Monografia - A invisibilidade da mulher no espaço urbano.

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A invisibilidade da mulher no espaรงo urbano

ana carolina f. r. nunes orientadora: teresa c. de a. faria



A

INVISIBILIDADE DA MULHER NO ESPAÇO URBANO – PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DE ESPAÇO PÚBLICO NO BAIRRO DE LOURDES COM ENFOQUE EM PERSPECTIVA DE GÊNERO

Monografia, apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa como requisito da disciplina ARQ 398 - Trabalho de Curso - Fundamentação, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Ana Carolina F. R. Nunes Orientadora: Teresa C. de A. Faria

VIÇOSA – MINAS GERAIS Junho de 2016



Primeiramente, gostaria de agradecer às pessoas mais importantes e que possibilitaram que eu chegasse até aqui, meus pais, Sandra e Wagner Nunes, os quais me apoiaram incondicionalmente e me propuseram a maior base que alguém pode ter: a educação, o respeito e honestidade. Gostaria de agradecer aos familiares, Wagnim, Vó Dária, Vô Toim, Vó Ção, e a todos os tios e primos, que mesmo de longe apoiaram e entenderam quando eu estava ausente nas festas de família e aniversários, por estar longe.

AGRADE CIMENTOS

Aos amigos de infância, também por entenderem quando eu estava ausente, e mesmo assim sempre lutarem para que mantivéssemos contato e continuássemos unidos. A melhor e eterna turma do DAU, ARQ 2011, minha segunda família durante seis anos, os quais me acompanharam desde as horas contínuas de trabalho na madrugada, estudos coletivos a almoços de domingo, festas temáticas e viagens de estudo. Especialmente àquelas com quem dividi teto: Soníferas: Zenaid, Stephanie (quase da arquitetura) e Dafhini. Aos professores e servidores da UFV, que mais do que isso, foram conselheiros e amigos nos momentos de dificuldade, e também de descontração, almoços no RU, chopps no Seu Zé e cafezinhos. A minha orientadora e professora, Teresa, por ter me amparado nessa ideia “maluca” (risos) de fazer esse trabalho, e ter entrado comigo no desafio, sempre procurando ajudar da melhor forma. Ao CNPq por ter me proporcionado a oportunidade de estudar em outro país, aprimorar outra língua e ter experiências que foram essenciais para que eu tenha escolhido seguir essa área do Urbanismo. Leeds, e Sugarwell Court estará sempre nas minhas melhores memórias. A todas as mulheres que cruzei na vida, em especial as Vixens, pelo companheirismo e empatia, e principalmente por terem me inspirado na escolha desse tema, pois graças a elas passei a enxergar as coisas sob outra ótica, procurando nos empoderar mais a cada dia.


O organismo vivo só tem sentido e existência considerado com seus prolongamentos: o espaço que ele alcança, que ele produz (...). Todo organismo vivo se reflete, se refrata, nas modificações que ele produz em seu “meio”, seu “ambiente”: seu espaço. (LEFEBVRE,2006, p. 57)


SU MÁRIO

vi 7

Apresentação Introdução

8 9

Problema O espaço e as relações sociais A problemática no espaço urbano de Viçosa

11 12 13

Justificativa Objetivos Metodologia

Referencial Teórico 14 A diferença entre sexo e gênero 15 A (Des)igualdade de gênero 16 Secretaria das Políticas para Mulheres 16 Plano Nacional de Política para as Mulheres 18 Coordenadoria de Política para Mulheres e órgãos relacionados ao gênero em Viçosa 19 O papel da mulher moderna na sociedade brasileira 20 A relação da mulher com o espaço urbano 21 O que é Gender Planning 23

O caso de Viçosa - MG

25 27

Estudos de Caso St. Johann Park (Bruno Kreisky Park) Rudolf-Bednar-Park

29 30 38

Proposta Conceituação Escolha da área de intervenção Programa de necessidades

43 44

Cronograma

de

Atividades para Disciplina ARQ 399 Referências Bibliográficas


APRE SENTAÇÃO

E

ste trabalho consiste em uma das atividades propostas na disciplina de ARQ398 – Trabalho de Curso: Fundamentação, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, e tem como objetivo demonstrar os caminhos pelo embasamento teórico e a proposta para a Proposição do Trabalho de Curso, a ser realizado no segundo semestre de 2016.

viii


INTRO DUÇÃO

O espaço urbano é feito e apropriado pelas pessoas, que estabelecem relações sociais de poder e hierarquia, que se expressam no espaço urbano. Uma vez que a sociedade em que nos colocamos hoje possui relações de segregação de classe, podemos ver também, por exemplo, a segregação espacial de classes. Como os bairros que são destinados a uma classe de alta renda da população, normalmente localizados nos centros, e bairros destinados para uma classe de baixa renda, localizados na periferia. O mesmo acontece com a segregação por gênero, onde são observados espaços que são destinados para mulheres e aqueles que são destinados para homens. Devido a distinção de gênero, cada um possui sua função na sociedade, e existem atividades que são próprias do ser masculino, e as que são próprias do ser feminino. (SILVA, 2007)

Ao se projetar o espaço urbano, os planejadores buscam produzir uma cidade que seja inclusiva para todos. O tema recorrente nas pautas de urbanismo contemporâneo é o da cidade para pessoas, voltada para o pedestre, para a relação social, para as atividades sociais no ambiente público. Mas pouco se tem tratado do urbanismo para idosos, para crianças, ou para mulheres. Esses grupos da sociedade estão incluídos no ‘todo’, mas possuem necessidades específicas que acabam não sendo atendidas nesse urbanismo universal. E pensa-se que, uma cidade inclusiva para idosos, crianças e mulheres, também será inclusiva para todos os outros, como, homens, jovens e adultos. Dessa forma, esse trabalho teve como objetivo estudar como se conformam as relações de gênero no espaço da cidade e propor uma intervenção urbana, visando o urbanismo com perspectiva de gênero na cidade de Viçosa – MG. 7


O espaço e as relações sociais O ato de apropriar-se ou usar o espaço é um ato político, e uma vez que ele é negado

ou cedido a uma parcela da população isso

pode os empoderar ou os deixar impotentes. (WEISMAN, 2003)

PRO BLEMA

O espaço não manifesta, por si só, uma

opressão ou liberação, mas ele é capaz de

condicionar as formas de práticas sociais já existentes, de forma a emoldurar a vida

cotidiana. Ou seja, em um contexto em que a manifestação social é de opressão a mulher, mediante as relações históricas e culturais de patriarcado existentes na sociedade, o espaço mantém e conforma essa ordem.

