HABITAR o centro

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HABITAR O CENTRO

Volume 1

Ana Carla Barbosa Paiva



HABITAR O CENTRO

Ana Carla Barbosa Paiva

Orientação: Manoel Balbino

Trabalho de graduação do curso de arquitetura e urbanismo elaborado na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás

Goiânia Julho, 2019


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO [4] Introdução Justificativa Objetivos

HABITAÇÃO SOCIAL [6] História Déficit habitacional


HABITAR O CENTRO Sumรกrio

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O PROJETO [52] A NOVA CAPITAL [24] Surgimento Memรณria Centro histรณrico Jรณquei Clube

O local Similares Diretrizes Partido

REFERร NCIAS [82]


APRESENTAÇÃO As inquietações que levaram a esse trabalho


HABITAR O CENTRO Apresentação

Introdução: A habitação não é um tema isolado,

habitar com dignidade requer mais que um teto acima da cabeça, requer infraestrutura, desde o saneamento básico até o acesso à educação, lazer, cultura e transportes. Mas, infelizmente, é recorrente a construção de habitações sociais em regiões afastadas das áreas dotadas de equipamentos coletivos, atividades comerciais, serviços e de infraestruturas gerais. A provisão de moradia é vista como adequada quando atende ao direito à propriedade individual e cumprimento de uma demanda numérica. Nessa realidade, a arquitetura se perde e a população que necessita de habitações sociais é deixada alheia às dinâmicas urbanas. Se na cidade há infraestrutura subutilizada, então porque afastar as habitações dos centros das cidades? Levando em consideração o questionamento anterior, foi feita uma busca em Goiânia para encontrar um local que garanta acesso

Justificativa:

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adequado à cidade e à moradia digna à uma população em condição de vulnerabilidade social. O centro histórico da cidade é uma região com baixa densidade populacional e com infraestrutura urbana consolidada. Com os inúmeros lotes e equipamentos culturais subutilizados, essa região é uma área ideal para o adensamento. Trazer pessoas para o centro, área que hoje se encontra em abandono, proporcionaria uma maior vida para a região e valorizaria a memória e as edificações importantes que estão esquecidas.

O que pretendo alcançar é uma proposta projetual voltada para a habitação de interesse social inserida no centro da cidade, através da apropriação de vazios urbanos. A intenção é criar um programa funcional que valorize as pré-existências e promova a criação de moradias dignas e espaços de convivência, de forma a proporcionar também, a democratização do acesso à cidade.

Objetivos:


HABITAÇÃO SOCIAL Porque surgiu e sua importância


[foto autor desconhecido] edição pela autora

HABITAR O CENTRO

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HISTÓRIA


HABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social

Os primeiros registros de habitação de interesse social se deram em são Paulo, onde com o crescimento da produção cafeeira e da imigração, começou os diversos problemas, como saneamento, mobilidade e moradia. Com o aumento do número de pessoas e falta de condições de pagar por uma moradia digna, muitos recorriam aos cortiços muitas vezes improvisados. Após um surto de epidemias, os higienistas da época acusaram essas habitações como causa, associando a falta de um plano de água e esgoto adequado às necessidades da época, sendo responsabilidade de empresas privadas. Durante a primeira república, o estado pouco intervinha no que condizia as ações do capital privado. Porém devido ao surto de doenças, afe-

1893 - surto de epidemias 1984 - código sanitário

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tando a saúde pública, os higienistas propuseram soluções que respeitassem as normas de higiene e propunham ao trabalhador a moradia necessária. Essas eram as primeiras intervenções do estado na habitação social. Mas, uma vez que as causas eram baixos salários, superexploração e falta de moradias dignas com saneamento, o problema continuou. Durante a república velha, o estado incentivou a produção de moradias que seguissem as normas de higiene e o investimento em moradia por aluguel era alto. Por isso, nesse período, cresceram as vilas operárias empresa, onde a empresa abrigava seus trabalhadores e as vilas operárias particular, onde empreendedores buscavam lucro através do aluguel. Para maior lucro, se buscava a racionalização da construção para uma economia dos espaços

1917 - Vila Maria Zélia

1890

1890 1900

1920

- crescimento imigratório

crescimento das vilas operárias

- crise habitacional - combate aos cortiços


e materiais. Porém, os cortiços proibidos pelos higienistas, cresciam cada vez mais como alternativa para suprir o déficit por habitação, uma vez que tinham o aluguel mais rentável. Com a chegada da Era Vargas, muitos passaram do aluguel à casa própria. Como a habitação absorvia grande parte dos salários dos trabalhadores e influenciava na formação ideológica e modo de vida do operário, houve uma mudança na forma de se discutir a habitação. A habitação passou a ser vista como uma questão multidisciplinar de responsabilidade do Estado e não apenas uma questão sanitária. A necessidade do Estado em baratear a habitação social, juntamente com o desejo da elite de segregar essa população de baixa renda para longe do espaço urbano, resultou na difusão da casa

própria na periferia e problemas como mobilidade, água, luz, esgoto.

“Era amplo, portanto, o leque de setores que apoiavam com ênfase a intervenção pública no processo de produção habitacional. No plano do aparato estatal, das entidades empresariais, das forças políticas com influência junto aos trabalhadores, dos técnicos e da opinião pública consolidou-se assim a noção de que cabia ao Estado garantir condições dignas de moradia e que, para tanto, era preciso investir recursos públicos e fundos sociais” (BONDUKI, 2013, p. 80)

Os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), foi o primeiro órgão a se destacar na produção de habitação social, mas a real intenção dos institutos era “proporcionar benefícios previdenciários e assistência médica” (Cohn, 1981). Como a

- início da Era Vargas - mudança ideológica do aluguel para a casa própria

1930 1940 - Atuação dos IAPs 1942 - Lei do Inquilinato 1945 - Aumento da crise habitacional - Fim da Era Vargas 1946 - Criação do FCP e início da Gestão Dutra


HABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social

habitação social não era o principal foco dos IAPs, os aluguéis eram altos e inacessíveis aos trabalhadores de mais baixa renda, portanto, no debate da moradia digna, a classe que realmente precisava foi deixada para trás. A Fundação da Casa Popular (FCP), veio em 1937 com a promessa de que centralizaria a política habitacional e operações imobiliárias. Mas a tentativa foi falha, pois foi rejeitada por parte de inúmeros setores. Por causa dos recursos escassos e, consequentemente, da pouca produção, comparado aos IAPs, a fundação foi dissolvida em 1964, com a criação do BNH. As influências da arquitetura moderna foram fundamentais para as construções das habitações sociais pelos IAPs e pela construção, também,

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de ideologias por parte dos arquitetos da época, que defendiam a habitação comunitária com espaços livres e equipamentos públicos moldando uma nova ideologia e modo de morar que contradizia o pensamento estatal da época, que difundia a casa própria. Um dos aspectos mais importantes do projeto moderno era a busca da racionalização e a industrialização do sistema de produção de moradias, de modo a reduzir seu custo. O objetivo era propor ao trabalhador um modo de vida moderno, diferente do modo de vida burguês ao qual estavam acostumados nas vilas operárias, um exemplo foi o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conhecido como pedregulho. Infelizmente, muitos dos conjuntos habitacionais construídos foram alte-

Governo Dutra e plano de emergência

1950 1960 1964 - Golpe Militar - criação do BNH/SFH 1965 - criação das COHABs 1967 - CEPAP Zezinho Magalhães


rados pelos moradores perdendo o caráter coletivo. o ideal da casa própria prevalecia, restando como opção a autoconstrução e consequente segregação nas periferias. Em 1942 Vargas instituiu a lei do inquilinato, que propunha a proteção dos inquilinos que sofriam com a inflação crescente e congelamento dos aluguéis, o que não foi uma boa ideia. Esse período foi marcado pelo despejo e a ideologia da casa própria se espalhou ainda mais com essa instabilidade da casa alugada. Além disso, as desapropriações para construção de grandes avenidas e arranha-céus intensificaram a crise habitacional, chegando ao seu ápice em 1945. O “embelezamento” da cidade e a busca por imóveis construídos para a casa própria, foram aproveitadas pela especulação imobiliária de forma que o espaço urbano ficava cada vez mais

1971 - Serfhau e o falho Plano Diretor

1970

caro, acarretando no crescimento das favelas e cidades ilegais. Com o golpe militar de 64 e a busca de apoio popular, a crise no setor habitacional foi um objetivo que se pretendia sanar. Surgiu como primeira política habitacional efetiva para tratar da produção e financiamento da habitação social, o Banco Nacional de Habitação (BNH), porém para os casos de venda, pois no regime militar defendia a casa própria. O BNH foi resultado da discussão de centralizar a política habitacional em um único órgão do Estado, que ocorria desde a Era Vargas. O BNH estimulou a construção civil, mas o órgão atendia apenas a uma questão numérica e o resultado foi a produção de bairros dormitórios através de uma tipologia padrão sem interesse arquitetônico e sem planejamento urbanístico e,


HABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social

novamente, na consequente segregação da classe baixa. A tentativa de solucionar isso foi pelo Fundo de Combate à Pobreza (FCP), que se transformou no Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau), que tinha como objetivo formular e incentivar políticas e planejamentos urbanos e o financiamento de Planos Diretores. Mas a tentativa foi falha, pois o Serfhau não tinha autonomia e nem os recursos do BNH. “o problema não era a dimensão e a localização dos novos núcleos habitacionais, mas sua desarticulação em relação à política urbana, à qualidade de projetos arquitetônicos e urbanísticos e à incapacidade de se inserirem em um planejamento de expansão equilibrada das cidades” (BONDUKI, 2014, p. 68)

Em 1986 com o fim do regime militar, e, com o abandono do BNH sobre a questão habitacional,

1980 1986 - Fim da ditadura e extinção do BNH - Constituição Nacional aprovada pelo Congresso 1989 - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) - Gestão Luiza Erundina (PT) - Urbanização de favelas e mutirão

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a luta por novas políticas habitacionais foi intensa. Sem o regime para reestruturar, o BNH chegou ao fim e foi incorporado à Caixa Econômica Federal. Com os movimentos sociais, houve a criação do Movimento Nacional pela Reforma Urbana, e em 1987, se alcançou uma grande vitória, uma emenda de iniciativa popular foi criada, garantindo a consolidação da democracia. Essa emenda trouxe a questão da reforma urbana, políticas habitacionais, de transportes e, de grande importância, a participação popular. “entre as principais propostas destacam-se: a subordinação da propriedade à função social; a separação do direito de construir do direito de propriedade, com a criação do solo criado; desapropriação de imóveis ociosos pelo valor histórico, com pagamento com títulos da dívida pública em vinte anos; tributação progressiva no tempo


para terrenos ociosos e subutilizados, com parcelamento e edificação compulsórios e desapropriação por interesse social; usucapião especial urbano ou usucapião coletivo após três anos de ocupação em terrenos de até 300m².” (BONDUKI, 2014, p. 85)

Essas propostas foram muito importantes pois, ao incluir a função social da propriedade, passou-se a prevalecer o direito à cidade para todos, regulado nos artigos 182 e 183. Nesses artigos a constituinte passa ao município a função de determinar os imóveis que cumprem ou não sua função social e aplicar os instrumentos urbanísticos pelo Estatuto da Cidade, através do plano diretor que passa a ser obrigatório aos municípios com mais de vinte mil habitantes. Aprovado apenas em 2001, o Estatuto da ci-

dade, trouxe os instrumentos para regularizar o uso do solo urbano, como o que foi citado por Bonduki, as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), que garantiam terrenos privilegiados destinados à habitação social, além da participação social na gestão da cidade. Começando em 1995 e terminando em 2001, o Governo de Fernando Henrique Cardoso não avançou nas políticas habitacionais, houve alguns programas, mas eles serviram para complementar, mais tarde, os projetos do governo Lula. De forma sutil, o Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e o Programa de Subsídio Habitacional (PSH), serviram como um novo modelo de financiamento ao Projeto Moradia. Na questão da habitação, a falha no Governo de FHC, foi privilegiar

Direito à moradia na Constituição Federal de 1988

2000 1990 1993 - Gestão Paulo Maluf (PP) - Projeto Cingapuras - Operação Urbana: Água Esmeralda e Faria Lima 1997 - Gestão Celso Pitta (PP)

2001

2002

- Gestão Marta Suplicy (PT)

- Gestão Lula (PT)

- Políticas públicas de aluguel social

- Plano Diretor Estratégico

-CEUs na periferia

- Projeto Mutirão Paulo Freire

- Programa Morar no Centro - Casa Paulista - Estatuto das Cidades


HABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social

o financiamento de casas prontas sem aumentar o número de unidades, aumentando o déficit e formas de habitar precárias. No Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, começando em 2002, houve o surgimento de grandes programas habitacionais, utilizando da inclusão do direito à moradia na Constituição em 2000, e as propostas do Projeto Moradia. Em 2003, enfrentando as questões urbanas, foi criado o Ministério das Cidades (MCidades). Com a nova política habitacional em 2004, e visando o atendimento da classe baixa através dos fundos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e os recursos de subsídios da União, houve um incentivo no setor privado da produção habitacional, estimulando a construção civil e a ge-

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ração de empregos, atendendo a classe média de forma que ela não tivesse privilégios. Isso gerou uma grande busca por terrenos, ocasionando um grande crescimento no setor imobiliário e essa disputa por terras acabou prejudicando as habitações de interesse social. Então, houve a tentativa de uma política urbana articulada com o Plano Nacional de Habitação (PlanHab). “o principal objetivo do PlanHab é formular uma estratégia de longo prazo para equacionar as necessidades habitacionais do país, direcionando da melhor maneira possível, os recursos existentes e a serem mobilizados (...) no sentido de atingir o principal objetivo da PNH: universalizar o acesso à moradia digna para todo cidadão brasileiro.” Plano Nacional de Habitação 2009-2013 (Ministério das Cidades, 2009)

Criação do Ministério das Cidades

2003 2004

2008

- Formulação de uma Nova Política Habitacional

- Minha Casa Minha Vida - projeto do Conjunto Jardim Edite - Projeto do Parque Cantinho do Céu


A tentativa não deu certo e, no processo e finalização do PlanHab, a crise dos Estados Unidos afetou o Brasil, o que acarretou na criação de um novo programa habitacional, o Minha Casa Minha Vida (PMCMV). O programa foi uma medida do governo para evitar o aprofundamento da crise, pois ao investir no setor da construção civil, consequentemente, se investia no setor habitacional e evitava o desemprego. O programa foi coordenado pela Secretaria Nacional de Habitação do MCidades, que focou no cunho social do programa e acrescentou mecanismos do eixo financeiro do PlanHab, transformando-o no maior programa habitacional desde o BNH. Para viabilizar o programa, também foi feito a diminuição dos custos de produção e do financiamento e a criação do Fundo Garantidor.

Embora o PMCMV ter sido um marco e resgatado a produção massiva de moradias, a prioridade em estimular a economia brasileira para combater a crise provocou um distanciamento de um planejamento de expansão urbana, pela má distribuição regional e por não considerar uma qualidade arquitetônica nas casas. A população de baixa renda novamente se encontrava em um processo de segregação da cidade, que deveria ser direito de todos. No Governo Dilma Rousseff foi dado continuidade ao programa com a fase II, o Minha Casa Minha Vida destinada a produção habitacional por autogestão, mutirão e cooperativas de habitação, em função dos movimentos por moradia. Em 2016 foi aprovado a fase III, que aumentou a abrangência de beneficiados pelo programa, expandindo para as

- Gestão Fernando Haddad (PT) - projetos voltados para mobilidade: corredor de ônibus e ciclofaixas

- Minha Casa Minha Vida entidades - Projeto do Conjunto Parque Santo Amaro V

2013

2009 2011 - Gestão Dilma (PT) - Projeto do Conjunto Heliópolis - Gleba G - Projeto do Conjunto Jardim Lidiane III

- Aquisição de terrenos para MCMV - Redução de verbas da habitação para quitar dívida de transportes


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regiões metropolitanas. Mas, após o impeachment de Dilma ainda em 2016, a meta geral do governo de Michel Temer, para todas as faixas de renda, ficou longe de alcançar o esperado. Entre o fim do Governo Temer e o início do Governo de Jair Bolsonaro, começou uma defasagem no cronograma de repasses ao MCMV e o caixa das construtoras que atuam no programa chegou no limite. Essa defasagem pode comprometer tanto a oferta de habitação no país como o setor da construção civil, que já está fragilizado. Com um governo ainda recente, não se há certeza do que será feito do programa habitacional, mas o Ministro do Desenvolvimento Regional e o Presidente da Caixa, asseguraram a continuidade do MCMV. Atualmente, após a redução de investimen-

tos do Governo Temer e em meio a especulações sobre mudanças que o Governo Bolsonaro pretende fazer no programa, o medo é que o programa Minha Casa Minha Vida acabe de vez. Nesse cenário de inseguranças o que fica claro é que a política habitacional representa uma luta histórica dos movimentos sociais pela moradia. A habitação de interesse social surgiu, e se modificou durante os anos, na tentativa de sanar o problema do déficit habitacional de pessoas sem condições de pagar por uma moradia digna, com acesso a direitos básicos como saneamento e mobilidade. Apesar do decorrer dos anos, desde os primeiros registros até os dias de hoje, o déficit habitacional ainda é uma realidade.

