1 - sala com palco para apresentações um nível abaixo em relação ao térreo e assentos da platéia em forma de arquibancada. Boa visibilidade do ambiente do ponto de vista externo. 2 - espaço destinado a exposições de arte praticamente vazios x espaço da biblioteca usado e ocupado. 3- banco de pedra em um espaço muito mais resguardado e silenciosos x pessoas nas mesas de estudo. 4 - relação entre ambiente externo e interno da biblioteca. Luz natural que entra pela janela e deixa o local muito mais agradável. 5 - um dos acessos principais ao edificio. Relação de fluidez entre o espaço interno e externo do complexo. 6 - pessoas deitadas nas espreguiçadeiras, na cobertura do complexo. Reduto de paz em meio às movimentadas avenidas do entorno.
VISITA AO SESC POMPÉIA - 18/SET/2011- DOMINGO- 17h O Sesc Pompéia, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, é um dos locais mais surpreendente na cidade, porque atrai para ele pessoas interessadas pelos mais distintos tipos de atividades. O espaço arquitetônico pode ser definido como dois blocos de antigos galpões industriais que são separados por uma longa rua de paralelepípedo que termina em um solarium, que é um deck de madeira que leva o usuário a dois edifícios conectados por um sistema de rampas ao longo dos seus oito pavimentos de altura. Nos galpões, as principais atividades que existem são a sala multiuso – biblioteca e grande área para exposições-, pracinha (onde está a cafeteria), anfiteatro, salas de apresentações, restaurante, ateliers para arte e artesanatos, serviços de odontologia. Nos edifícios novos, há piscinas aquecidas no térreo, quadras poliesportivas e salas de dança, ginástica e outras atividades físicas distribuídas ao longo do edifício. A meu ver, esta rua funciona como uma rua para pedestres de cidade, como um bom espaço público, porque, além de cumprir bem a função de ser um local de passagem para deslocamentos de um ponto a outro, funciona como um local para encontro de pessoas, locais de espera para apresentações, local para simplesmente observar o movimento da rua, local para crianças brincarem, enquanto os pais conversam. Segundo Jane Jacobs, um requisito básico para que uma rua seja ocupada e movimentada é a diversidade de usos do local, como existência de pontos
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comerciais e outros locais públicos dispostos ao longo das calçadas do distrito, que gera motivos concretos para o uso das calçadas e fazem com que as pessoas a percorram por serem caminhos para lugares. Estes motivos concretos geram um efeito dominó, porque atraem cada vez mais pessoas para a vida na rua. No caso do Sesc Pompéia, sua rua é movimentada e ocupada exatamente por possuir este motivos concretos que levam a sua apropriação pelos usuários, tornando todo o espaço em um local de muita vida. Lina, na concepção de seu projeto, quis manter o ambiente de convívio espontâneo que ali se manifestava no período em que os galpões estavam abandonados e as pessoas da vizinhança se apropriaram deles jogando futebol, fazendo churrascos, teatro de bonecos, etc. “Era um local livremente escolhido para o lazer e isso já traz uma carga vital. A preocupação, ao realizar o projeto do Sesc Pompéia, seria manter o que ali acontece, multiplicar as possibilidades de vida coletiva ali existentes”(OLIVEIRA, 2006, pág. 205 ). Um aspecto interessante desta rua de paralelepípedo é que nela há uma faixa no chão para caminhar feita de um material muito mais regular que o restante da rua e notei que a maioria das pessoas opta por caminhar em cima desta faixa. Uma de suas atrações mais movimentadas é o galpão da sala multiuso, onde há muita gente sentada lendo jornais, revistas e jogando xadrez e damas, nos espaços para isso reservado nos dois mezaninos existentes no local.
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O mobiliário deste galpão, desenhados também pela arquiteta, possibilita boas formas de apropriação do espaço, porque permite diferentes formas de arranjo entre seus módulos, como exemplo as confortáveis mesinhas de madeira clara e as poltronas. Um quadro de informes “Literatura e outras jogadas”, localizado dentro da biblioteca, chamou minha atenção pelos tipos de atividades que ali aconteceriam dentro do cronograma previsto para setembro. Atividades como saraus, jogos de estratégia, rodas de leitura, espaço de leitura para crianças. Também dizia que o acervo de jornais e revistas nacionais e internacionais tinha a intenção de levar a informação a qualquer pessoa. Essas atividades atraíram minha atenção por serem espontâneas, por serem invenções de convívio que criam situações em que há apropriação do espaço público sem a necessidade de que a arquitetura preveja estes usos. Podem ocorrer em escadarias, em uma praça, em um gramado, em um galpão, e reforçam a conexão entre espaço público e eventos como geradores de vida pública. Tratando de atividades espontâneas, pareceu-me melhor falar sobre o espaço do anfiteatro citando um parágrafo do livro Sutis Substâncias da Arquitetura, no capítulo sobre o Sesc Pompéia:
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1 - vista do conjunto de edifícios do complexo. Ao fundo, o volume novo e, a frente, um dos antigos galpões restaurados. 2 - galpão onde acontecem as aulas de arte e artesanato. Compartimentação a meia altura, para integrar os espaços e manter a fluidez do ambiente. 3- rampas que conectam os dois blocos de edifícios novos. 4 - foto tirada desde o mezanino do salão multiuso, onde as pessoas jogam xadrez e outros jogos. Diversidade de usos e interação entre pessoas. Mobiliário desenhado por Lina.
o “terreno da entrada deste teatro, que é um largo vazio, sem cadeiras, uma ágora, assim como o teatro do MASP, o teatro Gregório de Mattos, o Teatro Oficina seguem o conselho de Le Corbusier: teatro que sai nas praças, que invade a cidade, cadeiras e móveis que saem das casas, [...] – senhor ministro, não mande construir ‘de treteaux’ (estrados) de madeira, aberto ao povo e o povo brasileiro se ocupará, ‘improvisando’, com sua elegância natural e sua inteligência” (OLIVEIRA, 2006, pág. 208). A cafeteria, na frente do galpão da biblioteca, é um local sempre repleto de pessoas e, por estar logo após a única entrada do lugar e por ser um lugar aberto, parece criar, junto com a rua, um lugar que recebe o usuário que acaba de chegar. O galpão destinado a oficinas de artesanato e serviços de odontologia estava completamente vazio, porque não havia aulas naquele dia. O local aparenta ser muito movimentado durante a semana. É compartimentado, por paredes de blocos aparentes, em salas para classes de cerâmica, tecelagem, marcenaria, entre outros. O deck de madeira é o local que convida o usuário ao estar por estar, ao sentar para conversar, para ver o movimento, para se tomar sol, preferencialmente
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1 - cafeteria localizada logo na entrada. É também o local de chegada e recepção. 2 - rua de paralelepípedo que articula o conjunto e sua faixa regular, por onde as pessoas preferem caminhar. 3- rampa de descida da água que cai da ‘gárgula’ de concreto. Seu desenho instiga a vontade de atividades recreativas com a água. 4 - instalação, na quadra do ginásio poliesportivo, de equipamentos e brinquedos como as mesas de tênis de mesa. Atividade organizada pela “Virada Esportiva”. 5 - mobiliário desenhado por Lina. Poltronas permitem diferentes arranjos. 6 - apresentação musical no solarium do complexo.
