Revista ABO - Edição 99

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EDIÇÃO

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ISSN 0104-3072

REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA VOL. XVII - Nº 6 - DEZ 2009/JAN 2010

Medicamentos

Odontologia na dose certa Rev. ABO Nac. - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010

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NACIONAL Revista da Associação Brasileira de Odontologia Conselho Editorial Científico Presidente: Newton Miranda de Carvalho Diretor científico: Fernando Luiz Tavares Vieira Secretário-executivo: Marco Aurélio Blaz Vasques Conselho Consultivo Carlos de Paula Eduardo, Edela Puricelli, Edmir Matson, Geraldo Bosco Lindoso Couto, Heitor Panzeri, José Mondelli, Luciano Loureiro de Melo, Maria Carméli Correia Sampaio, Maria Fidela de Lima Navarro, Ney Soares de Araújo, Nilza Pereira Costa, Orivaldo Tavano, Orlando Ayrton de Toledo, Roberto Vianna, Salete Maria Pretto e Tatsuko Sakima. A Revista ABO Nacional é uma publicação bimestral da ABO Nacional. Sede administrativa: Rua Vergueiro, 3153, conjs. 82 e 83 - Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP 04101-300 Telefax. (+55 11) 5083.4000. Web: www.abo.org.br E-mail: abo@abo.org.br Adress to correspondence: Rua Vergueiro, 3153, conjs. 82 e 83 - São Paulo - SP - Brasil - CEP 04101-300 Web: www.abo.org.br Registrada no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), sob o Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas (ISSN) 0104-3072. A Revista ABO Nacional está indexada nas bases de Filiada à dados Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO) e Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs).

Produção e Redação: Edita Comunicação Integrada Alameda Santos, 1398 - 8º conj. 87. Telefax (+11) 3253.6485. CEP 01418-100. São Paulo (SP) - Brasil.Email: edita@editabr.com.br Diretores: Joaquim R. Lourenço e Zaíra Barros. Editora responsável: Zaíra Barros (MTb:8989). Repórter: Antonela Tescarollo (MTb: 41547), Diego Freire (MTb: 49614). Copydesk: Ricardo Palmiéri Barros. Imagens: Fotoabout. E-mail: rsm@fotoabout.com. Diagramação/artes: Edita/Victor Cruz.Diretor de Produção Gráfica : Joaquim R. Lourenço. Publicidade: MN Design (+11) 2975.3916. Impressão: Vitor Mango . Tiragem: 30 mil exemplares. Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não expressam necessariamente a posição da ABO Nacional. A ABO Nacional não se responsabiliza pelos produtos e serviços das empresas anunciantes, as quais estão sujeitas às normas de mercado e do Código de Defesa do Consumidor. É permitida a reprodução dos artigos não científicos desde que citada a fonte. Os artigos científicos ficam sujeitos à autorização expressa dos autores. Solicita-se permuta – Requests exchange – Si solicita lo scambio – Se solicita canje – On demande l’ èchange – Wir bitten um Austausch

ABO de todos, saúde bucal para todos

O

ano de 2010 começa com a publicação do livro Perfil Atual e Tendências do Cirurgião-dentista Brasileiro, pesquisa promovida pelo Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Observatório de RH em Odontologia da FO-USP que averigua quantos profissionais atuam no País, como se distribuem geograficamente, quanto ganham e outras informações que ajudam a entender a Odontologia contemporânea e suas perspectivas. A pesquisa comprova cientificamente problemas observados empiricamente, como a concentração de cirurgiões-dentistas e o excesso de faculdades de Odontologia em determinadas regiões. A ABO, às portas da segunda década dos anos 2000 e com forças renovadas pelo início dos trabalhos de sua nova Diretoria, coloca-se à frente das ações que precisam ser implementadas com base nessa realidade. Com certeza, quando analisarmos a fundo as informações coletadas, encontraremos explicações para muitas situações que o exercício da Odontologia tem nos imposto: colegas que abandonam a profissão para trabalhar como empregados, número excessivo de profissionais buscando concursos públicos, na mesma intensidade com que os salários pagos diminuem, recebimentos em cheques devolvidos... Enfim, um mercado de trabalho descompensado. A entidade, agora com maior visibilidade institucional e internacional, inicia nova fase de desafios e conquistas, conduzida por nova equipe e de posse de informações que, ao mesmo tempo em que instrumentalizam o poder público na promoção da saúde bucal, auxiliam a sociedade a exercer de forma mais plena o controle social da atuação política, especialmente na nossa tão jovem democracia. A ABO participou do trabalho de formulação do Perfil do CD Brasileiro e continua a serviço de seus organizadores para o aperfeiçoamento do estudo, mas sem negligenciar os interesses dos CDs brasileiros. Vamos trabalhar presencialmente no acompanhamento de cada passo das medidas tomadas com base na pesquisa, assim como em qualquer ação ligada à saúde da população. Isso porque não basta conhecer nossos potenciais e limitações. Por trás de cada dado, de cada gráfico que tenta representar a realidade estudada, há seres humanos. A ABO entende que qualquer ação que deva ser executada com o conhecimento que se tem dessa realidade não pode desconsiderar todas as variáveis envolvidas nas relações humanas. Para tanto, é preciso abrir espaço para a livre circulação de ideias, para o intercâmbio de experiências, envolvendo a todos na profunda reflexão do ideal de ampla e irrestrita promoção da saúde. A ABO sente-se honrada de fazer parte desse processo e abraça a responsabilidade de ser a canalizadora das aspirações dos mais de 220 mil CDs, cidadãos, seres humanos que representa. Dessa forma, avançamos rumo a novas conquistas, mais experientes e conscientes de nossa função social. Newton Miranda de Carvalho Presidente da ABO Nacional

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D I R E T O R I A

A B O

N A C I O N A L

Murilo Oliveira da F ontoura Jr./RJ, Lucila Janeth Esteves Pereira/PA, Júlio Medeiros Barros Fortes/PI

Associação Brasileira de Odontologia - ABO Nacional, registrada no Conselho Nacional Serviço Social sob nº 110.006/54, em 12 de janeiro de 1955. Filiada à FDI e à Fola/Oral. Conselho Executi vo Nacional (CEN) Presidente: Newton Miranda de Carvalho/MG Vice-presidente: Manoel de Jesus Rodrigues Mello/CE Secretário-geral: Marco Aurélio Blaz Vasques/RO 1ª secretária: Daiz da Silva Muniz/AP Tesoureiro-geral: Wesley Borba Toledo/DF 1o tesoureiro: Carlos Augusto Jayme Machado/MG Suplentes: Dilto Crouzeiles Nunes/RS, Paulo

Conselho Fiscal Nacional (CFN) Efetivos: José Silvestre/SP, José Barbosa P orto/CE, Paulo Jorge Alves Martins/RO Suplentes: Rafael de Almeida Decurcio/GO, Alberto Tadeu do Nascimento Borges/AM, Stanley Sandro da Silv a Mendes/AC Vice-presidentes Re gionais Norte: Luiz Fernando Varrone/TO; Nordeste: Tia go Gusmão Muritiba/AL; Sudeste: Osmir Luiz Oliveira/MG; Sul: Nádia Maria Fava/SC; Centr ooeste: Jander Ruela Pereira/MT Assessorias Internacional: Paulo Murilo Oliveira da Fontoura Jr./RJ Marketing: Antonio Inácio Ribeiro/RS Planejamento estratégico: Plínio Tomaz/SP Sinval Santos Pereira Silva/ES

A B O ABO/Acre Pres. Stanley Sandro da Silva Mendes R. Marechal Deodoro, 837, s.4 69900-210 - Rio Branco - AC Telefax(+68) 3224.0822 ABO/Alagoas Pres. Tiago Gusmão Muritiba Av. Roberto M. de Brito, s/n.-Jatiuca 57037-240 Maceió - AL Telefax(+82) 3235.1008 ABO/Amapá Pres. Daíz da Silva Nunes Rua Dr.Marcelo Cândia, 635 CP 635 68906-510 - Macapá - AP Tel. (+96) 3244.0202/Fax 3242.9300 ABO/Amazonas Pres. Alberto Tadeu do Nascimento Borges Rua Maceió, 863 69057-010 - Manaus - AM Tel. (+92) 3584.5535/3635-231 ABO/Bahia Pres. Antístenes Albernaz Alves Neto R. Altino Se rbeto Barros, 138 41825-010 - Salvador - BA Tel. (+71) 2203.4066/ Fax 2203.4069 ABO/Ceará Pres. José Barbosa Porto R. Gonçalves Lêdo, 1630 60110-261 - Fortaleza - CE Tel. (+85) 3311.6666/Fax 3311.6650 ABO/Distrito Federal Pres. Marcelo Negreiros SGAS 616 - lote 115-L/2 Sul 70200-760 - Brasília - DF Tel. (+61) 3445.4800/Fax 3445.4848 ABO/Espírito Santo Pres. Luiz Carlos Bourguignon dos Santos R. Henrique Rato, 40 - Fátima 29160-812 - Vitória - ES Telefax(+27) 3337.8010 ABO/Goiás Pres. Rafael de Almeida Decurcio Av.Itália, 1184 74325-110 - Goiânia - GO Tel. (+62) 3236.3100/Fax 3236.3126

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N O S

Diretores do Departamento de Avaliação de Produtos Odontológicos (Dapo) Heitor Panzeri/SP e Elza Helena G. Lara/SP Diretor científico da Revista ABO Nacional Fernando Luiz Ta vares Vieira/PE Coordenadoria Geral da UniABO Coordenador:Inácio da Silva Rocha/RJ; vice-coord.: Daniele Tupinambá/PA; secr.-geral:Sérgio Pedrosa/DF Conselho Nacional de Saúde Efetivo: Geraldo Vasconcelos/PE Conselho Deliberativo Nacional (CDN) Presidente : Osiris Pontoni Klamas/PR Vice-presidente: José Barbosa Porto/CE

E S T A D O S

ABO/Maranhão Pres. Marvio Martins Dias Av. Ana Jansen,73 65051-900 - São Luiz - MA Tel. (+98) 3227.1719/Fax 3227.0834

ABO/Rio de Janeiro Pres. Paulo Murilo O. da Fontoura Rua Barão de Sertório,75 20261-050 - Rio de Janeiro - RJ Tel. (+21)2504.0002 /Fax: 2504.3859

ABO/Mato Grosso Pres. Jander Ruela Pereira Rua Padre Remeter, 170 78008-150 - Cuiabá - MT Telefax(+65) 3623.9897 ABO/Mato Grosso do Sul Pres. Paulo Cezar R. Ogeda Rua da Liberdade, 836 79004-150 - Campo Grande - MS Telefax (+67) 3383.3842

ABO/Rio Grande do Norte Pres. Pedro Alzair Pereira da Costa Rua Felipe Camarão, 514 59025-200 - Natal - RN Tel. (+84) 3222.3812/Fax: 3201.9441 ABO/Rio Grande do Sul Pres. Flávio Augusto Marsiaj Oliveira Rua Furriel Luis Antônio Vargas, 134 90470-130 - Porto Alegre - RS Tel.(+51) 3330.8866/Fax: 3330.6932

ABO/Minas Gerais Pres. Carlos Augusto Jayme Machado Rua Tenente Renato César, 106 30380-110 - Belo Horizonte - MG Tel. (+31) 3298.1800/Fax 3298.1838 ABO/Pará Pres. Lucila Janeth Esteves Pereira Rua Marquês de Herval, 2298 66080-350 - Belém - PA Tel. (+91) 3277.3212/Fax 3276.0500

ABO/Rondônia Pres. Paulo Jorge Alves Martins Rua D.Pedro II, 1407 78901-150 - Porto Velho - RO Tel. (+69) 3221.5655/Fax: 3221.6197 ABO/Roraima Pres. Luiz Carlos Schwinden R. Barão do Rio Branco,1382 69301-130 - Boa Vista - RR Tel. (+95) 3224.0897/ Fax: 3224.3795

ABO/Paraíba Pres. Patrícia Meira Bento Av. Rui Barbosa,38 58040-490 - João Pessoa - PB Telefax(+83) 3222-7100 ABO/Paraná Pres. Osiris Pontoni Klamas Rua Dias da Rocha Filho, 625 80040-050 - Curitiba - PR Tel. (+41)3028.5800/Fax 3028.5824

ABO/Santa Catarina Pres. Nádia Maria Fava Rua Dom Pedro I, 224 88090-830 - Florianópolis - SC Telefax (+48) 3248.7101 ABO/São Paulo Pres. José Silvestre Rua Dr. Olavo Egídio, 154 - Santana 02037-000 - São Paulo - SP Tel. (+11) 2950.3332/Fax: 2950.1932

ABO/Pernambuco Pres. Fernando Luiz Tavares Vieira Rua Dois Irmãos, 165 52071-440 - Recife - PE Tel. (+81) 3442.8141 ABO/Piauí Pres. Júlio Medeiros Barros Fortes Rua Dr. Arêa Leão, 545 - SUL 64001-310 - Teresina - PI Tel. (+86) 3221.9374

ABO/Sergipe Pres. Martha Virgínia de Almeida Dantas Av. Gonçalo Prado Rollemberg, 404 49015-230 - Aracajú - SE Tel. (+79) 3211.2177 Fax: 3214.4640 ABO/Tocantins Pres. Luiz Fernando Varrone Av. LO15 602 Sul - Conj. 02 Lote 02 70105-020 - Palmas - TO Tel. (+63) 3214.2246/Fax: 3214.1659

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S . . . .U. . . .M. . . .Á. . .R . . . .I . . O .. Summary

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345 Artigo original

MEDICAMENTOS

Odontologia na dose certa DRUGS

Dentistry in the right dose

329 Resistindo à resistência 330

Eleita e empossada nova Diretoria da ABO Nacional The new ABO’s Board was elected and took office

The bleaching has side effects? Avilmar Passos Galvão Carlos Akio Saback Miura Wanessa Maria de Freitas Aras

Enamel microabrasion – Conservative esthetic procedures

350 Artigo original

ENTREVISTA

Newton Miranda de Carvalho Presidente da ABO Nacional

Com os olhos voltados para a ABO e o Brasil

334 Depoimentos 336

INSTRUÇÕES AOS AUTORES INSTRUCTIONS TO AUTHORS

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ARTIGOS CIENTÍFICOS SCIENTIFIC ARTICLES

Análise da contaminação do líquido anestésico presente em tubetes odontológicos, quando em contato com glutaraldeído e paraformaldeído

Paulo Moreira Vermelho Maria Fernanda Dezem Luis Alexandre Maffei Sartini Paullilo Marcelo Giannini

Analysis of the contamination of the 376 Relato de caso liquid present in tubes dental Tratamento de cárie precoce na anesthetic, when in contact with infância em um paciente cardíaco: glutaraldehyde and paraformaldehyde Uma abordagem minimamente Marcus Azevedo do Amaral invasiva Newton Guerreiro Madson Ralide Fonseca Gomes

Artigo original Avaliação do nível de ruído de turbinas de alta rotação em consultórios odontológicos

Treatment of earlier childhood caries in a child: A minimally invasive approach

356 Artigo original Medo de dentista - Sua influência na percepção da sala de espera

Assessment of noise level from highrotation turbines in dental offices

Dentist’s fears - Influences on waiting rooms perceptions

Solange Soares da Silva Félix Ana Karla de Almeida Pinto Marine Raquel Diniz da Rosa Marize Raquel Diniz da Rosa

José Galba de Meneses Gomes Sylvia Cavalcante Regina Heloisa Maciel

Maria Dânia Holanda Tenório Milton Fernando de Andrade Silva Diene Maria Holanda Tenório

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363 Artigo original

341 Artigo original A acurácia do exame radiográfico periapical frente ao diagnostico clinico da doença periodontal The accuracy of periapical radiographic in relation to clinical diagnostic of periodontal disease Emylia Rachel Figueiredo Brito Ruthinéia Diógenes Alves Uchoa Lins Gustavo Pina Godoy Pollianna Muniz Alves Patrícia Meira Bento INDEXADA BBO Lilacs

O clareamento dental traz efeitos colaterais?

The prevalence of early childhood caries in the population treated by Family Medical Program - Niterói-RJ 372 Relato de caso Microabrasão do esmalte Bartira Cruxên Gonçalves Volschan Eduardo Lúcio Soares Tratamento estético conservador

GESTÃO 2010 - 2013

2010-2013 MANAGEMENT

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368 Revisão

Prevalência da cárie de estabelecimento precoce em comunidade assistida pelo Programa Médico de Família Niterói-RJ

Ação antimicrobiana do óleo essencial da Lippia gracillis Schauer 383 (Verbenaceae) - Alecrim da Chapada - sobre a Candida sp da cavidade oral

PAINEL HIGHLIGHTS

FDI’2010 apresenta programação científica AGENDA DENTAL CALENDAR

The antimicrobial activity of a hydro alcoholic extract from Alecrim da Chapada (Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) against Candida sp in oral cavity Geraldo Bosco Lindoso Couto Mariana Feitosa de Barros Sabrina Lins de Menezes Eulália C. Pessoa de Azevedo Ximenes Cristiano Marcelino Júnior

1998 1998

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Capa/produção: Edita Comunicação

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Odontologia na dose certa Analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e anestésicos locais são rotina na clínica odontológica. Mas a prescrição e aplicação destes medicamentos devem ser encaradas com muita seriedade pelo cirurgião-dentista, que tem a obrigação de conhecer muito bem suas indicações, contraindicações, efeitos colaterais e mecanismos de ação, além de orientar o paciente para o uso correto Antonela Tescarollo

Q

uando se trata de medicamentos, há um limiar entre o bem e o mal, pois todos eles possuem tanto efeitos desejáveis para a saúde e o alívio da dor, quanto indesejáveis, em seus efeitos colaterais e contraindicações. Neste contexto de limites delicados, cirurgiões-dentistas têm papel de protagonistas, já que é comum à sua rotina prescrever e usar no con-

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sultório analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e anestésicos locais. Em tese, os CDs estão preparados para escolher com segurança que medicamento usar e como usá-lo, nos diferentes procedimentos e pacientes, já que na graduação cursam a disciplina Farmacologia Aplicada à Odontologia, conhecida como Tera-

pêutica. No entanto, segundo a cirurgiã-dentista Karla Barcelos, mestre em Farmacologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), algumas faculdades não oferecem esta disciplina ou não a valorizam, deixando lacunas na formação do profissional.

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tos colaterais dos medicamentos, além de conhecer bem seus mecanismos de ação”, afirma Karla. A cirurgiã-dentista ainda explica que também é importante entender toda a farmacocinética do medicamento, que estuda como o organismo reage à droga e o que faz com ela, e sua farmacodinâmica, que abrange o que a droga faz com o organismo. “Muitos profissionais desconhecem os efeitos colaterais dos fármacos que prescrevem. É comum ouvir: ‘Só receito este medicamento, deu certo até hoje’. A terapêutica medicamentosa moderna nos dá a oportunidade de escolher o mais adequado dentro de cada classe de medicamentos, dos antimicrobianos aos anestésicos locais.”

CD Karla Barcelos

Faz parte da prática odontológica conhecer bem os analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e anestésicos usados e prescritos, para que o profissional possa montar protocolos medicamentosos específicos para cada paciente e procedimento realizado, de forma racional, isenta de interesses, segura e que proporcione resultados eficazes e um pós-operatório confortável. “É obrigação do CD saber quais as indicações, contraindicações e efei-

Imprecisões e consequências Os erros mais comuns no momento de receitar ou aplicar medicação estão relacionados a “superprescrições” ou “subprescrição”, ou seja, indicar em quantidade de mais ou de menos. “Muitas vezes, com receio de haver uma infecção em um paciente saudável que será submetido a um procedimento mais invasivo, como uma cirurgia, o CD prescreve o antimicrobiano dias an-

RÉSUMÉ - DRUGS

Dentistry in the right dose Analgesics, anti-inflammatory drugs, antibiotics and local anesthetics are routine in dental practice. But the prescription and use of these drugs should be treated with great seriousness and responsibility by the dentist, who must know very well drugs’ indications, contraindications, side effects and mechanisms of action, besides instructing the patient in relation to their correct use.

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Responsabilidade de ser um prescritor de medicamentos

tes de forma desnecessária, submetendo o paciente a dosagens a mais da droga”, conta a mestre em Farmacologia. Quanto à “subprescrição”, ela explica que uma forma errônea comum acontece com anti-inflamatórios, em procedimentos que causam dor de intensidade moderada, por exemplo, a raspagem subgengival. Em situações como esta, o CD não sabe, ou não percebe, que pode prevenir ou controlar esta dor com o uso de antiinflamatórios de forma préemptiva, ou seja, antes do procedimento. Outros problemas que podem ocorrer quando o profissional não tem muitas informações sobre a farmacologia do produto usado ou não prescreve com mais atenção e cuidado são as interações medicamentosas, resistência microbiana, hipersensibilidade a determinados elementos, a não aceitação do medicamento pelo paciente, entre outros efeitos colaterais e reações adversas, sempre com riscos ou danos para o paciente. Diante disso, Karla volta a afirmar: “O cirurgião-dentista tem que saber da responsabilidade de ser um prescritor de medicamentos”. O elo humano Mas não basta conhecer bem apenas os medicamentos, é preciso saber também dos próprios pacientes. Assim, para obter resultados satisfatórios e seguros,

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uma anamnese detalhada do paciente é imprescindível. É preciso levantar seu histórico médico, se é alérgico a alguma substância, se usa outros medicamentos, ou tem alguma doença sistêmica, entre outras informações. “Um exemplo é o anticoagulante warfarina, que possui interações medicamentosas com alguns anti-inflamatórios que prescrevemos, podendo potencia-

lizar o efeito da droga anticoagulante no paciente”, alerta a doutora em Ciências Fisiológicas. O CD também deve estar atento para não interferir nas medicações de uso sistêmico que o paciente possa estar tomando. Além disso, no papel de profissional e promotor de saúde, o cirurgião-dentista deve sempre explicar bem para o paciente sobre os efeitos colaterais que de-

terminado fármaco pode causar, qual a forma correta de usá-lo, o que pode acontecer se for usado de forma incorreta, quais os riscos da automedicação, entre outras orientações. Mas tudo isso só fará sentido se o profissional conhecer bem os anti-inflamatórios, analgésicos, antimicrobianos e anestésicos que tem à sua disposição para prescrever e usar na prática clínica.

Sorriso sem dor

Nova imagem do CD deve ser reforçada

Hoje a Odontologia não deve mais ser associada àquelas verdadeiras cenas de tortura em que o cirurgião-dentista mais parece um sádico, feliz em causar dor no paciente, que depois volta para casa combalido e traumatizado. São vários os recursos disponíveis para mudar esta imagem, mas primordiais para isto são os analgésicos, anti-inflamatórios e anestésicos locais, que revolucionaram a clínica odontológica

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por prevenir e controlar a dor. Os analgésicos, eficazes no alívio da dor, são um grupo diversificado de drogas, por isso sua indicação deve ser bem específica, tanto em relação à classe quanto à dosagem. É preciso também orientar e alertar os pacientes com relação a seu uso indiscriminado e sem prescrição profissional. A mesma postura deve ser adotada com os anti-inflamatórios, eficazes na prevenção e controle de uma resposta inflamatória mais intensa, quando há expectativa ou presença de dor e edema. Em 2008, foram retirados do mercado anti-inflamatórios largamente usados, inclusive na Odontologia, como o Prexige e o Arcoxia, pois foi constatado que ambos aumentavam o risco de problemas cardiovasculares e hepáticos. Segundo a CD mestre em Farmacologia Karla Barcelos, estes produtos não devem ser comparados com outros, pois fazem parte de uma nova classe de anti-inflamatórios. Mas alerta: “Como todo medicamento novo, por mais que seja estudado, podem surgir efeitos colaterais com seu uso contínuo pelo paciente”. Os anestésicos locais, sem dúvida, foram um divisor de

águas por controlar a dor no transcorrer do procedimento, mas requerem muito cuidado. “Eles devem ser escolhidos de forma correta, pois são drogas depressoras do sistema nervoso central e cardiovascular e seu excesso pode levar o paciente a uma parada cardíaca”, diz Karla. Estes medicamentos também podem estar associados a vasoconstrictores, restringindo seu uso em certos grupos de pacientes com doenças cardíacas.

Veja a seguir: Antibióticos e a resistência microbiana. Caso de saúde pública

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Resistindo à resistência A resistência microbiana aos antibióticos está sendo encarada como problema de saúde pública no mundo todo. Por aqui, algumas medidas começam a ser ensaiadas, como maior controle na venda e na participação e responsabilidade dos profissionais de saúde, entre eles o CD O aumento da resistência microbiana aos antibióticos é uma grande preocupação atual em saúde pública, no mundo todo. No Brasil o assunto já vem sendo debatido no âmbito da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a participação de entidades odontológicas, farmacêuticas, médicas e veterinárias. As bactérias e outros microrganismos tornam-se mais resistentes à medicação em decorrência do uso indiscriminado e equivocado dos antibióticos, levando a internações mais longas, necessidade de medicamentos mais caros e tóxicos, aumento das reações adversas, prolongamento da doença, entre outros problemas. A questão também toca o cirurgião-dentista, ele próprio um grande prescritor de antimicrobianos usados na Odontologia como profilaxia, prevenindo uma infecção local ou sistêmica, ou para tratar uma infecção já instalada. Por isso mesmo, a ABO Nacional foi chamada para participar do Comitê Técnico Assessor para Uso Racional de Antimicrobianos e Resistência Microbiana (Curarem), criado pelo Ministério da Saúde através da Anvisa, com o objetivo de auxiliar na definição das diretrizes adotadas para prevenção e controle do problema. A ABO é representada no Curarem por Karla Barcelos, Ela conta que no comitê tem se discutido formas de melhorar a pres-

crição dos antimicrobianos, maior controle na venda e obrigatoriedade da disciplina Terapêutica nos cursos formadores de profissionais prescritores, entre outros temas. Juntamente ao Curarem, a Anvisa, em parceria com a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, está mapeando o perfil de sensibilidade dos microrganismos que atingem hospitais e população, e analisar o efeito dos medicamentos sobre eles, dados ainda incipientes no Brasil. O trabalho está sendo feito através da Rede de Monitoramento e Controle da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Rede RM). Controle na prescrição e consumo Com a questão colocada em debate e mais informações sobre a resistência microbiana no País sendo levantadas, medidas mais efetivas começam a ser tomadas. Em novembro de 2009, a Anvisa publicou a resolução RDC 60, que determina que cirurgiões-dentistas, médicos e veterinários, quando derem amostras grátis de antibióticos a seus pacientes, devem entregar quantidade suficiente para todo o tratamento. O objetivo é evitar que os microrganismos tornem-se resistentes pelo uso incompleto da medicação. A resolução reúne outras medidas relacionadas a

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amostras grátis de medicamentos, como a que determina que os prescritores devem os ser responsáveis pela conservação e validade do estoque de amostras mantido no consultório. A Agência também anunciou no ano passado que está trabalhando para que antibióticos sejam incluídos na lista de medicamentos de uso controlado. Atualmente eles só podem ser vendidos com receita, mas na prática isso não ocorre. Com o controle especial, farmácias e drogarias seriam obrigadas a recolher e registrar os dados da prescrição e notificar a venda à Vigilância Sanitária, além de carimbar ou recolher a receita. Se colocadas em prática e de forma efetiva, estas medidas podem ajudar muito no controle da resistência microbiana no País, mas não resolveriam o problema sem a conscientização e participação dos profissionais de saúde, entre eles o CD. Para isso, é preciso dar mais atenção ao estudo da terapêutica, para que no dia a dia da clínica odontológica os medicamentos sejam usados e prescritos com responsabilidade, levando em conta seus mecanismos de ação, efeitos colaterais e contraindicações. Mais informações: www.anvisa.gov.br, no campo de busca, procure por Curarem ou Rede RM Para falar com a Rede RM: resistencia.microbiana@anvisa.gov.br

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GESTÃO 2010 - 1013

Eleita e empossada nova Diretoria da ABO Nacional A nova Diretoria da ABO Nacional, liderada por Newton Miranda de Carvalho (MG), acaba de tomar posse administrativa para a Gestão 2010-2013. A posse solene será dia 5 de fevereiro, em Belo Horizonte. O grupo, que formou a chapa ABO de Todos, está com suas metas definidas e já tem detalhados os projetos e medidas que serão colocados em prática para que elas possam ser alcançadas. Ainda nesta edição, entrevista com o novo presidente da ABO Diego Freire

Nova Diretoria saiu da chapa única ABO de Todos. Metas da nova gestão já estão definidas

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Conselho Deliberativo Nacional da ABO Nacional elegeu e empossou nova Diretoria para a Gestão 20102013 da entidade. No dia 8 de janeiro, foi realizada a posse administrativa dos novos dirigentes do Conselho Executivo Nacional (CEN) e dos integrantes do Conselho Fiscal Nacional (CFN). A cerimônia solene de posse acontecerá no dia 5 de fevereiro, em Belo Horizonte (MG). A nova Diretoria, que com-

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pôs a chapa única ABO de Todos, é encabeçada por Newton Miranda de Carvalho (MG), tendo como vice-presidente Manoel Jesus Rodrigues Mello (CE), Marco Aurélio Blaz Vasques (RO) como secretário-geral e Wesley Borba Toledo (DF) como tesoureiro-geral. Os novos diretores já têm plano de metas e projetos a serem desenvolvidos para a consolidação delas durante o mandato de

três anos (veja mais na pág. 333). Logo após ser eleito, Newton Miranda ressaltou, na plenária do CDN, a necessidade de um esforço concentrado para a recuperação das ABOs. “Convoco todos ao trabalho, que não pode ser de um só, mas sim de todas as 27 Seções. A ABO está crescendo, e vamos continuar trabalhando juntos para este objetivo. A grandeza da Odontologia vai depender de nós

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mesmos”, declarou. O novo presidente também destacou o bom trabalho de seu antecessor, Norberto Lubiana. “Ele conduziu a ABO a fronteiras em que nunca antes estivemos. Este trabalho não é uma página virada, convocaremos sua

colaboração para que continuemos sem solução de continuidade. Lubiana deu grande contribuição pessoal, de sua vida familiar e profissional à ABO, e nós, da nova Diretoria, aceitamos este ônus com humildade”, declarou Miranda.

