Varal de março de 2014 - Especial Infinita Mulher
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ISSN 1664-5243
INFINITA MULHER!
Ano 5 - Março de 2014—Edição no. 28 www.varaldobrasil.com
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NÓS SOMOS TODOS IGUAIS! www.varaldobrasil.com
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ISSN 1664-5243
LITERÁRIO, SEM FRESCURAS Genebra, inverno/primavera de 2014 Edição no. 28 - Março de 2014 VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARAL DOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDO BRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRA SILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILV ARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARA LDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRA SILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILV ARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARA LDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDO BRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRA SILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILV ARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARA LDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDO BRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRA SILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDO BRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRA SILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILV ARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARA LDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDO BRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRA SILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARALDOBRASILV ARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILBRASILVARA LDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL BRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASIL VARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVARALDOBRASILVAwww.varaldobrasil.com
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EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL
PARITICIPE DAS PRÓXIMAS EDIÇÕES:
NO. 28- Genebra - CH - ISSN 1664-5243
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Até 25 de MARÇO você pode enviar textos para nossa edição de maio que trará o tema PRESERVAÇÃO DA NATUREZA E DA VIDA!
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As inscrições podem ser encerradas antes se um número ideal de participantes for atingido.
Copyright : Cada autor detém o direito sobre o seu texto. Os direitos da revista pertencem a Jacqueline Aisenman. O VARAL DO BRASIL é promovido, organizado e realizado por Jacqueline Aisenman Site do VARAL: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com
BLOG DO VARAL
Textos: Vários Autores Ilustrações: Vários Autores Foto capa: © Artem Merzlenko - Fotolia Foto contracapa: © malyugin - Fotoliacom Muitas imagens encontramos na internet sem ter o nome do autor citado. Se for uma foto ou um desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente e teremos o maior prazer em divulgar o seu talento. Agradecemos sua compreensão. Revisão parcial de cada autor Revisão geral VARAL DO BRASIL Composição e diagramação: Jacqueline Aisenman A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A revista está gratuitamente para download em seus site e blog. Informações sobre o 28o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra e sobre o stand do VARAL DOBRASIL:
Você pode contribuir com artigos, crônicas, contos, poemas, versos, enfim!, você pode escrever para nosso blog. Também pode enviar convites, divulgação de seus livros, pinturas, fotografias, desenhos, esculturas. Pode divulgar seus eventos, concursos e muito mais. No nosso blog, como em tudo no Varal, a cultura não tem frescuras! (www.varaldobrasil.blogspot.co m) Toda contribuição é feita e divulgada de forma gratuita e deve ser enviada para o e-mail varaldobrasil@gmail.com
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ATIVIDADES DO VARAL
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Estão abertas as inscrições para o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra;
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Estão abertas as inscrições para o II Prêmio Varal do Brasil de Literatura;
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Estão abertas as inscrições para a edição de maio de nossa revista com o tema Preservação da Vida. PARTICIPE! INSCREVA-SE! A revista VARAL DO BRASIL circula no varaldobrasil@gmail.com
Brasil do Amazonas ao Rio Grande do Sul... Também leva seus autores através dos cinco continentes. Quer divulgação melhor? Venha fazer parte do VARAL DO BRASIL E-mail: varaldobrasil@gmail.com Site: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com
*Toda participação é gratuita www.varaldobrasil.com
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O fato de ser mulher já é em si um grande fato. Fato? Fato! Se vivemos hoje no ocidente com bastante liberdade, muitas vezes temos tendência a ignorar ou esquecer o trabalho que nossas ancestrais tiveram para nos legar a vida que temos hoje. Mas isto nos é lembrado quando nos deparamos com vários problemas ligados às culturas orientais onde, em muitas delas, a mulher ainda é considerada um objeto ou menos do que isto. Vemos com tristeza e absurdo cenas de violência física e psicológica que nos fazem pensar em que século vivemos. Mulheres sendo subjugadas, violentadas, tendo seus futuros negados e seus direitos completamente abafados. Hoje, em pleno século XXI. Mas nem precisamos ir tão longe. Aqui mesmo no ocidente ainda temos o desprazer de assistir a estupros, violência doméstica, desqualificação da mulher no trabalho e tantas outras indicações, algumas sutis, outras não, de que os direitos femininos não estão totalmente adquiridos. Mulheres são infinitas. Este é o tema de nossa edição de março. Infinitas porque iniciam a vida incessantemente, dando à luz todos os dias a mais homens e mulheres que povoarão o mundo e farão dele algo que se espera seja melhor
e mais humano. São infinitas as mulheres em seus anseios, seus sonhos, seu amor e suas vontades. Marcadas pela maçã do paraíso religioso, ainda assim elas saem do mito e se transformam em Liliths e santas: são as guerreiras do dia a dia, as madres teresas de todo dia. São as maravilhosas criaturas que dão de si o que podem e o que muitas vezes nem podem. Mulheres trabalham, lutam, são donas de casa, soldados, empresárias, faxineiras, engenheiras, cientistas, professoras, chefes de estado, escritoras... São sonhadoras, idealistas, realistas e realizadoras. Mulheres são o motor que move o mundo, por elas e através delas os homens seguem seus caminhos. Com elas eles conquistam e com elas eles existem. Celebremos as mulheres! Celebremos o infinito que vem do ventre e do coração de cada mulher. Desejando que os direitos venham, num dia breve, a ser iguais para todo ser humano, em todo lugar de nosso Planeta. Jacqueline Aisenman Editora-Chefe Varal do Brasil
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ALCILENE MAGALHÃES
GAIÔ
ALDO MORAES
GLADIS DEBLE
ALEXANDRA MAGALHÃES ZEINER
GUACIRA MACIEL
ANA POLESSI
HAZEL SÃO FRANCISCO
ANA ROSENROT
HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA
ANAXIMANDRO AMORIM
ISABEL C. S. VARGAS
ANDRÉ V. SALES
IVANE LAURETE PEROTTI
ANGELA DELGADO
J.C. BRIDON
ANGELICA VILLELA SANTOS
JACQUELINE AISENMAN
ANTONIA ALEIXO FERNANDES
JANIA SOUZA
ANTONIO CABRAL
JEANNE PAGANUCCI
ASSENÇÃO PESSOA
JEREMIAS FRANCIS TORRES
BASILINA PEREIRA
JÔ MENDONÇA ALCOFORADO
CAMILA GOMES
JOAREZ DE OLIVEIRA PRETO
CESAR SOARES FARIAS
JOSÉ HILTON ROSA
CLEVANE PESSOA
JOSÉ NEDEL
CRISTINA CACOSSI
JÚLIA REGO
DEIDIMAR ALVES BRISSI
KARLINE BATISTA
DINORA COUTO
LENIVAL NUNES ANDRADE
DUCARMO SOUZA
LEONIA OLIVEIRA
ELENA MATTOS
LEONILDA YVONNETI SPINA
ELIANE ACCIOLY
LÓLA PRATA
ELISA ALDERANI
LOURDES LEITE
ELOISA MENEZES PEREIRA
LUCIA LABORDA
ESTHER ROGESSI
LUIZ CARLOS AMORIM
EVELYN CIESZYNSKI
MAGADA REGADAS RESENDE
FERNANDA FAVA BORDAN
MARIA ARAÚJO
FLÁVIA ASSAIFE
MARIA EMILIA ALGEBAILE www.varaldobrasil.com
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MARIA JOSÉ V. JUSTINIANO
TANIA DINIZ
MARIA MOREIRA
TERESA DRUMMOND
MARIA (NILZA) DE CAMPOS LEPRE
VERA LÚCIA ERTHAL
MARIA SOCORRO DE SOUSA
VERA RIBEIRO
MARILU F. QUEIRÓZ
VÓ FIA
MARINA GENTILE MARINEY KLECZ MÁRIO REZENDE MARLENE B. CERIGLIERI MARLUCE ALVES F. PORTUGAELS MARLY RONDAN MONICA CHRISTI NEUSA ARNOLD-CORTEZ NUBIA STRASBACH OLIVEIRA CARUSO PAULA ALVES RAI D’LAVOR RAILDA MASSON CARDOSO RENATA CARONE SBORGIA ROBINSON SILVA ALVES ROGÉRIO ARAÚJO (ROFA) ROSANA BANHAROLI ROSELIS BATISTAR ROSSANA AICARDI ROSSANDRO LAURINDO ROZELENE FURTADO DE LIMA SONIA REGINA ROCHA RODRIGUES SUZETE CARVALHO www.varaldobrasil.com
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CULTíssimo Por @n[ Ros_nrot
Lindas, sedutoras, delicadas, piedosas, lutadoras... São tantos adjetivos para esses ícones Cult que eu poderia falar eternamente, mas vou resumi-las em uma única palavra: mulheres. Indiscutivelmente todos temos, tivemos ou teremos uma mulher importante em nossas vidas; um ser incrível que fará a diferença e deixará marcas em nossa existência. Mas algumas mulheres mudaram o mundo com seus exemplos de sabedoria, luta, coragem e principalmente persistência, tornando-se símbolos da capacidade feminina. O cinema soube retratar a vida e a importância de algumas mulheres maravilhosas que enfrentaram os preconceitos e dificuldades para defender seus ideais, arriscando suas vidas pelo sonho de um mundo mais feliz e humano, mais justo, caloroso, enfim, mais feminino. Escolhi esses filmes para aqueles que querem conhecer e partilhar a experiência dessas mulheres, que em muitos casos foram responsáveis por grandes mudanças no panorama geral de suas épocas, salvaram vidas e contribuíram para o desenvolvimento da humanidade em diversas áreas, aproveitando para agradecer todo o carinho que venho recebendo dos queridos leitores desta coluna e ao apoio da Revista Varal do Brasil, seus realizadores e colaboradores; obrigada a todos!
contraíram doenças graves; ela decide investigar o problema por conta própria descobrindo que a empresa Pacific Gas & Electric havia contaminado a água dessa comunidade com produtos químicos; então ela resolve mover uma ação milionária contra a empresa em busca de uma indenização para ajudar as vítimas doentes. Sua vida nunca mais será a mesma depois disso. Ainda hoje, Erin Brokovick continua atuante em sua luta para ajudar as pessoas como presidente da Brockovich Research & Consulting, uma empresa que faz consultoria ambiental, trabalha com defesa do meio ambiente e da palestras no mundo todo.
Erin Brokovich - Uma Mulher de Talento (2000 E.U.A) É um filme biográfico dirigido por Steven Soderbergh , escrito por Susannah Grant e estrelado por Julia Roberts ( em sua melhor atuação); conta a história de Erin Brockovich (Julia Roberts), uma mulher simples, com pouco estudo, mãe solteira de três filhos, que perde uma ação judicial e exige que o seu advogado a empregue como arquivista em seu escritório. Muito observadora ela percebe, ao organizar arquivos de um caso judicial, que inúmeras pessoas de uma comunidade www.varaldobrasil.com
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Madre Teresa - (2003) Conhecida como " a santa dos pobres mais pobres", conta história da devotada vida de Inês Gonxha Bojaxhiu que nasceu em Skopja, capital da atual república da Macedônia. Aos 21 anos, mudou seu nome para Teresa e ingressou em um Convento de Calcutá. Onze anos mais tarde deixaria o mesmo e começaria a trabalhar nos bairros mais pobres da cidade, vindo a fundar em 1946, a Congregação das Missionárias da Caridade. Madre Tereza recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seu papel em favor dos mais necessitados. Com a direção de Fabrizio Costa, é um filme maravilhoso, um verdadeiro exemplo de amor ao próximo, que mostra de forma sensível a dedicação, a luta e a intolerância enfrentada por essa mulher insuperável, que dedicou cada segundo de sua vida aos mais necessitados. www.varaldobrasil.com
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Amelia – (2009 Estados Unidos) Conta a história de Amelia Earhart (lindamente interpretada por Hilary Swank) a lendária deusa da luz, chamada assim por sua ousadia e carisma, foi à primeira mulher a completar a travessia do oceano Atlântico pilotando um avião. Este feito fez com que se tornasse uma celebridade nos Estados Unidos. Seu fascínio pelo perigo inspirou até mesmo a primeira dama Eleanor Roosevelt (Cherry Jones). Casada com George Putnam (Richard Gere), um magnata do mercado editorial, e tendo o piloto Gene Vidal (Ewan McGregor) como seu grande amigo, Amelia decide, em 1937, embarcar na mais arrojada de suas missões: dar a volta ao mundo em um voo solo. Sua coragem em atuar numa profissão totalmente masculina, inspirou e vem inspirando mulheres no mundo todo.
Para fazer um comentário ou deixar sua sugestão é só enviar um e-mail: anarosenrot@yahoo.com.br
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que a mulher possa ser em shangri-la assumido! Na lida diária, ter seu valor reconhecido! Por Cristina Cacossi
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Simplesmente mulher
falar e a pensar, porém, a linguagem tem um papel fundamental em todos os processos e tem grande influência no nível de abstração e
Por Lucia Laborda
generalização do pensamento,. Bem como, tem uma influência direta na percepção da realida-
Por muitas vezes escutei dizerem que nós mu- de. Um grande exemplo disso são os estereótilheres, precisamos ter um dia especial, para pos das pessoas, que se cuidam de forma a nos auto-afirmar. Simplesmente nunca respon- não perderem essa figura, as quais foram assodi, ou apenas sorri. Engraçado como ainda ho- ciadas. je, apesar de toda evolução, somos objeto des- Essa imagem da fragilidade, da incapacidade sas piadinhas, etc.
de realizar tarefas que dizem, específicas do
Imaginem um mundo só de homens? Como homem, acabou por estagnar, pelo menos em aconteceria a reprodução e etc? Isso é apenas tese machista, a evolução e absorção da muo começo. E contrariando todas as opiniões lher de igual para igual, diante da sociedade. machistas, acho que nós temos força, disposi- Nós mulheres, somos em grande parte, culpação e coragem, apesar de não sermos nenhu- das das exclusões e discriminações sofridas. ma mulher maravilha. Com certeza, não nos Quando parimos um menino, criamos totalmendeixamos abater diante dos percalços, ou das te diferente da menina. Ele tem uma educação necessidades que a vida nos impõe.
diferenciada, onde não pode exercer determi-
A mulher consegue ao longo do dia, se dividir e nadas funções, por “serem exclusivas” da mudar conta das várias tarefas, que assume a res- lher. Nada pode fazer, (pelo ridículo medo que ponsabilidade. Somos mães, dividimos o traba- temos, de desvirtuar a sua masculinidade). Sua lho da casa, com o da rua, que muitas vezes, palavra é, muitas vezes, decisiva; “isso é trabanos garante o sustento, esposas e ainda con- lho feminino”. Já a menina, é tratada com muitos mimos, como se a fragilidade e subserviênseguimos tempo para nós mesmas. É fácil? Claro que não, pois se assim o fosse, o homem teria a mesma desenvoltura. Mas nem isso nos faz sentir superiores a ninguém. Porém, e ainda assim, sofremos diversos tipos de preconceitos e exclusão. E esses, muitas vezes acontecem simultaneamente, pelo trabalho, pela classe social, cultura, etnia, idade, raça. E, torna-se difícil atribuí-las a um aspecto específico desse fenômeno.
cia, viessem marcadas em seu DNA. Mas contrariamente a isso, determinam algumas tarefas de casa, a sua responsabilidade. Ao longo dos anos, travamos várias lutas contra tudo isso e a principal foi conosco mesmas, tentando quebrar esse estigma e deixar claro, dentro de nós, esse espírito de guerreiras, perseverantes e batalhadoras dos nossos ideais, na tentativa de abrirmos espaços em todos os segmentos, sem perdermos a linha doce e
Vimos ao longo dos tempos, que o papel da amável; da mulher mãe, profissional e amante. linguagem, ou dos estereótipos, assume pro(Segue) porções inimagináveis. O homem aprende a www.varaldobrasil.com
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Diante do exposto, creio não ser necessário afirmar, que realmente não precisamos dessa data especial, mas, com certeza, ela nós é importante, pelo que representa. Por ser um marco nas lutas, pela valorização da mulher. Para chamar atenção sobre a discriminação, para denunciar os desmandos e a violência que mancham as páginas da história do mundo. PARABÉNS A TODAS AS MULHERES, pela força e coragem! A LUTA NÃO TERMINOU. Ainda temos muito que fazer para conquistarmos respeito e igualdade. O mundo não foi construído apenas para o homem. A sociedade não se constitui apenas dele, muito menos a família. Sem essa interação e parceria, nada seria possível. Não precisamos ser feministas, mas precisamos ser batalhadoras, corajosas, amáveis, amantes, fêmeas e companheiras.
Por que expor meus livros no Salão Internacional do Livro de Genebra? Porque além de estar expondo no maior evento literário suíço você estará divulgando seu livro numa das maiores vitrines literárias de toda a Europa. Posso enviar livros em Português? Claro! Nosso público é formado por grandes comunidades brasileiras e portuguesas e por estrangeiros que, ou já aprenderam o idioma ou estão aprendendo. Muitos compram livros para presentear amigos de língua Portuguesa. Enviando os livros eu estarei no catálogo? Sim. Se você vier autografar ou se preferir apenas se inscrever para enviar os livros, você estará em nosso catálogo. www.varaldobrasil.com
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do seu tempo na música popular do Brasil em plena virada do século no auge do pós guerra seu estilo marcante “O choro”!
EVOLUÇÃO FEMINA Por Maria Araújo
Estou diante de uma página em branco, devo falar sobre um tema polêmico Mulher, é estranho que sendo mulher tenha dúvidas sobre o que escrever...mas, hoje vejo de várias formas nossas conquistas nesse universo tanto nas áreas da cultura, profissional e familiar.
Tivemos vindo Europa, Manifesto Futurista de Marinetti importado pelo artista “ Lasar Segall” que trouxe para cá o Expressionismo, as artistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral nos trouxeram o cubismo de viagens ao exterior, “ semana de 22” Foi o grande passo dos Modernistas, essa foi uma grande conquista da mulher brasileiras nas Artes!
Ícone de nossa história uma estreante Raquel de Queirós Cearense de 20 anos em 1930 lanFomos em outras épocas apedrejadas como çou “O quinze” ( sobre a terrível seca do norbruxas (iluminismo) em outras encarceradas deste) em 1932 no Brasil, surge o direito do vocomo escravas, violentadas no sentido de esto feminino as mulheres são autorizadas a se colhas frustradas, proibidas de todos os nossos candidatarem a cargos públicos. anseios, desenvolvemos em nós a malícia, a sutileza de assimilar e aprimorar “O sexto senti- Na era dos anos 30 e 40 foi considerada “a era do” como uma sobrevivência a todas as deter- do romance brasileiro” surgiu então Cecília Meireles, parnasiana absorveu as lições modernisminações machistas. tas seus versos e poesias mostrou uma vitaliConvido aos leitores a fazer uma viagem sobre dade incomum na forma sutil e doce de descreo universo feminino e a evolução feminina em ver emoções. nosso País Anos 40 e 50 “era do rádio” Angela Maria, EmiUm grande exemplo de como o olhar feminino linha Borba e Marlene, etc... rádio Mayrink Veie detalhista as aventureiras europeias, Rose ga e rádio Nacional. Depois vieram Doris MonMarie Pinon de Sauce de Freycinet (1794teiro, Maysa etc... 1832) cismou que acompanharia o marido Louis-Claude nos anos de expedição marítima, Final dos anos 50 Chega a Bossa Nova trilha ela foi a primeira mulher francesa a dar a volta sonora classe média Zona Sul com Nara Leão, ao mundo, cortou os cabelos vestiu-se de mari- o Brasil com otimismo desenfreado no governo nheiro para registrar tudo que descrevesse as de Juscelino Kubitschek nesse período nosso delícias e delírios de uma dondoca francesa no país chegou perto de dar um salto muito imporBrasil século XIX (Diários pesquisados por Miri- tante de consumidor para produtor mas.... am Moreira Leite em seu “Livros de viagemOs festivais MPB 1965- Elis Regina, sem dúvi1803/1900), Langlet Dufresnoy também chegou das, uma das melhores interpretes a se vestir de homem para adentrar o Sertão do No teatro e TV temos várias atrizes magníficas Brasil com a morte do marido começou a conque se destacaram, Cacilda Becker, Tônia Carfeccionar chapéus e empalhar pássaros até re- reiro, Natália Thimberg, Rosa Maria Murtinho, tornar para Europa. O grande legado das viaGlória Meneses, Gloria Pires, Diva, Fernanda jantes foi mostrar o comportamento das mulhe- Montenegro que ainda permanece nos dias atures brasileiras o que gerou observações curio- ais recebendo prêmios internacionais por suas sas das viajantes. excelentes atuações. Tivemos Na década de 20, a explosão de novas ideias algumas mulheres de certa maneira romperam com essa hegemonia machista, tivemos Chiquinha Gonzaga uma mulher adiante
(Segue)
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Fiz aqui um desfile de mulheres que representaram nossa história, obviamente, que estas mudanças, já existiram em outros locais pelos desenvolvimento cultural de outras sociedades mundiais, mas preferi apenas pontuar algumas mulheres brasileiras, que serviram de exemplos femininos e referências importantes para o nosso desenvolvimento social e intelectual em várias esferas. Nosso país atualmente fez uma grande conquista, somos governados por uma mulher se ela é uma boa administradora ou não nesse contexto não importa! o que importa é que abrimos espaços para Ministras, Senadoras, Escritoras nas áreas técnicas, econômicas e Cientificas as o fato é que conquistamos lugares onde antes era impensável a presença de uma mulher, mas como tudo na vida tem dois lados me preocupa nessa sociedade atual a quase masculina postura feminina, onde a mulher permite que sua índole feminina e amável seja sobreposta e quase aniquilada, é como se a mulher para galgar espaços, tivesse que se vestir de homem e cuidar do o lar como uma coisa menor, somos fêmeas instintivas e como tal não devemos abortar esse sentimento e sim fazer com que nos respeitarem como somos, só nós mulheres parimos, só nós mulheres aleitamos e no aleitamento que acontece o sublime momento da construção do amor do pequenino ser, ao se sentir seguro com o olhar materno, nunca deve ser diminuir esse poder, não me agrada essa mulher que renúncia a esse ato sublime diminuindo a importância da maternidade e terceirizando a criação dos próprio filhos que se impõem por compromissos tomando postura de macho, e nessa nova imagem a mulher está assumindo o outro lado da moeda como eram os “homens duros machistas sem respeito”, sabemos o que sofremos esse é o momento onde a experiência de vida da qual testemunhamos contadas por nossas avós, que nos impulsionou para essa procura louca de liberdade! Mas onde está a liberdade se ainda somos nó que depois de um dia extenuante de trabalho, ainda cuidamos da casa dos filhos, fazemos amor temos menstruação e dividimos a pizza! Estariam os homens se tornando femininos por culpa ou desespero? temos que mos-
trar caminhos mais harmoniosos e inteligentes na formação de uma nova sociedade mais livre de preconceitos sim! mas sem perder o carinho a sensibilidade e o amor pontuando o dever sagrado do ser como iguais sim mas respeitando com sabedoria cada uma das suas funções! Acredito que o homem está um pouco assustado com esse novo modelo feminino, ela procura uma academia para endurecer o bumbum os bíceps as pernas, procuram os homens como se eles fossem objetos descartáveis toda essa mudança provocou um novo comportamento masculino impulsionado pelas ações dessa nova mulher, somos inteligentes o suficiente para poder organizar essas estranha “mudanças” nesse comportamento masculino, resultado desse crescimento fantástico da mulher em todos os setores onde só eles comandavam, para isso devemos usar nossa feminilidade e a cultura que galgamos para reaver esse rebanho tão disperso e assustado! onde ficaram vítimas do oportunismo selvagem da comunicação das massas em uma idade precoce, onde as mães estão voltadas para o trabalho. O coração feminino tem por natureza a capacidade de superar e suportar as vicissitudes impostas pela vida e perdoar sem medo, com coragem essa mulher necessita ser completa e feliz mas para isso é necessário dar a volta por cima movidas pela coragem e a emoção! Nos refazemos como o Fênix e criamos novamente o ciclo da reprodução, somos hormônios a flor da pele impulsionadas por um só objetivo a construção, sem objetivos somos ninhos vazios. Nós mulheres desde os primórdios dos tempos organizamos nossa família e nesse momento devemos reestruturar nossos jovens com muita força e amor! O importante é que já conhecemos os dois lados da moeda e devemos sim fazer o equilíbrio para um mundo melhor.
Bibliografia Nomes e datas pesquisados do livro Brasil 500 Anos de Cultura- Ministério da Cultura parceria com O globo, SESC AIR Portugal/TAP
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LUPA CULTURAL Por Rogério Araújo (Rofa) O que não falta por aí são pessoas inspi-
O “vendedor” de poesias
radas que escrevem seus versos para si mesEstava caminhando nas ruas de Niterói (RJ), no maior sol com sensação térmica de mais de 40º e quase entrando numa loja com ar condicionado
para
melhorar
a
situação
(rsrsrsrs) quando me deparei com um senhor com um papel nas mãos. Percebi que ele estava “oferecendo” uma poesia de sua autoria (em promoção) por apenas R$ 0,50 e outras por R$ 1,00.
mo e tem vergonha de mostras aos outros. Alguns têm diversos livros escondidos com medo que os de fora riam de seus escritos. Poesia pode ser algo muito pessoal, com interpretação de cada um. Aristóteles disse: “A poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo, e a história somente o detalhe.” Toda a poesia é a expressão do que vivemos, seja no mundo real ou até mesmo em
Fiquei imaginando que interessante ver um poeta mendigando uns trocados, certamente por não conseguir publicar um livro com seus escritos. E, ao mesmo tempo, pensando o que ele poderia ter feito para chamar mais a atenção do público.
sonhos ou no “virtual”. É um momento único e prazeroso de “licença poética” da própria vida. Há tempos atrás, uma bela moça se derretia com palavras poéticas adocicadas do pretendente. Sonhava com os momentos descritos em palavras na vida real. Hoje em dia nem
Ler uma poesia que toque o coração de quem a ouve, seria uma boa opção. Pena que ele apenas estava “oferecendo” sua obra, mas nem uma degustação de como era ele mostrava. Existem pessoas sensíveis à poesia e com suas doces palavras. Outras já são mais frias e sem essa sensibilidade aguçada. Também quando falamos “poesia”, nos referimos a esse gênero literário, mas aos outros, como prosa-poética que não deixa de ser poesia e
sempre é assim, mas que no fundo todos estão abertos para estes deliciosos e preciosos instantes para viver. Platão disse certa vez que “Todo homem é poeta quando está apaixonado.” E não é verdade? E quis dizer homem “ser humano”, incluindo a mulher cheia de seus sentimentos e que muitas vezes são incompreendidas pelos machões que não a compreendem. (Segue)
emociona da mesma forma.
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“Poesia é quando uma emoção encontra * Escritor, jornalista, autor do livro “Mídia, bênção ou maldição?” (Quártica Premium, 2011), lançado
seu pensamento e o pensamento encontra pa- na XV Bienal do Livro do Rio de Janeiro (2011), Salavras.” (Robert Frost). Lindos dizerem que bro- lão de Genebra, Suíça (2012), Expo América, em Nova York, EUA (2012) e na Feira de Frankfurt,
tam coração que a mente transcodifica em Alemanha (2013); dentre participações em diversas antologias no Brasil e exterior; vencedor de prêmios
emoção e que são mais eternizadas ainda literários e culturais; membro de várias academias quando lidas por lábios cheios de amor e pai- literárias brasileiras e mundiais; menção honrosa no xão.
Prêmio Varal do Brasil de Literatura, com a crônica “O amor... é cego, surdo e mudo?!”; recebeu o Prêmio Diamonds Of Arts and Education Austrian Existe lugar para poetas neste mundo. 2013, em Viena, Áustria (2013).
Ainda não levantarão uma placa dizendo “Não há vagas”. Emoção é bom para qualquer um, O que achou da coluna “Lupa Cultural” e deste texem qualquer idade e faz muito bem para o cor- to? Contato: rofa.escritor@gmail.com po, mente e alma. Carlos Drummond de Andrade afirmou sabiamente que “Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação, embora não tenha sido uma vocação desenvolvida conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São problemas de angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo.” Poesia é tudo isso e muito mais e não nada como alguns afirmam ser. As editoras torcem o nariz quando veem um livro de poesias a ser analisado para publicação. Será por quê? Não venderia? Teriam muitos livros de poesias por aí afora? É muita “emoção” para poucas prateleiras nas livrarias? Sempre existirão pessoas que adoram poesias, outras detestam. Algumas mais emotivas outras mais frias e assim a vida segue. Vamos viver poesia! Ser poeta no dia a dia com atitudes sábias, emocionantes e que trazem o amor à tona das pequenas às mais complexas situações da vida que se não tiver emoção não vale nem a pena viver! E de graça e não vendidas as “emoções poéticas”... Um forte abraço do Rofa!
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VAIDADE FEMININA Por Lóla Prata
Na gola de linho, a placa de brilhantes refulge gloriosa e atrai as atenções combinando com dois brincos cintilantes, a elegância obedecendo as convenções. No orgulho da joia, com a coluna ereta, no atestado silencioso da conquista, o porte majestoso os gestos afeta, sorriso gostoso de fêmea otimista... Feliz por ostentar o broche caríssimo ela segue, exibindo o enfeite na festa; outras reparam, elogiam: é belíssimo! Ofusca-as, sem escrúpulo qualquer... (Na mulher de idade, não é ação funesta, é prazer...) Vaidade, teu nome é mulher!
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INFINITA MULHER Por Mônicka Christi
E nesta escuridão que tudo clareia Onde o universo principia e serpenteia E a vida em seus largos e labirintos tece a teia Desta existência sem fim Nesta estrada que se metamorfoseia Brotando a vida que flora Diversa neste mundo afora Com cores e nuances mil E na diferença nos iguala!... Mulher! Eleita criatura Que o além vislumbra Acelerando o porvir Ser da soma das partes, A matriz da verdade pulsante em amor! O elo das eternidades, Infinitude do ciclo que renasce Ancestral, precedente, existente Fruto do fluido universal!...
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A vida floresce.
Mulher
Briga, chora e canta, trabalha no lar e fora. Por Elisa Alderani Mulher inteligente, Sempre consegue conciliar amor e sentimento. Não importa a cor dos seus cabelos, Loira, morena ou ruiva.
Um dia, os filhos tomam o rumo da vida,
Não importa seu nome:
Muitas vezes sozinha ela fica.
Leila, Maria, Iara, Lúcia, ou Sofia.
Embala sonhos, brinca com netos torna-se cri-
De qualquer nacionalidade ou raça.
ança.
É mulher! E a vida segue serena a sua dança!