nas cadeiras e espreguiçadeiras de plástico, ali existentes; e também convida para assistir apresentações esporádicas, como ocorria hoje durante minha visita. Havia uma banda de senhores tocando música e bastante gente sentada e em pé assistindo. O edifício dos esportes e salas estava ocupado por crianças, adolescentes e pais com filhos. Era um dia peculiar, porque ocorria ali o evento cultural “Virada Esportiva”, organizada pela Prefeitura de São Paulo. Creio que, durante a semana, enquanto todas as atividades comuns do edifício acontecem, há uma melhor mescla de gênero e idades. Nos locais onde estão as quadras poliesportivas, atividades recreativas para crianças foram instaladas para a “Virada Esportiva”. Muitas me pareceram muito interessantes como atividades que convidam o usuário a utilizar o espaço, como cama elástica, mesas de tênis de mesa, campinhos com gols, cestinhas de basquete e pista de patinação. No espaço geral, há pessoas de todas as idades. Muitos senhores, jovens, crianças, adultos com filhos. Há uma grande mescla de gerações. Com esta diversidade tão grande de atividades, que ocorrem em diversos horários e locais dentro do conjunto de edifícios, dificilmente este espaço público não estará ocupado e muito bem usado na maior parte do período em que está aberto. Certamente, Lina conseguiu manter em seu projeto a carga vital deste espaço que é destinado ao lazer.
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Uso do espaço público à noite. 1 - Monjuic, Barcelona, Espanha. Escadaria do museu localizado em Monjuic. Pessoas nela sentadas ouvindo
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um artista tocar violão. 2 - Festival de música Green Sunset no Museu da Imagem e Som (MIS), 2011. ao fundo, tenda para mesa de som montada e pessoas reunidas em torno dela. As luzes pontuais em esculturas e na fachada criavam uma atmosfera agradável e diferente no local. 3- festa na Plaza del Rey, Barcelona, Espanha. Coral montado nas escadarias da praça. A iluminação focada em pontos específicos da fachada do edifício criam uma atmosfera agrádavel ao ambiente. 4 - idem 2. Apesar de adjacente ao MIS, o espaço externo do MuBE, desta vez, não foi incorporado à festa. Serviu
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apenas como pano de fundo. 5 - MASP, São Paulo. Tela de projeção para filmes montada para a Mostra Internacional de Cinema de 2011. 6 - idem 2. Grades metálicas que separam os ambientes externos no MIS e MuBE, o que representou uma grande perda de qualidade de apropriação do espaço público neste festival, já que em outros anos, ambos os espaços foram utilizados.
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Uso lúdico do espaço público. 1 - SESC Santo André. Salão principal em que se situam diversas atividades, como internet, biblioteca, cafeteria, restaurante e este grande espaço reservado para exposições temporárias, quase sempre destinadas às crianças. Criam uma atmosfera lúdica no ambiente. As rampas, que vencem o desnível do salão, ajudam a distribuir pelo salão os
diferentes usos.
2 - SESC Santo André. Salão de shows sendo usado temporariamente como ludoteca. 3- Praça em Figuères, Espanha. Instalação permanente em um praça na cidade em que viveu o artista Salvador Dalí, razão pela qual o seu rosto é o desenhado. 4 - quadra esportiva aberta em meio ao denso bairro do Raval, Barcelona. Repleta de jovens e adolescentes em diversos horários do dia. 5 - Estação de metrô Tamanduateí, São Paulo. Exemplo de pianos que foram instalados em algumas estações. Alta frequência de uso. 6 - exemplo de recuperação do interior de quadra do bairro do Eixample, Barcelona. Muito utilizada por pais e crianças nos horários após escola, pela presença do parquinho recreativo.
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Usos do espaço público para feiras, festivais e festas. 1 - 3 - Praça da Liberdade. São Paulo. Feira que
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acontece no espaço amplo da praça atrai diversos tipos de pessoas, desde compradores a turistas, que vem visitar o tradicional bairro oriental da cidade. 2 - idem 1. Moradores do bairro tricotando em um dos bancos da praça. É um exemplo de convite à vida pública ocasionadoo pela vasta gama de atividades da praça. 4 - idem 1. Movimentados bares que se localizam no entorno da praça, agregando vida ao local. As tradicionais luminárias do bairro reforçam sua identidade e como também a da praça. 5 - Berlim, Alemanha. Ao fundo, movimentada
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feira local de comércio em geral e culinária. À frente, pequena quadra sendo usada por crianças. 6 - idem 5. Uso do gramado como local de descanso.
Usos do espaço público para feiras, festivais e festas. 1 - Festa de Gracia, Barcelona, Espanha. Festa anual em que os moradores decoram as principais rua do bairro. 2 - feira instalada aos sábados na praça Benedito Calixto, São Paulo. Atrai muita gente que procura objetos antigos, roupas, jóias e livros usados. 3- feira semanal que acontece no vão livre do MASP, São Paulo, todos os domingo do mês. A feira se amplia para a larga calçada em frente ao parque Trianon, situado na face oposta da avenida Paulista. A cobertura oferece sombra e há bancos, sempre repletos de pessoas, que rodeiam o espaço. 4 - feira instalada aos sábados na praça Benedito Calixto, São Paulo. Fluxo intenso de carros de pessoas que se dirigem à praça. 5 - Feira de culinária em uma das principais praças de Praga, República Tcheca. 6 - feira instalada aos sábados na praça Benedito Calixto, São Paulo. Galerias e lojas que surgem no entorno de praça atraídas pelo intenso fluxo de compradores. Na outra face da praça, há alguns bares movimentados. É muito rica a diversidade de usos consequentes da feira semanal.