Lubiana, presidente da ABO até a passagem do comando à nova Diretoria, ressaltou que a entidade, em sua gestão transcorrida durante seis anos (20042010), alcançou novo patamar e que ao dever cumprido sempre há o que acrescentar e melhorar.

CEN, vice-presidentes Regionais e CFN NORTE: Luiz Fernando Varrone (TO)

SUDESTE: Osmir Luiz Oliveira (MG)

NORDESTE: Tiago Gusmão Muritiba (AL)

Suplentes Dilto Crouzeiles Nunes (RS), Paulo Murilo Oliveira da Fontoura Júnior (RJ), Lucila Janeth Esteves Pereira (PA), Júlio Medeiros Barros Fortes (PI) CENTROOESTE: Jander Ruela Pereira (MT)

SUL: Nádia Maria Fava (SC)

Vice-presidentes Regionais Norte - Luiz Fernando Varrone (TO) Nordeste -Tiago Gusmão Muritiba (AL) Sudeste - Osmir Luiz Oliveira (MG) Sul - Nádia Maria Fava (SC) Centro-oeste – Jander Ruela Pereira (MT)

Conselho Fiscal Nacional

Integrantes do Conselho Fiscal Nacional, com Miranda

Conselho Executivo Nacional Presidente - Newton Miranda de Carvalho (MG) Vice-presidente - Manoel de Je-

sus Rodrigues Mello (CE) Secretário-geral - Marco Aurélio Blaz Vasques (RO) Tesoureiro-geral - Wesley Borba Toledo (DF) 1ª secretária – Daiz da Silva Nunes (AP) 1º tesoureiro – Carlos Augusto Jayme Machado (MG)

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Para integrar o Conselho Fiscal Nacional (CFN) foram eleitos os seguintes membros da ABO: José Silvestre (SP) José Barbosa Porto (CE) Paulo Jorge Alves Martins (RO)

Suplentes Rafael de Almeida Decurcio (GO), Alberto Tadeu do Nascimento Borges (AM), Stanley Sandro da Silva Mendes (AC)

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E N T R E V I S T A ...................

Newton Miranda de Carvalho Presidente da ABO Nacional

Com os olhos voltados para a ABO e o Brasil

Empossado em 8 de janeiro para presidir o Conselho Executivo Nacional da ABO, em sucessão a Norberto Francisco Lubiana, Newton Miranda de Carvalho aponta nesta primeira entrevista qual será o foco da Gestão 20102013. Mineiro de Alto do Rio Doce, ele tem quatro filhos - dois deles cirurgiões-dentistas que já dividem com o pai a responsabilidade do consultório. Na melhor fase de sua carreira, promete se dedicar com afinco à ABO Nacional Revista ABO Nacional - Como o sr. avalia a gestão desses últimos 6 anos da qual participou? Newton Miranda de Carvalho Minha avaliação é positiva. A ABO cresceu, se projetou internacionalmente, adquiriu mais respeito fora de nossas fronteiras, consolidamos inúmeras parcerias, atuamos firmemente no interesse dos cirurgiões-dentistas junto ao poder público. Por outro lado, dentro do Brasil perdemos espaço, perdemos cursos, ampliouse o problema crônico do excesso

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de faculdades, do excesso de cirurgiões-dentistas, da má distribuição dos profissionais, da perda do controle da pós-graduação. RAN - Que experiência traz desse período para a próxima etapa que se inicia em 2010? NMC - Trago a experiência de seis anos de trabalho dentro do CEN, onde pude avaliar as decisões que foram mais e as que foram menos resolutivas. Avançamos muito graças ao planejamento estratégico, ganhamos

mais visibilidade. Pretendemos, agora, mostrar mais a cara, exibir a Odontologia participativacidadã. Vamos criar e apoiar projetos cidadãos, mas não pater-nalistas. RAN - Como o sr. vê o Brasil Sorridente? NMC - Vejo como um avanço, mas não como solução porque estamos trabalhando com verbas insuficientes. Defendo a volta dos cirurgiões-dentistas aos grupos escolares, em campanhas

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educativas que criem os bons hábitos de higiene bucal nas crianças, para haver uma transformação a partir da base. RAN- Qual a expectativa para os próximos anos? NMC - Será voltar os olhos para dentro do País, com assistência maior às Seções e às Regionais. Para isso é preciso fazer um diagnóstico real da situação de todas elas e dos associados. É preciso descentralizar as ações políticas, valorizando os vice-presidentes Regionais para que eles tragam a análise de suas regiões para os tomadores de decisões pontuais. É imprescindível conhecer cada região e buscar criatividade para trazer mais cirurgiões-dentistas para dentro da ABO. Só assim poderemos mostrar a nossa força. As necessida-

des internacionais foram conquistadas. Agora vamos envidar esforços para os pleitos internos, valorizando os líderes odontológicos. RAN - Estão programadas metas para a sua gestão? Qual será o foco? NMC - Temos metas e temos programas para cumpri-las. Elas avançam em três frentes: visibilidade social, apoio às ABOs, valorizar o cirurgião-dentista para que a população nos veja, mas de forma positiva. RAN - Como o sr. pretende compatibilizar vida pessoal, carreira e a presidência da ABO? NMC - Sacrificando um pouco mais de mim, um pouco mais do convívio com a família e um pou-

co mais de minhas atividades no consultório, e otimizando minhas ações. Minha relação com a família é muito forte, tenho quatro filhos, dois deles CDs e minha esposa que é TPD. Estou em um momento bom para me dedicar à ABO porque tenho a quem passar e dividir as responsabilidades, e serei capaz de conciliar tudo e aumentar minha dedicação à ABO. RAN - Será um desafio? NMC - Vai ser o meu melhor desafio. Chego ao topo da carreira dando o melhor de mim para a Odontologia. Neste momento, é importante chamar todo o CDN em favor da Odontologia. Registro o apoio recebido de todos, e vou tentar com a melhor da minha capacidade cumprir as propostas de nossas metas.

Metas para uma ABO de todos

Reunião do Conselho Deliberativo Nacional (CDN), dia 28 de novembro, em São Paulo, em que foi realizada a eleição para os integrantes do Conselho Executivo Nacional e do Conselho Fiscal Nacional

Reunida na chapa ABO de Todos, a nova Diretoria da ABO Nacional toma posse com plano de metas definido e já detalhado em projetos concretos, o que torna as propostas mais claras e factíveis. As metas definidas pelo Conselho Executivo Nacional

(CEN) da ABO para a Gestão 2010-2013 são: l Implantar Política de Valorização Institucional voltada para as ABOs l Implantar Política Administrativa mais moderna e transparente

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Implantar Política de Responsabilidade Socioambiental l Estabelecer Agenda Legislativa da ABO Nacional; l Estabelecer Política voltada aos Associados das ABOs l Implementar Adequação das Normas Legais da ABO l

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Depoimentos

CEN: Vasques, Miranda, Mello e Toledo

Mudança “A eleição de Newton Miranda de Carvalho representa verdadeiramente uma nova mudança na política da Odontologia no cenário nacional, uma nova esperança de conquistarmos mais espaço nas ações sociais e transparência nas ações da política nacional e internacional.” Manoel de Jesus Rodrigues Mello, vice-presidente da ABO Nacional Perfil ideal “Tenho a certeza de que o Newton tem o perfil ideal para presidir nossa ABO Nacional. Tenho certeza de que outros colegas entendem nossa proposta de mudança e estão conosco nessa caminhada por uma ABO de todos e para todos.” Wesley Borba Toledo, tesoureiro-geral da ABO Nacional Tradição “Apoio Newton Miranda de Carvalho porque o conheço desde 1965, quando foi meu aluno na UFMG, e venho acompanhando, ao longo desse tempo, sua trajetória de vida pessoal, profissional e associativa. Seu caráter é forjado na melhor tradição dos conceitos

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de democracia e liberdade e de respeito às opiniões divergentes. Newton sempre defendeu ideário ético e de valores morais elevados, sem jamais se afastar deles. Pai e marido exemplar, companheiro e amigo cuja fidelidade e lealdade nunca foram postas em dúvida. Trabalhador competente e honrado, colocará os interesses da ABO acima de quaisquer interesses, de quem quer que seja.” Osmir Luiz Oliveira, vice-presidente Regional Sudeste Competência “Newton Miranda é profissional de renome e competência, altamente gabaritado em sua área de atuação. Além disso, à frente da ABO desempenha importante papel na busca de melhores condições para a saúde bucal no País, tanto para os profissionais da Odontologia quanto para as causas de nossa classe , que envolvem o acesso da população carente brasileira a esse tipo de serviço. Nós, da ABO/MG, acreditamos que sua condução ao cargo de presidente se reveste de justiça não apenas pelo excelente trabalho que esse nobre colega vem desempenhando, mas também por considerarmos de extrema importância ter um membro da classe odontológica atuando diretamente junto às grandes instituições de nossa categoria e junto ao poder público. Trata-se também de um grande exemplo de irrefutável conduta profissional e humana.” Carlos Augusto Jayme Machado, primeiro-tesoureiro Descentralização “Comemoro a eleição do colega Newton por ter a esperança do novo, das descentralizações de suas

Porto (CFN) e Machado (CEN)

ações. De uma ABO verdadeiramente de todos e para todos.” José Barbosa Porto, membro do CFN Unidade da ABO “A eleição de Newton Miranda de Carvalho como presidente da ABO Nacional significa mais unidade da Rede ABO, para que ela desenvolva realmente seu papel de instituição científica e defensora das políticas públicas de saúde bucal.” Lucila Janeth Pereira, suplente do CFN

Fortalecimento “A vitória de Newton Miranda para a Presidência da ABO representa maior unidade e força para implementar as mudanças necessárias para o fortalecimento das Seções e Regionais.” Rafael Decurcio, suplente do CFN

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nacional na busca de uma ABO mais forte e atuante.” Alberto Tadeu do Nascimento Borges, suplente do CFN

Apuração dos votos em São Paulo

Experiência “A ABO/AM confia na experiência, competência e determinação já demonstradas por Newton Miranda durante sua gestão como secretário da ABO Nacional. Sou testemunha da dedicação e empenho do nosso agora presidente

Referência “Eu apoio o presidente Newton Miranda porque me identifico com seus ideais. Acreditamos que uma ABO forte é aquela cujas Seções e Regionais consigam prosperar e sejam, de fato, referência para os cirurgiões-dentistas. Priorizar ações internas que tragam verdadeiros benefícios para os CDs brasileiros é o compromisso. Eu acredito e apoio.” Paulo Murilo Oliveira da Fontoura Jr., assessor internacio-

nal e suplente do CFN Fortalecimento “A ABO/AC acredita que Newton Miranda pode realmente integrar e fortalecer as Seções e Regionais menores dentro de um contexto de desenvolvimento e evolução da Odontologia.” Stanley Sandro da Silva Mendes, suplente do CFN Seções e Regionais “Estou convicto do desejo de Newton Miranda de Carvalho de realizar um trabalho voltado para todas as Seções e Regionais.” Júlio Medeiros Barros Fortes, suplente do CFN

UniABO vai premiar trabalhos científicos

Com o objetivo de incentivar a apresentação de trabalhos clínicos e científicos realizados pelos alunos das escolas da ABO e fomentar a produção científica odontológica, a UniABO – Escola de Educação Continuada da Rede ABO lançou seu próprio

Prêmio de Excelência em Odontologia. O prêmio é dividido nas categorias caso clínico e pesquisa científica, e o primeiro colocado em cada uma ganha R$ 3.000,00 e a publicação do seu trabalho na Revista ABO Nacional. A seleção dos ganhadores acontecerá em duas etapas, regional e nacional, sendo que a primeira ocorrerá no âmbito das Seções Estaduais e Regionais da ABO. A etapa nacional vai selecionar os vencedores entre oito trabalhos finalistas de cada cate-

goria e será realizada durante o Congresso da Federação Dentária Internacional (FDI), que acontece em Salvador (BA), de 2 a 5 de setembro. As inscrições para a primeira etapa devem ser feitas até 15 de junho, nas Regionais, e até 10 de julho, nas Seções. Para a etapa nacional, devem ser feitas até 15 de julho.

Mais informações: www.abo.org.br

Com nova coordenação

Daniele, Inácio e Pedrosa

A UniABO também elegeu em novembro passada sua nova coordenação, em reunião realizado com a participação de representantes de 18 Seções da Rede ABO. Inácio da Silva Rocha (RJ) foi reeleito coordenador nacional da UniABO. Como vice-coordenadora foi eleita Daniele Tupinambá (PA), substituindo Egas Moniz de Aragão (PR), e como secretáriogeral foi escolhido Sérgio Pedrosa (DF), que assume no lugar do eleito para a Secretaria-geral do Conselho Executivo Nacional (CEN), Marco Aurélio Blaz Vasquez (RO).

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Instruções aos autores A Revista ABO Nacional é uma publicação bimestral da Associação Brasileira de Odontologia, dirigida à classe odontológica e aberta à publicação de artigos inéditos de investigação científica, relatos de casos clínicos, resumo de teses, artigos de revisão e/ou atualização, bem como reportagens sobre assuntos diversos relacionados à Odontologia. Os artigos devem ser enviados em cópia impressa e gravados em mídia digital regravável (CD ou disquete), em arquivo de editor de texto compatível com Windows (para PC). 1 - Apresentação dos artigos Os artigos devem ser inéditos, não sendo permitida a sua apresentação simultânea em outro periódico. Reservam-se os direitos autorais do artigo publicado, inclusive de tradução, permitindo-se, entretanto, a sua reprodução como transcrição e com a devida citação da fonte. Todos os artigos são analisados pelo Conselho Editorial Científico que avaliam o mérito do trabalho. Aprovados nesta fase, os artigos são encaminhados ao Conselho Consultivo (revisão por pares) que, quando necessário, indicam as retificações que devem ser feitas antes da edição. Quando houver mais de cinco autores justificar a efetiva contribuição de cada um deles. Os artigos devem atender à política editorial da Revista e às instruções aos autores baseadas no “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”* (estilo Vancouver), elaborado pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE). O idioma do texto pode ser o português, o inglês ou o espanhol, desde que tenha título, palavras-chave e resumo traduzidos para o português, pelo autor. Exigem-se declaração assinada pelo autor, responsabilizando-se pelo trabalho, em seu nome e dos coautores; carta anexa, constando nome, endereço, telefone e e-mail do autor que ficará responsável pela correspondência; duas vias (original e cópia) acompanhadas cada uma das respectivas imagens. Recomenda-se que os autores retenham outra cópia em seu poder. Os artigos devem ser digitados (fonte Times New Roman, corpo 12) e impressos em folha de papel tamanho A4, com espaço duplo e margens laterais de 3 cm e ter até o máximo de 15 laudas com 30 linhas cada (incluindo ilustrações). As ilustrações (gráficos, quadros, desenhos e fotografias) devem ser apresentadas em folhas separadas e numeradas, em algarismos arábicos. Cada tipo de ilustração deve ter a numeração própria seqüencial de cada grupo. As legendas das fotografias, desenhos e gráficos devem ser claras, concisas e localizadas abaixo das ilustrações e precedidas de numeração correspondente. As ilustrações devem ser mencionadas no texto em seguida onde foram citadas, limitadas até o número máximo de 10. As imagens referentes aos trabalhos devem ser apresentadas na dimensão 12 x 9 em contraste correto, em papel. Porém, dá-se preferência a imagens digitalizadas, que devem ter resolução de, no mínimo, 300 DPIs. Não são aceitas imagens no formato cromo ou slides. Não se adota o procedimento de publicação de foto do autor. As tabelas devem ser numeradas, consecutivamente, em algarismos arábicos. As legendas das tabelas e quadros devem ser colocadas na parte superior das mesmas. Não traçar linhas internas horizontais ou verticais. As notas explicativas devem vir no rodapé da tabela. Para unidades de medida usar somente as unidades legais do Sistema Internacional de Unidades (SI). Quanto às abreviaturas e símbolos, utilizar somente abreviaturas padrão. O termo completo deve preceder

a abreviatura quando ela for empregada pela primeira vez, salvo no caso de unidades comuns de medida. As notas de rodapé são indicadas por asteriscos e restritas ao indispensável. 2 -Ética Estudos que envolvam seres humanos, bem como prontuários clínicos, devem ter o consentimento por escrito do paciente e aprovação da Comissão de Ética da Unidade (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus complementos). 3 - Preparo dos manuscritos Página de identificação: título do artigo e subtítulo em português e inglês (conciso, porém informativo); nome do(s) autor(es), indicando em nota de rodapé um título e uma única filiação por autor, sem abreviaturas e endereço eletrônico. Resumo/Abstract: deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do trabalho. Usar a terceira pessoa do singular e verbo na voz ativa. Os resumos devem ter até 250 palavras, no máximo. Os resumos dos artigos originais devem conter informação estruturada constituída de Introdução – Material e Métodos – Resultados – Conclusões. Para outras categorias, o formato do resumo deve ser o narrativo. Palavras-chave/Key words: identificam o conteúdo dos artigos. Consultar: Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/Bireme) disponível em http://decs.bvs.br; Descritores em Odontologia (DeOdonto/SDO-FOUSP); “Medical Subject Headings” (MeSH/Index Medicus). 4 - Estrutura do texto INTRODUÇÃO – Deve ser concisa, explanar os pontos essenciais do assunto e o objetivo do estudo baseado em referências fundamentais. MATERIAL E MÉTODOS – Descreve a seleção dos indivíduos que intervieram na pesquisa, incluindo os controles e os métodos relacionados às etapas da pesquisa. Os métodos e os equipamentos (apresentar nome, cidade, país do fabricante entre parênteses), bem como os fármacos incluindo os nomes genéricos e produtos químicos, devem ser identificados no texto. RESULTADOS – Apresentar os resultados, sempre que possível, subdividido em itens e apoiado em gráficos, tabelas, quadros e figuras. DISCUSSÃO – Enfatizar os aspectos novos e importantes do estudo e não repetir em detalhes, o que já foi citado em Introdução e Resultados. CONCLUSÃO (ÕES) – Vincular as conclusões aos objetivos do estudo e respaldadas pelos dados. Quando for conveniente incluir recomendações. AGRADECIMENTOS – Quando necessários, devem ser mencionados os nomes dos participantes e/ou instituições que contribuíram para o trabalho. Para relato de casos apresentar: INTRODUÇÃO, RELATO DE CASO, DISCUSSÃO e CONCLUSÃO. 5 - Referências (estilo Vancouver) Citar as referências, no máximo 30, por ordem

alfabética de autores e numeradas em ordem crescente (www/nlm.nih.gov/bsd/uniform_require ments.html) Os títulos dos periódicos devem ser abreviados de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus” (www.nlm.nih.gov/) Publicações com dois autores até o limite de seis citam-se todos; acima de seis, acrescentar em seguida a expressão et al. Exemplos: Artigo de periódico Brinhole MCP, Teixeira R, Tosta M, Giovanni EM, Costa C, Melo JAJ, et al. Intubação submental: evitando a traqueostomia em cirurgia bucomaxilofacial. Rev Inst Ciênc Saúde. 2005; 23(2):169-72. Artigo de periódico em formato eletrônico Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];102(6):[about 3 p.]. Available from: www.nursingworld.org/AJN/2002/june/ Wawatch.htm Livro Newman MG. Carranza periodontia clínica. 9ª ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan; 2004. Livro em formato eletrônico Marzola C. Transplante e reimplante [CD-ROM]. São Paulo: Pancast; 1997. Dissertação e tese Ferreira TLD. Ultra-sonografia – recurso imaginológico aplicado à Odontologia [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo; 2005. Comunicação pessoal e citação de citação (apud) devem ser evitadas. Quando consideradas essenciais, devem ser citadas no texto e indicadas em notas de rodapé, sem fazer parte da lista de referências. Identificar os autores no texto em algarismos arábicos em forma de potenciação correspondente às referências. Citar os nomes dos autores no texto com seus respectivos números sobrescritos e data entre parênteses só quando for necessário enfatizálos. Quando houver dois autores mencionar ambos ligados pela conjunção “e”, acima de dois, cita-se o primeiro autor seguido da expressão et al. Exemplos: A prótese adesiva foi introduzida há poucas décadas3. Loe et al.2 (1965) comprovaram que o acúmulo de placa bacteriana está relacionado com o desenvolvimento da gengivite. Recomenda-se que incluam também a bibliografia nacional existente. A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores.

Enviar originais dos artigos para: Sede Administrativa da ABO Nacional Rua Vergueiro, 3153, Conj. 82 - 04101-300 - São Paulo - SP - Brasil - Telefax: (+5511) 5083-4000 E-mail: abonacional@uol.com.br

* Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals. Bethesda : NLM; 2005 [updated 2005 Oct;Nac. cited 2005 Oct17 24]. from: http://www.icmje.org/ 336 Rev. ABO - Vol. nºAvailable 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010


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Artigo original

Avaliação do nível de ruído de turbinas de alta rotação em consultórios odontológicos Assessment of noise level from high-rotation turbines in dental offices Palavras-chave: Odontologia. Ruído ocupacional Medição do ruído. Key words: Dentistry. Noise, occupational. Noise measurement.

Solange Soares da Silva Félix* Ana Karla de Almeida Pinto** Marine Raquel Diniz da Rosa*** Marize Raquel Diniz da Rosa****

RESUMO

Introdução - O objetivo deste trabalho foi correlacionar o nível de ruído de turbina de alta rotação (TAR) utilizado por cirurgiões-dentistas (CDs), com o tempo de serviço profissional, a marca e o tempo de exposição à TAR. Material e Método - Realizou-se um estudo transversal, de abordagem quantitativa, do qual participaram 179 CDs, de ambos os gêneros, com idade máxima de 59 anos, atuantes nas áreas de clínica geral, dentística e odontopediatria, em consultórios privados selecionados, com no mínimo, três anos de exercício profissional, no município de João Pessoa-PB, Brasil. Verificouse o nível de ruído da TAR através de um decibelímetro. Um questionário foi aplicado para coletar informações sobre tempo de serviço dos CDs, marca e tempo de exposição à TAR. Resultados - Verificou-se que o nível médio de ruído da TAR esteve abaixo de 85 dB, havendo influência significativa quando comparado à marca e ao tempo de exposição. O tempo de serviço não exerceu influência significativa em relação ao ruído, o qual se mostrou de acordo com a legislação brasileira. Conclusões - Percebeu-se que o tempo de exposição e a marca da TAR podem influenciar os níveis de ruído ocupacional. ABSTRACT

Professora Doutora do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê). E-mail: lannefelix@ yahoo.com.br ** Mestre em Odontologia Preventiva e Infantil da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: karlakaia@hotmail.com.br *** Professora Mestre do Curso de Fonoaudiologia da UFPB. E-mail: mrdrosa@yahoo.com.br **** Professora Doutora do Departamento de Clínica e Odontologia Social da UFPB. E-mail: marize_rosa@yahoo.com.br

*

Introduction - The aim of the present study was to correlate the noise level from high-rotation turbines (HRT) used by dental surgeons (DSs) with length of time in professional service, brand and exposure time to HRT. Material and Method - A crosssectional study with a quantitative approach was carried out with the participation of 179 DSs from both genders, with a maximum age of 59 years, working in the fields of general dentistry and pediatric dentistry in selected private offices, with a minimum of three years of professional service, in the city of João Pessoa-PB, Brazil. The noise level from the HRT was determined using a decibel meter. A questionnaire was administrated in order to gather information on the length of service of the DSs, brand and exposure time to the HRT. Results - The results revealed that the mean noise level of the HRT was below 85 dB, with a significant influence detected when compared to the brand and exposure time to the HRT. The length of service had no significant influence with regard to noise, which proved to be in compliance with Brazilian legislation. Conclusions - It was perceived that exposure time and the brand of the HRT can influence occupational noise levels. INTRODUÇÃO

O ruído é classificado como qualquer sensação sonora indesejada para o organismo humano9, sendo considerado o mais frequente dos agentes de exposição ocupacional, podendo provocar o desenvolvimento de disfunções auditivas, bem

como o aumento do risco para acidentes de trabalho5. A Medicina do Trabalho classifica as profissões segundo o grau de periculosidade e insalubridade e também com o grande número de doenças ocupacionais relacionadas. Nesse aspecto, a Odontolo-

Félix, Solange SoaresRev. da Silva al. Avaliação donºnível ruído de turbinas de alta2010 rotação em consultórios odontológicos ABOet Nac. - Vol. 17 6 - de Dezembro 2009/janeiro

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Tabela 1 - Médias dos níveis de ruído em dB(A) de turbina de alta rotação, em consultórios odontológicos, segundo o “tempo de exposição (em anos)”. João Pessoa-PB Tempo de exposição

Turbina de alta rotação (TAR)

(anos)

N

Média ± DP

17 49 37 38 9 9

76,77 ± 2,72 ab 75,08 ± 3,55 b 75,20 ± 3,47 b 74,96 ± 3,50 b 75,99 ± 3,79 b 78,67 ± 5,01 a 2,30 p = 0,0471 4,73

0 5 10 15 20 25 Teste F Prob CV (%)

5 10 15 20 25 30

Nota: Nas colunas, médias seguidas da mesma letra, não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

gia tem sido vista como de baixo risco ocupacional. Por isso, o Ministério da Previdência e Assistência Social enquadra o cirurgião-dentista apenas no campo das radiações ionizantes, na exposição a agentes biológicos ou quando atua em local onde o ruído permanente esteja acima de 90 dB10. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece 55 decibéis (dB) como nível médio de ruído diário para viver-se bem. Dessa forma, os ambientes onde o ruído esteja acima dos níveis recomendados necessitam de algum tipo de proteção. Acima de 75 dB, começa-se a sentir desconforto acústico; além de 80 dB, pode ocorrer perda de audição, hipótese que se generaliza quando em níveis acima de 85 dB. Em nível mundial, a Health and Safety Executive, em 1972, aceitava uma dosagem máxima de 90 dB diários para oito horas de trabalho. Nove anos após, a Occupational Safety and Health Administration passou a considerar excessivo qualquer ruído superior a 85 dB. Ficou, portanto, mais criteriosa a diminuição da intensidade de ruído para exposição durante um mesmo número de horas13. O ruído está presente constantemente na execução das atividades dos cirurgiõesdentistas, podendo gerar danos irrever-

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síveis aos profissionais que as praticam21. Todavia, na maioria das vezes, estes não têm conhecimento de tais riscos. O ruído produzido pela TAR (turbina de alta rotação), utilizada principalmente na remoção de tecido cariado, tem sido considerado uma das principais fontes causadoras da perda de audição, merecendo maior atenção dos pesquisadores. Para os autores, os cirurgiões-dentistas devem, como primeira medida de prevenção, diminuir o nível de ruído dos aparelhos usados no dia a dia16. A perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) é uma patologia de etiologia ocupacional, de caráter irreversível e passível de prevenção, desde que seja controlado o risco ambiental7-8,11. É considerada uma das doenças ocupacionais mais prevalentes em todo o mundo6. Seu simples diagnóstico significa o resultado da falência de todo um sistema preventivo que deveria estar colocado à disposição do trabalhador. Conforme Silva e Costa19 (1998), a PAIR apresenta-se por volta dos três anos de exposição ao ruído e mostra tendência de estabilização após quinze anos de evolução. Diante do exposto, esta pesquisa teve por objetivo avaliar o nível de ruído de turbina de alta rotação, correlacionando-o com o tempo de serviço dos CDs, a marca