Portanto, o espaço que aparenta possuir uma neutralidade, na verdade pode e atua na

separação de classes e na manutenção dessa ordem criada. (CORTÉS, 2008)

A forma que cada sociedade cria os seus espaços depende do modo como ela se apropria dele e exprime a sua função social,

forma essa que ganha significado e perdura em uma ordem que não é interrompida,

apenas se alimenta da segregação para

criar mais espaços segregados, criando um ciclo vicioso. Dessa maneira, se constitui na

hierarquia e prioridades que favorecem a uns,

e desfavorecem a outros. Isso resulta em um

espaço que expressa as relações de privilégios e

imposições

masculinas

nas

relações

de gênero, gerando uma segregação, tão intrínseca a sociedade que aparenta ser algo

natural. A forma social composta na sociedade condiciona a forma urbana, de uma maneira que ele constitui, reproduz e transforma a 8

realidade sócio espacial. (WILSON, 1997)


Para Cortés (op. Cit.) é necessário que se desconstrua a visão que a cidade é um espaço neutro e sem história, e da sua ambição de instituir categorias universais, e que, na organização excludente da cidade, o homem é tratado como sujeito público, o sujeito do discurso da história que converte o parcial em universal. Portanto, essa cidade é socialmente estruturada e re(produzida) pela visão do homem capitalista hierárquico, branco e heterossexual sobre os valores físicos, emocionais e materiais. (MENDES, 2011) O conhecimento produzido ao longo da história partiu desse sujeito pretensamente universal, no qual nós mulheres não nos reconhecemos. (MONTANER; MARTINEZ, 2011)

Conforme Ezquiaga (1997) afirma, é preciso abandonar esse discurso generalista, funcional, quantitativo ou de grande escala, e focar em uma escala menor de forma a se aproximar dos grupos sociais. Cortés (op. Cit.) confirma que as cidades ocidentais em geral originaram uma estrutura urbana que segregou rigidamente sob diferenças de classe, de etnia, de gênero, e consequentemente divisões espaciais foram conformadas, tanto no traçado urbanístico, nos espaços de trabalho, em áreas de lazer, serviço e comércio, entre outros.

O desafio consiste em construir um espaço sem gênero nem ordem patriarcal; portanto, um espaço sem hierarquias, horizontal, um espaço de todos e de todas em igualdade de valoração de olhares, saberes e experiências. O objetivo é ressignificar a construção de nossas cidades a partir da experiência que os homens e as mulheres tem do mundo – duas maneiras de enunciar a realidade. (MONTANER; MARTINEZ, 2011, p.198)

NORTE DE MINAS NOROESTE DE MINAS

JEQUITINHONHA VALE DO MUCURI

CENTRAL MINEIRA VALE DO RIO DOCE TRIÂNGULO MINEIRO/ALTO PARANAÍBA METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE OESTE DE MINAS

Viçosa

ZONA DA MATA CAMPO DAS VERTENTES SUL/SUDOESTE DE MINAS

Legenda

Viçosa Microrregião de Viçosa Mesoregiões

0 65 130

260

390

Kilometers 520

Figura 1 - Mapa de Minas Gerais. Fonte: Elaborado pela autora, base de dados arcGIS.

A problemática no espaço urbano de Viçosa Viçosa está localizada no Estado de Minas Gerais, na região da Zona da Mata (Figura 1). O município possui 70.970 habitantes (CENSUS, 2013), e devido a presença da Universidade Federal de Viçosa (UFV) possui uma população flutuante de aproximadamente 15.000 pessoas. (MARIA; FARIA, 2014) Seu crescimento teve como motivador a federalização e expansão da Universidade Federal de Viçosa na década de 70, o que deu origem a um processo de segregação social na paisagem e nos bairros. (DIAS et al, 2014)

Com o crescimento da Universidade e consequentemente maior número de população migrando, houve uma maior demanda por infraestrutura, no entanto a área que mais recebeu os investimentos foram as áreas Centrais, local que concentra a maior parte da população ligada a UFV. (MARIA; FARIA, 2014) 9


Esse acentuado crescimento resultou em uma série de problemas típicos de metrópoles brasileiras: deficiência de infraestrutura, favelas e vasto processo de verticalização nas áreas centrais. O processo de urbanização gerou um crescimento econômico significativo, mas acompanhado das desigualdades sociais, da exclusão e segregação. (MARIA; FARIA, 2014, p. 12)

Identificar a existência de uma segregação espacial e torná-la visível é o primeiro passo. Em segundo lugar, as mulheres devem se expressar a partir de suas experiências, e a partir disso contribuir para a construção do espaço urbano em que viverão e utilizarão, como agentes sociais ativos e passivos.

Em uma cidade como Viçosa, onde o espaço urbano é deficiente, é natural que as minorias também não se identifiquem com esse espaço, uma vez que ele é conformado por essa ordem social já existente na sociedade, que é plenamente machista. Diariamente vemos mulheres alegando problemas na segurança pública, como má iluminação, alto índice de criminalidade e violência a mulher. Há também a falta de equipamentos públicos e de serviços, como creches públicas, associações de amparo a 10

mulher, delegacias específicas, banheiros públicos adequados, falta de acessibilidade nas ruas e calçadas, e de equipamentos de lazer. Outro problema que impacta diretamente na vida da mulher é a falta de qualidade e abrangência do transporte público, uma vez que a rota que as mulheres fazem é mais complexa que a dos homens, e uma rede de transporte público defasado impacta seriamente a rotina. Portanto,

visibilidade

este a

trabalho

essas

pretende

necessidades

dar

que

existem, mas que as mulheres não têm a

oportunidade de reivindicar, uma vez que não estão contempladas na política urbana

do município, e não são devidamente

representadas nos debates relativos ao planejamento do espaço público.


JUSTI FICATIVA

Para justificar a escolha do tema, me embasei, primeiramente, em experiências pessoais, uma vez que como mulher e moradora da cidade de Viçosa, percebo “minha palavra calada”, e meu lugar segregado. O espaço urbano é de todos e para todos, logo a mulher está englobada nessa maioria, mas na prática as necessidades específicas de cada gênero são bem diferentes.

