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ISSN 0104-3072

E . . .D. . I. .T. . O . . .R. . I. .A. . L. R

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NACIONAL NACIONAL

Caminhar

Revista da Associação Brasileira de Odontologia Conselho Editorial Científico Presidente: Norberto Francisco Lubiana Diretor científico: Ricardo Lombardi de Farias Secretária-executiva: Patrícia Meira Bento Conselho Consultivo Carlos de Paula Eduardo, Edela Puricelli, Edmir Matson, Geraldo Bosco Lindoso Couto, Heitor Panzeri, José Mondelli, Luciano Loureiro de Melo, Maria Carméli Correia Sampaio, Maria Fidela de Lima Navarro, Ney Soares de Araújo, Nilza Pereira Costa, Orivaldo Tavano, Orlando Ayrton de Toledo, Roberto Vianna, Salete Maria Pretto e Tatsuko Sakima. A Revista ABO Nacional é uma publicação bimestral da ABO Nacional. Sede administrativa : Rua Vergueiro, 3153, conjs. 82 e 83 - Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP 04101-300 Telefax. (+55 11) 5083.4000. Web: www.abo.org.br E-mail: abo@abo.org.br Adress to correspondence: Rua Vergueiro, 3153, conjs. 82 e 83 - São Paulo - SP - Brasil - CEP 04101-300 Web: www.abo.org.br Registrada no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), sob o Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas (ISSN) 0104-3072. A Revista ABO Nacional está indexada nas bases de Filiada à dados Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO) e Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs).

Produção e Redação: Edita Comunicação Integrada Alameda Santos, 1398 - 8º conj. 87. Telefax (+11) 3253.6485. CEP 01418-100. São Paulo (SP) - Brasil. Email: edita@editabr.com.br Diretores: Joaquim R. Lourenço e Zaíra Barros. Editora responsável: Zaíra Barros (MTb:8989). Repórter: Antonela Tescarollo (MTb: 41547), Diego Freire (MTb: 49614). Copydesk: Ricardo Palmiéri Barros. Imagens: Fotoabout. E-mail: rsm@fotoabout.com. Diagramação/artes: Edita/Victor Cruz. Diretor de Produção Gráfica: Joaquim R. Lourenço. Publicidade: MN Design (+11) 2975.3916. Impressão: Vitor Mango . Tiragem: 30 mil exemplares. Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não expressam necessariamente a posição da ABO Nacional. A ABO Nacional não se responsabiliza pelos produtos e serviços das empresas anunciantes, as quais estão sujeitas às normas de mercado e do Código de Defesa do Consumidor. É permitida a reprodução dos artigos não científicos desde que citada a fonte. Os artigos científicos ficam sujeitos à autorização expressa dos autores. Solicita-se permuta – Requests exchange – Si solicita lo scambio – Se solicita canje – On demande l’ èchange – Wir bitten um Austausch

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romover a Odontologia nacional e internacionalmente, valorizar o cirurgião-dentista no contexto técnico-científico e sociocultural e contribuir com a política de promoção de saúde bucal da população – eis a missão da ABO Nacional, definida como o norte de todos os nossos passos. E, do alto de seis anos de apaixonada e intensa atuação em defesa dessa missão, a entidade de maior representação política na Odontologia mundial pode se orgulhar de ter deixado as marcas do seu caminhar em todo o território nacional e além fronteiras, passos que vão se fazer sentir em todos as próximas conquistas para as quais nós, cirurgiões-dentistas brasileiros, seguimos caminhando. Nos últimos anos, entre uma série de avanços relatados nas próximas páginas, a ABO participou das discussões para a formulação de inúmeras políticas públicas em benefício da saúde da população brasileira, sempre enfatizando a importância de suas diretrizes permitirem sua aplicação e seu aprimoramento independente da gestão em que foram criadas. Também rumo a essa autonomia caminhou nossa entidade, para que todas as conquistas alcançadas se somem aos novos avanços de que a Odontologia nacional e a população brasileira ainda precisam. A missão de uma entidade é a maior referência de toda a sua atuação, e não se esgota em uma, duas, dez gestões. É, em última instância, uma utopia. O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu que “a utopia está lá no horizonte”, e que enquanto caminhamos dois passos rumo a ela, a própria se afasta dois passos de nós. “Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei”, resignou-se. Mas para que tentar alcançá-la, então? “Para que eu não deixe de caminhar”, responde o escritor. A todos aqueles que compartilharam dos nossos desafios nessa longa, árdua e gratificante caminhada, meus sinceros e entusiasmados agradecimentos. Uma entidade se faz com os anos através da continuidade de suas ações, do surgimento de novas ideias e, principalmente, da união e de muito trabalho de todos os envolvidos. Posso afirmar que, enfim, a ABO e a Odontologia nacional alcançam novo patamar no campo da representação política, do conhecimento científico, da valorização profissional e da promoção da saúde bucal. Colegas da Diretoria da ABO Nacional, das Seções e Regionais da Rede ABO, parceiros do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada, amigos e familiares: muito obrigado. Norberto Francisco Lubiana Conselheiro da FDI Diretor-executivo da Fola Presidente da ABO Nacional

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D I R E T O R I A

A B O

N A C I O N A L

Suplentes: Arnaldo Mário Frias Zúniga/PA, Júlio Medeir os Barros Fortes/PI e Jander Ruela Pereir a/MT Conselho fiscal Ef etivos: Paulo M. O. da Fontoura/RJ , Osmar Cutrim Fróz/MA e Luciano Teixeira da Silva/AP Associação Brasileira de Odontologia - ABO Nacional, registrada no Conselho Nacional Serviço Social sob nº 110.006/54, em 12 de janeiro de 1955. Filiada à FDI e à Fola/Oral. Conselho Executivo Nacional (CEN) Presidente: Norberto Francisco Lubiana/ES Vice-presidente: Luiz Roberto Craveiro Campos/DF Secretário-geral: Newton M. de Car valho/MG 1 o secretário: Ermenson Luiz Jorge/PR Tesoureiro-ger al: Sinval Santos P. Silva/ES 1o tesoureiro: Geraldo A.Vasconcelos Fº/PE

Vice-presidentes Re gionais Norte: Marco Aurélio Blaz Vasques/RO Nordeste: Eliar do Silveira Santos/CE Sudeste: Paulo M. O. da Fontoura/RJ Sul: Mário Thaddeu Filho/RS Centro-Oeste: Viviam Louise Dias Elias/MS

Diretores do Departamento de Avaliação de Produtos Odontológicos (Dapo) Heitor Panzeri/SP e Elza Helena G. Lara/SP Diretor científico da Revista ABO Nacional Ricardo Lombardi de Farias/PB Repr esentantes no Comissão Nacional de Convênios e Credenciamentos (CNCC) Efetivo: Ricardo Calazans Duarte/RN Suplente: Francisco das C.Pinheiro/RN Conselho Deliberativo Nacional (CDN) Presidente: Osiris Pontoni Klamas/PR Vice-presidente: J osé Barbosa Porto/CE

Assessores da Presidência Avilmar P. Galvão/BA, Ricardo Calazans Duarte/RN e João Alfredo Silva/MT Assessor internacional Roberto de Carvalho Bra ga Vianna/RJ

A B O

N O S

E S T A D O S

ABO/Acre Pres. Stanley Sandro da Silva Mendes R. Marechal Deodoro, 837, s.4 69900-210 - Rio Branco - AC Telefax(+68) 3224.0822

ABO/Maranhão Pres. Marvio Martins Dias Av. Ana Jansen,73 65051-900 - São Luiz - MA Tel. (+98) 3227.1719/Fax 3227.0834

ABO/Rio de Janeiro Pres. Paulo Murilo O. da Fontoura Rua Barão de Sertório,75 20261-050 - Rio de Janeiro - RJ Tel. (+21)2504.0002 /Fax: 2504.3859

ABO/Alagoas Pres. Tiago Gusmão Muritiba Av. Roberto M. de Brito, s/n.-Jatiuca 57037-240 Maceió - AL Telefax(+82) 3235.1008

ABO/Mato Grosso Pres. Jander Ruela Pereira Rua Padre Remeter, 170 78008-150 - Cuiabá - MT Telefax(+65) 3623.9897

ABO/Rio Grande do Norte Pres. Pedro Alzair Pereira da Costa Rua Felipe Camarão, 514 59025-200 - Natal - RN Tel. (+84) 3222.3812/Fax: 3201.9441

ABO/Amapá Pres. Daíz da Silva Nunes Rua Dr.Marcelo Cândia, 635 CP 635 68906-510 - Macapá - AP Tel. (+96) 3244.0202/Fax 3242.9300

ABO/Mato Grosso do Sul Pres. Viviam Louise Dias Elias Rua da Liberdade, 836 79004-150 - Campo Grande - MS Telefax (+67) 3383.3842

ABO/Rio Grande do Sul Pres. Flávio Augusto Marsiaj Oliveira Rua Furriel Luis Antônio Vargas, 134 90470-130 - Porto Alegre - RS Tel.(+51) 3330.8866/Fax: 3330.6932

ABO/Amazonas Pres. Alberto Tadeu do Nascimento Borges Rua Maceió, 863 69057-010 - Manaus - AM Tel. (+92) 3584.5535/3635-231

ABO/Minas Gerais Pres. Carlos Augusto Jayme Machado Rua Tenente Renato César, 106 30380-110 - Belo Horizonte - MG Tel. (+31) 3298.1800/Fax 3298.1838

ABO/Rondônia Pres. Paulo Jorge Alves Martins Rua D.Pedro II, 1407 78901-150 - Porto Velho - RO Tel. (+69) 3221.5655/Fax: 3221.6197

ABO/Bahia Pres. Delcik Santos Dutra R.Altino Serbeto Barros, 138 41825-010 - Salvador - BA Tel. (+71) 2203.4066/ Fax 2203.4069

ABO/Pará Pres. Lucila Janeth Esteves Pereira Rua Marquês de Herval, 2298 66080-350 - Belém - PA Tel. (+91) 3277.3212/Fax 3276.0500

ABO/Roraima Pres. Luiz Carlos Schwinden R. Barão do Rio Branco,1382 69301-130 - Boa Vista - RR Tel. (+95) 3224.0897/ Fax: 3224.3795

ABO/Paraíba Pres. Patrícia Meira Bento Av. Rui Barbosa,38 58040-490 - João Pessoa - PB Telefax(+83) 3222-7100

ABO/Santa Catarina Pres. Nádia Maria Fava Rua Dom Pedro I, 224 88090-830 - Florianópolis - SC Telefax (+48) 3248.7101

ABO/Paraná Pres. Osiris Pontoni Klamas Rua Dias da Rocha Filho, 625 80040-050 - Curitiba - PR Tel. (+41)3028.5800/Fax 3028.5824

ABO/São Paulo Pres. José Silvestre Rua Dr. Olavo Egídio, 154 - Santana 02037-000 - São Paulo - SP Tel. (+11) 2950.3332/Fax: 2950.1932

ABO/Pernambuco Pres. Fernando Luiz Tavares Vieira Rua Dois Irmãos, 165 52071-440 - Recife - PE Tel. (+81) 3442.8141

ABO/Sergipe Pres. Martha Virgínia de Almeida Dantas Av. Gonçalo Prado Rollemberg, 404 49015-230 - Aracajú - SE Tel. (+79) 3211.2177 Fax: 3214.4640

ABO/Piauí Pres. Júlio Medeiros Barros Fortes Rua Dr. Arêa Leão, 545 - SUL 64001-310 - Teresina - PI Tel. (+86) 3221.9374

ABO/Tocantins Pres. Luiz Fernando Varrone Av. LO15 602 Sul - Conj. 02 Lote 02 70105-020 - Palmas - TO Tel. (+63) 3214.2246/Fax: 3214.1659

ABO/Ceará Pres. José Barbosa Porto R. Gonçalves Lêdo, 1630 60110-261 - Fortaleza - CE Tel. (+85) 3311.6666/Fax 3311.6650 ABO/Distrito Federal Pres. Wesley Borba Toledo SGAS 616 - lote 115-L/2 Sul 70200-760 - Brasília - DF Tel. (+61) 3445.4800/Fax 3445.4848 ABO/Espírito Santo Pres. Luiz Carlos Bourguignon dos Santos R. Henrique Rato, 40 - Fátima 29160-812 - Vitória - ES Telefax(+27) 3337.8010 ABO/Goiás Pres. Rafael de Almeida Decurcio Av.Itália, 1184 74325-110 - Goiânia - GO Tel. (+62) 3236.3100/Fax 3236.3126

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S . . . .U. . . .M. . . .Á. . .R . . . .I . . O .. Summary

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285 Artigo original

RETROSPECTIVA Gestão 2004 - 2010

305 Revisão

Conduta dos técnicos em prótese dentária em relação à desinfecção de moldes e modelos de gesso

Um novo patamar RETROSPECTIVE

A new level

Placas oclusais x DTM – O papel do cirurgião-dentista no tratamento das disfunções temporomandibulares Occlusal splints x TMD – The function of the dentist in the treatment of temporomandibular disorders

Professional management of technicians in prosthodontics related to disinfection of moldings and models of plaster

264 Promover a Odontologia nacional e internacionalmente

269 Valorizar o cirurgião-dentista no contexto técnico-científico e sociocultural

Clarissa Rocha Martines Luiz Massaharu Yassumoto João Carlos Castro Monteiro Janayna Gomes Paiva Oliveira

Gustavo Moreira de Melo

310 Revisão A ética na relação do cirurgiãodentista com o paciente

292 Artigo original 273 Entrevista Norberto Francisco Lubiana

Presidente da ABO Nacional

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”

Ethics and dentist-patient relationship

Diagnóstico in vitro de lesões de cárie oclusal por cirurgiõesdentistas da rede pública

Bruna Cunha da Silva Renata dos Santos Vianna Alice Granthon de Souza Teresa Ávila Berlinck Kátia Regina Hostílio Cervantes Dias

Diagnosis in vitro of occlusal caries lesions by public health dentists

274 Contribuir com a

Patricia Valeria Bastos Faria Pecoraro Marcos Augusto do Rego

política de promoção de saúde bucal da população

313 Revisão Halitose: impacto social, diagnóstico e conduta terapêutica

297 Artigo original

279

INSTRUÇÕES AOS AUTORES INSTRUCTIONS TO AUTHORS

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ARTIGOS CIENTÍFICOS SCIENTIFIC ARTICLES

Artigo original Prevalência de candidose bucal em pacientes hospitalizados usuários de sonda nasogástrica Prevalence of oral candidosis in hospitalized patients with nasogastric tube Luciana Köene Vieira Rodrigues Rosimeri Fragoso Soraya de Azambuja Berti Paulo Henrique Couto Souza Fernando Henrique Westphalen

Halitosis: social impact, diagnosis and therapeutic conduct

Prevalência de defeitos do esmalte dentário em crianças com idade entre 3 e 9 anos atendidas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Prevalence of enamel defects in children with age between 3 and 9 years examined in dentistry’s course at Federal University of Paraíba Maria Germana Galvão Correia Lima Laurylene César de Souza Vasconcelos Maria de Fátima Gabínio de Siqueira Laís César de Vasconcelos

Alyne Dantas de Souza Joaquina Araújo de Amorim Ruthinéia Diógenes Alves Uchôa Lins Miliani do Amaral Souza Maciel Renaly Nunes de Lucena

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PAINEL HIGHLIGHTS

Acionado pela ABO, Conar exige alteração de anúncio sobre clareamento

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AGENDA DENTAL CALENDAR

301 Revisão Diagnóstico por imagem para os pacientes com necessidades especiais Diagnostic imaging for disabled persons

INDEXADA BBO Lilacs

1998 1998

Renata de Almeida Antonaccio Elcio Magdalena Giovani Cláudio Costa

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Capa: Produção Edita Comunicação

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RET R O S P E CTIV A ○

321 células fazendo com qualidade a Educação Continuada da Odontologia brasileira

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R E T RO S P E C T I VA

Gestão 2004 - 2010

Um novo patamar Atual Diretoria da ABO Nacional encerra sua segunda gestão em janeiro de 2010 e comemora o fortalecimento da Rede ABO e cumprimento da missão da entidade, que busca a promoção da Odontologia brasileira, a valorização do cirurgião-dentista e a contribuição com a saúde bucal da população Antonela Tescarollo e Diego Freire

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epois de seis anos e duas gestões (2004-2010), a atual Diretoria da ABO Nacional passa o bastão para novos dirigentes, que tomarão posse oficialmente em janeiro do ano que vem. A sensação entre os diretores do Conselho Executivo Nacional (CEN) da entidade ainda em exercício é a de ter alcançado um novo patamar para a entidade, já que as ações realizadas no período contribuíram para que a Odontologia brasileira desse um salto, com conquistas nos campos institucional, político, social e em educação continuada. Esta bem-sucedida atuação foi sempre pautada e orientada pela missão da ABO, que estabelece: “Promover a Odontologia nacional e internacionalmente, valorizar o cirurgião-dentista no contexto técnico-científico e sociocultural e contribuir com as políticas de promoção de saúde bucal da população”. Não por acaso, a capa da presente edição reproduz outra capa, a de folder institucional que apresenta esta missão e as diversas ações para cumpri-la. Mas as vitórias e avanços se refletiram também em ganhos para toda a Rede ABO, que se expandiu pelo Brasil, chegando hoje a 321 células, além de ter alcançado maior visibilidade e respeito, tanto em nível nacional, junto ao governo e outras entidades e instituições, quanto internacional. Buscou-se também o fortalecimento e união da entidade, que passou a ser identificada por um só logotipo, medida também adotada para as Escolas de Educação Continuada das Seções e Regionais, que agora têm nova nomenclatura, UniABO, e logotipo único.

Três focos de atuação Dentro do item “promover a Odontologia nacional e internacionalmente” da missão, a ABO intensificou sua atuação institucional e política, e alcançou maior representatividade no Ministério da Saúde, Conselho Nacional de

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Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, além de reconhecimento dentro do setor saúde em geral. Internacionalmente, a entidade tem conquistado maior espaço e respeito na Federação Odontológica Latino-americana (Fola) e na Federação Dentária Internacional (FDI), que agora tem um presidente brasileiro, o prof. Roberto Vianna, e realizará seu congresso de 2010 em Salvador (BA). Ativa politicamente, a ABO tem representado e valorizado os CDs brasileiros ao defender os seus direitos e interesses junto ao governo e outros órgãos. Assim, a entidade acompanha projetos de lei como o do piso salarial do CD e os da regulamentação da Odontologia do Esporte e do Trabalho, e participa de outras questões como a luta por melhores cursos de graduação em Odontologia, carga tributária incidente e a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Odontológicos (CBHPO). Os profissionais também são beneficiados dentro da própria Rede ABO, com o fortalecimento das suas Escolas de Educação Continuada e seu congressos oficiais, além das vantagens obtidas nos acordos firmados com outras entidades do País e do exterior. Com atuação voltada também à população, a ABO tem contribuído com as políticas de promoção de saúde bucal ao pedir mais atenção e recursos para esta área no serviço público. As reivindicações são levadas ao Ministério da Saúde, a parlamentares e até em encontro com o presidente Lula. A entidade também apoia o Programa Brasil Sorridente, que pela primeira vez incluiu a Odontologia de forma sistemática no sistema público. A ABO ainda realiza e apoia ações sociais voltadas a grupos carentes e luta contra medidas prejudiciais, como o projeto de lei que proíbe a fluoretação das águas de abastecimento público. A seguir, mais informações sobre essas conquistas, apresentadas a partir do enfoque da missão da ABO.

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Pr Odontologia Promo omov ver er a Odontolog ia internacionalmente nacional e internacionalmente A Odontologia brasileira nunca foi tão reverenciada internacionalmente, e o prestígio de que o Brasil desfruta no cenário odontológico mundial é tanto sintoma quanto causa do fortalecimento da formação e da atuação profissional dos mais de 220 mil cirurgiões-dentistas que a ABO representa

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eguindo o planejamento estratégico elaborado e aprovado pelo Conselho Deliberativo Nacional (CDN) da ABO, a entidade desenvolveu importante trabalho em nível internacional com o objetivo – alcançado e superado – de elevar a Odontologia brasileira no cenário mundial, aumentando sua visibilidade e reconhecimento e atraindo os olhos de

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todos para o País, além de trazer benefícios para todos os cirurgiõesdentistas brasileiros. Um dos principais resultados dessa atuação foi a consolidação do Brasil, representado pela ABO, como membro regular da Federação Dentária Internacional (FDI), com a maior delegação (13 delegados) e direito a voz, a voto e a ser votado nas Assembleias Gerais da entidade. Um grande avanço para um País que antes contava apenas com três delegados e não possuía força política importante na FDI. Com isso, ganharam também todos os cirurgiões-dentistas brasileiros, associados ou não à ABO, pois se estendem a eles os benefícios da afiliação à entidade internacional, como o de participar dos Congressos Anuais da FDI pagando preços especiais. Mais vantagens para os CDs do País foram conseguidas pelo acordo de cooperação com a American Dental Association (ADA), que oferece desconto na inscrição em

seu congresso e na assinatura da publicação da entidade, JADA. A ABO também tem acordos e parcerias com associações e instituições de vários países, como Bulgária, Portugal, Coreia, Estados Unidos e Moçambique, o que dá maior visibilidade mundial à Rede e possibilita cursos, eventos e intercâmbio de profissionais e de informações. Outra grande e inédita conquista foi a escolha de um brasileiro, o carioca Roberto Vianna, como presidente da FDI – primeiro latinoamericano eleito para o cargo em 108 anos da entidade internacional. Vianna, que é assessor internacional da ABO Nacional, foi escolhido em 2007, tendo ficado dois anos no cargo de presidente eleito, até que, no último Congresso da FDI, em setembro deste ano, em Cingapura, assumiu a Presidência da entidade máxima da Odontologia mundial, que reúne cerca de 1 milhão de cirurgiões-dentistas em todo o mundo. O Brasil ocupou outros importantes espaços na FDI: no Conselho da entidade, vaga para a qual o presidente da ABO Nacional, Norberto Lubiana, foi reeleito; na Comissão de Ciências; e na Federação Odontológica Latino-americana, que reúne 21 países do continente e da qual o dirigente da ABO é diretor-executivo.

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Brasil, capital da Odontologia mundial A credibilidade e a força do Brasil, e consequentemente da ABO, no cenário internacional da Odontologia também estão comprovadas com a escolha de Salvador, capital da Bahia, para sediar o Congresso Anual da FDI em setembro de 2010. O evento é o maior da Odontologia no mundo e reúne programação científica de alto nível, reuniões institucionais e políticas em torno da profissão e da saúde bucal e exposição comercial com grandes empresas nacionais e internacionais do setor. Será uma grande oportunidade para os profissionais e para os negócios brasileiros e da América Latina. E, em paralelo ao evento, ainda acontece

o Congresso Mundial da International Organization for Standardization (ISO). Antes mesmo destas conquistas da Odontologia brasileira, a crescente importância do País na FDI ficou clara pelas visitas, a convite da ABO, de vários presidentes da entidade internacional. O coreano Heung-Leung Yoon veio ao Brasil em 2004 e conheceu as Seções ABO do Distrito Federal e Rio Grande do Sul, e, junto a dirigentes da entidade, realizou audiência com o ministro da Saúde na época, Humberto Costa. Na visita, Yoon declarou que a ABO é a maior rede de educação continuada em Odontologia do mundo. Em 2006, a então presidente da FDI, Michèle Aerden, da Bélgica,

RÉSUMÉ - RETROSPECTIVE

A new level After six years and two terms (2004-2010), the current Board of the ABO National ‘passes the stick’ to the new leaders who will take office officially in January of next year. The feeling among the directors of the entity’s National Executive Council (CEN), still in exercise, is that of having reached a new level for the entity, since the actions undertaken during the period contributed to the achievements of the Brazilian dentistry in the institutional, political, social, and continuing education fields. This successful performance was always based on and guided by ABO’s mission that states: “To promote both the national and international Dentistry, to enhance the dentist in the scientific-technical and socio-cultural context and contribute to policies to promote oral health to the population”. It is not a coincidence that this issue’s cover reproduces another cover, the one of the institutional folder that presents ABO’s mission and several actions the entity took to fulfill it. But victories and achievements are also reflected in gains for the entire ABO Network, which has expanded in Brazil, now reaching 321 cells, besides achieving greater visibility and respect, both at national level, with the government and other entities and institutions, and at international level. It has also sought to strengthen and unify the entity, which became identified by a single logo, a measure also adopted by Continuing Education Schools and Regional Sections, which now have a new nomenclature, UniABO, and a single logo.

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visitou o País duas vezes, recebida pela ABO. A dirigente conheceu as Seções ABO do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, e ainda declarou que gostaria de ver um congresso mundial da FDI acontecer no Brasil. Depois de escolhida Salvador para sediar o evento internacional, a ABO recebeu na capital baiana comitiva da FDI, inclusive com o então presidente, o canadense Burton Conrod, além dos presidentes das Regionais Ásia-Pacífico, Europa e América Latina da entidade. Na ocasião, foi feita reunião com representantes do Governo da Bahia, que confirmou apoio na realização do congresso de 2010. Também Conrod reforçou que a ABO é a maior entidade da FDI e líder em educação. A atuação internacional da ABO Nacional também trouxe ao Rio de Janeiro, em julho de 2009, a Rio Caries Conference, realizada em parceria pela entidade e FDI e que lançou a Iniciativa Global Anticárie. O projeto tem o objetivo de traçar estratégias para um mundo livre da doença cárie até 2020, por meio de uma aliança global que envolve pesquisa, educação, saúde pública, indústria, sociedade e governos. A Iniciativa é promovida pela FDI, International Association for Dental Research (IADR) e International Federation of Dental Educators and Associations (IFDEA) e tem o apoio da ABO Nacional. Buscando a integração regional no âmbito da América do Sul, a ABO Nacional também participou da criação e ainda atua no Fórum Permanente Mercosul para o Trabalho em Saúde, ligado ao Ministério da Saúde e que tem o objetivo de harmonizar as legislações dos Estados participantes quanto aos bens, serviços, matérias-primas e produtos da área da saúde, entre outros.

