BRANDAS E INVERNEIRAS - Revitalização de um lugar esquecido em Castro Laboreiro

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

Brandas e Inverneiras Revitalização de um lugar esquecido em Castro Laboreiro

Ana Sofia Jesus do Nascimento

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Porto 2012

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

Brandas e Inverneiras Revitalização de um lugar esquecido em Castro Laboreiro

Ana Sofia Jesus do Nascimento

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Orientadora Professora Doutora Maria Xavier Diogo Co-orientador Professor Arquitecto João Paulo Rapagão

Porto 2012

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Agradecimentos A todos aqueles que me ajudaram ao longo deste percurso, em especial: À Professora Doutora e orientadora Maria Xavier Diogo que sempre mostrou entusiamo e incentivo pelo tema escolhido, que o acompanhou, e que incessantemente se prontificou em ajudar ao longo do seu desenvolvimento. Ao Professor Arquitecto João Rapagão, pela sua sabedoria e palavras de reflexão que sempre me estimularam a tomar as melhores opções. Ao Professor José Domingues, pelo seu interesse e pela sua disponibilidade em colaborar e partilhar a sua história enquanto habitante de Lamas de Mouro, e como um dos fundadores do núcleo de estudos e pesquisa de Montes Laboreiro. Ao meu pai, que sempre me apoiou com palavras de encorajamento e que me fez ver que nada se consegue sem trabalho e empenho; e à minha mãe que esteve sempre presente ao longo do desenvolvimento deste trabalho e que incansavelmente o reviu; a ambos que sempre me apoiaram e me proporcionaram as melhores condições em todo o meu percurso académico. Aos meus irmãos Duarte e Luís por serem os melhores do mundo. Aos meus avós que apesar de estarem ausentes, estarão sempre presentes! Às minhas melhores amigas, Bárbara porque foi o maior apoio em todo o curso, pelas conversas infinitas ao telemóvel e pela frase incansável repetida várias vezes: Tu és capaz, tu vais conseguir! À Filipa, pelos vários apelos de socorro, pelas directas a fazer maquetas, e pelas suas palavras de amor e carinho que enchem sempre o coração. À Cláudia de Freitas que se prontificou em ajudar na elaboração do abstract, e que em todo o meu percurso procurou sempre estar presente. Pela amizade de todas que já prevalece há 17 anos. A todos os meus companheiros deste percurso académico, pelos infinitos trabalhos de grupo que, por entre muitos desesperos e directas, foram fortalecendo a amizade. O apoio entre todos fez-nos encarar as piores situações com uma gargalhada no final. Lembro, em especial, as minhas amigas Helena Maria e Maria Carolina, o meu amigo Bruno “Miguel”. Aos meus amigos de Campo de Trabalho, que através da sua fé e amizade me ensinaram sempre a ver o bem nas piores situações. A todos os habitantes de Castro Laboreiro que fazem parte deste trabalho. Para finalizar, penso em todos aqueles que apesar de não mencionados, sabem que estarão sempre no meu coração. V5


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“(…) projectar, planear, desenhar, não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho da moda ou por capricho de qualquer outra natureza. As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve e para tanto deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que conhecer e ser se confundem…”1

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TÁVORA, Fernando - Da organização do espaço. Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2006, p. 74.

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Índice Agradecimentos Resumo e palavras-chave Abstract and Key words

V XI XII

Introdução

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Capítulo I

Contextualização do Território de Melgaço Castro Laboreiro

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Meio físico Enquadramento do Território Morfologia Geologia Hidrologia Clima Flora Fauna Meio Humano População Período Histórico Factores Socioeconómicos

25 25 27 27 29 25 31 33 35 35 35 37

Capítulo II 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5.

Enquadramento do tema Acomodação do Homem ao meio natural Surgimento das Brandas e Inverneiras em Castro Laboreiro Diferenças entre os aglomerados das Brandas e Inverneiras Materialização “Branãs” no noroeste de Espanha

41 43 45 51 55 57

Capítulo III 3.1. 3.2.

Obras de referência Introdução Recuperação do Castelo de V. Nova de Cerveira e adaptação da Pousada de D.Dinis Mayen à Eison Casa Clara Recuperação do moinho Conclusão

63 65

Caso de estudo da Branda de Portos de Baixo Estudo do existente Enquadramento do programa proposto Apresentação do programa Interpretação do lugar e os seus arranjos exteriores Casos de recuperação

77 79 79 85 89 91

1.1. 1.1.1. 1.1.2. 1.1.3. 1.1.4. 1.1.5. 1.1.6. 1.2. 1.3. 1.4.

3.3. 3.4. 3.5. 3.6. Capítulo IV 4. 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. Conclusão Anexos Bibliografia Índice de figuras

65 67 69 71 73

99 105 117 121 IX9


Todas as imagens sem indicação de autor são propriedade da candidata. A presente dissertação de mestrado encontra-se redigida segundo o antigo acordo ortográfico.

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Resumo Habitado há milénios, Castro Laboreiro apresenta um tipo particular de povoamento, construído ao longo do tempo, como resposta a diversos factores naturais. As Brandas e as Inverneiras, associadas a uma forma de nomadismo peculiar, implicam dois povoados de ocupação sazonal mas complementar, e marcam indelevelmente a paisagem da freguesia. Castro Laboreiro afigura-se como um lugar cujo património importa preservar, não deixando que o abandono o leve à profunda deterioração. Assim sendo, estes conjuntos rurais necessitam de uma intervenção de recuperação, que permita, por um lado, a transmissão para a posteridade daquilo que faz a idiossincrasia da população, por outro lado, a promoção económica através do turismo. O caso de estudo da aldeia de Portos de Baixo configura uma proposta de uma possível recuperação no que diz respeito ao seu edificado, implementação e sugestão de novos espaços bem como de um novo programa, procurando sempre a relação e preservação, através da pesquisa e da comparação com algumas obras de referência da mesma índole. É também através do estudo qualitativo que se percebem não apenas as razões associadas a este fenómeno de nomadismo peculiar, como também os factores que nele intervêm. Esta investigação conclui que a arquitectura tradicional de Castro Laboreiro pode ilustrar o modo como o Homem procurou adaptar-se ao meio natural, ultrapassando os obstáculos físicos e climáticos, através do recurso à mudança sazonal. Reflectir e intervir no sentido da preservação deste tipo de arquitectura por aquilo que ela simboliza, também, do ponto de vista identitário, é o propósito da presente dissertação.

Palavras - chave: Brandas; Inverneiras; Identidade; Revitalização; Castro Laboreiro. XI 11


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Abstract Inhabited for centuries, Castro Laboreiro adopted a particular type of housing structure that has been built, improved and adapted over hundreds of years according to different natural factors. The local “Brandas” and “Inverneiras”, which clearly define the region’s landscape, are unique settlements associated to a peculiar kind of nomadism. Both types of lodging identify two distinct yet complementary forms of seasonal occupation. Castro Laboreiro is well known for its rich millenary heritage. Therefore, it is of utmost importance that local patrimony is well preserved, avoiding possible and gradual deterioration. With this in mind, rural settlements require crucial restoration and maintenance which will not only potentially stimulate economic growth through tourism but also diffuse cultural particularities of the region and population. The case study of Portos de Baixo Village is advanced as a possible renovation option for this thesis. Bearing in mind other similar cases and extensive reaearch, suggestions and improvements shall be put forth regarding housing structure; implementation of new facilities aswell as a new activity programme. Qualitative study is also a key method in this particular case-study providing possible reasons and contributing factores associated to this kind of nomadism. This research concludes that Castro Laboreiro’s traditional architecture reflects how Man seeked to adapt to his natural surroundings overcoming both physical and climatic barriers according to each season. The purpose of this thesis is to reflect and intervene upon the preservation process of this type of architecture which proves to be essential due to its cultural significance.

Keywords: Brandas; Inverneiras: Identity; Revitalisation; Castro Laboreiro 13 XIII


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Introdução

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Enquadramento do tema Desde muito cedo os nossos antepassados procuraram adaptar-se ao espaço natural, porém, devido ao seu desenvolvimento económico alguns povos conseguiram modificar o meio natural em vez de se adaptarem a este. De referir que o mesmo não sucede em muitos outros casos, acabando a população por ficar isolada, o que se traduz num factor de atraso para o seu desenvolvimento. Desta forma, estes povos acabam por se adaptar ao local em vez do inverso. O processo descrito anteriormente torna-se imprescindível para o conhecimento da cultura, uma vez que “não se pode compreender a cultura de um determinado grupo humano sem conhecer o quadro natural em que o grupo se move”2. A freguesia de Castro Laboreiro, isolada durante séculos, desenvolveu-se ultrapassando as condicionantes climáticas e geomorfológicas. Sem ter a necessidade de se mudar para outro território, a civilização castreja3 preferiu adaptar-se e manter-se inalterável às influências exteriores. Esta povoação possui um aglomerado comunitário que se interajuda nas situações mais problemáticas. Para a população castreja garantir a sua sobrevivência migrava sazonalmente. Quando os Invernos eram rigorosos, a migração fazia-se para as Inverneiras, localizadas nos locais de menor altitude, muitas vezes perto dos vales, resguardando-se do frio do Inverno. Nas épocas de maior calor, a população deslocava-se para as Brandas, nos locais de maior altitude onde o terreno era mais propício para a pastorícia. Âmbito No âmbito do Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade Lusíada do Porto, no ano lectivo de 2011/2012, em continuidade com um dos estudos desenvolvidos pelo Grupo de Investigação Território Arquitectura e Design (GITAD) subordinado ao tema Territórios, Assentamentos e Arquitectura de Fronteira, elegeu-se o concelho de Melgaço, pertencente aos itinerários de fronteira, como objecto de investigação a explorar e a desenvolver, e onde terá lugar o caso de estudo desta dissertação. O âmbito global desta investigação recai sobre a freguesia de Castro Laboreiro lugar de Portos de Baixo. A opção por esta freguesia advém essencialmente da atracção

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DIAS, Jorge - Antropologia cultural. Maia: Castoliva, 1986, p. 93. População de Castro Laboreiro

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que ela exerce, através da sua arquitectura popular, dos seus valores históricos, da sua cultura, da sua população. A freguesia distingue-se pela sua orografia, caracterizada por cadeias montanhosas e por uma rede hidrográfica. Centrando-se no lugar de Portos, na freguesia de Castro Laboreiro, o caso de estudo que constitui o objecto desta dissertação vem evidenciar as potencialidades deste espaço e o modo como a intervenção arquitectónica nele operada pode insuflar-lhe uma nova vida, reinterpretando e actualizando os vestígios do passado. Motivação O interesse e a apetência pela simbiose que se pode estabelecer entre o ambiente e a arquitectura circundante encontram na candidata motivações prováveis numa infância e adolescência marcadas pela vivência num espaço privilegiado pela natureza, onde o turismo é actividade dominante. Acresce a constatação de que a tríade nascida da interacção entre paisagem, arquitectura e turismo se tem revelado uma aliança profícua para uma economia sustentável e um dos sectores mais sólidos e promissores do território português. Castro Laboreiro tem tudo para responder a estas motivações, sejam elas de natureza afectiva ou académica. A compreensão da relação da arquitectura com a natureza, clima e população, procurando encontrar as capacidades, qualidades e potencialidades dos “lugares esquecidos”, será um contributo para a sua valorização. Objectivos A presente dissertação pretende responder ao programa de trabalho referente à unidade curricular Projecto III do curso de Mestrado Integrado em Arquitectura, da Universidade Lusíada do Porto, através do desenvolvimento do tema Brandas e Inverneiras – A revitalização de um lugar esquecido em Castro Laboreiro. A atracção pelo espaço geográfico e pelo enquadramento paisagístico não pode dissociar-se do facto de Castro Laboreiro ter uma população envelhecida. Instilar-lhe alguma energia e sangue novo trazendo uma nova energia , um novo sentido a este local, passou a fazer parte dos objectivos da componente prática que será concomitante com a compreensão do modo como a arquitectura interage com a natureza, clima e população, 18


através do estudo intensivo das Brandas e Inverneiras, de cuja revitalização decorrerá a necessária promoção do concelho de Melgaço. A análise da ocupação sazonal na freguesia de Castro Laboreiro, de acordo com a sua disposição nas cotas mais altas nas montanhas, ou mais baixas, junto ao vale, irá levar a perceber o porquê de a população procurar duas habitações temporárias ao longo do ano. Descobrir as diferenças e as semelhanças entre as Brandas e as Inverneiras, através da sua organização espacial, tipologia morfológica e da sua materialização, irá mostrar de que maneira a população procurou proteger-se dos factores climáticos. Indissociável destes objectivos, estará a consciencialização através deste trabalho, da importância da revitalização arquitectónica como solução para o combate à degradação e ao despovoamento. Estado da arte A base de investigação que serve de ponto de partida para o início da presente dissertação passa pela pesquisa referente à contextualização do território, onde se destacam as seguintes obras de carácter geográfico: Geografia e Civilização: Temas Portugueses e Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico: esboço de relações geográficas do Orlando Ribeiro; Atlas de Portugal, com a colaboração do Instituto Geográfico Português; Melgaço de Ontem e de Hoje e Melgaço da Pré-História ao século XXI, do autor Jorge Marques Rocha. No ramo da etnografia, mencionamos Antropologia Cultural, de Jorge Dias. Numa segunda abordagem, mais específica e relacionada com o tema Brandas e Inverneiras como obras de referência enunciam-se: Castro Laboreiro: Povoamento e Organização de um Território Serrano, de Alexandra Cerveira; Brandas e Inverneiras: Particularidades do Sistema agro-pastoril Castrejo, de Alice Duarte Geraldes e finalmente Povoamento de Ocupação Sazonal em Castro Laboreiro Brandas e Inverneiras, por Catarina Gomes Sampaio – dissertação de mestrado pela Faculdade de Arquitectura do Porto. No que diz respeito à arquitectura destaca-se o tema Genius Loci, a arquitectura e o lugar, abordado e investigado por vários arquitectos como Christian Norberg-Schulz, Aldo Rossi, Fernando Távora e Peter Zumthor. 19


