rede de bibliotecas de vila real
800 ANOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
2
FICHA TÉCNICA TÍTULO: 800 anos da língua e literatura portuguesas AUTORES: RBVR—Rede de Bibliotecas de Vila Real INTRODUÇÃO: Anabela Quelhas e Maria Manuel Carvalhais DESIGN GRÁFICO: Anabela Quelhas ÂMBITO: Semana da Leitura 2014 EXPOSIÇÃO PEDAGÓGICA e E-BOOK DATA: Março/Abril 2014 PORTUGAL
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
3
SEMANA DA LEITURA 2014 8ª edição da Semana da Leitura, centrada no tema Língua Portuguesa, que celebra os 800 anos do conhecimento dos seus textos mais antigos. Projeto do Plano Nacional de Leitura Rede de Bibliotecas de Vila Real (RBVR)
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
4
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
5
INTRODUÇÃO Assinala-se os 800 anos da língua portuguesa com este friso cronológico numa perspetiva pedagógica, dando o sentido da organização do tempo e adicionando a literatura – uma seleção dos seus cultores, em território nacional – e a história, para que o conhecimento resulte estruturado, articulado e integrado. O Testamento de D. Afonso II, datado de 27 de junho de 1214, é um dos documentos mais antigos escritos em língua portuguesa e constitui o referencial das Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesa. Este friso é um trabalho de equipa, uma rede de articulação entre vários elementos: Rede de Bibliotecas de Vila Real (RBVR). Por razões operacionais, foi seguida a proposta de divisão epocal literária da História da Literatura Portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes. O friso cronológico 800 anos da língua e literatura portuguesas será divulgado sob a forma de exposição pedagógica durante a Semana da Leitura de 2014 da RBVR e como livro eletrónico, disponível para todos, quer no portal da Rede, quer nos sítios Web dos seus elementos. Mais do que um património, a língua é uma realidade onde o sentimento e a consciência nacional se fazem «pátria» (Lourenço E., 1992). Lourenço E. (1992). A Chama Plural. In Atlas da Língua Portuguesa na História e no Mundo. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 12.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
6 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://pt.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo
POESIA TROVADORESCA
Séculos XII – XV
Poesia Trovadoresca. “Entre finais do século XII e finais do século XV nasceram e desenvolveram-se no território português (cuja nacionalidade era então de fundação recente) algumas formas poéticas de características originais. Criaram-nas e cultivaram-nas trovadores, segréis e jograis de «nacionalidades» várias (portugueses, galegos, leoneses, castelhanos) pertencentes às mais diversas categorias sociais: rei, cortesãos e outros representantes da alta e da baixa nobreza, clérigos, jograis profissionais de ínfima condição, etc.(…) Copistas e teóricos (que por vezes se confundem) convencionaram dividir estas composições em três géneros principais, nem sempre fáceis de definir com clareza: na cantiga de amigo é a amada que fala (o que o amado escreve), mas tal característica nem sempre é suficiente para a distinguir da cantiga de amor, platónica ou não, de homenagem à «senhor» quase sempre inacessível; também as definições e divisões entre as satíricas cantigas de escárnio e as de maldizer são pouco nítidas.” Lisboa, E. (coord.) (1991). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
7 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://rmmv.org/poesia-prima-poesia-madrasta/joao-garcia-de-guilhade/
JOÃO GARCIA DE GUILHADE ?
João Garcia de Guilhade. “Fidalgo da corte de Afonso III, culto, fecundo e original, representado em todos os Cancioneiros, cantor dos «olhos verdes» (caso único na poesia trovadoresca) é autor de dezasseis cantigas de amor, vinte e uma de amigo, quinze de maldizer e duas «tenções» em que dialoga com o jogral Lourenço. Aparece também com o nome de João de Guilhade.” Lisboa, E. (coord.) (1991). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Mem Martins: Europa-América, p. 87. Am i g os , n on po ss’ eu ne g a r a g r an c oi t a q ue d’ am o r e i, c a m e ve jo s a nd e u a nd a r , e co n s an d ece o di r e i: O s ol ho s ve r d e s q u e e u vi m e fa ze n o r a a n da r ass i. P e r o q u en qu e r x’ e nt e nd e r á a q u es te s ol h os q ua es s o n, e d’ es t’ al g ué n se q uei xa r á , m a is e u .. . j a q ue r m o i ra , q u e r non: O s ol ho s ve r d e s q u e e u vi m e fa ze n o r a a n da r ass i.
P e r o n o n d e vi 'a pe r d e r om e q u e ja o se n n o n á d e c o n sa n dec e r en di ze r , e co n s an d ece di gu ’e u j a: O s ol ho s ve r d e s q u e e u vi m e fa ze n o r a a n da r ass i. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%,A3o_Garcia_de_Guilhade
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
8 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://historia-geografia-portugal.wikispaces.com/D.+Dinis
D. DINIS
D. Dinis. “Rei de Portugal, fundou em 1290 a Universidade de Lisboa que em 1308 transferiu para Coimbra. Tanto quanto até hoje se pôde averiguar, foi o mais culto, o mais prolífico e o mais imitado dos poetas galego-portugueses do seu século. Escreveu setenta e seis cantigas de amor, cinquenta e duas de amigo e dez de maldizer (…)” Lisboa, E. (coord.) (1991). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Mem Martins: Europa-América, p. 78.
- Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? Ai Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs conmigo? Ai Deus, e u é?
- Vós me preguntades polo voss'amado e eu bem vos digo que é viv'e sano. Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi há jurado? Ai Deus, e u é?
- E eu bem vos digo que é san'e vivo e será vosco ant'o prazo saído. Ai Deus, e u é?
- Vós me preguntades polo voss'amigo e eu bem vos digo que é san'e vivo. Ai Deus, e u é?
- E eu bem vos digo que é viv'e sano e será vosc[o] ant'o prazo passado. Ai Deus, e u é?
Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 568
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
9 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://sonsdeledatmitjana.wordpress.com/
PROSA MEDIEVAL: HAGIOGRAFIAS E TEXTOS MÍSTICOS Século XIII—XIV
http://purl.pt/24118/3/
Hagiografias e textos místicos. “As principais tentativas de prosa literária devem-se aos monges de Santa Cruz de Coimbra, de Lorvão, de S. Vicente de Lisboa e, em particular, aos de Alcobaça, mosteiro fundado por D. Afonso Henriques e que ocupou um lugar de relevo como centro de atividade cultural, independentemente da sua inegável influência política, económica e, sobretudo, religiosa. Da numerosa produção literária saída destes mosteiros, destacam-se as narrativas sobre vidas de santos — hagiografias — e as lendas piedosas; as historietas com fins moralizadores — os exemplos —, contidas no Horto do Esposo; e nas inúmeras fábulas do chamado Livro de Esopo – o contista grego, destinadas a mostrar aos homens como «devem de viver virtuosamente e guardar-se dos males». [O Bosco Deleitoso, ou Bosque Deleitoso é outra das obras místicas escritas no Mosteiro de Alcobaça entre os finais do século XIV e o início do século XV e impressa em 1515.]” http://www.luso-livros.net/idade-media/ Defesa da vida solitária Capítulo XXX Quando o nobre solitário ermitam acabou estas razões suso ditas levantou-se logo üu velho honrado que i estava, vestido em maneira de doutor sagral mui honestamente, e em sua cabeça tiinha üa grilanda de louro seca e sem verdura; e começou sua razom mui apostamente contra aquelo qu e o nobre ermitam católico havia dito. E disse enesta guisa: Maior cousa é segundo natura receber e padecer mui grandes trabalhos e grandes nojos e tribulações por conservar e ajudar tod as as gentes, se poder seer, que viver em o ermo vida apartada, posto que nom haja o homem nenhüus nojos nem tribulações em o ermo e que haja avondança de todos os viços e haja fremosura e forças do corpo.
Hagiografia medieval de Santa Senhorinha de Basto. Disponível on-line em http://
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bosco.htm 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
10 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://iluminura.blogs.sapo.pt/tag/iluminura
PROSA MEDIEVAL: LIVROS DE LINHAGENS Séculos XIII-XIV
Livros de Linhagens. “De alguma referência neste campo [o dos primeiros registos históricos, de escasso valor literário] estão os chamados «Livros de Linhagens”» também conhecidos por Nobiliários: registos genealógicos das mais importantes famílias portuguesas. Estes registos, que foram elaborados logo nos primeiros tempos da monarquia, tinham as seguintes finalidades: evitar os casamentos entre parentes chegados, proibidos pela Igreja; garantir o chamado «direito de padroado», privilégio unicamente concedido aos legítimos descendentes dos fundadores de mosteiros; criar a obrigação moral de os parentes se amarem uns aos outros. Estes Livros de Linhagem contêm, além dos secos registos genealógicos de puro valor documental e não artístico, alguma matéria de interesse propriamente literário pois contam algumas lendas — como a curiosa Lenda de D. Diogo Lopes e a do Rei Ramiro — e contêm algumas narrativas históricas, como a descrição da batalha do Salado, de notável vigor dramático.” A dona pee de cabra Dom Diego Lopez era muy boo monteyro e, estãdo huu dia en sa armada e atemdemdo quamdo verria o porco, ouuvyo cantar muyta alta voz huua mollher em çima de huua pena e el foy para lá e vio-a seer muy fermosa e muy bem vistida e namorou-sse logo della muy fortemente e pergumtou-lhe qu[e] era e ella lhe disse que era huua molher de mujto alto linhagem, e ell lhe disse que, pois era molher d'alto linhagem, que casaria com ella, se ella quisesse, ca ell era senhor daquella terra toda, e ella lhe disse que o faria, se elle prometesse que numca se santificasse, e elle lho outorgou e ella foi -sse logo com elle. E esta dona era muy fermosa e muy bem feita em todo seu corpo, saluando que auia huu pee forcado, como pee de cabra. http://www.constelar.com.br/constelar/88_outubro05/pedecabra2.php
http://fronteirasdodesconhecido.wordpress.com/2008/09/07/lenda-dospes-de-cabra/ 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
11 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://tempovago.folhadirigida.com.br/2013/03/
PROSA MEDIEVAL: ROMANCE DE CAVALARIA Século XIV
Romance de cavalaria. Elaborados a partir da Demanda do Santo Graal, os romances ou novelas de cavalaria “constituem uma das manifestações literárias de ficção em prosa mais ricas da literatura peninsular. Podemos considerá-los (sobretudo os da matéria da Bretanha, ligados às aventuras da corte do rei Artur e da Távola Redonda), verdadeiros códigos de conduta medieval e cavaleiresca. […] Na Península Ibérica, surge no século XIV o Amadis de Gaula, atribuído a João de Lobeira, mas cuja autoria é ainda incerta, dado que a primeira versão publicada, mais tardia, é em castelhano. Este romance oferece-nos o paradigma do perfeito cavaleiro, destruidor de monstros e malvados, amador constante e tímido de uma donzela, Oriana, a Sem Par,[…]. Este novo desenvolvimento da matéria da Bretanha foi o ponto de partida para uma frondosa ramificação do romance de cavalaria no século XVI, melhorada e ao mesmo tempo ridicularizada por Miguel de Cervantes no Dom Quixote. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romance_de_cavalaria
COMEÇA A OBRA
“Não muitos anos depois da paixão do nosso Redentor e Salvador Jesus Cristo, houve um rei cristão na Pequena Bretanha, chamad o Garinter, o qual, seguindo a lei da verdade, de muita devoção e boas maneiras era acompanhado. Este Rei teve duas filhas de uma nobre dona sua mulher, e a mai s velha foi casada com Languines, Rei de Escócia, e foi chamada a Dona da Grinalda, porque o Rei seu marido nunca lhe consentiu cobrir os seus formosos cabelos sen ão com uma rica grinalda, tanto era pagado de os ver. De quem foram engendrados Agrajes e Mabília, os quais, um como cavaleiro e ela como donzela, nesta grande histó ria muita menção se faz. A outra filha, que Elisena foi chamada, muito mais formosa que a primeira foi. E como quer que de mui grandes príncipes fosse demandada em c asamento, nunca com nenhum deles casar lhe prougue; antes o seu retraimento e santa vida deram causa a que todos “beata perdida” a chamassem, considerando que pessoa de tão grande linhagem, dotada de tanta formosura, de tantos grandes demandada em casamento, não lhe era conveniente tomar tal estilo de vida. “ http://helenabarbas.net/BiblioLus/Textos/Amadis_1_GVLopes.pdf