Pelos poetas românticos é cantada, Em prosa em versos idolatrada. É mulher amada. Você pode ser traída ou traidora, Solteira, viúva, amante ou esposa. Você pode ser poderosa. É mulher! Ser fada bonita, ou piloto, tanto faz. Mulher corajosa, anjo do lar, Companheira amorosa e prestimosa, Sensível e audaciosa, Sensual e conquistadora. É mulher! Homem nenhum pode viver, sem você, Ele precisa de mulher para ser forte. Quando fraco vai ficar na sorte. Sem você mulher ele não avança, Precisa do seu amor, como alavanca. É mulher! Mãe faz-se partilha, e o amor sempre cresce,
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INFINITA MULHER Por Isabel C S Vargas
Desde que nasce preparada Para os mais diversos papéis Com muitas imposições. O principal deles, ser mulher: Feminina, magra, de preferência, Bem educada, com facilidade para aceitar hierarquia do pai, do marido, do chefe. Ter sempre um sorriso no rosto Delicadeza ao falar, ao homem não querer se igualar. Mulher, rainha do lar, Para o homem assessorar. Mulher que aprendeu Por sua liberdade lutar E, seu caminho foi buscar Além de rainha do lar. Aprendeu a ser mãe Papel imensurável pelas alegrias E pelas dores, Desenvolveu-se profissional Foi para a rua trabalhar, Pela ausência em casa Carrega com dignidade A pior das culpas Por não ver os filhos cresceram Falar as primeiras palavras, dar os primeiros passos. É sofredora como Maria, Lutadora como Joana Pecadora como Madalena Milagrosa como Fátima De múltiplas facetas Todas merecendo o maior respeito. Por isso, independente de nome, origem, credo, raça, profissão Merece todo respeito Por desempenhar seus papéis Com competência, bravura e, acima de tudo, com muita doçura, marca indelével de toda mulher.
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MULHER SONATA Por Alcilene Magalhães Nascida em família mestiça Moça meiga e não mestiça Sempre de bom humor Educada sem clamor. Vive em cidadezinha pacata Dotada de beleza prata Casa-se muito cedo E gera 7 filhos sem medo. A família floresce A mulher não tem emprego A família da noite pro dia cresce A mulher busca emprego. No campo ou na cidade O trabalho faz idade Quem era jovem ontem Deixa pra trás seu outrem. Nas vindas de sua história A mulher alcançou a glória Seu espaço é livre e turbulento Mas a MULHER é movimento.
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HIPNOTIZANDO À DISTÂNCIA Por Angela Delgado Seu carma, filho, será voltar como mãe. São 3h25 da madrugada. Mães geralmente acordam cedo, mas não tanto. É que ainda não dormi. Estou dialogando aqui com seus tios lá do céu, que supostamente devem nos proteger e até apelando para um Santo em particular.
Ô de casa! Ô lá de cima! Estão todos cochilando? QUERO DORMIR! Um dia vocês me dão uma insônia, no outro são os filhos que não chegam. Quousque tandem? Vou já pedir minha aposentadoria de mãe. -
Varou a noite estudando na biblioteca?
Tem mãe que é cega... Mas acredito no que quero. Nisso puxei minha mãe, que puxou a dela, que puxou ... puxou... puxou da Eva.
Eu que não ia escrever... Para quê, pensei. São dois pensamentos. Três linhas. Mas escreva. Escreva porque não se iluda. Depois Filha, resolva. Quer que ele chegue são vai saindo, saindo, igual lenço de cartola de mágico. E aí você não dormiu. Mas escreveu. e salvo ou quer que ele chegue logo? Afinal, não ia dormir mesmo... Qual a mãe que Não dá para atender dois pedidos de nesses tempos de desenfreada violência o conuma vez? Até o Gênio da lâmpada concede segue? três... 6h30 Arrisquei-me e levantei-me para A hora vai passando. Depois de parla- ver se, por um acaso, ele já havia chegado. mentar com a secretária eletrônica, o jeito é Pasmem. Estava tranquilamente dormindo. hipnotizar por telepatia. Obrigada, quem quer que tenha me esFilho, você está com sono, muuito sono cutado. Devo começar o dia, como antigamen– mas cuidado, olhe o poste! Está com uma te, com uma oração. Só espero que o carro vontade irresistível de voltar para a casa. Vool- também esteja na garagem, sem qualquer este... coriação. 4 horas. A via crucis da mulher não é Como veem, trair, roubar e escrever... é fácil. De dia os afazeres. De madrugada as pre- só começar. ocupações. Águas rolaram desde que hipnotizei FiSinta-se hipnotizado. Já é tarde. lho Varão pela primeira vez, como acima foi Queimarei um cartucho. Apelarei ao Su- narrado. Orgulhei-me de sua aprovação em vápremo, visto até os santos estarem dormindo. rios concursos, mas às vezes ainda hipnotizo ora Filho Varão ora Filha Antropóloga, quando Filho, onde está seu bom senso? É is- se prolongam demasiado fora de casa noite to. Sabe o que deixarei de herança? Saúde, adentro ou afora? bom senso e senso de humor. As três coisas mais importantes desta vida. Tendo isso, o amor virá. Quando, já de saída, me perguntou onde estive a tarde toda - tal pai, tal filho desculpe ter respondido mal. É que fui a tantos lugares que dava nem tempo de enumerálos. Você já dobrava o corredor. Além da preguiça da longa lista: lavanderia, sapateiro, cabeleireiro, costureira, engarrafamento, supermercado, banco, médico. A gincana do dia-adia de uma mulher. Tudo isso em uma tarde. E você em uma noite? Sentado, jogando? Acocorado, trocando pneu? Deitado, transando? Se cuida, você vai voltar mulher... um dia acordando às 5h30, no outro pregando o olho às 5 horas. Os homens renascerão mulheres. Não é praga. É carma. O rodízio é o nosso consolo. Até porque seria injusto se assim não fosse. Mas, quando você chegar, vou primeiro perguntar: - O que aconteceu, filho? Trouxe pão quentinho? www.varaldobrasil.com
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MULHER UM UNIVERSO
Por Esther Rogessi
Dispo-me do meu gênero – poeta não tem sexo – para falar sobre o ser mais que perfeito, criação inimitável, de quem é maior que o universo. Tudo quanto Ele fez é a própria perfeição; o homem foi... Será, sempre a sua criação maior. Adão foi criado para à Sua glória, porém, para criar Eva, o Senhor o fez dormir, para manter a fórmula em segredo. Ela, a mulher – humanamente falando, a única geratriz – é o ser mais invejado e copiado pelo próprio homem, que de todas às formas possíveis, busca encontrar a fórmula original, do ser que é um universo em complexidade, e, possuidora de mistérios insondáveis – busca vã. Nesse particular, não há espionagem industrial que prospere; nenhum cientista, ou ganhador de Prêmio Nobel conseguirá tal intento: a originalidade de tal invento. Aportar, e permanecer, em tal ser é como desbravar o infinito rumo ao encontro, de outra desejada – a lua. Muito se fala, homenageia-se, escreve-se, descreve-se, e poetiza-se, sobre essa, que foi, é e será... A musa, lira, verso, reverso, controverso... Ode! Mulher! Equilíbrio e loucura. Natureza, mãe terra, Gaia, oxigênio, vida, morte, desdita e sorte. Início e fim, o bom e o ruim; o fio da costura, o rasgo do saco, o arremate, o grito e o engasgo! Da navalha o fio, do faminto o desafio... MULHER! Beleza, realeza, atenção, distração, sedução... Perdição! O brilho que seduz; trilha para às trevas, e o caminho para a luz. Mulher, terra, montes, montanhas, vales, desaguar d’águas... Do encontro do côncavo com o convexo... Explosão, clímax, cataclismo... Emoção! Dele, a musa; a inspiração – do arquiteto das formas boleadas – que, hoje, flutua em outro universo – Niemeyer.
Dora Maar's Sans Titre (1934) at Manchester Art Gallery. Photograph: Jacques Faujour/Centre Georges Pompidou www.varaldobrasil.com
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MULHER GUERREIRA Por Maria José Vital Justiniano
A guerra da mulher começa Cedinho com café prá fazer Crianças prá levar na escola Se ela trabalha fora O sofrimento é maior Tem que deixar o bebê com a mãe Mulher guerreira Sai para seu trabalho Cumpre seu horário Almoça qualquer coisa Pensando no filho e na escola Telefona pra saber se a VAN já chegou Pega ligeiro o ônibus Pra voltar a tardinha Já está cansada Mesmo assim ao retornar, via buscar seu filhinho e, ainda vai fazer o jantar. Mulher guerreira dá um beijo no marido Que também já chegou cansado Acomoda as crianças Mulher Vence as guerras De um lar.
1898-Flame of the Forest - Mother Love - Acrylic and Gouache / h-p://fineartamerica.com/ www.varaldobrasil.com
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BRAVA BRASILEIRA Por Hiatus
BELA GUERREIRA MULHER BRASILEIRA BRILHANTE ESTRELA DEFENDE TUA LUTA TUA CAUSA TUA BANDEIRA
BUSCAS RESPEITO POIS TEM O DIREITO DE IGUALDADE
ÉS FLOR AMADA ROSA ADORADA DA LIBERDADE
LUTAS POR JUSTIÇA LUTAS POR VERDADE DESTRUINDOS OS PORÕES DA MALDADE
BRAVA MULHER Imagem by Darkquimera
DE FORÇA, GARRA É FÉ
BRAVA BRASILEIRA. GUERREIRA. MULHER.
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POESIA DE MULHER Por Railda Masson Cardoso Poesia de mulher não mostra foto, esconde vulto. Poesia de mulher não é feita a quatro mãos, usa mão engessada. Poesia de mulher não se coleciona, deixa-se ao vento. Poesia de mulher não deixa página em branco, preenche com a palavra saudade. Poesia de mulher não é entendida, é vivenciada. Poesia de mulher não é lida, é sussurrada. Poesia de mulher não demora pouco, dura uma vida. Poesia de mulher não coloca ponto final, usa reticências... Poesia de mulher não ganha coração, ganha um buraco negro no peito. Poesia de mulher é feita de madrugada, e, depois, deletada. Na poesia de mulher, a senha é o nome do proibido amado... “Poesia de mulher não é feita de algodão doce...”
Imagem by Suzi Thorn
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REGULAMENTO DO CONCURSO CULTURAL "2º PRÊMIO VARAL DO BRASIL DE LITERATURA - 2014", PROMOVIDO PELA REVISTA VARAL DO BRASIL
A finalidade do presente concurso é a divulgação da Língua Portuguesa e da arte literária mediante premiação das melhores obras literárias dentro do proposto no regulamento a seguir: Poderão participar do concurso pessoas maiores de 18 anos que sejam brasileiras ou estrangeiras e que escrevam na Língua Portuguesa. Serão consideradas quatro categorias: contos, crônicas, poemas e infantil. Os originais não precisam ser inéditos, mas deverão ser escritos em Língua Portuguesa. Os contos, crônicas, poemas ou textos infantis não poderão ser traduções de originais de outros idiomas. O conteúdo dos originais seguirá o critério seguinte: o tema é LIVRE, ou seja, o autor poderá escrever sobre o assunto de sua escolha. Os textos não deverão trazer temática partidária, seja ela política, religiosa, racial ou outra. Textos que possuam conteúdo partidário político, religioso, racial ou outro e textos que contenham pornografia de qualquer espécie serão desclassificados deste concurso sem mais. Cada candidato poderá concorrer nas quatro categorias com quantos trabalhos desejar. Para cada categoria e para cada trabalho o candidato deverá fazer uma inscrição separada e enviar também separadamente, o material a ser avaliado no concurso. A inscrição dos textos deverá ser realizada no período entre 1º de dezembro de 2013 e 31 de maio de 2014, mediante o pagamento de uma taxa de inscrição e do envio dos textos a serem avaliados para o e-mail varaldobrasil@gmail.com nas condições abaixo discriminadas.
O valor da taxa de inscrição fica estabelecido em: CHF 20,00 (vinte francos suíços) para a Suíça; BRL 40,00 (quarenta reais) para o Brasil e EUR 20,00 (vinte euros) para todos os demais países. O valor deverá chegar ao VARAL DO BRASIL isento do pagamento da taxa de transferência bancária ou depósito bancário. Não serão aceitos pagamentos feitos via Western Union ou similares. As coordenadas bancárias para o pagamento da taxa de inscrição podem ser encontradas abaixo, no final deste regulamento. Os interessados enviarão separadamente as suas coordenadas, que serão enviada junto do texto (folha separada) e comprovante de pagamento da taxa de inscrição. Uma foto de rosto deverá ser enviada junto ao restante do material solicitado. Na folha de coordenadas deverá constar: - Pseudônimo, nome completo, endereço completo (com cidade, estado, país). Telefone, e-mail, data de nascimento, número de documento de identidade. Título do trabalho inscrito e categoria. As inscrições serão realizadas apenas online, por intermédio do e-mail varaldobrasil@gmail.com e o autor deverá utilizar um pseudônimo que será indicado em sua folha de inscrição. Não receberemos trabalhos via correios ou entregues em mãos. As crônicas e os contos deverão ser enviados em formato A4, letra Times New Roman 12, espaço 2. Os contos deverão ter no máximo duas páginas e as crônicas no máximo uma página. Os textos infantis deverão ter no máximo duas páginas, podendo ser em prosa ou verso. Os poemas deverão ser enviados obedecendo às mesmas condições dos itens 10 e 11, mas contendo no máximo 1 página. (Segue)
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Não serão considerados válidos textos que vierem colados no corpo do e-mail nem textos que vierem sem o comprovante de pagamento da taxa de inscrição ou da página com as coordenadas de inscrição. Para seleção das melhores obras o VARAL DO BRASIL formará uma Comissão Julgadora que estará apta a avaliar os originais enviados de acordo com os critérios editoriais, criatividade e estilo para desta forma escolher os vencedores do presente Prêmio. Em caso de plágio constatado, o único a ser responsabilizado será o autor inscrito. Toda e qualquer decisão tomada pela Comissão Julgadora será irrevogável. E para a decisão não cabe nenhum tipo de recurso ou medida judicial. A inscrição no concurso implica na aceitação de todos os itens deste regulamento. A escolha das melhores obras literárias será comunicada em setembro de 2014 e publicada no mês de novembro de 2014 na revista Varal do Brasil e divulgada em nossos espaços amplamente. (www.varaldobrasil.com e www.varaldobrasi.blogspot.com) Os vencedores em cada categoria receberão certificado do II PRÊMIO VARAL DO BRASIL DE LITERATURA, além da quantia de CHF 300,00 (trezentos francos suíços). Do segundo ao décimo lugar: Menção Honrosa. A nominação e comunicação dos premiados será feita por e-mail. Fica autorizada a publicação pelo VARAL DO BRASIL na revista VARAL DO BRASIL, nas antologias VARAL ANTOLÓGICO e nos blog e site do VARAL DO BRASIL de todos os textos inscritos, sejam eles selecionados ou não. Os candidatos autorizam o uso e a veiculação do seu nome pelo VARAL DO BRASIL ou por terceiros por ele autorizados, inclusive para fins comerciais. A apresentação dos originais para concorrer ao II PRÊMIO VARAL DO BRASIL DE LITERATURA implica expresso acordo às normas apresentadas no
presente Regulamento. Os prêmios são pessoais e intransferíveis. Todos os casos não previstos nas normas deste Regulamento serão resolvidos diretamente pelo VARAL DO BRASIL. A organização do VARAL DO BRASIL se reserva o direito de recusar qualquer candidatura que acredite não respeitar as normas deste Regulamento ou por outros motivos que a organização do II PRÊMIO VARAL DO BRASIL DE LITERATURA achar pertinente. Em Genebra, 28 de novembro de 2013 Jacqueline Aisenman Editora-Chefe do VARAL DO BRASIL Coordenadora do II PRÊMIO VARAL DO BRASIL DE LITERATURA
COORDENADAS PARA PAGAMENTO DA INSCRIÇÃO Para a Suíça e demais países: VARAL DO BRASIL Rue de Montbrillant 84 1202 Genève Suisse POSTE FINANCE 12-478283-3 IBAN : CH73 0900 0000 1247 8283 3 BIC : POFICHBEXXX Para o Brasil Jacqueline Bulos Aisenman CPF 398 988 739 49 Banco BRADESCO S.A. Banco no. 237 Agencia 0359 Conta 22792-7 Laguna – SC
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Mulher Por Maria Moreira
Substantivo feminino simplesmente? Diversa, atenta ,de tudo ela faz E encontra tempo de ser gente! Comprometida com a vida e com a paz Nas mãos um Rosário de compromissos Com olhos e passos ligeiro segue... Segue a guerreira fazendo o serviço Segue a mãe, e, seu destino persegue De ninar ao entardecer no berço Balança, com calma, fé, e amor. Cada conta do Rosário no terço, Com esperanças de espantar a dor No lar, ou em qualquer parte Faz das tripas ao coração, Se vira nos trinta com arte De labutas ,de vida, e oração. Tem olhos para todos os lados Braços estendidos e razão Dá conta de serviços dobrados Sem perder a ternura e emoção! Ela carrega no ventre a vida Sustentando os valores de então Ser mulher é ser forte e aguerrida É ter força, glamour e vibração !
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Atitude de guerreiras Por Dinorá Couto De direitos que falo, dessa vez, só pode ser das mulheres Que não se esmorecem frente às intempéries
Várias mulheres, no Brasil, deram-me a inspiração Nomeando-as, em forma de poemas, veio a criação.
Escritoras, bibliotecárias, não importa a profissão Só sei que vou destacá-las, celebrando sua ação
Margarida Drumond e Nara Nascimento, escritoras Cléia Gerin e Conceição Sales, grandes leitoras
Até uma crônica inspirada em Solange Passos Como também em Linda...e Bela, grandes laços
Alguns nomes inspiram-me pelas suas virtudes Mas Maria da Penha ganhou pelas suas atitudes
Mesmo que algo pareça pequeno, faça Cumpra-se a lei, desejo das mulheres em massa.
Vamos reverenciar esta mulher, ícone de luta Lei com o seu nome em prol da mulher e sua labuta.
Um viva para a grande mulher Maria da Penha No combate à violência, ela sempre se empenha!
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Dama Por Marilu F Queiroz Daqui, dali Dama dantesca... debate, debela, debocha. Desabrocha, dengosa... Disfarça decoro. Daqui, dali Dama desperta delícia... destreza, despida, descrente descaso... Desconexa deusa. Daqui, dali Dama declina desnuda... delira, derruba, desmaia, disfarça... desenxabida doçura. Daqui, dali Dama desumana... Desespera, desilude, degrada, delega... Desnaturada dama.
Pintura by Laurie Pace h-p://www.dailypainters.com/ www.varaldobrasil.com
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1-mulher em pausa a 35º verão o ano todo :menopausa
2-na véspera chuvosa chovo alívios :nódulos benignos
3-palmas de mãos [as minhas] passeiam nas vielas vazias de meus sentimentos secos : estou outono
Por Rosana Banharoli
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MULHER Por Angelica Villela Santos Existem tantas coisas a dizer, embora muito já se tenha dito sobre a Mulher, a musa que ao nascer, espalha sua graça no infinito. Qual arrebol dourado se apresenta, enfeitando da Terra o céu azul, mais beleza à paisagem acrescenta, tanto seja do norte ou lá do sul. Na labuta diária em que se empenha, conquista espaços nunca imaginados nos caminhos de luta em que se embrenha. Plantando sempre amor em quantidade, a Mulher forma em jardins encantados belos canteiros de fraternidade!
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PARABÉNS A NÓS MULHERES!!!!! Por Mariney Klecz
Que abraçamos o mundo com a nossa doçura e
nosso amor...
Que derramamos nossas lágrimas de carinho e solidariedade... Que povoamos este mundo de indivíduos que criam e constroem... Que, com nosso desapontamento, lamentamos os mal encaminhados do mundo.... Que temos ombros para compartilhar a dor alheia... Que temos a vocação do perdão ... Que somos esteio dos homens e das crianças... Que somos motivo para plantio das flores... Que somos musas para belas canções... Que somos inspiração para lindas poesias... Que trazemos esperança para esse mundo... E SEMPRE seremos a possibilidade de algo melhor para todos...
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DESENCONTRO Por Jô Mendonça Alcoforado
Eu mulher, inteiramente dengosa mulher. Tu, um homem despudoradamente um homem. Eu na carência de amor, mas sempre alerta. Tu deixando em outras mulheres o que poderia ser meu Eu egoísta não, quero apenas o teu amor. Tu, perdido e sem amor vagando por outros braços. Eu esperando teu amor para mim e sem abraços. Tu, desgastando teus sentimentos sem mim. Eu sentindo suas carícias dentro de mim em pensamento Tu, solta as tuas carícias sem sentimento. Eu ando com o coração a pulsar Tu procurando sentir o teu coração a bailar Eu pulando as cordas do coração que pulsa com a poesia Tu arrastando os teus sentimentos em fantasia Nós precisamos nos encontrar e fazer esse amor brilhar! Poesia e música a cantar, corações a palpitar e bailar!
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A ESCRITA FANTÁSTICA DA MULHER FANTÁSTICA Por Karline Batista Lápis e papel na mão da mulher do século XIX, geralmente, resultavam em duas produções textuais: receitas e orações. Além disto, que mais se poderia esperar de uma mente domesticada aos ofícios do lar, aos prazeres do marido e o cuidado com os filhos. A sociedade moldou estruturas delegando papeis específicos baseados tão somente no gênero. Opostos, mas não rivalizados, as partes desempenhavam suas funções com normalidade. O homem mantinha a casa e a mulher cuidava dos membros daquela família, culminando no que na ótica da época era o padrão ideal de vida. O problema deste sistema surge quando analisamos as consequências desse padrão sócio familiar. Do ponto de vista social e em longo prazo, o quinhão pertencente à mulher colocouas numa dinâmica existencial fatal, de forma que os seres do sexo feminino não sobreviveriam longe do matrimônio. Ao homem sempre coube uma oferta maior de opções. Ele foi estimulado e preparado para o mercado de trabalho, com isso se tornaram aptos à independência financeira. A elas, suas habilidades não lhe davam condições dignas de sobrevivência, ocupadas em serviços domésticos, preparação de alimentos e outras habilidades menos lucrativas. Quaisquer meios diferente destes era considerado um ato extraordinário, quase que fantástico o que no ponto de vista da família, acarretaria a tais mulheres a exclusão, a rejeição e o abandono.
des sociais ainda eram visíveis, mesmo que Emília realizasse ações não comuns ao seu gênero. Enquanto surpreende à sociedade ao publicar poemas e crônicas nos jornais o Libertador, O Cearense, O Lyrio e A Brisa, evidencia ser também uma mulher do seu tempo ao pedir desculpas pela ousadia de falar em públicogesto permito somente aos homens- em discurso na tribuna da sessão da Sociedade das Cearenses Libertadoras (1883). O ato que pode ser visto como resquício de submissão deve ser encarado como rasgo histórico social, pois será justamente neste ponto que encontraremos as escritoras fantásticas. Quando Simone de Beauvoir afirma que não se nasce, mas se torna mulher, falava desta transformação da figura feminina na sociedade, falava das mulheres de ou em transição. A imagem feminina do século XXI é um produto novo no consciente coletivo. Neste processo a apropriação da mulher com relação a outros gêneros textuais levou a considerar importância da escrita, o que significou um dos primeiros atos no sentido de igualdade entre homens e mulheres. A escrita é uma forma de existir. Pessoas como Emília Freitas impulsionaram pequenas revoluções, quebrando o padrão vigente com pequenos e constantes avanços em espaços inéditos ao público feminino. Tornaram-se precursoras, abrindo vereadas para a revolução do seu gênero.
Os avanços foram muitos, mas a mulher moderna ainda sente as consequências das antigas regras. O despertar já é passado e o momento requer fortalecimento e construções. Toca moldarmos novos parâmetros e ajudar o homem na busca da sua posição social. E neste sentido a escrita continua sendo um canal fantástico para expressão desta mulher fantástica: uma que jamais houve igual na história da HuEntre o que podemos chamar de seres fantásti- manidade. cos femininos, admira-se a descoberta do considerável número de escritoras. No nordeste pesquisas mostram registros desta escrita “fantástica” cujas autoras conseguiram avançar as fronteiras sociais. A escritora aracatiense Emília Freitas representa este grupo. Não diferente da educação dada às moças de 1855, Emília foi preparada para ser filha obediente, mãe zelosa e esposa carinhosa, todavia, no meio deste processo, em algum momento o seu intelecto foi tocado por outros estímulos, tornando-a escritora hábil e escravocrata ferrenha. Em sua figura não será a imagem da revolução, mas da transição a representá-la. Os molwww.varaldobrasil.com
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A MULHER QUE AMO Por Lenival de Andrade “ A mulher que eu amo Tem a pele morena É bonita, é pequena E me ama também, Quando vem para mim É suave como a brisa E o chão que ela pisa Se enche de flor” Antes dela chegar para mim Vivi , sofri, implorei, chorei e até penei Guardei para ela o melhor de mim Ternura, carinho e todo o amor do mundo Quando ela me beija Flutuo, canto, me animo, me alegro Sinto o mais doce mel O que há de melhor na minha vida Escrevo neste papel Vivo hoje com emoção Dentro do meu coração Estava e está no meu plano Pois você é a mulher que amo www.varaldobrasil.com
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REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS JÚLIA REGO
Olha o passarinho!
O mundo contemporâneo trouxe uma série de mudanças que sempre nos convidam a uma reflexão sobre as perdas e os ganhos que obtivemos com essas transformações. A propósito dessas reflexões, estive a pensar sobre os papéis histórico e social da fotografia e a forma com que lidamos, hoje, com o que antes era denominado, de retrato. Se outrora, esses chamados retratos tinham como objetivo registrar, principalmente, momentos em família que seriam guardados para a posteridade, hoje, percebe-se uma explosão de recursos tecnológicos dos mais avançados, trabalhando a favor da frenética sede de exposição do indivíduo em todos os meios possíveis de divulgação, alavancado pelo surgimento das redes sociais. Do ano 350 AC, quando o filósofo grego Aristóteles criou um método de observação dos eclipses solares que não prejudicasse a visão, a chamada câmera escura, até o século XX, quando já se tinha conhecimento das mais implicadas descobertas científicas no campo ótico, observa-se que o homem sempre teve fascinação pela reprodução de imagens que fixassem o momento No início, ferramenta de uso restrito de profissionais, popularizou-se a partir da propagação da grande revolução tecnológica ocorrida dos últimos tempos, ao lado das políticas econômicas praticadas, principalmente nos países emergentes, que favoreceram a inserção das camadas mais pobres da população, oportunizando-lhes o acesso a todo tipo de bem de consumo, incluindo-se aí, as mais modernas câmeras fotográficas que passaram a
ser objeto comum e indispensável no dia a dia das pessoas. Profissionais, ou não, levadas a tiracolo, pequenas, grandes, analógicas, digitais, ou já acopladas aos aparelhos celulares, o que torna mais fácil e rápido o registro das caras, bocas e corpos, as câmeras são utilizadas por crianças, moços e velhos com uma destreza que se contrapõe aos idos anos em que era necessária a contratação de um fotógrafo particular, experiente e com habilidade para manejar tão delicado mecanismo, afinal corria-se o risco de se queimar as fotos, perdendo-se, assim, todo o material conseguido após longos minutos de preparação de poses rigorosamente ensaiadas. Explorado ao longo do tempo para registro de fatos e figuras históricos, tornando-se, até, uma ameaça à reprodução pela pintura, o ato de fotografar vem assumindo uma nova roupagem e perpassando por uma série de transformações que variam desde o processo técnico de fixação da imagem até as mais discutíveis intenções individuais e coletivas. Com o advento da tecnologia, constata-se que a expectativa gerada em torno das fotografias mudou um pouco de lugar. Se antes se esperava ansiosamente para ver as fotos tiradas, o que demandavam dias e dias até que o filme fosse revelado, atualmente a expectativa é apenas instantânea, já que se usufrui do providencial recurso de visualização da imagem em tempo real, possibilitando aos mais exigentes “modelos” descobrir defeitos, ângulos mal posicionados, fios de cabelos arrepiados, sorrisos congelados, num repetir incansável em que se brinca e se briga com a imagem inúmeras vezes até se atingir o ideal de perfeição socialmente cobrado na contemporaneidade. *Segue
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Mas, o que foi feito da foto? Onde se escondem a não ser nos arquivos dos computadores que poderão ser deletados a qualquer momento, levando para o vazio momentos, rostos, lugares e nós mesmos? Onde ficou a alegria que sentíamos quando nos reuníamos para relembrar de momentos inesquecíveis registrados no papel que, passados de mão em mão, provoca risos e lágrimas compartilhados com tanta emoção? Tudo se perdeu no labirinto frio da tecnologia, onde a única preocupação consiste em armazenar imagens plastificadas para serem exibidas nas redes... Negar a praticidade das inovações tecnológicas seria negar a necessidade de evolução científica da espécie, mas permitir que nossa memória afetiva se vá, inesperadamente, é torcer para perdermos a própria história.
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INFINITA MULHER Por Nubia Strasbach Tudo começou de repente...eu olhei pra ela, ela olhou pra mim nos demos bem à primeira vista. Era mês de março, dia da mulher, foi por acaso que a encontrei. ela tinha escrito coisas tão lindas que logo no primeiro momento não parei de ler. Eu a lia todos os dias, no mesmo e-mail, no mesmo computador. Ela escrevia coisas tão lindas, não foi difícil tornar-me fã....acabei não tendo como escapar, acabei tendo que lê-la todos os dias. Era de manhã, tarde, noite, o pessoal já não aguentava tanto puxasaquismo. Não adiantava eles brigarem, eu lia todos os dias a mesma coisa. Eu gostei e daí? Queria ler as coisas dela, ninguém ia me impedir. Ela escrevia poeticamente que muitas vezes chegava a imaginar seu coração. Essa amizade dura alguns meses e acho que vai longe. O nome dela é Jaqueline Aiseman, e ela vive no meu e-mail a escrever belíssimas histórias...e eu vivo a ler esta INFINITA MULHER...
