“seria estranho colocar isso no facebook” o uso de redes sociais

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“Seria estranho colocar isso no Facebook”: o uso de redes sociais pelos jovens e o risco de compartilhar informações sobre saúde sexual Paul Byrona, Kath Alburyb, Clifton Eversc a Pesquisadora Assistente, Centro de Pesquisas Jornalísticas e de Mídia, Universidade de New South Wales, Sydney, Austrália. Contato: paul.byron@unsw.edu.au b Professora Sênior, Centro de Pesquisas Jornalísticas e de Mídia, Universidade de New South Wales, Sydney, Austrália. c Professor, Universidade de Nottingham Ningbo, Ningbo, China

Resumo: No ambiente midiático atual, a informação não é apenas transmitida do produtor ao consumidor, mas é também mediada pelos participantes das novas culturas de mídia. E nisso se inclui informações a respeito da saúde sexual. Pesquisa realizada em Sydney e no interior da Austrália, em 2011, realizou grupos focais com jovens entre 16 e 22 anos de idade sobre o potencial do Facebook e outras redes sociais para a promoção de questões de saúde sexual. Nossos resultados indicam que as formas de utilização das redes sociais pelos jovens são complexas, sendo pouco provável que a maneira tradicional de transmissão de informações sobre saúde sexual seja reproduzida nesses espaços. Cinco questões-chaves foram levantadas: a cultura participativa dos sites das redes sociais, o estigma associado à saúde sexual, especialmente relacionado às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), o cuidado dos jovens com a aparência de seus perfis online, as questões de privacidade e a importância do humor nas mensagens sobre saúde sexual. O medo de bullying e de fofocas (ou ‘dramas’) também apareceu como obstáculo à disseminação de mensagens sobre saúde sexual nesse ambiente. No entanto, vídeos humorísticos online foram mencionados como uma maneira eficaz de evitar o estigma e possibilitar o compartilhamento de informações sobre saúde sexual. Os jovens tinham interesse em informações sobre saúde sexual, mas preferiam não tocar no assunto se isso produzisse desconforto ou os fizesse sentir excluídos das suas redes sociais. Atividades de promoção da saúde sexual nesses sites devem, portanto, levar em conta as especificidades desse tipo de mídia. Palavras-chave: redes sociais, jovens, saúde sexual, promoção da saúde, redes sociais, Facebook, Austrália Esse artigo se baseia nos resultados de um estudo qualitativo sobre as opiniões de jovens a respeito das redes sociais como espaço para a promoção de materiais sobre saúde sexual, financiado pelo Programa de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) de Nova Gales do Sul. Envolveu também bolsistas do campo dos estudos culturais e de mídia, de modo a considerar as possibilidades e obstáculos que afetam organizações governamentais e não-governamentais que disseminam informações sobre saúde sexual entre jovens por meio de redes sociais e sites de redes sociais (SRS). No ambiente de mídia contemporâneo, a informação não é simplesmente passada de produtores para consumidores, mas é mediada pelos participantes das novas culturas midiáticas. Pesquisadores do cotidiano de jovens observaram que as novas tecnologias e dispositivos têm o potencial

de alterar e expandir as interações sociais entre os jovens1-4. Axel Bruns aponta para a existência de uma “nova cultura” de participação ao unificar os termos produtor e usuário de mídias, criando o termo “produsuário” – uma noção importante para a compreensão dos “processos colaborativos de criação de conteúdo liderados pelo usuário”5. Nesse contexto, a redes sociais e os SRS oferecem aos jovens “novas maneiras de criar e manter conexões com outros”6. Alguns defendem que os jovens estão simultaneamente “criando e recebendo” conteúdos de mídia2, mas nem todos os jovens utilizam as redes sociais da mesma maneira7. Apesar da preocupação pública de que as redes sociais seriam de-socializadoras8,9, Collin et al. argumentam que as comunidades e os relacionamentos em SRS expandem, e não reduzem, os espaços comunitários tradicionais6. Os jovens

http://www.grupocurumim.org.br/site/revista/qsr7.pdf

Doi (artigo original): 10.1016/S0968-8080(13)41686-5

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experimentam os mundos sociais online e offline como mutuamente constituídos10. Assim, não se deve referir a esses espaços entrelaçados como se fossem mundos separados3,11. As redes sociais e os SRS estão envolvidos nos processos de interação relacionados à amizade, aos relacionamentos, a eventos de mídia, entre outros, apesar desses processos serem, obviamente, preexistentes à invenção dessas tecnologias. O surgimento das novas mídias e tecnologias não alterou o jovem em si, mas produziu novas maneiras de criar, compartilhar e (se) reapropriar da informação.

