ana luiza ceolin tfg fauusp 2019
entre o pĂşblico e o privado
entre o público e o privado
análise dos espaços de transição nos projetos de Héctor Vigliecca
Ana Luiza Ceolin Orientação: Prof. Leandro Medrano Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP
São Paulo, junho de 2019
siglas & abreviaturas CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna COHAB - Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo HIS - Habitação de Interesse Social IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil PNSA - Parque Novo Santo Amaro SASP - Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo SEHAB - Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do Município de São Paulo
apresentação
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introdução
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leitura dos projetos espaços de transição fluidez urbana barreiras ficha do projeto
20 21 24 27 29
rio das pedras/vila mara espaços de transição fluidez urbana barreiras
37 46 56 58
rincão espaços de transição fluidez urbana barreiras
63 72 78 82
jardim vicentina espaços de transição fluidez urbana barreiras
87 96 104 106
parque novo santo amaro V espaços de transição fluidez urbana barreiras
113 122 126 128
fichas dos projetos
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espaços de transição, fluidez urbana & barreiras
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considerações finais
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referências bibliográficas
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apresentação A motivação da escolha de tratar dos espaços livres públicos como tema do trabalho final de graduação foi uma inquietação a respeito das modificações realizadas em muitos conjuntos habitacionais, que trazem em sua proposta espaços de uso coletivo para cidade, no que condiz às suas barreiras e controles de acesso, divergindo do que havia sido proposto inicialmente em projeto. Em especial, quando essas modificações descaracterizam áreas em que se propunham usos coletivos e públicos, tornando-as de uso exclusivo dos moradores, com a introdução de barreiras, como muros e grades. A partir disso, pretende-se compreender e avaliar qual a relação que esses conjuntos criam com a cidade nesses dois momentos fundamentais: enquanto projetos, nos quais se manifestam as intenções do arquiteto, e enquanto edifícios construídos e apropriados pela população. Esses espaços propostos buscam criar um território compartilhado entre os domínios privado e público, funcionando como instrumentos de integração entre a habitação e a cidade. Tem-se aqui a preocupação com a preservação e valorização dos espaços de uso público, pois acredita-se que são neles que se desenvolve a vida coletiva, em todos os seus aspectos, sejam eles sociais, culturais, políticos, econômicos. O principal objetivo do presente trabalho é analisar a relação entre os conjuntos habitacionais e a cidade, do ponto de vista do desenho urbano como conformador de espaços livres públicos. O produto final tenciona ser uma contribuição à discussão sobre projeto de arquitetura, a partir de uma leitura minuciosa debruçada sobre os mesmos. Essa leitura se faz a partir da identificação dos espaços que compõem os projetos, e, na sequência, busca-se compreender o papel que eles assumem naquela arquitetura. A qualidade urbana defendida pelos projetos se ampara nos espaços propostos? Se eles funcionam como instrumentos de integração com a cidade, quais são suas limitações e suas potencialidades? Para tanto, elegeu-se como recorte e estudo de caso o trabalho realizado em São Paulo, desde a década de 80, pelo escritório do arquiteto Héctor Vigliecca. Buscou-se identificar as relações entre cidade e habitação em seus projetos, uma vez que essa é uma preocupação fundamental para a prática desse arquiteto. O
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recorte temporal veio por si só: a própria trajetória de Vigliecca determina períodos onde sua produção habitacional foi mais ou menos expressiva. Isso se revelou entrelaçado também com a trajetória das políticas públicas que atuaram em São Paulo ao longo do tempo, a se destacar a gestão de Luiza Erundina (19891992) e as políticas públicas dos anos 2000, com as gestões Marta e Kassab. Como base teórica, serão utilizados conceitos emprestados de Herman Hertzberger em seu livro Lições de Arquitetura, como as definições de público e privado enquanto espacializações dos conceitos de coletivo e individual, níveis de intimidade vinculados à níveis de interioridade e exterioridade, articulados por elementos arquitetônicos, e os espaços de transição que se interpõem entre os domínios público e privado. O arquiteto holandês participou das discussões do Team X entre os anos 50 e 70, e partilhava dos questionamentos levantados pelo grupo contra o urbanismo funcionalista que vinha sendo colocado pelos CIAM até então. Julgou-se pertinente que o autor fosse uma referência teórica importante para o trabalho uma vez que, durante sua formação acadêmica, o arquiteto Héctor Vigliecca participou de grupos de estudos que se alinhavam com os preceitos defendidos pelo Team X e isso teve grande influência em sua prática profissional. O trabalho se organiza a partir de 4 seções estruturais: - O capítulo introdução, no qual será justificada a escolha por analisar o trabalho de um arquiteto e as características dos projetos selecionados e seu contexto histórico; - O capítulo leitura de projeto, no qual serão expostos os temas pelos quais os projetos serão analisados e as produções gráficas e textuais advindas de cada um; - Os capítulos referentes aos 4 projetos, nos quais se repetem subcapítulos referentes aos temas delineados no capítulo anterior (espaços de transição, fluidez urbana e barreiras); - E as considerações finais, onde serão colocadas as conclusões que emergiram ao longo do processo de pesquisa, colocando os 4 projetos lado a lado para fins comparativos.
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Vale deixar claro que o objetivo do trabalho não foi definir soluções projetuais finais, mas sim alimentar a “coleção de idéias armazenadas na memória: uma espécie de biblioteca que podemos consultar toda vez que surge um problema”[1].
[1] HERTZBERGER (1999), Prefácio
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*** Para execução do material gráfico a ser apresentado, foram utilizadas as seguintes bases: - Material em .pdf enviado pelo escritório Vigliecca & Associados com implantações, cortes e plantas dos projetos aqui analisados; - Fotografias obtidas em teses, dissertações e publicações; através do site do escritório Vigliecca & Associados e capturas de tela dos sites Google Maps, Google StreetView e YouTube (os respectivos créditos estarão nas legendas). - Fotografias tiradas por mim em visitas de campo. As intervenções gráficas realizadas sobre esse material são de minha autoria.
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introdução O enfoque escolhido sobre a produção habitacional do arquiteto Héctor Vigliecca se pautou pelo reconhecimento de que ela está diretamente atrelada à uma discussão crítica sobre a produção e transformação da cidade. O arquiteto ocupa uma posição diferenciada diante da tradição local, uma vez que essa discussão serve como elemento fundamental e não adjetivo para guiar sua atuação dentro da arquitetura e do urbanismo [1]. Seus projetos enfrentam o desafio das complexidades de uma cidade como São Paulo, que muitas vezes se revela demasiadamente precária, e se colocam como propostas de possíveis novas situações de cidade, de forma especulativa mais que assertiva, visando desencadear transformações no tecido urbano [2]. Para Vigliecca, o projeto de habitação popular deve ser pensado levando-se em conta, além do sistema construtivo, da ótica social e da infra-estrutura local, também o desenho urbano entendido como a estrutura que garantirá as relações desses espaços de habitação com o restante da cidade. Rejeita terminantemente soluções que sejam a multiplicação de volumes num espaço aberto ou mesmo cercados, acreditando que assim não será possível estabelecer áreas coletivas ou mesmo relacionar-se com a cidade de maneira eficaz. (OLIVEIRA, 2007) Héctor Vigliecca nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1940, e se formou em Arquitetura na Universidad de La Republica (UDELAR) em 1968. Após se formar, ficou três anos na Europa, onde realizou uma pós graduação na Università degli Studi di Roma, retornando ao Uruguai em seguida. Durante sua formação e o período em que atuou em seu país, participou de grupos de estudos que se opunham aos preceitos que vinham sendo propagados até então pelos CIAM, em particular, o urbanismo funcionalista, e partilhavam do pensamento renovador do Team 10. Por conta disso, o trabalho também faz um recorte teórico: os projetos aqui analisados serão colocados frente à preceitos teóricos desse grupo de arquitetos. O Team 10 foi idealizado pelo grupo de jovens arquitetos responsáveis por organizar o décimo e último CIAM (1955), formado por nomes como Alison e Peter Smithson, Aldo van Eyck, Jacob Bakema e Shadrach Woods. Para esses arquitetos, a arquitetura deveria se integrar ao meio urbano ao considerar
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[1] RECAMÁN (2014), p. 13 [2] RUBANO (2014), p. 7
as características da comunidade local onde se inseriam e proporcionar espaços onde a vida, para além das funções básicas, pudesse se desenvolver. Para eles, “já não se tratava de manter as velhas pretensões de mudar radicalmente o modo de vida das pessoas, o modelo de produção ou a estrutura da propriedade do solo” [3], como pensavam os arquitetos modernistas das gerações anteriores que participavam e expunham suas propostas nos CIAM até então. O que era colocado por esses arquitetos da nova geração, que tiveram um papel dominante na arquitetura a partir dos anos 50, era a necessidade de “propor uma utopia do possível, aceitando os gostos e necessidades das pessoas” [4] e que o “espírito da modernidade” deveria incluir um “cuidadoso tratamento dos espaços para circular, reunir-se, identificar-se” [5]. [3] MONTANER (2001), p. 30 [4] Idem. [5] MONTANER (2001), p. 76 [6] SERAPIÃO (2013), p. 17
Quando ainda no Uruguai, Héctor Vigliecca, em parceria com colegas arquitetos conterrâneos, realizou o projeto habitacional do Complejo Bulevar Artigas, no qual se manifestam características presentes em sua obra até a atualidade [6]. No início de 1975, o arquiteto uruguaio, hoje radicalizado no Brasil, chegou em São Paulo e começou sua atividade participando de concursos e de projetos de grande porte em empresas de engenharia. Na década de 80, conhece o arquiteto Bruno Padovano, formado na Universidade de São Paulo em 1973 e pós-graduado em Harvard em 1975. Ambos compartilhavam o mesmo entusiamo pelo debate arquitetônico e o desejo de participar de concursos. Assim, surge uma parceria que resulta em diversos projetos e participações em concursos. A trajetória da produção de habitação de interesse social do escritório de Héctor Vigliecca anda em paralelo com a trajetória das políticas públicas habitacionais que foram adotadas em São Paulo. Dessa forma, é possível verificar que a produção do arquiteto, dentro do contexto habitacional, não é homogênea: ela ocorre em períodos em que essas políticas públicas tiveram um maior apreço pela cidade e o espaço urbano construído e habitado. O primeiro momento importante ocorre durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992), com a criação do HABI (Superintendência de Habitação) e os programas de mutirão autogerido, arrendamento residencial (PAR), Morar no Centro,
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locação social e urbanização de favelas. Ocorre também durante a sua gestão o primeiro concurso nacional de projetos de habitação popular. É importante destacar que o período da gestão de Luiza Erundina rompeu com anos de produção arquitetônica de habitações de baixa qualidade, propiciadas pelas políticas públicas antecessoras do BNH. Segundo Oliveira (2007), “vê-se ocorrer em São Paulo uma experiência enriquecedora, tanto do ponto de vista das formas e oportunidades de atendimento às famílias com renda muito baixa, quanto à introdução do conceito de valorização do projeto arquitetônico para habitação social”. Em 1989, a COHAB e a SEHAB, em parceria com o IAB e o SASP, promoveram o Concurso Público de Anteprojetos para Habitação Popular em dois lotes na cidade: um no Brás e outro no Jardim São Francisco. O concurso do Brás, ainda que não tenha saído do papel, serviu para que a prefeitura conhecesse o trabalho de arquitetos que estavam em consonância com a política pública pretendida pela gestão. Dessa forma, a menção honrosa recebida pelos arquitetos Vigliecca e Padovano nessa competição rendeu os convites para projetarem ambos os conjuntos Rincão e Rio das Pedras, projetos esses selecionados como 2 dos 4 estudos de caso do presente trabalho. O caráter experimental das propostas da gestão tinham a intenção de criar um marco referencial para as futuras intervenções na cidade, deixando experiências diversas como herança. As diretrizes apontadas pela gestão para nortear as suas políticas públicas habitacionais deixavam clara a sua crença de que bom espaços de uso coletivo seriam capazes de contribuir com a qualidade de vida dos moradores. No entanto, há no Brasil raros episódios em que programas políticos criados durante a gestão de um partido foram continuados pela gestão seguinte, sendo ela de um partido diferente. A experiência do período de 1989 à 1992 não foi uma dessas exceções e, durante os dois mandatos seguintes, de Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000), os programas iniciados pela gestão Erundina são interrompidos ou sofrem cortes orçamentários, prejudicando a sua continuidade. O momento seguinte em que os programas habitacionais ganham
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[FIG. 1] linha do tempo da produção habitacional do escritório Vigliecca & Associados com suas datas de início de projeto e término da obra; os projetos selecionados para o trabalho estão destacados. Vale ressaltar que muitos projetos tiveram sua finalização, seja das obras ou da regularização da propriedade, postergada para gestões municipais seguintes, mas a ocupaçào dos mesmos pelos moradores ocorreu antes dessa data final.
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FERNANDO HADDAD (2013 - 2016)
GILBERTO KASSAB (PFL) (2006 - 2012)
JOSÉ SERRA (PSDB) (2005 - 2006)
MARTA SUPLICY (PT) (2001 - 2004)
CELSO PITTA (PPB) (1997 - 2000)
PAULO MALUF (PPR) (1993 - 1996)
LUIZA ERUNDINA (PT) (1989 - 1992)
VILA DOS IDOSOS HELIÓPOLIS GLEBA A / JARDIM NAZARÉ FLAMENGUINHO
2003 2005
HELIÓPOLIS GLEBA H / PARQUE NOVO SANTO AMARO V
2009
2016
2015
2014
2013
2012
2011
MORAR CARIOCA / MORRO DO S4 (em andamento)
JARDIM VICENTINA
2008 2010
COLINAS D’OESTE
2007
2006
2004
CASARÃO DO CARMO
RIO DAS PEDRAS / RINCÃO
CONCURSO HABITAÇÃO POPULAR NO BRÁS
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
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relevância urbana e arquitetônica ocorre durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2004), que também retomou alguns dos programas iniciados durante a gestão de Luiza Erundina, ambas do mesmo partido (PT). Nesse mesmo período, também ressurgem os projetos habitacionais do escritório de Héctor Vigliecca, a partir da aprovação da Lei Federal do Estatuto da Cidade, além da criação de novas diretrizes para a COHAB. Em 2003, é criado o Ministério das Cidades e em 2004, o Plano Nacional de Habitação.