- MCMV III

2014 - Revisão do Plano Diretor Estratégico - Programa PPP da Habitação do Centro Expandido de São Paulo

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- Defasagem no cronograma de repasses ao MCMV e o caixa das construtoras que atuam no programa chegou no limite

- Projeto do Complexo Habitacional e Cultural Julio Prestes

- Futuro incerto

2016

2019


“As habitações populares surgiram com o intuito de minimizar o déficit de moradia, porém, a princípio, além da demanda não atingir o necessário para beneficiar todas as famílias, tais habitações não suprem condições mínimas de habitabilidade. Nem conforto e estética, sendo em sua maioria de qualidade inferior, dimensões inadequadas e segregadas dos centros urbanos” Alex Kenya Abiko


HABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social

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DÉFICIT HABITACIONAL

O déficit habitacional é um indicador que permite orientar as políticas públicas habitacionais na realização de programas para atender à demanda explicitada entre as esferas governamentais: municípios, estados, Distrito Federal e União relacionada às necessidades de moradias (IPEA, 2013). A soma de quatro componentes resulta no déficit habitacional: habitação precária, coabitação familiar, ônus excessivo com aluguel urbano e adensamento excessivo em domicílios alugados. Portanto, para sanar o déficit habitacional, não é só uma questão numérica é necessária uma moradia adequada, “Moradia adequada é mais que um teto sobre a cabeça. Também significa: privacidade, espaço, acessibilidade física, segurança, segu-

rança de posse, estabilidade estrutural, durabilidade, iluminação, aquecimento, ventilação, infraestrutura básica, qualidade ambiental, além de fácil acessibilidade ao trabalho e outros equipamentos básicos. Tudo isso deve estar disponível a custos acessíveis. ’’ (Agenda Habitat, parágrafo 60). Dentre as inadequações apontadas no Censo Demográfico, a carência de infraestrutura urbana é apontada como a questão que mais compromete a qualidade dos domicílios urbanos. Entre outros problemas encontrados estão a localização periférica, distanciamento dos equipamentos públicos e a reprodução de casas seriadas seguindo modelos universais.


HABITAR O CENTRO Habitação de Interesse Social

GRÁFICO DE DÉFICIT HABITACIONAL 2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

6,9 MORADIAS EM MILHÕES

5,8

6,1

6,2

6,0 5,6

5,4

Fonte: Ministério das Cidades Fundação João Pinheiro

PERFIL DO DÉFICIT HABITACIONAL EM UNIDADES 3.227.232 Coabitação

3.269.514

Ônus com aluguel

317.806

Adensamento excessivo

942.631

Habitação precária

Fonte: Fundação Getúlio Vargas

2017

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No ranking estadual dos vinte municípios com maior déficit habitacional, Goiânia está em primeiro lugar (IMB, 2017). Assim como em grandes metrópoles, a capital do estado tem passado por um processo de expansão urbana que resulta em um crescimento desordenado e sem planejamento. A dissipação da cidade gera uma série de problemas como: tempo gasto para deslocamento, falta de infraestrutura básica, ineficiência na oferta de equipamentos públicos e ausência de políticas habitacionais para pessoas de baixa renda. Segundo Elkin Velásquez, diretor regional da ONU – Habitat para América Latina e Caribe, em relatório apresentado na Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável (habitat III) conclui-se que para diminuir a desigualdade urbana e a segregação espacial é importante discutir a localização. Pois, o fator espacial determina o acesso das famílias a bens, serviços essenciais e espaços públicos de qualidade. Infelizmente, contrário a ideologia de Velásquez, as distribuições das Zonas ou Áreas Especiais de Interesse Social (ZEIS ou AEIS), também chamadas de Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS), áreas previstas no Plano Diretor de uma cidade para assentamentos habitacionais de população de baixa renda, estão em regiões afastadas. Com a intenção de desassociar a ideia de que a habitação de interesse social é construída nas periferias das cidades, esse trabalho visa a aplicação do projeto de Habitação social em uma região bem localizada.

Brasil com destaque ao estado de Goiás

Estado de Goiás com a região metropolitana de Goiânia


MAPA ZEIS EM GOIÂNIA MUNICÍPIO ENTORNO ZEIS ÁREA URBANA CENTRO DE GOIÂNIA

[mapa elaboração da autora]


A NOVA CAPITAL Entendendo a cidade e seus patrimĂ´nios


HABITAR O CENTRO

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[foto autor desconhecido] edição pela autora


SURGIMENTO

Do ponto de vista demográfico, no ranking das cidades mais populosas do Brasil, Goiânia ocupa o 10º lugar com 1.495.705 habitantes (IBGE, 2018), sendo a segunda cidade mais populosa do Centro-Oeste e um importante pólo econômico da região. Mas foi apenas no final de 1932 que Pedro Ludovico tomou as primeiras providências para que Goiânia fosse construída. A ideia da futura capital começou devido à recessão de Getúlio Vargas, em 1929. Por causa do declínio do modelo agroexportador, foi proposto a substituição do sistema agrário pelo investimento na produção nacional. O projeto de modernização e industrialização do governo populista previu a ocupação de todo o território, a restauração da comunicação interestadual e a centralização dos setores econômicos e políticos do país sob o poder da União. “A revolução de 1930 pronunciaria, para o Brasil e para Goiás, novos tempos. E nada melhor que uma nova capital para instalar uma nova era política do nosso estado. Mesmo tendo sido derrotada pela Revolução, a oligarquia Caiadista, cujo reduto era a Cida-

de de Goiás (antiga Vila Boa), não estava aniquilada e, para fugir do seu alcance, mudar a capital para outra região reforçaria o novo governo” (MACHADO, 2007, p.68) Em 1933 foi concluído o Plano Diretor da nova capital, assinado pelo arquiteto e urbanista Atílio Corrêa Lima, contendo as primeiras diretrizes para a cidade. O projeto propunha praças geométricas e bulevares, influência de Haussman, e a ortogonalidade e os anéis verdes, influência do Movimento Moderno, como reforça Manso (2001, p. 204). Apesar dos esforços que visavam apagar o passado colonial do estado a “capital do sertão”, como diz o autor Gonçalves (2002), foi uma cidade em que os valores agrários ainda permeavam entre as novas concepções culturais impostas pela modernização. A diretriz geral do plano urbano era a hierarquização de vias, o zoneamento, a maior manutenção possível da topografia original e a racionalização. No entanto, o centro administrativo foi o elemento primeiro de composição e definidor das demais áreas. As edificações que ocuparam a Praça Cívica, o Centro Administrativo, foram pensadas em


HABITAR O CENTRO A Nova Capital

atribuir singularidade ao espaço. O estilo art déco, que era o mais popular nos principais centros da época, serviu como símbolo estético de modernização e inovação contrapondo com um passado colonial, sendo motivo de algumas divergências e estranhamento social. A estrutura viária era definida de forma hierárquica, sendo cinco as principais avenidas: Avenida Anhanguera, que cruza a cidade no sentido Leste-Oeste e foi pensada como eixo comercial; Avenida Pedro Ludovico, atual Avenida Goiás no sentido Norte-Sul pensada para ligar a estação férrea com o Centro Administrativo; Avenida Araguaia e a Avenida Tocantins, pensadas para conectar o Centro ao Parque Botafogo e ao Aeródromo; A avenida Paranaíba, que definia a divisão do setor central e conectava a zona comercial com a industrial. Em relação ao zoneamento, o Plano Diretor dividia a cidade em cinco setores. O setor Central, que abrigaria a Praça Cívica e o comercio entre as Av. Anhanguera e Goiás com um traçado ortogonal pensando em uma maior densidade e fluxo de veículos. O setor Norte, que abrigaria a zona industrial ao longo dos trilhos do trem. Já os setores Sul, Leste e Oeste aparecem apenas como esboço, mas definidos como regiões fundamentalmente residenciais. Em consonância com as proposições de urbanização moderna, Corrêa Lima estabeleceu espaços destinados a sociabilidade e lazer, onde nos espaços abertos ele utilizou das vegetações e hidrografia existentes. Os espaços verdes seriam espaços de preservação, lazer e também serviriam para escoamento de água, esses espaços seriam três parques urbanos: o Botafogo, o dos Buritis e das

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Paineiras, que permitiria a preservação dos cursos d’água. Para socialização, foram previstas três áreas: a do Estádio Municipal, a do Automóvel Clube de Goiás e a dos clubes esportivos. Apesar dos grandes investimentos a favor da urbanização, a capital se construía lentamente e a cidade de Campinas ainda era o principal centro da região. Em 1936, Armando Godoy, inspirado nos modelos de cidades- jardins de Howard, desenvolveu as regiões Sul e Oeste e propôs alterações no Setor Central, redimensionando a área comercial. Entre 1940 e 1950, o Setor Central, ainda em consolidação, começou a se adensar e a Praça Cívica foi concluída e se tornou o Centro Administrativo. Época em que a expansão urbana ainda era rigidamente controlada pelo Estado e o Plano Diretor foi duramente seguido. Mas, em 1964 foi evidente o abandono da fiscalização sobre o crescimento urbano, que resultou em uma modificação em sua malha urbana e a verticalização se destacou. Tirando vantagem da falta de fiscalização, o investimento privado passa a ter controle e alterar a cidade de forma indiscriminada e novos loteamentos e edifícios são lançados com o apoio do Banco Nacional de Habitação. O desenho do Centro aos poucos vai se perdendo. Devido ao crescimento da região, da densidade e trânsito no centro, começam as migrações das camadas altas para os setores Oeste e Sul. Goiânia então começa a sofrer um boom imobiliário, com a construção de conjuntos populares da noite para o dia, de espigões e assim os bairros da nova capital vão se transformando. Nos anos de 1980, as classes mais abastadas efetivaram o processo de abandono da região


central, devido ao crescimento desenfreado e a dificuldade de mobilidade. Os bairros recém-verticalizados com edifícios de alto padrão se tornaram o novo espaço da elite. De acordo com os jornais da época, essa intensa verticalização e dispersão dos serviços e habitação do centro é atribuído pela falta de investimentos, somado à ineficácia do transporte coletivo, levando ao excessivo uso do transporte individual e falta de estacionamentos. Uma situação que se mantém até hoje. Entre 1990 e 2000, diversos bairros despontaram como novas centralidades em Goiânia e os serviços destinados ao lazer, comércio e alimentação de alta qualidade abandonam efetivamente o Setor Central. Essa diversidade de novas centralidades é atribuída a preferência das camadas mais altas pelos setores Oeste, Marista e Bueno para a habitação e a inauguração do Flamboyant Shopping Center. Os pontos de encontro, antes no centro, foram substituídos pelo grande Centro Comercial, que se tornou o espaço mais atrativo, e o crescimento de condomínios fechados contribuíram para a descentralização da cidade. Nos anos 2000, a cidade já se configurava sob a lógica pluricentral e a cidade passou a ter uma nova setorização: o Setor Oeste como boa opção habitacional; O Universitário adquiriu um caráter mais funcional concentrando centros universitários; O Jardim Goiás abriga centro comercial e a Avenida T-63 tem muitos serviços e comércios.