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Junto à Confederação Odontológica da República Argentina (Cora), Associação Odontológica Uruguaia e Federação Odontológica do Paraguai, a entidade realizou as duas primeiras edições, em 2006 e 2008, do Congresso Odontológico do Mercosul. Rede forte, Odontologia forte Em suas duas gestões, a atual diretoria da ABO Nacional vem realizando trabalho voltado a unir todas as suas Seções e Regionais, tornando a ABO a entidade de maior capilaridade do Brasil. Fortalecendo sua Rede, a entidade de maior relevância política da Odontologia nacional fortalece os mais de 220 mil cirurgiões-dentistas que representa. O esforço empregado nestes anos está rendendo bons frutos para a entidade e a Odontologia brasileira de forma geral, que agora têm maior visibilidade, reconhecimento e respeito, e para todos os cirurgiões-dentistas do País, como vantagens em eventos científicos e em atividades de edu-

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cação continuada, além de forte representação e defesa da classe. Logo após a posse da primeira gestão da Diretoria, em janeiro de 2004, foi definido e aprovado planejamento estratégico para delinear todas as ações da entidade e torná-las mais efetivas no cumprimento das metas estabelecidas. Uma delas foi o levantamento completo das Seções e Regionais da ABO em todo o País, que, unificadas sob o conceito e termo Rede ABO, passaram a ser identificadas por um só logotipo. O crescimento da Rede também foi incentivado e novas Regionais vêm surgindo, saindo de 308 para 321 células hoje, além de 85 Escolas de Educação Continuada. Estas informações, publicadas em folder e em apresentação institucional, mostram a extensão da Rede ABO pelo Brasil e sua atuação política, social e em educação continuada e atualização profissional. O material é distribuído e apresentado em diversos eventos e encontros nacionais e internacionais e em visitas a deputados, senadores, ministros, entre outras autoridades. A ABO Nacional também integra toda a Rede em importantes iniciativas. Em campanha contra o tabaco em todo o País, que tem grande aceitação, são distribuídos cartazes e selos a todas as 321 células e incentivado que proibam o fumo em suas dependências. As empresas e produtos do setor odontológico sem registro na Anvisa também foram alvo de movimento que orientou toda a Rede ABO a não permitir a participação de fabricantes nesta situação em seus congressos, assim como denunciá-los às autoridades. Dando continuidade à estratégia de unificação, a Rede hoje conta com dois logotipos para identificar e estimular ações de Seções e Regio-

nais: o de Responsabilidade Social e o de Responsabilidade Ambiental. Neste intuito de integrar ainda mais toda a Rede, a ABO Nacional também está implantando a unificação do Cadastro Geral da ABO, que é um banco de dados com informações dos associados, professores, cursos e outros de todas as células. O sistema, que deve ficar pronto em breve, será disponível on-line e aberto às Seções e Regionais. Com o objetivo de também dar maior visibilidade à Odontologia e ao cirurgião-dentista brasileiro e integrá-lo melhor ao setor saúde em geral, a ABO Nacional e a ABO São Paulo firmaram, em 2005, parceria com a Hospitalar, maior feira do setor da América Latina. Assim, foram realizados anualmente junto ao evento o Congresso Internacional de Odontologia da ABO/SP e o Encontro Institucional de Profissões da Área da Saúde (Eipas), que debateu, entre outros temas, Odontologia Sistêmica – Estratégias das Áreas Médica, Odontológica e Hospitalar para Conscientizar a População. Recentemente a ABO Nacional renovou essa parceria para os próximos cinco anos. A Rede ABO também esteve presente na comemoração, no Brasil, dos 40 anos de descobrimento da Osseointegração, em 2005, e entregou ao descobridor da técnica, o pesquisador sueco Per-Ingvar Brånemark, mundialmente reconhecido pela Odontologia, a Medalha Pedro Martinelli, maior honraria da entidade. Ao mesmo tempo, foi intensificada a atuação política da ABO e o contato junto ao governo e a parlamentares para debater questões defendidas pela Odontologia, com participação ativa em órgãos e grupos em que são debatidas e

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Conquista: Comissão de Saúde Bucal no CNS

tomadas decisões sobre temas importantes para a saúde no País. Nestes contextos, assumindo caráter de entidade cidadã e atuante, a Associação Brasileira de Odontologia sempre busca defender os interesses dos cirurgiões-dentistas, a Odontologia brasileira e a saúde bucal da população. Assim, pela primeira vez a entidade tem representantes em diferentes comissões do Conselho Nacional de Saúde (CNS), importante órgão de controle social, que reúne diversos segmentos da sociedade, ao lado do governo, para definir e acompanhar as políticas públicas em saúde. No CNS, a entidade, junto com o Conselho Federal de Odontologia (CFO) e a Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO), criou a Comissão de Saúde Bucal, uma grande conquista para a Odontologia. Dentro desta mesma atuação política, a ABO é presença constante em eventos e reuniões como a Conferência Nacional de Saúde, em que esteve na comissão organizadora; Simpósio sobre Política Nacional de Saúde; Grupo de

ABO presente no debate de grandes temas brasileiros

Estudos sobre a Força de Trabalho em Saúde no Brasil; e Caravana em Defesa do SUS. Nesta última, a ABO Nacional está articulada com a Rede ABO, disponibilizando material com o logotipo da entidade, para que as Seções participem das reuniões da Caravana em seus Estados, entre outras medidas. A ABO Nacional também está mais próxima da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e participou, por exemplo, da revisão técnica do Manual de Prevenção e Controle de Risco em Serviços Odontológicos, do Comitê Técnico Assessor para Uso Racional de Antimicrobianos em Resistência Microbiana (Curarem) e da Câmara Setorial de Cosméticos. A entidade tem hoje também atuação mais diversificada em várias áreas, identificando lacunas em que é preciso posicionar a Odontologia brasileira, para defender e trazer benefícios para o cirurgião-dentista e a saúde bucal da população. Uma das primeiras ações neste sentido foi o acionamento do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), em 2005, contra propaganda para a TV da Coca-Cola que mostrava uma jovem abrindo a garrafa do refrigerante com os dentes. Em ofício enviado ao órgão, a entidade explicou os sérios danos que esse movimento pode causar à saúde bucal e que o comercial poderia estimular os telespectadores, especialmente crianças, a fazer igual. O Conar atendeu o pedido, suspendeu a propaganda e a CocaCola a retirou do ar. A notícia foi divulgada pela assessoria de imprensa da ABO e teve muita repercussão na grande imprensa. Cerca de dois anos depois, a ABO Nacional voltou a acionar o Conar pedindo providências em relação às propagandas do Gel Clareador Extra White, que não

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mencionavam a importância do acompanhamento do cirurgiãodentista no processo e ainda anunciavam que o produto tem “as mesmas características do clareamento profissional”. Em novembro deste ano, o Conar apresentou sua decisão final, favorável à ABO, e reprovando o anúncio, advertindo os responsáveis por ele e ainda recomendando sua alteração. Mais uma importante vitória para a Odontologia. E a atuação política da ABO está além dos temas exclusivamente de saúde, chegando a questões que interferem na profissão do cirurgião-dentista de alguma forma e na sociedade em geral. Assim, a entidade foi uma das primeiras a compor o Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, movimento que luta contra a pesada carga tributária imposta ao profissional brasileiro. As mais de 1.800 entidades da sociedade civil unidas no Fórum pressionam o governo e participam ativamente de vitórias importantes, como a derrubada das Medidas Provisórias 232 e 275, que aumentavam a carga tributária paga pelos prestadores de serviços e das microempresas e as de pequeno porte, e da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). E, agora, continua a movimentação contrária à criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), considerada a volta da CPMF. Dentro do Fórum do Empreendedor, a ABO também participou da luta e da vitória contra o aumento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) na cidade de São Paulo. Nestas outras frentes de atuação, a entidade esteve, ainda, na audiência pública promovida pelo Ministério Público para debater a corrupção eleitoral.

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Falando com a população

Imprensa: ABO na mídia em 25,4 dias por mês A visibilidade da ABO nos meios de comunicação praticamente dobrou neste ano, em relação a 2005. A imprensa procura por dados da ABO diariamente, seja para entrevistas, levantamento de informações ou para servir de referência a todos os assuntos que dizem respeito à Odontologia, e os publica com frequência de mais de 25 dias/mês. Há um ano, foi feito levantamento semelhante para aferir a divulgação da entidade no período 20052008, apontando como resultado que a mídia nacional citava a ABO, em média, 15 vezes/mês. No último mês de setembro, este número chegou a 229 notícias – ou seja, em 25,4 dias de cada mês a entidade é fonte para jornalistas.

Falando com o CD

3,3 mil páginas de informação Os cirurgiões-dentistas brasileiros receberam informações preparadas especialmente para eles pela ABO Nacional, distribuídas por diversos meios, no período 2004-2009. No total, notícias de interesse da profissão, da Odontologia, de caráter informativo e científico foram impressas em 3.360 páginas nas publicações ABO. Destas, 1.356 destinaramse a artigos científicos que retrataram parte da produção brasileira no campo odontológico. Portal ABO: Abrindo um canal direto com os CDs, o Portal ABO mantém atualizados conteúdos de interesse e disponibiliza o JABO e a Revista ABO Nacional, ambos on-line – e agora em sistema flash (que permite visualização na íntegra da diagramação e virar as páginas na tela do computador) para leitura e consultas de todos os internautas. ABO On-line: Ferramenta ágil, leva informações privilegiadas a 143 mil CDs. Até novembro, foram 175 boletins eletrônicos distribuídos, perfazendo o envio de 25 milhões de emails à classe odontológica

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Valorizar o cirurgião-dentista no contexto técnico-científico e sociocultural Os mais de 220 mil cirurgiões-dentistas brasileiros têm tido suas necessidades profissionais ecoadas nas mais diversas instâncias do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil pela atuação multidisciplinar da ABO, ampliada e fortalecida nos últimos anos

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as quem são esses profissionais? Uma das ações mais recentes da ABO em prol do cirurgião-dentista pretende ajudar a responder a esta pergunta. Trata-se do envolvimento da entidade na formulação do Perfil Atual e Ten-

dências do Cirurgião-dentista Brasileiro. Promovido pelo Ministério da Saúde, Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e Observatório de Recursos Humanos em Odontologia da FOUSP, o trabalho tem o objetivo de

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averiguar quantos profissionais atuam no País, como se distribuem geograficamente, quanto ganham e outras informações que vão ajudar a entender a Odontologia contemporânea e suas perspectivas. A ABO tem auxiliado no processo participando das reuniões do ministério e fornecendo informações sobre os cursos da entidade, que tem a maior rede de educação continuada odontológica do País. Também participam da pesquisa o Conselho Federal de Odontologia (CFO), Associação Brasileira de Ensino Odontológico (Abeno), Associação Paulista de Cirurgiões-dentistas (APCD) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). E para garantir que esses profissionais possam desempenhar sua importante função social nas melhores condições, a ABO tem fundamentado e acompanhado uma série de projetos de lei no Congresso Nacional, em diversas comissões da Câmara e do Senado na sua vigilância. Graças a esse trabalho, o Projeto de Lei 3734/2008, que fixa o piso salarial de cirurgiões-dentistas e médicos em R$ 7 mil por 20 horas semanais, foi aprovado pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. Para que a

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proposta entre em vigor da forma mais adequada às necessidades dos cirurgiões-dentistas, já foram realizadas visitas ao autor e ao relator do projeto, em Brasília, assim como reuniões com entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 54% dos empregos do setor estão no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diante disso, a ABO tem participado dos maiores fóruns de discussão da atuação profissional na saúde pública. A ausência de uma política de gestão de trabalho, a dificuldade de fixar profissionais em determinados municípios e a falta de isonomia salarial afetam diretamente a qualidade da prestação de serviços aos usuários. Para debater uma proposta para o funcionalismo público, a ABO representou a Odontologia brasileira no Semi-

Entidade atenta para resguardar interesses da Odontologia

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nário Nacional sobre Plano de Carreiras, Cargos e Salários no SUS, em Brasília (DF). As discussões foram promovidas pelo Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde do Ministério da Saúde. A atuação de cirurgiões-dentistas em um dos mercados que mais lucram no País, o da saúde suplementar, também ganhou importante instrumento de valorização, o Código Brasileiro Hierarquizado de Procedimentos Odontológicos (CBHPO), documento que servirá para o cálculo dos valores cobrados por procedimentos odontológicos em todo o território nacional, facilitando a negociação com as operadoras de planos de saúde. A elaboração do CBHPO, finalizada no último mês de agosto, foi encabeçada pelas entidades que formam a Comissão Nacional de Convênios e Credenciamentos (CNCC) – entre elas, a ABO, uma de suas fundadoras, e executada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas de São Paulo (Fipe), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP). Agora, a CNCC concentra suas forças para que o CBHPO seja transformado em lei. Em paralelo, a ABO tem participado de uma série de reuniões

junto a outras entidades odontológicas, com técnicos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e representantes das operadoras de planos de saúde para tratar da proposta de unificação do Rol de Procedimentos Odontológicos com o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. A entidade participa ativamente da revisão do documento, influindo em seu formato, procedimentos, nomenclatura e compatibilização de tabelas. A ABO defende, ainda, a inclusão de 15 novos procedimentos odontológicos no conjunto de procedimentos que as operadoras são obrigadas a oferecer. Territórios odontológicos Não só a ampliação da atuação profissional do CD tem sido defendida pela ABO. O espaço já conquistado é igualmente defendido, preocupação responsável pelo resguardo das atribuições do cirurgião-dentista no Ato Médico, como ficou conhecido o projeto de lei que regulamenta o exercício da Medicina. O Ato Médico causou polêmica por afetar direta ou indiretamente 14 profissões da Saúde, inclusive a de cirurgião-dentista. A aprovação do substitutivo que resguarda o exercício da Odontologia foi resultado de ampla negociação, da qual a ABO foi uma das protagonistas. As atividades odontológicas foram resguardadas pela inclusão do parágrafo 6º, que se refere às atribuições privativas dos médicos e diz que “o disposto neste artigo não se aplica ao exercício da Odontologia, no âmbito de sua área de atuação”. Outros projetos de lei que afetam diretamente a atuação profissional do cirurgião-dentista têm sido acompanhados pela ABO, através de reuniões no Congresso Nacional e nos minis-

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os únicos profissionais dos quais a ABO se ocupa. A força política da entidade teve participação efetiva na sanção da Lei 11.889, que regulamentou o exercício das profissões de Auxiliar em Saúde Bucal (ASB) e de Técnico em Saúde Bucal (TSB) em todo o País. A atuação da entidade foi reconhecida em artigo do cirurgião-dentista sanitarista e doutor em Saúde Pública Paulo Capel Narvai, professor titular da Universidade de São Paulo (USP).

Capacitação também por meio do ensino a distância

térios da Saúde, do Trabalho e do Planejamento, Orçamento e Gestão, entre outros, como o PL 422/ 07, que fortalece a especialidade da Odontologia do Trabalho, tornando obrigatória a realização de exames odontológicos periódicos pelo empregador; e o PL 3653/ 1997, que regulamenta as perícias oficiais de natureza criminal e inclui o perito odontolegista, entre outros cargos. A lei já em vigor também não escapa do olhar vigilante da ABO. Junto à Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO) e ao Conselho Federal de Odontologia (CFO), a entidade propõe o fim da necessidade de perícia médica em licenças para tratamento odontológico emitidos por cirurgiões-dentistas a servidores públicos estatutários. A proposta das três entidades odontológicas prevê a alteração da Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União e

das autarquias e fundações públicas, e que determina, em seus artigos 202 e 203, que a perícia para fins de concessão de licença para tratamento de saúde seja realizada por um médico ou junta médica. A iniciativa defendida pela ABO tem como base a Lei 5.081/ 66, que regulamenta a profissão de cirurgião-dentista e que, em seu art. 6º, confere poderes ao profissional para emitir atestados para justificação de faltas ao emprego para tratamentos odontológicos. A ABO também tem se posicionado contra o exame de proficiência para recém-formados em Odontologia. A posição foi definida pelo Conselho Deliberativo Nacional (CDN), que entende que o exame é capaz de avaliar apenas o conhecimento teórico do graduado, não abrangendo sua habilidade e destreza numa situação real. Os cirurgiões-dentistas não são

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Ciência sem territórios A atuação da ABO em prol do cirurgião-dentista se estende à sua qualidade técnico-científica, através do controle da sua formação e de parcerias com a iniciativa privada. Como a que levou ao desenvolvimento dos programas de atualização odontológica a distância Pro-Odonto, fruto de parceria entre a ABO Nacional e a Artmed Panamericana Editora. O ProOdonto integra o Sistema de Educação em Saúde Continuada a Distância (Sescad) e oferece cursos em Implantodontia, Estética, Cirurgia, Prevenção Prótese Dentária e Ortodontia, com uma série de recursos on-line e multimídia, como o e-Learning, que oferece portal exclusivo para cada programa e traz, entre outros recursos, biblioteca virtual e vasto clipping de saúde. Ao defender a Odontologia brasileira, a ABO automatica-

Luta constante pela qualidade da saúde e da educação

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Meios digitais agilizam comunicação da Rede ABO

mente se preocupa com o ensino e a formação do profissional, e tem lutado por isso junto ao governo e com ações voltadas diretamente aos cirurgiões-dentistas e acadêmicos. No nível político, a entidade divulgou, em março deste ano, Carta Aberta em que se manifesta publicamente sobre temas que considera relevantes em saúde e educação. Um dos pontos principais do documento são as medidas apresentadas em defesa da melhoria da formação odontológica, como o maior controle sobre as vagas e cursos de Odontologia abertos indiscriminadamente e o fecha-

ABO On-line, ferramenta eficaz que chega a 143 mil CDs

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mento das faculdades precárias. O objetivo é conscientizar e exigir do poder público e das instituições de ensino suas responsabilidades. A carta foi entregue e lida para deputados federais e senadores com que a ABO Nacional se reuniu em Brasília, inclusive para o presidente da Câmara Federal, Michel Temer. O problema e o documento foram apresentados ainda em reunião com a diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad. Dirigentes da entidade também foram recebidos pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que garantiu à ABO que ainda neste ano os cursos com conceito baixo seriam fiscalizados, para que fossem tomadas providências. Para elucidar a questão das vagas e cursos que têm sido abertos indiscriminadamente, a entidade ainda mostrou ao ministro dados que indicam que, enquanto a população brasileira cresceu 17% em 10 anos, o número de cirurgiões-dentistas em atividade aumentou 82%. A atualização e o aperfeiçoamento dos profissionais nas Escolas de Educação Continuada da Rede ABO, a maior do mundo em Odontologia, também estiveram na pauta das ações da atual diretoria da ABO Nacional. Os interesses diretos da Rede foram defendidos em diversas audiências realizadas no Ministério da Educação, para reivindicar mais espaço para os cursos das ABOs. E para dar mais força e união à Rede, foi criada, pelos Conselhos Executivo Nacional e Deliberativo Nacional da ABO (CEN e CDN) e diretores das escolas, a nova nomenclatura para as Escolas de Aperfeiçoamento Profissional (EAPs), que passaram a se chamar UniABO – Escola de Educação Continuada, com novo

e único logotipo para identificála em todo o Brasil. O novo nome foi definido em defesa da unidade de todas as escolas, além de fazer parte de um esforço conjunto pela padronização dos procedimentos do sistema de educação continuada da entidade. A ABO também contribui para a atualização de cirurgiõesdentistas, acadêmicos e profissionais auxiliares através dos seus congressos oficiais, realizados anualmente em diversas regiões do País e que levam informação científica e clínica atualizada aos participantes. Todos os eventos da Rede passaram a integrar o Calendário Oficial e têm recebido apoio da ABO Nacional em sua realização e divulgação. Dados levantados no período 2007 e 2008 apontaram crescimento de 20% de público nesses eventos. A contribuição na atualização do profissional é dada também pelas informações divulgadas nos veículos de comunicação da ABO Nacional. Nos últimos seis anos, foram publicadas na Revista ABO Nacional 2.304 páginas de artigos científicos, além de outros artigos assinados e reportagens sobre pesquisa e clínica odontológica no Jornal e Portal ABO e no boletim ABO On-line. A revista, inclusive, adotou em 2006 as normas estilo Vancouver, oferecendo aos autores e leitores o que há de mais recente nas tendências de publicações em saúde. Os estudantes de Odontologia também foram contemplados através do Jornal ABO/Programa Futuro Profissional, criado e desenvolvido em parceria com a Colgate no início de 2008 e distribuído gratuitamente para mais de 30 mil acadêmicos de todo o Brasil. A publicação está em sua sexta edição e criou um canal de comunicação direto entre entidade e acadêmicos.

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entrevista

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Norberto Francisco Lubiana Presidente da ABO Nacional Gestão 2004-2010

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”

bstinado e trabalhador incansável, Norberto Francisco Lubiana contribuiu, em 6 anos, para a consolidação da liderança da ABO no País e no mundo, fincando a bandeira do Brasil no cenário internacional. Vitórias a serem compartilhadas com os mais de 220 mil cirurgiões-dentistas brasileiros - 1/3 dos profissionais do planeta. Neste rápido pingue-pongue e no editorial desta edição, Lubiana destaca a ABO como referência institucional, e fala de dedicação e de novos horizontes, citando o poeta português Fernando Pessoa e o uruguaio Eduardo Galeano.

Revista ABO Nacional - Qual a maior realização da gestão 2004-2010? NFL- Não considero nenhuma ação específica como a mais relevante. A nossa gestão tem que ser analisada pelo conjunto e abrangência das ações realizadas, que colocaram a ABO em patamar jamais visto em toda a sua história, tanto em nível nacional como internacional. Hoje a entidade é referência mundial. Quero agradecer a toda a minha diretoria e também as diretorias de todas as Seções e Regionais que formam a Rede ABO, aos parceiros corporativos, aos amigos e à minha família, todos são parte destas conquistas, pois em cada Estado e em cada município houve ações que ajudaram este crescimento. RAN- Qual foi o papel da ABO nesses 6 anos na Odontologia? NFL - Penso que a ABO teve papel fundamental na construção das políticas públicas de saúde e em outras ações que ampliaram o mercado de trabalho para os CDs, e na defesa de projetos de lei voltados à saúde da população, como o da regulamentação da EC (Emenda Constitucional) 29. Muitos outros projetos que dizem respeito a todos os cidadãos brasileiros, como a derrubada da Medida Provisória 232 e o fim da CPMF, também tiveram a atuação da entidade,

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contribuindo para conter o aumento da carga tributária. RAN - O sr. finaliza agora uma etapa na ABO. Quais seus planos para o futuro? NFL- Nos próximos 3 anos vou continuar ocupando os cargos de conselheiro da FDI e de diretorexecutivo da Fola. Penso que de lá poderei contribuir com a ABO e com a Odontologia brasileira. No campo pessoal, voltarei às minhas atividades científicas, de docência, de atuação clínica e também a outras atividades pessoais, incluindo nestas um convívio maior com a família e os amigos. RAN- E como o sr. vê o futuro da ABO? NFL- Construímos e consolidamos as bases políticas e as diretrizes que deverão ser aperfeiçoadas para a manutenção e ampliação das conquistas. O trabalho é árduo, mas acredito que com o empenho de todos poderemos alcançar patamares ainda melhores. RAN - Valeu a pena? NFL - Gosto muito da frase do poeta português Fernando Pessoa que diz “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Me dediquei de corpo e alma e posso dizer que, com certeza, valeu a pena.

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Contrib uir com a política de promoção Contribuir promoção bucal ucal da população de saúde b

Foto: Andrea Felizolla

Todos os passos da ABO caminham para a mesma direção: a promoção da saúde, com a devida atenção à saúde bucal como fundamental para o bom funcionamento de todo o organismo, o bem-estar do indivíduo e a saúde das populações

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oi com esse conceito que a ABO contribuiu para que o Brasil entrasse na história da Odontologia mundial ao sediar o lançamento da Iniciativa Global Anticárie, no último mês de julho. Desenvolvida pela Federação Dentária Internacional (FDI) em parceria com a ABO, a Associação Internacional de

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Pesquisa Odontológica (IADR) e a Federação Internacional de Educadores na área de Odontologia e Associações (IFDEA), a ação tem o objetivo de traçar estratégias para um mundo livre da cárie até 2020, através de ações coordenadas por uma aliança global que envolve pesquisa, educação, prática, saúde

pública, indústria odontológica, sociedade civil e governos. O projeto foi lançado com a realização da Conferência Global Anticárie – Rio, durante o 19º Congresso Internacional de Odontologia do Rio de Janeiro (CIORJ). Na ocasião, Nigel Pitts, um dos mais importantes pesquisadores internacionais

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Rio Conference, referência na história da Odontologia

em Cariologia, ministrou curso promovido pela ABO Nacional complementado e ampliando temas também abordados na Conferência. Pitts, então presidente da conceituada Organização Europeia para Pesquisa em Cariologia (Orca) e membro da IADR e da Associação Europeia para Saúde Bucal Pública, abordou as evidências científicas sobre a cárie, suas consequências e controle e o que há de consenso sobre isso, entre outros assuntos. A escolha do Brasil para sediar a primeira Conferência Global Anticárie não se deu à toa. É resultado do reconhecimento internacional de que desfruta a Odontologia brasileira, representada nos maiores fóruns da saúde bucal mundial pela ABO, que faz ecoar pelo mundo os avanços aqui conquistados nos últimos anos. A entidade foi protagonista dos principais marcos desses avanços: o desenvolvimento da Política Nacional de Saúde Bucal, o Brasil Sorridente, e a realização do Levantamento das Condições de

CDs em equipes de UTIs, nova postura em prol do paciente

Saúde Bucal da População Brasileira, o SB-Brasil. Ao mesmo tempo em que se posiciona como parceira do poder público no desenvolvimento de políticas públicas e ações em benefício do ideal de acesso irrestrito a serviços de saúde de qualidade, a ABO se une à sociedade civil organizada para exigir que novas posturas sejam tomadas. Foi assim que a Rede ABO se uniu a mais de mil manifestantes para protestar, em frente ao Palácio do Planalto e à luz de velas, ao anoitecer do dia 14 de julho de 2007, pela regulamentação da Emenda Constitucional 29, que obriga União, Estados e municípios a investir percentuais mínimos na saúde, organizando o repasse de verbas ao setor. Após a mobilização, o governo federal liberou R$ 2 bilhões para a saúde, e a EC 29 segue acumulando apoios e se fortalecendo no Congresso Nacional. Enquanto a EC 29 não é regulamentada, a ABO, junto a outras entidades odontológicas, disponibiliza cartilha aos milhares de prefeitos de municípios de todas as regiões do País com orientações sobre como utilizar recursos públicos em saúde bucal. De olho no Legislativo Uma série de projetos de lei também têm sido acompanhados pela ABO no Congresso Nacional e em outras instâncias do Poder Legislativo – alguns deles, motivados pela própria entidade. É o caso do PL 2776/08, que tramita na Câmara e torna obrigatória a inclusão de cirurgiões-dentistas nas equipes multidisciplinares das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), e o PL 488/08, em trâmite na As-

Rev. Rev. ABO ABO Nac. Nac. -- Vol. Vol. 17 17 nº nº 55 -- Outubro/novembro Outubro/novembro 2009 2009

PL para proteger a saúde bucal de atletas

sembleia Legislativa de São Paulo, que trata do mesmo assunto. Em reunião com o Departamento Amib-ABO, parceria entre a ABO Nacional e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo garantiu total apoio à proposta. Graças à atuação da parceria firmada entre ABO e Amib, o PL federal também tem acumulado importantes apoios. Além de parlamentares, também aderiram à proposta os profissionais representados pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva (Sobrati). Em seu site, a entidade destacou o tema Odontologia Intensiva e publicou matéria com informações sobre a necessidade de cuidar da saúde bucal do paciente crítico e os riscos que ele corre com a falta desse serviço. Há poucos anos de o Brasil sediar, pela primeira vez, os Jogos Olímpicos, também tem ganhado força o PL 5.391/2005, que objetiva garantir aos atletas, profissionais ou não, cuidados especiais com sua saúde bucal, principalmente em caso de traumatismo dental, para que o atendimento seja feito rapidamente. A proposta, formulada pela ABO Nacional e pela ABO Uberlândia, foi aprovada por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. As entidades esportivas se-

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Assuntos referentes à Odontologia têm acompanhamento corpo a corpo em Brasília

rão as responsáveis pelo serviço, que deve ser prestado por cirurgião-dentista. Além de propor PLs que beneficiam a saúde bucal e integral, a ABO trabalha contra propostas que representam ameaça à população. Graças a essa atuação, foi arquivado o PL 297/ 2005, que previa o fim da adição do flúor em águas de abastecimento público. A entidade participa, ainda, de uma série de discussões sobre o assunto, como o 1º Fórum Regional Fluoretação das Águas de Abastecimento, realizado na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, pelo Comitê das Entidades de Classe da Odontologia (Ceco), do qual a ABO faz parte.

