PALAVRAS SOLTAS Ana Luar
Rasgo de mim todas as palavra inúteis, palavras que são um chicote enraivecido na perdição de tudo o que sou. Sei que é cobardia quando me resigno em palavras fáceis, como se fossem asas com as quais escrevo no tempo, tudo o que me vai por dentro. Não sei nem nunca soube, criar bolhas de ar dentro da escrita, sei que o respirar e o abrandar das palavras se fazem com um sentido lógico mas não respiro propositadamente porque acredito que as palavras de um só tempo se devem beber de um só trago e lidas num só fôlego. Não sei se me percebem se me faço entender se escrevo bem ou mal.... Não me preocupo!!!... Escrevo para enganar a ira que se inclina para o meu sentir, ou o desejo louco e sofrêgo da aquisição de um lugar ao sol nesse mundo ilusório onde a paz reina, empunhando como ceptro, uma caneta antiga que verte no branco de uma página vazia pensamentos que só ao silêncio, consegue confiar. Embrulho-me na pouca sabedoria de vírgulas mal configuradas e de pontos finais que não se deitam na cama certa, mas no fim saio sempre premiada pela brisa desse entardecer lento que me diz que sou uma felizarda por viver um novo dia... quando para isso me bastou abrir os olhos pela manhã.
Tenho a idade certa para escrever com o corpo, memórias de um tempo que teima ficar-me por dentro. Um tempo de rasgos vermelhos, em que sem pudor, a minha mão conduz a tua nas doces curvas da contemplação, onde me cedo e me nego na agonia do que quero e do que não permito. Para ti danço com ambas as mãos, numa viagem inaugural. Não quero o silêncio, quero reaprender as palavras da paixão, reaprender a guardar nelas o que resta dos beijos que sempre me desalinharam os sentidos. Não desistas, porque não te quero suspenso. Quero-te táctil, tenso, retido no acento vulnerável de sílabas inacabadas que sussurras ao meu ouvido, quando adormeço sobre o teu peito. Este é o início perene do nosso entendimento. Nada de lençóis arrumados á pressa, não quero um espaço construído no vazio do medo, quero apenas tudo o que poderia querer alguém que ama. Não és mais um rosto... Nem mais um corpo na minha cama... Tu és, tu! Aquele que me permite ser quem sou... Quem eu gosto de ser, deixando-me despertar amuada, colocando no meu colo um repasto feito de amor e um sorriso que acompanha a mão, afagando o beijo que nela deposito.
Julgas-me uma errante, uma caminhante do nada por não ter crença nem fé, Julgas mal, e esse foi o maior pecado da tua crença sobre mim. Dizes que sou incrédula no meu caminhar, quando sonho com um novo mundo e acredito num regressar. Julgas conhecer-me quando de mim só conheces o calor de minha boca.…Proximidade que as tuas palavras gritam queimar ainda na tua pele. Imaginaste-me intocável, quando eu não suporto deusas nem altares! Querias-me?!!.... Tocasses-me ( limitas-te a adorar-me)... agora é tarde, não moro mais aqui . Fui, despojei-me de tudo o que pensei ser teu. Não ficou fé nem crença que me salvem desta luta que travei com estepes sagradas de alguns desertos ocultos. Se me escondo? NÃO… ainda não morri, ainda trouxe comigo um espólio de prata que guardo nos armários do tempo. A sua inutilidade opõe-se às razões de caminhos percorridos em vão, mantendo o meu andar firme perante alguns passos que me atraiem. Vai, segue o teu caminho ... não me tomes por desgraçada, na minha crença sei que atrás de uma estrada existe um beco… Atrás de um beco uma luz… A par com a luz, uma justificativa que motive uma escolha que faça todo o sentido no momento final. De uma vez por todas........ Vai!
Entreguei-me a uma nudez sem prazo Caminhando nua no limbo das sensações carnais. ......Quero-te............. .......................Desejo-te.......... ........................................Seduzo-te Sinto a fome, de quem ama, de quem, não pode ficar calada Chama-lhe amor, se quiseres!
No lugar onde me acoito quero meu corpo moldado às tuas rimas, ser a silaba mais lasciva do poema! Ser uma ânsia diferente que de tanto se querer tua entrega-se sem pudor a um texto sem virgulas arrojado e quente. Neste verso em que me queimo as palavras escorrem como se moldadas de luar fossem num fim de noite... perfeito
O coração alimenta-se de coisas insustentáveis e minúsculas, talvez por ser o único vocábulo esférico onde as arestas se harmonizam na procura da verdade. Talvez seja por esse motivo que fecho sempre a porta a disputas que não nos levam a lado nenhum, confessando-te que me dói ter sempre razão, com relação às coisas que vão acontecendo. Costumas rir e dizer que tenho a mania das adivinhações mas a única coisa que consigo adivinhar é que o teu corpo é uma casa habitável, os teus braços, janelas que se fecham em meu redor na ânsia de me proteger de tudo o que me causa dor. Gosto de te adivinhar assim… Beijar-te, voltar a adivinhar-te ... Sentar-me junto a ti no poial dessa casa que habitamos... Ao longe presenciar o desenrolar das ondas que beijam a areia... como acabaste de me beijar a mim.