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
http://www.lusolivros.net/idademedia/
12 IDADE MÉDIA 1ª DINASTIA
Das Origens a Fernão Lopes http://odivelas.com/2010/04/16/os-filhos-de-d-dinis/
D. PEDRO 1280? – 1354?
D. Pedro. “Filho bastardo de D. Dinis, dele recebeu o título de conde de Barcelos. Autor do Nobiliário que tem o seu nome e que reúne vasta informação sobre as linhagens das grandes famílias portuguesas, deixou também dez cantigas de amor e de maldizer, situadas na última fase do período trovadoresco. Está representado em todos os Cancioneiros.” “Tal como o seu bisavô, Afonso X, o Sábio, de Castela, foi promotor autor de obras históricas monumentais em que procurou aplicar o inovador método historiográfico que ele inaugurará e do qual uma das principais novidades foi usar a língua nacional”. Lisboa, E. (coord.) (1991). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Mem Martins: Europa-América, p. 96 e 143. LIVRO VELHO OU PRIMEIRO LIVRO DE LINHAGENS COMEÇO DO LIVRO VELHO Em nome de Deos Amen. Por saberem os homens fidalgos de Portugal de qual linhagem uem, e de quaes coutos, honras, mosteiros, e igreias som naturaes, e per saberem como som parentes fazemos escreuer este liuro uerdadeiramente dos linhagens daqueles que som naturaes e moradores no reino de Portugal estremadamente. E deste liuro se pode seguir muita prol e arredar muito danno: ca muitos uem de bom linhagem e nom o sabem elles, nem o sabem os reis, nem o sabem os grandes homens: ca se o soubessem em alguma maneira lhes uiria ende bem, em algüa maneira, dos senhores. E os outros nom casam como deuem, e casam me pecado porque nom sabem o linhagem. (…) http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/linhagem.htm
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
13 IDADE MÉDIA 2ª DINASTIA
De Fernão Lopes a Gil Vicente http://en.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_Lopes
FERNÃO LOPES
1380 – 1459
Fernão Lopes. “Foi designado por D. Duarte para ser cronista do Reino, certamente a partir de 1434, mas possivelmente já desde 1419, função que desempenhou escrevendo as Crónicas de D. Pedro I, D. Fernando e D. João I, e talvez o que chegou até nós sob a forma do que parece ser um rascunho das Crónicas dos reis anteriores. Escrivão dos livros de D. João I e do Infante D. Duarte, secretário do Infante D. Fernando e tabelião de ofício, a sua obra como historiador beneficiou da experiência obtida com tais actividades e das facilidades de acesso a documentos que elas lhe proporcionavam. (…)” Lisboa, E. (coord.) (1991). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Mem Martins: Europa-América, p. 148. CRÓNICA DE D. PEDRO I Como foi trelladada Dona Ines pera o moesteiro Dalcobaça, e da morte delRei Dom Pedro Por que semelhante amor, qual elRei Dom Pedro ouve a Dona Enes, raramente he achado em alguuma pessoa, porem disserom os antiigos quc nenhuum he tam verdadeiramente achado, como aquel cuja morte nom tira da memoria o gramde espaço do tempo. E se alguum disser que muitos forom ja que tanto e mais que el amarom, assi como Adriana e Dido, e outras que nom nomeamos, segumdo se lee em suas epistolas, respomdesse que nom fallamos em amores compostos, os quaaes alguuns autores abastados de eloquemcia, e floreçentes em bem ditar, hordenarom segumdo lhes prougue, dizemdo em nome de taaes pessoas, razoões que numca nenhuuma dellas cuidou; mas fallamos daquelles amores que se contam e leem nas estorias, que seu fumdamento teem sobre verdade. (…) http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/lopes.htm 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/lopes.htm
2014
14 IDADE MÉDIA 2ª DINASTIA
De Fernão Lopes a Gil Vicente http://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente
GIL VICENTE 1465-1536
Gil Vicente. Foi um dramaturgo e poeta português. Escreveu Autos que ficaram conhecidos na língua portuguesa. É considerado o pai do teatro em Portugal e foi autor importante no período do renascimento. A sua primeira obra conhecida, a peça “Auto da Visitação”, foi apresentada à rainha D. Maria em 1502 e tinha inspiração na adoração dos reis magos. Em 1506, foi apresentada a peça “A Custódia de Belém” para o mosteiro dos Jerónimos. A sua obra prima é a trilogia de sátiras “Auto da Barca do Inferno” (1516), “Auto da Barca do Purgatório” (1518) e “Auto da Barca da Glória” (1519). A peça “Auto da Barca do inferno” possui um único espaço físico e duas personagens permanentes, o diabo e o anjo, que são os julgadores dos outros personagens que rumarão para a barca do inferno ou para a barca da glória. Grande crítico da sociedade portuguesa do século XVI, Gil Vicente foi um dos maiores autores satíricos da sua época. http://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente http://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente
AUTO DA BARCA DO INFERNO O Auto da Barca do Inferno (ou Auto da Moralidade) é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente, representada pela primei ra vez em 1517. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respectivamente o Auto da Ba rca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória). A peça inicia-se num porto imaginário, onde se encontram as duas barcas, a Barca do Inferno, cuja tripulação é o Diabo e o seu C ompanheiro, e a Barca da Glória, tendo como tripulação um Anjo na proa. Cada personagem discute com o Diabo e com o Anjo para q ual das barcas entrará. No final, só os Quatro Cavaleiros e o Parvo entram na Barca da Glória (embora este último permaneça toda a aç ão no cais, numa espécie de Purgatório), todos os outros rumam ao Inferno. A PEÇA acaba com a entrada dos Cavaleiros na barca do Anjo sem que
existissem quaisquer outros comentários do Anjo ou do Parvo sobre o seu destino final.800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS http://pt.wikipedia.org/wiki/Auto_da_Barca_do_Inferno 2014
15 IDADE MÉDIA 2ª DINASTIA
Renascimento e Maneirismo http://www.google.pt/imgres?sa=X&rlz=1C2RNPN_pt-
http://iluminura.blogs.sapo.pt/tag/textos
RENASCIMENTO E MANEIRISMO
Século XVI
Renascimento. “O movimento renascentista começa por ser uma contestação da ideologia dominante durante o milénio medieval: à civilização cristã contrapõe-se uma ideologia antropocêntrica, revelando um desiderato de fazer renascer a Antiguidade greco-latina, que, na interpretação então prevalecente, se caracterizara precisamente por colocar o homem no centro do Universo e representava um ideal de civilização natural. Estudam-se os clássicos com rigor e minúcia, com o apoio de uma filologia que conhece um desenvolvimento fulgurante, enquanto, pela mesma ordem de razões, revive e se intensifica o interesse pela história (em detrimento da crónica medieval), meio privilegiado de conhecimento do passado "áureo" que se pretende imitar ou reproduzir e surgem sérias iniciativas de investigação arqueológica (sem as quais, obviamente, teria sido impossível conhecer em detalhe a arte antiga, nas suas múltiplas manifestações). (…)” http://www.infopedia.pt/$renascimento. Maneirismo. “(…) O termo "maneirismo", que originalmente foi empregue para definir a pintura amaneirada e formalista de um grupo de pintores italianos de meados do século XVI, como Rosso Fiorentino e Pontormo, foi mais tarde utilizado para indicar um período artístico que, desenvolvido na centúria de quinhentos, encerrou o Renascimento Pleno em Itália e antecedeu o Barroco. Durante o século XVI, a rígida estrutura espacial e gramatical do renascimento, baseada no cumprimento de regras e de proporções harmónicas simples sofre um processo de decomposição e de enriquecimento, aceitando novas qualidades como a tensão, a instabilidade e a complexidade. (…)” http://www.infopedia.pt/$maneirismo 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
16 IDADE MÉDIA 2ª DINASTIA
Renascimento e Maneirismo http://www.escritas.org/pt/biografia/francisco-de-sa-de-miranda
SÁ DE MIRANDA 1481 – 1558
Sá de Miranda. Nasceu em Coimbra. Formou-se em Leis e foi poeta e dramaturgo. Tendo-lhe falecido o pai, em 1521 parte para Itália onde permanece até 1526. Graças a uma parente abastada, Vitória Colonna, marquesa de Pescara, pôde conviver com algumas personalidades do Renascimento tais como o italiano (Pietro Bembo, Sannazaro e Ariosto), apreciando muito a estética literária que todos os humanistas cultivavam com entusiasmo. Regressou a Portugal em 1526. Fruto dessa viagem, trouxe para Portugal uma nova estética, introduzindo o soneto, a canção, a sextina, as composições em tercetos e em oitavas e os versos de dez sílabas. Depois de 1530 afasta-se da Corte, indo viver para a Quinta da Tapada, onde redige parte importante da sua obra. Escreveu diversas composições poéticas, a tragédia Cleópatra, as Comédias Estrangeiros e Vihalpandos e algumas cartas em verso.
Barreiro, Gemieira, Ponte de Lima.
Poema de Sá de Miranda em Azulejos na Casa do
O sol é grande, caem co'a calma as aves O sol é grande, caem co'a calma as aves, do tempo em tal sazão, que soe ser fria; esta água que d'alto cai acordar-me-ia do sono não, mas de cuidados graves. (…) 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
17 IDADE MÉDIA 2ª DINASTIA
Renascimento e Maneirismo http://portuguese-american-journal.com/wp-content/uploads/2012/07/BRibeiro.jpg
BERNARDIM RIBEIRO
1482 – 1552
Bernardim Ribeiro. Pouco se sabe com exatidão sobre a biografia de Bernardim Ribeiro, poeta e novelista português. Pertenceu à roda dos poetas palacianos como Sá de Miranda, Garcia de Resende, Gil Vicente e outros. Esteve algum tempo em Itália, onde tomou contacto com as inovações literárias. Foi nomeado escrivão da Câmara de D. João III em 1524. Provavelmente terá nascido na aldeia de Torrão, Alto Alentejo, no ano de 1482. Terá frequentado a Universidade de 1507 a 1512. Deve ter morrido entre 1552 e 1553, no Hospital de Todos-os-Santos, em Lisboa. A sua principal obra é a novela Saudades, mais conhecida porém como Menina e Moça (da primeira frase da novela, que se tornou um tópico da literatura portuguesa: Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe...). Foi o introdutor do bucolismo em Portugal e possivelmente um dos primeiros a escrever em sextina. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardim_Ribeiro
MENINA E MOÇA “Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então a daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui em aquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste ou, per aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha. “ http://pt.wikipedia.org/ wiki/Bernardim_Ribeiro 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
18 IDADE MÉDIA 2ª DINASTIA
Renascimento e Maneirismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Cam%C3%B5es
LUÍS DE CAMÕES
1524 ?-1580
Luís Vaz de Camões. Foi um poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente. Devido a vicissitudes várias foi para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista “Os Lusíadas”. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido Enquanto quis Fortuna que tivesse para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de Esperança de algum contentamento, O gosto de um suave pensamento estudos críticos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Cam%C3%B5es Me fez que seus versos escrevesse. Porém, temendo Amor que aviso desse Minha escritura a algum juízo isento, Escureceu-me o engenho co tormento, Para que seus enganos não dissesse. Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos A diversas vontades! Quando lerdes Num breve livro casos tão diversos, Verdades puras são, e não defeitos... E sabei que, segundo o amor tiverdes, Tereis o entendimento de meus versos! Rimas
As armas e os barões assinalados Que, da ocidental praia lusitana, Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reino, que tanto sublimaram. ..... Cantando espalharei por toda a parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte
— Os Lusíadas, Canto I
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
19 IDADE MÉDIA 2.ª DINASTIA
Renascimento e Maneirismo http://pt.wikipedia.org/wiki/
ANTÓNIO FERREIRA 1528 – 1569
António Ferreira. Nasceu em Lisboa, estudando Direito na Universidade de Coimbra. Além de desembargador, cultivou a poesia, sendo o discípulo mais famoso de Sá de Miranda. Os seus poemas foram publicados em 1598 sob o título de Poemas Lusitanos. Escreveu as comédias Bristo e Cioso, publicadas em 1622, e a tragédia Castro, publicada em 1587. É considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/ferreira.htm
Escuro e triste, duma sombra negra Coberto todo, ouvia ao longe uns brados
António Ferreira, in Castro
De feras espantosas, cujo medo Me arrepiava toda, e me prendia A língua e os pés. E eu, ama, quási morta.
Floreça, fale, cante, ouça-se e viva A portuguesa língua, e já, onde for, Senhora vá de si, soberba e altiva.
http://repositorio.utad.pt/bdf
Então, sonhei que estando eu só num bosque
Se tèqui esteve baixa e sem louvor, Culpa é dos que a mal exercitaram, Esquecimento nosso e desamor.
Abraçava os meus filhos, a tremer. . . Nisto, um leão bravo alevantou-se, irado; Rugiu ao meu encontro; e logo, manso. Para trás se tornou. Mas, em fugindo, Logo vieram três lobos, não sei donde, Remeteram a mim, com suas unhas, E os peitos me rasgaram. Eu erguia
Mas tu farás que os que a mal julgaram E inda as estranhas línguas mais desejam Confessem cedo, ant’ela, quanto erraram. E os que depois de nós vierem vejam Quanto se trabalhou por seu proveito, Porque eles pera os outros assi sejam.
Vozes aos céus, chamava o meu senhor. Ele ouvia, e tardava. . . E eu morria
António Ferreira, in Elogios da Língua Portuguesa
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
20 IDADE MODERNA 2ª e 3ª DINASTIAS
Barroco http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2009/04/o-estilo-rococo.html
BARROCO
Séculos XVII-XVIII
Barroco. A origem da palavra barroco tem causado muitas discussões. De entre as várias posições, a mais comum é a de que a palavra terá origem no vocábulo espanhol barrueco, vindo do português arcaico e usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa, aliás, até hoje conhecida por essa mesma denominação. Assim, como termo técnico, estabeleceria, desde o seu início, uma comparação fundamental para a arte: em oposição à disciplina das obras do Renascimento, caracterizaria as produções de uma época na qual os trabalhos artísticos mais diversos se apresentariam de maneira livre e até mesmo sob formas anárquicas. No início do século XVII, o Classicismo já estava em decadência. Depois de dominar por um século o palco da literatura ocidental, o Classicismo foi deixando de ser centro dos acontecimentos culturais. Surgiu, então, o Barroco. Em Portugal, o Barroco ou Seiscentismo tem o seu início em 1580 com a unificação da Península Ibérica, o que acarretará um forte domínio espanhol em todas as atividades. O Barroco estender-se-á até 1756, com a fundação da Arcádia http://netopedia.tripod.com/Literatura/barroco.htm Lusitana. Segundo Vítor Manuel de Aguiar e Silva, «a literatura barroca caracteriza-se pela fuga à expressão singela e imediata, às estruturas formais simples e lineares». Para este autor, «o Barroco é essencialmente uma literatura de fortes tensões vocabulares, de polivalências significativas, de estruturas complexas e surpreendentemente inéditas». A poética do Barroco «busca constantemente suscitar no leitor a surpresa e a maravilha». A metáfora «constitui o instrumento por excelência de uma expressividade misteriosa, da revelação de recônditas analogias que o poeta apreende na realidade, da transfiguração fantástica do mundo empírico. A poética barroca considera a metáfora como o mais sublime fruto do engenho». Um dos processos estilísticos mais caracteristicamente barroco é a acumulação de metáforas ou o «desenvolvimento de uma metáfora mediante uma série de metáforas». 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2007/09/o-barroco-na-literatura.html
2014
21 IDADE MODERNA 3ª DINASTIA
Barroco http://abelmachadocunha.blogspot.pt/2012/06/fermoso-tejo.html
FRANCISCO RODRIGUES LOBO 1580-1622
Francisco Rodrigues Lobo. Nasceu em Leiria e faleceu em Lisboa. É um dos mais importantes discípulos de Camões. Tendo sido influenciado por Gôngora, é considerado o iniciador do Barroco na literatura portuguesa. Formouse em Direito na Universidade de Coimbra, não se conhecendo quaisquer cargos públicos que tenha exercido. Morreu afogado numa viagem de barco que fazia entre Santarém e Lisboa. A nível poético, escreveu romances bucólicos, éclogas e sonetos. Em prosa escreveu a Corte na Aldeia (1619), que é uma coleção de diálogos didáticos sobre preceitos da vida na corte. Esta obra reflete a frustração da nobreza portuguesa pelo desaparecimento da corte nacional sob a dominação filipina. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/lobo.htm
Perto da cidade principal da Lusitânia está u˜a graciosa aldeia que, com igual distância, fica situada à vista do mar Oceano, fresca no Verão, com muitos favores da natureza, e rica no Estio e Inverno com os fruitos e comodidades que ajudam a passar a vida saborosamente, porque, com a vizinhança dosportos do mar, por u˜a parte, e, da outra, com a comunicação de u˜a ribeira que enche os seus vales e outeiros de arvoredos e verdura, tem em todos os tempos do ano o que em diferentes Dizem que já noutra idade eram milagres da pele falaram os animais, do rei, a que eles temiam. lugares costuma buscar a necessidade dos homens. E por este respeito foi sempre o sítio escolhido para desvio da corte e e eu creio que por sinais Quis falar, buscou seus danos, voluntário desterro do tráfego dela, dos cortesãos que ali tinham quintas, amigos ou heranças, que costumam ser valhacouto inda hoje falam verdade. que os outros, com raiva crua, dos excessivos gastos da cidade. Um Inverno em que a aldeia estava feita corte com homens de tanto preço que a podiam fazem pagar pela sua Ouvi contar como então da outra pele os enganos. fazer em qualquer parte, se juntava a maior deles em casa de um antiguo morador daquele lugar, que também o fora em se fez valente e temido outra idade da casa dos reis, donde, com a mudança e experiência dos anos, fez eleição dos montes para passar neles os um vil jumento, escondido Quantos há, na nossa aldeia, que lhe ficavam da vida. Grande acerto de quem colhe este fruito maduro entre desenganos. Ali, ora em conversação apranos despojos de um leão. leões e lobos fingidos, que houveram de andar despidos, zível, ora em moderado e quieto jogo se passava o tempo, se gozavam as noites, se sentiam menos as importunas chuvas e Enquanto de longe o viam se não fora a pele alheia! ventos de Novembro e se amparavam contra os frios rigorosos de Janeiro. os outros fugiam dele: 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Francisco Rodrigues Lobo, in “Corte na Aldeia” Francisco Rodrigues Lobo, in “Éclogas, I”
2014
22 IDADE MODERNA 3ª e 4ª DINASTIAS
Barroco http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Manuel_de_Melo
D. FRANCISCO MANUEL DE MELO 1608 – 1666
D. Francisco Manuel de Melo. Nasceu em Lisboa . Escritor de vasta obra, dedicada a diferentes géneros, estudou no colégio Jesuíta, onde adquiriu vasta cultura. Frequentou a corte de Madrid. Participou, ao serviço da coroa espanhola, em combates contra os holandeses. Em 1640 esteve preso por apoiar a independência de Portugal. Em 1641 apoiou militar e diplomaticamente o rei português D. João IV. Esteve preso entre 1644 e 1655, envolvido num homicídio, e foi degredado para a Baía. Regressou a Portugal em 1658 e morreu a 24 de Agosto de 1666. http://http://cvc.instituto-camoes.pt/pomasemana/35/sentimentos4.htm
Há muito quem queira ser na sociedade aprendiz e anda metendo o nariz em tudo o que bem parecer. Sempre houve neste país o desejo de parecer ter grandezas, ter saber, sem se passar de aprendiz. O tempo é que é juiz que vem mostrar cedo ou tarde que quem mais fizer alarde não passa dum aprendiz. Quando se quebra o verniz a um chefe dirigente vê-se logo de repente que não passa de aprendiz. Mesmo quem diz ser feliz, de virtudes soberano, nesta comédia de engano
não passa dum aprendiz. E p’ró final ser feliz aquilo que se deseja é que nenhum de vós seja mais um Fidalgo Aprendiz.
