AUTOR Filipe Samuel Silva
TÍTULO Como Colocar a Universidade no Centro do Progresso de Portugal
REVISÃO LITERÁRIA Joana Moreira
EDITOR Publindústria, Edições Técnicas, Lda. Praça da Corujeira, n.o 38 4300-144 Porto www.publindustria.pt
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IMPRESSÃO Publidisa Junho 2012
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CDU 37.04 Educação em relação ao educando. Orientação. 378 Ensino superior. Universidades. Ensino superior. 658.3 Gestão. Recursos humanos. ISBN 978-989-723-009-7 ISBN (e-book) 978-989-723-010-3 Família: Economia e Gestão Subfamília: Recursos Humanos e Competências
COMO COLOCAR A UNIVERSIDADE NO CENTRO DO PROGRESSO DE PORTUGAL FILIPE SAMUEL SILVA
«A Universidade tem como missão gerar, difundir e aplicar conhecimento assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos, promovendo a educação superior e contribuindo para a construção de um modelo de sociedade baseado em princípios humanistas, que tenha o saber, a criatividade e a inovação como fatores de crescimento, desenvolvimento sustentável, bem-estar e solidariedade.» In Estatutos da Universidade do Minho
AGRADECIMENTOS
As ideias contidas neste livro foram sendo amadurecidas ao longo de vários anos. Neste processo foram particularmente importantes as várias, e algumas longas, conversas sobre diversas experiências de ensino de criatividade, inovação e empreendedorismo que o Prof. Jaime Ferreira da Silva partilhou comigo, da sua vasta experiência e interesse nesta matéria. Não somente pelos conhecimentos transmitidos mas sobretudo pela nobreza de carácter que coloca no desempenho da tarefa de diretor do Departamento de Engenharia Mecânica, na Universidade do Minho, sabendo sempre colocar os interesses do coletivo acima dos individuais, e procurando motivar e incentivar todos, e em particular os «mais novos» a procurarem a excelência. Esta cultura de carácter foi importante para este livro. A ele a minha imensa e sincera gratidão. Ao Dr. José Augusto Ferreira e Dr.a Marta Catarino, e restante equipa da TecMinho, pela prontidão e apoio na preparação da estrutura de conteúdos com que a TecMinho contribuiu para a proposta contida na parte 2 deste livro, sobretudo no que diz respeito à formação em criatividade, inovação e empreendedorismo. A equipa da TecMinho, com o seu dinamismo e competência, prestou um serviço inestimável a este livro. A eles o meu agradecimento. A vários colegas, aqui incógnitos, mas que em conversas diversas, e sem o saberem, ajudaram-me a estruturar as ideias. Finalmente àqueles que foram e são minha inspiração, e que me fazem acreditar que é possível fazer melhor. Que é possível criar-se uma Universidade onde trabalhar e estudar sejam atividades de grande satisfação, e de onde saiam atores para a criação de um país próspero onde o bem-estar conviva com elevados valores humanos.
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MOTIVAÇÃO
Estamos numa época em que os Portugueses se vão apercebendo da real dimensão em que o país se encontra. A produção de riqueza está muito longe do nível de vida a que nos fomos habituando e que dávamos como adquirido. É triste percebermos que a realidade é bem amarga. Em pouco tempo, cerca de 2 anos, os decréscimos substanciais nos salários, sobretudo na função pública, colocam a nu esta realidade. No setor privado é o desemprego crescente e a constatação por parte das empresas que a competitividade extrema com que se têm que debater torna difícil reverter este declínio com que se vão defrontando praticamente todos os setores da economia. Portugal está numa encruzilhada. Para os portugueses ultrapassarem esta situação é necessário que o país se reinvente. Já não bastam ajustes. Nesta encruzilhada uma coisa é certa – são necessárias mudanças arrojadas. No início de 2011 saiu à rua uma manifestação sui generis que ficou conhecida como a manifestação da «geração à rasca». Esta geração, embora abrangesse mais faixas etárias, ficou conhecida como a manifestação da geração dos jovens atuais – jovens sem emprego e sem futuro. Muitos deles jovens com formação superior nas nossas universidades. Vimos na televisão e nos jornais o assunto sobre a compra dos submarinos que um anterior governo decidiu e cujo processo se encontra ainda sujeito a averiguações pela possível existência de eventuais ilegalidades ou favorecimentos no concurso. Os jornais dizem que uma denúncia do contrato pode provocar o encerramento de «grandes empresas de capital alemão», como a AutoEuropa. No verão de 2010 assistimos aos despedimentos na Qimonda, em Vila do Conde, assim como em outras multinacionais, não obstante a forte aposta no apoio à vinda de multinacionais para Portugal, por parte de vários governos. Na década de noventa, após a entrada de Portugal na comunidade europeia, então CEE, a 1 de janeiro de 1986, assistimos a um grande incentivo ao tecido empresarial, incluindo as pequenas e médias empresas, em Portugal. Mais recentemente, nos últimos anos, os governos de José Sócrates fizeram um substancial investimento na ciência em Portugal, sendo este, de acordo com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, o país europeu em que a despesa em I&D mais cresceu entre 2005 e 2007, passando esta a representar globalmente, e pela primeira vez, 1,2% do PIB nacional. Não obstante este valor ser ainda baixo quando comparado com a média dos restantes países da OCDE, ele representa uma forte aposta em ciência e tecnologia. A verdade é que a perceção que temos hoje, altura em que passamos por este período de dificuldade, é que os próximos anos nos colocam vários desafios com um grau de dificuldade