HABITAR O CENTRO A Nova Capital [foto acervo SEPLAM] edição pela autora

[foto autor Carlos Costa] edição pela autora

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MEMÓRIA

O maior enfrentamento para a intervenção em Goiânia é a compreensão da dinâmica social da população. Saber a história da cidade de Goiânia possibilita compreender que a concepção de espaço público é pouco consolidada, já que o imaginário social ainda é fortemente marcado pelos valores da tradição e a cultura do cerrado e do sertanejo. Por outro lado, tem-se a valorização do novo e da constante renovação dos espaços físicos.

“Goiânia é uma cidade muito jovem que absorve sem obstáculos “o moderno” e, por isso, o capital atua sem grandes dificuldades. O envelhecimento dos objetos e dos espaços é acelerado, e as heranças são destruídas com rapidez. Novas materialidades são superpostas às formas anteriores” (VAZ, 2002, p. 42)

A região metropolitana de Goiânia é imensa e várias áreas poderiam ser usadas para o projeto, mas levando em conta a importância da localização da HIS e do acesso da população de baixa renda a uma infraestrutura, o centro é uma boa opção para a instalação da Habitação de Interesse social. Outro ponto a ser levado em consideração é a importância histórica do centro tradicional e de seu patrimônio

edificado. Nunca se deu tanta importância a memória e a relevância da sua preservação como nos dias atuais. Essa preocupação com a memória se reflete no boom da construção de obras museológicas como o Museu do Futebol, Holocausto e Direitos Humanos, feitas sob o pretexto de atenderem questões de memória e da cultura no espaço urbano. Abastecido do discurso de preservação do passado como retentor da memória, Huyssen explica como os museus e monumentos contemporâneos inserem-se no tecido urbano normalmente como um equipamento de funções didáticas. Infelizmente, poucos se configuram como espaço de convívio social, sendo o usuário passivo do espaço. Contrário à ideia de Huyssen, Ecléa Bosi e Ulpiano Bezerra de Meneses defendem a concepção de memória como uma matéria de constante reconstrução que busca responder questões do presente. Para esses estudiosos é um equívoco interpretar as experiências do passado como uma adição e sobreposição dos fatos, logo, o passado é constantemente recriado e não pode ser entendido como “um pacote de recordações, já previsto e aca-


HABITAR O CENTRO A Nova Capital

bado” (BEZERRA, 1992, p.10). Independente das correntes de pensamentos, é inegável a importância da memória. Reconhecendo a importância tanto da primeira corrente, olhando o passado como material didático, tanto da segunda corrente, olhando o passado através da memória afetiva daqueles que vivenciaram o cotidiano urbano. O centro histórico se torna um local ideal para sanar a questão habitacional e ainda valorizar a memória da região. Outro ponto que afirma esse local como ideal é o conceito estabelecido por Ignasi de Solà-Morales, denominado como Terrain Vague ou algo como ‘vazios urbanos’. Esse conceito aplica-se às áreas abandonadas e obsoletas na cidade, são os lugares esquecidos na cidade, mas, de forma contraditória, repletos de memória do passado incidindo sobre o presente. A história de Goiânia e a sua situação atual se encaixa em uma situação de abandono, de forte memória de lugar e de possibilidades múltiplas e originais. Relacionando a memória e o espaço, cabe ao arquiteto questionar seu papel e sua atuação na promoção de espaços memoráveis. Como promover o encontro das pessoas? Logo, na tentativa de preservar a memória do centro histórico de Goiânia e pensar intervenções segundo uma perspectiva mais socializadora, temos que entender a história como ela ocorreu e levar em consideração a relação homem-cidade e homem-edifício, que revela a interação emotiva entre o sujeito e meio. Compreendendo o passado e as dinâmicas existentes, pode-se estabelecer uma relação entre as propostas de intervenção e significado dos lugares.

[foto acervo SEPLAM]

[foto acervo SEPLAM]

[33]


O CENTRO HISTÓRICO

O centro não tem mais a importância de 1940 dado a sua degradação, mas ainda possui uma dinâmica própria e alguns comércios ainda resistem e promovem vivacidade aos espaços livres do bairro. Ainda que pouco, já existe um pequeno movimento que propõe alguma retomada dos espaços do centro ou de edificações antigas para a realização de atividades culturais, pois é inegável a importância dessas edificações e da memória da cidade. Logo, por considerar a importância do Setor Central e seu potencial de intervenção que é necessário encontrar no centro histórico um local que potencialize a valorização do espaço público e atraiam um maior contingente populacional.


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IMAGENS DO ABANDONO

[foto acervo autoral] edição pela autora


MOBILIDADE URBANA

O centro de Goiânia, até os anos 1960, era lugar de grandes acontecimentos sociais e o pedestre era protagonista do espaço. Hoje o cenário se encontra diferente, mas ainda hoje o centro é uma importante conexão entre diferentes locais da cidade e como o setor abriga comércios e serviços, atrai certa quantidade de pessoas. Portanto, apresenta um tráfego intenso ao longo dos dias úteis, principalmente pelos automóveis particulares. “A proporção de habitantes por veículo está cada vez mais próxima de um para um. Foram mais de 61.312 automóveis licenciados na capital. Considerando a população, isso equivale, a dizer que cada 1,22 goianiense tem um veículo à sua disposição. Em 2011, essa proporção era de 1,27 habitante por carro.” (Palazzo, O POPULAR, 2013).

Como o transporte público é insuficiente, há cada vez mais carros, e esses requerem cada vez mais estacionamentos. É visível o descaso e o baixo investimento público em transportes coletivos e em meios alternativos como a bicicleta. As avenidas Goiás e Anhanguera são as principais vias de mobilidade do centro, sendo os únicos trechos de BRT pelo setor. Não há VLT, metrô ou ciclovias no Setor Central por essa questão, esse trabalho não pode deixar de citar a questão da mobilidade. A intenção é priorizar o pedestre, o ciclista e o transporte público.


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MAPA TRANSPORTE PÚBLICO VIAS DO ENTORNO ENTORNO CENTRO TRADICIONAL PONTO DE ONIBUS ROTA ÔNIBUS AV. GOIÁS ROTA ÔNIBUS RUA 3 E 4 ROTA ÔNIBUS PRAÇA CÍVICA

[mapa elaboração da autora]


Para uma melhor perspectiva analítica do espaço foi dividido a área de estudo, o centro tradicional, em quatro quadrantes, definidos pelos traçados da Avenida Goiás e Rua 3. Nos quadrantes I e II, principalmente ao longo das Avenidas Goiás e Avenida Anhanguera, são pontos de maior concentração comercial, predominando popular e varejo, mas também há um comércio informal. As habitações se concentram mais próxima do Setor Oeste e do Bosque dos Buritis, no quadrante III, predominando habitações multifamiliares, mas quase todas são cercadas por altos muros que impossibilitam o diálogo do espaço interno com o espaço externo. E do outro lado da praça cívica, no quadrante IV, há o predomínio de habitações unifamiliares, consequências do desenho urbano da década de 30. É um bairro pouco adensado habitacionalmente, devido a evasão histórica dos centros urbanos, com a população mudando para novos bairros e subúrbios.

Em relação aos espaços públicos, esses se encontram, em maioria, tomados por carros, principalmente nos entornos da Av. Goiás e a Anhanguera, que despontam como trechos de maior concentração comercial. A grande maioria dos usos mistos são formadas pelo térreo comercial e habitação, mas várias dessas edificações se encontram abandonadas, principalmente ao longo da Av. Goiás, reforçando o esvaziamento do centro que apenas se mantem como espaço vivenciado no horário comercial. Toda a movimentação proporcionada pelos comércios é interrompida fora do horário comercial, deixando os finais de semana e noites desertas. Os lotes ocupados por estacionamentos e garagens são inúmeros, reforçando a questão dos vazios urbanos no centro. Já analisando os equipamentos de cultura e lazer, a maioria estão concentrados no quadrante I, e eles se encontram em um possível eixo cultural.