D. Francisco Manuel de Melo, in “O fidalgo aprendiz”
Serei eu alguma hora tão ditoso, Que os cabelos, que amor laços fazia, Por prémio de o esperar, veja algum dia Soltos ao brando vento buliçoso?
Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso? Verei a limpa testa, a quem a Aurora Graça sempre pediu E os brancos dentes, por quem trocara as pérolas que chora?
Verei os olhos, donde o sol formoso As portas da manhã mais cedo abria, Mas, em chegando a vê-los, se partia
Mas que espero de ver dias contentes, Se para se pagar de gosto uma hora, Não bastam mil idades diferentes?
D. Francisco Manuel de Melo, in “Poemas de amor” 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
23 IDADE MODERNA 3ª e 4ª DINASTIAS
Barroco http://www.vidaslusofonas.pt/padre_antonio_vieira.htm
PADRE ANTÓNIO VIEIRA 1608 – 1697
António Vieira. Foi um missionário, escritor e orador. Nasceu em Lisboa e aos seis anos partiu com a família para o Brasil. Estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador e entrou para a Companhia de Jesus. Em 1633 começou as suas famosas pregações. Em 1641, partiu para Lisboa, onde conquistou os reis com os seus sermões. Em 1661 foi preso pela Inquisição, que o acusou de heresia, mas foi absolvido. Deixou mais de 200 sermões e 700 cartas. Morreu na Baía, com quase noventa anos. http://www.vidaslusofonas.pt/padre_antonio_vieira.htm Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a seme-
lhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.”
“Levantem pois os reis e os reinos os olhos, olhem para estes sinais do céu, e se os virem, esperem; se os virem cometas, temam”
O escritor foi um profundo conhecedor das teorias astronómicas de sua época. Nos seus textos, encontram-se inúmeras citações a cometas observados no Brasil. Pela análise de suas Cartas e Sermões é possível verificar que as suas indicações constituem, às vezes, a primeira observação efetuada que se conhece. Um desses exemplos é o caso do cometa Jacob (1695), tendo sido o Padre António Vieira quem registrou esse cometa em todo o mundo.
Padre António Vieira, in “História do Futuro “ 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Padre António Vieira, in “Sermão de Santo António aos Peixes” 2014
24 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA
Barroco http://www.skoob.com.br/autor/1594
SOROR MARIANA ALCOFORADO
1640 – 1723
Soror Mariana Alcoforado. Nasceu e faleceu em Beja. Era uma religiosa que professou no Convento da Conceição em Beja. Foi-lhe atribuída a autoria das Lettres Portugaises, publicadas em Paris em 1669 e dirigidas ao cavaleiro de Chamilly. As cartas tiveram várias traduções para português, sendo a última de Eugénio de Andrade. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/alcofora.htm
«Considera, meu amor, até que ponto foste imprevidente! Oh!, infeliz, que foste enganado e a mim enganaste também com esperanças ilusórias. Uma paixão sobre a qual tinhas feito tantos projetos de prazeres não te causa agora mais do que um mortal desespero, só comparável à crueldade da ausência que o provoca. E esta ausência, para a qual a minha dor, por mais que se esforce, não consegue encontrar um nome assaz funesto, há de então privar-me para sempre de fitar esses olhos onde eu via tanto amor, esses olhos que me faziam saborear emoções que me cumulavam de alegria, que eram o meu tudo, a tal ponto que deles só precisava para viver? (…) Mil vezes ao dia dirijo para ti os meus suspiros: eles procuram -te em toda a parte e, como recompensa de tantas inquietações, apenas me trazem o aviso demasiado sincero da minha triste sorte, que tem a crueldade de não suportar que eu me iluda e que a cada passo me diz: basta!, basta!, infeliz Mariana, basta de te consumires em vão e de procurares um amante que nunca mais voltarás a ver; um amante que atravessou o mar para fugir de ti, que está em França no meio dos prazeres e nem por um momento pensa nas tuas dores; um amante que te dispensa de todos esses transportes que nem sequer te agradece.
Como podem ter-se tornado tão cruéis as lembranças de momentos tão agradáveis? E será que, contra a sua natureza, não devam essas lembranças servir senão para tiranizar o meu coração? (…) Tão sensíveis foram as suas palpitações que até parecia fazer esforços por se separar de mim e ir ao teu encontro! Todas estas emoções tão violentas me acabrunharam a tal ponto que, por espaço de mais de três horas, fiquei desfalecida! Proibia a mim própria regressar a uma vida que devo perder por ti, já que para ti a não posso conservar. Finalmente, e mau grado meu, voltei a ver a luz, e comprazia-me ao sentir que morria de amor. Estava, aliás, bem contente por já não ter de ver o meu coração despedaçado pela dor da tua ausência. Depois destes acidentes, sofri muitas e variadas indisposições. Mas poderei eu alguma vez viver sem males, enquanto voltar a ver -te? Suporto-os, contudo, sem murmurar, porque me vêm de ti. Será essa a recompensa que me dás por haver-te amado tão ternamente?
Soror Mariana Alcoforado, in “Cartas Portuguesas”
Pode visitar-se, no Museu Regional de Beja, a famosa janela referenciada numa das suas cartas, através da qual sentiu os efeitos da sua paixão avassaladora, pelo cavaleiro de Chamilly.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
25 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA
Século das Luzes http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2009/04/o-seculo-das-luzes.html
SÉCULO DAS LUZES
[http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2011/05/ arcadismo-ou-neoclassicismo.html. 18].
Século XVIII
Arcadismo ou Neoclassicismo. É o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII e deu às artes uma nova tonalidade burguesa. Vive-se, agora, a Época das Luzes, o Iluminismo burguês. Derivado do espírito crítico do Iluminismo, visa um retorno renovado aos géneros, às formas, às técnicas e às expressões clássicas, que vingaram em Portugal no séc. XVI. O desenvolvimento das técnicas de produção acarretou a grande evolução das ciências naturais, pois acredita-se que para expandir a produção fazia-se necessário conhecer as propriedades da matéria. Neste período, os filósofos passam a acreditar que a razão é a única fonte de conhecimento da natureza e da vida em sociedade. Portanto, a religião e a Igreja são vistas como instrumentos de ignorância e tirania. Assim, cientistas e filósofos não aceitam, no plano político, o Estado absolutista e as suas instituições. São contra a constante intervenção do poder real na economia, pois isso limitava o direito da propriedade.
As Arcádias Entre as Arcádias, equivalente literário das Academias, a mais importante era a Arcádia Lusitana estabelecida em 1756 pelo poeta António Diniz da Cruz e Silva, com a intenção de "formar uma escola que sirva de bom exemplo em eloquência e poesia". Esta Academia incluía alguns dos escritores mais influentes de sua época como Correia Garção . Em 1790 nasceu uma Nova Arcádia, a que pertencia Manuel Maria Barbosa du Bocage .
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
26 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA
Século das Luzes http://www.superdownloads.com.br/download/33/ guerras-do-alecrim-da-manjerona-antonio-jose-da-silva/
ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
1705-1739
António José da Silva (o Judeu). Nasceu no Rio de Janeiro e faleceu em Lisboa. Oriundo de uma família cristãnova que se refugiara no Brasil, vem para Portugal com a família. Forma-se em Direito na Universidade de Coimbra e em 1737 é preso com a própria esposa, ambos acusados de atividades judaizantes pela Inquisição. É executado em 1739 num auto-de-fé. Conhecido como comediógrafo de teatro de marionetas, as suas peças foram representadas no Teatro do Bairro Alto, onde conheceram grande sucesso popular. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/aj_judeu.htm . Prado, com casario no fim. Entram Dona Clóris, Dona Nize, e Sevadilha, com os rostos cobertos; e Dom Fuas, Dom Gilvaz, e Semicúpio,seguindo-as.
Nesta obra (Guerras do Alecrim e Manjerona), o Judeu faz sátira à mania dos grupos que estavam em moda, em Lisboa, na época do Carnaval, à medicina retórica e aos pontos fra-
Dom Gilvaz: Diana destes bosques, cessem os acelerados desvios desse rigor, pois quando rêmora me suspendeis, sois ímã, que me traís. (ParaD. Clóris).
cos da sociedade da época. A linguagem em prosa está ao
Dom Fuas: Flora destes prados, suspendei a fatigada porfia de vosso desdém, que essa discorde fuga com que me desenganais, é harmoniosa atração de meus carinhos; pois nos passos desses retiros forma compasso o meu amor. (Para D.Nize).
com especial relevância para o cómico da linguagem.
serviço da sátira, ajustando-se às personagens e situações,
Lilaz Carriço, in “Literatura prática”
Semicúpio: E tu, que vem atrás, serás o seringa destas brenhas; e para o seres com mais propriedade, deixa-te ficar mais atrás, pois apesar dos esguichos de teu rigor, hei de ser conglutinado rabo-leva das tuas costas. (Para Sevadilha). Dona Clóris: Cavalheiro, se é que o sois, peço-vos, me não sigais, que mal sabeis o perigo a que me expõe a vossa porfia. (Para D. G.)
António José da Silva, in “Guerras do Alecrim e Manjerona”
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
27 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA
Século das Luzes http://www.eskimo.com/~recall/bleed/0429.htm
CORREIA GARÇÃO 1724-1772
Pedro António Correia Garção. Nasceu em Lisboa e faleceu na mesma cidade. Frequentou o curso de Direito da Universidade de Coimbra, mas teve de abandonar os estudos, tornando-se oficial de secretaria e redator da Gazeta de Lisboa. Foi preso por razões desconhecidas e morreu pouco antes de ser libertado. É considerado um dos mais importantes poetas neoclássicos da literatura portuguesa. Pertenceu à Arcádia Lusitana, utilizando o pseudónimo de Corydon Erimantheo. As suas poesias foram publicadas em 1778 no volume Obras http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/garcao.htm . Se não te enjoas de comer sem pompa Em toalhas do Minho, em pobre mesa Onde não tine a rica porçolana, Nem cansa os olhos trémulo reflexo De burnida colher, de refulgente Britânico saleiro, caro Amigo, Sábio, ilustre Sarmento; ou não te assusta O suspeito convite de um poeta Afeito a dura fome, a duro frio, Cujo humilde tugúrio Noto açouta, E Áfrico lhe arrepia as leves telhas, Hoje podes cear na Fonte Santa: Alegres beberemos. Na cozinha Estala a seca lenha, brilha o fogo; O negro bicho ou negro cozinheiro,
O louro chá no bule fumegando De Mandarins e Brâmanes cercado; Brilhante açúcar em torrões cortado; O leite na caneca branquejando. Vermelhas brasas, alvo pão tostado; Ruiva manteiga em prato bem lavado; O gado feminino rebanhado, E o pisco Ganimedes apalpando; A ponto a mesa está de enxaropar-nos. Só falta que tu queiras, meu Sarmento, Com teus discretos ditos alegrar-nos. 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Enroscado no espeto fica assando Um lombo corpulento. (...)
Correia Garção, in “Obras poéticas ”
2014
28 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA
Século das Luzes http://www.poesiafaclube.com/membros/nicolau-tolentino-de-almeida
NICOLAU TOLENTINO
1740-1811
Nicolau Tolentino de Almeida. Nasceu em Lisboa e faleceu na mesma cidade. Estudou em Coimbra e, regressando a Lisboa, torna-se professor de Retórica. Ensinou durante quinze anos, conseguindo então um lugar de oficial na Secretaria de Estado dos Negócios do Reino. Foi autor de sonetos, odes, cartas e sátiras, que foram publicados em 1801 no volume Obras Poéticas. Foi um dissidente da Arcádia Lusitana. Chaves na mão, melena desgrenhada, Batendo o pé na casa, a mãe ordena Que o furtado colchão, fofo e de pena, A filha o ponha ali ou a criada.
O pai da moça, que era ginja honrado,
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/tolentin.htm
E o caso havia dias espreitava, De membrudo caixeiro se escoltava, Com bengala na mão, chambre traçado:
A filha, moça esbelta e aperaltada, Lhe diz coa doce voz que o ar serena: – «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena; Olhe não fique a casa arruinada...» – «Tu respondes assim? Tu zombas disto? Tu cuidas que, por ter pai embarcado, Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Fugira o moço, qual ligeira pela, Se as fivelas, de marca agigantada, Deixassem navegar a nau à vela; Mas viu uma entre esquinas encalhada; E, se ninguém comprou maior fivela,
Arremete-lhe à cara e ao penteado. Eis senão quando (caso nunca visto!) Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
Também ninguém levou maior maçada.
Tolentino dedicou-se à sátira com o propósito de castigar os costumes. Combina a graça ligeira, a malícia ou o realismo crítico com a descrição hiperbólica, ou a ironia: mas ter espírito é, quase sempre, fazer valer a materialidade da vida, necessidades físicas, “bagatelas e aflições do bicho humano”.
Em curto josezinho rebuçado, Loiro peralta a rua passeava; Seus votos pela adufa lhe aceitava Com brando riso um rosto delicado;
Nicolau Tolentino, in “Obras poéticas”
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Nemésio, Vitorino, in “Ondas médias”
2014
29 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA
Século das Luzes http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bocage.htm
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
1765-1805
Manuel Maria Barbosa du Bocage. Nasceu em Setúbal, filho de um advogado e de uma senhora francesa. Vai para a Academia Real da Marinha aos 14 anos e embarca em serviço para a Índia em 1786. Vive dois anos em Goa, regressando a Lisboa com 25 anos de idade. Aí dedica-se a uma vida desregrada entre os botequins e as tertúlias literárias. Pertenceu à Nova Arcádia onde era conhecido pelo pseudónimo de Elmano Sadino. As suas relações com a Arcádia não foram pacíficas, tendo, ao afastarse, lançado ataques contundentes nos seus versos. O seu pendor satírico levou-o à prisão do Limoeiro, conseguindo a transferência para o mosteiro de São Bento onde vem a falecer pobre e doente. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bocage.htm
O Leão e o Porco
O rei dos animais, o rugidor leão, Com o porco engraçou, não sei por que razão. Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna (A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna): Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes, Poder de despachar os brutos pretendentes, De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
Bocage , in “Fábulas”
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria, Soltavam contra ele injúria sobre injúria Os outros animais, dizendo-lhe com ira: «Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!» E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais, Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais! Dos filhos para o génio olhai com madureza; Não há poder algum que mude a natureza:
Auto-retrato Magro, de olhos azuis, carão moreno, Bem servido de pés, meão na altura, Triste de facha, o mesmo de figura, Nariz alto no meio, e não pequeno; Incapaz de assistir num só terreno, Mais propenso ao furor do que à ternura; Bebendo em níveas mãos, por taça escura, De zelos infernais letal veneno; Devoto incensador de mil deidades (Digo, de moças mil) num só momento, E somente no altar amando os frades,
Bocage, in “Poesias de Bocage” Eis Bocage em quem luz algum talento; Saíram dele mesmo estas verdades, Num dia em que se achou mais pachorrento. 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
30 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Romantismo http://cultura.culturamix.com/arte/pinturas-do-romantismo
ROMANTISMO
Século XIX
Romantismo. É oficialmente introduzido em Portugal com o poema Camões, de Almeida Garrett. As suas grandes figuras são este autor e ainda Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco, pertencendo este a uma geração mais tardia que confinará com o advento da escola realista. A introdução do discurso da História como ciência (Herculano), a renovação do teatro (Garrett) e a criação do romance histórico (com ambos estes escritores, e toda uma linhagem de autores que se prolonga até inícios do séc. XX) são contributo da escola romântica, que se caracteriza pela valorizaPalácio Real na encosta da Ajuda;© Instituto Camões, 2001 ção das manifestações individuais, sobretudo no plano da emoção e do confessionalismo, e pela defesa dos valores da liberdade (desde o plano político ao literário, nomeadamente versicular) e das origens (infância, nacionalidade, tradição, e ainda a natureza humana contra a ação corruptora da sociedade).” © Instituto Camões, 2001
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Almeida Garrett (1799-1854) 2014
31 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Romantismo © Instituto Camões, 2001 ALMEIDA GARRETT
1799-1884
Almeida Garrett. “Foi o introdutor do Romantismo em Portugal com o poema "Camões", 1825, desenvolveu o teatro (criando o Teatro Nacional e escrevendo obras de repertório, entre as quais se conta a obra-prima Frei Luís de Sousa, 1843), cultivou o romance histórico (O Arco de Sant'Ana, 1845) e foi um notável poeta do amor e das suas contradições, da sensualidade e da mulher .” NÂO TE AMO Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma. E eu n’alma - tenho a calma, A calma - do jazigo. Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma. E eu n’alma - tenho a calma, A calma - do jazigo. Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida. E a vida - nem sentida A trago eu já comigo. Ai, não te amo, não!