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e o tempo de exposição à TAR, em consultórios odontológicos, na cidade de João Pessoa-PB. MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva, observacional, transversal com abordagem quantitativa. Foram observados os aspectos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e todos os CDs participantes da pesquisa, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro das Ciências da Saúde da UFPB. A amostra constou de 179 CDs atuantes em consultórios privados, sendo 144 em clínica geral, 21 em dentística e 14 em odontopediatria. Os CDs tinham, no mínimo, três anos de exercício profissional. Um questionário foi aplicado previamente para coletar informações sobre tempo de serviço, marca e tempo de exposição à TAR. O nível de ruído nos consultórios dos CDs foi obtido através de um decibelímetro, marca Minipa, modelo MSL-1351, o qual era posicionado a 30 cm de distância da caneta de alta rotação. Durante o funcionamento da turbina, foram anotados 30 registros, conforme metodologia seguida pela Superintendência de Desenvolvimento do Meio Ambiente – Sudema-PB, com intervalo de dez segundos entre uma e outra medição. Como padronização, a turbina funcionou sem qualquer procedimento clínico. Para o cálculo da média de ruído – Leq dB, foi utilizado o programa elaborado pelo professor João Crisóstomo de Morais, do Centro de Tecnologia da UFPB, que também é utilizado pela Sudema-PB – Programa de Controle de Ruído. As medições foram realizadas segundo a Norma Regulamentadora no 15 2. Os dados obtidos da TAR, a partir da medição do nível equivalente (Leq), foram expressos em decibéis (dB) sendo submetidos à análise de variância univariada para identificar os prováveis efeitos dos fatores de risco auditivo. A significância dos efeitos foi determinada pelo teste F aos níveis á =0,05 e/ou á =0,01 de probabilidade. O teste de Tukey, a 5% de probabilidade, foi utilizado para comparar

ABO - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 Félix, Solange Soares da Silva et al. Avaliação do nívelRev. de ruído de Nac. turbinas de alta rotação em consultórios odontológicos


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as médias dos fatores utilizados sobre os níveis de ruído24. Toda a análise estatística foi realizada com o auxílio do Statistical Analysis System (SAS). RESULTADOS E DISCUSSÃO

A TAR produz nível de som extremamente alto e é considerada como principal causadora da perda de audição, sendo, portanto, a fonte que tem merecido maior atenção dos pesquisadores12, 14. A Tabela 1 refere-se à média de ruído (Leq), expressa em dB, obtida em função do tempo de exposição à TAR. Verifica-se que houve influência significativa do tempo de exposição à caneta de alta rotação (P=0,0471) sobre os níveis de ruído, nos 179 consultórios odontológicos pesquisados. O nível equivalente (Leq) obtido em função do tempo de exposição à caneta de alta rotação variou de 74,96 ± 3,50 dB(A) a 78,67 ± 5,01 dB(A), observando o nível de ruído abaixo de 85 dB(A), corroborando os resultados encontrados por Souza et al.21 (1997) e Sectos17 (1998). Porém, a Organização Mundial de Saúde6 considera que o início do estresse auditivo ocorre sob exposição a 55 dB(A). De acordo com a legislação brasileira, sons potencialmente perigosos estão acima de 85 dB(A), podendo causar perdas permanentes de audição, o que está de acordo com outros autores14, 22-23. Níveis mais elevados de ruído foram observados com tempo de exposição acima de 25 anos (78,67 dB), situando-se, contudo, abaixo do limite de tolerância de 85 dB (A). Entretanto, os autores Sheldon e Sokol18 (1984), afirmaram que as brocas dentárias podem emitir ruídos acima de 90 dB, dependendo do modelo e da idade. Para Sorainen e Ritkönen20 (2002), o uso simultâneo de várias turbinas, como é o caso das clínicas universitárias, aumenta a intensidade total dos ruídos a cada turbina. Os citados autores alertam para a importância de a broca estar ou não cortando um material duro. O tempo de exposição é um dos principais fatores para a instalação da PAIR 3. A Tabela 2 mostra a média de ruído (Leq), expressa em dB, segundo a marca

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Tabela 2 - Médias dos níveis de ruído em consultórios odontológicos, segundo a marca da turbina de alta rotação utilizada, durante a jornada de trabalho. João Pessoa-PB Marca da turbina Dentscler DX Gnat Dabi Kavo Topair

Número de observações

Média dB(A)

Teste estatístico

5 6 18 130 17 3

77,92 ± 1,74 a 76,50 ± 2,67 a 75,84 ± 3,31 a 75,70 ± 3,70 a 74,18 ± 3,22 a 70,43 ± 4,82 b

...F = 2,32 ...p = 0,0457 CV = 4,73%

Nota: Na coluna, médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 3 – Médias dos níveis de ruído de turbinas de alta rotação, em consultórios odontológicos, segundo o “tempo de serviço do CDs”. João Pessoa-PB Tempo de serviço (anos) 3– 5 6 – 10 11 – 15 16 – 20 21 – 25 26 – 35

Número de observações

Média dB(A)

23 44 38 31 30 13

76,41 ± 3,40 a 74,62 ± 3,04 a 74,86 ± 3,99 a 76,07 ± 3,32 a 76,08 ± 3,14 a 76,95 ± 5,67 a

Teste estatístico F = 1,79 p = 0,1182 CV = 4,77%

Nota: Na coluna, médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

da TAR utilizada pelos CDs. Percebe-se que a marca da caneta de alta rotação teve influência significativa (P=0,0457) nos níveis de ruído no consultório. A Topair, mesmo com baixa percentagem de preferência pelos CDs, apresentou níveis de ruído mais baixos, embora todas as marcas tenham apresentado ruído abaixo de 85 dB. Esse resultado está de acordo com os estudos de Saquy et al.15 (1994), os quais concluíram que as marcas Dabi-Atlante e Kavo apresentam, em média, ruído abaixo de 85 dB. Bahanann et al.1 (1993) encontraram média de 72,91 Db(A) em turbinas Kavo. Analisando os dados da Tabela 3, cons-

tata-se que o tempo de serviço do cirurgião-dentista, não exerceu influência significativa (P>0,05) sobre os níveis de ruído, em 179 consultórios amostrados. Como se verifica, no período de 3 a 35 anos, os níveis de ruído variaram de 74,62 ± 3,04 a 76,95 ± 5,67 dB (A). Embora a legislação brasileira estabeleça que os sons perigosos estejam acima de 85 Db(a), as medidas de prevenção individual e geral devem ser utilizadas. Em seu estudo, Torrens25 (1997) concluiu que 75% dos profissionais, com mais de quinze anos de profissão apresentaram lesões auditivas. Os mesmos distúrbios foram encontrados naqueles que desenvolviam carga horária acima de vinte ho-

ABO Nac. - Vol. 17 6 - de Dezembro 2009/janeiro Félix, Solange SoaresRev. da Silva et al. Avaliação do nº nível ruído de turbinas de alta2010 rotação em consultórios odontológicos

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ras semanais. Para Piza14 (1997), não é conhecido o limiar seguro, porque este pode variar de pessoas para pessoa e mesmo de ouvido para ouvido. Investimentos em programas de conservação auditiva, particularmente voltados para o controle da emissão de ruídos e para a intervenção na evolução das perdas auditivas geradas pela exposição ao ruído, devem ser feitos visando à manutenção da saúde auditiva e à diminuição dos sintomas associados4. CONCLUSÕES

1. Todas as marcas das turbinas de alta rotação testadas produziram níveis médios de ruído abaixo de 85 dB, variando entre 74,96 a 78,67 dB. 2. O tempo de exposição e a marca da turbina de alta rotação exerceram influência significativa sobre os níveis de ruído ocupacional. 3. O tempo de serviço do CDs não exerceu influência significativa em relação ao ruído. REFERÊNCIAS 1. Bahannan S, El-Hamid AA, Bahnassy A. Noise level of hand pieces and laboratory engines. J Prosthet Dent. 1993;70(4):356-60. 2. Brasil. Norma Regulamentadora n. 15. Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente. Portaria nº 3214 de 08 de junho de 1978. In: Segurança e Medicina do Trabalho. 44. ed. São Paulo: Atlas; 1999. 3. Comitê Nacional de Ruído e Conservação

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ABO - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 Félix, Solange Soares da Silva et al. Avaliação do nívelRev. de ruído de Nac. turbinas de alta rotação em consultórios odontológicos


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Artigo original

A acurácia do exame radiográfico periapical frente ao diagnostico clinico da doença periodontal The accuracy of periapical radiographic in relation to clinical diagnostic of periodontal disease Palavras-chave - Doenças periodontais/diagnóstico; Radiografia dentária/métodos. Key words - Periodontal diseases/diagnosis; Radiography, dental/methods.

Emylia Rachel Figueiredo Brito* Ruthinéia Diógenes Alves Uchoa Lins** Gustavo Pina Godoy*** Pollianna Muniz Alves**** Patrícia Meira Bento****

RESUMO

Introdução - Comparar dois métodos de diagnóstico da doença periodontal, o clínico e o radiográfico, quanto à mensuração da sondagem clínica frente ao comprometimento da crista óssea observado na radiografia periapical. Material e Métodos - A amostra foi constituída de 30 pacientes, analisando os quatro hemiarcos posteriores, totalizando 300 faces interproximais, as quais foram submetidas à sondagem clínica das bolsas periodontais, utilizando sondas milimetradas e, em seguida, submetidos à radiografia periapical pela técnica do paralelismo, que através de papel milimetrado sobreposto às radiografias, mediu o comprometimento da crista óssea das faces mesiais e distais. Resultados - Observou-se um desnível para mais em 39 faces mesiais entre a sondagem clínica e a mensuração destas faces na radiografia periapical, o mesmo ocorrendo em 49 faces distais. Houve distorção para menos em 35 faces tanto mesiais quanto distais. Estes desníveis variaram de 1 a 3 mm nas faces mesiais e de 1 a 2mm nas distais. Portanto, 142 faces dentárias não apresentaram distorções de medidas entre a profundidade das bolsas periodontais e a mensuração do comprometimento da crista óssea. Conclusões - Conclui-se que as distorções nas medidas do exame clínico comparado ao exame radiográfico é uma realidade, mas não compromete o diagnóstico e prognóstico da doença periodontal. ABSTRACT

Cirurgiã-dentista Professora Doutora da Disciplina de Periodontia da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Paraíba, Brasil. *** Professor Doutora da Disciplina de Patologia Oral da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Paraíba, Brasil. **** Professora Doutora da Disciplina de Radiologia da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Paraíba, Brasil. E-mail: patmeira @uol.com.br * **

Introdiction - To compare two methods for diagnosis of periodontal disease, the clinical and radiographic, on the measurement of clinical probe in the involvement crest bone observed in periapical radiography. Material and Methods - The sample was constituted of 30 patients, analyzing the 4 posterior hemi-arches, totaling 300 interproximal surfaces, which were submitted to clinical probe of periodontal pockets, using millimeter probes, and then submitted to the periapical radiography technique of parallelism, which in graph paper overlay the radiographs was measured the commitment of the bone crest of the distal and mesial surfaces. Results - Observed that there was a gap for more in 39 mesial surfaces between clinical probe and measurement these surfaces in the periapical radiography, the same occurring in 49 distal surfaces. There was distortion for less in 35 mesial and distal surfaces. These differences ranged from 1 to 3 mm on mesial surface and 1 to 2 mm in distal surface. Therefore, 142 tooth surfaces showed no distortion of measures between the depth of periodontal pockets and measurement of involvement of bone crest. Conclusions - We conclude that the distortions in measures of clinical examination compared to the radiographic examination are a reality, but do not compromise the diagnosis and prognosis of periodontal disease.

ABO et Nac. 17 nº - Dezembro 2009/janeiro Brito, Emylia RachelRev. Figueiredo al. A- Vol. acurácia do 6exame radiográfico periapical2010 frente ao diagnostico clinico da doença periodontal

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INTRODUÇÃO

A doença periodontal constitui uma condição inflamatória crônica de caráter infeccioso que acomete os tecidos periodontais de proteção e/ou sustentação do elemento dentário onde, assim como em outras infecções, as interações entre as bactérias e hospedeiro determinam a natureza da doença resultante6,10,11. Para a obtenção de um correto diagnóstico das doenças periodontais, a utilização de parâmetros clínicos, como a profundidade da bolsa periodontal à sondagem, e o nível clínico de inserção aferido com a sonda milimetrada associada ao exame radiográfico, tem sido amplamente sugerida. Esse exame radiográfico poderá ser do tipo convencional ou do tipo digital.1,8 Os métodos clínicos e radiográficos além de se prestarem bem isoladamente, devem apresentar-se sem distorções quando comparados, para que se obtenha uma correta mensuração da profundidade da bolsa, bem como, uma correta interpretação radiográfica, para que, a partir destes dados sejam elaborados: o correto diagnóstico, o plano de tratamento e o prognóstico ao paciente 12,21. As alterações do tecido ósseo, nas imagens radiográficas, podem ser identificadas por meio de medidas lineares da junção cemento-esmalte à crista óssea alveolar, assim como mudanças na densidade do tecido4. A obtenção de imagens padronizadas aumenta consideravelmente o potencial diagnóstico das radiografias convencionais, por minimizarem os erros que são difíceis de serem distinguidos nas alterações da biologia dos tecidos3,22. Para tanto, é preferível optar pelas técnicas radiográficas intrabucais do tipo periapical do paralelismo, com o uso do suporte porta-filme, pois apresenta numerosas vantagens decorrentes da incidência perpendicular dos raios X ao filme, tais como detalhamento maior na região periapical e na crista óssea alveolar com o limite amelocementário18-19. Portanto, a presente pesquisa teve como objetivo analisar os dois métodos auxiliares de diagnóstico da doença perio-

Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010

Gráfico 1 - Resultado da media de distorção das medidas das faces interproximais em mm (milímetros)

dontal, o exame clínico e o radiográfico, observando se ambos se equivalem na pratica, através da comparação dos resultados de mensuração da profundidade da sondagem da bolsa periodontal. MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa constou de um estudo transversal, com abordagem indutiva e observação intensiva direta. O universo constou de todos os pacientes atendidos na Clinica de Periodontia no período de 2006 a 2008, portadores de doença periodontal e que possuíam molares e prémolares permanentes nos quatro arcos dentários. A amostra foi de 30 pacientes nos quais foram feitos exames na porção posterior das 4 hemiarcadas, somando um total de 300 faces interproximais, 150 faces mesiais e 150 faces distais. Foram excluídos da pesquisa todos os pacientes que não possuíam os elementos dentários molares e pré-molares permanentes nos quatro arcos dentários, bolsas periodontais ou que não puderam ser submetidos à radiação, como por exemplo, as gestantes, além daqueles que não concordaram em assinar o termo de consentimento requerido nesta pesquisa. Clinicamente, foi realizada a sondagem das bolsas periodontais, dos dentes posteriores das quatro hemiarcadas, ano-

tando na ficha a medida da profundidade de cada bolsa em cada face do elemento dentário (mesial, distal, vestibular, lingual/palatina). Posteriormente foi realizado o exame radiográfico periapical pela técnica do paralelismo padronizado com o uso de posicionadores de filme e de um mesmo aparelho de Raios X, para todas as radiografias, de todos os elementos acometidos por doença periodontal e o processamento padronizado, com substâncias reveladoras e fixadoras, lavadas em água corrente e secadas na secadora, pelo método de processamento tempo/temperatura. Em seguida, a análise das radiografias foi feita com um papel transparente milimetrado sobreposto sobre a mesma, onde foi medido o nível da reabsorção da crista óssea alveolar e feita a sua comparação com as medidas obtidas na sondagem clínica das faces mesiais e distais, visto que o exame radiográfico permite apenas uma imagem bidimensional. RESULTADOS

Os resultados do nosso estudo baseiam-se nos 30 pacientes examinados, sendo 18 do gênero feminino e 12 do gênero masculino. Destes pacientes foram analisados 150 elementos dentários com as suas respectivas faces mesiais e distais, totalizando 300 faces interproximais.

Rev. periapical ABO Nac.frente - Vol. nº 6 - Dezembro 2010 ao 17 diagnostico clinico da2009/janeiro doença periodontal 342 Brito, Emylia Rachel Figueiredo et al. A acurácia do exame radiográfico


Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010

Foi observado um desnível para mais nas medidas de 39 faces mesiais entre o exame clínico e a imagem radiográfica examinada, o mesmo ocorrendo para 49 faces distais. Observou-se também um desnível para menos em relação à imagem radiográfica em 35 faces mesiais e, coincidentemente, 35 faces distais. Portanto 142 faces mesiais ou distais não apresentaram distorção de medidas entre o exame clínico e o exame radiográfico (Tabela 1). Este desnível de medidas entre o exame clínico e exame radiográfico variou de 1 a 3 mm nas faces mesiais, enquanto nas faces distais variou de 1 a 2 mm (Gráfico 1). DISCUSSÃO

O mecanismo da patogênese da doença periodontal é bastante complexo10,12,19. Page17 (1998), refere que a periodontite é causada por bactérias gramnegativas presentes nos biofilmes dentários. Lipopolissacarídeos e outras substâncias têm acesso aos tecidos gengivais, iniciam e perpetuam eventos imuno-inflamatórios resultando em produção de altos níveis de citocinas próinflamatórias. Essas induzem a produção de metaloproteinases da matriz (MMP) que destroem o tecido conjuntivo da gengiva e do ligamento periodontal, bem como prostaglandinas que mediam a reabsorção do osso alveolar. Portanto, conforme citam Gomes Filho6 (2006), a doença periodontal pode progredir para a perda da inserção do ligamento periodontal e reabsorção óssea, e, consequentemente, a perda dentária, gerando assim, um grande índice de edentulismo no país. De acordo com Jeffcoat 8 (2002), para a realização de um correto diagnóstico da doença periodontal se faz necessário uma minuciosa anamnese através do exame clínico, pela sondagem, onde se observa e mensura a profundidade da bolsa periodontal, complementando-se este diagnóstico com o exame radiográfico periapical pela técnica do paralelismo. Na presente pesquisa a execução destes exames, clínico e radiográfico, ocorreu de maneira padronizada para que as possí-

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Rev. ABO Nac.

Tabela 1 - Avaliação das distorções das medidas das faces mesial e distal Diferença entre medidas Para+ ParaFace Mesial Face Distal Total

39 49 88

veis distorções fossem mínimas, como bem preconizam Gomes Filho5 (2002), Benn2 (2005) e Guedes, Polonia e Pereira7 (1992). A técnica periapical do paralelismo é utilizada para evitar distorções, e as medições são feitas tomando como referência a junção amelodentinária para medição do nível da crista óssea alveolar 14,18,20,22. Nossos resultados demonstraram desníveis de medidas para mais e para menos, sendo de 1 a 3mm nas faces mesiais e de 1 a 2mm nas faces distais. Kilic9 (1998), observou diferença de 1mm entre os exames clínico e radiográfico, demonstrando, assim, que existe uma forte correlação entre os exames radiográficos periapicais e o método clínico, para medir a altura do nível ósseo em relação à junção cementoesmalte. Segundo Lopes et al.13 (2004) Moreira et al.15 (2002) e Nasar16 (2002), a radiografia periapical, per se, não deve ser utilizada como o único meio de diagnóstico para doenças periodontais, mas parece ter lugar seguro na avaliação do tratamento. CONCLUSÕES

1. A utilização das radiografias periapicais, em associação ao exame clínico através da sondagem periodontal, tem sido de relevante auxílio no diagnóstico das doenças periodontais, que embora não revele o estado real da atividade celular, mostra as consequências sobre as estruturas dentoalveolares. 2. Através destes resultados podese concluir que as distorções nas medidas do exame clínico comparado ao exame radiográfico é uma realidade, embora sem comprometer o prognóstico da doença periodontal.

Total Não houve diferença

Total

76 66 142

150 150 300

35 35 70

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ABO Nac. - Vol. 17 nº - Dezembro 2009/janeiro Brito, Emylia RachelRev. Figueiredo et al. A acurácia do6exame radiográfico periapical2010 frente ao diagnostico clinico da doença periodontal

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Rev. periapical ABO Nac.frente - Vol. nº 6 - Dezembro 2010 344 Brito, Emylia Rachel Figueiredo et al. A acurácia do exame radiográfico ao 17 diagnostico clinico da2009/janeiro doença periodontal


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Artigo original

Prevalência da cárie de estabelecimento precoce em comunidade assistida pelo Programa Médico de Família - Niterói(RJ) The prevalence of early childhood caries in the population treated by Family Medical Program - Niterói-RJ Palavras-chave - Cárie dentária/epidemiologia. Prevalência. Lactente. Pré-escolar. Key words - Dental caries/epidemiology. Prevalence. Infant. Child, preschool.

Bartira Cruxên Gonçalves Volschan* Eduardo Lúcio Soares**

RESUMO

Introdução - O presente trabalho objetivou avaliar a prevalência da Cárie de Estabelecimento Precoce em população assistida pelo Programa Médico de Família – Niterói-RJ. Material e Método - Os sujeitos do estudo foram 65 crianças de 0 a 5 anos de idade, dessa comunidade. A metodologia empregou a técnica de levantamento de dados. Resultados - Os resultados demonstraram uma alta prevalência de cárie na população estudada (58%). Em relação à faixa etária, a prevalência encontrada foi de zero, entre 0 e 1 ano de idade; 42%, de 1 a 2 anos; 50%, de 2 a 3 anos; 69%, de 3 a 4 anos; 82%, de 4 a 5 anos; e, 78%, para as crianças acima de 5 anos. Os incisivos centrais superiores foram os dentes mais acometidos por lesões de cárie, seguidos dos segundos molares. Conclusão - Conclui-se que estratégias de controle e prevenção desta doença devam ser incluídas no Programa Médico de Família - Niterói(RJ). ABSTRACT

Introduction - The present study aimed to perform the prevalence of Early Childhood Caries in the population treated by Family Medical Program – Niterói-RJ. Material and Method - The subjects of the study were 65 children from 0 to 5 years of age and their mothers. The methodology used the data survey technique. Results - The results showed a high prevalence of Early Childhood Caries in the studied population (58%). In relation to age group, the prevalence found was zero between age 0 to 1, 42% between ages 1 to 2, 50% between 2 and 3 years of age, 69% between 3 and 4, 82% between 4 and 5 years of age and finally 78% for children over 5 years old. The maxillary central incisors were the most frequently attached by caries lesions, followed by second molars. Conclusions - In conclusion, control and prevention strategies of this disease must be included in the Family Medical Program - Niterói(RJ). INTRODUÇÃO

* Coordenadora da Disciplina de Odontopediatria da Universidade Estácio de Sá bartiravolschan@gmail.com ** Coordenador da Pós-Graduação em Odontologia Social - Universidade Federal Fluminense (UFF)

Devido à alta prevalência em famílias de baixa renda, a Cárie de Estabelecimento Precoce é considerada um sério problema de saúde pública. A prevalência da Cárie de Estabelecimento Precoce nos países desenvolvidos varia de 1% a 12%. Já nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, a pre-

valência chega a atingir níveis epidemiológicos de 70% 11, 15. No Brasil, os dados sobre as condições de saúde bucal de crianças pré-escolares são regionais, conduzidos em alguns municípios. Em 1995, na cidade de Diadema-SP, foram examinadas 548 crianças. Os resultados foram os seguintes: as crianças de até um ano de idade apresentaram ceo de 0,16; as de

Rev.Gonçalves ABO Nac. - Vol. 17 nº 6 da - Dezembro 2009/janeiroprecoce 2010 em comunidade assistida pelo Programa Médico de Família – Niterói-RJ Volschan, Bartira Cruxên et al. Prevalência cárie de estabelecimento 345


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Rev. ABO Nac.

Gráfico 1 - Prevalência de cárie de acordo com a faixa etária

Gráfico 2 - Distribuição etária da prevalência de superfícies cariadas de acordo com o número de superfícies irrompidas

dois anos apresentaram ceo de 0,87; e, as crianças de três anos apresentaram ceo de 2,54 2. Em um estudo complementar, realizado dois anos após, foi observado que houve redução estatisticamente significativa tanto na prevalência (p<0,002) quanto na severidade de cárie dentária para crianças da mesma faixa etária entre os dois estudos3. No Distrito Federal, Carvalho et al. 4 (1998), conduziram um levantamento epidemiológico em 1.465 crianças de 1 a 5 anos de idade. A prevalência encontrada

foi de 11% das crianças de 1 ano de idade, aumentando para 72% aos 5 anos. Quanto aos índices de ceo-s modificado, incluindo as lesões de manchas brancas, detectaram-se 0,7 (1 ano) e 8,8 (5 anos). A prevalência de cárie na dentição decídua foi também avaliada por Paula e Dadalto8 (2000) em 311 crianças residentes do município de Serra-ES. Os resultados mostraram o valor médio do índice ceo de 0,4 e a prevalência de cárie em 12, 9%. Em Juiz de Fora-MG, Leite e Ribeiro6

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(2000) por sua vez, examinaram 338 crianças de baixa renda, pertencentes à faixa etária de 2 a 6 anos de idade. Os resultados mostraram que 49,4% das crianças apresentavam cárie, sendo a proporção de 23,8% aos 2 anos de idade e 60% aos 6 anos. Teixeira e Volschan13, examinaram 60 crianças, matriculadas em duas creches públicas da Baixada Fluminense, Estado do Rio de Janeiro. Ao efetuarem o levantamento epidemiológico de cárie, obtiveram a prevalência de cárie de 67,7% e a média de ceo-s de 5,2. Na cidade de Florianópolis-SC, 550 crianças de 13 a 48 meses foram examinadas para o levantamento de prevalência de cárie dentária. O índice empregado foi do ceo, no qual as lesões de manchas brancas não foram incluídas. A média de ceo, que entre as crianças de 13 a 24 meses foi 0,2; aumentou para 0,77 dos 25 a 36 meses e, para a média de 1,93 dos 37 a 48 meses de idade. Houve um aumento estatisticamente significativo no grau de severidade da doença a partir dos 37 meses7. Barros et al. 1 (2001), realizaram o levantamento de prevalência de cárie em 340 crianças de 0-30 meses de idade, de 20 creches de Salvador-BA. Nesta pesquisa, os autores incluíram as lesões incipientes. Observaram que 55,3% das crianças apresentavam lesões cariosas, sendo 25% entre 0-12 meses; 51,18%, entre 13-24 meses; e 71,03% entre 25-30 meses (p< 0,01). Levantamento realizado com população ribeirinha do Estado de Rondônia verificou crescimento na prevalência de cárie com aumento da faixa etária. Nas crianças de 0 a 3 anos, 66,35% estavam livres de lesões cariosas, já entre as crianças de 4 a 5 anos, somente 19,64% não apresentavam cárie12. Este estudo tem como objetivo avaliar a prevalência da Cárie de Estabelecimento Precoce e sua distribuição em faixa etária em uma população assistida pelo Programa Médico de Família – Niterói-RJ, bem como realizar o levantamento dos dentes e superfícies mais acometidos. MATERIAL E MÉTODO

Os sujeitos do estudo foram 65 crianças de 0 a 5 anos de idade, residentes em

ABO Nac. - Vol. nº 6 - Dezembro 2010 Volschan, Bartira Cruxên comunidade assistida pelo17 Programa Médico de 2009/janeiro Família – Niterói-RJ 346 Gonçalves et al. Prevalência da cárie de estabelecimento precoce em Rev.


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área assistida pelo setor 123 do Programa Médico de Família do município de Niterói-RJ. Todas as crianças da faixa etária entre 0 e 5 anos, residentes neste local e que apresentavam, no mínimo, dois dentes superiores, foram incluídas no estudo. O presente trabalho foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina – Hospital Antônio Pedro - Universidade Federal Fluminense, tendo recebido parecer de aprovação e autorização para sua realização. As crianças pesquisadas foram examinadas em suas residências. A limpeza bucal foi realizada pela pesquisadora com escova de dentes, sem a utilização de dentifrício. Com auxílio de lanterna de bolso e após a secagem das superfícies com gaze, foi efetuado o exame dentário por meio do método visual. Os dados do exame foram registrados em ficha para obter o levantamento do índice ceo-s, no qual as lesões de mancha branca foram registradas como cariadas.

Rev. ABO Nac.

Na faixa etária de 2 a 3 anos, os incisivos superiores continuam sendo os mais acometidos, mais especificamente os incisivos centrais. De 3 a 4 anos, também se observa com maior frequência o acometimento destes dentes, seguidos pelo grupo dos segundos molares (2MS e 2 MI). Este fato demonstra o alto risco à cárie deste último grupo, já que nesta faixa etária estes estão praticamente recémerupcionados. Este quadro mantém-se na faixa etária dos 4 aos 5 anos, não sendo observado nenhum caso de comprometimento dos incisivos inferiores (ILI e ICI). Na faixa etária seguinte, dos 5 aos 6 anos, tanto os incisivos centrais superiores quanto os segundos molares são os mais acometidos, seguidos pelos incisivos laterais superiores e o grupo dos primeiros molares. Os resultados identificaram 465 superfícies cariadas. As superfícies dentárias mais frequentemente afetadas foram, em ordem crescente: Vestibular (29,7%), Oclusal (20,6%), Mesial (18,8%), Lingual (17,2%) e Distal (13,6%).