De acordo com Calió (s.d.), os estudos urbanos que falam sobre segregação, direito a cidade e revolução urbana, normalmente analisam a cidade sob a perspectiva da luta de classes e não da diferença de gênero, deixando uma lacuna na pesquisa do tema.

QUESTIONAMENTOS: 1. Como são estabelecidas as relações de espaço x gênero? 2. Como o urbanismo pode vir a resolver esses problemas tornando a cidade mais inclusiva?

Sob esse aspecto, podemos inferir que as cidades não foram feitas para as mulheres, pois suas necessidades, na maior parte dos casos, não são levadas em conta, os seus problemas ficam invisíveis nas políticas urbanas e nas soluções buscadas pelos projetos urbanos. De que maneira elas podem contribuir nas discussões pelo espaço urbano, como elas podem ser ouvidas pelas autoridades, e possam ser representadas, de forma a garantir seus direitos a cidade. Afinal, a cidade é para a maioria, mas as minorias continuam segregadas, na marginalização, na violência e no esquecimento. 11


OBJE TIVOS

1. Geral Esse trabalho tem como objetivo entender como as relações de gênero e espaço acontecem na cidade, quais são os problemas que as mulheres vivenciam em Viçosa, e quais são os meios para atingir a equidade de gênero, igualdade e empoderamento das mulheres, por meio de estratégias práticas e espaciais. 2. Objetivos Específicos

• Identificar quais as necessidades espaciais da mulher, quais são atendidas e quais deixam a desejar, na cidade de Viçosa; • Definir o conceito de gender planning; • Desenvolver estudos de caso em cidades que já aderem ao método de gender planning; • Analisar como e onde esse método de planejamento (gender planning) pode ser aplicado praticamente e eficientemente na cidade. 12


METO DOLOGIA

O trabalho foi realizado por base em revisões, leituras e análises bibliográficas sobre o tema referente a urbanismo com perspectiva de

gênero, a mulher e o espaço público, gender planning, espacialização de gênero, entre outros temas.

Também foi feita uma análise da pesquisa

feita pelo Census aos residentes da cidade de Viçosa, visando entender melhor a qualidade

do espaço vigente e suas percepções, permitindo identificar os problemas da

cidade, de forma a planejar uma intervenção

que seja pertinente as necessidades, e entender melhor os conceitos analisados nas bibliografias.

Juntamente, foram realizados estudos de caso sobre cidades que adotaram esse método de

planejamento, e como isso foi, da etapa do conceito, planejamento, projeto, a análise de

como isso impactou direta e indiretamente na vida das mulheres.

13


1. Diferença entre sexo e gênero O enfoque no termo gênero teve início nas discussões pautadas do movimento feminista no século XIX, mas só obteve validade sócio histórica quando se tornou uma categoria de análise científica. (COSTA et al, 2010)

REFE RENCIAL TEÓ RICO

Para Scott (1990) gênero é “um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. ” (p.14 apud COSTA et al, 2010).

Diferentemente de sexo, que é uma categoria anatômica e biológica, a qual os seres possuem quando nascem, gênero está ligado com construções sociais, e dita o que deve ser característico de cada um, como direitos, espaços, atividades e obrigações. (BUTLER, 2003 apud SILVA, 2007)

Segundo o IBGE, de acordo com o documento da Divisão de Estatística das Nações Unidas (United Nations Statistics Division – UNSD), o termo ‘sexo’ refere-se as diferenças biológicas entre homens e mulheres, fixas e imutáveis, não variáveis a cultura e ao decorrer do tempo. ‘Gênero’ se refere as características socialmente estabelecidas e as interações e relações sociais entre homens e mulheres. Há homens que são do sexo masculino, mas se identificam com o gênero feminino, caso dos homens transexuais. Cisgêneros são aqueles que identificam seu gênero ao seu sexo biológico. 14


Este trabalho tem como foco estudar a invisibilidade das mulheres cisgêneros, uma vez que ao entrar no âmbito das transexuais surgem outras necessidades e pautas específicas, mesmo ambas se identificando com o gênero feminino.

Figura 1 - Equality/Equity. Fonte: htt ps : / / med ia. l icd n.com / m pr/ m pr/ p/6/005/08f/1e0/3a1e78a.jpg Acesso em: 10 Mai. 2016

2. A (Des)igualdade de Gênero

Os gêneros são criações culturais da sociedade e para cada um estão atreladas funções e papéis. As relações entre os gêneros não são igualitárias, elas possuem uma desigualdade, e uma hierarquização predominante do gênero masculino subordinando o gênero feminino, isso se dá pois a mulher é taxada historicamente como um ser frágil, submisso e vulnerável. (COSTA et al, 2010) No entanto, para obter a igualdade de gênero, não se espera que os gêneros sejam extintos da sociedade. O objetivo é a coexistência das diferentes igualdades.

Dessa forma, igualdade de gênero consiste em entender que as desigualdades existem, e em criar maneiras de possibilitar uma equidade, entendendo as suas diferenças.

As áreas apontadas como críticas em questão de gênero pelo documento do SNIG - Sistema Nacional de Informações de Gênero, e que precisam de ações, foram:

A crescente pobreza feminina; acesso desigual a educação e formação; acesso desigual aos cuidados de saúde e serviços relacionados; violência contra as mulheres; efeitos dos conflitos armados ou outras formas de conflito sobre as mulheres, incluindo aquelas que vivem sob ocupação estrangeira; desigualdades nas estruturas econômicas e políticas, em todas as formas de atividades produtivas e no acesso aos recursos; desigualdade entre homens e mulheres na partilha de poder e tomada de decisões em todos os níveis; mecanismos institucionais insuficientes em todos os níveis para promover o avanço das mulheres; inadequada promoção e proteção dos direitos humanos das mulheres; estereotipação das mulheres e desigualdade no acesso destas a todos os sistemas de comunicação, especialmente os meios de comunicação; desigualdades de gênero na gestão dos recursos naturais e na proteção do meio ambiente; e discriminação persistente e violação dos direitos das crianças do sexo feminino. (SNIG, 2014, p.11)

Dessa maneira, é necessário que as políticas públicas ajam de forma a mitigar a desigualdade entre os gêneros, historicamente construídas na sociedade, permitindo que a obtenção da autonomia das mulheres, tanto econômica quanto política, para conseguir uma equidade de gêneros.