No campo da arquitectura portuguesa regista-se A Arquitectura Popular em Portugal promovida pela associação dos arquitectos portugueses; A Arquitectura popular Portuguesa, de Mário Moutinho e Construções Primitivas em Portugal, de Ernesto Veiga de Oliveira. Para o desenvolvimento e reflexão da presente dissertação todas as obras acima mencionadas constituem a base da fundamentação teórica. Metodologia Para o desenvolvimento da dissertação, numa primeira fase, realizou-se uma viagem ao concelho de Melgaço onde se fez o reconhecimento e levantamento do local. Após a viagem elaborou-se uma vasta exploração do lugar, quer através da visualização de cartografia e de material gráfico, quer por meio do reconhecimento da população, o que conduziu a um conjunto de ideias e reflexões, que posteriormente ditou a escolha do local – Portos – e do tema de investigação Brandas e Inverneiras. Numa segunda fase, procedeu-se a uma pesquisa exaustiva do material existente sobre o tema escolhido, nomeadamente através da bibliografia em suporte impresso, disponível na Biblioteca Municipal do Porto, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, na Biblioteca de Castro Laboreiro e na Casa da Cultura de Melgaço. A internet foi igualmente um precioso instrumento de trabalho. É então, através do método qualitativo e comparativo que a presente dissertação se desenvolve. Este ajuda-nos a perceber todos os fenómenos relacionados com o tema: Brandas e Inverneiras intrínsecos a ele. A comparação de obras de revitalização e de recuperação foram de igual forma importantes para o desenvolvimento do caso de estudo. Franqueadas estas etapas, a redacção da dissertação, a que se procedeu, estruturou-se do seguinte modo: a Introdução envereda pela abordagem sintética do tema, da sua contextualização, das motivações que influenciaram a escolha, dos objectivos pretendidos, do estado de arte e da metodologia. No primeiro capítulo, contextualiza-se o local de intervenção, quer ao nível do meio físico, quer ao nível do meio humano, com o principal intuito de perceber melhor o espaço de intervenção, informação adquirida através de pesquisa em obras de referência do âmbito da Geografia, e de material fornecido pela Casa da Cultura de Melgaço.

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O segundo capítulo é o mais extenso e o primeiro em que se inicia a abordagem do tema escolhido. Numa fase inicial, alude-se aos factores que condicionaram a acomodação do Homem ao meio natural. Posteriormente, contextualiza-se, no âmbito das deslocações sazonais, o surgimento das Brandas e das Inverneiras reflecte-se no modo pelo qual a cultura, os costumes, o meio, e o modo de vida se relacionam e se identificam com o povoamento temporário. As diferenças e as semelhanças entre as Brandas e as Inverneiras são expostas num curto subcapítulo. A materialização desta arquitectura popular, com explicitação dos recursos usados pela população, merece ainda destaque, no capítulo que finaliza com a comparação de um único caso que se assemelha ao das Brandas: o de Vaqueiros de Alçada, nas montanhas das Astúrias. No terceiro capítulo, uma vez mais, graças ao método comparativo, apresentamse obras de referência essencialmente de revitalização e recuperação, pesquisadas ao longo do ano lectivo. A investigação daí resultante valorizou, a nosso ver, a presente dissertação. O quarto capítulo apresenta o caso de estudo, mostrando de que forma um lugar esquecido pode ter grandes potencialidades, através da sua revitalização e de um novo programa relacionado sempre com o aspecto de habitação temporária que caracteriza o tema Brandas e Inverneiras aplicado ao local de Portos. Para finalizar, a conclusão sintetiza a essência de toda a dissertação e dá uma resposta a todas as questões e objectivos surgidos ao longo do processo do trabalho.

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Capítulo I

Contextualização do território de MelgaçoCastro Laboreiro

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1. Meio Físico Este capítulo pretende explorar o meio físico e humano do concelho de Melgaço, visando um melhor conhecimento do local, das tradições, dos costumes e da percepção das razões que moveram a população a enveredar por soluções de habitação temporária concomitantes com ciclos de sazonalidade. 1.1. Enquadramento do território A Península Ibérica localiza-se na zona subtropical, segundo Orlando Ribeiro, entendendo-se por 860 km do norte para sul.4 Portugal, situa-se a sudoeste da Europa, na Península Ibérica (fig. 3), Este país, com a sua configuração rectangular ocupa grande parte do litoral ocidental da Península Ibérica, sendo delimitado pelo Oceano Atlântico. É constituído por dezoito distritos (fig. 4). No distrito de Viana do Castelo, constituído por 10 concelhos (fig. 5), situado na província do Minho, caracterizada pelas suas fronteiras entre dois rios: Rio Minho, a Norte, e Rio Lima, a Sul, se centrará a presente dissertação. Melgaço é um território fronteiriço: a Norte e a Leste com Espanha, a Oeste e Sudoeste com os concelhos de Monção e Arco de Valdevez. É um dos concelhos mais rurais do Minho, por se localizar numa cadeia montanhosa e por se inserir no parque Peneda Gerês. Castro Laboreiro é uma das dezoito freguesias de Melgaço (fig. 6). É a maior freguesia do concelho com área próxima de 9000 hectares, sendo esta uma freguesia que se destaca pela particularidade de cada família ter mais que uma habitação, uma na zona montanhosa designada por Branda5 e outra, denominada Inverneira6, localizada normalmente junto ao vale nas zonas mais baixas persistindo deste modo num invulgar nomadismo agro-pastoril. De acordo com o professor José Domingues, o único caso que se assemelha a este é o dos Vaqueiros de Alçada nas montanhas das Astúrias7 cuja construção tradicional é feita em pedra com cobertura vegetal, e que iremos abordar no

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ORLANDO, Ribeiro - Geografia de Portugal- I. A Posição Geográfica e o Território . Lisboa: Edições João Sá da Costa, LDA, 1998. p. 7. 5 A Branda- “Província do Minho. Tapada ou pastagem nas montanhas.” A AAVV, - Lello Universal: Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro em dois volumes . Porto: Lello & Irmão, 1993, p. 380. 6 Inverneira- “Província do Minho. Habitação situada em vale profundo e abrigado. Vale em que se B apascentam gados no Inverno”. 7 DOMINGUES, José - Brandas e Inverneiras. O nomadismo peculiar de Castro Laboreiro. Melgaço: C.M.M, 2009.

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segundo capítulo. 1.1.1. Morfologia No que diz respeito ao relevo (fig. 7), Melgaço, segundo Carlos Almeida, é uma região com um território extenso, com grandes variações altimétricas (fig. 9), demarcado pelos cursos dos rios Neiva e Minho. É uma região que se pode diferenciar a nível geográfico através de duas manchas: uma, como a zona ribeirinha do Minho, caracterizada pela continuidade dos seus curtos vales e encostas suaves que correm para o rio Minho, e outra, como zona planáltica de grande extensão com uma humanização distinta mais próxima dos ecossistemas.8 Como resposta às diferenças topográficas, Melgaço desenvolveu uma arquitectura por vezes muito unida, e em outros casos muito dispersa. Em Castro Laboreiro, pode-se constatar a existência de várias aldeias dispersas umas das outras, mas com as suas casas muito agregadas. 1.1.2. Geologia “A região assenta num enorme bloco constituído por formações de Precâmbrico e do Paleozóico, estabilizadas no final da orogenia hercínica”9. No que respeita à geologia (fig. 8), Melgaço é praticamente constituído por granitos alcalinos, com pequenas manchas de xisto. Carlos Almeida diz ainda que as rochas, falhas e fracturas foram determinadas pela orogenia hercínica10, em que uma delas teve grande importância pois originou algumas fontes minero-medicinais atravessando todo o planalto de Castro Laboreiro, a presença das rochas eruptivas determina a falta de fósforo, potássio assimilável e cálcio11. Em geral as terras são pobres em nutrientes essenciais para a produção agrícola o que proporciona o incentivo ao uso frequente de correctores fertilizantes. A decomposição franco-arenosa e a pouca produtividade, ao longo dos séculos, exigiram o trabalho do Homem na na moldagem de encostas, agras e ravinas, incorporando matérias orgânicas e regularizando a captação e distribuição de água. 8

ALMEIDA, Carlos - O sistema defensivo da Vila de Melgaço: dos castelos de reconquista ao sistema abaluartado. Melgaço: Câmara Municipal, 2003. p. 87. 9 PIMENTA, Miguel - Atlas das Aves do Parque Nacional da Peneda-Gerês. [s.l]:Instituto da Conservação da natureza, 1996. p. 12. 10 Processos tectónicos que afectaram a crosta terrestre ao longo dos tempos geológicos e que ocorreram em períodos determinados, dando origem ao aparecimento das grandes cadeias de montanhas (como os Himalaias). 11 ALMEIDA, Carlos. Op.cit., p. 88.

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1.1.3. Hidrologia A hidrologia é fortemente influenciada pela irregularidade climática de Portugal, e pelo relevo montanhoso generalizado, com particular incidência na zona Norte de Portugal particularmente afectada pelos tipos de clima, rochas e acidentes tectónicos provocados pela orogenia hercínica. A oscilação do nível das águas dos rios portugueses varia consoante o clima nas diferentes estações do ano. No Inverno, nota-se uma maior subida das águas (fig. 13), provocadas pelos afluentes e pelas prolongadas precipitações, estimulando muitas vezes cheias com alguma gravidade que acarretam prejuízos para a população, podendo causar destruição do local. Melgaço é caracterizado por uma rede hidrográfica complexa (fig. 11), sendo reflexo do seu relevo muito tumultuoso: A acção dos agentes atmosféricos sobre as rochas graníticas está na origem do traçado dos seus vales encaixados, de traçado rectilíneo com diversas direcções, isto é, o trajecto dos rios está pré-definido pela direcção das principais fracturas que afectam o maciço granítico. (…) O Rio Minho e os Rios Mouro e Trancoso, seus afluentes, e ainda o Rio Castro Laboreiro que desagua no Rio Lima, são os principais cursos de água que atravessam e delimitam o concelho. À excepção do Rio Minho, nascem na Serra da Peneda e no Planalto de Castro Laboreiro, em Melgaço, e modelam marcadamente a configuração do terreno, definindo os seus principais vales interiores.12 Pode-se deste modo concluir que todo o concelho, através da sua rede hidrográfica molda a paisagem entre os vales em que este se inscreve (fig. 14). 1.1.4. Clima O clima de Melgaço varia em duas situações: na cota mais alta desenvolve-se o planalto, em que os Invernos são muito rigorosos e os Verões muito quentes, na cota inferior surgem os terrenos próximos do Rio Minho, com temperaturas que oscilam entre o ameno e o muito quente no Verão, e no Inverno a temperatura é menos agreste derivado à proximidade da linha de água.

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PORTAL MUNICIPAL DE MELGAÇO. Caracterização Hidrográfica [em linha]. [Melgaço] : Câmara Municipal de Melgaço,2011 [referência de 25 de Novembro de 2011]. Disponível na Internet em: <http://www.cmmelgaco.pt/portal/page/melgaco/portal_municipal/municipio/municipio_geografia/muni cipio_geografia_hidrografia >.

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A temperatura média anual mais baixa que se regista no território recai sobre os meses de Inverno: Janeiro e Fevereiro, e as mais quentes no Verão: Julho e Agosto. Constantemente sujeita aos ventos do Atlântico, a Peneda-Gerês actua como barreira de condensação às massas de ar morno e húmido que alcançam os vales dos rios Minho, Lima e Cávado, causando nas regiões ocidental e central uma das maiores precipitações da Europa, situada entre 2000mm e 3500 mm de média anual.13 Devido à cadeia montanhosa e às condensações que ela determina (fig. 17) quanto mais alto se está, mais intensas e prolongadas se tornam as chuvas – a precipitação anual (fig. 15) é elevada, particularmente nas serras de Castro Laboreiro. Também neste local se registam as temperaturas mais baixas do concelho de Melgaço, proporcionando Invernos com grandes períodos de neve impossibilitando muitas vezes os deslocamentos da população. 1.1.5. Flora Os factores como o declive, exposição das encostas, variações bruscas de altitude e clima têm agravada importância na composição florestal, o mesmo acontecendo com a intervenção do Homem na natureza: o aparecimento de formação vegetal deriva da deterioração dos bosques e relaciona-se com a actividade agro-silvo-pastoril da região. Miguel Pimenta refere que nos últimos séculos a presença activa do Homem teve uma maior evidenciação quer na florestação dos baldios serranos quer na construção de grandes barragens14, repercutindo-se na degradação da flora (fig. 16). Melgaço integra-se na Flora Atlântica (fig. 18) e grande parte do concelho tem como flora principal os bosques de carvalho alvarinho (Quercus robur), que abrigam um sub-bosque constituído por azevinhos, loureiro e às vezes medronheiro. A acompanhar os ribeiros, podemos encontrar espécies ripícolas de grande valor, como o freixo, o salgueiro, o amieiro, entre outras. Nas zonas mais altas, rochosas e secas, como por exemplo no planalto de Castro Laboreiro, a cobertura vegetal é formada por espécies arbustivas como a urze vermelha, a carqueja, o tojo, o rosmaninho, o zimbro e, com muita frequência, atingindo grandioso porte, a giesta.