RESULTADOS

A prevalência de crianças que apresentavam lesões de cárie foi de 58% e sua distribuição por faixa etária pode ser verificada no Gráfico 1. A média de índice ceo-s modificado da população estudada foi 7,15. Observou-se aumento na prevalência de cárie proporcional à idade e ao número de dentes irrompidos (Gráfico 2). A distribuição das médias do índice ceo-s modificado por faixa etária pode ser observada no quadro 1. O levantamento da doença cárie nesta população também apontou os dentes e superfícies mais comumente lesadas, de acordo com a faixa etária. Os dentes mais acometidos de lesões cariosas deste estudo estão expostos no Gráfico 3. A análise da frequência do tipo de dente, de acordo com a faixa etária, indicou que, de 1 a 2 anos de idade, os incisivos superiores (ICS e ILS) foram os dentes mais afetados, seguidos dos primeiros molares (1MS e 1MI) e incisivos centrais inferiores (ICI). Os caninos inferiores (CI) não foram acometidos por cárie em nenhuma das crianças desta faixa etária.

DISCUSSÃO

Os critérios para levantamentos epidemiológicos da doença cárie estabelecidos pela OMS definem a lesão cariosa a partir do estágio de cavitação, desconsiderando as lesões incipientes. A polêmica que envolve a inclusão ou não das lesões de desmineralização nos levantamentos epidemiológicos refere-se à possibilidade de remineralização e reversão destas lesões, podendo levar a distorções de resultados. Nos estudos realizados por Carvalho et al. 4 (1998) e Barros et al.1 (2001), foram incluídas as lesões de manchas brancas, visto que se tratam de lesões características da faixa etária de bebês que permitem a avaliação da atividade de cárie e a implantação de medidas preventivas e curativas ainda em estágios precoces. O presente estudo corrobora este pensamento, quando realizou o levantamento das lesões de manchas brancas. A prevalência de cárie está entre 1 a 12 % da população mundial, chegando a atingir 70% em população menos favorecida10,11. Os resultados mostraram que 58%

347

das crianças do estudo apresentaram lesões de cárie, o que confirma a estimativa para populações desfavorecidas socioeconômicamente. A Cárie de Estabelecimento Precoce pode ser considerada um processo dependente do estágio de desenvolvimento; o progresso das lesões cariosas está intimamente relacionado com a cronologia de erupção dentária. O acometimento das superfícies dentárias é decorrente do tempo em que estão expostas aos fatores de risco presentes no meio bucal2, 5, 14. Esta doença inicia-se entre 1 e 2 anos de idade5. Tal constatação também foi verificada no presente estudo: as crianças de 0 a 1 ano não apresentaram lesões cariosas, enquanto entre 1 e 2 anos, 41,7% das crianças mostraram-se com a doença, sendo que a média dos índices ceo-s modificado e sem a inclusão de manchas brancas foi de 2,9 e 1,25, respectivamente. Lopez Del Valle et al.6 (1998), apontaram o aumento significativo no grau de severidade da doença a partir dos 24 meses, enquanto Oliveira et al.7 (2000), observaram este aumento aos 37 meses de idade. No presente estudo esta observação foi verificada após 48 meses. O índice ceos modificado após os 5 anos apresentou-se muito elevado, 5 vezes superiores aos da faixa etária entre 4 e 5 anos de idade, devido à inclusão de três crianças com índices superiores a 71. Dessas verificações pode-se referenciar que a faixa etária de 0 a 3 anos corresponde ao estabelecimento da doença cárie e que, a partir dos 3 anos, verificam-se as consequências da Cárie de Estabelecimento Precoce. A análise das idades do início e do maior incremento da doença cárie é de extrema valia para elaborações de estratégias de controle da doença cárie nesta população, tornando-se necessário o estabelecimento de medidas diferenciadas para cada idade. A distribuição de lesões de cárie nos dentes decíduos mostrou que os mais frequentemente acometidos são os molares e os incisivos superiores, em acordo com estudos anteriores1,6,9. Para Quartey e Williamson9 (1998), o dente mais frequentemente acometido por cárie é o segundo

Rev.Gonçalves ABO Nac. 17 nº 6da- cárie Dezembro 2009/janeiro 2010 em comunidade assistida pelo Programa Médico de Família – Niterói-RJ 347 Volschan, Bartira Cruxên et al.- Vol. Prevalência de estabelecimento precoce


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Gráfico 3 - Frequência de grupos de dentes acometidos por lesões de cárie

Quadro 1 - Índice ceo-s modificado por faixa etária Faixa etária (anos)

0-1

1-2

2-3

3-4

4-5

5-6

Total

ceo-s m. médio

0

2,9

3,4

3,9

5,6

29,3

7,15

Superfícies cariadas

0

0 a 15

0 a 18

0 a 17 0 a 16

0 a 80 0 a 80

N

5

12

12

16

9

molar inferior, seguido dos segundos molares superiores e incisivos superiores. Barros et al.1 (2001), apontaram como os dentes mais afetados, em ordem decrescente: os incisivos centrais e laterais superiores, molares inferiores, molares superiores e caninos superiores. No presente estudo foi observado que os incisivos centrais superiores são os dentes mais acometidos pela doença cárie, em aproximadamente 65% dos casos, seguidos em ordenação decrescente: o segundo molar inferior, 42%; os incisivos laterais superiores e os segundos molares superiores, 34%; os primeiros molares superiores, 32%; e, os primeiros molares inferiores, 29%. A frequência analisada de acordo com a faixa etária indica que, de 1 a 3 anos de idade, os incisivos centrais superiores foram os dentes mais afetados, seguidos dos incisivos laterais e primeiros molares, e que, de 3 a 4 anos, além da predominância do acometimento destes dentes, observou-se também o comprometimento do grupo dos segundos molares. Este fato demonstra o alto risco de

11

65

cárie dos segundos molares, já que nesta faixa etária estes estão praticamente recém-erupcionados. Ao analisar os resultados do presente estudo é possível explicar a discordância dos resultados dos autores anteriores. O levantamento epidemiológico de Quartey e Williamson9 (1998) envolveu crianças de 0 a 6 anos de idade, enquanto Barros et al.1 (2001) estudaram a faixa etária de 0 a 3 anos. Os achados do presente estudo também corroboram Lopez Del Valle et al.6 (1998), os quais apontam que as lesões de cárie nos incisivos iniciam-se por volta de 1 e 2 anos de idade, enquanto as cáries de sulcos e fissuras iniciam-se aproximadamente aos 3 anos de idade. Quanto à distribuição de dentes sadios, o dente com maior porcentagem de manter-se hígido é o incisivo lateral inferior, com 97% dos casos9. Os resultados encontrados neste estudo reforçam este achado, visto que os incisivos centrais e laterais inferiores foram os menos acometidos por lesões de cárie, 13% a 8%, seguidos dos caninos inferiores.

Cárie Vestibular é uma das denominações para as lesões de cáries em bebês e pré-escolares 14. O que reflete a alta prevalência de acometimento das faces vestibulares dos dentes. Carvalho et al.4 (1998), observaram que inicialmente a doença cárie atinge as faces oclusais e vestibulares dos molares e/ou proximais e vestibulares dos incisivos superiores. Na faixa etária de 3 a 5 anos as faces proximais de todos os dentes começam a ser atacadas. Em concordância, com estes resultados o presente estudo verificou a predominância do acometimento de cárie da face vestibular, principalmente entre 1 e 3 anos de idade, seguida da face oclusal. Deve-se salientar que as faces oclusais estão presentes somente nos dentes molares e que estes por sua vez, erupcionam aproximadamente um ano após os dentes incisivos. Além disso, muitas crianças desta faixa etária ainda não apresentam o segundo molar, no qual a face oclusal é mais frequentemente acometida. Com relação à prevalência de cárie nas faces proximais, foi observado que de 1 a 4 anos de idade ocorre a preferência de acometimento na face mesial. Esta preferência é justificada pela alta incidência de lesões cariosas nas mesiais de incisivos centrais superiores. Portanto, na faixa etária acima de 4 anos não foi observada diferença entre essas faces. CONCLUSÕES

De acordo com a metodologia empregada e com base nos resultados obtidos, conclui-se que: 1. Foi encontrada uma alta prevalência de Cárie de Estabelecimento Precoce na população estudada (58%). 2. A prevalência desta doença em relação à faixa etária foi igual a 0 (zero) entre 0 e 1 ano de idade; 42% de 1 a 2 anos; 50% de 2 a 3 anos; 69% de 3 a 4 anos; 82% de 4 a 5 anos e 78% de 5 a 6 anos. 3. Os incisivos centrais superiores foram os dentes mais acometidos por lesões de cárie. A alta prevalência de cárie neste grupo de dentes aconteceu entre 1 e 3 anos de idade e, a partir desta idade, também foi encontrada alta prevalência dos segundos

ABO Nac. - Vol. nº 6 - Dezembro 2010 Volschan, Bartira Cruxên comunidade assistida pelo17 Programa Médico de 2009/janeiro Família – Niterói-RJ 348 Gonçalves et al. Prevalência da cárie de estabelecimento precoce em Rev.


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molares. Esta constatação demonstra o alto risco de cárie deste último grupo de dentes, já que aos 3 anos de idade estes dentes estão praticamente recém-erupcionados. REFERÊNCIAS 1. Barros SG, Castro Alves A, Pugliese LS, Reis SRA. Contribuição ao estudo da cárie dentária em crianças de 0-30 meses. Pesqui Odontol Bras. 2001;15(3):215-22. 2. Bonecker MJS, Guedes-Pinto AC, Walter LRF. Prevalência, distribuição e grau de afecção de cárie dentária em crianças de 0 a 36 meses de idade. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1997;51(6):535-9. 3. Bonecker MJS, Marcenes W, Sheiham A, Guedes-Pinto, AC, Walter LRFl. Redução na prevalência e severidade de cárie dentária em bebês. J B Odontopediatr Odontol Bebê. 2000;3(14):334-40. 4. Carvalho JC, Mestrinho H D, Bezerra AC, Maltz M. Onset, development and arrest of dental caries in Brazilian pre-

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school children. Clin Oral Invest. 1998; 2(2):96-100. 5. Leite ICG, Ribeiro RA. Dental caries in primary dentition in public nursery school children in Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil. Cad Saúde Pub. 2000. jul.-set, 16(3): 717-22. 6. Lopez Del Valle L, Velazquez-Quintana Y, Weinstein P, Domoto P, Leroux B. Early childhood caries and risk factors in rural Puerto Rican children. ASDC J Dent Child . 1998;65(2):132-5. 7. Oliveira JML, Vieira R, Almeida ICS, Freitas SFT. Prevalência de cárie de mamadeira em crianças de 13 a 48 meses de idade, na cidade de Florianópolis – Santa Catarina. Rev ABOPREV. 2000;3(1):30-9. 8. Paula MPG, Dadalto ECV. Prevalência de cárie em crianças de 0 a 36 meses de idade. Rev ABO Nac. 2000;8(2):86-91. 9. Quartey JB, Williamson DD. Prevalence of early childhood caries at Harris County clinics. ASDC J Dent Child. 1998;65(2):127-31. 10. Ramos-Gomez FJ, Tomar SL, Ellison J, Artiga N, Sintes J, Vicuna G. Assessment of early childhood caries and dietary habits in

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a population of migrant Hispanic children in Stockton, California. ASDC J Dent Child. 1998;66(6):395-403. 11. Reisine S, Douglass JM. Psychosocial and behavioral issues in early childhood caries. Community Dent Oral Epidemiol. 1998;26 (1 suppl):32-44. 12. Silva RHA, Castro RFM, Cunha DCS, Almeida CT, Bastos JRM, Camargo LMA. Cárie dentária em população ribeirinha do Estado de Rondônia, Região Amazônica, Brazil, 2005/2006. Cad. Saúde Pública 2008;24(10): 2347-53. 13. Teixeira D, Volschan B. Fatores não biológicos associados à cárie precoce. In: 17ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica, 2000. Águas de Lindóia, SP. Pesqui Odontol Bras. 2000;14 (supl): I008 14. Veerkamp JSJ, Weerheijm KL. Nursingbottle caries: The importance of a developmental perspective. ASDC J Dent Child. 1995;62(6):381-6. 15. Weinstein P. Public health issues in early childhood caries. Community Dent Oral Epidemiol. 1998;26(1Suppl):84-90.

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Artigo original

Análise da contaminação do líquido anestésico presente em tubetes odontológicos, quando em contato com glutaraldeído e paraformaldeído Analysis of the contamination of the liquid present in tubes dental anesthetic, when in contact with glutaraldehyde and paraformaldehyde Palavras-chave: Glutaral. Formaldeído. Contaminação de medicamentos/prevenção & controle. Key words: Glutaral. Formaldehyde. Drug contamination/prevention & control.

Marcus Azevedo do Amaral* Newton Guerreiro** Madson Ralide Fonseca Gomes***

RESUMO

Introdução - Os tubetes de anestésicos locais odontológicos, por não serem embalados individualmente e esterilizados pelos fabricantes, possuem suas superfícies externas contaminadas por várias formas de microrganismos. Por isso, antes de serem utilizados devem ser submetidos a processos de esterilização ou desinfecção, com a finalidade de evitar a disseminação de infecções. Devido à impossibilidade de realizarse a esterilização dos tubetes através do calor (seco ou úmido), os métodos de esterilização química devem ser considerados. Porém, o contato dos tubetes anestésicos com estas soluções desinfetantes pode acarretar alterações de sua solução analgésica, devido à possível contaminação química desta solução. Materiais e Métodos - Para avaliar esta possível contaminação, tubetes odontológicos foram colocados em contato com solução de glutaraldeído a 2% e pastilhas de paraformaldeído. Resultados - Após o período de sete dias de contato, a substância presente no interior dos tubetes foi analisada através do método espectrométrico de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN1 H). Conclusão - Os resultados não evidenciaram a presença das substâncias em estudo no interior dos tubetes anestésicos. ABSTRACT

Graduando em Odontologia na Universidade Federal do Pará (UFPA). ** Professor do Curso de Odontologia da UFPA. *** Mestre em Química pela UFPA. E-mail: mrfg2004@globo.com *

Introduction - Local anesthetics cartridges, for not being packed individually and sterilized for the manufacturers, possess its external surfaces contaminated by some forms of microorganisms. Therefore, before being used they must be submitted to methods of sterilization or disinfection, with the purpose to prevent the dissemination of infections. Due the impossibility of carrying out the sterilization of cartridges through the heat (dry or moist), the methods of chemical sterilization must be considered. However, the contact of anesthetics cartridges with these disinfecting solutions can cause alterations of its analgesic solution, due to possible chemical contamination of this solution. Materials and Methods - To evaluate this possible contamination, local anesthetics cartridges had been placed in contact with glutaraldehyde 2% and paraformaldehyde tablets. Results - After the period of seven days of contact, the presence of these substances in the interior of the cartridges was analyzed through the Spectrometric Method of Nuclear Magnetic Resonance (NMR). Conclusion - The results did not show any substance inside the cartridges.

Rev. ABO Nac.em - Vol. 17 odontológicos, nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 350 Marcus Azevedo do et al. Análise da contaminação do líquido anestésico Amaral, presente tubetes quando em contato2010 com glutaraldeído e paraformaldeído


Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010

INTRODUÇÃO

Segundo Baldissera2 (2002), em cirurgia odontológica é imprescindível a manutenção da cadeia asséptica, por isso, no campo cirúrgico todos os itens devem ser estéreis, inclusive os tubetes de anestésico. Porém, a esterilização destes esbarra no fato dos mesmos não suportarem as temperaturas necessárias para a esterilização pelo calor e no alto custo dos demais métodos possíveis de esterilização (gás, radiação ultravioleta etc.). Por não haver no mercado tubetes odontológicos embalados individualmente e esterilizados pelo fabricante, deve-se lançar mão dos métodos de esterilização química. Apesar dos métodos de esterilização serem importantes para que se garanta um atendimento odontológico seguro, estes podem causar alterações na forma e/ou estrutura dos produtos que foram submetidos a estes processos. Por isso, os efeitos dos processos de esterilização sobre os tubetes anestésicos devem ser conhecidos a fim de que se estabeleça o método mais eficaz e seguro de promover a esterilização destes produtos. Hoje em dia, várias soluções químicas para esterilização e desinfecção de alto nível estão disponíveis no mercado, e dentre elas encontram-se o glutaraldeído, as soluções de formaldeído e o ácido peracético. Cada uma dessas substâncias possui uma maneira própria de ser utilizada, que deve ser respeitada rigorosamente, para que o processo torne-se eficiente. O glutaraldeído é uma solução de rápida ação, utilizada para desinfecção completa e esterilização, destruindo patógenos vegetativos, inclusive as bactérias da tuberculose. É tóxico, e o contato com a pele pode causar dermatites. Segundo Cooley8 (1981), as soluções de formaldeído ou formalina também são eficazes contra os bacilos da tuberculose, e da mesma forma que o glutaraldeído, são tóxicos e produzem vapores irritativos. Além disso, não podem ser utilizados em instrumentais e materiais de borracha. O ácido peracético tem como vantagem, a rápida ação sobre os microrganismos e

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seus esporos, mesmo estando em baixas concentrações. Porém, é corrosivo e abrasivo em cobre, latão, aço, bronze, alumínio e materiais galvanizados. Segundo Bianchi et al.5 (2003), existem ainda duas outras desvantagens no uso de substâncias químicas para desinfecção: o material pode não permanecer estéril, uma vez que é esterilizado não embalado e a não existência de testes biológicos para que se comprove a esterilidade. A escolha da substância e a maneira de realizar a esterilização dos tubetes anestésicos ainda é bastante discutida, especialmente acerca de possíveis alterações causadas no líquido anestésico, quando os cartuchos encontram-se em contato (ou até mesmo imersos) com substâncias desinfetantes. A eficácia das substâncias químicas é comprovada por vários estudos, porém, investigações ainda devem ser realizadas a fim de verificar se ocorrem alterações no líquido presente no interior dos tubetes anestésicos. Estas alterações poderiam ocorrer pela penetração da substância desinfetante decorrente da imersão dos tubetes em tais soluções, ou penetração dos vapores tóxicos produzidos por pastilhas de paraformaldeído. Em razão das poucas informações contidas na literatura, ainda existe uma lacuna quanto à eficácia, vantagens e desvantagens dos métodos existentes e utilizados,

criando, desta forma, espaço para novas investigações. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste estudo serão utilizados o glutaraldeído e as pastilhas de formalina como substâncias desinfetantes. A determinação estrutural das substâncias analisadas será realizada através do método espectrométrico de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H). A espectrometria de Ressonância Magnética Nuclear é uma forma de espectrometria de absorção. Sob condições apropriadas em um campo magnético, uma amostra pode absorver radiação eletromagnética em uma frequencia regida pelas suas características estruturais. A absorção é função de determinação dos núcleos da molécula. Um espectro de RMN é um registro gráfico das frequencias dos picos de absorção contra suas intensidades. As áreas destes picos são proporcionais ao número de hidrogênios que eles representam. Para este estudo foram selecionados vinte tubetes de vidro de anestésico local odontológico (Mepivacaína a 3% sem vasoconstritor – DFL). Escolheu-se anestésico sem vasoconstritor pela menor quantidade de substâncias no interior do tubete, o que facilitaria a interpretação dos dados. Foram divididos em quatro grupos com quantidades iguais de tubetes: Grupo 1, controle negativo; Grupo 2, anestésico em

Fig. 1 - Molécula de Mepivacaína (A); Molécula de Glutaraldeído (B); Molécula de Formaldeído (C)

Rev.do ABO - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 em tubetes odontológicos, quando em contato com Amaral, Marcus Azevedo et al.Nac. Análise da contaminação do líquido anestésico presente glutaraldeído e paraformaldeído

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Fig. 2 - Espectrometria do Formaldeído: Sinais referentes aos Hidrogênios da Molécula (A)

Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010

em um recipiente, também fechado, contendo 100 mL de glutaraldeído a 2%. No Grupo 3, os tubetes foram acondicionados em um recipiente vedado contendo 5 g (10 pastilhas) de formaldeído a 99,9%. Nos tubetes do Grupo 4, foram injetados 0,1ml de glutaraldeído em cada um com auxílio de seringas calibradas, e então armazenados em um recipiente sem qualquer solução desinfetante. Após sete dias, os tubetes foram removidos dos recipientes e seu líquido submetido à análise de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (Espectrômetro de Ressonância Magnética Nuclear, da marca VARIAN, modelo GEMINI-300 (300 MHz), Laboratório de Química-Pesquisa, Curso de Pós-Graduação em Química, Centro de Ciências Exatas e Naturais, UFPA). Para a realização desta análise, foram retirados 0,4 ml de substância de cada tubete, após agitação, e misturados a 0,4 ml de solvente deuterado (MERCK, ALDRICH e ACROS), utilizados na obtenção dos espectros de RMN. No total foram vinte amostras de 0,8 ml cada. O glutaraldeído e o formaldeído utilizados neste estudo foram submetidos à espectrometria de RMN 1H, para que fosse possível compará-los com os obtidos a partir das amostras em estudo. Todas as amostras foram submetidas, individualmente, à análise espectrométrica, para determinação das substâncias contidas em seu interior. RESULTADOS

Fig. 3 - Espectrometria da Solução de Glutaraldeído Pura: Sinais referentes aos Hidrogênios da Cadeia Intermediária (A)

contato com o glutaraldeído a 2% (GLUTASUL LÍQUIDO – IODONTOSUL); Grupo 3, anestésicos em contato com pastilhas de paraformaldeído (FORMOL PASTILHAS - IODONTOSUL); e Grupo 4, controle positivo para gluta-

raldeído, tubetes de anestésico onde foi injetado propositadamente glutaraldeído. Os tubetes do Grupo 1 ficaram em recipientes fechados e livres de qualquer possível contato com as substâncias em estudo. Os do Grupo 2, foram colocados

O resultado da análise espectrométrica de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio é dado através de espectros. Estes espectros são formados pelos hidrogênios da molécula das substâncias analisadas, que emitem sinais (picos) de acordo com o elemento químico aos quais estão ligados (Figura 1). Na análise do formaldeído utilizado nesta pesquisa, obtiveram-se os seguintes sinais: 3.16, 3.20, 3.24, 3.28 e 3.32 ppm (Figura 2). Os hidrogênios presentes na molécula de formaldeído são os responsáveis pela formação destes sinais. A análise feita na solução de glutaral-

Rev. ABO Nac.em - Vol. 17 odontológicos, nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 352 Marcus Azevedo do et al. Análise da contaminação do líquido anestésico Amaral, presente tubetes quando em contato2010 com glutaraldeído e paraformaldeído


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deído em que os anestésicos estavam embebidos, revelou espectros com sinais em: 0.986, 0.989, 1.010, 1.013, 1.034, 1.037, 3.405, 3.472, 3.473, 3.497 e 3.521 ppm (Figura 3). Estes sinais são formados pelos hidrogênios da cadeia intermediária do glutaraldeído. Após o período de sete dias, os anestésicos foram retirados dos recipientes e analisados. Nenhum tubete apresentou alteração na cor do líquido presente em seu interior, ou qualquer alteração nas regiões do diafragma e êmbolo. As amostras do Grupo 1 (anestésicos sem contato com as substâncias) apresentaram espectros com sinais nos seguintes deslocamentos: 1.849, 1.894, 2.070, 2.802, 2.811, 7.093, 7.106 e 7.116 ppm, além do sinal correspondente à água (Figura 4). Os sinais em 1.849 e 1.894 ppm correspondem aos hidrogênios presentes no anel piperidino, da molécula de Mepivacaína. Os hidrogênios da metila ligada ao anel piperidino, são representados pelo sinal em 2.070 ppm. Os hidrogênios das metilas do anel aromático presentes na molécula são responsáveis pelos sinais em 2.802 e 2.811. Os hidrogênios do anel aromático da molécula geraram os picos 7.093, 7.106 e 7.116 ppm. Os espectros obtidos pelas amostras do Grupo 2 (anestésicos em contato com glutaraldeído), apresentaram sinais em 1.849, 1.894, 2.069, 2.803, 2.813, 7.095, 7.107 e 7.118 ppm (Figura 5). Da mesma forma que no Grupo 1, a espectrometria das amostras deste grupo evidenciou apenas sinais referentes aos componentes da molécula de Mepivacaína. Não foram encontrados os sinais referentes às moléculas de glutaraldeído que foram verificados na análise da solução pura desta substância, nem qualquer outro tipo de sinal diferente daqueles presentes no grupo controle negativo. A análise espectrométrica das amostras do Grupo 3 (anestésicos em contato com pastilhas de paraformaldeído), revelou sinais em 1.850, 1.894, 2.070, 2.805, 2.814, 7.095, 7.110 e 7.119 ppm (Figura 6). Os resultados obtidos na espectrometria das amostras deste grupo, não evidenciaram a

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Fig. 4 - Espectrometria das Soluções do Grupo 1: Sinais referentes aos Hidrogênios do Anel Piperidino (A); Sinais referentes aos Hidrogênios do Anel Aromático (B)

Fig. 5 - Espectrometria das Soluções do Grupo 2: Note a presença de sinais referentes à Molécula de Mepivacaína (semelhante à figura 4), e ausência de qualquer outro sinal, inclusive os encontrados nas amostras de Glutaraldeído puro.

presença de sinais diferentes aos encontrados no Grupo 1, o que mostra a ausência de substâncias diferentes de Mepivacaína no interior dos tubetes. Os sinais encontrados na análise do formaldeído não foram encontra-

dos na análise destas amostras. Os sinais presentes nos espectros das amostras do Grupo 4 (glutaraldeído injetado propositadamente no tubete), apresentaram-se em 1.054, 1.847, 2.069, 2.804,

Rev.do ABO - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 em tubetes odontológicos, quando em contato com Amaral, Marcus Azevedo et al.Nac. Análise da contaminação do líquido anestésico presente glutaraldeído e paraformaldeído

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Fig. 6 - Espectrometria das Soluções do Grupo 3: Apenas os picos referentes à Molécula de Mepivacaína encontram-se presentes (Semelhante às figuras 4 e 5). Não se observam sinais semelhantes aos encontrados na espectrometria do Formaldeído.

Fig. 7 - Espectrometria das Soluções do Grupo 4: Presença dos picos referentes à Molécula de Glutaraldeído (Semelhante à figura 3) e picos referentes à Molécula de Mepivacaína (Semelhante às figuras 4, 5 e 6).