[fig. 2] Conjunto Habitacional Rio das Pedras/Vila Mara [FIG. 3] Conjunto Habitacional Rincão [FIG. 4] Jardim Vicentina [FIG. 5] Parque Novo Santo Amaro V
A escolha dos quatro projetos a serem investigados pelo presente trabalho se pautou na indagação acerca das possíveis mudanças de estratégia projetual que provavelmente aconteceram entre os dois períodos de atuação do arquiteto na produção de habitação de interesse social. Para tanto, foram selecionados os dois únicos conjuntos habitacionais projetados antes dos anos 2000, tanto por estarem, de certa forma, isolados na linha do tempo da produção habitacional do escritório, mas como também por se tratarem de projetos consagrados, com diversos materiais publicados e disponíveis para consulta, e que tiveram tempo suficiente para amadurecer dentro de seus respectivos contextos urbanos. Os outros dois projetos selecionados, portanto, se situam a partir dos anos 2000. Dentre eles, priorizou-se aqueles que tivessem propostas de espaços públicos como instrumento de integração com a trama urbana e, em um primeiro momento, deu-se preferência àqueles que estivessem no livro O Terceiro Território, a fim de que a base de dados fosse homogênea, uma vez que a publicação padroniza dados numéricos dos projetos, como áreas dedicadas a determinados usos, como residencial, comercial etc. Assim, escolheu-se, primeiramente, o projeto do Parque Novo Santo Amaro V, devido à escala do espaço público nele proposto e a quantidade de publicações feitas sobre ele, sendo muito superior a qualquer um dos outros projetos do arquiteto. Por fim, para o quarto projeto, a definição oscilou entre os projetos do Heliópolis Gleba A e Jardim Vicentina, sendo que este último não consta no livro O Terceiro Território e nem possui muitas publicações ou material escrito a seu respeito. No entanto, com o avanço da pesquisa, optou-se por trabalhar com esse projeto
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ao invés do Heliópolis pois identificou-se nele características que poderiam contribuir com a discussão do trabalho, como o fato desse projeto talvez não ter sido cercado pelos moradores, o que foi constatado, inicialmente, via imagens do Google StreetView datadas no início de 2016. Essa suposição se mostrou verdadeira durante visita de campo ao projeto em maio de 2019. Os projetos selecionados podem ser entendidos como diferentes investigações projetuais frente à diferentes desafios colocados pela cidade. A partir da divisão temática do livro O Terceiro Território, é possível entender o partido: - dos conjuntos habitacionais Rincão e Rio das Pedras/Vila Mara como a própria quadra, a partir da compreensão de que se trata de um elemento reconhecido e legitimado da cidade, como estrutura para a articulação de arranjos novos e complementares à ocupação existente do bairro; - do conjunto construído na Gleba A de Heliópolis, e também do projeto do Jardim Vicentina, como sendo a articulação entre o pré-existente e o novo em um “terceiro território”, instaurando urbanidade em uma área crítica da cidade; - e do conjunto do Parque Novo Santo Amaro V como sendo a criação de uma estrutura urbana a partir da demanda habitacional que possa ser multiplicada sobre o restante do território de difícil urbanização no qual se assenta o projeto. Conforme destacado pelo livro, praticamente todos os projetos nele apresentados – e isso inclui os 4 aqui selecionados – sofreram alterações no projeto original. Isso aconteceu por conta da contratação de construtoras pelo Estado que não se articulavam com a equipe dos arquitetos, ou então por adaptações que tiveram de ser feitas em projetos ganhadores de concurso, o que acarretou em mudanças radicais em características do projeto que tinham um maior caráter transformador, ou, por fim, a partir da população residente nos novos conjuntos, que cercaram áreas inicialmente públicas para viabilizar a gestão desses espaços, que foi conferida aos próprios moradores.
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leitura dos projetos A análise dos projetos de Vigliecca realizada pelo presente trabalho tem como objetivo perceber de que forma se dá o contato entre o espaço público e o privado nos conjuntos habitacionais, ou seja, a relação entre a habitação e a cidade. É impossível tratar sobre essa temática sem mergulhar também nas diferenças entre o projeto concebido e a realidade implantada e atual dos mesmos, especialmente no que condiz às alterações realizadas nas fronteiras dos conjuntos, alterando os seus acessos e introduzindo novas barreiras. A intenção do presente trabalho é sistematizar uma soma de reflexões produzidas a respeito dos projetos, buscando contribuir com uma certa “cultura de projeto”. Segundo Rubano, “se o projeto é investigação, também é um instrumento de registro e acúmulo. Pode-se sistematizar os resultados obtidos ao longo do tempo, para que se melhor equacione áreas coletivas e públicas, tendo em vista sua gestão, circulações horizontais e verticais, flexibilidade e ampliação das unidades, entre tantos aspectos. Ou seja, é fundamental que se constitua uma cultura de projeto, que represente uma sistemática reflexão sobre a ação projetual”. [1] Para realizar a análise dos 4 conjuntos selecionados, foram produzidos mapas-diagramas apoiados nas implantações dos projetos, acompanhados de textos interpretativos, no intuito de responder a 3 temas identificados como centrais e que se relacionam entre si: os espaços de transição, a fluidez urbana e as barreiras. Ao final da análise dos 4 projetos, foi produzida uma ficha síntese, na qual constam certas informações tidas como relevantes para compreender a relação dos conjuntos com a cidade e que servirá para visualizar diferenças entre os projetos aqui investigados.
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[1] RUBANO; BARROS, FEHR (2000)
espaços de transição O primeiro tema busca visualizar de que forma ocorre a transição entre as esferas pública e privada nos projetos, entendendo que ela se manifesta a partir de uma série de espaços que compõem o trajeto entre esses dois pólos, representados pela rua e pela unidade habitacional, respectivamente. Essa série pode ser, por exemplo, uma curta sequência, no qual o acesso ao hall de entrada das unidades ocorre diretamente na calçada ou um percurso através de espaços coletivos que se diferenciam em níveis de privacidade ou publicidade graças a certas características de uso ou articulações espaciais que tornam possível essa leitura. Compreende-se aqui que faz parte das intenções dos projetos habitacionais do escritório, de maneira geral, atenuar a rígida e tradicional divisão entre os domínios públicos e privados, criando condições para que ocorra “o encontro e o diálogo entre áreas de ordens diferentes”[2]. [2] HERTZBERGER (1999), p. 40 [3] NAVAZINAS (2007), pg. 132
Para Hertzberger, é errôneo assumir que exista apenas os dois pólos do par público-privado, puramente e sem matizes, mas sim que, entre eles, existem diferentes formas de compreender os espaços, a partir de “uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e a supervisão de unidades espaciais específicas”. Tanto em seu livro como para o presente trabalho, os conceitos de “público” e “privado” serão compreendidos como traduções espaciais dos conceitos de “coletivo” e “individual”, no qual “pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la”. Segundo Navazinas, em sua tese de doutorado no qual estuda os espaços de transição em projetos de habitação de interesse social (HIS), a inclusão nesses projetos de espaços coletivos segue uma linha de pensamento que busca ampliar o conceito de moradia para fora da casa, entendendo que o habitat não deve se limitar à unidade individual, mas também incluir a noção de coletividade[3]. Isso seria assegurado através da existência de espaços dedicados ao lazer, ao estar e à convivência. Além disso, essas áreas buscam desenvolver nos moradores um
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senso de responsabilidade e zelo por aquilo que é coletivo, uma vez que a proposta é de que eles próprios sejam os gestores dessas áreas.
[4] HERTZBERGER (1999), p. 21
[fig. 1] mapa de demarcação territorial exemplificado por Hertzberger em Lições de Arquitetura (1999) [fig. 2] exemplo do mapa de hertzberger da [FIG. 1] modificado para demonstrar a representação do trabalho com o uso de cores
Para demarcar esses espaços nos projetos, foi utilizada a sugestão de Hertzberger, em seu livro Lições de Arquitetura, de se criar um mapa de “diferenciação territorial” [FIG. 1], que deverá mostrar “que aspectos de acesso existem na arquitetura, quais são as demarcações de áreas específicas e a quem se destinam, e que espécie de divisão de responsabilidades pode ser esperada no que diz respeito aos cuidados e à manutenção dos diferentes espaços”[4]. Também buscou-se diferenciálos a partir da identificação dos seus níveis de interioridade e exterioridade, conceito que também vem de Hertzberger, quando o autor diz Assim como a aplicação ao interior do tipo de organização espacial e do material referentes ao mundo exterior faz com que o interior pareça menos íntimo, as referências espaciais ao mundo interior fazem com que o exterior pareça mais íntimo. Portanto, é a união em perspectiva de interior e exterior e a consequente ambiguidade que intensificam a percepção de acesso espacial e de intimidade. Uma sequência gradual de indicações mediante recursos arquitetônicos assegura uma entrada e uma saída graduais. O complexo inteiro de experiências evocadas pelos recursos arquitetônicos contribui para este processo: gradações de altura, largura, grau de iluminação (natural e artificial), materiais, diferentes níveis do chão. As diversas sensações desta sequência evocam toda uma variedade de associações, cada uma delas correspondendo a uma gradação específica de “interioridade e exterioridade” que se baseia no reconhecimento de experiências prévias semelhantes. Não só cada sensação se refere a uma gradação específica de exterioridade e interioridade, como se refere por extensão a um uso correspondente. Eu já havia sublinhado antes que o uso de uma área, o sentido de responsabilidade por ela e o cuidado dispensado a ela encontram-se todos ligados às demarcações territoriais e à administração. Mas a arquitetura, graças às qualidades evocativas de todas as imagens explicitamente espaciais, formas e materiais, possui a
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capacidade de estimular determinado tipo de uso. Conceitos como o de público e privado restringem-se, portanto, a meras entidades administrativas. [5] É importante destacar que não existe uma relação direta entre os pares público-privado e exterior-interior, mas existe a tendência de se fazer a leitura de espaços exteriores como estando mais ligados à dimensão pública e coletiva, e interiores, à privada e individual. Com isso em mente, os mapas-diagramas referentes ao tema dos espaços de transição foram produzidos buscando diferenciar o território nos projetos de Vigliecca a partir dos conceitos de “privado” ou “individual” e “público” ou “coletivo”. As áreas que se apresentam como diferenciáveis estão demarcadas em diferentes cores, sem que haja uma hierarquia estabelecida entre elas e, portanto, entre as áreas em si [FIG. 2]. A decisão por não retratar essas áreas intermediárias dentro de uma escala de cores que possam corresponder às gradações existentes entre os pólos público x privado teve o intuito de viabilizar uma identificação rápida da existência desses espaços. Além disso, intervenções gráficas foram realizadas em fotografias dos projetos destacando esses espaços. No mapa-diagrama da seção seguinte, esses espaços serão trabalhados de acordo com a função que exercem dentro de uma investigação acerca da permeabilidade urbana dos projetos.
fluidez urbana O segundo tema se desdobra a partir do primeiro: entendendo que os espaços de transição presentes nos conjuntos habitacionais se articulam com a cidade, o diagrama da fluidez urbana busca destacar as conexões propostas pelo projeto entre esses espaços e a cidade. O material utilizado como base para esse diagrama é o projeto da forma tal qual foi concebido e não da forma em que se encontra atualmente, dada as alterações que foram realizadas nos seus acessos e fronteiras com a ocupação dos moradores. Essas mudanças alteram a forma como os projetos se relacionam com a trama urbana e isso será
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[5] HERTZBERGER (1999), p. 86 (grifo meu)
[fig. 3] Mapa Nolli, criado por Giambattista Nolli, para representar Roma em 1748
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tratado no terceiro e último tema. O ponto de partida para a representação do mapa-diagrama de fluidez urbana foi o Mapa de Nolli [FIG. 3]. Criado em 1748 por Giambattista Nolli, o mapa que, mais tarde, ficou conhecido pelo seu nome, foi encomendado pelo Papa Bento XIV para ser utilizado como base sobre a qual seriam traçadas futuras obras públicas. O desenho criado por Giambattista foi um marco na história por conta da sua inovação em termos de representação. Assim como já havia sido feito anteriormente, Nolli se utilizou da técnica de figura-fundo para diferenciar o espaço construído do espaço livre. O que diferencia o Mapa de Nolli dos seus antecessores é a inclusão dentro do conceito de espaços livres de áreas dentro das edificações que poderiam ser consideradas como pertencentes ao domínio urbano, como, por exemplo, o interior das catedrais. A documentação desses espaços no Mapa ampara a compreensão da acessibilidade, dos fluxos possíveis e dos espaços cívicos dentro de uma cidade. O interesse pelo dualismo figura/fundo do Mapa de Nolli levou um grupo de pesquisa da Universidade de Cornell à conclusão de que a cidade moderna inverteu as proporções entre os espaços livres e os espaços edificados, quando em comparação com Roma, tomada como modelo do urbanismo tradicional. Essa inversão resultou em um espaço urbano problemático, sem vida nas ruas e negligente com a escala humana. A pesquisa e suas conclusões serviram como base para que Colin Rowe e Fred Koetter escrevessem o livro Collage City, publicado em 1978. Nele, os arquitetos partem da crítica à cidade moderna e propõem um método fragmentário de “colagem”. Os autores afirmam que o ato de construir se pauta em certos juízos de valor e isso é capaz de revelar a visão que se tem do que seria o “conteúdo ético da boa sociedade”[6]. Para o professor James Tice, do departamento de Arquitetura da Universidade do Oregon, responsável por desenvolver uma versão digital e interativa do Mapa de Nolli, a importância dessa inovadora representação para a arquitetura contemporânea é contrariar tendências dentro da crítica de arquitetura que buscam examinar os edifícios como monumentos isolados no lote, afastando-os do contexto urbano que lhes dá vida e significado. O método, ao padronizar e simplificar a representação, permite
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[6] NESBITT (2006), p. 293.
que as informações sejam comparadas de forma consistente. Nele, aquilo que é sólido é representado pelo cinza escuro e o que é vazio, por branco ou tons de cinza claro, aparentando ser uma massa sólida com cavidades entalhadas. Essa representação tem como resultado materializar e expor a relação entre os edifícios e o espaço público de Roma, ou seja, a relação entre o interior e o exterior. O mapa de Nolli evidencia a urbanidade da cidade de Roma, na qual existe uma forte presença de espaços dedicados ao usufruto público. O resgate dessa representação para discutir os conjuntos habitacionais projetados por Vigliecca também tem como objetivo evidenciar essa mesma característica, que se mostra em seus projetos: a preocupação do arquiteto em conceber espaços que não se limitem à função do morar, mas que participem da vida urbana. No presente trabalho, os espaços que não são acessíveis para as pessoas de modo geral serão representados na cor cinza e aquilo que é permeável, acessível, na cor branca. De forma simplificada, essa diferenciação se refere aos lugares que as pessoas podem ou não ir. Existe uma discussão complexa a respeito desse tema, pois é possível verificar que existem locais que, supostamente, seriam acessíveis, mas que, por diversos motivos, selecionam os seus frequentadores. Podemos citar como exemplo os shopping centers, que são palco, a todo momento, de episódios de preconceito racial e de classe, onde grupos de pessoas são proibidos de frequentar aquele espaço. O trabalho não entrará nesse mérito: iremos considerar os espaços como acessíveis ou não acessíveis a priori, sem adicionar essa camada de complexidade. Iremos perceber ao longo do trabalho que são considerados espaços acessíveis as ruas, as calçadas, as praças, as vielas etc. e áreas internas aos projetos que se propõem enquanto espaços públicos, a princípio.
barreiras Por fim, o tema das barreiras busca trazer para os desenhos dos projetos as alterações nas suas fronteiras e acessos como se apresentam atualmente. Busca-se diferenciar as barreiras por níveis de transparência, entendendo que a relação com a
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cidade pretendida pelo projeto, uma vez que tenha sido alterada drasticamente com a restrição do acesso, sofre em menor ou maior grau em se tratando de grades ou muros opacos. A partir da incorporação desses novos elementos, também sofrem alterações as conexões possibilitadas pelo projeto, tratadas no tema anterior da fluidez urbana, e que também serão analisadas dentro do presente tema. Vale ressaltar que alterações nas fronteiras e nos acessos ocorrem não apenas nos conjuntos habitacionais do Vigliecca, mas, de modo geral, na grande maioria dos projetos de habitação social que concebem áreas públicas dentro da sua área de intervenção. É de suma importância mencionar que esses projetos e, por sua vez, as mudanças que neles ocorrem, estão sujeitos a circunstâncias da contemporaneidade como a violência urbana, a desigualdade social, a escassez de espaços públicos nas cidades, o apelo ao recurso da propriedade privada para resolver problemas relacionados à ausência do poder público etc. Transformações nessas condições podem ocorrer ao longo do tempo e esses conjuntos preservam neles o potencial de integração à cidade desde a concepção de seus projetos, e são capazes de responder a essa demanda uma vez que venham a ser solicitados. A existência desses conjuntos por si só já é um marco no território, pois demonstra uma intenção muito clara de se fazer cidade e servem como modelos para experiências que podem se desdobrar a partir deles. Da fala do próprio Héctor Vigliecca no episódio que trata sobre sua produção arquitetônica na série documental Arquitetos para o canal Curta!, “com arquitetura você não faz nenhum tipo de revolução; você estabelece condições para que outras revoluções políticas, de policiamento, de administração, andem no caminho que você acha que deveria ser o caminho correto”. Para esse tema, foi utilizado o mapa-diagrama da fluidez urbana modificado, considerando os novos elementos inseridos no projeto. As novas (ou previstas) barreiras dos conjuntos habitacionais foram destacadas em intervenções gráficas nas fotografias dos projetos e a localização das fotos está identificada no mapa.
