A performace “Varal”, de Lourival Cuquinha, provoca o público ao expor no meio da cidade um artefato íntimo que geralmente é escondido no quintal da casa. O varal choca por não ser visto como nobre o suficiente para ser exposto. Apesar de conter roupas que são utilizadas no dia a dia, elas estão ainda molhadas e impróprias para o uso. Imaginando que a pessoa que lava essas roupas e a que as utiliza sejam distintas, como seria possível adivinhar quais as vestimentas necessárias para o dia? A primeira opção seria lavar diversos estilos de roupagem tentando imaginar a ocasião. Contudo essa escolha acarretaria em mais gastos com material e tempo. Uma opção alternativa seria o trabalho conjunto dessas duas pessoas. Cada uma contribuindo com o seu conhecimento específico, seja da técnica de lavagem ou do uso da roupa no dia a dia. Assim seria nesessário apenas uma combinação de roupas. Trazendo essa analogia para a forma de projetar na cidade contemporânea, o arquiteto seria a lavadeira e o público, o usuário. Infelizmente, na cidade do Recife é comum ver intervenções em forma de roupas muitas vezes largas ou extravagantes demais para o contexto. Ou em forma de roupas amarrotadas e manchadas. Isso se dá pela falta de diálogo entre esses dois agentes que vestem a cidade. Então por que não expor o processo de projetar ao público antes que o mesmo seque? Assim como o usuário e a lavadeira fariam ao escolher as roupas. É necessário que tanto os arquitetos quanto o público permitam a entrada no quintal e pendurem em seus varais os diálogos que irão se transformar nas roupas da cidade.
Varal - Lourival Cuquinha Recife, Novembro de 2003
#VARALDOPINA - Primeira reunião Fotografia por Hérico Almeida
rESUMO _________________________ Este estudo trata da elaboração da proposta de um projeto de costura urbana para o entorno imediato da
This study elaborates a proposal for an urban sewing
Paróquia do Pina utilizando-se do método de design
(requalification) project for the immediate surroundings
colaborativo.
of Pina Parish using the collaborative design method.
Dentro do contexto dessa nova era digital de
Within the context of this new digital era with
crownfunding, mídias sociais e aplicativos como o
crownfunding, social media and applications such as
colab, as pessoas tendem por querer cada vez mais
colab, people tend to desire to participate in the changes
participar das modificações em sua cidade e a expressar
in their city and to express their opinion more often.
sua opinião com maior frequência. However, in most of the projects the popular voice is No entanto, em boa parte dos projetos, a voz popular
not even consulted. What results in urban conflicts
nem sequer é consultada. O que resulta em conflitos
as in the Novo Recife, or worse scenarios generating
urbanos como no caso do Novo Recife ou, no pior dos
harmful masses to the city, such as the viaducts of
cenários, em massas nocivas para a cidade, como é o
Caxangá Avenue.
caso dos viadutos da Avenida Caxangá. So the challenge here is to find the right proportion Então, o desafio aqui proposto é encontrar a proporção
between what the user wants, the spatial quality and
certa entre os desejos do usuário, a qualidade espacial
legal possibilities. Always emphasizing the importance
e as possibilidades legais. Sempre ressaltando a
of dialogue in the physical and social construction of
importância do diálogo na construção física e social da
the city.
cidade.
_________________________
ABSTRACT
AGRADECIMENTOS
____________________________________________
aos que
experimentam
À Paróquia do Pina e à todos os participantes dos encontros pela paciência e disponibilidade sem esperar nada em troca. Ao meu Orientador, Luciano Medina, por dividir comigo seus conhecimentos. Aos meus amigos da faculdade pela companhia durante esses 6 anos. Aos meus amigos que ajudaram na execução do trabalho, Luísa, Hérico, Rayane, Andrea, Mariana, Amanda, Renata e Rebeca, pelas sugestões, pelas maravilhosas fotos e por toda generosidade. Às maravilhosas pessoas que encontrei no intercâmbio por estarem presentes num ano de tanta evolução. Ao meu avô José Calazans (in memoriam) pelo grande exemplo de pessoa que foi. À minha Mãe e ao meu Irmão pela vida.
Neste trabalho entende-se por:
SUMÁRIO _________________________ Introdução 14 Objeto de Estudo 16
1
A Colaboração 20 a. Enquadramento do problema b. Visibilidade c. Experiências
2 3 O Processo 39
A Proposta 59
a. Metodologia b. Varais
a. Questões Legais b. Projeto
Conclusão 84 Referências Bibliografia 86
14
introdução ______________________________________________________ Com a conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo
nos projetos acadêmicos, em que o usuário é fruto de
vem a finalização de uma fase de descobertas dos
uma imaginação romantizada.
princípios básicos dessa tão complexa disciplina.
Sair da universidade e tornar-se um arquiteto
elaboração deste trabalho: a necessidade dos designers1
é a princípio iniciar uma série de experimentações que
abrirem seus olhos, mentes e projetos para o público
colocam em prática os conceitos do mundo abstrato no
em favor do crescimento profissional e da produção de
mundo concreto. Sempre com o objetivo de entregar
um design mais responsivo ao usuário.
um espaço que proporcione benefícios para a vida das pessoas.
No entanto, como é
possível projetar e construir esse espaço feito para as pessoas se não as ouvimos? Como iniciar essa fase de produção se o usuário é
“dEVERIA O DESIGNER AGIR COMO UMA AUTORIDADE E TRATAR OS USUÁRIOS COMO OBJETOS DE ESTUDO PARA ANÁLISES OU PODERIA EXISTIR UM PROCESSO DE DESIGN COLABORATIVO QUE PODERIA GUIAR A PRODUÇÃO DO PROJETO?”
apenas uma figura abstrata e
LEE, YANKI (2006) tRADUÇÃO LIVRE
distante?
Foi dessa inquietação que surgiu a ideia da
Quando discutimos um contexto urbano
no qual a figura do usuário é presente e atuante é
uma
Este
trabalho
contribuição
provém
tanto
na
experimentação projetual quanto no teste de uma metodologia de design participativo.
Tendo
consciência
dos limites temporais e financeiros de um trabalho de graduação, foi feita a escolha por uma proposta arquitetônica abstrata, ou seja, tem sua existência no espaço mental2. No entanto, o usuário aqui é real e traz o
seu conhecimento para o projeto na discussão sobre um novo edifício a ser inserido no seu ambiente cotidiano.
absurdo tratá-la como uma abstração. Infelizmente, é isso que acontece em boa parte dos projetos. Seja nos projetos públicos, em que a economia dita as regras, seja nos projetos particulares, em que o superestimado refinamento estético do arquiteto prevalece, ou ainda 1
Estudantes e profissionais envolvidos com o processo criativo.
2
Conferir teoria de Lefbvre na página 26
15
RioMar
objeto de estudo ______________________________________________________
Pessoas usando o pátio da Igreja ao longo do dia Fotografia por Ana Ísis Moura
Escolha do objeto de estudo
Para a realização deste trabalho, a escolha
fundada em 1932, se deu primeiramente pela
de um objeto de estudo relevante foi crucial, pois era
familiaridade da autora com o bairro devido a trabalhos
necessário que o local possuísse uma grande influência
anteriores realizados na área. E, depois, pela grande
no entorno e fosse bastante acessível à comunidade.
receptividade dos responsáveis pela Paróquia ao
Assim a tarefa de agregar usuários para a discussão do
estudo.
A escolha específica da Paróquia do Pina,
projeto poderia ocorrer de forma mais espontânea.
Como no Recife as Igrejas ainda são um grande
paróquia do pina
marco referencial para as pessoas e são conhecidas
pelas atividades com as comunidades, a escolha de uma
conhecida como Igrejinha rosa, é responsável pelo
Paróquia3 se enquadraria nesses pré-requisitos. No
Bairro do Pina, tendo quatro pastorais espalhadas
entanto, não poderia ser uma igreja muito antiga já
pelo bairro que atendem a pessoas de diferentes faixa
que o prazo de entrega deste trabalho não permitiria
etária e renda. Devido ao seu prestígio, a abrangência
discussões muito profundas sobre patrimônio histórico.
de seu público se estende aos bairros de Boa Viagem e
A Paróquia Nossa Senhora do Rosário, mais
Cabanga. Igreja matriz, responsável por uma determinada área da cidade.
3
17
O espaço da Paróquia é composto pela
Igreja(1), um pátio externo(2), um pátio interno(3) e o salão paroquial(4), todos são altamente utilizados, segundo o Frei William, responsável pela paróquia.