2.811, 3.491, 3.507, 3.515, 3.531, 3.539, 3.563, 7.095, 7.111 e 7.117 ppm (Figura 7). Nesses espectros evidenciam-se tanto os sinais referentes ao glutaraldeído, que foram verificados na análise da substância

pura, quanto os sinais de Mepivacaína. DISCUSSÃO

A forma adequada de realizar-se a esterilização química dos tubetes anestési-

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cos ainda é bastante controversa. Essa discussão corre acerca da escolha da solução ideal, do tempo de exposição do anestésico à solução e das possíveis alterações causadas na solução analgésica. Segundo o Manual de Biossegurança da UERJ20 (2002), os tubetes usados regularmente na clínica devem ser mantidos em suas embalagens originais e desinfectados imediatamente antes do uso. Para procedimentos cirúrgicos, a esterilização dos tubetes em autoclaves envolvidos em bolsas de nylon durante 20 minutos, sob temperatura de 121° C e pressão de 12 BAR, deve ser a técnica de escolha, considerando-se a situação crítica. Os trabalhos realizados por Silva Júnior17 (1991) e Basson et al.3 (1999), evidenciaram a necessidade da desinfecção da parte externa dos tubetes anestésicos. Conforme citaram Roberts e Sowray14 (1995) e Prado e Salim13 (2004), a esterilização dos tubetes através de autoclaves ou estufas não deve ser realizada, e por isso, deve-se então, considerar a desinfecção química. Os resultados obtidos neste estudo experimental, concordam com Siqueira Junior et al.18 (1998) e Baldissera2 (2002). Siqueira Junior et al.18 (1998), verificaram que o glutaraldeído foi incapaz de promover desinfecção após 10 minutos de exposição. Esta afirmação foi confirmada por Baldissera2 (2002), que constatou a efetividade do glutaraldeído no processo de desinfecção somente após um período de 10 a 60 minutos de exposição. Os resultados obtidos por Motta et al.11 (2001) e Acosta-Gío et al.1 (2001), evidenciaram que as soluções de glutaraldeído só são capazes de promover esterilização após um período que varia entre 10 e 12 horas. Estes resultados discordam dos relatados por Guimarães Jr.9 (2001), que concluiu que o glutaraldeído é capaz de promover esterilização em até 3 horas de exposição. Uma das desvantagens do glutaraldeído, segundo Bianchi et al.5 (2003), é o fato de este apresentar toxicidade celular e inalatória. Porém, no que diz respeito ao risco de câncer devido à exposição constante a esta substância, Collins et al.7 (2006), não relacionaram o aumento do

Amaral, presente em- Vol. tubetes quando em contato2010 com Rev. ABO Nac. 17odontológicos, nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 354 Marcus Azevedo do et al. Análise da contaminação do líquido anestésico glutaraldeído e paraformaldeído


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índice de câncer à exposição frequente ao glutaraldeído. Segundo Penna12 (2003), o formaldeído tem uma atividade esporicida muito lenta. Da mesma forma, Shilling et al.16 (1992), afirmaram que o paraformaldeído só é capaz de promover esterilização, em baixas temperaturas, após um período de 15 a 24 horas de exposição. Já Souza et al.19 (2003), constataram que o período de 1 hora é suficiente para o vapor de paraformaldeído eliminar todas as formas de microrganismos. De acordo com Bennet4 (1984), Salomão15 (1996) e Malamed10 (2005), os tubetes anestésicos não devem ser deixados submersos em soluções esterilizantes, sob o risco de estas soluções penetrarem nos tubetes, causando sua contaminação. Neste estudo foi verificado que o glutaraldeído não é capaz de penetrar nos tubetes, quando estes ficam imersos durante um período de até sete dias, contrariando as recomendações anteriores acima citadas. Roberts e Sowray14 (1995), recomendaram a imersão em álcool etílico a 70% ou clorexidina a 0,5% durante o período de até dez minutos. Neste trabalho os resultados indicam que os tubetes de anestésico local odontológicos, de vidro, podem ficar imersos em glutaraldeído por até uma semana, sem que ocorram alterações químicas das substâncias componentes. Bianchi et al.5 (2003), afirmaram que uma das vantagens do glutaraldeído é o fato deste não atacar materiais de plástico ou borracha. Através dos resultados obtidos neste trabalho pode-se concluir que o êmbolo e o diafragma dos tubetes permaneceram intactos, impedindo assim, que a solução desinfetante contaminasse a solução anestésica. Chasteen et al.6 (1988), afirmaram que os vapores de metilmetacrilato e etilmetacrilato são capazes de penetrar cartuchos anestésicos através de seus êmbolos. Na pesquisa de Chasteen et al.6 (1988), os tubetes foram armazenados juntamente com um rolete de algodão contendo 6 gotas dos monômeros; no final de 6 dias, foi observada a presença de uma substância branca e leitosa

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no interior dos tubetes, além do deslocamento do êmbolo. Em discordância ao experimento acima citado, após o período de sete dias expostos ao formaldeído, não foram observadas alterações nos tubetes, tanto com relação à coloração do líquido quanto à localização do êmbolo. A análise espectrométrica também não revelou alterações na solução anestésica. CONCLUSÃO

A partir dos dados obtidos neste estudo, pode-se concluir que a espectrometria de RMN 1H não revelou sinais referentes ao glutaraldeído nas amostras do Grupo 2, bem como os sinais de formaldeído nas amostras do Grupo 3. Por isso, a presença de glutaraldeído e formaldeído no interior dos tubetes anestésicos, utilizados nesta pesquisa, não foi evidenciada. Porém, outros estudos devem ser realizados com finalidade de confirmar a segurança dos métodos de desinfecção química para tubetes odontológicos. Tempos maiores de exposição, soluções desinfetantes diferentes e utilização de tubetes de plástico são parâmetros que merecem maior investigação. AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Pará – Curso de Odontologia. Ao Centro de Ciências Exatas e Naturais, Curso de Pós-Graduação em Química e Laboratório de Química e Pesquisa da Universidade Federal do Pará, na pessoa do Técnico Marçal, pelos espectros obtidos. REFERÊNCIAS 1. Acosta-Gío E, Herrero-Farias A, Mata-Portuguez VH. Benzalkonium chloride is unacceptable to sterilize or disinfect medical or dental instruments. Salud Pública Méx. 2002;43(6):570-3. 2. Baldissera EZ, Silveira HED, Amaral RMA. Avaliação da efetividade de soluções desinfetantes em filmes radiográficos periapicais. Rev Fac Odontol Porto Alegre. 2002; 43(1):15-7. 3. Basson NJ, Bester L, Van der Bijl P. External bacterial contamination of local anesthetic cartridges. SADJ. 1999;54 (6):253-6. 4. Bennet CR. Anestesia local e controle da dor

na prática dentária. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1984. 5. Bianchi EC, Silva EJ, Cezar FAG, Aguiar PR, Bianchi ARR, Freitas CA, Riehl H. Aspectos microscópicos da influência dos processos de esterilização em pontas diamantadas. Mat Res. 2003;6(2):203-10. 6. Chasteen JE, Hatch RA, Passon JC. Contamination of local anesthetic cartridges with acrylic monomer. J Am Dent Assoc. 1998; 116(3):375-9. 7. Collins JJ, Burns C, Spencer P, Bodnar CM, Calhoun T. Respiratory cancer risks among workers with glutaraldehyde exposure. J Occup Environ Med. 2006;48(2):199-203. 8. Cooley RL, Lubow RM. Particulate contamination of local anesthetic solutions. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1981;51(5):481-3. 9. Guimarães Jr J. Biossegurança e controle de infecção cruzada em consultórios odontológicos. São Paulo: Santos; 2001. p.277-94. 10. Malamed SF. Manual de anestesia local. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p.112-3. 11. Motta PG, Figueiredo CBO, Maltos SNM, Nicoli JR, Ribeiro Sobrinho AP, Maltos KLM et al. Efficacy of chemical sterilization and storage conditions of gutta-percha cones. Int Dent J. 2001;34(6):435-9. 12. Penna TCV. Métodos de desinfecção e esterilização. In: Mastroeni MF. Biossegurança aplicada a laboratórios e serviços de saúde. São Paulo: Atheneu; 2003. p.133-65. 13. Prado R, Salim M. Cirurgia bucomaxilofacial – diagnóstico e tratamento. São Paulo: Medsi; 2004. p.81. 14. Roberts DH, Sowray JH. Analgesia local em Odontologia. São Paulo: Santos; 1995. p.56-7. 15. Salomão JAS. Manual ilustrado de anestesiologia. São Paulo: Robe; 1996. p.27. 16. Schilling B, Wigert H, Weuffen W, Dobberkau HJ. The use of paraformaldehyde tablets for bacterial count reduction, disinfection, cold sterilization and sterile preservation of medical instruments. 3. On the use of paraformaldehyde tablets in medical instituctions. Pharmazie. 1982;37(7):518-21. 17. Silva Júnior MS, Seixas ASS, Seixas ASO. Estudo sobre presença de microorganismos nos tubos anestésicos. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1991;45(1):367-8. 18. Siqueira Junior JF, Silva CHFP, Cerqueira MDO, Lopes HP, Uzeda M. Effectiveness of four chemical solutions in eliminating Bacillus subtilis spores on gutta-percha cones. Endod Dent Traumatol. 1998;14(3):124-6. 19. Souza ER, Souza EA, Souza-Neto MD, Pietro LCLR. In vitro evaluation of different chemical agents for the decontamination of gutta-percha cones. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(1):75-7. 20. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Odontologia. Manual de Biossegurança. Rio de Janeiro; 2002. p.24-5.

Rev. ABO Nac. - Vol. nº 6 - Dezembro 2009/janeiro Amaral, Marcus Azevedo do et al. Análise da17 contaminação do líquido anestésico 2010 presente em tubetes odontológicos, quando em contato com glutaraldeído e paraformaldeído

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Artigo original

Medo de dentista - Sua influência na percepção da sala de espera Dentist’s fears - Influences on waiting rooms perceptions Palavras-chave: Cirurgião-dentista. Medo. Psicologia ambiental. Meio ambiente. Key words: Dentist. Fear. Waiting room. Environmental psychology. Environmental.

José Galba de Meneses Gomes* Sylvia Cavalcante** Regina Heloisa Maciel***

RESUMO

Introdução - O medo de tratamento dentário é uma das manifestações mais comuns e comentadas em relação aos profissionais de saúde. Depoimentos e relatos muitas vezes associam a consulta odontológica ao sofrimento, tensão e ansiedade, em diferentes níveis de gradação, de indivíduo para indivíduo, com manifestações de fobia. Na maior parte das vezes estes sintomas já se manifestam nos momentos em que antecedem a consulta. O objetivo desta pesquisa foi investigar a percepção de salas de espera de consultórios em relação ao medo de dentista. A hipótese principal foi que a percepção da sala de espera é influenciada pelo medo que os indivíduos possuem do tratamento dentário. Material e Método - Doze conjuntos de fotografias de salas de espera foram apresentados e julgados através de um diferencial semântico composto de 15 pares de adjetivos. Participaram da pesquisa 152 indivíduos entre 18 e 47 anos: 106 homens e 46 mulheres. Os participantes foram divididos em dois grupos: 78 sabiam que o material apresentado eram fotografias de sala de espera de dentistas e 74 não sabiam. Todos os 152 investigados responderam também sobre seu medo de dentista, mas apenas 89 confirmaram ter este sentimento. Resultados - Os resultados mostraram que o medo do tratamento dentário, assim como o fato de saber ou não que o que estava sendo julgado eram salas de espera, são fatores que influenciam significativamente o julgamento destes espaços. Conclusão - No ato da percepção, portanto, os componentes afetivos se juntam aos cognitivos, contribuindo para a imagem representada. ABSTRACT

Mestre em Psicologia, Universidade de Fortaleza. E-mail: galbagomes@uol.com.br ** Professora Titular, Doutora, Universidade de Fortaleza. E-mail: sylviac@secrel.com.br *** Professora Titular, Doutora. Universidade de Fortaleza. E-mail: rhmaciel@rapix.com.br *

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Introduction - The fear of going to the dentist is one of the most common and commented manifestation regarding health professionals. Testimonials and reports many times associate the dental consult to suffering, tension, and anxiety, in different levels of gradation, from individual to individual, with manifestations of phobia. In most of the times these symptoms had already been manifested in the moments that preceded the consult. The purpose of this research was to investigate the perception of the waiting room of clinics in regarding to the fear of going to dentist. The main hypothesis was that the perception of the waiting room is influenced by the fear that the individuals have of the dental treatment. Material and Method - Twelve sets of photographs of waiting rooms were presented and judged through a semantic differential composed by 15 pairs of adjectives. 152 individuals from 18 to 46 years old participated of the research: 106 men and 46 women. The participants were divided in two groups: 78 knew that the presented material was photographs of dentists’ waiting rooms and 74 did not know. All 152 interviewed answered also about their fear of dentist, but only 89 confirmed to have such feeling. Results - The results showed that the fear of dental treatment, and also the fact of knowing or not what was being judged were waiting rooms, were the facts that significantly influenced the judgment of these spaces. Conclusion - In the act of perception, therefore, the affective components connect to the cognitive components, contributing to the represented image.

Rev. ABO Nac. - Vol. nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 Gomes, José Galba de Meneses et al. Medo de dentista - Sua17 influência na percepção da sala de espera


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INTRODUÇÃO

O medo de cirurgião-dentista é uma das manifestações mais comuns e comentadas em relação aos profissionais de saúde. Depoimentos e relatos muitas vezes associam a consulta odontológica ao sofrimento, tensão e ansiedade, em diferentes níveis de gradação, de indivíduo para indivíduo, com manifestações de fobia. Isto se deve ao fato de que a maioria das pessoas tem ou teve problemas relacionados à saúde bucal. Muitos dos problemas dentários, assim como outras doenças, podem não tardar a aparecer, se manifestando na infância, pois dependem, principalmente, da conduta higiênica e dieta alimentar de cada indivíduo. Singh et al.13 descreveram que o medo de ir ao consultório odontológico deriva do temor de que algum problema nos dentes se confirme, pois os dentes estão relacionados com juventude, força agressiva e capacidade de defesa. A falta dos dentes pode induzir o indivíduo à perda da confiança em si mesmo, prejudicando o impulso essencial na atividade humana de autodefesa. Para além destas associações simbólicas, não se pode ignorar que, durante o atendimento odontológico, o indivíduo está sujeito à desagradável e quase insuportável experiência de dor aguda com incontroláveis reações – desvio do rosto, grito e salto da cadeira – ao sentir o contato de equipamentos e outros instrumentos, como a broca ao tocar um dente ainda não suficientemente anestesiado. Seger et al. 12 destacaram que um indivíduo que tenha sofrido dores causadas pelo contato de um motor do equipamento dentário pode apresentar, como resposta, sudorese e tensão muscular, apenas, ao ouvir o barulho do aparelho funcionando, ou, em casos mais extremos, ao ver o profissional vestido de branco. A associação entre dor e medo, portanto, é evidente. O medo dispara comportamentos de defesa com vistas à proteção e, nos casos odontológicos, é muito freqüente o indivíduo padecer de dor antes de recorrer ao cirurgião-dentista. Singh et al.13 comentaram que “os

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serviços odontológicos curativos ou de emergência são inerentemente invasivos e dolorosos”. Durante o atendimento odontológico, o profissional tem uma proximidade física muito acentuada com o paciente, ultrapassando as barreiras do espaço pessoal. O cliente sente-se incomodado com essa proximidade, sem falar na posição de total entrega – sentado ou deitado – em que deve permanecer durante a intervenção. É ainda bom lembrar que, durante todo o atendimento, o paciente permanece lúcido, percebendo e vivenciando possíveis constrangimentos, como odores e toques inconvenientes, além das eventuais dores que o tratamento venha a lhe causar. Kanegane et al.8, em um estudo sobre o medo e a ansiedade associados ao tratamento odontológico de urgência, mostraram que 20,33% dos pacientes analisados apresentavam medo severo e moderado ao tratamento odontológico. Assim também Arneill e Devlin1 relataram estudos que mostram que, ser paciente em um hospital ou em um consultório é uma experiência estressante, pois em qualquer destes lugares os sujeitos serão possivelmente submetidos a toda sorte de fatores inquietantes tais como, falta de informação, problemas financeiros, problemas com dor e medicamentos, e ameaça de severas doenças ou mesmo morte. Evidentemente, o medo de cirurgiãodentista é natural e justificável, tendo origem em situações reais desagradáveis, vivenciadas pelo sujeito ou conhecidos, a partir das quais se faz projeções sobre o que está por vir. O medo, portanto, é um sentimento que precede o objeto ou a situação temida, criando um estado de tensão. Assim, é provável que o medo da consulta odontológica se manifeste no espaço da sala de espera, enquanto o paciente aguarda para ser atendido, influenciando seu estado afetivo. O objetivo deste artigo é verificar até onde esses afetos influenciam a percepção da sala de espera de consultórios odontológicos, espaço de permanência quase obrigatória e que podem influenciar o comportamento do cliente durante a intervenção.

ABOetNac. - Vol. nº 6 -- Dezembro 2009/janeiro 2010 Gomes, José Galba deRev. Meneses al. Medo de 17 dentista Sua influência na percepção da sala de espera

A espera e a sala de espera

A sala de espera é, atualmente, parte integrante de consultórios médicos e odontológicos. Não existe demarcação histórica precisa de quando começaram a aparecer as ambientações de sala de espera em consultórios. No entanto, Cogan6 ressaltou que em decorrência da urbanização e ampliação da escolaridade, a clientela de serviços passou a ser mais exigente quanto a seus direitos e bem estar. O autor destaca ainda que o ritmo de vida moderno torna o ser humano menos tolerante à espera, o que induz à necessidade de investimentos que busquem assegurar salas de espera mais confortáveis. O ato de esperar é a razão fundamental da existência da sala de espera. Ela antecede o local propriamente dito de trabalho – consultório – tendo a função de abrigar os pacientes enquanto aguardam a consulta. Apesar dos clientes marcarem horários para serem atendidos de forma conciliada entre as partes, nem sempre os atendimentos acontecem dentro do previsível (algumas vezes, por razões alheias ao profissional), tornando o espaço da sala de espera importante para o bom atendimento. Este local, geralmente, é equipado de forma a que o usuário possa sentir-se à vontade e distrair-se enquanto aguarda a ação ou serviço desejado. Porém, sendo a espera uma projeção sobre o futuro, naturalmente, gera ansiedade. Essa ansiedade será tanto maior quanto mais importante for, para o cliente, o objetivo da espera e quanto mais longa for sua duração, isto é, quando ultrapassa a estimativa prevista anteriormente. Muitas vezes o paciente não se apercebe das mudanças em seu estado emocional devidas à ansiedade provocada pela espera10. Frequentemente, quando o tempo de espera é longo, o paciente (odontológico ou outro) torna-se temeroso e ansioso quanto ao atendimento. Brandão3 destaca que, enquanto o paciente aguarda seu tratamento, cria-se um ambiente de tensão entre as pessoas e entre elas e as coisas disponíveis na antessala do consultório. As salas de espera de médicos, cirurgiões-dentistas e laboratórios são estranhos

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lugares. Cada um observa o outro que entra. O que terá esse aí tão pálido? E aquele andando tão devagar? Os outros nos parecem sempre piores. Olhem a estante de revistas, é outro enigma a ser desvendado - as revistas de médicos, cirurgiões-dentistas e laboratórios são esdrúxulas publicações para quem espera o momento de ser picado por uma agulha, deixando um fino jato de precioso sangue quente fluir para a seringa3 O ambiente da sala de espera

A sala de espera é um ambiente construído com a característica peculiar de deter seus frequentadores, obrigando-os a realizar uma parada em suas atividades ou na consecução de seus objetivos e aguardar para que alguém lhes atenda. É um espaço ocupado por pessoas que aí se encontram sem atividade específica, a não ser esperar ou realizar atividades que as distraiam, propostas para passar o tempo. Os profissionais proprietários destinam espaços às salas de espera, muitas das vezes, relativamente pequenos, acrescidos de algumas peculiaridades, como utensílios próprios à função e encontrados na maioria delas: a) poltronas e/ou sofás para uso do cliente; b) utensílios e móveis, como mesas baixas, cinzeiros e porta-revistas; c) jornais, revistas e outros impressos, assim como jogos e demais passatempos; d) televisor ou som ambiente; e) ventilador ou ar condicionado; f) espaço para atendente, quando existe, com seus respectivos instrumentos de trabalho: mesa, telefone, interfone etc. Existem também os mais diversos tipos de arranjos espaciais e decorativos nas salas de espera, da mais luxuosa à mais simples, da mais confortável à mais inadequada, e, sem dúvida, refletem o contexto sociocultural da área e do consultório onde estão inseridas. É evidente que a sala de espera de um consultório localizado num bairro popular ou que presta serviços coletivos é diferente da de uma sala de consultório em bairro de classe média alta ou em consultórios particulares. Por conseguinte, estes espaços, a partir de suas características ambientais, influenciam de manei-

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ra diversa seus frequentadores. Arneill e Devlin1 em uma meta análise dos estudos sobre a influência do ambiente físico na experiência de pacientes em hospitais, os classificam em dois tipos: aqueles que isolam uma variável e demonstram seu efeito positivo ou negativo na saúde do paciente, e aqueles que analisam a influência de uma unidade hospitalar como um todo nos processos de recuperação de seus usuários. No primeiro grupo, as variáveis identificadas como ativas foram aquelas relativas à percepção do ambiente físico: intensidade da luz, temperatura, som e vista através de janelas e, do ambiente social, calor humano, por exemplo. No segundo grupo, condensamse as pesquisas que analisam ambientes renovados. Aqui, apresentam resultados positivos os arranjos mais próximos daqueles existentes no ambiente familiar e aqueles que promoveram mudanças que visavam implicar os pacientes em decisões e responsabilidades relativas a seu cuidado. Na conclusão de seu estudo, os autores afirmaram que o ambiente físico é a primeira impressão que o paciente recebe da clínica e, se o ambiente é bem cuidado o paciente entra no sistema com uma impressão positiva do processo de tratamento. Na revisão da literatura realizada, pelos referidos autores, nenhum estudo foi encontrado sobre a influência da percepção do espaço da sala de espera na satisfação do paciente, pois a meta análise que empreenderam versou sobre a influência do espaço na percepção da qualidade do cuidado dispensado. Diversamente do citado, este estudo visa conhecer a percepção do ambiente de salas de espera de consultórios odontológicos relacionando-a ao medo de cirurgião-dentista. A percepção de espaços

A percepção é o processo individual de organização e interpretação de dados sensoriais na relação do sujeito com o meio ambiente. O indivíduo processa as informações recebidas do meio ambiente, registrando as sensações, interpretando-as e memorizando-as. A percepção, por con-

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seguinte, é um processo ativo no qual o indivíduo está por inteiro implicado9-11. Através de sua ação e relação com o objeto (mundo), o sujeito constrói tanto o mundo quanto a si próprio5. Em uma perspectiva psicossocial, a percepção do ambiente de cada indivíduo deve ser analisada e compreendida tendo por parâmetros a biografia, a cultura, a atividade social e política do sujeito, sem esquecer das contribuições recíprocas entre o indivíduo, a sociedade e o ambiente físico. O ato da percepção, portanto, implica num componente afetivo que contribui para a imagem representada. Algumas impressões podem ser captadas mais intensamente que outras, dependendo da atenção – interesse – da atitude, do estado de ânimo e da situação emocional de quem percebe, o que transforma a percepção numa função anímica por excelência2. As percepções da sala de espera e dos próprios consultórios ou clínicas odontológicas também seriam diferentes para cada um dos usuários, mesmo quando submetidos a estímulos físicos idênticos como ruídos, iluminação, e até a decoração ambiental. Certamente muitos fatores, como ruídos na recepção e na manipulação de instrumentos dentro do consultório, gemidos ou falas que expressem desconforto, podem ser considerados como estimulantes de temor e de ansiedade, podendo integrar as experiências de alguns indivíduos. Bohm4 afirmou que a memória do prazer ou da dor que surge com uma imagem visual, auditiva ou olfativa evocada por um objeto ou por situação é uma das primeiras e mais primitivas formas de pensamento. A partir desta perspectiva, a hipótese formulada por este trabalho é a de que o significado atribuído ao ambiente da sala de espera de consultórios odontológicos através das vivências de medo e estresse, influencia a percepção estética e funcional deste ambiente. MÉTODO Sujeitos

Participaram da pesquisa 152 indivíduos com idades entre 18 e 47 anos (Média=28,13 anos; DP=7,03), sendo 106

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Fig.1 - Os conjuntos/estímulos utilizados

(70%) do sexo masculino e 46 (30%) do sexo feminino. Dos 152 participantes, 16 possuíam escolaridade média (11%); 70 superior incompleto (46%); e, 66 superior completo (43%). Estes dois últimos subgrupos eram formados por estudantes universitários da graduação e pós-graduação, de diferentes cursos de duas universidades cearenses, excluindo-se os da área da saúde. Os participantes foram divididos em dois grupos: 78 indivíduos (51% da amostra) sabiam que o material que lhes seria

apresentado eram fotografias de sala de espera de cirurgiões-dentistas e 74 (49%) não tinham essa informação. Materiais

A tarefa principal dos participantes foi julgar uma série de imagens de salas de espera. As imagens utilizadas na pesquisa eram fotografias de 33 salas de espera de consultórios e clínicas odontológicas, localizadas na zona leste da cidade de Fortaleza, área mista, comercial e residencial, no bairro da Aldeota, bairro de classe

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média e média alta, com concentração de comércio e serviços, e diversidade de modelos de salas de espera. As fotografias enfocavam vários ângulos desses espaços e foram feitas com uma máquina fotográfica Sony Mavica, com objetiva Optical 10X, f = 4.2 mm, equivalente a uma objetiva de 33 x 50 42mm 1:1. Das imagens produzidas foram selecionados 23 conjuntos de três fotografias de 23 salas diferentes. Os 23 conjuntos foram apresentados a 15 juízes que os agruparam de acordo com as semelhanças percebidas.

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anotassem no verso do formulário se tinham ou não medo de cirurgião-dentista.

Quadro 1 - Diferenciais semânticos utilizados.

Frio Interessante Pesado Atraente Triste Marcante Bonito Monótono Claro Antigo Repousante Simples Inseguro Ordenado Aberto

-3

-2

-1

0

+1

+2

+3

__ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __

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Tendo como critérios, a não repetição de elementos, a expressividade das fotos no âmbito dos conjuntos típicos, a diversidade de cenário e a qualidade fotográfica; foram escolhidos, de cada um dos agrupamentos formados, o melhor ou os dois melhores conjuntos para compor a seleção final de 12 montagens. Esses 12 conjuntos foram os estímulos utilizados na pesquisa e podem ser vistos na Figura 1 (no experimento foram apresentadas fotografias coloridas). O diferencial semântico foi o instrumento utilizado na avaliação das imagens: 15 pares de adjetivos opostos, escolhidos a partir dos atributos de avaliação de espaços e também em função dos objetivos da pesquisa. Os diferenciais utilizados são apresentados no Quadro 1. Procedimento

Os diferenciais semânticos foram apresentados em um formulário composto de 13 páginas, sendo a primeira reservada para informações sobre as características individuais dos entrevistados - sexo, idade e escolaridade - e as 12 páginas internas reproduziam as escalas com os diferenciais semânticos para serem utilizadas no julgamento de cada um dos 12 conjuntos. As 15 escalas de qua-

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Quente Enfadonho Leve Repulsivo Alegre Insignificante Feio Variado Escuro Moderno Excitante Sofisticado Seguro Desordenado Fechado

lificativos opostos permitiam que o entrevistado expressasse, em um dos polos, a intensidade de seus sentimentos em relação àquele atributo da imagem. O mesmo instrumento foi apresentado a todos os sujeitos. Uma única diferença distinguiu os formulários em dois tipos: aquele que ao pedir aos sujeitos que julgassem os espaços que lhes seriam apresentados informava que estariam julgando sala de espera de cirurgiões-dentistas (grupo “sabia”), e aquele que pedia para que julgassem os espaços apresentados sem fornecer nenhuma informação sobre a função das salas (grupo “não sabia”). A aplicação foi realizada em grupo, em cinco sessões de projeções coletivas. Cada conjunto ficava exposto por 1 minuto, tempo suficiente para que os sujeitos observassem a imagem e anotassem seus julgamentos na folha de respostas. As coletas de dados foram realizadas em salas de aula. Os formulários com as folhas de resposta foram entregues aos sujeitos e ao mesmo tempo lhes eram explicados os objetivos da pesquisa e como proceder nos julgamentos, bem como o tempo disponível para preenchimento. Ao final da aplicação se solicitou aos respondentes que

RESULTADOS

Os dados foram analisados através da comparação entre as médias obtidas nos julgamentos por análises de variância (SPSS versão 15), comparando-se os efeitos de saber ou não saber que as imagens apresentadas eram salas de espera de cirurgiões-dentistas e relatar ter ou não medo deles. Nas análises foi utilizado o nível de significância de 5%. Para simplificar a visualização dos resultados, os diferenciais foram ordenados e as escalas recodificadas de tal forma que aos extremos negativos foi atribuído o valor zero e aos positivos, o valor seis, o que difere da apresentação para os participantes, onde se procurou balancear a ordem (esquerda/direita) dos adjetivos, para evitar desvios de resposta, e as escalas variavam de -3 a +3. Em geral, os conjuntos foram julgados como ordenados, claros e bonitos (atributos positivos) e como antigos e inseguros (atributos negativos). As médias dos julgamentos apresentaram diferenças significativas em relação aos conjuntos julgados, o que confirma que os estímulos escolhidos pelos juízes eram realmente diversificados quanto aos seus atributos de espaço (ANOVA: F=41.718; gl=11; p<<0.05). O Gráfico 1 apresenta as diferenças encontradas nas médias dos julgamentos de todos os conjuntos para cada diferencial em relação ao conhecimento de serem salas de espera de cirurgiões-dentistas. Nota-se que os não sabiam tendem a considerar os espaços mais inseguros, antigos, pesados (atributos negativos) e também mais ordenados, bonitos, atraentes e quentes (atributos positivos). Dos participantes, 12 (8%) não responderam à pergunta sobre ter ou não medo de cirurgião-dentista. Dos que responderam, a maioria afirmou não ter medo, 89 (64%), contra 51 (36%) que afirmaram ter medo do profissional. A distribuição das respostas a essa questão em relação ao sexo e idade dos respondentes não apresentou diferenças significativas segundo o teste de Qui-quadrado (Sexo: X2=1.97; gl=1, p>0,05; Idade:

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X2=0.86; gl=1, p>0,05). O que significa que, nos participantes, ter medo de dentista ocorre em ambos os sexos e em qualquer faixa etária. O Gráfico 2 apresenta as médias dos julgamentos segundo a variável ter medo de dentista. Os que não têm medo de cirurgiões-dentistas julgaram os espaços como mais antigos, tristes e frios.