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ficha do projeto Para cruzar todos os produtos obtidos ao longo da análise dos 4 projetos, ao final do trabalho serão apresentadas fichas elaboradas para cada um deles, buscando resumir os dados numéricos e aqueles coletados a partir da leitura dos conjuntos e de seu entorno, a fim de facilitar uma leitura comparativa entre os mesmos.
[7] MONTANER, MARTÍNEZ (2006), p. 18. Tradução minha. [8] Idem.
A elaboração dos elementos a figurar nessas fichas resumo se orientou a partir do método de análise de projetos Habitar el presente, concebido por Josep Maria Montaner e Zaida Muxi Martínez (2006) [FIG. 4]. Nele, são analisados projetos habitacionais que representam bons exemplos de arquitetura, e levantadas características dentro dos mesmos que respondam a 4 categorias: sociedade, cidade, tecnologia e recursos. Dentro disso, as obras selecionadas para a exposição do método são aquelas que “buscam oferecer variedades tipológicas, atendendo à diversidade social; que fazem cidade com sua proposta, na medida em que os planos urbanos aceitam a diversidade e a mistura de usos; em que as tecnologias construtivas colaboram positivamente para a definição arquitetônica-espacial da obra, e aquelas nas quais o meio-ambiente é valorizado” [7]. O método não tem a intenção de prescrever “soluções definitivas, mas propor formas críticas de pensar que levem em conta a história e a memória coletiva, que abordem a diversidade do presente, que enriquecem as estruturas urbanas, que favorecem o direito à moradia e à igualdade de gêneros, que promovem a busca por soluções arquitetônicas cada vez mais sustentáveis e amigáveis ao meio ambiente, soluções que, em suma, proporcionarão uma melhor arquitetura” [8]. Para o presente trabalho, foi selecionado apenas o tema da cidade, no qual são investigadas certas características sobre os projetos, como o potencial gerador de espaço público e os espaços de uso compartilhado dos mesmos, a fim de responder à questão: o projeto melhora a qualidade da cidade e do território? O processo de análise realizado neste trabalho se desdobrou a partir do método Habitar el presente e foi adaptado conforme as necessidades que surgiram com o processo de análise dos
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projetos do escritório de Héctor Vigliecca. Da mesma forma, frente a outros projetos que poderiam ser analisados, novos elementos que não haviam sido contemplados antes podem e devem ser incorporados à ficha e aos mapas-diagramas analíticos. A ferramenta, uma vez reelaborada, pode ser aplicada novamente aos projetos anteriores, a fim de descobrir se existem questões que passaram despercebidas numa primeira leitura. É um método em elaboração, a se dizer, e que pode ser aperfeiçoado se assim se provar interessante.
[FIG. 4] exemplo do método Habitar el presente aplicado sobre um projeto: na ficha resumo constam algumas informações sobre o projeto habitacional e uma ficha segmentada em 4 partes referentes aos temas sociedade, cidade, tecnlogia e recursos.
As fichas desenvolvidas para os 4 projetos aqui analisados se encontram nas páginas finais do trabalho. Elas foram organizadas de forma a facilitar a comparação entre os estudos de caso. Uma prévia do conteúdo das fichas será apresentada nos 3 temas dos 4 conjuntos habitacionais, acompanhando os mapasdiagramas. Com exceção do tema das barreiras, as prévias dos outros dois temas se referem às intenções do projeto e não às mudanças nele realizadas após a ocupação dos moradores. Esse segundo momento será abordado nas fichas completas e discutido nas considerações finais. A ficha contém: 1. Nome, autor(a) e data de início do projeto; 2. Foto e imagem de satélite para identificação do projeto; 3. Dados numéricos; 4. Quatro categorias representadas por elementos gráficos: 4.1. Usos propostos: espaços pertencentes ao programa dos projetos e entendidos como espaços de uso coletivo; 4.2. Espaços de transição: espaços apontados ao longo do trabalho como instrumentos para atenuar as barreiras entre público e privado; 4.3. Relações com o espaço público: se o projeto promove atividades no térreo, se ele gera espaço público, se cria novas conexões no tecido urbano e se ele se relaciona visualmente com o espaço público. 4.4. Barreiras: fechamentos que foram construídos nas fronteiras dos projetos (previstas pelos mesmos ou inseridas com a apropriação dos conjuntos pelos moradores) e as respectivas características de acesso e transparência das mesmas;
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A porção que contém os dados numéricos do projeto (item 3) foi elaborada com base nas informações e diagramas contidos no livro O Terceiro Território ou em dados obtidos com o escritório. Para as 4 categorias do item 4, identificadas pelos pequenos ícones, a presença no projeto do objeto identificado pelo símbolo gráfico será marcada pelo fundo colorido do ícone, e a ausência, pelo fundo cinza. Os elementos que compõem as categorias dos espaços de transição (4.1), dos usos propostos pelo projeto (4.2) e das barreiras (4.3) foram identificados e pontuados conforme se avançou, durante o processo do trabalho, na leitura dos 4 projetos investigados. Assim, se constituiu as listas com 7 espaços de transição, 7 usos propostos pelos projetos e 3 tipos de restrição de acesso criados com as alterações realizadas nos conjuntos habitacionais. A partir da inclusão de um maior número de projetos na pesquisa, novos elementos provavelmente deverão ser acrescidos a essas listas. Para fins de análise dos 4 conjuntos aqui selecionados, esses elementos deverão ser suficientes para figurar nas suas fichas resumo. A categoria das relações com o espaço público (4.4) foi baseada no método Habitar el presente que empresta de Jane Jacobs, em seu livro Morte e vida das grandes cidades, o conceito de que a segurança do espaço público se ampara na vitalidade constatada nas ruas: “ruas impessoais geram pessoas anônimas”[9] e isso resulta em insegurança. Para Jacobs, existem 4 condições que devem ser atendidas nos distritos para que haja geração de diversidade e, portanto, vitalidade. Elas se referem: 1) à combinação de múltiplas funções dos segmentos que compõem os distritos, gerando usos em horários variados; 2) às quadras curtas, ou seja, com conexões numerosas; 3) à convivência de edifícios de diferentes períodos e 4) à alta densidade de pessoas, independente do propósito. Outro conceito colocado por Jacobs são os fatores que possibilitam que as calçadas sejam seguras, sendo eles: 1) a nítida separação entre os espaços públicos e privados, diferente do que ocorre em conjuntos habitacionais; 2) a existência de olhos que se voltam para a rua, dos edifícios e dos moradores; e
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[9] JACOBS (1961), p. 48
DADOS NUMÉRICOS DO PROJETO
área de intervenção
área construída
USOS PROPOSTOS
número de unidades habitacionais
número de tipologias
espaços de transição
área das unidades habitacionais
ESPAÇO PÚBLICO
densidade do entorno
densidade do projeto
BARREIRAS
comércio
rua interna
proposta de atividades no térreo
sem acesso
praça
portal
geração de espaço público
acesso público controlado
quadra esportiva
praça interna
novas conexões
acesso apenas para moradores
playground
alpendre
relações visuais com o espaço público
predominantemente opacas
centro comunitário
escada
academia ao ar livre
circulação externa
predominantemente transparentes
pista de skate
elemento presente no projeto ou no pósocupação
elemento ausente no projeto ou no pósocupação
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3) uma alta quantidade de pessoas circulando, o que aumenta o número de olhos na rua. A partir desses conceitos e do método de Montaner, elaborou-se os elementos que figuram na categoria referente às relações dos projetos com o espaço público (4.4). Assim, o primeiro se refere às propostas do projeto que buscam criar atividades no térreo, podendo ser atividades de lazer ou comerciais, por exemplo; o segundo trata da geração de espaços públicos, que possam ser utilizados coletivamente; o terceiro, da criação de conexões no bairro onde está implantado, sejam elas em nível ou vencendo desníveis; e, por fim, o último empresta de Jacobs a importância de que o projeto faça relações visuais com a rua e com o espaço público, para que contribua com a segurança dos mesmos. A expansão do processo de análise para outros estudos de caso de habitação de interesse social é necessária para que a ficha se consolide e abarque um maior número de elementos que deem conta de falar sobre um maior número de projetos.
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rio das pedras / vila mara
EMEF Professor José Bento de Assis
EMEI Valentina Antonini da Silva Estação (CPTM) Jardim Helena - Vila Mara Av. Marechal Tito
R. ADRIANO SEABRA
R. CARLO BIBIENA
R. CONCEIÇÃO DO ALMEIDA
AV. VALLE
38
0 5 10m
comércio
praça interna
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
PlANtA do PAVIMeNto téRReo ESCALA GRÁFICA
loCAl Vila Helena, São Paulo - SP INÍCIo PRoJeto 1991 téRMINo dA oBRA 2003 A construção do conjunto Rio das Pedras partiu da demanda de uma ocupação que havia anteriormente no terreno, assim como tantos outros movimentos sociais de luta por moradia que se organizaram na mesma época. O projeto foi encomendado à Héctor Vigliecca e Bruno Padovano pela COHAB-SP como resultado das negociações entre o poder público e o movimento social. A experiência do Rio das Pedras foi pioneira na construção de prédios através da prática do mutirão autogerido, segundo publicações da época.
[1] ZAMBRA (2015), p. 195 [2] Para maiores críticas ao processo de mutirão, ver NAVAZINAS (2007) [3] PUGLISI (2017), p. 38
A prática do mutirão exige muito compromisso e responsabilidade dos futuros moradores, que precisam dedicar todo o seu tempo livre para a construção da própria moradia. Disso decorre também um sentimento forte de apropriação e cuidado com o bem construído [1], além de ser uma possível solução para populações que, de outra forma, teriam um acesso muito mais dificultoso à habitação, ainda que essa prática tenha suas várias críticas[2]. O projeto habitacional se instalou em dois dos três lotes vazios utilizados pela prefeitura para obras públicas, sendo que no terceiro foram instalados equipamentos comunitários (escola, creche, “área de recreio” e campo de futebol) e parte da estação da Jardim Helena-Vila Mara da CPTM [3]. As obras foram iniciadas em 1991 e finalizadas apenas em 2003. Isso ocorreu pois os recursos destinados à construção do conjunto – e de vários outros projetos iniciados na mesma época – foram cortados ou reduzidos com a mudança de gestão da prefeitura do município, com a saída de Luiza Erundina e a posse de Paulo Maluf (1993-1996) e, posteriormente, Celso Pita (19972000). A retomada de projetos iniciados na gestão de Erundina ocorreu durante o mandato de Marta Suplicy (2001-2004), de seu partido, e a construção pôde ser, enfim, concluída. O projeto ocupa duas quadras subsequentes no bairro do Jardim Helena em São Paulo, dentro da subprefeitura de São Miguel Paulista, e é composto por dois blocos idênticos formados por quatro edifícios de quatro pavimentos, interligados através de uma circulação externa que dá acesso às unidades do 3o andar. Ao total, somam-se 592 unidades habitacionais que variam dentro de três tipologias, com áreas entre 45 a 77m2, todas com
19.160 m2
39.048 m2
592
3
45,7 a 76,6 m2
122,8 hab/ha
1.152,4 hab/ha
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dois dormitórios, originalmente. O projeto tem como um dos seus objetivos criar tecido urbano, priorizando os espaços públicos de permanência aos de passagem. Assim, os prédios ocupam o perímetro da quadra, liberando grande parte da área central a ser usada como praça pública para o bairro. Escadas ao longo do projeto são distribuídas para conduzir o acesso às unidades dos pavimentos superiores e parte das unidades térreas tem seu acesso diretamente pela rua, em uma reedição diferenciada do que ocorre nas ruas da vizinhança, com o padrão sequencial da “porta-janela”, ainda que com uma densidade muito acima daquela encontrada no entorno. Esse padrão é reconhecido e valorizado pelo projeto, pela sua capacidade de gerar uma dinâmica no térreo a partir dos acessos, das movimentações e apropriações[4]. A maior densidade de portas e janelas propostas pelo projeto intensifica essa dinâmica, ainda que isso ocorra atrás das grades que foram inseridas pelos moradores em todo o perímetro do lote, separando o edifício da rua pública. Nas esquinas, compostas por duas caixas d’água que marcam um pórtico de entrada ao lote, são propostas “praças de passagem”[5], com áreas voltadas para o comércio, com a intenção de guiar os visitantes para dentro do lote, onde estão a praça pública e, junto à ela, o centro comunitário.
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[4] O Terceiro Território, p. 103 [5] Arquitetura e Urbanismo (1991), n. 33, pg. 62
R. CARLO BIBIENA
R. ADRIANO SEABRA
AV. VALLE
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0
5
10m
centro comunitário
S PEDRAS
PlANtA do SeGuNdo PAVIMeNto ESCALA GRÁFICA
41
0
5
0
42
10m
1
2m
[fig. 1] corte longitudinal [fig. 2] planta das tipologias das unidades habitacionais (respectivamente, tĂŠrreo, 1o e 3o pav. e 2o pav.)