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Formas de apropriação do espaço público. 1 - 2 - Plaza del Angels e MACBA, Barcelona, Espanha. Praça em frente ao Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. Extraordinário espaço aberto, como
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uma “clareira”, em meio ao denso bairro do Raval. Frequentada por jovens e skatistas, que aproveitam o amplo espaço ao ar livre e o desenho da praça, que possibilitam manobras de skate e patins. 3- Passeio marítimo em Barceloneta, Barcelona. Escadaria que se funde ao desnível do local. Além da boa estética, se torna assento para alguém que queira contemplar a paisagem ou apenas descansar. 4 - Galeria Tacheles, Berlim, Alemanha. Edíficio que foi bombardeado na Segunda Guerra Mundial e que agora é ocupado por artistas. Pátio interno do edifício. Presença de bares e bancos improvisados. Há
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também uma discoteca no térreo. 5 - Praça no bairro Gótico, Barcelona, Espanha. Uso do aço cortén para contenção da terra e plantio de árvores. 6 - Praça em Budapeste, Hungria. Muitos jovens sentados no deck de madeira, por todo o dia, conversando e bebendo cerveja.
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Formas de apropriação do espaço público. 1 - Galeria Tacheles, Berlim, Alemanha. Edíficio que foi bombardeado na Segunda Guerra Mundial e que agora é ocupado por artistas. Pátio interno do edifício. Instalações e lojas de escultores. 2 - idem 1. Exemplo de atelier de artista instalado em um dos pavimentos. 3- escadaria do pátio mais isolado do Palau de la Música Catalana, Barcelona, Espanha. Possibilidade de uso como arquibancada. Uso da praça para instalação de mesas da cafeteria. 4 - Rambla del Mar, Barcelona, Espanha. Passeio em torno da parte comercial do porto da cidade. Esta Rambla possui um deck de madeira que está, em qualquer horário do dia, repleto de gente que para ali se dirige para tomar sol, ver navios, ler livros, etc. É muito agrável a proximidade com a água.
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
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Projeto The High Line, arquitetos Diller Scofidio + Renfro, Nova York, EUA, 2008.
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1 - espaço usado com mirante. Confortáveis bancos em madeira potencializam este uso. 2 - pavimento e banco são modulados. Bancos funcionam como extensão do piso em concreto. Interessante como a água “brota” do chão e se relaciona com os bancos. 3- espreguiçadeiras em madeira. 4 - mobiliários multiuso - uma mesmo desenho serve
como
arquibancada,
rampa
e
chão.
Arquibancada que assiste a dinâmica da cidade. 5 - piso em módulos de concreto que se afunilam para se misturar com o piso brando e a vegetação.
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6 - vegetação bem cuidada que ajuda a criar a sensação de um local à parte do caos da cidade.
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1 - 3 - Jardins D’Eole, arquiteto Michel Corajoud, Paris, França, 2007. Contenção do talude feito por bancos em concreto. O talude se configura como uma arquibancada que olha o movimento da praça. Árvores que se misturam às contenções e forncem sombra a quem está ali sentado. 2 - Praça Leon Aucoc, arquitetos Lacaton e Vassal, Bordeaux, França, 1996. Exemplo de projeto em que as intervenções foram mínimas, como adicionar bancos, lixeiras, etc. Neste caso, se o arquiteto optasse por um projeto ousado, o local poderia perder sua essência de paz e serenidade. 4 - Jardins D’Eole, arquiteto Michel Corajoud, Paris, França, 2007. Extensos bancos em madeira com encontos estratégicos. 5 - guarda-corpo metálico fechado com alambrado.
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1 - 2 - Jardim Botânico de Barcelona, arquiteto Carlos
Ferrater
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paisagista
Bet
Figueras,
Espanha, 1989. Projeto com muitos desníveis que são contidos por estruturas em aço cortén. Este material se mistura muito bem aos outros elementos da paisagem. 3 - 4 - Rhone Rivers Banks, escritório In Situ, Lyon,
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França, 2008. Projeto a beira do rio da cidade, sua arquibancada olha para a paisagem e também para o raso espelho d´água onde crianças e adultos se colocam para brincar e se refrescar. 5 - Las Llamas Park, arquitetos Batlle i Roig Arquitectes, Santander, Espanha, 2007. Escadaria e gramado se mesclam. 6 - La Marina Park, arquitetos Batlle i Roig, Viladecans, Espanha, 2009. Arquibancada em
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madeira e palco ao centro para apresentações ao ar livre.
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1 - 2 - TKTS Booth & Father Duffy Square, autores Choi Ropiha, Perkins Eastman, PKSB Architects, New York, EUA, 2008. Arquibancada com loja para venda de tickets no nível da avenida substituiu o antigo quiosque de tickets, que atrapalhava o intenso fluxo de pedestres no local. A arquibancada convida o pedestre a olhar para o movimento e para as iluminadas fachadas da avenida. 3- Place au Changement, autor Collectif Etc, Saint Etienne, France, 2011-2012. Instalação em que foi montada em planta e corte uma casa ao ar livre. Pedestres podem adentrar a casa e brincar com seus mobiliário. 4 - Proposta para intervenção em espaços públicos lançada no Bicentenário de Santiago, Chile, Diller Scofidio. Seria montada uma tenda ao ar livre e haveria projeções em seu teto, que seriam vistas pelas pessoas que descansam nas poltronas infláveis colocadas dentro dela. 5 - 6 - Millenium Park, Chicago, EUA. Uma das principais atrações deste parque é sua relação com a água.