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PALAVRA CRÔNICA Anaximandro Amorim
O UNIVERSO DA MULHER
Sapato Cabelos Ai, tô gorda Menino, cê já foi tomar banho Salão Escova Ah, o Brad Pitt Batom Hidratação Olha só esse vestido TPM Você não gosta mais de mim Chocolate Curiosidade Amigas Dupla jornada Filhos Casamento Ginástica Maquiagem Brincos Ai, para Flores Jantar a luz de velas Novela Escova progressiva Lente de contato colorida Ser mãe Creme para as mãos e pés Não tenho roupa Amor, olha só isso aqui Cartão de crédito estourado Tá difícil arrumar namorado Horas e horas ao telefone Queria fazer uma lipo Queria botar silicone Eu já tive uma Barbie assim Luzes no cabelo Você não notou nada de diferente em mim Homens, vocês são todos iguais Homem nenhum presta Ciúme Muda tudo depois que a gente tem filho Colar Biquíni Amor, tô com desejo Queria ter o corpão da Juliana Paes Saída de praia Levar as crianças pro colégio Lista de compras Foi a chata da sua mãe Comédias românticas da Meg Ryan Aquela música, se lembra, de quando a gente deu o primeiro beijo Cadê aquele grampo que tava aqui Tintura para cabelo Cílios postiços Lente de contato colorida Bolsas Perfume Fazer as unhas Dieta para emagrecer Tô naqueles dias Menino, já fez dever de casa Os lábios da Angelina Jolie Refrigerante demais dá celulite Tô ficando velha, mesmo Não gosto do meu cabelo Vou virar vovó Lembrar todas as datas Pretinho básico Lixa de unhas Espelho Trabalho Exame contra o câncer de mama Lei Maria da Penha Cidadã Exercícios para o bumbum Com que roupa eu vou Sexto sentido Filho criado, trabalho dobrado Não fui com a cara dela Fofoca Leite materno Amor, mamãe vai passar uns dias aqui Ai,
homem tem que ter pegada Acessórios Gravidez Hormônios Exercício para as pernas Comer sem culpa Relacionamento Casal Menstruação Segredo Menina Casamento Tô de mau humor Sexo Tô grávida Carência afetiva Ligo pra ele ou não Drenagem linfática Closet Sapato apertado Caminhada na praia Compras Meu cabelo Tô horrorosa Pílula anticoncepcional Cachorrinho Útero Não sei se corto meu cabelo agora Menopausa Tô pensando em fazer uma tatuagem atrás da nuca Reposição hormonal Lingerie Esperar o cabelo crescer Moda Decoração Cólica Filhos Cesariana Guarda roupa Customização Exclusividade Balada Petit Gâteau 50 Tons de Cinza Salto alto Sexo Atenção Carinho Ele é um fofo Tomara que caia Dia dos namorados Não sei o que escolher Ginecologista Barriga na negativa Sou muito mais bonita hoje do que quando tinha quinze anos Beijo na boca Meia fina Babados Calça saruel Deixar as costas de fora Tô confusa Homem não sabe fazer nada direito Tô bem sozinha Onde foi que eu errei Rasteirinha Penteado Corpete Brinco Anel Emotiva Linda Feliz Dia Internacional da Mulher...
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Arte by healene 50
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Santas seríamos, santas somos Por Jacqueline Aisenman Na verdade eu seria santa se não tivesse sido tantas antes tantas outras coisas. E também se não tivesse tantas vontades as tantas de depois de ser depois e ter depois e nem sei antes ou depois do que. Seria santa como são todas as mulheres as que nasceram antes e depois. Porque as virtudes da santidade não estão no depois de tudo, mas exatamente no antes de qualquer coisa. E se eu fosse então santa e todas as outras também seriam seríamos todas. Partilharíamos com a vida nossos martírios pessoais e mundanos e escolheríamos a cor do altar (combinando com nossos olhos ou com o salto alto). Nós, mulheres, somos as tais santas que não se venera. Usamos batom, saias que voam e baldes na cabeça. Também cuidamos para que o decote seja tão vasto quanto é nosso coração (de vez em quando nos fechamos em golas altas). As cores dos vestidos fazem coro com os sentimentos e por isto somos floridas, coloridas ou no luto nos escondemos. Não temos tempo de ser mãe de um só filho, somos mães mesmo sem filhos, nossos filhos estão pelo mundo, espalhados e não nos chamam de mãe. Devotas esposas de homens que muitas vezes nem sabem que com eles casamos. Impiedosas amantes de homens que muitas vezes nem sabem que são eles que amamos. Agarramos com as unhas o que queremos, arranhamos com as mesmas unhas o que nos violenta. Somos as santas profissionais da casa, da vida, do amor, do sexo, dos sonhos, da crueldade. Somos as santas que o povo ama e tripudia. Alcançamos a graça simplesmente por ter nascido mulher.
Imagem by Shirin Neshat www.varaldobrasil.com
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DEUSAS E MONSTROS Por Ana Polessi Todo dia ela acordava Esfinge. Esfinge Egípcia, quieta, muda, olhar de Capitu. Olhos de ressaca que engolem a alma de quem se atreve a encará-los. O marido já deixava o café pronto e ela ficava ali, sentada por 40 séculos em sua cadeira, olhando para o lugar vazio outrora ocupado pelo filho que se casara com uma Esfinge Grega, agressiva, provocadora e louca, que ele encontrou no meio do caminho para Tebas. “SereialindacantoraigualzinhaadescritaporJame s”. Atendia pelo nome de Joyce e tinha longas serpentes na cabeça, empinadas e prontas para dar o bote, apenas aguardando um cidadão desavisado. Serpentes douradas que se esticavam sob a luz quando o sol aparecia e tornava morno o sangue frio de réptil. Então ela se olhava no espelho e perguntava se era ainda a mais bela, mas o espelho sabia que ela estava na TPM e tinha medo de responder. Furiosa com seu silêncio, ela arremessava o celular na parede e gritava que queria que o espelho fosse embora, ou então que Deus a matasse logo, antes que suas rugas se multiplicassem e que o maldito fogo da menopausa a consumisse em alguma longa noite de insônia. “Deus, me dê um dinheirinho para a lipo e para o botox!” Lá pelo meio dia ela era loba, perseguindo o estagiário que esquecera de pagar suas contas, arrancando um braço ou uma perna do chefe tirano, fugindo dos caçadores que a desejavam em suas camas apenas por uma noite. Ligou o rádio e ouviu aquela música romântica que a fazia lembrar do seu primeiro amor. Parou imediatamente em contemplação! Da sua fronte brotaram estrelas e ela abraçou o mundo. A Grande Mãe, dando à luz toda a Criação. A inimiga da Morte, a Guardiã da Vida. Em meia hora já havia esquecido todo o ódio que sentira pela raça humana e estava prestes pisar com o pé direito sobre a cabeça da serpente. Mas teve pena dela, porque a Mãe se apieda de todas as criaturas. Ela se esticou sobre o mundo e seu corpo era o Céu. Quando a tarde desceu sobre seu coração ela se fez chão e abriu-se para o arado e as sementes e amou tanto a humanidade que floriu inteiramente. Rainha da Primavera. De suas mãos caíram grãos de trigo e frutas e dos seus seios correram rios de leite e mel, alimentando todos os seus filhos e filhas.
Quando veio a noite ela encolheu-se tanto, tanto que virou uma menina. Uma menina curiosa, de 79 anos. Ela era impertinente. E seu nome era Joana. Ela não sabia, mas era Joana agora. Joana D´arc. Mal conseguia carregar seu escudo na batalha por causa da osteoporose. Consciente do seu destino, após tantas aventuras, deitou-se sobre a grande pira à qual os homens deitaram fogo. Seu corpo queimou inteiro e ela se fez uma com o fogo, mas quando pensaram que haviam sobrado apenas um montinho de cinzas, ela se levantou, com grandes asas brancas, imensas. E voou para o Egito, para onde tudo começou. Por que toda mulher é uma Fênix.
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Pintura by Frida Kahlo
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filha, esposa, mãe, educadora, enfermeira, cozinheira, lavadeira e uma profissional de alguma área que possa render alPor Maria Aparecida Felicori (Vó Fia) gum dinheiro; a mulher devia ser o sexo forte, porque nas lutas diárias, ela é a primeira a acordar e a ultima a dormir. O mundo foi dividido em dois campos: o campo feminino e o masculino, mas não são sempre campos pacíficos, porque homem e mulher são diferentes em tudo e é preciso uma boa vontade enorme, para que esses dois opostos consigam conviver pacificamente; mas hoje vou tentar descrever apenas a mulher, que é considerada a parte frágil dessa dupla antagônica.
MULHER
A mulher ao nascer já nasce forte, ao contrario do que se acha e se diz, porque suas tarefas nesse mundo são pesadas e difíceis, mas sempre mantendo a fé na própria força, a mulher supera todos os entraves que encontra ao longo de sua vida e vai em frente, lutando sem desânimo para vencer e suportar tudo que aparecer, seja no trabalho ou na vida particular. Responsável pela parte difícil e dolorosa de povoar o mundo, a mulher sofre sem reclamar, porque a parte sublime dessa vida é ser mãe e junto com os filhos vem o trabalho de encaminhar no mundo suas abençoadas crias; o primeiro alimento do ser humano é o leite de suas mães e crianças saudáveis são alimentadas com ele, e esse é mais um privilégio. Além de ser mãe, a mulher trabalha sempre em duas jornadas, em casa cuida dos afazeres que confortarão suas famílias, mas a maioria das mulheres trabalha fora de casa, em atividades variadas, para fortalecer a renda familiar, ajudando na parte financeira da família, sempre preocupadas com os filhos que deixaram em suas casas.
PARTICIPE DE NOSSA EDIÇÃO DE MAIO! VAMOS FALAR DA NATUREZA E DA VIDA! VAMOS FALAR DE PRESERVAÇÃO! VAMOS NOS UNIR EM TORNO DA DEFESA DA FAUNA E DA FLORA! Envie seus textos até 25 de março para varaldobrasil@gmail.com
A divindade não pertence a esse mundo e só por isso a mulher não é divina, porque em uma mulher se encontra a www.varaldobrasil.com
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foco!
CORTE
É simples: se certas atitudes ou vícios estão atrapalhando sua vida, corte fora! Se beber rePor Vera Ribeiro frigerante te faz mal, corte fora! Se comer chocolate, ou qualquer outra deliciosa sobremesa prejudica sua saúde, cooorteeee fora! Enfim, A vida pode ser bem mais simples e fácil, basta se há alguma coisa ou alguém na sua vida que seguirmos dois passos: não faz parte dos seus planos, e que está re1º - Fazer escolhas! Determinar, escoprimindo seu crescimento, corte fora! Passe a lher, fazer metas... sonhar com o que se faca mesmo! (é figurativo, POR FAVOR!!) deseja atingir. Onde se quer chegar? Às vezes, as pessoas nem têm a intenção de 2º- Foco! Foco constante!! causar algum efeito sobre nós. Nós é que teNo segundo passo é onde se encontram a mai- mos sentimentos temporários em momentos de oria dos nossos problemas. Problemas? Bem, vulnerabilidade. Mas, se persistirem os “sintomas” e estiver te fazendo perder o foco, vai depender do ponto de vista de cada um e da real vontade de se chegar até as metas fei- corte fora! tas anteriormente. Daí uma frase que me chamou muito a atenção: “O mais importante não é o que eu sinto, mas o que eu penso”. Como assim? Bom, sentir... eu sinto muitas coisas num mesmo dia. Diariamente temos uma inundação de sentimentos variados. Somos atraídos para um e outro lado. Sentimos o desejo de ter o que vemos! A questão é: isso que estou desejando é algo que somaria para alcançar meus objetivos?
Mas vai doer? Sim, vai! Em certos casos dói e muito! Até te faz chorar. Mas corte! Ah, se vai doer... Gente, é um corte! E como todo corte nos faz sentir dor. Mas é algo necessário, se é que ainda temos nossos objetivos iniciais.
Mas como todo corte, depois de alguns dias começa o processo de cura e cicatrização. Então... ah, que delícia. Já podemos ver os primeiros resultados positivos e claros de que esUm esportista ou uma bailarina, por exemplo, tamos de volta no trajeto que vai nos levar até não pode se deixar levar pelos doces encantos as nossas metas. Vemos claramente que “o da vida. Suas metas devem estar acima! Um corte” foi essencial, a melhor decisão que tivenível acima do que comumente nos atrai. mos. Pois pensamos! Não deixamos ser levaMas erramos! Permitimos ser desviados do dos pelo que sentíamos. Cabeça no lugar, cornosso foco. Tropeçamos, caímos. E de repen- po caminhando em linha reta. te, não estamos mais caminhando em direção Já ouviu alguém dizer que a vida é como um as metas que antes tínhamos porque fomos filme, com você no papel principal? Então... poinfluenciados pelos muitos “sentimentos”, de até ser que quando chegarmos aos capítuaqueles tantos que temos diariamente. Então é los finais tenhamos tido tantos cortes na nossa preciso pensar certo. Colocar a cabeça no luvida que estaremos cobertos de cicatrizes. Mas gar antes que nossas metas fujam ainda mais elas serão como troféus pela nossa persistêndo nosso alcance. cia e determinação. Não tenho paciência com choromingos! Nem No final do filme da vida, veremos que passameus, nem dos outros! Se começa com “ah... mos por um longo e doloroso processo que se mas era tão bom, não pude resistir”. Ou, “era chama EU... em construção! muito tentador”... ai, ai, ai. Corte já! Cadê seus objetivos? Cadê suas metas? Lembre: “O mais Até que depois da última cena seja dito: importante não é o que sentimos, mas o que pensamos!” Volte a cabeça para o item 2 – o “claquete: CORTA!” www.varaldobrasil.com
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Infinita Mulher Por José Hilton Rosa Olhar apagado, pela dor Olhar singelo, pela beleza Olhar azul, sonho de viver Olhar cativante, jeito de mulher Forte e soberana, sempre mulher Infinita mulher Despertando corações Decorando espaços Decodificando o amor Demorando na chegada Deflorando o ciúme Infinita mulher
Imagem by Lauri-Blank
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CRIAÇÃO Por José Nedel Com boa economia veio a mulher. Seu criador no sexto dia foi erguê-la Do pó, ou seja, de uma adâmica costela, Sem materiais sofisticados despender. Também por parcimônia a não poupou sequer De alguns neurônios menos reservar para ela*. Mais que teórica ele a quis bondosa e bela, Para os homens enfeitiçar, jamais perder. Todo artífice humano à imperfeição se dobra. A finitude lhe seu alto preço cobra, Nem que talento lhe sobeje e gosto fino. Esculpir a mulher, segundo esse projeto, Sem desperdício, inteira, com cinzel correto, Apenas um artista o pode: o divino.
Imagem by h-p://carmenrsonnes.com/ carmenrsonnes@yahoo.com.
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Vapor de alma Por Paula Alves Quando não houver uma Europa, uma Ásia ou uma África que nos fronteirice, serei a mulher que todas somos capazes de ser. O mistério da ginga em mim dançará na altivez do Norte que o Oriente soprará pelas estrelas. Quando não houver uma cor, um cheiro ou veú que desvende a diferença, mostrarei o odor dos bálsamos escondidos em cada uma de nós, mulheres do mundo que nos abraça, nos tem de desdém e que nós deixamos que nos desenlace. Quando não houver um limite de sombreado sobre cada uma de nós em tons diferentes pela manhã, deixarei que o lápis que me pinta me deixe apenas ser um desenho nosso imaginado por diversos criadores. Quando a cor falsamente imprimida se desvanecer na sua perenidade, deixaremos que a essência do carvão exale o cheiro, o odor, o aroma e o perfume da nossa... ALMA.
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ECOVOLUNTÁRIA
Alexandra Magalhães Zeiner
Quando Chico Mendes começou a organizar os seringueiros da sua região, ele foi logo eleito presidente do Sindicato dos Seringueiros de Xapuri. Graҫas ao seu trabalho foi organizado o Conselho Nacional dos Seringueiros do Brasil, em meados dos anos 1980, e Chico foi eleito líder do grupo.
ELE MORREU POR ELA
Existia na época (e infelizmente ainda existe) uma pressão econômica imensa para desmatar a floresta para pastagem de gado. Apesar das evidências de que a colheita de borracha da floresta, frutas, castanhas e outros produtos é uma prática mais sustentável, e que gera mais renda por um longo período de tempo, o corte da floresta estava ocorrendo a um ritmo aceleChico Mendes passou sua vida inteira viven- rado na década de 1980 . do e lutando pela defesa das florestas tropicais do Brasil. Seu compromisso com a preservação ambiental, como uma forma sustentável de vida, custou sua própria vida. Há 25 anos a Amazônia se despedia de mais um guardião da floresta... Francisco Alves Mendes Filho nasceu em 15 de dezembro de 1944, no Seringal Santa Fé, Xapuri, Acre. Sua família era de seringueiros, pessoas que ganham a vida de forma sustentável, complementado seu rendimento com a colheita de nozes e frutas da floresta tropical. Ele começou a trabalhar quando tinha apenas nove anos, e nunca recebeu qualquer educação formal. Dizem que Chico Mendes aprendeu a ler e escrever quando tinha cerca de 20 anos de idade. Alguns dizem que sua educação foi influenciada por Euclides Fernandes Távora, descrito como um "comunista“, foragido da ditadura militar na década de 60.
(Segue)
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Enquanto 130 fazendeiros expulsaram cerca de 100.000 seringueiros da floresta tropical, Mendes e seus trabalhadores revidaram, reunindo famílias inteiras para ficar na frente das motosserras e tratores. Seu esforço teve algum sucesso, e atraiu a atenção da comunidade ambiental internacional. Chico Mendes recebeu do Programa Ambiental das Nações Unidas, Global 500, Roll of Honor Award em 1987, e também ganhou National Wildlife Federation Award, em 1988. Quando o fazendeiro Darly Alves da Silva tentou desmatar uma área de floresta que foi planejada a ser uma reserva natural em 1988, Mendes conseguiu parar a exploração. Na mesma época ele ganhou um mandado de prisão para Darly, por um assassinato que este havia cometido em outro Estado, mas a Polícia Federal o ignorou.
Brasil, segundo registros oficiais, a luta contra a exploração desenfreada das florestas tropicais custou a vida de cerca de 1.000 ativistas e defensores (as) das nossas matas. Muito trabalho ainda resta ser feito para honrar o legado de Chico Mendes. A vida e morte deste defensor da Amazônia foi um marco para a história da defesa ambiental no Brasil, e eu ainda me pergunto: quantas outras vidas ainda serão ceifadas para que nossas matas e florestas conquistem o direito a viver em paz com seus habitantes?
Por seus esforços , Chico Mendes e sua família recebiam ameaças de morte constantes – meados de 1988, o próprio Chico previu que não viveria até o Natal. E na noite de 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi morto por um único tiro de espingarda, fora da casa de sua família. Ele foi um dos 19 ativistas assassinados no Brasil naquele ano. O assassinato de Mendes provocou indignação internacional e protestos no Brasil, mesmo sendo um desconhecido pela grande massa, o que resultou na detenção e condenação de Darly Alves da Silva e seu filho Darly Alves da Silva Jr.. Em parte, como resultado do assassinato de Mendes, o governo brasileiro deixou de subsidiar operações de exploração madeireira e pecuária, e estabeleceu muitas áreas como reservas naturais, incluindo uma homenagem ao ativista, Parque Chico Mendes. O Banco Mundial, que já financiou o desmatamento da floresta, agora é o financiador de reservas naturais onde plantações de borracha são vistas como um meio de sustentável para seus habitantes.
Mas nem tudo está bem nas florestas brasileiras e sul americanas. Desde 1988, somente no www.varaldobrasil.com
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VOCÊ,MULLHER Por Luiz Carlos Amorim Você, mulher, você, que invade meu coração, infiltra-se no meu sangue e aguça os meus sentidos... Vem, me afaga, me afoga, nessa fuga desenfreada do mundo fora de nós. Vem e pisemos juntos este caminho só nosso para o país do amor.
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40 anos Gaiô
Aos 40 anos, amarrou fita no cabelo, blusa insinuante de poá em preto e vermelho, toda novidadeira, amanheceu diferente... Parecia ter despertado a alma de uma estrela mais madura, sorridente, que até então adormecia. Uma alegria fácil, descontraída, de coragem atrevida e nua se agarrando às descobertas do amar melhor... Mulher revelada, juventude doce, pureza segura, tão gostosa de amante experiente, vivacidade e ternura...contente... pura energia... Nova em sabores, odores de um mundo mágico recriou os dias, intuindo da magia o que queria. Portas, janelas abertas, nos vãos se sabendo de luz invadida, ... Vielas belas acresciam de poesia...toda desilusão... Foi dali pra melhor...
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NO UNIVERSO DE GUACIRA MACIEL
Sobre mulher e textos......
como algo muito natural e suas autoras um mero elemento de combustão. Elas podiam sustentar a economia, desde que caladas.
“O fuso e a roca são, na verdade, as ferramentas de toda mulher, e são muito apropriadas para que se evite a ociosidade...Mesmo as pessoas de posses e de alto nascimento treinam as filhas para que teçam tapeçarias ou tecidos de seda. Mas seria bem melhor se as ensinassem a estudar, porque o estudo ocupa a alma inteira”
O texto cujas pegadas foram deixadas unicamente pela mulher, em que a produção foi a base da economia no mundo durante séculos, e cujo produto final, em sua maioria, eram as vestimentas, “uma das mais antigas marcas da civilização”, não era sequer reconhecido, e nem se inseria nas culturas no contexto da sua importância, mas o texto produzido através da palavra escrita por mulheres, como as autoras de encantadores contos de fada, ou os de Madame de Stael, Madame Lafayette, entre muitas outras, despertavam a atenção e eram alvo de escárnio e zombaria, aos quais se opunham obstáculos que seriam intransponíveis, não fossem sua força, tenacidade e consciência da pertinência do que tinham para dizer, já que, nesse período, de forma subjacente e sem intenção, a mulher construiu História, pois, a essa altura, nos ambientes eminentemente femininos elas conversavam, cantavam, trocavam experiências do mundo doméstico e pessoal, da família, dos seus filhos e maridos, mas também do seu imaginário, de desejos, de sonhos, entre tantos outros universos, momentos em que também experimentavam narrando, ouvindo e exercitando as palavras com uma autonomia que não tinham em outros ambientes naquele período.
Assim se referiu à mulher o teólogo humanista, filósofo, educador, Erasmo de Rotterdam, um sábio, inicio do século XVI. Mas já no século seguinte, na França, elas ousaram estudar, discutir filosofia e arte, e até escrever, sendo, entretanto, ridicularizadas e criticadas pelos iluministas, que se consideravam revolucionários e únicos detentores do direito de fazê-lo. Jean Jacques Rousseau, teólogo, filósofo, político, compositor e um dos principais filósofos do Iluminismo, representando o pensamento da época, as achava pretensiosas e uma ameaça ao que considerava um terreno unicamente do domínio masculino, tendo manifestado essa opinião em várias das suas obras, em que dizia com clareza, que trabalhar com agulhas era a verdadeira natureza da mulher. Em que pese ter sido o trabalho de cardar, tecer e fiar, feito unicamente por mulheres, o sustentáculo da economia de países europeus durante o Renascimento, facultando que os países do Norte equipassem navios com fins de exploração do Novo Mundo _ à exemplo das Companhias das Índias Ocidentais e Orientais, holandesas, que se constituíram principalmente com os resultados da manufatura e do comércio têxtil, onde a mulher se insere como fundamental força de trabalho, de grande importância e necessidade _ seu trabalho não era socialmente reconhecido nessa perspectiva, mas
Não é de causar estranhamento que isso viesse a acontecer, pois existe estreita relação entre o ato de tecer e de pensar, porque, quando pensamos construímos relações, criamos elos, como uma teia, e naqueles espaços de confinamento em que trabalhavam, fossem individuais domésticos ou coletivos, as mulheres passavam boa parte do seu tempo. Isso me faz lembrar Penélope e outras mulheres e tecelãs extraordinárias, e a um consequente questionamento: (Segue)
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serão apenas as aranhas femininas que tecem as teias? Também me reporto a Platão quanto à essa similaridade e cada vez mais me pergunto se aquela atividade não teria, ao final das contas, favorecido as mulheres... para ele, a “atividade da tecelagem se assemelha à de um político, que deverá saber cardar (separar os fios) e tecer ou fiar, porque sua missão seria a de unir o tecido maior e o menor para adequar a vestimenta, se constituindo essa missão uma arte, a de conduzir homens”...mas não creio que ele tenha sido diferente dos homens de sua época, e de épocas posteriores, e tenha feito essa analogia por entender a importância de um trabalho eminentemente feminino, essa preocupação não ocuparia a cabeça dos homens. A Revolução Industrial trouxe uma séria consequência, similar ao fenômeno do desemprego, pois as mulheres, de um lado foram libertadas do tear, mas de outro ficaram sem sua ocupação, que de certa forma, gerava alguma renda, ainda que indiretamente; porém, progressivamente, ela foram reagindo e ocupando outros espaços e, no caso da escrita, passaram das conversas em espaços restritos, às cartas, aos livros e, finalmente, à imprensa. É interessante desvendar esses caminhos de participação da mulher no universo literário, já que sua atuação ali, embora riquíssima, era mais ignorada, quanto mais atuante ela se tornava, chegando à proposital invisibilidade em determinada fase; e nesse entre espaço onde tinha uma sub vida, nesse “entre lugar”, ela gestou e deu crias, já que, em sendo invisível, ele não tinha fronteiras limitadas... aí ela se fortaleceu, num processo de retroalimentação, até tornar-se um grupo de mulheres escritoras fortes, conscientes e que tinham muito o que dizer. Conhecer sua trajetória desde os primórdios de sua atuação e o papel desempenhado pela imprensa feminina brasileira do século XIX, como suporte à mudança do paradigma que aprisionava a mulher como propriedade masculina, assim como o que veio a mudar nessa relação e na sua atuação na sociedade como um todo, é fascinante... Alguns autores vêm discutindo essa questão, interessados na escritura jornalística feita por mulheres, indagando-se sobre o que pensavam, sentiam e escreviam no período em questão, como um marco para as mudanças decisivas que terminaram por atingir as bases da sociedade no “rastro das grandes mutações político-econômico-sociais que se aceleraram no século XX”, assim como das profundas modificações ocorridas nas relações homem-mulher
e, consequentemente, na família e na sociedade. Os documentos que registram essas experiências do passado vêm sendo redescobertos ou reanalisados sob outras perspectivas, podendo-se considerar que o fenômeno reabre as discussões sobre esta questão em específico e sobre linguagens outras, que ainda hoje aquecem as opiniões sobre o estar da mulher em sociedade. Reforçando o que foi dito pouco acima, Norma Telles, em sua obra, Rebeldes, escritoras abolicionistas, nos refere que na sociedade oitocentista a criação seria um dom exclusivamente masculino e que [para a mulher] o livro era a almofada e o bastidor, e mais, que é necessário rebeldia e desobediência aos códigos culturais vigentes. Há pouco tempo, numa novela que retratava o início da República no Brasil, vimos que uma mulher, mesmo sendo competente jornalista precisava usar um pseudônimo masculino para publicar num jornal seus artigos de excelente qualidade. Ainda da autora supracitada: o “ato de escrever implica numa revisão do processo de socialização, assim como das representações conscientes e em enfrentamentos do inconsciente, também ele invadido pela situação objetiva da dependência do homem, que condicionaram a formação do eu”. Sem dúvida, essa é uma questão que merece um debate mais aprofundado por se tratar de identidade, uma dimensão muito além da condição de ser do gênero ao qual pertence, mas do ser feminino na mulher contemporânea, que se aloja na sua mais íntima condição de sujeito tanto individual, quanto coletivo, e implicitamente instalado e aceito na sociedade, que terminou por ser internalizado e compor o inconsciente coletivo, uma vez que a memória individual alimenta-se deste ultimo, e que o ato de lembrar não é autônomo, estando enraizado no movimento interpessoal das instituições sociais. Essas ‘fronteiras’ e esses movimentos terminaram por denunciar abismos que foram corajosa e subrepticiamente explorados, desmistificados no submerso universo feminino em qualquer instância, notadamente o da literatura, nosso foco aqui, mas que se desdobraram em muitas esquinas que apontaram infindáveis caminhos e formas de caminhar...
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Mulher: olhar no coração Por Eloisa Menezes Pereira Somos temidas pela História Promovidas pelo afeto da sutileza Circulando a vitória Transformando a frieza Mulher, tua indenização Esculpe o cenário da oportunidade Detalhas a imaginação Alinhavando a sanidade Interages pelo tempo Diagnosticando a evolução, Qualificas o sentimento Ampliando a relação
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Mulher Por Fernanda Fava Bondan
Menina Moça Eva Maria Afrodite Cleópatra Helena Evita Sábia Sacerdotisa Filosofa Poeta e Santa Deusa Mãe Fada e Bruxa Esposa e Amante Companheira Protetora Acolhedora Enigmática Venerada e Bela Divina e Glamorosa Rainha Princesa e Gata Borralheira Guerreira Valente Forte Imponente Conselheira Amorosa Dengosa e Sorridente Educadora Preciosa Mulher és Formosa
Imagem by Alex Ross
És Maravilhosa És Luz que Conduz No teu ventre e em tuas mãos O mundo se renova Seiva fecunda Semente que germina Floresce Embeleza Perfuma
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Carma Por Evelyn Cieszynski Deixei de voar e começo minha jornada a pé Minhas costas estão cansadas, o suor escorre pelo rosto, mas a paisagem é sempre a mesma
Nenhum sarcasmo, nem ironia Somente a caminha de um viajante sem asas Cansado.
Ah se eu pudesse pintar estas ruas, colocar diamante nas calçadas
Escrever o som dos pássaros, esculpir os riachos, transbordar os frutos das árvores...
E depois, morrer. Para que pudessem enfim enterrar meu corpo.
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HISTÓRIA DO BRASIL SOB A ÓTICA FEMININA Hebe C. Boa-Viagem A. Costa
A mulher brasileira no período
a dificuldade em receber alguma instrução. Entretanto, alguns fatos contribuíram para que as
imperial
amarras que as tolhiam experimentassem um ligeiro afrouxamento. O resto foi trabalho delas.
“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”.
A Constituição Brasileira (1824), outorgada pelo Imperador D. Pedro I, no seu artigo
Arquimedes – sábio grego – 300 AC
179 estabelecia a educação para todos embora os currículos não fossem iguais para ambos
Brasil independente! As inovações são muitas e elas se espalham por todos os lados, embora em alguns não tão intensamente. Desde a chegada da Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, a rotina da cidade foi quebrada, especialmente, quando o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido. O comportamento das pessoas também se modificou. Havia necessidade de um refinamento para que os brasileiros pudessem se ombrear com os europeus, em especial. Para os homens foi relativamente fácil esse enquadramento, pois muitos receberam uma educação de qualidade aqui mesmo no Brasil ou, então, estudaram no Velho Mundo e já ocupavam postos de destaque... Mas, e as mulheres?
os sexos. Era crença que as mulheres não precisavam ser instruídas e sim educadas para melhor exercerem suas funções de esposa e mãe. De escravas passaram a ser tomadas como “o anjo, a rainha do lar” e, desse modo, continuavam em função dos outros enquanto seus anseios, seus ideais não eram levados em conta. Também, ainda, perdurava a idéia de que elas eram frágeis e não tinham capacidade para exercerem atividades mais complexas. “A escola para todos” embora com conteúdos diferentes para as mulheres não deixou de ser um avanço, mas precisava, com urgência, ganhar novas dimensões. Estava aí a oportunidade para as mulheres aceitarem o desafio e lutarem. As famílias economicamente bem situadas viram a educação feminina como
Ainda continuavam subordinadas aos ho- um recurso para conseguirem um bom casamens e as diferenças entre os sexos continua- mento para as filhas. vam profundas. Se brancas, precisavam se livrar do jugo patriarcal e, se negras, tinham que
(Segue)
lutar contra a escravidão, o preconceito racial e www.varaldobrasil.com
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As moças passaram a aprender outros idiomas, ras vezes difamadas. Mesmo diante de tanta música e pintura. Com essa formação tinham
polêmica, não desistiram.
acesso aos livros nacionais e estrangeiros. As-
Estavam cansadas de tanto cerceamento. Que-
sim, os ideais liberais que floresciam na Euro-
riam uma educação de melhor qualidade e de
pa e nos Estados Unidos chegaram até elas e
todos os níveis, liberdade de expressão, de es-
as inflamaram surpreendendo os homens de
colha do companheiro de vida, de profissionali-
então.
zar-se. Queriam não mais ver o casamento co-
Com o preceito de que as meninas deveri- mo única opção de vida. Ante esse movimento am ter professoras, abriu-se um campo novo
de libertação surgem teorias estapafúrdias que,
para as mulheres. As que tinham aprendido a
embasadas nos estudos de Lombroso, afirma-
ler e a escrever fora das escolas públicas torna- vam que o cérebro da mulher era menor e, porram-se professoras leigas. As escolas normais, tanto, menos eficiente. Acusavam-na de descriadas visando à preparação para o magistério, controlada emocionalmente, imatura tal como de inicio, foram abertas para os homens e só
uma criança e, por isso, não era plenamente
bem mais tarde é que as mulheres tiveram
responsável. Tobias Barreto patrocinava essa
acesso a elas. Gradativamente, o magistério foi ideia como bem demonstrou ao argumentar contra o acesso da mulher ao curso superior.
se tornando uma profissão feminina. Um outro fator foi o advento da imprensa desde a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil. Logo as mulheres viram nela um meio para expressarem suas ideias. Até aí, não se sabe ao certo como elas pensavam posto que, sendo iletradas na sua maioria, todas as vezes que
Silvio Romero, figura de destaque nos meios literários, foi outro que não via com bons olhos as arremetidas das mulheres nesse campo. Toda essa postura ecoava na imprensa, nos meios artísticos, nos discursos jurídicos e nos pareceres médicos.
precisavam dos recursos da escrita tinham que Ainda no período imperial, os casamentos se se servir da ajuda dos homens. Havia muita re- realizavam não segundo o desejo dos jovens e sistência aos seus desejos de participarem e sim de acordo com os interesses das famílias. opinarem sobre os fatos políticos e sociais, mas As meninas a partir dos treze anos eram induzielas foram se infiltrando, escrevendo crônicas e das a se casarem com parentes ou alguém de versos. É verdade que elas raramente usavam posses, segundo a vontade dos pais. Daí o núseus próprios nomes e se valiam de pseudôni- mero crescente de mulheres que, rompendo a mos masculinos. Era um recurso para não so- tradição, abandonavam seus maridos.