Como os jovens utilizam as redes sociais Nas práticas das redes sociais, usuários e produtores se envolvem em um processo de comunicação dinâmico, com diversas possibilidades de engajamento. Por meio das SRS, “produsuários”5 se tornam capazes de criar perfis online com informações sobre si mesmos e utilizam espaços para criar e compartilhar informação, a partir de múltiplas fontes, com outros “produsuários” (incluindo vídeos, textos, fotos e música). Boyd e Ellison descrevem os sites de redes sociais como: “...serviços com base na internet que possibilitam os indivíduos a (1) construir um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema limitado,(2) construir um grupo de outros usuários com quem compartilham uma conexão, e (3) visualizar e articular seu grupo de conexões com os grupos de outros usuários dentro do sistema. A natureza e a denominação dessas conexões podem variar de acordo com o site”12. O termo “redes sociais” é amplo e engloba mensagens de texto, websites interativos, plataformas de mensagens, fóruns, blogs, micro-blogs (e.g. Twitter), wikis (conteúdo online produzido colaborativamente), mods de jogos (modificação de jogos para computador feitas por usuários), sites de hospedagem de vídeo, entre outros6,13. Correntes complexas e multidirecionais de interação são parte integral das redes sociais. Aqui, as diferentes tecnologias digitais, plataformas e perfis não são utilizados de maneira isolada, mas sim como tecnologias de comunicação interrelacionadas que facilitam e integram as atividades e as comunidades culturais dos jovens14. Com o aumento das funções dos smartphones e da internet móvel, muitos jovens podem agora se comunicar com seus contatos via SRS na parada de ônibus, na sala de aula e em qualquer lugar onde haja sinal. Essas interações podem incorporar a busca e a verificação de informação online, na qual in100

formações sobre saúde sexual também podem ser acessadas, analisadas e aprovadas ou rejeitadas de forma imediata15,16. Há pesquisas anteriores sobre a participação de jovens nas redes sociais, mas, em geral, voltam-se para grupos “de risco” específicos, como adolescentes que já tiveram filhos17 Várias intervenções bem sucedidas na área de saúde sexual contaram com a participação dos jovens via SRS18-20), ainda que tenham enfrentado dificuldades como tempo e recursos reduzidos para realizá-las. Em geral, as pesquisas sobre a utilização das redes sociais para a promoção da saúde sexual abordam o tema de maneira instrumental, procurando entender como a saúde pública pode atingir essa população sem necessariamente consultar os usuários de SRS18,21,22. Assim, muitas vezes o foco volta-se para profissionais de saúde pública que atuam junto com profissionais da área de mídia para o uso estratégico desses espaços21. Ao desconsiderar o cotidiano dos jovens na utilização das redes sociais - que é o que a nossa pesquisa elucida - as intervenções de saúde pública têm menos chances de se aproximar da complexidade das identidades e das relações sociais dos jovens, que é parte integrante das práticas das redes sociais2,13,23. Sheana Bull recomenda aos pesquisadores que avaliem se a promoção e/ou a pesquisa em saúde são bem vindas nesses espaços, considerando-se também as implicações éticas dessas intervenções20. Evers e colegas também advertem que as agências de promoção de saúde sexual que estão utilizando o espaço das redes sociais e da SRS “não devem esperar obter o controle do significado e da mensagem” relacionados aos conteúdos da promoção da saúde24. Os sites das redes sociais são espaços de autoapresentação e de formação de identidade23. As decisões dos jovens relacionadas à informação compartilhada, aos comentários e às fotos postadas, não se dão de forma impensada, mas são muito bem consideradas em relação à audiência pretendida3. A apresentação pública da amizade online pode ser uma marca identitária entre as “audiências conectadas”, ou “nos espaços e audiências conectadas pelas redes tecnológicas (como a internet, as redes móveis etc.)”3. Essas redes de contatos também podem se constituir em espaços de aprendizado relacionados á sexualidade e às práticas sexuais25. A rede de amigos dos jovens é uma fonte importante de informação sexual26,27 e evidências demonstram que a oferta de informações e o aprendizado sobre


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saúde sexual28,29 a partir de contatos próximos é mais eficaz do que a partir dos adultos30,31. Há controvérsias sobre o quanto os jovens valorizam e consideram as fontes online de informações sobre saúde sexual e há indícios de que muitos jovens heterossexuais de países em desenvolvimento dão preferência às fontes tradicionais de aprendizado, como amigos, família e escola32,33. Pesquisas sugerem que homossexuais e jovens que se atraem pelo mesmo sexo são mais suscetíveis a confiar em fontes de informação online para aprender sobre sexualidade e saúde sexual16,34.