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elevado. Também nos parece que o tecido empresarial português não se terá renovado ou desenvolvido tanto quanto era esperado face ao grau de competitividade global. Fica-nos a sensação que as grandes multinacionais operam, como é natural, baseadas nas suas lógicas de mão-de-obra barata e consequente deslocalização, e, portanto, nunca nos podem dar muita confiança nem grande bem-estar. Finalmente a aposta na ciência parece ter alguma dificuldade em dar origem a mais-valias que se consigam traduzir em riqueza acrescida para o país. É nesta conjuntura de dificuldade que nasce esta reflexão. Estou convencido que a atual conjuntura será útil ao nascimento de mudanças substanciais em várias áreas da atividade económica, e mesmo social ou cultural. Também na educação existe a necessidade de mudanças substanciais, que potenciem o enorme investimento feito no ensino superior e tirem partido das suas enormes potencialidades. Foram três as principais razões que me levaram a escrever este livro: ¤¤ Acreditar que a Universidade é um tempo e um espaço de grande oportunidade; ¤¤ Acreditar no potencial dos estudantes; ¤¤ Acreditar que o processo de Bolonha pode ser aproveitado como uma grande janela de oportunidade. A Universidade é uma enorme oportunidade de criação. Depois de passar por mais do que uma empresa, e como engenheiro recém-formado, facilmente compreendi que provavelmente em nenhum outro lugar se encontram concentradas tão grande quantidade de informação e tão fácil acesso a qualquer informação existente no planeta; tão grande quantidade de equipamentos e processos; e tão grande quantidade de recursos humanos qualificados. Tanto potencial junto é o equivalente a ter um carro de alta cilindrada à disposição. Todavia para se tirar partido dele é preciso que existam estradas adequadas e que se saiba conduzir apropriadamente. Os estudantes são a maior riqueza de uma Universidade. Porque são os melhores jovens do país. Porque são muitos, porque se renovam constantemente, e porque são de diferentes origens e backgrounds com toda a riqueza que esta diversidade oferece. Finalmente porque estão numa fase da vida em que são possíveis progressos significativos a nível pessoal, em diferentes áreas. O processo de Bolonha veio trazer mudanças substanciais na organização dos cursos universitários que permitem um encaixe perfeito dos conceitos que julgo que devem ser os que devem nortear os cursos nos tempos que correm e num futuro próximo. Entre estas destaco o foco na aprendizagem e não no ensino, um modelo baseado no desenvolvimento de competências, onde se incluem quer as de natureza genérica – instrumentais, interpessoais e sistémicas – quer as de natureza específica associadas à área de formação, e onde a compo-
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nente experimental e de projeto desempenham um papel importante. Todavia esta mudança tem-se ficado, na maior parte dos casos, pela retórica, e muitos poucos casos têm levado à prática modelos baseados na aprendizagem. Muito mudou em teoria mas, na prática, quase tudo ficou na mesma. A junção dos três pontos anteriores e a conjuntura atual, propícia à compreensão de que a inovação é um imperativo, e que a mudança faz parte dos mecanismos de adaptação e de sobrevivência, mas sobretudo de progresso, permitem que acredite que este estudo pode passar do papel à realidade e tornar-se no que espero que seja: uma fonte de inspiração para professores e um espaço de criatividade, divertimento e inovação para os estudantes que dele usufruírem.
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PREÂMBULO
Este livro tem como propósito responder à necessidade crescente de se fazer um upgrade do processo pedagógico das Universidades face às exigências de competitividade global das economias. Neste livro será focado um caso, o caso do curso de Engenharia Mecânica do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Universidade do Minho (UM). Esta opção baseia-se no facto deste estudo procurar ser o mais concreto possível, de tal forma que possam ser entendidos os mecanismos para levar as teorias à prática em detrimento de análises mais abrangentes, mas que correriam o risco de não verem operacionalizados os conceitos subjacentes. Todavia os conceitos e as abordagens subjacentes a esta análise servem para qualquer curso de qualquer universidade, desde que devidamente enquadradas. Em termos simples esta mudança ou upgrade pedagógico deve consubstanciar-se numa alteração de paradigma do «produto» (alunos) do ensino do DEM-UM que deve mudar de «empregado» para «empreendedor». O DEM-UM, à semelhança de muitos outros cursos de outras universidades, utiliza como maior aferidor da qualidade do seu ensino a «taxa de empregabilidade» dos seus ex-alunos. O projeto pedagógico apresentado neste livro implicará que a qualidade do ensino passe a ser aferido mais pelo «valor acrescentado» que os alunos levam para a sociedade em geral e/ou para o tecido empresarial, do que pela simples empregabilidade. A forma de dotar os alunos deste valor acrescentado para a sociedade, passa, de acordo com o autor deste estudo, pela introdução de uma cultura de criatividade, inovação e empreendedorismo, no processo educativo dos alunos. O conceito de cultura deve ser bem entendido. Na realidade existem modelos onde estes conceitos de criatividade, inovação e empreendedorismo são ensinados. Normalmente estes modelos passam por criar UCs - Unidades Curriculares (as antigas disciplinas) sobre estas temáticas que normalmente se ensinam no final dos cursos ou ainda por criar ciclos de estudo específicos sobre esta temática, por exemplo um 2.° ciclo sobre criatividade – inovação – empreendedorismo. Estes modelos não têm a capacidade de criar uma cultura. Por cultura entendemos um ambiente ou substrato a partir da qual se desenrolam todas as atividades e nas quais estas se inspiram. Nestes modelos, importantes sem dúvida alguma, não existem os mecanismos necessários à criação de uma cultura. Estes modelos acabam por assentar na transmissão de conhecimentos sobre as matérias que poderão, mais tarde na vida do ex-aluno, ajudá-lo no entendimento de determinados fenómenos do progresso como seja a importância da criatividade no processo