QUADRANTE II

O AV. G

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QUADRANTE I

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3 RUA

MAPA DE USOS DO CENTRO VIAS ENTORNO MISTO CULTURA|LAZER INSTITUCIONAL|PÚBLICO SERVIÇOS

QUADRANTE III

QUADRANTE VI

COMÉRCIO HABITAÇÃO VAZIOS URBANOS EIXO QUADRANTES

[mapa elaboração da autora]


Nesse possível eixo cultural podemos citar: [1] o Jóquei Clube [2] o Teatro Goiânia [3] a Vila Cultural Cora Coralina [4] o Cine Ouro [5] o Beco da Codorna [6] a Rua do Lazer [7] o Grande Hotel

[Apesar do Grande Hotel estar no quadrante II, ele dá continuidade ao eixo cultural]


QUADRANTE I

QUADRANTE II

[6]

[1]

[2] [3]

[7]

[5] [4]

MAPA EIXO CULTURAL VIAS ENTORNO CENTRO TRADICIONAL CULTURA|LAZER EIXO DOS QUADRANTES

QUADRANTE III


[fotos acervo autoral] edição pela autora

O Jóquei Clube foi o primeiro da então nova capital de Goiás, e ele atua como um centro de esportes e de lazer para todas as faixas etárias. Mas, atualmente, o edifício brutalista se encontra em perigo de demolição.

Com grande valor histórico e arquitetônico, com sua linguagem Art Déco, o Teatro Goiânia é uma edificação tombada como Patrimônio Nacional. Mas o edifício, infelizmente, tem utilização cada vez mais esporádica.

O espaço Vila Cultural Cora Coralina foi resultado de uma revitalização da quadra, agregando a quadra um espaço expositivo em subsolo, mas que, infelizmente, não acarretou no aumento do uso do Teatro Goiânia.

O Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, ou também conhecido como Cine Ouro, é um espaço cultural. Ele continua em funcionamento e possui cinco espaços onde abrigam festivais de cinema, bar, exposições de arte e sala de leitura.


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Batizado de Beco da Codorna, a porção central da quadra ocupada pelo Cine Ouro, antes era o local apenas para abastecimento das galerias comerciais, mas virou ponto de encontro de jovens e um museu de arte urbana.

A Rua do Lazer, um trecho da Rua 8, foi fechada ao tráfego de veículos e se tornou um espaço de pedestres. Entretanto, ela não tem extensão suficiente para garantir uma variedade de comércios e lazer necessários para a maior densidade do local.

Por sua importância no cenário histórico, o Grande Hotel é um bem tombado. Apesar de se encontrar obsoleto, há em sua calçada eventos musicais noturnos semanais, também chamados de apresentações de choro.

Apesar de ter esses espaços de lazer e cultura, todos se encontram subutilizados ou em obsolescência de uso, uns em maior grau que outros. Porém, no conjunto desses importantes edifícios pertencentes ao centro, destaca-se o edifício do Jóquei Clube de Goiás.


“O Jóquei Clube nasceu praticamente junto com Goiânia. Fundado em 1938, seus muros seriam um dos marcos divisórios da cidade até a década de 50, quando a Avenida Anhanguera ainda era uma estrada de duas pistas, sem asfalto, ladeada por matas e campos, que ligava a recém-criada Goiânia, nova capital do Estado, à histórica Campinas.(...) O clube, com suas matinês dançantes, era um dos principais pontos de encontro da cidade” Marcos Bandeira, O popular.


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JÓQUEI CLUBE

O edifício do Jóquei Clube de Goiás, o antigo Automóvel Clube de Goiás, foi uma das três áreas previstas na construção da “nova capital” para socialização. O antigo Automóvel Clube, projeto de Eurico Viana, era um casarão eclético sempre lembrado como um espaço agradável, mas onde as festas de debutantes e bailes de carnaval atendiam apenas a elite. Na década de 70, com os surgimentos de novos clubes sociais e a necessidade de readequação às novas demandas urgentes, o edifício de traços ecléticos da Automóvel Clube, sentiu-se obrigado a acompanhar as mudanças no centro e em seu entorno em direção ao “progresso”. O edifício foi demolido e substituído pela arquitetura brutalista de Paulo Mendes da Rocha, e do colaborador João Eduardo de Gennaro, em 1963, se tornando o atual Jóquei Clube. Ao longo dos anos 70 a 90, o clube foi o principal ponto de encontro, de festas e shows da cidade. Atualmente, ele se encontra em péssimo estado de conservação, carecendo de propostas que busquem valorizar tanto sua história como seu significado na paisagem da cidade. A partir do recorrente e gradativo abandono

das elites do Setor Central, o Jóquei passou a receber usuários mais jovens, se tornando ponto de encontro de adolescentes, esportistas e novas famílias de classe média. Foi nesse momento que o clube se destacou pelo esporte e festas de carnaval e ano novo. Mas, nos dias de hoje, muitos usuários questionam se a construção do caro edifício modernista não foi um dos motivos do início do endividamento da instituição. Na década de 1980 os problemas de degradação que assolaram o centro de Goiânia, de uma certa forma, alcançaram também o Jóquei, levando a intervenções que buscavam adequar o clube às novas demandas solicitadas pelos seus usuários, mas essas intervenções o descaracterizaram. A primeira dessas intervenções, sem data registrada, foi a adição das duas quadras de tênis em estrutura metálica se assemelhando a galpões, localizadas ao lado daquelas desenhadas por Mendes da Rocha e que não dialogavam com a obra do arquiteto. A segunda delas, e talvez a maior, foi proposta pelo arquiteto Antônio Lúcio Ferraz, tentando solucionar a acessibilidade, foi proposto a substituição da paisagem por um estacionamento privado


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destinado aos usuários. E além do estacionamento, foi incluído uma piscina e outra quadra de tênis. Já as três intervenções propostas pela arquiteta Maria Eliana Jubé, como ela mesmo afirma, foram pontuais. A primeira foi a reformulação dos banheiros e as saunas, atendendo aos pedidos dos usuários. A segunda foi a adição de um painel cerâmico na entrada do edifício, que desconstruiu, a importância do concreto aparente na obra. Dentro desse conjunto de alterações, ainda teve a remoção de parte do bosque para abrigar um novo espaço infantil, com piscinas, tobogãs e playground. O que se pode concluir é que as alterações realizadas na Sede Social do Jóquei Clube, mesmo justificadas pela precariedade do seu entorno, não dialogam com o partido original e nem agregam valores estéticos e arquitetônicos à obra modernista. Esse foi o início do declínio do Clube. Concomitante ao abandono do centro, o Jóquei também sofreu desse processo. As inúmeras intervenções, além de descaracterizarem a obra arquitetônica, levaram a instituição a assumir dívidas. E mesmo com as tentativas de readequar o espaço e agradar os usuários, os sócios, que antes chegavam a ser 4,5mil pessoas, foram apenas 900 pessoas em 2003. (BANDEIRA, 2003, O Popular) . A degradação do espaço, a perda da vitalidade e o desuso foram causados por uma série de fatores, dentre eles, a má administração, excesso de gastos com reformas, o abandono do centro, o aumento de condomínios fechados e a popularização dos shoppings centers como opção de lazer. Tanto os shoppings centers e os prédios, geralmente com áreas de lazer e de espaços verdes privados, deses-

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timulam o uso de espaços públicos, considerados hoje como locais perigosos e negam as possibilidades de interação visual e de convívio entre habitação e rua. E nesse ponto, Jane Jacobs, em “Morte e Vida das Grandes Cidades” (2000), coloca em xeque esses modelos habitacionais que se isolam do espaço da rua, pois, para ela, ruas movimentadas são garantias que o espaço público esteja sempre vigiado e, consequentemente, seguro. Como a maior parte dos empreendimentos possuem bosques e piscinas privadas, os clubes sociais, um “fenômeno tipicamente brasileiro” (BRUAND, 2005, p.21), foram perdendo espaço em todo o Brasil. E no caso do Jóquei, a consolidação da imagem do Setor Central como perigosa é a razão mais preocupante e que gera maior repulsão para a retomada da área. Os impasses judiciais ocorridos entre 2003 e 2010 quase levaram ao fim da instituição e da edificação. Para salvar o patrimônio, o clube desapropriou parte da área do hipódromo, localizado no Bairro Cidade Jardim, e vendeu para o Governo do Estado. Mas o dinheiro não foi suficiente para quitar a dívida e realizar as reformas necessárias para a reabertura do Jóquei. As propostas de venda para a área foram diversas, como a construção de um shopping e de um centro esportivo. Em 2010, o clube assinou um contrato com a Faculdade Padrão, que em troca do pagamento das dívidas, a instituição de ensino poderia usar as instalações do clube e administraria a área. A antiga área que abrigava o bosque e o parque infantil foi completamente removida e hoje é um estacionamento privado da faculdade.