Além das atividades litúrgicas, são realizados
trabalhos com a comunidade, como curso de teatro para jovens e grupos de discussão. A Igreja se mostra bastante aberta à comunidade. ONGs, escolas e o próprio Estado buscam a Paróquia para abrigar eventos no pátio ou no salão paroquial, tais como feiras de ciência e campanhas de saúde pública. Mesmo quem não é católico, ou não frequenta a paróquia, a reconhece como um ponto de referência na área.
Compreendendo essa diversidade, o público
alvo desta pesquisa não se resume aos católicos frequentadores, mas abrange qualquer usuário desse espaço. Fachada principal da Paróquia do Pina Fotografia por Ana Ísis Moura
o pina O bairro do Pina sofreu diversas modificações no decorrer dos anos como pode ser visto nas imagens ao lado. O Pina era formado por um conjunto de ilhas Diagrama a partir de imagem do google earth Produzido pela autora
no qual a população tirava a subexistência do transporte fluvial de mercadorias. Com o aumento populacional e a criação de vias de grande fluxo, o bairro passou de um caráter pacato para um hub empresarial.
Atualmente, o bairro abriga uma série de
empreendimentos de grande impacto na região. Entre
18
Paróquia do Pina e entorno (1936)
Paróquia do Pina e entorno (2009)
Acervo da Paróquia do Pina
Acervo da Paróquia do Pina
eles grandes empresariais e o shopping RioMar que
comunidade. Essa possíbilidade pode vir a preencher
resguardam o convívio social dentro do espaço privado.
uma lacuna que é a falta de verba do Estado para tal
Isso acarreta no aumento da desigualdade entre esses
iniciativa e de fato melhorar a qualidade de vida dessas
novos usuários e a antiga comunidade.
pessoas.
Entretanto,
alguns
desses
grandes
empreendimentos tentam compensar esse grande impacto por meio de ações sociais4, o que proporciona a oportunidade de financiamento de projetos para a 4
Ver exemplos em www.ijcpm.com.br
19
20
1
A colaboração
21
enquadramento do problema
Para a realização de um projeto utilizando o
método de design participativo, foi necessária a busca por outras experiências e estudos dos conceitos em torno desse processo.
Entre os estudos teóricos analizados vale
ressaltar dois tópicos que serviram como base para este trabalho. São eles a tese de Yanki Lee e os estudos de Jeremy Till que refletem sobre o tema da participação e a teoria de Lefvbre sobre a produção do espaço.
22
participação ______________________________________________________ yanki lee e a taxonomia Yanki Lee, pesquisadora especialista na
entendimento dos não especialistas técnicos, logo, fora
área de design social, desenvolveu seu Ph.D na
do mundo das pessoas. Neste segundo mundo, também
Hong Kong Polytechnic University sobre o tema
chamado de mundo concreto, é onde as experiências
de Design Participativo. Seu projeto intitulado de
surgem. No caso arquitetônico, essas experiências
“Design Participation Tactics: enabling people to
são espaciais e baseadas no tempo e intensidade da
design their built environment” (Técnicas de Design
vivência.
participativo: capacitando pessoas para projetar seu
ambiente construído) disserta sobre os diferentes
e acontece a junção desses conhecimentos, cria-se a
níveis de participação em projetos e sobre as funções
região da colaboração. Dentro dela existem várias
de designers e usuários nesse tipo de processo.
subdivisões que definem o tipo de participação baseadas
em questões de poder, autoria, iniciativa e saber.
Para isso, Lee descreve dois mundos que
Quando esses dois mundos se interceptam
se interceptam: o mundo do especialista e o mundo
Para chegar a tais grupos e seus domínios,
das pessoas. No mundo do especialista, chamado
Lee investiga diversos projetos que envolveram a
também de mundo abstrato, está toda a linguagem
participação em algum nível e cria de forma bastante
técnica. Por exemplo, estão nesse mundo os desenhos
didática uma taxonomia que guiou a classificação das
arquitetônicos indispensáveis para a construção de um
experiências aqui discutidas.
prédio. Entretanto, esses estão fora da realidade de
Mundo abstrato e mundo concreto Lee, Yanki p.67
23
Taxonomia do design participativo Lee, Yanki p.142
Na imagem acima, pode-se observar a tabela
Obtendo a definição conceitual desse projeto, a
de Lee. Da esquerda para a direita, a primeira coluna
questão agora é trabalhar quais ferramentas poderiam
é referente à autonomia e à iniciativa. No caso da linha
se enquadrar melhor para as dinâmicas no encontro
verde, a iniciativa parte do designer e, no caso da linha
entre o designer e os usuários. Já que, assim como
vermelha, a iniciativa parte do usuário. As próximas
Lee fala em seu texto, são elas as responsáveis pela
colunas estão relacionadas ao tipo de abordagem e à
transmissão das ideias do mundo abstrato em conteúdo
ideologia dos projetos. Com essa classificação, a tarefa
acessível para um debate. Elas podem variar de um
de buscar exemplos e definir caminhos se torna mais
simples desenho a um protótipo dependendo da escala
simples.
do produto.
Este trabalho de graduação, por exemplo,
Essas ferramentas não possuem um padrão
surgiu de uma inquietação do designer (a autora)
específico de apresentação, porque, assim como o
e tem como principal objetivo trabalhar no campo
projeto, devem ser reinventadas a cada nova situação.
da interseção de conhecimentos técnico e popular,
O papel do designer aumenta com o design participativo,
logo, está localizado em algum campo da linha verde,
visto que é necessário projetar não só o produto final,
colaboração.
mas também todo o processo.
24
Jeremy Till e o papel do arquiteto Arquiteto e atualmente Vice-Chanceler da
e perpetuar a mitologia de um estado perfeito” (TILL,
University of the Arts London, Jeremy Till trabalha
2005). O que de fato não resolve os problemas gerados
junto com a sua esposa, Sarah Wigglesworth, em cima
por uma arquitetura não humanizada.
da reflexão a respeito do usuário e da arquitetura. A
principal crítica em suas publicações é sobre a forma
esse produto é fotografado: Sem pessoas, limpo e
de produção do espaço pelo arquiteto, que na maioria
extremamente organizado. Com uma perpendicularidade
das vezes se detém ao conhecimento técnico e coloca em
e paralelismo de linhas anti-humana.
escanteio o conhecimento do público.
Em seus textos, defende a imersão do arquiteto no
brasiliense Joana França, provam em algumas de suas
universo real. Nesse processo de participação, no qual
fotografias como a apropriação da figura humana pode
existe o contato com o usuário, identifica que uma das
enriquecer o conteúdo da imagem. Essa mudança na
maiores barreiras é a linguagem utilizada no processo
forma de fotografar pode representar uma mudança na
comunicativo. Por, geralmente ser dominada pelos
forma de ver a arquitetura e, esperançosamente, uma
especialistas, o processo não ocorre com acessibilidade,
mudança na sua produção.
igualdade ou eficiência. Segundo
Till,
isso
Tal fato está explicito na forma como
No entanto, alguns fotógrafos, como a arquiteta
é
decorrente da insegurança do arquiteto em expor-se às incertezas que acaba se prendendo nas verdades geradas dentro de um campo abstrato. Com isso,
Times Square Fotografia por Joana França
acaba-se criando uma limpeza exagerada na arquitetura construída e a valorização desses espaços antes das interferências geradas no decorrer do tempo.
Diz que depois que o prédio foi “sujo”
(pelos usuários, tempo, mudança e sujeira em si) a solução encontrada na arquitetura é a produção de textos que tentam “ressuscitar
25
espaço ______________________________________________________ lefbvre e a produção do espaço
A matéria essencial da arquitetura e urbanismo é
Quando um desenho técnico é produzido, o objetivo
o espaço. Por consequência é necessário tomar ciência de
é um espaço concreto que gera oportunidades de vivência
sua complexidade em prol da elaboração de artefatos mais
social. A questão é: essas oportunidades favorecem uma
coerentes. O filósofo Henri Lefbvre trata dessa complexidade
vivência saudável? Elas são estudadas ou são apenas um
e disseca em sua teoria o espaço em três esferas: físico,
produto, muitas vezes do acaso, nesse processo?
mental e social.