15


3. Secretaria Mulheres

das

Políticas

para

A SPM foi criada em 2003 pelo Presidente Lula. O órgão tem entre suas diretrizes principais a promoção de igualdade entre homens e mulheres e o combate de preconceitos e discriminações herdadas do patriarcado. Seu objetivo é promover a inclusão da mulher no processo de desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País, de forma a construir um país mais igualitário e justo. Sua principal linha de atuação é tratar a desigualdade de gênero em todas as esferas, e a transversalidade das políticas, realizadas pelas instâncias Municipal, Estadual e Federal, e pelos Ministérios, sociedade civil e a comunidade internacional. A SPM tem três linhas de ação:

(a) Políticas do Trabalho e da Autonomia Econômica das Mulheres; (b) Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; e (c) Programas e Ações nas áreas de Saúde, Educação, Cultura, Participação Política, Igualdade de Gênero e Diversidade. (SPM, 2012)

4. Plano Nacional de Política para Mulheres Em Julho de 2004 criou-se o Plano Nacional de Política para as Mulheres (PNPM), realizado na 1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (1ª CNPM), onde 1.787 delegadas discutiram pautas, e elaboraram o I PNPM. Em 2007 elaborouse o II PNPM, e o III PNPM, elaborado desde 2011, está em vigor até o momento, com maiores temáticas inseridas no governo (PNPM, 2013). Os princípios orientadores do Plano são:

Autonomia das mulheres em todas as dimensões da vida; busca da igualdade efetiva entre mulheres e homens, em todos os âmbitos; respeito à diversidade e combate a todas as formas de discriminação; caráter laico do Estado; universalidade dos serviços e benefícios ofertados pelo Estado; participação ativa das mulheres em todas as fases das políticas públicas; e transversalidade como princípio orientador de todas as políticas públicas. (PNPM, 2013, p.9-10)

A pergunta chave a se inserir no debate das políticas públicas é ‘o que pode ser feito de forma a contribuir para a sedimentação da igualdade de gênero? ’.

16


Entre os capítulos do PNPM, não há nenhum que trate diretamente sobre planejamento urbano ou espaço público. O Capítulo 6: Desenvolvimento sustentável com igualdade econômica e social, se identificou como aplicável. O Capítulo 6 tem como objetivo geral:

Incentivar o desenvolvimento sustentável com a inclusão das mulheres em todas as suas especificidades e diversidades, considerando as dimensões sociais, econômicas e ambientais, democratizando o acesso aos bens da natureza e aos equipamentos sociais e serviços públicos. (PNPM, 2013, p.62)

Entre os objetivos específicos, o identificado como adequado para o tema discutido neste trabalho consiste em:

V. Promover a ampliação da infraestrutura social nas áreas urbana e rural, garantindo o direito das mulheres à habitação e moradia digna, com acessibilidade, por meio, dentre outras ações, da facilitação de formas de financiamento. (PNPM, 2013, p.62)

Nas linhas de ação, a identificada como pertinente ao tema foi a linha 6.2: Promoção do acesso das mulheres à moradia digna, garantindo qualidade e acesso à infraestrutura de bens, serviços públicos e equipamentos sociais.

Entre os planos de ações, a que se identifica pertinente ao tema é a ação 6.2.2: Estimular e apoiar políticas de ampliação

e melhoria das condições de moradia e acesso à infraestrutura

adequada, às mulheres do campo e da floresta, incluindo as

comunidades e povos tradicionais (inclusive ribeirinhos). Essas ações são de responsabilidade do Ministério do Meio

Ambiente e do Ministério das Cidades. (PNPM, 2013, p. 6263)

Um ponto a ser discutido é a possível readequação do PNPM

com a inclusão de diretrizes que tratem especificamente de planejamento urbano e espaço público com perspectiva de gênero, que possam contribuir para a sedimentação da igualdade nesses espaços. Se o próprio documento não trata

especificamente desses pontos, deixa aquém ao planejador urbano tratar, ou não, deles. E, uma vez que definidos na Política,

eles deverão utilizá-los, criando cidades mais inclusivas para a mulher.

17


5. Coordenadoria de Política para Mulheres e órgãos relacionados ao gênero em Viçosa Em Viçosa, o Projeto de Lei nº 091/2015 de Dezembro de 2015 foi aprovado, criando-se a Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres e o Fundo Municipal dos Direitos das Mulheres, autoria do Prefeito Municipal Ângelo Chequer. (MOTTA, 2015). Ela tem como objetivo:

Apoiar e acompanhar as ações, programas e projetos voltados à mulher. A nova lei cria também o Fundo Municipal dos Direitos da Mulher, que deverá ser gerido pela Coordenadoria e fará parte do orçamento do Executivo. O Fundo foi criado para assegurar os recursos necessários para a execução das políticas públicas dedicadas à promoção, garantia e realização dos direitos da mulher. (MOTTA, 2015)

A cidade já conta com o Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero, ligado à Universidade Federal de Viçosa e ao Centro

de Ciências Humanas Letras e Artes (CCH), que é responsável por realizar atividades de pesquisa, ensino e extensão e trata

de temas como: violência de gênero, controle social, processos de formação e sistemas de informação. (NIEG, s.d.)

E também conta com a Casa das Mulheres, criada em 2009 em

conjunção com o Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Viçosa. Realiza um projeto de enfrentamento da violência de

gênero, e tem como referência Estudos Feministas e o Plano Nacional de Política para as Mulheres. (PROJETO CASA DAS MULHERES, s.d.)

Os órgãos relacionados a políticas de gênero em Viçosa não possuem diretrizes ligadas ao planejamento urbano e ao espaço público, caracterizando uma defasagem institucional

do tema na cidade. Isso abre lacunas para o planejamento da

cidade, fazendo com que esses temas não sejam levados em discussão.

Sugere-se o desenvolvimento de pesquisas sobre espaço

urbano e gênero no Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero, pois com maior número de pesquisas, será possível adotar práticas sócio espaciais que melhorem as condições da vida das mulheres. 18


Percebe-se um esforço da comunidade científica, uma vez que os dados da ONG Census possuem pesquisas sobre bem estar social que diferem as respostas entre sexo e faixa etária. Essas pesquisas poderiam ser usadas em conjunto com análises para levantamento de dados de forma a instituir políticas de planejamento urbano com perspectiva de gênero na cidade.