PRIMEIROS ESTUDOS DE INTERVENÇÃO
TENTATIVA DE INTERVENÇÃO NO METRÔ SÃO BENTO E ARREDORES O local escolhido para o projeto de espaço público é o centro antigo do município de São Paulo. A escolha se deve pelo fato de, além de ser o local central da cidade e dotada de ampla infra-estrutura e bem atendida pelo transporte público, o local possui inúmeras possibilidades de intervenção. Há muitos resíduos urbanos e edifícios desocupados com grande potencial de ocupação e apropriação. É um local de grande fluxo de pessoas, diversidade de usos e tipos de usuários, possui comércio, serviços e habitação e é alvo de projetos que visam à ocupação destes espaços ociosos que não cumprem a função social da propriedade definida pelo Estatuto da Cidade. Após diversas visitas ao centro da cidade para a escolha dos locais passíveis de intervenção, e a constatação das limitadas dimensões dos espaços residuais observados, outra diretriz projetual adotada foi a opção pelo projeto de uma rede de pequenos espaços públicos próximos entre si. Cada um possuirá um tipo de atividade predominante ou sugerida que será a centralidade e protagonista de cada espaço e, juntos, possuem atividades que se complementam. A primeira proposta de projeto foi desenvolvida na estação de metrô São Bento e seus arredores. Esta escolha se explica pelo amplo potencial de comunicação de distintos espaços em diferentes níveis que possui. Há cinco acessos à estação: um no Largo São Bento, um no Vale do Anhangabaú, um
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na Rua Boa Vista, um na Ladeira Porto Geral e o último na Rua São Bento. Esta estação comunica movimentados locais históricos e conecta diferentes cotas, marcadas pelo desnível, logo também possui potencial para articular este eixo de espaços públicos que se espalham por seus arredores. Foi feita uma proposta inicial de projeto de espaço público. Não chegou a ser melhor desenvolvida, porém foi neste momento em que a problematização do tipo de intervenção e qual seria seu programa começou a ser desenvolvido.
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LEITURA DA ÁREA
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1-fotos:eixo visual entre o rua Líbero Badaró e o Teatro Municipal. Croqui: proposta de transformação do talude com vegetação em um parquinho formado por plataformas conectadas por escorregadores, que vencem o desnível de 7.5 metros entre os dois acessos. 2 - foto: fachada do sobrado azul desocupado. O térreo é atualmente usado como estacionamento e o pavimento em laranja tem uso desconhecido. A fachada oposta do edifício está na rua São Bento. Croqui: Texto subiria pela fachada do edifício, como alguma poesia que fale da cidade de São Paulo, para fazer com que as pessoas percebam que algo acontece ali e que o lugar faz parte do programa de espaços públicos. O térreo aberto convida o pedestre a adentrar no local. Nos outros pavimentos, haverá mesas e cadeiras para estudos e leitura, estantes com livros usados, sofás. Seria um reduto de paz no meio da cidade, aberto a todos. 3-fotos: Empena cega do edifício que limita um dos lados do terreno de intervenção que atualmente é utilizado como estacionamento. Está separado do Largo São Bento pelo fluxo dos carros que se dirigem à rua Líbero Badaró; vista do fosso do metrô aberto no Largo São Bento e vista do ambiente interno do metro em direção ao fosso de abertura no Largo. Croquis: a proposta não pretende realizar grandes alterações na configuração do Largo São Bento. A idéia é captar potencialidades do local e seus pontos críticos, para melhorá-los. Um dos potenciais é a empena cega do edifício. Seria fixada uma tela de projeção retrátil para mostras de filmes e projeções mapeadas. A altura da empena é conveniente, porque, ainda que haja o fluxo de automóveis entre ela e a platéia, este fluxo estaria fora do ângulo visual dos espectadores. No terreno colado à empena haveria jatos de água que, além de criar atividades recreativas com os usuários, poderia gerar efeitos visuais interessantes; vista interna da estação do metro São Bento. Neste nível, há espaços subutilizados e a estratégia seria ativá-los por meio da música. Seriam instalados instrumentos musicais,
que poderiam ser usados por qualquer pessoa; corte do acesso ao metro, no Largo São Bento. Considerandose a atual falta de comunicação entre o nível do Largo e do metro, intensificada pelas estreitas escadas e pelo guarda-corpo opaco, a intervenção seria muito simples: ampliar as escadarias e instalar guarda-corpos de vidro. A escadaria também serviria de arquibancada para espectadores das projeções na empena. 4- foto: edifício na rua Boa Vista que atualmente usa o nível térreo como estacionamento. Os outros edifícios são destinados a atividades relacionadas a bancos, empresas administrativas ou escritórios. Croqui: considerandose a existência do grande número de escritórios e lojas do entorno, seria muito conveniente um local de estar para horários de descanso e almoço, perto do local de trabalho. O nível do térreo e primeiro andar do edifício seriam transformados em um amplo espaço aberto à sombra, em que haveria bancos, mesas, espreguiçadeiras, entre outras coisas, criando um ambiente agradável, para aqueles curtos momentos de ócio. 5- fotos: vista da rua General Carneiro, desde o viaduto Boa Vista. Nota-se um talude, de boa visibilidade, que vence o desnível de, aproximadamente, oito metros entre o Pátio do Colégio e a rua General Carneiro. Nesta rua, há grande fluxo de pessoas atraídas pelo comércio das lojas e camelôs; vista desde o viaduto Boa Vista. Presença de uma plataforma improvisada plana, neste talude, a meio nível. Este platô, por ser de uso da polícia militar, já indica uma boa potencialidade do local, quanto a sua localização privilegiada, de boas visuais e boa visibilidade. Croqui: parte do talude com vegetação seria substituído por empenas para desenhos em grafite, para aproveitar a boa visibilidade do local e o grande fluxo de pessoas na rua. Uma ampla escadaria conectaria os três níveis e, no patamar intermediário, junto aos grafites, haveria áreas para se sentar, descansar, como também para skate e patins. O comércio de camelôs continuaria normalmente ao longo da rua General Carneiro
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VALE DO ANHANGABAÚ - O LOCAL DE INTERVENÇÃO
Após novas visitas ao centro, foram escolhidos outros lotes para a intervenção e que, por possuírem algumas características semelhantes, eram mais interessantes. Localizam-se em torno do eixo do Vale do Anhangabaú. São áreas de passagem entre diferentes pontos importantes da cidade ou ainda entre diferentes tipos de transportes públicos; são conectores de diferentes cotas e ruas; todos estão diante de um patrimônio histórico da cidade; são lotes abertos ao ar livre; são espaços residuais, porém com fluxo intenso de pedestres, o que potencializa seu potencial de apropriação quando houver um projeto de espaço público com qualidade para o mesmo. Ainda que a área de intervenção seja outra, os motivosos pelos quais o centro de São Paulo foi escolhido são os mesmos, bem como a primeira diretriz projetual, que é a opção pelo projeto de uma rede de pequenos espaços públicos próximos entre si, em que cada um possuirá um tipo de atividade predominante ou sugerida que será a centralidade de cada espaço e que, juntos, possuem atividades que se complementam. É importante dizer que, apesar do projeto se localizar em um local que já possui seus amplos espaços públicos consolidados e tradicionais, independente do grau de apropriação e qualidade espacial que neles existam, a intenção do projeto de intervenção não é transformá-los. Trata-se de outro tipo de espaço público, não monumental e nem histórico, que pretende complementá-los, oferecendo outros tipos de usos em uma escala mais próxima a do pedestre. Isto também é aplicável ao Vale do Anhangabaú, eixo pelo qual se conectam