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de inovação e de criação de riqueza. Mas não são capazes, de per si, de criar um ambiente e cultura assentes na criatividade, inovação e empreendedorismo, do qual os alunos possam tirar partido durante o seu curso universitário, e que os possa ajudar a adquirir um espírito de empreendedores da inovação e do progresso. Esta é a grande mais-valia da presente proposta quando comparada com modelos existentes em algumas universidades. Este estudo é composto por duas partes: uma primeira parte com um carácter de análise face aos tempos atuais e às mudanças que estão a ocorrer no mundo e que são necessárias que ocorram também no ensino universitário português e de engenharia em particular; e uma segunda parte que consiste numa proposta geral de modelo de implementação de novas competências como a criatividade, a inovação e o empreendedorismo, entre outras, que pretende ser possível de ser aplicado no ciclo de estudos do MIEM – Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica da Universidade do Minho. Na primeira parte serão abordados aspetos que se relacionam com a criação, a inovação, a motivação, a empatia, a interdisciplinaridade, o design, e o papel destas no mundo atual. Esta parte consiste numa compilação do que de mais importante, do ponto de vista do autor, tem sido feito em estudos existentes sobre a matéria e disponíveis nas referências que forem sendo referidas ao longo do texto. Servirá apenas para introduzir e validar a segunda parte do estudo. Na segunda parte do estudo será apresentada uma proposta para funcionamento de um ciclo de estudos de engenharia, e em particular de engenharia mecânica. Esta parte consistirá, por isso, na tentativa de operacionalização dos princípios expostos na primeira parte do estudo a uma situação concreta. Os princípios serão expostos de forma geral. Não serão feitas propostas muito detalhadas pois pretende-se deixar espaço à criatividade e inovação de quem pretender operacionalizar os mesmos princípios num ciclo de estudos de um qualquer curso universitário.
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I PARTE – Análise ao ensino da engenharia no meio universitário português 1. O mundo e a engenharia 2. Qual o papel da engenharia? 3. O ensino da engenharia 3.1 O curriculum 3.2 Profundidade versus transversalidade 3.3 As políticas das Universidades e os Professores 3.4 A pedagogia 4. Os desafios para o futuro da engenharia 5. Inovação/Criatividade – O que é? Como implementar? 5.1 Que pedagogias têm demonstrado ser efetivas no ensino da Inovação e Criatividade? 5.2 O ensino baseado em projetos 5.3 O método do Brainstorming 5.4 Outros princípios que estimulam a criatividade e inovação
1 7 16 17 17 18 19 19 22 24 24 27 28
II PARTE – Modelo de implementação de novas competências 6. Princípios e conceitos gerais 7. Operacionalizando os conceitos: ações específicas e recursos 7.1 UCIs – Unidades Curriculares Integradoras 7.2 O ensino por projetos 7.3 Formação em criatividade–inovação–empreendedorismo 7.4 A ligação às empresas 7.5 O Centro de Investigação 7.6 Pré-incubadora ou Flying-Center 7.7 A interdisciplinaridade 7.8 Sentido global – inglês e palestras 7.9 Outras competências para o Engenheiro 8. Resultados esperados 9. Considerações finais 10. Epílogo
31 35 36 36 40 45 46 48 48 49 50 52 57 57
Referências bibliográficas
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Anexo 1 – Plano de estudos do MIEM Anexo 2 – Proposta de funcionamento das UCIs Anexo 3 – Outras iniciativas de apoio ao empreendedorismo
63 65 77
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I PARTE
ANÁLISE AO ENSINO DA ENGENHARIA NO MEIO UNIVERSITÁRIO PORTUGUÊS
1. O mundo e a engenharia O que é que está a acontecer no mundo e o que é que isso tem a ver com a engenharia, com a sua prática, e sobretudo com o seu ensino? Na verdade, estamos a assistir a mudanças substanciais tais como a globalização e o surgimento de países de dimensão arrasadora, no extremo oriente, a entrarem nos mercados tecnológicos alterando drasticamente os equilíbrios em relação à competitividade entre países ocidentais. Por outro lado, temos outros grandes desafios tais como: a possível escassez de recursos energéticos, o aquecimento global e suas possíveis consequências no planeta e na vida humana, e mais recentemente a crise nos mercados económicos que vem acentuar a pobreza das regiões mais pobres e a própria distribuição da riqueza entre as pessoas. Estas, entre outras coisas, têm levado a que se repense o papel da engenharia no mundo atual. Várias instituições [1-5], departamentos universitários [6-11], conferências e simpósios [12-16], e diversos estudos [17-25], têm-se debruçado sobre a tentativa de compreensão de qual deve ser o papel da engenharia no mundo atual. Dentre os vários estudos, Lames Duderstadt [17] no seu documento intitulado «Engineering for a Changing World» enumera alguns aspetos como sendo os mais relevantes no mundo atual. Dentre eles destaco os seguintes: A. A economia do conhecimento
A era em que vivemos é uma das mais drásticas em termos de mudança de paradigmas. Estamos a evoluir rapidamente para uma sociedade pós-industrial baseada essencialmente no conhecimento. Esta mudança é porventura mais radical do que a que ocorreu quando as sociedades agrárias evoluíram para sociedades industriais. Os produtos industriais estão a evoluir de produtos baseados nos materiais e mão de obra intensiva para produtos e serviços baseados em conhecimento. Este novo paradigma, na forma de criação de riqueza, vai depender essencialmente de pessoas com educação acadé-
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COMO COLOCAR A UNIVERSIDADE NO CENTRO DO PROGRESSO DE PORTUGAL