Não te amo, quero-te: o amor é vida. E a vida - nem sentida A trago eu já comigo. Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero De um querer bruto e fero Que o sangue me devora, Não chega ao coração.
Ai! não te amo, não; e só te quero De um querer bruto e fero Que o sangue me devora, Não chega ao coração. Folhas Caídas, 1853 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
32 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Romantismo © Instituto Camões, 2001 ALEXANDRE HERCULANO
1810-1877
Alexandre Herculano. “Poeta (Tristezas do Desterro, 1838) e romancista (Eurico, o Presbítero, 1844), teve a paixão da reconstituição histórica, elevando os estudos de História à sua consideração científica. É um dos grandes escritores da geração romântica, desenvolvendo os temas da incompatibilidade do homem com o meio social e experienciando a dimensão ética do escritor face à incompreensão do mundo.” (...) Ai, que és tu, existência?! Um pesadelo,
.Instituto Camões, 2001
Um sonho mau, de que se acorda em trevas, Na vala dos cadáveres, em meio Da única herança que pertence ao homem, Um sudário e o perpétuo esquecimento. (...) E da pátria a saudade, em sonho triste, Imóvel, do viver me tece a noite.(...)
Tristezas do Desterro, excerto
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
33 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Romantismo http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/dinis.htm JÚLIO DINIS (1839—1871)
Júlio Dinis. ”Pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), nasceu no Porto e foi entre esta cidade, Ovar e o Douro que passou grande parte da sua vida. Tirou o curso de Medicina na Escola Médica do Porto, aliando a profissão de médico à de escritor. Os seus primeiros textos foram publicados em A Grinalda e em O Jornal do Comércio. De uma família de tuberculosos (a mãe e os irmãos morreram com essa doença), Júlio Dinis contrai também a doença e parte numa cura para a Madeira, cura esta que de pouco lhe valeu, falecendo ainda muito novo.”
UMA FAMÍLIA INGLESA CENAS DA VIDA DO PORTO
I Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor Entre os súbditos da rainha Vitória, residentes no Porto, ao principiar a segunda metade do século dezanove, nenhum havia mai s benquisto e mais obsequiado, e poucos se apontavam como mais fleumáticos e genuinamente ingleses, do que Mr. Richard Whitestone.Por tal nome era em toda a cidade conhecido um abastado negociante de fino tacto comercial e génio empreendedor, cujo crédito nas primeiras praças da Europa e da América, e com especialidade nos vastos empórios da Grã-Bretanha, se firmava em bases de uma solidez superabundantemente provada. Nos livros de registo do Bank of England, bem como nos de alguns Joint-Stock banks e dos banqueiros particulares da City ou de West-End, podia-se procurar com êxito documentos justificativos deste crédito florescente. Não era Mr. Richard homem para seguir somente caminhos batidos, nem para empalidecer ao abalançar-se em veredas não arroteadas, onde se achava a sós com os seus esforços e tenacidade. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/dinis.htm 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
34 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Romantismo © Instituto Camões, 2001
CAMILO CASTELO BRANCO
1825-1890
Camilo Castelo Branco. “É o grande romancista do Romantismo português (Romance de um Homem Rico, 1861), experienciando também as novas técnicas da escola realista com intuitos jocosos (Eusébio Macário, 1879) e num texto de final de carreira que é um dos seus mais belos romances: A Brasileira de Prazins, 1882. Magistral nos lances arrebatados e místicos da paixão exacerbada e dos laços familiares conflituosos (O Retrato de Ricardina, 1868), assim como na sátira social (A Queda dum Anjo, 1866) e na autocrítica, nomeadamente literária, é figura dominante nas nossas Letras.” © Instituto Camões, 2001 Camilo Castelo Branco e Ana Plácido; © Instituto Camões, 2001
“Quando, à meia-noite, o Alma negra entrava em casa pela porta do quintal, encontrou a mulher ainda de joelhos diante da estampa do Bom Jesus do Monte. Ao lado dela estavam duas filhas a rezar também, a tiritar, embrulhadas numa manta esburacada, aquecendo as mãos com o bafo. O Melro mandou deitar as filhas, e foi à loja contar à mulher, lívida e trémula, como o Zeferino morreu sem ele pôr para isso prego nem estopa. Ela pôs as mãos com transporte e disse que fora milagre do Bom Jesus; que estivera três horas de joelh os diante da sua divina imagem. O marido objectava contra o milagre - que o compadre não lhe dava a casa, visto que não fora ele quem vindimara o Zeferino; e a mulher - que levasse o demo a casa; que eles tinham vivido até então na choupana alugada e que o Bom Jesus os havia de ajudar. Ao outro dia, o Joaquim Melro convenceu-se do milagre, quando o compadre, depois de lhe ouvir contar a morte do pedreiro, lhe disse: - Enfim, você ganha a casa, compadre, porque mátava Zéférino, se os outros não matam ele, hem?”
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
A Brasileira de Prazins (excerto)
2014
35 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Romantismo http://www.infopedia.pt/$joao-de-deus
JOÃO DE DEUS 1830-1896
Amigo Velho
João de Deus. Poeta e pedagogo, frequentou o curso de Direito em Coimbra e foi eleito deputado por Sines. Em Lisboa, frequentou ambientes de boémia literária e colaborou em vários jornais e revistas. Coligiu as suas poesias no volume Flores do Campo, a que se seguiram Ramo de Flores, Folhas Soltas, Despedidas do Verão e Campo de Flores. Como poeta, João de Deus situou-se num momento em que a via ultrarromântica estava já a esgotar-se, mas, apesar do apreço que lhe manifestavam autores como Antero de Quental, não se identificou com as preocupações filosóficas e sociais da Geração de 70. De facto, a temática dominante da sua obra poética afastou-o da nova corrente. A publicação, em 1876, da célebre Cartilha Maternal, método de ensino da leitura verdadeiramente revolucionário no panorama pedagógico nacional, constituiu um marco importante. Em 1895 foi agraciado com várias homenagens à escala nacional.
(A Martins de Carvalho num dia dos seus anos) Uma vez encontrámo-nos os dois Nesse mar da política; depois, Como diversa bússola nos guia, Cada qual foi seu rumo: todavia, Em certas almas nunca se oblitera A afeição de um companheiro antigo: Sou para vós por certo o que então era; E eu, como então na minha primavera, Abraço o venerando e velho amigo!
João de Deus. In Infopédia www: <URL: http://www.infopedia.pt/$joao-de-deus>.
João de Deus, in 'Campo de Flores' ; http://www.infopedia.pt/$joao-de-deus>.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
36 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Realismo
Entrada do Passeio Público no séc. XIX; © Instituto Camões, 2001 REALISMO
Século XIX
Realismo. “Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Antero de Quental e Teófilo Braga foram alguns dos mais importantes vultos que constituíram a chamada «Geração de 70», que, a partir da «Questão Coimbrã» (polémica entre Castilho e Pinheiro Chagas), deu origem às «Conferências do Casino», na qual se enunciaram os mais importantes preceitos de uma nova cultura, que em grande parte se liga ao realismo de proveniência francesa e europeia. Os romances de Eça e a poesia de Antero ligam-se (no primeiro integralmente; no segundo, apenas em parte) a essa nova estética, que é também representada pelos romances de Júlio Dinis e pela poesia de Cesário Verde (embora esta, como a de Gomes Leal e a de Guerra Junqueiro, apresente já nexos com a poesia simbolista). O realismo procura retomar a objectividade na literatura (contra o subjectivismo emocional romântico), a sua ligação crítica mas construtiva à sociedade, e o rigor da escrita poética, assente num rigor reflexivo e numa planificação composicional.”
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
37 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Realismo © Instituto Camões, 2001 ANTERO DE QUENTAL
1842-1891
Antero de Quental. “Está ligado à poesia realista e simbolista com as Odes Modernas, 1865, que se integram no programa de modernização da sociedade portuguesa desenvolvido pela Geração de 70, à qual pertence, mas é nos Sonetos Completos, 1886, que o melhor da sua poesia emerge, cruzando o simbolismo de timbre ainda romântico com a poesia de ideias e com a reflexão filosófica, na expressão de conflitos íntimos e sociais que pessoalmente o levarão ao suicídio.” A tristeza do tempo! O espectro mudo Que pela mão conduz... não sei aonde! - Quanto pode sorrir, tudo se esconde... Quanto pode pungir, mostra-se tudo.-
Cada pedra, que cai dos muros lassos Do trémulo castelo do passado, Deixa um peito partido, arruinado, E um coração aberto em dois pedaços! Odes Modernas © Instituto Camões, 2001 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
38 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Realismo © Instituto Camões, 2001 EÇA DE QUEIRÓS
1845 -1900
Eça de Queirós. “É considerado o grande romancista da literatura portuguesa, quer pela sua amplidão temática (dominada pela crítica da sociedade contemporânea e pelos desmandos do amor sensual, ex. O Crime do Padre Amaro, 1875, e O Primo Basílio, 1878), quer pela capacidade narrativa (manifestada na orgânica realista e decadente de Os Maias, 1888), quer pelo rigor e criatividade do seu estilo impressionista (que culmina na prosa animista de A Cidade e as Serras, 1901.” © Instituto Camões, 2001
Lisboa. Café "A Brasileira"; Por toda a parte a água sussurrante, a água fecundante...
© Instituto Camões, 2001
Espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos; grossos ribeiros açodados saltavam com fragor de pedra em pedra; fios direitos e luzidios como cordas de prata vibravam e faiscavam das alturas dos barrancos; e muita fonte, posta à beira de veredas, jorrava por uma bica, beneficamente, à espera dos homens e dos gados… A Cidade e as Serras 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
39 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Realismo http://www.publico.pt/cultura/noticia/descobertos-manuscritos-ineditos-quepodem-ser-de-guerra-junqueiro-1502816
GUERRA JUNQUEIRO
1850-1923
Guerra Junqueiro. Poeta e político português, é entre nós o mais vivo representante de um romantismo social panfletário. Licenciou-se em Direito em Coimbra, durante um período que coincidiu com o movimento de agitação ideológica em que eclodiu a Questão Coimbrã. Participou nas reuniões dos Vencidos da Vida, juntamente com Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós e António Cândido, entre outros. Escreveu o livro de poesias Finis Patriae e foi Ministro de Portugal na Suiça. Na fase final da sua vida, retirou-se para a sua propriedade no Douro, assinalando-se então uma viragem na sua orientação poética, que se volta para a terra e para “os simples”, como atestam as suas últimas obras: Pátria (1896); Os Simples (1892); Oração ao Pão (1903) e Oração à Luz (1904). http://www.infopedia.pt/$guerra-junqueiro>
Vendo-a Sorrir (a minha filha) Filha, quando sorris, iluminas a casa Dum celeste esplendor. A alegria é na infância o que na ave é asa E perfume na flor.
Ao ver esse sorriso, ó filha, se concentro Em ti o meu olhar, Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro Com pombas a voar.
Ó doirada alegria, ó virgindade santa Do sorriso infantil! Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta Todo o poema de Abril.
Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro, És o Sol que se eleva. Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro O meu manto de treva!
.
Guerra Junqueiro, in “Poesias Dispersas”; http://www.infopedia.pt/$guerra-junqueiro>
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
40 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Realismo © Instituto Camões, 2001 CESÁRIO VERDE 1855-1886
Cesário Verde. “Teve morte prematura, mas deixou-nos uma obra (O Livro de Cesário Verde, 1887) onde emerge de maneira original o sentimento da modernidade oitocentista, ao modo de Baudelaire e dos parnasianos, patente na expressão lírica acompanhada da crítica poética dos seus exageros sentimentais e dos lugares comuns da sua retórica, tendo como objectivo detectar a poesia da matéria banal e comum, e assentando numa elaboração formal cuidada e cheia de inovações.” Hoje eu sei quanto custam a criar As cepas, desde que eu as podo e empo. Ah! O campo não é um passatempo com bucolismos, rouxinóis, luar. «Nós» E agora, de tal modo a minha vida é dura, Tenho momentos maus, tão tristes, tão perversos, Que sinto só desdém pela literatura, E até desprezo e esqueço os meus amados versos! «Nós» © Instituto Camões, 2001
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
41 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Época Contemporânea http://www.cosacnaify.com.br/loja/interna.asp?cod=31&codigo_categoria=2&language=pt
ÉPOCA CONTEMPORÂNEA
Séculos XX - XXI
Época Contemporânea. Vários “ismos”, correntes e movimentos caracterizam a produção literária que se segue ao Realismo e aos Poetas Parnasianos (Simbolismo, 1º e 2º Modernismos, Neo-realismo, Pós-modernismo e outros percursos individuais, alguns carecendo ainda de distanciação temporal, de estudo e de consenso classificativo). Assim, e porque este trabalho persegue, unicamente, propósitos ilustrativos, seguem-se alguns autores nacionais que percorreram o século XX e o início do século XXI cultivando a nossa preciosa língua portuguesa no seu melhor.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
42 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA
Época Contemporânea http://www.cm-viladoconde.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=41351&dia=20111026
ANTÓNIO NOBRE
1867-1900
António Nobre. “Nasceu no Porto no dia 16 de agosto de 1867 e faleceu na Foz do Douro no dia 18 de Março de 1900. Matriculando-se no curso de Direito na Universidade de Coimbra em 1888. Como os estudos lhe corressem mal, partiu para Paris onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas, licenciando-se em Ciências Jurídicas. De regresso a Portugal, tenta entrar na carreira diplomática, mas a tuberculose impede-o. Doente, ocupa o resto dos seus dias em viagens a procurar remédio para o seu mal, da Suíça à Madeira. Faleceu ainda muito novo. A sua obra poética insere-se na corrente que ficou conhecida como Neogarretismo”. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/nobre.htm
LUSITÂNIA NO BAIRRO LATINO Só! Ai do Lusíada, coitado, Que vem de tão longe, coberto de pó. Que não ama, nem é amado, Lúgubre Outono, no mês de Abril! Que triste foi o seu fado! Antes fosse pra soldado, António Nobre, Paris 1891-92 Antes fosse pró Brasil... http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/nobre.htm (…)
António Nobre – busto de Tomás Costa – inaugurado em 26/3/1927
http://portoarc.blogspot.pt/ 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
43 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://assirioealvim.blogspot.pt/2012/09/camilo-pessanha-07091867-01031926.html
CAMILO PESSANHA
1867—1926
Camilo de Almeida Pessanha. “O «único verdadeiro simbolista da literatura portuguesa e, em absoluto, um dos maiores intérpretes do Simbolismo europeu», nas palavras de Barbara Spaggiari (…) O Simbolismo surge como uma corrente literária que estabelece a ligação entre a época romântica e a contemporânea, privilegiando o significante em relação ao significado, a melodia, assim como a sugestão, a sensação difusa, a imaginação e o fascínio pelo hermetismo e pela magia verbal. E é esta tendência da poesia para a música que Pessanha irá cultivar na sua própria poética”.
VIOLONCELO Chorai arcadas Do violoncelo! Convulsionadas, Pontes aladas De pesadelo... (…) Urnas quebradas! Blocos de gelo... – Chorai arcadas, Despedaçadas, Do violoncelo.