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os espaços públicos projetados. Visto como um amplo espaço público, o que o Anhangabaú se tornou está longe de ser o que o arquiteto que o desenhou, Jorge Wilheim, previu para ele. O concurso lançado em 1981 pretendia resolver o principal problema do local: a falta de funcionalidade e subutilização como espaço público da cidade, uma vez que não funcionava como ponto de encontros, ainda que fosse um local central na cidade. O projeto vencedor, do arquiteto Jorge Wilheim, previa o rebaixamento da Avenida Prestes Maia em pouco mais de dez metros e o espaço público estaria sobre esta laje. Pela análise dos croquis do concurso, o arquiteto também previa para este espaço atividades como apresentações ao ar livre, zonas de comércio, feiras, entre outros, porém nada disso de fato acontece. Uma possibilidade para o fracasso deste projeto é a sua própria escala, tão longe de ser proporcional a escala do usuário, o que não torna este espaço convidativo ao uso. Segundo Angelo Bucci, “o projeto não soube lidar com o conflito pedestre/automóveis e o Vale acabou se tornando um espaço de desinteresse para as diversas funções realizadas na cidade” (BUCCI, 1998). Coincidentemente, o arquiteto também previa usos para dois dos terrenos escolhidos para a intervenção, que são a estação do metrô São Bento e uma grande área de passagem na frente da Ladeira da Memória. Jorge Wilheim os via como os fechos do Vale do Anhangabaú, seus dois pontos limites. O terreno de intervenção situado na Estação São Bento se desdobra em dois espaços menores que se conectam pelos acessos ao metrô. Um está no acesso ao metrô
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pela cota do Vale do Anhangabaú, logo abaixo do Viaduto Santa Efigênia, e o outro se localiza na cota do Largo São Bento, em um terreno usado como estacionamento no lado oposto ao mosteiro São Bento. Já o lote em frente à Ladeira da Memória é usado como local de passagem para os pedestres que percorrem o trajeto Terminal Bandeira – Metrô Anhangabaú – ponto final de ônibus na Rua Coronel Xavier de Toledo. Percorre de um lado a outro de quadra e é o maior dos lotes. O outro terreno, que ainda não foi citado, é o da escadaria localizado entre a Rua Libero Badaró e o Vale do Anhangabaú, logo a frente do edifício Sampaio Moreira. Emoldurado por dois edifícios muito altos, o lote não pode ser edificado para manter o eixo visual entre o Teatro Municipal e o edifício Sampaio Moreira, considerado, entre 1924 e 1929, o maior arranha-céu da cidade. Também é importante citar um amplo projeto que está sendo construído no Vale do Anhangabaú. É a Praça das Artes, desenhado pelo escritório Brasil Arquitetura. Será o edifício anexo ao Teatro Municipal e o programa abrange Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, Corais Lírico e Paulistano, Balé da Cidade, Escolas de Música e de Dança, Centro de Documentação Artística, Museu do Teatro Municipal, Administração, Salas de Recitais, além de áreas de convivência e estacionamento. Se localiza em um miolo de quadra entre a Rua Formosa, Rua Conselheiro Crispiniano, Avenida São João, e o Teatro Municipal e terá três diferentes acessos. Possui um grande potencial de tornar o Vale do Anhangabaú um espaço público com mais vida.
72 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NO VALE DO ANHANGABAÚ - CONCURSO VENCEDOR 1981
O PROJETO DOS TRÊS ESPAÇOS PÚBLICOS AO AR LIVRE
O PROJETO Foram projetados espaços públicos ao ar livre em cada um dos lotes escolhidos. Após a análise de diferentes tipos de espaços que poderiam ser criados e a reflexão sobre se deveriam ou não estar conectados a equipamentos urbanos, optou-se pelo tipo de projeto que, a meu ver, seria o tipo mais “puro” de espaço público, o da praça, em que alguns tipos de usos são sugeridos com a intenção de responder a uma demanda local, porém que não se vincula a outro espaço físico, público ou privado. Dessa forma, como já foi dito, as praças possuem programas complementares. Por se tratar de um local em que há intenso fluxo de pedestres, sejam eles trabalhadores do comércio e serviços, moradores, turistas, compradores ou outros tipos de pedestres que estão de passagem, existe a demanda de locais para descanso, locais para se sentar à sombra, para descanso nos momentos pós almoço, descanso da tarde, descanso do peso das compras, breves momentos de descansar as pernas por andar pelo centro da cidade tirando fotos, momentos de conversa, enfim, pelas visitas, foi constatada esta demanda, ainda que haja outros espaços públicos no local. Estes espaços de sentar e relaxar foram desenhados em todas as praças. Além disso, cada uma possui outro uso sugerido, que será melhor explicado posteriormente:
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A praça da Ladeira da Memória será um local para práticas esportivas. A praça do Sampaio Moreira será uma arena para apresentações ao ar livre, como teatros de rua, e terá uma empena para projeção de cinema à noite. A praça São Bento, nível do Vale do Anhangabaú, será um local contemplativo, por possuir um dos melhores visuais do Vale. A praça São Bento, nível do Largo São Bento, terá um feira semanal, que poderá ser de comércio ou culinária, e haverá, em seu nível mais alto, uma cafeteria. A linguagem visual e construtiva, apesar dos diferentes programas, daria coesão a este todo, de modo que um usuário saberia que se trata de um projeto único de espaços públicos fragmentados, cujo propósito seria sempre o de criar situações que promovam e convidem à vida pública. Quando se olha imagens do centro da cidade, um elemento que sempre se sobressai são os diferentes desenhos de pavimentação dos espaços. Isso ocorre principalmente no Viaduto Santo Efigênia, na Avenida São João, no Largo São
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Bento e no Vale do Anhangabaú. Há também os azulejos azuis e brancos da Ladeira da Memória. Para dialogar com estes desenhos, em todas as praças há uma marquise, transitável ou não, que também possui um desenho modulado. São módulos que variam entre vedação em concreto cinza, grama, flores/arbustos e pergolados fechados com vidro, que conferem uma mesma linguagem ao projeto como um todo. Os projetos estão estruturados em módulos de 1,20 metros, para o eixo estrutural, guarda-corpo, corrimão, pavimentos e dimensões dos espaços. A estrutura será predominantemente metálica com lajes steel deck.