mica e de instituições como as universidades ou laboratórios de pesquisa, de inovação e de empreendedorismo. Conforme enfatiza Duderstadt [17] estamos a entrar numa era de conhecimento na qual o recurso mais estratégico para se obter prosperidade é o conhecimento de pessoas com educação académica, e as suas ideias. E acrescenta que, contrariamente a outros recursos, como os naturais tais como o aço, petróleo, ou outros, responsáveis pela transformação económica noutras eras, o conhecimento é um recurso inesgotável. Quanto mais é usado mais ele se multiplica e expande. Para além da existência deste novo paradigma o outro ponto-chave a reter pelas instituições de ensino é que nesta era de conhecimento só mentes educadas conseguem criar, absorver e aplicar o conhecimento. Por isto é importante que numa economia baseada no conhecimento sejam necessárias adequadas/renovadas formas de educar e de ensinar/ aprender. B. A globalização
A liberalização crescente do comércio internacional, as tecnologias de informação como a internet, ou as formas fáceis de viajar e comunicar, fazem com que o mundo esteja cada vez mais próximo, ou o mesmo será dizer globalizado. O fator mais importante resultante da globalização é a crescente velocidade da mudança. Esta será com certeza a característica mais determinante no mundo de 2020 e será aquela que moldará outras grandes forças de mudança, refere o relatório do National Intelligence Council [18]. A acrescentar a este facto, a entrada de culturas outrora excluídas da economia mundial, como essencialmente a chinesa, a indiana, ou a russa, e com ela cerca de 3 mil milhões de pessoas, traz com ela mudanças drásticas no tabuleiro em que se joga a economia atual. O mundo atual tem cerca de 6 mil milhões de pessoas a crescerem exponencialmente (ver figs. 1 e 2) devido essencialmente ao crescimento dos países do extremo oriente. As populações ocidentais representam menos de um milhão de pessoas e estão estagnadas. E todos estes novos atores já compreenderam a mensagem sobre o imperativo da economia emergente baseada no conhecimento. O facto é que elas já estão a reestruturar as suas economias investindo fortemente em áreas de conhecimento intensivo. Isto significa que, no novo paradigma, para se ser bem-sucedido, os países ou regiões devem criar e sustentar uma força de trabalho baseada no conhecimento e no capital humano com novas competências, na inovação tecnológica, e no espírito de empreendedorismo.
É este novo paradigma de uma economia baseada no conhecimento, global e supercompetitiva, que deverá moldar as nossas instituições de conhecimento.
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I PARTE
População mundial (milhões)
6000 5000 4000 3000 2000 1000
2000
1950
1900
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0
Ano (d.C.)
Fig. 1 Evolução da população mundial na era depois de Cristo [19].
Ásia (excluíndo Oriente próximo) Norte de África e Oriente próximo
População mundial (milhões)
9000
África Sub-Sariana
8000 7000
Europa
6000
América do Norte
5000 4000 3000 2000 1000 0 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 Ano Fig. 2 Evolução da população mundial de 1950 a 2000 e projeção até 2050, nas principais regiões do mundo [20].
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COMO COLOCAR A UNIVERSIDADE NO CENTRO DO PROGRESSO DE PORTUGAL
C. As mudanças tecnológicas e a Inovação Tecnológica
As economias ou sociedades atuais são fortemente dependentes das tecnologias. Existe uma forte correlação entre bem-estar das pessoas e inovação. E a inovação está essencialmente baseada na inovação tecnológica. A competitividade dos países ou regiões está essencialmente dependente da sua capacidade tecnológica. E neste pressuposto é importante notar que as novas tecnologias, em particular as tecnologias de informação, a biotecnologia e as nanotecnologias caracterizam-se por um crescimento exponencial. Por exemplo, a capacidade de um computador, para um mesmo valor, duplica a cada 18 meses. No que diz respeito a componentes como memórias de computador, o número é de 9 a 12 meses. E pensam os cientistas e engenheiros que não somente é provável que esta velocidade de mudança se mantenha mas inclusivamente pensa-se que deverá acelerar [21, 22]. Significa isto que a capacidade de inovar, ao nível tecnológico, não só já tem sido como será cada vez mais a chave do sucesso dos países ou regiões. Numa reunião denominada National Innovation Initiative [23], o Conselho de competitividade dos EUA, um grupo de empresas e de Universidades líderes nos EUA, referiram a inovação como o fator mais determinante no seu sucesso no séc. XXI. Referiram ainda que nos últimos 25 anos as organizações foram otimizadas no sentido da eficiência e qualidade. Nos próximos 25 anos toda a sociedade tem que ser otimizada no sentido da inovação. E por inovação entende-se a capacidade de transformação de novo conhecimento na forma de produtos, processos e serviços, com valor para a sociedade. Refere ainda o National Intelligence Council 2020 [18] que a inovação nos próximos
anos caracterizar-se-á por uma convergência entre as tecnologias de informação, biológicas, materiais, e nanotecnologias, pois esta convergência terá a capacidade de revolucionar várias dimensões da vida humana. A comissão europeia, preocupada com o índice de inovação dos países da União Europeia e outros países da Europa, publica periodicamente um relatório com a posição relativa dos países em termos de inovação [24] [fig. 3]. Nele podemos verificar que os países mais ricos são simultaneamente os que mais inovam. Portugal, embora próximo da média europeia continua um pouco abaixo. A figura 4 mostra, para além da posição relativa, a evolução dos países no que diz respeito à inovação. Podemos ver que Portugal, não obstante ser ainda relativamente pouco inovador, é um dos países que mais tem evoluído
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I PARTE
0.800 0.700 0.600 0.500 0.400 0.300 0.200 0.100 0.000 LV BG LT RO PL SK MT GR HU ES CZ PT IT
EE
CY SI
EU FR
IE
LU AT NL UK BE
FI
DE DK SE
Nota: O desempenho médio é medido usando um indicador composto baseado em dados de 24 indicadores que vão a partir de um desempenho o mais baixo possível de 0 até um máximo desempenho possível de 1. O desempenho médio em 2011 reflete o desempenho em 2009/2010.