Com a derrubada do bosque perdeu-se a proposta do projeto inicial e além do mais perdeu o respeito pela questão ambiental, do córrego que passava por ali, que hoje está canalizado e esquecido. Atualmente, o edifício parece se ocultar com o entorno, o caminhar entre a Rua 3 e Rua 11 não possibilita notar o edifício brutalista, onde os altos muros com pichações e propagandas ajudam a ocultar a edificação.

antigo Automóvel Clube de Goiás [fotos acervo SEPLAM]

[foto acervo Paulo Mendes da Rochal] edição pela autora


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Jรณquei Clube, 2004 [fotos Google Earth]

Jรณquei Clube, 2018 [fotos Google Earth]

[foto acervo SEPLAM]

[foto acervo SEPLAM]

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[foto autor Lucas Jordano] edição pela autora


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O PROJETO E SUA IMPORTÂNCIA

Diante da polêmica da venda e demolição da sede do Jóquei Clube de Goiás e considerando que a edificação não era tombada como patrimônio, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO) registrou em 2017 na sede do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) uma proposta de tombamento do Jóquei Clube de Goiás. A solicitação de tombamento ainda foi reforçada pelo arquiteto e urbanista Lucas Jordano, professor da Universidade Federal de Goiás, através de um parecer técnico. Portanto, é claro que, apesar das intervenções e do estado de abandono, o Jóquei ainda tem grande importância, uma vez que, além de integrar a paisagem do Centro de Goiânia e fazer parte da memória afetiva e da identidade do goianiense, o edifício tem reconhecimento internacional já tendo sido analisado em sites, revistas e livros. A relevância arquitetônica do Jóquei começa no projeto modernista de autoria de Paulo Mendes da Rocha, arquiteto premiado e reconhecido mundialmente. Ele recebeu a Medalha de Ouro Real pelo Royal Institute of British Architects, o Prêmio Pritzker (2006), o Prêmio Mies van der Rohe (2000) e recebeu o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (2016). Além do Jóquei, Paulo Mendes é autor de outros projetos importantes como os projetos do estádio Serra Dourada e da Rodoviária de Goiânia. O contexto arquitetônico internacional do projeto também mostra a importância do Jóquei. No século XX, a linguagem clássica deu espaço para a linguagem moderna, que na Segunda Guerra Mundial sofreu uma variação, dando o surgimento a uma arquitetura descrente nas aparências e que

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valorizava os materiais em suas formas brutas, a arquitetura brutalista. O jóquei é um projeto que se encontra dentro deste contexto, se caracterizando como um dos protagonistas da arquitetura brasileira no século XX. Outro fator que reafirma o motivo do pedido de tombamento e a importância do clube é a solução ecológica do projeto arquitetônico, que permitia a coexistência entre cidade e meio natural. No quesito ambiental, o projeto respeitava a existência do conjunto arbóreo e do Córrego Buritis, deixando um espaço para que o córrego e suas matas ciliares pudessem prosperar. No projeto, os arquitetos articularam os três ambientes externos, o bosque, as piscinas e as quadras, situados em extremos opostos do projeto, de forma a conectá-los visualmente e fisicamente por uma rampa central. Já as funções sociais, como salão de festas, restaurante e sauna foram articulados em níveis altimétricos diversos, permitindo que cada usuário consiga visualizar e interagir com os demais. Essa fluidez do espaço interno é permitida pela cobertura em concreto armado, apoiada sobre dezesseis pilares volumosos no perímetro da obra. Os pilares da obra são bem icônicos, configurados a partir da interseção de triângulos de diferentes dimensões, e estão posicionados em uma malha retangular de trinta e um metros por treze metros, formando duas fileiras de oito pilares. Implantado em um terreno de 22.000m² e com área construída de 11.500m² (ARTIGAS, 2006, p.124), tem-se uma obra arquitetônica relevante que se destacava por seu caráter compacto e diálogo com seu entorno.


MAPA CÓRREGO BURITIS ÁREA DO JÓQUEI CANALIZAÇÃO

[mapa elaboração da autora]


HABITAR O CENTRO A Nova Capital

QUESTÃO AMBIENTAL

Apesar da importância da proteção de afluentes para a preservação da rede hidrográfica de Goiânia, os cursos d’água da cidade se encontram camuflados pela malha urbana. As áreas circundantes aos leitos de córregos e rios da cidade são áreas de abandono e não importa em que situação esteja o curso hídrico, a desconexão da sociedade para com o mesmo é um fator comum e o Córrego Buritis não é exceção a essa realidade. O córrego, hoje, além de estar inserido em uma região de abandono, o próprio córrego se encontra em esquecimento. O fator natural foi negligenciado e o contato e interação com esse curso d’água foi negado. O trajeto do Córrego Buritis foi sendo canalizado em manilhas de concreto subterrâneas ao longo das décadas, passando a maior parte do ano esquecido, exceto nos primeiros meses do ano, quando o período de chuva o faz ganhar volume e incomodar em afloramentos em subsolos de edifícios, que antes eram naturais. Apesar do projeto inicial do Jóquei Clube ter sido responsável ecologicamente, esse mérito não pode ser constatado nos dias de hoje, pois as alterações feitas no jóquei acabaram por eliminar as matas ciliares existentes ali e cobrir com cimento o afloramento de água. Por outro lado, a situação é completamente reversível se mantida a integridade do edifício.

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O PROJETO Onde e como intervir?


HABITAR O CENTRO

[foto autor Naldo Mundim] edição pela autora

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O LOCAL

A subutilização da região do centro é um problema do cenário atual de Goiânia. A ideia é criar um projeto que ajude a atender a demanda por habitações de interesse social utilizando a infraestrutura já existente. O adensamento dessa região, criaria usuários para o possível eixo cultural do centro, o que ajudaria a reverter esse quadro de abandono, criando movimento e destaque para essa região, principalmente no Jóquei, que foi pauta de muitas discussões nos últimos tempos. A importância histórica do Centro para Goiânia, a infraestrutura existente, os ‘vazios urbanos’ e a ameaça de um patrimônio ainda não reconhecido, foram os motivos que levaram a escolha da área de atuação desse trabalho. A proposta de intervenção no Centro tradicional de Goiânia tem como foco o entorno do Jóquei Clube. Com atividades que complementam o morar e se dispõem ao uso da população em geral, essa região pode se tornar o quintal do centro, ressignificando seu contexto e reforçando sua vida urbana.


HABITAR O CENTRO O Projeto

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MAPA ÁREA DO PROJETO ENTORNO TERRENOS ESCOLHIDOS INSOLAÇÃO VENTILAÇÃO

[mapa elaboração da autora]


AVENIDA ANHANGUERA Na área analisada há a presença predominante de comércios, há também alguns estacionamentos e locais claramente abandonados. Há edificações mistas [residenciais e comerciais] mas predomina o comércio. É possível encontrar o Jóquei através de seu extenso estacionamento, já o edifício é mais difícil de notar, uma vez que se encontra camuflado com os altos muros, as pichações e propagandas. O limite da área analisada faz divisa com o Teatro Goiânia.


รกrea analisada

HABITAR O CENTRO O Projeto

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RUA 11 Em toda a extensão da Rua 11 o abandono é marcante, muitas edificações estão degradadas, desocupadas e usadas como estacionamento. A exceção dessa visível desocupação é a presença de pequenos comércios na esquina da Av. Anhanguera, contrastando com o restante da rua.


รกrea analisada

HABITAR O CENTRO O Projeto

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RUA 4

A Rua 4, já difere um pouco das outras análises, uma vez que grande parte dela é destinada a atendimento de saúde. Mas ainda sim há a presença de vários estacionamentos.


HABITAR O CENTRO O Projeto

รกrea analisada

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AVENIDA PARANAÍBA


HABITAR O CENTRO O Projeto

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A Avenida Paranaíba não destoa do resto das análises, de forma que ainda encontramos estacionamentos e áreas abandonadas na região estudada. Portanto, podemos ver que todas as fachadas dos terrenos escolhidos são áreas de abandono e decadência.

área analisada


SIMILARES

Buscando compreender e investigar melhor a arquitetura habitacional de interesse social, esse ensaio se tratará da análise de duas produções paulistas, o conjunto Jardim Edite e o parque Novo Santo Amaro V. Considerando, esse novo modelo de produção como uma referência arquitetônica de habitação de interesse social, cabe comparar com o conjunto residencial Pedregulho no Rio de Janeiro, um dos projetos mais paradigmáticos de HIS do país e que representa o modo moderno de morar. O que vamos observar nas análises, nas próximas páginas, é que apesar de todos os objetos de estudo considerar a habitação mínima, os modelos atuais se mostram diferentes em relação as áreas internas do Pedregulho. Nos estudos paulistas, a área média é de 50 m² e no Pedregulho há unidades que chegam a 100m². Quanto a flexibilidade dos tipos de plantas, o pedregulho possui unidades entre 1 a 4 quartos de áreas diferentes, enquanto os estudos apresentados têm apenas de 2 a 3 quartos. Considerando diversidade da constituição familiar contemporânea, o conjunto pedregulho atende melhor esse

quesito. A relação do projeto executivo nos dois recortes temporais, 1947 ano do Pedregulho e os dias atuais, é notável, uma vez que o pedregulho foi pensado nos mínimos detalhes a fim de aproveitar o espaço da melhor forma possível. Diferente disso, as habitações hoje são entregues apenas com equipamentos hidráulicos, proporcionando uma maior possibilidade de apropriação. A circulação linear com permeabilidade externa e a otimização delas são pontos comuns entre os estudos de caso e o pedregulho. A ideia de vizinhança com edifícios de serviços coletivos foi repetida no Jardim Edite. Logo, nos estudos de similares a seguir, será possível observar que houve mudanças no modo de projetar a HIS, que continua sendo um objeto de estudo contemporâneo e produtivo no contexto brasileiro. Pois cabe aos arquitetos e urbanistas, por meio de políticas habitacionais inovadoras, a responsabilidade dos discursos transformadores fazerem parte ativa de seus projetos.