Lisboa, E. (coord.) (1994). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Mem Martins: Europa-América, pp. 54 e 56.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/pessanha.htm
Tirou o curso de Direito em Coimbra e partiu para Macau onde exerceu funções judiciais. O contacto com a cultura chinesa levou-o a escrever vários estudos e a fazer traduções de poetas chineses. Foram, todavia, os seus poemas simbolistas que largamente influenciaram a geração de Orpheu, desde Mário de Sá-Carneiro até Fernando Pessoa. Os seus poemas foram reunidos na colectânea Clepsidra, publicada em 1922, tendo sido Fernando Pessoa o principal mentor da edição. 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
44 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Brand%C3%A3o
RAUL BRANDÃO 1867—1930
Raúl Brandão. “Numa visão de conjunto da obra de Raul Brandão, pode dizer-se, antes de mais, que ele é o exemplo paradigmático do escritor de transição entre o final do século XIX e o início do século XX. Influenciado, desde o início quer pelo estilo de Eça, quer pelo estilo de Fialho de Almeida, situando-se de maneira ambígua entre o realismo -naturalismo e um esteticismo decadentista proveniente do simbolismo, Raul Brandão assimilou também os conceitos de intuicionismo e mais propriamente as ideias bergsonianas de Sampaio Bruno […].” Assim, se, por um lado, a visão finissecular antipositivista e antimetafísica caraterizam a sua obra desde os primeiros textos, por outro, não podemos esquecer a herança romântica e, em particular, a herança camiliana, de que se apropria para a reelaborar pela criação de um espaço e de um tempo simbólicos, pela redução da ação a momentos epifânicos, a fragmentos de prosa poética e de reflexões filosófico-oníricas, obsessivas e desordenadas. Álvaro Manuel . Livros de viagens, Crónicas: Os Pescadores, Lisboa, 1923; As Ilhas Desconhecidas, Lisboa, s/d (1926).
“Reduzimos a vida a uma insignificância… Construímos ao lado outra vida falsa, que acabou por nos dominar. Toda a gente fala no céu, mas quantos passaram no mundo sem ter olhado o céu na sua profunda, na sua temerosa realidade? O nome basta -nos para lidar com ele. Nenhum de nós repara no que está por detrás de cada sílaba. Afundamos as almas sem restos, em palavras, em cinza. Construímos cenários e convencionamos que a vida se passasse segundo certas regras. Isto é a consciência —isto é o infinito… Está tudo catalogado. Na realidade jogamos a bisca entre a vida e a morte, baseados em palavras e sons. Há decerto uma coisa chama a consciência, mas com o uso perderam o sentido. E também há outra chamada instinto que não tem importância nenhuma… [...] Desde que se cumpram certas cerimónias pu se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto—tudo ao mesmo tempo.” BRANDÃO, Raul (1991). Húmus, Lisboa: Vega, p. 23
http://acpc.bn.pt/imagens/depositos/d02_bradao_raul.jpg
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
45 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
FERNANDO PESSOA 1888—1935
Fernando Pessoa. «A minha pátria é a língua portuguesa», escreveu, profeticamente, Fernando Pessoa. O seu génio expressou-se também, inúmeras vezes, em língua inglesa – mas aquele que viria a tornar-se o mais internacional dos escritores portugueses sabia que cada língua tem a sua cor, a sua luz e a sua música própria, e que a arte da escrita consiste em levar para lá dos limites convencionais os dons expressivos de cada língua. A sua primeira originalidade foi essa: a de se entregar ilimitadamente à sua língua, sem complexos de mando nem de escravo. Por isso escreveu sobre o conhecido e o desconhecido, o alto e o baixo, a estética e o comércio, a política e a astrologia. Criou uma constelação de heterónimos e semi-heterónimos – incluindo uma extraordinária Maria José – que lhe permitiram explorar, visceralmente, as mais diversas possibilidades do ser. E foi, evidentemente, um poeta inultrapassável – o tempo paralisa-se diante dos seus textos, sempre inscritos numa verdade futura. Semeador de papéis com um único livro publicado em vida («Mensagem»), sonhador de impossíveis que jamais se deixou esmagar pela monótona incompreensão do seu tempo, Fernando Pessoa deixou uma obra múltipla e incisiva, que continua a surpreender-nos, a seduzirnos e, acima de tudo, a desafiar-nos a quebrar as fronteiras do corpo e da alma, da vida e do sonho, da reflexão e dos sentimentos. Uma obra absolutamente universal. http:// casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=4281 AUTOPSICOGRAFIA O poeta é um fingidor. E os que leem o que escreve, E assim nas calhas da roda Finge tão completamente Na dor lida sentem bem, Gira, a entreter a razão, Que chega a fingir que é dor Não as duas que ele teve, Esse comboio de corda A dor que deveras sente. Mas só a que eles não têm. Que se chama o coração.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
http:// sociedadedospoetasamigos.blogspot.pt/2013/01/ fernando-pessoa-poetafilosofo-e.html
46 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://cvc.instituto-camoes.pt/contomes/03/escreveu.html
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
http://sobreorisco.blogspot.pt/2009/04/mario-de-sa-carneiro-visto-por-almada.html
1890—1916
DISPERSÃO Perdi-me dentro de mim Porque eu era labirinto, E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim.
Mário de Sá-Carneiro. “Poeta, contista e ficcionista, foi um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu. “Datam de 1908 os oito contos breves que Sá-Carneiro publica na revista Azulejos. Assume-se então como um ficcionista. Sete novos contos são dois reunidos, em 1912, no livro Princípio. Dentre estes, o último e mais importante, O Incesto, contém já um tema maior da sua obra futura., o desdobramento do uno em duplo. […] Este tema do desdobramento, que vem da tradição romântica, será o centro de narrativas como A Confissão de Lúcio, EUFIM Próprio o Outro, Ressurreição e A Grande Sombra […]. Do mesmo modo a Quando eu morrer batam em fragmentação do eu na poesia que começa a escrever a partir de 1913— latas, Rompam aos berros e aos pinotes para o livro precisamente chamado Dispersão—nasce do exacerbamento — e de uma ampliação desse tema. […] O papel literário e cultural de SáFaçam estalar no ar chicotes, Carneiro passa, entretanto, pela ligação de amizade e colaboração que Chamem palhaços e acrobatas. estabelece com Pessoa.” Que meu caixão vá sobre um bur-
Passei pela minha vida Um astro doido a sonhar. Na ânsia de ultrapassar, Nem dei pela minha vida... (...)
Desceu-me n'alma o crepúsculo; Eu fui alguém que passou. Serei, mas já não me sou; Não vivo, durmo o crepúsculo.
ro Ajaezado à andaluza: A um morto nada se recusa, Eu quero por força ir de burro...
MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de Literatura Portuguesa, Lisboa:
(Paris, 1916 http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/sacarneiro.htm
Editorial Presença, pp. 428-29. Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
(Lisboa, fevereiro de 1914)
47 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA E REPÚBLICA
Época Contemporânea http://blogtriplov1.files.wordpress.com/2014/01/a00000015.jpg
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS 1893—1970
José de Almada Negreiros. “Artista multidisciplinar, pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo, romancista, Almada colaborou nas revistas Orpheu e Portugal Futurista. “É o grande modernista programático da literatura portuguesa, tanto na poesia (A Invenção do Dia Claro, 1921) como no teatro (Deseja-se Mulher, 1928), mas muito principalmente na ficção, com os textos K4 o Quadrado Azul, 1917, A Engomadeira, 1917, e o romance Nome de Guerra, 1938. Pratica um estilo inovador no plano da construção do discurso mas sobretudo na forma de expor e organizar as ideias (com brandura, violência ou puro aleatório), que nunca são secundárias na sua constante preocupação formal, a que não é alheia a sua atividade de artista plástico que o afirmou como personalidade decisiva na nossa cultura.” http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/almada.htm
Domingo Lisboeta- 410x205 cm (x3). Fresco da gare marítima da Rocha do Conde de Óbidos (1946-1949). FRANÇA, José-Augusto (1974), Almada Negreiros o Português sem Mestre, Lisboa: Estúdios Cor.
Um dia a mãe comprou chapeu pra ir em pessôa pedir à dôna da engommadoria que não deixásse a filha passar a ferro as ceroulas dos homens porque parecia mal a uma menina decente. D'aqui a chacota endiabrada das outras que a não deixavam e até lhe chama vam o Quêlhas. E eram empuxões e risotas e pisadellas a fingir sem querer e um dia até lhe descoseram a saia. E tambem não suport avam que os que espreitavam na rua olhassem mais pra ela quando já estava resolvido entre todas as engomadeiras que ela era a mais fei a. E a parva parece que não via nada, que estava a dormir! Era o parvo do Mendes, era o estupido do Alves e até o senhor Anastacio! eram todos, e ela… nada! Então ela não foi dizer à senhora que o patrão lhe tinha oferecido uma carta?! que parva!… Aquillo só co' o ferro por aquelles olhos! Ná! não podia continuar assim! Nem ela nem as mais (e por causa d'ella!) já passa da medida! Mata -se a idiota! Ela ouvia, ouvia tudo naquelle esforço de não querer ouvi-las, ás malcriadas. Ainda desconfiáram d'algum amante que a sustentasse, algum palerma que lhe désse as coisas… mas no dia em que descalças a espreitaram da escada troçaram d'ela e do gato a brincarem juntos em cima da cama. Concordaram: não póde ter amante —ainda tem o fato do anno passado e as botas, as botas fôram do pae com certeza. http://www.gutenberg.org/cache/epub/23879/pg23879.html 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
48 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://static.tumblr.com/bsq8b5q/n9tlthtvt/florbela2.jpeg
FLORBELA ESPANCA 1894—1930
Florbela Espanca. “Estudou em Évora, onde concluiu em 1917 o curso liceal, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É por essa altura que publica as suas primeiras poesias. Tendo casado várias vezes e tendo sido em todas elas infeliz, começou a consumir estupefacientes. Só depois da sua morte é que a poetisa viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli, tendo ficado famosos os seus sonetos. Na Enciclopédia Larousse, esta poetisa é definida como «parnasiana, de intenso acento erótico feminino, sem precedentes na Literatura Portuguesa. A sua obra lírica, iniciada em 1919, com o Livro das Mágoas, antecipa em seu meio a emancipação literária da mulher»”. Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
Florbela Espanca. Acedido em 28 de fevereiro de 2014 em http:// alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/espanca.htm
É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! Florbela Espanca, «Ser Poeta», in «Charneca em Flor»
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
49 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2010/06/ferreira-de-castro-perfil-literario.html
FERREIRA DE CASTRO
1898—1974
Ferreira de Castro. “Passou a juventude no Brasil, para onde foi como emigrante depois de completar os estudos primários. Um verdadeiro autodidata, Ferreira de Castro granjeou notoriedade internacional, tendo sido um dos autores portugueses mais traduzidos desde sempre. Quando regressou a Portugal, dedicou-se ao jornalismo, tendo sido redator de O Século e diretor de O Diabo. O romance A Selva, traduzido em diversas línguas, deu-lhe grande notoriedade”. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/fcastro.htm
“Recebendo homenagens literárias em vários países e vendo os seus livros traduzidos em várias línguas, Ferreira de Castro assistiria ao culminar do reconhecimento da sua obra com uma vibrante celebração do seu cinquentenário de vida literária, em Portugal e no Brasil, e com, após a publicação de O Instinto Supremo, em 1968, a apresentação pela União Brasileira de escritores da candidatura conjunta de Ferreira de Castro e de Jorge Amado ao Prémio Nobel de Literatura”. http://www.infopedia.pt/$ferreira-de-castro
“Sim, a selva era bela, majestosa, mesmo deslumbrante. E era rica, havia de ser fantasticamente rica também, mas um dia —um dia que vinha ainda longe. Entretanto, toda a sua grandeza esmagaria, toda a sua deslumbrância seria volúpia do primeiro contacto, logo desvanecida pela monotonia; e os anónimos desbravadores iriam caindo, inexoravelmente, sob as febres palustres, traspassados pelas flechas envenenadas, desvairados pel a ausência do amor— escravos, pobres, miseráveis, ali onde a natureza erguia as suas mais fastigiosas pompas!” Castro, F. de (1979). A Selva in Obras de Ferreira de Castro, volume I, 3ª ed.. Porto: Lello & Irmão Editores, p. 494
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
50 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://inovourem.blogs.sapo.pt/41731.html
ANTÓNIO ALEIXO 1899—1949
António Aleixo. “Poeta popular algarvio, (…) que era quase analfabeto (…). Os seus versos começaram por se popularizar oralmente, já que o poeta os cantava, ele próprio, em feiras (…). A produção de António Aleixo, reunida postumamente em antologia, em 1969, no volume intitulado Este livro que vos deixo…, integra-se na mais pura tradição dos nossos poetas e cantadores populares: a construção simples e concisa dos versos, conseguida através de uma escolha da palavra exacta, confere ao humor que lhe é subjacente a expressão aguda, subtil e eficaz de uma especial sensibilidade às sociais. (…) As mesmas características identificam o teatro de António Aleixo, que compreende três autos à maneira vicentina”.
Peço às altas competências Perdão, porque mal sei ler, Para aquelas deficiências Que os meus versos possam ter.