Livra-
frerem a rejeição do público. Eram toleradas vam-se do jugo paterno e também do marital quando se restringiam a fazer versos sentimen- tornando-se independentes e dispostas a dar tais, escrever folhetins e crônicas desde que curso a suas ideias. E tiveram que aguentar tonão se aventurassem a defender temas políti- da a pressão da sociedade
preconceitu-
cos e sociais até então exclusivos do sexo mas- osa.Nísia Floresta a admirável educadora e feculino. Quando ultrapassavam essa linha divi- minista, em 1832, com apenas 22 anos, sória eram criticadas, ridicularizadas e não ra- (Segue) www.varaldobrasil.com
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sacudiu toda a sociedade ao publicar seu livro
nos Estados Unidos, Elisabeth Blackwell ao ten-
“Direitos das Mulheres e Injustiça dos homens”. tar matricular-se em escolas de medicina teve Nele advogava os direitos das mulheres à edu-
seu pedido negado por onze entidades e a que,
cação, ao trabalho e enfatizava que elas fos-
finalmente, a aceitou foi duramente criticada.
sem reconhecidas como seres inteligentes
Formou-se em 1849. No ano seguinte foi funda-
merecedores do respeito da sociedade.
da a primeira escola médica para mulheres e,
Só no final do período imperial (1879) foi aprovada a Reforma Educacional proposta por Leôncio de Carvalho que dava às mulheres acesso aos cursos universitários. A primeira médica brasileira precisou estudar nos Estados Unidos para realizar sua vocação e, possivelmente, tenha sido esse fato que sensibilizou o Imperador a assinar essa lei. Afinal, D.
apesar da grande resistência, outras foram criadas. Maria Augusta Estrela, a primeira médica brasileira, estudou em uma delas. Países da Europa, a partir de 1873, seguiram o exemplo dos Estados Unidos e criaram escolas de medicina para mulheres. A Suíça, entretanto, inovou: em 1876 abriu escolas médicas para ambos os sexos, tal como o Brasil faria três anos depois. Mulheres do período colonial, cujos
Pedro II sabia bem o quanto era importante para a família e para a nação uma mulher com
trabalhos não foram registrados ou, às vezes,
uma educação esmerada. Providenciou para as atribuídos a outras pessoas, encontraram, duduas filhas o que havia de melhor nesse campo rante o Império, estudiosos que lhes devolvee encontrou na culta preceptora das princesas,
ram a autoria de sua obra, tal como aconteceu
a condessa de Barral, a interlocutora perfeita
com Bárbara Heliodora.
para trocar ideias.
No final do Império elas já tinham
A partir da promulgação da Refor- ampliado bastante o espaço em que podiam ma de Leôncio de Carvalho, as mulheres acor-
atuar, mas ainda faltava muito para atingirem
reram aos cursos de medicina. Rita Lobato, foi
uma amplitude razoável. Muitas das pioneiras
a primeira médica a se formar no Brasil e a se-
dessa época continuaram atuando após o perí-
gunda em toda a América Latina.
odo imperial, sempre lutando contra os precon-
Não pensem, entretanto, que toda essa discriminação era por conta do Brasil ser um
ceitos ainda bastante persistentes e abrindo novos campos de ação.
país jovem e atrasado. As mulheres de todo o mundo também passaram por essas dificuldades. Conta-se que em Edimburgo, na Escócia, as primeiras estudantes de medicina no início
Para saber mais; COSTA, Hebe C. Boa-Viagem A. – Elas, as pioneiras do Brasil _ Ed. Scortecci – SP - 2005
do século XIX foram vaiadas, insultadas e agredidas pelos colegas. Ao invés dos rapazes serem punidos, elas é que foram expulsas da escola por terem sido as causadoras do tumulto. E não só isso! A imprensa se referiu a elas como “as sete sem-vergonha”! Por volta de 1840, www.varaldobrasil.com
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Alma Feminina
Incapaz de decifrar Em tua alma feminina Eu me perco em alto mar
Por Rossandro Laurindo
Preciosa jóia reside em seu ser
Ama, alma feminina
Pura, viva e latente em seu seio
Beleza, espelho externa
Ninho belo, infindável
Cultiva fonte cristalina
Frutifica o que é interno
No íntimo de um coração aberto
Não mantenha aprisionado
Abram-se suas janelas
O rouxinol das palavras belas
Ao amor que vem das alturas
Nem as pombas do olhar apaixonado
À simplicidade de uma flor Que surge da terra nua
Dialoga feminina alma E traz forma, formata
Mesma terra da qual foi gerada
Vida, mundo, universo mima
À destra do pó retirada
Edifica o que te cerca
Imagem de um espelho
Traz à tona natureza afável
Nada lhe falta Um só universo formara sua alma feminina Vida flui de seu íntimo Semente de rosas majestosas Respiram, suspiram, inspiram Não somos dignos de teu amor Fonte de águas cintilantes Que revelam do coração de Deus A face mais divina
Jardim de minas Tesouro de carícias Olhe em volta alma límpida Simples digo minhas palavras Pura, simplesmente De toda a vida és semente Tu menina Felina alma feminina, ama
Pérolas lançadas ao mar Entre elas a mais rara está Seu olhar, pérola negra Tesouro maior onde encontrar? Em profundezas obscuras www.varaldobrasil.com
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TROPOS DA PAIXÃO
Por Assenção Pessoa Em sentido estrito Em metáfora gasta Ou, Substituo-te, troco- te, Ou, apenas tua expressão me basta.
Imagem by Octavio Ocampo Mas ainda em versos Paixão é excitação, é loucura. Por ti, que em quimera me reverso E Vivo, por tua formosura.
É semelhança, Sentimentos, atitudes São tropos, são falas, Mas o que sinto a estro Em efeito me cala. E dentro do peito Silencio. Não posso viver Um amor tão perfeito Então morro, Com supremacia. Adeus sonho desfeito. Idolatria.
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FALANDO DE CULTURA Marluce Alves Ferreira Portugaels
que as atletas brasileiras de Vôlei de Praia,
Mulher Inteirada
Sandra e Jaqueline, ganharam a Medalha de Mais um mês de março vem aí e mais uma comemoração ao Dia Internacional da Mulher se prepara! E, em Falando de Cultura, o que se tem vontade de perguntar é: Por que a mulher precisa de um dia para ser homenageada? Existe um Dia Internacional do Homem? A resposta parece ser “Não!”. Por que, então, um Dia da Mulher? Não são ambos, homem e mulher, seres humanos com os mesmos direitos e
Ouro, assim como em que as atletas do Futebol Feminino brasileiro ficaram em 4º lugar. É claro que a repetida premiação da jogadora Marta, como a Melhor do Mundo nos enche de orgulho. Há poucos anos, a capa da revista Veja São Paulo (10/03/2010) estampou a foto da primeira mulher brasileira a concorrer ao prêmio da Fórmula Indy. Que eu saiba, na Fórmula 1 nunca houve mulheres concorrendo.
deveres? Em tese, sim, mas, em termos práticos, sabemos que não é verdade. Reflitamos Essas são algumas conquistas, é verdade. No entanto, outras grandes questões relacionadas sobre isso. Um retrospecto da trajetória da mulher no Brasil nos revela que ela só teve direito à educação formal na segunda década do século XIX e só no final do mesmo século acedeu ao ensino superior. O direito de votar, as mulheres só o obtiveram em 1932, com o novo Código Eleitoral promulgado por Getúlio Vargas, sendo que
à mulher não recebem o devido tratamento, em nosso país, e, talvez, até em muitos países do chamado primeiro mundo. Destaquemos, aqui, a participação da mulher na política, seu direito de decidir sobre se deseja ou não levar a termo uma gravidez, a violência doméstica de que a mulher é vítima, entre outras .
nas eleições de 1933 foram eleitos 214 deputa- A presença da mulher na política, por exemplo, dos e uma única mulher, a paulista Carlota Pe- se bem que mais ativa do que no passado, ainreira Queiroz. Depois de mais de cem anos de da se encontra bem atrás da participação do República, em 2010 foi eleita uma mulher Pre- homem. Para constatar a hegemonia masculina sidente da República do Brasil. Nos esportes, a na política, basta assistir-se, pela televisão, às prática esportiva feminina foi normatizada na sessões do Parlamento Brasileiro. década de 1960, mas, são muito recentes conquistas como a das Olimpíadas de 1996, em
(Segue)
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E não se pode dizer que seja por omissão da direito de punir sua mulher, e, muitas vezes, mulher, uma vez que ela está tentando ter uma suas filhas, pelo que ele presume ser o mau participação mais ativa na política, o que, certa- comportamento das mesmas. Em primeiro lumente, com o tempo conseguirá. Mas, quem gar, o que é “mau comportamento” da mulher? disse que o homem faz política melhor do que a Seria não seguir as ordens do senhor seu marimulher? Lá onde as mulheres não se dão bem do ou pai? Esse tipo de raciocínio sempre foi é quando tentam imitar os homens. Como o ho- absurdamente arbitrário e muito revoltante. mem, a mulher é capaz de fazer política, e mui- Nesse tópico, é importante notar que a violênto bem, desde que aja como mulher e não co- cia doméstica poderá ser tanto física quanto psicológica. Não se maltrata uma mulher so-
mo reprodução do homem. A descriminalização do aborto é uma questão que deveria ser tratada levando em conta a escolha da mulher, que é quem deveria decidir se
mente quando se bate nela, mas, também, quando se exerce uma pressão psicológica que a desestabiliza como ser humano.
deseja ou não levar a termo uma gravidez. E Nos tempos atuais, é inconcebível que uma aqui não vale o argumento de que a mulher mulher seja maltratada por um homem, em nasceu para dar a luz, uma vez que há mulhe- qualquer circunstância, sob a desculpa de que res que não desejam realizar a maternidade. seu comportamento não foi adequado. Um Biologicamente, é certo que a mulher é feita grande avanço, no Brasil, ocorreu com a Lei para parir. Mas essa mesma mulher deveria ser Maria da Penha, que demorou tanto a chegar, capaz de decidir se quer ou não fazê-lo. Tam- mas que, finalmente, foi promulgada em 2006, bém não é válido dizer que, se a mulher não e que tem o objetivo de criar mecanismos para quer manter a gravidez, por que não tomou as coibir a violência doméstica e familiar contra a devidas precauções? Colocar nos ombros da mulher. Apesar da existência dessa Lei, a viomulher a responsabilidade total por uma gravi- lência doméstica ainda se faz presente em nosdez indesejada é injusto, uma vez que o ato sa sociedade, especialmente nas camadas em sexual é de responsabilidade dos dois parcei- que a mulher, por algum motivo, não tenha ros. É claro que a mulher, assim como o ho- acesso à informação. mem, deveria se precaver, mas a falha na precaução não é motivo para continuar uma situa- Neste mês da mulher, poder-se-ia dizer que a ção indesejada. E a mulher tem o direito de de- existência de um dia especialmente devotado à cidir sobre isso, pois se trata de mudanças em mulher, mesmo na época pós-moderna em que seu próprio corpo, assim como em sua vida in- vivemos, é importante para que se reflita, não somente sobre as questões clássicas ligadas à teira. A questão da violência contra a mulher é velha como o mundo, e está ligada ao sistema paternalista, em que o elemento econômico desempenha um papel preponderante. Nesse sistema, o homem, como provedor da família, tem o
mulher, mas também
sobre a mulher como
membro da sociedade. Tratar a mulher como vítima da sociedade não vai ajudá-la a se realizar como ser humano e como cidadã do mundo. (Segue)
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Essa condição, ela só vai galgar quando se tornar mulher inteirada, no dizer de meu sempre lembrado pai, ou seja, mulher consciente de seu papel na sociedade, com direitos e deveres, assumindo, consequentemente, a responsabilidade pelos seus atos. E isso só será possível passando pela educação. Enquanto a mulher for desinformada e despreparada intelectualmente, ela será tratada como apêndice do homem, ou como um ser de segunda categoria. Quando essas barreiras forem derrubadas, então, não haverá mais necessidade de um dia devotado à mulher.
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TUA PRESENÇA Por Camila Gomes
Sinto tua presença parada sem saber o que faço pensando no calor do seu abraço
Não me fale nada nem me pergunte qual o próximo passo quero sentir seu perfume na escuridão da noite
Ouvir suas palavras doces e macias com o toque da magia e quanto mais perto está mais eu sinto que vou te amar!!!
Imagem by by Gary Kapluggin www.varaldobrasil.com
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ENGANO (song lyric)
Por Leonia Oliveira
Ela era aquela Que nunca se quis, A palavra mal dita, O acento sem giz. O fatal desespero Da falta em gol. O erro derradeiro, O apito sem som. Era quase parada, Briga de caminhão. Era quase uma estrada Uma carreira no chão. Só mais uma visitadora De Pantaleão.
Mas ela era aquela De quem nunca se diz: h-p://art.alphacoders.com/
O erro derradeiro De qualquer juiz. A palavra bonita Na placa do caminhão. A boca visitada, O corpo no chão. A mentira encarnada, A filha do ladrão.
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DIA DA MULHER* Suzete Carvalho Até 1964 o Código Civil Brasileiro classificava as mulheres, os índios, os menores de até dezesseis anos e os loucos de todo gênero como semi-capazes para os atos da vida civil. Significa dizer que perante a lei tínhamos os mesmos direitos que nossos filhos, os índios e os doentes mentais. Os índios, explicavam os entendidos, não estavam adaptados à vida em nossa sociedade; os ‘loucos’ não podiam ser levados a sério e os menores não podiam se responsabilizar por dívidas, até porque ainda não tinham juízo. As mulheres, bem, as mulheres eram “rainhas”, as rainhas do lar, não precisavam se preocupar com ‘problemas de homem’, tinham que ser protegidas (de quem ou de que, nunca entendi). Éramos professoras, secretárias, enfermeiras e outras profissões ditas ‘femininas’, ou seja, aquelas que não eram muito bem pagas, nem conferiam qualquer espécie de poder. Trabalhávamos, sim, e como! Mas não podíamos, diante da lei, dispor de nosso próprio dinheiro como bem nos aprouvesse, ou seja, sem o consentimento do papai ou do maridinho. Afinal, era a lei, feita pelos homens. Dura lei. A década de 60 representou uma ‘virada’ na ordem das coisas, dentre as quais a situação civil da mulher. Mas o Brasil entrou numa era de repressão e a liberdade de todos, homens e mulheres, passou a sofrer restrições. Paradoxalmente, os cursos universitários proliferaram e enquanto a questão feminina decantava, as mulheres aproveitaram para se aperfeiçoar técnica e culturalmente para enfrentar os novos tempos. Anos mais tarde, surgiu a ‘moda’ de se institucionalizar homenagens: Dia das Mães, dos Pais, da Criança, dos Namorados, etc. Paraíso dos consumidores. Tudo é desculpa para repararmos materialmente nossas desatenções. Um bom presente, e aplacamos nossa consciência pesada. Dia do Índio, Dia da Mulher, Dia da Consciência Negra e ... pronto, estão resolvidos os preconceitos! Dia do Bombeiro, Dia dos Professores, Dia dos Servidores Públicos e a Administração está redimida de seus baixos salários. Quando eu estava terminando esta crônica, um amigo querido telefonou e quando lhe disse que estava escrevendo sobre o Dia da Mulher solidarizou-se com a homenagem, afirmando que as mulheres merecem todo seu respeito e “devem ser protegidas”. Bem a propósito a observação de meu genro, que tem alma feminina: “Protegidas ou controladas?”. Voltamos, pois, à estaca zero. Coincidências significativas a nos alertar que não bastam leis e homenagens (muito justas, aliás), para mudar a mentalidade patriarcal.
* Publ. in Revista do Ypiranga nº142, fev/2008, pág. 5.
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Mulher Por Gladis Deble Encilhas a rebeldia e partes para a luta Alimentas teu fogoso cavalo Com pastagens de sonho e labuta. Do teu corpo franzino fizeste Os novos guerreiros e heróis. Tua alma contém os mistérios Que ergueram os mundos.
Teus estribos e elmo Conquistaram o inédito Pequenina figura Que do alpendre da escola Equilibra o planeta. De uma nesga da tua saia Impérios surgiram. Do pó das tuas sandálias E dos movimentos das ruas, Teus ensinamentos, Articularam orações... h-p://3oneseven.com/23/metal-woman-art/
Embora exímia professora Continua sem piso...
Bendigo tua trajetória Que não será cantada sequer Por teus contemporâneos de bares Bendita sejas mulher!
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CRONOS E O CORPO FEMININO Por Roselis Batistar
Que outrora teu corpo abraçou... Há quimera que brilhou Há alegria nas subidas Das ladeiras desta vida Em andante ma non troppo…
Teu corpo ligeiro Acabrunhando-se aos poucos
Há um louco riso agreste
Tuas linhas
Que é a prece do que foi
Teu corpo fino
Teus amores, tuas vestes
Desenhando uma curva ao chão
A glória dos pais terrestres
Alçapão do seu próprio carisma
Cujo amor nao se esgotou...
Criação duma inteira nação.
Há a lembrança do rebento Dos felinos, dos meninos
Teu corpo tornando-se poste
Do piano em lá menor
Como haste enrijecida de espanto...
Dos invernos de Moscou
Teu corpo te fala das horas
Dos verões de Acapulco
Que agora se escoam num pranto
Das brisas que o tempo levou...
Estranho apego ao passado
Das sombras do torrão Brasil...
Manhoso pretérito ao quebranto...
Há verso a flutuar nas praias Dessas memórias de um corpo
Teu corpo fagueiro
Enriquecido e sutil.
Fanhoso nas juntas lentas Sem obedecer as gelosias sedentas de distrações de filmes de rendas E de teatros de armações, De saídas pelos bosques De quiosques e mais razões ... Teu corpo a esvair-se da casca A despegar-se de uma nata Cuja data caducou. Já não há creme na corrida Nem nas idas ao ganha-pão. Pintura by Edgar Degas MAS há tanta luz nos atos Nos retratos em aura ouro Nas lembranças da criança www.varaldobrasil.com
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Amantes Por Rossana Aicardi As pedras da estrada as sombras da tarde as folhas sempre verdes o suave da la rua sua mâo na cintura en torno bem meu corpo o fogo sempre ardente o nosso amor de amantes. Te amo assim, que às vezes nâo sei se existes ou se voando chega de que o cêu um anjo que me protege e dorme a meu lado cada tarde enquanto o sol se pôe è a noite nos invade. Mágico duende misterioso silencioso testemunho desse, o nosso amor de amantes.
Desenho by Kimberly D. Schaller
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Palavra de Mulher Por Hazel São Francisco ...regida por fêmeas, não submetidas ao domínio do macho, os filhos por elas engendrados, estavam em condições de serem livres, pela evidente razão de que, homens jamais serão livres, se antes não o forem as mulheres que os engendraram. Mulheres livres gerarão e darão a luz homens livres. Mulheres dominadas por homens mandatários de uma sociedade patriarcal, portanto, submetida, a autoridade do homem, só poderão dar a luz homens escravos de outros homens. Jamais poderá existir a liberdade do ser humano enquanto não houver uma liberdade indiscriminada para a mulher, para o homem.
Woman Art Print by Felicia Atanasiu
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O HOMEM E SUAS INVENÇÕES Por Mário Rezende O cara estava sentado pensando na vida... Não tinha nada para fazer naquela época. Descansava, de barriga cheia, depois de ter matado um guinu na base do porrete, degustado a carne sanguinolenta e comido a metade da maçã que a mulher ofereceu para ele. Começou a esfregar, distraído, um pedacinho de pau no tronco de árvore em que estava sentado. Esfregou, esfregou, esfregou... e fez uma valeta bem lisa. Esfregou mais rápido e com mais força até que da casca da árvore começou a desprender uma fumacinha. De repente fumegou mais e surgiu algo amarelado e muito quente que lhe queimou a ponta de um dos dedos. Mas assim que a palha acabou, aquela coisa quente desapareceu com a fumaça. Então ele começou a friccionar de novo e depois de algum tempo reapareceu a chama. Para que não se apagasse, jogou palha em cima para sustentar o que ele chamou de fogo. Conseguiu mantê-lo aceso por algum tempo e foi logo mostrar para os outros do bando. Ele os ensinou a alimentar a chama e pediu que o ajudassem porque a palha era logo consumida na medida em que ela aumentava. Tornou-se o primeiro líder. Todos passaram a trabalhar para manter o fogo, porque se interessaram pelo calor que dele se desprendia. Pensaram que seria interessante quando chegasse a época do gelo, estava inventado o trabalho. Certo dia a chuva apagou o fogo, então eles descobriram que a água tinha o poder de apagá-lo se fosse necessário. Criaram uma nova chama e ele teve a ideia de fazer uma cobertura com pedras para protegê-la da chuva. Naquela altura, a palha já havia sido substituída por gravetos e depois por pequenas toras que ficavam acesas a noite toda e, pela manhã, bastava que eles reavivassem o fogo, dispensando-se assim o trabalho noturno para mantê-lo. Foi inventado o carvão. Sempre aceso em baixo das pedras, o fogo fez com que elas ficassem muito quentes. Então, alguém deixou cair um pedaço de carne
sobre uma pedra que cobria o fogo, e dela começou a se desprender um cheiro muito agradável. O aroma delicioso chamou a atenção deles que, ao provarem a carne assada, acharam o gosto bem melhor do que crua. Assim, foi inventado o churrasco. Outro dia, caiu sobre as pedras um ovo de pássaro. O ovo se partiu e logo ficou esbranquiçado, com uma rodela amarela no meio, Quem o descobriu foi o inventor do ovo frito e do fogão. Com o fogo abastecido e perenizado com o uso das toras, aliviou-se o trabalho. Assim os homens puderam sair para caçar e se abastecerem enquanto as mulheres ficavam cuidando do fogão e da comida. Foi inventado o trabalho da mulher. Só que elas não se acomodaram como os machos e foram aos poucos desencostando a barriga do fogão e hoje estão atuando em todas as áreas. Não vai demorar muito, vão inverter o processo e comandar o mundo. Souberam usar com sabedoria, a arma mais poderosa que a natureza lhes deu em compensação à menor capacidade física.
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DICAS DE PORTUGUÊS com Renata Carone Sborgia ...E a cada dia que levanto curvo-me frente a Deus. Agradeço-o. Renovo o meu contrato de vida. Livro: Entre Trechos e Trechos...Palavras...Sentimentos...afins —All Print Editora—Renata Carone Sborgia Maria comprou uma “mini-saia” branca para usar no Ano Novo!!! ...Maria poderia ter comprado uma Gramática revisada com as Novas Regras Ortográficas também!!! O correto é : MINISSAIA( sem o hífen) Regra fácil: Nas formações em que o prefixo (ou falso prefixo) termina em vogal e o segundo termo inicia-se em r ou s : não usar mais o hífen e nesse caso, passa-se a duplicar essas consoantes.
Está correta a expressão: consequente (sem trema) Regra fácil: Não se usa mais o trema em palavras do português. Quem digita muito textos científicos no computador sabe o quanto dava trabalho escrever linguística, frequência. Permanecerá sim em nomes próprios e seus derivados, de origem estrangeira. Por exemplo, Gisele Bündchen não vai deixar de usar o trema em seu nome, pois é de origem alemã. (neste caso, o “ü” lê-se “i”)
O carro dele “para” em toda esquina!!! ... e para quem não sabe sobre a diferença do verbo e da preposição??? precisa parar no capítulo sobre as Novas Regras Ortográficas!!! Está correto!!! Regra fácil: Acento diferencial
Ele disse que seria necessário Não é preciso usar o acento diferencial requerer o provimento do presente para distinguir: Recurso Extraordinário com a Para (verbo) de para (preposição) “consequente” alteração da decisão recorrida. ...muito bem , porém sem alteração na expressão consequente!!!
Exemplos corretos: (Segue)
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O carro dele para em toda esquina. –verbo parar Estarei voltando para casa daqui a uma hora. ---preposição para A pronúncia ou categoria gramatical dessas palavras dar-se-á mediante o contexto.
Para você Pensar: ...têm dias que a gente sente falta de gente. Têm dias que precisamos ser intoxicados por amor. Têm dias que a decepção nos decepciona. Têm dias que suportar está insuportável. Têm dias que as dificuldades estão mais difíceis. Têm dias que queremos estar a sós porque assim podemos abrir a janela das soluções para calendários que têm dias. Livro: Entre Trechos e Trechos...Palavras...Sentimentos...afins—All Print Editora Renata Carone Sborgia
O livro VARAL ANTOLÓGICO 4 será lançado em Genebra em maio próximo. Em breve abriremos as inscrições para participação em nossa quinta coletânea: VARAL ANTOLÓGICO 5! Não perca a oportunidade de estar em nossas antologias que trazem sempre o melhor da nova literatura de língua Portuguesa e divulgam longe a nossa língua! Aguarde! Regulamento em breve! varaldobrasil@gmail.com
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MULHER Por Maria Socorro Sousa Mulher Criação divina. Frágil ou Forte Germina no silêncio sabedoria
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Mulher Virtuosa Valorosa Quem achará? "Seu valor excede ao de finas joias" Mulher Simples ou Heroína De submissa a Independente De escrava a Revolucionária Mulher Símbolo do Amor Singela ou Super A cada geração evolui seu espaço Mulher Moderna de Estilo Trabalhadora Sofisticada Descortinas Vai à luta! Mulher Simplesmente Mulher Nenhum artista jamais conseguiu Decifrar a sua beleza
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O casamento não é uma escolha com passe livre. Poucos nascem com a faculdade deliberativa que ensaia o amadurecimento do ato ou para o ato. Aprende-se uma vez a andar de bicicleta e a máxima estende-se a todos Por Ivane Laurete Perotti os modelos: duas rodas, pedais, quadro de estabilidade, correias... estabilidade! Ah! Estabilidade: a estrada dos casamentos parece correr “Entre casar e comprar uma bicicleta...” longe do ensejo. Quanto mais vezes casam-se (adágio popular) os indivíduos, menor a capacidade de manterPerdeu-se no tempo a pergunta indi- se sobre o cilindro da segurança? Que segureta. Além das bicicletas ganharem novos mo- rança? delos, o casamento também assumiu nupérri- A escola da vida poderia criar uma disciplina mos perfis e, quem casa, divorcia-se. Bem mais metodologicamente amparada pelos fundamenfácil do que comprar uma bicicleta, a depender tos de nossas histórias pessoais. Seria, certada marca e dos acessórios que a acompanham. mente, um grande investimento cooperativo paPor falar em acessórios, os veículos de duas ra a sustentabilidade das núpcias contraídas na rodas mantêm um vínculo estreito para com as fogueira das emoções – ou sentimentos, ou demetáforas da vida a dois: a tipologia é extensa sejos, ou intenções. Paradigmas a parte, casar e agrega-se aos contextos de acordo com as estaria, com efeito, para o exercício consciente suas implicaturas. Implicância! É, parece impli- da conquista do outro, do cuidado para com o cância de minha parte fustigar um assunto tão outro, do respeito às inevitáveis (e saudáveis) delicado quanto vergastado. Impróprio para as diferenças do outro, do querer o outro. A ambipáginas de um jornal. Talvez! Mas a maré do guidade das palavras envolvidas devolve-me o amadurecimento aponta o lume para direções discurso que entrelaço a sovéu curto: quem é o nem tão simples quanto casar ou comprar uma outro? Aquele que está dentro ou aquele que bike. está fora? Dentro e fora me desmentem pe-
PARA NÃO DIZER QUE NÃO QUE NÃO FALEI DO AMOR (parte III):
Dubito, ergo cogito, ergo sum! Descartes teria uma bicicleta? Um celerífero? Possível, se relacionarmos as prováveis notações históricas para a invenção do veículo tracionado, mas antes dela, da bicicleta, o casamento já se enquadrava nas aspirações pessoais e no rol das imposições sociais. Tradição, cultura, preservação de patrimônios, manipulações políticas, interesses de estado, tratados de paz, concepções religiosas entre outros processos maquinados pelas relações humanas, selavamse na presença do sim, do para sempre, e até que a morte nos separe. Quando os sentimentos suplantavam as circunstâncias, na vida e na literatura – a vida é uma via de mão dupla, a literatura apenas redescobre corredores paralelos à estrada principal - o amor alçava status dramáticos. Não muito diferente da contemporânea mobilidade amorosa com a qual convivemos agora. Mobilidade, eis a fonte das conjugações verbais para o termo casar-amar, amarcasar, amar-ficar... ficar-casar...
remptoriamente. Ousadia verbal ou necessidade de confrontação? Os dois! Por que não? Pensar e duvidar não foram prerrogativas do grande filósofo e matemático francês, nem a introdução “Era uma vez uma princesa...” conferem verossimilhança entre a vida e a literatura. Os finais felizes estão marcados pela trajetória da corrida no início de sua largada. O casamento não é uma instituição falida, nós – os envolvidos - esquecemo-nos de perguntar a que viemos: casar ou comprar uma bicicleta? Os dois, para quem tem fôlego e disciplina!
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Saecula... amen !