HABITAR O CENTRO O Projeto

[foto autor Nabil Bonduki] edição pela autora

[foto autor Nelson Kon] edição pela autora

[foto autor Leonardo Finotti] edição pela autora

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PEDREGULHO

[plantas via Nabil Bonduki]


HABITAR O CENTRO O Projeto

[foto autor Nabil Bonduki] edição pela autora

[foto autor EAD/PUCV] edição pela autora

[foto autor Pedro Vannucchi] edição pela autora

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O conjunto residencial Prefeito Mendes de Moraes, de Affonso Reidy e Carmen Portinho, mais conhecido como Pedregulho, foi implantado no Bairro de São Cristóvão no Rio de Janeiro. O terreno era pertencente ao departamento de Águas e Esgotos, o que facilitou a disponibilização do terreno e ainda proporcionava proximidade com o local de trabalho do público alvo, funcionários públicos do município de baixa renda. A implantação reconhecia e enfatizava o terreno, em uma relação harmoniosa com a natureza. O complexo habitacional se destacou por sua concepção, baseada no pensamento moderno com equipamentos comunitários, a valorização do espaço público, racionalização e a proposta de um novo modo de morar. Ele foi edificado, em termos estruturais e de materialidade, em concreto. O projeto admitia 4 blocos residenciais, mas apenas 3 foram implantados, e o conjunto contava com lavanderia coletiva, escola, mercado, posto de saúde, clube e áreas de recreação, caracterizando seu ideal de vizinhança. O bloco A, o maior bloco habitacional, também chamado de Minhocão pelos moradores, é a referência do conjunto e é o que marca a paisagem acompanhando a topografia acidentada. O pavimento de acesso conta com o uso de pilotis. A ideia do papel social arquitetônico, pode ser visto na planta livre, que considera o usuário como objeto principal e parte do projeto, dando o uso que melhor lhe convém. Reconhecendo que a utopia deste morar foi realizada, ainda que parcialmente, é uma proposta muito dependente do Estado, que necessita de intervenções.


CONJUNTO HABITACIONAL JARDIM EDITE

O conjunto, financiado pela prefeitura municipal de São Paulo, é implantado em uma área mista e rica da cidade, onde, anteriormente, existia uma favela. Com a construção da ponte estaiada, um novo marco na cidade de São Paulo, o projeto residencial foi pensado para ser parte integrante do panorama urbano. Foi o primeiro prédio com a experiência da verticalidade e com elevadores dos novos programas, e por essa razão, passou por uma intensa discussão com assistentes sociais que eram contra edifícios em altura para habitação de interesse social. O projeto foi resultado de uma parceria dos [esquema autor MMBB e H+F]

escritórios MMBB e H+F, reconhecidos por projetos institucionais, requalificações urbanas e residências de classe média alta. Nesse caso é interessante notar que Hereñú e Ferroni (H+F) foram pupilos de Fernando Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga (MMBB), que por sua vez foram pupilos de Paulo Mendes da Rocha e de acordo com a teoria de Collins (apud STEVENS, 2003), essa relação de mestre-pupilo coloca um peso no capital cultural que é passada para a obra. O programa de necessidades do conjunto começou com a demanda dos equipamentos, a unidade básica de saúde e creche, e posteriormente, o


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restaurante escola veio como um pedido da comunidade. Os pátios entre os equipamentos públicos proporcionam uma boa climatização e criam áreas de uso comum, pensadas como espaços de permanência e convivência. Na parte residencial têm 252 unidades habitacionais distribuídos entre duas lâminas de 4 andares e 3 torres de 15 andares. O edifício lâmina tem um único tipo de planta, já o edifício torre tem dois tipos, sendo todas as plantas com uma área média de 50 m², com 2 dormitórios, sala, cozinha e área de serviço. Em todos os tipos de planta os espaços internos são bem reduzidos e a circulação foi pensada para ocupar o mínimo de área possível. Já nas entradas dos apartamentos, o corredor de acesso é pensado como lugar de encontro onde os moradores podem usar como área coletiva

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(FRAJNDLICH,2013). O sistema construtivo partiu da ideia de resistência e uma manutenção fácil, portanto, foi usado concreto moldado em loco e fechamentos em alvenaria revestida. As aberturas da edificação nunca ficam voltadas para pátios fechados ou prédios vizinhos, proporcionando uma boa relação com a cidade e possibilidade de ventilação cruzada e insolação. O edifício é marcado pelas aberturas gráficas e sem recursos caros. Semelhante ao projeto do CECAP de Artigas, na década de 60, as saliências de 50cm nas fachadas laterais das torres, criam armários que não ocupam o espaço útil interno do apartamento e que sustentam os caixilhos das janelas. A presença de faixas e a circulação gradeada disciplina as fachadas sem esconder a vida dos moradores.

[foto autor Nelson Kon] edição pela autora

[plantas autor MMBB e H+F]


PARQUE NOVO SANTO AMARO V

[plantas de Vigliecca & Associados]


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[fotos autor Leonardo Finotti] edição pela autora

Antes do projeto o local era uma ocupação irregular ao longo de um córrego, que teve sua vegetação desmatada e que recebia esgoto das casas e águas pluviais. Portanto, a ideia principal das intervenções era recuperar as margens do curso d’agua, criando um eixo ventral, com vegetação e pontos de interesse, encontro e lazer em seu percurso. E além dessa questão ambiental, realocar as famílias que viviam no fundo do vale para os oito blocos residenciais. Dentre os estudos de caso, esse projeto é o que mais possui variações de plantas, divididos em três conjuntos de habitação, com intuito de se adequarem melhor a insolação, declividades, vistas, configuração e qualificação das áreas públicas. O primeiro conjunto tem quatro blocos, com 92 unidades variando em quatro tipos diferentes; já o conjunto dois, possui três blocos com 84 unidades e cinco tipos de plantas diferentes e o conjunto três, o menor deles, tem um bloco de 24 unidades e duas configurações de plantas. Portanto, há 11 tipos diferentes de unidades, eles variam de 52,5 a 76,5m², formadas por

sala, cozinha, área de serviço, banheiro e dois ou três quartos. As áreas internas projetadas pelos arquitetos, Héctor Vigliecca e seus Associados, possuem como característica a diminuição de corredores de circulação e o aumento da área de serviço. A diminuição das circulações potencializa o interior das unidades e as amplas áreas de serviços ajudam na secagem das roupas e não desfigura as fachadas externas, um fator que gera degradação ambiental e exclusão quando comparadas a cidade formal (VIGLIECCA, 2012). Em função dos diferentes tipos de plantas, os andares não se repetem, criando um ritmo e volume com cheios e vazios. O peso do edifício é quebrado pelas transparências dos elementos vazados das áreas de serviço e das circulações. Seguindo a topografia do terreno os blocos de concreto foram implantados, resultando em alturas variadas. Todo o complexo tem uma cor neutra, mas com janelas diversificadas com diferentes larguras e alturas e até elementos vazados no concreto. As escadas e passarelas metálicas possuem destaque no complexo, tanto as fixadas quanto as soltas entre os blocos.


“Grandes concentrações de pessoas são uma das condições necessárias para o florescimento da diversidade urbana. E isso quer dizer que nos distritos onde as pessoas moram, deve haver alta Concentração de moradias no solo a elas destinado. Os outros fatores que influenciam a quantidade de diversidade gerada e os locais onde ela é gerada não terão muito que influenciar se não houver pessoas em número suficiente” Jane Jacobs


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DIRETRIZES


HABITAR O CENTRO O Projeto

A recuperação da vitalidade do Setor Central tem inúmeras justificativas como a necessidade do aproveitamento da infraestrutura e oferta de serviços presentes, além da sua valorização para que exerça com eficácia seu papel sociocultural. Portanto, aproveitar da importância histórica, da infraestrutura e dos vazios urbanos, são pontos fundamentais e que nortearam as diretrizes do projeto:

[ADENSAMENTO]

Como defende Jane Jacobs há necessidade de adensamento para que a cidade floresça. Assim, o projeto busca usar das várias potencialidades encontradas no Centro para ser aliada na construção de uma habitação de referência arquitetônica e que faça suprir as necessidades dos moradores. A ideia é fazer com que as pessoas tenham outro olhar para o Centro, ou seja, um Centro com potencial também para morar e lazer, que seja símbolo da importância dele na cidade de Goiânia. A inserção de habitações junto com a qualificação dos espaços públicos é primordial, pois a ideia é que o espaço requalificado não seja apenas percursos ou áreas de lazer, mas que seja também uma extensão do lar. As atividades diversas no nível da rua mantêm ela viva e a concentração habitacional potencializa o fluxo de pessoas durante todas as horas do dia. E dentro dessa lógica de adensamento, que criaria usuários para a região abandonada, incluindo o Jóquei, o trabalho propõe tipologias habitacionais diversas, para atender diferentes famílias, desde a família tradicional até pessoas vivendo sozinhas.