Lisboa, E. (coord.) (1994). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Mem Martins:
Se pedir, peço cantando, Sou mais atendido assim; Porque, se pedir chorando, Ninguém tem pena de mim. In http://www.homeoesp.org/livros_online/antonioaleixo_antologiapoetica.pdf
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
51 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.notaveisazores.com/
VITORINO NEMÉSIO 1901—1978
Vitorino Nemésio. Açoriano, “frequentou a Universidade de Coimbra e foi professor da Faculdade de Letras em Lisboa, tendo também ensinado no Brasil, França, Bélgica, Espanha e Holanda. Além de professor e escritor, dedicouse à televisão, tendo apresentado um programa cultural intitulado Se bem me lembro. Da sua colaboração em jornais, destaca-se a direção de O Dia (1975-1976). Do ponto de vista literário, Vitorino Nemésio granjeou certa notoriedade na revista Presença. Em 1965 recebeu o Prémio Nacional da Literatura e em 1974 o Prémio Montaigne”. A Tempo A tempo entrei no tempo, Sem tempo dele sairei: Homem moderno, Antigo serei. Evito o inferno Contra tempo, eterno À paz que visei. Com mais tempo Terei tempo: No fim dos tempos serei Como quem se salva a tempo. E, entretanto, durei. Vitorino Nemésio, in 'O Verbo e a Morte'
Vitorino Nemésio. Acedido em 28 de fevereiro de 2014 em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/nemesio.htm Programa televisivo SE BEM ME LEMBRO
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
52 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.escritas.org/pt/biografia/jose-regio
JOSÉ RÉGIO
1901—1969
José Régio. “Nasceu em Vila do Conde, licenciando-se em Letras na Universidade de Coimbra. F oi professor do ensino secundário em Portalegre, aliando o trabalho pedagógico à criação literária. Em Coimbra, foi um dos fundadores da revista Presença, com Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões, entre outros. é um dos mais importantes poetas do chamado Segundo Modernismo português”. As suas obras subdividem-se nas categorias: poesia, ficção, ensaio e teatro. José Régio. Acedido em 2 de março de 2014 em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/regio.htm Cântico Negro (…) Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, É uma onda que se alevantou, É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí! José Régio, Cântico Negro
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
53 IDADE CONTEMPORÂNEA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://nautilus.fis.uc.pt/rc/?cat=9
ANTÓNIO GEDEÃO 1906—1997
António Gedeão. “Afirmando-se como um dos mais brilhantes e talentosos criadores lusófonos do século XX, Rómulo de Carvalho/António Gedeão, respetivamente, o professor, pedagogo e historiador da ciência, e o seu alterego literário, atravessou todas as convulsões e acontecimentos marcantes do nosso século, que se refletiram no formar-se de um espírito extremamente marcado pelo ceticismo e pela ironia, sempre presentes nos seus poemas.[…] Lisboeta toda uma vida, uniu de forma exemplar, através da sua obra, a ciência e a poesia, a vida e o sonho. Apesar de só aos 50 anos ter decidido publicar o seu primeiro livro de poesia, inaugurando assim uma carreira que se afirmou por si própria na cultura portuguesa, tornou-se uma figura de referência incontornável no imaginário coletivo do povo português, principalmente para toda a geração da “Pedra Filosofal”. http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/
Pedra filosofal Lição sobre a água ………………………………………… Eles não sabem que o sonho Este líquido é água. é tela, é cor, é pincel, Quando pura base, fuste, capitel, é inodora, insípida e incolor. arco em ogiva, vitral, Reduzida a vapor, pináculo de catedral, sob tensão e a alta temperatura, contraponto, sinfonia, move os êmbolos das máquinas que, por isso, máscara grega, magia, se denominam máquinas de vapor. que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, É um bom dissolvente. rosa-dos-ventos, Infante, Embora com excepções mas de um modo geral, caravela quinhentista, dissolve tudo bem, bases e sais. que é cabo da Boa Esperança, Congela a zero graus centesimais ouro, canela, marfim, e ferve a 100, quando à pressão normal. florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, passarola voadora, sob um luar gomoso e branco de camélia, pára-raios, locomotiva, apareceu a boiar o cadáver de Ofélia barco de proa festiva, com um nenúfar na mão. http://www.citi.pt/cultura/ alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, literatura/poesia/ ultra-som, televisão, antonio_gedeao/ desembarque em foguetão na superfície lunar. Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, http:// que sempre que um homem sonha cellymarteniuk.blogspot.pt/ o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança. In Movimento Perpétuo, 1956. 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
54 IDADE MODERNA 4ª DINASTIA e REPÚBLICA
Época Contemporânea http://nesgadeterra.blogspot.pt/2010/09/miguel-torga-e-o-nome-deste-blogue.html
MIGUEL TORGA 1907—1995
Miguel Torga. Médico em Coimbra, foi um polígrafo fecundíssimo e figura determinante na cultura portuguesa deste século, em termos não só literários mas também cívicos. Tangencial às tendências estéticas e ideológicas contemporâneas, desenvolveu um estilo muito pessoal na poesia (O Outro Livro de Job, 1936), na ficção (em notáveis antologias de contos, ex. Bichos) e noutros géneros, onde se destacam os 16 volumes do Diário, obra-prima das letras portuguesas. Muito sensível ao enraizamento do ser humano no seu meio ambiente, nomeadamente na montanha, encara a relação do homem com o mundo, em luta ou harmonia, num reconhecimento da dimensão cósmica que sublinha também a vertente sagrada da existência. http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/torga.htm Eduardo Lourenço fala de um «desespero humanista», considerando o modo como Miguel Torga defende uma literatura mais «interessada» ou «comprometida» na realidade ou na situação humanas, privilegiando-se aí a própria dimensão do eu, o qual tantas vezes se manifesta através de conflitos vividos consigo mesmo, com o outro ou com a própria criação literária. MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de
Prospecção Não são pepitas de oiro que procuro. Oiro dentro de mim, terra singela! Busco apenas aquela Universal riqueza Do homem que revolve a solidão: O tesoiro sagrado De nenhuma certeza, Soterrado Por mil certezas de aluvião. Cavo, Lavo, Peneiro, Mas só quero a fortuna De me encontrar. Poeta antes dos versos E sede antes da fonte. Puro como um deserto. Inteiramente nu e descoberto. Miguel Torga Orfeu Rebelde
Literatura Portuguesa, Lisboa: Editorial Presença, p.476 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS Uma das ilustrações de Um Reino Maravilhoso, de Torga, da autoria da pintora transmontana Graça Morais. http://luminescencias.blogspot.pt/2006/01/um -reino-maravilhoso.html
2014
55 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://vferreira.no.sapo.pt/main.html
VERGÍLIO FERREIRA 1916—1996
Vergílio Ferreira. “Frequentou o Seminário do Fundão (1926-1932) e licenciou-se em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1940. A par do trabalho de escrita, foi professor de Português e de Latim em várias escolas do país, destacando-se o Liceu Camões em Lisboa. Inicialmente neo-realista, depressa Vergílio Ferreira se deixou influenciar pelos existencialistas franceses André Malraux e Jean-Paul Sartre, iniciando um caminho próprio a partir do romance Mudança (1949). É considerado um dos mais importantes romancistas portugueses do século XX, tendo ganho vários prémios, entre eles o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (ganho duas vezes, primeiro com o romance Até ao Fim e depois com o romance Na tua Face), o Prémio Femina na França com o romance Manhã Submersa e o Prémio Camões (1992)”. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/vergilio.htm “E todavia, agora que me descubro vivo, agora que me penso, me sinto, me projecto nesta noite de vento, de estrelas, agora que me sei desde uma distância infinita, me reconheço não limitado por nada mas presente a mim próprio como se fosse o próprio mundo que sou eu, a gora nada entendo da minha contingência. Como pensar que «eu poderia não existir»? Quando digo «eu» já estou vivo…”
Ferreira, V. (1997). Aparição. 35ª ed. Venda Nova: Bertrand Editora, p. 50
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Évora (Ilustração de J.P.Nogueira) 2014
56 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://storberose.blogspot.pt/2012/03/grass-is-municipal-institution-jorge-de.html
JORGE DE SENA
1919—1978
Jorge de Sena. “Frequentou o curso de Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia do Porto, tendo trabalhado entre 1948 e 1959 como engenheiro na Junta Autónoma das Estradas. Partiu em 1959 para o Brasil, fazendo o doutoramento em 1964 na área de Literatura Portuguesa. No ano seguinte parte para os Estados Unidos, lecionando primeiro em Wisconsin e, a partir de 1970, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara. Em 1977 recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina. Esteve ligado aos Cadernos de Poesia com José Blanc de Portugal, Rui Cinatti, entre outros. A par da sua escrita poética e ficcional, há a salientar os estudos teóricos sobre literatura portuguesa e inglesa, em especial aqueles que se referem a Camões e a Fernando Pessoa”. Jorge de Sena. Acedido em 2 de março de 2014 em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/sena.htm MISSA SOLENE,OP.123,DE BEETHOVEN Não é solene esta musica, ao contrário do nome e da intenção. Clamores portentosos,violência obsessiva (por sob aqueles doces,lacrimosos) de um ritmo orquestral continuado, tanta paixão gritada, tanto contraponto, que teimosamente impede que na tessitura das vozes e dos timbres se interponha hiato não de silêncio mas de um fio só de melodia,por onde a morte penetre interrompendo a vida.
É medo, um medo-orgulho, feito de solidão e de desconfiança. Não piedosa tentativa para captar um Deus, ou ardente anseio de união com Ele. não é também, com tanta majestade, a exigência de que Ele exista, porque o mereça quem assim O inventa. É um medo comovente de que O não haja para remissão dos pecados, bálsamo das feridas, consolo das amarguras, dádiva do que se não teve nunca ou se perdeu para sempre. (…) 02/11/1964
Ler Jorge de Sena. Acedido em 2 de março de 2014 em http:// www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/ antologias/
http://youtu.be/MKA9oJmqaU4
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
57 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época contemporânea http://comunista-o.blogspot.pt/2013/06/poesia-sophia-de-mello-breyner-andresen_13.html
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
1919—2004
Sophia de Mello Breyner Andresen. Foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. “Autora de catorze livros de poesia, publicados entre 1944 e 1997, escreveu também contos, histórias para crianças, artigos, ensaios e teatro. Traduziu Eurípedes, Shakespeare, Claudel, Dante e, para o francês, alguns poetas portugueses. […] Com uma linguagem poética quase transparente e íntima, ao mesmo tempo ancorada nos antigos mitos clássicos, Sophia evocou nos seus versos os objetos, as coisas, os seres, os tempos, os mares, os dias. A sua obra, várias vezes premiada está traduzida em várias línguas.” Mar “n” Leituras—Biografias. Disponível on-line em http://nleituras.wordpress.com/biografias/
http://criacria.files.wordpress.com/2011/06/praia-mar-8.jpg e http://criacria.files.wordpress.com/2011/06/praia-mar-111.jpg
RETRATO DE MÓNICA Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, colecionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar -se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstrata, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria. Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem -se sempre ou do ioga ou da pintura abstrata. http://cvc.instituto-camoes.pt/contomes/19/texto.html
I De todos os cantos do mundo Amo com um amor mais forte e mais profundo Aquela praia extasiada e nua, Onde me uni ao mar, ao vento e à lua. II Cheiro a terra as árvores e o vento Que a Primavera enche de perfumes Mas neles só quero e só procuro A selvagem exalação das ondas Subindo para os astros como um grito puro. Poesia I . http://cvc.instituto-camoes.pt/ oceanoculturas/19.html 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
58 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.avante.pt/pt/1985/temas/117720/
CARLOS DE OLIVEIRA
Seguindo o fio
Carlos de Oliveira. “É um dos grandes poetas deste século, combinando a preocupação de intervenção social (neo-realismo) com a reflexão sobre a escrita no próprio processo da sua produção, o que confere à sua obra grande densidade e agudeza nos efeitos diversificados da sua leitura (Mãe Pobre, 1945, Entre Duas Memórias, 1971). O mesmo se pode dizer em relação aos seus romances, nos quais se detecta uma evolução da problemática neorealista mais pura (Casa na Duna, 1943) até à sua elaboração através da sobriedade do sentimento e do protesto (Uma Abelha na Chuva, 1953), culminando na complexidade de Finisterra (1978), composto a partir de mecanismos de repetição ficcional e de decalque temático e descritivo, que emerge na fronteira da oscilação da modernidade na nossa história literária”. http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/carlosoliveira.htm,
seguindo o fio da tinta que desenha as palavras e tenta fugir ao tumulto em que as raízes grassam, engrossam, embaraçam a escrita e o escritor:
Aço na forja
Aço na forja dos dicionários as palavras são feitas de aspereza: o primeiro vestígio da beleza é a cólera dos versos necessários.
Mãe Pobre
Micropaisagem, 1969
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
http://dromofilo.blogspot.pt/2011/08/carlos-de-oliveira-omicroscopista-10.html
1921—1981
59 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://blog.brasilacademico.com/2010/06/15-frases-de-jose-saramago.html
JOSÉ SARAMAGO
1922—2010
José Saramago. Um viajante com bagagem. Escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português, Saramago foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998.
PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 1998
“Especialmente celebrizado como romancista, sobretudo a partir da publicação de Levantado do Chão, de 1980, atinge um clamoroso êxito com Memorial do Convento, de 1982, que consegue conciliar os máximos favores do público [...] com o apreço da crítica mais responsável. Os romances posteriormente publicados, O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) e a Jangada de Pedra (1986) prolongam-lhe a celebridade e fazem dele irrevogavelmente, um autor consagrado. A sua obra, é no entanto, muito mais vasta, e a glória ultimamente alcançada possibilitou a reedição dos restantes livros que a compõem, o que torna hoje possível lançar um olhar de conjunto sobre uma carreira literária ba stante reveladora quanto a questões fundamentais que se colocam à atividade dos escritores: relação entre talento, trabalho e maturidade; relação entre condições económicas e aperfeiçoamento do trabalho literário; articulação do empenhamento político com uma visão integrativa do mundo e da vida esteticamente qualificada.” "Afinal, é apenas um romance entre os romances, não tem que preocupar-se mais com introduzir nele o que nele já se encontra [o "Não" ou o "infinito Talvez"], porque livros destes, as ficções que contam, fazem-se, todos e todas, com uma continuada dúvida, com um afirmar reticente, sobretudo a inquietação de saber que nada é verdade e ser
SEIXO, Maria Alzira (1987). O essencial sobre José Saramago, Lisboa: IN-CM, p. 3
"O leitor atento já compreendeu aonde eu quero chegar com esta prosa: é que por baixo ou por trás do que se vê, há sempre mais coisas que convém não ignorar, e que dão, se conhecidas, o único saber verdadeiro.” SARAMAGO, José (1999). A Bagagem do Viajante, Lisboa: Caminho, p. 107
preciso fingir que o é, ao menos por um tempo, até não se poder resistir à evidência inapagável da mudança […]”.
SARAMAGO, José (1999). História do Cerco de Lisboa, Lisboa: Caminho, pp. 56-57
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
60 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/dois-ineditos-de-agustina-bessa-
AGUSTINA BESSA-LUÍS
1922—
Agustina Bessa-Luís. “Pseudónimo literário de Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa, nasceu no dia 15 de Outubro de 1922 em Vila Meã, Amarante. Consagrou-se como romancista ao ganhar o Prémio Delfim Guimarães (1953) e o Prémio Eça de Queirós (1954) com a obra A Sibila. Em 1984 ganhou o grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores com o romance Os Meninos de Ouro. É considerada uma das mais prolixas autoras portuguesas”. Agustina Bessa-Luís. Acedido em 2 de março de 2014 em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/agustina.htm
“Talvez ela fique de facto imóvel no seu constante, lento ou vertiginoso baloiçar, na casa que fortuitamente habita, e a sua história fique hermeticamente fechada no círculo de aspirações que não conseguiu detalhar e cumprir, porque aconteceu ser cedo ou ser tarde, porque não se compreende ou não se crê o bastante, porque se deseja demasiado e isto é todo o destino, porque… porque…”
Bessa-Luís, A. (1984). A Sibila. 8ª ed..Lisboa: Guimarães Editores, p. 249.
http://mesamarcada.blogs.sapo.pt/438875.html http://camelecocacola.blogspot.pt/2010/07/agustina-bessa-luis-sibila.html
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
61 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://visao.sapo.pt/urbano-tavares-rodrigues-a-minha-desforra-e-escrever=f744908
URBANO TAVARES RODRIGUES
1923—2013
Urbano Tavares Rodrigues. “Ficcionista, investigador, ensaísta, professor universitário e crítico literário. Licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, foi leitor de Português em diversas universidades estrangeiras (Montpellier, Aix e Paris entre 1949 e 1955) tendo sido obrigado a abandonar a docência universitária por motivos políticos e retomando-a apenas após o 25 de Abril de 74. (…) É membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa e membro correspondente da Academia Brasileira de Letras”. DESTINO
Rocha, I. (coord.) (2000). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Mem Martins: Europa-América, p. 296.
(…) III Quando a terra poluída tiver sorvido toda a água dos lagos e das fontes hei-de levar o meu fantasma até ao porto sonoro onde a esperança cai a pique
http://www.publico.pt/n1602646
sobre o mar dos desejos sem limite 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
Urbano Tavares Rodrigues, Horas de Vidro
2014
62 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://noticias-acores.blogspot.pt/2013/10/biblioteca-de-angra-do-heroismo-expoe.html
NATÁLIA CORREIA
1923—1993
Natália Correia. “Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou-se como poetisa e como política, tendo sido eleita deputada pelo Partido Socialista à Assembleia da República (1980-1991). É a autora da letra do hino dos Açores”. Natália Correia. Acedido em 2 de março de 2014 em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/natalia.htm A Exaltação da Pele
Hoje quero com a violência da dádiva interdita. Sem lírios e sem lagos e sem o gesto vago desprendido da mão que um sonho agita. Existe a seiva. Existe o instinto. E existo eu suspensa de mundos cintilantes pelas veias metade fêmea metade mar como as sereias. Natália Correia, O Sol nas Noites e o Luar nos Dias
http://mulheresilustres.blogspot.pt/2013/06/natalia-correia.html
http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2013/05/08/ natalia.aspx 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
63 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.ecolenet.nl/tellme/poesia/eugenio.htm
EUGÉNIO DE ANDRADE 1923—2005
Despertar
Eugénio Andrade. “Desde cedo se dedicou à poesia, alcançando grande notoriedade com livros como As Mãos e os Frutos (1948) e Os Amantes sem Dinheiro (1950). Traduziu vários poetas estrangeiros, de que se destacam Federico García Lorca e Safo, e organizou várias antologias, sendo a mais conhecida a que dedicou ao Porto com o título Daqui Houve Nome Portugal (1968). Em 1989, ganhou o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro O Outro Nome da Terra. Nesse mesmo ano, recebeu o prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia estrangeira publicado em França com a obra Blanc sur Blanc. Em 1990, é criada no Porto a Fundação Eugénio de Andrade.” http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/eugenio.htm
É um pássaro, é uma rosa.
Canção
Os frutos
É o mar que me acorda? Pássaro ou rosa ou mar, Tudo é ardor, tudo é amor. Acordar é ser rosa na rosa, Canto na ave, água no mar. ANDRADE, Eugénio, (1980). Poesia e Prosa [1940-1979]. Lisboa:IN-CM, p.150
Tinha um cravo no meu balcão; veio um rapaz e pediu-mo - mãe, dou-lho ou não? Sentada, bordava um lenço de mão; veio um rapaz e pediu-mo - mãe, dou-lho ou não? Dei o cravo e dei o lenço, só não dei o coração; mas se o rapaz mo pedir - mãe, dou-lho ou não?