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DESBRAVADORA DE IDEAIS Por JC Bridon
Pelas batalhas travadas pelas lutas até hoje empreendidas conquistaste, mulher, teu lugar de direito para que possas abrigar em teu seio teus projetos de vida teus sonhos acalentados por tanto tempo e para que também consigas no almejar dos teus ideais sonhar com tuas vitórias alcançar teus objetivos lutar pela igualdade sorrir para a adversidade para assim poderes, mulher, conquistar o lugar que mereces e que o disputaste com tanta galhardia durante tanto tempo para hoje, seres reconhecida e veres coroado de êxitos tudo aquilo com que sonhavas e pensavas um dia conseguir.
Fotografia by Padre Art www.varaldobrasil.com
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Pássaro do amor Por Aldo Moraes
Doce paisagem Estranha cor miragem Novas luas sete vezes Sete véus Sua imagem Sua boca Sua bondade Suas duas horas De ser mãe E ser mulher.
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Essas Valorosas Mulheres Por Jania Souza Heroínas, as valorosas mulheres incansáveis na labuta da cria. Do fogão à marreta com arado ou caneta sua fala, veludo na tristeza na coragem imbatível sempre a vencer espinhos. Heroína é a mulher que sem esperança no ventre tece amor com seu sangue e fertiliza a nova terra. Do fruto das entranhas busca sempre caminhos na escritura de novos horizontes. Essas mulheres são rosas, violetas orquídeas, açucenas. Trazem no ventre fé no coração, carregam esperança. Força - são essas valorosas mulheres!
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Uma das primeiras coisas que você vê em nossa sociedade – na maioria das sociedades africanas, por exemplo – é que há sempre um lugar privilegiado para meninos. Sua educação reforça o patriarcado de uma forma muito forte. (LEYMAH GBOWEE: 2013, P.10)
A MULHER NO MUNDO CONTEMPORÂNEO: LEYMAH GBOWEE, MALALA YOUSAFZAI
Por Jeanne Cristina Barbosa Paganucci
Em entrevista à revista Muito (09/2013) do jornal A Tarde de Salvador, Bahia, a liberiana Leymah Gbowee, Prêmio Nobel 2011, afirma que “Não estou interessada em ser um ornamento”, em sua luta pela paz e pelo lugar da mulher no mundo, acredita que “a mulher tem que se entender como sujeito de direito, entender que as relações afetivas não podem ser pautadas no medo nem na agressividade nem na violência.” e reforça que “é necessária uma legislação capaz de combater a impunidade. A mulher precisa ter a segurança da justiça.” Com isso, a guerreira da paz abre discussão para diversos problemas que assolam o mundo a respeito das questões da sexualidade, de gênero (feminino/masculino), de poder e, sobretudo, de raça.
No sonho da liberiana, as mulheres, sobretudo as mulheres negras, são engajadas na sociedade, vivem dignamente, distante da violência, do medo, da subalternidade. Explica que suas ações devem ser seu exemplo e que não pretende ser um ornamento social, mas uma voz que é ouvida, uma africana que extrapola as fronteiras socioculturais e promove educação, em busca de direitos humanos e a luta pela paz.
Em situação não muito distante, a ativista e estudante paquistanesa Malala Yousafzai, com 16 anos, torna-se símbolo para as mulheres de todo o mundo em sua luta pela educação, pelo direito de estudar, de substituir as armas pelos livros e cadernos. Em sua luta pela educação das meninas paquistanesas, Malala foi baleada pelos talibãs. (Segue)
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Sua afirmação para Assembleia de Jovens da cia de educação na infância, a violência de ONU de que “Eles pensaram que a bala iria toda ordem. Malala é a voz de muitas mulhenos silenciar, mas eles falharam” apontou uma res que se torna de valor social para diminuir situação comum não só no Talibã, mas tam- os problemas que se situam à parte em um bém em outras regiões do mundo. Esse pro- mundo envolvido com economia, globalização blema afeta mais especificamente as mulhe- e interesses cada vez mais egoístas. res em uma situação geralmente vista como ‘natural’, mas detentora dos jogos de poder da sociedade onde prevalece o masculino. Os terroristas pensaram que eles mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram. Força, coragem e fervor nasceram. (MALALA: 2013)
De acordo Judith Butler (2012, 20) “Se alguém “é” uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é (...)” confirmando a relevância dos estudos sobre a mulher, dos seus direitos conquistados e ainda por conquistar, da luta de todas as mulheres pelos direitos, das feministas, das ativistas, das mulheres enquanto sujeito.
Com base nos depoimentos e discursos da ativista Malala Yousafzai, observa-se o nascimento de mais uma guerreira na luta (Segue) contra o silenciamento das mulheres, a ausênwww.varaldobrasil.com
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REFERÊNCIAS: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. – 4ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/07/na-onu-menina-paquistanesa-malala-diz-quenao-sera-calada-por-ameacas.html http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/malala-diz-que-nao-sera-silenciada-porameacas--3
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E realiza na mulher, nosso Criador, o milagre da vida, e a cada mulher deu um homem que a consagre. Por Joarez de Oliveira Preto
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Tens a mansidão dos rios,
ROSA-DOS-VENTOS
porém, a fúria das tormentas, Por Leonilda Ivonneti Spina
quando te impões desafios ou adversidade enfrentas! Sabes ser missionária, enfermeira,
Nem Sinhá, nem libertária,
cuidar do soldado ferido...
nem ingênua, nem pantera...
És também cúmplice, companheira,
Mulher determinada:
dando ao partilhar mais sentido.
- Conquista da nova era! És farol, és leme,
És altiva militar, armada
âncora, porto seguro.
para enfrentar ou prevenir o perigo...
Liberal, consciente de que, afinal, a Pátria amada, idolatrada, muito te deve!
És ainda... anjo-da-guarda de teu lar, nem sempre doce, porém, morada, aconchego, abrigo...
Quem se atreve a dizer que esta Nação seria a mesma, não fosses tu a lavrar a terra, a tecer nos teares,
Ah! Mulher, titular de tantos Ministérios: - do Trabalho, Saúde, Previdência, Fazenda, Educação... E dos Transportes, principalmente,
a mourejar nas fábricas, a brilhar nos esportes e passarelas, a despertar emoção nas artes, nas letras, na ilusão das telas... - A provar teu talento nas Empresas e Repartições; a semear o saber em todas as gerações; a propagar a fé, curar os enfermos;
pois, assiduamente, pilotas fogão, conduzes carrinhos de feira, bebê, supermercados... (És motorista, condutora, navegadora “por mares nunca dantes navegados...”) - Secretária da Infância e Adolescência: (trocar fraldas, que paciência!...) choro incontido, som alto no ouvido... (- madrugar, por que não?)
a levar, sob a brancura dos aventais, consolo e esperança
E com os filhos crescidos,
na solidão dos hospitais.
continuas acordada na madrugada,
- A fortalecer a democracia
à espera de ouvir na porta
pela presença nas ruas, nas praças e nas tribunas, defendendo a coletividade, ou na seriedade dos Tribunais,
um divino toque... A melodia da chave tem sons de harpas, acordes de bandolins,
para que Justiça se faça cada vez mais (mas, sem escarcéu...), diante de Themis,
porque só assim consegues dormir e sonhar com um mundo novo...
de olhos às vezes vendados, sob a fragilidade de transparente véu?!
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Mulher! Como Mãe e Maria, “o teu nome principia na palma de tua mão...” Tens a essência da flor: - Simbolizas encanto e sedução... E te tornas mais bela e enternecida, se abrigas em teu ventre a semente de uma vida, quando já és rosa, não mais botão!... És a um tempo: flor e espinho, veneno e mel! Imprescindível como o ar, suave como o orvalho, serena como a chuva, ardente como o sol, fecunda como a terra... Quanta força teu ser encerra! Rosa... “Rosa-dos-ventos”... - Que rumos tomarás neste milênio?
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A sentença Por Sonia Regina Rocha Rodrigues Por que não morre? O pensamento passou leve como a lembrança da fala pertencente a uma personagem ausente em um drama distante. Quase a adormecer de cansaço, ela estremeceu. E nunca mais seu coração descansou. Ela recordava como olhara com prazer e orgulho as bochechas rosadas do caçula no sono profundo dos bebês desejados. À memória vinha também o riso gargarejante, as mãozinhas buliçosas, o olhar curioso do garotinho tão amado até que...
ro e a lavagem das roupas das clientes. Em um ano procurara o pediatra uma única vez e recusara-se a ouvir que o filho, além de diferente também fosse doente cardíaco, apesar de perceber o rosto inchado e da respiração difícil do garoto. Nesta noite ela soube, conversando com amigos pediatras, que alguns médicos consideram grande parte das mortes acidentais de crianças deficientes como homicídio inconscientemente elaborado. Esquecendo a torneira da banheira aberta, a panela de água fervente com o cabo para fora, medicamentos em locais de fácil acesso, um janela aberta....um acidente libera os pais daquele pesado fardo. O descaso pelo acompanhamento médico de um garoto Down, segundo estes médicos, enquadrava-se na definição do tal ‘homicídio inconscientemente elaborado’.
Ele não se sentou na idade em que os beEla ouvia aterrorizada, discordando, pois o bês costumam sentar-se, começou a engasgar, a respirar mal e o chocalho lhe caía das mãos. coração de qualquer mãe desdobra-se em sacrifícios pela prole! Não é sempre assim? A rotina da casa transformou-se. Os médiAquela noite, ao debruçar-se sobre o rosticos se contradiziam, os exames tardavam, as nho adormecido de seu próprio filho, o pensaagendas lotavam-se de fisioterapias, consultas mento apenas sugerido: a especialistas, internações. Por que não morre? O nome da doença degenerativa progressiva involutiva crônica ela não entendeu. Só Ah, como ela desejava de volta a sua vida soube que o filho ia piorar, não tinha cura, não – seu trabalho, sua tese, seu lazer, seus cuidapassava para os irmãos mas necessitava de dos pessoais, seus amigos, seu marido. cuidados constantes. Quando ela era uma menina, o professor Imersa em dor ela nem percebeu que as de catecismo, em uma aula, leu da Bíblia estas semanas viraram meses e depois anos. Agora, palavras cruéis e definitivas: enfermeira em tempo integral, afastara-se do “Pois eu lhes digo que aquele que olhar emprego, privava-se dos benefícios do trabalho. a pós-graduação que iniciara foi abandona- com desejo para a mulher do próximo, em seu da. Evitava os amigos e desestimulava as visi- coração já cometeu adultério.” tas dos parentes, fosse algum trazer do mundo Ela escutou as explicações do padre, inexterior algum vírus letal ao doentinho. conformada por ser tão difícil ser bom! Revoltou As crianças mais velhas recebiam beijos -se: apressados e olhares distraídos. Desde o início da doença, o pai passara a levar os maiores para a escola, ia buscá-los e nos fins de semana afastava-se com eles para o futebol. E uma tarde, estando o caçula hospitalizado, ela retornou para uma casa vazia. O marido requereu o divórcio e aa guarda dos filhos maiores, com total apoio dos sogros.
Então, padre, quando a gente pensa em mentir mas conta a verdade e quando uma pessoa pensa em roubar mas não rouba, se segura e faz o que é certo? Então, isto não vale nada? E o padre confirmou: Pequena, aquele que pensou no pecado, já pecou em seu coração.
Do leito frio para os corredores silencioEla tumultuou a aula. Tanto sacrifício para sos, ela se consumia entre fraldas, alimentos, nada! Jesus era um deus muito exigente! remédios e inaladores. Ora, aconteceu de o garoto da esquina, portador de síndrome de Down, falecer a caminho do hospital. A vizinha se descuidara do médico, atarefada entre entregas de iogurte casei-
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Desse dia em diante, ela passava o dedo no glacê dos bolos de aniversário às escondidas e roubava biscoitos no pote guardado no armário. Se já pecara mesmo... O professor de catecismo dizia umas coisas esquisitas, algumas ela jamais entendera, mesmo que estivessem na Bíblia, este livro cheio de mistérios. A angústia da noite em que ela pensou “por que não morre?” não se aliviou em lágrimas, antes tirou-lhe o sono, o apetite e até a alegria de cuidar do doentinho. Ela contratou duas enfermeiras para garantir que cada gesto seu fosse vigiado, tal o medo que passara a sentir de adormecer em hora imprópria, misturar os frascos dos remédios, esquecer de agasalhar o menino em uma noite fria. Nunca o pequeno fora tão bem lavado, penteado, perfumado e enfeitado. Com que capricho ela mantinha seu quarto imaculadamente limpo! Com que cuidado escolhia para ele os legumes mais fresquinhos e as frutas mais saborosas! Ela ia definhando a cada dia sem que ninguém suspeitasse que, por detrás das olheiras e das faces pálidas, ela agora compreendia como ninguém outra das estranhas afirmações do professor de catecismo: “Deus não castiga ninguém. É o pecado que traz em seu bojo o seu próprio castigo.”
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DIA INTERNACIONAL DO NÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 25/11
Que é tão desagradável E tira nossa paciência. Parabéns! Para as feministas.
Por Rai D’Lavor
Que conseguiram essa conquista Que o respeito prevaleça
Em consideração a esta data
E que as autoridades
A prefeitura de nosso Estado
Não nos esqueça...
Baseado em princípios De fraternidade e solidariedade Veio declarar com respeito E seriedade. As relações fundamentadas À, as irmãs assassinadas, Na república Dominicana À, quarenta e sete anos. E, eu baseada nesse fato, Venho deixar aqui o meu relato E, particularmente, Digo não a violência E peço em nome de todas as feministas Que as leis nos tratem com clemência! Que a lei Maria da Penha Seja aplicada igualmente Para todas as feministas Não importando. Se, é feia ou bonita. Se, é pobre ou se é rica. Se, é branca ou se é preta. Mas que a justiça seja feita... Faço também um apelo Aos responsáveis do lar Que comecem a educar Dentro de sua residência Para que futuramente Não precisem registrar Esses tipos de ocorrências
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Mulher acessório
por Rozelene Furtado de Lima
As mulheres são vistas como acessório Acessório de muitos usos e abusos Não vivem no paraíso, vivem no purgatório Tem mulher de todas as formas até de parafuso Que se enrosca, apertada segura todas as pontas Mulher que serve de cabide onde se pendura tudo Qualquer peça, qualquer entulho, nada se leva em conta Mulher que cresce num mundo exigente e mudo Que assiste a fêmea lutando para conseguir um lugar Dominada pelo forte macho, desde o início dos tempos Era queimada em fogueiras se deixasse revelar Inteligência e como bruxa evaporava em cinzas ao vento Ela vem conquistando espaço desde os primórdios Sem perder a capacidade de se amar, amar e deixar-se amar Vem chegando dia a dia sem toques de exórdios A mulher de hoje tem os mesmos sentimentos de outras eras A maternidade não acontece é um ato de escolha A Liberdade e o respeito já não são só sonhos e quimeras Não se deixe levar e se enganar, saia da angustiante bolha Um dia para homenagear a mulher como deusa rainha Somente um dia para tirá-la da berlinda sem pelourinho Tirá-la da estante dos objetos dos desejos e da bainha É conquista de passadas firmes raladas na mó do moinho Menina mulher o mundo é teu, continua no caminho das avós Solta as amarras, luta, resista, pelas tuas filhas solte o grito da garganta Erga a bandeira da valorização alargando as trilhas, desfazendo nós Em nome das martirizadas, das surradas, das sugadas e das santas!
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DES SUB MISSÃO Por Teresa Drummond
Ralando na boca do fogo da cama... tomando na cara do sonho tolhido... a mulher fez tricô mastigando gengibre. Mas sob o telhado nu da senzala entre teias e traças seu sonho carmim. Não provoque a mulher que não teve alforria! Sob a veste tão fêmea nessa dança do ventre existe uma fera que cospe no prato desatando os laços porque é
múltipla
e não foi feita pra ralar cebola.
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A força da Mulher
de parir outro ser, que suporta a dor dê...;
Por Antonia Aleixo Fernandes
A Mulher! Aconchega seu filho; sabe buscar os seus direitos, e dos outros também;
Mulher valente; Consciente; Luta pelos seus direitos
A mulher avó, Mulher! Teve e ainda tem seus direitos confiscados, por ideologia machista.
Que conta histórias, e socializa seu saber A mulher meretriz.
A ideologia do homem egoísta; Que finge não saber; Do livre arbítrio da mulher!
Que acolhe os infortúnios machistas. Mulher não se classifica.
Mulher não é posse de ninguém, Muito menos passiva de alguém,
Deve ser respeitada e amada, Como Mulher!
Finge não saber: que os direitos são iguais e as responsabilidades também Fingem não saber: a força que a mulher tem, do intelecto da emoção da lucidez e do coração adicionada à razão! Por isso, somos Mulher. Mulher que luta pela autonomia, pelo amor sincero e respeito merecido. Mulher! Que gera outros seres compartilhado àquela que acumula saberes: do direito da dignidade, da igualdade de gênero.
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MULHER E DESEJO
Olha-me! Peço-te! E quando me olhas, quero fugir daqui com os meus olhos por baixo das pálpebras.
Por Lourdes Leite Seu olhar me responde. O olhar que se cruza com o meu e me obriga a que o meu se cale. Não resisto e volto a olhá-lo. Desta vez sem que me perceba. Vejo-o falar, falar e mal dou com o que diz, com o significado de todas as palavras que jorram de sua boca. Olho-o e desta vez lanço-me dentro de seu olhos. Eles me dizem alguma coisa , seus olhos me querem que eu saiba. Olhoo e tento permanecer com meus olhos dentro do olhar que recebo. Entretanto, quase desfeita, estou diluída dentro do olhar que agora me vê. E não há presente, passado, futuro. O tempo também diluiu-se evaporou-se no jogo de sedução. E o olhar que me olha é transcendente, não faz parte do local onde nos encontramos e não faz parte das pessoas que somos. (Teria sido loucura, ou percebi um leve toque de suas mãos em meu corpo?) Seus olhos por instantes parecem ter reconhecido os meus e ficam ali, diante de mim, com a firmeza de quem pegou no ar um sentimento muito leve, imperceptível , quase inexistente. (Teria sido sandice, ou percebi uma leve resposta ao meu olhar no reflexo dos músculos de seu rosto marcadamente masculino?) O momento é volátil, como aquilo que se passa de um lado ao outro da mesa onde estamos, como o calor que atravessa a noite e nos incendeia, aos dois, sem que saiba como. O olhar aportou no meu porto e ali ficou. Um momento de magia e de encanto, de sensualidade sem toque, de sensações sem pele. Apenas o olhar. Breve. Quem me olha assim, passa a ser um homem que penetra minha alma, sem pedir licença, sem pedir passagem. Que deixo entrar? Como? Não sei! Nem pensei, nem consigo pensar quando ele me olha, ou me pergunta algo, ou me diz alguma coisa que não consigo reproduzir.
Era um dia, uma noite, um tempo. Não me lembro mais. Estivemos sentados ao lado um do outro. O calor de seu corpo atravessava a sala, as paredes, o teto, o chão e penetrava por baixo de minhas pernas e tive que cerrá-las com força, uma contra a outra, para não me desfazer ali, ao lado dele. Porque de seu corpo brotava uma força tão masculina tanto magnética. Magia que me fez acreditar na força anímica dos druidas e pensei estar ao lado de um deles. Entre nós a sala esvaiu-se e ouvimos uma música cósmica, embora telúrica. (Quem me disse o que ele sentia ? – seus olhos me disseram! ). Éramos um homem e uma mulher. Desfigurados. Nus. Envoltos apenas pelo Desejo. Suavemente fomos ficando força, fomos ficando tão unificados por esse desejo que deixamos de estar na vida. E foi um momento apenas, um momento tão breve que não daria para ser reproduzido numa nota musical. Outro dia, outra noite, outro tempo, tua mão tocou levemente meu ombro, num gesto apenas. Minha mão alojou-se então sobre a tua mão e pressionou a pele quente que envolvia meu ombro. Somente meu corpo sabia da verdadeira intenção desse toque tão despretensioso. Outra noite, outro dia, rocei minhas pernas pelas tuas pernas, suavemente e demoradamente. Permaneceste com os olhos pousados sobre mim. Desta vez foste tu que me devolveste a carícia colando tua coxa sobre a minha. Parecias indiferente, como se nada acontecesse. E desceste tua mão direita sob a mesa e procuraste minha coxa e me tocaste de leve. Senti teu calor na minha pele nua, sem meias. E meu corpo todo e teu corpo todo. Dissemos adeus, até breve, espera-me, voltarei estejas certa, estejas certo. Não te esqueças, não me esqueço!
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AMOR PENDULAR Por Maria Emilia Algebaile Sabia o que sentia Amava este amor pendular Mas temia chegar a hora Em que, por um dos amores, Tivesse que, enfim, optar. Um a cobria de ouro, O outro a deixava nua Para dela se fartar. No ir e vir se despia, Deixando um rastro de brilhos Para poder retornar. Não queria ir embora, Também não queria ficar. Quedou-se parada no tempo Quando percebeu, já tarde, A corda a se arrebentar."
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Quase mulher Por Maria (Nilza) de Campos Lepre Década de cinquenta no século passado. Já faz algum tempo que estou notando algumas transformações em meu modo de ser e principalmente, algumas mudanças em meu corpo. Não aprecio como antes, as brincadeiras com bonecas, ou as de faz de conta, onde me imagino cozinhando arrumando a casinha e outras coisas mais. Mesmo a confecção de roupinhas para as minhas bonecas, e as de minha irmãzinha, já não me atraem muito. Essa era a brincadeira que mais amava. Há alguns meses comecei a sentir uma dor muito forte no meu peito, bem em cima de meus mamilos, achei que tivesse me machucado durante uma brincadeira de bola queimada com meus irmãos. Como a dor não passasse procurei pela minha mãe e contei o que estava acontecendo, ela abriu um lindo e largo sorriso, me abraçou e disse: - Querida, isso é somente o começo de sua transformação. Em breve tal como a borboleta que sai de seu casulo, você se transformará em uma linda jovem. O que esta acontecendo, é que seus seios começaram a se desenvolver, seu corpo esta se preparando para sua passagem de menina para mulher. Não tem notado que estão crescendo alguns pelos, onde antes não havia nenhum? Não é verdade o que estou afirmando? Respondi que sim, e, ela continuou me ensinando uma porção de coisas que ainda não sabia. Prestei muita atenção a tudo que disse, e entendi toda a explicação. Somente uma coisa ela não explicou, o porquê de eu sentir dores. Não podia encostar-me em nenhum lugar que estivesse na altura de meus peitinhos, tanto era a dor que isso me causava que saia pulando como um cabritinho. Já faz algum tempo que aquele mal estar passou, e agora as transformações começam a afetar o meu modo de ser. Muitas vezes me pego analisando de forma di-
ferente algum coleguinha de classe que até a poucos dias me era indiferente. Mudou-se para nossa cidade um jovem muito bonito, moreno de olhos tão verdes que parecem brilhar como lanternas acesas. Começou a freqüentar a mesma escola na qual estudo. Tornou se inclusive meu colega de classe. Não sei por que, mas cada vez que ele se aproxima de mim para conversar, meu coração dispara. Eu fico toda encabulada, minha voz acaba ficando preza na garganta, meu rosto parece que vai pegar fogo. Esse sentimento é uma coisa muito estranha e muito assustadora para mim. Não sei se ele sente o mesmo que eu, mas o fato é que sempre fica por perto, acredito que percebeu que de alguma forma mexe comigo. Esse sentimento faz-me sentir muito estranha. Hoje pediu para me acompanhar até minha casa no final das aulas. Ao sairmos do prédio escolar, já me esperava, pegou os livros e cadernos que eu carregava, e fez questão os levar até o portão de entrada de minha casa. Minhas colegas caminharam conosco papeando alegremente, mas percebi que estavam com um pouco de inveja. Ele é realmente muito bonito, e todas as meninas sonhavam em ter a sua atenção só para elas. Sinto-me orgulhosa por ter sido eu a escolhida. No inicio deste ano ganhei de mamãe um diário onde passei a anotar tudo que acontece de interessante em minha vida Logo depois de ter almoçado corri até meu quarto e comecei a anotar tudo que havia acontecido neste dia, que certamente ficará marcado para sempre em minha vida. Descrevi com detalhes tudo o que eu havia acontecido, mesmo não sabendo ao certo como classificar este novo sentimento, o fato é que me encontro muito feliz. As férias chegaram, e nos mudamos para a fazenda da família para passar o período todo por ali. (Segue)
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Eu amo quando isso acontece, adoro o contato com a terra, as árvores, os rios, os animais, enfim amo a natureza. Um de meus maiores prazeres é deitar na rede que fica na varando da frente da casa, a espera do nascer do sol. Quando ele começa a aparecer é um dos mais belos espetáculos da natureza. As cores começam a aparecer aos poucos, e vão se tornando cada vez mais intensas, até explodirem em miríades de tons. Tudo isso como preparação para o aparecimento de sua Majestade o Sol. Combinei com Isaura, de sairmos a cavalo na manhã seguinte. Ela é eximia amazona, foi criada praticamente em cima deste animal, eu, no entanto, cavalgo muito mal, mas dá para o gasto. Ela tem uns três anos a mais que eu. Isaura é filha de um italiano de sobrenome Vicentin, braço direito de papai na fazenda, é loira, de pele muito clara, esta sempre de bom humor, nunca a vi com as feições nubladas. Quando fica por algum tempo no sol, seu rosto fica muito vermelho, quase roxo, e seu nariz brilha como se fosse um pimentão maduro. Quando tem algum acesso de riso a mesma coisa acontece, parece que todo o sangue de seu corpo migra num passe de mágica para suas faces. Levantei-me de manhã bem cedo, vesti uma calça rancheira e uma blusa xadrez de algodão. Depois parti rumo ao estábulo onde Isaura me aguardava para nosso passeio matinal, mas, antes parei no mangueirão onde mamãe me aguardava com uma grande caneca repleta de leite com café. O leite havia sido ordenhado neste instante, e a espuma estava tão intensa que escorria pelas bordas da vasilha. Este é um dos prazeres de se estar na roça. Quem mora na cidade não tem este privilégio. Partimos para nosso passeio, resolvemos ir até o canavial e depois dar uma passada pelo cafezal. Subimos até o nosso destino trotando calmamente e conversando sobre vários assuntos. Ela me colocou a par de tudo que havia acontecido na colônia enquanto eu estudava na cidade. Contou-me que havia conhecido um rapaz,
e que estava gostando dele. Como ela era mais velha, não recebi a noticia com surpresa, pois na fazenda as moças costumam se casar muito cedo. Na volta, ela me propôs fazermos uma corrida, iríamos do cafezal até o inicio das canas. Quem chegasse primeiro ganharia o premio que era o de ficar sem arrumar a cozinha por dois dias. Eu já sabia que seria a perdedora, mas aceitei o desafio assim mesmo, só para ver a cara de felicidade que ela faz nestas horas. Dito e feito partimos num galope desenfreado, mas como previ, ela acabou ganhando a prova. Uma coisa muito estranha aconteceu comigo durante esta disputa, quando desci do cavalo para cumprimentar minha amiga, parecia que eu havia urinado nas calças, tinha a sensação de que estava tudo úmido da cintura para baixo. Pedi a Isaura que olhasse se minha calça estava molhada. Ao me examinar soltou uma sonora gargalhada. Começou a rir tanto que chegou a se contorcer, por vezes dava a impressão que ia rolar pelo chão. Por mais que eu perguntasse, o que estava acontecendo, ela não conseguia me responder, pois sua voz estava sufocada pelo riso. Depois de algum tempo ela se acalmou e conseguiu me explicar o que se passava: - Você acaba de ficar mocinha, o que esta te incomodando é o Chico que acaba de chegar (é como se denominava a menstruação na fazenda). Você agora já não é mais criança, e começou a rir novamente. Partimos em direção a casa da fazenda, cavalguei me sentindo muito feliz, pois a maioria de minhas amigas já havia passado pela menarca, e agora havia chegado a minha vez. Ao chegarmos contei a mamãe o que havia acontecido. Ela ensinou tudo que eu deveria fazer, inclusive coisa relacionadas com a higiene pessoal. (Nesta época não existiam os absorventes de hoje, por isso as mães ensinavam como colocar e lavar as toalhinhas feitas para este fim). (Segue)
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Ao anoitecer deitei em minha cama, acendi um candeeiro, peguei o diário e comecei a registrar tudo, contando com detalhes o que havia acontecido neste dia tão importante de minha vida. A alegria de ter me tornado mocinha, passou der repente, quando acordei no dia seguinte. Parecia que meus intestinos estavam dando um nó dentro de minha barriga, não conseguia nem endireitar o corpo tanta era a dor que sentia. Chamei por mamãe e contei o que estava se passando. Ela foi até a cozinha e voltou com uma xícara e me fez tomar o liquido num só gole. Havia preparado um remédio que era muito amargo, mas, quinze minutos depois, estava novamente sem dor. Foi assim que a sementinha que havia dentro de mim desde o meu nascimento germinou, e se abriu numa linda flor colorida e perfumada, sendo apreciada por muitos rapazes, mas só um deles acabaria usufruindo de seu perfume e de sua beleza. Não é nada fácil ser mulher. A passagem da meninice para a puberdade é complicada e dolorida, mas, agradeço a Deus por ter me colocado neste corpo feminino. Não trocaria de sexo por nada neste mundo. Sinto muita pena dos homens, pois jamais saberão o que é criar uma vida dentro de si. Nem sentirão a felicidade de dar a luz a um novo ser. É um momento mágico. É um instante em que nos sentimos abençoadas pelas graças divinas. É o maior milagre da natureza e somente o sexo feminino consegue este feito. Adoro os homens, mas... Deus abençoe as MULHERES.
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Precioso tesouro Por Marina Gentile Tomou para si o compromisso de criar, Não foi fácil educar, se fazer respeitar, Trabalhou muito, cobrou e foi cobrada, Foi rocha dura, às vezes exagerada. Agora ela tem os cabelos alvos, Caminha passinho por passinho, Em seu jardim, em seu ninho. E com rugas que contam o tempo, Ainda mima seus filhos amados, Ela venceu, trabalho encerrado.
(Inspirada em Maria Moreno, minha mãe)
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NATÉRCIA SILVA VILLEFORT COSTA
minha querida Natércia, peço licença poética
Por Antonio Cabral
para cruzar esta linha.
*** Eis a minha homenagem a toda mulher mineira, pela brilhante coragem e atitude altaneira. & Matutei durante dias tentando rimar Natércia, mas o vinho Três Marias fez-me quebrar a inércia. * De estirpe rara, Natércia, desde os tempos de menina escorraça a horda néscia dos belos campos de Minas. & Ilustríssima Natércia, antes de brandir o pinho, convido a prima Laércia para partilhar o vinho. & Natércia, minha querida, brindo-a nos versos meus,
Arte by Flemish
das maravilhas da vida és o presente de Deus. & Ilustríssima Natércia, nada fácil te escrever, mas com licença poética ler-te é um grande prazer. & Natércia, querida minha, www.varaldobrasil.com
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A MULHER QUE SOU Por Basilina Pereira Descrevo a mulher que sou: versátil, fecunda, fluida... não sei bem por onde vou, mas sigo a trilha dos druidas. Falo a linguagem do amor neste terraço do mundo se encontro miséria e dor acelero e vou mais fundo. Sempre tem dias de chuva e de assobio no escuro, mas quem tem mão salva a luva, sonho atrevido é futuro. Nado em audácia e leveza com charme de lua cheia, tem mistérios, com certeza, o que me corre nas veias. Mas como toda mulher sou força que para o vento quem foca o alvo e o quer vai além do pensamento.