Métodos O trabalho de campo aconteceu em 2011, consistindo na realização de duas rodadas de grupos focais com jovens de áreas urbanas e rurais de Nova Gales do Sul, na Austrália. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Nova Gales do Sul, em 2010 (HREC #10232). No total, foram selecionados 22 participantes para os grupos focais. A seleção foi feita por um recrutador profissional e os participantes foram remunerados com ajudas de custo de 50 dólares australianos (cerca de 100 reais). Os grupos focais incluíram jovens de ambos os sexos. Por se tratar de um estudo qualitativo e não-representativo, os únicos dados demográficos coletados foram a idade e o local de residência dos participantes. Os grupos focais foram gravados, transcritos e codificados em temas e subtemas, por meio da análise situada do discurso, baseada na revisão de literatura relevante (vide Evers e colegas)24. Na primeira fase, 22 participantes entre 16 e 22 anos de idade discutiram amplamente sobre a utilização de redes sociais e as formas possíveis de interação com os temas da saúde sexual nesses espaços. Foram realizados dois grupos focais em cada área (Sidney e uma área rural em Novas Gales do Sul), separados por idade: um com participantes entre 16 e 17 anos (em idade escolar) e outro com participantes de 18 a 22 anos (pósperíodo escolar). Essa separação teve o objetivo de determinar se havia distinções entre os níveis de participação nas SRS e na utilização do aparelho celular entre os que ainda se encontravam no ensino médio e os que não estavam mais na escola. Na segunda fase, foram realizados mais dois grupos focais em cada localidade, com participantes que já haviam participado da primeira fase, mas sem a separação por idade. Para iniciar a discussão nesses grupos, foram trazidos os principais temas levantados nos grupos da primeira

fase por meio de uma breve visão geral do facilitador e de um folheto. Os participantes foram então convidados a elaborar estratégias de disseminação de campanhas de saúde sexual hipotéticas voltadas para jovens utilizando as redes sociais. Alguns participantes se organizaram em pares, outros trabalharam individualmente, a partir de uma pilha de cartões com palavras a partir das quais poderiam mapear visualmente suas campanhas. Entre as palavras havia um grande número de SRS (Facebook, Youtube, Twitter etc.), dados demográficos (garotas, garotos, 16-17 anos de idade, 16-25 anos de idade etc.), características de campanha (fórum online, evento de Facebook, histórias reais etc.), lugares (clínica, universidade etc.), pessoas (enfermeiras/médicos, educadores etc.) e estilos (engraçado, sério, assustador, sexy etc.). Cartões em branco também foram distribuídos para que assim os participantes pudessem adicionar suas próprias palavras. As únicas limitações foram que a campanha precisava envolver redes sociais e seu objetivo era a promoção do uso de preservativo e o estímulo à realização de check-ups de saúde sexual entre jovens. Os participantes foram convidados apenas a desenvolver modelos para campanhas de distribuição através de redes sociais e SRS, sem que fosse necessário comentar ou desenvolver conteúdos específicos de campanha. Todas as declarações dos participantes incluídas nesse artigo são oriundas das discussões dos grupos focais.

Achados e discussão Foram identificados cinco aspectos chave relacionados às redes sociais que requerem consideração ao se disseminar informações sobre saúde sexual para jovens por meio das SRS: a cultura participativa das SRS, o estigma relativo aos problemas de saúde sexual, especialmente ás DSTs, os cuidados dos jovens ao se apresentarem nesses espaços, questões de privacidade e a importância do humor nas mensagens de saúde sexual. Os participantes deram muitas sugestões para campanhas nas redes sociais, mas também advertiram contra a intrusão da saúde pública nesses espaços. Em geral, as discussões assumiam que a possível agenda formal da promoção da saúde sexual pode divergir das agendas dos jovens “produsuários”. Muito se disse em relação à adequação e à inadequação das informações sobre saúde sexual nos espaços de redes sociais.

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Mulher: “(A utilização das redes sociais) não é o único recurso, mas é um recurso. Um bom recurso.” Homem: “Eu não acho que haja um único recurso ou recurso principal. Eu acho que deveria haver uma combinação de coisas. Se você... se houvesse um programa que pudesse ser configurado e que reunisse diferentes ramos de informação, eu acho que seria um mecanismo conveniente e adequado.”(Urbano, 16-17 anos) A ubiquidade do engajamento dos jovens com as redes sociais, especialmente com o Facebook, ficou muito evidente nas discussões nos grupos focais. A maioria dos participantes utilizava o Facebook diariamente, como um centro de mídia que lhes permitia interagir com amigos, eventos sociais, notícias, entretenimento, entre outras atividades. Como disse um participante:

PASCALE DeLOCHE / GODONG / PANOS

“O Facebook é a fonte para tudo.” (Homem, área urbana, 16-17 anos)

Não é algo tão imediato que mereça uma [interação] no Facebook. Entende? Não é algo que você mande uma mensagem para alguém e diga, olha a informação que eu tenho sobre saúde sexual.” (Mulher de área urbana, 18-22 anos) “Se forem bem simples, porque ninguém quer ter uma aula enquanto está navegando na internet e interagindo socialmente.” (Homem de área rural, 18-22 anos)