6. O papel da mulher moderna na sociedade brasileira O papel da mulher na sociedade brasileira tem se modificado muito nas últimas décadas. No século XXI a imagem da mulher deixou de ser a de maternidade, e consequentemente de domesticidade. (COLOMBAROLI, 2014)

Desde a conquista pelo mercado de trabalho, muitas

modificações foram notadas na vida da mulher, uma vez que ela

passa a vivenciar o espaço público não só como extensão dos serviços da casa. Anteriormente, a vivência de espaço público

consistia em complementariedade dos serviços domésticos, como ir ao supermercado, farmácia, posto de saúde, entre outros. (FREITAS, op. cit.)

Nos tempos atuais, a mulher realiza uma jornada dupla de

trabalho, pois é responsável tanto pelos serviços domésticos como também por prover sua família, diferentemente do

passado em que apenas o homem provia seu lar. Além disso, a mulher passa a dividir as tarefas domésticas, as quais antes eram exclusivas da mulher. (MIRANDA, 2014)

Com a autonomia econômica, ela também passa a obter autonomia política, saindo da vida “doméstica” para a vida “pública”. (VIERA; COSTA, 2014)

De acordo com a pesquisa realizada em 2010 pelo Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, a definição do que é ser mulher hoje foi associado pelas entrevistadas à:

Sua inserção no espaço público, no mercado de trabalho, à conquista de independência econômica, à independência social, ou ainda a direitos políticos conquistados. (...) Os papeis tradicionais de mãe e esposa também aparecem na definição de ser mulher, mas em grau bem menor. (COLOMBAROLI, 2014, p.3)

19


Portanto, nota-se uma participação muito mais engajada da mulher na vida pública.

Mesmo que, ainda nos dias de hoje, seja vista com maus olhos pela sociedade. Como por exemplo, a mulher não se sente à vontade

para ir a um bar ao passo que também não é “bem vista” ao fazê-lo, relacionando alguns comportamentos

(FREITAS, op. cit.)

com

promiscuidade.

No entanto, é um quesito que vai além do

planejamento do espaço público, pois é um

modo de pensar da sociedade, muito mais cultural que espacial.

7. A relação da mulher com o espaço urbano A presença da violência na vida da mulher, tanto física quanto psicológica, no espaço

doméstico ou público, social ou simbólica,

impacta na forma que ela se apropria (ou

não) do espaço urbano. O número exorbitante

de violência a mulher retrata como o corpo e a vida da mulher tem uma importância insignificante para sociedade. O poder que

o homem exerce sobre o corpo da mulher também se caracteriza no poder que ele exerce sobre o espaço. (TAVARES, 2008).

“O sentimento que aflige as mulheres é de uma

ilegitimidade por estar na rua, como se fosse uma intrusa, influenciando dramaticamente

em suas práticas no espaço. ” (GRARD, 2010 apud TAVARES, op. cit.) Nessa

lógica,

de

acordo

com

Freitas

(2013), é possível afirmar que as mulheres trabalhadoras não vivenciam o espaço 20

público propriamente, apenas passam por ele

para garantir a manutenção familiar. “Essas

travessias, embora sejam instrumentais para

a sedimentação do espaço privado, carregam

grandes significados em si; os espaços públicos que atravessam normalmente são aqueles em que mais se confirma a exclusão sexista. ” (FREITAS, op. cit.)

Lugares como praças ou bares são agressivos a mulher, e apresentam risco de violência física, sexual e psicológica. Desse modo, as

mulheres possuem medo da rua e não se

apropriam do espaço público. (FREITAS, op.cit.) Além da hostilidade que o espaço

urbano exerce sobre a vida das mulheres, existe uma falta de oferta de equipamentos

que possibilitem a liberação de tempo para que as mulheres consigam sua autonomia, como

creches, cozinhas comunitárias, restaurantes populares,

lavanderias

populares,

outros. (MIRANDA, op. cit.)

entre

No entanto, o planejamento urbano com perspectiva de gênero (gender planning) não

engloba apenas esses equipamentos sociais e coletivos, ele precisa ir além, procurando

resolver as desigualdades que existem no espaço público.


8. O que é Gender Planning Gender Planning não possui uma única teoria, são vários

conceitos, métodos e manuais

I.

Lugares que mulheres e homens e suas relações entre

de práticas bem-sucedidas,

si são o ponto de interesse;

dos anos 80 as pesquisas

inclusão;

que

surgiram

desde

o

século XIX, porém a partir têm

se

intensificado.

(WANKIEWICZ, 2014)

De acordo com a teoria de Damyanovic

(2007

apud

WANKIEWICZ, op. cit.), ela propõe

quatro

princípios

para um planejamento com

enfoque de gênero, para a

autora a definição de gender planning é:

II.

Analisar e avaliar estruturas espaciais de acordo com a

sua utilização no dia a dia para mulheres e homens, através da III.

Tornar visível e desconstruir as relações de poder,

IV.

Visa transformar e mudar as condições espaciais de

condições sociais e avaliação por trás dos conceitos de planejamento;

vida e conceitos de planejamento para uma maior igualdade entre homens e mulheres.

Zibell (2006, apud WANKIEWICZ, op. cit.) adiciona ainda o

número 5, que trata que o planejamento de gênero precisa ser participativo e dar voz e possibilidade para que grupos

mais fracos da sociedade possam mudar o futuro da sua comunidade e região.

21


O planejamento de gênero olha para as desigualdades

estruturais e visa a desconstrução dos papeis sociais de homens e mulheres em termos espaciais. (AUFHAUSER, 2003 apud WANKIEWICZ, op.cit.)

Uma abordagem de gênero visa proporcionar padrões e infraestruturas espaciais, que aumentem a escolha para as

mulheres e os homens nos seus papéis sociais como chefes de família, cuidadores da casa, políticos, ativistas, entre outros. (TUMMERS; WANKIEWICZ, 2009 apud WANKIEWICZ, op.cit.)

Para Martinez e Ciocoletto (2011), os campos de atuação do planejamento com perspectiva de gênero são:

1. Incorporar a participação da mulher nas políticas;

2. Espaços urbanos que combinem usos, conectados por transporte público eficiente e variado; 3. Memória e identidade social.

E os temas que o planejamento com perspectiva de gênero

abrangem são: espaços públicos, segurança, mobilidade, e 22

equipamentos públicos.


CASO DEVI ÇOSA

A cidade de Viçosa possui 70.970 habitantes, dos quais 33.480 são homens e 37.940 são mulheres, totalizando aproximadamente 48% de homens, e 52% de mulheres. A razão de sexo em 2010 de acordo com o IBGE era de 1 homem para cada 94,04 mulheres. A razão de sexo1 brasileira é de 1 homem para cada 95,95 mulheres. Portanto em Viçosa o número de mulheres para cada homem é maior que o número nacional. 1 - a razão de sexo significa que 1 para 100 é de igualdade, e maior que 100 que existem mais homens que mulheres.