Defesa do flúor tem atenção permanente

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Saúde bucal como política de Estado Para que a atenção pública à saúde bucal não se restrinja a iniciativas do Legislativo, a ABO vinha reivindicando, nos últimos anos, em reuniões com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, mudança na estrutura do ministério para criação de espaço permanente para a Odontologia. Nos mais de 100 anos de história da Odontologia como profissão com formação superior no Brasil, nunca a área havia sido contemplada com uma diretoria ou mesmo uma condição que lhe desse mais autonomia no Ministério da Saúde. Nos mesmos encontros, o presidente da ABO enfatizou a importância de o Brasil Sorridente e as demais políticas públicas da área da saúde serem políticas de Estado, continuadas e aprimoradas ao longo do tempo, independente da gestão em que foram criadas. Tanto Temporão quanto Lula garantiram apoio às reivindicações. Recentemente, o

presidente da República tornou pública a preocupação do governo em elaborar políticas com garantias de autonomia, e, no último mês de julho, foi instalada a Comissão Intersetorial de Saúde Bucal do Conselho Nacional de Saúde (Cisb-CNS). Formado por 26 membros especialistas no setor, o grupo vai discutir a aplicação das políticas públicas previstas na Política Nacional de Saúde Bucal, criada em 2004, e propor soluções para sua ampliação. A Cisb representa a oficialização do espaço da saúde bucal no poder público federal, mas outros espaços de discussão de políticas já vinham sendo ocupados pela Diretoria da ABO Nacional, como as Conferências Nacionais de Saúde, instâncias com representação dos vários segmentos sociais que têm como objetivo avaliar e propor diretrizes para a formulação das políticas públicas da área nas três esferas de governo: nacional, estadual e municipal. A ABO também participou da 4ª Conferência Nacional de Saúde Indígena; Seminário Nacional de Controle Social nas Políticas de Saúde para as Mulheres; 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde; 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador; 3ª Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família; 3º Concurso Nacio-

Ao pres. Lula: “Saúde bucal como política de Estado”

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Projeto Um Sorriso pela Estrada: apoio ABO

nal de Experiências em Saúde da Família; e 4º Seminário Internacional de Atenção Primária à Saúde, entre outros. Prevenção e promoção A defesa da saúde bucal e integral também é uma constante em ações de prevenção promovidas pela ABO. A entidade solicitou e publicou, no Jornal ABO Nacional, uma série de artigos científicos sobre flúor, de autoria dos pesquisadores Jaime Cury e Lívia Maria Andaló Tenuta, para atualizar e conscientizar os cirurgiões-dentis-

Ações sociais fazem parte do cotidiano da Rede ABO

tas de todo o Brasil sobre as bases científicas do uso do mineral. Além do JABO, também publicaram os artigos o ABO On-line e Portal ABO. A ABO combate o tabaco em diversos flancos. Antecipando-se às legislações estaduais que baniram o uso de cigarro e derivados de tabaco em ambientes de uso coletivo – públicos ou privados –, a entidade decretou, em 2007, todos os seus ambientes (congressos, clínicas, salas de aula etc.), em todo o Brasil, 100% livres de fumaça de cigarro. A medida foi tomada em consonância com a Federação Dentária Internacional (FDI), que, em resolução oficial, enfatiza que “não há nenhum nível seguro de exposição ao ar contaminado por fumaça de tabaco”, chamando a atenção para a necessidade de se “promulgar leis sem exceções para proteger as pessoas dos perigos da fumaça do cigarro alheio”. As 321 unidades da ABO, espalhadas por todo o território nacional, também realizam em suas regiões campanhas de combate ao fumo e de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal, destacando o tabaco como fator de risco. A ABO também orienta, constantemente, através de seus veículos de comunicação, sobre prevenção de gripe A no consultório, dando informações atualizadas tendo como fontes a FDI, a OMS, a OSAP, o Ministério da Saúde e entidades de biossegurança. Uma das formas de prevenir o contágio pelo vírus H1N1 e importante medida de biossegurança na área da saúde, a lavagem das mãos também tem sido incentivada pela ABO, através de campanha encabeçada pela OMS, da qual a

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ABO participa oficialmente. Junto à sociedade, a ABO tem participado de uma série de atividades que têm como objetivo incentivar ações de prevenção e a promoção da saúde bucal. No carnaval de 2005, para chamar a atenção na nação para a importância da higiene bucal, vários membros da Rede ABO participaram do desfile da Escola de Samba Viradouro, no Rio de Janeiro, que apresentou o enredo A Viradouro é Só Sorriso. Cirurgiões-dentistas associados realizaram atendimento odontológico gratuito para os integrantes da escola. Diversas ações sociais têm sido realizadas e apoiadas pela ABO Nacional em todo o território nacional. Os projetos Um Sorriso pela Estrada e Um Piano pela Estrada contam com o apoio da entidade em seu trabalho de prevenção, que já beneficiou mais de 50 mil crianças em todas as regiões do País, incluindo as cidades mais longínquas e carentes. Em São Paulo, foi inaugurada, com apoio da ABO Nacional, a Clínica Multidisciplinar Beneficente Dr. Flávio Luce, na sede da Escola de Samba Unidos de Vila Maria, na Zona Norte da capital paulista. Os 12 cirurgiões-dentistas voluntários da ação contam com a melhor estrutura odontológica para atender crianças carentes da região todos os dias da semana. A ABO também tem sido parceira da iniciativa privada na promoção da saúde bucal. A entidade apoia, entre outras ações, a Temporada Colgate de Saúde Bucal, evento promovido ao longo de todo mês de outubro com o objetivo de orientar a população sobre a importância dos cuidados com a higiene bucal.

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Instruções aos autores A Revista ABO Nacional é uma publicação bimestral da Associação Brasileira de Odontologia, dirigida à classe odontológica e aberta à publicação de artigos inéditos de investigação científica, relatos de casos clínicos, resumo de teses, artigos de revisão e/ou atualização, bem como reportagens sobre assuntos diversos relacionados à Odontologia. Os artigos devem ser enviados em cópia impressa e gravados em mídia digital regravável (CD ou disquete), em arquivo de editor de texto compatível com Windows (para PC). 1 - Apresentação dos artigos Os artigos devem ser inéditos, não sendo permitida a sua apresentação simultânea em outro periódico. Reservam-se os direitos autorais do artigo publicado, inclusive de tradução, permitindo-se, entretanto, a sua reprodução como transcrição e com a devida citação da fonte. Todos os artigos são analisados pelo Conselho Editorial Científico que avaliam o mérito do trabalho. Aprovados nesta fase, os artigos são encaminhados ao Conselho Consultivo (revisão por pares) que, quando necessário, indicam as retificações que devem ser feitas antes da edição. Quando houver mais de cinco autores justificar a efetiva contribuição de cada um deles. Os artigos devem atender à política editorial da Revista e às instruções aos autores baseadas no “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”* (estilo Vancouver), elaborado pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE). O idioma do texto pode ser o português, o inglês ou o espanhol, desde que tenha título, palavras-chave e resumo traduzidos para o português, pelo autor. Exigem-se declaração assinada pelo autor, responsabilizando-se pelo trabalho, em seu nome e dos coautores; carta anexa, constando nome, endereço, telefone e e-mail do autor que ficará responsável pela correspondência; duas vias (original e cópia) acompanhadas cada uma das respectivas imagens. Recomenda-se que os autores retenham outra cópia em seu poder. Os artigos devem ser digitados (fonte Times New Roman, corpo 12) e impressos em folha de papel tamanho A4, com espaço duplo e margens laterais de 3 cm e ter até o máximo de 15 laudas com 30 linhas cada (incluindo ilustrações). As ilustrações (gráficos, quadros, desenhos e fotografias) devem ser apresentadas em folhas separadas e numeradas, em algarismos arábicos. Cada tipo de ilustração deve ter a numeração própria seqüencial de cada grupo. As legendas das fotografias, desenhos e gráficos devem ser claras, concisas e localizadas abaixo das ilustrações e precedidas de numeração correspondente. As ilustrações devem ser mencionadas no texto em seguida onde foram citadas, limitadas até o número máximo de 10. As imagens referentes aos trabalhos devem ser apresentadas na dimensão 12 x 9 em contraste correto, em papel. Porém, dá-se preferência a imagens digitalizadas, que devem ter resolução de, no mínimo, 300 DPIs. Não são aceitas imagens no formato cromo ou slides. Não se adota o procedimento de publicação de foto do autor. As tabelas devem ser numeradas, consecutivamente, em algarismos arábicos. As legendas das tabelas e quadros devem ser colocadas na parte superior das mesmas. Não traçar linhas internas horizontais ou verticais. As notas explicativas devem vir no rodapé da tabela. Para unidades de medida usar somente as unidades legais do Sistema Internacional de Unidades (SI). Quanto às abreviaturas e símbolos, utilizar somente abreviaturas padrão. O termo completo deve preceder

a abreviatura quando ela for empregada pela primeira vez, salvo no caso de unidades comuns de medida. As notas de rodapé são indicadas por asteriscos e restritas ao indispensável. 2 -Ética Estudos que envolvam seres humanos, bem como prontuários clínicos, devem ter o consentimento por escrito do paciente e aprovação da Comissão de Ética da Unidade (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus complementos). 3 - Preparo dos manuscritos Página de identificação: título do artigo e subtítulo em português e inglês (conciso, porém informativo); nome do(s) autor(es), indicando em nota de rodapé um título e uma única filiação por autor, sem abreviaturas e endereço eletrônico. Resumo/Abstract: deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do trabalho. Usar a terceira pessoa do singular e verbo na voz ativa. Os resumos devem ter até 250 palavras, no máximo. Os resumos dos artigos originais devem conter informação estruturada constituída de Introdução – Material e Métodos – Resultados – Conclusões. Para outras categorias, o formato do resumo deve ser o narrativo. Palavras-chave/Key words: identificam o conteúdo dos artigos. Consultar: Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/Bireme) disponível em http://decs.bvs.br; Descritores em Odontologia (DeOdonto/SDO-FOUSP); “Medical Subject Headings” (MeSH/Index Medicus). 4 - Estrutura do texto INTRODUÇÃO – Deve ser concisa, explanar os pontos essenciais do assunto e o objetivo do estudo baseado em referências fundamentais. MATERIAL E MÉTODOS – Descreve a seleção dos indivíduos que intervieram na pesquisa, incluindo os controles e os métodos relacionados às etapas da pesquisa. Os métodos e os equipamentos (apresentar nome, cidade, país do fabricante entre parênteses), bem como os fármacos incluindo os nomes genéricos e produtos químicos, devem ser identificados no texto. RESULTADOS – Apresentar os resultados, sempre que possível, subdividido em itens e apoiado em gráficos, tabelas, quadros e figuras. DISCUSSÃO – Enfatizar os aspectos novos e importantes do estudo e não repetir em detalhes, o que já foi citado em Introdução e Resultados. CONCLUSÃO (ÕES) – Vincular as conclusões aos objetivos do estudo e respaldadas pelos dados. Quando for conveniente incluir recomendações. AGRADECIMENTOS – Quando necessários, devem ser mencionados os nomes dos participantes e/ou instituições que contribuíram para o trabalho. Para relato de casos apresentar: INTRODUÇÃO, RELATO DE CASO, DISCUSSÃO e CONCLUSÃO. 5 - Referências (estilo Vancouver) Citar as referências, no máximo 30, por ordem

alfabética de autores e numeradas em ordem crescente (www/nlm.nih.gov/bsd/uniform_require ments.html) Os títulos dos periódicos devem ser abreviados de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus” (www.nlm.nih.gov/) Publicações com dois autores até o limite de seis citam-se todos; acima de seis, acrescentar em seguida a expressão et al. Exemplos: Artigo de periódico Brinhole MCP, Teixeira R, Tosta M, Giovanni EM, Costa C, Melo JAJ, et al. Intubação submental: evitando a traqueostomia em cirurgia bucomaxilofacial. Rev Inst Ciênc Saúde. 2005; 23(2):169-72. Artigo de periódico em formato eletrônico Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];102(6):[about 3 p.]. Available from: www.nursingworld.org/AJN/2002/june/ Wawatch.htm Livro Newman MG. Carranza periodontia clínica. 9ª ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan; 2004. Livro em formato eletrônico Marzola C. Transplante e reimplante [CD-ROM]. São Paulo: Pancast; 1997. Dissertação e tese Ferreira TLD. Ultra-sonografia – recurso imaginológico aplicado à Odontologia [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo; 2005. Comunicação pessoal e citação de citação (apud) devem ser evitadas. Quando consideradas essenciais, devem ser citadas no texto e indicadas em notas de rodapé, sem fazer parte da lista de referências. Identificar os autores no texto em algarismos arábicos em forma de potenciação correspondente às referências. Citar os nomes dos autores no texto com seus respectivos números sobrescritos e data entre parênteses só quando for necessário enfatizálos. Quando houver dois autores mencionar ambos ligados pela conjunção “e”, acima de dois, cita-se o primeiro autor seguido da expressão et al. Exemplos: A prótese adesiva foi introduzida há poucas décadas3. Loe et al.2 (1965) comprovaram que o acúmulo de placa bacteriana está relacionado com o desenvolvimento da gengivite. Recomenda-se que incluam também a bibliografia nacional existente. A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores.

Enviar originais dos artigos para: Sede Administrativa da ABO Nacional Rua Vergueiro, 3153, Conj. 82 - 04101-300 - São Paulo - SP - Brasil - Telefax: (+5511) 5083-4000 E-mail: abonacional@uol.com.br

Rev. ABO Nac.Submitted - Vol. 17 nº 5 - Outubro/novembro 279 * Uniform Requirements for Manuscripts to Biomedical Journals. Bethesda :2009 NLM; 2005 [updated 2005 Oct; cited 2005 Oct 24]. Available from: http://www.icmje.org/


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Artigo original

Prevalência de candidose bucal em pacientes hospitalizados usuários de sonda nasogástrica Prevalence of oral candidosis in hospitalized patients with nasogastric tube Palavras-chave: Candidíase bucal. Intubação gastrointestinal. Key words: Candidiasis,oral. Intubation, gastrointestinal.

Luciana Köene Vieira Rodrigues* Rosimeri Fragoso** Soraya de Azambuja Berti*** Paulo Henrique Couto Souza**** Fernando Henrique Westphalen*****

RESUMO

Introdução - O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo observacional sobre a prevalência de candidose bucal em pacientes hospitalizados, sobretudo naqueles usuários de sonda nasogástrica Material e Método - A amostra compreendeu 94 pacientes internados em um hospital universitário da cidade de Curitiba. Inicialmente os prontuários médicos foram analisados e, em seguida, realizou-se a anamnese e o exame físico. Durante a análise dos prontuários foram coletados dados referentes à história médica do paciente e ao uso de sonda nasogástrica durante o período de internação. Tanto a anamnese direcionada, quanto o exame físico, possibilitaram o diagnóstico clínico das lesões bucais de candidose. Resultados - Os resultados foram analisados com os testes estatísticos do Qui-quadrado e da diferença entre duas proporções, com um nível de significância de 5% e mostraram que cerca de um terço dos pacientes internados neste hospital eram portadores de candidose bucal. Vinte e três pacientes utilizavam sonda nasogástrica e destes, oito pacientes apresentavam candidose bucal. Conclusão - A candidose bucal é uma doença prevalente em pacientes hospitalizados, sendo que o uso de sonda nasogástrica é um fator de risco em potencial para o desenvolvimento e/ou o agravamento da doença. Torna-se necessário investir em saúde bucal nos hospitais visando a melhoria da qualidade de vida dos pacientes internados. ABSTRACT

Aluna do Curso de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), bolsista do PIBIC/CNPq, . Estudo oriundo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da PUCPR. E-mail: lucianakoene @yahoo.com.br ** Aluna do 2o grau do Colégio Estadual João Batista Vera, bolsista do PIBIC Júnior e auxiliar na realização da pesquisa. E-mail: rosi meri.fragoso@yahoo.com.br *** Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da PUCPR, responsáveis pela supervisão do trabalho. E-mail: sorayaberti @hotmail.com **** Professor adjunto da PUCPR e orientador. Email: couto.s@pucpr.br *****Professor titular da PUCPR e coorientador. Email: f.westphalen@pucpr.br *

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Introduction - The aim of this research was to develop an observational study about the prevalence of oral candidosis in hospitalized patients, mainly those users of nasogastric tube. Material e Method - The sample was constituted by 94 institutionalized patients of an university hospital from Curitiba city. First, the medical prontuaries of the patients were analyzed followed by the anamnesis and physical examination. For the analysis of medical prontuaries, the patients’ data related to their medical history and use of nasogastric tube during the period of hospitalization were collected. Both anamnesis and physical examination allowed the clinical diagnosis of oral candidosis lesions. Results - The results were analyzed by statistical tests of Qui-square and difference between two proportions with a significance level of 5% and showed that almost one third of the patients who were admitted in the hospital presented oral candidosis. Twenty three patients were using nasogastric tube and from this total, 8 patients presented oral candidosis. Conclusion - Oral candidosis is a prevalent disease in hospitalized patients and the use of nasogastric tube is a potential risk factor to its development. It is necessary to invest in oral health in hospitals to improve the patients’ quality of life.

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INTRODUÇÃO

A candidose foi primeiramente detectada no homem por Hipócrates (460 a 337 a.C.) que a descreveu como placas brancas encontradas na boca de recém-nascidos e pacientes debilitados. Em 1835, Verón postulou a transmissão da candidose durante o parto. Onze anos depois, Berg demonstrou a presença de Candida albicans na boca de crianças sadias. A associação deste fungo a enfermidades debilitantes ocorreu simultaneamente na Alemanha e Suécia, segundo os relatos de Bennett e Berg, nos anos de 1844 e 1846, respectivamente10. A candidose é uma infecção fúngica muito comum, que pode apresentar diferentes formas de manifestações bucais. A Candida, fungo causador da doença, é um microrganismo habitual da microbiota bucal, presente em aproximadamente 50% da população, no entanto, grande parte destes indivíduos não possui evidências clínicas da infecção, pois o desenvolvimento da doença depende da relação do hospedeiro com o micro-organismo9. Segundo Marcucci7 (2005) o agente etiológico de maior frequência para a candidose pertence ao gênero Candida da espécie albicans, porém outras espécies também são descritas, entre elas: tropicalis, pseudotropicallis, parapsilosis, estellatoidea, guillermondie e crusei. As espécies do gênero Candida apresentam dimorfismo, ou seja, podem apresentar-se tanto na forma de levedura quanto na de hifas, sendo esta última associada à invasão dos tecidos do hospedeiro8. Esta doença, também conhecida por candidíase ou monilíase, é uma infecção superficial oportunista predisposta por fatores locais e sistêmicos. Os fatores locais incluem o uso de aparelhos ortodônticos e protéticos, mudanças nos hábitos alimentares, deficiência na higiene bucal, hipossalivação e ainda, o tabagismo. Já os fatores sistêmicos relacionados são o uso de algumas medicações e doenças sistêmicas, como o Diabetes mellitus, na qual a candidose bucal torna-se muito prevalente.6,8 Neville et al.8 (2004) citaram que as infecções por Candida geralmente são assintomáticas, entretanto podem estar

Fig. 1 - Paciente com sonda nasogástrica em vista frontal (A) lateral (B)

relacionadas a xerostomia, ardência, sensação de queimação e disfagia e, estes sintomas, quando presentes, interferem, e muito, na qualidade de vida dos pacientes. Segundo Neville et al.8 (2004) a candidose da mucosa bucal pode apresentar formas clínicas variadas: a pseudomembranosa é a mais comum e caracterizada pela presença de placas brancas aderentes na mucosa; a eritematosa pode apresentar diversas manifestações clínicas (candidose atrófica aguda, atrofia papilar central, queilite angular e candidose atrófica crônica); e, a candidose crônica hiperplásica e a mucocutânea, ambas mais raras. Um aspecto importante observado em alguns pacientes hospitalizados é a utilização de sonda nasogástrica (SNG), pela qual o paciente se alimenta sempre que há contraindicação ou impossibilidade de utilização da via oral fisiológica. As infecções associadas à utilização de implantes médicos invasivos, como por exemplo, a sonda nasogástrica, estão relacionadas com a formação de biofilme neste dispositivo. A natureza da estrutura deste biofilme, bem como as características das células que o constituem, conferem uma resistência aos agentes antimicrobianos e às defesas naturais do organismo.1,2 Estas sondas podem ser utilizadas para a descompressão gastrointestinal ou para a alimentação enteral, especialmente em unidades críticas (UTIs) entretanto, estes aparelhos favorecem a proliferação da microbiota habitual, podendo torná-la patogênica. Em contra partida, sabe-se que a atenção à saúde bucal nos hospitais é deficien-

te, o que provavelmente possa ser explicado pela ausência de cirurgiões-dentistas, bem como, pela falta de orientação e treinamento dos profissionais da área de saúde que trabalham dentro dos hospitais7. O objetivo desta pesquisa foi realizar um levantamento epidemiológico sobre a prevalência da candidose bucal, principalmente em pacientes usuários de sonda nasogástrica internados em um hospital universitário da cidade de Curitiba. MATERIAL E MÉTODO

Esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Realizou-se um estudo observacional transversal descritivo cuja amostra compreendeu 94 pacientes internados em um hospital universitário da cidade de Curitiba, nos meses de junho e julho de 2007, atendidos aos finais de semana. Os critérios de exclusão para esta pesquisa incluíram os pacientes que estavam utilizando antifúngicos e aqueles que não consentiram na participação da pesquisa ou impossibilitavam o exame clínico. Os prontuários médicos foram avaliados com o objetivo de coletar dados como idade, sexo, profissão, procedência, doença de base, tempo de internação, doenças preexistentes, medicações em uso, resultados de exames complementares e hábitos como o etilismo e o tabagismo. Informações relacionadas ao uso de sonda nasogástrica também foram obtidas destes prontuários (Figura 1).

Rodrigues, Luciana Köene VieiraNac. et al.-Prevalência bucal em pacientes Rev. ABO Vol. 17 nº de 5 -candidose Outubro/novembro 2009 hospitalizados usuários de sonda nasogástrica

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Tabela 1 - Prevalência de candidose bucal em pacientes internados nos meses de Junho/ Julho 2007.

Doença

Pacientes

Porcentagem

61 32 93 1 94

64,89 34,04 98,94 1,06 100,00

Sem doença Com doença Total Sem resposta Total Fig. 2 - Candidose aguda pseudomembranosa localizada em palato duro bilateralmente

Tabela 2 - Prevalência de candidose bucal em pacientes usuários de sonda nasogástrica, internados nos meses de Junho/Julho 2007.

Doença Sonda Sem uso SNG Com uso SNG Total

Presença de candidose

Ausência de candidose

Total

53 8 61

17 15 32

70 23 93

p=0,0007

portância dos cuidados com a saúde bucal, principalmente durante a internação. Fig. 3 - Exemplo de candidose atrófica aguda em dorso de língua

Após a análise dos prontuários, realizou-se o exame clínico. A anamnese foi direcionada a fim de identificar os sintomas relacionados à doença, como secura bucal, ardência e sensação de queimação. O exame físico extrabucal foi realizado obedecendo a seguinte sequência: inspeção do tegumento, palpação das cadeias linfáticas da região da cabeça e pescoço (facial, parotídea, submandibular, sublingual, cervical), e inspeção e palpação dos lábios superior e inferior, verificando possíveis alterações na coloração, tamanho e consistência. O exame físico intrabucal realizado, visando à identificação das lesões bucais de candidose segundo o aspecto clínico e a localização destas lesões (Figuras 2 e 3), consistiu na inspeção e palpação das mucosas labiais superior e inferior, mucosas jugais direita e esquerda, assoalho bucal, superfícies dorsal e inferior da língua, palato e pilar amigdaliano. Ao final do exame físico de cada paciente, orientava-se o mesmo, bem como os familiares e responsáveis, sobre a im-

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RESULTADOS

Os resultados desta pesquisa foram analisados, inicialmente, pelo teste do Quiquadrado com nível de significância de 5%, para verificar a dependência estatística entre as variáveis estudadas. Em seguida, para as variáveis com significância estatística, foi aplicado o teste de diferença entre as duas proporções, a fim de identificar as categorias que apresentaram dependência entre si. DISCUSSÃO

O desenvolvimento da candidose é resultado da complexa interação entre o hospedeiro e o microorganismo, desta forma a infecção por Candida pode variar desde o leve envolvimento da mucosa até a candidemia, sendo esta uma doença potencialmente fatal.8 Um dos principais fatores que contribuem para o aparecimento da candidose é o uso de antibióticos de largo espectro, porque quando usados continuamente causam um desequilíbrio na microbiota bucal habitual, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos patógenos1. Goldman e Ausiello (2005) citaram que o paciente que normalmente desen-

volve a candidose grave é o imunossuprimido com malignidade hematológica, neutropenia e usuário de corticosteróides e drogas citotóxicas, entretanto, ainda referiram que estes dados vêm mudando gradualmente, pois altos índices de candidose grave em pacientes internados em UTIs têm sido observados, onde fatores de risco como o uso de antibióticos de amplo espectro e cateteres permanentes são potenciais. Os trabalhos de Pittet9 et al. (1994) e Epstein3 et al. (2003), mostraram que o uso de antibióticos aumenta o risco para infecção fúngica por Candida, recomendando a descontinuidade deste tipo de tratamento tão logo quanto possível em pacientes sistemicamente comprometidos. Em contrapartida, Fanello4 et al. (2001) não encontraram relação entre antibioticoterapia e candidose adquirida em pacientes idosos durante o período de internação. Embora a presente pesquisa não estivesse investigando a relação direta de antibioticoterapia em pacientes hospitalizados com a ocorrência de candidose bucal, ressalta-se o fato de que pacientes com sonda nasogástrica encontram-se em uma condição sistêmica muito debilitada, sendo que muitos fazem uso de antibióticos durante a internação, o que predispõe ainda mais à candidose bucal.

Rodrigues, Luciana Köene Vieira et al. Prevalência de candidose bucal em ABO pacientes hospitalizados de sonda nasogástrica Rev. Nac. - Vol. 17 nºusuários 5 - Outubro/novembro 2009


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Thomas11 et al. (1992) referiram que a presença da sonda nasogástrica provoca, durante a passagem nasal, resposta inflamatória da mucosa, edema e obstrução mecânica dos óstios dos seios da face, favorecendo quadros de sinusite. Nestas situações, discute-se que pacientes com sinusites maxilares desenvolvem a respiração bucal quando estão utilizando sonda nasogástrica, favorecendo o ressecamento das mucosas bucais e dificultando a deglutição, o que poderia predispor ou agravar quadros clínicos de candidose bucal. Thomas11 et al. (1992) confirmaram em seu estudo que a presença da sonda nasogástrica aumenta a colonização orofaríngea com bactérias patogênicas e ressaltaram a importância deste achado para pacientes críticos, nos quais esta neocolonização pode tornar-se um foco para o desenvolvimento de uma infecção fulminante. Deve-se considerar ainda a formação de biofilmes nestes dispositivos, o que assegura a manutenção da microbiota patogênica tanto por promover a proliferação destes microrganismos como por aumentar sua resistência. Da mesma forma, os trabalhos realizados por Cardoso1 (2004) e Chandra2 et al. (2001) constataram que estes aparelhos favorecem a proliferação da microbiota habitual, tornando-a patogênica e conferem resistência aos microrganismos contra agentes antimicrobianos e defesas naturais do organismo pela sua susceptibilidade à formação de biofilmes. A Tabela 1 apresenta os resultados da prevalência de candidose bucal nos pacientes hospitalizados, afetando 34,04% da amostra deste estudo. Isso significa que, aproximadamente, um terço dos pacientes atendidos (32) possuíam lesões bucais de candidose e consequentemente, necessitavam de cuidados específicos para o tratamento da doença. Mesmo que os resultados tivessem sido menores do que o encontrado, é importante salientar que a candidose bucal, por ser uma infecção fúngica oportunista, encontra nos pacientes hospitalizados condições favoráveis para o seu desenvolvimento e se apresenta de maneira mais agressiva do que em situ-

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APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

Rodrigues, Luciana Köene Vieira Nac. et al. -Prevalência bucal em pacientes Rev. ABO Vol. 17 nºde 5 -candidose Outubro/novembro 2009 hospitalizados usuários de sonda nasogástrica

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ações ambulatoriais, comprometendo o prognóstico destes pacientes. Por isso, fazse necessário o controle desta infecção em ambientes hospitalares, mesmo que um número reduzido de pacientes seja acometido pela doença. Os resultados da Tabela 2 mostraram que houve dependência estatística entre o uso da sonda nasogástrica e a presença de lesão de candidose bucal, pois, dos 23 pacientes que usavam sonda, 8 apresentavam lesões de candidose bucal. Isto pode ser explicado, pelo fato da sonda nasogástrica ser utilizada em pacientes muito debilitados, imunossuprimidos e que já fazem uso de antibióticos, tornando-se um fator predisponente ou agravante da candidose bucal. Além destes aspectos, o uso destes dispositivos, de acordo com Thomas11 et al. (1992), predispõe à respiração bucal, reduzindo o umedecimento da boca. O ressecamento bucal por sua vez, causa desconforto para a deglutição, permite o acúmulo de secreções de origem gástrica e pulmonar além de predispor ao aparecimento de quadros agudos de candidose. O número de pacientes atendidos neste estudo representa uma pequena amostra da população hospitalar em questão, considerando o período de dois meses para a realização da pesquisa e a característica observacional da mesma. Porém, independente do número de pacientes atendidos, a presença de candidose bucal em pacientes hospitalizados associada ao uso de sonda nasogástrica, conforme os resultados preliminares apresentados neste estudo, ressalta a necessidade e a relevância clínica de estudos e do atendimento odontológico em hospitais, por meio dos quais, os pacientes desde o dia da sua internação até a alta hospitalar, possam ser constantemente acompanhados, bem como tratados, procurando analisar quais fatores sistêmicos e locais causam ou predispõem ao apareci-

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mento da candidose bucal. Este estudo apresenta, sobretudo, uma correlação entre o uso da sonda nasogástrica e a presença de candidose, ressaltando a necessidade de maior atenção em relação à saúde bucal, principalmente considerando a potencial gravidade desta doença nestes pacientes, que, em sua maioria, já estão muito debilitados. Há uma grande necessidade de investir na atenção à saúde bucal em hospitais, a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, principalmente, naqueles usuários de sondas nasogástricas, nos quais a higiene bucal, um procedimento simples e não dispendioso, pode evitar o agravamento da condição sistêmica. CONCLUSÕES

1. Conclui-se que a prevalência de candidose bucal nos pacientes internados no hospital universitário de Curitiba, durante o período de estudo, foi de 34,04%, sendo esta doença relacionada a uma etiologia multifatorial, destacando-se, tanto fatores locais, como a presença de próteses, quanto fatores sistêmicos, como a imunossupressão e o uso de determinadas medicações. 2. Os resultados desta pesquisa mostraram que o uso de sonda nasogástrica foi considerado um fator de risco em potencial para o desenvolvimento de candidose, embora estudos longitudinais aumentando o número da população de pacientes sejam recomendados. 3. Diante do exposto, salienta-se a importância do atendimento odontológico em hospitais, auxiliando a equipe médica e de enfermagem, e promovendo, não só melhor condição bucal no período de internação, como também melhor qualidade de vida para o paciente. AGRADECIMENTO

Os autores agradecem ao Prof. Dr.