O estigma da saúde sexual Vários jovens sugeriram que conteúdos relacionados às práticas e à saúde sexual seriam pouco compartilhados entre seus contatos próximos no Facebook, devido ao estigma associado à sexualidade e, especialmente, às DSTs. Os participantes observaram que, em geral, questões de saúde sexual são discutidas entre os jovens por meio de mensagens pessoais ou de conversas com amigos próximos. A natureza pública dos SRS tornaria esse espaço inapropriado para discussões detalhadas, que são mais seguras quando realizadas pessoalmente ou por telefone, e apenas com amigos de confiança. Mulher: “É. Com informações sobre saúde, eu acho que é melhor ficar anônima porque nem todo mundo se sente confortável ao falar sobre esse tipo de coisa com qualquer pessoa... é algo que se quer guardar para si mesmo.” Mulher: “Amigos próximos, sim, mas não, tipo, com todo mundo que eu tenho no Facebook.” (Área urbana, 18-22 anos)

As mensagens sobre promoção da saúde sexual foram consideradas mais aceitáveis se forem simples e adequadas às práticas das redes sociais: No entanto, os participantes, em particular os que estavam em idade escolar, tinham bastante consciência a respeito do “drama” e do potencial constrangimento24,35 presentes nas discussões abertas sobre saúde sexual. Embora o Facebook tenha sido apontado como o site preferido para se manter atualizado sobre os eventos atuais, esse mesmo aspecto da imediaticidade da participação foi mencionado por alguns participantes como um empecilho de tal monta, que leva à incompatibilidade com a promoção da saúde pública por meio do Facebook: “Eu acho que a essência das (informações sobre saúde sexual)... é meio que, só problema de saúde. 102

Os participantes debateram sobre exemplos recentes de promoção da saúde sexual, particularmente a campanha do governo de Novas Gales do Sul “Examine-se, fique seguro”, exibida nos cinemas e na televisão na mesma época dos grupos focais. Essa campanha, que dizia ao público que “dormir com um é dormir com todos” foi considerada inapropriada para ser compartilhada com amigos próximos por participantes dos dois grupos de idade, por ser negativa ou muito séria na abordagem do sexo36. Os participantes foram incentivados a sugerir técnicas pelas quais as mensagens sobre saúde sexual possam se tornar mais aceitáveis nos espaços de SRS. Campanhas abrangentes de conscientização foram preferidas às campanhas que se dirigem aos jovens de forma explícita (ou assustadora): Mulher: “Mais conscientização sobre câncer de mama e de próstata e essas coisas todas.”


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Homem: “É, se conscientizar, todo mundo deveria se examinar e é algo que se deve fazer. É como doar sangue, todo mundo sabe que isso é algo bom a fazer.” (Área rural, 18-22 anos) Houve uma clara preferência por informações sobre saúde sexual que não constrangessem o usuário, para que não viessem a ser interpretadas como exposição da situação de saúde ou das atividades sexuais do usuário. O mesmo grupo sugeriu a produção e a disseminação de vídeos humorísticos e informativos no Youtube que não focassem nos riscos ou perigos da sexualidade, como um meio de redução do estigma de ser identificado como alguém que se interessa pela saúde sexual no espaço das SRS: “...seria bom encontrar outros motivos para as pessoas assistirem aos vídeos sem ter que tratar diretamente das doenças que você está falando - porque é daí que vem o estigma.” (Homem, área rural, 18-22 anos)

Apresentação cuidadosa de si mesmo As redes sociais não são simplesmente um instrumento ou uma ferramenta, mas são também uma plataforma sobre a qual o aprendizado e as relações interpessoais são negociadas e refinadas. Muitos participantes mais jovens mencionaram as confusões (dramas) que podem acontecer no Facebook (para uma maior discussão sobre o drama adolescente, vide35. Um participante declarou que “depende de como você usa”, sugerindo que há diversas maneiras de se utilizar as SRS. Eu acho que, na maioria das vezes, meus amigos utilizam só pra - eles geralmente postam vídeos engraçados ou algo no Facebook ou uma música nova que acabou de sair… É assim que eles utilizam na maioria das vezes.” (Área urbana, homem, 18-22 anos) Embora seja uma atividade diária para a maioria dos participantes, alguns jovens mantém uma opinião ambivalente sobre o Facebook, o que os leva a se desligar ou mesmo rejeitar essa rede social em alguns momentos. “Eu não gosto muito do Facebook. Tem muito barraco por lá.” (Mulher Área Urbana, 16-17 anos) Esta participante ainda utilizava o Facebook, mas com menos frequência do que antes. Em outro momento ela mencionou ter sido intimidada de tal forma que teve que mudar de escola. A pre-