Assim eu queria o poema: Fremente de luz, áspero de terra, Rumoroso de águas e de vento. ANDRADE, Eugénio, (1980). Poesia e Prosa [1940-1979]. Lisboa:INCM, p.196
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
ANDRADE, Eugénio, (1980). Poesia e Prosa [1940-1979]. Lisboa:IN-CM, p.7
64 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.infopedia.pt/$o-poeta-alexandre-o'neill-(1924-1986)-cuja#
ALEXANDRE O’NEILL
? Serás capaz de responder a tudo o que pergunto?
, Quando estou mal disposta (e estou-o muitas vezes...) mudo o sentido às frases, complico tudo...
^ Se me puseres serás a mais bonita das mulheres...
! Não abuses de mim
() Quem nos dera bem juntos sem grandes apartes metidos entre nós!
~ ... Desafio um francês a possuir-me quando estou, por exemplo, em coração...
: Introduzimos, por vezes, frases nada agradáveis…
1924—1986
Alexandre O'Neill. Foi poeta, técnico publicitário, tradutor, argumentista, colaborador em jornais, revistas e televisão. Autodidata, aderiu às primeiras manifestações do Surrealismo em Portugal, juntamente com Mário Cesariny, António Pedro Vespeiro e José Augusto França. Foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa, que abandona, de Uma senhora pediu-me forma polémica, em 1950. A sua poesia conserva, no entanto, alguns um poema de amor. Não de amor por ela, traços surrealistas, nomeadamente a ironia lúdica e subversiva. mas «de amor, de amor». “Um aspeto a considerar na sua obra diz respeito à forma como À parte aquelas nela se concilia uma atitude de vanguarda— que vai […] da sua inicial trivialidades «minha rosa, lua do meu céu interior» podia eu dizer opção por uma estética surrealista às inovadoras experiências próxi- que para ela, a não destinatária, mas do concretismo, como acontece em «Divertimento com sinais orto- que não fosse por ela? gráficos» (in Abandono Vigiado, 1960), onde há um tratamento gráfico Sem objeto, o poema é uma redação do poema […]”. dos 100 Modelos MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de Literatura Portuguesa, Lisboa: Editorial Presença, p.350
de Cartas de Amor. O’NEILL, Alexandre. No Reino da Dinamarca http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/06/03.html
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS O’NEILL, Alexandre, “Abandono Vigiado” (1960), Poesias Completas, Lisboa: Assírio & Alvim
2014
65 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://nefertari5.blogspot.pt/2013/04/autor-em-destaque-jose-cardoso-
JOSÉ CARDOSO PIRES
1925—1998
José Cardoso Pires. “No plano dos conteúdos, frise-se a sistemática reflexão sobre Portugal e os Portugueses, o grande tópico que percorre a sua obra ,encontrando momentos particularmente privilegiados em O hóspede de Job, O Delfim, Balada da Praia dos Cães e Alexandra Alpha. Um lado de historiador e de ensaísta convive sistematicamente com a vertente ficcional, de tal modo que descodificar bem o romance cardosiano é sempre conhecer mais um pouco da história nacional, tanto na sua objetividade […] como, sobretudo, na sua subjetividade […]. Para além desse tópico, e substancialmente ligado a ele, um outro: mentalidades, valores, comportamentos subsumidos em retrato ideológico e político das várias classes sociais que a sua ficção analisa.” MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de Literatura Portuguesa, Lisboa: Editorial Presença, p.387
“Em certas vidas (eu acrescentaria, em todas) há circunstâncias que projetam o indivíduo para significações do domínio geral. Um acaso pode transformá-lo em matéria universal - matéria histórica para uns, matéria de ficção para outros, mas sempre justificativa de abordagem. Interrogamo-la, essa matéria, porque ela nos interroga no fundo de cada um nós - foi assim que pensei esse livro, um romance. [...] De modo que entre o fato e a ficção há distanciamentos e aproximações a cada passo, e tudo se pretende num paralelismo autônomo e numa confluência conflituosa, numa verdade e numa dúvida que não são pura coincidência.” http://www.doutrotempo.com/livros/ balada-da-praia-dos-caes--reservado/1225/
PIRES, José Cardoso (1982). “Nota Final”, Balada da praia dos cães. São Paulo: Círculo do Livro, p. 230 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
66 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://alegriabreve47.blogspot.pt/2013/09/david-mourao-ferreira-o-poeta-do-amor.html
DAVID MOURÃO-FERREIRA 1927—1996
Daviid Mourão Ferreira. Professor da Faculdade de Letras de Lisboa, deixou uma obra importante no domínio da crítica e da teoria literária (Hospital das Letras, 1966, Lâmpadas no Escuro, 1979) e demonstrou domínio notável na arte do conto (Os Amantes e Outros Contos, 1968), escrevendo um romance de êxito assinalável (Um Amor Feliz, 1986). Mas é na poesia que o seu talento se desenvolve com incomparável mestria composicional (A Secreta Viagem, 1950), aliando a experiência do sentimento (do tempo, do amor, da E por vezes as noites duram meses Penélope escrita, da cidade, da paisagem) ao virtuosismo da sua expressão E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos Mais do que um sonho: comoção! poética, em obras como Os Ramos os Remos, 1985, ou Música de nunca mais são os mesmos. E por vezes Sinto-me tonto, enternecido, Cama, 1994. quando, de noite, as minhas mãos encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites não dos meses lá no fundo dos copos encontramos E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos. & escritas.org—David Mourão-Ferreira http://www.escritas.org/pt/poema/1510/e-por-vezes-asnoites-duram-meses
são o teu único vestido. E recompões com essa veste, que eu, sem saber, tinha tecido, todo o pudor que desfizeste como uma teia sem sentido; todo o pudor que desfizeste a meu pedido. Mas nesse manto que desfias, e que depois voltas a pôr, eu reconheço os melhores dias do nosso amor. http://www.escritas.org/pt/poema/2896/penelope
http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/david.htm
A sesta (1939), pintura de Almada Negreiros. http:// roldeleituras.blogspot.pt/2011/11/poema-de-davidmourao-ferreira.html
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
67 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.publico.pt/temas/jornal/herberto-helder-a-arte-de-ser-unico-26642124
HERBERTO HÉLDER 1930—
Herberto Hélder. “Tradutor. Poeta. Ficcionista. Reconhecido como um dos maiores poetas portugueses contemporâneos, Herberto Hélder é mesmo apontado como uma referência na poesia portuguesa depois de Fernando Pessoa. O universo enigmático e metafórico que consegue criar com a sua poesia invocam muitas vezes uma dimensão cósmica que se aproxima das grandes leis que regem os movimentos da natureza. Mas Herberto Hélder não é só um poeta. Os livros que escreveu em prosa também marcaram a diferença, sobretudo pela linguagem ousada e sem preconceitos. É em obras como “Os Passos em Volta” e “Photomaton & Vox” que podemos encontrar maior número de referências autobiográficas Tal como a sua poesia, Herberto Hélder é para o público uma personalidade enigmática. Recusou [em 1994] o Prémio Pessoa e com ele mais de 35 mil euros.” http://www.rtp.pt/programa/tv/p23210 Se houvesse degraus na terra... Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu, eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia. No céu podia tecer uma nuvem toda negra. E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas, e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Desejo, Courbet. http://aguarelast.blogspot.pt/2012/04/e-
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se, levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho. Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra, e a fímbria do mar, e o meio do mar, e vermelhas se volveram as asas da águia que desceu para beber, e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo. Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata. Correram os rapazes à procura da espada, e as raparigas correram à procura da mantilha, e correram, correram as crianças à procura da maçã.
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v249.txt
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
68 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.manuelalegre.com/202000/1/001495,112010/index.htm
MANUEL ALEGRE 1936—
Manuel Alegre. “Como poeta, começa a destacar-se nas colectâneas Poemas Livres (1963-65) publicadas em Coimbra de par com o «Cancioneiro Vértice». Mas o grande reconhecimento dos leitores e da crítica nasce com os seus dois volumes de poemas, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), logo apreendidos pelas autoridades mas com grande circulação nos meios intelectuais. Começando por tomar por base temática a resistência ao regime, o exílio, a guerra de África, logo a poesia de Manuel Alegre evoluiria num registo épico e lírico que bebe muito em Camões e numa escrita rítmica e melódica que pede ser recitada ou musicada”. O Menino Neste solstício de Inverno ele vai nascer algures no Mundo entre ruínas no lugar do não ser ele vai ser deitado nas palhinhas sobre as minas em todos os meninos o menino muçulmano judeu cristão o mesmo coração e um só destino.
Rocha, I. (coord.) (2001). Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Mem Martins: EuropaAmérica, p. 360.
Manuel Alegre Dia de Natal de 2009 Disponível em http://www.manuelalegre.com/ 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
http://youtu.be/N-L0hI7zMtw
2014
69 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.publico.pt/temas/jornal/a-luz-incandescente-de-maria-teresa-horta-24109856
MARIA TERESA HORTA 1937—
Maria Teresa Horta. “Fez parte do Grupo Poesia 61 […]. Desde o seu livro de estreia, Espelho Inicial (1960), a sua poesia, na linha da geração a que pertence, caracterizou-se por uma exploração das possibilidades metafóricas e das virtualidades sintácticas da linguagem como assunção de uma corporeidade livre, em que a sensualidade e a estesia se enlaçam […]. Dedicando-se também à ficção, […] Maria Teresa Horta foi em 1971, com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, uma das autoras das célebres Novas Cartas Portuguesas, que deram lugar a um processo judicial, pela sua transgressão dos códigos morais então dominantes. MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de Literatura Portuguesa, Lisboa: Editorial Presença, pp. 245-46 Morrer de amor ao pé da tua boca
Comigo me desavim minha senhora de mim
Desfalecer à pele do sorriso
sem ser dor ou ser cansaço nem o corpo que disfarço Comigo me desavim minha senhora de mim
Sufocar de prazer com o teu corpo
nunca dizendo comigo o amigo nos meus braços
Trocar tudo por ti se for preciso http://www.escritas.org/pt/ poema/10498/morrer-de-amor
Iluminura medieval—Dama no jardim
Comigo me desavim minha senhora de mim recusando o que é desfeito no interior do meu peito Minha Senhora de Mim, http:// poemapossivel.blogspot.pt/2009/08/minha-senhorade-mim-de-maria-teresa.html
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
http://in-experienciadofeminino.blogspot.pt/2012_03_01_archive.html 2014
70 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.publico.pt/cultura/noticia/fiama-a-poeta-que-gostava-de-andar-por-ai-1463773
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO 1938—2007
Fiama Hasse Pais Brandão. A obra de Fiama estende-se pela poesia, teatro, ficção, ensaio e tradução. A autora foi distinguida duas vezes com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1996 e 2000). “Revelou-se com "Morfismos", no âmbito da iniciativa Poesia 61, coletânea que refletia uma tendência poética atenta à palavra, à linguagem na sua opacidade, na busca de uma expressão depurada e não discursiva. A criação poética de Fiama Hasse Pais Brandão impõe-se pela busca de uma expressão original, onde as palavras tentam evocar uma essência perdida, anterior à erosão do tempo e do uso corrente. A desconstrução das articulações do discurso e a sua metaforização provocam um estranhamento que conduz o leitor a despir a linguagem da sua convencionalidade e a entrever o acesso pela palavra pura a um tempo primordial.” http://www.wook.pt/authors/detail/id/2148 Em Galafura
Epístola para Dédalo
Os povoadores da beira Douro conhecem o pó e as pedras. E sabem que o Universo concebe cerejais e parras. Vivem como vermes magníficos, iluminados por dias soalheiros, obscurecidos pelas invernias.
Porque deste a teu filho asas de plumagem e cera se o sol todo-poderoso no alto as desfaria? Não me ouviu, de tão longe, porém pensei que disse: todos os filhos são Ícaros que vão morrer no mar. Depois regressam, pródigos, ao amor entre o sangue dos que eram e dos que são agora, filhos dos filhos.
BRANDÃO, Fiama Hasse Pais (2002). As Fábulas, Famalicão: Quasi Edições.
http:// filosofiaemalbergaria.blogspot.pt/2009/10/ dedalo-e-icaro-o-mito.html
In Epístolas e Memorandos. http://casafernandopessoa.cm -lisboa.pt/ index.php?id=2241
Amor é olhar total, que nunca pode ser cantado nos poemas ou na música, porque é tão-só próprio e bastante, em si mesmo absoluto táctil, que me cega, como a chuva cai na minha cara, de faces nuas, oferecidas sempre apenas à água. In Elegíacos, http://casafernandopessoa.cmlisboa.pt/index.php?id=2241
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
71 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://expresso.sapo.pt/premio-vida-literaria-para-maria-velho-da-costa=f844060
MARIA VELHO DA COSTA 1938—
http://www.sitiodolivro.pt/pt/livro/novas-cartas-portuguesas-edicaoanotada/9789722040112/
Maria Velho da Costa. “Estreou-se em 1966 com O Lugar Comum, É co-autora das célebres Novas Cartas Portuguesas (1972) e escreveu alguns dos mais significativos romances da ficção portuguesa posterior ao 25 de Abril, como Casas Pardas (1977), Missa in Albis (1988) ou o mais recente Myra (2008), que venceu os prémios PEN, Máxima, Correntes d’Escrita e DST. A sua obra, que vem sendo traduzida desde os anos 70 nas principais línguas europeias, revolucionou como poucas o romance em língua portuguesa. http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/noticias/premio-vida-literaria-atribuido-a-maria-velho-da-costa
“Terá a mulher alguma razão para acreditar ainda no amor? […] Para crer ainda na sua libertação enquanto for aceitando o que se lhe tem proposto até hoje: companheira, colaboradora… ou seja: sempre o papel subalterno e doméstico no mundo à mistura com a obrigação de parir e lavar as fraldas dos filhos […].” Ana Luísa Amaral, “Breve Introdução”, Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Edição anotada. Org. Ana Luísa Amaral. Lisboa: Dom Quixote, 2010 pp. XXII-XXIII.