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Gráfico 1 - Média dos julgamentos segundo o conhecimento de ser ou não salas de espera de cirurgiões-dentistas ([*] diferenças significativas p<0,05)

DISCUSSÃO e CONCLUSÃO

Os resultados encontrados mostraram, em primeiro lugar, que os estímulos escolhidos realmente possuíam atributos identitários de espaço, na medida em que eles foram julgados diferentemente pelos participantes. Quando se considera o grupo de fotografias apresentadas, como um todo, observa-se que os espaços foram julgados de forma relativamente positiva. Eles foram considerados ordenados, claros e bonitos, o que pode estar relacionado ao fato de as salas fotografadas serem majoritariamente salas bem decoradas e equipadas, tendo em vista serem salas de clínicas de classe alta e média alta. Contudo, isto não impediu que também tenham sido consideradas inseguras e antigas. Dada a valorização cultural do “novo” no Brasil, é bem provável que o atributo “antigo” tenha sido tomado numa perspectiva negativa. O fato das salas de espera terem sido consideradas “inseguras” em geral, pode estar evidenciando que todos os conjuntos fotográficos deixavam claro tratar-se de salas de espera e a espera em si é, geralmente, negativa: gera ansiedade e está em desacordo com a vida moderna, uma vida corrida sem tempo para esperar. Quem sabia estar julgando salas de espera de cirurgiões-dentistas considerou os espaços menos ordenados, menos bonitos, menos atraentes e menos quentes, assim como menos inseguros, menos antigos e menos pesados. Portanto, em 7 dos 15 julgamentos, os participantes que sabiam tratar-se de salas de espera atenuaram suas respostas, aproximando-se da neutralidade (no caso da escala modificada, o ponto 3). Green7, descrevendo julgamentos e solução de problemas sob condições de estresse, hipotetiza que o estado emoci-

Gráfico 2 - Média dos julgamentos por quem diz ter ou não ter medo de dentista. ([*] diferenças significativas p<0,05)

onal do sujeito influencia a quantidade de recursos disponíveis para a tarefa, de tal forma que o indivíduo, sob estresse, tende a ser mais econômico e pouco atentivo

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para as características do problema em si, pois grande parte de seus recursos é mobilizada por seu estado de tensão. Evidência favorável a esta hipótese é a diferença

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entre a média total dos julgamentos do grupo que tinha conhecimento (2.849, mais próxima do ponto neutro), e a média total dos julgamentos dos que não tinham (2.690, mais distante do ponto neutro). O mesmo ocorre na comparação dos grupos relativos ao “medo”: os que têm medo apresentaram uma média total nos julgamentos de 2.818 e os que não têm medo, uma média de 2.741, significando, portanto, julgamentos mais neutros daqueles que relataram ter medo de cirurgiões-dentistas.

3.

4. 5.

6.

7.

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Artigo original

Ação antimicrobiana do óleo essencial da Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) - Alecrim da Chapada - sobre a Candida sp da cavidade oral The antimicrobial activity of a hydro alcoholic extract from Alecrim da Chapada (Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) against Candida sp in oral cavity Palavras-chave: Lippia gracillis. Óleos voláteis. Óleos vegetais. Candida albicans. Plantas medicinais. Key words: Lippia gracilli.Oils,volatile. Plant oils.Candida albicans. Plants, medicinal.

Geraldo Bosco Lindoso Couto* Mariana Feitosa de Barros** Sabrina Lins de Menezes** Eulália C. Pessoa de Azevedo Ximenes*** Cristiano Marcelino Júnior ****

RESUMO

Introdução - A Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) é um arbusto que cresce espontaneamente no Sertão nordestino. É conhecida popularmente como Alecrim da Chapada e utilizada em afecções da boca, garganta e dérmicas provocadas por fungos e bactérias. A atividade antimicrobiana do óleo essencial obtido deste arbusto foi avaliada sobre microrganismos da cavidade oral, principalmente sobre a Candida sp. Um exemplar da mesma foi coletada em Ibimirim, Estado de Pernambuco e o óleo essencial extraído das folhas secas por hidrodestilação. Este óleo tem, como principais componentes, o timol e o carvacrol, os quais são dois antissépticos do grupo dos fenóis. Material e Métodos - Vinte e duas amostras de leveduras isoladas de pacientes portadores de candidíase oral foram coletadas e identificadas como Candida sp. e Candida albicans pelo sistema API20C AUX (BIOMÉRIEUX), pela prova do tubo germinativo, produção de clamidósporos e produção de uréase. Todas as amostras foram submetidas à ação do óleo essencial da Lippia gracillis e ao miconazol, utilizado como padrão, para avaliação antifúngica pelo método de difusão em meio sólido, utilizando-se discos de papel de filtro com 6 mm de diâmetro. Cada disco foi saturado com 20mL do óleo. Resultados - Todas as cepas mostraram-se sensíveis ao óleo essencial da Lippia gracillis exibindo halos de inibição em torno do disco que variaram de 40mm a 57 mm, enquanto que, com o antifúngico padrão (miconazol) esta variação foi de 15 mm a 23 mm. Conclusões - Os resultados mostraram que o óleo essencial da Lippia gracillis possui atividade antifúngica exibindo halos de inibição médio para Candida sp. 154,3% maior que a média dos halos de inibição do miconazol. A Concentração Mínima Inibitória (CMI) do óleo essencial da Lippia gracillis frente à Candida sp. encontrada neste experimento foi de 0,78% v/v. ABSTRACT

Professor Adjunto do Departamento de Clínica e Odontologia Preventiva da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail: gbosco@ufpe.br ** Cirurgiã-dentista pela UFPE. *** Professor Adjunto do Departamento de Antibióticos da UFPE **** Professor do Departamento de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). *

Introduction - The Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) is a shrub that grows spontaneously in the Northeastern interior. It is known popularly as “Alecrim da Chapada” and used in infections of the mouth, throat and skin diseases caused by fungi and bacterias. The antifungical activity of this shrub essential oil was evaluated against microorganisms by the oral mucosa. A copy of the plant was collected in Ibimirim, State of Pernambuco and the essential oil extracted from the dry leaves by hidrodestillation. This oil has as main components thymol and carvacrol, two phenols group antiseptic. Material and Methods - Twenty two isolated yeasts samples from patients with oral lesions by candida were collected and identified as Candida albicans and Candida sp.

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for the API20C AUX BIOMÉRIEUX system, germ tube and chlamydosphore test. Results - All the samples were submitted to the essential oil of the Lippia gracillis and the miconazole, used as pattern, for evaluation antifungal by the diffusion method in Sabouraund agar using disks of filter paper with 6 mm of diameter. Each disk was saturated with 20ml of the oil. All the stumps were shown sensitive to the essential oil of the Lippia gracillis exhibiting inhibition zone that varied between 40mm to 57 mm, on the other hand, with the standard antifungical this variation was of 15mm to 23 mm. Conclusions - The results showed that the Lippia gracillis essential oil has antifungal activity, with inhibiting zone 154,3 % more efficient than miconazole inhibition zone. For all the tested yeasts, in this research, the MIC (Minimum Inhibitory Concentration) of the Lippia gracillis essential oil was equivalent to 0.78%v/v. INTRODUCÃO

A candidíase constitui a infecção fúngica mais comum no homem. Este microrganismo faz parte da microflora bucal normal e cerca de 30% a 50% das pessoas simplesmente possuem o microrganismo sem evidência clínica da infecção, pois esta depende do estado imunológico do hospedeiro, do meio ambiente e da resistência da Candida sp 4. A candidíase pode variar de uma infecção benigna e localizada na pele ou mucosas, para uma infecção aguda e disseminada para o intestino. Geralmente esta infecção afeta a mucosa oral de pacientes debilitados, com deficiências nutricionais, pacientes que se submetem a tratamento quimioterápico por drogas imunossupressoras, antibióticos, e em pacientes com higienização bucal deficiente, causando, na maioria das vezes, desconforto e dificuldade na alimentação15. A capacidade de certas cepas de C.albicans sofrerem “variabilidade” fenotípica - isto é, formação de tipos de colônias com aparências diferentes, em particular, daquelas com formação de franjas descontínuas, quando cultivadas em meios sintéticos específicos - está estreitamente relacionada com sua virulência e invasão tecidual10. A Lippia gracillis Schauer-Verbenaceae é popularmente denominada Alecrim da Chapada. As espécies estão distribuídas principalmente nos países da América Central, da América do Sul e territórios da África Tropical. São plantas arbustivas que crescem em áreas de agricultura e cerrado e tem as folhas como parte utilizada para medicina humana. No Brasil, são aplicadas no trata-

mento de doenças cutâneas, úlcera e queimaduras14. As suas folhas produzem óleo essencial, cujos componentes principais são o timol e o carvacrol, dois antissépticos do grupo dos fenóis, com finalidade terapêutica nas preparações de uso tópico, antes do advento dos sintéticos13. O timol é sedativo, ligeiramente anestésico e um antisséptico moderado. Sua mais valiosa propriedade é a estabilidade química7. O timol e o para-cimeno tem propriedades antissépticas, sendo utilizados como agentes antifúngicos e antibacterianos8. As espécies de Lippia são mais comumente utilizadas para o tratamento de desordens respiratórias. Para este uso, a planta é comumente preparada como decocção. Nas Américas Central e do Sul (Guatemala, Venezuela, Brasil), ela também é empregada como remédio para resfriados, gripe, asma e tosse. Na Guatemala e no Brasil espécies de Lippia como a L. alba e a L. gracillis são aplicadas externamente no tratamento de doenças cutâneas, úlceras e queimaduras12. Os óleos essenciais são produtos geralmente odoríferos, obtidos por arraste de vapor d’água de vegetais ou de partes de vegetais. São líquidos à temperatura ambiente, geralmente têm cor e sua densidade é inferior à da água. São substâncias solúveis em álcoois e em solventes orgânicos habituais, são lipossolúveis e muito pouco solúveis em água. Os óleos essenciais são mesclas complexas e muito variáveis de constituintes, que pertencem, de forma quase exclusiva, à série dos terpenos. Tem propriedades antissépticas, expectorantes, diuréticas, espasmolíticas e sedan-

tes. Seu poder antisséptico manifesta-se frente a bactérias patógenas variadas e frente a leveduras como a Candida3. Foi avaliada a atividade antimicrobiana do óleo essencial (OE) de Lippia gracillis sobre fungos contaminantes de laboratórios de cultura de tecidos vegetais e bactérias endofíticas de helicônias. Discos de micélio dos fungos Geotrichum candidum; Trichoderma viride; Torula herbarum; Paecillomyces sp.; Aspergillus nidulans; Fusicoccum sp.; A. flavus; P. aeruginens; Curvularia lunata e A. niger, foram inoculados em meio BDA com óleo (0; 420; 440; 460; 480 e 500 μL L-1). O percentual de inibição em 420 μL L-1 foi de 100% para todos os fungos exceto para C. lunata e A. niger, que foram de 95.58% e 89.40% , respectivamente1. O óleo essencial da Lippia gracillis, também foi utilizado para verificar sua atividade tuberculostática e, das quinze cepas estudadas, treze mostraram-se sensíveis ao óleo essencial de Lippia gracillis. Embora resistentes à isoniazida, as cepas de Mycobacterium tuberculosis LC01, LC 02 e LC07 mostraram-se sensíveis ao óleo essencial de Lippia gracillis. Apenas duas cepas LC04 e LC12, que tiveram perfil de resistência a pelo menos três drogas tuberculostáticas, demonstraram também resistência ao óleo essencial. O óleo essencial de Lippia gracillis apresentou atividade tuberculostática frente a cepas sensíveis aos tuberculostáticos clássicos, frente a cepas com resistência isonizada, isoniazida e rifampicina, não demonstrou atividade frente a cepas com três ou mais resistências a diferentes classes de tuberculostáticos5.

Rev. ABO Schauer Nac. - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010a Couto, Geraldo gracillis (Verbenaceae) - Alecrim da Chapada - sobre 364 Bosco Lindoso et al. Ação antimicrobiana do óleo essencial da Lippia Candida sp da cavidade oral


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Dentre as propriedades medicinais atribuídas aos óleos essenciais, as principais são: adstringente, analgésico, antidepressivo, antipirético, antiviral, bactericida, bacteriostático, citofilático, desodorante, estimulante, fungicida, fungistático e imunoestimulante6. As micoses são infecções altamente oportunistas, ocorrendo com frequência em pacientes portadores de neoplasias, imunodeprimidos (como na Aids) e naqueles doentes sob tratamento com irradiação, antibióticos de largo espectro ou drogas imunossupressoras. Das micoses superficiais, as candidoses intra ou periorais são condições relativamente comuns, podendo ser assintomáticas ou causar sintomas severos e persistentes, sendo a Candida albicans a espécie mais associada à doença2. A candidíase é causada primordialmente pela Candida albicans, embora outras espécies estejam tornando-se cada vez mais importantes como agentes etiológicos. A Candida albicans existe como microbiota normal na garganta. Em casos de comprometimento imunológico e consequente queda da resistência, as leveduras podem proliferar e causar autoinfecções9. A infecção pela Candida albicans, um microrganismo fúngico semelhante à levedura, é chamada de Candidíase, que é a infecção fúngica mais comum no homem, podendo se apresentar de formas clínicas variadas. A candidíase da mucosa bucal pode se apresentar clinicamente de formas variadas, sendo estas: Pseudomembranosa (sapinho), Eritematosa, Atrofia papilar central, Multifocal crônica, Queilite angular, Estomatite por dentadura, Hiperplásica (leucoplasia por Candida), Mucocutânea e Síndrome candidíaseendócrina. Muitos pacientes podem apresentar somente uma forma, embora alguns indivíduos apresentem mais de uma forma da candidíase bucal17. O miconazol é um derivado imidazólico com amplo espectro de ação face a fungos e leveduras de interesse médico. A Candida albicans é inibida em seu crescimento em concentrações de, aproximadamente 10mg/ml. A droga altera a per-

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meabilidade celular. É utilizado para uso tópico (pó, loção cremosa), oral e endovenoso11. O miconazol é um medicamento do grupo dos imidazóis usado na terapia tópica de dermatofitoses e infecções da pele por Candida. Este fármaco parece atuar lesando as membranas celulares dos microrganismos18. Esta pesquisa teve por finalidade analisar, através da realização do teste de difusão e diluição, a atividade antimicrobiana do óleo essencial da Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) para verificar a ação dessa substância fitoterápica sobre microrganismos da cavidade oral, principalmente sobre a Candida sp. MATERIAL E METODO

O material coletado foi obtido pela raspagem indolor da mucosa oral do paciente nas áreas infectadas pelo microrganismo, diagnosticadas clinicamente. As amostras foram isoladas e acondicionadas segundo protocolo biológico e mantidas na coleção de microrganismos do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco. Inicialmente o sistema API20C AUX (BIOMÉRIEUX) foi utilizado para a identificação das leveduras isoladas. Este sistema associa 20 testes bioquímicos, apresentando alta capacidade discriminante. A galeria é composta de 20 microtubos que contém os substratos desidratados para a detecção de atividades enzimáticas de fermentação de açúcares e álcoois para avaliar presença ou ausência de hifas ou pseudohifa. Para comprovação dos resultados foram realizadas a prova da uréase, a prova do tubo germinativo e a pesquisa dos clamidósporos. Uma prova de uréase positiva sugere espécies de criptococcus. A prova pode ser realizada em ágar uréia. Por serem fortes produtores de uréase, as cepas de criptococcus, com frequência, iniciam a alteração de cor do meio de cultura em 2 horas. A prova do tubo germinativo foi utilizada para comprovação da identificação das cepas de Candida albicans. A presença destes indica prova positiva e pode ser

informada identificação presuntiva de C. albicans, sem necessidade de provas adicionais. Caso os tubos germinativos não tenham sido observados, a placa deve ser incubada por mais 24 horas a 48 horas para pesquisa de clamidósporos. A pesquisa dos clamidósporos também foi utilizada para comprovação da identificação das cepas de Candida albicans10. A amostra de Lippia gracillis Schauer foi coletada na cidade de Ibimirim, no Sertão de Pernambuco. O óleo essencial foi extraído das folhas secas, à sombra, pelo processo de hidrodestilação. O meio líquido de Sabouraund-dextrose foi utilizado para padronização dos inóculos e determinação da Concentração Mínima Inibitória (CMI), e o meio sólido de Sabouraund-dextrose, para manutenção das culturas e para avaliação da atividade antifúngica. A atividade antifúngica do óleo essencial de Lippia gracillis foi avaliada por meio da inibição do crescimento de um microrganismo na superfície do meio de cultura inoculado, ao redor de um disco de papel de filtro impregnado com a droga ou substância. Esta técnica informa se o microrganismo é sensível ou resistente a um determinado antimicrobiano numa concentração conhecida. Para isso é necessário que tudo seja rigorosamente padronizado16. Discos papel de filtro, com peso equivalente a 30 mg ± 4 mg/cm2 e diâmetro de 6 mm, foram confeccionados. A capacidade de saturação em cada disco com o óleo essencial ou o padrão antifúngico foi de 20μl. Em placas de Petri estéreis de 90 mm de diâmetro foram depositados 18 ml de meio sólido de Sabouraund. As suspensões das leveduras, devidamente identificadas e padronizadas, foram semeadas por esgotamento em toda a superfície do meio, com o auxílio de swabs. Vinte microlitros do referido óleo e do miconazol foram pipetados sobre os discos de papel. Estes discos foram, em seguida, depositados na superfície do meio sólido de Sabouraund, previamente semeado. Após a incubação de 24 horas, as lei-

ABOetNac. - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 Couto, Geraldo BoscoRev. Lindoso al. Ação antimicrobiana do óleo essencial da Lippia gracillis Schauer (Verbenaceae) - Alecrim da Chapada - sobre a Candida sp da cavidade oral

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Gráfico 1 - Atividade antifúngica do óleo essencial da Lippia Gracillis e do miconazol: Método de difusão em meio sólido

Comprimentos dos halos de inibação em mm

60 50 40 30 20 10 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Amostras

Lippia gracillis turas foram efetuadas utilizando-se uma régua calibrada em milímetros pela comparação do diâmetro dos halos formados pelo óleo essencial de Lippia gracillis com o diâmetro dos halos obtidos pelo miconazol. Os microrganismos foram classificados em sensíveis ao óleo essencial ou ao padrão antifúngico quando apresentaram halos de inibição do crescimento fúngico superiores ou iguais a 10 mm. As amostras, de número 17, 18 e 19 (Gráfico 1), que apresentaram maiores halos de inibição, identificadas respectivamente como Candida sp. e Candida albicans, foram utilizadas para a Determinação da Concentração Mínima Inibitória (CMI). Para as leveduras testadas neste experimento, a CMI do óleo essencial da Lippia gracillis foi equivalente a 0,78% v/v. Com o óleo essencial puro foram realizadas diluições em óleo mineral equivalentes a: 1/2, 1/4, 1/8; 1/16; 1/32; 1/64; 1/ 128 e 1/256. Em tubos de ensaio foram depositados 0.5 ml de cada uma das diluições do óleo ou do padrão antifúngico e 4,5 ml do meio

Miconazol líquido de Sabouraund-dextrose, devidamente semeado de forma a obter uma cultura contendo 106 UFC/ml. Os tubos foram colocados em banho-maria com agitação de 150 IPM e temperatura de 35°C, e incubados por 24 horas. A leitura foi efetuada após a incubação e a CMI definida como a menor concentração do óleo e do miconazol que não apresentaram crescimento visível à levedura semeada.

são em meio sólido estão apresentados no Gráfico 1. A média total dos halos, obtidos através da inibição do crescimento do microrganismo na placa, foi de 47,3 mm. Também foi observado que não houve diferença significante entre os halos encontrados nas colônias de Candida sp e os de C. albicans, que obtiveram média de 47,4 e 47,2 mm, respectivamente. DISCUSSÃO

RESULTADOS

Os resultados obtidos na identificação das leveduras pelo sistema API20C AUX (BIOMÉRIEUX) com comprovação por prova do tubo germinativo, produção de clamidósporos e prova da uréase revela que dentre as leveduras isoladas, 59,1% (13) foram identificadas rigorosamente como Candida albicans enquanto as 40,9% (9) restantes foram, comprovadamente, Candida sp. Os resultados obtidos para os testes de atividade do óleo essencial de Lippia gracillis e miconazol pelo método de difu-

A capacidade de certas cepas de C .albicans sofrerem “variabilidade” fenotípica - isto é, formação de tipos de colônias com aparências diferentes, em particular, daquelas com formação de franjas descontínuas, quando cultivadas em meios sintéticos específicos - está estreitamente relacionada com sua virulência e invasão tecidual10. Estes dados foram confirmados na presente pesquisa, pois as colônias cultivadas, apesar de serem identificadas como sendo da mesma espécie, apresentaram características morfológicas macroscópicas diferentes.

Rev. ABO Schauer Nac. - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2010a 366 Bosco Lindoso et al. Ação antimicrobiana do óleo essencial da Lippia Couto, Geraldo gracillis (Verbenaceae) - Alecrim da2009/janeiro Chapada - sobre Candida sp da cavidade oral


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Neville et al.17 (1998), Andrade2 (1999), Kern e Blevins9 (1999), concordam que a maioria das infecções bucais por leveduras é causada pela Candida albicans. De acordo com o resultado da identificação final das leveduras deste estudo, 22 amostras foram identificadas como sendo do gênero Candida, destas, 13 foram da espécie Candida albicans, que é a mais frequentemente isolada em pacientes imunodeprimidos. Quanto aos resultados do presente trabalho, os halos de inibição obtidos pelo óleo essencial da Lippia gracillis frente às 22 leveduras encontradas do gênero Candida, apresentaram uma média de 47,3mm, enquanto que Lemos et al.12 (1992), em estudo sobre a atividade antimicrobiana do óleo essencial de Lippia gracillis, concluiu que este apresentava atividade antifúngica frente à Candida albicans e à Candida tropicalis, cujos halos de inibição foram iguais a 18 e 21 mm, respectivamente. Confirmando os objetivos do estudo relatado, as folhas da Lippia gracillis podem ser preparadas para utilização como agente anti-infeccioso bucal e cutâneo, segundo Lemos et al.12 (1992) e Matos14 (2002). O timol e o carvacrol, presentes no óleo essencial da Lippia gracillis, são substâncias com propriedades antissépticas, antimicrobianas e anestésicas pertencentes ao grupo dos fenóis, como afirmaram Matos 13 (1989), Gardner 7 (1962) e Gennaro8 (1987). Em estudo sobre os óleos essenciais, Bruneton3 (1991), Cruz et al.6 (2000) relataram que estes têm propriedades bactericidas e fungicidas, tendo Bruneton3 (1991) ressaltado, ainda, o seu

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poder antisséptico frente a leveduras, o que corrobora com os resultados da presente pesquisa. Lacaz11 (1980) e Reese e Betts18 (1995) concordam quanto ao emprego do miconazol no tratamento tópico da infecção fúngica. Por outro lado o óleo essencial da Lippia gracillis mostrou ter uma ação antifúngica, frente à Candida sp, 254,3 % mais eficaz do que o miconazol, padrão antifúngico utilizado no experimento, mostrando, desta forma, a possibilidade de utilização deste óleo fitoterápico para o tratamento de infecções fúngicas. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos na pesquisa sugerem as seguintes conclusões: ● A Candida albicans foi identificada como o principal agente etiológico das candidíases orais. ● O óleo essencial extraído das folhas da Lippia gracillis demonstrou possuir atividade antifúngica. ● O halo de inibição obtido com o óleo essencial puro da Lippia gracillis foi 154,3% maior do que o halo obtido com o miconazol. ● A CMI do óleo essencial da Lippia gracillis frente à Candida sp. encontrada neste experimento foi de 0,78% v/v. REFERÊNCIAS 1. Albuquerque CC, Camara TR, Mariano RLR, Wiladino L, Marcelino Junior C, Ulisses C. Antimicrobial action of the essential oil of Lippia gracillis Schauer. Braz Arch Biol Technol. 2006;49(4):527-35. 2. Andrade ED. Terapêutica medicamentosa

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Rev. ABOetNac. - Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010gracillis Schauer (Verbenaceae) - Alecrim da Chapada - sobre a Couto, Geraldo Bosco Lindoso al. Ação antimicrobiana do óleo essencial da Lippia Candida sp da cavidade oral

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Revisão

O clareamento dental traz efeitos colaterais? The bleaching has side effects? Palavras-chave: Clareamento de dente/efeitos adversos. Clareamento de dente/métodos. Key words: Tooth bleaching/adverse effects. Tooth bleaching/methods. Avilmar Passos Galvão* Carlos Akio Saback Miura** Wanessa Maria de Freitas Aras***

RESUMO

A técnica do clareamento dental caseiro e/ou profissional, desde a sua elaboração, tem sido bastante avaliada pela literatura, cujos achados mostram que tal procedimento é eficaz e conservador. Porém, a preocupação dos clínicos e pesquisadores em minimizar possíveis danos às estruturas dentárias, durante e após o tratamento clareador, ainda persiste nas amplas discussões a respeito do tema. Diante desse fato, estabelecer um protocolo de segurança e obter maior conhecimento sobre os mecanismos envolvidos, quando da aplicação dos agentes sobre os tecidos dentários, são fundamentais para orientar a conduta clínica. Desse modo, o objetivo do presente trabalho foi analisar a literatura consultada, buscando ressaltar as evidências que possam, embora parcialmente, elucidar a questão e fornecer parâmetros para o profissional na tomada de decisão clínica. Após análise dos estudos, foi possível verificar a relação entre o procedimento clareador e a ocorrência de alterações como a sensibilidade dentinária e a reabsorção radicular. Por outro lado, em face das poucas evidências científicas, a carcinogenicidade provocada pelo clareamento ainda não está bem esclarecida. Portanto, mais estudos longitudinais clínicos se fazem necessários para buscar respostas e fornecer melhores parâmetros de segurança e confiabilidade às técnicas de clareamento. ABSTRACT

Mestre em Odontologia Clínica pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Professor Convidado da EBMSP. E-mail: passosgalvao@gmail.com ** Mestre em Odontologia Clínica pela EBMSP. Professor do Curso de Especialização em Odontopediatria da Associação Brasileira de Odontologia da Bahia (ABO/BA). E-mail: cakiomiura @hotmail.com *** Mestre em Odontologia Clínica pela EBMSP. Professora Substituta da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (FOUFBA). E-mail: wanessa_aras@yahoo.com.br *

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The technique of bleaching dental home and / or professional, since its establishment, has been assessed by literature, whose findings show that this procedure is effective and conservative. However, the concern of clinicians and researchers to minimize possible damage to dental structures, during and after bleaching treatment, still persists in the broad discussion on the subject. Thus, to establish a protocol for security and better knowledge about the mechanisms involved, where the application of the agents on dental tissues, are essential to guide clinical practice. Therefore, the objective of this study was to analyze the available literature, seeking to emphasize the evidence that, although partially, explain the issue and provide parameters for training in clinical decision making. After analyzing the studies, it was possible to verify the relationship between the bleaching procedure and the occurrence of changes such as root resorption and dentin sensitivity. Moreover, because little scientific evidence of the carcinogenicity caused by bleaching have not been clarified yet. Therefore, more longitudinal clinical studies are needed to seek answers and provide better security and reliability parameters of the bleaching techniques. INTRODUÇÃO

A técnica do clareamento dental caseiro e profissional, desde a sua elaboração, tem sido bastante avaliada pela literatura, cujos achados mostram que tal procedimento estético é eficaz e conservador. Por outro lado, novas formulações de produtos clareadores e dessensibilizantes vêm

sendo desenvolvidas a fim de minimizar possíveis danos às estruturas dentárias. Os protocolos de clareamento são baseados na utilização de peróxido de hidrogênio como agente ativo, o qual é aplicado diretamente ou então, como subproduto final de reações do peróxido de carbamida ou perborato de sódio6. As alterações pas-

ABO Nac.et-al. Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2010 Galvão, Rev. Avilmar Passos O clareamento dental traz2009/janeiro efeitos colaterais?