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PIMENTA, Miguel.Op.cit, p. 12. Idem, p. 11.

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Grande parte do terreno de Melgaço tem como ocupação do solo (fig. 19) o terreno inculto, prosseguindo depois para terreno agrícola, servindo muitas vezes para a pastagem (fig. 21), terreno florestal, e, com escasso território, surgem os artificializados. A biodiversidade e as particularidades paisagísticas do território possibilitaram a criação de diferentes zonas protegidas (fig. 20), tal como o Parque Nacional da PenedaGerês, com o intuito de preservar e conservar os valores florísticos, faunísticos e paisagísticos. É também conhecido pela diversidade e beleza de paisagens, mais ou menos humanizadas. 1.1.6. Fauna Melgaço tem uma fauna diversificada sendo algumas das suas espécies raras e únicas em todo o Mundo, como é o caso do Lobo (Canis lupus). Em Castro Laboreiro há “uma humanização diferente mais próxima dos ecossistemas não moldados, onde deambulam rebanhos de bovinos e caprinos, os quais repartem as pastagens com o gado vacum e cavalar”15. Como animais domésticos, existem o gado bovino de raça barrosã e o cão de Castro Laboreiro (fig. 23), raça autóctone. Este cão é particularmente apto para lidar com os rebanhos, sendo afectivo para com dono e feroz para com o lobo e estranhos. Na zona das Brandas e Inverneiras, a fauna local é rica e diversificada, avistando-se com facilidade coelhos, lebres, corvos, como também inúmeras espécies de aves rapinas tais como águias e falcões.

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Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 25.

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Meio Humano 1.2. População Melgaço é um dos concelhos mais rurais de Viana do Castelo, tendo sido muito notável pela sua desvitalização demográfica associada à saída migratória. Os factores que contribuíram para que Melgaço tenha hoje em dia uma diminuição progressiva da população são o êxodo rural para o litoral, a mortalidade, o decréscimo da natalidade, os movimentos migratórios e, consequentemente, uma população envelhecida. A densidade populacional tem vindo, desde 1960, a reduzir-se (…) A proporção de jovens tem vindo a reduzir-se sucessivamente ao longo das décadas mais recentes, com particular incidência a partir da década de 1980, contribuindo fortemente para um envelhecimento na base da pirâmide etária.16 De acordo com os censos provisórios de 2011, Melgaço tem como população residente 9.213 habitantes enquanto, em 2001 era de 9.996 o seu número. Mais uma vez continuou-se a registar um decréscimo de população, à semelhança de outros aglomerados rurais. 1.3. Período Histórico Melgaço tem vestígios de ocupação humana desde o período do Paleolítico (fig. 24): O ser humano, desde os primeiros momentos da sua presença no Alto Minho, viu-se influenciado pelo meio físico onde tinha que desenvolver a sua actividade. E, hoje, não restam dúvida que enfrentou áreas bem distintas: uma costa de difícil acesso, agreste, com escassos abrigos naturais, poucos espaços onde trabalhar terras de cultivo, constantemente expostas aos efeitos derivados de condicionantes atmosféricas adversas. Em contrapartida, o rio Minho, com os seus inúmeros afluentes, revelou-se área agrícola fértil, na qual se desenvolveram importantes aproveitamentos agrários e florestais. O Homem actuou sobre este meio ao longo da história, com persistentes esforços, determinado a sua transformação e dando origem a uma nova paisagem, inacabada e em constante evolução.17

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MACHADO, José - Elementos sobre a demografia de Melgaço na segunda metade so século XX, Boletim Cultural. Melgaço: Câmara Municipal de Melgaço, 2003, pp. 27-28. 17 ROCHA, J. Marques - Melgaço da pré-história ao século XXI. [s.l.]: Grafibraga artes gráficas, lda., 2001, p. 10.

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Castro Laboreiro ainda hoje conserva vestígios da Pré-História, visíveis nas mamoas (fig. 25), do Alto da Portela do Pau, e nas antas (fig. 26). Este conjunto megalítico é o mais setentrional de Portugal. A presença romana também teve uma importância relevante na história de Melgaço, atestada nas diversas pontes (fig. 27) que actualmente atraem muitos turistas, o que vem constituir um veículo de promoção do local. Segundo o Padre Aníbal, o castelo de Castro Laboreiro (fig. 28) teve ordem de construção pelos anos 955 a 960. A grande revelação deste castelo com um desempenho importantíssimo foi em 1640 na guerra da Restauração.18 De acordo com o município, o castelo da Vila de Melgaço (fig. 29) terá sido construído por volta de 1170 no reinado de D. Afonso Henrique, rei que concedeu a Melgaço a sua primeira carta de foro, confirmada por D. Afonso II, tendo sido apenas substituída no reinado de D. Afonso III por uma nova carta de foral.19 O castelo de Melgaço localiza-se no seu centro e é o gerador de todo o desenvolvimento da malha da Vila, que vive toda para o seu castelo, crescendo do centro para toda a periferia.

1.4. Factores socioeconómicos Melgaço depende essencialmente do turismo e da agricultura, sendo estes as principais fontes de rendimento, toda a atenção do Concelho se norteia para a promoção e o desenvolvimento destes campos. Este local evidencia-se tanto a nível cultural como a nível social e económico. A valorização dos produtos locais de que são exemplo o prestigiado vinho Alvarinho (fig. 30), com vários prémios a nível mundial, e os fumados, juntamente com a recuperação do património histórico, fazem de Melgaço uma grande referência de Portugal. O turismo rural é uma das grandes apostas que tem vindo a ganhar progressivamente terreno, dada a vasta procura (fig. 31). É notório o interesse crescente por casas rurais para segunda habitação ou até mesmo para desfrutar de umas férias,

18

RODRIGUES, Aníbal - 50 anos ao serviço da Igreja e de Castro Laboreiro. Melgaço: Câmara Municipal de Melgaço, 1995, p.9. 19 PORTAL MUNICIPAL DE MELGAÇO. Caracterização Hidrográfica [em linha]. [Melgaço]: Câmara Municipal de Melgaço,2011 [referência de 1 de Dezembro de 2011]. Disponível na Internet em: <http://www.cm-melgaco.pt/portal/page/melgaco/portal_municipal/municipio/municipio_historia>.

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seduzidas pelo fascínio pela natureza e pela “paz e sossego” que esta nos oferece. A aposta do concelho na actividade turística tem-se traduzido na oferta de um variado leque de equipamentos culturais, caracterizando o local e mostrando como ele fora outrora. Ainda no ramo do turismo destacam-se os desportos radicais (fig. 33) que trazem cada vez mais jovens ao concelho. As paisagens que o parque Peneda Gerês oferece, inserido na freguesia de Castro Laboreiro, patenteiam motivos de interesse e procura de lugares de lazer. O vinho Alvarinho tradicional de Melgaço e Monção é sem dúvida o produto em que mais aposta da maioria da população que ainda hoje trabalha na agricultura. “A viticultura é sem dúvida uma importante e indispensável fonte do rendimento familiar”.20 A grande importância do vinho para Melgaço levou à criação do Solar do Alvarinho (fig. 34) que procura a sua promoção, divulgação e incentivo à comercialização de outros produtos locais, como por exemplo o presunto.

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ROCHA, J.Marques.Op.cit., p. 188.

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CapĂ­tulo II

Enquadramento do tema

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Este capítulo pretende abordar e explorar o tema Brandas e Inverneiras; transportar-nos para as origens desta arquitectura particular de Castro Laboreiro. 2.1. Acomodação do Homem ao meio natural As obras do Homem devem manter com a natureza uma relação significativa, quer se trate de unidades independentes ou de uma rede de centros interdependentes. Em ambas as casas a intenção é integrar o Homem na terra por ele habitada. Só quando a relação entre a natureza e a obra do Homem é significativa a forma tem carácter e satisfaz.21 O Homem, condicionado pelos ditames impostos pela natureza, tem vindo a adquirir progressiva consciência da necessidade de cooperação harmoniosa com ela: A necessidade de sobrevivência obrigaria, assim a percorrer, minuciosamente, as extensas áreas montanhosas, mesmo as mais recônditas, e arquitectar esquemas de humanização, que melhor rentabilizassem os recursos do sítio escolhido. Gradualmente, uma rede de fluxos foi gizada, cuja intensidade e perenidade dependeria das potencialidades oferecidas pelos sítios em interacção, o lugar principal e aqueles, também, marcados por construções (…) 22. O Homem sentiu necessidade de procurar meios que o ajudassem a uma acomodação ao meio natural, procura que acabou por se traduzir numa escolha do local de implantação no território, muitas vezes caracterizado pela existência de bons terrenos para a agricultura e pastorícia, capazes de proporcionarem condições suficientes para a sobrevivência em condições climatéricas favoráveis. Podemos afirmar então que “‘arquitectura vernácula’ é tão peculiar de um povo ou região como o é um dialecto. O Homem constrói e habita de acordo como lhe corre a vida”.23 Este tipo de povoamento, que vimos a estudar ao longo da presente dissertação, define-se pela relação directa que institui com as condições geográficas, culturais e económicas dos habitantes. A desejável harmonia entre todos estes elementos acabou por ditar um modo de ocupação sazonal dos espaços, com a consequente criação de habitações temporárias tal, como iremos explicar ao longo da presente dissertação. 21

NORBERG-SHULZ, Cristian - A paisagem e a obra do Homem, in Revista Arquitectura nº102. Lisboa: Sindicato Nacional dos Arquitectos, 1968 Março/Abril, p. 52. 22 CARVALHO Elza - Lima Internacional : Paisagens e Espaços de Fronteira. Braga: Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, 2006, p. 230. 23 ILLICH, Iván - La reivindicación de la casa. : El país [em linha]. Junho de 1983, [referência de 5 de Julho de 2012]. Disponível na Internet em: < http://elpais.com/diario/1983/06/05/opinion/423612014_850215.html >. Tradução feita pela candidata.

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Não permitindo os factores climáticos (fig. 37) a fixação nas zonas mais altas do Planalto de Laboreiro, a população concebeu uma forma de se adaptar aos factores geográficos adversos, sendo então este o único caso de Brandas e Inverneiras a assumir diversas particularidades “(…) porque em Castro Laboreiro - e aqui reside a sua maior especificidade em relação às outras conjunturas de nomadismo - as Brandas são complementadas pelas Inverneiras e vice-versa”24 Existe quem assemelhe este hábito de vida à transumância que existe em outros locais da Península Ibérica, a veranda. Trata-se, contudo, de dois estilos de vida distintos. A transumância consiste em trasladar os animais e o seu pastor à procura de pastos verdes, e descer novamente com estes, assim que o Inverno se aproxima, a veranda destaca-se de tudo o resto: (…) consiste em transladar a casa de forma estável, é mudar de povos e de vizinhos. Na transumância dá-se um deslocamento periódico de parte dos animais domésticos com um membro da família, enquanto na veranda muda ao completo o núcleo familiar com as suas pertenças.25 2.2. Surgimento das Brandas e Inverneiras em Castro Laboreiro A transformação do Homem nómada (ou semi-nómada) em Homem sedentário, que se fixa num lugar, trouxe consigo profundas alterações no que à arquitectura diz respeito. De simples cabanas e abrigos, dos quais não nos restaram vestígios, feitos em materiais vegetais, a pedra passa a ser o material de construção escolhido, significando essa perenidade desejada, marcando a fixação num determinado lugar.26 Castro Laboreiro é particularmente caracterizado pela sua mobilidade residencial. Os seus antepassados remotos sentiram a necessidade de criar formas de sobrevivência em virtude da sua localização geográfica, das suas características climáticas, tendo igualmente em conta o desenvolvimento produtivo da agricultura.