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Narciso Grein, Professor Titular da Disciplina de Estomatologia do Curso de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela revisão deste artigo com suas sempre valiosas contribuições ao nosso conhecimento. REFERÊNCIAS 1. Cardoso BC. Efeitos de antifúngicos em suspensões e biofilmes de Candida albicans e Candida dubliniensis. [dissertação de mestrado em Biotecnologia] Braga: Escola: Escola de Engenharia, Universidade Portugal: Universidade do Minho; 2004. 2. Chandra J, Kuhn DM, Mukherjee PK, Hoyer LL, McCormick T, Ghannoum MA. Biofilm formation by the fungal pathogen Candida albicans: development, architecture and drug resistance. J Bacteriol. 2001;183(18): 5385-94. 3. Epstein JB, Hancock PKJ, Nantel S. Oral candidiasis in hematopoietic cell transplantation patients: an outcome-based analysis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2003;96(2):154-63. 4. Fanello S. Candida albicans acquisition in a geriatric unit: epidemiology and evidence for person to person trasmission. J Hosp Infect. 2001;47(1):46-52. 5. Goldman L, Ausiello D. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 22ª ed. São Paulo: Elsevier; 2005. 6. Marcucci G. Estomatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 7. Morgan R, Tsnag J, Harrington N, Fook L. Survey of hospital doctors´ attitudes and knowledge of oral conditions in older patients. Postgrad Med J. 2001;77(908):392-4. 8. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral & maxilofacial. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. 9. Pittet D, Monod M, Suter PM, Frenk E, Auckenthaler R. Candida colonization and subsequent infections in critically ill surgical patients. Ann Surg. 1994;220(6):751-8. 10. Ribeiro EL, Guimarães RI, Inácio MCC, Ferreira WF, Cardoso CG, Dias SMS et al. Aspectos das leveduras de Candida vinculadas as infecções nosocomiais. Newslab. 2004;64:106-28. 11. Thomas S, Raman R, Idikula J, Brahmadathan N. Alterations in oropharyngeal flora in patients with a nasogastric tube: a cohort study. Crit Care Med. 1992;20(12):1677-80.

Rev. Nac.hospitalizados - Vol. 17 nº usuários 5 - Outubro/novembro 2009 Rodrigues, Luciana Köene Vieira et al. Prevalência de candidose bucal emABO pacientes de sonda nasogástrica


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Artigo original

Conduta dos técnicos em prótese dentária em relação à desinfecção de moldes e modelos de gesso Professional management of technicians in prosthodontics related to disinfection of moldings and models of plaster Palavras-chave: Desinfecção. Materiais para moldagem odontológica. Infecção hospitalar. Key words: Disinfection. Dental impression materials. Cross infection.

Clarissa Rocha Martines* Luiz Massaharu Yassumoto** João Carlos Castro Monteiro*** Janayna Gomes Paiva Oliveira****

RESUMO

Introdução - A possibilidade de infecção cruzada entre laboratórios e consultórios odontológicos, constitui uma preocupação constante, sendo responsabilidade dos profissionais da área odontológica evitar que isto venha acontecer. Um dos meios de transmissão de doenças infectocontagiosas é através de moldes, modelos de gesso e próteses, contaminados com saliva, sangue e secreções dos pacientes. Assim, torna-se necessária a adoção de medidas eficazes de biossegurança, incluindo a desinfecção desses trabalhos. Material e Métodos - Com o objetivo de avaliar o conhecimento e a conduta profissional de vinte e sete técnicos em prótese dentária, selecionados aleatoriamente, na cidade de Campo Grande (MS), foi elaborado um questionário de múltipla escolha quanto à prática de desinfecção de trabalhos protéticos. Resultados - São poucos os profissionais que realizam adequadamente a desinfecção de moldes e a maioria não realiza a desinfecção de modelos de gesso. Conclusões - A prática de desinfecção de moldes e modelos de gesso não é praticada rotineiramente pelos profissionais, demonstrando desconhecimento dos métodos que visam o controle da infecção cruzada. ABSTRACT

Cirurgiã-dentista e Professora Substituta da Disciplina de Estomatologia da Faculdade de Odontologia Prof. Albino Coimbra Filho da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Faodo/ UFMS). E-mail: clarisrm@yahoo.com.br ** Especialista, Mestre e Professor responsável pela Disciplina de Materiais Dentários da Faodo/UFMS. *** Cirurgião Bucomaxilofacial pelo Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da UFMS. E-mail: jccmdf@hotmail.com **** Cirurgiã-dentista, Residente em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da UFMS. *

Introduction - The possibility of crossed infection within laboratories and dental offices constitutes a constant concern and the responsibility of impeding this event to happen belongs to the dental professionals. One of the ways of transmission of infectcontagious diseases is through moldings, models of plaster and prostheses polluted with saliva, blood and patients’ secretions. Therefore, it is strongly necessary the adoption of biosecurity effective measures, including the disinfection of all works involved. Material and Methods - The objective of this research was to evaluate the knowledge and the professional management in prosthodontics of twenty-seven technicians, randomly selected in the Brazilian city of Campo Grande (MS), through a multiple choice questionnaire related to the dental job disinfection practices. Results – Few professionals correctly perform the disinfection of the moldings and the majority doesn´t disinfect the models of plaster. Conclusions – The practice of disinfecting the moldings and models of plaster is not generally performed by the professionals which demonstrates some disinformation about the correct disinfection protocol used to control the crossed infection.

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INTRODUÇÃO

Representa uma grande preocupação e responsabilidade para profissionais da área de saúde bucal, a possibilidade de infecção cruzada entre laboratórios e consultórios odontológicos4,11-12,23. Cirurgiões-dentistas, técnicos em prótese dentária e auxiliares odontológicos estão suscetíveis a um grande número de microrganismos patogênicos capazes de transmitir doenças; tal fato tem direcionado a atenção às técnicas de desinfecção e esterilização, praticadas no ambiente odontológico5,18,26. Nascimento et al.19 (1999) afirmaram que doenças como gripe, tuberculose, hepatite e Aids podem ser transmitidas para toda a equipe odontológica através dos moldes e modelos de gesso; este risco é aumentado pela capacidade de vários microrganismos sobreviverem por um período considerável de tempo, mesmo quando fora dos fluidos corporais. A contaminação de moldes com variadas quantidades de sangue e saliva é uma ocorrência de rotina no tratamento odontológico e, por isso, esses materiais são conhecidos como transportadores de microrganismos e potenciais transmissores de doenças a todo o pessoal que os manipula constantemente2,7,13. Leung e Schonfeld13 (1983) comprovaram cientificamente a transferência de microrganismos para o modelo de gesso através de moldagens. Scaranelo et al.26 (2003) salientaram a importância de conhecer os tipos de materiais de moldagem que os profissionais têm utilizado, visto que as variações de composição, textura e lisura de superfície, afetariam a capacidade destes materiais em absorver ou adsorver os microrganismos, além de influenciar no seu potencial de transmissão. A maior parte dos materiais que são encaminhados aos laboratórios de prótese não suportam temperaturas elevadas, desse modo, deve-se optar pelo emprego de agentes químicos que promovam uma esterilização/desinfecção adequadas8. A lavagem dos moldes em água corrente, previamente à desinfecção, é fundamental, pois além de reduzir significante-

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Gráfico 1 - Porcentagem de TPDs segundo o tempo de profissão, Campo Grande (MS). (n = 27)

Tempo de profissão

Gráfico 2 - Porcentagem de TPDs segundo a checagem de desinfecção prévia do molde, Campo Grande (MS). (n = 27)

Checa desinfecção prévia

A categoria “não se aplica” refere-se a profissionais que não recebiam moldes, já recebiam modelos de gesso prontos Gráfico 3 - Porcentagem de TPDs segundo a frequência de desinfecção de moldes, Campo Grande (MS). (n = 27)

Desinfecção dos moldes

A categoria “não se aplica” refere-se a profissionais que não recebiam moldes, já recebiam modelos de gesso prontos Gráfico 4 - Porcentagem de TPDs segundo o agente químico utilizado na desinfecção de moldes, Campo Grande (MS). (n = 14)

Agente químico

Cada TPD poderia indicar um ou mais agentes químicos que utilizam na desinfecção de moldes, a porcentagem é relativa a 14 profissionais

Martines, Clarissa Rocha et al. Conduta dos técnicos em prótese dentária em relação e modelos de 2009 gesso Rev. ABO Nac. à- desinfecção Vol. 17 nº 5de- moldes Outubro/novembro


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mente o número de bactérias da superfície por remover sangue, saliva e outros resíduos orgânicos, sua não realização pode comprometer a eficácia de alguns desinfetantes8,17. Na escolha do método de desinfecção é importante observar o agente químico com relação à compatibilidade entre o molde/modelo/prótese e o comprometimento das propriedades físico-químicas dos materiais de moldagem e modelos, principalmente se for levado em conta, o tempo de exposição, a estabilidade das soluções desinfetantes e a eficácia dos procedimentos de desinfecção10,21,26. Segundo Sales et al.24 (2003) pode-se observar na maioria dos laboratórios de prótese: falta de rigor no controle do potencial de contaminação durante os procedimentos, trabalhos em condições não higiênicas e manipulação de próteses sem qualquer método de proteção individual. Assim, o objetivo deste trabalho foi obter dados sobre o comportamento e nível de conhecimento ou informação dos técnicos e auxiliares que trabalham nos laboratórios de prótese na cidade de Campo Grande (MS), em relação aos procedimentos de desinfecção de moldes e modelos de gesso. MATERIAL E MÉTODOS

Foi elaborado um questionário (Figura 1) a ser respondido por técnicos em prótese dentária que desenvolvem suas atividades profissionais em Campo Grande (MS). Os técnicos entrevistados foram selecionados aleatoriamente a partir da lista de técnicos em prótese dentária registrados no Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso do Sul. O questionário foi entregue pessoalmente e deixado para ser respondido a trinta profissionais, dos quais, vinte e sete (90%) responderam. Continha quinze perguntas divididas em dois grupos: Grupo I (desinfecção de moldes) e Grupo II (desinfecção de modelos de gesso). Procurando preservar a espontaneidade e a sinceridade das respostas, não foi solicitada a identificação dos profissionais participantes. Anteriormente, obte-

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Tabela 1 – Número e porcentagem de TPDs segundo o tipo de material de moldagem recebido no laboratório, Campo Grande (MS). (n = 27)

Tipo de material

%

Não se aplica Alginatos Siliconas Godiva Pasta de OZE Poliéter Polissulfetos Hidrocolóide reversível

2 25 24 19 11 8 6 4

7,4 92,6 88,9 70,4 40,7 29,6 22,2 14,8

Cada TPD poderia indicar um ou mais tipos de materiais, a porcentagem é relativa a 27 protéticos. A categoria “não se aplica” refere-se a profissionais que não recebiam moldes, e sim modelos de gesso prontos Tabela 2 – Número e porcentagem de TPDs segundo a lavagem dos moldes, Campo Grande (MS). (n = 14)

Lavagem dos moldes Antes da desinfecção Sim Não Depois da desinfecção Sim Não

%

14 0

100,0 0,0

11 3

78,6 21,4

Tabela 3 - Número e porcentagem de TPDs segundo a metodologia de desinfecção de moldes, Campo Grande (MS).

Metodologia

N

Método utilizado Imersão Spray Outros Tempo de imersão 10s 5 min 10 min 30 min 60 min Mais de 60 min Tempo de spray 10s 5 min 10 min 30 min 60 min Mais de 60 min Igual método Sim Não

14

%

8 6 1

57,1 42,9 7,1

0 4 3 0 0 1

0,0 50,0 37,5 0,0 0,0 12,5

4 1 1 0 0 0

66,7 16,7 16,7 0,0 0,0 0,0

12 2

85,7 14,3

8

6

14

Na categoria “método utilizado” cada TPD poderia indicar uma ou mais maneiras utilizadas na desinfecção, sendo a porcentagem relativa a 14 profissionais

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Tabela 4 – Número e porcentagem de TPDs segundo a desinfecção de modelos de gesso, Campo Grande (MS).

Desinfecção

N

Frequência Não realizam Realizam Agente químico Glutaraldeído Hipoclorito de sódio Clorexidina Compostos fenólicos Óxido de etileno Álcool 70| Outros

27

%

22 5

81,5 18,5

3 2 0 0 0 0 0

60,0 40,0 0 0 0 0 0

5

Tabela 5 – Número e porcentagem de TPDs segundo a metodologia de desinfecção de modelos de gesso, Campo Grande (MS).

Metodologia

N

Método utilizado Spray Imersão Tempo de Spray 10s 5 min 10 min 30 min 60 min Mais de 60 min Tempo de Imersão 10s 5 min 10 min 30 min 60 min Mais de 60 min

5

%

3 2

60,0 40,0

2 1 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0

66,7 33,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 50,0 50,0 0,0 0,0 0,0

3

2

ve-se a assinatura do Formulário de Consentimento Esclarecido. Os dados foram tabulados e trabalhados estatisticamente e analisados no EPIINFO 2002, um sistema de processamento de texto, banco de dados e estatística para uso em microcomputadores, onde foram obtidos valores relacionados à frequência e porcentagem das alternativas de cada questão. RESULTADOS

Foram entrevistados 27 técnicos em prótese dentária, dos quais 96,3% eram do

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sexo masculino e 3,7% do sexo feminino. A maioria (40,7%) exercia a profissão há mais de 21 anos. Esses dados encontramse no Gráfico 1. Questionados sobre os materiais de moldagens recebidos no laboratório para confecção do modelo de gesso, 92,6% responderam receber moldes de alginato, enquanto 7,4% dos profissionais disseram não receber moldes, e sim, os modelos de gesso prontos. A relação dos outros materiais de moldagens recebidos no laboratório para “vazar” o gesso, está demonstrada na Tabela 1.

Ao questionar se a equipe do laboratório que recebe o molde, tem o cuidado de saber se os mesmos já estão desinfetados, foram obtidos os resultados mostrados no Gráfico 2. Quanto à realização da desinfecção dos moldes, caso não tenha sido realizada em consultório, os resultados estão relatados no Gráfico 3. Aos profissionais que realizam a desinfecção dos moldes que chegam ao laboratório, foi questionado sobre o protocolo de desinfecção utilizado. Foram feitas perguntas sobre a lavagem prévia e posteriormente ao processo de desinfecção; agente químico (desinfetante) utilizado; metodologia; e, tempo de desinfecção. Os resultados desses questionamentos estão colocados na Tabela 2, Gráfico 4 e Tabela 3. No Grupo II, caracterizado pela realização de procedimentos de desinfecção de modelos de gesso, os dados estão na Tabela 4. Também foi questionado aos profissionais que realizam desinfecção de modelos de gesso, o método e tempo utilizados. Os resultados estão presentes na Tabela 5. DISCUSSÃO

É grande a importância do modo de realização de procedimentos de desinfecção de moldes e modelos de gesso no exercício da profissão do cirurgião-dentista e do técnico em prótese dentária (TPD), tendo em vista que esses materiais quando contaminados constituem, comprovadamente, fontes de infecção; também de grande importância é a falta de informação em relação à forma correta da realização desses procedimentos1,8-9. Porém, dentre os procedimentos executados pelos TPDs, um dos mais negligenciados é a desinfecção de materiais contaminados que chegam ao laboratório e que, não podem ser esterilizados22, justificados por esses profissionais, como sendo esta responsabilidade do cirurgião-dentista, antes de enviar os materiais para o laboratório6; desse modo, é fundamental que exista uma interação entre consultório e laboratório, a fim de que esta etapa não seja esquecida e venha a se tornar um problema3,12,15,24-25.

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Em algumas cidades do Brasil já foram realizadas pesquisas a respeito do conhecimento e conduta na prática laboratorial dos TPDs quanto ao controle de infecção cruzada4,14,20,24, porém, não há dados referentes à conduta dos profissionais que atuam no município de Campo Grande (MS). Assim, de acordo com os dados obtidos, apenas 29,6% dos TPDs afirmaram sempre realizar a desinfecção de moldes recebidos no laboratório antes de vazar o gesso. Dado semelhante a esse foi observado por Mathias et al.14 (1998). Resultados piores foram encontrados por Cotrim et al.4 (2001) e Neves et al.20 (2001). A maioria dos TPDs acredita que as moldagens recebidas dos consultórios não são desinfetadas previamente pelo cirurgião-dentista 14, fato comprovado por Cotrim et al.4 (2001). Nesta pesquisa, 55,6% dos profissionais responderam que não verificavam se houve essa desinfecção prévia dos moldes, comprovando desinteresse e negligência dos entrevistados. Dados indicam que são poucos os cirurgiões-dentistas que realizam a desinfecção das moldagens antes de enviar ao laboratório, conforme foi constatado por Cotrim et al.4 (2001), Carmo e Costa3 (2001) e Scaranelo et al.26 (2003). Procurou-se saber se os profissionais que realizam a desinfecção de moldes tinham conhecimento específico do protocolo, o qual envolve lavagem prévia, desinfecção propriamente dita e lavagem posterior. Todos os profissionais entrevistados afirmaram realizar a lavagem prévia em água corrente, embora quanto à lavagem posterior a desinfecção, apenas 78,6% declararam efetuá-la. A lavagem em água corrente posterior à desinfecção é necessária, pois o desinfetante pode afetar a superfície do gesso depois de vazado o modelo8,17,19,23. Em relação ao método de desinfecção de moldes, 57,1% que realizam este procedimento, responderam utilizar o método da imersão; 42,9% utilizam spray e 7,1% utilizam outro método, porém não citaram qual. Estes dados são um pouco diferentes dos apresentados por Scaranelo et al.26 (2003).

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Fig. 1 - Modelo do questionário aplicado aos técnicos em prótese dentária de Campo Grande (MS)

QUESTÕES Gênero: ( ) Feminino Tempo de profissão:

( ) Masculino

GRUPO I – MOLDES 1- Quais os tipos de material de moldagem tem recebido no laboratório para vazar gesso para confecção do modelo? ( ) alginato ( ) poliéter ( ) polissulfetos ( ) siliconas ( ) godiva ( ) pasta de OZE ( ) hidrocolóide reversível 2- A equipe do laboratório que recebe este material, tem o cuidado de saber se os mesmos já estão desinfetados? ( ) Sim ( ) Não 3- Em caso de não ter essa informação, é realizada a desinfecção desses materiais antes do trabalho a ser realizado? ( ) Sim, sempre ( ) Sim, às vezes ( ) Não ➮ Em caso negativo, responda a partir da pergunta 11 4- Costuma lavar os moldes, antes de desinfetá-los, em água corrente? ( ) Sim ( ) Não 5- Utiliza-se agente químico, indique qual(is) é (são) o (s) escolhido (s): ( ) glutaraldeído ( ) clorhexidina ( ) hipoclorito de sódio ou água sanitária ( ) compostos fenólicos ( ) óxido de etileno ( ) álcool 70º ( ) outros – qual? 6- Qual o método de desinfecção utilizado? ( ) imersão ( ) spray (aerossol) ( ) outros......................................... 7- No caso de o método ser por imersão, qual o tempo que o deixa imerso? ( ) 10s ( ) 5 min ( ) 10 min ( ) 30 min ( ) 60 min ( ) + de 60min 8- No caso de o método ser por aerossol, qual o tempo que o aplica? ( ) 10s ( ) 5 min ( ) 10 min ( ) 30 min ( ) 60 min ( ) + de 60min 9- Costuma lavar os moldes, depois de desinfetá-los, em água corrente? ( ) Sim ( ) Não 10- Todos os tipos de material de moldagem ( alginato, siliconas, godivas...), são desinfetados da mesma maneira? ( ) Sim ( ) Não

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GRUPO II – MODELOS DE GESSO 11- Em caso de receber o modelo de gesso do consultório ou não ter realizado a desinfecção prévia do molde, é realizado algum procedimento para descontaminação? ( ) Sim ( ) Não 12- Em caso positivo, qual o agente químico utilizado? ( ) glutaraldeído ( ) clorexidina ( ) hipoclorito de sódio ou água sanitária ( ) compostos fenólicos ( ) óxido de etileno ( ) álcool 70º ( ) outros- qual? 13- Qual o método de desinfecção utilizado? ( ) imersão ( ) spray ( aerossol) ( ) outros............................................ 14- No caso de o método ser por imersão, qual o tempo que o deixa imerso? ( ) 10s ( ) 5 min ( ) 10 min ( ) 30 min ( ) 60 min ( ) + de 60min

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pela manipulação do gesso com solução desinfetante27. A respeito do protocolo utilizado, 60% responderam utilizar o método da imersão, porém 40% preferem spray, sendo que 60% utilizam glutaraldeído e 40% hipoclorito de sódio. Quanto ao tempo preconizado nas respectivas técnicas, observamos que os profissionais não têm conhecimento adequado, como indicam os dados da Tabela 5. Existe a necessidade de desenvolver diretrizes para o controle da infecção cruzada entre consultórios e laboratórios dentários, as quais devem ser estabelecidas e divulgadas entre os técnicos em prótese dentária e cirurgiões-dentistas, para que essa importante via de contaminação seja eliminada4. CONCLUSÕES

15- No caso de o método ser por aerossol, qual o tempo que o aplica? ( ) 10s ( ) 5 min ( ) 10 min ( ) 30 min ( ) 60 min ( ) + de 60min

De acordo com Fonseca et al.8 (1998) a desinfecção dos moldes com spray é tão eficaz, microbiologicamente, quanto à desinfecção por imersão. Já Ferrucio et al.7 (2001) afirmaram que a desinfecção por imersão é mais confiável do que a por spray, pois ela garante que todas as superfícies das impressões e da moldeira sejam atingidas pela solução desinfetante. Quanto ao emprego de agente químico, 57, 1% dos TPDs de Campo Grande (MS) preferem o hipoclorito de sódio, 42,9% o glutaraldeído e 21,4% a clorexidina; resultados semelhantes aos apresentados por Scaranelo et al.26 (2003). É consenso de que o tempo adequado para a desinfecção, a ser utilizado em qualquer circunstância, respeitando os protocolos da imersão e do aerossol, é de dez minutos 16,23,26; assim, apenas 37,5% (imersão) e 16,7% (aerossol) dos entrevistados efetuam esses procedimentos adequadamente. As soluções utilizadas na desinfecção podem afetar significativamente a qualidade dos moldes, alterando os detalhes de

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superfície e estabilidade dimensional6,8, 10,23,28 . Assim, foi perguntado aos TPDs quais eram os materiais de moldagem recebidos no laboratório para “vazar” o gesso e se todos esses materiais eram desinfetados do mesmo modo. Os resultados indicaram que 85,7% afirmaram utilizar o mesmo método e 14,3% responderam utilizar métodos diferentes, não os especificando. Esses resultados demonstram a falta de conhecimento dos TPDs entrevistados quanto à influência negativa da desinfecção em alguns materiais de moldagem. Até mesmo os cirurgiões-dentistas não dão a devida importância a esse fato, como observado na pesquisa de Carmo e Costa3 (2001). Quanto à desinfecção dos modelos de gesso, 81,5% dos entrevistados afirmaram não realizar esse procedimento, resultado este, próximo ao encontrado por Mathias et al.14 (1998) e Cotrim et al.4 (2001). A desinfecção dos modelos pode ser feita por pulverização ou imersão em solução desinfetante, pela inclusão de agente bactericida à composição dos gessos ou

Diante da metodologia utilizada para a realização desta pesquisa e da análise dos resultados obtidos, pode-se concluir que: - São poucos os profissionais que realizam adequadamente a desinfecção de moldes, predominando a falta de informações sobre o correto protocolo de desinfecção, inclusive mostrando que esse tema não faz parte da realidade da maioria dos técnicos em prótese dentária entrevistados; - A maioria dos profissionais pesquisados não realiza a desinfecção de modelos de gesso, demonstrando desconhecimento dos métodos, que visam o controle da infecção cruzada. REFERÊNCIAS 1. Blair F, Wassel RW. A survey of the methods of disinfection of dental impressions used in dental hospitals in the United Kingdom. Br Dent J. 1996;180(10):369-75. 2. Brace ML, Plummer KD. Practical denture disinfection. J Prosthet Dent. 1993;70(6): 538-40. 3. Carmo MRC, Costa AMDD. Procedimentos de biossegurança em odontologia. JBC. 2001;5(26):116-9. 4. Cotrim LEF, Santos EM, Jorge AOC. Procedimentos de biossegurança realizados por cirurgiões-dentistas e laboratórios durante a confecção de próteses dentárias. Rev Odontol UNESP. 2001;30(2):233-44. 5. Cottone JA. Recent developments in hepatitis: new virus, vaccine and dosage recommendations. J Am Dent Assoc. 1990;120:501-8.

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Rev. etABO Nac. - dos Vol.técnicos 17 nº 5em - Outubro/novembro 2009 à desinfecção de moldes e modelos de gesso Martines, Clarissa Rocha al. Conduta prótese dentária em relação

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Vol. 17 nº 5 - Outubro/novembro 2009

Artigo original

Diagnóstico in vitro de lesões de cárie oclusal por cirurgiões-dentistas da rede pública Diagnosis in vitro of occlusal caries lesions by public health dentists Palavras-chave: Cárie dentária/diagnóstico. Cárie dentária/radiografia. Key words: Dental caries/diagnosis. Dental caries/radiography.

Patricia Valeria Bastos Faria Pecoraro* Marcos Augusto do Rego**

RESUMO

Introdução - O diagnóstico de cárie oclusal representa atualmente um desafio para o cirurgião-dentista. O uso constante de fluoretos propiciou modificações na morfologia e padrão das lesões de cárie oclusal e o exame clínico convencional nem sempre tem sido suficiente para o diagnóstico dessas lesões. O objetivo deste trabalho foi avaliar in vitro o diagnóstico de cárie oclusal realizado por cirurgiõesdentistas da rede pública do município de Valença (RJ). Material e Métodos Participaram do estudo 55 cirurgiões-dentistas que realizaram diagnóstico visual e radiográfico de cárie oclusal, em 20 dentes humanos extraídos (10 pré-molares e 10 molares permanentes). A seguir, os dentes foram cortados em micrótomo para tecido duro e avaliados em microscópio estereoscópio (padrão ouro). Resultados - Os resultados foram submetidos à análise estatística pelo coeficiente de correlação de Spearman e os valores obtidos para sensibilidade e especificidade foram de 0,31/ 0,06 na inspeção visual, 0,14/0,04 no exame radiográfico para pré-molares e 0,03/ 0,11 na inspeção visual e 0,02/0,12 no exame radiográfico para molares. Conclusões - Os profissionais com maior tempo de formados foram mais sensíveis que específicos no diagnóstico, enquanto que os com menor tempo de formados foram mais específicos que sensíveis nos dois métodos. ABSTRACT

* Mestre em Dentística pela Universidade de Taubaté (Unitau). Professora de Odontopediatria e Dentística da Faculdade de Odontologia de Valença (RJ). ** Professor Doutor de Odontopediatria e Dentística da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Professor de Dentística e do Programa de PósGraduação em Odontologia da Unitau. E-mail: marcosrego@uol.com.br

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Introduction - The diagnosis of the occlusal caries represents a challenge for the dentists nowadays. The constant use of fluorides has afforded alterations in the morphology and standard of the lesions of the occlusal caries and the conventional clinical examination has not always been sufficient for the diagnosis of these lesions. The purpose of this work was to evaluate in vitro the diagnosis of the occlusal caries performed by dental surgeons of the Municipal district of Valença (RJ) public services. Material and Methods - Fifty five Dentists participated in this study and carried out occlusal caries visual and radiographic diagnosis in 20 human extracted teeth (10 premolars and 10 permanent molars). Then, the teeth were cut in hard tissue microtome and evaluated through microscope stereoscope (gold standard). Results - The results were submitted to the statistical analysis at the Spearman correlation coefficient and the values obtained regarding the sensibility and specificity were 0.31/0.06 through visual inspection, 0.14/0.04 through radiographic exam for premolars and 0.03/0.11 through visual inspection and 0.02/0.12 through radiographic exam for molars. Conclusions The professionals with longer time of graduation were more sensitive than specific on their diagnosis, while the ones with less time of graduation were more specific than sensitive on both methods.

