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Educação superior para a sociedade tecnocientífica: universidade nova na Bahia Naomar de Almeida Filho
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os próximos anos, a Bahia receberá importantes investimentos estratégicos dos governos federal e estadual: uma via férrea dedicada ao transporte de minérios e grãos (Ferrovia Oeste-Leste), dois portos de exportação, aeroportos internacionais, centros de logística e um conjunto diversificado de parques industriais, principalmente nos setores automotivo, petroquímico, estaleiros e energias renováveis. Projetos de desenvolvimento regional dessa natureza e outras possibilidades certamente demandarão recursos humanos qualificados para planejamento, implantação, consolidação e, posteriormente, para a manutenção dos empreendimentos e iniciativas decorrentes. Para isso, será imprescindível a formação, urgente e em escala massiva, de mão de obra qualificada em nível universitário, tanto nas áreas acadêmicas quanto em carreiras profissionais e tecnológicas pertinentes. Este conjunto de demandas e oportunidades contrasta com o quadro de deficiências educacionais e baixa cobertura de educação superior ainda observado no estado da Bahia, refletindo um contexto nacional neste aspecto ainda bastante precário. Não obstante, duas tendências de mudança ampla e profunda podem hoje ser identificadas no cenário do ensino superior do Brasil: expansão com inclusão social. No ano 2000, menos de 3% da população brasileira estava na universidade. Desde então, a taxa de escolarização bruta aumentou rapidamente, principalmente em instituições públicas federais, com um crescimento de mais de 130% entre 2001 e 2013. A primeira onda de expansão, promovida entre 2005 e 2010, resultou em 14 novas universidades e 126 campi de universidades e escolas técnicas federais, em sua maioria localizadas no interior. Em paralelo, houve forte incentivo para combinar essa expansão com ações afirmativas e outras políticas de inclusão social, seja como resultado de iniciativas autônomas por parte das universidades públicas, seja como em função de novas leis, regulamentos e normas. Na Bahia, tais vetores assumiram a forma de cotas étnico-sociais combinadas com interiorização: em 2001, apenas 585 vagas públicas federais foram ofertadas no interior do estado, em contraste com 2010, quando mais de 11 mil vagas federais foram abertas.
16 | maio de 2014
O programa de expansão universitária da presidente Dilma também foi planejado para contribuir para o desenvolvimento econômico estratégico. Em três anos, 47 campi universitários e extensões de escolas técnicas foram implementados em cidades escolhidas como polos de desenvolvimento regional. Além disso, quatro universidades estão sendo criadas “É urgente a formação em em territórios ainda pouco atendidos escala massiva pelo ensino superior público. Como de mão de obra exemplo disso, podemos citar o terde nível ritório baiano, anteriormente deuniversitário” sassistido e agora contemplado com duas das novas instituições federais de educação superior. Uma dessas instituições é a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), localizada na região costeira onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez no Brasil, ainda um dos territórios mais desiguais e carentes do Nordeste brasileiro. A concepção do currículo da nova instituição prevê total compatibilidade internacional, com base em ciclos de aprendizagem integrados a uma rede de colégios universitários, destinada a alunos que se formaram em escolas públicas localizadas em pequenas cidades, assentamentos rurais, aldeias indígenas e quilombos. Aproveitando as instalações do sistema público de ensino secundário, os colégios universitários estarão localizados em cidades com mais de 20 mil habitantes e mais de 300 egressos do ensino médio. Cada ponto da rede de colégios da comunidade contará com equipamentos de teleducação conectados a uma rede digital de alta velocidade. No primeiro ciclo, o modelo UFSB de Educação Geral é baseado em cursos de três anos chamados de bacharelados interdisciplinares, compreendendo uma abordagem inovadora que pode ser designada como um neo-quadrivium: línguas modernas (minimamente, português e inglês), processamento de conhecimento instrumental (competências digitais e habilidades conectivas), raciocínio lógico-interpretativo (uso eficiente de estratégias analíticas e retóricas) e cidadania glo-