24

DOMINGUES, José.Op.cit., p. 201. PÉREZ, Manuel - Verandas e Inverneiras: migrações internas na Serra do Laboreiro. [s.l.]: Agália publicaçom internacional da associaçom galega da língua, 2002, p. 202. 26 BARROS, Fernando - Construção do território e arquitectura na Serra da Peneda. Porto: FAUP (dissertação de mestrado), 2011, p. 47. 25

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Os diferentes aglomerados rurais (fig. 38) pertencentes a Castro Laboreiro apresentam sistemas de organização variados, resultantes de decisões de vontades individuais ao longo de várias gerações. Os modelos arquitectónicos presentes nos vários lugares mostram-nos uma capacidade de adaptação da generalidade dos habitantes castrejos às condições naturais, tais como o clima, geologia, topografia, orografia, vegetação, qualidade dos terrenos e a aproximação aos pontos de água (fig. 39), entre outros. Como afirma Catarina Sampaio“(…) a arquitectura popular, que caracteriza os diferentes aglomerados castrejos, resulta da síntese de várias condicionantes físicas e sociais, desenvolvendo-se tão harmoniosamente quanto possível com o meio natural envolvente (…)”.27 Na verdade, a escolha do lugar e a forma de nele edificar resulta de factores socioculturais: a população procura criar o espaço ideal para o desenvolvimento de todas as suas actividades. De acordo com Alice Geraldes, as Brandas e Inverneiras não são espaços económica e socialmente autónomos, são, sim, espaços mutuamente complementares, ocupados alternadamente de acordo com o calendário sazonal. Trata-se de um estilo de vida adoptado por um sector desta freguesia numa determinada área do território castrejo.28 Nesse sentido, importa perceber se foram as Brandas ou as Inverneiras que surgiram primeiro na base de fixação do Homem castrejo. Em conversa com alguns residentes desta freguesia, estes referem que os seus antepassados teriam escolhido como primeiro lugar de referência as Inverneiras, tendo sido nestas que implementaram as capelas religiosas mais antigas. As Inverneiras (fig. 40), ao contrário das Brandas, localizam-se sobretudo junto ao vale (fig. 41). Como a estrutura dos aglomerados é acentuada, os núcleos deixam espaços livres propícios aos lugares de cultura e pastos. No Verão, devido ao calor, tanto os vales como os riachos secam, dificultando, assim, as regas dos campos de cultivo mas também comprometendo as necessidades de consumo próprio bem como as dos animais. A tipologia da Inverneira não varia muito em relação à tipologia da Branda, porém esta 27

SAMPAIO, Catarina - Povoamento de ocupação sazonal em Castro Laboreiro. Porto: FAUP (dissertação de Mestrado), 2008/2009, p. 46. 28 GERALDES, Alice - Brandas e Inverneira- Particularidades do sistema agro-pastoril castrejo. : Instituto da Conservação da natureza parque nacional da Peneda-gerês, 1996, p. 17.

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apresenta algumas características específicas, fruto do clima e da época em que a população nelas habita, por exemplo, o tradicional pátio, associado ao costume de as pessoas se reunirem nas escadas exteriores para os convívios fora de casa já não faz sentido existir, no contexto dos rigorosos Invernos. No rés-do-chão encontramos as cortes dos animais, ou os compartimentos de armazenamento de utensílios e de alimento para a pastorícia. O acesso para a casa de habitação faz-se normalmente por uma escada exterior, voltada para o pátio ou por uma escada lateral. Uma vez que as Inverneiras não satisfaziam as necessidades de agricultura e de pastorícia principalmente na época de maior calor, a população teve que procurar locais de menor altitude, com condições climáticas mais favoráveis no Verão, surgindo deste modo as Brandas, inseridas em zonas onde as temperaturas não atingem valores tão altos. Porém, nos Invernos, as condições climáticas são muito mais favoráveis que nas Brandas, por se localizarem em menor altitude. As temperaturas não atingem valores tão negativos, e quando há a queda de neve esta é de fraca intensidade, permitindo, igualmente, a deslocação das pessoas no exterior, o que não sucede nas Brandas, onde o próprio acesso às casas pode ficar vedado, ou até mesmo o das cortes dos animais, impedindo que estes possam sair. As Brandas, também conhecidas por verandas29 (fig. 42), localizam-se no planalto. São possuidoras de terrenos mais férteis, com melhores baldios, considerados áreas de pastagem onde se fixavam pastores com o gado durante a estação estival. Assim se conseguiam salvaguardar os locais de pastagem das Inverneiras, para a alimentação dos gados nas épocas de maior frio, pois como as Brandas se localizavam nos locais de maior altitude, as temperaturas negativas, e regularmente acompanhadas por grandes nevões criavam tais obstáculos que a única hipótese seria procurar um abrigo junto das Inverneiras, protegendo assim a vida dos animais e dos Homens. Os aglomerados das Brandas, cuja mancha é visível em primeiro plano, localizavam-se normalmente nas encostas que o terreno proporcionava, por serem mais agradáveis e produtivas na época de maior calor, oferecendo desta maneira melhores oportunidades de alimentação aos animais. Contudo a disposição varia consoante as margens do rio, causando em alguns casos o isolamento de algumas casas, noutros, uma

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Termo utilizado inicialmente pela população remetendo à estação do ano Verão

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estrutura regularmente traçada. As habitações não partilham espaços privados, sendo apenas confinadas ao local em que se inserem. Adjacentes umas às outras, formam caminhos de circulação colectiva, conduzindo muitas vezes a terrenos privados fora dos aglomerados, em que as famílias dispõem as suas hortas juntamente com as pastagens para o gado (fig. 43). Relativamente à sua tipologia, geralmente as casas são constituídas por um pátio, podendo estar coberto ou não, dependendo da sua área útil. Quanto à sua estrutura, mantém-se a mesma lógica das Inverneiras, em que o résdo-chão habitualmente é a corte dos animais e o seu primeiro piso a habitação. Tratandose de uma casa cujo período de habitação é superior ao das Inverneiras, ela possui muitas vezes melhores condições de habitabilidade e mais requintes. A Branda proporciona um espaço de liberdade, abundância. É curioso ver como nos povos das Brandas quase não há capelas, em contraste com os povos das Inverneiras O Rio Laboreiro é a fronteira natural que separa ao longo das suas margens a localização geográfica das Brandas e das Inverneiras. De acordo com (fig. 44) podemos verificar a distribuição dos 41 lugares no curso das suas margens. Apesar das diferentes implantações expostas aos variados tipos altimétricos, a estrutura divide-se em: núcleo construído (eido), (fig. 45); campos e barbeitos (fig. 46), área de monte, sendo esta uma área mais fértil que rodeia o núcleo edificado e a área cultivada, onde funcionavam as pastagens extensivas, como também a recolha de lenha, entre outras coisas relacionadas com o dia-a-dia destas pequenas comunidades rurais. 2.3. Diferenças entre os aglomerados das Brandas e das Inverneiras Apesar de, como já foi referido, a estrutura destes dois tipos de povoamento sazonais – Brandas e Inverneiras – ser caracterizada pelos mesmos elementos explicados no subcapítulo anterior (eido, campos, barbeitos, área de monte) (fig. 47), as áreas de cultivo e pastos são, porém mais extensas nas Brandas do que nas Inverneiras, devido à posição orográfica, normalmente com elevados declives, e por isso, com pouca extensão de terreno não acidentado em seu redor, contrapondo-se com a localização das Brandas, em superfícies altaneiras na montanha, e com possibilidade de expansão para o planalto de Castro Laboreiro.

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Por outro lado, as áreas de monte que circundam as Inverneiras, para além de serem compostas pela vegetação presente também nas Brandas, de vegetação rasteira, têm florestas onde predominam os carvalhos e os castanheiros, favorecendo a extracção de lenha, para a forragem das cortes e outrora para a construção de alfaias agrícolas e de casas. Contudo, geralmente, esta arborização localiza-se em zonas de elevado declive, sendo portanto um obstáculo para o pastoreio, o que não sucede nas Brandas, pois é composta essencialmente por vegetação rasteira que se prolonga para o planalto de Castro Laboreiro, proporcionando desta forma uma grande e extensa área propícia de pastagem. Era também nos locais onde a terra era mais fértil, principalmente naqueles junto ao vale, que era possível uma maior cultura e variada espécie de vegetais, principalmente dos que não suportariam os agrestes Invernos das Brandas. Outra característica que diferencia as Brandas das Inverneiras, também já mencionada, é a do espaço público, formado pelas áreas deixadas vazias pelas construções, assim, como pela existência dos caminhos que atravessam os núcleos rurais. Nas Brandas, verifica-se que mais uma vez este espaço dispõe de uma maior superfície, provavelmente por não estar confinada aos agrestes declives inseridos em vales, e porque também, por hábito, a população se encontra nos Verões nas Brandas, onde o clima proporciona melhores condições para a reunião da população no exterior, o que motiva a construção de alguns pátios. Estes núcleos edificados acabaram por se ir expandindo de forma radial, desde os caminhos que permitiam os acessos às áreas de cultivo, pastoreio, moinhos, até aos espaços comuns, como por exemplo os baldios. Os marcos físicos desta população comunitária existem em todos os lugares de Castro Laboreiro. Sãos marcos de partilha, constituídos pelos fornos comunitários (fig. 48), moinhos (fig. 50), eiras, sistemas de regadios dos terrenos, a maioria deles, hoje, ao abandono. Para finalizar, a população brandeja não assume nenhuma casa como a sua predilecta, tanto as Brandas como as Inverneiras são de igual importância. Cada nova mudança constitui um motivo de alegria: “significava o reencontro com a casa, que

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entretanto tinha ficado temporariamente desabitada, e a envolvente do núcleo construído dos povoados, composta por campos, barbeitos e áreas de monte, restabelecida.”30 2.4. Materialização Esta arquitectura popular, tão tradicional de Castro Laboreiro, à semelhança de muitos outros exemplos rurais, desenvolveu-se em pleno equilíbrio com a natureza envolvente, prescindindo-se de outras tecnologias e outros tipos de materiais. A relação de harmonia com a natureza reflecte-se tanto na escolha dos materiais, como na construção em si. De acordo com Catariana Sampaio, todos os materiais empregues na construção seriam provenientes da natureza que os envolvia. O granito, predominante em toda a serra, a madeira do carvalho, das florestas perto das Inverneiras, o barro, que tinha como função isolar as juntas entre os blocos de pedra, que formavam as paredes, era retirado de barrocas existentes na imediação de alguns povoados. As urzes eram utilizadas para a cobertura das casas, bem como a palha para os colmaços31. Deste modo, a casa harmonizava-se com toda a paisagem, através das suas cores: A casa era pois uma peça de tal maneira integrada na paisagem, pela cor e pela forma, que cada um dos lugares, composto de muitas dessas casas, quando visto de longe, configurava uma das cariadíssimas formações rochosas em que se capricha a natureza de Castro Laboreiro. 32 A cobertura tradicional das construções incidia no colmo (fig. 50), o que, se por um lado, constituía um factor de risco, pelo perigo de incêndios que acarretava, por outro lado, apresentava vantagens significativas, tais como a neutralização da influência térmica nas principais estações do ano, permitindo, no Inverno um ambiente interior aconchegante, aquecido pelo bafo vindo da corte dos animais, através do soalho, ou com o aquecimento da lareira; ou no Verão, impedindo que o calor não trespassasse a cobertura para o interior da habitação. 30

SAMPAIO, Catarina.Op.cit., p. 54. Colmaço – termo utilizado para designar uma cobertura de casa em colmo (palha de centeio) 32 GERALDES, Alice - Castro Laboreiro e Soajo. Habitação, Vestuário e Trabalho da Mulher. Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico, 1982 (colecção Parques Naturais Nº4), p. 8. 31

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A cobertura era suportada através de uma estrutura (fig. 51) toda ela em madeira de carvalho colocada em ripas, e tábuas delgadas, nas quais era disposto o colmo, colocado de forma cuidada, de maneira a assentá-lo bem e a obter uma cobertura eficaz. O remate entre as paredes e a cobertura, normalmente, era feito por cápeas, que tinham a função de beiral, evitando que a água da chuva escorresse pelas paredes. Também o pavimento e o seu sistema de suporte eram da mesma madeira (fig. 52). O uso de chaminé era pouco frequente, o que era visível através das paredes enegrecidas pelo fumo, no interior da casa, sendo os únicos meios de arejamento os vãos da casa. 2.5. “Brañas” do Noroeste de Espanha O termo “Braña” é muito usado no Noroeste de Espanha, e muito próximo de Branda em português. “Braña” designa “zonas de montanha compostas por pastos estivais e respectivas construções (…)”33 (fig. 54). As semelhanças não são apenas de ordem linguística. Na verdade, também o uso dado a este tipo de construções é idêntico entre os dois países. Por “Brañas”, designamse os lugares frequentados na estação do Verão, por pastores e respectivos rebanhos: “que numa tradição transumante do noroeste espanhol, sobem até esses espaços de modo a aproveitar as pastagens que aí se encontram.”34. Este fenómeno acontece essencialmente nas serras asturianas, e o período de ocupação é normalmente entre Maio e Outubro. São pequenos povoados localizados nas zonas mais altas e próximas dos locais de pastagem que, ao contrário da tradição de Castro Laboreiro, são temporariamente ocupados por pastores e só ocasionalmente pelas suas famílias. No nosso caso há uma mudança completa por parte da família. Obviamente existe uma íntima relação entre este fenómeno e as condições naturais, pois são estas que proporcionam o movimento de transumância e a construção tradicional das casas a ele associado. A maioria destes casos localiza-se nas Astúrias. De acordo com Gonçalo Gayo, nesta região, localizada nos montes das costas e rias do mar

33 34

BARROS, Fernando.Op.cit., p.86. Idem, p.87.