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[FIG. 3] - [FIG. 8] fotos do conjunto em processo de finalização da construção autoria: Andrés Otero
44
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R. CARLO BIBIENA
R. ADRIANO SEABRA
AV. VALLE
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0
5
10m
rua interna praça interna portais escadas e rampas alpendres rua e calçada (público) dentro dos lotes e edificações (privado)
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eSPAçoS de tRANSIção - PAVIMeNto téRReo MAPA DIAGRAMA 01.A
espaços de transição O projeto para o conjunto habitacional do Rio das Pedras se desenha a partir da ocupação do perímetro de duas quadras, criando uma praça no centro de cada lote [FIG. 6]. O acesso à praça a partir da via pública se dá através de 6 espaços: 2 localizados nas laterais, 2 no fundo e 2 nas esquinas do lote. Os acessos laterais e pelos fundos são através de RuAS INteRNAS, enquadradas pelas passarelas que compõem a circulação das unidades dos pavimentos superiores, formando uma espécie de PoRtAl de eNtRAdA [FIG. 9 e 10]. Os 2 acessos pelas esquinas são as entradas principais do conjunto, sendo emoldurados por quatro caixas d’água – duas em cada uma das esquinas – que criam um marco na paisagem do conjunto, como um totem de boas-vindas [FIG. 3, 11 e 12]. Essas estruturas também criam um portal, assim como o que ocorre nas outras 4 entradas, porém, diferente das passarelas, que são os elementos responsáveis por essa conformação espacial nos acessos laterais, as caixas d’água não criam cobertura sobre as entradas que enquadram, o que poderia afastá-las do entendimento de que também se tratam de portais. No entanto, iremos compreender essas 6 entradas como pertencentes ao mesmo grupo espacial, pois as estruturas hídricas nas esquinas do conjunto conformam um enquadramento dos acessos através da presença de um elemento elevado em relação ao piso, sendo essa a principal característica do grupo em questão, podendo ela se manifestar em diferentes formatos. Os espaços aqui chamados como RuAS INteRNAS exercem a função de conectar áreas distintas. Nesse caso, elas fazem a ligação entre as ruas do entorno e a praça pública no miolo da quadra. Como o próprio memorial do projeto coloca, as entradas pelas esquinas são chamadas de “praças de passagem”, uma vez que se trata de um espaço no qual existem atividades propostas, graças a presença de unidades comerciais, mas que serve, principalmente, a essa função de conector. Os acessos laterais, por mais que não apresentem obstáculos que restrinjam a entrada de quem vem da rua – isso no projeto original, uma vez que o conjunto sofreu alterações a posteriori –, são lidos com menos clareza por quem não está habituado a frequentar o conjunto habitacional: é mais difícil pressupor que é permitida a entrada de pessoas de fora no conjunto através
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dessa rua interna, sendo ela estreito e passando por baixo de uma passarela de caráter privativo. Fica mais claro que a entrada, nessas condições, deveria ocorrer pelas esquinas, que são mais amplas e generosas e dão uma visão ampliada para o interior do lote. A entrada através das esquinas possui um caráter muito mais convidativo e generalista – ao permitir a entrada sem restrições físicas não apenas de moradores, mas também de pessoas de fora – enquanto as entradas laterais possuem muito mais um tom intimista, funcionando como atalhos para os moradores acessarem com maior facilidade as quadras adjacentes. Dessa forma, entendendo que, em uma escala de gradações entre público e privado – a rua se tratando do pólo mais público e a unidade habitacional, o pólo mais privado, e, em algum lugar no meio dessa gradação, se encontra a praça no interior do lote – é possível depreender desse raciocínio que as entradas nas esquinas criam uma gradação suave da via pública até o interior do lote, enquanto as entradas laterais possuem uma maior ruptura entre o aspecto público da rua e o privado do lote. Isso se dá, nesse estudo de caso, não por restrições físicas e obstáculos de acesso, como portões, mas sim por um nível de conforto e predisposição do indivíduo de adentrar naquele espaço. Apesar disso, é válido destacar que esse nível de conforto e predisposição estará sempre limitado, em maior ou menor grau, pelo teor de privado que o espaço possui, por mais convidativa que seja a forma do seu acesso. A leitura de que o espaço se trata de uma área frequentada por uma população específica, no caso, os moradores e seus convidados, é suficientemente restritiva. Outro tipo de espaço existente no projeto que cumpre a função de fazer a passagem gradual do público ao privado são os que serão chamados por alpendres, que figuram nas entradas dos edifícios [FIG. 13 e 14]. Esses espaços levam ao acesso direto às portas de entrada de duas unidades habitacionais no nível do térreo e à uma escada que leva à mais duas unidades no nível superior. Eles podem estar localizados no perímetro da quadra, sendo o único espaço de amortecimento entre a calçada pública e a entrada das unidades – mais uma vez, levando-se em consideração o projeto antes de sofrer alterações, como a instalação de grades que separaram todo o conjunto habitacional
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[fig. 9] e [fig. 10] pórticos de entrada nas laterais dos dois blocos. fonte: Google StreetView (2018)
[fig. 11] e [fig. 12] caixas d’água formando um pórtico de entrada nas esquinas dos dois blocos. [fig. 13] e [fig. 14] entrada das unidades térreas configurando os alpendres nos dois blocos e circulação externa destacada na FIG. 14. fonte: PUGLISI (2017)
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da rua –, ou nas ruas interiores à quadra, participando de uma gradação mais suave do que aquela encontrada nos alpendres externos à quadra, pelo fato de já estarem localizados em uma área mais privativa.
[FIG. 15] e [FIG. 16] recorte da planta do térreo projetado (esq.) e do conjunto construído (dir.)
[FIG. 17] e [FIG. 18] exemplos encontrados do uso dos alpendres como espaço de contato social entre os moradores fonte: Google StreetView (2018)
Esses espaços são caracterizados pela sua função de criar uma espécie de antessala para a entrada das unidades, um intervalo entre as esferas do público e do privado. Segundo Hertzberger, “a concretização da soleira como intervalo significa, em primeiro lugar e acima de tudo, criar um espaço para as boas-vindas e as despedidas, e, portanto, é a tradução em termos arquitetônicos da hospitalidade. Além disso, a soleira é tão importante para o contato social quanto as paredes grossas para a privacidade. Condições para a privacidade e condições para manter os contatos sociais com outros são igualmente necessárias. Entradas, alpendres e muitas outras formas de espaços de intervalo fornecem uma oportunidade para a ‘acomodação’ entre mundos contíguos”. Identificou-se uma inconsistência durante as análises dos materiais entre o projeto e o conjunto construído: nas plantas publicadas na edição 16 da Monolito, no livro O Terceiro Território e o material cedido pelo escritório, os alpendres do projeto constam nos desenhos como elevados acima do nível da rua e acessíveis através de degraus. No entanto, frente ao conjunto construído, esses espaços de acesso ao edifício sempre estão no mesmo nível da rua e não estão demarcados como um espaço, conforme apresentado em planta. No entanto, percebeu-se que, na quadra mais ao norte, os alpendres são acompanhados de muretas paralelas à rua [FIG. 15 - 18]. Essas muretas parecem ter a função de abrigar os medidores de água e de consumo de energia elétrica. De qualquer forma, a presença desse elemento físico, por mais que não sirva como um obstáculo ao acesso dessa área de entrada das unidades habitacionais, demarca e configura um espaço externo junto às portas das casas, onde podem acontecer diversas interações sociais e apropriações. Ou seja, diferente do que foi visto nas plantas, esses espaços denominados como alpendres no presente trabalho não possuem, nos conjuntos edificados, seu perímetro demarcado por um elemento arquitetônico, como parecia acontecer ao se estudar os desenhos do projeto. No entanto, a presença das
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muretas no Rio das Pedras é responsável por criar virtualmente esse perímetro desenhado nas plantas, o que permite visualizálo e entendê-lo como um espaço diferenciável do seu entorno. O terceiro espaço que figura no projeto são as eSCAdAS, que fazem a passagem do térreo para as unidades dos pavimentos superiores, e elas aparecem conectadas aos outros dois espaços, os alpendres e os portais. As escadas ligadas aos alpendres levam ao primeiro pavimento, enquanto as demais – ou seja, aquelas que saem das esquinas, a que está logo após as caixas d’água e as que estão no fundo do lote, todas ligadas às passarelas que formam os portais – levam ao segundo pavimento. As escadas representam um obstáculo por serem uma mudança de nível, mas também por se tratarem de um acesso à áreas mais privativas do edifício, o que causa a sensação de ser um caminho mais restritivo do que o seu entorno. O corredor de circulação do segundo pavimento é aberto para o ambiente externo, criando uma varanda na fachada do edifício nesse nível, para onde se abrem janelas e portas das unidades [FIG. 14, 19 e 20]. A relação que esse espaço cria, de interação entre os universos interior e exterior, o classifica também como um espaço de transição, o quarto encontrado neste projeto e que será denominado CIRCulAção exteRNA. E, por último, a PRAçA INteRNA do lote, que inaugura a descrição dos espaços de transição em análise desse conjunto habitacional, também se define como um espaço diferenciável, uma vez que ela tem um caráter público-privado que se difere da rua e da unidade habitacional. Se trata de um espaço aberto, sem elementos arquitetônicos propositivos de usos específicos. Grande parte da área interna livre do lote foi ocupada com estacionamento de carros dos moradores, mas isso não impede o seu uso pelas crianças para brincar. Esses 6 espaços se diferenciam também se buscarmos identificar à quem se destinam e em quem recai a responsabilidade de zelar por aquela área, desconsiderando a própria administração condominial. Os portais de entrada, as ruas e a praça internas são espaços que compartilham a resposta para essas duas questões: se
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circulação externa dentro das unidades e lotes (privado)
eSPAçoS de tRANSIção - SeGuNdo PAVIMeNto MAPA DIAGRAMA 01.B
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destinam aos moradores e, antes da inserção de barreiras físicas, à possíveis visitantes, e sua manutenção seria condominial, considerando que nenhuma parte do projeto é de gestão pública. O amplo uso desses espaços, no sentido da quantidade de pessoas aptas a frequentá-lo, faz com que não exista um pequeno grupo mais próximo e, portanto, mais responsável por ele, conferindo o cuidado dos mesmos ao grupo maior que abrange todos os moradores.
[FIG. 19] e [fig. 20] circulação externa de um dos blocos. [FIG. 21] escada que leva ao segundo pavimento, logo após a entrada na esquina do projeto. [FIG. 22] alpendre de um dos blocos, com a escada que leva ao primeiro pavimento. fonte: PUGLISI (2017)
Já os alpendres, as escadas e a circulação externa estão vinculados às unidades habitacionais e, por consequência, o seu uso e responsabilidade também. Aos alpendres, estão conectadas duas residências no térreo e uma escada que leva a mais duas, o que implica que essas 4 unidades, por serem as principais usuárias dessas áreas, teriam o compromisso de zelar por elas. A presença das muretas ou a simples noção de que se trata de um espaço que tangencia uma área privada faz com que os alpendres se diferenciem do espaço da praça. Já as escadas, estando elas vinculadas aos alpendres ou aquelas que levam aos pavimentos acima do primeiro, se diferenciam tanto por essa mesma proximidade de áreas cada vez mais privadas, como também pela mudança de nível. A diferenciação da circulação externa ocorre pelo mesmo motivo das escadas. Ela se vincula à um maior número de unidades, uma vez que conecta todo o segundo pavimento do bloco. A quantidade de pessoas aptas a frequentar esse espaço é bastante elevada, o que as distancia um pouco do entendimento de que teriam o compromisso de zelar por ele. No entanto, é possível imaginar que a esfera de influência de cada unidade se expande para o corredor, como podemos visualizar pelas [FIG. 19] e [fig. 20], com a ocupação dessa área por vasos e bicicletas dos moradores, e que a totalidade desse espaço teria sua responsabilidade dividida em grupos formados pelas unidades habitacionais próximas.
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R. ADRIANO SEABRA
R. CARLO BIBIENA
R. CONCEIÇÃO DO ALMEIDA
AV. VALLE
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0 5 10m
espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) conexões (térreo)
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FluIdeZ uRBANA MAPA DIAGRAMA 02
fluidez urbana O projeto se encontra em uma região cortada pela linha do trem da linha 12 da CPTM, sendo que a travessia mais próxima para a área ao sul da linha férrea é pela passarela da própria estação Jardim Helena-Vila Mara. O traçado urbano do bairro é ordenado e regular, com quadras que possuem, em pelo menos uma das suas medidas, cerca de 100m de comprimento. É um bairro majoritariamente residencial e pouco adensado, sendo raros os edifícios com altura superior a 2 andares. Alguns comércios locais estão espalhados pelas quadras, mas é na rua de entrada do conjunto, a rua São Gonçalo do Rio das Pedras, onde se encontra o maior número de estabelecimentos comerciais, sendo também a via que leva à estação da CPTM. A entrada da estação, ao sul do projeto, está localizada em uma praça que divide a quadra com uma escola municipal infantil. É uma área bastante utilizada pelos moradores, com arborização, mobiliário urbano, equipamentos de academia ao ar livre, bicicletário e comércio. Em geral, as ruas ao redor do conjunto possuem largura no mínimo para a passagem de dois veículos, mas suas calçadas são bastante estreitas e recortadas pelo avanço das residências. A exceção é a avenida principal, que é larga o suficiente para o estacionamento e trânsito de veículos e transporte coletivo, além de possuir uma ciclovia e calçadas bastante largas. Em algumas das quadras, existem vielas, que levam ao acesso de residências que não estão em contato com a rua principal, mas que em geral são largas o suficiente para a passagem de um carro. O projeto originalmente previa conexões entre os dois conjuntos e entre as quadras do seu entorno, através da passagem por um espaço de uso público, que seriam as praças no miolo das quadras, conforme foi destacado no desenho. Através das esquinas, o caminho até os espaços de uso coletivo, da praça no miolo do lote e do volume dedicado a receber as reuniões e encontros da comunidade, ocorreria através do que o próprio arquiteto denominou como “praças de passagem”, onde também estariam as unidades comerciais, promovendo mais essa atividade. Além disso, as portas e janelas das unidades que se voltam para a rua e para a praça interna do projeto criam relações visuais com o espaço público, característica esta reforçada por Jane Jacobs como necessária para a segurança das ruas.
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AV. VALLE
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R. ADRIANO SEABRA
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R. CARLO BIBIENA
R. CONCEIÇÃO DO ALMEIDA
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R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0 5 10m
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espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) espaço privado (projeto) barreira transp. ou semitransparente barreira opaca barreira prevista no projeto barreira introduzida pós-ocupação acessos [00]
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referência foto
BARReIRAS MAPA DIAGRAMA 03
barreiras Ambos os blocos do conjunto Rio das Pedras foram totalmente cercados com a construção de um muro de meia altura que serve de apoio para uma grade, encimada por uma espiral de arame farpado. A instalação dessa barreira quebra a intenção original do projeto de permitir a conexão entre as quadras e o acesso à praça interna, mas a sua transparência permite que ainda hajam trocas entre o interior e exterior, sejam elas de caráter visual, sonoro e até mesmo físico. O fato de não terem sido construídos muros no lugar das grades contribui para que o bairro não se torne um lugar inóspito e inseguro, além de que seria desagradável para as unidades habitacionais térreas que suas janelas abrissem de frente para uma parede. Os acessos previstos nas laterais dos blocos [fig. 27 E 28], que interligavam as ruas Conceição de Almeida, Carlo Bibiena e Adriano Seabra, foram totalmente fechados, sendo que a área passou a ser de uso exclusivo para a circulação dos moradores. Já os acessos da Avenida Valle para dentro do lote foram mantidos com a instalação de portões para entrada e saída de veículos [fig. 30]. Nas esquinas principais, foram instaladas portarias [FIG. 23 e 25] e nas secundárias, portões de pedestres com acesso exclusivo para os moradores [FIG. 24 E 26]. Os alpendres, nos quais se encontram as entradas das unidades térreas e a escada que leva às do pavimento superior, não estão mais em contato com a rua pública, conforme previa o projeto, mimetizando as residências do entorno, com suas portas diretamente na calçada. Esses espaços agora se encontram em uma rua secundária, interna ao projeto, criada entre o edifício e o muro gradeado e que circunda os dois blocos. Eles ainda se comportam como espaços de transição entre duas áreas com diferentes percepções de privacidade, assim como os portais e a praça interna, porém dentro de um território agora totalmente privatizado. A rua secundária corre em paralelo com a calçada pública e a transparência da barreira garante que haja uma suavização da divisão entre o público e o privado, afirmando a característica da nova via de mediar trocas entre a interioridade e exterioridade, do conjunto com a rua.