Fig. 3 Índice de inovação de 2011 entre 27 países europeus. O índice de inovação é composto por 29 indicadores e varia de 0 a 1 [24].
0.850
Performance de inovação
0.800 0.750
SE DK
0.700 0.650 0.600 0.550
DE FI
UK
BE
LU
AT
NL
IE
FR SI
CY CZ
0.500 0.450
IT
CZ
ES
0.400 0.350
HU
GR
0.300 0.250
PL LT
0.200 0.150 -1.0 % 0.0 %
1.0 %
2.0 %
EE
PT
MT SK RO
BG
LV
3.0 %
4.0 %
5.0 %
6.0 %
7.0 %
8.0 % 9.0 % 10.0 %
Evolução anual média da performance de inovação Nota: As taxas médias de crescimento anual são calculadas num período de cinco anos. O crescimento total pode ser obtido multiplicando a taxa de crescimento médio anual por 4. As linhas pontilhadas mostram o desempenho e crescimento da UE 27.
Fig. 4 Índice de inovação versus evolução anual média do índice de inovação de 2011 (medido a partir de 2007) [24].
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COMO COLOCAR A UNIVERSIDADE NO CENTRO DO PROGRESSO DE PORTUGAL
A figura 5 mostra contudo que, se compararmos o desempenho médio da comunidade europeia em relação aos EUA e ao Japão, ainda estamos longe destes países. Estamos a aproximarmo-nos dos EUA e do Japão, embora aparentemente tenhamos estagnado esta aproximação nos últimos anos. Significa isto que ainda há muito por fazer quando comparados com as economias com as quais competimos diretamente. Japão
EUA 50 40 30
50 40 30
20
20
10
0
38
39
37
2007
2008
2009
32
10 0
31
2010 2011
27
28
23
2007
2008
2009
17
18
2010 2011
Fig. 5 Análise comparativa, em percentagem, entre o desempenho de inovação de 27 países da Europa e principais concorrentes, EUA e Japão [24].
De forma sintética podemos então dizer que: ¤¤ O mundo está globalizado e está focado ou depende essencialmente de aspetos económicos. Este fenómeno continuará enquanto não houver bem-estar para todos no mundo; ¤¤ A economia é essencialmente dependente ou dirigida pela tecnologia. A capacidade tecnológica define a competitividade de um país ou região; ¤¤ A tecnologia, enquanto entendida como a capacidade de utilizar produtos, equipamentos, ou serviços, está também praticamente globalizada – qualquer país do mundo pode em pouco tempo dispor de sofisticados equipamentos e operá-los eficazmente pois também a informação, necessária para operar os equipamentos, está também globalizada. A competitividade dirigida pelo paradigma da tecnologia, conforme entendida na era industrial ou seja, pela capacidade de produzir, mesmo que com eficiência e qualidade, está ela própria ultrapassada. Vivemos num mundo pós-industrial; ¤¤ É hoje ponto assente que é a capacidade de inovação, e sobretudo a velocidade a que esta ocorre, o ponto essencial para a competitividade das nações ou regiões. Daí que não seja estranho verificar as diversas iniciativas, com respeito à inovação, de diversos países ocidentais, entre os quais essencialmente os EUA mas também a Europa
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I PARTE
Comunitária, que têm sido levadas a cabo recentemente. Talvez o expoente mais visível deste paradigma seja o facto do passado ano de 2009 ter sido declarado pela Comunidade Europeia como Ano Europeu da Criatividade e Inovação [25].