Grosso modo, o espaço físico é aquele concreto que
da participação da comunidade na concepção da proposta.
pode ser sentido todos os dias. É feito de materiais reais,
Conferindo validade ao espaço social muitas vezes desprezado
como concreto e aço, sendo o produto palpável da arquitetura.
na produção da cidade.
O mental está inserido dentro daquele mundo descrito por Yanki Lee como abstrato. É do domínio do especialista técnico e tem como produto representações do espaço físico. E, por fim, o espaço social é aquele de representação de uma determinada sociedade.
Segundo
Lefbvre,
esses três espaços não devem se
confundir.
também
são
Mesmo
neste
No
entanto
indissociáveis. trabalho
de
graduação, no qual o produto vem a ser um espaço mental, é incoerente desintegrá-lo dos outros.
26
É nesse pensamento que se justifica a importância
27
VISIBILIDADE
Serão analisadas, neste capítulo, as atividades
da incorporadora Wikihaus e do laboratório de pesquisa da UFMG - MOM (Morar de Outras Maneiras) que aplicam os conceitos aqui discutidos à sociedade brasileira, tanto no mercado imobiliário quanto no ramo acadêmico.
Tais atividades dão visibilidade ao tema e
colocam em questão a importância de um método que atende à urgência das pessoas em participar das decisões a respeito dos ambientes em que vivem.
28
WIKIHAUS _________________________________________________________ A
Wikihaus
pelos
ao
fundada
engenheiros
Pricladnitzki Dode
foi
de
e
Enio
Alexandre
Almeida,
administrador
junto
Eduardo
Pricladnitzki em 2013. É uma incorporadora que atua no mercado imobiliário de Porto Alegre e tem como proposta inserir a metodologia de economia colaborativa no
Workshop de co-criação Wikihaus
ramo da construção civil.5
Os sócios, que já tinham uma experiência de
A empresa enxerga a colaboração como uma
trinta anos no mercado imobiliário, perceberam que
alternativa para modelar as cidades e acredita que
a oferta atual de imóveis não é condizente, em sua
as pessoas têm o direito de participar da criação da
maioria, com as demandas reais dos clientes e que
paisagem urbana.
existe uma distância muito grande entre quem produz
e quem consome esse produto. Atrelando isso a essa
reunir especialistas de mercado e potenciais moradores
nova geração de consumidores6 que querem vivenciar a
em busca de um produto mais responsivo ao usuário.
cidade de outra maneira, o conceito da empresa baseia-
Esse produto nasce por meio da aproximação do
se no pensamento de que é necessário mudar a forma
cliente aos criadores e ao processo, não limitando a
de produção do mercado imobiliário e trazer as pessoas
empresa ao conhecimento dos funcionários e sócios da
para mais perto do processo de desenvolvimento do
incorporadora. A ideia é reunir pessoas com pontos de
projeto. É um modelo de negócio que se apresenta mais
vistas diferentes para gerar debates.
Por meio de workshops de cocriação consegue
maleável ao público. 5
Até a finalização deste volume, a empresa encontrava-se em fase inicial e possuía apenas empreendimentos em construção..
6
Consumidores influenciados pelas novas tecnologias e plataformas de comunicação.
29
Por meio dessas reuniões com os diferentes
estratégia de marketing. No entanto, é importante
agentes da cidade, surpreendentemente para os sócios,
reconhecer que mesmo que o design participativo surja
a produtividade no processo de criação foi acelerada
aqui como artifício midiático, essa metodologia tem
Esses projetos surgem, então, das necessidades das
ganhado espaço de discussão na sociedade brasileira
pessoas e da maneira de viver atual. Além disso, o
e as pessoas tendem a querer participar de decisões a
processo promove a criação de uma intimidade com o
respeito do produto que irão consumir.
lugar e um possível convívio com a vizinhança.
A incorporadora ainda não possui nenhuma
obra finalizada, logo, não é possível avaliar se tal método contribuiu para a prática ou se foi apenas uma
Workshop de co-criação Wikihaus
30
MOM - MORAR DE OUTRAS MANEIRAS _________________________________________________________ MOM - Mora de Outras Maneiras - é um grupo de pesquisa da UFMG que discute especialmente o papel do arquiteto e o processo de projetar. Criticam as práticas tradicionais de arquitetura que colocam o arquiteto em um patamar elevado e vendem o seu produto como um artigo de luxo.
O arquiteto possui uma responsabilidade ao
criar objetos urbanos, no entanto, isso não significa dizer que a sua postura deve ser autoritária e intransigente. É necessário compreender que os usuários e construtores informais não são atores passivos e têm muito a contribuir nesse processo. O design participativo aqui é visto como uma forma alternativa à maneira como a arquitetura é feita hoje. Não descartando completamente seus métodos tradicionais de linguagem e produção , mas acrescentando uma visão mais humana e menos burocrática.
Uma boa parte dos trabalhos feitos pelo grupo
de pesquisa envolvem moradias informais em favelas. Desde o estudo sobre a forma de produção até pesquisas empíricas mostrando que é possível criar instrumentos que facilitem a relação com esse produtor informal. Dessa maneira, o grupo encurta a distância entre estes dois mundos: da produção informal e do conhecimento técnico, entendendo que o processo é tão importante quanto o próprio produto.
31
EXPERIÊNCIAS
Serão analisadas duas experiências da autora
relacionadas ao design participativo. A primeira, 2015, com a participação em três projetos na Portmouth University junto a Diocese da cidade. A segunda, em uma participação, também em 2015, na pesquisa do professor Jeremy Wells sobre a conservação do Horto Del’Rey, parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco e a Rogers Williams University.
32
post-church
(portsmouth university) ______________________________________________________
No ano da minha participação,
o escritório exerceu uma parceria com a Diocese da cidade e, teve como proposta, o desenvolvimento de
três
projetos
para
igrejas
Anglicanas. A série foi intitulada de Post-church – Animating the Communion in the 21st Century.
Inglaterra, diferentemente da igreja
Exposição dos projetos Arquivo da Portsmouth School Of Architecture
A situação da igreja na
do Brasil, é de decadência. Segundo
Entre os anos de 2014 e 2015, realizei
pesquisas realizadas pelo BES - British Election Study
um intercâmbio como bolsista do cnpq por meio do
(Tabela 1 e 2), desde de 1963, houve uma queda na
programa federal “Ciência sem Fronteiras”. Estudei
porcentagem de moradores do Reino Unido declarados
por dois semestres na Portsmouth University, no sul
como cristãos. Além disso, dentro dessas estatísticas,
da Inglaterra. Ao fim do curso, tive a oportunidade de
os jovens entre 18 e 24 anos declaram-se, em maioria,
participar de um estágio no escritório da faculdade de
como sem religião. Isso significa dizer que, se o
arquitetura, chamado Project Office.
quadro atual se mantiver, em alguns anos a Igreja e
tabela 1 - Afiliação religiosa entre 1963 e 2015
tabela 2 - Afiliação religiosa por grupo de idade
Fonte: BES - British Election Study
Fonte: BES - British Election Study
33
sua importância na vida dos britânicos poderão vir à
da diocese Canon Nick Ralph e um arquiteto convidado
extinção. Algumas Igrejas na Inglaterra já deixaram de
para cada projeto. O grupo de trabalho era composto
funcionar com finalidade religiosa, como a St Andrew’s
por cerca de trinta brasileiros dos cursos de arquitetura
Presbyterian Church, atual boate Halo.
e design divididos em cinco grupos.
A
metodologia
utilizada
era
simples.
Primeiro era realizado um levantamento de dados e reconhecimento do local, com visita e entrevista ao bispo. No segundo dia, esses dados eram reunidos e as principais ideias e análises, discutidas com os orientadores, eram transformadas em diretrizes e, de forma poética, em conceito base. Os resultados eram, então, apresentadas dentro do ambiente da Boate dentro de uma antiga Igreja Fonte: Halo Bournemouth org.
Igreja aos fiéis que davam um feedback, apontando
as melhores ideias e os pontos em que discordavam.