Tabela 1 – Razão de Sexo. Fonte: IBGE 2000 e 2010

23


Em 2000, de acordo com o IBGE, Viçosa tinha

de

mulheres para 48% de homens.

Esse fato foi decisivo na escolha do Bairro de

51% de mulheres e 49% de homens, tendo

esse número em 2010 passado para 52% de Percebe-se a alta porcentagem de mulheres em relação ao de homens na cidade, o que faz

com que o planejamento com perspectiva de gênero seja ainda mais necessário

Tabela 2 – População por gênero – Viçosa. Fonte: IBGE 2000 e 2010 População por Gênero -Viçosa 38000 37000 36000 35000 34000

mulheres

de

59%,

um

número

significantemente maior que a média da cidade.

Lourdes para a área de intervenção.

Tabela 3 – População por sexo e faixa etária – Viçosa. Fonte: Census 2013 Faixa Etária Menos De 16 De 25 De 40 De 60 70 ou Total Total

de 16 anos a 24 anos a 39 anos a 59 anos a 69 anos mais (No) (%)

População por sexo

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Mulheres 6644 5198 8481 10406 3424 3344 37498 52,8%

Razão de Sexo 108,68 101,54 86,30 79,11 92,76 67,11 89,26

33000 32000 31000

Tabela 4 - População Urbana estimada segundo gênero e região urbana de planejamento de Viçosa, MG, 2013. Fonte: CENSUS 2013

30000 29000 2000

2010 Homens

Mulheres

De acordo com o Census (2013) dentre as regiões urbanas de planejamento, a região com maior porcentagem de mulheres é a

de Lourdes, seguido pelos bairros Centro, Acamari, Bom Jesus, Santa Clara e Santo Antônio.

O bairro de Lourdes possui 1.452 homens e 2.054 mulheres, sendo a porcentagem 24


1. St. Johann Park (Bruno Kreisky Park) O parque St. Johann passou por uma

transformação mediante concurso em 2001, para se tornar um parque com um design gender sensitive. E posteriormente mudou

seu nome para Bruno Kreisky Park. (HARTH,

ESTU DODE CASOS

s.d.)

De acordo com site do escritório vencedor, Koselicka, o conceito era atingir um público

balanceado entre homens e mulheres, e que

em particular, a presença de meninas fosse encorajada, de forma a apropriar dos espaços públicos abertos, e aumentar a frequência

com que elas usavam esse espaço, pois notou-se que a partir dos dez anos de idade a

quantidade de meninas que frequentavam os parques decaía muito em relação a quantidade de meninos.

O parque é dividido por uma diagonal que liga uma área residencial a uma estação de metrô, essas duas partes são chamas

de “small freedom” e “great freedom”, liberdade reduzida e liberdade expandida, respectivamente.

Área: 10.300m² Local: Vienna, Áustria Autor: Koselicka Ano: 2001

Figura 3 - Planta baixa. Disponível em: http://www.koselicka.at/st_ johann_d.html. Acesso em: 14 Mai. 2016.

25


A “small freedom” é estruturada em escalas pequenas

e

equipada

de

forma

mais

concentrada. Fica adjacente aos prédios

residenciais, então é de fácil acesso e pode ser socialmente monitorada. Ela possui uma área de playground para crianças e uma para adolescentes, subdivididas por cercas.

A “great freedom” consiste em espaços amplos e abertos, com a mínima estrutura. A quadra

de futebol foi desmontada e áreas especiais para atividades favoráveis a meninas foram

criadas, como vôlei, badminton, e atividades mais calmas em áreas protegidas. Existem

cavidades no campo que podem ser usadas para jogos com bola, como arena, para ginástica ou para sentar e tomar sol.

Para segurança, foi inserida iluminação

intensa em todos os caminhos principais, assegurando uma boa visibilidade dos arredores.

Após o redesign do parque, uma pesquisa foi

feita no local. Percebeu-se que o número de usuárias em todas as faixas etárias cresceu, em sua maioria adolescentes. Percebeu-se

também que o número de homens jovens

Figura 5 - Foto do parque, mobiliário. Disponível em: http://farm5.static. flickr.com/4085/4977175798_2cac239df1.jpg. Acesso em: 14 Mai. 2016.

diminuiu devido a demolição do campo de futebol. (GRUBER apud HARTH, s.d.)

Os pontos a se considerar do projeto são os espaços destinados a esportes que sejam praticados em mesmo número por homens e

mulheres, o zoneamento de espaços menores

mais adensados com funções bem definidas

e de espaços maiores e amplos com áreas multifuncionais e flexíveis. 26

Figura 4 - Foto do parque. Disponível em: http://www.party.at/Photos/ Archiv.2012/Streifen.2012.06.02.001/Photo.Einzel.php?Photo=3. Acesso em: 14 Mai. 2016.


2. Rudolf-Bednar-Park De acordo com o Urban Development Vienna (2013), o parque de Rudolf-Bednar passou por um concurso para sua reformulação em 2008. O projeto vencedor, do escritório Hager, seguia os pré-requisitos propondo um elaborado conceito de zoneamento para o parque. Pensou-se em zonas tranquilas (denominados jardins da vizinhança), zonas de esporte, zonas para jogos e exercício para público em geral. Além disso pensou-se em uma rede de caminhos claramente estruturada, com eixos visuais adequados e iluminação eficiente.

A principal característica do parque é um “véu de árvores”, que define o parque como uma área independente dentro desta parte emergente da cidade. O véu é orientado sobre as características espaciais de maior dimensão da área: o Danúbio e a Estação Norte. A parte sul do parque é uma zona para uso de jovens, com uma pista de skate e quadras de basketball. Paralela à “Radingerstraße” estão os “parques de canavial”, que lembram a paisagem natural do Danúbio. (WIEN GV, s.d.)

Figura 6 - Planta do parque. Disponível em: http://www.competitionline.com/de/ergebnisse/4077. Acesso em: 14 Mai. 2016.