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[FIG. 23] E [FIG. 24] acessos de pedestre pelas duas esquinas do bloco mais próximo da estação Jardim Helena (entrada principal à esq., e de moradores à dir.) [FIG. 25] E [FIG. 26] idem, para o bloco mais afastado da estação [FIG. 27] um dos portais de entrada na lateral do bloco, hoje sem acesso pela rua [FIG. 28] escadas que levam ao segundo pavimento, hoje sem acesso pela rua [FIG. 29] vista da rua Carlo Bibiena das barreiras construídas nas laterais dos dois blocos [FIG. 30] acessos através dos portais nos fundos dos dois lotes hoje são portões de entrada e saída de veículos fonte: Google StreetView (2018)
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rincão
UBS Vila Granada
Parque linear
Estação (Metrô) Vila Matilde
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VIADUTO DONA MATILDE
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PlANtA do PAVIMeNto téRReo ESCALA GRÁFICA
loCAl Vila Esperança, São Paulo - SP INÍCIo PRoJeto 1991 téRMINo dA oBRA 2003 Assim como o conjunto Rio das Pedras/Vila Mara, o conjunto habitacional do Rincão também foi um projeto realizado por Héctor Vigliecca e Bruno Padovano a convite da gestão municipal, respondendo à demanda de um grupo do movimento de luta por moradia. Inicialmente, o grupo pleiteava lotes unifamiliares, mas frente à localização do terreno na cidade, em área consolidada e com boa infraestrutura, optou-se por atender um maior número de famílias com uma solução de projeto mais adensada. Segundo publicação de 1992 da SEHAB, o conjunto fez parte de uma ação pioneira da prefeitura para prover habitação em áreas consolidadas da cidade, substituindo o modelo que vinha sendo praticado até então de relegar a moradia popular à periferia. Além disso, também foi uma inovação da gestão municipal o mecanismo criado para permitir a participação popular no processo de projeto, através do Fórum Regional de Habitação [1] . [1] Ver anexos da SEHAB e COHAB em PUGLISI (2017) [2] PUGLISI (2017), p. 23
Localizado na Vila Matilde, dentro da subprefeitura da Penha, o conjunto ocupa um lote de propriedade do município de São Paulo, dentro de uma área maior desapropriada para a urbanização do bairro e canalização do córrego do Rincão, elemento este que serviu para estruturar o desenho de implantação do projeto. Nessa área, estavam previstos que seriam construídos equipamentos e parques, constituindo um sistema de lazer para o bairro e a implantação do conjunto tinha como objetivo estabelecer uma continuidade e se integrar com esse sistema. A partir da rua Alvinópolis, localizada na frente do lote, 4 blocos habitacionais lineares correm até chegarem no corpo d’água, possuindo estes 3 pavimentos, além do térreo. Os blocos têm suas frentes voltadas para pequenas ruas internas, conformando “vilas pátios”, que são utilizadas por 90, 88 ou 64 unidades habitacionais, a depender das lâminas que se voltam para elas, já que os prédios variam em comprimento conforme a angulação do córrego. O desenho da implantação do conjunto habitacional do Rincão buscava incorporar o espaço público ao projeto através do desenho das vilas, em uma tentativa de resgatar a experiência do cotidiano no espaço entre a casa e a cidade [2]. As unidades
12.686 m2
17.246 m2
306
4
32 a 72,6 m2
113,1 hab/ha
863,9 hab/ha
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térreas têm seus acessos diretamente vinculados aos pátios, ao lado de escadas que levam a outras duas unidades no pavimento superior. Nas pontas dos edifícios, tanto na rua Alvinópolis, como próximo ao córrego, outras escadas levam ao corredor aberto do segundo pavimento, onde se repete a solução de novas escadas que dão acesso a duas unidades do último pavimento. Os edifícios são unidos pela circulação do segundo pavimento na fachada da rua Alvinópolis, conformando pórticos de entrada para as vilas pátios. Inicialmente, o projeto pretendia que as vilas tivessem suas entradas separadas, porém isso não se concretizou e, com a introdução das barreiras que eliminaram os acessos através da rua Alvinópolis, os únicos acessos disponíveis para o conjunto se encontram nas pontas do córrego. A porção superior do terreno, de formato mais irregular, é ocupada por edifícios semelhantes aos da porção mais ao sul, mas com apenas um pavimento acima do térreo. Além disso, nas laterais do lote, voltadas para as ruas Maria Carlota e Evans, são propostas unidades comerciais.
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PlANtA do SeGuNdo PAVIMeNto ESCALA GRÁFICA
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[FIG. 1] corte transversal parcial [FIG. 2] tipologias das unidades habitacionais
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[FIG. 3] - [FIG. 8] fotos do conjunto construĂdo (2012) autoria: Lizete Maria Rubano
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praça interna rua interna portais escadas e rampas rua e calçada (público) dentro dos lotes e edificações (privado)
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eSPAçoS de tRANSIção MAPA DIAGRAMA 01
espaços de transição A implantação do conjunto Rincão se estabelece sobre um lote irregular, cortado por um córrego canalizado aberto, ladeado por três ruas. O projeto é acessado por dois espaços distintos: nas duas pontas do córrego que corta o terreno e através dos portais formados pela circulação do pavimento superior na cabeceira do projeto, junto à rua Alvinópolis. O primeiro acesso se comporta como uma extensão da calçada para dentro do lote, e apenas o diferenciamos da rua pública por se tratar de uma mudança de posse da propriedade: saímos de um espaço de domínio público e entramos em um lote de domínio privado. Não existe, a princípio, nenhum elemento arquitetônico que funciona como articulador dessa mudança de espaços. Entramos diretamente da calçada para a área interna livre do projeto, a que estamos dando o nome de PRAçA INteRNA [FIG. 12], através de uma RuA INteRNA, a rua do córrego. Já o segundo acesso, para entrarmos no lote através da rua Alvinópolis, devemos passar sob um PoRtAl. Esse elemento elevado é o que caracteriza essa área de passagem como um espaço por si só, diferenciado dos outros que interliga (a rua e a praça interna). O acesso aos pavimentos superiores se dá através de eSCAdAS, que podem ser acessadas diretamente pela calçada, ou então pela praça interna ou pelos portais na cabeceira. A mudança de nível e a sensação de que estamos entrando em uma área com um nível de intimidade maior, uma vez que nos aproximamos do domínio privado das unidades habitacionais, é o que caracteriza as escadas como um espaço diferenciável em relação ao seu entorno. Ao lado das escadas acessíveis pela praça, podemos encontrar um recuo que leva à porta de uma unidade no pavimento térreo. À esse espaço estamos dando o nome de AlPeNdRe [FIG. 10 e 11]. A articulação espacial que nos permite diferenciá-lo do espaço geral da área interna do conjunto é o recorte criado pela presença da escada em “T” e a cobertura sobre as portas de entrada, criada pelo recuo na fachada. No terceiro pavimento, o corredor que dá acesso às unidades habitacionais é ladeado por uma mureta baixa, permitindo que haja um contato desse espaço com o exterior. A CIRCulAção exteRNA [FIG. 13], conforme estamos denominando, se configura como o
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quinto espaço de transição identificado no projeto. Podemos ver que existem grandes semelhanças entre os espaços de transição identificados nos dois projetos até então investigados, o Rio das Pedras e o Rincão. A solução das escadas que levam à mais duas unidades no primeiro pavimento, entre os alpendres das unidades térreas, se repete, assim como a entrada ao lote intermediada pelos portais formados pela circulação elevada e o corredor aberto do pavimento superior. Dessa forma, os entendimentos à que chegamos no tema dos espaços de transição do projeto do Rio das Pedras também se aplicam aqui. Dentre eles, a percepção dos alpendres como [FIG. 9] espaços análogos às soleiras. No caso do projeto do Rincão, a recorte da planta do expansão da esfera de influência dos moradores para essa área térreo, com foco nos alpendres ligados à externa se deu de tal forma que a maior parte dos alpendres escada de acesso ao atualmente possuem um portão que limita o acesso de terceiros a primeiro pavimento esse espaço e estão bastante personalizados, com revestimentos que destoam do restante do edifício. Podemos assumir que [FIG. 10] e [FIG. 11] isso ocorreu porque esses espaços se vinculam à apenas uma alpendres e escadas unidade habitacional e por isso foram incorporados ao domínio da mesma, ignorando a proposta do projeto que essas áreas [FIG. 12] um dos pátios entre os pertencessem ao domínio coletivo. Já os espaços compartilhados edifícios, caracterizado por mais moradores, como as escadas e a fachada dos edifícios, aqui como praça do primeiro pavimento para cima, se encontram padronizadas em interna todo o conjunto. [FIG. 13] circulação do terceiro pavimento aberta
fonte: PUGLISI (2017)
No que condiz às responsabilidades e a quem esses espaços se destinam, essa expansão da esfera de influência serve como instrumento para nos auxiliar a obter essa resposta. Ou seja, a personalização das entradas das unidades térreas nos mostra que os alpendres se destinam à uma unidade individual e a responsabilidade por zelar por esse espaço também. As escadas, são vinculadas à duas unidades do primeiro pavimento, assim como sua responsabilidade e destinação; as demais escadas, se relacionam às unidades à que dão acesso, e os portais e a praça interna, ainda que sejam de uso de todo o conjunto, se vinculam às unidades a que dão acesso também, ou seja, aquelas que se abrem para o pátio entre os edifícios.
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[FIG. 14] e [fig. 15] ruas que ladeiam o cรณrrego do Rincรฃo [FIG. 16] foto de um dos pรกtios, mostrando as escadas, alpendres e a rua do cรณrrego atrรกs fonte: PUGLISI (2017)
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espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) conexões (térreo)
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FluIdeZ uRBANA MAPA DIAGRAMA 02
fluidez urbana As ruas do entorno imediato do projeto são amplas, com 3 ou 4 pistas, e as calçadas são bastante estreitas e recortadas, devido variações no avanço das frentes dos edifícios. Além disso, o projeto faz esquina com dois grandes lotes ocupados por estacionamentos privados e o viaduto Dona Matilde, que passa paralelamente ao conjunto habitacional, cria um térreo coberto na rua Maria Carlota ocupado por carros estacionados, por onde os pedestres têm de passar caso queiram cruzar a rua sentido oeste. Dessa forma, o desenho do sistema viário do entorno do conjunto habitacional não configura bons espaços de vivência, uma vez que a área destinada ao usufruto dos pedestres é bastante reduzida e pouco qualificada se comparada com a área oferecida aos veículos. A região é bem pontuada por comércios locais, inclusive alguns que ocupam o térreo do Rincão, nos espaços programados para tal atividade ou nas esquinas, contando com a presença de salões de beleza, restaurantes, oficinas mecânicas, padarias, pequenas lojas e até um clube. As quadras que ladeiam a área do projeto são pouco arborizadas e os únicos espaços verdes no entorno imediato são: um ecoponto próximo à esquina do conjunto, o parque linear que ladeia o córrego do Rincão e espaços residuais do sistema viário, como uma ponta de quadra na junção de duas ruas que se tornou uma praça arborizada e ocupada por uma banca de jornais. De modo geral, a região tem poucos espaços de vivência significativos, deixando essa função restrita aos poucos comércios e ao parque linear. O projeto original, ao não colocar barreiras no perímetro do lote, permitia a continuidade do parque linear que acompanha o córrego do Rincão, o que hoje configuraria um sistema de espaços livres. Além disso, as praças de vila criadas com a conexão dos edifícios laminares à calçada da rua Alvinópolis, sem as barreiras, se conformariam como espaços públicos para a região. As conexões propostas pelo projeto com as ruas do entorno foram destacadas no desenho, sendo que os fluxos possibilitados por elas foram interrompidos a partir do momento que o conjunto foi cercado pelos moradores. O comércio no térreo, voltado para a rua, se manteve, ainda que em um número reduzido daquele previsto em projeto, ocupando predominantemente as esquinas. Finalmente, para o conjunto do Rincão, não foi considerado que
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hajam relações visuais significativas com o espaço público, uma vez que as aberturas das unidades se voltam muito mais para o espaço das praças internas do que para a ruas do entorno.
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[14] e [15]
[23] [18]
[22] [17]
[17] R. ALVINÓPOLIS
[16] 0
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espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) espaço privado (projeto) barreira transp. ou semitransparente barreira opaca barreira prevista no projeto barreira introduzida pós-ocupação acessos [00] 82
referência foto
BARReIRAS MAPA DIAGRAMA 03
barreiras O projeto do conjunto habitacional do Rincão difere do conjunto construído no que condiz aos seus acessos e barreiras. Uma das modificações realizadas foi o fechamento dos portais de acesso que davam para a rua Alvinópolis por um muro com uma pequena janela, permitindo a visualização das praças a partir da rua, mas impedindo totalmente a passagem de pessoas [FIG. 16, 17 e 22]. A circulação externa que passa sobre esses portais serve à sua função como mirante, assim como já era previsto antes mesmo do cercamento. Os acessos ao lote nas duas pontas do córrego foram cercados e neles colocados portões para a passagem de veículos e, na entrada pela rua Maria Carlota, foi incluída uma portaria com controle de acesso [FIG. 14, 15, 18 e 23]. A rua Alvinópolis corre em paralelo com um muro que a separa da linha do trem e, por conta disso, o trecho onde está o conjunto agora fica ladeado por muros dos dois lados, com exceção das pequenas aberturas gradeadas que antes eram os portais de acesso do projeto. Isso ocorre pois grande parte da fachada do projeto que se volta para essa rua se trata da lateral dos edifícios habitacionais, onde não foram criadas aberturas para a rua por conta da poluição sonora causada pelo fluxo de trens e veículos. Outra alteração que ocorreu no projeto foi a construção de unidades comerciais nas duas esquinas, da rua Alvinópolis com as ruas Maria Carlota e Evans. Como podemos ver na implantação original ou no mapa-diagrama 01, as esquinas faziam parte da calçada, o que configura a construção dessas novas unidades como uma apropriação do espaço público. Nas imagens da próxima página, estão diferenciados os estados em que estavam as portarias construídas na rua Maria Carlota nas datas de janeiro de 2010 e dezembro de 2017. Coube aqui salientar a diferença dos níveis de transparência dessa barreira nesses dois momentos: em 2010, a portaria permitia uma visibilidade muito maior do conjunto habitacional e, portanto, eram também maiores as trocas entre o interior e o exterior, se compararmos com o estado atual, após a reforma desse acesso. O uso do muro alto e parcialmente opaco, em contraste com o muro mais baixo e gradeado, interferiu nesse aspecto das trocas com o exterior que o projeto tinha, ainda que a inserção de uma barreira, por si só, já tenha sido responsável por isso.
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Diante disso, a barreira construída na entrada do conjunto, hoje reformada, foi considerada opaca pelo trabalho, devido o impedimento que ela cria de trocas entre o interior o exterior. O mesmo se aplica à saída do conjunto, onde o portão e o muro também impedem essa possibilidade de troca.
