Emojis,Torre de Babel e a Era da pos-verdade

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POR ANA ANDREIOLO


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Reza a lenda Hindu que nos eclipses solares um dragão celeste engolia o sol e se dividia em duas partes: a cabeça e a cauda. A cabeça e a cauda viraram esses pontos imaginários e míticos de interseção da órbita da Lua em torno da Terra com a órbita da Terra em torno do Sol, a eclíptica. A cabeça chamamos de Nodo Norte e a cauda de Nodo Sul. A cada 2 anos, em média, os nodos lunares mudam de eixo, trocam de signos e despontam novas energias de direcionamento para a humanidade. Este eixo por onde passeiam os Nodos são os dois pontos onde acontecerão os eclipses no período. Em 2020 os Nodos caminharam para o eixo Gêmeos-Sagitário, apontando o norte para a energia geminiana. A cada eclipse desta série trabalharemos o aprimoramento e desenvolvimento da energia de Gêmeos, o terceiro signo do Zodíaco, que nos mostra a nossa capacidade de reconhecer e interagir com o meio através do uso da linguagem e toda forma válida de troca. Gêmeos são as primeiras palavras que balbuciamos e os olhos ávidos de alguém que vê o mundo pela primeira vez, que descobre a fala, que aprende a escrever o próprio nome, que aprende a dialogar e socializar e cria relações fraternais e de constante interação. Gêmeos é assunto, informação, aprendizado e ensino básico, colégio, esquina, vizinhos, vizinhança, bairro, cidade e tudo o que o seu meio local pode trocar. É portanto a voz do povo, as expressões daquele local, a linguagem informal cotidiana, as gírias e os ditos populares. São os neologismos que surgem pela urgência da comunicação de se atualizar a novos termos e dinâmicas de pensamento e interação. As mídias sociais, o whatsapp, o telefone, a linguagem escrita ou falada. Gêmeos rege toda forma de comunicação, da mais primária, simplificada, simbólica, pictórica, que surge às margens e advém das vozes do dia a dia. Para Gêmeos a informação precisa circular. É a articulação do pensar e do transmitir, sem que isso seja formal ou acadêmico como para Sagitário que precisa de formalizações e estudos mais aprofundados. Gêmeos é a fala nossa de todo dia. O mundo vem mudando aceleradamente, descobrimos ranços linguísticos racistas e preconceituosos que confirmam um pensamento danoso construído historicamente, como por exemplo o verbo “denegrir” e o termo “criado-mudo”. Este léxico não nos cabe mais. Bem como há necessidades urgentes de incluirmos linguisticamente toda forma de identidade de gênero e sexualidade. Daí criativamente, nós, o povo, a linguagem cotidiana, substituímos coloquialmente o “o” e o “a”, do sistema linguístico binário e exclusivo que definia apenas masculino e feminino, no nosso idioma português, pelo “x”ou pelo “e”. É na linguagem cotidiana que se consegue agir de maneira mais urgente e efetuar as mudanças linguísticas necessárias que contribuem nos processos de conscientização e mudança.


São formas emergenciais de suprir uma carência da própria linguagem perante as alterações e atualizações de uma sociedade contemporânea acelerada. A linguagem deve incluir a todes ou todxs porque é com todes que nos comunicamos. A história da Torre de Babel começa na bíblia, especialmente no Antigo Testamento, no livro do Gênesis. De acordo com este, a torre teria sido construída pelos descendentes de Noé na época em que o mundo inteiro falava apenas uma língua. A soberba dos homens em se empenhar em alcançar o mundo dos deuses teria causado a fúria de Deus, que, em forma de castigo, teria causado uma grande ventania para derrubar a torre e espalhado as pessoas sobre a Terra com idiomas diferentes, para confundi-las. O mito é entendido hoje como uma tentativa dos antepassados explicarem a existência de tantas línguas no mundo. Falamos muitas línguas. A comunicação é múltipla. ;) Ah! Os emojis!