No Project Office de 2015, os objetos de estudo
Depois desse encontro, havia a produção do projeto
foram três Igrejas da região que estavam sofrendo com
com assessoramento dos orientadores, entre eles o
a atual situação religiosa do país. A filosofia adotada
representante da diocese e, em algumas visitas rápidas,
nos projetos é bem descrita no artigo The Church is not
o Bispo da Igreja em questão. No último dia do projeto,
dying. It’s failing. There’s a difference (A Igreja não
os fiéis eram convidados a se reunirem conosco em uma
está morrendo. Ela está falhando. Há uma diferença).
sala de apresentação na universidade para visitarem
O objetivo era entender o motivo de a Igreja estar
a exposição dos trabalhos e também a uma discussão
falhando e tentar solucioná-lo, ou amenizá-lo, com uma
coletiva sobre os resultados no fim da manhã.
proposta arquitetônica. A meta não era encontrar um
design perfeito para a solução, mas mostrar aos usuários
desenvolvimento de um produto e sua apresentação
da Igreja e ao próprio Bispo possíveis mudanças para
para a comunidade do que de um design participativo.
melhoria do espaço.
Entretanto, foi extremamente rica para se trabalhar
métodos de apresentação e representação que facilitem
O desenvolvimento das propostas se deu sob
o assessoramento do coordenador Martin Andrews, o sociólogo australiano Leigh Rampton, o representante
34
Essa
experiência
tratou
mais
do
a troca de ideias e experiências com os não arquitetos
Pontos principais 1. Os desenhos técnicos eram utilizados, mas com menos ênfase. 2. As imagens expostas nem sempre precisavam ter um edifício, era mais importante mostrar pessoas e atividades. Cabe ao arquiteto transformar essas atividades em espaço. 3. Os problemas e as soluções devem ser resumidos, simplificados e expostos de forma didática. 4. Diagramas abstratos são importantes. 5. A linguagem deve ser o mais visual possível. 6. As pessoas gostavam de ver fotos da sua Igreja.
Debate com a comunidade Arquivo da Portsmouth School Of Architecture
35
Horto Del’Rey workshop ______________________________________________________
O professor americano
Jeremy de
Wells,
uma
Rogers
por
parceria Williams
meio
entre
a
university
e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), teve a oportunidade de desenvolver a sua pesquisa no Brasil por um semestre letivo. Sua pesquisa intitulada
Reunião com a comunidade
“Empowering
Fotografia por Ana Ísis Moura
Communities to Identify, Treat, and Protect Their
Horto encontrava-se em situação de abandono e com
Heritage” (Empoderamento das comunidades para
complicações na questão de sua posse. O público alvo
identificar, tratar e proteger seu patrimônio) tinha
do estudo eram os moradores das proximidades, dos
como objetivo, já denunciado pelo título, a relação
bairros do Carmo, Amparo, Bonsucesso e Amaro
das pessoas com o patrimônio e como elas poderiam
Branco, que foram informados das reuniões por meio de
tomar iniciativa na preservação do mesmo. Para isso,
panfletos e carro de som a data e horário das reuniões.
recrutou alguns estudantes de graduação e mestrado
para ajudá-lo no processo.
bottom-up7, uma inversão do sistema top-down8
O intuito da pesquisa era testar a abordagem
a
convencional. Dessa forma fazendo com que os
comunidade, todas tendo acontecido no salão do Preto
especialistas técnicos se tornassem facilitadores do
Velho no Alto da Sé em Olinda.
processo.
Foram
realizadas
três
reuniões
com
O patrimônio escolhido para ser estudado foi o
Ao planejar as reuniões, o professor Jeremy
Horto Del’Rey. Localizado no sítio histórico da cidade
Wells sempre deixava claro que os estudantes
de Olinda, é considerado um dos primeiros jardins
(facilitadores
botânicos do Brasil. Durante o período do estudo, o
participantes de modo que eles mesmos encontrassem
7
Sistema que coloca o poder da tomada de decisão nas mãos dos usuários.
8
Sistema inverso ao bottom-up
36
do
processo)
deveriam
guiar
os
as respostas para os problemas. Foi proporcionado um
possível o engajamento das pessoas em processos do
pequeno livreto produzido pelos facilitadores com a
gênero. Porém, como a iniciativa partiu do acadêmico,
história do Horto e uma breve introdução do próprio
o engajamento da comunidade nas ações não teve tanta
professor no começo de cada encontro.
efetivação depois do retorno do professor Wells para os
Estados Unidos.
A princípio, o comparecimento das pessoas
foi bastante intenso. No entanto, depois da primeira
reunião, apenas alguns participantes frequentaram os
Pontos principais
encontros subsequentes. O provável motivo foi a perda
1. A flexibilidade é um fator necessário na estrutura
da curiosidade a respeito do professor americano9.
das reuniões.
Sendo assim, apenas as pessoas que estavam realmente
2. Deve-se planejar de modo que ritmo e o tempo
interessadas na preservação do horto continuaram
da pesquisa sejam compatíveis com a sua
comparecendo, o que foi um ponto positivo.
complexidade.
As primeiras propostas que surgiram em
3. A princípio, as pessoas eram atraídas pelos extras
relação à preservação, colocavam no Estado toda
que eram oferecidos na propaganda, por exemplo,
a responsabilidade. Com a evolução do debate, as
a comida de graça.
questões foram se tornando mais práticas de forma que as próprias pessoas Pudessem se tornar agentes na
4. Os participantes precisam de materiais expositivos para que a raunião seja eficiente. Reunião com a comunidade
preservação.
Fotografia por Ana Ísis Moura
A
importância
dessa pesquisa estava na oportunidade tomarem decisões,
das
suas
pessoas próprias
precisando
para
isso de liberdade desde a estrutura da reunião aos resultados. Foi provado, com a pesquisa, no entanto, que é
9
Antes da primeira reunião havia um boato de que o professor estava interessado em comprar o horto.
37
38
2
o PROCESSO
39
os varais
A base da metodologia foi a produção de
propostas seguidas de feedback dos usuários para sua evolução. Essa dinâmica tomou uma forma aqui intitulada de “varais: os quatro encontros com o público”.
Tanto o processo do projeto quanto o diálogo
com as pessoas acabaram sendo o produto deste trabalho, já que, da forma como foram produzidos, tornaram-se indissociáveis da proposta em si. Sendo assim, o entendimento de um depende do outro e a apresentação de ambos não poderia ser entendida de outra forma, senão em paralelo. Neste capítulo será explicado todo o processo do projetar e do dialogar.
40
METODOLOGIA ______________________________________________________
Com base nas referências discutidas e no
Outra decisão tomada nessa fase foi a escolha
tempo limite de produção deste estudo, foi montada
pela exposição de um material predominantemente
uma metodologia simples para a construção do projeto.
visual. Como foi visto nas experiências anteriores, é
O objetivo primordial foi a inserção do usuário no
de extrema importância chamar a atenção com uma
desenvolvimento da proposta.
linguagem fácil. Não limitando a participação apenas
aos alfabetizados, nem tão pouco tornando o processo
Sendo assim, inicialmente, houve uma análise
preliminar, na qual foi feito o reconhecimento da
cansativo.
área e entrevistas com atores chaves: Frei William,
responsável pela paróquia; e a arquiteta e artista
onde ficavam expostas imagens e maquetes para um
plástica Sandra Paro, responsável pela última reforma
feedback de qualquer pessoa que estivesse transitando
do espaço. Nessa etapa houve descobertas sobre
pelo espaço. As informações adquiridas eram então
o funcionamento da paróquia e a sua relação com
penduradas em um varal montado em uma das faces da
a comunidade, assim como a ideia inicial de como
estrutura para que todos pudessem ver o resultado.
poderiam ser feitos os encontros de forma eficiente.
Ficou decidido que apesar do salão paroquial
têm como objetivo o afastamento da autora do projeto
oferecer um espaço mais confortável para a relização
para que seja possível vê-lo com mais clareza, através
dos encontros, a montagem de uma estrutura simples
do olhar e da voz de outras pessoas.
Em todos os encontros foi montado um toldo
Esses momentos de encontro com o público
no pátio da Igreja poderia atrair mais usuários do espaço para a pesquisa. Assim como seria mais favorável para a visibilidade do projeto – sendo um trabalho para a comunidade, seria incoerente trancar as reuniões em um espaço fechado.
41
Varal de sondagem (15 de abril de 2016) ______________________________________________________ preparação do encontro
Inicialmente, as reuniões seriam realizadas no
salão paroquial, lugar confortável e seguro. Entretanto, foi preferível transferir a localização para o pátio da igreja a fim de proporcionar maior visibilidade ao estudo e atrair as pessoas a participarem. Afinal, é mais fácil abordar pessoas no meio da rua do que persuadi-las a entrarem em algum lugar. Pelo objetivo do projeto, também seria mais interessante a espontaneidade dos usuários na escolha de participar do debate do que um recrutamento. Cartaz para divulgação do primeiro encontro Produzido pela autora
O próximo passo foi a escolha da data. Foi
escolhida com base nos horários das missas e do maior movimento na rua. Em acordo com o Frei William e
FICHA DO ENCONTRO
a agenda da Paróquia, o melhor horário encontrado
•
Objetivo principal: Sondagem do público a respeito
foi entre às 17 e às 20 horas de uma sexta-feira.
da relação com a área de estudo.
