ANABELA QUELHAS
TÍTULO: Lamego Teatro Ribeiro Conceição AUTORA: Anabela Quelhas TEXTO E IMAGENS: Anabela Quelhas EBOOK PROGRAMA issuu DATA DE PUBLICAÇÃO: 09 de Agosto de 2013 PORTUGAL 2
Os teatros são edifícios de muitas vivências, unidas pelo cinema, circo e teatro, abrindo portas para o mundo, através da capacidade visionária de cada um, ampliada pela artes cénicas e cinemáticas. Espaços que acolhem o que se passa na tela e no palco e que criam memórias em cada um de nós. As pessoas estão juntas para olhar, numa relação entre actores e espectadores. Espaços com arquitecturas únicas que valem por si, desenhando o colectivo em organização, articulação, linguagens formais, desempenhos funcionais, acústicas, texturas, cores e até rituais. Edifícios de programa complexo estruturado em três partes fundamentais —plateia, palco e bastidores. A sala escurece, o contra regra marca o inicio com 6 pancadas e as cortinas abrem. 3
CRONOLOGIA HISTÓRICA 1727—Data de construção com a função de Hospital da Misericórdia 1886—Quartel do Regimento de Lamego 1924— Compra do edifício em hasta pública por José Ribeiro Conceição 1929—Inauguração como teatro 1987—Encerramento do edifício e posterior aquisição do edifício por parte da Câmara Municipal de Lamego 2008—Inauguração do teatro após obras de reabilitação e modernização concebidas pelo Gabinete de Arquitectura do arquitecto João Carreira Menção Honrosa do Prémio Nacional de Arquitectura “Alexandre Herculano” atribuída pela Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico
LOCALIZAÇÃO: Largo Camões, Lamego 4
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Edifício setecentista localizado no centro da cidade de Lamego com composição frontal simétrica distribuída por 3 pisos, estando o primeiro piso implantado a cota inferior ao piso do largo/avenida. O eixo de simetria da composição arquitectónica expressa-se através da escada com balaustres em granito e elemento escultórico localizado no 3º piso. Toda a fachada segue a inspiração barroca—o contraste entre a parede branca e as janelas e portas emolduradas em granito, o rigor geométrico das ombreiras e peitoris e o decorativo das padieiras.
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Porta principal encimada com anjos barrocos e pedra de armas com escudo da coroa real portuguesa. 10
A escada funciona como elemento de transição entre a rua e o edifício, assumindo-se como elemento de grande destaque. As duas jovens de bronze marcam a entrada no edifício, esbeltas e lânguidas anunciando as artes cénicas e iluminando o acesso.
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Maquete representando o corte longitudinal do teatro sendo visíveis as zonas destinadas ao público e o espaço cénico. Maquete da escada em caracol localizada na zona técnica dos bastidores. 13
Pormenores da escada e fachada.
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Bilheteira e as transparências para o largo. Escultura da entrada transferida para o design de informação. 15
Esta é a mais bela sala de espectáculos da região duriense. A sala mantém toda a decoração original inspirada certamente nas melhores salas de espectáculos italianas, adaptadas à realidade da região e ao inicio do século XX. Tal como muitos teatros italianos foi edificado num espaço já existente. É uma pequena jóia da arquitectura de interiores que exalta o glamour, a elegância, o requinte e o poder económico das classes abastadas que enriqueceram através das encostas do rio Douro. Espaço acolhedor, circular de tonalidades, rosa, camurça e marfim, “bordado” a dourado nos remates das frisas e dos camarotes, com o grande pano de palco da cor do vinho definindo o fundo da sala. 16
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Tecto abobadado, com lustre ao centro, respeitando o desenho original
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Pormenor do enquadramento circular rendilhado do ponto de luz principal suspenso no centro da sala.
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Balcþes dos camarotes e frisas decorados sobriamente em 3 tonalidades, rosa, marfim e camurça, com apontamentos lineares em veludo cor de vinho. 22
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As linhas curvas de luz enquadradas nas sancas decorativas, permitem a leitura dos diversos pisos, reforçam a horizontalidade dando a ilusão de um espaço maior, onde domina a beleza e o equilíbrio.
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A repetição dos camarotes abertos para a plateia e semi-fechados na lateral, garantem uma permanência mais reservada e discreta na sala de espectáculos.
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Remate de transi巽達o entre a boca de palco e o tecto
Medalh達o com o bras達o de Lamego
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Boa iluminação, boa acústica e maior segurança. Um equipamento que responde às exigências do século XXI.
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Tecto decorativo do pequeno Foyer - detalhe em gesso dourado e anjos barrocos pintados. 35
O edifício reabilitou-se, modernizou-se, adquiriu novas valências sem perder o essencial: a fachada setecentista e a sala de modelo italiano. Conseguiu conciliar o antigo com o contemporâneo assumindo duas linguagens arquitectónicas que unem e separam na transição entre o interior e exterior da sala e ainda uma terceira, de ligação à construção barroca. As galerias exteriores à sala cumprem a sua função de ligação horizontal entre os diversos espaços e assumem-se circulares tal como a sala original, mas afastam-se dos limites da “caixa edifício” setecentista, permitindo uma leitura vertical associada à entrada zenital de luz, criando efeitos de grande beleza num espaço potencialmente secundário. Esta solução arquitectónica compensa a reduzida dimensão do Foyer e enriquece ainda mais o edifício, exemplificando como a arquitectura pode ser sempre um exercício criativo e dinâmico. 36
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Atrás da fachada principal, ao nível do último piso, localiza-se um espaço polivalente de onde se podem observar curiosas transparências no intervalo do espectáculo.
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Outros espaços onde a geometria e a técnica cénica são fundamentais—aquilo que o público raramente vê.
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ANABELA QUELHAS (arquitecta) Aprendente e anotadora de espaรงos 42