Smoke & woman Art Print by Julien Kaltnecker
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Mulher Por Marlene B. Cerviglieri Desde pouca idade sempre atenta Quer saber de tudo é curiosa Prendada ou não sempre faz O que pensa! Valoriza seu status impondo respeito Com muito trabalho sem descanso Logo cedo já inicia o dia Que nem bem começou Servindo a todos Fazendo seus afazeres incansáveis Muitas vezes cantando ou mesmo. Assoviando No fim do dia depois de tarefas mil Ainda tem tempo para um carinho Uma palavrinha, ou mesmo para ouvir O dia de todos, como se o seu não fosse Nada. É a ultima a se deitar já pensando No amanhã. Descansa mulher Pois de ti precisamos e muito Teu dia é hoje, foi ontem e será amanhã. Que Deus te guarde Pois abençoada és Nasceu mulher!
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gio Padre Rambo da Avenida Bento Gonçalves. Haviam ambas, através de um projeto habitacional do DEMHAB (Departamento Municipal de Habitação), adquirido os seus respectivos imóPor César Soares Farias veis naquele condomínio e, como boas vizinhas, visitavam-se quase que diariamente. Naquela tarde quente, por volta das 15h40min, “As criaturas de fora olhavam de elas tomavam café e assistiam a um DVD um porco para um homem, de um quando o celular de Dirce tocou. Era a sua filha homem para um porco e de um de 13 anos, que dividia com ela o apartamento. porco para um homem outra vez; A menina, bastante ansiosa, pediu com urgênmas já se tornara impossível dis- cia a presença da mãe em casa, pois queria tinguir quem era homem, quem muito fazer um desabafo. Telefonara da casa do pai e prometeu em no máximo meia hora era porco.” chegar ao condomínio para conversarem.
No elevador
Dirce ficou intrigada e achou que boa coisa não poderia ser. Seu ex-marido tentara já por duas vezes suspender o pagamento da pensão alimentícia, alegando ter muitas despesas com a nova companheira e os dois enteados. Despediu-se de Paula prometendo voltar em seguida para terminarem de ver o filme, que era bem interessante. Optou por embarcar no elevador, coisa que raramente fazia. Sentiu preguiça e resolveu economizar um pouco o joelho, que andava dolorido pelo excesso de exercícios na academia. Apertou o botão e aguardou vinte segundos, mais ou menos. A campainha anunciando a chegada da cabine móvel finalmente soou e, como de praxe, as portas automaticamente abriram-se para o embarque. Estava vazio e ela, entrando, buscou o botão de n.º 1 para indicar onde desceria. Quase no momento de as portas definitivamente fecharem-se, uma voz masculina , pelo lado esquerdo, gritou:
George Orwell, escritor nascido no longínquo ano de 1903, na Índia, encerrou assim o seu consagrado livro “A Revolução dos Bichos”. E foi assim também, equiparando o homem com um bicho repugnante, que Dirce entrou em seu apartamento naquela abafada tarde de verão. Foi direto ao chuveiro, sem se dar ao trabalho de apanhar roupas limpas no quarto. Despiu-se com pressa, recebendo aquele jato de água fria com uma satisfação indescritível. Tendo em mãos um perfumado sabonete líquido de ervas finas, esfregou com grande esforço cada centímetro do seu gracioso corpo. Em pouco tempo, o banheiro foi envolvido pela flagrância suave exalada daquela frenética operação de limpeza. Apenas quando abriu o boxe, satisfeita e refrescada em todo o seu ser, ela finalmente sentiu falta de uma toalha e novas vestimentas. Descalça e pingando pelo piso afora, chegou ao quarto para enxugar-se. Tão logo acabou, quando começava a vestir o sutiã, um pensa- - Espera! Desce! mento agitou-lhe novamente a mente. Jogou bruscamente no chão a peça íntima e voltou, a passos apressados, ao chuveiro para um novo Gentilmente, como requer a situação, ela banho. apertou com rapidez o botão AP (Abrir Porta). A lembrança daquele homem acompa- Entrou então um senhor grisalho, com seus nhava-a agora como um encosto ou caô que 62... 63... 65 anos no currículo. Tinha dentes teima em ficar. Jamais, em seus 37 anos de alvos como o marfim e, num sorriso um tanto vida, topara com um olhar tão lascivo. Literal- quanto dissimulado, agradeceu com voz desafimente da cabeça aos pés, ele esquadrinhara nadamente aveludada: todos os contornos visíveis e invisíveis que havia nela.
- Pô... Se não é tu... Obrigado filha... Tô supeDirce arrependera-se amargamente de, ratrasado para uma reunião... naquela ocasião, não ter usado a escada para descer os míseros dois andares que separavam o apartamento de Paula, colega de facul(Segue) dade, do seu. Morava no Apto. 104, bloco B, do Residencial Parque Imperatriz e tinha com a referida moça estreitos laços de amizade, desde os tempos do Ensino Fundamental no Coléwww.varaldobrasil.com
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Em seguida, com interesse, percorreu o seu olhar de peixe-morto pelos 1 metro e 75 centímetros de Dirce, reparando na sua beleza fresca e primaveril. Tinha ela um jeito todo juvenil de ser, e isto estava impresso na forma como se vestia, andava e sorria. Quando percebeu as “sodômicas” intenções do ancião, ficou embaraçada como uma menina. Nervosa, colocou cinco ou seis vezes uma mecha de seus cabelos ondulados para trás da orelha direita, buscando disfarçar o mal-estar que sentiu. Não lhe dirigiu qualquer palavra nem olhou mais em seu rosto, contudo era-lhe evidente que ele continuava a apreciar as suas curvas bem esculpidas. Por fim, o recato inicial dela deu espaço a uma indignação profunda, e o seu instinto de autodefesa a fez encará-lo com severidade e sem medos. O que viu, no encontro de olhares, repugnou-a ainda mais. O grisalho, perfumado e bem alinhado em seu traje escuro de sarja, percorria com os seus olhos famintos, um trajeto metódico, com intervalos sincronizados. Seu nariz lembrava um focinho de porco, e a gordura acumulada em seu ventre e pescoço deixava-o ainda mais à imagem e semelhança de um suíno. O tal homem cobiçava-a de cima a baixo, de baixo a cima e depois de cima a baixo novamente. Olhava desde os seus pezinhos mimosos até o agradável feitio do seu rosto moreno claro, de lábios carnudos e olhos grandes. Fazia isso lentamente, com prazer e desfrutando até onde o tempo e a ocasião lhe permitiam. Dirce percebeu ainda um discreto movimento horizontal em sua língua, à medida que passeava a vista impura pelos pés, tornozelos, coxas, quadris, barriga e seios dela. Isso, definitivamente, esgotou-lhe a paciência. E, quando preparava ela uma bofetada certeira, o elevador chegou enfim ao 1.º andar. Quando a porta reabriu, quis ela, inicialmente, vingar-se, puni-lo ou tão somente xingá-lo. Assim que o perdeu de vista, no entanto, sentiu um surpreendente desânimo. Naquele momento, teve vontade de fugir para um lugar bem distante e não conversar mais com ninguém. Sim, ela sabia que era atraente e por isso recebera já muitas cantadas picantes, mas aquele homem... Cruzes! Tinha algo particularmente sujo e degradado em suas intenções. Sentiu-se profanada em sua condição de mulher inteligente e romântica. Saiu do elevador em direção ao chuveiro. E ele, a passos rápidos, olhando o relógio, deixou o prédio e acenou para um táxi que vinha vazio pelo outro lado
da rua. O motorista fez o retorno e levou-o até a sede da Pastoral da Igreja Católica para a sua reunião de trabalho. Era o Padre Adolfo, que estivera no Residencial Parque Imperatriz para visitar um diácono amigo seu.
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Meno (s) pausa: Por Neusa Arnold-Cortez Apenas um trocadilho bem humorado para me compensar de alguma forma a seriedade do tema “menopausa”. Eu estaria mentindo se escrevesse que estou encarando alegre e facilmente uma nova fase de minha vida. Sim, os anos passam muito rápido para todas nós e sem planejarmos ou desejarmos o fato é que novas fases de nossas vidas nos apossam simplesmente! Na verdade, até que visitei meu ginecologista há algumas semanas para os preventivos necessários, não havia pensado neste fenômeno que compromete a nossa juventude e nossa capacidade reprodutiva. Me sinto na verdade, ao menos espiritual e psicologicamente, na “flor da idade”, mas o Doutor através de sua pergunta, a qual me pareceu a mais ofensiva do mundo -” A Senhora tem sentido os sintomas da menopausa?” – me jogou uma realidade fria na cara. Eu fiquei de verdade chocada com a pergunta direta e rápida do médico e respondi – sorrindo – para disfarçar minha confusão interna: – ainda não! Sai do consultório do médico pensativa quanto aos sintomas da menopausa e me lembrei de minha mãe conversando com as tias sobre calor e suador inesperado e desagradável… depois me recordei também das reclamações de minhas ex-colegas de trabalho que passavam pela experiência. Assim naquela manhã conclui que eu realmente nao sentia qualquer sintoma sequer parecido com àqueles que já havia ouvido através de conversas discretas entre um cafezinho e outro. Contudo o bárbaro é que depois de algumas semanas senti pela primeira vez este calor inesperado e estranho. A princípio pensei que fosse o aquecimento que estava num grau muito elevado associado a uma xícara de café quente, mas depois de outros sucessivos me lembrei da pergunta do Doutor e conclui que sim – provavelmente sentia finalmente um dos sintomas da menopausa. Hoje meio confusa com muitas responsabilidades pendentes, mas com o tema rodopiando na cabeça – resolvi registrar, através das palavras, meus pensamentos, talvez na tentativa de me livrar um pouco deles e também para prestar minha solidariedade à todas as Mulheres que já superaram ou estão nesta fase de suas vidas. Para mim não é difícil encarar o fenômeno em si, pois penso que este é um fenômeno natural - absolutamente suportável - mas o que Ele representa não é muito simples encarar! De uma perspectiva pessimista parece que caminho na direςão do nada. De uma perspectiva descontrolada penso que tenho ainda muito o que fazer… De uma perspectiva estética me preocupo com os “pneus” que insistem em se instalar onde antes haviam “curvas”. Existe outra alternativa a não ser tentar acreditar que em todas as fases da vida temos novos desafios e em todas elas podemos encontrar certa beleza?
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Indriso hoje sem sertões vazios na alma Por Oliveira Caruso Minh’alma já teve os mais vazios sertões matadores de Felícia. Mas eles geraram cactos; os cactos geraram água de que bebeu Felícia. Felícia te mostrou a mim. Nós a abraçamos hoje.
Arte by Gunter Hortz
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MULHER [ES] Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Mulher menina, mulher felina, mulher de malandro, mulher de escafandro, caminheira, lavadeira, copeira garçonete, femme, fêmea, woman, cientista, ilusionista, lavradora, pintora, professora... Mulher apenas, fruto de penas, falenas, grandes ou pequenas... Mulheres intuitivas, mulheres esquivas, atiradas, sobrecarregadas, apaixonadas, bem e mal-amadas... Transparentes, intransigentes, ardentes, inconsequentes, tortas e direitas, certas e erradas, sempre valentes, mesmo se parecem acovardadas... Mulheres loucas, enlouquecidas, redentoras, redimidas, provedoras, analfabetas, doutoras donas de casa, donas de nada, patroas e empregadas, mucamas ou sinhás no tempo antigo, balconistas, artistas, executivas, executadas, livres e aprisionadas, vítimas e agressoras, agressivas, esquivas, tímidas e rapaces, pessoas com necessidades de enlaces, pessoas fugindo da raia, voando, se libertando, chegando, partindo...Ah que lindo ser MULHER, todas mulheres em MIM gritam sonâncias, relembranças, momentos, emprestam suas vivências, sussurram segredos,
explicam receitas, sangram, riem ou choram... Tenho um átimo de cada mulher do Mundo nas minha feições, na minha alminha, essa adulta sempre menina, essa criança sempre madura, erotíssima e tão pura... Todas cantam e choram em meu self, pois todas nós estamos nas demais em traços infinitesimais -e nenhum homem parece entender a prece que em uníssono entoamos umas pelas outras, sempre...
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O salto Por Tania Diniz Saudade de ver o mar. E agora ali estava. Diante do imenso azul, respirando o cheiro de sal e o mistério daquelas águas. O sol na pele, a brisa nos cabelos. O desafio das ondas. Viu a alegria da praia. Sentiu a angústia da solidão. Percebeu as indagações da vida e da morte. Não compreendeu a covardia dos homens. Debateu-se em onipotências e impotências. E com um grande suspiro, sobre a rocha usada com o trampolim, arqueou o corpo no impulso e mergulhou no fundo de sua alma. Era apenas Mulher.
Art by Laure B
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LILITH – O MITO
gia nenhuma de suas criações, nem deprecia nenhuma delas. Deus é amor!
Por Marly Rondan
Nós mulheres devemos entender Lilith como um modelo de feminilidade,
O Mito de Lilith é tão antigo quanto a humanidade!
não precisamos ser radicais, ser feministas. A mulher não quer ser melhor que o homem, mas igual, com os mesmos direitos, em todas Lilith foi a primeira mulher criada por Deus. as áreas, no trabalho, nos relacionamentos... Provavelmente fazia parte do Gênesis da BíQuando ocupar um determinado cargo em uma blia mais antiga, mas esse livro foi substituído. empresa, ganhar o mesmo salário que um hoCriou-se, então, o mito de Eva, a mulher criada mem, que ocupa o mesmo cargo. Hoje, século por Deus de uma costela de Adão...uma peXXI, isto ainda não acontece. A mulher ainda é quena parte do corpo, substituível, torta, sem tratada como Eva, apenas um pedaço do homuita importância... Assim é a segunda criamem. Queremos ser Lilith, uma mulher inteira, ção de Deus, a segunda mulher de Adão! independente, capaz, que se basta. Como Lilith, a mulher do século XXI não quer um príncipe encantado, uma alma gêmea, a metade Lilith foi a primeira feminista da história... da laranja, não, a mulher |Lilith não é pedaço, negava - se a fazer todas as vontades de não é metade, Ela é inteira, portanto quer um Adão, queria competir lado a lado, ser indeparceiro, um companheiro. pendente, fazer aquilo que achava bom para seu prazer, sua felicidade. Seja Lilith, chega de ser Eva! Muitas versões surgiram da história de Lilith, alguns dizem que Deus a transformou na serpente do Paraíso e Ela, inteligente e sagaz, seduziu a segunda mulher, Eva, e a induziu a desobediência, a comer o fruto proibido, e todos foram expulsos do Paraíso, por causa de uma mulher, sempre a vilã da história. Outra versão: Lilith foi expulsa do Paraíso e foi para o astral, lá permaneceu solitária, até que Caim matou Abel e também foi expulso do Paraíso. Lilith ouviu o choro de Caim, seu desespero, sua solidão... Ela o consolou, o amou, mas falou: Caim, quando fui expulsa, estava realmente só, chorei e eu mesma enxuguei minhas lágrimas, precisava de consolo, e eu mesma consoleime. Fiquei forte, descobri que podia ser só e forte, posso até ajudar outro ser. Na Idade Média, período sombrio da humanidade, onde a mulher foi perseguida, assassinada sob qualquer pretexto. Lilith, passou a ser sinônimo de Bruxa, Demônio... Tudo isso , apenas mitologia, histórias criadas pela imaginação do próprio homem e de mulheres machistas. Deus não é homem, não é mulher, Deus é Energia Divina, é criador, não privilewww.varaldobrasil.com
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Mulher primordial.
EVA Por Elena Lamego
Mas ela não é sonho. “Não é sonho. Ela tem carne, existência, Fadiga e pudor” *(Vinícius de Moraes”
Tem voz, sentimentos, É real! Mãe, filha, companheira, Tem anseios, dúvidas e lutas. Tem garra, vence batalhas. Ao longo da história, conquista espaços.
Na lenda, Lilth veio antes
Cheia de encantos,
Perdeu-se em trevas.
Pelos recantos da terra ecoa seu canto:
Entre culpas e delícias-Eva
Sou Eva,
Conhece o paraíso.
Sou Eva!
Una com a natureza, Ela mesma, Faz parte da paisagem. Invade o imaginário, Desenha-se nos mitos. Nos mares, Sereia! Em outras águas: Ela é Ondina, Ninfa, Naiade! Habitante do Éter, Sílfides e Fadas. No fogo? Salamandras, Chamas! Ela é dócil, submissa, Também fortaleza! Geradora de vida, é Deusa! Em sintonia com o ritmo do universo, Caminha entre as quatros estações: No outono, ritual; No inverno, introspecção; Na primavera, pronta para a explosãoNo verão - Luz!
Art by John Collier
Musa amorosa e sensual , www.varaldobrasil.com
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As “mulheres” de nossa vida Por Rogério Araújo (Rofa) No dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Esta data foi criada em homenagem às mulheres trabalhadoras de uma fábrica dos Estados Unidos que morreram queimadas ao reivindicar seus direitos em relação aos homens. Em Gênesis 2.18, lemos: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só: far -lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea”. Se o nosso Pai que está no céu fez essa declaração é porque sabia que o homem não pode viver sozinho e precisa do cuidado, da visão e da emoção que somente alguém do sexo feminino pode trazer para somar-se à sua objetividade, sem muito romantismo. Alguns estudos científicos comprovam que o homem tende a ser mais razão que emoção e a mulher justamente ao contrário. E, se os dois viverem juntos, se completarão. Nenhum dos dois deve achar que “manda” no outro. Cada um tem sua responsabilidade e poder de decisão, caso contrário o clima pesado como de um quartel impedirá que cresçam e cheguem a uma vida mais produtiva a dois, aliás, a três, pois DEUS não pode ficar fora dessa vida! Essa data também é um bom momento para pensarmos na importância da mulher na vida do homem. Não existe ninguém que possa dizer que nunca esteve “envolvido” com uma mulher em sua vida... Mulher-mãe, mulher-avó, mulher-professora, mulher-amiga, mulher-namorada, mulhernoiva, mulher-esposa, mulher-mãe de seus filhos, mulher-sogra... sempre estamos envolvidos com uma vida feminina e que traz grande importância à sua existência com um todo. Muitas são positivas e algumas negativas. O rei Salomão escreveu em Provérbios 31.10: “Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede ao de joias preciosas”. Como será que estamos tratando essas “joias” que nos rodeiam pela vida afora? Se a achamos, estamos aproveitando seu imenso valor ou desprezando como se nada valesse? E se ainda encontramos essa “pérola”, estamos pedindo a devida orientação do Senhor? Vamos agradecer a DEUS essas precisas vidas que estão ao redor e que podem trazer grandes bênçãos para todos durante vários momentos que sequer lembramos, pois são muitos. Parabéns às “mulheres de nossa vida”!
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LUÍSA PORTO CONTINUA DESAPARECIDA Por Deidimar Alves Brissi Apesar do apelo do Drummond, Da procura de muitos, Da insensibilidade da massa alienada, Luísa Porto, não mais com 37 anos, Continua desaparecida. Por isso renovo o apelo: Procurem Luísa!
Quem souber do paradeiro de Luísa Porto Não avise mais sua antiga residência na Rua Santos Olhos, 48, A casa não existe mais. Foi demolida, construíram um cinema. E hoje é mais uma igreja que recolhe dinheiro... ... para Deus, o Todo Poderoso. Quem souber do paradeiro de Luísa Porto Fale para ela que muitos sentem a sua falta. Para ela não sentir vergonha E juntar-se a nós.
E quando a encontrarem, Anunciem em toda parte que a solidariedade humana não morreu. A mãe de Luísa não está mais fisicamente en- Que muitos se preocupam com as dores indivitre nós E hoje mora com Deus e Terezinha do duais E continuam a procurar e se preocupar Menino Jesus. com tantas Luísas E tantas mães e pais de LuíSe estivesse viva e com saúde, sas! Com certeza, Excluídas, esquecidas, exploradas, Juntar-se-ia às mães da Sé, da Candelária e da Traficadas, estupradas, prostituídas, Praça de Maio, Na busca esperançosa, obstiAgredidas, assassinadas, humilhadas... nada e dolorosa, Pela filha volatizada sem ex- Dói tanto! plicação! Por isto, Apesar de tanto tempo ter passado, Você que acredita que suas pequenas ações, Alguns, como eu, ainda procuram Luísa Porto. Podem mudar o mundo, Junte-se a nós! E por ainda acreditarem no ser humano, E procure esta não mais moça Continuam procurando aquela não mais moça, Que se chama Luísa Porto... Alta, magra, morena, dentes alvos, óculos, Vestidinho simples, levemente estrábica, Sem ... faz tanta falta... namorado e de rosto penugento, Que foi fazer Procurem Luísa! compras na feira da praça, Não voltou! Procurem! Mas, apesar de todos os esforços ela continua desaparecida E renova-se o apelo de campanha ao povo caritativo de todo mundo Que ainda preocupa-se com as dores individuais. Desliguem a televisão, Coloquem nas redes sociais, Façam um cartaz, Coloquem-se no lugar do próximo, Sintam suas dores, Deixem de lado tanta ilusão, Tanta coisa que não vale à pena Sintam! E procurem Luísa! Procurem nos becos, Nos IMLs, Nos hospitais, Nos prostíbulos, Nas ruas dos excluídos, Nos cemitérios, Nas cracolândias, Nas casas simples e nas mansões. Se preciso, façam um spam. Mas, não desistam de procurar. Faz tanta falta!
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Por Ducarmo Souza
A família ela conduz. Elevar sua autoestima Pois é ela quem dá a luz.
A mulher cada vez mais Conquistando posição. É uma batalhadora Exercendo a profissão. Ao mesmo tempo é frágil Com amor no coração.
Precisa haver sensatez Viver com dignidade. Dá exemplo pra família Também pra sociedade. Ter o respeito de todos, Ela é mãe da humanidade!
A Mulher
É um ser inteligente Mulher, é extraordinária! Seja como executiva, Professora ou operária. Dona de casa ou do campo Ou alta funcionária. Admirável, trabalho Das Mulheres Empresárias. Todas muito dinâmicas Em suas buscas diárias. Junto a elas sempre têm Atenciosas secretárias. Em todas as atividades Há sempre uma atendente. Desempenha seu trabalho Discreta, educadamente. Oferece um cafezinho Prestativa e sorridente. Os homens se assustaram Mas, já estão acostumando. A cada dia que passa, Mulheres se destacando. Hoje, em diversos setores, Tem mulheres no comando.
Woman body paint model photo, Emma Hack
A mulher foi ao Espaço E mostrou sua façanha. Em tudo a que se propõe Quase sempre ela ganha. Apesar destas conquistas Ainda tem mulher que apanha. Mas tem que reverter isso Sua condição fazer jus. A mulher com sabedoria www.varaldobrasil.com
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ABIGAIL, TEU NOME É MULHER Por Júlia Rego
pressão, aquisição de doenças cardíacas, tivessem feito parte da vida de minha tia por causa da sua condição, aparentemente submissa. Abigail era daquelas funcionárias exemplares, não só pelo seu temperamento, mas porque o trabalho numa multinacional exigia pontualidade, literalmente, britânica, compromisso, honestidade e muita ética, elementos raríssimos nos dias de hoje, o que, para ela, não representava nenhum esforço, já que estavam intrinsecamente imprimidos em seu caráter. Exercia com competência as múltiplas funções a ela atribuídas. Exímia datilógrafa, taquígrafa, tradutora, redatora, relações públicas, lidava com vendedores, compradores e gerentes, nem sempre amigáveis, acumulando outras sob o peso de representar o sexo feminino dentro de uma empresa essencialmente masculina, tais como mãe, irmã e amiga, afinal o homem, em todo e qualquer lugar e em qualquer época, seja ocupando funções subalternas ou cargos mais elevados, e por mais durão que ele tente se mostrar, anseia por um ouvido feminino que dissipe seus medos, acalme seus anseios e o direcione em suas mais difíceis decisões. E lá estava a pequena Abigail, respeitada por todos como profissional e como mulher. Nunca se ouviu falar sobre nenhum tipo de assédio por parte de qualquer colega ou chefe, mesmo quando precisava ficar trabalhando até mais tarde apenas com o gerente, ou quando viajava sozinha de avião representando a companhia em outros estados. Quantas vezes ela me levou ao trabalho por não ter com quem me deixar, e esses eram os dias que eu mais gostava. Vê-la tal qual uma máquina, datilografando, escrevendo, atendendo, entrando e saindo da sala dos gerentes que enrolavam a língua para falar o português, sempre com papel e caneta nas mãos, taquigrafando o que eles ditavam, era um deleite para mim que ficava fascinada com tamanha importância dada a uma mulher. Tanto que, por muito tempo, minha diversão favorita era brincar de escritório.
Sempre que ouço falar em independência da mulher, lembro-me da tia que me criou desde os dois anos de idade. Essa mulher foi, para mim, o maior exemplo de vanguarda feminina numa época em que raríssimas mulheres assumiam atividades fora do âmbito familiar. Nascida lá pela década de 1913, oriunda de uma cidade do interior, desde cedo demonstrou inclinação para os estudos. Mulher de estatura pequena, simples, mas cheia de grandes convicções, saiu de sua cidade muito cedo para estudar em um colégio interno e, antes de casar já estava empregada, desempenhando as funções de secretária bilíngue numa companhia estrangeira. Pessoa de fibra, Abigail, esse era seu nome, não abdicou do seu emprego com o casamento, como era de se esperar naquela época, ao contrário, se dividia entre a profissão e os afazeres de casa, com uma habilidade inigualável. Sempre disposta e alegre, faladeira e cantante, acordava antes das cinco da manhã para deixar a casa em ordem cuidar do marido, do filho, da sogra, da cunhada e de mim, e partir rumo ao trabalho na empresa, da qual era a única funcionária mulher entre dezenas de homens, e aonde chegava impecavelmente elegante, usando meias, luvas, chapéu, pó de arroz, batom e carmim. Era mulher! Cresci naquele ambiente carregado de referências sutis ao feminismo, quando nem se falava em luta pela igualdade entre os sexos. O que havia, na verdade, eram muitas contradições entre o que, de fato, se pregava, e o que, na prática, acontecia. Restringia-se e, até, condenava-se o trabalho feminino na rua, principalmente se a mulher fosse casada, mas ao mesmo tempo explorava-se essa mão de obra de forma desumana, sem que se reivindicasse nenhum direito. A algumas mulheres era permitido trabalhar fora de casa, mas dentro dela tinha que respeitar o marido. Não se discutiam direi(Segue) tos e deveres do casal, vivia-se assim e pronto, entretanto nunca tive conhecimento de que estresse físico e mental, crises emocionais, dewww.varaldobrasil.com
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Direitos trabalhistas diferenciados para o chamado sexo frágil não existiam. Quando eu já era adolescente, ouvi-a contar do seu constrangimento quando “as regras” vinham, de forma abundante, e ela não tinha tempo de levantar da cadeira, atolada nos papéis, para ir ao banheiro trocar os paninhos, sim, não existiam absorventes. Quantas e quantas vezes teve que ir para casa com a roupa manchada, provocando cochichos e críticas das mais variadas. Contava, entre lágrimas, que, quando esteve grávida de seu único filho, sofreu o que de pior uma mulher, na condição de mãe, pode sofrer, a privação do direito de amamentar. Despejava na pia o leite que saía do seu peito carregado por não poder ir em casa alimentar seu pequenino. Licença-maternidade, ora, isso nem se falava, eram só os dias do resguardo e pronto, mas nunca a vi se lamentar, pensar em desistir, se desesperar, contava essas coisas mais a título de desabafo do que de contrariedade. Minha tia ganhava bem, e como tinha o espírito inovador era ela quem levava para casa, com os olhos brilhando, todas as novidades eletrônicas surgidas na época como máquina fotográfica, geladeira, liquidificador, batedeira, chuveiro elétrico, televisão, máquina de lavar, o que era causa das mais acirradas discussões travadas com meu tio, que além de ganhar menos, não aceitava que uma mulher tomasse a frente nas decisões do lar. O homem ainda deveria ser consultado e cabia a ele a palavra final, ainda que aceitasse dividir as despesas com a esposa. Existissem computador e celular na época, com certeza, ela os teria comprado com a maior felicidade e ele, com certeza, teria saído de casa. Minha vida nessa casa foi muito rica dos pontos de vista sociológico e antropológico. Por viver num ambiente com tanta diversidade de ideias, comportamentos e atitudes, de homens e mulheres que ali moravam, num impressionante ir e vir de avanços e retrocessos, desenvolvi um senso crítico muito apurado e, hoje, do alto da minha maturidade etária, posso dizer que a mulher obteve ganhos e perdas ao longo da história. Se num passado longínquo carecia de leis que a protegessem em sua totalidade de ser
diferenciado do universo masculino, fisiológica e emocionalmente, de umas décadas para cá se observa uma profusão de mulheres libertas de convenções e independentes, porém estressadas, doentes, carentes e confusas, divididas entre o trabalho fora de casa e a maternidade, mesmo tendo conquistado inúmeros direitos que, teoricamente, conferir-lhe-iam uma qualidade de vida melhor. Minha amada tia trabalhou longos e árduos trinta e seis anos nessa companhia e, diga-se de passagem, apenas nessa companhia, tendo se aposentado com honras e méritos com direito a condecoração pelos serviços prestados. E não parou por aí, dedicou-se ao estudo da música e escreveu um livro aos 86 anos de idade. Lembro com muito amor e saudade dessa mulher especial que me deu régua e compasso, como disse um dia o compositor. Submissa em alguns momentos e autoritária em outros, mas sempre acreditando na realização dos seus sonhos, imprimiu na minha memória que o mais importante não é a luta vã entre os sexos para ver quem ganha mais, quem vale mais, quem pode fazer o que, e sim deixar um legado na história das pessoas que passam por nossa vida, brigando, sim, pelo respeito à essência, não de homens ou mulheres, mas de seres humanos. Vale lembrar que, após tantos avanços na busca pela igualdade, as mulheres adquiriram, sim, muitos direitos, inquestionavelmente importantes para a vida em sociedade, mas o tal respeito entre homens e mulheres que tanto exigimos, e que achamos que conquistamos, ficou, há muito, perdido. Plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho, embora representem o ideal de realização para muita gente, não foi o maior legado deixado por Abigail, mas as pegadas que deixou no meu caminho para que eu abrisse a minha própria estrada, como ser pertencente a esse universo, como mãe e como mulher, essas, sim, jamais serão apagadas.