[FIG. 17] portaria na rua Maria Carlota em janeiro de 2010 [FIG. 18] portaria em dezembro de 2017 [FIG. 19] e [FIG. 20] pórticos de entrada na rua Alvinópolis [FIG. 21] acesso pela rua Evans transformado em um muro com portão para saída de veículos fonte: Google StreetView (2018)
[FIG. 22] vista interna de um dos portais de entrada [FIG. 23] vista interna do portão de saída de veículos na rua Evans fonte: PUGLISI (2017)
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jardim vicentina
EMEF Prof. Olavo Antônio Barbosa Spinola
EMEF José Veríssimo de Matos
Creche Agentil dos Reis
EMEI Prof. Dalva Mirian Portela Machado
88 20m
centro comunitário
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segunda fase
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playground
parque linear
quadra de futebol
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primeira fase
R
NIO . ANTÔ
O
E BRIT
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R. ISOLDINO ALVES
DA
O DA A. NAS
CIMENTO
planta do pavimento térreo escala gráfica
LOCAL Jardim Roberto, Osasco - SP INÍCIO PROJETO 2008 TÉRMINO DA OBRA 2010 O projeto realizado para o Jardim Vicentina, assim como os outros três aqui apresentados, também vem em resposta a uma demanda do poder público. Em consonância com as políticas de âmbito federal que vinham sendo implementadas, como a criação do Ministério das Cidades e do Estatuto da Cidade, a partir de 2005, no município de Osasco, uma nova política habitacional foi desenvolvida, por meio da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano (SEHDU). Desde então, a prefeitura passou a atuar no território dos assentamentos precários realizando projetos de urbanização, provisão habitacional e regularização fundiária. A atuação do poder público visou associar os projetos de habitação com a reestruturação do território, a partir do fornecimento de infraestrutura e recuperação ambiental, buscando integrar essas áreas precárias à cidade formal.
[1] GONÇALVES, DUTRA, REZENDE (2014)
A área em que se localiza o projeto Jardim Vicentina era marcada por moradias precárias, instaladas na beira de córregos ou em encostas, sob o risco de deslizamento, e por uma infraestrutura insuficiente. A urbanização dessa área incluiu obras como a canalização do córrego, implantação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia elétrica e iluminação pública, construção de vias públicas, que permitiram a conexão com o entorno, e novas unidades habitacionais para o reassentamento das famílias removidas. As obras, assim como o projeto, se dividiram em duas fases, conforme a disponibilização de recursos do governo federal. A primeira se concentrou na região da canalização do córrego, onde foram construídas parte das unidades habitacionais e a quadra de esportes, além de pavimentação das vias e construção de escadarias. Na segunda, foram construídas as unidades habitacionais restantes em uma área de aclive, onde foram implantados dois blocos edificados e um centro comunitário para o bairro, além das obras de infraestrutura. A proposta também contempla a implantação de uma praça e outros espaços públicos para lazer e convivência. [1] Essa divisão em duas fases pode ser visualizada na implantação do projeto. Os 7 blocos construídos juntamente com as obras de canalização do córrego se encontram na porção à esquerda, implantadas na rua Morada dos Sonhos, criada sobre o córrego
94.618 m2
11.466,59 m2
272
1
49 m2
102,6 hab/ha
345 hab/ha
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canalizado, e as unidades da segunda fase são aquelas que vencem o desnível da região a partir da proposta de escadarias que interligam as ruas Nobar Kurkdjian e Antônio Russo pela lateral do lote ocupado pelos 5 blocos habitacionais. Pelo próprio memorial descritivo publicado no site ArchDaily, a intenção projetual era a de dar “continuidade à estrutura urbana existente, gerando novas condições urbanas e criando um novo espaço de referência e espaço viável reconhecível, definido através de novas bordas urbanas.” O projeto busca valorizar “o pedestre, estabelecendo uma nova escala de espaço público com total ausência de espaços residuais.”
[FIG. 1] tipologia das unidades habitacionais
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[FIG. 2] corte mostrando a canalização do córrego sob a rua Morada dos Sonhos [FIG. 3] implantação do projeto
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[FIG. 4] - [FIG. 9] fotografias do projeto construĂdo autoria: Leonardo Finotti
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praça interna
rua e calçada (público)
rua interna
lotes e edificações (privado)
portais escadas e rampas circulação externa 96
Espaços de Transição mapa diagrama 01
espaços de transição O desenho de implantação do projeto do Jardim Vicentina deixa muito menos espaço para áreas de transição do que os outros três projetos aqui analisados. Com base nos desenhos do conjunto projetado, podemos verificar que, dos 13 blocos de unidades habitacionais, 5 deles possuem seus acessos diretamente na rua, através de halls de entrada que levam a duas unidades térreas e escadas que levam a mais duas por pavimento, enquanto os outros 8 blocos são intermediados por algum tipo de espaço de transição. Dentre eles, existem duas soluções diferentes: 7 blocos possuem uma circulação externa, tanto no térreo, quanto nos demais pavimentos, na qual se abrem as portas das unidades habitacionais, e o último, de implantação mais diferenciada do restante dos blocos, é acessível através de uma rua interna criada sob as passarelas que interligam 5 edifícios a uma lâmina, criando portais sobre essa rua. Os blocos que pertencem à segunda fase da construção do conjunto estão implantados em um terreno com uma grande declividade. A solução do projeto foi criar escadarias de uso público, que interligam as ruas Antônio Russo e Nobar Kurkdjian, e que dão acesso a praças no centro do lote, nas quais se encontram a entrada dos edifícios. Entre o que foi projetado, e que podemos constatar através dos desenhos aqui apresentados, e o que foi construído, existem algumas diferenças. Uma rua foi criada (rua Ilha Bela), cortando o lote em duas porções, e os edifícios foram redesenhados. No entanto, alguns princípios permaneceram os mesmos: são duas as escadarias que ladeiam esse conjunto de edifícios da segunda fase e parte deles ainda são lâminas cujo acesso ocorre através das circulações externas. Outra mudança constatada foi o deslocamento do centro comunitário do miolo do lote para a esquina. O desenho original do projeto foi mantido e lido sob a ótica dos espaços de transição, assim como se tem feito ao longo do presente trabalho, mas optou-se por também apontar essas diferenças na imagem de satélite [FIG. 10], na qual foram destacadas as escadarias e as circulações externas, utilizando a mesma legenda do mapa diagrama 01, para indicar essas mudanças.
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As 4 escadarias que fazem parte do projeto e interligam ruas em desnível receberam tratamentos diferentes nas duas representações, uma vez que, pelo projeto, aquelas identificadas pelos números 1 e 2 estão implantadas em áreas públicas, enquanto as 3 e 4, que passam juntamente aos blocos da segunda fase das obras do Jardim Vicentina se vinculam aos edifícios e, portanto, estão em uma área que pertence ao lote do projeto. Na realidade, o que se construiu foram três escadarias públicas (as de número 1 e 2, que se mantiveram, e a de número 4, como podemos ver na [FIG. 10]) e uma escadaria de uso público que corta um dos lotes do conjunto, como também podemos ver na [FIG. 10]. Ainda que não se tratem todas de espaços de transição, elas foram destacadas nas fotos ao lado para fins de identificação. Ainda que essa escadaria possa ser utilizada por qualquer pessoa da região, pelo fato dela se encontrar entre os edifícios do conjunto habitacional e, portanto, estar em uma área passível de restrição de acesso, a escadaria de número 3 foi considerada um espaço de transição do projeto, em contraste com as outras três, consideradas públicas. As duas outras áreas que também se encaixam como espaço de transição são a viela criada atrás da quadra de futebol, que interliga o projeto à rua Nobar Kurkdjian, e a passagem em frente à circulação externa do bloco que faz esquina com a rua Maria dos Anjos da Conceição, recebendo ambas a mesma denominação de rua interna daquela que passa sob as passarelas nos blocos interligados à lâmina. Podemos entender a passagem sob as passarelas [FIG. 16] como uma rua interna pelo fato dela estar ladeada pelos edifícios, criando um corredor, que também é pontuado por portais, criados pelas passarelas que passam nos pavimentos acima, e por exercer a função de conector entre áreas. A viela também é ladeada por edificações e recebe a mesma identificação como rua pois conecta a praça à rua atrás do projeto. Ela é um espaço de transição do conjunto habitacional e não uma viela pública pois conecta uma área que faz parte do lote à rua pública, sendo passível de ser cercada e ter seu acesso restringido. Esses três espaços se diferenciam do seu entorno, o qual
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[FIG. 10] imagem de satélite com a implantação final dos edifícios da segunda fase da construção do projeto [FIG. 11] escadaria 1 fonte: Google StreetView (2016) [FIG. 12] escadaria 2 fonte: Google StreetView (2016) [FIG. 13] e [fig. 14] escadaria 3 autoria: fotos minhas (2019) [FIG. 15] escadaria 4 fonte: Google StreetView (2016)
centro comunitรกrio
3 4
rua Ilha Bela
99
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[FIG. 16] rua interna sob as passarelas, que também são espaço de transição [FIG. 17] quadra de futebol, um uso proposto do espaço da praça interna autoria: Leonardo Finotti [FIG. 18] e [fig. 19] praças entre os edifícios [FIG. 20] circulação externa da lâmina próxima ao parque linear fonte: Google StreetView (2016) [FIG. 21] circulação externa de um dos blocos da segunda fase autoria: foto minha (2019)
denominamos de praça interna. A praça foi assim identificada por se tratar de uma área livre, que se espraia de forma a preencher o espaço entre os objetos edificados, criando um local de vivência. Ela se manifesta tanto enquanto pequenas praças entre os edifícios [FIG. 18 E 19], que podem ser ocupadas de diferentes formas, como com um uso proposto, o da quadra de futebol [FIG. 17]. Essa quadra poderia ter sido considerada um espaço público, mas seu posicionamento dentro do lote a torna parte do projeto e, caso o mesmo fosse cercado, essa quadra poderia ter seu uso alterado como exclusivo para os moradores. Podemos constatar, a partir do que foi construído, que grande parte do espaço livre entre os edifícios da segunda fase da construção se trata de taludes, criados para vencer a declividade do terreno. Estão marcados no desenho como áreas privadas, pois, por questões de segurança, o acesso a essas áreas foi impedido. Por fim, o acesso aos edifícios em lâmina também ocorre através de um espaço de transição, as circulações externas. Se tratam de corredores que se abrem para o meio externo, por onde são acessadas as portas de entrada das unidades habitacionais. Podemos ver a ampliação da esfera de influência em direção a esses corredores, que são utilizados pelos moradores para pendurar os varais com roupas para secar ou para deixar estacionadas as bicicletas das crianças. A partir disso, é possível verificar que as circulações externas dos edifícios em lâmina são de uso e responsabilidade das unidades que as utilizam diretamente, a partir da constatação que o espaço é utilizado esses fins. No entanto, nem sempre é possível constatar à quem se destinam os espaços procurando indícios das apropriações dos mesmos pelos seus usuários. Um exemplo disso são as praças entre os edifícios: os moradores as utilizaram para estacionar veículos e para construção de “puxadinhos”, como vagas cobertas e abrigos para armazenamento de materiais, mas se tratam de espaços públicos sendo apropriados por interesses privados e individuais. Essa apropriação ocorre talvez porque a implantação dos edifícios desenha um limite invisível entre espaços com níveis de intimidade diferentes: a praça e a rua. Ainda que pública, a praça é afastada desse entendimento por
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conta da sua proximidade do espaço privado das unidades, se localizando entre os edifícios e em contato com a rua interna, que está num nível ainda maior de intimidade. As duas escadarias no bloco dos edifícios da segunda fase haviam sido previstas, pelo projeto, como públicas, mas a proximidade aos edifícios de habitação e o fato de estarem dentro do lote do projeto fizeram com que elas fossem consideradas espaços de transição no presente trabalho. O que se verifica, na realidade, é que a escadaria de número 3, por passar dentro do lote, ladeando a circulação externa de um dos edifícios, foi incorporada como espaço do conjunto habitacional, enquanto a escadaria 4, que passa na lateral do lote, foi mantida como pública. Dessa forma, se a escadaria 3 é um espaço de transição do conjunto, logo sua responsabilidade está vinculada aos seus moradores, diferente do que ocorre com a de número 4, que fica a cargo da gestão municipal.
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espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) conexões (térreo) conexões (entre níveis)
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FLUIDEZ URBANA mapa diagrama 02
fluidez urbana O bairro Jardim Roberto, no qual o projeto está inserido, é de ocupação irregular, com ruas sinuosas e estreitas. A área no entorno do conjunto habitacional é predominantemente residencial, com casas unifamiliares de até três andares autoconstruídas. As calçadas são estreitas e com muitos desníveis, acompanhando a declividade presente em toda a região, o que faz com que o leito viário seja também utilizado para circulação de pedestres. As quadras não são muito longas pois a área é bastante recortada por ruas de pequeno comprimento, o que facilita a circulação dos moradores. A área comercial do bairro se concentra a três quadras da rua Morada dos Sonhos, seguindo pelas escadarias à oeste. A região não possui espaços de coletividade significativos, ficando restrita ao uso de pequenas praças criadas em espaços residuais da malha viária ou do comércio local. Assim, a quadra, o centro comunitário e o parqur linear construídos pelo projeto são adições importantes às possibilidades de lazer e convivência de uma região precária. Dentro da proposta do projeto foram incluídas as reformas de escadarias na região que interligam ruas que possuem um grande desnível entre elas, como entre as ruas Morada dos Sonhos e Antônia Maria de Brito e as ruas Nobar Kurkdjian e Antônio Russo. Além disso, outra nova conexão formada com a proposta é a continuação da rua Morada dos Sonhos em um parque linear, chegando na rua Nelson Pereira, onde se encontra uma pequena área comercial. Essa conexão se inicia junto ao último bloco, mais ao norte, na rua Iraci de Brito, e cruza algumas outras ruas residenciais no seu percurso, criando um espaço de lazer para a região. Por fim, as janelas dos edifícios se voltam para o espaço público, criando relações visuais com o mesmo. Isso ocorre de forma mais clara com os blocos em lâmina da rua Morada dos Sonhos, pois há um contato direto das unidades com a mesma, pois as entradas dos halls de entrada e as janelas das unidades térreas se localizam na própria calçada.
105
R. ODILA CATAN
R. IRACI DE BRITO
TO
O R. ANTÔNIO RUSS
R. ODILA CATAN
R. NOBAR KURKDJIAN
[22]
DE MARIA ÔNIO R. ANT
BRITO
R. MORADA DOS SONHOS
R. TSURUKICHI TAKIMO
R. ISOLDINO ALVES
[28] [24]
[23] R. MA RIA DO S
[25]
DA O ÇÃ EI NC CO
0
AN JO S
[26] E [27]
20m
espaço de fruição pública
barreira introduzida pós-ocupação
espaço privado (lotes e edifícios)
acessos
barreira transp. ou semitransp.
[00]
CIMENTO
O DA A. NAS
R. EDVALD
referência foto
barreira opaca barreira prevista no projeto 106
Barreiras mapa diagrama 03
barreiras A decisão de escolher o projeto do Jardim Vicentina como um dos estudos de caso se pautou na possibilidade de que este, diferente dos outros três, não havia sofrido alterações significativas nas suas fronteiras e limites. Essa possibilidade foi levantada a partir de uma verificação via Google Street View, mas que poderia estar equivocada uma vez que as imagens do website eram de 2016 e 2017. Essa teoria se confirmou em visita de campo em maio de 2019. Infelizmente, não foi possível tirar um grande número de fotos do estado atual do projeto por conta da insegurança da região. Houveram apropriações do espaço público como espaço privado com a construção de “puxadinhos” nas praças entre os edifícios, com o uso das mesmas como estacionamentos de veículos individuais [fig. 18] e com a construção de barreiras [FIG. 22 - 24] em duas das ruas internas, identificadas no mapa diagrama 01. Essas passagens foram incorporadas ao espaço de acesso exclusivo dos moradores. Ademais, as barreiras construídas nas circulações externas térreas, isolando-as do acesso indiscriminado, consolidaram um limite que já existia entre espaços de níveis de intimidade diferentes e não provocaram grandes mudanças nos fluxos e acessos do projeto. Embora o desenho do mapa-diagrama 03 não represente o que de fato foi construído, as barreiras criadas no conjunto edificado da segunda fase estão representadas esquematicamente. Assim, podemos verificar que a escadaria de número 3 teve seus acessos mediados por portões [fig. 25], assim como as praças que dão acesso aos edifícios no miolo do lote. A lateral sudeste dessa porção do lote, onde ele faz divisa com a escadaria de número 4, foi totalmente fechada para acessos, com um muro baixo sob uma grade. No entanto, verificou-se na visita de campo que a maioria dos portões instalados permanecem destrancados e até mesmo abertos durante grande parte do dia. Isso se aplica às portas dos halls de entrada, das circulações externas, das praças internas da segunda fase e da escadaria 3.