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síveis de ocorrer, subsequentes ao clareamento externo e interno, dependem de uma série de aspectos, tais como, tipo e concentração do agente clareador, manuseio, tempo, calor e fonte de luz. Dentre as alterações observadas encontram-se a sensibilidade dentária, a irritação da mucosa, a reabsorção radicular e a carcinogênese 6, 16. As repercussões, advindas do tratamento clareador, foram analisadas em alguns trabalhos clínicos 2, 9-10, 12-14 com o intuito de estabelecer um protocolo de segurança e obter maior conhecimento sobre os mecanismos envolvidos, quando da aplicação dos agentes sobre a estrutura dentária. Por outro lado, as evidências científicas a respeito dos efeitos em longo prazo de tal procedimento, por vezes, revelam-se controversas e diante desse fato, o bom senso leva à busca de concordância entre as informações disponíveis pela literatura. E assim, aliando o saber científico à vivência clínica podem-se delinear respostas ao questionamento: O clareamento dental traz efeitos colaterais? Neste trabalho, foram avaliados estudos clínicos e revisões de literatura que trataram do tema e que expuseram opiniões divergentes ou concordantes sobre os possíveis efeitos indesejáveis e danos aos tecidos dentários. Portanto, constituiu objetivo do presente estudo, analisar tais informações, buscando ressaltar as evidências que possam, embora parcialmente, elucidar a questão e fornecer parâmetros para o profissional em sua atividade clínica. MATERIAL E MÉTODO

Estudos clínicos publicados em inglês, abordando clareamento dental e suas repercussões aos tecidos gengival e dentário, foram previamente selecionados. Além disso, também foram incluídos trabalhos de revisão de literatura e pareceres da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC)11 e do Comitê Científico Europeu (SCCP)15 sobre o assunto, a fim de pontuar a discussão. A pesquisa foi realizada através do site www.ncbi.nlm. nih.gov/PubMed na Biblioteca Interinstitucional Eurydice Pires de Sant’anna (Salvador - BA), unidade integrante da

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Rede de Bibliotecas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). DISCUSSÃO

A preocupação que aflige os profissionais reside no questionamento citado anteriormente e que ainda não está totalmente elucidado. Em verdade, devido à insuficiência de comprovação científica com relação aos efeitos adversos em longo prazo, resultantes do tratamento clareador. Dessa maneira, apesar da impossibilidade de esgotar todos os aspectos que poderiam ser considerados, a literatura consultada fornece uma síntese atualizada das repercussões em curto e médio prazos dos procedimentos clareadores sobre os dentes. Clareamento traz sensibilidade?

De acordo com Tredwin et al.16 (2005), a sensibilidade dentária é uma experiência relatada em 15 a 78% dos pacientes submetidos aos clareamento externo. Em um estudo clínico duplo-cego prospectivo, avaliou-se a técnica caseira de clareamento com peróxido de carbamida 15%, enfocando os relatos de sensibilidade dentária, através de entrevistas com os pacientes por ser considerado o efeito colateral mais comum9. Segundo os autores, 44% dos indivíduos de ambos os grupos, teste e controle, relataram leve sensibilidade. Tal achado é instigante, uma vez que o grupo não experimental recebeu o placebo. A explicação fornecida é que os pacientes submetidos a pesquisas tendem a executar a higiene bucal de forma mais intensa e com isso, aumentam a sensibilidade dos dentes. Interessante a constatação feita por outros autores14 que, após analisarem três marcas distintas de produto clareador para uso caseiro, verificaram que todos produziam algum tipo de sensibilidade. Uma análise de duas técnicas associadas, com o propósito de obter resultados imediatos, foi realizada7. Porém, não foi citada a ocorrência de efeito colateral, talvez em função da amostra delineada não ter apresentado recessão ou sensibilidade prévia. Os autores recomendaram que os pacientes com sensibilidade sejam submetidos a

Rev.et ABO Nac. - Vol. dental 17 nº traz 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 Galvão, Avilmar Passos al. O clareamento efeitos colaterais?

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tratamento, antes do clareamento. Neste estudo, não houve relato de sensibilidade e tampouco foi observado dano à estrutura dentária. Uma pesquisa distinta também verificou a ausência de efeitos danosos aos dentes17, sendo que o tempo de avaliação de 3 meses diferiu em relação ao trabalho anterior que acompanhou os indivíduos por 1 semana. No estudo de Jorgensen e Carroll9 (2002), não há justificativa para o uso do agente clareador na concentração de 15%. Isto está em desacordo com outros trabalhos 2, 12 realizados com peróxido de carbamida a 10%, uma vez que, trata-se de uma técnica convencional e rotineira. Uma avaliação comparativa entre o peróxido de carbamida de 10 e 16% verificou que ambos podem ser efetivos e seguros, se utilizados com cuidado 13. Todavia, experiência de irritação gengival foi mais frequente após uso do produto clareador na concentração de 16%. Soluções de peróxido de carbamida altamente concentradas podem levar a uma intensificação dos efeitos adversos, desde sensibilidade a mudanças térmicas à irritação gengival 13. Importante destacar que, quando a recessão gengival estava presente, a probabilidade de ocorrer a resposta dolorosa era maior, sendo que, com o progresso do tratamento, sobretudo com a aplicação de flúor, a sensibilidade era reduzida9. Sabe-se que o clareamento torna o elemento dentário mais poroso e por isso, a sensibilidade é um fato previsível pela maior abertura dos túbulos dentinários às trocas iônicas do meio. A movimentação dos fluidos através destes canalículos, segundo a Teoria Hidrodinâmica de Bränstrom, ativa os odontoblastos presentes na zona superficial da polpa, levando à sensação de dor. Com a progressão do tratamento, os componentes minerais presentes na saliva e as moléculas de flúor dispensadas pelo enxaguatório ou gel permitem a oclusão dos túbulos e dessa maneira, a sensibilidade dentária é reduzida e eliminada. Além disso, quando moléculas do peróxido de hidrogênio difundem-se pelos túbulos e alcançam as células pulpares localizadas mais superficialmente, estas podem pro-

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duzir enzimas que funcionarão como barreiras e iniciarão uma leve resposta inflamatória, para ativar a defesa local ao agente agressor 2. Clareamento traz necrose pulpar e/ou reabsorção radicular?

Anderson et al.2 (1999), atestaram a inexistência de correlação entre o uso de peróxido de carbamida 10% e dano pulpar permanente. Os autores levantaram questionamentos sobre alterações moleculares no tecido pulpar após a exposição do dente ao peróxido de carbamida, como por exemplo, a expressão de proteína específica nas células pulpares, frente ao estresse oxidativo, a fim de conter os danosos radicais livres. Para isso, aplicaram o sistema clareador em pré-molares quatro horas antes da extração (motivo ortodôntico) e executaram a imuno-histoquímica da polpa destas unidades. Embora metodologicamente tenha sido pertinente, devido ao pequeno tamanho da amostra e dificuldades de interpretação, não foi possível obter achados mais consistentes sobre o mecanismo de resposta da polpa às moléculas do peróxido de hidrogênio. Outros pesquisadores 6 alertaram para o fato de que a concentração do peróxido na câmara pulpar não foi determinada pelos estudos experimentais e, a significância clínica desses achados foi considerada indefinida. A presença ou não de reabsorção radicular cervical, em dentes despolpados clareados de 46 pacientes, foi avaliada em um follow-up de 1 a 8 anos 8. Estes autores verificaram que das 58 unidades dentárias, 4 (7%) apresentaram reabsorção externa. Tal estudo reveste-se de importância ao enfatizar a necessidade da proservação pós-clareamento. Contrariamente, outro estudo não observou, após 3 anos, reabsorção nos 95 dentes submetidos ao clareamento com perborato de sódio em água 10. Este achado também foi verificado por outros pesquisadores 1,3. O mecanismo que leva à reabsorção radicular não está muito claro e há a hipótese de que agentes clareadores sejam capazes de alcançar o tecido periodontal,

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através dos túbulos dentinários, iniciando a reação inflamatória5. Tal explicação possui fundamento, uma vez que o peróxido de hidrogênio possui baixo peso molecular e por isso, tem facilidade de difusão pelo tecido dentário. Além disso, o uso de altas concentrações do produto associado ao calor eleva o risco de ocorrer reabsorções 8. Em face das controvérsias encontradas, em se tratando de dentes despolpados, é prudente dispensar cuidados durante o clareamento interno, valendo-se para isso de recursos como a confecção de barreiras na região cervical, a fim de impedir a difusão das substâncias clareadoras pelos tecidos dentários. Outro procedimento seria a colocação de hidróxido de cálcio como medicação intracoronária, com o propósito de neutralizar as moléculas reativas que, por ventura, permanecerem na intimidade dos tecidos após o tratamento clareador. Clareamento traz genotoxicidade e carcinogenicidade?

O contato direto com peróxido de hidrogênio induz a efeitos genotóxicos em bactérias e células epiteliais em meio de cultura, sendo que na presença de enzimas metabólicas tais alterações eram reduzidas ou abolidas. Por outro lado, testes em animais não revelaram mutagenicidade in vivo 16. Dahl e Pallesen 6 (2003) em sua revisão, concluíram ser o peróxido de hidrogênio um fraco indutor de carcinogênese local. Segundo os autores, o mecanismo não está suficientemente claro, porém não se pode excluir a ação genotóxica, pois radicais livres formados pelo peróxido de hidrogênio são capazes de atingir o DNA, danificando-o. As instituições científicas como o IARC11 (Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer) e o SCCP15 (Comitê Científico Sobre Consumo de Produtos) têm buscado o consenso a respeito do potencial carcinogênico de produtos clareadores, todavia encontram entraves quanto ao conhecimento existente. O IARC11 (1999) concluiu que há limitada evidência em experimentos animais e inadequado

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embasamento nos estudos em humanos para carcinogenicidade do peróxido de hidrogênio. O SCCP15 (2005) considera o protocolo de clareamento seguro desde que os cuidados sejam observados. Porém, alega que não há bons dados clínicos e estudos epidemiológicos em longo prazo que avaliem os possíveis efeitos adversos na cavidade oral. Em linhas gerais, há um forte motivo que explica porque o risco de efeitos adversos não constitui o principal foco no desenho de estudos clínicos sobre o clareamento dental externo4, 6. A dificuldade começa no delineamento da amostra, uma vez que, para avaliar a ocorrência do efeito são necessárias no mínimo 1.000 pessoas. O que se observa é que a maioria dos trabalhos utiliza uma amostra pequena e, muitas vezes, não possuem grupo controle. Diante do exposto, parece razoável supor que o agente clareador utilizado de forma criteriosa provoca mínimos efeitos, os quais se restringem às estruturas dentárias e têm caráter de reversibilidade. Por outro lado, o acompanhamento se faz necessário par prevenir e controlar as possíveis alterações. Infelizmente, existem poucos estudos clínicos que apontem a ocorrência consistente de efeitos decorrentes do clareamento em longo prazo. CONCLUSÃO

Conforme a presente revisão, constatou-se que, no tocante à sensibilidade e à reabsorção radicular as evidências apontam para uma relação entre o clareamento dental e tais patologias. Sobre os prováveis efeitos carcinogênicos, ainda permanece o questionamento decorrente da insuficiência de trabalhos publicados a respeito do tema. Portanto, mais estudos longitudinais clínicos são necessários para buscar respostas e fornecer parâmetros de segurança e confiabilidade das técnicas de clareamento. REFERÊNCIAS 1. Abou-Rass M. Long-term prognosis of intentional endodontics and internal bleaching of tetracycline-stained teeth. Compend Contin Educ Dent. 1998;

ABO Nac.et- Vol. nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010 Galvão,Rev. Avilmar Passos al. O 17 clareamento dental traz efeitos colaterais?


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19:1034-1044. 2. Anderson, DG, Chiego DI, Glickman GN, McCauley LK. A clinical assessment of the effects of 10% carbamide peroxide gel on human pulp tissue. J Endod. 1999;25(4): 247-50. 3. Anitua E, Zabalegui B, Gil J, Gascon F. Internal bleaching of severe tetracycline discolorations: four-year clinical evaluation. Quintessence Int. 1990;21(10): 783-8. 4. Bjerre LM, Le Lorier J. Expressing the magnitude of adverse effects in case-control studies: “the number of patients needed to be treated for one additional patient to be harmed”. BM J. 2000;320(7233):503-6. 5. Cvek M, Lindvall AM. External root resorption following bleaching of pulpless teeth with oxygen peroxide. Endod Dent Traumatol. 1985;1:56-60. 6. Dahl JE, Pallesen U. Tooth bleaching – a critical review of the biological aspects. Crit Rev Oral Biol Med. 2003;14(4):292304. 7. Deliperi S, Bardwell DN, papathanasion A.

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Relato de caso

Microabrasão do esmalte - Tratamento estético conservador Enamel microabrasion – Conservative esthetic procedures Palavras-chave: Esmalte dentário. Microabrasão do esmalte. Fluorose dentária. Key words: Dental enamel. Enamel microabrasion. Fluorosis dental.

Paulo Moreira Vermelho* Maria Fernanda Dezem* Luis Alexandre Maffei Sartini Paullilo** Marcelo Giannini***

RESUMO

A microabrasão do esmalte dentário destina-se à remoção de manchas superficiais do esmalte, associando-se um ácido e um abrasivo. A pasta resultante da combinação entre o ácido e o abrasivo é friccionada sobre a superfície do esmalte visando à remoção das manchas ou das regiões com alteração de cor ou textura. É preconizada máxima preservação do esmalte aliado à estética e em alguns casos pode ser associada às técnicas de clareamento dental ou até aos procedimentos restauradores, quando poucos resultados favoráveis são obtidos com a microabrasão. Este trabalho tem como objetivo descrever casos clínicos favoráveis de microabrasão do esmalte dentário e mostrar limitações clínicas, que pouco respondem ao tratamento. ABSTRACT

The enamel microabrasion is indicated to remove extrinsic stains, using an association of acid and abrasive materials. The mixture of the acid and abrasive components is mechanically applied to the enamel surface in order to remove superficial stains or areas with defects or discolorations. This technique emphasizes conservative dental procedures and esthetic results; however, restorative procedures or dental bleaching are necessary in some cases. The objective of this article was to describe favorable clinical cases of enamel microabrasion, showing the clinical situations on which this technique is not effective. INTRODUÇÃO

Aluno do Curso de Especialização em Dentística Restauradora da Faculdade de Odontologia de Piracicaba; Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp) E-mail: paulovermelho @ig.com.br e dezemmf@hotmail.com ** Professor Titular do Departamento de Odontologia Restauradora da FOP-Unicamp. E-mail: paulillo@fop.unicamp.br *** Professor Associado do Departamento de Odontologia Restauradora da FOP-Unicamp. E-mail: giannini@fop.unicamp.br *

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A primeira proposta de remoção de manchas de dentes pigmentados através da ação de ácidos na superfície dentária foi feita no início do século passado4,12. A partir do uso da associação da ação erosiva de ácidos e agentes abrasivos, técnicas de microabrasão do esmalte começaram a serem divulgadas por muitos autores6-8, 14, 16 A evolução da Odontologia Preventiva com enfoque na promoção de saúde, levou ao declínio das patologias orais, propiciando o interesse pela estética dentária, com ênfase à preservação das estruturas que formam o órgão dentário9, 13. A técnica de microabrasão utilizando ácido clorídrico 10% e pedra-pomes, com 10 aplicações de 5 segundos cada, podem

levar ao desgaste de 160±30 mm da superfície do esmalte17, enquanto, 5 a 10 aplicações de ácido clorídrico a 18% combinado também com pedra-pomes podem remover cerca 100 a 200 mm da espessura do esmalte15. Nos casos mais brandos de fluorose ou de qualquer tipo de manchamento, a microabrasão é suficiente para a remoção das áreas com alteração de cor. Entretanto, nos casos mais severos de fluorose ou de alteração de cor, a associação com procedimentos restauradores ou ao clareamento dental é indicada para recuperação da estética2,11. Assim, o sucesso da microabrasão do esmalte está diretamente relacionado ao correto diagnóstico da alteração de cor e da profundidade das manchas ou das

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Fig. 1 - Aspecto inicial do caso clínico 1. Podem ser observadas as manchas de cor marrom na vestibular do primeiro molar superior

Fig. 2 - Técnica de microabrasão com aplicação da pasta (pedra pomes + ácido clorídrico) utilizando bastão de madeira

Fig. 3 - Resultado final mostrando a remoção dos manchamentos

Fig. 4 - Aspecto inicial do caso clínico 2. Notam-se as áreas esbranquiçadas acometidas pela fluorose nos incisivos e caninos superiores

Fig. 5 - Técnica de microabrasão com aplicação do produto Whiteness RM

Fig. 6 - Resultado final mostrando a remoção dos manchamentos nos incisivos e limitações da técnica nos casos onde as manchas eram mais profundas, como nos caninos

alterações na estrutura do esmalte8. As técnicas de microabrasão têm sido indicadas no tratamento dos problemas estéticos relacionados à hipoplasia, fluorose dentária, a manchamentos extrínsecos, às manchas brancas remineralizadas, onde a descoloração ou alteração de cor sempre está limitada à camada superficial do esmalte10,15,17. As limitações da técnica têm sido relacionadas aos casos cujas áreas envolvidas são profundas, em lesões cariosas ativas, no escurecimento dental após tratamento endodôntico e em casos de manchas por tetraciclina ou amelogênese imperfeita3,11,16,18. Este artigo relata casos clínicos de técnicas de microabrasão do esmalte dentário, discutindo os casos favoráveis e as limitações das técnicas.

realizados com técnica de isolamento absoluto do campo operatório. As áreas adjacentes da cavidade bucal, toda face dos pacientes e suas roupas foram protegidas. Para problemas de contato dos materiais com os tecidos moles foi disponibilizada solução de bicarbonato de sódio e pasta em orabase (Omcilon-A, Bristol-Myers Squibb Farmacêutica, São Paulo, SP, Brasil). Caso 1- Paciente do sexo masculino (40 anos de idade), fumante e com manchas extrínsecas de cor marrom na vestibular dos primeiros molares superiores, as quais não puderam ser removidas com profilaxia utilizando pedra-pomes e tacha de borracha (Figura 1). A microabrasão foi indicada e a técnica utilizada consistiu no uso de uma pasta contendo mistura de ácido clorídrico 18% e pedra-pomes. Apenas uma sessão foi necessária para a remoção satisfatória das manchas. Nessa sessão única, três aplicações da pasta foram realizadas e em cada uma das aplicações, a pasta foi friccionada com espátula de madeira durante 10 segundos sobre os locais com manchamento (Figura 2). Entre cada

aplicação, a pasta era removida com água por 20 segundos e após a microabrasão, o esmalte foi polido com feltro e pasta de diamante (KG Sorensen Ind. Com. Ltda, Barueri, SP, Brasil). O paciente achou o resultado satisfatório, que pode ser observado na Figura 3. Caso 2- Paciente do sexo feminino (23 anos de idade) com manchas características de fluorose dentária que acometia quase todos os dentes. A fluorose foi classificada como suave, porém as manchas e as estrias de cor esbranquiçada e opaca incomodavam a paciente. De acordo com a solicitação da paciente, a microabrasão foi realizada somente no arco superior e nos dentes anteriores. Neste caso clínico foi utilizado o produto Whiteness RM (FGM Prod. Odontol., Joinville, SC, Brasil) em duas sessões de tratamento (Figura 4). O produto foi aplicado na superfície dos dentes e friccionado com espátula de madeira por 10 segundos em cada aplicação (Figura 5). Em cada sessão clínica, quatro aplicações do produto foram realizadas e entre cada uma delas, o material era remo-

RELATO DOS CASOS

Para todos os casos apresentados, os pacientes foram submetidos a um exame clínico inicial para avaliação das condições de saúde bucal, procedimentos de profilaxia e de instruções de higiene oral. Os procedimentos de microabrasão foram

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Fig. 7 - Aspecto inicial do caso clínico 3. Notam-se as áreas com alterações de cor e de textura principalmente no dentes anteriores e superiores

Fig. 8 - Técnica de microabrasão com aplicação da pasta (pedra pomes + ácido fosfórico) utilizando tacha de borracha em baixa rotação

Fig. 9 - Resultado final mostrando a remoção da superfície do esmalte e das áreas acometidas pela fluorose

Fig. 10 - Aplicação da técnica de microabrasão em manchas profundas resultou em pouco sucesso clínico e a indicação de tratamento restaurador para conclusão do caso é necessária

vido com água por 20 segundos. Após a microabrasão, o esmalte foi polido com feltro e pasta de diamante (Diamond Excel, FGM Prod. Odontol., Joinville, SC, Brasil). Nos incisivos, o tratamento foi efetivo, com remoção das estrias e manchamentos esbranquiçados. Como as regiões de alteração de cor nos caninos atingiam regiões profundas do esmalte, principalmente no elemento 23, a microabrasão teve pouco sucesso e apenas amenizou a fluorose (Figura 6). Caso 3- Paciente do sexo feminino (22 anos de idade) com severo acometimento dos dentes principalmente nos elementos dentários anteriores e superiores. A fluorose teve como efeito a formação de regiões brancas e opacas, além de áreas com manchas marrons e defeitos ou porosidades na superfície do esmalte (Figura 7). A técnica de microabrasão indicada foi o uso de uma pasta formada pela mistura de ácido fosfórico a 37% e pedra-pomes, aplicada com tacha de borracha em baixa rotação (Figura 8). Duas sessões foram realizadas e em cada sessão, o material foi

aplicado por três vezes. O uso da tacha de borracha impregnada com a pasta foi feito por 10 segundos em cada dente, seguido de enxágüe com água por 20 segundos. Após a microabrasão, o esmalte foi polido com discos seqüenciais de óxido de alumínio (Soflex, 3M ESPE, Sumaré, SP, Brasil). O resultado final foi adequado de acordo com o grau de acometimento dos dentes pela fluorose. A remoção de uma camada do esmalte para a correção dos defeitos superficiais e das áreas afetadas deixou o dente com a coloração parecida ao substrato dentinário, que se apresenta logo abaixo ao esmalte (Figura 9).

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DISCUSSÃO

Todos os casos clínicos mostraram resultados satisfatórios, independentes do material e da técnica utilizada. Durante os procedimentos observaram-se as vantagens das técnicas de microabrasão, as quais foram constatadas com a conclusão dos casos clínicos. As principais vantagens foram: baixo custo, não causou sensibilidade pós-operatória, danos pulpares ou

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periodontal, foi de fácil execução requerendo pouco tempo de tratamento, não necessitou anestesia, apresentou resultados imediatos e permanentes, com pouca remoção de estrutura do esmalte e sem preparos cavitários. Produtos para microabrasão são comercialmente disponíveis, como o Whiteness RM (FGM Prod. Odontol., Joinville, SC, Brasil), o Opalustre (Ultradent Products Inc., South Jordan, UT, USA) e o Prema (Premier Products Co., Plymouth Meeting, PA, USA). Um caso clínico foi executado com material industrialmente formulado. Esses materiais são geralmente preparados com ácido clorídrico (6,6 a 12%) e carbeto de silício, como abrasivo. Alguns autores preconizam a utilização de misturas de pedra-pomes com ácido clorídrico (10 a 18%) ou com ácido fosfórico (37%), sendo que a última apresenta a vantagem de ser preparada no consultório2,9,10,13. Assim, os materiais para microabrasão variam entre o ácido e o abrasivo selecionados. As técnicas oferecem resultados similares, pois a fricção do abrasivo com ácido e remoção das áreas afetadas depende da pressão aplicada no instrumento que está sendo utilizado para os procedimentos de microabrasão, pois ambos abrasivos (pedra-pomes e carbeto de silício) têm sido descritos com efetivos e recomendados nos diferentes relatos clínicos1-2,4. O caso clínico 1 foi considerado de fácil execução, pois o manchamento de cor marrom estava apenas incorporado na superfície dos dentes molares, de modo extrínseco (Figura 1). O protocolo utilizado (pedra-pomes + ácido clorídrico) foi suficiente para remover as impregnações de cor marrom das vestibulares dos dentes molares superiores (Figura 3). No caso 2, foi diagnosticado fluorose de grau suave, que acometia quase todos os dentes. Manchas e estrias opacas de cor esbranquiçada foram tratadas com o produto Whiteness RM (FGM Prod. Odontol.), em duas sessões clínicas. Nesse caso clínico, a microabrasão foi efetiva e teve sucesso apenas nas regiões onde as alterações no esmalte eram mais superficiais, como nos incisivos e como se

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espera da técnica. Nos caninos, as manchas atingiam regiões profundas do esmalte, que reduziram o efeito da microabrasão, que se limita à remoção da camada superficial do esmalte (Figura 6). No caso clínico 3, a técnica de microabrasão com tacha de borracha foi realizada para uniformizar o desgaste da superfície do esmalte, uma vez que havia porosidades, defeitos e manchamentos de cor marrom, decorrentes de fluorose dentária (Figura 7). Quando se utiliza substâncias ácidas em instrumentos rotatórios, deve-se tomar cuidado com o produto, reduzindo a quantidade de material aplicado e a velocidade de rotação da taça de borracha. Para amenizar os efeitos da fluorose e para remoção das áreas afetadas, foi necessário desgaste um pouco mais acentuado da estrutura do esmalte (Figura 9). A microabrasão é uma técnica de desgaste controlado do esmalte, que expõe uma camada subsuperficial não alterada ou manchada do esmalte dentário. Os manchamentos de cor marrom causados por fluorose estão geralmente confinados no terço mais superficial de esmalte, enquanto, as manchas brancas são na maioria dos casos mais profundas13. O desgaste proporcionado pelas diferentes técnicas é considerado pequeno diante da espessura do esmalte remanescente, principalmente quando são utilizados ácidos fracos. As pastas para microabrasão promovem uma abrasão mecânica feita pelo abrasivo (pedra-pomes ou carbeto de silício) durante sua fricção contra o esmalte, ao mesmo tempo em que ocorre a erosão química do esmalte pelo ácido utilizado. Alguns estudos recomendam que a microabrasão não deve exceder de 12 a 16 aplicações numa mesma sessão. Assim, o tratamento deve ser interrompido, pois se trata de manchas

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profundas e sua remoção poderia resultar em desgaste excessivo do esmalte2,5. Os materiais utilizados nos procedimentos de microabrasão podem remover diferentes quantidades da estrutura do esmalte dentário10,15,17, entretanto, a remoção de 100 mm é suficiente para eliminar as manchas mais superficiais do esmalte. Nos casos onde não é possível o restabelecimento total da estética, pode-se indicar clareamento dentário ou até mesmo tratamento restaurador. A remoção mesmo que parcial das manchas mais profundas pela microabrasão (Figura 10) pode auxiliar na obtenção de resultados restauradores satisfatórios. CONCLUSÃO

O correto diagnóstico da alteração de cor do esmalte é fundamental para o sucesso das técnicas de microabrasão. Diferentes materiais e técnicas podem ser indicados, sem prejuízos para a estrutura dentária e evitando procedimentos mais invasivos, que resultam em maior perda de estrutura dentária. REFERÊNCIAS 1. Alves J, Mondelli J, Sudfeld RH, Sundfeld MLM, Alves JAD. Avaliação microscópica do desgaste superficial do esmalte dental. Efeito da aplicação de diferentes pastas microabrasivas. JBD Rev Ibero-Am Odontol Estet Dentística. 2004;3(10):142-53. 2. Baratieri LN, Monteiro Jr S, Andrada MAC, Vieira LCC. Clareamento dental. 3a ed. São Paulo: Santos; 1995. 3. Bodden MK, Haywood VB. Treatment of endemic fluorosis and tetracycline staining with microabrasion and nightguard vital bleaching: a case report. Quintessence Int. 2003;34(2):87-91. 4. Cremonese RV, Samuel SMW. O que é preciso saber sobre microabrasão. Rev Fac Odontol Porto Alegre. 2001;47(2):3-7. 5. Croll TP. Enamel microabrasion: the technique. Quintessence Int. 1989;20(6): 395-400.

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6. Croll TP, Cavanaugh RR. Hydrocloric acidpumice enamel surface abrasion for color modifications: results after six months. Quintessence Inter. 1986;17(6):335-41. 7. McCloskey RJ. A technique for removal of fluorosis stains. J Am Dent Assoc. 1984; 109(7):63-4. 8. McEvoy SA. Chemical agents for removing intrinsic stains from vital teeth. I. Technique development. Quintessence Int. 1989;20 (5):323-8. 9. Matos AB, Turbino ML, Matson E. Efeito das técnicas de microabrasão no esmalte: estudo em microscopia eletrônica de varredura. Rev Odontol Univ São Paulo.1998; 12(2):105-11. 10. Mendes RF, Mondelli J, Freitas CA. Avaliação da quantidade de desgaste do esmalte dentário submetido à microabrasão. Rev Fac Odontol Bauru. 1999;7(1/2):35-40. 11. Mondelli RFL, Silva e Souza Jr MH, Carvalho RM. Microabrasão do esmalte. 2a ed. São Paulo: Santos; 2003. 12. Price RBT, Loney RW, Doyle G, Moulding MB. Avaliação de uma técnica para remover manchas dentárias usando microabrasão. J Am Dent Assoc–Brasil.2003;6(4):205-10. 13. Rastelli ANS, Pereira SK. Microabrasão – uma possibilidade estética e conservadora. Rev Paul Odontol. 1998;20(4):8-10. 14. Rosenthaler H, Randel H. Rotatory reduction, enamel microabrasion and dental bleaching for tooth color improvement. Compend Contin Educ Dent. 1998;19(1):62-7. 15. Sundfeld RH, Croll TP, Killian CM. Recuperação do sorriso – a comprovação da eficiência e versatilidade da técnica da microabrasão do esmalte dental. JBD Rev Ibero-Am Odontol Estet Dentística. 2002;1 (1):77-86. 16. Sundfeld RH, Komatsu J, Russo M, Holland Junior C, Castro MAM, Quintella LPAS, et al. Remoção de manchas no esmalte dental. Estudo clínico e microscópico. Rev Bras Odontol. 1990;47(3):29-34. 17. Tong LS, Pang MK, Mok NY, King NM, Wei SH. The effects of etching, microabrasion, and bleaching on surface enamel. J Dent Res. 1993;72(1):67-71. 18. Wray A, Welbury R. UK National Clinical Guidelines in Paediatric Dentistry: Treatment of intrinsic discoloration in permanent anterior teeth in children and adolescents. Int J Paediatr Dent. 2001;11(4):309-15.