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cantábrico, e isolada das restantes regiões, pela irregularidade do seu relevo, o clima é húmido, por influência marítima.35 Trata-se, portanto, de “uma zona serrana marcada pela orografia e pelo clima, que determinaram os tipos de povoamento e arquitectura.”36 (fig. 55). As “Brañas” poderão, então, em algumas localidades observadas resultar de uma “transumância vertical”, e em outras, de uma “transumância horizontal” manifestadas pelas deslocações dos chamados vaqueiros de alzada que já haviam sido referidos na introdução da presente dissertação. O nome “de alzada” “deriva de «alzar la morada», quando as famílias vaqueiras mudam de residência com a mudança de estação (…)”37 subindo, «alzando», até às zonas altas onde se situam as “brañas”, onde viviam no período estival. A transumância vertical é o tipo mais comum nas Astúrias, acontecendo: (…)entre os vales do interior e a montanha, supondo movimentos dentro dos terrenos paroquiais ou municipais. Ao chegar a Primavera subia-se com o gado (vacas) aos locais onde pastava em espaços colectivos e podiam, em alguns dos casos, ser estabulados em prados cercados durante a noite, com deslocamentos diários dos pastores desde a aldeia até à Braña para ordenhar e cuidar do gado. Antes do fim da Primavera o gado sobe às Brañas estivais, requerendo menor cuidado (coincidindo com os términos dos trabalhos agrícolas mais duros o pastor e/ou proprietário só sobe com o gado de vez em quando). Nos princípios do Outono o gado regressa aos lugares de Primavera e no fim do Outono regressa definitivamente ao povoado e se estabula.38 (figs. 56 e 57). Aqui já se nota claramente a diferença do que se sucede em Castro Laboreiro. O termo de “Brañas” também está associado à transumância horizontal, localizada de igual forma nas regiões das Astúrias, e levada a efeito por um grupo social que se dedica à pastorícia e que se desloca no Verão até as “Brañas”, refugiando-se dos Invernos nas regiões mais próximas do litoral. “Entre 8 a 6 meses no ano, a família está nas «Brañas de arriba» nas montanhas, e no resto do ano nas «de abajo», junto à costa, com períodos transitórios em que a família se divide.”39 Este ritual, maioritariamente 35

VERBO, Enciclopédia-Luso Brasileira de Cultura, vol.2, p. 1694 HERRERO, Dr. - Geografi a Medica de Salas (Astúrias). Madrid: , 1964, p. 21. 37 GAYO, Gonzalo - Vaqueiros de Alzada [em linha]. Oviedo, [referência de 5 de Julho de 2012]. Disponível na Internet em: < http://vaqueiros.es/ >. Tradução feita pela candidata. 38 Cit. por. BARROS, Fernando - Construção do território e arquitectura na Serra da Peneda. Porto: FAUP (dissertação de mestrado), 2011, p. 89. 39 GAYO, Gonzalo - Vaqueiros de Alzada [em linha]. Op.cit . Tradução feita pela candidata. 36

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produzido nas regiões de Somiedo, Babia e Sil, assemelha-se ao nosso caso em Castro Laboreiro. Observamos mais uma vez nesta região, tal como em Castro Laboreiro, uma íntima relação entre a pastorícia e a construção do território (fig. 58) por parte desta população. Nas “brañas”, o gado pasta durante o Verão, enquanto as comunidades pastoris constroem as suas habitações estivais, feitas com paredes de pedra, geralmente de junta seca (fig. 59) e cobertura vegetal em palha (normalmente de centeio). Têm como característica a presença de poucas e pequenas aberturas. A estrutura da cobertura é cónica, sóbria e pesada. A semelhança de hábitos de vida e contiguidade geográfica entre Espanha e Portugal poderá, porventura, ter ditado estas afinidades arquitectónicas.

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Capítulo III

Referências

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O presente capítulo mostra o quão importante é estudar obras de referência, porque a sua análise constitui um processo de investigação dos aspectos necessários para apoiar e fundamentar o desenvolvimento do presente projecto prático. 3.1. Introdução A pesquisa assentará no estudo de algumas obras de arquitectura popular que foram submetidas a alterações ao nível da revitalização e recuperação, na análise do modo pelo qual o arquitecto pode intervir em algo já construído, trazendo novas e melhores

condições

de

habitabilidade,

novos

programas,

criando

diferentes

enquadramentos e diferentes perspectivas. As obras seleccionadas são: a recuperação do castelo de Vila Nova de Cerveira com adaptação para a pousada de D. Dinis pelo arquitecto Alcino Soutinho; um abrigo nos alpes Suíços: Mayen à Eison dos arquitectos Personeni Raffaele Schärer; a Casa Clara da arquitecta Inês Cortesão, e finalmente, o moinho do arquitecto José Gigante. Relativamente à primeira obra mencionada, a recuperação do arquitecto Alcino Soutinho, será analisada a forma pela qual os arranjos exteriores sustentam o espírito do lugar. No que diz respeito à obra Mayen à Eison, observar-se-á a preservação da memória de um abrigo transformado numa casa de férias contemporânea. Na Casa Clara, serão analisados os seus materiais e, finalmente, a recuperação do moinho terá em conta o estudo da sua tipologia. 3.2. Recuperação do castelo de V. Nova de Cerveira e adaptação da pousada de D. Dinis O castelo de Vila Nova de Cerveira localiza-se na vila de mesmo nome, no distrito de Viana do Castelo, foi mandado construir por D. Dinis. Possui sete torres. Embora em ruínas, o castelo encontra-se em bom estado de conservação, graças às obras de restauro em 1940. A pousada foi edificada no interior das muralhas do castelo, como podemos observar (fig. 61), adaptando criteriosamente as construções individuais existentes ao programa proposto, mantendo o mais possível a forma tradicional, o que não excluía a possibilidade de introdução de núcleos recuperados, ou de uma construção totalmente nova. 65


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O programa apresenta uma recepção localizada nas casas exteriores à entrada, fora do recinto muralhado, de grande importância pela relação que impõe com a Praça exterior (fig. 62), a marcar desde logo o acesso à pousada. De igual interesse, surge um percurso sinuoso, resultando num efeito de aproximação, que nos revela a ligação ao antigo caminho da ronda. A recuperação desta pequena cidadela

saliente-se que está organizada por

pequenos quarteirões propondo-se como programa o aproveitamento e a utilização dos núcleos de habitação individuais para a zona de alojamento dos hóspedes, obrigava a ter sempre presente a ideia de preservação do local. O anterior edifício da antiga Câmara passa a constituir as instalações de convívio; o restaurante e serviços, tendo como volume um corpo completamente novo, localizamse estrategicamente na zona onde se desfruta de uma esplendorosa panorâmica, como que se o volume estivesse a espreitar para fora das muralhas do castelo (fig. 63). O acesso ao restaurante é feito por um corpo constituído por um vestíbulo, hall e recepção. Ao nível estético, houve uma preocupação em obter-se um efeito entre os elementos já existentes e as novas construções. Esse efeito reside no princípio que pareceu ser o mais correcto, ao colocar em paralelo formas e expressões de uma arquitectura popular tradicional com uma arquitectura actual e moderna.

3.3. MAYEN À EISON O chalé localiza-se nos alpes Suíços, em Hérens, construído em 2008 pelo grupo de arquitectos Personeni Raffaele Schärer, localizado a 1850 metros de altitude em relação ao vale. A transformação deste abrigo, revelando-nos várias e simultâneas realidades de preservação e de modernização concretiza o desejo dos arquitectos na conservação de certas características individuais. Antes da sua transformação (fig. 66) em residência de férias, este abrigo era utilizado para resguardar o gado. Este tipo de transformações de abrigos em residências começa já a ser muito conhecido e popular na Suiça. Estas construções dispersas pelo vale têm trazido uma mais-valia à paisagem (fig. 68). No interior, a decoração é tratada como uma única peça, tendo grandes vãos para as paisagens deslumbrantes exteriores (fig. 71).

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O chalé passa a ser um volume maciço em betão, dando mais uma vez a ideia de abrigo e protecção. No piso inferior, temos uma sala comum, uma pequena cozinha com ligação à sala e uma instalação sanitária. No piso superior e de entrada temos um hall open-space em que fica a critério a sua finalidade, podendo ser utilizado como quarto ou qualquer outro programa sendo neste piso que ocorre a distribuição vertical para o piso inferior. Como materialização, já referimos que todo o volume é feito em betão, porém como em grande parte do revestimento exterior foi reutilizada a madeira que anteriormente teria pertencido ao antigo abrigo, no seu interior o branco é o predominante, valorizando deste modo toda a paisagem envolvente (fig. 74). Os pavimentos são em betão aparente, originários do próprio local. Os painéis solares fornecem a quantidade de energia eléctrica para a habitação, o aquecimento central é feito através de uma lareira na sala. No exterior, cresce erva, descontroladamente em torno da moradia. Os elementos tradicionais e típicos do jardim estão completamente ausentes, traduzindo desta forma a inexistência de sinais e vivência contemporâneos. 3.4. Casa Clara A casa Clara, construída no ano de 2008, em Vilar- Castro Daire, distrito de Viseu, tem uma área de intervenção de 108 m² e é um projecto da arquitecta Inês Cortesão. Localizada e envolvida por um povoado, esta casa em pedra, com dois pisos, era caracterizada por possuir uma loja para os animais ao nível térreo. O acesso à habitação, no piso superior, fazia-se através de umas escadas exteriores em pedra (fig. 76). Neste mesmo piso encontrava-se uma sala comum onde se cozinhava no chão, e alguns quartos de pequenas dimensões. A lareira era o fulcro da habitação, pois era aqui que a família se reunia e convivia, aquecendo os corpos nos rigorosos Invernos. A intervenção começa por retirar o conteúdo das vivências dos antigos habitantes, sendo deste modo a casa tratada como uma caixa em pedra de granito dourado, tendo um novo volume, (fig. 77) com acesso através do interior em tijolo rebocado, onde foram construídas as áreas de serviço- cozinha e instalações sanitárias, espaços esses que até então sempre tinham estado ausentes neste tipo de arquitectura popular.

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A casa mantém-se com dois pisos. No piso térreo (fig. 78), localiza-se o pátio da casa, estabelecendo através de grandes vãos uma agradável relação com o exterior. O espaço do primeiro andar organiza-se com uma sala de planta quadrada mantendo à mesma uma lareira ao centro. De forma simétrica, surge a organização dos espaços dos quartos e desenhos de mobiliário, sendo a sala a separação entre os quartos que é definida através de grandes paredes construídas em madeira, formando um plano vertical de separação. Estas paredes ocultam toda a estrutura de suporte da cobertura e contêm os armários e as portas de serventia para os quartos. O desenho dos vãos exteriores (fig. 79) enquadra de modo rigoroso a escala e dimensões da “casca de pedra”, conferindo-lhe diversas assimetrias e revelando a reduzida dimensão humana da casa. As espessas e pesadas paredes em pedra são preenchidas por finas caixilharias de cor branca, deixando transparecer o interior, dando leveza e equilíbrio ao alçado em pedra. Da sala (fig. 83) descemos para o volume branco contíguo onde a cozinha e a instalação sanitária são revestidos com o granito das paredes existentes da casa. A cobertura em telha branca vem mais uma vez reforçar a harmonia de todo o conjunto habitacional, destacando-se de todos os edifícios da envolvente. No volume contíguo, invertem-se os princípios, a construção tradicional em granito dourado com cobertura de duas águas em telha branca é desta vez preterida por um volume puro de cobertura plana totalmente branco. Deste modo, a Casa Clara passa por ser uma intervenção que procura através de princípios

e

processos

construtivos

tradicionais

incutir

uma

imagem

de

contemporaneidade que faz desta casa uma excepção na paisagem da serra. 3.5. Recuperação do moinho A recuperação do moinho (fig. 84), projecto de José Gigante, localiza-se em Vilar de Mouros, freguesia do concelho de Caminha. Inserida numa propriedade rural, esta é uma obra que suscita um grande interesse pelo facto de despertar memórias que nos remetem para o habitat primordial: (…) ou talvez devido ao seu programa insólito, um refúgio dentro do terreno de uma casa recuperada pelo mesmo arquitecto, ou simplesmente porque é uma obra de equilíbrios delicados entre o espaço disponível e o equipamento necessário para um habitar mínimo que elege o detalhe como instrumento do projecto.40 40

MILANO, Maria - José Gigante. Vila do Code: Quidnovi, 2011, p. 38.

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Poucas foram as alterações feitas ao moinho existente, procurando transformá-lo de dentro para fora, mantendo a memória do lugar. O seu interior organiza-se num espaço com apenas 8 m² por cada piso. A madeira predominante (fig. 85) foi o novo material introduzido relativamente ao existente. Sem alterações nas paredes exteriores, colocou-se apenas uma cobertura ventilada em cobre (fig. 86). É a presença de um rochedo que define a entrada do moinho, através de um banco que funciona como base das escadas. No rés-do-chão encontramos uma instalação sanitária juntamente com uma pequena área de estar, havendo a possibilidade de um pequeno sofá se transformar numa cama. É ainda deste piso que se faz o acesso ao andar superior, através de uma escada delicada em madeira sem quaisquer adornos. No piso superior apenas se encontra um armário, e um estrado de cama inserido no próprio pavimento. Os únicos vãos, mantiveram-se apenas pelo existente “(…), sobrevalorizadas pela sua natural capacidade de revelar, na parede onde se recortam, a ideia de abrigo que a contraposição de materiais sublinha. Por isso se torna importante o modo como delas se apropria o espaço interior.”41 3.6. Conclusão A análise realizada a exemplos de recuperação, perseverança de memória, estudo tipológico e materialização, serviu para auxiliar a identificação de variadas formas de adaptação da arquitectura em diferentes casos e circunstâncias. O estudo do primeiro caso de recuperação do castelo de V. Nova de Cerveira e adaptação da pousada de D. Dinis do arquitecto Alcino Soutinho teve grande importância para o desenvolvimento do caso prático da presente dissertação, pois mostra-nos de que maneira o arquitecto preservou a ideia de vivência de aldeamento através dos seus arranjos exteriores e da relação com o existente. Esta é uma obra que nos mostra claramente que é possível trazer um novo programa a um local que outrora teve uma diferente funcionalidade, e que apesar destas novas alterações conseguiu manter a identidade inicial.