Área: 31.000m² Local: Vienna, Áustria Autor: Hager Landschaftsarchitektur Ano: 2008

No cruzamento central, no coração do parque, o arquiteto paisagista Hager imaginou um café na forma de um cubo transparente. Próximo aos prédios residenciais na ala norte da praça propôs-se uma área dedicada a usos mais tranquilos, com espelhos d’água. Na parte oriental 27


do parque o gramado é

pontilhado com arbustos de flores, eles oferecem lugares

quietos de refúgio no parque,

possibilitando variados usos. Espalhados estão

pelo

os

equipamentos

alaranjados,

com

elementos Figura 7 -Foto das áreas de descanso. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/8/86/Rudolf-Bednar-Park_02.jpg. Acesso em: 14 Mai. 2016.

parque

vários

adicionados

a eles, para as crianças

brincarem, com cordas de escalada, balanços e redes. Entre as zonas intensamente

estruturadas há áreas de grama com espaço amplo e livre. (WIEN GV, s.d.) A

versão

projeto

revisada

conta

com

do

uma

rede de caminhos ampliada permitindo Figura 8 -Foto da área de ginástica ao ar livre. Disponível em: http://www.kundeneingang.net/ files/617/1/modulefiles/gallery_61713847.JPG . Acesso em: 14 Mai. 2016.

circulares no

de

parque.

DEVELOPMENT 2013)

percursos pedestres (URBAN

VIENNA,

Os pontos a se considerar do

projeto são os mobiliários passíveis de interação e com

diferentes

arranjos,

mais

tranquilas

servindo

possibilitando

variadas

formas de uso, e as áreas

Figura 9 -Foto da pista de skate. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/8/85/Rudolf-Bednar-Park_04.jpg . Acesso em: 14 Mai. 2016.

28

de respiro para o bairro residencial adjacente.


1. Conceituação do projeto

PRO POSTA

Espaços abertos são singulares na natureza. Eles não são apenas livres de obstruções físicas, mas também de regras e regulamentos comportamentais. Eles permitem a experiência da natureza, exercício e movimento, e encontros com o desconhecido. Essas oportunidades de aprendizagem e experiência fazem dos espaços públicos abertos, em particular, uma importante área para a democracia de gênero. (HARTH, s.d.)

As relações sociais de gênero se manifestam no espaço aberto, influenciando a sua utilização e avaliação, bem como certas necessidades e requisitos. A natureza e concepção de espaços abertos podem, portanto, tanto restringir quanto abrir oportunidades para apropriação. (HARTH, op. cit.) Meninas e mulheres estão crescentemente conquistando espaços públicos e formas de comportamento ditas anteriormente como “masculinas”, aumentando as formas de apropriação dos espaços. (HARTH, op. cit.)

Estudos comprovam que as mulheres geralmente passam mais tempo que homens em praças e parques do bairro, e os considera mais importantes. Isso é devido a maior preocupação com a saúde e contato com a natureza, além de maior desejo de sociabilidade. Outro fator é que elas estão mais frequentemente acompanhadas de crianças, logo as áreas de recreação para as crianças também são um atrativo para elas, o que normalmente são em lugares abertos. Logo o acesso facilitado a espaços verdes e abertos é essencial para mulheres. (TESSIN, 2005; COSTA et al., 2006; KGST, 2004 apud HARTH, op. cit.) Com a existência de padrões típicos e específicos de gênero na apropriação de 29


espaços públicos abertos, optou-se por realizar uma intervenção nesse espaço, de

forma a impactar na conformação social desses locais, na maneira que as mulheres se

apropriam e em como isso pode impactar na sua qualidade de vida.

2. Escolha da Intervenção

Área

de

O local escolhido para área de intervenção

consiste na Associação Esportiva Viçosense (AEV). A área de 12.550m² já conta com quadras, piscina, ginásio poliesportivo e área

verde, e é para uso de toda população.(Figura 10)

No entanto, a AEV apresenta condições muito precárias, e necessita de uma requalificação. O espaço era utilizado para práticas esportivas

como: Encontro Viçosense de Artes Marciais,

MMA Fight, Jogos Escolares Viçosenses (JEVs), levantamento de peso, Projeto ‘Bom de Nota,

Bom de Bola’, como utilização das associações atléticas universitárias para treinos, pelas escolas da cidade, entre outros.

Portanto, o que motivou a escolha dessa área para intervenção foi a localização estratégica entre

dois

bairros

predominantemente

residenciais e com alto percentual de mulheres, Lourdes e Santa Clara. Também

pelo fato de já possuir uma infraestrutura

subutilizada, que será agregada ao projeto. Possui uma ampla área onde será possível

criar um espaço de convívio. Está prevista a

interligação com as ruas adjacentes, Avenida Bernardes Filho e Rua José Euclydes Santana. 30


A área conta com um ponto de ônibus na Avenida Bernardes Filho a 400m da entrada do terreno, além de possuir um raio de abrangência caminhável para os bairros adjacentes. (Figura 11)

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5

730m

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Figura 10 - Mapa do programa de necessidades e acessos existentes. Fonte: Elaborado pela autora. Sem escala. 400m

115 m

R. José Euclyd es Santana 50m

25 m 15m

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5min caminhando 10min caminhando

Figura 11 - Localização do terreno e suas adjacências. Fonte: Elaborado pela autora. Sem escala.

31


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Figura 13 - Mapa do terreno e visadas de fotos. Fonte: Elaborado pela autora. Sem escala.

Figura 14 (1) . Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@2 0 . 7 5 7 4 9 4 2 , - 4 2 . 8 8 8 4 9 3 , 3 a, 7 5 y, 1 8 7 . 1 5 h, 9 4 . 0 8 t/data = ! 3 m 6 ! 1 e 1 ! 3 m 4 ! 1 s DaCI 4 P rfoN6aLSX-3RETVQ!2e0!7i13312!8i6656?hl=pt-BR. Acesso em: 8 Mai. 2016

Figura 15 (2) . Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@2 0 . 7 5 7 4 9 4 2 , - 4 2 . 8 8 8 4 9 3 , 3 a, 7 5 y, 1 8 7 . 1 5 h, 9 4 . 0 8 t/data = ! 3 m 6 ! 1 e 1 ! 3 m 4 ! 1 s DaCI 4 P rfoN6aLSX-3RETVQ!2e0!7i13312!8i6656?hl=pt-BR. Acesso em: 8 Mai. 2016

34


Figura 16 - (3) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 20 - (7) . Fonte : Acervo pessoal da autora.v

Figura 17 - (4) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 21 - (8) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 18 - (5) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 22 - (9) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 19 - (6) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 23 - (10) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

35


Figura 24 - (11) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 25 - (12) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 26 - (13) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

36


Figura 27 - (14) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

Figura 28 - (15) . Fonte : Acervo pessoal da autora.