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SITUAÇÃO: VALE DO ANHANGABAÚ E TERRENOS
TERRENOS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS PROJETADOS 1- PRAÇA DA LADEIRA DA MEMÓRIA 2- PRAÇA SAMPAIO MOREIRA 3- PRAÇAS SÃO BENTO
PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS A ELES RELACIONADOS
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4- LADEIRA DA MEMÓRIA
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2- PRAÇA SAMPAIO MOREIRA 5- TEATRO MUNICIPAL
TRANSPORTES PÚBLICOS QUE INTERFEREM NO FLUXO DE PEDESTRES 9 - ESTAÇÃO DE METRÔ ANHANGABAÚ
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9
10- PONTO FINAL DE ÔNIBUS NA RUA CORONEL XAVIER DE TOLEDO 11- ESTAÇÃO DE METRÔ SÃO BENTO E SEUS ACESSOS
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FLUXO PRINCIPAL DE PEDESTRES NO ENTORNO EDIFÍCIOS DE INTERESSE NO VALE DO ANHANGABAÚ 12- ANTIGOS PALACETES DO CONDE DE PRATES. HOJE FORAM SUBSTITUÍDOS POR DUAS TORRES DE APROXIMADAMENTE CEM METROS DE ALTURA 13- PRAÇA DAS ARTES. EDIFÍCIO ANEXO AO TEATRO MUNICIPAL. 14- EDIFÍCIO DOS CORREIOS
LEITURA DO VALE DO ANHANGABAÚ E ENTORNO
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7-MOSTEIRO SÃO BENTO
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6- EDÍCIO SAMPAIO MOREIRA 3- PRAÇAS SÃO BENTO
8 - TERMINAL BANDEIRA E UMA DAS SUAS SAÍDAS PRINCIPAIS
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1- PRAÇA DA LADEIRA DA MEMÓRIA
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LEITURA DA ÁREA
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SITUAÇÃO V
LARGO DA MEMÓRIA. PROJETO DE VICTOR DUBUGRAS, INAUGURADO EM 1921. DATA: DÉCADA DE 1920.
VALE DO ANHANGABAÚ, VIADUTO DO CHÁ E EDIFÍCIO BRASILAR AO FUNDO (EDIFÍCIO LIMÍTROFE DO TERRENO). DATA: DÉCADA DE 1950.
PRAÇA LADEIRA DA MEMÓRIA Rodeada por três edifícios, o Brasilar, muito alto, ocupado com serviços; e outros dois menores, residenciais, esta praça possui três acessos e ocupa o miolo da quadra. Este espaço, atualmente usado como área de passagem, foi o antigo canteiro de obras do metrô para a construção da estação Anhangabaú. Surgiu por meio de desapropriações e se tornou um vazio logo após o término do projeto. Possui aproximadamente 3.500m2 e, por ser a maior de todas, permitiu que houvesse um programa mais amplo. Compõem-se por uma quadra de basquete, que também pode ser usada com pista de patinação, bicicletas, skate, entre outras atividades; locais em que há jatos de água; vestiários; cafeteria; depósito de artigos esportivos; parede de escalada e um jardim mais intimista e resguardado das outras atividades. Sua marquise, além de sombrear partes da praça, ajuda a organizar a distribuição do programa. É transitável e sua cobertura pode ser vista tanto por um pedestre que venha descendo a Ladeira da Memória, quanto por alguém que venha descendo a rampa desde o Terminal Bandeira.
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1 - rua de pedestres entre o terreno escolhido que está à direita e a Ladeira da Memória, á esquerda. Ao fundo, acesso a uma das passarelas que levam até o Terminal Bandeira. 2 - mesma rua de pedestres, porém ao fundo está a rua Coronel Xavier de Toledo. O terreno está à esquerda e a Ladeira, à direita, junto a um dos acesso ao metrô Anhangabaú. 3- acesso ao terreno desde a rua de pedestres. Ladeira da Memória à direita. Dois dos edificios que fazem limite com o lote. 4 - mesmo acesso. No plano intermediário, a torre de ventilação do metrô. Ao fundo, a outra passarela que leva ao Terminal Bandeira. Edificio Brasilar à esquerda, o terceiro edifício limite. 5 - acesso ao terreno pela avenida Nove de julho. Terminal bandeira ao fundo. 6 - vista do terreno por alguém que vem desde a passarela do Terminal. Ladeira da Memória ao fundo.
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LADEIRA DA MEMÓRIA
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SITUAÇÃO
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TERMINAL BANDEIRA
CORTE AA
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IMPLANTAÇÃO 0
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CORTE BB
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1-VESTIÁRIOS 2-CAFETERIA 3-JARDIM REDUTO DE SILÊNCIO 4-QUADRA ESPORTIVA 5-JATOS DE ÁGUA PARA BRINCADEIRAS 6-TORRE DE VENTILAÇÃO DO METRÔ 7-DEPÓSITO DE EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS 8-MURO PARA ESCALADA
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PLANTA NÍVEL TÉRREO
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CORTE CC
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CORTE DD
VISTA DO PARQUE ANHANGABAÚ E TEATRO MUNICIPAL DESDE UM DOS PALACETES DO CONDE PRATES. DATA: DÉCADA DE 1920.
VISTA DOS PALACETES DO CONDE PRATES ANTES E DEPOIS DO CONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO SAMPAIO MOREIRA, EM 1924. DATA: DÉCADA DE 1920.
PRAÇA SAMPAIO MOREIRA O maior desafio deste lote de aproximadamente 900m2 foi vencer o desnível de 7,5m que há entre a Rua Líbero Badaró e o Vale do Anhangabaú. A solução adotada foi de criar duas escadas, uma que sai da Libero Badaró e olha para o Teatro Municipal, e outra que parte de uma plataforma em U que se alonga até o Vale, ao nível da Rua libero Badaró. Esta segunda escadaria olha para o Sampaio Moreira. Com essa composição, essas plataformas estendem o nível 7,5m até o Vale, brincando com essa mistura de níveis e, ao mesmo tempo, delimita o espaço da praça para torná-la acolhedora e, principalmente, possibilitar seu formato de arena, em que todas as escadarias são também arquibancadas e são voltadas para um mesmo ponto, o palco, que está a 1,36m acima do vale do Anhangabaú, onde poderá haver apresentações, teatro, jogos e a projeção de cinema à noite. Esta plataforma abriga dois banheiros públicos, um em cada cota principal, uma sala para depósito de cenários e coxia para possíveis apresentações, e um depósito para equipamentos de projeção. Seu desenho de pavimentação das plataformas segue o modulado das outras praças, composta por concreto, grama, flores/arbustos e pergolados com vidros, estes últimos localizados estrategicamente nos locais menos iluminados e acima de ambiente fechados, oferecendo iluminação zenital.