Sendo possível abordar as pessoas chegando à missa
Objetivos secundários: Entender o que seria um
(19h30m) e as pessoas voltando do dia de trabalho
bom espaço dentro da visão dos entrevistados.
para casa.
•
Nível do projeto: Análise preliminar.
•
Material exposto: Nove fotografias da área e Cinco
meio de cartazes espalhados pelo entorno da paróquia,
fotografias de outros lugares do mundo.
divulgação verbal na missa da noite e em uma escola
Voluntários: Andrea Apresentação, Luisa Acioli,
pública da região (Escola Novo Pina). Essa última
Hérico Almeida, Mariana Bandeira e Rayane
sendo mais efetiva do que os cartazes, que não surtiram
Barcellos
muito efeito no público dessa comunidade. Além dessas
Entrevistados: 32 pessoas.
divulgações prévias, houve a própria instalação no
•
•
•
42
A divulgação do encontro foi realizada por
pátio, que gerou bastante curiosidade, sendo a forma
individualmente. O objetivo desse primeiro encontro
mais efetiva para atrair o público alvo.
era descobrir o que seria um bom e um mau espaço para
aqueles entrevistados. Para isso o roteiro foi dividido
Na realização do encontro, foi necessária a
ajuda de alguns voluntários para guiar os usuários na
em três etapas:
dinâmica e obter assim um maior número de respostas.
(A) Indagação - Nove imagens selecionadas
No fim do dia, o balanço total foi de 32 participantes.
da área. As pessoas colocaram um alfinete verde ou vermelho nos pontos que elas julgam
o encontro
positivos ou negativos respectivamente.
No dia da oficina, foi montado um toldo no
(B) Provocação - Cinco imagens de lugares
pátio da Igreja e, nele, varais com o conteúdo a ser
diversos com uma palavra chave em cada. A
discutido. Os voluntários abordaram, com uma cesta
mesma dinâmica de alfinetes.
de bombons, as pessoas que transitavam pelo local
(C) Dissertação - Três perguntas para
(público alvo da pesquisa). Muitas vezes a abordagem
incentivar o debate. Os participantes tinham
não era necessária e as pessoas apenas apareciam para
em mãos materiais de desenho para fazer
descobrir o que era o rebuliço.
qualquer comentário extra e colocar para secar
Dentro
do
toldo
começava
então
a
no varal.
dinâmica, podendo ser feita tanto em grupo quanto
Primeiro varal: pessoas discutindo a respeito das imagens. Fotografia por Hérico Almeida
43
No decorrer do encontro, a dinâmica foi sendo
a noite foram tiradas várias fotos e a partir delas foi
alterada para melhor se encaixar na obtenção de
possível extrair as informações complementares ao que
resultados. Com o uso de alfinetes, muitas informações
restou depois da chuva.
estavam se perdendo, foi necessário substituí-lo por
post-its com a anotação de palavras chaves ditas pelos
foi possível dividir as imagens em grupos, avaliando a
entrevistados. Outro acontecimento interessante foi
resposta dos pontos positivos e negativos e as palavras
o fato dos participantes não quererem escrever ou
chaves utilizadas para descrever cada fotografia.
desenhar nada, todos se sentiram inibidos e pediram
para os voluntários transcreverem as suas falas.
comunidade foram as que mais receberam o alfinete
Com os resultados da primeira fase, indagação,
As imagens que representam a Igreja ou a
verde. Reforçando a importância da Paróquia para os
resultados do encontro Perto do fim do evento começou a chover e,
usuários. Já os espaços públicos, em sua maioria, foram
antes que o material pudesse ser retirado do pátio, uma
variaram da segurança à desorganização do espaço. O
boa parte dele foi danificada. Felizmente, durante toda
único ponto positivo nesse bloco foi a mobilidade.
44
avaliados como espaços negativos. As justificativas
Dois inesperados
dados foram
receptividade
do
a
boa
shopping
RioMar na comunidade e as várias
reclamações
quanto
ao pátio interno da Igreja. O pátio interno foi descrito como pequeno e insuficiente para as festas, mesmo tendo um pátio com o dobro do tamanho na frente da Paróquia. O shopping RioMar
na
contramão
descrito
como
um
foi
espaço
antidepressivo e boa parte dos participantes
diferenciavam
em sua fala o shopping, a via mangue e o entorno. Em uma caricatura do que foi discutido no encontro, o RioMar é visto como um lugar seguro para passear, a via mangue como a destruidora de muitas famílias e o entorno como o culpado por toda a insegurança da área. Aqui fica claro que os participantes não entendem as consequências de um empreendimento desse porte no entorno e vêm os fatos dissociadamente.
Essa dualidade entre espaço público, ruim, e
privado, bom, é uma característica da cidade do Recife como descreve Lúcia Leitão em seu livro “Quando o
detentor de conhecimento técnico, intervir. Projetar mais um espaço privado e fechado fazendo com que o espaço público continue na mesma situação atual é negar o conhecimento adquirido e a ética da profissão. No entanto, é preciso levar em consideração esse medo relatado pelos entrevistados.
A rua à direita da Igreja e a sua quadra
adjacente foram as imagens que tiveram a palavra ‘inseguro’
mais
vezes
relacionada.
Segundo
os
participantes, o prédio abandonado serve como ponto
ambiente é hostil”. Cabe ao arquiteto e urbanista,
45
de tráfico e uso de drogas. Tendo essas informações
como base, a quadra foi escolhida para ser o alvo da
relacionadas ao sentimento que cada espaço transmitia
intervenção deste trabalho de graduação. O propósito
foram em sua maioria positivas. Apenas a imagens
aqui é criar um espaço que sirva à comunidade,
da Trinity Church, em Nova Iorque foi mal recebida,
estimule o uso do espaço público e amenize a sensação
sendo associada a estresse.
de insegurança dos usuários.
Na fase dois, provocação, os participantes
atreladas a um desejo de estar naquele local. Em sua
ficaram deslumbrados com as imagens trazidas, por
maioria, eram palavras como tranquilidade e paz.
serem belíssimas fotografias. Isso dificultou um pouco
Sempre atreladas também a elementos naturais, como
a obtenção de respostas úteis para o trabalho, visto
vegetação e água.
que os primeiros adjetivos se relacionavam à fotografia
e não ao espaço representado nela. Foi a fase mais
partido do projeto deveria sair da ideia de um refúgio
demorada já que era necessário muita conversa para
dentro do caos urbano. Criando uma quadra aberta
que os participantes conseguissem se imaginar naquele
com elementos naturais presentes.
espaço.
46
Depois
Das
desse
palavras
trabalho,
positivas,
as
todas
palavras
vinham
A partir desses dados foi decidido que o
A
fase
dissertação, menos As
foi
gerou
pessoas
a
fazerem
livres.
Das
anotadas, pontos
que
conteúdo. se
extremamente a
três,
sentiam inibidas
comentários observações houve
três
principais:
a
valorização da igreja como marco importante na área; reclamações gerais quanto Terceira etapa da dinâmica
a questões básicas como acessibilidade, segurança e saneamento; e reclamações
Fotografia por Hérico Almeida
mais específicas como a baixa receptividade da igreja e a carência de contato com a natureza.
Quanto às reclamações gerais, presentes
na maioria dos bairros do Recife, deveriam ser as primeiras intervenções em uma requalificação urbana. No entanto, não são o objetivo deste trabalho de graduação. Visto que o importante aqui é o debate entre o designer e o usuário sobre questões espaciais.