Acordando todos os poderes da ausĂŞncia, encostei-me a ti e descobri que com o acordar da erva, a minha voz canta em rios mansos, palavras difĂceis que temi dizer-te, e que exigem ser ditas ,porque a cada dia que passa, mais me recosto nos contornos suaves do teu nome fazendo de ti meu agasalho, ternura do que vou vestindo! Por esta volĂşpia interminavelmente louca...
(uma carta antiga)
Enfado-me diariamente com idealistas maliciosos que “vivem”de acordo com a infinita sapiência, acreditando ser esse o único trilho para a felicidade.Vivem sepultados no saber, nas possibilidades e nas probabilidades de palavras bem colocadas para não ferir susceptibilidades… Respiram todos os dias, sem perder a cabeça, nem sair do fio delineado para o encontro das almas que levarão desta vida para um outro estado onde habita a perfeição (que enfado). Almas enfadadas, negras de tédio, mortas de vida… Que rejeitam a subtileza de sentimentos inúteis. (Inúteis… dizem eles!) Parafraseando Pessoa… eu digo-te meu querido, que nos julgam inúteis, porque não entendem como se ama infinitamente o finito Como se deseja, impossivelmente o possível Porque queremos tudo, ou um pouco mais, se puder ser Ou até se não puder ser... Por isso meu amigo se me perguntas se estou cansada, e se estar cansada é viver… respondo-te que me sinto, cansadamente VIVA!
Dezembro... Nunca escrevi nada sobre Dezembro, mas hoje neste dia de Dezembro apetece-me escrever sobre a chuva, essa que chega impelida pelos ventos, inventos rasgados que atingem as paredes do céu, ou do meu ser… Não sei! Hoje sinto-me cair… como essa chuva malandrinha que geme triste uma sorte que não deseja. Não sei se temo o meu tombar, ou o tombar de temporais que passam como relâmpagos destroçando toda a minha vida. Não sei! Já não sei nada… fico-me aqui perdida em pensamentos a escutar o vento Oeste que ensaia uma Ode a todos os desiludidos… enquanto isso preparo um copo não de leite, mas cheio da adivinhação dessa manhã em que me resta esperar o tudo ou o nada, e o nada já me afogou, e o tudo que me levou ao nada, tarde demais quis saber quem sou. A existência dos Domingos nostálgicos de um dia qualquer de Dezembro são uma míngua comparado com o que hoje sinto.... este estado minimalista de ser.
No improvável lugar onde nasce a perfeição de tudo o que me vai por dentro, desfio um rosário de Salmos, punição admitida por amar o que julguei que era. Sinto-me refém de um sonho, cinza de um amor escaldado, fundido nas palavras de uma fantasia esquiva, experimentada escassamente em dias de conveniência. Que estranha forma de amar! Não sei o que mudou ou se algum dia mudou, mas sei que há um prazo que encerra em mim a voz de tudo o que já não consigo dizer. Calo-me, hesitante entre um paro e não paro, não quero parar mas paro. Mudo a estratégia do espaço num ritual consentido, tenho asas e continuo a não conseguir voar. Sei lá! Já não me entendo... é como se o amor e a dor fossem um único e só momento que anoitece e amanhece,num sentimento falso, inverdadeiro. Cansei-me... Parto sem destino, confinando-me a um estável adiamento.
Se fosse paixão a única razão do meu desejo, juro-te que te pedia que me amasses enquanto podes, para que não fossemos apenas rascunhos de um querer a preto e branco. Não me olhes como se eu fosse uma aventura... peço-te só mais uma vez... Ama-me a cores enquanto a paixão é um suspiro que pulsa, sentida e enfeitiçada dentro de tudo o que sou. Esquece a cama, os lençóis negros onde tantas vezes deixámos a marca branca da satisfação e ama-me aqui e agora em cima destes traços que gritam o meu amor por ti… Não fales! Não me perguntes se te amo! Quero apenas que me dispas da brancura da inocência para me vestires do vermelho dessa boca que hoje se alimenta dos meus beijos.
Convida-me para dançar! Shhhhh... Não fales... Convida-me para dançar). Não te peço diamantes, nem palavras ocas. Não te peço esforços inúteis, nem mesmo sacrifícios… Peço-te apenas (Convida-me para dançar) Pede baixinho… shhhhhh … baixinho… Ao meu ouvido, diz... Diz que sou a única, a que te faz feliz… Diz!que me achas linda... que sou um amor bonito (em todos os sentidos) (Convida-me para dançar) Assim……baixinho... baixinho…. Isso assim, diz (o meu nome devagar) Diz! (Convida-me para dançar) Hummm… como gosto quando me pedes para dançar.