Rev. ABO Nac. - Vol. nº 5 - Outubro/novembro 2009 Pecoraro, Patricia Valeria Bastos Faria et al. Diagnóstico in vitro de lesões de cárie oclusal por17cirurgiões-dentistas da rede pública


Vol. 17 nº 5 - Outubro/novembro 2009

INTRODUÇÃO

O diagnóstico preciso da doença cárie representa desafio para profissionais da área da Odontologia. As dificuldades em diagnosticar cárie (sensibilidade) e higidez do dente (especificidade), ocorrem pelas mudanças morfológicas da lesão e em sua velocidade de progressão, assim como da inexistência de um método preciso para diagnosticar a doença25. As superfícies oclusais permanecem como as áreas responsáveis pela maior proporção de experiência de cárie. Mesmo com os avanços tecnológicos de novos métodos, existe muita discordância entre grupos de examinadores no diagnóstico de cárie oclusal sem cavitação8, 17, 19, 21, 23, 27. Amaral e Silva3 (2000) avaliaram a concordância entre 14 examinadores (12 alunos de pós-graduação e dois professores de Odontologia) quanto ao diagnóstico de cárie oclusal sem cavitação. Foram selecionadas 10 crianças, nas quais os examinadores realizaram exame clínico de cada dente e analisaram as respectivas radiografias. Os resultados demonstraram que a concordância entre os examinadores no diagnóstico da cárie oclusal foi pequena. Segundo Assaf et al.4 (2007), opiniões discordantes no diagnóstico de cárie ocorre frequentemente entre cirurgiões-dentistas, principalmente em dentes posteriores e em lesões iniciais. Louvain et al.19 (2000) realizaram pesquisa com o objetivo de conhecer os critérios utilizados pelos cirurgiões-dentistas da cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, na avaliação da superfície oclusal. Os autores concluíram que a maioria dos cirurgiões-dentistas desconhecia as mudanças ocorridas na filosofia de promoção da saúde. No intuito de planejar o tratamento mais adequado para o paciente, os profissionais necessitaram de informações em relação a esses critérios atuais de diagnóstico da cárie oclusal. Pereira et al.22 (2001) avaliaram a precisão dos métodos visual e radiográfico no diagnóstico de cárie oclusal, comparando-os ao exame histológico. Foram selecionados 12 dentes permanentes com descoloração nas fissuras e sem cavitações visíveis, os quais foram examinados por 49 cirurgiões-

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Quadro 1. Escores atribuídos e respectivas interpretações utilizadas pelos examinadores na inspeção visual, diagnóstico radiográfico e no padrão ouro, baseados respectivamente em Granville-Garcia et al.16 (2000) e Ekstrand et al.13 (1997), com modificações

Escores

Inspeção Visual (Granville-Garcia et al.16, 2000)

Diagnóstico Radiográfico (Ekstrand et al.13, 1997)

Diagnóstico Histológico Padrão Ouro (Ekstrand et al.13, 1997)

0

ausência de lesão de cárie com ou sem a superfície pigmentada

nenhuma radioluscência visível

nenhuma desmineralização

1

lesão de cárie em esmalte sem cavidade

radioluscência visível no limite amelo dentinário

desmineralização do esmalte limitada a 50% de sua camada externa

2

lesão de cárie em esmalte com cavidade

radioluscência visível em dentina, restrita ao terço mais externo da mesma

desmineralização do esmalte além 50% sem envolvimento de dentina

3

lesão de cárie em dentina sem cavidade

radioluscência estendendo-se ao terço médio da dentina

desmineralização envolvendo o 1/3 externo da dentina

4

lesão de cárie em dentina com cavidade

radioluscência atingindo o terço pulpar da dentina

desmineralização envolvendo o 1/3 médio da dentina

5

-

-

desmineralização envolvendo o 1/3 interno da dentina

Quadro 2. Variáveis de decisões utilizadas (Douglas e McNeil7, 1983)

Resultado do teste Presente Positivo Negativo

Presença da doença Ausente

PV FN

FP NV

PV: positivo-verdadeiras; NV:negativo-verdadeiras; FP: falso-positivas; FN: falso-negativas

dentistas, somente pelo aspecto visual. A seguir os dentes foram radiografados e seccionados para o exame histológico. Os resultados mostraram que, de um total de 637 exames clínicos, houve 56% de respostas corretas, quando comparado com a estereomicroscopia e, de um total de 12 exames radiográficos, houve concordância de 30,76% de respostas corretas. Existiu grande variabilidade com relação ao diagnóstico de cárie entre os cirurgiões-dentistas consultados, que ainda utilizavam sondagem como um método de diagnóstico. Zanardo e Rego29 (2003) compararam método visual, radiografia interproximal convencional, transiluminação por fibra óptica (FOTI), laser diodo (DIAGNOdent) e

radiografia digital direta para diagnóstico de cárie oclusal in vitro. Os autores concluíram que o método mais sensível foi a inspeção visual (0,67), seguindo-se associação da inspeção visual com a radiografia interproximal (0,58). O método que apresentou menor sensibilidade foi a radiografia interproximal. Os métodos mais específicos foram a associação da inspeção visual com a radiografia interproximal (0,90) e a transiluminação por fibra óptica (0,90). O método de menor especificidade foi a radiografia digital direta (0,30). É compreensível que ocorram variações de diagnóstico entre os profissionais, frente à dificuldade de identificação das lesões e, principalmente à filosofia de tratamento.

Pecoraro, Patricia Valeria Faria et al. Diagnóstico in vitro de lesões de 2009 cárie oclusal por cirurgiões-dentistas da rede pública Rev. Bastos ABO Nac. - Vol. 17 nº 5 - Outubro/novembro

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Mudanças de conceitos, ligadas diretamente ao desenvolvimento tecnológico e científico, influenciam os procedimentos clínicos. O diagnóstico precoce de cáries iniciais em esmalte e tratamentos não invasivos para a prevenção, paralisação ou regressão de lesões ativas, apesar de efetivos e comprovados cientificamente, não são ainda realizados por todos os profissionais6. Inúmeras dúvidas e dificuldades dos profissionais no diagnóstico justificam este estudo, cujo objetivo foi avaliar in vitro, o diagnóstico de cárie oclusal por cirurgiões-dentistas da rede pública do município de Valença, Estado do Rio de Janeiro. MATERIAL E MÉTODOS

Foram selecionados 20 dentes humanos (10 pré-molares e 10 molares permanentes) no banco de dentes do Departamento de Odontologia; o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Taubaté (CEP/Unitau 235/02). Após profilaxia com pedra-pomes e água, e jato de bicarbonato, os dentes foram fixados separadamente em base de lâmina de cera utilidade. Cada dente foi radiografado utilizando-se técnica interproximal. Para padronização da técnica, foi adaptada uma lâmina de cera utilidade sobre a asa de mordida de um posicionador interproximal, de maneira que o longo eixo do dente ficasse paralelo ao filme e sua face vestibular voltada para o aparelho. O conjunto foi acoplado ao cabeçote do aparelho, de acordo com a orientação do posicionador, e foi fixado com fita adesiva a uma distância foco-filme de 24 cm. Os filmes foram revelados baseando-se em Freitas15 (1986). Para validação dos resultados (padrão ouro), os dentes foram incluídos em resina de poliéster (Redelease) e seccionados em cortes longitudinais no sentido vestíbulo-lingual em máquina Labcut (Extec, 1010). A seguir, os cortes foram avaliados em microscópio estereoscópio, com aumento de 40 vezes, por dois histologistas para confirmação de presença ou ausência de cárie oclusal. Para o diagnóstico definitivo dos sítios, foi selecionada a secção que representou a maior profundidade da lesão para cada dente. Os resultados foram anotados em formulários próprios, com critérios segundo Ekstrand et

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al.13 (1997), com modificações. Participaram da pesquisa 55 profissionais da rede pública do município de Valença, Rio de Janeiro, que consentiram em participar, o que correspondeu a 84,62 % do total de 65 cirurgiões-dentistas do serviço. Todos receberam termo de informação e assinaram consentimento esclarecido para a participação na pesquisa. Os profissionais, assim como os resultados emitidos pelos mesmos não foram identificados individualmente. Os cirurgiões-dentistas realizaram o diagnóstico pela inspeção visual de todas as faces oclusais, com os dentes secos e iluminados por luz artificial de refletor odontológico. Os resultados foram avaliados seguindo critérios de Granville-Garcia et al.16 (2000). O diagnóstico pelo exame radiográfico foi realizado após inspeção visual, utilizando-se de radiografia interproximal convencional e negatoscópio com lupa (aumento de 3,5 vezes), segundo critérios de Ekstrand et al.13 (1997). Os escores atribuídos para cada exame encontram-se no Quadro 1. Para a análise estatística dos dados, os diagnósticos foram comparados com o histológico (padrão ouro). Para a análise das decisões entre presença ou não da doença foram utilizadas quatro variáveis, baseadas em Douglas e McNeil11 (1983), conforme Quadro 2. Para avaliar a correlação existente entre concordância dos examinadores, tempo de formados e sensibilidade/especificidade para os valores de diagnóstico visual e radiográfico dos pré-molares e molares, foi usado o coeficiente de correlação por postos de Spearman (rs), ao nível de significância que não supere a = 0,05. RESULTADOS

A avaliação histológica dos dentes para obtenção do “padrão ouro” demonstrou 3 (15%) amostras sem desmineralização; 7 (35%) com desmineralização em esmalte limitada a 50% de sua camada externa; 5 (25%) com desmineralização em esmalte além de 50% de sua espessura, porém sem envolvimento de dentina; e, 4 (20%) com desmineralização envolvendo o terço externo da dentina. Nenhum dente apresentou

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desmineralização envolvendo o terço médio e apenas 1 (5%) apresentou desmineralização envolvendo o terço interno da dentina. Os 55 cirurgiões-dentistas que participaram deste estudo apresentaram tempo de formado com variação de 2 a 30 anos (média: 15,98 + 9,1 anos; mediana: 15 anos). Não houve correlação entre tempo de formado e sensibilidade/especificidade, quando se comparou o exame visual em pré-molares (Tabela 1). Nos molares (Tabela 2), a correlação ocorreu e observou-se que quanto maior o tempo de formado melhor a sensibilidade no exame visual, o que, entretanto, não ocorreu para a especificidade. As Tabelas 3 e 4 expressam resultados do teste de correlação de Spearman para os valores dos diagnósticos visual e radiográfico. Quando os valores de p apresentaram-se inferiores a 0,05, significou que os valores de sensibilidade e/ou especificidade estão correlacionados com o tempo de formado dos cirurgiões-dentistas. Quando ocorreu correlação positiva (rs positivo), observouse que quanto maior o tempo de formado, melhor foi a sensibilidade e/ou especificidade do diagnóstico. Quando a correlação foi negativa (rs negativo), implicou em, quanto menor o tempo de formado, melhor o diagnóstico de sensibilidade e/ou especificidade. DISCUSSÃO

Vários trabalhos sobre diagnóstico de cárie em superfície oclusal utilizaram-se da avaliação histológica (padrão ouro) para validação dos dados5, 10, 13, 16, 20, 26, 29, motivo pelo qual esta avaliação foi utilizada na metodologia da presente pesquisa, que segundo Douglass10 (1993), é o diagnóstico definitivo da lesão. A amostra do presente trabalho caracterizou-se por 55 cirurgiões-dentistas da rede pública, na qual se observou média de tempo de formado de 15,98 + 9,1 anos. Considerando-se a rapidez que novos conhecimentos em Odontologia, principalmente novos materiais e condutas para tratamento e diagnóstico de cárie, a variação de tempo de formado dos cirurgiões-dentistas analisados pode ter acarretado as discordâncias no diagnóstico, o que pareceu evidente, visto que os mesmos possuem filosofias completamente diferentes.

Nac. - Vol. nº 5 - Outubro/novembro 2009 Pecoraro, Patricia Valeria Bastos Faria et al. Diagnóstico in vitro de Rev. lesõesABO de cárie oclusal por17cirurgiões-dentistas da rede pública


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Para diagnóstico de cárie, os métodos mais frequentemente utilizados são inspeção visual, exame tátil e exame radiográfico2, 9. Por este motivo, optou-se por avaliar neste estudo, o método de inspeção visual e o exame radiográfico, já que o uso da sonda exploradora não é mais recomendado12, 18. Não se usou a sonda exploradora no presente trabalho, mesmo quando solicitado pelo examinador, segundo recomendações da Academy Operative Dentistry1 (2001). O diagnóstico de cárie oclusal, utilizando-se apenas inspeção visual na presente pesquisa, não apresentou correlação estatística positiva para sensibilidade/especificidade e tempo de formado em pré-molares. Para os molares, a especificidade não teve correlação estatística com tempo de formado, porém para sensibilidade, observou-se essa correlação, ou seja, quanto maior o tempo de formado, melhor foi a capacidade em diagnosticar doença. Importante salientar que os dentes que foram selecionados para o presente trabalho não apresentavam cavitação evidente, aspecto que estava presente em apenas um pré-molar. A não presença de cavitação evidente deve ter inclinado os examinadores a serem conservadores no diagnóstico, com tendência à especificidade do diagnóstico. O diagnóstico de cárie oclusal utilizando-se apenas exame radiográfico realizado no trabalho, apresentou resultados de sensibilidade sem correlação estatística com o tempo de formado para pré-molares e especificidade com correlação, ou seja, quanto menor o tempo de formado, mais específico foi o examinador. Cirurgiões-dentistas com maior tempo de formados evidenciaram mais doença. Para os molares, o exame radiográfico mostrou correlação para sensibilidade e maior tempo de formado, porém para especificidade/tempo de formado não houve correlação estatística. No presente estudo, a sensibilidade do exame radiográfico para detecção de lesões de cárie em dentina foi baixa (não diferindo significantemente da avaliação visual), o que pode ter ocorrido devido à pequena extensão clínica das lesões de cárie nos espécimes selecionados. Este resultado foi também observado por Flaitz et al.14 (1986),

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Tabela 1. Resultados de sensibilidade e especificidade obtidos no exame visual e radiográfico para pré-molares, considerando-se tempo de formado dos profissionais

Tempo de formado

Exame visual

Exame radiográfico

(anos)

Sensibilidade

Especificidade

Sensibilidade

Especificidade

0a5 6 a 10 11 a 15 16 a 20 21 a 25 26 a 30

0,14 0,27 0,09 0,11 0,27 0,20

0,60 0,47 0,56 0,51 0,49 0,40

0,06 0,05 0,09 0,09 0,11 0,09

0,57 0,63 0,58 0,60 0,42 0,45

Tabela 2. Resultados de sensibilidade e especificidade obtidos no exame visual e radiográfico para molares, considerando-se tempo de formado dos profissionais

Tempo de formado

Exame visual

Exame radiográfico

(anos)

Sensibilidade

Especificidade

Sensibilidade

0a5 6 a 10 11 a 15 16 a 20 21 a 25 26 a 30

0,14 0,20 0,22 0,11 0,29 0,29

0,20 0,48 0,11 0,51 0,33 0,42

0,06 0,13 0,00 0,17 0,18 0,16

Especificidade 0,11 0,18 0,20 0,20 0,13 0,31

Tabela 3. Resultado do teste de correlação de Spearman para os valores de diagnóstico visual de cárie

Visual Pré-molares Molares

Sensibilidade Especificidade Sensibilidade Especificidade

Correlação de Spearman (rs)

Valor p

0,066 -0,205 0,254 0,165

0,313 0,066 0,030 0,113

p £ 0,05 estatisticamente significativo Tabela 4. Resultado do teste de correlação de Spearman para os valores de diagnóstico radiográfico de cárie

Radiográfico Pré-molares Molares

Sensibilidade Especificidade Sensibilidade Especificidade

Correlação de Spearman (rs)

Valor p

0,142 -0,225 0,272 0,159

0,149 0,048 0,022 0,122

p £ 0,05 estatisticamente significativo

os quais relataram que apenas 33% das lesões em dentina superficial foram evidenciadas na radiografia interproximal de dentes posteriores. Segundo esses autores, quando as lesões de cárie são profundas, reve-

lam-se em 100% dos casos. Considerandose, portanto, a pouca sensibilidade do método radiográfico para lesões superficiais em dentina, parece que inspeções visuais são relevantes para diagnóstico de lesões

Rev. Bastos ABO Nac. - Vol. 17 nº 5 - Outubro/novembro Pecoraro, Patricia Valeria Faria et al. Diagnóstico in vitro de lesões de 2009 cárie oclusal por cirurgiões-dentistas da rede pública

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incipientes em dentina (1/3 externo). A investigação de lesões dentinárias superficiais em dentes posteriores demonstrou melhor capacidade de observação com o exame visual do que o radiográfico na presente pesquisa, porém sem diferenças estatisticamente significantes. Resultados semelhantes foram observados no trabalho de Wenzel et al.28 (1992). Segundo Silva e Domingues24 (1995), existe grande dificuldade na detecção da quantidade real de lesões de cárie oclusal através do diagnóstico clínico tradicional, ou seja, há um número muito maior de lesões de cárie oclusal do que as que estão sendo diagnosticadas clinicamente, fato que se observou nos resultados deste estudo, onde através da inspeção visual diagnosticaram elementos dentários sem lesão de cárie quando, na verdade, existia lesão em dentina, inclusive atingindo 1/3 interno da mesma. Pode-se verificar, nos dados do presente estudo, que o maior tempo de formado não ocasionou melhora significativa no diagnóstico de cárie, resultado também encontrado por Cardoso et al.7 (2001), que relataram que a experiência clínica não melhorou o diagnóstico de cárie oclusal. CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, podese concluir que: 1. Na inspeção visual em pré-molares não houve correlação entre tempo de formado e a sensibilidade e especificidade; enquanto em molares, quanto maior o tempo de formado, melhor a sensibilidade. Não houve correlação entre tempo de formado e especificidade. 2. No exame radiográfico em pré-molares não houve correlação entre o tempo de formado e a sensibilidade, entretanto quanto menor o tempo de formado, melhor a especificidade. Para molares, quanto maior o tempo de formado, melhor a sensibilidade, enquanto para especificidade não houve correlação. 3. Os profissionais com maior tempo de formado diagnosticaram mais doença (sensi-

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bilidade) na inspeção visual e no exame radiográfico, enquanto profissionais com menor tempo de formado diagnosticaram mais saúde (especificidade) na inspeção visual e no exame radiográfico. REFERÊNCIAS 1. Academy of Operative Dentistry Recommendations for clinical practice - fissure caries. Oper Dent. 2001;26(4):324-7. 2. Akarslan ZZ, Akdevelioglu M, Güngör K, Erten H. A comparison of the diagnostic accuracy, bitening, periapical, unfiltered and filtered digital panoramic images for approximal caries detection. Dentomaxillofacial Radiol. 2008;37(8):458-63. 3. Amaral DC, Silva DRP. Diagnóstico e tratamento da cárie oclusal sem cavitação. Avaliação da concordância entre examinadores. Rev Fac Odontol Anápolis. 2000;2(2):60-3. 4. Assaf AV, Tagliaferro EP, Meneghin MC, Tengan C, Pereira AC, Ambrosano GM et al. A new approach for interexaminer realiability data analysis on dental caries calibration. J Appl Oral Sci. 2007;15(6):480-5. 5. Attrill DC, Ashley PF. Occlusal caries detection in primary teeth: a comparison of DIAGNOdent® with conventional methods. Br Dent J. 2001;190(8):440-3. 6. Basting RT, Serra MC. Educação e monitoramento freqüente: acompanhando a fase eruptiva de dentes permanentes posteriores e prevenindo cáries. Rev ABO Nac. 2000;8(2):111-5. 7. Cardoso M, Baratieri LN, Ritter AV. Does clinical experience affect occlusal caries diagnosis and sealant recommendation? An in vitro study. ASDC J Dent Child. 2001; 68(4):250-4, 228. 8. Choo-Smith LP, Dong CC, Cleghorn B, Hewko M. Shedding new light on early caries detection. J Can Dent Assoc. 2008;74(10): 913-8. 9. Chu CH, Chung BT, Lo EC. Caries assessment by clinical examination with or without radiographs of Chinese adults. Int Dent J. 2008;58(5):265-8. 10. Douglass CW. Evaluating diagnostic tests. Adv Dent Res. 1993;7(2):66-79. 11. Douglass CW, McNeil BJ. Clinical decision analysis methods applied to diagnostic tests in dentistry. J Dent Educ. 1983;47(11):708-12. 12. Ekstrand KR, Qvist V, Thylstrup A. Light microscope study of the effect of probing in occlusal surfaces. Caries Res. 1987;21(4):368-74. 13. Ekstrand KR, Ricketts DNJ, Kidd EAM. Reproducibility and accuracy of three methods for assessment of demineralization depth on the occlusal surface: an in vitro examination. Caries Res. 1997;31(4):224-31. 14. Flaitz CM, Hicks MJ, Silverstone LM. Radiographic, histologic, and electronic

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Rev. ABO Nac. - Vol. nº 5 - Outubro/novembro 2009 Pecoraro, Patricia Valeria Bastos Faria et al. Diagnóstico in vitro de lesões de cárie oclusal por17cirurgiões-dentistas da rede pública


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Artigo original

Prevalência de defeitos do esmalte dentário em crianças com idade entre 3 e 9 anos atendidas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Prevalence of enamel defects in children with age between 3 and 9 years examined in dentistry’s course at Federal University of Paraíba Palavras-chave: Esmalte dentário. Hipoplasia do esmalte dentário. Odontopediatria. Key words: Dental enamel. Dental enamel hypoplasia. Pediatric dentistry.

Maria Germana Galvão Correia Lima* Laurylene César de Souza Vasconcelos* Maria de Fátima Gabínio de Siqueira** Laís César de Vasconcelos***

RESUMO

Introdução - Esta pesquisa objetivou investigar a prevalência de defeitos no esmalte dentário em crianças na faixa etária de 3 a 9 anos de idade atendidas nas Disciplinas de Odontopediatria e Odontologia Preventiva do Curso de Odontologia da UFPB, sem distinção de gênero e etnia. Material e Métodos - A amostra foi constituída de 67 crianças, sendo examinadas todas as superfícies dentárias, após profilaxia e secagem dos elementos, com a finalidade de pesquisar os tipos de defeitos, a prevalência, a face e localização mais acometida. O diagnóstico das alterações do esmalte foi realizado por um único examinador, previamente calibrado, aplicando o Índice Modificado de Defeitos no Desenvolvimento do Esmalte (IDDE). Resultados - Dos 2144 elementos dentários examinados 5,6% (n=120) apresentaram algum defeito de esmalte, sendo 71 em dentes posteriores e 49 em dentes anteriores. O tipo de defeito mais frequentemente observado foi a opacidade definida (3%), seguido de opacidade difusa (1,8%) e hipoplasia (0,8%). A face do elemento dental mais acometida foi a vestibular (4,6%). Conclusão - Concluiuse que a prevalência de defeitos de esmalte é baixa nas crianças estudadas, no entanto, cuidados especiais devem ser dispensados a estes pacientes, no sentido de restabelecer danos funcionais e estéticos. ABSTRACT

Professora Doutora do Departamento de Clínica e Odontologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Email: germanagalvao@ hotmail.com; laurylene@uol.com.br ** Mestre em Odontologia Preventiva e Infantil da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Email: fatimagsiqueira@hotmail.com *** Acadêmica do Curso de Odontologia da UFPB. E-mail: lais_cv@hotmail.com *

Introduction - This research objectified to investigate the prevalence of dental enamel defects in children with age between 3 and 9 years old in Disciplines of Pediatric Dentistry and Preventive Dentistry of the Course of Dentistry of the UFPB, without distinction of sort, ethnicity and partner-economic classroom. Material and Methods A research was developed in 67 children. All the dental surfaces had been examined, after prophylaxis and drying of the teeth, in order to search the types and prevalence of enamel defects, the face and localization more attacked. For the diagnosis of the enamel alterations, the Modified Index of Defects in the Development of Enamel was applied (IDDE), carried through for only examiner previously calibrated. Results - Of the 2144 dental elements examined 5.6% (n=120) presented some enamel defect, being 71 on posterior teeth and 49 on previous teeth. The type of defect more frequently observed was the definite opacity (3%), followed of diffuse opacity (1,8%) and hypoplasia (0,8%). The face of the dental element more attacked was vestibular (4,6%). Conclusion - It was concluded that in the studied children, the prevalence of enamel defects was low, but special care must be conceded to these patients in order to repair esthetic and functional damages.