As
reclamações
específicas,
no
entanto,
provêm materiais que reforçam a ideia anteriormente discutida de projetar um espaço no qual o verde é bastante presente.
encontro 1 - 15 de Abril de 2016 Material e Fotos da reunião 47
Varal de especulação de uso (23 de agosto de 2016) ______________________________________________________ FICHA DO ENCONTRO • Objetivo principal: Perceber a reação do público a uma proposta preliminar. • Objetivos
secundários:
Quaisquer
questionamentos do público ao projeto em especial ao uso e atividades propostas. • Nível do projeto: Projeto preliminar. • Material exposto: Cinco renders, três desenhos técnicos com apelo visual e uma maquete física na escala 1:250. • Voluntários: Renata Mesquita
e Rayane
Barcellos • Entrevistados: 36 Toldo montado para o encontro
preparação do encontro
Fotografia por Rayane Barcellos
O objetivo da segunda reunião foi ter um
dessa vez, a interação teve apenas uma fase guiada por
primeiro feedback dos usuários quanto a proposta
um checklist com os pontos principais do projeto dado
arquitetônica. Foi montada a mesma estrutura do
aos voluntários.
primeiro encontro no pátio da igreja, um toldo com uma das faces preenchida com imagens do projeto,
A PROPOSTA PARCiAL
duas com o varal para o conteúdo das entrevistas e, no
centro, uma mesa com a maquete.
proposta uma edificação de cunho social e a inserção de
mais natureza no contexto. Sendo assim, foi iniciado o
Com base nas respostas dos participantes
Com base nos resultados da última reunião, foi
no encontro anterior, foi decidido que a dinâmica das
projeto de um centro comunitário com pátio interno.
entrevistas deveria ser simplificada a fim de abranger
mais pessoas no mesmo período de tempo. Portanto,
rua Carneiro Pessoa (vide plano parcial na p.51) para
48
Um dos itens da proposta foi o fechamento da
possbilitar a relocação do estacionamento localizado no
pátio da Igreja para esse novo cul-de-sac. E a parada de
e duas voluntárias. Explicando o projeto com base
ônibus da calçada para a esquina do novo edifício.
na maquete física e fazendo relações espaciais com
A edifcicação principal proposta possuia três
elementos presentes no espaço existente. Por exemplo,
pavimento. O térreo sendo voltado para o comércio e os
para explicar onde ficaria localizada a entrada da
dois andares superiores para estúdios. E a edificação
edificação, era mais simples apontar para o poste verde
anexa seria usada como auditório. As cores do projeto
que ficava na esquina da quadra do que mostrar em
foram pensadas para harmonizarem com as já presentes
planta baixa.
na Paróquia.
As entrevistas foram realizadas pela autora
O fato de a maquete ter sido apresentada
com a mesma orientação geográfica e levada para
o encontro
discussão in loco certamente proporcionou uma noção
Como material para o encontro, foi produzida
mais completa do projeto. O que ficou perceptível pela
uma maquete na escala de 1:250, cinco renders do
forma como as pessoas criticaram algumas decisões
projeto e três imagens mais técnicas no entanto com
projetuais.
um forte apelo visual.
A decisão que foi mais discutida com os A maquete Fotografia por Rayane Barcellos
49
entrevistados diz respeito ao fechamento da rua
resultados do encontro
Carneiro Pessoa. A opinião que essa seria uma
má escolha foi quase unânime. Os convidados não
análise dos feedbacks recebidos, o próximo passo seria
entenderam a necessidade. Com isso, ao rever o projeto,
rever qual seria o uso mais necessário nesse contexto.
a implantação de uma travessia elevada (traffic calm) e
a diminuição do número de faixas já seria suficiente.
artística serem partes importantes da formação,
Outra questão polêmica foi quanto ao uso
no cenário analisado, as escolas e a própria rua
da edificação. Nesse item, as pessoas poderiam ser
da comunidade já fazem esse papel. Além disso,
divididas em dois grupos. O primeiro sendo o daquelas
o
que achavam uma ótima iniciativa e pediam por mais
financeiramente. Sendo assim, o local pede por uma
coisas, como quadra de esportes e afins. E o segundo,
escola profissionalizante.
que se colocava indiferente ao edifício, como se não fosse
fazer muita diferença no bairro, e explicava que o que a
um polo empresarial, com mais pessoas, a necessidade
comunidade precisava era de formação profissional.
de empreendimentos alimentícios aumenta. Com base
nisso, o novo rumo do projeto seria uma escola técnica
O pocket park e a ideia de demolir as edificações
sem uso existentes no local foi muito bem aceita. Decisões encaradas pelas pessoas como medidas que proporcionariam uma maior segurança nas redondezas.
50
Com a conclusão dessa segunda reunião e a
Apesar do entretenimento e da formação
edifício
proposto
não
conseguiria
manter-se
Como a área do pina está se transformando em
de culinária.
VARAL DE AGOSTO Material e Fotos da reuniĂŁo 51
Varal de especulação espacial (16 de setembro de 2016) ______________________________________________________ FICHA DO ENCONTRO • Objetivo principal: Perceber a reação do público à escala do projeto. • Objetivos secundários:
Quaisquer
questionamentos do público ao projeto. • Nível do projeto: Anteprojeto. • Material exposto: Nove renders, uma maquete física na escala 1:250 e uma maquete virtual com visualização por meio do cardboard. Voluntários:
Amanda
Barros,
Andrea
Apresentação e Rayane Barcellos • Entrevistados: 31
preparação do encontro
Para o terceiro encontro, a dinâmica foi
bastante parecida com a do segundo. Entrevistas bastante simples e objetivas que tinham como objetivo o feedback dos usuários quanto ao projeto.
Para isso, foi levada, para campo, a proposta
exposta em forma de imagem, maquete física e maquete
Visualização do projeto em realidade virtual
digital (realidade virtual). Visando facilitar que o
Fotografia por Amanda Barros
usuário pudesse se imaginar no espaço.
em qualquer meio digital. No aplicativo do mesmo
Para a visualização do projeto em realidade
plugin, no Iphone, existe a possibilidade de exibição da
virtual, o produto foi modelado no sketchup e
modelagem no cardboard. A imagem apresentada para
transferido para o celular por meio do plugin qrVr,
os entrevistados foi visualizada no ponto de vista do
que transforma a maquete em um link para ser aberto
pedestre.
52
A PROPOSTA PARCiAL
O novo projeto continua sendo composto por
anterior foi fechada, passou a possuir uma travessia
duas edificações. A principal com restaurantes no
elevada com a largura da via reduzida, para que a
térreo, salas de aula no primeiro andar e laboratórios
calçada fosse aumentada e se pudesse utilizar as laterais
de culinária com uma horta orgância no terceiro. O
como estacionamento baliza. O pátio interno também
prédio secundário é composto por uma sala de aula e
tomou uma forma mais amadurecida com um desenho
um laboratório para cursos de extensão. No interior da
mais simples e bancos contínuos que o acentuam.
quadra, o pocket park continua, no entanto, com uma
forma diferente.
diretrizes do INEP (Instituto Nacional de Estudos e
A estrutura do prédio evoluiu desde a
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) para uma
primeira proposta, dando mais identidade ao prédio e
escola técnica de culinária. Como o curso possui a
proporcionando uma modulação triangular que favorece
duração de dois anos, seriam necessárias quatro salas
a curva da quadra e valoriza a esquina.
de aula e laboratórios de culinária.
A rua Carneiro Pessoa, que na proposta
O programa das edificações foi baseado nas
53
o encontro
Assim como no Varal de Agosto, a melhor
forma para as pessoas se localizarem no espaço e entenderem o projeto foi a combinação da maquete física com o fato de estarem in loco. O diferencial desse encontro foi o uso da realidade virtual. Com esse novo artifício, as pessoas conseguiram prestar mais atenção aos detalhes e chegaram a questionar cores e texturas.
No
entanto,
diferentemente
do
segundo
encontro, as conversas não geraram muitas críticas, o que não contribuiu muito para o crescimento do projeto. Houve uma aprovação quase que unânime das pessoas quanto a beleza do edifício e a qualidade que ele poderia trazer para a área.
As pequenas críticas feitas foram reflexo da
preocupação com a segurança da área, as pessoas cobraram especialmente uma iluminação reforçada. Outro ponto discutido foi a questão do estacionamento. Visto que não foi prevista nenhuma vaga na quadra, apenas na rua.
54
Terceiro encontro
resultados do encontro
Fotografia por Amanda Barros
Devido a pouca produtividade nesse encontro,
no varal seguinte seria necessária uma mudança na dinâmica. O feedback deveria ser mais direcionado à percepção de materiais e espaços internos. Sem revelar o uso do projeto inicialmente, já que os entrevistados ficam deslumbrados com a possibilidade de tal intervenção e por isso estão predispostos a aprovar tudo.