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[FIG. 22] barreira criada na rua interna atrás da quadra fonte: Google StreetView (2016) [FIG. 23] e [fig. 24] barreira que fecha a rua interna criada junto a um dos blocos habitacionais fonte: Google StreetView (2016) e foto minha (2019), respectivamente [FIG. 25] porta que dá acesso à circulação vertical de um dos blocos e que é mantida destrancada autoria: foto minha (2019)
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[FIG. 26] e [FIG. 27] barreiras criadas nos blocos da segunda fase, com os portões que são mantidos abertos fonte: Google StreetView (2016) [FIG. 28] portão que dá acesso à escadaria de número 3 e que é mantido destrancado autoria: foto minha (2019)
111
parque novo santo amaro V
CEI Jardim Guarujá
CEI Parque Novo Santo Amaro
E.E. José Porphyrio da Paz
EMEF Antônio Estanislau do Amaral
Estrada do M’Boi Mirim
A BI RU
A
Z
ÂM
playground
RU
AF R
AN
CIS
CA
QU
EIR
ÓS
pista de skate
playground
LO
US
AD
A
campo de futebol
CO
EL
HO
academia ao ar livre
RU
A
centro comunitário 0 10m
114
planta do pavimento térreo escala gráfica
LOCAL Parque Novo Santo Amaro, São Paulo - SP INÍCIO PROJETO 2009 TÉRMINO DA OBRA 2012 O projeto do conjunto Parque Novo Santo Amaro V vem em resposta a uma demanda da gestão municipal de intervenção sobre a área com base em dois eixos: proteção de mananciais e provimento de habitação social. Dessa forma, o conjuntoparque se qualifica, conforme apontado por Rubano, como uma estrutura urbana em um território de difícil urbanização [1]. Ele se localiza no bairro do Parque Novo Santo Amaro, dentro da subprefeitura do M’Boi Mirim em São Paulo, local este em uma área periférica da cidade com escassa infraestrutura urbana.
[1] RUBANO (2014), p. 8 [2] PUGLISI (2017), p. 49
As residências que ocupavam a área destinada à construção do conjunto foram desapropriadas de acordo com o nível de precariedade e o risco que apresentavam, tanto ambientalmente, como à segurança dos moradores. O córrego no fundo do vale recebia esgoto in natura e não foi possível recuperá-lo no projeto, tendo de ser canalizado. As unidades habitacionais construídas foram destinadas às próprias famílias removidas da área, em virtude de duas leis aprovadas em 2006 e 2009 que permitiram a construção de moradia em área de mananciais, atendendo a determinados critérios [2]. O projeto também prevê obras de urbanização no bairro, como melhorias nas redes de esgoto, luz e drenagem, pavimentação, iluminação pública, entre outras. A área de intervenção do projeto pode ser dividida em duas porções: a primeira, mais ampla, se estrutura a partir do campo de futebol e a segunda, mais estreita, a partir do córrego, ambos pré-existências. Os edifícios lineares de habitação social são inseridos nas bordas opostas das duas porções e se voltam para a rua, liberando a área interna do terreno para o seu uso proposto como parque público. Para cumprir a sua função, são construídos espaços como o próprio campo de futebol e um parque linear que acompanha um espelho d’água criado sobre o córrego canalizado, alimentado por uma nascente encontrada durante as obras, e serve de suporte à longa praça que abriga áreas de playground, academia ao ar livre e uma pista de skate. Também serve como suporte ao espaço de uso público as unidades comerciais sob os edifícios, propostas para que os moradores pudessem ocupar com atividades comerciais e de prestação de serviço, mas que não se concretizaram e, atualmente, são utilizadas como garagem. Estando implantado em uma área acidentada, o projeto também
21.899 m2
14.674,3 m2
201
11
52,5 a 76,5 m2
79 hab/ha
405,8 hab/ha
115
propõem duas passarelas que interligam os desníveis formados pelas ruas Francisca Queirós e Coelho Lousada que percorrem o lote. A entrada ao parque e seus equipamentos se dá através de escadas que passam sob os blocos habitacionais, através de calçadas na rua Coelho Lousada ou por uma das suas pontas, na rua Zâmbia. A proposta do projeto era de que toda a extensão do parquepraça fosse aberta ao uso de usuários e não apenas dos moradores, mas isso não se concretizou. Ao longo dos anos de ocupação do conjunto habitacional, obras foram realizadas a fim de implementar barreiras nos acessos, impedindo a entrada de pessoas não autorizadas nas dependências do agora condomínio. As únicas entradas que foram preservadas como públicas foram aquelas que dão acesso às passarelas e ao campo de futebol. Os conflitos que acompanham a história do projeto, e que foram determinantes para a introdução das barreiras, foram abordados pelo Architecture Review em 2015 em um curto vídeodocumentário publicado no YouTube [FIG. 8 - 17]. Dentre as reclamações feitas pelos moradores – tanto através de depoimentos dos mesmos, como através do relato do síndico geral dos prédios – estão a poluição que caracteriza o espelho d’água atualmente e o ruído sonoro provocado pelos usuários da pista de skate e das passarelas. A ocupação do conjunto por um determinado grupo criou uma separação entre “nós” e “os outros”, possível de ser percebida através do discurso dos próprios moradores, que responsabilizam “os que vem de fora” por esses problemas. A ausência do Estado em gerir o parque como uma área pública acarretou em custos para o grupo de moradores, organizados sob uma gestão condominial, o que também justifica a introdução das barreiras, uma vez que a possibilidade de arcar com custos referentes à manutenção gerados por pessoas que não contribuem economicamente com aquele gasto não parece adequada.
116
[FIG. 1] E [FIG. 2] croquis do projeto mostrando uma das passarelas em corte e a unidade habitacional
117
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[FIG. 3] - [FIG. 7] fotografias do projeto construĂdo autoria: Leonardo Finotti
119
[fig. 8] escadaria de acesso à rua Francisca de Queirós e a passarela que a interliga com a rua Coelho Lousada [fig. 9] passarela citada na [FIG. 8] [fig. 10] espelho d’água poluído atualmente [fig. 11] pista de skate em uso, gera reclamações de barulho dos moradores [fig. 12] passarela citada na [FIG. 8] [fig. 13] problema citado pelos moradores de uso do espaço da praça por motocicletas [fig. 14] circulações externas foram gradeadas [fig. 15] vista da passarela mais ao norte do projeto a partir da praça [fig. 16] vista da arquibancada que ladeia o campo de futebol [fig. 17] vista da rua do acesso à passarela no início da rua Zâmbia fonte: capturas do documentário da Architecture Review (jun/2015) 3 anos após finalização das obras
120
121
praça interna portais escadas e rampas rua e calçada (público) dentro dos lotes e edificações (privado)
0 10m 122
ESPAÇOS DE TRANSIÇÃO mapa diagrama 01
espaços de transição Considerando a proporção entre as áreas destinadas à habitação e ao uso coletivo pretendido pelo projeto, é possível entender que o programa do conjunto Parque Novo Santo Amaro se qualifica muito mais como praça e parque do que como habitação. Ele se encaixa na categoria descrita pelo livro O Terceiro Território como sendo um projeto que propõe uma estruturação urbana a partir da demanda habitacional. Frente a isso, é possível entender a praça-parque como parte integrada da cidade, uma extensão da calçada para dentro do lote, articulando diversas atividades coletivas sobre a sua grande área. Dentro desse território, os edifícios se inserem diretamente, sem terem seu acesso graduado a partir de uma sequência de espaços intermediários. Aqui, não figuram os alpendres, por exemplo, o acesso ao edifício se dá direto pela rua ou pelo parque, ou então através das passarelas que também se conectam às circulações externas que levam às habitações individuais. Dessa forma, a esfera privada da habitação não se expande para fora da porta de entrada. No entanto, parece conseguir se expandir para fora das janelas: as aberturas se voltam para a rua e o desenho dos caixilhos permite que sejam individualizadas a partir da inserção de elementos pessoais, como vasos, cortinas coloridas etc., podendo ser, então, reconhecidas por quem transita na rua. Podemos entender a personalização das janelas como uma expansão da esfera de influência pessoal que se manifesta na fachada do edifício. Talvez seja por isso que o arquiteto tenha determinado que essas janelas se voltem para o espaço absolutamente público da rua, onde a expansão dessa esfera não acarretaria em um cercamento do bem público, e voltado para o parque estão as aberturas mais genéricas, com um menor apelo estético e menos personalizáveis. A leitura que se pode fazer a respeito da praça-parque varia em níveis de público e privado. A porção do lote que se volta para a rua Coelho Lousada é muito mais aberta ao acesso público do que a porção da rua Francisca de Queirós, que restringe os acessos à escadarias que passam sob os edifícios, o que implica no entendimento de que esses espaços possuem um caráter mais privativo, funcionando como espaços de transição. A praça também pode ser lida como sendo pública, se entendida como bem público, ou como tendo um caráter privativo, se entende-se que faz parte de um lote residencial. Dessa forma, ela também
123
pode ser lida como um espaço intermediário. Além da praça-parque [FIG. 12], os outros únicos espaços do térreo no projeto que podem ser lidos e encaixados na categoria de intermediários são os portais que são criados sob os edifícios com a passagem de escadarias que interligam as ruas do entorno e a praça [FIG. 10]. Esses espaços se encontram no caminho entre as esferas pública e privada por compartilharem fronteiras com ambos os pólos, e por permitirem a conexão entre áreas que se diferenciam em níveis de público e privado. Já nos pavimentos acima, as passarelas públicas [FIG. 8 e 11] e as circulações externas dos edifícios habitacionais se colocam como espaços de transição, criando novas possibilidades de conexões com a cidade e situações que permitem a sociabilidade.
[FIG. 8] - [FIG. 12] fotos do conjunto construído e os espaços intermediários (passarelas, circulação externa, quadra, portais e praça-parque) autoria: Leonardo Finotti
124
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espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) conexões (térreo) conexões (entre níveis)
0 10m 126
FLUIDEZ URBANA mapa diagrama 02
fluidez urbana Localizado em uma região da cidade marcada pela autoconstrução e reconhecida pelo poder público através do provimento de infraestrutura básica, o conjunto do Parque Novo Santo Amaro se insere em uma trama viária na qual as vias de circulação do bairro são caracterizadas por serem sinuosas e pelas pequenas ou escassas calçadas. Em áreas periféricas como essa, é possível compreender que o espaço da coletividade se manifesta não apenas na porção das vias destinada aos pedestres, mas em toda ela: ora a rua é circulação, de veículos e pedestres, e ora a rua é estacionamento, campinho de futebol etc. Além disso, alguns pontos de comércio são encontrados ao longo do bairro, como pequenos mercados, oficinas, salões de beleza etc. Os edifícios habitacionais do projeto ocupam, parcialmente, as bordas do lote, liberando uma grande área interna para o uso coletivo. São projetados diversos acessos das ruas vizinhas à praça interna ao longo do perímetro da área projetada, criando, também, conexões entre essas ruas, intermediadas pelo parque. Esses acessos aparecem em formatos distintos, como: em nível, através de aberturas sob os prédios ou ligações com as calçadas do entorno; como escadas, a partir de ruas que estão mais altas do que a praça interna; ou então como passarelas para pedestres, permitindo a conexão entre níveis que antes só poderiam ser transpostos através de um longo percurso pelo sistema viário tradicional. Compreendendo a intenção inicial do projeto de não ser cercado, os fluxos que seriam possibilitados pela implantação do Parque Novo Santo Amaro se desenham generosamente ao longo do grande lote, permitindo o acesso à coletividade oferecida pelo parque, e facilitando a conexão entre ruas, reduzindo os percursos e as distâncias. Essas passagens são desenhadas em uma escala muito mais ampla do que as vielas, tão comuns no tecido urbano informal, mas se relacionam em paralelo com elas, compartilhando a função de unir vias e transpor desníveis. O projeto cria relações visuais com o espaço público, abrindo as janelas e os acessos tanto para a rua, quanto para a praça interna.
127
espaço de fruição pública espaço privado (lotes e edifícios) espaço privado (projeto) barreira transp. ou semitransparente barreira opaca
ÂM
BI
A
[21]
A
Z
barreira prevista no projeto barreira introduzida pós-ocupação
RU
[19] e [20]
acessos referência foto [00]
[22] e [23]
[18]
[24] e [25]
CIS
CA
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AD
A
[16]
[13]
RU
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[14] e [15]
0 10m 128
BARREIRAS mapa diagrama 03
barreiras A grande maioria das barreiras que foram construídas no conjunto habitacional pelos moradores são gradeadas e, portanto, pertencem à categoria de transparentes para o presente trabalho. Elas cercam os acessos que o projeto previa ao espaço coletivo da praça-parque ou às passarelas, sendo algumas dotadas de portões gradeados, havendo controle nesses acessos em determinados horários ou de acordo com as pessoas autorizadas a passarem por eles, e outras se encontram totalmente sem acesso. A começar pelo encontro das ruas Francisca Queirós e Coelho Lousada, na extremidade sul do projeto e partindo sentido horário, no acesso atrás do centro comunitário foi colocado um portão para a entrada e saída de veículos dos moradores [FIG. 13]. Na sequência, as duas escadarias que interligam a rua Francisca Queirós à praça foram gradeadas, sendo que a primeira não possui nenhum acesso [FIG. 14 E 15], enquanto que na segunda foi instalado um portão, uma vez que ela se localiza em frente ao campo de futebol, que teve seu uso coletivo preservado [FIG. 16]. Em seguida, os acessos às duas passarelas que interligam as ruas Francisca de Queirós e Coelho Lousada em diferentes pontos também se encontram gradeadas e com portões [FIG. 17 E 18]. Na extremidade norte do projeto, podemos ver o perímetro do lote totalmente cercado, com um muro baixo sob a grade, e apenas um portão de acesso, que permite a entrada de moradores, no início da rua Zâmbia [FIG. 22]. A porção mais a oeste da grade foi considerada como uma barreira prevista no projeto, pois se trata de uma área com bastante desnível em relação à rua. No entanto, no restante da área, onde o terreno se encontra nivelado com a calçada, o projeto previa um acesso irrestrito à praçaparque, introduzindo a população ao interior da quadra através de uma sequência de degraus que seguem o curso do espelho d’água até as proximidades da quadra de futebol. O desnível volta a aparecer, descendo a rua Zâmbia, e, por conta disso, a barreira que ladeia a rampa de acesso ao bloco 1, é um muro, ou seja, uma barreira opaca, encimado por uma grade. A chegada das duas passarelas se encontram gradeadas e com portões de acesso, assim como os dois outros portais de entrada
129
da rua Coelho Lousada, sendo o acesso permitido apenas em um deles. O acesso ao campo de futebol permanece aberto, ainda que tenha sido gradeado, e a sua gestão foi destinada a um clube de futebol da região, responsável por organizar os horários de funcionamento, fazer a manutenção etc. E, finalmente, na lateral do campo de futebol, levando ao centro comunitário e a praça de equipamentos de academia ao ar livre, foi instalado um portão. A princípio, as duas passarelas, consideradas conexões no mapa-diagrama 02 e, portanto, componentes da fluidez urbana da região, teriam sido mantidas com essa função no mapadiagrama 03, pois seus acessos foram mantidos através da instalação de portões. No entanto, segundo PUGLISI (2017), essas passarelas foram desativadas em 2016 pelos moradores, o que significa que essas conexões foram interrompidas. Dessa forma, o que consta no desenho são as passarelas com a mesma legenda de “privado” que o restante das áreas gradeadas e inacessíveis do projeto. Vale apontar também que dentro da área agora privada do interior da quadra, também foram instaladas barreiras que restringem o acesso entre os próprios moradores. Nas circulações externas, por exemplo, foram instalados portões, assim como nas entradas dos edifícios, mesmo aquelas localizadas no interior do lote [FIG. 30 E 31]. Dentre os 4 projetos, o que mais surpreende de ter sido cercado é o Parque Novo Santo Amaro, por conta da dimensão do espaço público do projeto. Na verdade, o que explica essa privatização do espaço é a dificuldade de manutenção de tamanha área, com a potencialidade de abrigar um grande número de usuários, que fica a cargo dos moradores. A questão da gestão do espaço se resolveria caso tivesse sido assumida pela Prefeitura, desonerando os moradores da responsabilidade de manter e custear esse parque.