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1 - escadaria que conecta o Vale do Anhnagabaú com a rua Líbero Badaró. Desnível de 7.5 metros. À esquerda, o talude com vegetação, que se estende até o limite do terreno. À direita, a empena de um dos edifícios limítrofe. 2 - vista desde o terreno para o Vale do Anhangabaú. Intenso fluxo de pessoas. À direita, gradis que cercam o talude do terreno. 3- escadaria do terreno e talude. Vista desde a rua Líbero badaró em direção ao Vale. 4 - Duas torres limítrofes do terreno e o edifício Sampaio Moreira ao fundo. Assim como antes os palacetes do conde Plates emolduravam o Sampaio Moreira, as torres que os substituíram mantiveram esse visual. Vista desde o Teatro Municipal.
5 -
Vista desde a rua Líbero Badaró para o Teatro Minicipal. Este terreno não pode ser edificado para que se mantivesse livre este eixo visual entre o Teatro Municipal e o Sampaio Moreira.
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TEATRO MUNICIPAL
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EDIF. SAMPAIO MOREIRA
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PRAÇA RAMOS DE AZEVEDO
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SITUAÇÃO
PRAÇA DO PATRIARCA
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CORTE GERAL AA
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IMPLANTAÇÃO
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CORTE DD
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1-BANHEIRO MASCULINO 2-BANHEIRO FEMININO 3-SALA DEAPOIO PARA APRESENTAÇÕES 4-DEPÓSITO PARA EQUIPAMENTOS DE PROJEÇÃO
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PLANTA NÍVEL 7.48 CORTE AA
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PLANTA NÍVEL 1.36 CORTE BB
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PLANTA NÍVEL 0.0 CORTE CC
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À ESQUERDA: VIADUTO SANTA EFIGÊNIA E IGREJA SANTA EFIGÊNIA AO FUNDO. EM PRIMEIRO PLANO, A ENTÃO EXISTENTE RUA ANHANGABAÚ. DATA: DÉCADA DE 1920. À DIREITA SUPERIOR: LARGO SÃO BENTO COM EDIFÍCIO DA COMPANHIA PAULISTA À ESQUERDA, VIADUTO SANTA EFIGÊNIA E MOSTEIRO SÃO BENTO À ESQUERDA. DATA: DÉCADA DE 1920. À DIREITA INFERIOR: VIADUTO SANTA EFIGÊNIA E MOSTEIRO SÃO BENTO AO FUNDO. DATA: DÉCADA DE 1920.
PRAÇAS SÃO BENTO
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LARGO SÃO BENTO
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SITUAÇÃO PRAÇAS SÃO BENTO OA
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MOSTEIRO SÃO BENTO
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PRAÇA SÃO BENTO - NÍVEL LARGO SÃO BENTO Este lote, de aproximadamente 600m2, se localiza em uma área de intenso fluxo de pedestres e onde há muito comércio, seja legal ou ilegal, por lojas e comerciantes ambulantes. Atualmente é um estacionamento fechado por gradis. Está envolto em seus três lados pelas ruas São Bento, Boa Vista e Libero Badaró, de tráfego intenso, e seu outro lado é fechado por uma empena cega, com aproximadamente 25 metros de altura, em que se localiza o enorme painel com tratamento visual do artista Maurício de Nogueira Lima. Por estas características, o desenho de praça mais adequado seria o que permite manter e incentivar esse comércio que já existe no local, porém sem bloquear a passagem, logo o projeto consiste na sobreposição de lajes encrustadas à empena e que possuem algumas pequenas varandas sobressalentes com bancos para descanso de pessoas ou grupos e que, em seu nível mais alto, existe uma cafeteria. A posição destas lajes permite, além de mostrar visuais do mosteiro, Viaduto Santa Efigênia e Vale do Anhangabaú, que ali se estabeleça semanalmente uma feira vertical de comércio, o que levaria ainda vida para este espaço. Uma das lajes se sobressai projetando-se para o interior do lote, oferecendo uma maior área de sombra. Possui o mesmo padrão modular das outras marquises já descritas e é transitável. Sua estrutura será metálica, assim como suas escadas. Em seu térreo, haverá dois acessos por escadas e outro por elevador, que chegará até a cafeteria. Em seu piso intertravado, haverá dispersão de água, mas não em jatos, e sim água que “brota” do piso, para refrescar o lugar, como imagem exemplo do Highline, em Nova York, do escritório Diller Scofidio. Haverá bancos que acompanha este pavimento, outro banco ao sol e o restante será área livre para circulação.
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1 - vista da empena de aproximadamente 25 metros de altura com o painél do artista Maurício Nogueira Lima. À esquerda, o tradicional café Girondino e a entrada da rua São Bento. 2 - vista desde a rua Líbero Badaró para o terreno. Intenso fluxo de pedestres e automóveis. O terreno é usado como estacionamento e é fechado por gradis. 3- perspectiva da empena desde a rua Líbero Badaró. 4 - vista desde a rua Líbero Badaró. No plano intermediário, está o terreno e, ao fundo, o Mosteiro São Bento. Entre eles, o Largo São Bento.