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A LINGUAGEM E O CORPO Eliane Accioly nal, mas um outro que possa oferecer novos e diferentes recursos. Quando digo usado quero dizer, experimentado, vivido. Na cultura ocidental (como em qualquer cultura) Após milênios de cisões entre diferentes aspec- há saberes supostos para nos orientar (que potos, indivisíveis, porém, como ciência e arte, dem desorientar, completamente!), e para me sagrado e profano, corpo e mente, eu e não eu, sentir garantida a eles me agarro. Quando faço e outros, nós ocidentais, a duras e alegres pe- isso não posso me apossar das referências, nas, vimos perseguindo e encontrando instrupois, em geral, estas permanecem alheias à mentos para lidar com os impasses e ultrapas- minha experiência, não as encarno e por issar dicotomias paralisantes, sem eliminar as so, se distanciam de mim como cenouras na contradições. frente do burrinho, não me servindo, pois não Entre os cronistas do cotidiano, contemporâdariam conta dos desafios do momenneos, encontro mestres em outras maneiras de to. Paradoxalmente tenho as garantias do sulidar com acontecimentos, problematizando-os posto saber, mas não as referências. e se preocupando em não banalizar sua comEstou em estado-de-risco quando esqueço o plexidade, ao contrário, levando o leitor à persaber a priori, inclusive teorias e/ou conceitos cepção de novos e surpreendentes ângulos. encontrados por mim no passado e que me serUm dos recursos usados é o do autor se inserir viram em outros momentos, mas que talvez, na situação e/ou contexto que está trazendo, agora não me sirvam. Quando, porém, abandodizendo o que pensa, o que sente, como foi no conhecimentos prévios, outro paradoxo, vou afetado pelas circunstâncias, ou seja, recorrenencontrando referências, me inserindo na situado às referências que brotam de sua experiênção e interagindo com ela. O que ocorre, entrecia e de seu agir no mundo, em outras palatanto, em estado-de-risco as referências vão se vras, deixando a neutralidade, se expondo. fazendo com a experiência e a vivência, e a Não apenas a ciência é conceitual, também a bússola, assim como a posição da estrelas são arte e a vida. Em nosso cotidiano cada vez que criadas a cada instante. Ou não. Não há garandescobrimos jeitos mais enriquecedores, ou tias. sentimos a precisão de problematizar a rede de Estado-de-risco é um conceito que procuro, na relações de situações que nos desafiam, em medida do possível, usar (viver) na clínica, na certa medida, criamos conceitos. Um conceito é arte e na vida. para ser usado, uma ferramenta do pensamento que sustenta, temporariamente nossas ações Ferreira Gullar diz que é “um contumaz inventor de teorias – algumas até foram levadas à sério no mundo, em qualquer dos campos que agicomo a Teoria do Não-Objeto; mos. Não nasce para permanecer, mas para ser substituído por outros, podendo ser usado (Segue) diferentemente em outros contextos. Quando isso ocorre, não é mais aquele conceito origi-
A clínica, a arte, a vida e a criação de conceitos
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outras injustamente desconsideradas. Nem por isso desisto, tanto que uma de minhas teorias mais recentes é a de que uma das funções do artista é criar o maravilhoso (ou o surpreendente), pela simples razão de que não encontramos no mundo maravilhas em quantidade suficiente para satisfazer a fome de maravilha que habita as pessoas.(...)”. (Folha de São Paulo, E 12, 30 de Janeiro de 2005) A “teoria do não-objeto”, me parece, surgiu em um encontro entre artistas e amigos, quando os neoconcretos buscavam conceitos que exprimissem aspectos das esculturas (inclassificáveis) de Ligia Clark. Vamos supor que o ambiente em que estavam era descontraído, sem censuras ou julgamentos, viviam um encontro onde, em estado-de-risco, podiam se arriscar. Winnicott chamou de transicional os espaços que não podem ser censurados, para que os paradoxos se preservem; levamos (ou não) para a vida adulta, os espaços transicionais. Nesses espaços estamos em estado-derisco, e o novo pode (ou não) surgir. Não nos esqueçamos, sem garantias, porém, paradoxalmente, é quando não as temos que se pode criar. E a censura, bem sabemos, costuma estar muito em nós, podemos ser juízes horríveis para nós mesmos. Os espaços transicionais estão entre alguém e outro alguém, entre o livro e o leitor, entre eu e o mundo, infindáveis entres. Acima mencionei que um dos recursos usados para ultrapassar as dicotomias sem suprimir as contradições, seria o autor se inserir na situação e/ou contexto que está trazendo, tornando-se não apenas parte dele, mas um de seus elementos constituintes, como um dos caracteres de um ideograma. Outro recurso poderoso seria usar espaços transicionais - como os intervalos entre a arte, a ciência e a vida, por exemplo. Estado-de-risco é ao mesmo tempo um intervalo, um lugar, um espaço transicional, um estado de percepção e consciência, um conceito e objeto transicional. Ao mesmo tempo singular – pois cada estado-de-risco só poderia ser único, é também absolutamente plural, pelo simples motivo de encontrar-se e se disseminar na vida. Uma das perspectivas de trabalhar nos intervalos seria a inclusão da simultaneidade: muitos aspectos ocorrendo simultaneamente. Gosto muito quando FG afirma que “uma das funções do artista é criar o maravilhoso (ou o surpreendente)”, pois, nós humanos também somos feitos de monstros, fadas, bruxas, animais fantásticos; mas para mim o surpreendente nessa afirmação de FG é que, quando criamos novas referências, experiencialmente, quando usamos e trans-criamos conceitos,
quando frequentamos o estado de risco, nos sentimos vivos. Se não fizéssemos isso estaríamos submetidos todo o tempo a regras e referências a priori que existiram muito antes de nascermos e existirão (provavelmente) muito depois que nos formos. Assim, o surpreendente é também descobrir que não podemos criar a nós mesmo, nem ao mundo, mas podemos criar parcelas do mundo e parcelas de nós: a micro-política de Deleuze e Guattari.
NADA HÁ DE MAIS IMPORTANTE DO QUE A VIDA! VAMOS FALAR DE VIDA EM NOSSA PRÓXIMA EDIÇÃO! PRESERVAR A NATUREZA A FAUNA, A FLORA! O QUE FAZER PARA MELHORAR A VIDA DO SER HUMANO? O QUE FAZER PARA TER UMA MELHOR RELAÇÃO ENTRE SERES HUMANOS E O PLANETA? VENHA! varaldobrasil@gmail.com
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PONTO DE VISTA Jeremias Francis Torres
VOCÊ
AMA causa social ou para sociedade protetoras das
VERDADEIRAMENTE A VIDA?
crianças deficientes ou não deficientes e assim
ATÉ
QUE
PONTO
por diante! No outro extremo do desprendimenDe onde provem toda a infelicidade to, entre a pobreza, ocorre o desespero. Obserhumana?
va o indivíduo (pobre) pessoas ricas possuírem tudo (sendo más, no entender dele) e ele não
Do egoísmo! Do egoísmo? Sim, o bem para si e os familiares e o mal para o semelhante. Em outras palavras, pegar tudo que puder para si próprio e deixar o
possuir nada, e somente entender por Divina Providência, um Deus de barba, que doa ou que pune. O Poder Superior que mitigue
outro “a ver navios!” Há dois extremos a serem combatidos e entendidos sobre esses fatores!
sua sede e atenda a seus pedidos e súplicas e não entendendo os inúmeros benefícios de
uma “negativa”, procura na morte, mais preciO primeiro deles é o seguinte: ex- samente, no suicídio, o fim de seus suplícios... cesso de amor a vida é apego a matéria! é o que imagina! O segundo é: o desprendimento total da vida é descaso!
Há equívocos de ambos os lados. Não é possível entregar totalmente a vida, nos-
Num e noutro, há incoerência! No caso do chamado desprendimento partindo de pessoas ricas, gera-se a indiferença, o escárnio e outras coisas mais. É o ca-
sas esperanças e nem procurar “usufruir” de “tudo de bom” que a vida dá, uma vez que existem pessoas, em situação de miséria extrema, doentes, loucos, sem tetos, drogados, etc.
so do indivíduo, num leilão, arrebatar, por Outro dia, a passos largos passava eu pelo exemplo uma obra de arte (adoro arte) por al- centro de São Paulo, quando observei um peguns milhares de dólares e não doar um centa- dinte sentado à margem da via pública. vo, para a sociedade protetora dos animais, (Segue) www.varaldobrasil.com
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Pela direção de seu olhar, pude ver ou talvez “Quereis me dar algo? Então, sai da frente do pressentir, que olhava em direção aos meus Sol, pois estás fazendo sombra sobre mim e eu só quero desfrutar da luz solar!”
pés (?!) Olhei para os seus, e constatei que não os tinha!
Não há necessidade de extremos, mas, moderar contribuiria em muito com o progresso da humanidade e é
Como eu, posso ser COMPLETA- DE! MENTE indiferente a esse fato e não ficar constrangido com isso?
Não que ele não o queira. Ele não
o pode!
Eu particularmente,
acredito
que a virtude assim, como o egoísmo são atributos da alma, localizados muito profundamen-
A vida é um verdadeiro ardil! Uma verdadeira batalha!
te em cada ser e tanto um quanto o outro, são Não fosse pelo armamento, ferimentos graves, particularmente difícil de serem adquiridos. A explosões, seria exatamente igual a uma guervirtude não há o que se falar além do que se já ra, onde vence o mais forte e o bom, se é que sabe e muito mais: estoicismo, renuncia, amor existe alguém assim, é simplesmente, posto de lado! À margem!
ao próximo, paciência... Quanto ao egoísmo é todo o oposto
Bem que ele tenta ser bom, mas, não consegue: a instabilidade do momento, os mis-
disso tudo! Assim e somente assim, é possível entender como vivem felizes essas pessoas lá de Beverly Hills e mesmo aqui do Morumbi, enquanto seus vizinhos “torram” no sol ou conge-
teriosos recônditos da mente, as armadilhas do caminho, as tramas dos “amigos” e as trações dos inimigos, etc. põe o homem em constante alerta, contra o próximo e contra si mesmo! Então, eu não posso confiar em ninguém?
lam no frio... Ninguém precisa abrir mão de tudo! Mas, impor um limite a si mesmo para usufru-
Infelizmente não, e entenda-se, inclusive, àqueles mais próximos! E isso serve para irmãos, primos, tios, tias, etc., etc.
ir... Nem há que ser o “Chaves” da antiguidade, Diógenes, por exemplo, o Filósofo que perambulava pelas ruas da Grécia, em 323 a.C., morando num barril e seus únicos bens,
Todas às vezes que depositar sua confiança em alguém, pode acreditar que vai ser decepcionado! A começar pelos políticos! Como prome-
era uma colher tosca de madeira e uma cane- tem, como são dóceis em época de eleição! ca... confrontado por Alexandre, o Grande, que para testá-lo, perguntou o que ele (Alexandre) poderia lhe dar em ouro, prataria, terras, casas, etc.
É quase humanamente impossível imaginar como um ser, pode arquitetar tanto, tramar, mentir e outras coisas mais, somente para conseguir um cargo público transitório, ainda que
“Queres
saber”,
falou
Diógenes. (Segue) www.varaldobrasil.com
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vá auferir às suas custas (e as minhas) altos emagrecer (e poder operar) sua mamãe, penalizada, comprava guloseimas, para não vê-lo so-
salários! Quer dizer que basta a mentira e está tu-
frer de FOME! E ela disse que amava o filho!
do certo? É isso? Agora eu entendo a célebre frase do
Vivendo com essa bússola (“pé atrás) evi-
ECLESIASTES, inclusive, a qual fora título de tará sérios aborrecimentos no trabalho, no algo que havia publicado anteriormente: “a fal- amor, nos bancos, nas igrejas e nos salões de ta de visão é o que corrompe a geração!” beleza... Eis aí o grande segredo dos políticos: não se importam com o dia de amanhã, razão pela qual querem o somente gozar hoje, eles e sua família! Seja como for, por maiores esforços faça o ser humano, é sempre, sempre suscetível de falhar e deixar alguém magoado. Ninguém precisa ser igual ao amigo próximo que não cumpre nada do que diz, muito menos assume compromisso. Mas, mesmo um intermediário entre essas duas “espécies”, será falho! Por que? A condição humana é assim! Somente isso para justificar tanta maldade e outras coisas mais e más! E nos países desenvolvidos onde se deveria cultuar a cultura, a ciência, a religião e coisas boas, já que nem de longe tem os problemas que nos afligem há tanto tempo, que são a miséria, fome, saúde (falta), educação (falta), de vez em quando, aparece lá , nesses lugares, um “louco” bem alimentado, atirando pra todo lado e matando pessoas inocentes! “Posso, então, confiar
pelo menos em
mamãe?” Dirá você! Se sua mãe não for permissiva quanto a mãe do menino WILLIAM (americano de meia tonelada), o qual fazia esforço desmedido para www.varaldobrasil.com
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As mãos de Z
arroz doce, ambrosia e ela dizia: - Agora preciso de queijo e manteiga.
Por Mágda Côrtes Regadas Resende
E eu, leiga, pensava: como é possível, de um só lugar alimentar, saciar e acalentar tanta gente carente? Ela amava e se dava, calava e se aquietava.
No grande casarão, erguido no tempo da escravidão podemos ver muitas mãos. Mas são as mãos de Z lia.. que ascendem e atendem aos que dela dependem.
Acalmava a boca e o coração de quem viesse, de longe ou de perto, de um jeito que toca no peito.
Elas estão por todo lado. No fogão a lenha, dentro do tacho de cobre, tudo fica mesclado. E nós, inebriados, fitamos o acobreado, o dourado e o prateado.
Satisfeitos, todos que a rodeiam Jamais se esquecerão dos cem anos de fogão, amor e dedicação. Z lia, uma linda lenda brasileira, avó açucareira, mãe abençoadeira, mulher abraçadeira.
E ela, com aquele maquiado, deixa apaixonado o Jorge amado. As mãos de Z lia não estão no Norte, na maniçoba, nem no Centro da grande obra; elas se encontram no Sudeste: - Foi de lá que vieste.
Abraçou a vida e deixou viva a lembrança de quem sempre se deu, mesmo sendo pouco o que recebeu.
Menina dama, com jeito de princesa chega à grande casa já rainha porque lá só se chega casada. Sinhá moça, que usa leite Moça, adoça a boca do Senhor do algodão, do café, do leite e do feijão. A escolhida das Minas Gerais adentrou pelos umbrais e nunca mais deixou de estar rodeada de rabanadas, risadas, goiabadas e meninadas. Vieram os filhos, dezena deles. Medida desmedida porque filho não se mede. Logo em seguida, a temporada dos netos, na virada da alvorada. E lá dentro da cozinha tudo se mantinha, a doninha mandava e ordenava.
Arte by Alex Livingston
Do tacho mágico de Z lia entre camélias e bromélias, de tudo saía: pães doces, doce de leite, www.varaldobrasil.com
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MENINA MULHER Por Anna Back
Você, que foi menina sem trança, Menina comum, sem jeito, sem graça... Você e a bola, inseparáveis, incansáveis, A bola rolava, ia e vinha, aqui, além. Alinhavando a vida em estudo, em lances, Emaranhada em redes, em quadras também. Tudo e nada, vitórias, derrotas, amizades, Vidas juntas, prometidas, separadas. Tempo e distância minam as camaradagens, Que na infância e adolescência eram tudo. Vidas passadas a limpo, reiniciadas. Pra perto de nós chegou, aconchegou. Embevecidos, nem vimos, pouco sentimos Sua sutileza nos turvou a visão. E assim aos poucos, aos muitos... Conquistou espaço único, especial. Fez história, fez ninhada bem aqui, No íntimo de cada coração! Mulher que se fez bela, de mãe se vestiu. Donde frutos nos vieram plenos, perfeitos. Mulher cativante, esvoaçante. Que quer ir, mas também quer ficar. Não há receita ou caminho fácil, Quando buscamos a prática do amar. Ligados estamos pelo cordão das vidas. A sua... A nossa... A deles, vivida. Pupilos, saltitantes, radiantes. Não sabemos como, nem quando começou, Essa relação carinhosa, avassaladora, Que não nos permite cortar laços, Mesmo na eloquência dos embaraços, Quando só sentimos por você amor, amor!...
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Mulher Coragem Por Flávia Assaife Dotada de imensa força interior Enfrenta o dia-a-dia com furor Jamais se deixa abater pela dor É guiada pela força incondicional do amor! Cuida e ensina sua cria À defender-se dos perigos da vida Leoa voraz Luta, luta, até não poder mais... Guerreira nata De arma sensata O amor em equilíbrio A palavra por um fio Torna a vida prazerosa Rega-a com perfume de rosa Distribui sorrisos em buquê Colhidos em seu jardim de ser Força de mulher Pari com afinco os problemas Liberta todos de suas algemas Felicidade é seu lema!
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ESTUDOS JUDAICOS E CÂMARA CASCUDO: RESENHA CRÍTICA AO FILME “A ESTRELA OCULTA DO SERTÃO” Por André Valério Sales 1. Introdução:
Famoso por sua preocupação com a visão ou a versão dos “vencidos”, com dois importantes livros publicados pela USP, cito uma reportagem com Wachtel, um tanto mais acessível ao leitor comum (“A Versão dos Vencidos”), presente na Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 76, de janeiro de 2012 (págs.: 46 a 91). Wachtel demonstra ali muito de seu conhecimento, e inclusive acerca do Nordeste brasileiro, enfatizando sua necessidade de tentar “salvar a memória de uma geração de pessoas” (id.: 50, grifo meu), e afirma ainda que “A própria cultura sertaneja [nordestina] tem algumas de suas raízes nos cristãosnovos. Esse foi o resultado do meu trabalho, embora eu tenha seguido os passos de Luís da Câmara Cascudo (4), que já estava atento aos elementos judaicos presentes na cultura sertaneja” (id.: 50, grifado no original) (5).
Em 2004 Elaine Eiger & Luize Valente concluíram um filme sobre história dos judeus principalmente no Nordeste brasileiro atual, mas referindo-se também ao restante do país, e sempre remetendo aos 500 anos passados de “descobrimento” do Brasil. Em 2005, após todo o trabalho necessário de pós-produção, o filme “A Estrela Oculta do Sertão” foi oferecido ao público (2). Diga-se de passagem que o documentário proInclusive, para quem ainda não viu e ou- porciona acesso aos leitores do português, viu, ele se encontra na Internet, no YouTube, francês, inglês e espanhol – via traduções lepodendo ser “baixado” com todo o seu conteú- gendadas no filme–, o que ajuda bastante em do, e também pode ser visto em pequenas par- sua universalização, tendo por isso sua circulates; trechos de entrevistas, etc.; muitas delas ção, facilitada deste modo, para estudiosos de realizadas com a historiadora polaco-brasileira muitas outras nações do mundo. Anita Waingort Novinsky (3), historiadora e professora da Universidade de São Paulo/USP (reconhecidamente a melhor Universidade do Brasil). Ainda que entreviste pessoas de várias capitais brasileiras e até especialistas de outros países, a linha mestra do filme é o acompanhamento das descobertas buscadas pelo médico paraibano Luciano de Oliveira, partindo de suas dúvidas acerca dos judeus Anussins brasileiros (também chamados Cristãos-Novos, ou Marranos), e especificamente ainda residentes no interior do Nordeste do Brasil. Por isso o nome “Sertão” no título de tão interessante filmagem. Apesar de ser uma película relativamente curta (com duração de cerca de uma hora e vinte minutos), para tratar de um tema que envolve bem mais de 500 anos de nossa História, o filme faz um passeio, através de entrevistas gravadas, em busca de indícios, costumes, opiniões de estudiosos do tema, etc., que percorre, por assim dizer, todo o Brasil, e vai até nomes consagrados enquanto especialistas do tema em nosso país, como Anita Novinsky, além de estudiosos europeus, como Nathan Wachtel, antropólogo, professor do Collège de France (uma das consagradas instituições de ensino das mais antigas do Mundo, academia onde Wachtel fundou a cadeira de Marranismo).
2. O Filme: O motivo principal do filme é mostrar, documentando, a procura do médico paraibano Luciano Oliveira por suas raízes judaicas, de modo que enfoca o seu problema maior: ser reconhecido como judeu de modo natural; ter aceita a sua identidade judia sem precisar se converter mais uma vez, ou batizar-se, já que é descendente de mãe e avó judias (6), e comprovadamente descente de judeus Anussins (7), ou ainda: Marranos (8), Forçados a batizar-se como “cristãos-novos”, tais como aqueles que foram forçados a batizar-se em pé, e aos milhares, pouco antes de D. João VI deixar Portugal e fugir para o Brasil, em 1807. (Segue)
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Que seja aqui lembrada também a existência secular de muitos outros descendentes do povo hebreu que passaram a vir para o Brasil desde o início da colonização (ou “ocupação”) portuguesa em 1500, como observam Anita Novinsky, Nathan Wachtel, Câmara Cascudo e tantos outros. O filme de Eiger & Valente entrevista o genealogista Marcos Filgueira, que como estudioso da história dos Anussins no Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, confirma que a partir dos anos 1500, “os nordestinos com raízes maternas em Recife (PE), Salvador (BA)”, “sem dúvidas”: “todos tem raízes judaicas”; e a estudiosa Lourdes Ramalho também afirma: “O Rio Grande do Norte sempre foi judeu, assim a Paraíba e Pernambuco” (2008: 28) (9). Como diz o cristão-novo Simão, pai de Branca Dias, na célebre peça de Dias Gomes (“O Santo Inquérito”, de 1966): “Estamos sempre sob suspeita [ou seja, não era possível haver paz na época da Inquisição]”, além de convertidos “à força” ao catolicismo, ainda somos “despojados de todos” os nossos bens! (Gomes, 2003: 49) (10).
consciência disso, nunca deixaram de lado seus costumes judaicos! São essas as premissas de vida religiosa para o Dr. Luciano Oliveira. Este problema mexe de perto, nos dias atuais, com diversas famílias, principalmente nordestinas, tal como é o exemplo do engenheiro potiguar João Medeiros e sua esposa, Marlene, além de seus descendentes (ver o livro autobiográfico de Medeiros: Nos Passos do Retorno: Descendentes dos Cristãos-Novos Descobrindo o Judaísmo de Seus Avós Portugueses, uma joia publicada em Natal/RN, no ano de 2005). Dr. Luciano lembra de sua infância: que quando era criança, seu bisavô, Manoel Canuto de Oliveira, no município de Salgadinho (PB), na região do Seridó (trecho do sertão, interestadual, entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, que abrange 54 municípios), esperava nas sextas-feiras a primeira estrela alumiar no céu para iniciar então a cerimônia, a portas fechadas – que Luciano ainda não entendia – de acendimento de velas e orações numa língua que ele não conhecia (além da existência de outros costumes que aos poucos ele foi descobrindo: o enterro em “chão limpo”, as mortalhas confeccionadas sempre de cor branca, o não comer a carne de porco, etc.).
O Dr. Luciano Oliveira é um dos personagens principais do documentário em análise, mas quem realiza o filme são as duas diretoras citadas: Elaine Eiger & Luize Valente; esta última, é preciso ressaltar, também é autora do livro publicado recentemente: “O Segredo do Após atingir uma idade de consciência Oratório” (2012), estudo que abrange história religiosa preocupante para ele, o médico paraidos judeus no Brasil, Europa e América do Norbano resolveu pesquisar. Pesquisar dentro de te. sua própria família, nos arquivos de paróquias Muitas entrevistas do documentário em (católicas) paraibanas e do Seridó, em cartóquestão são feitas pelo próprio Luciano Oliveirios, e inclusive até em São Paulo, com Anita ra, assim como as diretoras da película realiNovinsky (USP) e vários Rabinos judeus (11), zam várias outras. O filme começa com o médiortodoxos ou não – sendo muitas dessas entreco paraibano expondo suas preocupações e vistas presentes no filme que ora é resenhado curiosidades iniciais em relação à essa religião, (além de entrevistas com o francês Nathan o judaísmo (ou Marranismo) que mesmo pre- Wachtel e inclusive com um Rabino de Israel). sente em sua família – detectada através de Há cortes no filme para entrevistas e devários indícios – já se encontrava, na contempoimentos de outros especialistas nos estudos poraneidade, esquecida de suas origens. judaicos. Na continuação do filme/documentário, Dentre estes cortes, as opiniões de Anita vemos a saga do Dr. Luciano tanto na sua busca de mostrar e explicar vários indícios de cos- Novinsky imperam, acertadamente, pois ela é a tumes judaicos presentes até hoje em sua enor- maior autoridade no tema Inquisição no Brasil, me família nordestina, quanto tentar descobrir tendo sido a primeira pessoa no país a estudar como ele e os demais interessados (não so- a História dos cristãos-novos/marranos. mente sua família brasileira, mas tantas outras espalhadas pelo mundo), podem ser confirmados como sendo judeus Anussins, sem neces(Segue) sariamente tenham que se reconverterem ao judaísmo. Pois só se reconverte alguém a uma religião, se, antes, ela já havia se convertido, uma primeira vez, a outra crença religiosa; e eles, os Anussins, ainda que não tivessem www.varaldobrasil.com
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Desta forma, a historiadora relembra no filme/documentário que na época das Villas do Ouro: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, os judeus criaram (por “N” necessidades, em vistas das perseguições antigas), verdadeiras Sociedades Secretas (12), sociedades ocultas do povo – em geral, do povo católico. Criou-se então práticas clandestinas, cujo valor maior era o segredo. Os casamentos entre judaicos, naquela época, eram endogâmicos, ou seja, ocorriam apenas entre famílias judias e até dentro de uma mesma família (primos com primos, tios com sobrinhas, etc.). Acrescenta Novinsky que os judeus, convertidos forçados ao catolicismo-cristianismo, passavam então por “conflitos dos mais interessantes”, afinal, foram mais de 300 anos de presença do Santo Ofício da Inquisição (Católica) em nosso país! Observa ainda autora que esses cristãos-novos “internamente”, subjetivamente, eram homens e mulheres “divididos [as]”, cindidos(as), à força, que fique claro; mas esse homem “instável”, como relata Cascudo, não era, por causa disso, já de acordo com Novinsky (1972): “nem judeu, nem cristão, mas cristão-novo” (13).
Valente essa afirmação cascudiana; ela lembra que com a expulsão dos holandeses os judeus foram se “espalhando” pelo Brasil afora, assim como, essencialmente, pelo interior do país.
De acordo com Câmara Cascudo, depois que os holandeses foram embora do Brasil, em 1654, como eram um povo protestante e mais ou menos ecumênico, tendo dado liberdade ao convívio entre holandeses (e demais moradores do Nordeste) com o povo judaico, os portugueses que retomaram esta parte do país facultaram “a permanência israelita”, obviamente, voltando a obedecerem os ditames dos Reis portugueses, em matéria de conduzirem sua religião, costumes, etc., e Cascudo ainda destaca o fato de que várias famílias judaicas tenham decidido continuar a residir no Nordeste, já que estavam há mais de duas décadas acostumadas com o governo holandês, com a comercialização empreendidas e quase que monopolizadas pelos judeus (Cascudo, 2001: 104). Anita Novinsky repete, no filme de Eiger &
a cidade de Venha Ver, no extremo sul e oeste do Rio Grande do Norte, parte da seca região conhecida como Seridó.
Voltando ao Dr. Luciano de Oliveira e sua saga em busca do reconhecimento de sua identidade judaica, agora temos ele indo até a cidade de Pedra Lavrada (PB), município com cerca de 3 mil habitantes, em busca da história de sua bisavó materna e judaica, Dona Minervina Cordeiro.
Em Pedra Lavrada, quase todos são primos, em diversos graus de parentesco, porém, sempre pertencentes à família Cordeiro; todos de sobrenome matrilinear (como mandam os regulamentos de reconhecimento da ascendência judaica). Em sua visita e entrevistas feitas em Pedra Lavrada, emergem as características judaicas da convivência comunitária e familiar específicas, e onde as mulheres exercem papel preponderante. Descobre então Dr. Luciano que sua família descende de um lugar chamado de os “Porcos de Seridó” (um sítio, ou, uma pequena Vila, no linguajar europeu). Esta “Vila”, hoje (em 2014) possui cerca de 6 mil habitanApós o fim da Inquisição, nos anos 1800, tes. reforça Anita Novinsky, com o fim das perseguiNeste ponto do filme analisado, o historições e com o fim das documentações destas perseguições, não se sabe para onde foram, ou ador Paulo Valadares reafirma a existência da o que ocorreu com os judeus brasileiros ou por- endogamia, do casamento entre primos, etc., e tugueses/espanhóis aqui residentes... A Histó- acrescenta que a Igreja Católica, naquele temria, desde esse tempo, perdeu a oportunidade po passado, não permitia a consanguinidade, de ser escrita, contada ou narrada, com a ajuda ou seja, o casamento, por exemplo, entre pridos documentos históricos; sejam elas histórias mos, no entanto, a endogamia judaica cruéis ou não. Daí em diante, segundo No- “mantinha a herança cultural” dentre seu povo vinsky, não se sabe o que aconteceu com esse (escolhido por Deus, não católico e não adepto povo no Brasil; para onde se mudaram? Como do cristianismo). foi a sua nova “Diáspora”? No caso, agora O documentário passa então a tratar do uma diáspora brasileira ... município mais importante nesta História toda,
Conhecido em jornais e entrevistas de judeólogos há mais de 20 anos, este município potiguar vem sendo um exemplo de arqueologia judaica no Nordeste. E tanto há um orgulho dos grandes historiadores sobre Venha Ver, quando tratam do assunto, quanto dos próprios moradores da cidade, que são contemporaneamente conscientes de suas origens judaicas.
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Os moradores contam, então, várias de suas histórias, com origens eminentemente judaicas, com comprovação inclusive em seus costumes diários; em seus enterros; e em seus cemitérios. De acordo com as entrevistas, muitos moradores afirmam morar no lugar há mais de 200 anos (justamente, mais ou menos, o tempo em que, para nós estudiosos do chamado Brasil Holandês, este povo, os neerlandeses/batavos, aqui viveram e mandaram – no Nordestes brasileiro –, entre 1630 a 1654, portanto, foi uma ocupação que não era anti-judia e que durou mais de duas décadas, o que não é pouco).
costume de jogar fora a água dos potes e jarras quando morre alguém da família, lembrando-se especialmente de ter feito o costume, também eminentemente judaico, quando da morte de seu marido. Neste trecho, Anita Novinsky confirma que “há famílias com consciência [de sua ascendência judaica], que retornaram à crença”, assim como há outros “que não sabem de nada”, mas que seguem em seu cotidiano costumes “tipicamente judaicos”, mesmo sem saberem o porquê.
Quando os holandeses foram embora do Nordeste do Brasil, em 1654, os portugueses, por sua vez, deixaram livres os judeus aqui residentes (centenas e centenas deles), lhes dando liberdade de continuarem morando no Recife e demais capitais ocupadas pelos batavos. Por medo então do beligerante catolicismo português, muitos judeus decidiram, mais uma vez, fazer uma verdadeira “Diáspora” pelos interiores nordestinos, o que vem a explicar sua presença na região do Seridó: em Pedra Lavrada (PB), em Venha Ver (RN), etc. (ver Câmara Cascudo, 2001: 89 a 111) (14).