A visão conceitual da cultura, originária do raciocínio de Stuart Hall (1997), afirma que a cultura se dá como um conjunto de significados partilhados entre as pessoas, criando uma linguagem e um processo de significação em um meio. Neste intermédio da linguagem, os significados acabam por atribuir sentidos, que podem se espalhar dentro de um sistema representativo, onde é produzido e significado. O uso de elementos que o ser humano faz e o representa cria sentido, interpretação e importância dentro das práticas do dia a dia, como afirma Hall (1997). As gravuras das cavernas do período rupestre, onde as pictografias produzidas começaram a ser desenvolvidas entre 35.000 e 40.000 anos atrás, são consideradas as formas mais primitivas de expressão pictográfica humana (Gaspar, 2003). A troca cultural e a circularidade estão em sinergia com a pictografia. Não existe circularidade sem troca. Qualquer tipo de interação entre povos, mesmo que mínima, é uma troca causando a circularidade cultural. Um símbolo é contagioso e propagador. Hoje usamos viralmente os emoticons, as pontuações que desenham figuras e expressões faciais ou os emojis, em japonês “imagem-personagem” ou pictograma. É, temos nos comunicado muito por imagens gráficas na contemporaneidade.


A pictografia é uma linguagem não-verbal, imagética, gráfica que traduz eventos, situações, cenas, emoções. É um universo de formas visuais. Os pictogramas ou emojis tem atravessamentos culturais para sua interpretação como o emoji “high five” (religião, gratidão etc), mas de uma forma geral estas linguagens se tornam universais, mais simplistas, mais reduzidas. E na verdade, pode caminhar em contrafluxo com a vivacidade e desenvolvimento da língua e dialetos locais, pois o global trazido para a localidade impacta a cultura local. Aqui reside o paradoxo de Gêmeos na contemporaneidade, comunicação e disseminação, porém a energia geminiana deseja reforçar a localidade e a voz de um povo e sua cultura local. Será que o uso em demasia destas linguagens gráficas mais universais não reduz o diálogo à mesmice, perde a singularidade, a particularidade e reduz a curva de desenvolvimento criativo da língua local? Será que o povo tem mesmo voz autêntica assim? Sagitário, que está no Nodo Sul, traz o conhecimento mais elevado, mais formal, acadêmico, as vozes eruditas e neste momento esta faceta deve apoiar a face gêmeos de localidade, básico, circulação de informação, diálogos informais, estudos informais etc. Não à toa, o que mais vimos no período de pandemia foi a crescente oferta e participação em cursos rápidos online. As pessoas querem aprender e elas sempre darão um jeito de se comunicar. Dentro da lógica geminiana de fazer circular é regido também o transitar. Desenvolver os transportes públicos, os deslocamentos entre bairros, de curta distância, aprimorar as capacidades de circulação de ruas, avenidas e praças é a missão deste Nodo Norte. Sagitário aponta grandes deslocamentos, passagens aéreas, estrangeirismos, passaportes, tudo o que este momento de 2020 nos podou, além de ter nos obrigado a refletir sobre o fato de nos conectarmos tanto a culturas estrangeiras e desejos por viagens ao exterior enquanto, paradoxalmente, temos um micro-mundo local ainda a ser desbravado, explorado e desenvolvido. Enquanto Gêmeos é o relações públicas, Sagitário é o relações internacionais. Enquanto sagitário é o comércio exterior embargado no momento, Gêmeos é o comércio local, aquele que está nos dando todo suporte nesta fase.

As cartas, os emails, os documentos, os acordos, as certidões, os certificados, a identidade, o CPF, tudo isso é Gêmeos. Nossa rede de contatos, nossa lista de telefones, a panfletagem, o jornal local e periódicos, Gêmeos.


Estamos nitidamente vivendo um aceleramento da comunicação e de possibilidades de múltiplas plataformas. Algunas vezes falamos com a mesma pessoa simultâneamente em diferentes aplicativos. Toda essa disseminação à lá Gêmeos vem gerando produção intensa de conteúdo e a outra faceta disso, a larga escala de informações ou notícias falsas e descompromissadas com a verdade. Sagitário se preocupa com a verdade e a propagação de um pensamento teórico elevado, publicações, bem como conectado a formação de dogmas, doutrinas, crenças etc. Gêmeos, por outro lado, é a comunicação rápida, informal e efetiva. A propagação destas pseudo verdades vem a partir das próprias crenças de cada um, da bolha da crença, uma questão sagitáriana. O que é verdade afinal quando descobrimos que há múltiplas verdades e todas coabitam e coexistem nesta mesma superfície? Os algoritmos, os robôs, contribuem pois calculam as informações que combinam com seu ponto de vista e perfil reforçando o caráter de verdade para a bolha virtual na qual você se insere. Que verdades não nos sejam impostas, que a voz seja do povo e que estejamos alertas em quem programa estes algoritmos que forjam uma realidade para viralizar uma crença. Que os eclipses neste eixo tão dinâmico mentalmente possam trazer toda a transformação e desenvolvimento de pensamento, comunicação e interação que a humanidade precisa para evoluir.


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