2. Qual o papel da engenharia? Parece óbvio que numa economia essencialmente dependente da tecnologia, o papel da engenharia e dos engenheiros tenha que ser relevante. O que é a engenharia? Uma definição formal e comum pode ser: «A engenharia é a profissão na qual o conhecimento, quer das matemáticas quer das ciências naturais, adquiridas pelo estudo, pela experiência, e pela prática, é aplicado com critério no sentido de desenvolver formas de utilizar os materiais e as forças da natureza, de forma económica, para benefício da humanidade». Todavia existe um sem número de outras possíveis definições. Talvez uma definição menos formal possa ser, de acordo com Bordogna [26], «a engenharia é a integração do conhecimento para um determinado propósito». Na realidade, o engenheiro é um solucionador de problemas, um criador de ideias e conceitos, construtor de sistemas, de processos ou de estruturas. O engenheiro aplica o seu conhecimento de ciência e tecnologia de forma a encontrar soluções tecnológicas para as necessidades da sociedade e para desbravar caminhos para o progresso da humanidade. O progresso tecnológico estonteante verificado no século XX não teria sido possível sem a engenharia, em particular a pesquisa de engenharia que converte conhecimento e descobertas científicas em produtos, processos e serviços, úteis para a sociedade. Os engenheiros usam novo conhecimento e tornam-no útil. Tipicamente, durante o processo, gera-se mais novo conhecimento, e por aí adiante. Uma outra definição ou visão da engenharia, bastante interessante para os tempos atuais, conforme encontrada no documento «Changing the Conversation» da Academia Nacional de Engenharia (NAE – National Academy of Engineering) [27], diz o seguinte: «No profession unleashes the spirit of innovation like engineering. From research to real-world applications, engineers constantly discover how to improve our lives by creating bold new solutions that connect science to life in unexpected, forward-thinking ways. Few professions turn so many ideas into so many realities. Few have such a direct and positive effect on people’s lives. We are counting on engineers and their imaginations to help us meet the needs of the 21st century.»
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COMO COLOCAR A UNIVERSIDADE NO CENTRO DO PROGRESSO DE PORTUGAL
Nem sequer é falta de estruturas. Algumas das universidades já possuem estruturas de apoio a criação de spin-offs, apoio ao empreendedorismo e ao acesso a capitais de risco. Todas estão associadas a centros de investigação. Estão bem equipadas em termos laboratoriais. Existem recursos humanos estabilizados e qualificados. Faltarão, para além da cultura de criatividade–inovação–empreendedorismo, alguns meios para a execução desses projetos embrionários (4.° e 5.° anos) e projetos ao nível dos centros de investigação. Em termos de recursos, para além da FCT e ADI que financiam alguns projetos e sobretudo bolsas, os projetos com empresas são hoje altamente financiados pelo estado (projetos QREN). Teremos empresas que aceitem este desafio? Estou convencido que sim. Não muitas, é certo. Mas algumas. Suficientes para se iniciar este processo criativo e inovador, tripartido entre Universidades, Centros de Investigação e Empresas. Há empresas que aceitam estes desafios. Da minha experiência pessoal, nos últimos 6 anos, várias empresas aceitaram receber alunos para doutoramentos em ambiente empresarial (BDE – Bolsa de Doutoramento em Empresa). Tivéssemos nas Universidades mais alunos com médias suscetíveis de receber uma bolsa BDE e mais empresas entrariam nestas parcerias. Ainda ontem estive numa destas empresas com «espírito de inovação» que referiu o interesse deles em interagirem mais com os cursos universitários e com os alunos em fim de curso. Por outro lado, os tempos de dificuldade em que vivemos constituem-se como uma oportunidade para promover este contacto com as empresas. Estas percebem que, sem inovarem, dificilmente se afirmarão a nível internacional, e eventualmente nem a nível nacional conseguirão manter a sua posição. Nestes dois últimos anos informalmente falámos com várias empresas mostrando-lhes a nossa vontade de, como departamento, iniciarmos uma relação mais estreita e virtuosa. A sua posição foi, na sua maioria, bastante positiva e encorajadora. Não querendo passar a ideia de que será fácil operacionalizarem-se estas parcerias, penso que também não será tão difícil como alguns poderão pensar. Voltando aos nossos melhores alunos, que responderam rapidamente aos desafios que lhes propusemos, e que não eram desafios pessoais deles. Imaginem se eles tivessem amadurecido ideias durante os anos de curso. Imaginem se eles pudessem ter sentido o valor que as suas ideias podem ter, através da pesquisa e comparação com soluções para os mesmos problemas, a nível global. Imaginem se eles tivessem sentido que nós, os professores, acreditamos que eles são capazes de gerar ideias realmente criativas, e que são capazes, com mais ou menos tempo, de originar inovações, validadas pelo interesse real do mercado. Imaginem se, entretanto, eles também tivessem recebido as ferramentas, técnicas específicas, mas também de cultura, de visão, dos mecanismos de criatividade, de inovação e de empreendedorismo, que lhes dessem a confiança de que o processo até se atingir o mercado é longo, penoso, mas que estão a trilhar o caminho certo. Todo este conhecimento