VARAL DE Setembro Material e Fotos da reunião 55
Varal de AMBIêNCIA (4 de novembro de 2016) ______________________________________________________ FICHA DO ENCONTRO • Objetivo
principal:
preparação do encontro Proporcionar
um
No intervalo entre a terceira reunião e
fechamento para esse trabalho de conclusão
esta houve a evolução do projeto quanto a detalhes
de curso através de um último feedback dos
construtivos e materiais utulizados. O programa de
usuário reportando suas sensações em relação
uso continuou o mesmo com pequenas alterações de
ao projeto.
agenciamento, quase que irrelevantes ao usuário.
• Objetivos secundários: Questionamentos do público em relação ao projeto. • Nível do projeto: Entre anteprojeto e projeto legal. • Material exposto: Seis renders e uma maquete física na escala 1:250. • Voluntários: Andrea Apresentação e Betania Duarte • Entrevistados: 30
56
Para o encontro foram preparados seis renders de vistas do prédio: Duas internas, duas externas ao nível do solo, uma externa ao nível do segundo andar e uma externa ao nível de um edifício alto. O objetivo dessas imagens foi mostrar para os entrevistados os materiais a serem utilizando e a ambiência do espaço na proposta. Além disso foi feita uma maquete na escala de 1:250 para explicar o projeto como um todo.
A PROPOSTA PARCiAL
o encontro
A proposta passou a seguir uma linha mais
Para que não ocorresse o mesmo problema
industrial coerente com a ideia de um curso técnico
da terceira reunião - a aprovação do projeto pelo
de gastronomia. A presença da cor vermelha foi
uso e não pelo design - houve uma inversão na
suprimida dando espaço para o contraste entre o
ordem da reunião. Nesta primeiro foi dado um
verde da natureza e o branco, em busca de uma
feedback em cima das imagens mostradas, sem
harmonia para o prédio e um destaque para aquilo
explicar que aquilo era um projeto para a quadra
mais pedido pelos entrevistados: Plantas.
ao lado e somente depois o projeto foi explicado na
totalidade na maquete.
Todo o revestimento do prédio nesse nível
de projeto foi pensado para ser de vidro jateado
Essa troca na ordem dos fatores gerou
de branco com a proteção de uma placa metálica
críticas menos tendenciosas, visto que quando os
microperfurada mas faces de contato com a rua. O
entrevistados aprovaram o projeto não foi apenas
verde surge nas paredes externas dos volumes de
por ser uma melhoria para o bairro, e quando
banheiro, nas aberturas das esquinas que marcam
criticaram o foco foram aspectos do ambiente e
as entradas, no horta orgânica presente no teto e
não do programa de uso.
no pátio interno da quadra.
57
resultados do encontro
O projeto teve uma boa aceitação dos
entrevistados, sendo visto como objeto de melhoria na dinâmica e na paisagem do bairro. A maioria das pessoas usou palavras como como bonito e harmonioso, no entanto algumas críticas foram feitas quanto aos espaços mostrados nos renders, em geral comentários quanto à iluminação e à
Laboratório de culinária
apatia de alguns ambientes.
Críticas: Espaço muito fechado devido ao vidro
não transparente.
A seguir a descrição das críticas separadas
por imagem:
Elogios: O ambiente transmite a ideia de higiene.
Restaurante Críticas: Má iluminação e cores muito sóbrias. Elogios: A ideia da cozinha aberta visualmente.
58
Externa
Pátio interno - noite
Críticas: Pouca área verde.
Críticas: Má iluminação
Elogios: Aprovação do prédio e da área de passeio
Elogios: Presença de área verde e de áreas de passeio
Pátio interno - dia
Vista superior (como de um edifício alto)
Críticas: Poucas plantas.
Críticas: Pouca área verde
Elogios: Área verde e transparência o entre o
Elogios: A ideia da horta e do cultivo de alimentos
espaço interno e externo
para utilização na cozinha
VARAL DE Setembro Material e Fotos da reunião 59
60
3
A proposta
61
questões legais Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.
III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social.
Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 Estatuto da Cidade
62
LEGISLAÇÃO _____________________________________________________
Para a elaboração deste projeto, o Plano
A área de projeto encontra-se localizada
Diretor da cidade do Recife foi consultado. No entanto,
em uma Zona de Ambiente Construído de Ocupação
essa legislação segue um planejamento baseado em
Controlada I (ZAC controlada I) e muito próxima de
lotes, o que vai de encontro à formação acadêmica a que
duas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). São
este trabalho faz parte. Entendendo isto, que a cidade
os parâmetros urbanísticos reguladores da ocupação do
deve ser planejada com o objetivo de fornecer espaços
solo:
que promovam a interação e o bem-estar social, o plano
1. Coeficientes de utilização entre 0,1 e 3
foi consultado e atendido dentro das possibilidades de
2. Gabarito de altura - Definido pelo coeficiente
um planejamento de quadra.
3. Taxa de solo natural = 25% 4. Afastamentos para ZAC Controlada: •
Af = Afi + (n-3) 0,25 = 7m
•
Al = Ali + (n-3) 0,35 = 3m
•
Afu = Al. = 3m
63
projeto
Fruto de diálogos com diferentes pessoas,
que transitam pelo pátio da paróquia, o projeto aqui desenvolvido é marcado pelos dois elementos mais solicitados: natureza e iluminação.
A forma da edificação principal acompanha
a curva da quadra configurando um jardim interno e tem suas duas esquinas principais realçadas com áreas verdes. As Fachadas externas são protegidas com uma camada de placas metálicas microperfuradas que contrastam com as plantas dando-as ênfase. As fachadas internas possuem alguns intervalos que emitem luz difusa para o pátio fornecendo uma sensação de segurança maior à noite. O térreo oferece opções de restaurantes abertos ao público, diretamente ligados à rua e ao jardim.
Além da função de escola de culinária, a
edificação busca fornecer à cidade a oportunidade de ter um recanto no meio da afobação do dia a dia. Dessa maneira, os espaços foram planejados de forma a proporcionar a oportunidade de encontros e diálogos que estimulem a dinâmica urbana.
64
65
Implantação ______________________________________________________ O plano de quadra manteve as árvores e edificações
espaços de permanência.
existentes com uso ativo, removendo apenas os edifícios
abandonados e as barracas ilegais. A edificação principal
esquina, foi necessário optar por uma estrutura com
foi locada próxima à igreja para manter a forma atual
marcação triangular que proporcionasse a modulação
do pátio que se extende passando por dentro do edifício
dos componentes do projeto sem abdicar da qualidade
até uma área verde- pocket park- interna à quadra.
plástica.
Já o edifício anexo mantém o alinhamento à calçada
e reproduz com sua forma uma versão menor da área
costura urbana que busca respeitar as qualidades da
verde.
configuração atual e proporcionar melhorias para o
A paginação com piso cerâmico avermelhado
que une os dois edifícios foi pensada de forma que direcionasse o percurso de passagem por dentro deles. Quando se combina com elementos naturais da paginação – solo natural batido e grama – marca os
Para atender à curva da quadra e valorizar a
Por fim, o projeto se apresenta como uma
espaço. IMPLANTAÇÃO 1. Paróquia do Pina 2. Edificações existentes 3. Escola de culinária 4. Edifício anexo 5. Pocket park 6. Travessia elevada
Av. Herculano Bandeira
Av. Herculano Bandeira
3
1
66
Rua Carneiro Pessoa
6 5
2 4 Rua Barreiros
natureza | Iluminação | pátio | esquina
erc
H Av.
ira
ande
oB ulan
67
68
O______________________________________________________ Pátio
O pátio interno do projeto, por ser público,
médio ou grande porte, tendo em vista a proporção
possui um carácter mais aconchegante com a presença
ideal de luz e sombra.
de cores mais terrosas contrastando com a aparência
industrial do edifício. Os materiais utilizados no piso
em formas de iluminação do espaço para gerar uma
foram blocos de cerâmica avermelhada e terra batida,
sensação de segurança. Foram planejados três tipos de
que além de possibilitar a caminhabilidade proporciona
iluminação:
absorção de água da chuva.
1. Iluminação proveniente das paredes duplas do
Para o período noturno foi importante pensar
edifício com led interna;
Um elemento marcante do desenho é
o muro que divide o pátio da casas existentes. Nesse
2. Iluminação pontual ao longo do muro de mosaicos;
foi proposto um espaço para criação de mosaicos10 pela
3. Iluminação nos banco para direcionar o caminho.
comunidade, utilizando de cores avermelhadas.