Lima, Maria GermanaRev. Galvão Correia al. Prevalência defeitos do esmalte2009 dentário em crianças com idade entre 3 e 9 anos atendidas na (UFPB) ABO Nac.et- Vol. 17 nº 5 - de Outubro/novembro

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de defeitos no esmalte é comum e sua distribuição varia entre diferentes populações. O esmalte é o único tecido duro do corpo humano que uma vez formado não se remodela e por causa da sua natureza, qualquer alteração durante a sua formação fica permanentemente registrada nas superfícies dentárias4,7,15. Os defeitos do esmalte podem aparecer em uma variedade de formas que, usualmente, são identificados com o tempo relacionado ao período do desenvolvimento do esmalte. Quando o distúrbio ocorre durante o período de formação da matriz, resulta no aparecimento de hipoplasia de esmalte que pode ser definida como uma quantidade deficiente de esmalte, podendo ocorrer na forma de depressões, estrias ou grandes áreas de esmalte ausente, e pode ser observada préeruptivelmente através de radiografias2,7. Quando os distúrbios ocorrem durante os estágios de calcificação e maturação do desenvolvimento, pode levar o esmalte a uma deficiência de mineralização (hipomineralização) e usualmente manifesta-se com mudanças na translucidez ou opacidade do esmalte. Estas opacidades podem ser demarcadas ou difusas. As opacidades difusas podem ser linear, manchada ou com distribuição contínua sem nenhum limite claro com o esmalte adjacente normal. Em contraste, a opacidade demarcada, apresenta limites claros com o esmalte adjacente normal, e pode ser: branca, creme, amarela ou marrom7,11. A perda de esmalte pode também ocorrer pós-eruptivelmente como um resultado de esmalte enfraquecido por insuficiente mineralização ou maturação. A hipomaturação é um defeito na cristalização, sendo sua estrutura cristalina defeituosa, pigmentando-se secundariamente14. As mudanças induzidas no esmalte podem dar indício da época em que ocorreu e a natureza destes eventos, pois adquirido o defeito, somente as células que estavam funcionando na época do distúrbio serão afetadas. Áreas específicas, do esmalte em formação serão danificadas. A localização do defeito no dente e os dentes

afetados geralmente atestam à época do insulto que o causou, e sua amplitude indicará se ele foi de duração curta ou de forma mais crônica, num distúrbio prolongado. Uma vez o distúrbio terminado, o tecido volta à função normal, ficando o esmalte restante normal e sadio13,15. Dentre diversos fatores sistêmicos associados a defeitos de esmalte estão: trauma ao nascimento, desordens nutricionais, distúrbios do metabolismo de cálcio (hipocalcemia) e fosfato, doenças exantematosas, parto prematuro, baixo peso ao nascimento, sífilis congênita, porfiria, síndromes nefróticas, falência renal crônica, diabetes mellitus, doenças cardíacas, absorção intestinal em condições de doença celíaca, desordens neurológicas e agentes químicos (tetraciclina e flúor). Os fatores locais que contribuem para o aparecimento de defeitos no esmalte são: trauma local, infecção, laringoscopia e intubação orotraqueal3,9,12-13. Dois tipos de hipoplasias têm sido descritos para a dentição decídua. O primeiro consiste na chamada hipoplasia linear dos incisivos maxilares decíduos que é caracterizada por um sulco na superfície vestibular, ocorrendo na época que corresponde ao nascimento ou período neonatal. Apesar de sua ocorrência geográfica ser mundial, este defeito é encontrado quase sempre em crianças de classe socioeconômica baixa, tendo sido sugerido que a má nutrição calórico-proteíca, e hipovitaminose A, em sinergismo com doenças infecciosas, venham a produzir este tipo de lesão6,10. A hipoplasia de esmalte pode ser considerada um fator de risco para o desenvolvimento de lesões cariosas, pois o esmalte hipoplásico, em alguns casos, pode estar ausente ou apresentar rugosidades, propiciando o acúmulo de placa. O tratamento restaurador com compósito torna-se necessário quando há presença de cavidades cariosas ou risco de desenvolvimento de futuras lesões, comprometimento estético ou sensibilidade dentinária1,9. Considerou-se portanto, interessante, investigar a prevalência dos defeitos de esmalte na dentição decídua entre crianças na faixa etária de 3 a 9 anos de idade atendidas na UFPB para demonstrar a ne-

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cessidade de que sejam instituídas medidas de caráter preventivo, educativo e profilático, a fim de que alcancemos condições reais de saúde bucal. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi constituída de pacientes que procuraram atendimento nas Disciplinas de Odontopediatria e Odontologia Preventiva da Universidade Federal da Paraíba e iniciada após aprovação do Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde – UFPB. Todos os pacientes foram instruídos sobre a pesquisa, e os responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para autorizar a sua participação na pesquisa - Resolução 196/ 96 do CNS. Neste estudo foram utilizados dados obtidos a partir do exame de todas as superfícies dentárias de 67 crianças, na faixa etária de 3 a 9 anos, a fim de identificar os defeitos de esmalte, sendo os dados coletados, anotados nas fichas clínicas de cada paciente. Antecedendo ao exame das superfícies dentárias, foi executada uma profilaxia com escova dental infantil e dentifrício. Concluída a escovação, foi utilizado o jato de ar da seringa tríplice com a finalidade de secar as superfícies dentárias para melhor visualização da presença de possíveis alterações no esmalte. O exame foi realizado em cadeira odontológica sob iluminação artificial, com o auxílio de espelho bucal. Para realizar o diagnóstico das alterações do esmalte foi aplicado o Índice Modificado de Defeitos no Desenvolvimento do Esmalte (IDDE), que classifica as anormalidades do esmalte dentário em três tipos, segundo a sua aparência11: 1) - Opacidade definida: o esmalte, de consistência normal e superfície intacta, apresenta uma alteração demarcada de translucidez em grau variável, com limites distintos e claros que pode ser branca, creme, amarela ou marrom; 2) Opacidade difusa: é igualmente uma anormalidade em grau variável na translucidez do esmalte, de coloração branca, sem limites claros em relação ao tecido normal, tendo formato linear, mosqueado ou ter uma distribuição centrípeta (confluindo para o centro);

ABO Nac. Vol. entre 17 nº35e -9Outubro/novembro 2009 Lima, Maria em crianças com-idade anos atendidas na (UFPB) 298Germana Galvão Correia et al. Prevalência de defeitos do esmalte dentárioRev.


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3) - Hipoplasia: uma deficiência que envolve a superfície do esmalte, estando associada a uma diminuição localizada de consistência. Pode ocorrer na forma de: a) pontos simples ou múltiplos, superficiais ou profundos, espalhados ou em filas horizontais ao longo da superfície; b) sulcos simples ou múltiplos, estreitos ou largos (máximo de 2 mm); c) ausência parcial ou total de esmalte sobre uma área considerável de dentina. O esmalte afetado pode ser translúcido ou opaco. Previamente ao exame clínico, foi realizada uma calibração intra-examinador. Nesta etapa foram examinadas cerca de 7 crianças em dois dias diferentes, efetuando-se então a comparação de resultados e reexame daqueles em que houve diferenças de diagnóstico. Os resultados obtidos foram organizados em um banco de dados com o auxílio de um pacote estatístico (Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, versão 10.0) e realizada a análise dos dados com técnicas apropriadas (Índice Kappa de concordância, Qui-quadrado).

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Gráfico 1 - Prevalência de defeitos de esmalte nos elementos dentários

Gráfico 2 - Tipo de defeitos de esmalte mais frequentemente observados

Gráfico 3 - Face do elemento dental mais acometida

RESULTADOS

Neste estudo foram examinados 2.144 elementos dentários numa amostra constituída de 67 crianças. Dentre os dentes examinados apenas 120 apresentaram algum tipo de defeito de esmalte, sendo 49 em elementos anteriores e 71 em posteriores. Os resultados desta pesquisa mostraram haver uma baixa prevalência de defeitos do esmalte, o que foi constatado em apenas 5,6% da amostra (n= 120), pois os outros elementos dentais, 94,4% (n= 2024), não apresentaram nenhum defeito, o que é demonstrado no Gráfico 1. Em relação ao tipo de defeito mais encontrado (Gráfico 2), a opacidade definida foi a mais prevalente, com 3% da amostra, seguida da opacidade difusa (1,8%) e da hipoplasia de esmalte 0,8%. Avaliadas as faces dos elementos dentais mais acometidas por defeitos de esmalte, averiguou-se que a face vestibular foi a mais atingida com 4,6% dos casos, seguida da oclusal com 0,7%. As outras faces somadas obtiveram apenas 0,3%. Tais valores são demonstrados no Gráfico 3.

DISCUSSÃO

Os defeitos de esmalte, apesar de serem responsáveis por problemas odontológicos como estética desfavorável, sensibilidade dentária, oclusão desfavorável e serem considerados como fator predisponente à cárie dental, são lesões ainda pouco valorizadas no sentido de estabelecer medidas preventivas, diagnósticos precoces e tratamento efetivo. Estas lesões apresentam etiologia multifatorial e distribuição diferente entre as populações, além de exibirem uma grande variedade nas taxas de prevalência entre os estudos realizados. Pesquisa realizada por Lunardelli e Peres8 (2005), evidenciou uma prevalên-

cia relativamente alta (24,4%) de defeitos na dentição decídua em pré-escolares com idade entre 3 e 5 anos. Nesse estudo, a prevalência de defeitos foi de 5,6%, conforme demonstra o Gráfico 1, podendo ser considerada baixa ao ser comparada também com outras pesquisas que obtiveram prevalência bem mais alta: 13% 4 e 62%7. Esta grande variação pode ser compreendida pelas diferenças nos critérios estabelecidos para o diagnóstico, tamanho da amostra, além da variação entre as populações estudadas. Observa-se, entretanto, que a prevalência de defeitos de esmalte nesta pesquisa (5,6%), esteve próxima do resultado (9,1%) encontrado por Gomes et al.5 (2004). Relacionando a presença de defeitos

Lima, Maria GermanaRev. Galvão Correia al. Prevalência defeitos do esmalte2009 dentário em crianças com idade entre 3 e 9 anos atendidas na (UFPB) ABO Nac.et- Vol. 17 nº 5 - de Outubro/novembro

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de esmalte com os grupos de dentes (anteriores e posteriores) Lunardelli e Peres8 (2005) constataram que os dentes mais acometidos foram os segundos molares (44,4%), seguidos pelos primeiros molares (23,5%). No presente estudo, dos 2144 elementos dentários examinados, apenas 120 apresentaram algum tipo de defeito de esmalte, sendo 49 em elementos anteriores e 71 em posteriores. Este fato pode estar relacionado ao período de formação dentária da dentição decídua, onde nos dentes anteriores ocorre somente na fase pré-natal, enquanto nos posteriores o desenvolvimento envolve os períodos pré e pós-natal, estando este grupo de dentes mais expostos aos insultos ambientais, sendo mais frequentemente acometidos. Com relação aos tipos de defeitos, Hanser-Ducatti et al.6 (2004), demonstraram o tipo de lesão mais frequente como sendo a opacidade difusa nos dentes anteriores (incisivos) e opacidade demarcada nos posteriores (primeiros molares), fato também observado por Lunardelli e Peres8 (2005), em que as opacidades difusas foram os defeitos mais encontrados (17,9%), seguidos das hipoplasias (11,1%) e opacidades demarcadas (6,1%). Já de acordo com Hoffmann et al.7 (2007) o defeito de esmalte mais prevalente na dentição decídua foi a opacidade demarcada (20,9%), resultado este, semelhante ao encontrado nesta pesquisa, onde a opacidade definida se constituiu no tipo de defeito mais prevalente (3,0%), seguida da opacidade difusa (1,8%) e da hipoplasia de esmalte (0,8%) (Gráfico 2). O tipo e a forma de apresentação do defeito de esmalte dependem do estado de desenvolvimento dos dentes atingidos, bem como do

momento, duração (aguda ou crônica) e intensidade da influência13. Neste estudo, conforme demonstrado no Gráfico 3, a face vestibular dos elementos dentários foi a mais atingida (4,6%). Defeitos de esmalte na face vestibular tornam-se menos propensos ao desenvolvimento de cárie, por se tratar de uma superfície de fácil acesso aos cuidados de higiene dental, diferentemente do que ocorre na superfície palatina, por ser de difícil acesso, e na superfície oclusal por apresentar uma anatomia rica em detalhes, sendo mais favoráveis à retenção de placa e susceptíveis à cárie. O tratamento estabelecido para defeitos de esmalte varia com o grau de comprometimento das estruturas dentárias, podendo ser indicado desde uma microabrasão do esmalte até tratamento restaurador com compósito, conforme sugeriram Affonso et al.1 (2001). CONCLUSÃO

Apesar da prevalência de defeitos de esmalte entre as crianças avaliadas ter sido baixa, cuidados especiais devem ser dispensados, quando necessário, no que tange ao restabelecimento da função; considerar também, e respeitar durante o planejamento e sua execução, as sérias consequências emocionais e sociais a que está submetido o paciente que se encontra com tal prejuízo funcional e estético. REFERÊNCIAS 1. Affonso BO, Rezende GS, Volschan BCG. Hipoplasia de esmalte: uma alternativa de tratamento. JBP. 2001;4(22):517-21. 2. Ainamo J, Cutress TW. An epidemiological index of developmental defects of dental

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Lima, Maria em crianças com-idade anos atendidas na (UFPB) ABO Nac. Vol. entre 17 nº35e -9Outubro/novembro 2009 300Germana Galvão Correia et al. Prevalência de defeitos do esmalte dentárioRev.


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Revisão

Diagnóstico por imagem para os pacientes com necessidades especiais Diagnostic imaging for disabled persons Palavras-chave: Diagnóstico por imagem. Pessoas com deficiência. Key words: Diagnostic imaging. Disabled persons.

Renata de Almeida Antonaccio* Elcio Magdalena Giovani** Cláudio Costa***

RESUMO

A presente revisão de literatura tem por objetivo elucidar a importância da radiologia odontológica e imaginologia no atendimento de pacientes portadores de necessidades especiais, como exame complementar ao diagnóstico clínico, apresentando as técnicas radiográficas convencionais e os métodos recentes, como as radiografias digitais e as tomografias computadorizadas. ABSTRACT

This review of literature is to elucidate the importance of dental radiology and imaginology in the care of disabled persons such as supplementary examination to clinical diagnostic, presenting the conventional radiographic techniques and methods recently, as the digital radiographs and computer tomographies.

Mestranda em Diagnóstico Bucal pela Universidade Paulista (Unip) - Indianópolis. E-mail: antonaccio.renata@gmail.com ** Professor Doutor Titular da Disciplina de Clínica Integrada e Programa de Mestrado em Odontologia da Unip - Indianópolis. E-mail: elciomg@uol.com.br *** Professor Doutor do Programa de Mestrado em Odontologia da Unip – Indianópolis. E-mail: ccosta@unip.br *

INTRODUÇÃO

Revisão da literatura

O crescimento dos questionamentos relativos à inclusão social e os vários recursos encontrados hoje na Medicina, fazem com que haja um aumento na expectativa de vida dos pacientes com necessidades especiais. Existe uma preocupação maior com a saúde bucal e com a qualidade de vida, destes pacientes, se fazendo necessária a existência de profissionais mais qualificados e especializados, bem como de recursos diagnósticos e terapêuticos, para que seja possível proporcionar um atendimento mais direcionado, olhandoos com um todo e dando maior atenção às suas alterações patológicas, que podem ou não estar ligadas à Odontologia. O cirurgião-dentista deve realizar anamnese detalhada e exame clínico minucioso, considerando não apenas os dentes, mas todo o sistema estomatognático. Atualmente, pode-se lançar mão de diversos recursos auxiliares de imagem, com o intuito de complementar o diagnóstico clínico.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% da população de países de Terceiro Mundo apresenta algum tipo de deficiência 17, 19. O Censo Brasil 2000 relata que 14,5% da população brasileira é portadora de alguma deficiência 12. Sabbagh-Haddad e Fanganiello 14 (2004) relataram que é muito importante conceituar e classificar o indivíduo com necessidades especiais na Odontologia, para que se possa dispor de uma mesma escala avaliativa, auxiliando profissionais da área a estudarem e desenvolverem protocolos futuros. Elias e Elias7 (1998) observaram que existem muitas condições clínicas que põem em risco a saúde geral das crianças especiais que sofrem de uma patologia oral ou recebem um tratamento odontológico de rotina, porém, em decorrência dos avanços da ciência e conhecimento médico, tem havido um aumento na sobrevida dessas crianças cronicamente

ABO et Nac. - Vol. 17 nºpor 5 -imagem Outubro/novembro 2009com necessidades especiais Antonaccio, Renata Rev. de Almeida al. Diagnóstico para os pacientes

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doentes, e por conseguinte, um aprimoramento no tratamento odontológico específico. São conceituados como pacientes com necessidades especiais para a Odontologia, aqueles que apresentam doenças e/ou condições que requerem atendimento diferenciado, podendo apresentar alterações mentais, físicas, orgânicas, sociais e/ou comportamentais, sendo classificadas em grupos: Deficiência Mental, Deficiência Física, Síndromes e Deformidades Craniofaciais, Distúrbios Comportamentais, Transtornos Psiquiátricos, Distúrbios Sensoriais, Doenças Sistêmicas Crônicas, Doenças Infectocontagiosas e Condições Sistêmicas 16. O tratamento odontológico do paciente com necessidades especiais deve ser estabelecido, após uma detalhada anamnese, contendo a história médica atual e pregressa, aspectos psicológicos e comportamentais, exame físico, exame clínico extra e intrabucal, e exames complementares, que determinarão o diagnóstico do indivíduo 17. O paciente especial se distingue dos outros, na Odontologia, não pela sua condição de saúde bucal, mas por ter outras doenças fora da área de atuação da Odontologia, podendo ser considerado especial também o paciente fora dos padrões psicológicos, culturais e sociais esperados para o local e tempo em que o atendimento odontológico está sendo prestado19. Grunsven e Cardoso11 (1995) citaram que os problemas bucais mais encontrados nos pacientes especiais são: acúmulo de placa e tártaro, risco de doenças periodontais severas, padrões aumentados de cáries, alta prevalência de lesões traumáticas nos dentes, proporcionando complicações posteriores, maloclusões, amelogênese imperfeita, hipertrofias gengivais ocasionadas pelo uso de drogas de uso diário do paciente, hábitos de mau posicionamento de língua, bruxismo e respiração bucal, entre outros. Frente a isso, de acordo com Souto et al.20 (2004), é muito importante que o profissional examine não apenas dentes, mas todo o complexo bucomaxilofacial, e

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todas as suas estruturas, sendo necessário um exame clínico e uma anamnese minuciosa, utilizando muitas vezes os exames imaginológicos, sendo normalmente, a radiografia panorâmica a técnica de escolha, pois permite a visualização de todo o complexo maxilomandibular e estruturas anatômicas próximas à região dentoalveolar, especialmente no que se refere às anomalias de desenvolvimento. Triviño et al.21 (2006) relataram que até pouco tempo, na Odontologia, os exames radiográficos imperavam para o diagnóstico de diversas patologias; atualmente existem diversos exames de imagem que possibilitam a complementação do diagnóstico clínico, como as radiografias digitais, a ultra-sonografia, cintilografia, tomografias computadorizadas e ressonância magnética. A ressonância magnética (RM) é uma modalidade de exame na área de Diagnóstico por Imagem capaz de reproduzir imagens selecionadas do corpo humano por qualquer plano, com a grande vantagem de não expor o paciente à radiação ionizante, como acontece com as radiografias convencionais. Para a Odontologia, existem aplicações especiais dos exames imaginológicos como a tomografia computadorizada que é utilizada para estudos da ATM, implantes, diagnósticos de fraturas e de alterações patológicas (cistos e tumores). A ressonância magnética pode ser utilizada para estudos da ATM, análise dos tecidos moles e das glândulas salivares maiores, porém estes dois exames citados, demandam tempo em sua execução, o que é um fator limitante para os pacientes portadores de necessidades especiais, muitas vezes sendo necessária a utilização da sedação para a completa imobilização durante a realização dos dois exames citados. A radiografia digital tem sido bastante utilizada para os estudos de cárie e das alterações do tecido ósseo 5, 8. A primeira radiografia da história foi realizada por Otto Walkhoff, em 1896, com um tempo de exposição de 30 minutos, sendo que em mais de um século de evolução, o tempo de exposição sofreu redução incrível nas doses necessária para

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a obtenção de radiografias dentárias. A necessidade de uma maior agilidade, praticidade e radioproteção, explicam o desenvolvimento incessante de novas tecnologias radiológicas. O Sistema Radiográfico Digital existe desde os anos 80, porém seu custo é um fator limitante ao uso generalizado. Esta técnica, porém, oferece diversas vantagens, como a diminuição nas doses de radiação a que o paciente é exposto, agilidade na observação de imagens, redução de custos com materiais de consumo (filmes e soluções químicas), preservação do meio ambiente e marketing profissional. Como desvantagem apresenta alto custo inicial do equipamento, necessidade de grande espaço para armazenamento das imagens, ausência de padronização entre computadores e sistemas, impressões abaixo da ideal e possibilidade de manipulação de imagens pelo profissional, através de programas de edição 3, 5, 8, 13. O uso de novos filmes, mais sensíveis, e de variações nos métodos de processamento químico, visam diminuir o tempo de exposição e, conseqüentemente, a dose de radiação recebida pelo paciente, sem perda da qualidade das radiografias. O controle de qualidade será baseado na avaliação constante de fatores energéticos relacionados com as exposições aos raios X, processamento de imagens, proteção ao paciente e ganho de tempo de trabalho, sendo este controle de qualidade obtido através das normas propostas pela American Academy of Dental Radiology - Quality Assurance Committee, nas quais foram estabelecidos controles anuais, mensais, e diários dos materiais envolvidos na obtenção de radiografias 6, 9. Silva et al.18 (2004) afirmaram que a radiografia panorâmica, também chamada de pantomografia, ou radiografia rotacional, é muito utilizada em diversas especialidades da Odontologia para a observação de estruturas ósseas e dentárias da maxila e da mandíbula, podendo ser detectadas grandes alterações patológicas, dentes ausentes ou supranumerários. Porém, deve-se levar em consideração que esta técnica apresenta índices de distorção bastante variáveis em relação aos tamanhos

Rev.por ABO Nac.para - Vol. 17 nº 5 - com Outubro/novembro 2009 Antonaccio, Renata de Almeida et al. Diagnóstico imagem os pacientes necessidades especiais


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reais das imagens, muitas vezes modificando o resultado clínico da radiografia. Na Odontologia, a radiografia panorâmica é a técnica extrabucal mais utilizada, devido a sua ampla cobertura de todo o complexo maxilomandibular e das articulações temporomandibulares em um mesmo filme, facilidade de técnica, rapidez, conforto para o paciente, baixa dose de radiação, baixo custo e possibilidade de comparação das estruturas contralaterais; alguns trabalhos também indicam que a radiografia panorâmica pode ser um meio auxiliar na detectação dos pacientes com risco de AVC, porém esta técnica apresenta algumas limitações, como ampliação horizontal não uniforme, obtenção de imagens distorcidas e impossibilidade de análise de estrutura óssea no sentido vestíbulo-lingual 2 ,5. As radiografias oclusais, atualmente, são menos utilizadas pelo cirurgião-dentista, uma vez que as radiografias periapicais e interproximais, devido sua simplicidade e baixo custo, tomaram espaço; porém, as radiografias oclusais totais de maxila têm indicações precisas, como na observação de corpos estranhos, raízes residuais, dentes supranumerários, avaliação em pacientes desdentados, avaliação da extensão das fissuras palatinas, acompanhamento das disjunções maxilares, sendo também um exame complementar importante às outras técnicas radiográficas 22. As radiografias intrabucais apresentam como vantagens em relação às radiografias panorâmicas a maior nitidez e a possibilidade de observação de pequenas estruturas ou lesões, porém as radiografias panorâmicas apresentam maior conforto para o paciente, sendo esta técnica muito indicada em Odontopediatria 1, 5. DISCUSSÃO

A OMS diz que o número de pacientes portadores de necessidades especiais em países de Terceiro Mundo é de 10% 17, 19 e, de acordo com o Censo Brasil 2000, 14,5% da população brasileira é portadora de algum tipo de deficiência12. Sabbagh-Haddad e Santos16 (2003) e Silva et al.18 (2004), conceituaram os paci-

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entes com necessidades especiais em Odontologia, como sendo aqueles que necessitam de um tratamento mais especifico devido às suas condições de saúde geral e não apenas odontológicas. Para Souto et al.20 (2004), é muito importante que o cirurgião-dentista faça um exame clínico minucioso e uma anamnese direcionada, complementando se necessário, o diagnóstico com exames de imagem. Grusven e Cardoso10 (1995) relataram em seu trabalho que os problemas bucais mais encontrados nos pacientes especiais são acúmulo de placa e tártaro, risco de doenças periodontais severas, padrões aumentados de cáries, alta prevalência de lesões traumáticas nos dentes, proporcionando complicações posteriores, maloclusões, amelogênese imperfeita, hipertrofias gengivais ocasionadas pelo uso de drogas de uso diário do paciente, hábitos de mau posicionamento de língua, bruxismo e respiração bucal. A radiografia panorâmica é a técnica extrabucal mais utilizada, apresentando cobertura de todo o complexo maxilomandibular e das articulações temporomandibulares em uma mesma película, rapidez e facilidade da técnica, maior conforto para o paciente, baixo custo e baixa dose de radiação 2, 4, 5, 10, 19. Atualmente, o uso de filmes mais sensíveis e as variações nos métodos de processamento químico que visam diminuir o tempo de exposição e a dose de radiação recebida pelo paciente, pode ser uma alternativa válida para pacientes com necessidades especiais que apresentem algum transtorno comportamental, no qual, a técnica periapical convencional muitas vezes fica dificultada pela própria condição do paciente. A Radiografia Digital, apesar de seu alto custo, oferece diversas vantagens, como a diminuição nas doses de radiação que o paciente é exposto e agilidade na visualização de imagens, podendo ser também uma alternativa para e execução de radiografias em pacientes especiais 3, 5, 8, 13. CONCLUSÕES

Diante da revisão da literatura efetuada parece lícito concluir que:

ABO et Nac. - Vol. 17 nºpor 5 -imagem Outubro/novembro 2009com necessidades especiais Antonaccio, Renata Rev. de Almeida al. Diagnóstico para os pacientes

1. As técnicas radiográficas intrabucais convencionais (periapicais e interproximais) são as mais indicadas no estudo de cáries e alterações do tecido ósseo. 2. As radiografias panorâmicas apresentam grande utilidade na observação do complexo maxilo-mandibular em pacientes colaborativos. 3. As radiografias digitais reduzem o tempo de exposição e a dose de radiação nas técnicas intrabucais convencionais, facilitando o manejo do paciente. 4. As tomografias computadorizadas e ressonância magnética são recursos aplicáveis em casos específicos de planejamento do tratamento cirúrgico/protético, demandando geralmente o uso de sedação. REFERÊNCIAS 1. Brandt C, Biaggioni NA, Ogawa CM, Fukuyama JA, Bordignon LA. Radiografias panorâmicas e sua utilização. Rev ABRO (Bauru); 2000;1(2):35-40. 2. Carneiro Júnior EG, Freitas DQ, Montebelo FA. Avaliação da ampliação da imagem em radiografias panorâmicas. Rev ABRO (Bauru). 2002;3(2):41-6. 3. Castilho LCM, Moraes LC, Costa NP, Dotto GN. Radiografia digital - histórico e evolução. Rev Odonto Ciênc. 2003;18 (41):279-84. 4. Cecchi P. Prevalência de anomalias dentárias de desenvolvimento através de radiografias panorâmicas para documentação ortodôntica de pacientes na faixa etária de 8 a 20 anos na cidade do Rio de Janeiro Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2003. 5. Costa C. Arita ES. Odontologia para pacientes com necessidades especiais. São Paulo: Santos; 2007. p.107-17. 6. Costa CD, David AF, David SMN, Matsui RH, Castilho JCM, Varoli FP. Estudo das densidades base e velamento obtido de filmes radiográficos em diferentes condições de processamento, Rev Ciênc Odontol Bras. 2005;8(1): 90-6. 7. Elias C, Elias R. Atenção odontológica à pacientes especiais. RGO (Porto Alegre). 1995;43(2):67-70. 8. Ferreira RA. Odontologia em imagens. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1996;50(3):218-28. 9. Giannakopoulos R, Costa C, Tavano O, Oliveira JX, Varoli FP. Contribuição para o estudo das densidades base e velamento de diferentes filmes radiográficos. Rev Inst Ciênc Saúde. 2004;22(2): 67-74. 10. Gonçalves A, Sannomya EK, Lugão CEB,

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Rev.por ABO Nac.para - Vol. 17 nº 5 - com Outubro/novembro 2009 Antonaccio, Renata de Almeida et al. Diagnóstico imagem os pacientes necessidades especiais


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Revisão

Placas oclusais x DTM – O papel do cirurgião-dentista no tratamento das disfunções temporomandibulares Occlusal splints x TMD – The function of the dentist in the treatment of temporomandibular disorders Palavras-chave: Placas oclusais. Transtornos da articulação temporomandibular. Key words: Occlusal splints. Temporomandibular joint disordes.

Gustavo Moreira de Melo*

RESUMO

A terapêutica proposta a qualquer subtipo de DTM deve ter um caráter funcional, sendo fundamental a compreensão dos problemas correlacionados e da etiologia da desordem. A utilização de dispositivos interoclusais é uma forma conservadora e muito valiosa para redução dos sinais e sintomas das DTMs e pode ser utilizada em conjunto com outras terapias. O presente estudo tem como objetivo demonstrar que o cirurgião-dentista deve estar atento quanto a um diagnóstico correto, a fim de proporcionar o tratamento adequado ao paciente. Visa explicar o mecanismo das placas interoclusais, diferenciar e classificar os tipos de placas, e indicar quais são adequados para cada subtipo de DTM. É necessário compreender o mecanismo de funcionamento dos dispositivos interoclusais no tratamento das disfunções. É inegável que há também desvantagens e deve ser ressaltado que são contraindicadas em pacientes em fase de desenvolvimento. A dificuldade em avaliar-se a efetividade das placas oclusais no tratamento das dores se relaciona a fatores como a falta de uma padronização dos estudos quanto ao diagnóstico adequado, o tempo de uso das placas, o índice utilizado para avaliação, a cooperação do paciente e a avaliação psicológica, dentre outros. ABSTRACT

* Cirurgião-dentista, graduado pela Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). E-mail: gustavomelo7@hotmail.com

Therapeutical proposal to any subtype of TMD must have a functional character, being basic the understanding of the co-related problems and the etiology of the dysfunction. The use of interoclusal devices is a form very valuable conservative and for reduction of the signals and symptoms of TMD and can be used in set with other therapies. The present study it has as objective to demonstrate that the dentistsurgeon must be intent how much to a correct diagnosis, in order to provide the adequate treatment to the patient. It also aims at to explain the mechanism of the interocclusal splints, to differentiate and to classify the types of splints, and to indicate which if they adjust to each subtype of TMD. It is necessary to understand the mechanism of functioning of the interocclusal devices in the treatment of the dysfunctions. It is undeniable that it has also disadvantages and it must be salient that they are against indicated in patients in development phase. The difficulty in evaluating the effectiveness of the oclusal splints in the treatment of pains relate the factors as the lack of a standardization of the studies how much to the adjusted diagnosis, the time of use of the plates, index used for evaluation, cooperation of the patient, psychological evaluation, amongst others.