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[QUESTÃO AMBIENTAL]

No tema de conforto ambiental é imprescindível considerar que, na cidade de Goiânia, as temperaturas são altas durante praticamente todo o ano gerando uma necessidade de cobertura vegetal para amenizar o desconforto térmico em dias quentes. A cidade também sofre com a umidade baixa, uma questão que pode ser resolvida com a revitalização e recuperação do Córrego Buritis. Para incentivar o caminhar e uso dos espaços públicos, além do conforto ambiental, é necessário que pedestres e ciclistas tenham prioridades sobre veículos. Outro fator seria encorajar o uso do transporte público, o que também impacta na poluição do meio ambiente. Outra forma de incentivar o pedestre seria fornecer trajetos alternativos ao usuário através das edificações, que não precisam ser interrupções do espaço urbano.

[DIVERSIDADE DE USOS]

Além do uso habitacional, é necessária uma diversidade de usos, estabelecimentos comerciais diferentes e fortalecimento do comércio de bairro já existente torna o nível da rua mais dinâmico, de forma a evitar a gentrificação. Áreas verdes e áreas esportivas, que complementem o Jóquei e seu entorno, agregam valor e atraem usuários. Portanto, com o objetivo de alcançar pleno uso das praças, parques e espaços de encontro em geral, entende-se que os espaços públicos devam incitar a diversidade de atividades, com propostas que indiquem programas diferentes, mas que se complementem enquanto promoção de atividades distintas.


PARTIDO

O partido começou com a ideia de uma edificação com o térreo em pilotis, possibilitando aos pedestres um caminhar mais livre e potencializando a permeabilidade visual. Nesse térreo serão estudados a inserção de usos diversos, como comércios e espaços esportivos que complementem o jóquei, fazendo com que a quadra seja habitada e frequentada por todos e não só pelos moradores da habitação. Na quadra do Jóquei não será feito nenhum subsolo e será feita a revitalização do córrego, retomando o projeto inicial do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que respeitava a existência do curso d’água e de suas matas ciliares. Utilizando de uma malha estrutural de 8x8m e considerando 3 tipologias diferentes, a área será adensada por 4 blocos residenciais. Os blocos terão ligações, fornecendo trajetos alternativos ao pedestre, e terão áreas coletivas, como creche e horta comunitária, que pode fortalecer a ideia de vizinhança entre os moradores

do conjunto. Dentro dessa ideia foi feito um estudo de volumetria, que resultou em uma edificação linear, com janelas características, que foram pensadas de acordo com a insolação, visando o conforto térmico. A partir disso foi feito propostas de layout, que sofrem pequenas alterações em cada tipologia em função da abertura da janela. Esses estudos resultaram em uma edificação que pode ser variada e adaptada para um dos terrenos escolhidos em uma espécie de quebra cabeça. Para encaixar as peças, duas tipologias juntas formam um quadrado da malha 8x8m, portanto, temos: duas quitinetes formam uma peça; dois apartamentos de 2 quartos mais a circulação vertical, podendo ser escada ou elevador, formam outra peça; e por último, a peça que fecha a edificação linear é um apartamento de 2 quartos e um de 3 quartos.


HABITAR O CENTRO O Projeto

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De acordo com o censo do IBGE de 2010, as conformações familiares em Goiânia são:

FAMÍLIA NUCLEAR OU TRADICIONAL [45,05%]

É formado por um núcleo conjugal e filhos, mas é uma formação cada vez menos predominante por causa da diminuição da fecundidade, e consequentemente, menos filhos e pela independência desses, que vem cada vez mais cedo.

QUITINETE

uniões livres pessoas vivendo só

FAMÍLIA MONOPARENTAL [19,09%]

É formado por mãe ou pai solteiros com filhos. É uma família liderada na maioria das vezes pela mulher, devido à viuvez, mais frequente entre as mulheres, ou a mãe que fica com a guarda dos filhos após separação.

UNIÕES LIVRES [15,83%]

É formada por casais sem vínculos legais e sem filhos. É, normalmente, a primeira opção de vida conjugal para maioria dos jovens, que vem aumentando com a liberdade sexual e aumento do respeito pelas uniões homossexuais.

PESSOAS VIVENDO SÓ [13,90%]

É formado por solteiros por opção, podendo ser por viuvez, predominante entre mulheres, por pessoas separadas ou divorciadas, predominância de homens ou estudantes universitários.

COABITAÇÃO SEM VÍNCULOS [6,13%]

É formada por jovens trabalhadores sem vínculo conjugal ou de parentesco e as relações internas são baseadas na transitoriedade da habitação. Por isso, considerando as diferentes conformações familiares da atualidade, foi definido um programa de diferentes tipologias de unidades habitacionais de forma que temos apartamentos de 1 quarto (Quitinete), 2 quartos e 3 quartos.

até 2 pessoas 28m²


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ESTUDOS DE LAYOUT 2 QUARTOS

3 QUARTOS

até 4 pessoas 47m²

até 6 pessoas 65m²

família nuclear família monoparental coabitação sem vinculo

família nuclear coabitação sem vinculo


2 quartos + 3 quartos

quitinete + quitinete

2 quartos + 2 quartos + circulação

exemplo de combinação no pavimento


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detalhe da volumetria


REFERÊNCIAS ABIKO, A. K. Gestão habitacional e mutirão. In: ABIKO, A. ALBIERI, L. Mutirão habitacional. São Paulo: Epusp, 1996. ARTIGAS, Rosa (org). Paulo Mendes da Rocha. São Paulo: Cosac Naify, 2006. BONDUKI, Nabil. Os pioneiros da habitação social: Cem anos de políticas públicas no brasil. São Paulo: Unesp, 2014. BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2013. BOSI, Ecléia. Memória e Sociedade: Lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. Tradução de Ana M. Goldberger. São Paulo: Perspectiva, 2005. GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. GONÇALVES, Alexandre Ribeiro. Goiânia: uma modernidade possível. Brasília: Ministério da Integração Regional/ Goiânia: UFG, 2002. HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. JACOBS, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades.

São Paulo: Martins Fontes, 2000. JORGE, Luís Antônio. O Espaço do Seco. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1999. LIMA FILHO, Manuel Ferreira; MACHADO, Laís Aparecida. Formas e tempos da cidade. Goiânia: Editora UCG, 2007. MANSO, Celina Fernandes Almeida (org.). Goiânia art dèco: acervo arquitetônico e urbanístico - dossiê de tombamento (v. 1, 2 e 3). Goiânia: SEPLAM, 2004. MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A História, Cativa da Memória?. Para um mapeamento da memória no campo das Ciências Sociais. São Paulo: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 1992. STEVENS, Garry. O círculo privilegiado: fundamentos sociais da distinção arquitetônica. Tradução de Lenise Garcia Corrêa Barbosa. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. VAZ, Maria Diva Araújo Coelho. Transformação no Centro de Goiânia: Renovação ou reestruturação?. Dissertação apresentada à universidade Federal de Goiás – UFG, 2002.


HABITAR O CENTRO Referências

SITES | ARTIGOS DE JORNAL:

BANDEIRA, Marcos. Com uma dívida de mais de 5 milhões de reais, a administração do Jóquei Clube de Goiás se desdobra para reerguer o clube. O Popular, Goiânia, 2003. PALAZZO, Pedro. Frota de veículos cresce 4 vezes mais que a população. O Popular, Goiânia, 2013. FRAJNDLICH, Rafael Urano. MMBB e H+F projetam conjunto habitacional, creche, restaurante-escola e centro de saúde. AU, São Paulo, n. 231, Junho 2013. Disponível em: <http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/231/jardim-edite-mmbb-e-h-f-sao-paulo-sp-2008-290422-1.aspx>. Acessado em: abril de 2019. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. CENTRO DE ESTATÍSCA E INFORMAÇÃO. Déficit habitacional municipal no Brasil. Belo Horizonte, 2013. Disponível em: < http://www.fjp.mg.gov.br >. Acessado em: maio de 2019. SOLÀ-MORALES, Ignasi. Terrain Vague (Territórios, Gustavo Gili, 2002) / Tradução: Igor Fracalossi. ArchDaily Brasil. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/35561/terrain-vague-ignasi-de-sola-morales> . Acessado em: maio 2019. VALENTE, Gabriela. Arquitetos Mendes da Rocha e Souto de Moura não poupam o mercado e as leis que engessam projetos. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/imoveis/arquitetos-mendes-da-rocha-souto-de-moura-nao-poupam-mercado-as-leis-que-engessam-projetos-14701342>. Acessado em: junho 2019.

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“O lar deve ser o tesouro da vida. � Le Corbusier




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