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é poder. É o poder de se saber que se está no caminho certo. É o poder de se saber que é apenas uma questão de tempo e de oportunidade. Esta cultura também é o poder de se saber que, mais tarde ou mais cedo, eles serão os donos dos seus destinos. Que as ações, os desafios de Portugal, e mesmo da humanidade, dependem deles e não dos outros. Não dependem dos empresários atuais. Não dependem das decisões de governos. Acho que, para além de várias spin-offs anuais e de vários projetos inovadores com empresas atuais, teríamos aquele tipo de engenheiros de que falava Bob Warrington [29]. De pessoas que sejam pró-ativas da mudança e da busca de soluções para os problemas fundamentais da sociedade, sobretudo portuguesa, mas também do mundo, tão próximos que estamos de África, da América Latina, da América do Norte, e de outros locais onde estivemos e onde estão ainda tantos portugueses. Esperamos e acreditamos que os nossos alunos, os nossos engenheiros, serão figuras principais na construção do nosso futuro, individual como país, mas coletivo, tão próximos que estamos hoje, todos uns dos outros. Vivemos como país uma situação muito delicada. Nunca vi tanta incerteza em relação ao nosso futuro. Depois de anos de crescimento económico, de empregos abundantes, as expetativas baixaram substancialmente, o afastamento da média da comunidade europeia, que se arrasta há cerca de 10 anos, parece ser difícil de inverter. Hoje o salário médio do engenheiro recém-formado é pouco superior ao que se praticava há 15 anos atrás. O que mais me choca são as soluções que se encontram. Tão pouco criativas! Tão pouco inovadoras! A solução? Não dar aumentos. Como resolver os problemas? Cortar salários. Precisamos de decisores com a mesma cultura a que chamo de engenharia, mas que na verdade é de criatividade, de inovação e de empreendedorismo competente. Precisamos de gente nos processos de decisão que sejam técnicos competentes mas que tenham crescido numa cultura de criatividade, de procura de soluções nunca antes pensadas. Com responsabilidade mas com o arrojo dos nossos antepassados que foram na aventura da descoberta do novo mundo. E trouxeram riqueza, prosperidade e reputação para o país. Trouxeram conhecimento científico e compreensão do mundo. Na verdade, com a prosperidade material trouxeram também prosperidade intelectual. E por falar no mundo, começamos agora, inexoravelmente, a perceber o seu verdadeiro impacto da globalização. Eles são mesmo muitos (3 vezes mais do que as sociedades ocidentais todas juntas), começam a ter competências técnicas tão desenvolvidas como as nossas, mas a preços muito mais baixos. Quanto tempo mais demorará até que eles não tenham salários mais baixos? O que terá que «sofrer» o ocidente? Quais os desafios que encerra o futuro próximo da humanidade? A pobreza extrema ainda é abundante enquanto as diferenças entre ricos e pobres aumentam. Os conflitos regionais subsistem. Quais as
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soluções? Precisamos de exploradores de soluções. Precisamos de criativos, inovadores e empreendedores, que tenham uma abordagem global. Precisamos de atores globais. A globalização trar-nos-á desafios nunca antes surgidos. Precisamos de soluções nunca antes tentadas. Precisamos de quem tenha a visão global mas a capacidade de criar soluções, com ética, com solidariedade. A corrupção abunda em países pobres minando o desenvolvimento de povos e mantendo milhões na pobreza extrema. Precisamos de criativos e inovadores. Depois de décadas de procura de soluções, parece que pouco evoluiu. Mas a corrupção também se mantém em povos com maior abundância. Como solucionar estes problemas? É curioso verificar-se que a criatividade e a inovação são conceitos transversais. Não são específicos do engenheiro nem de qualquer classe. Não se limitam ao material. Passam para o intelecto e para o domínio espiritual. O ser criativo, inovador, empreendedor, trará prosperidade material, mas com ela virão avanços significativos do ponto de vista intelectual. Compreenderemos melhor o mundo e isto é conforto, é prazer. Mas passaremos a níveis mais avançados a nível espiritual. Este último é, sem dúvida, o que nos traz maior conforto e sentido, e capaz de trazer mais felicidade e mais bem-estar. Não é de espantar que as sociedades ocidentais, depois de alcançarem alguma prosperidade material procuram agora sentido para as suas vidas. Procuram preencher a sua alma. Dedicam-se a toda uma série de experiências como meditações e experiências religiosas que lhes possam trazer sentido. Temos muito para avançar a nível intelectual mas também a nível espiritual. Vejamos as religiões. Ainda hoje tão agarradas ao passado, às tradições. Quase que inexplicavelmente verificamos que as religiões continuam como génese e motores de muitos conflitos. Religiões orientais e ocidentais estão em conflito. Inacreditável. Falava recentemente com um amigo que se dedica a fazer palestras de cariz tecnológico pelo mundo todo e contava-me ele que estava num país oriental e, depois de proferir uma palestra, foi despedir-se da secretária da direção do evento e estendeu-lhe a mão. Qual a sua surpresa quando esta, amavelmente, lhe disse que não lhe podia apertar a mão pois ele era um «infiel». É claro que isto foi um choque para ele. E uma pena. Duas pessoas não se podem despedir porque são de religiões diferentes. As religiões continuam hoje a ser um problema em muitos aspetos em que deviam ser soluções. Acreditamos que também falta espírito de criatividade, inovação e empreendedorismo nas religiões. O espírito criativo, inovador e empreendedor com responsabilidade, ajudar-nos-á também a dar saltos significativos no domínio espiritual. E com eles teremos vidas mais significativas, mais abundantes, mais solidárias. Permitam-me terminar dizendo que o espírito criativo, inovador e empreendedor responsável levar-nos-á para mais perto do supremo engenheiro, o Criador do Universo. É que do Criador brota a criatividade, a inovação, o empreendedorismo responsável.