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CORTE GERAL CC
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CORTE AA
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5
IMPLANTAÇÃO
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CORTE BB
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5
PLANTA NÍVEL 0.0
1-CAFETERIA 2-ESPAÇOS PENSADOS PARA LOCALIZAÇÃO DAS BARRACAS DA FEIRA SEMANAL 3-PISO ONDE BROTA ÁGUA DO CHÃO PARA REFRESCAR O LOCAL
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PLANTA NÍVEL 3.24 PLANTA NÍVEL 7.74
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PLANTA NÍVEL 10.80 PLANTA NÍVEL 15.44
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CORTE CC
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PLANTA NÍVEL 18.72
PRAÇA SÃO BENTO - NÍVEL VALE DO ANHANGABAÚ Em sua situação atual, este lote de aproximadamente 1.300m2 possui um talude gramado, árvores e uma caixa d’agua em forma de gato amarelo, e está fechada por gradis, por pertencer ao metrô. Esta praça possui um dos visuais mais bonitos do vale, por estar logo abaixo de um dos arcos do Viaduto Santa Efigênia. Por essa razão, e também por já ser um local agradável, é um tipo de projeto que exige o mínimo de intervenção, porque se pretende manter o que ali existe e apenas adequá-lo para que pessoas possam ali permanecer para relaxar e admirar o visual do entorno. Este talude em grama será estendido até abaixo do viaduto e coberto por árvores, arbustos e flores. Terá uma altura suficientemente baixa para que ninguém possa subir no muro limite do metrô, dessa forma, o gradil poderá ser retirado. Esse talude será escalonado em platôs, com contenção feita por pedras, que também servem como bancos. Quando houver necessidade de abertura neste talude, como o acesso à porta para entrada de combustível do metrô ou ainda espaços planos para bancos, este talude será interrompido com contenções em aço cortén. Haverá a marquise que sombreia a praça e terá os mesmos módulos até então usados, porém seus pergolados não possuirão vidro, porque a marquise não é transitável. O interessante é que o desenho da cobertura desta marquise pode ser visto por alguém que esteja em cima do viaduto Santo Efigênia ou mesmo nas cotas superiores da estação de metrô. Houve a preocupação de que esta marquise não atrapalhasse os visuais do Vale. Porém, sua altura de cinco metros não a torna uma barreira visual, nem ao nível do pedestre, tampouco no nível de alguém que a veja de longe.
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1 - vista do viaduto Santa Efigênia desde a estação São Bento. O terreno é este talude com grama fechado por gradis. Ao fundo, início da passagem subterrânea da avenida Prestes Maia para automóveis. 2 - acesso à estação de metrô no nível do Vale do Anhangabaú. O gato amarelo é uma caixa d´água, localizada no terreno. 3- vista do terreno. O talude é interrompido por uma rua usada para abastecimento de combustível. À esquerda, espaços residuais usados como estacionamento gerados pela implantação do viaduto. 4 - acesso à estação de metrô no nível do Vale do Anhangabaú. Ao fundo, a estação de metrô São Bento e à esquerda, o terreno. 5- espaço residual usado como estacionamento gerados pela implantação do viaduto. Local está sendo fechado por gradis. 6- em primeiro plano, rampa de acesso à estação e terreno fechado por gradis. No plano intermediário, a estação e, ao fundo, o Mosteiro São Bento.
CORTE GERAL AA
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10
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IMPLANTAÇÃO CORTE HH
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CORTE AA
CORTE BB
CORTE CC
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PLANTA TÉRREO CORTE GG
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CORTE DD
CORTE EE
CORTE FF
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Materiais usados no projeto: 1 - blocos de concreto pigmentado vermelho de 20x10cm. Usado em locais em que há a
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necessidade do piso ser antiderrapante ou em locais onde se quer realçar um piso diferente. 2 - chapa perfurada em aço galvanizado. Usada caixilhos externos das cafeterias. Quando estes caixilhos estiverem levantados, servirão como brises. 3- aço corten. Usado para contenção de talude. 4 - pintura acrílica na cor marrom avermelhado. Usada para pintura das vigas e pilares metálicas em H, corrimão e guarda-corpo. 5- concreto branco. Usado no mobiliário, como
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bancos e contenções usadas como bancos. 6- concreto normal. Usado nas lajes stell deck, contrapiso e pavimentações em geral, onde não seja usado o concreto vermelho.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto final deste trabalho procurou contemplar as mais significativas referências projetuais levantadas em sua primeira etapa, em que foram estudados diversos tipos de espaços públicos e suas principais características de arquitetura e programa que os fazem serem considerados como espaços de êxito, quanto à apropriação por parte de seus usuários. Esta atitude projetual visa criar espaços em que, à maneira dos outros que foram estudados, a vida pública urbana e o convívio social possam ser estimulados e intensificados, sempre visando romper com a passividade dos cidadãos em relação ao uso ou abandono dos espaços públicos da cidade.
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BIBLIOGRAFIA BUCCI, A. Anhangabaú, o Chá e a metrópole. São Paulo, 1998. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, FAUUSP. BROTO, Carles. Soluciones creativas en espacios urbanos: Barcelona. Barcelona: Editorial Links, 2011. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Artes de fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 2007. FERNÁNDEZ, Aurora; ARPA, Javier. The Public Chance. Nuevos Paisajes Urbanos. Vitoria – Gasteiz: a+t ediciones, 2008. GEHL, Jan. Cities for people. Washington: Editora Island Press. 2010. GEHL, Jan. La humanización del espacio urbano. La vida social entre los edificios. Barcelona: Editorial Reverté. 2006. GEHL, Jan; GEMZøE, Lars. Novos espaços urbanos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili. 2002. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007. JACQUES, Paola Berenstein (organização). Apologia da deriva. Escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da palavra, 2003. OLIVEIRA, O. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2006. SANTOS, Milton. Técnica espaço tempo – Globalização e meio técnicocientíficoInformacional. São Paulo: Editora Hucitec, 1994. SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. São
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Paulo: Editora Companhia das Letras, 1988. TOLEDO, Benedito Lima de. Anhangabaú. São Paulo: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, 1989. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo, três cidade em um século. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. TRAMONTINO, Vania Silva. O espaço livre na vida cotidiana. Usos e apropriações nos espaços livres na cidade de São Paulo, nas áreas do Terminal Intermodal da Barra Funda e do SESC Fábrica Pompéia. São Paulo, 2011. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, FAUUSP. Revistas FERNÁNDEZ, Aurora; MOZAS, Javier. Strategy Public. Vitoria – Gasteiz: a+t ediciones, n. 35 e 36, 2010. FERNÁNDEZ, Aurora; MOZAS, Javier. Strategy Space. Vitoria – Gasteiz: a+t ediciones, n. 37, 2011. FERNÁNDEZ, Aurora; MOZAS, Javier. Strategy and tatics. Vitoria – Gasteiz: a+t ediciones, n. 38, 2011. MONTANER, Josep; MUXÍ, Zaida, La deriva del espacio público, parte 1, La vanguardia, Barcelona, 2010. Disponível em http://www.vitruvius.com.br/revistas/
read/drops/10.031/3357 Internet www.thefuntheory.com. Acesso em outubro, 2011.
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