Rev. - Vol. 17 nº–5O-papel Outubro/novembro 2009 no tratamento das disfunções temporomandibulares Melo, Gustavo Moreira de.ABO PlacasNac. oclusais x DTM do cirurgião-dentista

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INTRODUÇÃO

As disfunções temporomandibulares e as dores orofaciais são anormalidades e condições dolorosas, caracterizadas, principalmente por um quadro crônico e com frequente aparição em grande parcela da população. Dentre as estruturas envolvidas, se encontram a musculatura mastigatória, a região da ATM e a craniocervical; são classificadas como de origem muscular e articular. Uma alteração nos componentes do sistema estomatognático pode determinar um desequilíbrio de seu funcionamento, podendo assim resultar em uma DTM. Os principais sinais e sintomas das disfunções são as dores nos músculos da mastigação ou na ATM, ruídos articulares, limitação de abertura, abrasões dentárias acentuadas ou fraturas frequentes de dentes ou restaurações, retração gengival, falta de oclusão adequada, distúrbios auditivos, cefaléias, sensibilidade em toda musculatura do sistema estomatognático e cervical5,7,11. Parece ser consenso que fatores estruturais, funcionais e psicológicos estejam reunidos, determinando uma origem multifatorial a essas disfunções. Para autores como Favero7 (1999) e Stechman Neto et al.17 (2001), o tratamento de casos de DTM exige um conhecimento profundo da etiologia do problema. A terapêutica proposta a qualquer subtipo de DTM deve ter um caráter funcional, sendo fundamental a compreensão dos problemas correlacionados e da etiologia da desordem. O diagnóstico é a chave para o sucesso do tratamento. É importante entender que os pacientes reagem de formas diferentes às diversas terapias, e assim, o profissional deve adequar o tratamento ao paciente, a fim de obter os melhores resultados possíveis. Para as disfunções temporomandibulares, o tratamento geralmente envolve uma combinação de terapias. Primordialmente, é necessário o aconselhamento aos pacientes a evitar parafunções. De acordo com a literatura, medicamentos são prescritos para diminuir a dor (AINES, relaxantes musculares; infiltrações de anestésicos nos trigger points também são utilizadas); tratamento fonoaudiológico (mio-

terapia); tratamento fisioterápico (TENS e exercícios que contribuam para o alívio da dor); e, de acordo com a gravidade, as técnicas cirúrgicas (artrocentese, artroscopia, e artrotomia) também fazem parte desta combinação. Geralmente, recomenda-se ao paciente uma dieta pastosa, restrição dos movimentos mandibulares e aplicação de compressas de calor ou gelo7-8,12-13,18. A utilização de um dispositivo interoclusal é uma forma conservadora de tratamento muito valiosa para redução dos sinais e sintomas das DTMs que pode ser utilizada em conjunto com outras terapias. O objetivo deste artigo é demonstrar que o cirurgião-dentista deve estar atento quanto a um diagnóstico correto, a fim de proporcionar o tratamento adequado ao paciente. É importante ressaltar que relativa parcela dos indivíduos que sofre de disfunção apresenta ansiedade, estresse e até depressão. Devido a isso, é salutar o tratamento simultâneo ao acompanhamento psicológico. Fisioterapeutas, fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e neurologistas também compõem uma equipe interdisciplinar. O presente estudo visa, também, explicar o mecanismo das placas interoclusais, diferenciar e classificar os tipos, além de avaliar quais podem se adequar a cada subtipo de DTM. A literatura refere-se às placas como sendo dispositivos intrabucais colocados sobre as superfícies dentárias com a finalidade de diminuir os sinais e sintomas de disfunção muscular, articular ou inibir a presença de atividades parafuncionais. Dentre os tipos de placas ou dispositivos, se encontram o Jig de mordida, o Front plateau, a Placa estabilizadora (denominada historicamente como miorrelaxante), a Placa de mordida e a Placa reposicionadora, que serão discutidos detalhadamente neste estudo2,4,6-7,16,20. DISCUSSÃO Placas oclusais no tratamento das dores

O controle da sintomatologia dolorosa e do desconforto é o objetivo principal do tratamento da DTM. Dentre as inúmeras vantagens das placas oclusais, estão o cus-

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to reduzido; a facilidade na confecção; o tratamento não invasivo e conservador; e, o efeito terapêutico sobre músculos e articulações, obtido rapidamente. O dispositivo ideal deve ser reversível, confortável, relativamente estético e funcional7,11-12,17. A indicação ao uso das placas oclusais no tratamento das dores orofaciais e disfunções, foi descrita por vários autores, e inclui a diminuição da hiperatividade muscular e o tratamento dos distúrbios articulares; estas também são indicadas para reposicionar o disco articular deslocado anteriormente; no tratamento da miosite, da dor miofascial e da cocontração protetora; para melhorar a eficiência mastigatória; a estabilização dos contatos; a melhoria no relacionamento côndilo-disco; o reposicionamento correto do côndilo na cavidade glenóide; além de auxiliar no diagnóstico diferencial das DTMs2,10,15,16. As placas oclusais geram efeitos na função mastigatória, como mudanças na condição oclusal e condilar, aumento da dimensão vertical, conscientização cognitiva, e parecem suprimir os impulsos sensoriais do Sistema Nervoso Central, além do efeito placebo (uso de medicamentos; efeito mais psicológico)13. De acordo com Spyrides et al.* (1999) apud Costa e Silva4 (2001), independente da técnica usada na confecção da placa, deve haver alívio dos sintomas, proteção contra o atrito e cargas traumáticas provenientes das parafunções. Para autores como Okeson13 (2000) há grandes evidências em pesquisas de que os tratamentos com placas oclusais apresentam sucesso de 70 a 90% na redução dos sintomas relacionados às disfunções da ATM. Conforme reiteravam Barbosa2 (1998) e Santos16 (2003), o uso de placas faz parte de uma terapia reversível, desde que sejam utilizadas por um curto período de tempo. Em tratamentos longos, existe a necessidade de acompanhamento mais próximo do caso, bem como de análises longitudinais de sua evolução. Deve-se ressaltar sempre que o sucesso do tratamento está * Spyrides SMM, Zspryrides GM, Eite KSA. Placas oclusais no tratamento de bruxismo e desordens temporomandibulares. JBO & Ort Fac. 1999;4:366-77.

Rev. ABOno Nac. - Vol. 17 5 - Outubro/novembro 2009 306 Melo, Gustavo Moreira de. Placas oclusais x DTM – O papel do cirurgião-dentista tratamento dasnºdisfunções temporomandibulares


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estritamente vinculado a um diagnóstico correto. Para Rodrigues e Correia15 (2000), para DTM, o uso da placa é indicado por três a seis meses. Para Garcia e Madeira8 (1999) , ao se eliminar as interferências através da placa oclusal, reduz-se o grau de informação sensorial oriundo dos receptores do ligamento periodontal durante a parafunção, fazendo com que ocorra diminuição da atividade dos músculos masseter e temporal, o que possibilita o relaxamento muscular. Para Okeson13 (2000) , a placa oclusal é indicada no tratamento de subtipos de DTM, tais como a sensibilidade muscular local ou mialgia local. Ainda para o autor, o tratamento para as desordens inflamatórias da ATM é direcionado para a diminuição da dor, controle das parafunções, melhora da função mastigatória, e recuperação das atividades diárias normais. Para o deslocamento do disco com redução, é indicada uma placa estabilizadora para reduzir a dor intracapsular. Para o tratamento da sinovite e a capsulite, além da combinação de terapias, é indicada a placa estabilizadora (na presença de hiperatividade muscular). Na retrodiscite, o tratamento é direcionado à eliminação da condição traumática, além do uso da placa de reposicionamento anterior para deixar o côndilo fora dos tecidos retrodiscais. E para a artrite ou a osteoartrite, causada por sobrecarga das estruturas articulares, o tratamento é direcionado para a diminuição da sobrecarga, através do uso da placa de reposicionamento anterior. Caso haja hiperatividade muscular, pode ser confeccionada uma placa oclusal lisa. É fundamental restringir os movimentos mandibulares, dieta macia e termoterapia13. Classificação das placas interoclusais

Os dispositivos interoclusais podem diferir em desenho e indicações. De acordo com Becerra Santos et al.* (1995) apud Rodrigues e Correia15 (2000), a placa estabilizadora é indicada para o tratamento das DTMs e parafunções; as reposicionadoras anteriores para interferências e disfunções do disco articular, presença de

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ruídos articulares e processo inflamatório agudo; as placas de mordida anterior com desoclusão dos posteriores são indicadas nas DTM musculares de instabilidade ortopédica; as placas de plano de mordida posterior são confeccionadas para tratamento de perda de dimensão vertical, de reposicionamento mandibular anterior e regeneração do disco articular; além do Front plateau que diminui a atividade muscular. A seguir, o mecanismo de funcionamento de cada uma delas, bem como suas indicações no tratamento das dores, serão explicitados. Front plateau

De acordo com Barbosa et al.2 (1998), os aparelhos frontais têm por objetivo impedir o contato dos dentes posteriores nos movimentos mandibulares cêntricos ou excêntricos. São indicados para romper o ciclo dor-contração, desenvolvido por contatos dentários, diminuindo a atividade muscular e aumentando o fluxo sanguíneo local das fibras musculares. Posicionam os côndilos numa condição próxima à relação cêntrica, evitando a deflexão mandibular. Podem auxiliar no diagnóstico diferencial de DTMs. São contraindicadas nas disfunções musculares com distúrbios articulares associados, e podem favorecer a extrusão de dentes posteriores quando utilizadas por período superior a quatro dias2. Placa de mordida

A placa de mordida é de fácil confecção, rápida nos resultados e indicada, principalmente na presença de parafunções, associadas a mialgia e mioespasmo. Contudo, há contraindicação em casos de pacientes com distúrbios articulares associados à DTM articular. A placa de mordida anterior deve ser indicada em casos de mioespasmo, parafunções, e na presença contatos prematuros posteriores, porém, seu uso prolongado pode causar extrusões nos posteriores, pois objetiva a desoclusão posterior. A placa de mordida posterior é usada para perda da dimensão vertical e para reposicionar a mandíbula anteriormente2,4,9.

Placa estabilizadora

A placa estabilizadora é um aparelho que permite aos côndilos excursionarem sem limitação de movimentos. Sua superfície oclusal é lisa, sem impressões cuspídicas dos dentes antagonistas, promovendo a estabilização mandibular como contatos sem intercuspidações, o que leva a perda do reflexo neuromuscular condicionado pela MIH. De acordo com Uetanabara et al.20 (2000), e Nadin et al.12 (2005), as placas estabilizadoras permitem que a ação muscular ocorra de maneira coordenada, eliminando assim, a causa e efeito da descoordenação muscular, sendo muitas vezes denominados desprogramadores musculares. De acordo com a literatura, a placa estabilizadora deve ser responsável pela diminuição da sintomatologia dolorosa, proteção dos dentes contra a ação dos hábitos parafuncionais, e relaxamento muscular no tratamento das DTMs. Promove melhor relacionamento côndilo-fossa, estabelecendo função normal. É não invasiva e reversível2,4,6,12,20. Para Guedes et al.9 (1998), a placa estabilizadora é usada para casos de hiperatividade muscular, mioespasmo, miosite e interferência do disco. Esta placa é a mais indicada, com sucesso, e menores alterações oclusais definitivas. O tratamento tem por objetivo, reduzir os impulsos da má oclusão e parafunção, protegendo os dentes e estruturas anexas de forças excessivas. As placas estabilizadoras, segundo Rodrigues e Correia15 (2000), com superfície oclusal plana são indicadas para alterações extra-articulares, sintomas associados a DTMs, hábitos parafuncionais e interferências oclusais. Com guia anterior, são usadas para o tratamento das DTMs musculares e deslocamento anterior do disco. As placas estabilizadoras devem ser regularmente ajustadas, a fim de compensar as mudanças no relacionamento maxilomandibular19. *

Becerra Santos G et al. Terapia oclusal com placas. Rev Fac Odontol Univ Antioquia. 1995; 7(1):41-7.

Rev. - Vol. 17 nº– 5O-papel Outubro/novembro 2009no tratamento das disfunções temporomandibulares Melo, Gustavo Moreira de.ABO PlacasNac. oclusais x DTM do cirurgião-dentista

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Como confirma Pádua et al.14 (1998), a montagem do modelo no articulador agiliza os procedimentos laboratoriais na confecção de placa estabilizadora, diminuindo o tempo de trabalho do profissional e do paciente em consultório. Placa reposicionadora

As placas reposicionadoras ajudam no tratamento de deslocamentos de disco crônicos, travamentos e inflamações da zona bilaminar. De acordo com Attanasio1 (1997) e Conti et al.3 (2005), a intenção terapêutica deste tratamento é a correção ortopédica do deslocamento do disco pelo reposicionamento mandibular numa posição mais anteriorizada, de forma que o disco é levado à sua posição original na cabeça do côndilo. Como a maior parte dos discos deslocados está anteriormente ou anteromedialmente deslocado, a mandíbula é geralmente levada a uma posição anterior. O objetivo final da terapia reposicionadora para desarranjos internos é oferecer uma mudança temporária da posição mandibular que permita ao tecido retrodiscal tornar-se mais fibroso, de forma que o côndilo mandibular possa ocupar sua posição original na fossa mandibular. Para Uetanabara et al.20(2000), Molina et al.11 (2001), além de utilizadas para reposicionamento do disco, as placas reposicionadoras também podem afastar o côndilo de uma área de compressão na região posterior, contribuindo para a cicatrização e remodelação dos tecidos. As placas reposicionadoras, mantém a mandíbula numa posição mais anterior que a MIH do paciente, promovendo em alguns casos a redução do disco articular, restabelecendo a normalidade funcional. A placa reposicionadora parece ser mais benéfica no tratamento de deslocamentos agudos de disco com redução do que nos sem redução. De acordo com Conti et al.3 (2005), o uso parcial ou controlado das placas reposicionadoras é muito útil no tratamento da dor orofacial. Há uma diminuição da pressão interna e alívio dos tecidos retrodiscais. A placa reposicionadora altera a relação maxilomandibular, e age no espaço intra-articular.

Segundo Rodrigues e Correia15 (2000), as placas reposicionadoras ou protrusivas, com superfície oclusal em protrusão, são indicadas para alterações intra-articulares, alterações no disco, deslocamento, perfurações, aderências, ruptura e alterações anatômicas do côndilo. Estabilizam a mandíbula em protrusiva e proporcionam alívio temporário em deslocamento anterior do disco com redução, não sendo eficaz na redução permanente. Mesmo não sendo curativas, as placas podem muitas vezes, proporcionar alívio significante no desconforto dos estágios agudos da DTM. Segundo Major e Nebbe* (1997) apud Miranda10 (2000), a placa de reposicionamento anterior é efetiva no tratamento de desordens articulares, quando a dor está associada ao estalido. Para Guedes et al.9 (1998), a placa de reposicionamento anterior é usada para deslocamento do disco e dor retrodiscal, e o tratamento objetiva a obtenção do bom relacionamento côndilofossa. Santacatterina* (1998) e Simmons e Gibbs* (1995), apud Santos16 (2003), compararam o uso das placas estabilizadoras com as placas de reposicionamento anterior (com funções opostas), por serem também placas de grande ação terapêutica, principalmente nas DTMs articulares. CONCLUSÃO

É fundamental compreender a importância e o mecanismo de funcionamento dos dispositivos interoclusais no tratamento das dores e disfunções temporomandibulares. É inegável que há também desvantagens nesta terapia, pois as placas podem ser relativamente não estéticas, e dependem da cooperação e uso por parte do paciente. Deve ser ressaltado que são estritamente contraindicadas em pacientes na fase de desenvolvimento. Um diagnóstico correto é a chave para o sucesso do tratamento. Um fator que pode influenciar é o estado emocional do paciente. Deve-se compreender que os pacientes reagem de formas diferentes às diversas terapias, e assim, o profissional deve adequar o tratamento ao paciente, a fim de obter melhores resultados.

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A grande dificuldade em avaliar-se a efetividade das placas oclusais, principalmente no tratamento das dores orofaciais, está na falta de uma padronização das pesquisas devido a diversos fatores como o diagnóstico adequado, o tempo de uso das placas, os instrumentos empregados, o índice utilizado para avaliação, a cooperação do paciente e uma avaliação psicológica, dentre outros. É necessário racionalizar o uso dos dispositivos interoclusais no tratamento das dores orofaciais e DTMs. REFERÊNCIAS 1. Attanasio R. Intraoral orthotic therapy. Dent Clin North Am.1997;41(2):309-24. 2. Barbosa CMR, Allbergaria Barbosa JR, Martinelli DA, Gil IA, Di Hipolito O. Aparelhos interoclusais para o tratamento das DCM. RGO. 1998;46(1):37-41. 3. Conti PCR, Miranda JES, Conti ACC, Pegoraro LFA, Carlos RP. Partial time use of anterior repositioning splints in the managemet of TMJ pain and dysfunction: A one-year controlled study. J Appl Oral Sci. 2005; 13(4): 345-50. 4. Costa MF, Silva SC. Revisão da literatura sobre placas oclusais. [Trabalho de Conclusão de Curso]. Universidade Vale do Paraíba. São José dos Campos, 2001. Disponível em: < www.univap.br/biblioteca/odonto2001/tgs/ revisao.pdf > Acesso em 25 de nov. 2006. 5. Costa LFM, Guimarães JP, Chaobas A. Prevalência de distúrbios da articulação têmporo-mandibular em crianças e adolescentes brasileiros e sua relação com máoclusão e hábitos parafuncionais: um estudo epidemiológico transversal - Parte II: distúrbios articulares e hábitos parafuncionais. JBO: J Bras Ortod Ortop Facial. 2004;9 (50):162-9. 6. Duarte ER. Avaliação das alterações das classificações das severidades das disfunções craniomandibulares em pacientes com dor muscular tratados com placas oclusais. Salusvita. 2001;20(3):81-7. 7. Favero K. Disfunções da articulação temporomandibular: Uma visão etiológica e tera-

*

Major PW, Nebbe B. Use and efectiveness of splint appliance therapy: Review of literature. Cranio. 1997;15(2).

** Santacatterina A. et al. Review: a comparison between horizontal splint and repositioning splint int the treatment of disc dislocation with reduction. Literature metaanalysis. J Oral Rehabil. 1998;25:81-8. Simmons HC, Gibbs J Recapture of temporomandibular joint disks using anterior repositioning appliances: An MRI study. J Craniomandibular Pract. 1995;13(4):227-37.

Rev. ABOnoNac. - Vol. 17 5 - Outubro/novembro 2009 308 Melo, Gustavo Moreira de. Placas oclusais x DTM – O papel do cirurgião-dentista tratamento das nº disfunções temporomandibulares


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pêutica multidisciplinar. [Dissertação Mestrado]. Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica Motricidade Oral. São Paulo; 1999. Disponível em: <www.cefac.br/library/teses/71f64e4ec 00330f6b763cf24f67c2405.pdf > Acesso em 12 de abr. 2006. 8. Garcia AR, Madeira MC. Importância do guia anterior no tratamento de pacientes com desordens temporomandibulares (DTM). Rev Fac Odontol Lins. 1999;11(2):60-7. 9. Guedes F, Aizawa AS, Camparis CM. Placas oclusais e suas indicações no tratamento de pacientes com disfunção crânio mandibular. J Bras Odont Clin. 1998;2(11):56-62. 10. Miranda JES. Avaliação longitudinal da efetividade das placas oclusais reposicionadoras no controle de patologias da ATM: comparação com placas oclusais estabilizadoras e um grupo controle. [dissertação de mestrado) – Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru; 2000. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/ 25/25135/tde-18032005-143914/ > Acesso em 22 de set. 2006.

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11. Molina O, Mazzetto M, Stechman J, Santos JRJ, Fernandes R, Pizzo R, Aragon L et al. Distúrbios internos articulares. Retrodiscite em pacientes com bruxismo e DCM - Características clínicas, diagnóstico e sugestões para tratamento. J Bras Oclusão ATM DOR OROFAC. 2001;1(1):67-75. 12. Nadin MA, Riva MC, Bridi JH. Fisioterapia e Odontologia no tratamento da disfunção craniomandibular. Rev Fisio & Terapia. 2005;9(47):20-1. 13. Okeson JP. Tratamento das desordens temporomandibulares e oclusão. 4. ed. São Paulo: Artes Médicas; 2000. 500p. 14. Pádua ADS, Almeida CR, Santos E, Alves JMP, Oliveira MB, Kakida PK. Placa miorrelaxante: confecção e ajuste no laboratório. Rev Univ Alfenas. 1998;4:49-53. 15. Rodrigues L, Correia FAS. Indicações de terapia com placa interoclusal. Rev Assoc Bras Odontol. 2000;57(6):401-3. 16. Santos CN. Avaliação da eficácia de placas estabilizadoras com padrão de guia balanceada bilateral no controle dos desarranjos internos da ATM. [Dissertação Mestrado] -

Faculdade de Odontologia de Bauru, 2003. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/25/25135/tde-21122004162115/ >Acesso em 10 de nov. 2006. 17. Stechman NJ. Protocolo para diagnóstico e tratamento das disfunções temporomandibulares (DTM). JBO: J Bras Ortodontia Ortopedia Facial. 2001;6(34):317-24.. 18. Szuminski SM. A Fonoaudiologia e as disfunções da articulação temporomandibular. [Dissertação Mestrado] : Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica Motricidade Oral. São Paulo; 1999. Disponível em: < http://www.cefac.br/ > Acesso em 17 de nov. 2006. 19. Tanaka EE, Arita ES, Shibayama B. Occlusal stabilization appliance evaluation of its efficacy in the treatment of temporomandibular disorders. J Appl Oral Sci. 2004;12 (3):238-43. 20. Uetanabara R, Mazzetto MO, Hotta TH, Varoli FK. A efetividade das placas interoclusais no tratamento das desordens temporomandibulares. Rev Cient Univ Franca. 2000;2(3):38-44.

Rev. - Vol. 17 nº–5O-papel Outubro/novembro 2009 no tratamento das disfunções temporomandibulares Melo, Gustavo Moreira de.ABO PlacasNac. oclusais x DTM do cirurgião-dentista

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A ética na relação do cirurgião-dentista com o paciente Ethics and dentist-patient relationship Palavras-chave: Ética odontológica. Relações dentista-paciente. Key words: Ethics, dental. Dentist-patient relations.

Bruna Cunha da Silva* Renata dos Santos Vianna* Alice Granthon de Souza* Teresa Ávila Berlinck** Kátia Regina Hostílio Cervantes Dias***

RESUMO

Atualmente, o profissional se depara cada vez mais com questões éticas envolvendo seu desempenho profissional no ambiente de trabalho. Então, observa-se a importância de alertar o cirurgião-dentista para o registro de todas as ações. Sendo assim, a maioria dos cirurgiões-dentistas considera importante, para evitar problemas legais e éticos, o arquivo da documentação completa de seus pacientes. ABSTRACT

Currently, the professional, each time more, comes across with ethical questions involving its professional performance in the work environment. Then, importance is observed to alert the dentist for these. Being thus, the majority of the dentists considers important to prevent legal and ethical problems, the archive of the complete documentation of their patients. INTRODUÇÃO

Cirurgiã-dentista pela Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FO-Uerj). E-mail rdsvianna@gmail.com ** Doutora em Clínicas Odontológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). *** Professora Titular de Dentística da Uerj. *

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Afinal o que é ética? Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Desde o surgimento das profissões de saúde, como em outras áreas do saber humano, a ética é colocada como um pilar do comportamento profissional. Foi com Hipócrates (460-377 a.C.) que a ética médica começou a ter certa projeção, numa época em que a Odontologia ainda se vinculava à Medicina2. Com a criação das faculdades de Odontologia, surgiu a necessidade de um código de ética para regulamentar os direitos e deveres tanto de profissionais quanto das entidades ligadas à prática odontológica. No Brasil, o Conselho Federal de Odontologia elaborou o Código de Ética Odontológica (CEO), que orienta os integrantes da classe a seguirem uma conduta moral

recomendável e estabelece punições aos infratores de suas normas2. REVISÃO DA LITERATURA

A Odontologia brasileira dispôs, até o presente, de seis códigos de ética. O primeiro adotado pela categoria odontológica, no Brasil, foi anterior à criação dos conselhos federal e regionais de odontologia. Foi aprovado em Fortaleza (Ceará), em 1957, pela União Odontológica Brasileira, antecessora da Associação Brasileira de Odontologia, no VI Congresso Brasileiro de Odontologia, ocorrido na capital cearense, de 27 de janeiro a 2 de fevereiro daquele ano5. Apesar de não existirem os órgãos disciplinadores da ética odontológica, dirigentes de entidades da categoria pensaram de maneira elevada. A aprovação desse Código revelou, de forma inconteste, o alto grau de conscientização das lideranças daquela época5. Atualmente, está em vigor o Código de Ética Odontológica, aprovado pela Resolução

Nac. - Vol. 17 5 - Outubro/novembro 2009 Silva, Bruna Cunha daRev. et al.ABO A ética na relação do nº cirurgião-dentista com o paciente


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CFO-42, de 20 de maio de 2003. O cirurgião-dentista na sociedade tem um trabalho de grande responsabilidade: cuidar da saúde de seus semelhantes3. Portanto, suas ações devem ser norteadas pelo Código de Ética Odontológica que especifica como o profissional deve se portar diante de seu paciente, estando ciente de seus direitos e deveres. DISCUSSÃO Direitos e deveres fundamentais do cirurgião-dentista

O diagnóstico, planejamento e execução dos tratamentos, respeitando os limites de suas atribuições e a dignidade profissional, assim como a recusa em exercer a profissão onde as condições de trabalho não sejam dignas, seguras e salubres, são direitos fundamentais do cirurgião-dentista1. O profissional tem o direito de renunciar o atendimento ao paciente quando constatar fatos, que a seu critério, prejudiquem seu pleno desempenho profissional ou o bom relacionamento com o paciente, desde que, comunique previamente, assegure-se da continuidade do tratamento e forneça todas as informações necessárias ao cirurgião-dentista que lhe suceder1. O sigilo profissional é um direito e um dever do cirurgião-dentista, que tem a responsabilidade de resguardar sempre a privacidade do paciente. Portanto, revelar sem justa causa, algum fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão do exercício de sua profissão; negligenciar na orientação de seus colaboradores quanto ao sigilo profissional e fazer referências a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos odontológicos, salvo se autorizado pelo paciente ou pelo responsável, constituem infrações éticas1. O cirurgião-dentista, em seu relacionamento com o paciente, tem o dever de exercer a profissão com comportamento digno; assumir responsabilidade pelos atos praticados; manter atualizados os conhecimentos profissionais e os prontuários de pacientes, conservando estes em arquivo próprio e garantindo seu acesso ao mesmo ou ao seu responsável legal1.