sença desse tipo de intimidação nas interações online e offline reforça a interligação entre esses dois mundos3,6. Os “barracos” e fofocas acontecem nas comunicações das SRS, mas isso se estende ao cotidiano dos jovens, entre os contatos mais próximos na escola e em outros ambientes offline. Histórias como essa oferecem um pano de fundo para as preocupações dos participantes sobre a disseminação de informações sobre saúde sexual por meio de perfis online. O fato de terem testemunhado confusões e problemas vividos por outras pessoas foi usado pelos participantes como justificativa para a cautela no uso do Facebook, revelando que estão conscientes de que são observados por outras pessoas, que interpretam os conteúdos socializados. “Eu tomo sempre cuidado com o que postar.” (Área Urbana, mulher, 16-17 anos) Essa participante também mencionou o drama e o bullying, mas esses dois termos não devem ser tomados como sinônimos. Como salientado por Marwick e Boyd, o drama envolve o campo interpessoal e vai além do bullying, ao “englobar piadas, brincadeira, tiradas sarcásticas e brigas performáticas”35. Assim, o drama não é exclusivamente negativo, nem tampouco é apenas um risco presente no uso das redes sociais, mas também apresenta aspectos prazerosos associados à intimidade e ao estabelecimento de vínculos pessoais. A gestão cautelosa dos perfis online sugere uma conscientização aguda dos riscos de se expressar publicamente questões privadas. A discussão nos grupos muitas vezes tratou da necessidade constante de mediação e proteção da privacidade do usuário. Por essa razão, e dado o potencial do drama de se espalhar pelos SRS, os participantes duvidam da possibilidade de se promover a saúde sexual por meio de perfis pessoais. Homem: “Seria estranho ter isso (informações sobre saúde sexual) no Facebook. É o que eu acho.” Mediador: “Mas estranho de que maneira?” Homem: “Facebook, eu não sei. Meio que não é pra isso. Poderia ser pra isso, mas não é.” (Área urbana, 16-17 anos). Ao se discutir as diferentes formas de comunicação pública ou privada no Facebook, a maior parte dos participantes concordou que o aparecimento público de informações sobre saúde sexual nos murais do Facebook não seria apoiado pelos jovens. 103


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“É meio que, tipo, você não quer isso no seu mural.” (Mulher, Área Urbana, 18-22 anos) Como o mural é público ou semipúblico, as informações ali publicadas podem gerar drama ou bullying. Mas não houve consenso quanto a isso, uma vez que alguns participantes salientaram o potencial do Facebook para ampliar o acesso dos jovens às informações sobre saúde sexual. O uso privado do Facebook levou um participante a defender a disseminação privada da informações sobre saúde sexual por meio de “inbox”, em lugar de postá-las diretamente no mural. “...se for feito assim, aí é pessoal e privado, porque eu não acesso o Facebook com gente do meu lado. Tá simplesmente ali, tão conveniente. Eu acho que permitiria a mais pessoas acessarem a informação que precisam.” (Área Urbana, Homem, 16-17 anos)

Administrando questões de privacidade “Eu acho que eu preferiria ou falar pessoalmente ou com um amigo”. (Área Urbana, Homem, 18-22 anos) A utilização diária e a administração dos perfis de SRS revelam a preocupação dos jovens com a privacidade2, que configuram seus perfis como “privados”, delimitando assim quem pode acessar a informação ali publicada11,37. De acordo com a pesquisadora de mídia Sonia Livingstone, não há aqui a intenção de reter toda informação pessoal, mas, sim, uma escolha cuidadosa das pessoas que devem ter acesso a tal informação2. Como observado por Boase et al., há diferentes formas de vínculos sociais – como, por exemplo, vínculos nucleares e significativos - que se desenvolvem de forma diferente nos espaços online38. De acordo com os participantes, alguns jovens optam por administrar sua privacidade evitando, por exemplo, visitar websites de saúde sexual. Os participantes também foram relutantes na utilização de mecanismos de busca para localizar informações sobre saúde sexual, uma vez que essa informação pode ficar armazenada no histórico de busca do computador e ser vista por seus pais ou por outras pessoas. “Eu conheço gente que procurou por isso, mas eles acharam que foi inconveniente e tiveram que deletar o histórico ou só fizeram isso quando tinham certeza que estavam sozinhos em casa…” (Área Urbana, Mulher, 16-17 anos) Os participantes deram maior preferência às formas menos diretas de acessar informações online 104

sobre saúde sexual. Propagandas no Facebook foram consideradas adequadas porque oferecem aos usuários a possibilidade de negar sua intenção de acessar sites de saúde sexual. O ato de clicar “acidentalmente” em uma propaganda do Facebook oferece a segurança de não se expor ao buscar essa informação e, portanto, de não ser julgado diante da possibilidade de ter uma DST ou de ser sexualmente ativo. “...se você só clicar pra ver uma coisa no Facebook, você não espera ser descoberto. Ninguém vai ver em um mecanismo de busca se você buscou por herpes ou clamídia, ou algo assim.” (Homem Regional, 1617 anos) As propagandas pelo Facebook também foram consideradas interessantes “...porque ninguém precisa ir atrás da informação, por que ela vem diretamente pra você.” (Homem, Área Regional, 16-17 anos). Houve menor preocupação com relação aos históricos de pesquisa entre os participantes mais velhos, por que, em geral, já tinham seu próprio computador. Aqui, a busca pelo Google foi tomada como uma maneira de obter informações específicas sobre saúde sexual sem o risco de exposição em um espaço de SRS:

“Você não vai postar algo muito pesado no Facebook.” (Homem, Área Urbana, 18-22 anos)

“A Internet tem informação suficiente sobre tudo isso. Se você quer saber mesmo, você pode procurar no Google e vai achar.” (Homem, Área Urbana, 18-22 anos) Outros discordaram da utilidade das propagandas no Facebook: “Em geral, é só besteira, então eu nem olho para as propagandas que ficam do lado, eu simplesmente ignoro.” (Homem, Área Urbana, 18-22 anos) Alguns participantes demonstraram preocupação mesmo com as mensagens por “inbox” (mensagem privada), por não oferecerem a privacidade necessária para as questões de saúde sexual. “Mesmo em mensagens, tipo, privadas, as pessoas mostram para outras pessoas.” (Mulher, Área Urbana, 16-17 anos) Aqui, as preocupações relacionadas à privacidade superam qualquer benefício que o compartilhamento de informações sobre saúde sexual possa oferecer.


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“Você só tem que ser cuidadoso com o que vai dizer para as pessoas. Às pessoas que você confia, você pode contar tudo, e a outras pessoas você tem que prestar atenção no que fala.” (Homem, área Urbana, 16-17 anos) Houve bastante consenso sobre a necessidade dos jovens em manter a privacidade no que se relaciona a questões de saúde sexual e a qualquer busca ou compartilhamento de informações online. Paradoxalmente, no entanto, muitos participantes sugeriram que as mensagens sobre saúde sexual são mais efetivas quando envolvem “histórias reais” de jovens que relatam suas próprias experiências. “Talvez, se vier de pessoas que realmente já passaram por isso.” (Mulher, Área Urbana, 16-17 anos de idade) “...mas teria que ser uma história real, não uma inventada.” (Homem, Área Urbana, 16-17 anos) Esse grupo focal discutiu a utilidade de histórias reais em contraposição a uma campanha apenas baseada em fatos. Histórias pessoais podem oferecer um espaço para a subjetividade que o compartilhamento de fatos não oferece39, mas essa preferência pelas narrativas pessoais pode também se relacionar à cultura da auto-exposição, que é um elemento integrante das redes sociais.

A importância do humor “Bem, eu acho que você precisa ter uma parte engraçada dentro porque se for muito sério vai assustar as pessoas. Então eu acho que tem que cativar as pessoas ao ser engraçado e aí depois colocar a moral da história como algo sério no final ou algo assim.” (Mulher, Área Regional, 16-22 anos) Os participantes sugeriram o uso do humor para aliviar o constrangimento de discutir saúde sexual com estranhos. O humor permitiu que os participantes superassem o nervosismo inicial e conversassem de forma mais relaxada e confortável. Não surpreende, portanto, que essa técnica também tenha sido sugerida para reduzir o potencial de constrangimento e estigma em discussões online semipúblicas sobre saúde sexual. Um participante chegou a sugerir que as pessoas não curtiriam uma página sobre saúde sexual no Facebook por conta de possíveis constrangimentos. Mas essa opinião foi reconsiderada no grupo quando se tratou da possibilidade de se utilizar o humor:

Mulher: “Isso poderia ter páginas no Facebook, mas eu acho que muita gente não iria dar “like”.” Homem: “Eu não entraria na página…” Mulher: “Curtir.” Homem: “Eu curto DSTs…” (Risos) (Área Urbana, 18-22 anos) Quando questionados sobre campanhas de saúde sexual existentes que conheciam, os participantes lembraram de campanhas com roteiros e imagens engraçadas ou aquelas que tinham “um lado mais leve, engraçado”, como mencionou uma participante (Área Regional, 18-22 anos). Diversos participantes mencionaram um pôster que consideravam divertido e eficaz. “Eu acho que a imagem do cara pescando é bem simples: “Você pegou algo ultimamente?” É só uma imagem e uma frase. E tem um pouquinho de comédia nela, não é muito séria.” (Área Regional, Homem, 18-22 anos) Além do humor, foi ressaltado que essa mensagem não sugere nada relacionado à identidade, ao gênero, às práticas sexuais ou ao nível de risco do espectador. Homem: “É voltado apenas para você, não quer saber dos seus parceiros, não liga para a sua orientação, é só você.” Mulher: “É, foi a mesma coisa para a versão feminina, que eu achei engraçada, eles colocaram o mesmo cara pescando…” (Área Regional, 18-22 anos) Todos os grupos salientaram a importância do humor, especialmente se as mensagens forem elaboradas com o intuito de serem compartilhadas entre amigos. “É provável que seja mais fácil de compartilhar se eles fizerem anúncios engraçados mas que, ao mesmo tempo, passasse uma mensagem sobre se examinar ou algo assim. Porque as pessoas ficariam tipo: oh, isso é engraçado, você tem que assistir, e aí elas postariam nos murais das outras pessoais...” (Mulher, Área Regional, 18-22 anos) Eventualmente, percebeu-se que o humor poderia ser usado em conjunto com uma mensagem mais séria, mas o humor foi apontado como o elemento mais importante para que o compartilhamento. Notou-se ainda que, sem humor, os anúncios sobre saúde sexual são passíveis de serem parodiados e modificados por meio das SRS. 105