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9. Considerações finais Este estudo tem uma ambição. A de procurar motivar alunos e colegas na construção de um ambiente e cultura, a nível de universidade, que nos permita sermos um elemento preponderante na construção do nosso país. Penso que esta tarefa não somente é possível mas que a conjuntura atual está como que a pedir-nos para avançarmos nesse sentido. Todo o processo criativo e empreendedor envolve esforço, dispêndio de tempo e energia. Julgo que todos estamos disponíveis e motivados para o nosso futuro. Todo o processo de inovação envolve coragem pois o novo, o nunca visto ou testado, envolve risco e incerteza. Todos somos, por natureza, avessos ao risco e à incerteza. Precisamos de sair do nosso conforto e decidir inovar. Por acreditar que se conjugam neste momento três grandes vetores: ¤¤ A Universidade constitui-se hoje como uma enorme oportunidade de criação: quantidade de informação, quantidade de equipamentos e processos desenvolvidos, quantidade de recursos humanos qualificados; ¤¤ Os estudantes universitários são uma enorme riqueza de um país. São os melhores, são muitos, renovam-se constantemente, têm diversidade e estão propensos a progressos significativos a nível pessoal; ¤¤ O processo de Bolonha veio permitir um encaixe perfeito dos conceitos de criatividade– inovação–empreendedorismo nos programas académicos. Acredito que é um imperativo não desperdiçarmos esta oportunidade. Acredito que se as pequenas metas que nos propomos no estudo forem atingidas, isto significa que seremos capazes de criar o espírito proposto no estudo. E com ele, com certeza, teremos um impacto mais significativo nos destinos do nosso país assim como teremos um papel relevante a desempenhar no mundo. Só depende de nós.
10. Epílogo Estamos agora a 2 de abril de 2020. Verifico nos jornais que a empresa X-treme Materials, spin-off da Universidade do Minho, exporta 20 milhões de euros por ano em produtos de luxo, com recurso a nanomateriais e processos avançados. Na revista Fortune observo que nas 500 maiores empresas do mundo, consta a empresa Y-Dreams, spin-off da Universidade Nova de Lisboa. Vejo que a empresa iSurgical3D, spin-off da Universidade do Minho, formada a partir de um aluno e três professores, está classificada como uma das empresas na área
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das novas tecnologias que mais inovou no mundo, e emprega cerca de 150 jovens mestres e doutores. Há dias o Sr.° ministro para a criatividade e inovação referiu num diário de referência em Portugal que Portugal se colocou como um país de vanguarda ao nível da inovação. Vi ontem no telejornal o ministro da economia referir que Portugal tem um PIB per capita que está entre os 5 maiores entre todos os países europeus e o rendimento bruto da população é 25% superior ao da média europeia. A FAO (Food and Agriculture Organization), na sua reunião anual, revela que a fome no mundo baixou porque três alunos da Universidade do Minho, a quem o presidente da FAO apelidou de visionários em prol da humanidade, no âmbito de um projeto de doutoramento desenvolvido no Centro de Investigação CT2M, desenvolveram alimentos e bebidas, em forma de microcápsulas, que podem ser armazenados no estômago e são libertados para o organismo de forma programada, garantindo a nutrição suficiente durante cerca de 30 dias para o ser humano. A propósito, hoje desloquei-me para a Universidade no meu nanojet, um pequeno avião monolugar que faz cerca de 2 minutos entre Braga e Guimarães, concebido por uma equipa multidisciplinar de alunos e professores da Universidade do Minho, que incluía elementos do departamento de Eng.a Mecânica, Eletrónica Industrial, Polímeros e Design, e foi começado a ser concebido no espaço da pré-incubadora de ideias e projetos da Escola de Engenharia de Universidade do Minho. Vários países já fizeram encomendas do nanojet, que funciona exclusivamente com energia solar, e é um exemplo de veículo que contribui para um ambiente mais salutar e a estabilização do problema do aquecimento global. É claro que podia optar pelo teletransporte, um sonho do homem finalmente conseguido por 2 ex-alunos do Departamento de Física. Opto pelo teletransporte em viagens de longa distância. Não obstante chegar mais rápido ao trabalho, trabalho menos horas, mas sou muito mais eficiente, pois um grupo de alunos, em conjunto com três professores, desenvolveu um pequeno robot que trata de toda a minha papelada e ainda me ajuda na organização do trabalho. Escusado será dizer que saio mais cedo e encontro-me com a minha família no «virtualcrazylife», um espaço de jogos virtuais onde encontro outros amigos e ex-alunos e divertimo-nos à brava. Sem querer estar a repetir-me tenho contudo que dizer que este espaço nasceu numas cabeças brilhantes de 5 alunos de informática, eletrónica e design. Hoje é frequentado por grande parte dos alunos e professores da UM (Universidade do Minho), entre população em geral. Parece que esta moda pegou quando há dez anos se iniciaram umas competições de videojogos entre alunos de Engenharia Mecânica. Devido às boas condições de vida que hoje todos temos (em Portugal) comprei uma casa de férias no Havai, em plena zona sísmica, mas isso não me assusta pois alguns alunos e professores desenvolveram um cimento com elevadíssima resistência e peso quase nulo
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que, em caso de terramoto, mantém-se absolutamente intacto. Vou lá aos fins-de-semana usando o teletransporte. O teletransporte foi desenvolvido por…, creio que já sabem…, foi na UM por aqueles alunos fabulosos. Bom, à noite, e apesar da idade e dos problemas de coluna e ossos, ainda é tudo natural, pois fiz uma substituição dos principais ossos e tecidos, desenvolvidos no centro de excelência 3B’s, e cuja tecnologia está a ser posta ao serviço da população através do spin-off Stemmatters, iniciada por vários alunos e docentes da UM.
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