O paisagismo foi desenvolvido respeitando
DETALHE PÁTIO - ESCALA 1:20
as árvores existentes. Devido a dimensão estreita do espaço não foi proposto nenhuma outra vegetação de
11 10
9 1
2
3
4
5
1. Piso cerâmico avermelhado 60mm 2. Lastro de areia 5mm 3. Concreto 12mm 4. Brita 15mm 5. Solo 6. Grade 7. Brita 8. Tubo de drenagem 9. LED 10. Armação metálica 11. Ripas de madeira 4mm 12
6 7
8 10
Trabalho já desenvolvido pela artista plástica e arquiteta Sandra Paro, morada da quadra em estudo, em comunidades carentes.
Os mosaicos da Paróquia são de autoria e produção da mesma junto à voluntários da comunidade do Bode e Encanta Moça. A artista vê tal trabalho como uma forma de embelezar a cidade e ao mesmo tempo ensinar um ofício para crianças e adolescentes.
69
Restaurante escola
______________________________________________________
O espaço do térreo é ocupado por três
empreendimentos gastronômicos: restaurante, café e self-service. Cada um requer um nível diferente de especialização do curso de culinária oferecendo oportunidade à maioria dos alunos em pariticipar do aprimoramento na prática das técnicas aprendidas em sala de aula.
Apesar de buscar o lucro, tais empreendimentos
têm como objetivo primordial o aprendizado dos cozinheiros. Sendo assim, o espaço interno foi projetado de forma a estimular a interação visual entre a cozinha e o salão, acompanhando o conceito geral do prédio, que coloca como foco o ato de cozinhar.
70
3
6 4
3
5 2
1 2
7
3
8
3 3
2 9 10
PLANTA BAIXA - ESCALA 1:300 Escola de culinária - Térreo
3
11 12
1. Self-service 2. Cozinha 3. WC 4. Café 5. Recepção 6. Circulação vertical 7. Entrada 8. Restaurante 9. Sala do chef 10. Despensa 11. Carga e descarga 12. Lixo e Gás
N
71
CURSO DE CULINÁRIA ______________________________________________________
A edificação principal abriga as atividades
distribuídas nos horários da manhã, tarde e noite, o que
do curso tecnológico de gastronomia. O programa e o
faz com que cada turma seja composta por no máximo
dimensionamento do prédio foram baseados na estrutura
40 alunos. Possui a duração de dois anos, logo, 160
curricular oferecida pelo SENAC PE, reconhecida pela
alunos estariam usando o espaço ao mesmo tempo.
Portaria nº 305 de 27 de dezembro de 2012, publicada
no Diário Oficial da União em 31/12/2012.
alunos e tipos de sala de aula, é interessante ressaltar
Esse currículo possui aulas práticas que
a importância de espaços de convivência como halls
envolvem laboratórios de culinária, aulas teórico-
mais largos e varandas que devem estar presentes no
expositivas, geralmente referentes à história e à
programa de escolas.
cultura, e aulas em que o professor faz demonstrações.
ambientes:
72
O curso oferece 120 vagas por semestre,
Além da questão burocrática de número de
Abaixo segue o programa e as áreas dos
6
3 1 2
5
4
1
3
3
4
7
PLANTA BAIXA - ESCALA 1:300 Escola de culinária - 1º pavimento 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Sala de aula teórica Sala dos professores WC Sala de aula prática Hall Circulação vertical Varanda
N
73
LAYOUT - ESCALA 1:30 Laboratรณrio
74
5 6 4
2 2
7
1 3
1
9
8
PLANTA BAIXA - ESCALA 1:300 Escola de culinária - 2º pavimento 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.
Laboratório de culinária WC Despensa Diretoria Secretaria Circulação vertical Hall Horta orgânica DML
N
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CORTE AA’ - ESCALA 1:75 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Horta Circulação Sala de aula prática Despensa WC Drenagem Sapata DETALHE 1
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DETALHE 1 - ESCALA 1:25 1. Horta orgânica 2. Mistura de solo 180mm 3. Filtro de separação 4. Camada de drenagem 70mm 5. Barreira antiraiz 1mm 6. OBS 2mm 7. Manta Impermeabilizante 8. Isolante térmo-acustico de lã de vidro 120mm 9. Piso cerâmico 2,5mm 10. Contrapiso 5,5mm 11. Laje steel deck 12. Viga metálica 13. Forro 14. Vidro temperado 2mm 15. Parafuso 16. Chapa metálica microperfurada 17. Pilar de metal em V 60mmx20mm 18. Janela de vidro jateado branco
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CORTE BB’ - ESCALA 1:100 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
Horta Circulação Sala de aula prática Cozinha Sala do chef Circulação vertical Drenagem Sapata
DETALHE 2
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4 DETALHE 2 - ESCALA 1:25 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.
Patamar de placa metálica Viga metálica Placa metálica microperfurada Junção de pilares-viga Janela de vidro jateado branco Revestimento branco Contrapiso Laje steel deck Forro metálico 6
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CORTE CC’ - ESCALA 1:100 1. Horta 2. Condensadores (ar condicionado) 3. Sala de aula prática 4. Despensa 5. Circulação 6. Lavabo 7. WC feminino 8. Restaurante 9. Lavabo 10. WC
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CORTE DD’ - ESCALA 1:100 1. Caixa d’água 2. Horta 3. WC feminino 4. Circulação 5. Copa 6. Sala dos professores 7. Circulação 8. Escada 9. WC 10. Restaurante self-service
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1. Horta 2. Área de convivêncai 3. Despensa 4. Sala de aula prática 5. Sala de aula teórica 6. Lavabo 7. Varanda 8. Restaurante 9. Bar 10. Cozinha
CORTE EE’ - ESCALA 1:250
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1. 2. 3. 4. 5.
Horta Elevador Escada interna Área de convivência Recepção
CORTE FF’ - ESCALA 1:250
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84 FACHADA NOROESTE - ESCALA 1:300
FACHADA SUDESTE - ESCALA 1:300
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DETALHE B
FACHADA NORTE - ESCALA 1:300
FACHADA OESTE - ESCALA 1:300
1 Corte AA’ - ESCALA 1:150 Edifício anexo 1. Sala de aula 2. Circulação 3. WC 4. Rampa de acesso 5. Laboratório de culinária
Corte BB’ - ESCALA 1:150 Edifício anexo 1. Reservatório inferior 2. Sala de aula
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PLANTA BAIXA - ESCALA 1:750 Edifício anexo - Térreo 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Entrada WC Sala de aula Laboratório de culinária Reservatório inferior Lixo e gás
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3
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conclusão ______________________________________________________
Em âmbitos gerais, este trabalho demonstrou
Diferente do varal de casa, as roupas aqui
a produção de um projeto arquitetônico levando em
lavadas – processo de projetar – não devem ser
consideração os desejos e opiniões de não técnicos. A
privadas, mas sim coletivas, uma vez que modificam
metodologia foi essencial para a qualidade do produto
a dinâmica e massa da cidade. Se entendermos que a
na medida em que manteve o processo associado ao
cidade é do povo, o povo precisa ter sua voz ouvida
público.
pelos agentes que a desenham.
Por meio dos encontros, ficou claro que,
Sendo assim, é preciso mudar a forma
assim como cada projeto é único para cada sítio, a
distorcida que os arquitetos colocam os usuários: como
forma de trabalhar é única a depender do público e
seres passivos. Contudo, não é trocando papéis com
objetivo. Sendo assim, quando cabe o uso do design
eles que esse empoderamento ocorre. O essencial é o
participativo, não existe um roteiro específico para o
equilíbrio de fala e voz entre as partes.
seu desenvolvimento, no entanto, todo o processo deve
ser feito da maneira mais didática possível.
participação é o primeiro passo para um design mais
É necessário fazer planos urbanos e edifícios
responsivo, entretanto, depois de construído, o projeto,
que reflitam as aspirações de seu povo. O arquiteto
certamente, precisará de adaptações, quaisquer que
está incubido de uma responsabilidade social e legal
sejam os motivos. É dessa maneira que as nossas
sobre o projeto, no entando isso não o faz dono de
cidades são moldadas: Não existe produto, mas sim um
nenhum produto arquitetônico. Em diversos momentos
eterno processo.
O desenvolvimento de um projeto por meio da
foi necessário exercer esse desapego em relação às decisões rejeitadas nos encontros, tendo sempre em mente que o objetivo era o uso do espaço por pessoas como os participantes .
89
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