41

GIGANTE, José - Habitar. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2008, p. 15.

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O segundo caso de estudo, o da Mayen à Eison, tem a particularidade de ter sido um antigo abrigo que se transformou numa casa de férias, que mais uma vez se relaciona com o caso prático. Esta obra mostra distintamente que a ideia de abrigo se manteve apesar das alterações no seu interior, e que o principal objectivo deste projecto foi a preservação das suas características individuais, tornando-o, deste modo, uma obra a nosso ver muito interessante. A Casa Clara mostra uma relação profícua entre os materiais já existentes e os agora propostos. A arquitecta Inês Cortesão consegue, assim, através de uma arquitectura moderna, valorizar os materiais presentes na obra. A relação de contraste que Inês Cortesão estabelece entre a pedra, material que se impõe pela sua robustez, e as finas caixilharias brancas, traz à proposta processos construtivos tradicionais que evidenciam uma imagem de contemporaneidade. A isso se junta todo o trabalho nos interiores e na sua cobertura em telha branca, que vem reforçar mais uma vez toda a harmonia do conjunto habitacional. Como último caso de estudo, temos a recuperação do moinho, a nosso ver, um bom exemplo de aproveitamento tipológico. A análise deste projecto foi importante para o desenvolvimento de um dos nossos casos práticos, pois este, tal como o moinho, apresentava áreas muito restritas devido ao seu dimensionamento e ao programa proposto. Deste modo a reconversão do moinho, veio ajudar a um melhor entendimento e percepção do espaço. A comparação entre os vários exemplos destes casos de estudo fez-nos concluir que todos são obras de recuperação e que apesar de diferentes os seus programas, eles procuram sempre valorizar a sua identidade e o seu passado, trazendo uma nova imagem de uma arquitectura moderna e contemporânea.

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CapĂ­tulo IV

Caso de estudo Branda de Portos de Baixo

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O presente capítulo consiste na apresentação do trabalho prático desenvolvido em Projecto III. Segundo Wiiliam Morris : A arquitectura compreende a observação de todo o meio fisico que rodeia a vida humana; não podemos furtar-nos a ela, enquanto fizermos parte da civilização, dado que a arquitectura é o conjunto das modificações e das alterações introduzidas nas superfície terrestre, tendo em vista as necessidades humanas (…)42 Fez todo o sentido a investigação sobre o local, a população e os costumes, a análise de obras de referência, para o desenvolvimento do presente capítulo. O programa proposto pretende trazer um novo rosto à freguesia de Castro Laboreiro, através da revitalização arquitectónica como solução para o combate à degradação e ao despovoamento, “o monte Laboreiro guarda a riqueza das verandas e das inverneiras, uma forma de vida a ponto de desaparecer”43. O tema explorado da habitação temporária no segundo capitulo está inteiramente relacionado com o objectivo fundamental do programa: proporcionar estadas passageiras aos utentes. 4. Estudo do existente 4.1. Enquadramento do programa proposto A contextualização física e humana do desenvolvimento do tema Brandas e Inverneiras constitui um conjunto de aspectos e razões que ajudaram na escolha do programa a ser desenvolvido. Igual importância teve o reconhecimento do local, cada vez mais despovoado, a motivar-nos para a necessidade da sua revitalização. A convivência e o diálogo com a população mostraram que ela é prodominantemente envelhecida. Sendo Melgaço um destino turístico muito sustentado pelo seu passado histórico, pelas suas ofertas culturais e naturais, pela sua paisagem e pelos desportos radicais, pareceu-nos que a introdução de jovens na população existente seria uma mais valia.

42 43

BENEVOLO, Leonardo - Introdução à arquitectura. Lisboa: Edições 70, 1987, p. 16. PÉREZ, Manuel.Op.cit., p. 201.

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Para o efeito, procedeu-se à escolha do local em Castro Laboreiro. Inflluenciou-nos a degradação e desvalorização do local e a arquitectura tradicional das Brandas. Portos, com tais características, foi o local escolhido. Portos é o assentamento mais localizado a Este de Castro Laboreiro (fig. 89) e num dos pontos mais altos da freguesia, atingindo os 1100 metros de altitude. É uma aldeia dividida em dois aglomerados, Portos de Cima localizado na cota mais alta de Portos, e Portos de Baixo na cota infeiror (fig. 90). As vias de comunicação têm um papel fundamental na dinâmica de fluxos da freguesia de Castro Laboreiro. Como acesso principal a Portos tem-se o CM1159 e a EN202-3 com ligação à vila de Castro Laboreiro, bifurcando para cada um dos aglomerados descritos. Portos é servido por um vale, regado por um curso de água nomeado por Corga dos Portos, localizado a Este, que beneficia a população proporcionando condições á criação de gado. um local muito in uenciado pelo seu clima, que a nge valores nega vos ao longo do Inverno “As temperaturas médias do mês mais frio (Janeiro ou Fevereiro, dependendo) variam entre os 8°. -10°. (…)”44

daí a população recorrer à mudança de

assentamento, proporcionando deste modo a sobrevivência dos animais. Grande parte do território de Portos é espaço natural, sendo que o povoamento acaba por ter uma presença discreta na grande protagonista que é a paisagem do planalto de Castro Laboreiro. O limite proposto para o desenvolvimento do trabalho fixa-se em Portos de Baixo, sendo das poucas aldeias que tem a sua arquitectura tradicional pouco alterada. Castro Laboreiro - Portos de Baixo Castro Laboreiro é uma freguesia caracterizada pela sua carga histórica, desde o tempo do Paleolítico até aos tempos de hoje. Esta freguesia teve um papel essencial na defesa estratégica do país devido à sua posição fronteiriça e ao seu castelo localizado no alto de um monte, dificultando deste modo o acesso a este.

44

ROCHA, J. Marques.Op.cit., p. 127.

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Castro Laboreiro é constituído por 46 aglomerados, onde nove lugares são de população fixa, dezanove são Inverneiras e dezoito são Brandas, recorrendo estas à mudança estival muito tradicional no local: Nesta ou naquela encosta, onde a fonte e o riacho acodem às necessidades do ser vivo, onde o solo é propício à rompida das leiras, que hão-de dar o sustento, e a injunção dos caminhos que dos vales ascendem à serrania se faz, logo se estabelece o ser humano.45 Portos localiza-se na Branda mais a nascente e junto à fronteira entre Portugal e Espanha. Todo o seu redor é composto por terrenos de pastagem agrícola, divididos por pequenos muros de suporte. A criação destas superfícies limitantes cercavam e limitavam as propriedades de pasto e cultivo, tendo como objectivo criar um lugar de “refúgio seguro e conhecido (…) ”46 destacando-se e distinguindo-se de toda a envolvente natural. É um local pouco povoado, estando na sua maioria desabitado, ou então, noutros casos, habitado apenas após a Páscoa e até meados de Dezembro, mudando-se a população depois para as Inverneiras. O seu assentamento (fig. 93) é influenciado pela morfologia do terreno, sendo este constante na área de implantação, com apenas uma variação aproximada de 5 metros de altitude. Já na sua envolvente, o terreno começa a elevar-se desde os 1100 metros até chegar ao planalto, onde atinge os 1336 metros. De acordo com Norberg Schulz “Os assentamentos vernaculares têm normalmente uma organização topográfica, apesar de as casas, enquanto elementos singulares, poderem ser estritamente geométricas”47, este simples uso de elementos geométricos na construção das casas, vem mais uma vez transmitir o respeito e a valorização pela paisagem natural. A disposição do assentamento surge da agregação contínua das casas, deste modo a população protege-se do frio do Inverno criando poucos espaços de circulação, tendo 45

AA.VV, - Arquitectura Popular em Portugal. Lisboa: 2ª Ed. Associação Arquitectos Portugueses, 1980, p. 33. 46 NORBERG-SHULZ, Cristian - A paisagem e a obra do Homem, in Revista Arquitectura nº102.Op.cit., p. 58. 47 NORBER-SHULZ, Cristan - Genius Loci: towards a phenomenology or architecture. New York: Rizzoli, 1980, p. 16-17.

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apenas um grande pátio a sul onde a estrada principal de acesso viário se finaliza. Em função da disposição das casas forma-se a rua, os caminhos de acesso ao monte, e os caminhos secundários que envolvem as áreas parceladas, acabando por contribuir para a sua implantação. Portos passa por ser uma Branda descaracterizada, pelas diversas alterações à sua arquitectura tradicional numa tentativa não conseguida de preservação do espaço. Exceptuam-se dois casos que se mantêm inalterados, mas que pela sua degradação acabam também por influenciar na descaracterização. Tal deve-se ao facto de uma falta de conhecimento de recuperação arquitectónica. As construções de Portos são caracterizadas pela naturalidade da sua forma geométrica e da sua estrutura, recorrendo generalizadamente a três tipos de materiais: a pedra, em granito; a madeira, em carvalho; e o colmo, em palha de centeio, todos originários do local. Porto torna-se, deste modo, através de todas as características anteriormente mencionadas, um local fascinante a explorar e a recuperar. 4.2. Apresentação do programa A realização de uma obra arquitectónica tem pressupostos que lhe são próprios: há uma envolvente a estudar, um programa a ser atendido e um modo de reconstruir a ser determinado. Este conjunto de pressupostos é elaborado graficamente num desenho que opera como mediador entre a ideia e o projecto nomeada na sua realização e concretização. O programa é utilizado pelo arquitecto com o intuito de organizar estrategicamente a forma arquitectónica e conceptual, no qual se pode viver e usar o espaço através de uma listagem de espaços de áreas, de acordo com José Adrião “(…) O programa pode ser entendido como motor de ampliação da arquitectura, antecipando a vocação e pertinência da construção de lugares no território, e contribuindo com respostas arquitectónicas mais adequadas ao tempo longo da arquitectura.” 48 O organigrama (fig. 94) é entendido como uma grelha que nos indica circulações públicas ou privadas, que são estratégias funcionais na organização dos espaços. O programa proposto (fig. 95) pretende imprimir uma nova vivacidade ao local, convidando os jovens a desfrutar de espaços de lazer, como também de aprendizagem. 48

ADRIÃO, José. – Editorial – in:Jornal dos Arquitectos. Maia: Edição Caleidescópio, nº222, 2007., p.2.

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No Inverno, como programa de lazer, e dadas as condições climatéricas e atmosférica que proporcionam grandes nevões, juntamente com os declives montanhosos, pretende-se oferecer momentos de convívio e de desportos radicais na neve, como também a formação em desportos radicais. Durante todo o ano, a aldeia tem como objectivo propor cursos temporários ou workshops, complementando-se com toda a oferta turística que Castro Laboreiro proporciona, tais como os trilhos, o castelo, o museu, os dolmens no planalto e toda a sua paisagem natural. As figuras referentes à página 86 mostram-nos de que forma se organiza o programa. O organigrama divide-se em seis grupos: zona de acolhimento, espaço colectivo, administração e gestão, serviços operacionais, espaço de salas e, finalmente, dormitórios, correspondendo a vários conjuntos habitacionais localizados a norte. A estratégia de implantação do programa está dividida através de um eixo imaginário que separa o público do semi-público (fig. 101). De carácter público, temos um parque de estacionamento e a zona de acolhimento a Sul, com o intuito de receber os visitantes, prestando informação turística sobre o local e venda de produtos regionais, bem como de material desportivo. O espaço colectivo localiza-se a Este, lateralmente ao grande pátio, este propõe áreas de estar, como uma zona wi-fi, uma cantina e uma sala de convívio, juntamente com uma sala de jogos. Com igual carácter público, apresentam-se as salas. Estas têm como programa, duas salas destinada aos workshops, duas salas para ministrar cursos temporários e finalmente uma sala para leccionar formação em desportos radicais. De carácter semipúblico, propõem-se as habitações temporárias, constituídas por oito quartos duplos e quatro quartos simples diversificando assim a oferta a grupos maiores ou menores. De forma a apoiar este espaço, para além de algumas habitações estarem equipadas por uma kitchnet e uma sala de estar, deparamo-nos com uma sala polivalente, uma copa e uma lavandaria para uso colectivo, de modo a servir todas as habitações. O programa proposto tenta harmonizar-se ao máximo, com o espírito do lugar, em que se procura manter a arquitectura tradicional relacionada com a sua identidade, o tema Brandas e Inverneiras, abordado no segundo capitulo, que nos explica a temporalidade destas habitações, vem aplicar- se deste modo ao programa proposto:

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A identidade dos lugares é aquilo que determina a capacidade que eles possuem de nos atrair, de nos fazer retornar, de construir a nossa memória real e a nossa experiência de vida. A identidade existe e é inerente aos lugares, isto é, faz parte da realidade de cada lugar que nos é dado a descobrir (…)O espaço arquitectónico, o espaço da paisagem e os espaços naturais, são as grandes categorias de elementos que estruturam a identidade dos lugares. E são estes espaços que procuramos incessantemente como experiências novas, como objecto das nossas deambulações como Itinerários.49 4.3. Interpretação do lugar e os seus arranjos exteriores Para a elaboração do trabalho prático, após a escolha e exposição das condicionantes que determinaram a área de intervenção, é fulcral o tratamento de todos os exteriores. Fernando Távora diz-nos que “Tudo tem importância na organização dos espaços – as formas em si, a relação entre elas, o espaço que as limita – e esta verdade que resulta de o espaço ser contínuo anda muito esquecida”.50 Assim sendo, e tendo em conta os aspectos mencionados por Fenando Távora, procurou-se o desenvolvimento e a relação entre os espaços vazios e as construções. Após a observação do terreno, nota-se que este é composto por vários espaços, destacando-se três pátios estruturantes com características e delimitações diferenciadas, como as cotas altimétricas, muros de separação e as construções que os rodeiam. O espaço principal 1, (fig. 100) denominado por largo, é o que delimita a área de recepção da aldeia de Portos e que tem como função distribuir o acesso aos outros volumes e ao pátio 2. O largo está delimitado pelas edificações propostas e destinadas a áreas de caracter colectivo, sendo desta maneira o espaço exterior colectivo de maior importância. É também junto a este largo que se encontram dois volumes que são abordados posteriormente ao nível da recuperação, a uma escala mais desenvolvida, um com carácter de acolhimento e outro de habitação temporária. Relativamente ao pavimento desta, ela distinguir-se-á de todos os outros acessos, dando então desta forma a noção de um espaço de caracter público.