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Relato de caso

Tratamento de cárie precoce na infância em um paciente cardíaco: Uma abordagem minimamente invasiva Treatment of earlier childhood caries in a child: A minimally invasive approach Palavras-chaves: Cárie dentária/prevenção & controle. Fluor/uso terapêutico. Remineralização dentária. Cardiopatias congênitas. Endocardite bacteriana/prevenção & controle. Key words: Dental caries/prevention &control. Florine/therapeutic use. Tooth remineralization. Heart defects,congenital. Endocarditis, bacterial/prevention & control.

Maria Dânia Holanda Tenório* Milton Fernando de Andrade Silva** Diene Maria Holanda Tenório***

RESUMO

Este artigo apresenta um caso de cárie precoce na infância e acompanhamento por quatro anos em uma criança com comprometimento cardíaco. O uso de estratégias preventivas simples tais como, orientação de higiene bucal, polimento das áreas retentivas de alimentos e placa dentária, aplicação de selante oclusal e flúor foram as medidas terapêuticas tomadas. Estas medidas são efetivas e podem prevenir dor e estresse causados pelo tratamento dentário convencional. Após quatro anos o processo de cárie foi controlado, as lesões iniciais remineralizadas e o paciente iniciando a fase de dentição mista em perfeitas condições. Assim, pode-se concluir que é possível oferecer tratamento dental para crianças, mesmo com o tipo 3 de cárie precoce e doença cardíaca. Acredita-se que, usando técnicas não invasivas e preventivas, também se reduz o risco à endocardite bacteriana. ABSTRACT

This paper presents a 4-year-follow-up case of earlier childhood caries in a cardiac compromised child. The use of simple preventive strategies, such as oral hygiene orientation, polishing of food and plaque retentive areas, fluoride applications and occlusal sealant were measures undertaken. These strategies are effective and can prevent pain and stress caused by the conventional dental treatment. After 4 years the caries process was controlled, the initial lesions were remineralized and the patient entered the mixed dentition phase in good condition. The authors concluded that, it is a possible to provide dental treatment for children, even with type 3 early childhood caries and cardiac disease. We believe that by using non-invasive and preventive techniques, the risk of bacterial endocarditis is also reduced. INTRODUÇÃO

Professora Adjunta da Disciplina de Odontopediatria, Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Alagoas-Brasil (Ufal). Email: daniaholanda@hotmail.com ** Professor Adjunto da Disciplina de Cariologia, Departamento de Odontologia da Ufal. *** Professora Adjunta do Departamento de Morfologia da Ufal. *

A cárie precoce é um problema que afeta crianças, em muitas partes do mundo e incluem condições clínicas significantes, que variam de um dente com cárie crônica até grandes destruições dentais. Casos de cárie precoce na infância podem ser classificados como, tipo I (baixo a moderado) tipo II (moderado a severo) e tipo III (severo)29. Sua etiologia inclui vários fatores de riscos biológicos24, psi-

cossociais e comportamentais20. Contudo, todos os três tipos de cárie precoce parecem mostrar características comuns tais como: pobre higiene bucal e frequente uso de alimentos cariogênicos1,8,22. Por outro lado, como as crianças cardíacas estão mais susceptíveis à endocardite bacteriana, isto as distinguem em uma classe de pacientes especiais15. A endocardite bacteriana é uma condição que coloca a vida do paciente em risco, por ser

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Fig. 1a - Paciente aos 18 meses de idade mostrando a cicatriz da cirurgia para correção dos defeitos cardíacos

Fig. 1b - Superfícies vestibulares dos incisivos superiores e inferiores com manchas brancas opacas e rugosas, lesões erosivas e cavidades envolvendo dentina

Fig. 1c - Primeiro molar decíduo inferior direito 84, mostrando danos extensos ao esmalte na superfície vestibular e uma cavidade disto-oclusal

Fig. 2a - Paciente após 6 meses de tratamento,aos 2 anos de idade, mostrando um controle das lesões vestibulares dos incisivos superiores e inferiores

Fig. 2b - Paciente após 6 meses de tratamento,aos 2 anos de idade, mostrando um controle das lesões vestibulares dos dentes da região direita

Fig. 2c - Paciente após 6 meses de tratamento,aos 2 anos de idade, mostrando um controle das lesões vestibulares dos dentes da região esquerda

causada, em 50% dos casos, por Streptococci (Streptococcus mitis, sanguis, mutans, e Streptococcus intermedius), em 30% dos casos por Enterococci e Staphyilococcus aureus, e entre outras bactérias, em torno de 5% delas estão em cultura negativa16. Negligência dos cuidados bucais tem sido relatada em crianças com doenças cardíacas. Assim, foi mostrado que ambulatórios e hospitais não costumavam oferecer a seus pacientes, educação para a saúde bucal e exames odontológicos de rotina17. Entre as crianças com doença cardíaca congênita, do Departamento de Cardiologia Pediátrica em Nancy-França, os episódios de endocardite bacteriana, quando de origem dentária, estavam frequentemente ligados a pouca saúde bucal, tratamentos inadequados e à falta de profilaxia antibiótica9. Resultados efetivos no tratamento de cárie incipiente podem requerer simples procedimentos instituídos na dentística operatória2,13. Assim, a adoção de medidas preventivas e o acompanhamento do paci-

ente, podem ser muito importantes para controlar a doença cárie e as gengivites, em pacientes cardíacos jovens. Neste trabalho, apresenta-se um caso de uma criança cardíaca congênita, que apesar de danos extensos nos dentes, foi tratada com terapia preventiva simples e minimamente invasiva.

insuficiência cardíaca, a qual exigiu que fosse removida para a Unidade de Terapia Intensiva. Aos dois meses de idade, a criança apresentava, ainda, um cansaço intenso. Foram prescritos: um digital (Digoxina- xarope) e um diurético (Furosemide- líquido). O ecocardiograma mostrou um defeito no septo atriovetricular. Este defeito foi classificado como do tipo A de Rastelli (Comunicação Interatrial, Comunicação Intraventricular e única válvula atrioventricular). Em torno de 5 meses, a criança foi submetida à cirurgia cardíaca, cuja cicatriz pode ser observada na Figura 1a. Durante a cirurgia foram encontrados também, defeito no septo atrioventricular com dois sistemas de válvulas, múltiplas comunicações intraventriculares e defeito do septo interatrial tipo “ostium primum”.Todos os defeitos foram corrigidos e o pós-operatório foi excelente. Avaliações clinicas e ecocardiográficas posteriores evidenciaram discreta insuficiência mitral (refluxo discreto), provavelmente, devido ao déficit do tecido valvar mitral.

CASO CLÍNICO

Os pais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo o trabalho aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFAL. O paciente, M. V. A., sexo masculino, com 18 meses de idade, veio acompanhado por seus pais, à clínica de Odontopediatria - UFAL, para o seu primeiro exame. Seus pais estavam preocupados com algumas lesões de manchas brancas e uma cavidade. A história médica mostrou que a criança nasceu de parto cesariana, com peso e altura normais. Foi diagnosticado pelo pediatra um desconforto respiratório, assim como um pé equinovaro (pé torto). O desconforto respiratório foi devido à

ABOetNac. - Vol. 17 de nº cárie 6 - Dezembro 2010 Tenório, Maria DâniaRev. Holanda al. Tratamento precoce na2009/janeiro infância em um paciente cardíaco: Uma abordagem minimamente invasiva

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Fig. 3a - Incisivos centrais inferiores permanentes em erupção, aos 5 anos de idade

Fig. 3b - Lesões remineralizadas das superfícies vestibulares dos dentes da região direita

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mento de dieta, assim como realizadas profilaxias e aplicações tópicas de flúor. As Figuras 2a, 2b, e 2c mostram o progresso do tratamento. Após o terceiro ano foi realizada somente uma profilaxia e a aplicação tópica de flúor. As Figuras 3a à 3d mostram a dentição do paciente no final do quarto ano de acompanhamento. Notar que, todas as lesões vestibulares aparecem remineralizadas, com uma cor brilhante e dura ao toque; os dentes permanentes estão iniciando a erupção e o selante aplicado no 84 permaneceu intacto. Somente um evento clínico adicional de gengivite marginal foi observado entre o canino e o primeiro molar superior direito. DISCUSSÃO

Fig. 3c - Lesões remineralizadas das superfícies vestibulares dos dentes da região esquerda

Fig. 3d - Após 4 anos de tratamento minimamente invasivo notar o aspecto do selante no 84 e a superfície oclusal hígida no 85

Aos nove meses, o paciente parou de tomar a Furosemide, porém a Digoxina continuou até os dois anos de idade, época também em que foi descontinuada a amamentação no seio materno. A erupção dos dentes iniciou, normalmente, no sétimo mês de vida, porém os pais não receberam nem instruções de higiene bucal, nem indicação dos problemas que os medicamentos açucarados, os maus hábitos dietéticos e a falta de higiene pudessem causar aos dentes erupcionados e à saúde da criança. Apesar da história cirúrgica, o paciente foi muito cooperativo e ao exame clínico dentário apresentou placa dental abundante em todos os dentes. As superfícies vestibulares dos incisivos superiores e inferiores apresentavam manchas brancas opacas e rugosas, assim como, lesões erosivas e cavidades envolvendo dentina (Figura 1b). Havia também, uma cavidade envolvendo esmalte e dentina no sulco disto oclusal do primeiro molar inferior direito (84) e lesões erosivas em sua superfície vestibular (Figura 1c). Foi instituído um programa preventivo intensivo de cárie. Na primeira consulta foi realizada uma profilaxia. Todas as

superfícies foram polidas com a ponta tipo Shofu no 241(Shofu Dental Co.,Japão) e aplicado o verniz fluoretado (Fluorniz,SS White,Brasil). Durante a visita seguinte foi removida a dentina cariada do sulco distal do 84 com cureta e restaurado apenas com selante oclusal (Delton- Caulk/ Dentistplay,Brasil). Uma vez por semana, durante as 4 semanas seguintes, o paciente recebeu completa profilaxia dentária e, em seguida, uma aplicação de flúor fosfatoacidulado, gel. Durante estas visitas os pais receberam instruções sobre dieta e higiene bucal. As instruções envolveram teoria e prática de escovação, uso de fio dental e a necessidade de limpeza dental antes da criança dormir. Instruções de dieta foram enfatizadas para disciplinar a criança sobre a ingestão de alimentos, inclusive recomendações para evitar alimentá-la quando estivesse dormindo. Após as quatro semanas o paciente retornou à clínica de Odontopediatria duas vezes a cada 15 dias, durante os próximos meses do primeiro ano; no segundo ano, em intervalos trimestrais; e, nos dois anos seguintes, os retornos foram semestrais. Nestas ocasiões, eram reforçadas todas a instruções de higiene bucal e aconselha-

Um ponto que chama a atenção no caso relatado, é que cardiologistas e pediatras não examinaram a boca da criança. Durante a erupção dos primeiros dentes, a simples indicação de um odontopediatra, poderia ser suficiente para prevenir os danos causados aos dentes do paciente. O controle de placa deveria ser obrigatório por causa do risco em desenvolver endocardite bacteriana. Esta situação não é diferente da relatada em outros trabalhos, como foi observado por Franco et al.10 (1996), que pacientes cardíacos apresentavam frequentemente uma alta prevalência de cárie e um grande número de cavidades não tratadas. Ao examinarem 60 crianças com cardiopatias congênitas em dois hospitais de Londres, foi mostrado que, 18% destes nunca haviam visitado o cirurgião-dentista, e que, apresentavam uma prevalência de cárie mais elevada do que o grupo controle, composto de crianças normais23. Na Carolina do Sul – USA, entre 209 crianças cardiopatas, 175 tinham algum tipo de doença bucal, 60 com cárie dentária, 6 com abscesso dentário, 3 com abscesso periodontal e 5 apresentavam pericoronarite12.Todas essas patologias podem ter a participação de Streptococcus e/ou Staphyilococcus. O fato torna-se ainda mais grave, porque estas crianças foram submetidas a cirurgias cardíacas, onde procedimentos como a intu-

ABO Nac. cardíaco: - Vol. 17Uma nº 6 abordagem - Dezembro 2009/janeiro 2010 Tenório, em um paciente minimamente invasiva 378 Maria Dânia Holanda et al. Tratamento de cárie precoce na infânciaRev.


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bação orotraqueal pode levar a bacteremia transitória. A doença cardíaca per si não é fator etiológico da cárie dentária ou de outras doenças bucais, contudo, dois fatores ocorreram para a formação de cárie precoce no paciente: a amamentação materna até aos dois anos de idade e a ingestão de medicamentos, especialmente os açucarados21, os quais na ausência de higiene bucal, podem contribuir para o acúmulo de placa dentária cariogênica1,8,22 , como também para aumentar a população de microrganismos causadores da endocardite bacteriana16. O uso de medicamentos adoçados pode produzir um pH muito baixo na placa dentária11,26. Um exemplo é a Digoxina, usada neste caso, até aos 2 anos de idade. Tal droga desencadeia um duplo papel na etiologia da cárie dentária: 1) tem um alto conteúdo de açúcar e pode levar a queda de pH na placa dentária; 2) pode reduzir o fluxo salivar. Logo, quando ingerido à noite e na ausência de higiene bucal, pode levar ao acúmulo de placa e lesões de cárie dentária. Assim, existiu a necessidade de um programa educativo, para mostrar aos pais, o perigo de medicamentos e alimentos baseados em açúcar e evitar o estabelecimento de maus hábitos bucais. Evitar que estes pacientes desenvolvam doenças bucais é relativamente simples. Visitas ao odontopediatra e cuidados com a higiene bucal devem ser instituídos, o mais cedo possível, para que o paciente seja monitorado e tratado com medidas apropriadas, evitando assim, os primeiros sinais de cárie dentária ou qualquer outra patologia. Contudo, neste caso de cárie precoce, os procedimentos executados tais como, polimento das áreas retentivas de alimentos e placa dentária, uma boa higiene bucal e fluorterapia, foram de grande importância e evitaram a dentística operatória. Isto tem suporte pelo fato de que o flúor e a higiene bucal podem reverter lesões de manchas brancas28, assim como, profilaxias em intervalos quinzenais a bimestrais, podem reduzir a incidência de cárie em níveis próximos de zero4-5. A fluorterapia poderia ser iniciada com verniz fluoretado ou com flúor fosfato-

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acidulado na forma de gel; ambos são veículos de alta concentração de flúor30. No entanto, na primeira consulta, o verniz foi escolhido, por ser aplicado facilmente, bem aceito por crianças pequenas, ter menor risco de ingestão acidental e liberar flúor na superfície dentária por longos períodos18. Alem disso, resultados clínicos têm mostrado que o verniz com flúor, pode produzir uma redução de cárie entre 50 a 70%6,19,25 e, em um estudo realizado em uma comunidade com alto risco de cárie, a aplicação bianual reduziu em 37%30. Durante as consultas subsequentes o comportamento cooperativo do paciente permitiu o uso do flúor gel. O flúor é importante, na remineralização e inativação de lesões de cárie, porque este halogênio, satura o ambiente dental concernente ao cálcio e ao fosfato, mesmo em condições de baixo pH14, bloqueando a dissolução cristalina do esmalte quase completamente3,27. Recentemente, foi relatado que a falta de higiene bucal e exposição aos dentifrícios fluoretados, em crianças pequenas, podem contribuir para a instalação de cárie precoce7. Somente um procedimento restaurador foi realizado, no primeiro molar inferior direito (84), utilizando a técnica restauradora atraumática (ART) e o selante oclusal. Esta decisão foi baseada na possibilidade de evitar-se dor e estresse da anestesia e da broca. Assim, foi removido o tecido infectado e restabelecida a função dental. Os outros primeiros molares decíduos estavam hígidos e não necessitaram de qualquer intervenção, nem mesmo da aplicação de selante. Estes procedimentos permitiram que os segundos molares decíduos erupcionassem em um ambiente bucal saudável. Nenhuma lesão de cárie foi observada durante estes quatro anos. Atualmente, o paciente retorna à clínica de Odontopediatria uma vez por ano para profilaxia e aplicação tópica de flúor. CONCLUSÃO

Assim, pode-se concluir que é possível oferecer tratamento dentário para crianças, mesmo com o tipo 3 de cárie preco-

ce e doença cardíaca. Acredita-se que, usando técnicas não invasivas e preventivas também se reduz o risco à endocardite bacteriana. REFERÊNCIAS 1. Al Ghanin NA. Adenubi JA, Wyne AK. Khan NB. Caries prediction model in preschool children in Riyadh, Saudi Arabia, Int J Ped Dent 1998;8:115-22. 2. Amore R, Bálsamo M, Dias NF, Rodrigues RJ. Tratamento da doença cárie. JBC J Bras Clin Estet Odontol. 4:28-31. 3. Arends J, Christoffersen J. The nature of early carious lesions in enamel. J Dent Res. 1986;65:2-11. 4. Axelsson P, Lindhe J. The effect of a preventive programme on dental plaque, gingivitis and caries in schoolchildren. Results after one and two years.J Clin Periodontol.1974;1:126-38. 5. Bellini HT, Arneberg P, Fehr FR von der. Oral hygiene and caries: a review. Acta Odontol. Scand. 1981;39:257-65. 6. Bruyn H de, Arends J. Fluoride varnishes.J Biol Buccale. 1987;15:71-82. 7. Cariño KMG, Shinada K, Kawaguchi Y. Early childhood caries in northern Philippines. Community Dent Oral Epidemiol. 2003; 31:81-9. 8. Dini EL. Holt RD, Bedi R. Caries and its association with infant feeding oral healthrelated behaviours in 3-4-year-old Brazilian children. Community Dent Oral Epidemiol. 2000; 28:241-8. 9. Droz D, Koch L, Lenain A, Michalski H. Bacterial endocarditis. result of a survey in a children’s hospital in France. Br Dent J.1997;183:101-5. 10. Franco E, Saunders CP, Roberts GJ, Suwanprasit A. Dental disease, caries related microflora and salivary IgA of children with severe congenital cardiac disease: an epidemiological and oral microbial survey. Pediatr Dent.1996;18:228-35. 11. Guimarães LTJA, Silva AMF. Dental caries in children with respiratory tract diseases and allergy (Laboratory of Preventive Dentistry. Federal University of AlagoasBrasil). J Dent Res. 1999;78:248. 12. Hayes PA, Fasules J. Dental screening of pediatric cardiac surgical patients. ASDC J Dent Child. 2001;68:255-8,228-9. 13. Krasse B. Risco de cárie 2ª ed. São Paulo: Quintessence.1988;69-73 14. Larsen MJ, Bruun C. Caries chemistry and fluoride - Mechanism of action. In: Thylstrup A, Fejerskov AO. Textbook of cariology. Copenhagen; Munksgaard; 1994.p.245-52. 15. Lemay S, Grenier D, Mercier LA. Patients with heart valve prostheses: dental care, dental procedures and prevention. J Can

ABOetNac. - Vol. 17 de nº cárie 6 - Dezembro 2010 Tenório, Maria DâniaRev. Holanda al. Tratamento precoce na2009/janeiro infância em um paciente cardíaco: Uma abordagem minimamente invasiva

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Vol. 17 nº 6 - Dezembro 2009/janeiro 2010

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ABO Nac. cardíaco: - Vol. 17Uma nº 6 abordagem - Dezembro 2009/janeiro 2010 380 Maria Dânia Holanda et al. Tratamento de cárie precoce na infânciaRev. Tenório, em um paciente minimamente invasiva


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Highlights

FDI’2010 apresenta programação científica hamando a atenção para a necessidade de se ter a saúde bucal como preocupação urgente nas agendas políticas das lideranças mundiais, o Congresso Mundial Anual de Odontologia da FDI de 2010, que acontece entre os dias 2 e 5 de setembro, em Salvador (BA), adotou como tema Saúde Oral para Todos – Desafios e Soluções. Os milhares de participantes esperados terão à sua disposição cerca de 100 atividades científicas, que já podem ser conferidas no Portal ABO (www.abo.org.br). Além da saúde oral pública e da educação em

C Centro de Convenções da Bahia, local do evento

saúde, a programação do evento explora os avançados da Odontologia clínica, da formação acadêmica e da pesquisa científica. Os conferencistas vêm de todas as regiões do Brasil e de países como Holanda, Tailândia, China, EUA, Reino Unido, Argentina, Uruguai, Itália, Alemanha, Suécia, Peru, França, Japão, Índia, Canadá, Nova Zelândia, República Dominicana, Suíça e África do Sul. Confira alguns destaques da programação científica do FDI’Salvador’2010, e acesse a íntegra das atividades no Portal ABO (www.abo.org):

Brasil Sorridente - Um Modelo para Promoção da Saúde Dental Gilberto Alfredo Pucca Júnior, Brasil

Diagnósticos e Tratamentos Modernos para Disfunções de ATM Raúl Riva, Uruguai

Efeitos da Perda de Elementos Dentais na Auto-confiança e Qualidade de Vida Carlos E. Francischone, Brasil

Abordagem Farmacológica em Disfunções de ATM Art Jeske, EUA

Resinas Compostas de Classe Internacional - O Estado da Arte Martin Kelleher, Reino Unido

Estética de Nível Internacional - Análise do Sorriso Mauro Fradeani, Itália

Avanços Tecnológicos, na Microbiologia e Ciência dos Materiais Endodônticos Fernando Goldberg, Argentina

Laser na Odontologia Clínica Contemporânea Carlos de Paula Eduardo, Brasil

É Melhor Tratar o Dente com Patologia ou Preservar a Saúde do Osso Alveolar? Um Paradigma Ético Marjorie Jeffcoat, EUA Soluções Protéticas para Maxilares Atróficos Lyndon Cooper, EUA

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O Impacto de Novas Tecnologias no Resultado de Tratamentos Endodônticos Jose Maria Heredia Bonetti, República Dominicana Syngcuk Kim, EUA

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Highlights

O Protocolo do Instituto Branemark A Prótese Fixa sobre Implantes, com Alcance Social Israel Chilvarquer, Brasil Eurípedes Vedovato, Brasil Hugo Nary Filho, Brasil Manipulação de Tecidos Moles para Estética Peri-implantar Rino Burkhardt, Suíça Estética de Nível Internacional - Restaurações Invisíveis Martin Kelleher, Reino Unido Luiz Narciso Baratieri, Brasil

Pacientes Edêntulos: Tratamentos Alternativos Fraser McCord, Reino Unido Luis Felipe Jimenez, Chile Luciano de Castellucci, Brasil

Planejando para o Sucesso na Prática Odontológica Moderna William Cheung, Hong Kong Diagnóstico e Avaliação de Cáries: Um Novo Paradigma Global Yvonne Aparecida de Paiva Buischi, Brasil Fluoretos na Prática Clínica e em Cuidados Domésticos Jaime Cury, Brasil Endodontia - Atualização da Microbiologia em Infecções de Canais Radiculares Carlos Estrela, Brasil Diagnóstico e Terapia da Halitose Getulio da Rocha Nogueira Filho, Brasil Stephen Porter, Reino Unido Desenvolvimentos de Última Geração em Prótese Sobre Implantes Luigi Canullo, Itália

Alex Mersel, Israel

Planejamento: A Chave para o Tratamento Estético em Implantodontia Laércio Wonhrath Vasconcelos, Brasil

Implantes Tipo Plataforma Switch Ampliada - Acompanhamento Clínico de Longo Prazo Luigi Canullo, Itália

Abordagem do Paciente em Odontopediatria - Uma Visão Atual Baseada em Evidências Franklin Garcia Godoy, EUA

Odontologia do Futuro: Você está Pronto? Bob Ten Cate, Holanda

Diagnóstico e Tratamento de Pacientes com Periodontia Grave Kim, Ti-Sun, Alemanha

Saúde Oral ao Redor do Mundo: Desafios e Soluções Prathip Phantumvanit, Tailândia

Engenharia Tecidual na Prática Odontológica Atual Michel Goldberg, França

Cursos Pré-congresso: 1º de setembro

- Bases Biológicas para a Cir urgia Periodontal - Arthur Belém Novaes Jr. e Mauricio Guimarães Araujo/Brasil; Estética de Nível Internacional -Análise do Sorriso - Mauro Fradeani/Itália; Laser na Odontologia Clínica Contemporânea - Carlos de Paula Eduardo/Brasil; O Impacto de Novas Tecnologias no Resultado de Tratamentos Endodônticos - Syngcuk Kim/EUA e Jose Maria Heredia Bonetti/República Dominicana; Terapias Estéticas com Implantes Dentais: Protocolos Clínicos - Paulo Maló/Portugal e Carlos E. Francischone/Brasil; O Protocolo do Instituto Branemark: A Prótese Fixa sobre Implantes, com Alcance Social - Israel Chilvarquer, Hugo Nary Filho e Eurípedes Vedovato/Brasil; Manipulação de Tecidos Moles para Estética Peri-implantar - Rino Burkhardt/Suíça; Estética de Nível Internacional - Restaurações Invisíveis - Luiz Narciso Baratieri/Brasil e Martin Kelleher/Reino Unido; Restaurações Estéticas: Simplificando Conceitos e Otimizando Resultados - Marco Masioli e Claudio Pinho Costa/Brasil; Pacientes Edêntulos: Tratamentos Alternativos - Fraser McCord/Reino Unido, Luis Felipe Jimenez/Chile, Luciano de Castellucci/Brasil e Alex Mersel/ Israel; Importância da Superfície do Implante para o Sucesso Clínico – Revisão Crítica - Luiz Duarte Meirelles/Brasil; Implante Plataforma Switch Ampliada: Acompanhamento Clínico de Longo Prazo - Luigi Canullo, Itália.

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JUNHO ABO Pará

MARÇO ABO Pernambuco IX Congresso Internacional de Odontologia da Amazônia 3 a 6 de junho Belém – PA Informação: (+91) 3276.0500 agmaneschy@amazon.com.br www.abopa.org.br XX Congresso Pernambucano de Odontologia 25 a 28 de março Recife - PE Informação: (+81) 3441.0678 scdp@hotlink.com.br www.abo-pe.org

JULHO ABO Rio Grande do Sul

MAIO ABO Piauí

V Congresso Internacional de Odontologia do Piauí 27 a 30 de maio Teresina – PI Informação: (+86) 3221.9374 abopi@uol.com.br

2010, ano do FDI’Salvador

XVIII Congresso Odontológico Rio-grandense 14 a 17 de julho Porto Alegre - RS Informação: (+51) 3330.8866 eventos.abo@terra.com.br www.abors.org.br

Um congresso que vale por muitos. Trata-se do FDI’2010, que acontecerá em Salvador, Bahia, trazendo para o Brasil a sede internacional da Odontologia no período de 2 a 5 de setembro deste ano. Para concentrar forças e maximizar a participação, a ABO tomou a decisão de concentrar seus congressos do Calendário Oficial apenas no primeiro semestre de 2010.

Informações: www.fdiwordental.org/ microsites/salvador/ congress1.html

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Chicago (EUA)

Chicago Dental Society Midwinter Meeting 25 a 27 de fevereiro Local: Chicago (EUA) Informações: www.cds.org

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International Dental Exhibition and Meeting 16 a 18 de abril Local: Cingapura (Ásia) Informações: www.idemsingapore.com

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Dubai (Emirados Árabes)

AEEDC International Dental Conference & Arab Dental Exhibition 9 a 11 de março Local: Dubai (Emirados Árabes) Informações: www.aeedc.com

Gramado (Brasil) Colaob 2010 6º Congresso Latinoamericano de Órgãos Artificiais e Biomateriais 17 a 20 de agosto Local: Gramado (Rio Grande do Sul - Brasil) Informações: www.ufrgs.br/ colaob2010

Um congresso que vale por muitos. Trata-se do FDI’2010, que acontecerá em Salvador, Bahia, trazendo para o Brasil a sede internacional da Odontologia no período de 2 a 5 de setembro deste ano. A programação científica já está disponível no site da FDI.

Orlando (EUA) ADA’ 2010 151ª Annual Session - ADA 9 a 12 de outubro Local: Orlando (EUA) Informação: www.ada.org

Informações: www.fdiwordental.org/ microsites/salvador/ congress1.html

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