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Homem: “Você também tem que estar ciente que quando você coloca algo na internet, tem muito gente esperta que pode manipular as coisas muito facilmente e de forma bastante engraçada, transformando tudo em uma grande piada..” Mulher: “Já que a piada está sendo feito, as pessoas não vão pegar e fazer mais piadas sobre isso, porque já é engraçado…” (Área Regional, 18-22 anos) Um grupo sugeriu o uso de paródias musicais como uma maneira de estimular o compartilhamento e a informação entre pessoas próximas. A reescritura da música de Akon chamada “I Just Had Sex” (Eu acabei de transar) foi discutida como uma opção de paródia. Mulher 1: “É, poderia ser engraçado.” Mulher 2: “Poderia ser tipo: “Eu Acabei de Transar”, mas diferente.” Homem: “Eu acabei de transar e peguei clamídia.” Mulher 2: “Eu acabei de pegar herpes.” Homem: “É verdade, seria uma música engraçada. O pessoal ia querer escutar.” (Área regional, 16-17 anos) Outros sugeriram vídeos humorísticos do Youtube com participação de celebridades ou políticos, incluindo a primeira-ministra australiana, Julia Gillard, “fazendo piada consigo mesma”, ao falar sobre DSTs ou sobre check-ups de saúde sexual.

Conclusões A informação projetada para as redes sociais requer adaptação para os sites utilizados pelos jovens, por meio de perfis públicos e semipúblicos, devendo-se reconhecer que o conteúdo das redes sociais está incorporado a práticas mais abrangentes de auto-exposição e de gestão de identidades. Nossos achados podem apontar muitas contradições, mas demonstram não apenas a forma complexa como as redes sociais são utilizadas, como também a dificuldade enfrentada pelos modelos tradicionais de promoção da saúde sexual em se conectar a essas práticas. Como salientado pelos participantes da pesquisa, as agendas de promoção da saúde sexual e dos usuários das redes sociais são conflituosas, de diferentes formas. A primeira está inserida nas práticas de marketing social voltadas para a disseminação de uma única mensagem, a ser levada para casa para ser absorvida pelos jovens. Em contraste, a natureza participativa das redes sociais requer a adaptação 106

constante das mensagens, que pode ser reformulada de acordo com o contexto de relacionamentos e redes em que os jovens estejam envolvidas. Os jovens entrevistados deixaram claro que a informação “séria” sobre saúde, ou seja, didática e centrada nos riscos, provavelmente não será absorvida nos espaços das redes sociais. Mensagens sobre saúde sexual fora dos contextos apropriados podem resultar na associação dos usuários ás DSTs, que podem, por isso, serem brutalmente estigmatizados, fazendo com que o medo de bullying e do drama impeça a disseminação das informações sobre saúde sexual em SRS como o Facebook. Embora a informação sexual requeira a generalização para não comprometer usuários ou leitores, a disseminação de informação genérica dissociada do contexto imediato e das atividades e preocupações pessoais dos jovens não se coaduna com a forma com que a maior parte dos jovens utiliza as redes sociais. Assim, por um lado, os participantes deram preferência às informações genéricas sobre saúde sexual, mas, por outro, a informação genérica não se adapta às práticas cotidianas das redes sociais. Uma maneira de resolver esse paradoxo, na opinião dos jovens, é a utilização do humor. Vídeos humorísticos foram mencionados com frequência como uma prática com o potencial de não comprometer quem os compartilha, que apenas compartilha algo engraçado, e nem compromete o leitor, que apenas aprecia o humor. Mensagens humorísticas também são mais fáceis de lembrar.40 Ficou claro que incorporar o humor em mensagens ou vídeos sobre saúde sexual aumenta a probabilidade deste material ser compartilhado entre as redes de contatos mais próximos de jovens, ganhando força e lugar nas culturas midiáticas cotidianas. Embora o uso do humor apresente potencial para estratégias de saúde sexual por meio de redes sociais, por si só, não garante a eficácia da estratégia. Apesar das SRS serem “públicas”, a intromissão da saúde pública nesses espaços pode não ser bem vinda, especialmente se desconsiderar ou desrespeitar a complexidade do uso das redes sociais pelos jovens41. O humor também é pessoal e subjetivo e precisa ser tratado de maneira cuidadosa para não encorajar a estigmatização ou o constrangimento. Isso sugere que os estrategistas da promoção da saúde sexual devem eles mesmos envolver-se na cultura das redes sociais, ao invés de apenas inserirem um pacote de programas pré-elaborados em espaços de práticas onde a estigmatização é frequente, a privacidade é impor-