49

SILVA, João - O viajante - in: Jornal dos Arquitectos. Maia: Edição Caleidescópio, nº227, 2007.

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TÁVORA, Fernando.Op.cit., p. 18.

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Como já havia sido referido, é através deste espaço que é feito um dos acessos ao pátio 2, por uma rampa que vence a diferença de cotas altimétricas, tendo como separador físico um jardim pontuado por uma árvore, oferecendo e caracterizando assim este pátio como um local mais privado (fig. 102). É objectivo deste espaço servir os utilizadores em tempos livres e, do mesmo modo, garantir o acesso às salas e a algumas habitações temporárias. Finalmente, o pátio 3, com um carácter menos colectivo e rural, é um local de ponto de encontro, em que os utilizadores poderão estar à noite, convivendo e partilhando a imagem de ruralidade experimentada em outros tempos, em que os espaços exteriores eram partilhados entre todos os habitantes. Deste modo, todo o local apresenta, na sua generalidade, uma identidade própria, algo que caracteriza o espaço rural, através da organização espacial pouco convencional que acaba por definir os espaços vazios e as circulações, os materiais usados nas volumetrias, como também toda a envolvente, com áreas destinadas a pastagens e outras, para uso dos desportos na neve, localizadas a Este, onde o terreno é mais propício devido ao seu relevo. 4.4. Casos de recuperação Ao longo da presente dissertação, foi esclarecida a tradicional tipologia rural, em que existem espaços destinados ao ser humano, que correspondem, regra geral, ao 1º andar, sendo o nível térreo reservado aos utensílios de trabalho e aos animais. Procurouse manter a ideia de continuidade e de especificidade da tipologia da casa rural, tal como acontece numa das obras de referências mencionadas no terceiro capítulo: Mayen à Eison. O primeiro caso a apresentar é uma habitação que sofreu várias alterações desde a sua tipologia original (fig. 103). Um dos objectivos propostos para esta recuperação é o de devolver-lhe a sua identidade original: típica Branda. A nível de programa proposto, esta casa tem como função acolher e fornecer informações aos visitantes. No seu interior (fig. 104), como rés-do-chão tem-se um espaço de espera e ponto de encontro; o primeiro andar, por onde se faz o acesso principal, oferece ao olhar um balcão informativo e uma recepção. Como serviços de apoio, temos uma pequena instalação sanitária. 91


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Relativamente aos alçados (anexo 1) procuramos preservar a estrutura exterior, removendo apenas as alterações feitas posteriormente à construção original, abrindo, apenas, excepcionalmente, um vão no primeiro andar, de maneira a proporcionar uma melhor iluminação e ventilação natural para o seu interior. No piso térreo, a intervenção mantém a ideia de preservar o antigo espaço. Assim sendo, apenas se mantém o vão com a porta de entrada para iluminar e ventilar todo a área. No exterior do imóvel, criou-se uma zona que serve de átrio, que faz a transição entre o espaço público e o privado. Para finalizar, e porque faz todo o sentido, relativamente aos materiais, o seu exterior é todo em pedra de granito. Quando se aborda o tema de reabilitação de paredes exteriores de um antigo edifício há que ter alguns aspectos em conta, tais como garantir a estanquidade à água da chuva, e por outro lado possibilitar a libertação para o exterior da humidade que nelas possa penetrar, a partir dele ou do seu interior, “os revestimentos e acabamentos são os elementos mais sujeitos à degradação precoce - os interiores pelo uso e os exteriores pela acção dos agentes naturais”51 O interior é revestido em madeira, pois é um material que se conjuga perfeitamente com a pedra, insistindo-se mais uma vez na salvaguarda da identidade rural. O segundo caso é também o de um imóvel (fig. 106) a recuperar, convertendo-o em habitação temporária. Mantendo a ideia das divisões tradicionais explicadas anteriormente, foi tida em atenção a usual distribuição dos espaços: para a cota inferior propõe-se uma zona de estar, reservada, ou seja, o quarto (fig. 107), que proporciona uma habitabilidade estável, susceptível de reflectir os hábitos rurais. O acesso principal, que se localiza no primeiro andar, dá-se através de uma escada exterior, procurando manter a identidade da sua tipologia que a volumetria susteve outrora. Conserva-se a área social neste espaço: área de estar, cozinha localizada onde se encontrava o antigo lar, como se pode comparar entre as figuras 106 e 107; uma instalação sanitária mínima nas dimensões e ainda o acesso ao piso inferior, referenciado

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CABRITA, A. - Monografia Portuguesa sobre Inovação e reabilitação de edifícios. Lisboa: LNEC, 1985, p.35.

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na obra do arquitecto José Gigante, mencionada no terceiro capítulo. Com esta distribuição programática, propõe-se a criação de espaços que organizam e compõem a espacialidade, conferindo e conseguindo a identidade pretendida. Nesta recuperação, os alçados não sofreram alterações, mantendo-se os vãos existentes como se pode observar no anexo 2. Tal como no anterior caso de estudo a estrutura exterior, mais uma vez, tenta ser preservada ao máximo, recuperando o revestimento em pedra da fachada. Propõe-se apenas a remoção dos caixilhos existentes, e substituição por novos, tendo em conta as exigências impostas relativamente à inércia térmica, acústica e de estanquidade à água. Assim sendo, optou-se por caixilhos simples em madeira, compatíveis com as exigências referidas anteriormente. Como revestimento interior, a madeira é mais uma vez o material adoptado. Como último exemplo de recuperação, apresenta-se o antigo forno comunitário (fig.109), localizado numa das extremidades a Este da aldeia de Portos de Baixo, que teria como função confeccionar o pão à base de farinha de centeio. Era, no passado, muito procurado por todos os habitantes da aldeia, elegendo-se entre cada agregado familiar um representante que marcaria o seu turno, numa face exterior do aparelho de pedra sobre a padieira da porta de entrada. Como programa para o forno propõe-se um espaço de estar e de lazer, um local de chegada e de partida para os trilhos. Sugere-se, assim, um novo volume a complementar o forno, com serviços de bar interior e esplanada exterior. Este novo volume vem mostrar de que maneira um volume contemporâneo se pode relacionar com um de arquitectura popular, através da sua simplicidade volumétrica e da conjugação entre os materiais, mantendo a sua identidade. A entrada principal surge no existente - forno (fig. 110). Uma vez, aí, o utilizador depara-se com uma zona de estar com um bar de apoio. Os dois volumes encontram-se interligados, através de uma passagem interior que estabelece o vínculo com o novo volume proposto. Nele usufrui-se de um bar interior ancorado por uma pequena cozinha, juntamente com uma esplanada exterior. No que diz respeito aos materiais existentes, referimos a sua cobertura em estrutura de madeira, revestida por telha francesa, e paredes de pedra em granito. Esta, tal como as outras recuperações, não sofreu grandes alterações, tendo havido o cuidado 95


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de garantir a identidade na escolha de novos materiais que não desvirtuassem a ideia de ruralidade, sem contudo deixarem de transmitir uma imagem de contemporaneidade. Como sustenta Cristina Veríssimo: A invenção de um novo material ou métodos de produção teve, na maior parte dos casos, uma consequência em arquitectura: experimentação, inovação, novos conceitos, novos tipos de tecnologias de construção advêm também da invenção de materiais e consequente inovação tecnológica (…)52. As mudanças mais significativas são a introdução de revestimento no pavimento e nas paredes, assim como a colocação de isolamento térmico, dado que o forno não beneficia de qualquer tipo de isolamento. Propõe-se como acabamento final nas paredes e no pavimento interior, revestimento em madeira. A cobertura do forno mantém a estrutura original em madeira, revestida por telha francesa. A materialidade do volume proposto (fig. 112), tal como já havia sido referido, foi pensada com o intuito de estabelecer a relação entre o forno existente, procurando uma conjugação harmoniosa entre a estrutura pré- existente e os novos elementos propostos. O volume é todo ele revestido por madeira, e vidro na sua fachada principal a Este, transmitindo deste modo a ideia de uma caixa. A sua estrutura é em madeira, tendo isolamento pelo interior, e como acabamento final, introduzem-se paredes em pladur. O pavimento nas áreas públicas é revestido por madeira e nas áreas privadas por cerâmica. Para concluir, a cobertura é, como todo o volume, em estrutura e revestimento de madeira, tendo como acabamento final exterior folhas de cobre, tendo em vista a salvaguarda da madeira do edifício.

A forma mais simples de consciência é a identidade, no significado restrito do termo usual: ‘um sentido de lugar’. A identidade é a medida em que uma pessoa pode reconhecer ou recordar um lugar tão diferente de outros lugares, enquanto tem carácter próprio vivido, excepcional ou pelo menos particular. 53 Em suma toda, a intervenção no local procura sempre manter e preservar a sua identidade, sem perder de vista a arquitectura tradicional de Portos de Baixo. 52

VERÍSSIMO, Cristina - O tempo e os materiais - in critica Jornal dos Arquitectos. Maia: Ordem dos

arquitectos, Dezembro de 2007, p. 36. 53

RIVAS, Juan - El espacio como lugar. Valladolid: Universidad de Valladolid, 1992,p. 33. Tradução feita pelo autor.

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Conclus達o

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A realização deste trabalho teórico e prático permitiu mostrar que, encontrandose muitos locais do país votados ao esquecimento, por via da sua desertificação, da emigração ou da sua condição geográfica, situados longe das grandes metrópoles, eles têm, contudo, grandes potencialidades de reconversão, não só por toda a história que acarretam, como também por se localizarem nas grandes paisagens naturais que Portugal tem para oferecer. O abandono das zonas rurais, juntamente com o elevado índice populacional envelhecido e ainda a permeabilidade a referências e modos de vida urbanos, contribuíram para a negligência deste património. A arquitectura é um dos sectores mais afectado, estando muitos imóveis em degradação ou em ruínas. Todos os factores já referidos estão implícitos nesta perda patrimonial, de identidade e da ruralidade da imagem que as caracteriza, e que cada vez mais se alastra por todo o território português. Para combate à degradação e ao esquecimento, a opção correcta parece estar na reconversão e na reabilitação destes espaços. Para isso é necessário uma análise, reconhecimento do local e de toda a sua história, que está patente ao longo da dissertação. O desenvolvimento do tema Brandas e Inverneiras deu-nos resposta a um dos objectivos propostos: perceber a relação profícua desta arquitectura popular com a natureza, clima e população, através da análise da ocupação sazonal nas cotas mais altas onde se localizam as Brandas e nas mais baixas, para o caso das Inverneiras. Concluiu-se, assim, que a população castreja procurou sempre adaptar-se ao meio físico, recorrendo a uma mudança estival para proteger os seus animais e assegurar a sua sobrevivência, criando habitações temporárias em locais diferentes. As semelhanças entre as Brandas e as Inverneiras revelam que estas se adaptam ao meio circundante, distinguindo-se essencialmente na sua implantação, pois estão condicionadas à morfologia do terreno. As Brandas, por se localizarem nas montanhas, encontram espaços dilatados, proporcionando grandes áreas destinados ao pastoreio. As Inverneiras, condicionadas às encostas dos vales tornam-se muito mais contraídas, sendo esta uma forma de se protegerem dos rigorosos Invernos, menos favoráveis à pastorícia. O caso de estudo teve como objectivo principal comprovar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Arquitectura, apoiando e sustentando-se nos casos de

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referência abordados no terceiro capitulo, criando uma reflexão sobre temas como a revitalização, a materialização da tipologia rural e vernacular, que evidenciasse a procura pela persistência da identidade, propósito que os programas apresentados, apesar das suas diferenças sempre procuraram valorizar, trazendo uma nova imagem de uma arquitectura moderna e contemporânea. Deste modo, exaltando a relação da arquitectura com todos os elementos acima referidos, fica notória a necessidade de procura de espaços desta índole oferecendo novos ensejos de ocupação. Um dos objectivos desta dissertação é o desenvolvimento de um caso de estudo que consiste na aplicação de um programa direccionado aos jovens, promovendo desta forma o concelho de Melgaço, instilando novo sangue na população, imprimindo uma nova vivacidade ao local, perpetuando a memória de habitações temporárias. O turismo rural oferece-se assim como uma alternativa de valorização do território, sendo uma das grandes apostas deste trabalho. Esta investigação mostrou que é possível trazer novas e melhores condições aos testemunhos arquitectónicos do passado, conferindo-lhes um redobrado conforto sem prejuízo para o património destas habitações e dos lugares que constituem a sua essência. Para além dos objectivos definidos inicialmente, com o desenvolvimento do caso de estudo, em que se propõe um novo volume com um diferente programa, a agregar-se ao forno existente, conclui-se que é possível a conjugação entre os dois, mantendo a sua identidade impondo, sem destruir o que existe, interpretando o local em que se inserem, formalizando dois modos construtivos que, em termos conceptuais, espaciais e materiais, se revelam distintos mas próximos. Esta dissertação constitui-se como um contributo para o estudo da história das Brandas e Inverneiras e um estímulo para a prossecução de outros trabalhos desta natureza, não tão condicionados à exiguidade temporal como a deste que agora se apresenta.