37


3. Programa de Necessidades O projeto consistirá na requalificação da infraestrutura já existente no local e implantação de um projeto de uma praça/ espaço público, seguindo as diretrizes do Gender Planning, com espaços destinados a práticas esportivas, praticadas igualmente por homens e mulheres como: quadra de vôlei, peteca e tênis. Pista de corrida e caminhada, espaços para prática de yoga e alongamento, entre outros. Espaços destinados a crianças e adolescentes, como playgrounds, paredes de escalada, pista de skate, pista de patinação. Implantação de academias ao ar livre, com equipamentos voltados a pessoas idosas. Espaços para serviços, como administração, vestiários, banheiros acessíveis, fraldário. Além disso, pensou-se na instauração de um local para abrigar a Associação de Mulheres do Bairro, visando a ocorrência de oficinas e palestras, como oficinas de cuidados para bebês, oficinas de costura, marcenaria, palestras de educação sexual, política e direitos da mulher, entre outros, de forma a empoderar as mulheres do bairro. As diretrizes do Urban Development Vienna (2013) e BMVBS/BBR (2006) apud HARTH (s.d) para um design gender sensitive de parques públicos a ser seguidas são:

38


Acesso proposto 1

Acesso proposto 2

Acesso proposto 3 LEGENDA: ÁREAS MENORES, MAIS ADENSADAS E COM FUNÇÕES DEFINIDAS ÁREAS MAIORES, MULTIFUNCIONAIS

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E

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0m 10m

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ACESSOS DE PEDESTRES

Figura 29 - Mapa de acessos e setorização propostos. Fonte: Elaborado pela autora. Sem escala.

A. •

Estrutura Espacial:

A rede espacial e funcional dos espaços abertos

deve permitir o encontro de crianças e jovens por meio do desenho urbano; •

Espaços

abertos

suficientes,

passíveis

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acessível para minimizar os deslocamentos e competição de utilização; •

Estruturas de pequena escala são necessárias, uma

A rede de caminhos do parque deve permitir aos

Combinar espaços de pequena e grande escalas em

vez que, uma área ampla do tipo arena favorece formas dominantes de apropriação específicas de gênero;

visitantes caminhar (via circular) e integrar às suas viagens diárias e passeios (opções de travessia); subzonas; •

Combinar zonas funcionais com subzonas flexíveis

para usos múltiplos; •

Especialmente em casos de muita utilização,

recomenda-se estruturar as zonas maiores do parque 39


(por exemplo, áreas para jogos de bola) em subzonas para garantir a utilização simultânea de vários grupos; • Em áreas que não possuem funcionalidades, pontos focais como bancos são importantes porque ajudam grupos menos confiantes a demarcarem uma posição e a se apropriar das áreas circundantes; • Projetar limites espaciais que também sejam multifuncionais, e sejam adequados para jogos; • As instalações devem oferecer flexibilidade e liberdade para mudanças (tendências em atividades de lazer, espaço para atividades temporárias); • As áreas periféricas ou de transição entre as subzonas devem ser utilizáveis para jogos, tranquilidade, relaxamento e/ou como comunicação. • Áreas expostas e centrais para servirem de ponto de encontro.

B. Segurança: • Certas zonas ou períodos do dia protegidos são necessários para que as meninas, especialmente na puberdade precoce, possam realizar suas atividades sem serem perturbadas, por exemplo, praticar esportes sem serem expostas à os olhos masculinos; • Boa visibilidade e contorno nítido dos caminhos; • Promover uma boa frequência de uso de forma a avivar a utilização dos principais caminhos; • Promover a criação de eixos visuais ligando a áreas mais frequentadas (como ruas adjacentes); • Entradas para o parque que sejam claras e atrativas; • Locais para sentar e descanso para adultos (por ex: próximo aos playgrounds); • Iluminação eficiente nos caminhos principais, rotas de fácil acesso e subzonas com uso intensivo; • Áreas protegidas e sombreadas para pessoas idosas. C. Mobiliário: • Mobiliários com elementos em diversas peças, que sejam atrativos para diferentes grupos de usuários, com possibilidade de locomoção e rearranjo; • Áreas cobertas para uso em caso de mau-tempo. 40


Diretrizes Institucionais: • Readequação do PNPM, com inclusão de diretrizes que tratem do planejamento urbano com perspectiva de gênero; • Desenvolvimento de pesquisas sobre espaço urbano e gênero no NIEG; • Readequação das pesquisas da ONG Census, com maior foco em diferença de gênero; • Instituição de políticas públicas na cidade de Viçosa voltadas para o planejamento urbano;

Diretrizes Complementares: • Conexão da área com as ruas adjacentes e melhoria da infraestrutura viária para facilitar o acesso; • Desenvolvimento de ações sociais para incentivar utilização do espaço; • Desenvolvimento de ações sociais para empoderamento das mulheres; • Criação de uma Associação de Mulheres do Bairro; • Incorporar a participação pública no projeto, de forma a atender efetivamente as necessidades da população e criação de um senso de identidade; 41


Figura 30- Proposta para o playground, localizado próximo ao acesso de pedestres pela Avenida Bernardes Filho - Técnica: Colagem. Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 31- Proposta para a área voltada para adolescentes e jovens, localizada próximo a pista de skate existente - Técnica: Colagem. Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 32- Proposta para a área voltada para jovens e idosos, localizada próximo ao acesso proposto 1 - Técnica: Colagem. Fonte: Elaborado pela autora.

42


CRO NOGRA MA

Atividades a serem realizadas, setorizadas por semanas, a partir da primeira semana de agosto atĂŠ a data da entrega dos trabalhos finais. (Anexo 1)

43


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Anexo - 1 Tabela 5 - Cronograma de atividades. Fonte: Elaborado pela autora. Planilha1

Agosto Setembro Outubro Novembro ATIVIDADES 01/ago 08/ago 15/ago 22/ago 29/ago 05/set 12/set 19/set 26/set 03/out 10/out 17/out 24/out 31/out 07/nov 14/nov 21/nov 28/nov Revisão do programa Partido Estudo Preliminar Pré-banca Revisões e Correções Anteprojeto Detalhamento Memorial Descritivo Diagramação das pranchas Entrega e Aresentação

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