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Prontuário

A fim de ter um prontuário completo e atualizado de seus pacientes, o cirurgiãodentista deve arquivar todos os passos do atendimento, incluindo o registro de anamnese, a ficha clínica, o plano de tratamento, as receitas, os atestados odontológicos, os modelos, as radiografias e a orientação para o pós-operatório ou sobre higienização. Até mesmo o abandono do tratamento pelo paciente precisa ser comprovado4. A saúde geral do paciente tem conhecidamente implicações no tratamento odontológico, portanto, mesmo em um consultório com grande movimento, o registro de anamnese deve ser priorizado. Da mesma forma que devem constar na ficha clínica: o estado bucal geral do paciente antes do início do tratamento, mesmo quando encaminhado por outro colega apenas para fazer uma determinada intervenção. Com isso, resguarda-se eventual responsabilidade legal por atos não realizados pelo profissional. É igualmente relevante que a mesma ficha contenha os procedimentos realizados, materiais utilizados e possíveis intercorrências como faltas, condições de higienização, falta de colaboração e qualquer outra condição que possa interferir no resultado do tratamento. Após a realização do registro da condição inicial do paciente, deve-se traçar o plano de tratamento que conterá todas as alternativas de tratamento, e um possível impedimento da realização do procedimento mais adequado devido à condição econômica de grande parte da população brasileira. Os exames complementares necessários ao tratamento, tais como modelos de estudo e radiografias são utilizados como provas na maioria dos processos legais. Os modelos podem ser escaneados para que se anexem ao prontuário, devido à dificuldade em arquivá-los. Já nos casos mais complexos, é recomendado que eles sejam guardados. As radiografias por sua vez, necessitam ser duplicadas ou digitalizadas. Muito se discute sobre a legalidade das imagens digitais por serem mais susceptíveis a falsificações. No entanto, exis-

Rev. ABO Nac. Vol. 17donºcirurgião-dentista 5 - Outubro/novembro 2009 Silva, Bruna Cunha da et al. A ética na-relação com o paciente

tem várias citações que mostram como as mesmas são legais. De acordo com a Lei n° 8.971 de 29/12/1994, os arquivos digitais, em sua forma virtual podem ser aceitos nos Tribunais, visto que são utilizados pelos próprios Tribunais e demais Poderes da República. Também, os arquivos digitais, em sua forma virtual, podem ser aceitos, como prova em Tribunal, baseado no Código de Processo Civil, Lei n° 58.5869, de 11/01/1973, Art. 3326. As receitas e os atestados odontológicos são considerados documentos odontolegais, devendo ter suas cópias anexadas ao prontuário do paciente. É obrigação do cirurgião-dentista analisar a possibilidade ou não de oferecê-los. A orientação para o pós-operatório ou sobre higienização deve ser entregue por escrito e conter a assinatura de recebimento na cópia, sendo esta anexada ao prontuário. Em casos de faltas ou não agendamento de consultas programadas, o cirurgiãodentista necessita expedir correspondência registrada com aviso de recebimento ou realizar telegrama fonado com cópia em que é feita uma solicitação do pronunciamento quanto às razões do impedimento. Na falta de resposta, a correspondência deve ser reiterada no prazo de 15 ou 30 dias para que o abandono seja caracterizado. Relacionamento com o paciente1

Os processos, denúncias e escândalos envolvendo médicos, odontólogos, psicólogos e enfermeiros, são cada vez mais frequentes, revelando o estranhamento das partes no que diz respeito à ética, à confiança e à credibilidade no tratamento proposto. Partindo desse princípio, constituem infrações éticas discriminar ou desrespeitar o paciente, de qualquer forma ou sobre qualquer pretexto; exagerar em diagnóstico, prognóstico ou terapêutica, bem como executar ou propor tratamento desnecessário ou para o qual não esteja capacitado. O cirurgião-dentista que deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e alternativas de tratamento ou negar-se a atender pacientes que procurem cuidados profissionais em caso de urgência, quando não haja outro profissional em

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condições de fazê-lo, estará desacatando o código de ética que regulamenta as ações da classe odontológica1. É de extrema relevância que o cirurgião-dentista esteja ciente que a adoção de novas técnicas ou materiais necessita de efetiva comprovação científica, uma vez que a utilização de materiais ainda em estudo pode ser prejudicial à saúde do profissional e do paciente. O cirurgião-dentista pode ser penalizado caso inicie qualquer procedimento ou tratamento odontológico sem consentimento prévio do paciente ou de seu responsável legal, salvo em casos de urgência ou emergência. O cirurgião-dentista que proceder de forma indevida está sujeito as penalidades previstas no Código de Ética. Elas variam de acordo com a gravidade da extensão do dano e suas consequências1. São elas: ■ advertência confidencial, em aviso reservado; ■ censura confidencial, em aviso reservado; ■ censura pública, em publicação oficial; ■ suspensão do exercício profissional até 30 dias; ■ cassação do exercício profissional ad referendum do Conselho Federal

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CONCLUSÃO

A relação do cirurgião-dentista com seu paciente ultrapassa o convívio restrito ao espaço de um consultório particular ou de um serviço público. Esta relação deve ser embasada não só pelos princípios éticos estabelecidos na legislação odontológica através dos Conselhos de Classe, como principalmente por parâmetros ético-morais que determinam a relação de um profissional de saúde com o doente. Tais parâmetros necessitam ser bem estudados e aplicados pelos cirurgiões-dentistas não só pelo respeito devido ao paciente, como também pela necessidade que se impõe de compartilhar com o mesmo, as informações sobre o que está sendo realizado no seu corpo. Ademais, um relacionamento positivo e agradável sempre contribui, aumentando as possibilidades de sucesso na missão terapêutica. Este relacionamento, portanto, é bilateral, e deve ser analisado a partir do ponto de vista do profissional e do paciente que vai em busca da resolução de seus problemas odontoestomatológicos. Toda e qualquer ação clínica a ser exercida sobre o paciente, deve contar com o consentimento livre e esclarecido da parte deste. Tratase, assim, do estudo e análise de situações que usualmente envolvem duas partes den-

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tro de um quadro de diferentes situações que nascem a partir do paciente, do profissional ou como produto da relação estabelecida entre os dois. “O cirurgião-dentista, como profissional liberal que é, tem a liberdade de agir, praticando todos os atos inerentes à sua atividade laborativa, porém sempre respondendo pelos seus atos, ou seja, agindo com responsabilidade” REFERÊNCIAS 1. Conselho Federal de Odontologia (CFO). Código de Ética Odontológica: Resolução nº 179, de 19 de dezembro de 1991. Rio de Janeiro: CFO; 1992. 2. Discacciati JAC, Vilaça EL. Atendimento odontológico ao portador do HIV: medo, preconceito e ética profissional. Rev Panam Salud Pública. 2001;9(4):234-9. 3. Paiva JG, Antoniazzi JH. Endodontia: bases para a prática clínica. São Paulo: Artes Médicas; 1988. 4. Santiago F, Cardoso JCV, Vries MRA. Prontuário eletrônico odontológico [acesso 20 maio 2006]. Disponível em: http:// www.bioetica.ufrgs.br/privapoi.html 5. Menezes JDV. Códigos de Ética Odontológica [acesso 7 ago 2009]. Disponível em: http://www.cfo.org.br/jornal/n25/ hpetic.htm 6. Zampieri, FSR. Legalidade das fotos digitais [acesso 22 maio 2006]. Disponível em: http://www.odontologia.com.br/ artigos.asp?id=364&idesp=20&ler=s

Nac. Vol. 17 5 - Outubro/novembro 2009 Silva, Bruna Cunha daRev. et al.ABO A ética na -relação do nº cirurgião-dentista com o paciente


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Halitose: impacto social, diagnóstico e conduta terapêutica Halitosis: social impact, diagnosis and therapeutic conduct Palavras-chave: Halitose/diagnóstico. Indicadores de impacto social. Key words: Halitosis/diagnosis. Social impact indicators.

Alyne Dantas de Souza* Joaquina Araújo de Amorim** Ruthinéia Diógenes Alves Uchôa Lins*** Miliani do Amaral Souza Maciel**** Renaly Nunes de Lucena****

RESUMO

A halitose (mau hálito) constitui um problema de saúde relevante, que acomete indivíduos de qualquer idade. Diversas são as etiologias atribuídas à halitose, sendo que, na maioria (90%) dos casos, as alterações odoríferas são de origem estomatológica, ou seja, se iniciam na boca, principalmente devido à higienização deficiente. Trata-se de um problema de impacto social e que merece atenção especial do profissional, principalmente do cirurgião-dentista, não podendo ser negligenciada. Múltiplas são as formas de diagnóstico da halitose, sendo a mais utilizada a percepção humana. As medidas de tratamento visam principalmente a eliminação do biofilme dental através da escovação dentária e do uso de enxaguatórios bucais. O objetivo deste trabalho consistiu em realizar uma ampla revisão da literatura acerca da halitose, com ênfase em seu impacto social, métodos de diagnóstico e conduta terapêutica. ABSTRACT

The halitosis (bad breath) constitutes a prominent health problem, which affects individuals of any ages. Several etiologies are attributed to the halitosis, although in the majority of the cases (90%), the odor alterations have stomatological origin, that is, begin in the mouth, mainly because of the poor hygiene. This is a problem of social impact that deserves special attention of the professional, mainly the dentist, which cannot be neglected. Many are the ways of the halitosis diagnosis, and the human perception is the most used. The treatment measures aim principally the elimination of dental biofilm through tooth brushing and use of mouth rinses. The purpose of the paper is to make a wide review of literature about halitosis, emphasizing its social impact, diagnostic methods and therapeutic conduct. INTRODUÇÃO *

Especialista em Endodontia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). E-mail: alyned@uol.com.br ** Professora Adjunta da Disciplina de Odontologia Preventiva e Social da UEPB. *** Professora Adjunta da Disciplina de Periodontia da UEPB. Mestre e Doutora em Patologia Oral pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Especialista em Periodontia pela ABO/RN.E-mail: ruthineia@bol.com.br **** Acadêmicas de Odontologia da UEPB. E-mail: miliani_maciel@hotmail.com, renalynunes@yahoo.com.br

Halitose, ozostomia ou mau hálito não é uma doença e sim uma alteração do odor oral e um indicador de que existe alguma desordem local ou sistêmica no organismo, que precisa ser localizada, diagnosticada e tratada. É popularmente conhecida como “Bafo de Dragão”, sendo um mal que acomete muitas pessoas, podendo ter consequências seriamente danosas à vida social, afetiva e familiar de um indivíduo11. A halitose ou alteração do odor bucal

Nac. impacto - Vol. 17social, nº 5 -diagnóstico Outubro/novembro 2009 Souza, Alyne Dantas Rev. de et ABO al.Halitose: e conduta terapêutica

pode provocar indesejáveis mudanças na vida de seu portador. Quando este percebe o seu problema, passa a sentir-se inseguro ao aproximar-se das pessoas, tornando-se retraído e, muitas vezes, frio em seus contatos sociais3. Por vezes o portador da halitose não tem consciência de seu mau hálito. Isto é comumente causado pela fadiga olfatória a que todos estamos sujeitos. O portador de halitose pode ser discriminado em seu grupo social em reuniões de trabalho ou de estudo, na exposição de uma idéia, nas

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relações afetivas e em diversas outras situações5. Após a constatação de que se é portador da halitose, os indivíduos não devem ignorá-lo, o melhor caminho é procurar um profissional que o auxiliará na cura desse mal. Como 90% das causas da halitose são de origem bucal, tendo dentes e gengivas envolvidos no processo, aconselha-se procurar por um cirurgião-dentista que, através de exames e testes, avaliará e promoverá o melhor caminho para a cura. Sendo detectado algum problema de competência do médico, o paciente será encaminhado ao especialista correspondente22. Considerando a importância da halitose nas relações sociais e familiares, julga-se oportuno realizar através de um adequado levantamento bibliográfico, um estudo sobre o impacto social, os principais métodos de diagnóstico e tratamento da halitose. REVISÃO DA LITERATURA

As principais alterações que ocorrem na vida do portador da halitose incluem: constrangimento social, afastamento do indivíduo de seu círculo de convivência, problemas de relacionamento conjugal/ afetivo, frustração, problemas de desenvolvimento profissional e diversos danos comportamentais, todas decorrentes desse odor fétido e repugnante expelido pela boca ou nariz com o ar vindo dos pulmões15. Entretanto, é importante lembrar que nem sempre o indivíduo que pensa ter halitose é realmente portador desta. Por vezes, a pessoa imagina ter o problema e não tem. Por esse motivo é necessário um exame clínico para a comprovação, enfocando que a característica de ser percebida, mais pelas outras pessoas do que pela portadora, aumenta a necessidade de controle e ajuda profissional14. Segundo Kolbe11 (1999) e Spielman21 (1996), diversas são as causas da halitose. Estima-se que 90% da sua etiologia esteja associada a fatores orais. Dentre as causas orais destacam-se: as cáries abertas e extensas; as próteses mal adaptadas e com infiltrações; os focos de infecção; e, os resíduos de comida em decomposição acu-

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mulados na cavidade do dente e sobre a língua. Além disso, a presença de cálculo dentário provoca o afastamento da gengiva, abrindo espaço para o acúmulo do biofilme dentário, causando assim, a inflamação gengival, que se caracteriza, especialmente, por sangramento ao toque, o que fatalmente, produzirá mau hálito. Portanto, as causas orais incluem: má higiene oral, doenças periodontais, abscessos dentários e gengivais, cáries de grandes proporções, má higienização de próteses, xerostomia (secura da boca) e, principalmente, a saburra lingual. Até poucos anos, a verificação do mau hálito somente era possível no ambiente do consultório odontológico utilizando-se da percepção olfativa do próprio profissional. Este tipo de verificação, conhecida como medida organoléptica é subjetiva, uma vez que está na dependência da acuidade olfatória do avaliador e de baixa precisão sob o ponto de vista quantitativo, entretanto, satisfatória sob o ponto de vista qualitativo. Outra alternativa seria a utilização de cromatografia gasosa, porém esta técnica complexa é desenvolvida apenas em poucos laboratórios de pesquisa. Atualmente, existe à disposição do clínico, para aplicação em consultório, um monitor (Halimeter ?ou Halímetro - Interscan) que possui um sensor eletrocatalítico capaz de medir a concentração de compostos sulfurados voláteis em partes por bilhão, e, assim, auxiliar no diagnóstico e no acompanhamento do tratamento até a alta do paciente. Não constitui, entretanto, um recurso acessível à população em geral em virtude do seu alto custo6,12,18. O autoexame é um recurso simples que os indivíduos dispõem para investigar o seu próprio hálito, entretanto não representa um método objetivo. O aparelho portátil Breath Alert ?ou Alerta do Hálito – TANITA (tecnologia japonesa) tem um custo razoavelmente baixo, tendo sido desenvolvido para possibilitar um diagnóstico imediato, constituindo uma ferramenta de grande utilidade para os indivíduos que desejam verificar o nível do odor de seu hálito a qualquer hora do dia. Seu

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princípio de funcionamento é semelhante ao do Halímetro e constitui um marco evolutivo no estudo da halitose, com possibilidade de diagnosticar, inclusive, a halitose psicogênica. Dispõe de um sensor que detecta a quantidade de compostos sulfurados voláteis contidos no hálito e classifica-o em: 1-hálito sem odor; 2- hálito com odor leve; 3-hálito com odor moderado; e, 4-hálito com odor forte. A detecção da halitose pode ser feita facilmente por meio de equipamentos, porém, a técnica organoléptica continua sendo a mais utilizada. Baseia-se na percepção humana com relação ao nível odorífero do hálito. O autodiagnóstico pode ser feito: 1) utilizando-se um pedaço de fio dental branco, sem sabor e sem cera, passando-se nos dentes posteriores superiores e inferiores, examinando-se o odor e a coloração do fio de forma que, se o fio apresentar coloração amarelada, pode significar a presença de exudato purulento (pus); caso a cor seja marrom, há a possibilidade de material necrótico; e, finalmente, sendo vermelho, é sinal de sangramento em virtude da presença de inflamação; 2) utilizando-se dois pedaços de gaze cirúrgica, em que com um deles puxa-se a língua para frente e com o outro se realiza um esfregado na região posterior da mesma, esperando-se 45 segundos e analisando-se o cheiro da gaze; 3)umedecendo-se o pulso com saliva e deixando-o bem impregnado, esperando assim o pulso secar para cheirar e analisar a intensidade do odor. Esses três testes poderão ser úteis na identificação de alguma alteração no hálito, porém a maneira mais segura de se obter uma resposta confiável é através do auxílio de uma pessoa com a qual se tenha intimidade24. Apesar de ser um sintoma frequente, a halitose não é uma fatalidade. Embora possa ser o primeiro sinal de uma doença grave, um diagnóstico bem estruturado e atento permite encontrar, para a maioria dos casos, uma causa simples e de fácil tratamento. Frequentemente, o cirurgião-dentista detém um papel chave no descobrimento da causa, podendo ser confirmada a sua multidisciplinaridade14. Desta forma, o problema pode-

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rá ser do interesse de diversas áreas da Medicina (Otorrinolaringologia, Gastroenterologia, Pneumologia, Hepatologia, Genética, Medicina Interna, Endocrinologia e Psiquiatria) e a estratégia terapêutica deve estar focalizada na eliminação da causa e na higiene bucodental14. A questão da halitose tem que ser compreendida como um transtorno multifatorial e multidisciplinar, com o tratamento envolvendo além dos vários especialistas da Odontologia, outros profissionais da área médica, incluindo gastroenterologistas e otorrinolaringologistas, como mostram os trabalhos de Astor et al.1 (1999), Clarck et al.4 (1997), Goldberg et al.7 (1997), Ierardi et al.10 (1998), Scully et al.20 (1997). O comprometimento social da halitose é tão grande que as pessoas fazem de tudo para solucionarem tal problema, desde a utilização de medidas paliativas, que promovem o crescimento de uma atividade econômica considerável, que vai da comercialização de produtos, infelizmente, não eficazes, até esforços equivocados e absurdos, como a retirada das amígdalas e do útero, acreditando que tais medidas venham a solucionar o problema. Embora várias formas de tratamento, utilizando enxaguatórios bucais, cremes dentais, gomas de mascar associadas com procedimentos mecânicos de eliminação bacteriana, sejam preconizadas, os resultados são efêmeros, conforme enfatizam Bosy3 (1997) e Loesche13 (1999). Segundo Kolbe11 (2001) a higienização da língua, por meio de escovação ou raspagem, está associada à tentativa de eliminação da saburra lingual, fator etiológico de quase 90% dos casos de halitose. DISCUSSÃO

Nadanovsky16 (2003) afirmou que pessoas que sofrem deste mal, frequentemente não sabem disso, enquanto muitas outras pessoas pensam que têm mau hálito mas, de fato, não o têm. Noções preconcebidas confundem a habilidade de avaliar o próprio hálito de forma objetiva. Além disso, não existe um método válido, objetivo e comprovadamente reproduzível para

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definir, através de um exame médico ou odontológico, se a pessoa apresenta ou não mau hálito. Não se sabe a real prevalência da halitose, uma vez que a melhor informação disponível até o momento é a de que em torno de 11% a 19% da população brasileira tem mau hálito crônico. A halitose, em consequência de uma língua saburrosa, costuma ser descrita na literatura para os casos de pessoas saudáveis e muitas vezes com fluxo salivar aparentemente normal, mas que, por estarem fazendo uma dieta pastosa ou líquida por um período prolongado, desenvolvem a saburra e o mau hálito2,8. De conformidade com Kolbe11 (2001), higienizar a língua aumenta sobremaneira a probabilidade de eliminação da saburra lingual. O consumo de bebidas alcoólicas é citado na literatura como um fator que altera o nível do hálito, uma vez que penetrando na corrente sanguínea, o aroma é diretamente transferido para os alvéolos pulmonares e liberados pelos pulmões, contribuindo para um mau cheiro no ar expirado. Além disso, as bebidas alcoólicas em excesso apresentam dois agravantes: ressecam a mucosa, aumentando a descamação; e provocam alteração na microbiota intestinal, com fermentação odorífera capaz de produzir halitose, a qual pode ser mais acentuada quando associada à cirrose hepática9, 15. O uso de prótese é considerado fator de retenção de biofilme dental e, consequentemente, causador do mau odor bucal. As peças protéticas porosas, retentoras de biofilme dental, e por conseguinte, causadoras de halitose, já não apresentam, na atualidade, a mesma importância de antigamente, devido ao surgimento de materiais protéticos de alta qualidade, razão pela qual tal ocorrência vem diminuindo2,17. CONCLUSÃO

Com base na literatura consultada é possível concluir que: 1. A halitose ou alteração do odor bucal provoca mudanças indesejáveis na vida do seu portador; quando esta alteração é percebida, este passa a se sentir inseguro ao se aproximar das pessoas;

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2. A halitose é diagnosticada, principalmente, através da técnica organolétrica, que consiste na percepção humana com relação ao nível odorífero do hálito, podendo também ser diagnosticada através de equipamentos específicos e do autodiagnóstico; 3. Várias são as formas de tratamento da halitose que preconizam a eliminação bacteriana, incluindo a utilização de enxaguatórios bucais, cremes dentais e gomas de mascar associada a procedimentos mecânicos como a higienização da língua por meio de escovação ou raspagem, na tentativa de eliminação de saburra lingual. REFERÊNCIAS 1. Astor FC, Hanft KL, Ciocon JO. Xerostomia: a prevalent condition in the elderly. Ear Nose Throat J. 1999;78(7):476-9. 2. Bogdasarian RS. Halitosis. Otolaryngol Clin North Am. 1986;19:111-3. 3. Bosy A. Oral malodor: philosophical and practical aspects. J Can Dent Assoc. 1997;63(3):196-201. 4. Clark GT, Nachnani S, Messadi DV. Detecting and treating oral and non-oral malodors. J Calif Dent Assoc. 1997;25 (2):133-44. 5. Couto HL. Introdução. In: Projeto Saúde Bucal. 2000 [acesso 29 abr 2001]. Disponível em: <http://www.saudbucal.com.br> 6. De Boever, EH, De Uzeda M, Loesche WJ. Relationship between volatile sulfur compounds, BANA-hydrolysing bacteria and gingival health in patients with and without complaints of oral malodor. J Clin Dent. 1994;4(4):114-9. 7. Goldberg S, Cardash H, Browning H, Sahly H, Rosenberg M. Isolation of Enterobacteriaceae from the mouth and potential association with malodor. J Dent Res. 1997;76 (11):1770-5. 8. Grein NJ. Aspectos clínicos da halitose. In: Tommasi AF. Diagnóstico em patologia bucal. 3a ed. São Paulo: Pancast; 2002. p.34-8. 9. Hine MK. Halitosis. J Am Dent Assoc. 1957;55(1):37-46. 10. Ierardi E, Amoruso A, La Notte T, Francavilla R, Castellaneta S, Marrazza E et al. Halitosis and helicobacter pylori: a possible relationship. Dig Dis Sci. 1998; 43:2733–7. 11. Kolbe AC. Halitose: por que este problema vem aumentando no mundo e o que fazer com esses pacientes. JAO. 1999;3(12):30-2. 12. Kozlovsky A, Gordon D, Gelernter I, Loesche WJ, Rosenberg M. Correlation between the BANA test and oral malodor parameters. J

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Dent Res. 1994;73(5):1036-42. 13. Loesche WJ. The effects of antimicrobial mouth rinses on oral malodor and their status relative to US Food and Drug Administration regulations. Quintessence Int. 1999;30(5):311-8. 14. Meningaud JP, Bado F, Favre L. Halitosis in 1999. Rev Stomatol Chir Maxillofac. 1999;100(5):240-4. 15. Moinaz SAS, Saliba NA, Saliba O. Educação para saúde bucal e prevenção. RGO (Porto Alegre). 1994;42 (2):71-4. 16. Nadanovsky. P. Evidência científica sobre prevalência, diagnóstico e causas da halitose. In: Rosenberg M. Halitose: pers-

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pectivas em pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p.133-56. 17. Nadanovsky P, Britto SHR. Hálito: passo a passo para um hálito agradável. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais; 2007. p.81. 18. Rosenberg, M, McCulloch CA. Measurement of oral malodor: current methods and future prospects. J Periodontol. 1992;63:776-82. 19. Santana NN, Almeida SC, Tomazinho LF. Halitose: abra a boca sem receio. Arq Ciênc Saúde Unipar. 2006;10(2):113-5. 20. Scully C, El-Maaytah M, Porter DR, Greenman J. Breath odor: etiopathogenesis, assessment and management. Eur J Oral

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Highlights

Acionado pela ABO, Conar exige alteração de anúncio sobre clareamento

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tendendo solicitação da ABO Nacional, o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar) divulgou ofício em que recomenda a readequação dos anúncios do Gel Clareador Extra White, que não fazem referência à importância do acompanhamento do cirurgião-dentista no processo de clareamento dental, entre outras irregularidades. Em parecer oficial emitido anteriormente, o Conar já havia recusado a argumentação do denunciado, alegando que a inserção da frase “o dentista deve ser consultado regularmente” é “absolutamente insuficiente para indicar a necessidade de acompanhamento odontológico para o tratamento de clareamento, expondo os consumidores a risco”. No novo parecer, o Conselho volta a reprovar o anúncio, advertindo os responsáveis por ele. Em suas solicitações ao Conar, a ABO chamou a atenção para outra irregularidade dos anúncios: a lista de contra-indicações. “Uma pessoa leiga difi-

Anúncio que vendia o produto pela internet e em sites comerciais terá que ser modificado. Pedido da ABO foi aceito pelo Conar

cilmente discerniria se tem condições de usar o produto, o que enfatiza a importância do acom-

Vigilância constante Não é a primeira vez que o Conar atende a uma solicitação da ABO pela readequação de anúncio publicitário contrário à promoção da saúde bucal. Em 2005, a entidade exigiu providências do órgão quanto à propaganda de TV da Coca-Cola que mostrava uma jovem abrindo uma garrafa de refrigerante com os dentes. Em ofício enviado ao Conar, a ABO explicou os sérios

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danos que esse movimento pode causar à saúde bucal, e que o comercial poderia estimular os telespectadores, especialmente crianças, a fazer igual. O Conar atendeu o pedido e suspendeu a propaganda, e a Coca-Cola a retirou do ar. A notícia foi amplamente divulgada pela Comunicação da ABO e teve muita repercussão na grande mídia nacional.

panhamento profissional”, lembra o presidente nacional da ABO, Norberto Lubiana. Em face das argumentações da ABO e das conclusões do Conselho Superior do Conar, o relator do processo, Flávio Vormittag, entendeu que “estão evidenciadas infrações ao Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária”. Desta forma, o Conar determinou a readequação dos anúncios, “de forma a deixar claro para o consumidor que o produto somente pode ser utilizado sob a orientação e acompanhamento de cirurgião-dentista”.

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V Congresso Internacional de Odontologia do Piauí 27 a 30 de maio Teresina – PI Informação: (+86) 3221.9374 abopi@uol.com.br

10º Congresso Internacional de Odontologia do Paraná 2 a 4 de dezembro Curitiba - PR Informação: (+ 41) 3028.5800 secretaria@abop.org.br www.ciopar.org.br

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MARÇO ABO Pernambuco

XX Congresso Pernambucano de Odontologia 25 a 28 de março Recife - PE Informação: (+81) 3441.0678 scdp@hotlink.com.br www.abo-pe.org

2010, ano do FDI’Salvador

JUNHO ABO Pará

IX Congresso Internacional de Odontologia da Amazônia 3 a 6 de junho Belém – PA Informação: (+91) 3276.0500 agmaneschy@amazon.com.br www.abopa.org.br

JULHO ABO Rio Grande do Sul XVIII Congresso Odontológico Rio-grandense 14 a 17 de julho Porto Alegre - RS Informação: (+51) 3330.8866 eventos.abo@terra.com.br www.abors.org.br

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Um congresso que vale por muitos. Trata-se do FDI’2010, que acontecerá em Salvador, Bahia, trazendo para o Brasil a sede internacional da Odontologia no período de 2 a 5 de setembro deste ano. Para concentrar forças e maximizar a participação, a Rede ABO tomou a decisão de concentrar seus congressos do Calendário Oficial apenas no primeiro semestre de 2010.

Informações: www.fdiwordental.org/ microsites/salvador/ congress1.html

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Chicago Dental Society Midwinter Meeting 25 a 27 de fevereiro Local: Chicago (EUA) Informações: www.cds.org

AEEDC International Dental Conference & Arab Dental Exhibition 9 a 11 de março Local: Dubai (Emirados Árabes) Informações: www.aeedc.com

Cingapura (Ásia) International Dental Exhibition and Meeting 16 a 18 de abril Local: Cingapura (Ásia) Informações: www.idemsingapore.com

Gramado (Brasil) Colaob 2010 6º Congresso Latinoamericano de Órgãos Artificiais e Biomateriais 17 a 20 de agosto Local: Gramado (Rio Grande do Sul - Brasil) Informações: www.ufrgs.br/ colaob2010

Orlando (EUA) ADA’ 2010 151ª Annual Session - ADA 9 a 12 de outubro Local: Orlando (EUA) Informação: www.ada.org

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Dubai (Emirados Árabes)

Kiev (Ucrânia) 2rd Pan-European Dental Congress 9 a 11 de dezembro Local: Kiev (Ucrânia) Informações: www.pedc2009.com/

Havana (Cuba) II Congresso Internacional da Sociedade Cubana de Estomatologia 9 a 12 de dezembro Local: Havana (Cuba) Informações: estela.gispert@infomed.sld.cu

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Um congresso que vale por muitos. Trata-se do FDI’2010, que acontecerá em Salvador, Bahia, trazendo para o Brasil a sede internacional da Odontologia no período de 2 a 5 de setembro deste ano. A programação científica já está disponível no site da FDI.

Informações: www.fdiwordental.org/ microsites/salvador/ congress1.html

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