BARRENO, Maria Isabel/ Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (1974). Novas Cartas Portuguesas, Lisboa: Editorial Futura, p. 319“
Pré-visualização do livro em: http://issuu.com/novas_cartas_novas/docs/ novas_cartas_portuguesas?e=3000341/2647867# 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
72 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.wook.pt/authors/detail/id/3624
GASTÃO CRUZ
1941—
Gastão Cruz. Poeta e crítico literário, formou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa. Foi professor do ensino secundário e, entre 1980 e 1986, leitor de Português no King’s College, em Londres. Como poeta, o seu nome aparece inicialmente ligado à publicação coletiva Poesia 61. Como crítico literário, colaborou em vários jornais e revistas ao longo dos anos sessenta. Essa colaboração foi reunida em volume, com o título A Poesia Portuguesa Hoje (1973), livro que permanece hoje como uma referência para o estudo da poesia portuguesa da década de sessenta. Ligado também à atividade teatral, Gastão Cruz foi Lembrança da ria de Aveiro um dos fundadores do Grupo de Teatro Hoje (1976-1977), Dunas atrás da casa para o qual encenou algumas peças. gafanhotos cor de madeira cardos cor de areia ao fim da tarde, barcos na água rósea onde a cidade, em frente à casa, cai De madeira caiada a casa está sobre a areia, que escurece quando a maré devagar desce na praia .http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/19/ lugares2.html
http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/19/lugares2.html
http://papillom.wordpress.com/aveiro/ 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
73 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.livroscotovia.pt/autores/detalhes.php?id=286
A.M. PIRES CABRAL 1941—
António Manuel Pires Cabral. É autor de uma vasta obra literária repartida pela poesia, ficção (conto e romance), teatro e crónica. “Nascido em Trás-os-Montes, exprime desde os seus primeiros textos, de poesia (Algures a Nordeste, 1974, e Solo Arável, 1976) um certo ruralismo a que não é alheia a influência do neo-realismo na sua fase mais elaborada a nível da escrita, por exemplo, a poesia de Carlos de Oliveira. […] Na evolução da sua obra poética […] releve-se a tendência para aquilo que o próprio autor chama, num verso desta coletânea, Os velhos de Grijó «Manipulação residual», ou seja, uma cada vez mais complexa e variada elaboração intertexOs velhos de Grijó são uma gente escassa, tual. Predominante nesta intertextualidade é o «resíduo» clássico e mais propriamente camotrémula, que vive niano […]. os seus últimos dias na igreja organizando a hora da própria agonia, tentando carimbar o passaporte para a eternidade. Os velhos de Grijó têm o sorriso triste e bom de quem foi paciente a vida inteira. Os velhos de Grijó sacodem-me por dentro como um sismo, dão-me porrada, são-me espelho. Guardarei na boca os velhos de Grijó, enquanto os houver. http://bibliotecariodebabel.com/geral/tres-poemas-de-am-pires-cabral/
MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de Literatura Portuguesa, Lisboa: Editorial Presença, p. 89
http://apenas1.wordpress.com/2011/11/29/igrejas-velhas-naovalem-nada/
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
74 IDADE CONTEMPORÂENEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://bairrodoslivros.wordpress.com/2012/03/31/molhe-de-mario-claudio/
MÁRIO CLÁUDIO 1941—
Mário Cláudio. Pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa. “Frequentou o curso de Direito em Lisboa, tendoo terminado na Universidade de Coimbra. Frequentou a Universidade de Londres, graduando-se como Master of Arts. De regresso a Portugal, tem exercido funções como técnico do Museu Nacional de Literatura e como professor universitário. Ganhou o prémio APE de Romance e Novela em 1984 com a obra Amadeo. É considerado um dos mais importantes autores portugueses das últimas décadas. Embora se tenha dedicado à poesia, ao teatro e ao ensaio, é no romance que Mário Cláudio mais se tem destacado. Em 2004 foi agraciado com o Prémio Fernando Pessoa. Criou um heterónimo, o poeta Tiago Veiga, hipotético bisneto de Camilo, de quem publicou em 2011 uma extensa biografia.” http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/mclaudio.htm
«Os Brocas, querido sobrinho, giraram por aí à toa, e o menino está completamente a par destas verdades, mataram e roubaram como é da condição da humanidade, amaram talvez com força superior à da maioria, e praticaram em suma aqueles crimes que transformam as pessoas em muito mais, posto que de quando em quando em muito menos, do que aquilo que se julgaria estar-lhes determinado.»
CLÁUDIO, Mário (2007), Camilo Broca, Lisboa: Dom Quixote
https://www.leyaonline.com/pt/livros/literatura/literatura-classica/camilobroca/
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
75 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://crescer.aescas.net/2012/05/camoes-saramago-e-lobo-antunes-em.html
ANTÓNIO LOBO ANTUNES 1942—
António Lobo Antunes. Licenciou-se em Medicina, tirando mais tarde a especialidade de Psiquiatria. Exerceu a Medicina até 1985, passando a partir dessa data a dedicar-se inteiramente à escrita. Ganhou o Grande Prémio APE em 1985 com o romance Auto dos Danados e em 2000 com o romance Exortação aos Crocodilos, tendo sido várias vezes proposto para o Prémio Nobel da Literatura. Em 2007 ganhou o Prémio Camões. É um dos escritores portugueses mais traduzidos, tendo obras publicadas em pelo menos dezassete línguas. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/antunes.htm 24 DE DEZEMBRO DE 1995 Quando disse que tinha convidado os meus irmãos para passarem a noite de Natal connosco (estávamos a almoçar na cozinha e viam-se os guindastes e os barcos a seguir aos últimos telhados da Ajuda) a Lena encheu-me o prato de fumo, desapareceu no fumo e enquanto desaparecia a voz embaciou os vidros antes de se sumir também — Já não vês os teus irmãos há quinze anos (a voz ao cobrir os caixilhos de vapor levou consigo os morros de Almada, a ponte, a estátua do Cristo a bater sozinha acima da bruma o desamparo das asas) até que o fumo se diluiu, a Lena regressou a pouco e pouco de dedos estendidos para o cesto do pão — Já não vês os teus irmãos há quinze anos de forma que de repente me dei conta do tempo que passara desde que chegámos de África, das cartas da minha mãe da fazenda primeiro e de Marimba depois, quatro cubatas numa encosta de mangueiras.
LOBO ANTUNES, António (1997). O Esplendor de Portugal, Lisboa: D. Quixote, pp. 11-12 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
76 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://nleituras.files.wordpress.com/2012/05/pina.jpg
MANUEL ANTÓNIO PINA 1943— 2012
Manuel António Pina. ”Jornalista, escritor e técnico publicitário. “Autor de livros para a infância e juventude e de textos poéticos, a sua obra apresenta uma grande coesão estrutural e reflete uma grande criatividade que exige do leitor um profundo sentido crítico e descodificador. […] Afirmou-se como uma das mais originais vozes poéticas na expressão pós-pessoana da fragmentação do eu, manifestando, sobretudo a partir de Nenhum Sítio, sob a influência de T. S. Elliot, Milton ou Jorge Luis Borges, uma tendência para a exploração das possibilidades filosóficas do poema, transportando a palavra poética “quer para a investigação do processo de conhecimento quer para a investigação do processo de existência literária” . […]” “n” Leituras—Biografias. http://nleituras.wordpress.com/biografias/ A avó http://2.bp.blogspot.com/_ASDnIklGh0o/Sx1b2pjoZDI/ AAAAAAAAADw/iBDV9tXaa08/s1600-h/gato%2B% 25C3%25A0%2Bjanela.jpg
Tinha ao colo o gato velho cansadamente passando a sua branca mão pelo pêlo dele preto e brando Sentada ao pé da janela olhando a rua ou sonhando-a todo o passado passando a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto a tarde se ia acabando o gato dormindo por fora a avó dormindo por dentro
PINA, Manuel António (2012). Todas as Palavras, in Poesia Reunida, Lisboa: Assírio & Alvim.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
77 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2011/08/lidia-jorge.html
LÍDIA JORGE 1946—
Lídia Jorge. Vinda de uma geração de escritores que vivenciou o processo revolucionário e que fez dele espaço de reflexão e denúncia nas suas obras, Lídia Jorge impôs-se , desde os seus primeiros romances, por um acerta renovação da temática (em que o social e o histórico se interpenetram) e ampliação de um imaginário. Este imaginário que ,escapando ao ambiente citadino de Lisboa (tão frequente na narrativa portuguesa contemporânea) vai buscar ao espaço primitivo e místico do mundo algarvio muito da sua força e originalidade. Apesar da variedade temática dos seus livros, pode-se afirmar que é a condição social e individual da mulher (antes e depois da Revolução dos Cravos) um dos temas predominantes da sua escrita. MACHADO, Álvaro Manuel (org. e dir.) (1996). Dicionário de Literatura Portuguesa, Lisboa: Editorial Presença, p. 250
Mas há noites em que o marido não chega às sete, nem às oito, nem às nove. E se não chegar às dez, ela sabe que não chegará s enão de madrugada. É por isso que a hora crucial da vida da porteira acontece entre as cinco e as sete. É dentro desses minutos decisivos da tarde que se dita o dia e a noite da porteira. A porteira aos cinco para as cinco acende a vela, põe as mãos pedindo que ele chegue antes do jantar. Uma maçada se ele só vier de madrugada. Já ela o ouve tocar, depois de subir, abrir a porta do elevador com dificuldade, sair de lá lentamente com o pé rígido, e dep ois a chave começa a cair junto da porta, sente levantá-la do chão, deve estar a revolver a chave, até que por fim ele a enfia, a roda, a desprende, a saca, fic a dentro de casa e a casa se enche do seu hálito até às bacias e às janelas. Tropeça no sofá da saleta e chama: Lúcia! Ó Lúcia!
JORGE, Lídia (2008). Marido e Outros Contos, Lisboa: Dom Quixote, pp. 13-14
http://books.google.pt/books?id=E9YHU2aQaSQC&printsec=frontcover&hl=ptPT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
78 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://ventrevertido.blogspot.pt/2012/09/o-medo-de-al-berto.html
AL BERTO
1948—1997
Al Berto Al Berto. Pseudónimo do poeta e pintor Alberto Raposo Pidwell Tavares, […]. Nas primeiras obras poéticas, Al Berto seguiu de perto a linha surrealista, especialmente a que emana de Herberto Hélder. Posteriormente, funde a poesia na prosa, criando uma espécie de deambulações fragmentárias. Foi distinguido em 1988 com Prémio Pen Club de Poesia pela obra O Medo. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/al_berto.htm
acordo para a trémula água das palavras canto outro corpo serei aquilo que for possível ser na solidão da casa onde as aranhas interromperam o trabalho das teias e nunca mais voltaram
Livro antigo violetas secas entre páginas de livros onde em tempos anunciaram o amargor da noite e a humidade tremenda das insónias
em cada gesto agora petrificado frente ao espelho descubro que sou o único a saber quem és...lume e pó de cidade tatuados no reflexo aquático do luminoso corpo
o mar o mar ao longe debruça-se então para o interior do livro lê qualquer coisa sobre o coração dos líquenes ou deambula de sílaba em sílaba onde os dedos se mancham de tinta e no cérebro ergue-se uma planta de cinza noite adiante
a sombra transparente dum veleiro fende a memória tacteio-me para corrigir a realidade...entro no espelho líquido a líquido procuro as mãos e o nome sabendo como é sempre exterminadora a madrugada
fechou o livro ao amanhecer era como se tivesse envelhecido séculos com as violetas fecha a persiana e adormece
sou um feixe de poeira...perdi a consistência reclino o corpo de tinta inacessível à dor sorrio enfim ao desejo de querer morrer
In O Medo. Disponível on-line em http://casafernandopessoa.cmlisboa.pt/index.php?id=2241
In O medo, Disponível on-line em http:// casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2241
http://2.bp.blogspot.com/3bS3pfgtARw/TcLne6c634I/ AAAAAAAABWA/CJ8JOj8sqLU/ s1600/DSC03220.JPG 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
79 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://www.fmh.utl.pt/
GONÇALO M. TAVARES 1970—
Gonçalo M. Tavares. É um poeta, ensaísta, romancista, dramaturgo português nascido em Angola. “Os seus livros deram origem, em diferentes países, a peças de teatro, peças radiofónicas, curtas metragens e objectos de artes plásticas, vídeos de arte, ópera, performances, projectos de arquitectura, teses académicas, etc. Em Portugal recebeu vários prémios entre os quais o Prémio José Saramago 2005 e o Prémio LER/Millennium BCP 2004, com o romance - "Jerusalém" (Caminho); o Grande Prémio de Conto da 31 Associação Portuguesa de Escritores "Camilo Castelo Branco" com "água, cão, cavalo, É evidente que podemos acreditar cabeça" 2007(Caminho). Prémio Branquinho da Fonseca/Fundação Calouste Gulbenque certas línguas estão mais próximas da beleza kain com "O Senhor Valéry", Prémio Revelação APE com "Investigações. Novalis"; com "Uma Viagem à Índia", Prémio Melhor narrativa Ficcional 2010 da Sociedade Portuguesa que o ar tem quando vazio. de Autores, Prémio Especial de Imprensa Melhor Livro 2010 Ler/Booktailors, GRANDE Porém, a língua de um país, PRÉMIO ROMANCE E NOVELA da Associação Portuguesa de Autores, 2011, Prémio por mais que os seus habitantes Fernando Namora/Casino do Estoril, Melhor Livro Ficção 2011, Premiado no Portugal Telecom (Brasil, 2011), Prémio Fundação Inês de Castro”. saltem ou rezem na direcção do céu, http://goncalomtavares.blogspot.pt/
não é actividade mística De que os seres humanos Sejam portadores privilegiados.
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia http://darte-parte.blogspot.pt/2011/12/uma-viagem-india-link-para-o-blog_26.html
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
80 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=675557
VALTER HUGO MÃE 1971—
Valter Hugo Mãe. “Publicou os romances: A desumanização (2014), O filho de mil homens (2011), A máquina de fazer espanhóis (2010), O apocalipse dos trabalhadores (2008), O remorso de Baltazar Serapião, vencedor do Prémio José Saramago (2006) e O nosso reino (2004). A sua obra poética está revista e reunida no volume Contabilidade (Objectiva/Alfaguara, 2010). É autor dos livros para os mais novos: O rosto (Agosto 2010), As mais belas coisas do mundo (Agosto 2010), A verdadeira história dos pássaros (2009) e A história do homem calado (2009). Escreve a crónica Autobiografia imaginária no Jornal de Letras. Em 2012 recebeu o Grande Prémio Portugal Telecom de Literatura “ http://www.portoeditora.pt/sobrenos/autores/index/tema/autores?id=23096
“estávamos às escuras ali dentro e era tudo tão triste que nos impedíamos de muito olhar para não enfrentarmos nossa fealdade . não acendíamos velas nem muito fogo. aquecíamos o corpo pela pertura mantida dos três e por trapos resistentes que íamos substituindo como pudéssemos. a minha ermesinda cosia e remendava coisas, arranjava tecidos grossos de mais difícil queimadura, e entregava-nos roupas e mais roupas que se perdiam de cores em manhã ou tarde que as usássemos e, mais três noites e três dias, estariam a ver-se para dentro, finas e despencadas de tantos fios se abrirem e romperem. éramos insuportáveis e tardava nada teríamos de andar nus, sem meio de obter mais tecido que nos vestisse. teríamos de a ndar nus ou, melhor dito, não poderíamos mais andar entre os lugares das outras pessoas. estaríamos destinados a desaparecer dali e de todos os lugares , para onde não existisse ninguém e, o mais certo, não existisse nada.”
Mãe, V. H. O remorso de Baltazar Serapião
http://www.valterhugomae.com/en/livros/o-remorso-de-baltazar-serapiao/
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
81 IDADE CONTEMPORÂNEA REPÚBLICA
Época Contemporânea http://correiodaeducacao.asa.pt/200697.html
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
1974—
José Luís Peixoto. “É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias traduzidas num vasto número de idiomas e estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras. Em 2001, recebeu o Prémio Literário José Saramago com o romance Nenhum Olhar,. Foi atribuído ao seu livro A Criança em Ruínaso Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para o melhor livro de poesia. O seu romance Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha em 2007. Em 2008, recebeu o Prémio de Poesia Daniel Faria com o livro Gaveta de Papéis. Em 2010, o seu romance Livro venceu o prémio Libro d'Europa, em Itália, e foi finalista do prémio Femina, em França. Em 2012, publicou Dentro do Segredo, Uma Viagem na Coreia do Norte, a sua primeira incursão na literatura de viagens. Os seus romances estão traduzidos em vinte idiomas.” http://www.joseluispeixoto.net/tag/biografia
“Este silêncio de esperar inquieta-me. A última ovelha deitou-se junto aos corpos enrolados de outras debaixo do sobreiro grande. Penso: os homens são ovelhas que não dormem, são ovelhas que são lobos por dentro. O sol mantem -se lume e sol na lenta combustão do ar e da terra. Na mesma sombra que eu, encostado ao mesmo tronco, o cajado parece uma pessoa que me olha com dó. Diante de mim, pesada, a cadela, levanta às vezes o olhar, também ela sabendo o que vai acontecer.” Peixoto, J. L. Nenhum olhar
Nenhum olhar, capa de Paula Rego; António Rochinha Diogo
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Nenhum_Olhar.jpg 2014
82
BIBLIOGRAFIA/WEBGRAFIA Todas as referências figuram ao longo da obra.
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
83
800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014
84
REDE DE BIBLIOTECAS DE VILA REAL— BE do centro escolar abade de mouçós, BE do centro escolar nº 7 (araucária), BE do centro escolar das árvores, BE do centro escolar de s. vicente de paula, BE da escola eb 2, 3 diogo cão, BE da escola eb 2, 3 monsenhor jerónimo amaral, BE da escola secundária camilo castelo branco, BE da escola secundária morgado de mateus, BE da escola secundária de s. pedro. BC da UTAD, BM de vila real 800 ÁNOS DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESAS 2014