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[FIG. 13] acesso com barreira e portão com acesso exclusivo dos moradores para entrada de veículos fonte: Google StreetView (2017) [FIG. 14] E [FIG. 15] primeiro portal de entrada com grade, sem acesso fonte: PUGLISI (2017) e Google StreetView (2017) [FIG. 16] segundo portal de entrada com grade e portão com acesso controlado, em frente ao campo de futebol fonte: Google StreetView (2017) [FIG. 17] acesso à passarela que leva à rua Coelho Lousada, na altura da Escola Estadual José Porphyrio da Paz fonte: Google StreetView (2017) [FIG. 18] perímetro do lote e acesso à passarela gradeados, na rua Francisca Queirós fonte: PUGLISI (2017)
131
132
[FIG. 19] e [fig. 20] (à esq.) perímetro da praça, na rua Zâmbia, cercado com muro e grade [FIG. 21] vista do parque a partir da rua Zâmbia, sem acesso [FIG. 22] acesso à rampa que leva ao bloco 1, com grade e portão de acesso [FIG. 23] continuação do muro gradeado da rampa fonte: PUGLISI (2017)
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[FIG. 24] - [fig. 27] acessos através da rua Coelho Lousada gradeados fonte: PUGLISI (2017) [FIG. 28] e [fig. 29] acesso à quadra e centro comunitário com grades e portões fonte: Google StreetView (2017) [FIG. 30] portão instalado em uma das circulações externas fonte: PUGLISI (2017) [FIG. 31] acessos aos edifícios no interior do lote com portões fonte: PUGLISI (2017)
134
135
fichas dos projetos
As fichas a serem apresentadas nas pĂĄginas seguintes representam a sĂntese do que foi investigado acerca dos 4 projetos no presente trabalho.
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RIo dAS PedRAS/VIlA MARA HÉCTOR VIGLIECCA + BRUNO PADOVANO (1991)
Vila Helena, São Paulo - SP
19.160 m2
45,7 a 76,6 m2
39.048 m2
122,8 hab/ha
592
1.152,4 hab/ha
3
140
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
uSoS PRoPoStoS
PROJETO
eSPAçoS de tRANSIção
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
eSPAço PÚBlICo
PÓS OCUPAÇãO
BARReIRAS
141
RINCão HÉCTOR VIGLIECCA + BRUNO PADOVANO (1991)
Vila Esperança, São Paulo - SP
12.686 m2
32 a 72,6 m2
17.246 m2
113,1 hab/ha
306
863,9 hab/ha
4
142
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
uSoS PRoPoStoS
PROJETO
eSPAçoS de tRANSIção
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
eSPAço PÚBlICo
PÓS OCUPAÇãO
BARReIRAS
143
JARdIM VICeNtINA VIGLIECCA & ASSOCIADOS (2008)
Jardim Roberto, Osasco - SP
94.618 m2
49 m2
11.467 m2
102,6 hab/ha
272
345 hab/ha
1
144
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
uSoS PRoPoStoS
PROJETO
eSPAçoS de tRANSIção
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
eSPAço PÚBlICo
PÓS OCUPAÇãO
BARReIRAS
145
PARQue NoVo SANto AMARo V VIGLIECCA & ASSOCIADOS (2008)
Parque Novo Santo Amaro, São Paulo - SP
21.899 m2
52,5 a 76,5 m2
14.674 m2
79 hab/ha
201
405,8 hab/ha
11
146
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
uSoS PRoPoStoS
PROJETO
eSPAçoS de tRANSIção
PÓS OCUPAÇãO
PROJETO
eSPAço PÚBlICo
PÓS OCUPAÇãO
BARReIRAS
147
espaços de transição, fluidez urbana & barreiras
AV. VALLE
R. CARLO BIBIENA
R. ADRIANO SEABRA
AV. VALLE
R. CUMAI
GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
5
10m
R. EVANS R. ALVINÓPOLIS
150
0
R. MARIA CARLOTA
VIADUTO DONA MATILDE
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0
5
10m
R. ODILA CATAN
R. IRACI DE BRITO
TO
ARIA D
SO R. ANTÔNIO RUS
E BRIT
O
R. ODILA CATAN
R. NOBAR KURKDJIAN
R. MORADA DOS SONHOS
R. TSURUKICHI TAKIMO
Ô R. ANT
NIO M
R. ISOLDINO ALVES
R. MA RIA DO S
20m
DA
O ÇÃ EI NC CO
0
AN JO S
SCIMENTO
O DA A. NA
R. EDVALD
0 10m
151
152
R. EVANS
R. MARIA CARLOTA
VIADUTO DONA MATILDE
R. ALVINÓPOLIS
R. ADRIANO SEABRA
R. CARLO BIBIENA
R. CONCEIÇÃO DO ALMEIDA
AV. VALLE
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0 5 10m
R. CUMAI
0
5 10m
R. ODILA CATAN
R. IRACI DE BRITO
TO
ARIA D
SO R. ANTÔNIO RUS
E BRIT
O
R. ODILA CATAN
R. NOBAR KURKDJIAN
R. MORADA DOS SONHOS
R. TSURUKICHI TAKIMO
Ô R. ANT
NIO M
R. ISOLDINO ALVES
R. MA RIA DO S
20m
DA
O ÇÃ EI NC CO
0
AN JO S
SCIMENTO
O DA A. NA
R. EDVALD
0 10m
153
154
R. EVANS
R. MARIA CARLOTA
VIADUTO DONA MATILDE
R. ALVINÓPOLIS
R. ADRIANO SEABRA
R. CARLO BIBIENA
R. CONCEIÇÃO DO ALMEIDA
AV. VALLE
R. SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS
0 5 10m
R. CUMAI
0
5 10m
R. ODILA CATAN
R. IRACI DE BRITO
TO
ARIA D
SO R. ANTÔNIO RUS
E BRIT
O
R. ODILA CATAN
R. NOBAR KURKDJIAN
R. MORADA DOS SONHOS
R. TSURUKICHI TAKIMO
Ô R. ANT
NIO M
R. ISOLDINO ALVES
R. MA RIA DO S
DA
O ÇÃ EI NC CO
0
AN JO S
20m
RU RU
A
CO
EL
HO
LO
US
AD
AF R
AN
CIS
CA
SCIMENTO
O DA A. NA
R. EDVALD
QU
EIR
ÓS
A
0 10m
RU
A
ZÂ
M
BI
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considerações finais O objetivo do presente trabalho foi analisar os espaços de transição entre as esferas pública e privada em conjuntos habitacionais do arquiteto Héctor Vigliecca, considerando que os mesmos foram projetados com a intenção de integrar habitação e cidade. Nos quatro projetos selecionados, foram realizadas leituras a fim de a) identificar esses espaços intermediários, a partir de critérios emprestados de Herman Hertzberger; b) compreender de que forma os projetos criam relações com a cidade no seu entorno; e c) verificar as diferenças entre o projeto de arquitetura e o conjunto edificado e apropriado pelos moradores, com foco nas barreiras criadas nesse segundo momento. A escolha pelo tema se pautou no que parece acontecer com bastante frequência em conjuntos habitacionais que propõem espaços de usufruto público: essas áreas acabam sendo cercadas pelos moradores e incorporadas ao uso privado e exclusivo da população residente. O objetivo do trabalho se concentrou não em compreender as motivações por trás da população que opta por cercar esses espaços de uso público, mas sim tentar buscar a resposta na própria arquitetura e dela extrair os elementos que favorecem ou dificultam as alterações realizadas nas suas fronteiras e acessos. Assim, buscou-se identificar a forma pela qual são apresentados esses espaços, como os elementos arquitetônicos que articulam a diferenciação dos mesmos, produzindo níveis de intimidade que cadenciam a passagem do espaço mais público, da rua, até o mais privado, da unidade habitacional. A questão que surge a partir do ato de se debruçar e tentar esmiuçar esses espaços intermediários é: seria possível prever certas dinâmicas de apropriação e cercamento? Dessa forma, as reflexões poderiam contribuir para o aprimoramento da prática da arquitetura e das políticas públicas habitacionais. O que se percebe em todos os projetos é que a inserção das novas barreiras ocorre nos lugares onde já haviam limites invisíveis entre espaços de diferentes níveis de intimidade. Ou seja, elas corporificam uma fronteira já anunciada. Outra constatação que complementa essa lógica é a falta de clareza das responsabilidades de gestão desses espaços. Em geral, o que deveria ser gerido pela municipalidade, uma vez que
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se tratam de áreas de uso público, acaba sendo relegado aos cuidados dos próprios moradores. É possível imaginar que seja bastante improvável que a população residente aceite assumir o compromisso de zelar por uma área, empregando os próprios recursos, para que os demais cidadãos a utilizem. Os conjuntos, frequentemente implantados em áreas periféricas da cidade, sofrem com a ausência do Estado, que nem sempre cumpre o seu papel de zelar pela função social da cidade, que inclui o acesso ao lazer. Talvez uma forma de garantir que um espaço coletivo seja acessível ao restante da cidade seja associá-lo à um equipamento público, por exemplo, deixando a presença do Estado ancorada na gestão desses espaços. A exceção a esse processo de enclausuramento nos conjuntos habitacionais se demonstra no projeto do Jardim Vicentina. Ainda que alguns espaços tenham sido cercados, o que mais se destaca é a conservação do espaço a que chamamos de rua interna e as praças entre os edifícios ligados à lâmina como acessíveis a qualquer pessoa. Ainda que haja um limite invisível entre essas áreas e a calçada, demarcado pela própria implantação dos edifícios, o que parece ocorrer é que não há um grande salto entre o nível de intimidade da rua para esse espaço. A rua criada com o projeto, absolutamente pública, parece conformar quase uma espécie de vila, onde não seria necessário separar os espaços do conjunto do seu entorno, uma vez que ambos fazem parte de uma área já resguardada da cidade, com um teor mais intimista. A estratégia de abrigar dentro dos projetos habitacionais espaços públicos remonta a uma idéia de se fazer cidade muito própria da prática do arquiteto Héctor Vigliecca. Os projetos são pensados como experiências a serem reproduzidas pelo tecido urbano, demonstrando que existem maneiras de se contribuir com uma urbanidade que permita o encontro, a convivência e o lazer. Para tanto, os espaços de transição são utilizados como ferramenta por Vigliecca para atenuar as fronteiras entre o público e privado, criando uma área intermediária que permita essas trocas. Se nos voltarmos para esse aspecto da seu projetar, podemos visualizar que ocorreram algumas mudanças na atuação do arquiteto ao longo do tempo. As experiências dos conjuntos
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dos anos 90, Rio das Pedras e Rincão, nos revela uma forma de criar espaços públicos a partir da sua inserção no interior da quadra, enquanto os projetos mais recentes vinculam seus espaços públicos diretamente com a rua. Além disso, as portas das unidades térreas que se abrem para o espaço essencialmente público, seja da calçada ou das praças internas, que tinham a intenção de serem acessíveis a partir da cidade, eram articuladas por elementos arquitetônicos que criavam um espaço de transição sobre o qual poderia se expandir a esfera de influência desses moradores. Essa expansão da influência no térreo também poderia ser considerada um fator que leva ao cercamento de áreas inicialmente públicas do projeto, uma vez que a percepção de que aquele espaço se aproxima da esfera privada se sobrepõe ao entendimento de que, na verdade, se trata de uma área pública. Ao que se vê nos projetos mais atuais, como no Parque Novo Santo Amaro, articulações espaciais que levem ao entendimento de que pequenas áreas no espaço público na verdade pertencem um pouco aos moradores não são mais tão frequentes. Se olharmos para fora da arquitetura, existem outros fatores que contribuem para o cercamento dos espaços públicos desses projetos. Conforme investigado por Puglisi em sua dissertação, dentre eles podemos citar: a imprecisão da regularização da propriedade da terra ao não estabelecer com clareza o pertencimento das áreas do projeto como sendo privadas ou da municipalidade; e as dinâmicas socioespaciais, como o tráfico de drogas, comportamentos indesejáveis, a segurança e a convivência em condomínio, que resultam no controle dos espaços por meio de grades e portões, impedindo que o uso público se consolide. No mesmo trabalho de pesquisa, também são citados os fatores que estão dentro do campo da arquitetura e que contribuem com esse processo de enclausuramento. Dentre eles, a imprecisão do próprio projeto em estabelecer com clareza as áreas que são de responsabilidade dos moradores e as que são de gestão pública, conforme já discutido aqui, e a negligência em não considerar vagas de veículos para as unidades, frente às dificuldades de mobilidade dos bairros onde estão os conjuntos, o que leva à ocupação dos espaços livres como estacionamentos.
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A forma pela qual se estruturou o presente trabalho teve como objetivo sistematizar reflexões produzidas sobre os projetos habitacionais e as relações dos mesmos com o espaço urbano. Essa estrutura foi composta pelos mapas diagramas referentes aos três temas, pelas intervenções gráficas nas fotografias, revelando aspectos de coletividade e restrições de acesso, e pelas fichas de projeto, que buscaram sintetizar certas características dos projetos encontradas ao longo da pesquisa. As fichas foram elaboradas com base no método de avaliação habitacional Habitar el presente, conforme apresentado nos capítulos iniciais. No Brasil, esse tipo de metodologia de análise de projetos de arquitetura não é muito disseminado. A ausência de métodos de avaliação que se debruce sobre os resultados das experiências construídas pode levar a uma repetição de imprecisões de projeto que contribuem com um espaço urbano menos qualificado. Isso se faz necessário ainda mais quando em contato com a municipalidade, colaborando com um planejamento das políticas habitacionais, onde de fato poderia ter uma atuação consolidada e garantir uma diversidade de experiências projetuais que proponham uma cidade atenta ao coletivo como bem público.
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