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Anexo I

Estudo dos alçados da habitação proposta para zona de acolhimento

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Anexo 2

Estudo dos alçados da habitação proposta para habitação temporária

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Anexo 3

Estudo dos alรงados do forno e da sua proposta para bar e esplanada

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Bibliografia Monografias 

ADRIÃO, José. – Editorial – in:Jornal dos Arquitectos. Maia: Edição Caleidescópio,

nº222, 2007. 

ALMEIDA, Carlos - O sistema defensivo da Vila de Melgaço: dos castelos de

reconquista ao sistema abaluartado. Melgaço: Câmara Municipal, 2003. 

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na

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120


Índice de figuras Fig. 1-Pastoreio em Castro Laboreiro 15 [em linha] [6 de de Janeiro de 2012] Disponível na Internet em: http://nabiae.blogspot.pt/2011/11/ brandas-e-invrneirasla.html. Fig. 2-Regresso do gado à aldeia de Portos num final de tarde

23

Fig. 3-Mapa da Península Ibérica 24 [em linha] [19 de Novembro de 2011] Redesenhado através da imagem consultada em: http://www.schaeffler.es/content.schaeffler.es /media/local/history/es-pt_mapa.gif. Fig. 4-Mapa com os distritos de Portugal 24 [em linha] [19 de Novembro de 2011] Redesenhado através da imagem consultada em: http://www.schaeffler.es/content.schaeffler.es /media/local/history/es-pt_mapa.gif. Fig. 5-Mapa dos concelhos de Viana do castelo 24 [em linha] [22 de Novembro de 2011] Redesenhado através da imagem consultada em: http://www.cmvncerveira.pt/portal/page/vilanovadecerveira/portal_municipal/municipi o/Localizacao/mapa1200.jpg. Fig. 6-Mapa com as freguesias de Melgaço Redesenhado através da cartografia fornecida pela Câmara Municipal de Melgaço.

24

Fig. 7- Mapa do relevo 26 Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 4. Fig. 8-Mapa do tipo de rochas 26 Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 4. Fig. 9-Tipo de relevo de Melgaço

26

Fig. 10-Tipo de rochas de Melgaço

26

Fig. 11-Mapa de hidrologia 28 [em linha] [28 de Novembro de 2011] Redesenhado através da imagem http:// scrif.igeo.pt /cartografiacrif/2007/ crif07.htm Fig. 12-Mapa de temperatura 28 Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 6. Fig. 13-Rio de Castro Laboreiro

28

Fig. 14-Vale da Branda de Aveleira

28 121


Fig. 15-Mapa de precipitação 30 Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 6. Fig. 16-Mapa de ecossistemas 30 Fonte: Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 17. Fig. 17-Fotografia de um dia de grande precipitação na cadeia montanhosa de Castro Laboreiro 30 Fig. 18-Flora de Melgaço

30

Fig.19-Mapa de ocupação do solo. 32 Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 8. Fig. 20-Mapa de áreas protegidas. 32 Redesenhado através de Associação de Municípios do Vale do Minho - Atlas das paisagens do vale do Minho. [s.l]: Associação de Municípios do Vale do Minho, 2011, p. 9. Fig. 21-Terrenos de pastagem em Portos de Baixo

32

Fig. 22-Ovelha em Portos.

32

Fig. 23- Cão de Castro Laboreiro.

32

Fig. 24-Maquete que exemplifica o paleolítico e a construção das mamoas no planalto de Castro Laboreiro. 34 Fig. 25-Fotografia de uma mamoa no planalto. [em linha] [12 de Dezembro de 2011] Imagem consultada em: http://riodeemocoes.valedominho.pt /rio/po/02_melgaco / 01_identidade_p.html acedido a.

36

Fig. 26-Fotografia de uma anta Castro. 36 [em linha] [12 de Dezembro de 2011] Imagem consultada em: http://www.kart-cross-portugal.com/blog/tag/castro-laboreiro / Fig. 27-Fotografia de uma ponte romana na Inverneira de Varziela

36

Fig. 28-Fotografia do castelo de Castro Laboreiro [em linha] [12 de Dezembro de 2011] Imagem consultada em: http://flickriver.com/places/Portugal/Viana+do+Castelo/Castro+Laboreiro/

36

Fig. 29-Fotografia do castelo da Vila de Melgaço

36

Fig. 30-Terrenos de cultivo de Alvarinho

38

Fig. 31-Branda da Aveleira recuperada para Turismo

38

122


Fig. 32-Cultivo de Alvarinho 38 [em linha] [12 de Dezembro de 2011] Imagem consultada em: http://sabores.sapo.pt/eventos/artigo/alvarinho-internationalwine-challenge Fig. 33-Desportos radicais: rafting em Melgaço Fotografia de autoria de Joana Antunes

38

Fig. 34-Solar do Alvarinho na vila de Melgaço

40

Fig. 35-Forno comunitário da Branda de Portos de Baixo

41

Fig. 36-Habitantes a fazerem a mudança juntamente com o gado

42

Fig. 37-Factores climáticos condicionantes: calor e neve

44

Fig. 38-Aglomerados nas montanhas

46

Fig. 39-Riacho em Portos de Baixo Fotografia de autoria de Lorena Marques

46

Fig. 40-Inverneira de Pontes Fotografia de autoria de Catarina Sampaio

48

Fig. 41-Povoado de vale- Baleiral Fotografia de autoria de Catarina Sampaio

48

Fig. 42-Branda de Portos de Baixo

50

Fig. 43-Pastor e o seu rebanho nas montanhas de Castro Laboreiro

50

Fig. 44-Esquema com os 41 lugares de Castro Laboreiro 50 Redesenhado de GERALDES, Alice - Brandas e Inverneira- Particularidades do sistema agro-pastoril castrejo. : Instituto da Conservação da Natureza parque nacional da Penedagerês, 1996, p.8. Fig. 45-Eido

52

Fig. 46-Campos/ Barbeiros

52

Fig. 47-Esquema de estrutura de um povoado castrejo: Portos de baixo

52

Fig. 48-Forno comunitário da Inverneira de Varziela

54

Fig. 49-Interior do forno comunitário de Varziela

54

Fig. 50-Mó do moinho da Inverneira de Varziela Fotografia de autoria de Sandra Ribeiro

54

Fig. 51-Cobertura tradicional em colmo

56

Fig. 52-Estrutura da cobertura em madeira

56

Fig. 53-Interior de uma corte

56 123


Fig. 54-Braña [em linha] [22 de Junho de 2012] Imagem consultada em: http://www.vaqueiros.es/

58

Fig. 55-Zona serrana marcada pela orografia e clima [em linha] [22 de Junho de 2012] Imagem consultada em: http://www.vaqueiros.es/

58

Fig. 56 e 57-Transumância vertical [em linha] [22 de Junho de 2012] Imagem consultada em: http://www.vaqueiros.es/

60

Fig. 58-Construção no território [em linha] [22 de Junho de 2012] Imagem consultada em: http://www.vaqueiros.es/

60

Fig. 59-Paredes das habitações feitas em pedra [em linha] [22 de Junho de 2012] Imagem consultada em: http://www.vaqueiros.es/

60

Fig. 60-Casos de referência

63

Fig. 61-Planta de Cobertura da recuperação do castelo e da adaptação da pousada D.Diniz 64 Fig. 62-Vista da praça exterior para a entrada

64

Fig. 63-Percursos exteriores de acesso ao interior

64

Fig. 64-Restaurante a espreitar pela muralha

64

Fig. 65-Implantação do abrigo 66 [em linha] [22 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.muuuz.com/en/magazine/rubriques/architecture/43928-mayen-a-eison-parpersoneni-raffaele-scharer Fig. 66-Abrigo em degradação [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

66

Fig. 67-Alçado frontal do antigo abrigo [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

66

124


Fig. 68-Relação do abrigo com a montanha [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

66

Fig. 69-Perfil transversal [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

Fig. 70- Perfil longitudinal [em linha] [16 de Março de 2012 Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

Fig. 71-Vão interior [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

Fig. 72-Casa de férias [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

Fig. 73-Escadas interiores [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

Fig. 74-Sala comum [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

Fig. 75-Vão das escadas [em linha] [16 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.brilliantarrogance.com/2011/08/mayen-eison-shelter-transformationin.html

68

125


Fig. 76-Alçado principal [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

70

Fig. 77-Relação do novo volume com o existente [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

70

Fig. 78-Rés-do-chão [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

70

Fig. 79-Relação dos vãos [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

70

Fig. 80-Axonometria da casa [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

72

Fig. 81- Planta do 1º piso [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

72

Fig. 82-Planta do rés-do-chão [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

72

Fig. 83-Sala comum [em linha] [19 de Março de 2012] Imagem consultada em: http://www.archdaily.com.br/44484/casa-clara-ines-cortesao/

72

Fig. 84-Recuperação do moinho 74 [em linha] [3 de Maio de 2012] Imagem consultada em: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184248 0&type=3

126


Fig. 85-A madeira como material predominante 74 [em linha] [3 de Maio de 2012] Imagem consultada em: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184248 0&type=3 Fig. 86-Cobertura ventilada em cobre 74 [em linha] [3 de Maio de 2012] Imagem consultada em: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184248 0&type=3 Fig. 87-Plantas e cortes do moinho 74 [em linha] [3 de Maio de 2012] Imagem consultada em: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184248 0&type=3 Fig. 88-Neve na Branda da aldeia de Portos de Baixo

77

Fig. 89-Implantação geral da Vila de Castro Laboreiro e de Portos

78

Fig. 90-Planta de implantação de Portos

78

Fig. 91-Foto-montagem da prática de desportos radicais na aldeia de Portos de Baixo

80

Fig. 92-Planta de implantação de Portos de Baixo: construído e não construído

80

Fig. 93-Perfis A e B de Portos de Baixo

82

Fig. 94-Organigrama funcional do programa proposto para Portos

84

Fig. 95-Quadro de áreas

84

Fig.96-Indicação do programa proposto para o espaço de acolhimento.

86

Fig. 97-Indicação do programa proposto para o espaço colectivo e para os serviços operacionais.

86

Fig. 98-Indicação do programa proposto para as salas e para as habitações temporárias.86 Fig. 99-Indicação do programa proposto para a administração e para o forno-bar e esplanada.

86

Fig. 100-Implantação geral da aldeia de Portos de baixo e proposta de arranjos exteriores 88 Fig. 101-Esquema de separação do público e semi-público

88

Fig. 102-Perspectiva do acesso do largo ao pátio 2

88

Fig. 103-Plantas do existente

90

127


Fig. 104-Plantas do proposto

90

Fig. 105-Corte A-A' e corte B-B

90

Fig. 106-Plantas do existente

92

Fig. 107-Plantas do proposto

92

Fig. 108-Corte A-A' e corte B-B'

92

Fig. 109-Plantas do existente

94

Fig. 110-Planta do proposto

94

Fig. 111-Corte construtivo

94

Fig. 112-Pormenor construtivo pela fachada

96

Fig. 113-Portos de Baixo

98

Fig. 114- Um percurso a descobrir até as montanhas de Laboreiro Fotografia de autoria de Egídio Bessa

99

Fig. 115- Habitação proposta para zona de acolhimento

105

Fig. 116- Alçados existentes da habitação

107

Fig. 117- Alçados propostos

107

Fig. 118- Habitação proposta para habitação temporária

109

Fig. 119- Alçados existentes da habitação

111

Fig. 120- Alçados propostos

111

Fig. 121- Forno proposto para bar e esplanada

113

Fig. 122- Alçados existentes do forno

115

Fig. 123- Alçados propostos

115

128


129


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