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tante e a disseminação de informação é moderada por meio da auto-exposição do usuário. Esse estudo também levanta questões relacionadas à natureza da promoção da saúde em um contexto mais abrangente e sua tendência de produzir e disseminar “a mensagem”, cuja eficácia depende da disseminação consistente ao longo do tempo. Como demonstrado aqui, as interações nas redes sociais não só estão longe de promover mensagens simples e singulares, como também se orientam para a criação, reapropriação e subversão de mensagens, em nome do lúdico, do desempenho e da amizade. Os jovens em nosso estudo tinham interesse em informações sobre saúde sexual, mas preferiam não acessá-la se isso ameaçasse sua percepção de conforto e pertenci-

mento ás suas redes sociais. Serviços de promoção sexual que pretendem se inserir nas SRS devem ser cautelosos na compreensão de suas funções como um possível “fator de risco” para os jovens nesses espaços. Isso não significa que a promoção da saúde nesses sites não deva acontecer ou que não acontecerá, mas, sim, que deve ser compreendida e adequada a esses contextos como intervenções específicas para cada tipo de espaço.

Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer aos jovens que participaram desta pesquisa. Também gostaríamos de agradecer à pesquisadora associada Kate Crawford, assim como ao Programa de DSTs de Nova Gales do Sul, que financiou essa pesquisa.

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P Byron et al. Questões de Saúde Reprodutiva 2014; 7: 97-107 Résumé

Resumen

Dans l’environnement médiatique d’aujourd’hui, l’information n’est pas seulement transmise des producteurs aux consommateurs, elle est aussi véhiculée par les participants aux nouvelles cultures médiatiques, notamment l’information sur la santé sexuelle. Dans des groupes réunis à Sydney et dans l’Australie rurale en 2011, nous avons interrogé des jeunes de 16 à 22 ans sur le potentiel de promotion de la santé sexuelle dans Facebook et d’autres médias sociaux. Nos conclusions soulignent la complexité des utilisations des médias sociaux par les jeunes, et l’improbabilité que les messages traditionnels de santé sexuelle suscitent l’intérêt dans les médias sociaux. Cinq aspects clés sont apparus : la culture participative des sites des réseaux sociaux ; la stigmatisation de la santé sexuelle, particulièrement des infections sexuellement transmissibles (IST) ; la présentation soigneuse d’eux-mêmes par les jeunes ; les inquiétudes quant à la confidentialité ; et l’importance de l’humour dans les messages de santé sexuelle. La peur des brimades et des ragots (ou des « drames ») risquait aussi de contrarier la diffusion des messages de santé sexuelle dans cet environnement. Néanmoins, les participants ont cité les films vidéo humoristiques en ligne comme un moyen d’éviter la stigmatisation et de partager des informations. Les jeunes de notre étude étaient intéressés par les informations de santé sexuelle, mais ne voulaient pas y avoir accès au prix de leur propre sentiment de confort et d’appartenance à leurs réseaux sociaux. Toute promotion de la santé sexuelle dans ces sites doit être comprise comme une intervention propre à un site.

En el ambiente actual de los medios de comunicación, no solo se transmite la información de los productores a los consumidores, sino que también ésta, incluida la información sobre salud sexual, es transmitida por participantes de nuevas culturas mediáticas. En grupos focales llevados a cabo en Sydney y Australia regional en 2011, les preguntamos a jóvenes de 16 a 22 años de edad sobre la posibilidad de promover la salud sexual vía Facebook y otros medios sociales de comunicación. Nuestros hallazgos señalan las complejas maneras en que la juventud utiliza esos medios y la improbabilidad de que los mensajes tradicionales sobre salud sexual tengan tracción en los espacios de los medios sociales de comunicación. Surgieron cinco aspectos clave: la cultura participativa de los sitios de redes sociales; el estigmaa en torno a la salud sexual, especialmente las infecciones de transmisión sexual (ITS); la cuidadosa manera en que la juventud se presenta; cuestiones de privacidad; y la importancia del humor en los mensajes sobre salud sexual. Además, consideraban probable que los temores de intimidación y chismes (o ‘drama’) impidieran la difusión de los mensajes de salud sexual en este ambiente. Sin embargo, los participantes mencionaron que los videos humorísticos en línea son una manera importante de evitar estigma y facilitar el intercambio de información sobre salud sexual. Las personas jóvenes en nuestro estudio estaban interesadas en la información sobre salud sexual, pero no querían obtenerla a expensas de su propio sentido de comodidad y pertenencia a sus redes sociales. Toda promoción de salud sexual en estos lugares debe entenderse como una intervención específica al lugar.

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