2. 1. Rituais e Costumes Funerários:
Sobre este tema, que estudei noutro texto, de cunho etnográfico (Sales, 2014a), é preciso ressaltar que todas as temáticas aqui abordadas estão explicadas, desde 1967 no livro de Câmara Cascudo já citado, no Capítulo 5, “Motivos Israelitas”, no qual ele cita autores que demonstram a presença de vários costumes que adiante serão expostos, não só no Nordeste do Brasil, mas também em outros países (Cascudo, 2001: 167 a 171), ainda que o docuAinda tratando do caso do município po- mentário em análise não cite nenhum autor em tiguar de Venha Ver, com núcleo de cerca de seus créditos, além dos especialistas entrevis700 habitantes e mais 2.500 outros moradores tados. espalhados pela área total da municipalidade, a Repetindo o texto de Cascudo de 1967, família de maior presença é a de sobrenome ao mesmo tempo em que reforçando a clara Bernardo; e todos os entrevistados no lu- vivência na contemporaneidade de vários cosgar, ainda que católicos de nascença, batiza- tumes judaicos ali expostos, os entrevistados dos e crismados, etc., sabem-se e orgulham-se do filme de Eiger & Valente relatam que os de sua descendência judaica! Os mais idosos mais idosos se enterram ainda em terra limpa insistem que são católicos de nascença. Mes- (Venha Ver/RN) (15), sem caixão (esse mesmo mo que conscientes de sua ascendência e, costume já foi parte da história de minha terra, principalmente, da origem de seus costumes, Arez/RN, citado em Sales 2014a): leva-se o que alguns apenas explicam como costumes “– morto até o cemitério dentro de um caixão, coQue já vem dos antigos...”. nhecido como “o caixão das Almas” (guardado Além dos Bernardo, ainda há mais 3 fa- no próprio cemitério, no caso de São Paulo do mílias que se unem endogamicamente em Ve- Potengi/RN, ou na Igreja Católica – como em nha Ver: os de sobrenome Tomás, Rosendo e Arez/RN), mas na hora do enterro o morto é Roberto (segundo as entrevistadas). A matri- retirado do ataúde e enterrado em chão limpo. arca da família Bernardo chama-se “dona CaPor exemplo, apesar de se dizer católica, bocla”, que possuía na época da filmagem dona Cabocla, a prolífica matriarca de Venha (2004), cerca de 90 anos: 14 filhos, dos quais Ver, diz que não existia caixão no tempo de apenas 8 mulheres resistiram à vida na seca do seus avós, e adverte com veemência: “– Eu interior no sudoeste do Rio Grande do Norte. não quero [ser enterrada junto com o caixão]! A Destas 8 filhas, dona Cabocla tem mais 102 terra [é] que come nós (sic)”. netos e 42 bisnetos. Dona Cabocla se diz católica “– Desde menina” e revela que houve vários padres católicos em sua família. Católica (Segue) fervorosa, demonstra, durante as entrevistas seguir várias das tradições judaicas, como a vontade de ser enterrada em “chão limpo” e o www.varaldobrasil.com
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Ela continua narrando que ao morrer alguém, naquela casa a água dos potes deveria ser jogada fora, e depois de um tempo é que seriam enchidos de novo. Continua dona Cabocla: “– Disse que o espírito do morto fica na água”. Infelizmente aqui não há espaço para todas as explicações diferentes existentes acerca deste tema (das águas dos potes serem jogadas fora na casa de alguém que morreu), mas este é, com certeza, um costume conhecido como judaico (16).
aprenderam com os mais antigos.
Aqui em Arez/RN, meu lugar de moradia, terra de meu pai, onde sou cidadão honorário, este costume já não existe mais. No entanto, em minha pesquisa recente ainda entrevistei pessoas, e soube de outras mais, que têm o desejo de se enterrarem no “chão limpo”, ainda que a família, na hora “H”, não cumpra com o desejo do morto. Uma das explicações que ouvi, em minhas entrevistas etnográficas, foi a da humildade que o morto comprova ao rejeitar o enterro em “caixões de defuntos” ... Lembrando mais uma vez Anita Novinsky: são costumes judaicos, mas que as pessoas não sabem de sua origem, elas apenas cumprem tradições imemoriais das quais já ouviram falar, ou que
reis o sangue de nenhuma carne, porque a alma de toda a carne é seu sangue”). Já para os cristãos, Atos 15: 29 repete: “Que vos abstenhais ... do sangue”, e mais à frente, em Atos 21: 25, o autor volta a advertir aos seguidores do cristianismo que “se guardem ... do sangue” (17). O esposo de dona Marlene, sr. João Medeiros, explica no filme ora resenhado que com o passar dos anos “coisas se perderam, coisas foram conservadas”, há famílias que conservam tais costumes, outras, não.
Já sobre outro costume de ascendência judaica, o de colocar pequenas pedras sobre os túmulos, Manoel Moura (filósofo e poeta natalense) explica isso “como forma de lembrar da pessoa que morreu”, e acrescenta que alguns o fazem com consciência da origem do costume, já outras pessoas não sabem porque fazem tais “homenagens” aos mortos. No entanto, segundo ele, “o que importa é que está sendo preservada uma tradição de nossos anOutra entrevistada de Venha Ver (dona cestrais e que não é um costume católico”. Pequena) esclarece que todos naquele lugar só Anita Novinsky comenta no filme, por são enterrados de mortalha (feita com um tecisua vez, que “desde o sul até o norte” do Brasil do único e costurado de modo a não haver neexistem esses costumes, “tipicamente judainhum nó presente na confecção da vestimenta cos”, que aqui persistem desde os tempos colodo morto), a não ser que já venha paramentado niais: o enterro em terra virgem; a mortalha noda empresa funerária. va, sem uso anterior; o corte das unhas do morto; o banho no corpo antes do enterro; o Conhecemos, enfim, a mãe do Dr. Lucia- abatimento das aves; dentre outros: todos são no, dona Analice Oliveira, que é quem lhe con- feitos, ainda, “à moda judaica”. Ela conclui: fere o poder de ser considerado judeu, sem a “Todos estes são costumes judaicos!”. necessidade de conversão. Ela conta como enCâmara Cascudo em seu livro já citado, terrou um filho de 7 meses: o costume que de 1967, escrevia há 45 anos, acerca dos cosCascudo já havia aludido do corte das unhas tumes judaicos presentes desde 1536 no Monido morto, do banho antes do enterro, etc. tório do Inquisidor Geral, que: “Todos esses Agora o documentário se muda para a usos e costumes, advertidos no Monitório, focidade de São Paulo do Potengi, também no ram comuns e correntes na Bahia e PernambuRio Grande do Norte, e entrevista seu Maciel. É co, Itamaracá e Paraíba, e certamente nas Caele quem nos leva a conhecer, dentro do cemi- pitanias de baixo, da Bahia para o sul”, ou seja, tério da cidade, amontoados uns sobre os ou- por todo o Brasil, de norte a sul (2001: 94). tros, 7 dos chamados “caixões das almas”, mas ele logo explica que as pessoas não procuram 3. Conclusão: eles. Fica subentendido que ou os mortos de São Paulo do Potengi já vêm prontos da empresa funerária, ou se utilizam do “caixão das Voltando à cidade de Natal/RN, dona almas” como um mero transporte apenas até Marlene Medeiros fala do costume antigo de chegarem à sua cova, sendo lá então enterra- sua mãe de “sangrar” a galinha antes de levá-la dos na “terra limpa”. O caixão, terminado o en- ao fogo, deitando o sangue sobre a terra, um terro, volta para o quartinho onde é guardado, costume judaico explicado na Toráh, no livro de mais uma vez, por seu Maciel. Levítico 17: 14 (“... filhos de Israel. Não come-
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Já dona Cabocla, a matriarca de Venha Ver/RN, cita, por fim, outro costume presente até a atualidade no Nordeste brasileiro, inclusive presente ainda hoje em minha terra, Arez/ RN: o ato de varrer a casa da frente da casa para o quintal.
para o mundo inteiro, sem nunca ter recebido nenhuma reclamação acerca de sua fé nas duas crenças! A importância de sua pessoa está, por exemplo, em ter conhecido Golda Meir, Primeira Ministra de Israel na década de 1970, uma das mulheres mais famosas do mundo, Assim como ocorre em Venha Ver, logo com quem se correspondeu durante muitos que cheguei em Arez/RN, há 14 anos (em anos. 1997), conheci este costume. Logo perguntei Acerca dos costumes de não comer carsobre seu porquê, mas ninguém sabia explicar. ne de porco ou de acender velas para os anjos, O que se diz é que traz sorte para a casa, ao o antropólogo Nathan Wachtel enfatiza que esvarrê-la da porta da frente para o quintal. tes são “costumes que não podem ser explicaDona Cabocla (a matriarca de Venha dos a não ser como costumes de origem judaiVer/RN) diz que: “– Faz mal”, que é um costu- ca”. O antropólogo francês acrescenta que me da “antiguidade”; que o povo diz que fazer desde quando o Brasil era colônia de Portugal, o contrário, varrer a casa da cozinha para a sa- haviam pessoas cristãs e judaizantes a um la, jogando o lixo na frente da casa: “– Leva a mesmo tempo (como o Monsenhor Araújo é fortuna” da casa. “– É uma cisma da antiguida- um exemplo forte), e que na contemporaneidade” (18), explica ela sabiamente; e acrescenta: de a situação é tão complexa como antes. às vezes nem se varre o lixo para fora, ajuntaAo findar a sua participação no docuse dentro de casa e depois apanha-se com mentário, Anita Novinsky destaca que realizou uma pá e joga-se num saco de lixo, para nem suas pesquisas nos Arquivos da Inquisição se passar o lixo da casa pela porta dos fundos. Portuguesa, na Torre do Tombo, em Portugal, Intentando explicar essa tradição, o his- e que encontrou processos de judeus perseguitoriador Paulo Valadares observa que alguns dos em todo o Brasil: São Paulo (19), Minas Geetnólogos afirmam que este é um costume do rais, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, judaísmo, por causa do respeito à Mezuzáh, etc., e observa que eles condenavam a todos objeto que é preso no encaixe da porta de en- (à fogueira ou ao cárcere perpétuo), o Santo trada da casa dos judeus, contendo dentro dela Ofício “– Não absolvia jamais” (20). Nas regipartes da Toráh, a serem reverenciadas. Para ões brasileiras mais desenvolvidas economicaValadares, mesmo sem as casas hoje terem mente a Inquisição trabalhava mais: quanto mais a presença da Mezuzáh, ficou em alguns mais dinheiro havia em jogo, mais o Santo Ofílugares o “resquício do antigo costume”. Já o cio da Inquisição atuava. A historiadora ainda paraibano estrela do documentário, Dr. Luciano cita, de passagem, algo que me interessa de Oliveira, assinala que as pessoas sempre ex- perto: ela diz que sempre a família Bezerra, da plicam o porquê de se varrer o lixo da porta da qual provém minha mãe, era uma “família imfrente para os fundos da casa, mas não sabem portante no Nordeste”, importante, note-se, no sentido de ser judaica e ter tido vários persede onde vem esta tradição. guidos (21). Outro depoimento importante no filme de Infelizmente, conclui Anita, até fins dos Eiger & Valente, vem do Monsenhor Araújo, anos 1700 existem documentos sobre a Inquipadre de Caicó/RN, ao mesmo tempo católico sição que nos permitem ler o passado, que e praticante do judaísmo, quando afirma que mesmo sabendo de suas práticas sincréticas, persistiu por cerca de 300 anos no Brasil. Mas, nunca ninguém da Igreja Católica reclamou finda a Inquisição, já a partir dos anos 1800, disto; tanto é que ele é famoso como “o Padre não houve mais prisões e não existem mais Judeu”, uma verdadeira contradição (um oxi- provas históricas, documentais, sobre persemoro, uma colisão ou paradoxo sem resolução, guições a judeus e seus familiares. Portanto, a já que o judaísmo não aceita os costumes ca- historiadora uspiana finda sua participação no documentário com essas palavras: “– A Histótólicos)! ria a partir dos anos 1800, no Brasil, está senMonsenhor Araújo também observa que do ‘desenterrada’ agora, na atualidade”. Já “nunca houve a menor crítica” ao seu trabalho noutra entrevista ela reafirma que cabe a “nova de “expansão da cultura judaica” em Caicó. geração” pesquisar “a história desse tribunal Também destaca o Padre que o timbre de seus corrupto” (Novinsky, 2011: 32) (22). papéis de carta é iniciado por: “Monsenhor Sal(Segue) vino de Araújo, Judeu da Diáspora, Pároco de Santana de Caicó”, etc., e que manda cartas www.varaldobrasil.com
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Novisnky também sustenta, por fim, que a religião judaica é apenas uma parte da questão, é um estado de alma. O judaísmo, por seu lado, é bem maior, tem a ver com sentimentos, com raízes; e os Marranos, a seu modo de entender, devem ser considerados judeus, se eles optarem por isso. 4. Notas: 1 - Assistente social e mestre em serviço social, natalense estudioso da cultura judaica no Nordeste do Brasil, é especialista na obra de Câmara Cascudo, inclusive com livro premiado sobre o célebre folclorista potiguar. Em Portugal também existe uma Arez, por isso, sempre que me refiro à Arez do Rio Grande do Norte, no Brasil, escrevo Arez/RN.
tamente por isso, o “Monitório...” traz inúmeras tradições e costumes judaicos que nos ajudam hoje não apenas a conhecê-los, mas a comparar com tradições da contemporaneidade e perceber que muitos dos costumes continuam vivos em nosso dia a dia, conscientemente ou não, mesmo passados 500 anos de “achamento” do Brasil . 6 - Para a lei judaica (de nome Halachá) “judeu é aquele que nasceu de mãe judia”. Portanto, quem é descendente de mãe judia, ou convertida, não precisa converter-se outra vez ao judaísmo. A pessoa pode afastar-se, assimilar-se a outras religiões, mas não deixa de ser considera judia também. Não existe culpa, como reafirmam os entrevistados no documentário, em as pessoas desconhecerem suas raízes religiosas! Já para outros, em várias partes do mundo, a identidade judaica foi preservada, mesmo que ocultamente (criptojudaísmo), durante séculos. Há que se lembrar aqui, da diferença existente entre os convertidos, por vontade própria, e os retornados, que são aqueles judeus que perderam o contato com as raízes de suas crenças e decidem apenas retornar à tradição de suas crenças familiares/religiosas, e talvez, desejarem voltar ao convívio de seus confrades.
2 - Em entrevista a Carlos Souza (2012: 4), em Natal/RN, ao tratar de seu livro “O Segredo do Oratório” (de 2012), Louize Valente declara que o filme “A Estrela Oculta do Sertão” surgiu depois de uma reportagem que leu, “num jornal paulista,” sobre os hábitos judaicos mantidos pelos habitantes do município potiguar Venha Ver; e conclui: “A partir daí começou a pesquisa” para o documentário, que havia que ser bem feita para “manter a veracidade” 7 - É hoje normal que se considere os judeus comdos fatos ali narrados. provadamente Anussins como pessoas que apenas 3 - Autora prolífica, o trabalho que eu possuo há estão retornando ao judaísmo, que não precisam anos, e que primeiro me aproximou à sagacidade provar essa sua condição ao mundo, e nem mesmo crítica de Anita, foi o livrinho, pequeno, porém de converterem-se outra vez. tema necessariamente denso: A Inquisição, da 8 - Como explica Anita Novinsky, Marrano é aquele “Coleção Tudo é História”. Mas a autora tem muito que por fora manteve-se sempre parecendo ser um mais livros publicados, tão ou mais importantes católico, por necessidades de sobrevivência, por quanto o citado; acho que o mais famoso é Cristãos causa da Inquisição, etc., mas que por dentro, nunca deixou de ser judeu, mesmo que fazendo seus -Novos na Bahia, de 1970. cultos, orações e mantendo seus costumes do dia a 4 - É célebre o livro de Cascudo: “Mouros, France- dia em secreto. Pode ser chamado também de cripses e Judeus: Três Presenças no Brasil”, de 1967, tojudeu, ou Anussim. essencialmente o Capítulo 5: “Motivos Israelitas”; e 9 - Os estudos históricos de Lourdes estão comproremeto o leitor também a um trecho interessante de vados em seu livro “Raízes Iberas, Mouras e Judaium de meus livros, pela discussão sobre o judaísmo cas do Nordeste” (EdUFPB, 2002). no Nordeste e pela bibliografia citada (Sales, 2012: 10 - Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-1999) é 167 a 171), assim como ressalto a importância do conhecido por ter escrito as novelas “Roque Santeilivro clássico de Gosalves de Mello, “Tempo dos ro”, “O Bem-Amado” e “Saramandaia”, além da peFlamengos” (2001: 258 a 275). ça teatral “O Santo Inquérito” (1966), sobre a morte 5 - Explica Cascudo que o Santo Ofício da Inquisi- da paraibana Branca Dias pela Inquisição, é da década de sessenta, na qual nota-se que ele estudou ção visitou o Brasil em 1591 a 93 (Bahia), 1593 a tudo o que pôde de história judaica publicada até 95 (Pernambuco), 1618-19 (Bahia). Sobre estas aquela época; mas seu maior prestígio foi dar ao visitas foram publicados 4 volumes: Denunciações Brasil a única Palma de Ouro que o país recebeu da Bahia, Confissões da Bahia, Denunciações de no Festival de Cinema de Cannes, na França, por Pernambuco e o Livro das Denunciações. Afora es- um filme completamente nacional, com a conversão tes volumes, o mais importante para os Inquisidores em filme de sua peça “O Pagador de Promessas” (dirigido por Anselmo Duarte, em 1959). foi publicado em Évora (Portugal), por D. Diogo da Rabinos). Silva, em 18 de novembro de 1536, o famoso Monitório do Inquisidor Geral. Era no “Monitório...” que (Segue) se encontravam as descrições dos costumes judeus (proibidos pelo catolicismo) que ajudaria a lhes incriminar perante o Santo Ofício da Inquisição; e juswww.varaldobrasil.com
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11 - A religião judaica não tem um papa, como a Igreja Católica, alguém que centralize poder ou autoridade e cuja palavra seja considerada santa e única. Na verdade se pode falar hoje em “judaísmos”, no plural, pois suas autoridades religiosas são várias e residentes em diversos países (os Rabinos). 12 - Na Sociologia quem deu-se ao trabalho de estudar e explicar os motivos, formas e meandros das sociedades secretas foi o clássico conhecido como um dos 4 “pais” da Sociologia, Georg Simmel (1858 -1918), além de Marx, Durkheim e Weber. Simmel foi um dos precursores de Max Weber, Lukács, Bloch, Adorno, Walter Benjamim, etc. Seus textos mais elucidativos acerca da importância do segredo e acerca da forma das sociedades secretas encontram-se publicados em Maldonado (2011). Recomendo principalmente seu texto mais denso sobre o tema: “A Sociologia do Segredo e das Sociedades Secretas” (id.: 93 a 185). Para Simmel o segredo é baseado nas noções sociais de confiança recíproca, entre iguais; lealdade e pertencimento a um grupo; objetivos de proteção; discrição; silêncio; respeito; relação inclusão X exclusão; dentre outros. Numa sociedade secreta, como as judaicas foram obrigadas a se manter por anos, o segredo aparece como uma “ocultação consciente e voluntária” (Maldonado, 2011: 117, todos os grifos, em negrito ou itálicos, são meus); fica claro também, “o uso do segredo como uma técnica sociológica, como uma forma de ação sem a qual em termos do social não se poderiam alcançar certos fins [a paz de manter suas tradições em segredo]” (id.: 133); por pura necessidade, no caso das “sociedades secretas” judaicas, no Brasil como no mundo, de acordo com a sociologia simmeliana: “o segredo levanta [necessariamente] uma barreira entre os homens [e mulheres]” (id: 135); além disso, acrescenta Simmel: “a primeira relação interna típica da sociedade secreta é a confiança recíproca entre os seus membros. Ela é necessária em tão grande medida, porque o objetivo do segredo é acima de tudo a [necessidade de] proteção” (id.: 149); por fim, esclarece o pensador alemão: “o elemento secreto nas sociedades é um fato sociológico primário, um tipo particular de convivência, uma qualidade formal de relacionamento [entre os membros da sociedade secreta]” (id.: 168). 13 - Afirmava Cascudo já em 1967: “A história religiosa do povo judeu é um equilíbrio instável [os “conflitos interessantes”, e os homens “divididos” que Novinsky cita acima] entre o fidelismo mosaico e a sedução dos cultos estrangeiros [católicos, cristãos, etc.]. Nem escapou o Rei Salomão, o mais sábio dos soberanos, esquecido de Iavé e queimando incenso aos ídolos amonitas, sidônios e moabitas. Essa disponibilidade crédula explica a versatilidade do cristão-novo, em raro cristão ou judeu íntegros, participando de ambos os preceitos” (2001: 109, grifado por mim). E acrescenta ainda Luís da Câmara Cascudo: “Esse ecumenismo instintivo [ou sincretismo] estabelece a igualdade dos níveis da percepção psicológica. As heterodoxias judaicas são fatalmente populares” (id.: 110,
grifos meus). Por fim, declara Cascudo: “Os motivos israelitas [judeus], fundamentais, circulando na cultura popular brasileira, datam do século XVI” (id.: 111), ou seja, dos anos 1500! 14 - Apenas a título de registro: sabe-se que após a expulsão dos holandeses, um conjunto de judeus migrou para a América do Norte e lá fundou o que hoje conhecemos por Cidade de Nova York, nos EUA; 23 pessoas, segundo Leonardo Silva (2010: 22). O historiador pernambucano Gonsalves de Mello (1916-2002) estudou holandês arcaico para compreender os Arquivos holandeses sobre a presença neerlandesa no Brasil (de 1630 a 1654) e lembra, em seu livro clássico “Tempo dos Flamengos” que foi aqui fundada a primeira sinagoga das américas, até hoje funcionando na Rua dos Judeus, em Recife (a “Zur Kahal Israel”, ou “Congregação Rochedo de Israel”, que Mello traduziu por “Santa Comunidade Tzur Israel”) cujas primeiras referências documentais, segundo ele, datam de 1636 (2001: 260 e 263); também, ao que tudo indica, “foi no Recife que nasceu a literatura hebraica na América” (id.: 262, grifo meu); e foi ainda na capital pernambucana, durante a ocupação holandesa, que o Rabino Isaac Aboab da Fonseca “compôs poemas e orações” que o fizeram ser o primeiro escritor israelita em terras das Américas (id,: 262), etc. 15 - Câmara Cascudo já escrevia sobre isso em 1967: “O judeu desejava sempre enterrar-se em terra virgem, onde ninguém o houvesse antecedido. (...) O jazigo em terra virgem era uma garantia de pureza material”. Até Jesus, que era judeu também, enterrou-se “em um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto (Mateus, 27, 60; Lucas, 23,53; João, 19,41. Esse pedido insistente, recomendado nas últimas vontades expressas pelo moribundo, era fielmente atendido por onde os povos judeus residissem. Pelo Brasil, no documentário do Santo Ofício [da Inquisição], os exemplos foram numerosos. (...) As campas eram sinônimo de eternidade” (2001: 99, grifado no original). 16 - Esclarece Cascudo (2001: 98), também em 1967: “Derramar toda a água contida nas jarras, potes e cântaros quando alguém falecia, foi um dever de uso vulgar, abundantemente citado nas Denunciações. Constitui o mais comum dos hábitos judaicos (...). A superstição espalhada e popular, registada no Monitório, é que as almas dos defuntos vinham banhar-se no líquido. (...) A crendice continua, explicando-se que o espírito do morto, enquanto o corpo estiver exposto no velório, não abandonará o recinto e bebe a água guardada nos recipientes caseiros. Esgotá-la é livrar a família de ingerir o sobejo do defunto, contaminando-se mortalmente”.
(Segue)
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17 - Sobre a total incongruência que algumas religiões ocidentais cometem ao unirem e adorarem conjuntamente “Antigo” e Novo Testamento, ver Harold Bloom, “Jesus e Javé: Os Nomes Divinos” (2006), crítico literário mundialmente conhecido como o maior estudioso do Cânone Ocidental e da obra de Shakespeare; e Bart Ehrman, “O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse – Quem Mudou a Bíblia e Porquê” (2006), crítico textual que se viu obrigado a estudar grego, hebraico, latim, francês e alemão, para compreender as mudanças que as cópias da Bíblia (“Antigo” e Novo Testamentos) sofreram desde os textos mais antigos existentes até hoje. 18 - Recorrendo mais uma vez a Câmara Cascudo, escreveu ele que em 1618 Francisco Ribeiro, senhor de engenho, foi denunciado (em Pernambuco) por que “mandava varrer as casas de noite da porta para dentro. Os denunciados eram cristãos-novos. Varrer para fora, ‘varre a felicidade’”. Em Portugal também registram-se as mesmas tradições; e conclui Cascudo: “São crendices popularíssimas no Brasil [desde 1967 quando ele pesquisou, até os dias atuais]” (2001: 102, grifos originais) como eu já afirmei ainda registrar a existência do costume na Arez/RN contemporânea, de 2014! 19 - Sobre os judeus paulistas do bairro Bom Retiro, sua fraternidade e seus alguns de seus costumes, é interessante citar um filme atual que fez bastante sucesso: “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (2006), de Cao Hamburguer, que competiu inclusive no Festival de Cinema de Berlim. 20 - Existem dois filmes que quero citar aqui, ambos baseados em fatos reais, que comprovam os horrores da Inquisição (a arbitrariedade e o abuso de poder) além de demonstrar o fato de que ela não perdoava jamais: 1) “Giordano Bruno” de Giuliano Montaldo, Itália, 1973. Ator principal de um dos episódios mais polêmicos da História, o filme mostra o processo e a execução do astrônomo, matemático e filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), que foi queimado na fogueira pela Santa Inquisição por causa de suas teorias contrárias aos dogmas da Igreja Católica; e 2) “Sombras de Goya”, de Milos Forman, Espanha, 2006. Este filme soberbo trata da Espanha em fins dos anos 1700, quando o famoso pintor realista Francisco de Goya Y Lucientes (1746-1828) decidiu interferir entre os Inquisidores em favor de sua musa, Inês, adolescente perseguida pela Inquisição e acusada de heresia; nele, vemos os horrores perpetrados pelo Santo Ofício da Inquisição, que se refletiram na obra de Goya e que hoje são testemunho desse período turbulento de nossa História, tenha ela ocorrido em Portugal ou Espanha principalmente, e atingido brasileiros, mexicanos, peruanos, dentre tantos outros. Já um livro muito interessante e elucidativo, que tal como os filmes mistura ficção e realidade, é o que narra a peça de Dias Gomes, já citada, “O Santo Inquérito”. 21 - Lembremos aqui Gonsalves de Melo (2001: 258, grifo meu), ao afirmar que: “os estudiosos são unânimes em esclarecer que no mundo ibérico [de onde partiram a maioria dos judeus que vieram para o Brasil, os sefardins, ou sefarditas] não é possível
identificar os judeus pelo nome [ou sobrenome]”; em menor número, também vieram para cá judeus alemães e polacos, os ashkenazim. Paulo Valadares (2011: 29) confirma: “Não há sobrenome cristão-novo, mas um sobrenome ibérico usado por cristãos-novos, que muitas vezes foi o mesmo usado também por cristãos-velhos, ciganos, mouriscos, indígenas...”, e acrescenta: “É equivocado afirmar que alguém tem origem judaica só por ter um sobrenome como Barata, Bezerra, Carneiro [etc.]”. 22 - Parte importante dos estudos dessa Nova Geração de pesquisadores, para os interessados, constam em dois dossiês publicados recentemente pela Revista de História da Biblioteca Nacional: “Judeus no Brasil” (2010), e “Inquisição à Brasileira” (2011). 5. Bibliografia Citada:
A BÍBLIA DAS PROMESSAS. 3ª ed. São Paulo: King’s Cross Publicações, 2005. (trad. João Ferreira de Almeida). BLOOM, Harold. Jesus e Javé – Os Nomes Divinos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. (trad. José R. O’Shea). CASCUDO, Luís da Câmara. Mouros, Franceses e Judeus: Três Presenças no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Global, 2001. EHRMAN, Bart D. O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse – Quem Mudou a Bíblia e Porquê. São Paulo: Prestígio, 2006. (trad. Marcos Marcionilo). GOMES, Dias. O Santo Inquérito. 23ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. MALDONADO, Simone Carneiro. Georg Simmel – Sentidos, Segredos. Curitiba: Appris, 2011. (traduções de Simone Maldonado). MEDEIROS, João F. Dias. Nos Passos do Retorno: Descendentes dos Cristãos-Novos Descobrindo o Judaísmo de Seus Avós Portugueses. Natal: Gráfica Nordeste, 2005. MELLO, José Antônio Gonsalves. Tempo dos Flamengos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001. NOVISNKY, Anita Waingort. Cristãos-Novos na Bahia. São Paulo: Perspectiva, 1970. _____ A Inquisição. 10ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção “Tudo é História”, nº 49). (Segue)
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MONTALDO, Giuliano (Diretor). Giordano Bruno. _____. “Entrevista com Anita Novinsky, por Rodrigo Itália: Versátil, 1973. Elias”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, nº 73, mensal, outubro de 2011. RAMALHO, Lourdes. “O Rio Grande do Norte Sempre Foi Judeu”. Revista Brouhaha Vozes na Cultura Potiguar. Natal: PMN/Funcart, bimestral, nº 12, maio/junho de 2008. REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. “Especial: Judeus no Brasil – Terra Prometida nos Trópicos”. Rio de Janeiro: SABIN, nº 58, mensal, julho de 2010. REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. “Especial: Inquisição à Brasileira. Rio de Janeiro: SABIN, nº 73, mensal, outubro de 2011. SALES, André Valério. Lugares e Personalidades Históricas de Arez/RN. João Pessoa: EdUFPB, 2012. _____. “Estudos Judaicos: Alguns Indícios em Arez/RN, a Mortalha Branca e sua Presença na Literatura Brasileira”. Natal: mimeo, 2014a. SILVA, Leonardo Dantas. “A Comunidade do Arrecife”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, nº 58, mensal, julho de 2010. SOUZA, Carlos. “Livro Traça Jornada Judaica na América – Entrevista com Louize Valente”. Jornal Tribuna do Norte/Caderno Viver. Natal: GTN, 26/09/2012. VALADARES, Paulo. “Nomes de Árvores e de Animais Correspondem a Sobrenomes Judeus?”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, nº 73, mensal, outubro de 2011. VALENTE, Luize. O Segredo do Oratório. Rio de Janeiro: Record, 2012. WACHTEL, Nathan. “A Versão dos Vencidos – Entrevista”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, nº 76, mensal, janeiro de 2012. 6. Filmes Citados: EIGER, Elaine; VALENTE Luize (Diretoras). A Estrela Oculta do Sertão. Rio de Janeiro: FotoTema, 2005. HAMBURGUER, Cao (Diretor). O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias. Rio de Janeiro: Gullane Filmes/Caos Produções/Miravista, 2006.
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MILOS, Forman (Diretor). Sombras de Goya. Espanha: Flashfilmes, 2006. www.varaldobrasil.com
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